sÍntese e caracterizaÇÃo de compostos de ferro com
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA-CUA
Programa de Pós-graduação em Ciência de Materiais
SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE COMPOSTOS DE
FERRO COM LIGANTES HETEROCÍCLICOS
NITROGENADOS
NILTON CAETANO VILELA FILHO
BARRA DO GARÇAS-MT
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA-CUA
Programa de Pós-graduação em Ciência de Materiais
SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE COMPOSTOS DE
FERRO COM LIGANTES HETEROCÍCLICOS
NITROGENADOS
NILTON CAETANO VILELA FILHO
Licenciado em Física
Orientador: Prof. Dr. WAGNER BATISTA DOS SANTOS
Dissertação apresentada ao Programa de pós-graduação em Ciência de Materiais da Universidade Federal de Mato Grosso, para obtenção do título de Mestre em Ciência de Materiais.
BARRA DO GARÇAS-MT
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DO ARAGUAIA-CUA
Programa de Pós-graduação em Ciência de Materiais
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
Título: Síntese e Caracterização de compostos de ferro e ligantes heterocíclicos
nitrogenados
Autor: Nilton Caetano Vilela Filho
Orientador: Prof. Dr. Wagner Batista dos Santos
Data da Aprovação:
Comissão Examinadora:
_________________________________
Prof. Dr. Wagner Batista dos Santos
(PPGMAT/CUA/UFMT)
___________________________________
Prof. Dr. Arian Moraes
(CUA/UFMT)
_____________________________________
Prof. Dr. Sauli dos Santos Junior
(UFG)
AGRADECIMENTOS
Agradeço a minha mãe Jaira, meus avós Marieta e José por me apoiarem
durante toda minha vida acadêmica, colaborarem para meu crescimento pessoal
e intelectual e estarem sempre ao meu lado em todos os momentos.
A minha companheira Thaís e a meu filho Luiz Otávio por me acompanharem
durante todo o meu mestrado enfrentando todas as dificuldades sem medir
esforços. Agradeço a Deus por estarem presente em minha vida.
A todos que contribuíram diretamente ou indiretamente para o meu trabalho, em
especial ao meu orientador Prof. Dr. Wagner Batista dos Santos, pela
paciência, pelo apoio, e por ter sido meu alicerce em todos os momentos de
dificuldade, conduzindo meu trabalho e contribuindo para o meu crescimento.
Deixo aqui minha admiração pela pessoa que é, por sua inteligência e
sabedoria. Obrigado por estar sempre presente, confiar e acreditar em mim.
Mais que uma orientação, conquistei uma grande amizade.
A todos os colegas do Lemat, em especial ao Marcio, Baiano, Fabrício,
Rogério, José Augusto, Jhone, Pablo e Katia pelo apoio prestado e pelos
momentos de descontração dentro e fora da Universidade.
A Universidade Federal de Mato Grosso/CUA e ao PPGMAT
A CAPES e CNPq pelo apoio e auxílio financeiro
Por fim, a Deus por estar sempre ao meu lado iluminando e guiando meu
caminho, inclusive nos momentos mais difíceis de minha vida.
Aos que não foram citados aqui, mais que de alguma forma contribuíram para o
desenvolvimento desse trabalho, meus sinceros agradecimentos.
SÍNTESE E CARACTERIZAÇÃO DE COMPOSTOS DE FERRO
COM LIGANTES HETEROCÍCLICOS
NITROGENADOS
RESUMO
O presente trabalho traz a rota de síntese e caracterização de compostos de Fe(II) coordenados a ligantes N-heterocíclicos (piridina, isonicotinamida, fenantrolina), com possibilidade de aplicação como corantes sensitizadores em células solares do tipo dye-sensitized (DSSC). Os compostos foram caracterizados por espectroscopia (UV-Vis, IR), por análise elementar, análise térmica e difração de raio-x e de modo geral, os espectros de ultravioleta visível obtidos para os três complexos revelaram a presença de bandas de Transferência de Carga Metal Ligante (MLCT) em 418 nm (complexo com isn), 420 nm (complexo com py) e 422 nm (complexo com phen) correspondente a interação entre os ligantes e o metal de transição Fe(II). Observa-se ainda uma série de bandas entre 200 e 300 nm que podem ser atribuídas a transição
interna dos ligantes (→*), para a piridina, isonicotinamida, fenantrolina e cianeto. A caracterização estrutural realizada por espectroscopia na região do infravermelho médio mostra de maneira geral, uma diminuição do pico de cianeto em 2250 cm-1, atribuída a vibração simétrica do grupo cianeto νs(CN). Para o espectro obtido com o complexo piridina observa-se o aparecimento de picos característicos do ligante piridina em 1400 -1600 cm-1, atribuídos a vibrações simétricas e assimétricas do grupo (C=C). Mostra ainda um pico correspondente a vibração simétrica do grupo CH (anel piridínico em 3075 cm-1). Para o composto obtido com o ligante isonicotinamida, é observada bandas características (C=O), na faixa de 1680 cm-1, e bandas NH2 na faixa de 3475 a 3150 cm-1, além da presença da banda CN em 2250 cm-1. Os modos vibracionais característicos do ligante fenantrolina também foram observados. Entre eles podemos destacar as vibrações simétricas e assimétricas do grupo (C=C) em 1106 - 1707 cm-1; vibração simétrica (C=H) em 3062 cm-1 e a deformação angular do anel piridínico (C=N) em 726 cm-1. Assim como nos outros complexos, é possível perceber também para o espectro desse composto a presença da vibração simétrica do grupo CN em 2250 cm-1. A análise elementar permitiu determinar a estequiometria dos compostos K3[Fe(CN)5(py)].4KCN e K3[Fe(CN)5(isn)], embora não tenha sido possível determinar a fórmula molecular do complexo sintetizado com o ligante phen. Por meio de análise térmica foi possível identificar o estado de oxidação do centro metálico nos compostos que foram formados. As perspectivas futuras, com relação a este estudo, são de produzir informações importantes para o desenvolvimento de compostos alternativos de geração de energia para auxiliar o já instalado diminuindo assim o risco de um colapso no sistema de abastecimento.
SYNTHESIS AND CHARACTERIZATION OF IRON COMPOUNDS
AND NITROGEN HETEROCICLIC LIGANDS
ABSTRACT
In this present work, the route of synthesis and characterization of Fe (II)
compounds coordinated ligands N-heterocyclic (pyridine, isonicotinamide,
phenanthroline) with the possibility of application as sensitizing dyes in solar cells of
the type (DSSC). The compounds were characterized by IR and UV-Vis
spectroscopy, elemental analysis, thermal analysis and X-ray diffraction and, in
general, the UV-visible spectra obtained for the three complexes revealed the
presence of Load Transfer Ligand Metal bands (MLCT) in 418 nm (isn complex),
420 nm (py complex) and 422 nm (phen complex) corresponding to the interaction
among the ligands and the transition metal Fe (II). Is also observed a number of
bands between 200 and 300 nm that can be attributed to internal transition of the
ligands (→*),to pyridine, isonicotinamide, phenanthroline and cyanide. The
structural characterization performed by spectroscopy in the mid-infrared region
shows a decrease in the peak cyanide 2250 cm-1, assigned to the symmetric
vibration of the cyanide group νs(CN). For the spectrum obtained with pyridine
complex is observed characteristic peaks of pyridine ligand in 1400 -1600 cm-1,
attributed to symmetric and asymmetric vibrations of the group (C=C). Furthermore
also shows a corresponding peak symmetric vibration of the group CH (pyridine ring
at 3075 cm-1). To the obtained compound with the ligand isonicotinamide,
characteristic bands are observed (C=O), in the range of 1680 cm-1, NH2 bands in
the range 3475-3150 cm-1, as well as the CN bands presence in 2250 cm-1. The
characteristic symmetric and asymmetric vibrational modes of the phenanthroline
ligand were also observed in the groups as (C=C) 1106 - 1707 cm-1, (C=H) 3062
cm-1 symmetric vibration, (C=N) at 726 cm-1 of angular deformation of the pyridine
ring. Similarly to the other complex, it is also possible to realize in the spectrum of
this compound the presence of symmetric vibration of the CN group in 2250 cm-1.
Elemental analysis allowed to determine the stoichiometry of the
K3[Fe(CN)5(py)].4KCN and K3[Fe(CN)5(isn)] compounds, although it was not
possible to determine the molecular formula of the synthesized complex with the
ligand phen. Through thermal analysis identified the oxidation state of the metal
center in compounds which have been formed. The future prospects, with regard to
this study are to produce important information for the development of alternative
compounds of power generation to assist the already installed, thus decreasing the
risk of a collapse in the supply system.
Abreviaturas
py = piridina
isn = isonicotinamida
phen = fenantrolina
IR = infravermelho
UV = ultravioleta
UV-vis = Ultravioleta-visível
MLCT = transferência de carga metal-ligante
IL = transições internas dos ligantes
DSSC = Célula solar sensibilizada por corante
LISTA DE FIGURAS
FIGURA1-Complexo de rutênio cis-[Ru(2,2’-bipiridil-4,4’-ácido
dicarboxílico)2(NCS)2] . ........................................................................................ 14
FIGURA 2- Espectro IR do complexo K3[Fe(CN)5(py)].4KCN ............................. 34
FIGURA3-Comparação entre os espectros IR do complexo
K3[Fe(CN)5(py)].4KCN e do hexacianeto de ferro ............................................... 35
FIGURA3.1-Comparação entre os espectros IR do complexo
K3[Fe(CN)5(py)].4KCN e do hexacianeto de ferro ........................... 35
FIGURA 4- Espectro IR da piridina livre .............................................................. 36
FIGURA 5- Espectro IR do complexo K3[Fe(CN)5(isn)] ....................................... 37
FIGURA 6- Comparação entre os espectros IR do complexo K3[Fe(CN)5(isn)] e
do hexacianeto de ferro ...................................................................................... 38
FIGURA6.1-Comparação entre os espectros IR do complexo
K3[Fe(CN)5(isn)] e do hexacianeto de ferro ...................................... 38
FIGURA6.2-Comparação entre os espectros IR do complexo
K3[Fe(CN)5(isn)] e do hexacianeto de ferro ...................................... 39
FIGURA 7- Espectro IR da isonicotinamida livre ................................................. 39
FIGURA8-Comparação entre os espectros IR do complexo
[Fe2+(CN)x(phen)y(H2O)w]+/-z e do ligante fenatrolina livre .................................... 42
FIGURA9-Comparação entre os espectros IR do complexo
[Fe2+(CN)x(py)k(phen)y(H2O)w]+/-z e do [Fe2+(CN)x(isn)k(phen)y(H2O)w]+/-z ............ 43
FIGURA10-Comparação entre os espectros UV-vis do complexo
K3[Fe(CN)5(isn)]e do ligante piridina livre ............................................................ 44
FIGURA11-Comparação entre os espectros UV-vis do complexo
K3[Fe(CN)5(py)].4KCN e do ligante isonicotinamida livre .................................... 45
FIGURA12-Comparação entre os espectros UV-vis do complexo
[Fe2+(CN)x(phen)y(H2O)w]+/-z e do ligante fenantrolina livre .................................. 45
FIGURA13-Curva TG/DSC complexo K3[Fe(CN)5(isn)] em atmosfera de
nitrogênio............................................................................................................. 47
FIGURA 14-Curva TG/DSC complexo K3[Fe(CN)5(isn)] em atmosfera de ar.. ... 47
FIGURA 15- Estrutura cristalina do K3[Fe(CN)6] ....................................... ..........49
LISTA DE TABELAS
TABELA 1. Identificadores dos principais compostos de ferro ........................... 20
TABELA 2. Propriedades físico-químicas do ferro ............................................ 21
TABELA 3. Compostos de ferro em seus vários estados de oxidação .............. 22
TABELA 4. Estabilidade relativa dos cianetos ................................................... 24
TABELA 5. IR teórico e experimental para identificação dos modos vibracionais
nas análises com o ligante piridina ...................................................................... 34
TABELA 6. IR teórico e experimental para identificação dos modos vibracionais
nas análises com o ligante isonicotinamida. ....................................................... 37
TABELA 7. IR teórico e experimental para identificação dos modos vibracionais
nas análises com o ligante fenantrolina. ............................................................. 41
TABELA 8. Análise elementar de Carbono, Hidrogênio e Oxigênio para os
complexos sintetizados. ...................................................................................... 48
TABELA 9. Distâncias atômicas das ligações formadas na estrutura molecular
obtidas por difração de raios-x. ........................................................................... 50
TABELA 10. Dados de refinamento da estrutura do composto K3[Fe(CN)6]. ..... 51
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................... 11
2. OBJETIVOS ........................................................................... 15
2.1 Objetivos gerais .................................................................................. 15
2.2 Objetivos específicos .......................................................................... 15
3. REVISÃO DE LITERATURA .................................................. 16
3.1 Conceitos dos Compostos de Coordenação ....................................... 16
3.2 Compostos de Ferro ........................................................................... 19
3.3 Cianetos de Ferro ............................................................................... 24
3.4 Ligantes heterocíclicos Nitrogenados ................................................. 25
4. METODOLOGIA .................................................................... 27
4.1 Reagentes e purificações .................................................................... 27
4.1.1 Reagentes .................................................................................... 27
4.1.2 Purificações .................................................................................. 27
4.2 Amalgama de Zinco ............................................................................ 27
4.3 Síntese dos compostos ....................................................................... 28
4.3.1 Síntese do hexacianeto de ferro e o ligante piridina ..................... 28
4.3.2 Síntese do hexacianeto de ferro e o ligante isonicotinamida ........ 28
4.3.3 Síntese do hexacianeto de ferro e os ligantes isonicotinamida e
fenantrolina ............................................................................................ 29
4.3.4 Síntese do hexacianeto de ferro e os ligantes piridina e fenantrolina
............................................................................................................... 30
4.4 Descrições dos métodos e técnicas de caracterização ....................... 31
4.4.1 Espectroscopia de absorção na região do ultravioleta-visível ...... 31
4.4.2 Espectroscopia de absorção na região do infravermelho ............. 31
4.4.3 Análise térmica ............................................................................. 31
4.4.4 Análise elementar ......................................................................... 32
4.4.5 Difração de raio-x .......................................................................... 32
4.4.6 Análise computacional .................................................................. 32
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................. 33
5.1 Espectroscopia no Infravermelho ........................................................ 33
5.2 Espectroscopia no Ultravioleta-visível ................................................ 43
5.3 Análise Térmica .................................................................................. 46
5.3 Análise elementar ............................................................................... 48
5.3 Difração de Raios-X ............................................................................ 48
6. CONCLUSÃO ........................................................................ 52
7. PERSPECTIVAS FUTURAS .................................................. 53
8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................... 54
11
1.INTRODUÇÃO
A produção de energia elétrica vem, desde muito tempo, sendo utilizada
e aperfeiçoada, com o intuito de trazer conforto e comodidade para a
civilização. Entre as principais fontes para geração dessa energia podemos
citar as não renováveis, tais como os combustíveis fósseis e a energia nuclear.
Já entre as renováveis podemos destacar a hídrica, sendo está a mais utilizada
em nosso país. Apesar dos inúmeros benefícios trazidos pela geração de
energia a partir das fontes citadas anteriormente, a grande maioria delas vêm
ao longo dos anos se mostrando prejudicial e tem causado danos catastróficos
ao meio ambiente.
Algumas vertentes demostram que o grande aumento da concentração
de CO2 na atmosfera devido à queima de combustíveis fósseis, tem contribuído
para o aumento do efeito estufa (ARMAROLI & BALZANI, 2007; VICHI &
MANSOR, 2009). Até meados do século XX, a concentração de CO2 se
manteve quase estável e abaixo dos 300 ppm, no entanto, nos últimos 70 anos,
a quantidade de CO2 na atmosfera cresceu significativamente, chegando a 370
ppm no ano 2000 (ARMAROLI & BALZANI, 2007; CONCIL, 2007). A energia
nuclear, apesar da grande eficiência, já mostrou, em várias oportunidades a
sua vulnerabilidade, sendo que o último deles aconteceu no Japão em 2011,
revelando a sua limitação do ponto de vista ambiental e um imenso potencial
de destruição. A geração de energia usando o potencial hídrico, atualmente é a
mais utilizada no Brasil, sendo responsável por montante superior a 76,9 % da
oferta no País (BEN, 2010), e provoca, apesar do imenso potencial energético,
um grande impacto ecológico. Para a utilização deste recurso, é necessário a
formação de grandes reservatórios, causando graves problemas para a fauna e
a flora, além de prejudicar os povoados locais, levando a grandes
deslocamentos populacionais.
Todas essas consequências têm deixado em alerta a sociedade,
incentivando a pesquisa em fontes de energia que sejam renováveis e
sustentáveis. Dentre essas fontes, a energia solar, que consiste na
transformação de energia luminosa em energia térmica ou elétrica, se destaca
12
pela abundância. O fluxo de radiação que chega sobre a Terra anualmente é
da ordem de 1024 J, o que supera em 7000 vezes o consumo energético do
mundo atualmente (VICHI & MANSOR, 2009). De acordo com Gratzel (2001) a
utilização de 0,1 % da superfície do nosso planeta com células solares de 10 %
de eficiência, levando em consideração continentes e oceanos, poderia
satisfazer a demanda atual de energia mundial. A energia solar se destaca
também pela sua importância na preservação ambiental, e com a redução das
reservas dos combustíveis fosseis, o interesse pelo aproveitamento da energia
solar na produção de calor e energia elétrica vem crescendo a cada ano, sendo
tema de várias pesquisas em âmbito mundial. (HAGFELDT et al., 2010;
HINRICHS e KLEIN BACH, 2003).
Uma célula bastante utilizada, sendo a mais comum encontrada no
mercado, é a célula solar de silício. Em laboratório, células solares de silício
monocristalino com rendimento de 24,6 % (ZHAO et al., 1998) e células solares
com até 40 % de eficiência já foram obtidas através de multijunções de
GaInP/GaInAs/Ge (KING et al., 2007), porém o alto custo da célula solar de
silício, juntamente com a necessidade de aumento da eficiência de conversão
da energia solar em elétrica faz crescer o interesse na preparação de células
solares partindo de outros materiais.
Dentro desse contexto, as células solares orgânicas surgem como uma
inovação na área das células fotovoltaicas convencionais, principalmente pela
diminuição dos custos de fabricação. Uma célula bem descrita na literatura é a
célula solar nanocristalina sensibilizada por corante (CSNS), também
conhecida como célula de Gratzel. É um dispositivo de fotoconversão de
energia que, em vez do semicondutor de silício, utiliza nanopartículas de
dióxido de titânio, que apresentam menor custo quando comparadas com o
silício (DEB et al., 1998). Corantes sensitizadores são utilizados como
absorvedores e conversores de energia luminosa em elétrica e podem ser
naturais ou artificiais. Essa célula foi desenvolvida no início da década de 90,
pelo grupo de Gratzel em Lausanne, Suíça e tinha como objetivo de sanar os
problemas de custo das células solares convencionais, que utilizam o silício
(GRÄTZEL, 2001).
13
Muitos estudos têm centralizado a atenção na fotoquímica dos corantes
sensibilizadores, porque esses corantes precisam ter propriedades óticas
específicas, como por exemplo, a absorção da luz solar na faixa do visível,
ampliando a absorção do espectro eletromagnético da célula fotoeletroquímica
(HAO et al., 2006; ANDRADE et al., 2004). Em um processo fotoquímico, a luz
é utilizada como fonte de energia para geração de um determinado trabalho por
meio de uma reação química. Esses processos já são utilizados na natureza e
pelos seres vivos. Como exemplo, podemos citar a fotossíntese, onde a
energia luminosa e convertida em energia química, e também no processo da
visão, em que a informação ótica e captada, armazenada e processada. Nesse
processo quando a luz encontra o olho, ela excita um elétron da ligação π, o
que faz com que a ligação dupla enfraqueça e a molécula possa girar em torno
da ligação σ remanescente. Quando esse elétron excitado retorna ao orbital
original a molécula é congelada na forma trans, emitindo, em função dessa
mudança, um sinal que é transportado pelo nervo óptico até o cérebro que é
interpretado como sensação de visão (GORNER & KUHN,1995; BALZANI &
SCANDOLA,1996).
Dentro da pesquisa em fotoquímica, o estudo das propriedades dos
complexos metálicos, em particular aqueles de configuração d6, tem chamado
bastante atenção (FORD et.al.,1974; CARLOS, R. M., 2007). As razões para o
grande interesse nessa classe de compostos são várias. Dentre elas podemos
citar:
Utilização de radiação de baixa energia, ou seja, região visível do
espectro ou infravermelho próximo.
Estados excitados com intensa atividade redox, possibilitando a
ocorrência de uma série de reações de transferências de elétrons
ou energia.
Grande versatilidade sintética
As primeiras observações (PARIS & BRANDT,1959; HIPPS & CROSBY,
1975) das transições permitidas de transferência de carga do metal para o
ligante, MLCT, foram observadas em complexos polipiridínicos de Ru(II), sendo
o complexo de rutênio cis-[Ru(2,2’-bipiridil-4,4’-ácido dicarboxílico)2(NCS)2],
14
conhecido como N3, observado na figura abaixo, apresentou-se como um dos
corantes mais eficientes. (HAO et al., 2006).
FIGURA 1. Complexo de rutênio cis-[Ru(2,2’-bipiridil-4,4’-ácidodicarboxílico)2(NCS)2]
(HAO et al., 2006).
A partir daí o estudo foi estendido para outros complexos metálicos de
Re(I), Ir(III), Os(II) e Fe(II). Assim, a mudança da estrutura do complexo, seja
do centro metálico ou dos ligantes através da mudança dos compostos e da
rota sintética, permitiu a modulação e o controle das propriedades
fotoquímicas, fazendo dos compostos de coordenação um dos mais propícios
para serem utilizados como corantes na conversão de energia solar (BALZANI
et.al., 2007). Dentre esses complexos metálicos, os de Ferro, por possuir
propriedades e características semelhantes ao Rutênio, pertencendo inclusive
ao mesmo grupo, e ter um custo de aquisição bem menor, são de interesse
relevante para esse trabalho.
15
2. OBJETIVOS
2.1 Objetivos gerais
Sintetizar e caracterizar compostos formados a partir do hexacianeto de
ferro(III) com os ligantes heterocíclicos nitrogenados.
2.2 Objetivos específicos
Sintetizar, utilizando o hexacianeto de ferro como composto de partida e
os ligantes piridina, isonicotinamida e fenatrolina
Realizar a caracterização utilizando as técnicas espectroscópicas
ultravioleta-visível e infravermelho
Realizar a caracterização através de Análise Térmica
Realizar medidas de difração por Raio-x;
Realizar a caracterização por analise elementar
Realizar análise computacional dos ligantes
16
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1 Conceitos dos Compostos de Coordenação
Em compostos de coordenação, os ânions e as moléculas neutras,
chamadas ligantes, circundam os cátions (centros metálicos). Alfred Werner,
antes mesmo do surgimento dos conceitos atuais sobre ligações químicas, fez
a primeira tentativa de explicar a ligação existente entre os compostos de
coordenação. Em seu trabalho, publicado em 1893, foi capaz de explicar a
natureza das ligações nos complexos, chegando à conclusão da existência de
duas valências nos íons metálicos, chamadas de valência primária e valência
secundária (LEE, 1999).
Valência primária: possui caráter não direcional e está relacionada
ao número de cargas no complexo, ou seja, ao seu estado de
oxidação.
Valência secundária: possui caráter direcional e está relacionada
ao número de coordenação.
Em função do seu estudo sobre teoria da coordenação, principalmente
em relação as valências secundárias, que possuem posições fixas no espaço,
Werner conseguiu deduzir a fórmula estrutural de muitos complexos, propondo
a existência de arranjos octaédricos para metais com número de coordenação
6, e tetraédricos ou quadrados planares para metais com número de
coordenação 4 (LEE, 1999). Este estudo pioneiro abriu as portas para que
novos conceitos e teorias surgissem na tentativa de explicar os compostos de
coordenação.
Lewis (LEWIS, 1938), antes mesmo de chamá-los de compostos de
coordenação, classificou os metais e ligantes envolvidos em ácidos e bases
sendo que, os íons metálicos se comportam como ácidos e atuam como
receptores do par de elétrons e os ligantes se comportam como base e atuam
como doadores do par de elétrons. Contudo, várias substâncias não se
enquadram nesse conceito, podendo um íon metálico, inicialmente considerado
17
como ácido, se comportar como base ou ter os dois comportamentos ao
mesmo tempo (COTTON & WILKINSON,1972; PAULING, 1960). Dessa forma,
ácido e base são considerados apenas como receptores e doadores de
elétrons, não havendo uma distinção entre o comportamento ácido-base, o que
permitiu uma classificação bem mais abrangente de sistemas (MULLIKEN,
1952). Assim, na interação metal-ligante, os ligantes podem atuar como
espécies doadoras (σ e ) ou retiradora de elétrons().
Em virtude da dificuldade de definir-se um íon metálico como ácido ou
base nos compostos de coordenação, Pearson (PEARSON, 1963) propôs um
estudo que visava a natureza da ligação entre os átomos. Assim foi criada duas
categorias de ácido e base para abordar a natureza da ligação entre os átomos
que formam o par ácido-base. Segundo Pearson:
a) As substâncias que apresentam pequenas afinidades por prótons
e grande polarizabilidade são chamadas bases moles.
b) As substâncias que apresentam grandes afinidades por prótons e
pequena polarizabilidade são chamadas bases duras
c) Os íons metálicos que possuem afinidade com ligantes moles
(bases moles) são considerados ácidos moles
d) Os íons metálicos que tem afinidades com ligantes duros (bases
duras) são considerados ácidos duros.
É importante salientar que outros fatores como densidade de carga,
estado de oxidação e solvente devem ser levados em consideração quando se
trata desse tipo de interação.
Uma característica bastante interessante dos compostos de
coordenação consiste no fato deles gerarem moléculas mais complexas ou
supermoléculas (CHAMBRON et.al., 1993; LHEN, 1995). Essas
supermoléculas são formadas a partir da interação das subunidades, ou seja,
da ligação entre duas ou mais espécies, que pode resultar em efeitos
eletrônicos e cooperativos levando ao surgimento de novas propriedades ou a
melhora de uma propriedade que já existia anteriormente (GOTO, et.al., 1998).
18
A afirmação feita anteriormente se relaciona perfeitamente com os compostos
de coordenação, já que as propriedades de ligação, eletrocatalítica, redox e
fotoquímica dos íons metálicos dependem do tipo de ligante coordenado, da
sua estrutura e estado de oxidação (CHAMBRON, 1993). Assim, quando
variamos os ligantes e o estado de oxidação do metal, podemos modular a
propriedade de um sítio ativo. Em função disso, alguns complexos com
características adequadas podem atuar como reservatório de elétrons que
captam a luz e transferem os elétrons para outro sítio ativo. Dessa maneira,
podem ser aplicados como corantes em células solares, ampliando o espectro
de atuação do sistema e a captação de energia luminosa (LEHN, 1995).
Após a publicação do trabalho de Balzani e Carassiti (Balzani &
Carassiti, 1970) na década de 70, houve um crescimento bastante
representativo no campo de atuação da fotoquímica dos metais de transição. A
emissão de cromo Cr(III) em solução aquosa e a temperatura ambiente
desencadeou fatores que levaram a uma melhor investigação nos estados
excitados, como as reações de transferência de energia e elétrons,
estimulando a pesquisa dos processos de conversão de energia solar (KANE
MAGUIRE & LANGFORD, 1971; BALZANI, et.al., 1978).
O metal de transição mais utilizado para a resolução do problema de
conversão de energia solar, por apresentar propriedades particulares, é o
rutênio, sendo o [Ru(bipy)3]2+ o mais investigado (BALZANI, et.al., 1978).
Compostos de polipiridinas de rutênio foram pesquisados em relação a
conversão de energia solar. (JOACHIN & LAUANY,1986; VENO et.al,1981;
MONTI et.al,1988; SYKORA & SIMA, 1990; KARAS, et.al,1988; BJERRUM,
et.al.,1995). Isso ocorre em relação aos compostos de coordenação de rutênio
(II) com ligantes polipiridínicos devido a sua grande fotoatividade como
absorvedor de luz visível e próxima ao ultravioleta.
Apesar de tudo isso, um outro metal de transição, o ferro, vem ganhando
espaço na fotoquímica inorgânica. Estudos fotoquímicos envolvendo
complexos de ferro tem sido desenvolvido (LIMA et.al, 1999).
19
3.2 Compostos de Ferro
O ferro puro é um metal que tem cor prateada, maleável, e é muito
reativo, o que faz com que ele sofra oxidação facilmente quando em contato
com o ar atmosférico (LEE,1999; HSDB, 2000; KROSCHWITZ, 1995). Possui
camadas aderentes que se soltam com facilidade, deixando sempre mais metal
exposto para reação. Ele também se dissolve em ácidos não-oxidantes,
característica essa que o coloca em contraste com os elementos do seu grupo
que são bastante resistentes ao ataque por ácidos (LEE,1999).
Quatro isótopos constituem o ferro de ocorrência natural: 56Fe (91,66%),
54Fe (5,82%), 57Fe (2,19%) e 58Fe (0,33%). Os Identificadores dos principais
compostos do elemento estão resumidos na Tabela 1, assim como suas
propriedades físico-químicas (Tabela 2)
20
TABELA 1. Identificadores dos principais compostos de ferro (HSDB, 2000)
Identificadores Óxidos de Ferro (poeira e
fumo)
Sais de Ferro Rouge (pó
avermelhado
Sinônimos Óxido férrico
Óxido de ferro (III)
Sulfato ferroso
Sulfato férrico
Cloreto ferroso
Cloreto férrico
Nitrato férrico
Óxido de ferro (III)
Óxido vermelho
Fórmula molecular Fe2O3 FeSO4
Fe2(SO4)3
FeCl2
FeCl3
Fe(NO3)3
Fe2O3
Nº CAS 1309-37-1 - 1309-37-1
Nº RTECS 7400000
7525000
- 7400000
Nº DOT/NAERG 1376/135 - -
Nº CCOHS 344 346 549
Descrição Sólido
Marrom-ferrugem Sólidos
Cor variável Pó vermelho de óxido de ferro
21
TABELA 2. Propriedades físico-químicas do ferro (EMSLEY ,1991;
KROSCHWITZ,1995)
Propriedade Valor
Número atômico 26
Massa atômica 55,8
Densidade(g/cm3) 7,87
Ponto de fusão (ºC) 1537
Ponto de ebulição(ºC) ~ 3000
Potencial de ionização 7,9
Potencial de oxidação (volts) 0,44
Por ser um metal de transição, possui algumas características
marcantes. Entre elas, está o fato de existir em mais de um estado de
oxidação. Além disso, os estados de oxidação variam apenas de uma unidade
de um estado para o outro. (LEE,1999). Na Tabela 3 estão dispostos alguns
exemplos de compostos de ferro em seus vários estados de oxidação.
22
TABELA 3. Compostos de ferro em seus vários estados de oxidação (EMSLEY
,1991; KROSCHWITZ ,1995)
Elemento Fórmula Observação
FeII- Fe(CO)42- raro
FeI- Fe2(CO)82- raro
Fe0 Fe(CO)5 raro
FeI [Fe(NO)(H2O)5]2+
FeII FeO, FeS2
Fe(OH)2
[Fe(H2O)6]2+
FeF2
Fe(C5H5)2
FeIII Fe2O3, Fe3O4
FeF3, FeCl3, FeO(OH)
[Fe(H2O)6]3+
FeIV só em complexos raro
FeV FeO43-
FeVI FeO42- raro
Como pode ser visto, os estados de oxidação dos compostos de ferro
variam de II a VI, embora os mais comuns e estáveis sejam os estados II e III.
Outro fator relevante é a tendência dos metais de transição em formar
complexos, fator que se justifica por eles serem íons pequenos e de carga
elevada, e com orbitais vazios de baixa energia capazes de receber pares
eletrônicos dos ligantes (LEE,1999). Tanto no estado 2+ quanto no estado 3+,
os íons metálicos de ferro demostram grande tendência em formar complexos,
formando de maneira geral compostos de coordenação com seis sítios e
geometria octaédrica (SIENKO & PLANE, 1977).
Além disso, em seus estados de oxidação II ou III, por serem
termodinamicamente estáveis, apresentarem uma química redox variada e
23
versátil e propriedades cinéticas favoráveis, são primordiais no estudo de
compostos na química de coordenação (NORDLANDER, et.al.,1998)
O ferro (III) apresenta um sistema d5 de configuração t2g5, e se comporta
como um íon metálico que recebe elétrons, sendo classificado como ácido
duro, relativamente inerte em relação a troca de ligantes (SHRIVER,1973;
ATKINS, 2012). Assim o ferro tende a ser estabilizado por ligantes que atuem
como base dura, ou seja, apresentem pouca polaridade e sejam muito
eletronegativos. Essas ligações ocorrem por meio de ligações covalentes ou
interações eletrostáticas, funcionando como doadoras no sentido σ e ,
levando a um abaixamento da carga formal do íon metálico central e sua
posterior estabilização.
O ferro (II) apresenta um sistema d6 e tem configuração t2g6
comportando-se como um íon doador relativamente mole, sendo, portanto
estabilizado por ligantes mole, ou seja, ligantes insaturados. Dentre estes
ligantes, podemos destacar os heterocíclicos nitrogenados, que tem orbitais p
vazios disponíveis para interagir com os orbitais d do metal através da ligação
(d – p). Outros ligantes também comuns além dos heterocíclicos
nitrogenados são: F-, Cl-, Br-, CN-, NH3, CH3OH e OH. (COTTON, F. A.;
WILKINSON, G., 1982).
Barbieri (BARBIERI, 1934) e Alfred (SCHILT,1957) estudaram os
complexos de ferro II com cianeto, 2,3 bipiridina e 1,10 fenantrolina e
observaram através das caracterizações espectroscópicas transições
eletrônicas que evidenciaram a formação dos compostos de coordenação.
Estudos relataram que para os complexos [Ru(NH3)5L]2+ e [Fe(CN)5L]3-,
onde L representa um ligante aromático heterocíclico nitrogenado foram
observados além de processos de labilização, bandas de transferência de
carga MLCT. (FORD, 1970; TAUBE, 1952; HREPIC & MALIN, 1979;
SHEPHERD & TAUBE, 1973; MALOUF & FORD, 1974; FIGARD &
PETERSON, 1978).
24
3.3 - Cianetos de Ferro
O cianeto é um ânion de carga simples contendo quantidades
unimolares de átomos de nitrogênio e carbono unidos por uma ligação tripla.
Ele é produzido naturalmente em várias reações bioquímicas. O cianeto e
capaz, em baixas concentrações, de formar complexos com praticamente
qualquer metal pesado. Os complexos metálicos com cianeto são classificados
de acordo com a sua estabilidade e força da ligação cianeto-metal. Podemos
observar alguns exemplos na tabela abaixo:
TABELA 4. Estabilidade relativa dos cianetos (SMITH & MUDDER, 1991)
Cianetos livres CN-, HCN
Compostos simples prontamente
solúveis
NaCN, KCN, Ca(CN)2, Hg(CN)2
Compostos simples relativamente
insolúveis
Zn(CN)2, Cd(CN)2, CuCN, Ni(CN)2,
AgCN
Complexos fracos Zn(CN)42- , Cd(CN)3
- , Cd(CN)42-
Complexos moderadamente fortes Cu(CN)2 -, Cu(CN)32-, Ni(CN)4
2-,
Ag(CN)22-
Complexos fortes Fe(CN)64-, Co(CN)6
4-
A estabilidade dos complexos formados pelo íon cianeto com metais de
transição é devido ao uso de seus orbitais d preenchidos para formar ligação
d – p, além da ligação coordenada σ. O CN- atua como um receptor de
elétrons dos metais de transição, sendo que essa estabilidade do íon cianeto
em relação aos íons ferro(II) e ferro (III) éw tão grande que eles podem ser
considerados como unidades (SIENKO & PLANE,1977).
Estudos relataram que mesmo estável no complexo, o íon cianeto pode
ser substituído por outros ligantes como a carbonila, a piridina, a água ou
amônia (STOCK, et.al., 2012). A fotossensibilidade dos ciano-complexos com
25
metais de transição é reconhecida desde meados do século passado e esta
área tem sido objeto de extensos estudos fotoquímicos, principalmente da
família do ferro, e mais recentemente, do grupo do crômio e cobalto.
Entre os ciano-complexos formados a partir dos metais de transição, os
penta-cianetos de ferro III são provavelmente os mais adequados da série para
estudo sistemático de estrutura e reatividade. Isso ocorre, porque os
complexos de cianeto de ferro III com grupos n-doadores tem afinidades com
ligantes insaturados (SHARPE,1976; TOMA, et.al.,1973). Um outro complexo
bastante conhecido e que inclusive pode ser visto na Tabela 4 é o íon
hexacianoferrato II ou ferrocianeto Fe(CN6)4- (LEE, 1999).
3.4 Ligantes Heterocíclicos Nitrogenados
Os ligantes que estão coordenados ao centro metálico tem um papel
importante. Em uma revisão feita por Taube (TAUBE,1952), ele aborda que,
nos complexos inorgânicos, as substituições dos ligantes coordenados
inicialmente na esfera de coordenação em relação ao mesmo centro metálico e
os efeitos causados por essa variação como por exemplo, estados de
oxidação, podem ser estudados e ter seus parâmetros comparados.
Os ligantes heterocíclicos nitrogenados possuem a capacidade de variar
suas propriedades, sejam elas físicas ou químicas, em função de sua estrutura.
Anéis em diferentes posições, conjugados ou não, adição de grupos
substituintes em diferentes posições, enfim, toda essa versatilidade, traz novas
propriedades ao composto (GERASIMCHUCK & BOWNAN-JAMESIK,1994).
Alguns complexos com ferro II que podemos citar bastantes estáveis são
formados com ligantes bidentados como etilenodiamina, 2,2 bipiridina e 1,10
fenatrolina (LEE,1999). Devido a essa estabilidade, complexos contendo
moléculas aromáticas como fenantrolinas, bipiridinas e derivados desses
ligantes tem grande importância para o estudo de reações de transferência
eletrônica no estado excitado.
Lima et.al (1999) estudou algumas propriedades de complexos formados
a partir do pentacianoferrato II com alguns ligantes como piridina, pirazina e
26
aromáticos, e por meio de caracterização utilizando o UV-vis(ultravioleta-
visível) observaram bandas de absorção forte na região visível, referente a uma
transferência de carga metal-ligante.
27
4. METODOLOGIA
4.1 Reagentes e purificações
4.1.1 Reagentes
Piridina e cloreto de mercúrio(II) – J.T.Baker Produdos Químicos Ltda
Hexacianeto de ferro
1,10 Fenantrolina P.A(orto) – Vetec
Acetona – Sigma - Aldrich
Éter de petróleo – Vetec
Álcool etílico P.A- A.C.S - Synth
Ácido Nítrico - Vetec
4.1.2 Purificações
Isonicotinamida: 5g de isonicotinamida foram dissolvidos em 15 ml de
aguá quente. Adicionou-se 0,5 g de carvão ativo e filtrou-se a quente. O filtrado
foi levado para cristalizar na geladeira durante 6 horas. Os cristais foram
coletados por filtração, lavados com etanol e éter, e secados ao ar. O
rendimento foi de 70 %.
4.2 - Amalgama de Zinco
Tratou-se o zinco metálico granulado lavando o mesmo diversas vezes
com água destilada. Em seguida, adicionou-se uma solução de cloreto de
mercúrio (II). Após alguns minutos, a solução foi separada do amálgama,
sendo este lavado por diversas vezes com água. Logo depois, foi adicionado
ácido nítrico, sendo lavado imediatamente com bastante agua destilada, para
posterior secagem ao ar.
28
4.3 - Sínteses dos compostos
4.3.1 - Síntese do hexacianeto de ferro e o ligante piridina
A massa de 1,0905 g de hexacianeto de ferro foi diluída em 5 ml de
água destilada, juntamente com amalgama de zinco e colocada sob refluxo e
agitação magnética constante. Após 15 minutos 1,365 g (0,5 ml) de piridina foi
adicionada a solução, e a mistura foi mantida sob agitação constante por 2
horas. A solução final foi filtrada a vácuo e ao sobrenadante foi adicionada
álcool etílico 99,8%, para a precipitação do complexo. A solução foi levada a
geladeira e deixada por um período de descanso de 20 minutos, havendo a
precipitação de um sólido de cor amarelada. Após esse período, a solução foi
filtrada a vácuo lavado com etanol e éter. Rendimento médio 40%. Observe o
esquema abaixo:
4.3.2 - Síntese do hexacianeto de ferro e o ligante isonicotinamida
A massa de 1,0052 g de hexacianeto de ferro foi diluída em 5 ml de
água juntamente com amalgama de zinco foi colocada sob agitação magnética
constante. Após 15 minutos, 1,0125 g de isonicotinamida foi adicionada a
solução, e a mistura foi mantida sob agitação constante por 2 horas. A solução
final foi filtrada a vácuo e ao sobrenadante foi adicionada álcool etílico 99,8%,
para a precipitação do complexo. A solução foi levada a geladeira e deixada
29
por um período de descanso de 20 minutos, havendo a precipitação de um
sólido de cor amarelo claro. Após esse período, a solução foi filtrada a vácuo
lavado com etanol, éter. Rendimento médio 45%. Observe o esquema abaixo:
4.3.3 - Síntese do hexacianeto de ferro e os ligantes isonicotinamida e
fenantrolina
A massa de 1,0170 g de hexacianeto de ferro foi diluída em 2,5 ml de
água e juntamente com amalgama de zinco foi colocada sob refluxo e agitação
magnética constante. Após 15 minutos, 0,5 ml de isonicotinamida foi
adicionada a solução, e a mistura foi mantida sob agitação constante por 40
minutos. Logo depois, 0,5083 g de fenantrolina foram diluídos em 2,5 ml de
etanol e acrescentado a solução, havendo claramente a mudança na cor da
solução de um marrom-amarelado para um amarelo mais forte. A mistura foi
deixada por mais 1 hora sob agitação constante. A solução final foi filtrada a
vácuo e ao sobrenadante foi adicionada álcool etílico 99,8%, para a
precipitação do complexo. A solução foi levada a geladeira e deixada por um
período de descanso de 20 minutos, havendo a precipitação de um sólido de
cor amarelo bem forte. Após esse período, a solução foi filtrada a vácuo lavado
com etanol e éter. Observe o esquema abaixo:
30
4.3.4 Síntese do hexacianeto de ferro e os ligantes piridina e fenantrolina
A massa de 1,0108 g de hexacianeto de ferro foi diluída em 2,5 ml de
água e juntamente com amalgama de zinco foi colocada sob agitação
magnética constante. Após 15 minutos, 0,5068 g de piridina foram adicionadas
a solução, e a mistura foi mantida sob agitação constante por 40 minutos.
Logo depois, 0,5095 g de fenantrolina foram diluídos em 2,5 de etanol e
acrescentado a solução, havendo claramente a mudança de um marrom-
amarelado para um amarelo mais forte, após a adição de fenantrolina. A
mistura foi deixada por mais 1 hora sob agitação constante. A solução final foi
filtrada a vácuo e ao sobrenadante foi adicionada álcool etílico 99,8%, para a
precipitação do complexo. A solução foi levada a geladeira e deixada por um
período de descanso de 20 minutos, havendo a precipitação de um sólido de
cor amarelo bem forte. Após esse período, a solução foi filtrada a vácuo lavado
com etanol e éter. Observe o esquema abaixo:
31
4.4 Descrições dos métodos e técnicas de caracterização
4.4.1 Espectroscopia de absorção na região do ultravioleta-visível
Os espectros eletrônicos de UV-vis foram obtidos em cela de quartzo,
com caminho óptico de 1 cm utilizando-se o espectrofotômetro Perkin Elmer
UV-vis Spectometer Lambda 25 P.
4.4.2 Espectroscopia de absorção na região do infravermelho
Os espectros de absorção na região do infravermelho foram obtidos por
transformadas de Fourier com emprego do Espectrofotômetro da Perkin Elmer,
modelo Spectrum 100, com resolução 4 cm-1, na região compreendida entre
4.000 – 600 cm-1, utilizando a técnica de reflectância atenuada (ATR).
4.4.3 Análise térmica
As curvas TG/DSC foram obtidas no equipamento TG/DSC da Mettler
Toledo. O sistema foi calibrado seguindo as especificações fornecidas pelo
fabricante. As curvas foram obtidas em cadinho de α-Al2O3 (70 µL), com massa
32
de amostra aproximadamente 7 mg, razão de aquecimento de 30 a 1000 ºC a
20 ºC min-1, em atmosferas de ar seco e nitrogênio com vazão de 50 ml min-1.
4.4.4 Análise elementar
As medidas de análise elementar foram realizadas no Instituto de Química
da USP-SP, com o objetivo de determinar a porcentagem de carbono,
nitrogênio e hidrogênio dos compostos sintetizados.
4.4.5 Difração de Raio-X
As medidas de difração por raio-x foram realizadas no instituto de química
da Unb em Brasília e refinadas utilizando o pacote de software da bruker
SHELXTL.
4.4.6 Estudo Computacional
Os estudos computacionais foram realizados em computadores de alto
rendimento através do pacote Gaussian 09 utilizando a Teoria de Densidade
Funcional ( DFT), métodos híbridos como B3LYP e funções de base atribuídas
aos ligantes como 6-311G.
33
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO
5.1- Espectroscopia no infravermelho
As figuras 2 e 3 mostram o espectro do composto
K3[Fe(CN)5(py)].4KCN e a comparação entre K3[Fe(CN)5(py)].4KCN e
K3[Fe(CN)6] respectivamente. De forma geral, podemos observar para os dois
compostos a presença de um intenso pico pertencente ao grupo cianeto em
2040 cm-1, consistente com compostos encontrados na literatura (ZANG et.al,
2006; ATAC et.al, 2006). Mostra a literatura que grupos CN apresentam um
único sinal no Infravermelho característico do estiramento simétrico do grupo.
Essa característica e observada no composto de partida K3[Fe(CN)6], porém,
quando comparamos o complexo sintetizado ao complexo inicial (partida)
notamos um segundo pico em 2117 cm-1, A presença deste segundo pico
pode ser atribuída a presença do ligante heterocíclico nitrogenado que pode ter
alterado o modo vibracional do grupo CN, uma vez que os ligantes
heterocíclicos nitrogenados possuem volume e densidade eletrônica diferente
do grupo CN. A grande intensidade dos picos atribuídos ao grupo CN em 2040
cm-1 e 2117 cm1, dificultaram a identificação dos modos vibracionais mais
característicos dos ligantes. Apesar disso, ao observamos a Figura 3.1, é
possível verificar no composto formado o surgimento de alguns picos,
sumarizados na Tabela 5, que não existiam no composto de partida. Um
desses grupos, característicos do ligante piridina livre, e que pode ser
identificado no complexo, e o estiramento angular assimétrico (C=N). Observa-
se um deslocamento nessa frequência δas(C=N), assim como uma diminuição
da intensidade em relação ao ligante livre (figura 4). Mostra a literatura (TREU
FILHO et.al, 2006; CONDRATE & NAKAMOTO, 1965), de compostos análogos
contendo o grupo (C=N), que a formação do sistema complexo leva a uma
diminuição considerável na intensidade do pico referente a essa vibração, e em
alguns casos a sua total supressão. Pequenos deslocamentos de deformações
angulares assimétricas e axiais simétricas e assimétricas do grupo (C=C) em
relação ao ligante livre, são observados. Essas deformações podem ser
atribuídas a interações eletrostáticas dos elétrons - e o centro metálico.
34
TABELA 5. IR teórico e experimental para identificação dos modos vibracionais
nas análises com o ligante piridina
Bandas atribuídas (cm-1)
Sistema
Livre
Livre( teórico)
Py
Compostos
piridina
piridina
K3[Fe(CN)5(py)].4KCN
δas (C=C)
700
681,36
701
δas(C=N)
747
770,32
760
νs(C=C)
1148
1099
1136
νas(C=C)
1481
1480
1451
νs (C-H)
3075
3168
-
vs: Estiramento simétrico/ vas: Estiramento assimétrico/ δas: dobramento assimétrico
FIGURA 2. Espectro IR do complexo K3[Fe(CN)5(py)].4KCN
35
FIGURA 3.Comparação entre os espectros IR do complexo K3[Fe(CN)5(py)].4KCN e
hexacianeto de ferro
FIGURA 3.1- Comparação entre os espectros IR do complexo
K3[Fe(CN)5(py)].4KCN e do hexacianeto de ferro
36
FIGURA 4. Espectro IR da piridina livre
A figura 5 mostra o espectro na região do infravermelho próximo para o
composto K3[Fe(CN)5(isn)] e assim como no composto anterior, a grande
intensidade do pico característico do grupo cianeto também dificultou a análise
desse espectro. Na figura 6.1 e 6.2 o espectro do composto K3[Fe(CN)5(isn)]
comparado ao composto de partida revela a presença dos picos característicos
do ligante isn no composto final, com as frequências descritas na tabela 6. As
frequências que caracterizam esse ligante também estão descritas na
literatura, seja da molécula livre ou na formação de outros compostos de
coordenação (ATAC et.al, 2006; TREU FILHO et.al.,2006). Vibrações axiais
simétricas (C=C) e do grupo carbonila (C=O) do ligante isn livre, foram
observadas no espectro do composto final. Destacamos ainda a presença do
estiramento axial simétrico do grupo NH2 característico do ligante (isn) livre, no
composto final, sendo que a sua presença sugere que esse grupo não participa
efetivamente da ligação com o centro metálico. Não é possível observar a
presença da vibração simétrica do grupo (C=N) indicando que a vibração foi
37
inibida, e que a coordenação com o centro metálico ocorreu a partir deste
grupo (SCHILT, 1957; TREU FILHO et.al.,2006).
TABELA 6. IR teórico e experimental para identificação dos modos vibracionais
nas análises com o ligante isonicotinamida.
Bandas atribuídas (cm-1)
Sistema
Livre
Livre(teórico)
isn
Compostos
isonicotinamida
isonicotinamida
K3[Fe(CN)5(isn)]
vs (C=C)
1622
1626
1620
νs (C=O)
1655
1644
1648
νs(N-H)
3363
3595
3588
vs(C=N)
994
996
-
vs: Estiramento simétrico
FIGURA 5. Espectro IR do complexo K3[Fe(CN)5(isn)]
38
FIGURA 6.Comparação entre os espectros IR do complexo K3[Fe(CN)5(isn)] e
hexacianeto de ferro
FIGURA 6.1 - Comparação entre os espectros IR do complexo K3[Fe(CN)5(isn)] e do
hexacianeto de ferro
39
FIGURA 6.2-Comparação entre os espectros IR do complexo K3[Fe(CN)5(isn)] e do
hexacianeto de ferro
FIGURA 7. Espectro IR da isonicotinamida livre
40
Na Figura 9 é possível observar que os espectros referentes as sínteses
dos compostos obtidos com fenantrolina [Fe2+(CN)x(phen)y(isn)k(H2O)w]+/-z e
[Fe2+(CN)x(phen)y(py)k(H2O)w]+/-z são coincidentes. Podemos também observar
que os modos vibracionais característicos da isonicotinamida como a carbonila
(C=O), observada na tabela 6, não foram observados, e em relação à piridina
não é possível distinguir os modos vibracionais dos ligantes piridina e
fenantrolina, já que os mesmos aparecem na mesma região. Estas
observações sugerem que durante o processo de síntese ocorreu a labilização
dos ligantes (piridina e isonicotinamida) pelo ligante fenantrolina, sendo este o
único ligante na esfera de coordenação. As frequências características desse
ligante estão descritas na tabela 7. A figura 8 mostra uma diminuição muito
grande na intensidade dos modos vibracionais angulares simétricos referentes
ao grupo (C=N). Esse fator e um indicativo de coordenação por esse sítio.
Podemos também perceber a presença de pequenos deslocamentos nas
vibrações axiais simétricas, assimétricas e angulares simétricas do grupo
(C=C) no complexo formado em relação ao ligante livre. A presença de todos
esses picos, característicos do ligante fenantrolina, além da comparação com
resultados descritos na literatura (KONIG,1968), são fortes indicativos da
coordenação com esse ligante. Observa-se também a presença de água de
coordenação no complexo, que pode ser comprovada em função da banda
larga (O-H) que aparece na frequência de 3392 cm-1 e que sobrepõe o
estiramento axial assimétrico (C=H) da fenantrolina, como pode ser observado
na Figura 8.
41
TABELA 7. IR experimental para identificação dos modos vibracionais nas
análises com o ligante fenantrolina.
[Fe2+(CN)x(phen)y(OH)W]+/-z Fenatrolina livre Bandas atribuídas (cm-1)
642 623 νas(C=N)
1518 1503 νas(C=C)
1707 1742 νas(C=C)
1106 1093 δas(C=C)
1146 1141 νs(C-H)
1226 1217 νs(C=C)
726 737 δas(C=N)
3062 3060 νas(C=H)
3392 - νs(O-H)
vs: Estiramento simétrico/ vas: Estiramento assimétrico/ δas: dobramento assimétrico
42
FIGURA 8. Comparação entre os espectros IR do complexo [Fe2+(CN)x(phen)y(H2O)w] +/-z e fenantrolina livre
43
FIGURA 9. Comparação entre os espectros IR do complexo
[Fe2+(CN)x(py)k(phen)y(H2O)w]+/-z e do [Fe2+(CN)x(isn)k(phen)y(H2O)w]+/-z
5.2 - Espectroscopia no ultravioleta-visível
As figuras 10 e 11 mostram o espectro UV-visível dos compostos
sintetizados, onde podemos observar para o composto obtido com o ligante py,
(figura 11) a presença de picos de máxima absorção em λmax em 420 nm
(ε=1,47 x 103 mol-1.L.cm-1) ,303 nm (ε = 2,47 x 103 mol-1.L.cm-1) e em 260 nm
(ε = 2,19 x 103 mol-1.L.cm-1). A formação de uma banda na região do visível
420 nm e pode ser atribuída a transferência de carga metal-ligante (SCHILT,
44
1957, CHEN et.al, 2013), enquanto que as bandas observadas em 303 e 260
nm é atribuída a as transições internas do ligante. O espectro obtido com o
ligante isn (figura 10) mostra bandas em 418 nm (ε = 5,35 x 105 mol-1.L.cm-1),
320 nm (ε = 8,69 x105 mol-1.L.cm-1) e em 215 nm (ε = 2,11 x 106 mol-1.L.cm-1),
bastante intensas. Já o composto sintetizado com phen observado na figura 12
apresenta uma banda (MLCT) em 422 nm e outra em 265 nm que, assim
como a banda dos outros compostos que aparecem na mesma região, é
atribuída às transições internas dos ligantes. As séries de bandas presentes na
região do ultravioleta próximo para ambos os complexos são consistentes com
as bandas observadas no ligante livre, porém com intensidades menores. As
intensas bandas observadas na região do visível atribuídas à transições do tipo
MLCT, constitui um aspecto importante para utilização deste sistema em
células do tipo dye-sensitized solar cell (DSSC) (HAO et.al, 2006), uma vez que
processo induzidos pela luz podem ser considerados.
FIGURA 10-Comparação entre os espectros UV-vis do complexo K3[Fe(CN)5(isn)]
7,53 x 10-7 em água e do ligante isonicotinamida livre
45
FIGURA 11. Comparação entre os espectros UV-vis do complexo
K3[Fe(CN)5(py)].4KCN 1,04 x 10-4 mol.L-1 em água e da piridina livre
FIGURA 12. Comparação entre os espectros UV-vis do complexo
[Fe2+(CN)x(phen)y(H2O)w]+/-z e do ligante fenantrolina livre
46
5.3 - Análise Térmica
Durante o processo de síntese, foi utilizado um agente redutor (ZnHg)
com o objetivo de reduzir o estado de oxidação do metal de ferro III para ferro
II, aumentando assim a afinidade do metal com os ligantes heterocíclicos
nitrogenados (PEARSON, R. G.,1963). A análise térmica foi feita com intuito de
verificar o estado de oxidação do ferro nos compostos de coordenação que
foram formados. O complexo K3[Fe(CN)5(isn)] foi analisado em atmosfera de ar
e em atmosfera de nitrogênio e os resultados podem ser observados nas
figuras 13 e 14. Em atmosfera de ar (Figura14) podemos perceber por volta de
389 ºC um relativo ganho de massa do composto. Quando observamos a curva
desse mesmo composto em atmosfera de N2 (Figura13) não e possível verificar
esse ganho de massa na curva TG/DSC. Assim, podemos inferir que esse
ganho de massa ocorreu em função da oxidação do centro metálico, ou seja,
passando do estado Fe2+ para Fe3+. Com isso, foi possível caracterizar através
da análise térmica que o estado e oxidação do ferro nos complexos e 2+,
permanecendo estável durante a formação dos compostos de coordenação. As
curvas TG/DSC dos outros compostos apresentaram as mesmas
características do composto que foi analisado. Não foi possível determinar a
estequiometria dos compostos de coordenação devido ao ganho de massa que
atribuímos a oxidação do ferro. Os outros compostos formados também foram
analisados e apresentaram o mesmo resultado.
47
FIGURA 13. Curva TG/DSC complexo K3[Fe(CN)5(isn)] em atmosfera de nitrogênio
Figura 14. Curva TG/DSC complexo K3[Fe(CN)5(isn)] em atmosfera de ar
48
5.4 - Análise elementar
A análise elementar de carbono, hidrogênio, nitrogênio e dos compostos
sintetizados fornecem uma indicação de sua fórmula molecular. As fórmulas
moleculares apresentadas pelos compostos são consistentes com os dados
obtidos, segundo a Tabela 8. Não foi possível determinar determinar a
estequiometria do complexo [Fe2+(CN)x(phen)y(H2O)w]+/-z , provavelmente em
virtude da contaminação de KCN.
TABELA 8-Análise elementar de Carbono, Hidrogênio e Oxigênio para
os complexos sintetizados
Complexos C (%) H (%) N (%)
K3[Fe2+(CN)5(isn)] 30,15(31,06) 1,13(1,42) 22,83(23,05)
K3[Fe2+(CN)5(py)].4KCN 26,77(26,16) 0,66(0,78) 23,99(21,79)
Entre parêntese- valor teórico
5.5 Difração de Raio-X
A análise por difração de de raio-x (figura 15) foi originada a partir das
medidas referentes aos complexos K3[Fe(CN)5(isn)] e K3[Fe(CN)5(py)].4KCN.
Como pode ser visto, eles deram origem a mesma estrutura, o hexacianeto de
ferro III K3[Fe3+(CN)6], que foi o composto de partida utilizado na síntese com os
ligantes N-heterocíclicos. É possível que durante o processo de cristalização,
que consiste na solubilização do complexo no solvente, tenha ocorrido a
labilização do ligante por CN, uma vez que este poderia estar presente como
contaminante junto ao complexo. Não foi possível determinar a estrutura do
complexo [Fe2+(CN)x(phen)y]+/-z pois os cristais estavam germinados.
50
TABELA 9 – Distâncias atômicas das ligações formadas na estrutura molecular
de Raio-x
Ligação Distância(ºA) Ligação Distância(ºA)
Fe1-C2 1.935(2) Fe1-C2 1.935(2)
Fe1-C3 1.9389(18) Fe1-C3 1.9390(19)
Fe1-C1 1.9400(19) Fe1-C1 1.9400(19)
K2-N2 2.7726(16) K2-N2 2.7726(16)
K2-N1 2.9509(17) K2-N3 2.9812(17)
K2-C1 3.1384(17) K2-C3 3.1545(17)
K2-K1 4.1431(5) K2-K1 4.6175(5)
K2-K1 4.6175(5) K2-K1 4.8435(5)
K2-K1 4.8435(5) C1-N1 1.144(2)
C1-K1 3.3864(19) N1-K1 3.2431(18)
C3-N3 1.149(2) C3-K1 3.3618(19)
N2-C2 1.147(2) N2-K2 2.7727(16)
N2-K1 2.8895(19) N2-K1 2.9361(19)
N3-K1 2.8632(18) N3-K1 3.1934(18)
C2-K1 3.3563(18) C2-K1 3.4394(19)
K1-N3 2.8633(18) K1-N2 2.8895(19)
K1-N2 2.9361(19) K1-N3 3.1934(18)
K1-N1 3.2431(18) K1-C2 3.3563(18)
K1-C3 3.3618(19) K1-C1 3.3864(19)
K1-C2 3.4394(19) K1-K1 4.20919(14)
K1-K1 4.20919(14) K1-K2 4.6175(5)
51
TABELA 10- Dados de refinamento da estrutura do composto K3[Fe(CN)6]
Fórmula empírica C5H3FeK1.5N
Peso molecular 191.58
Temperatura 296(2) K
Comprimento de onda 0.71073 Å
Tamanho do cristal 0.100 x 0.120 x 0.300 mm
Cor do cristal laranja
Sistema cristalino monocíclico
Grupo espacial P121/c 1
Dimensão da célula unitária a = 7.0443(2) Å α = 90°
b = 10.4046(3) β = 107.312(2)°
c = 8.3787(2) Å γ = 90°
Volume 586.28(3) Å3
Z 4
Densidade (calculada) 2.171 Mg/cm3
Coeficiente de absorção 3.510 mm-1
F(000) 378
Limite de θ para coleta de dados 3.03 para 27.51°
Índice de intervalos -8<=h<=9, -13<=k<=11, -9<=l<=10
Reflecções coletadas 4755
Reflecções independentes 1344 [R(int) = 0.0270]
Cobertura das reflexões
independentes
100.0%
Correção por absorção Multi-scan
Max. e min. transmissão 0.7248 and 0.4181
Método de refinamento Matriz completa de mínimos quadrados em F2
52
6. CONCLUSÃO
As sínteses realizadas para obtenção dos compostos mostraram ser
reprodutíveis, e as análises elementares realizadas permitiram chegar a
estequiometria e fórmula dos compostos obtidos com py e isn. A
espectroscopia na região do Ultravioleta-Visível revelou que os compostos
apresentam bandas de transferência de carga, o que abre a possibilidade de
utilização destes compostos como corantes sintetizadores em células solares.
Os resultados de infravermelho destacaram a presença dos grupos específicos
pertencentes aos ligantes heterocíclicos nitrogenados piridina, isonicotinamida
e fenantrolina nos compostos sintetizados, e também auxiliaram a determinar o
grupo no ligante aonde ocorreu a ligação com o centro metálico. O estudo de
análise térmica revelou que o estado de oxidação do centro metálico e 2 +. A
difração de raio-x demostrou que houve a labilização dos ligantes py e isn por
CN. Já em relação ao composto formado com o ligante phen não foi possível
realizar a difração de raio-x pois os cristais estavam germinados.
53
7.PERSPECTIVAS FUTURAS
Entre as perspectivas futuras para este trabalho estão a realização de
atividade fotoquímica frente a ação da luz e também a montagem da célula foto
eletroquímica regenerativa com o objetivo de verificar a eficiência dos corantes
que foram sintetizados e caracterizados no decorrer do processo.
54
8.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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