sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

95
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica DEM/POLI/UFRJ SISTEMAS ESPECIALISTAS - PROJETO DE PARAFUSOS DE UNIÃO Carlos Felipe Espiúca Monteiro PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO MECÂNICO. Aprovado por: ________________________________________________ Flávio de Marco Filho ________________________________________________ Sylvio José Ribeiro de Oliveira ________________________________________________ Vitor Ferreira Romano RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL JANEIRO DE 2014

Upload: ledang

Post on 07-Jan-2017

227 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica

DEM/POLI/UFRJ

SISTEMAS ESPECIALISTAS - PROJETO DE PARAFUSOS DE UNIÃO

Carlos Felipe Espiúca Monteiro

PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO

DE ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE

ENGENHEIRO MECÂNICO.

Aprovado por:

________________________________________________

Flávio de Marco Filho

________________________________________________

Sylvio José Ribeiro de Oliveira

________________________________________________

Vitor Ferreira Romano

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

JANEIRO DE 2014

Page 2: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

Índice do texto

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS ....................................................................................................... 1

2. SISTEMAS ESPECIALISTAS .......................................................................................................... 2

2.1 Estrutura de um Sistema Especialista ................................................................................. 2

2.2 Etapas de construção de um Sistema Especialista .............................................................. 3

2.3 Tipos de problemas solucionados por Sistemas Especialistas ............................................ 5

2.4 Vantagens da utilização de Sistemas Especialistas ............................................................. 8

3. PARAFUSOS DE UNIÃO .............................................................................................................. 9

3.1 Fixadores na engenharia ..................................................................................................... 9

3.2 Aplicações de parafusos .................................................................................................... 10

3.3 Classificação dos parafusos ............................................................................................... 10

3.4 Arruelas ............................................................................................................................. 13

3.5 Padrões de roscas e definições ......................................................................................... 13

3.6 Fabricação de parafusos .................................................................................................... 18

4. FALHAS POR FADIGA ............................................................................................................... 18

4.1 Introdução à fadiga em metais ......................................................................................... 18

4.2 Determinação da resistência à fadiga ............................................................................... 21

4.3 Estimativa da vida do equipamento .................................................................................. 22

4.4 Limite de resistência à fadiga ............................................................................................ 23

4.5 Fatores modificadores do limite de resistência à fadiga................................................... 25

4.5.1 Fator de acabamento superficial (ka) ......................................................................... 26

4.5.2 Fator de tamanho (kb) ................................................................................................ 27

4.5.3 Fator de confiabilidade (kc) ........................................................................................ 27

4.5.4 Fator de temperatura (kd) .......................................................................................... 28

4.5.5 Fator de concentração de tensões (ke) ...................................................................... 29

4.5.6 Fator de efeitos variados (kf) ...................................................................................... 31

4.6 Critérios de falha por fadiga .............................................................................................. 31

5. DIMENSIONAMENTO DAS UNIÕES POR PARAFUSO ............................................................... 35

5.1 Cargas na união por parafuso ........................................................................................... 35

5.2 Critérios para o dimensionamento ................................................................................... 36

5.3 Rigidez da união por parafusos ......................................................................................... 38

5.4 Resistência dos parafusos ................................................................................................. 41

Page 3: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

ii

5.5 Fadiga em uniões por parafusos ....................................................................................... 44

5.6 Especificação da união por parafuso ................................................................................. 45

5.6.1 Carregamento estático ............................................................................................... 46

5.6.2 Carregamento dinâmico ............................................................................................. 46

6. DESENHO TÉCNICO .................................................................................................................. 47

6.1 Criando um desenho técnico ............................................................................................ 47

6.2 Normas .............................................................................................................................. 47

7. PROGRAMA DESENVOLVIDO ................................................................................................... 52

7.1 Janela principal .................................................................................................................. 52

7.2 Janela de gráficos .............................................................................................................. 55

7.3 Janela de juntas ................................................................................................................. 57

7.4 Configuração dos gráficos ................................................................................................. 58

7.5 Janela de desenho ............................................................................................................. 59

7.6 Fixação de chapa circular .................................................................................................. 62

7.7 Visão geral do programa e conclusões .............................................................................. 65

REFERÊNCIAS ............................................................................................................................... 66

FIGURAS E TABELAS ..................................................................................................................... 67

Índice de figuras

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS ....................................................................................................... 1

2. SISTEMAS ESPECIALISTAS .......................................................................................................... 2

Figura 2.1: Arquitetura típica de um Sistema Especialista ........................................................ 3

3. PARAFUSOS DE UNIÃO .............................................................................................................. 9

Figura 3.1: Exemplos de aplicações de fixação por parafuso .................................................. 10

Figura 3.2: Diversas formas e geometrias de cabeças de parafuso ........................................ 11

Figura 3.3: Exemplos de cabeças especiais de parafuso ......................................................... 12

Figura 3.4: Exemplos de alguns dos tipos de rosca e suas aplicações .................................... 12

Figura 3.5: Perfil básico para roscas métricas M e MJ ............................................................ 15

4. FALHAS POR FADIGA ............................................................................................................... 18

Figura 4.1: Falha por fadiga de uma peça submetida a cargas cíclicas ................................... 20

Figura 4.2: Corpo de prova típico para o ensaio de viga rotativa ........................................... 21

Figura 4.3: Diagrama S-N do ensaio de fadiga típico de aços ................................................. 22

Page 4: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

iii

Figura 4.4: Dados de diversos ensaios de fadiga para diferentes materiais ........................... 24

Figura 4.5: Carta de sensibilidade ao entalhe de aços e ligas de alumínio submetidas à flexão

reversa ou cargas axiais reversas ............................................................................................ 30

Figura 4.6: Carta de concentração de tensões em uma peça cilíndrica com redução de

diâmetro submetida à flexão .................................................................................................. 30

Figura 4.7: Carta de concentração de tensões em uma peça cilíndrica sulcada submetida à

flexão ....................................................................................................................................... 31

Figura 4.8: Diagrama de fadiga para vários critérios de falha ................................................. 33

5. DIMENSIONAMENTO DAS UNIÕES POR PARAFUSO ............................................................... 35

Figura 5.1: Análise de esforços em uma união por parafusos ................................................ 35

Figura 5.2: Compressão da junta representada por um tronco de cone ................................ 39

6. DESENHO TÉCNICO .................................................................................................................. 47

7. PROGRAMA DESENVOLVIDO ................................................................................................... 52

Figura 7.1: Janela inicial do programa com os dados propostos no exemplo 1 ..................... 53

Figura 7.2: Janela de avaliação do parafuso mostrando a avaliação feita a partir dos dados do

exemplo 1 ................................................................................................................................ 54

Figura 7.3: Gráficos do coeficiente de segurança e da força na junta para os dados do

exemplo 1 ................................................................................................................................ 56

Figura 7.4: Gráfico de número de ciclos em função da força de aperto do parafuso para os

dados do exemplo 1 ................................................................................................................ 57

Figura 7.5: Janela de juntas com as configurações apresentadas no exemplo 2 ................... 58

Figura 7.6: Janela de configuração dos gráficos com os dados do exemplo 3 ........................ 59

Figura 7.7: Janela de desenho do programa apresentando o desenho gerado pelos dados do

exemplo 1 ................................................................................................................................ 60

Figura 7.8: Parafuso especificado com a cabeça sextavada externa ...................................... 61

Figura 7.9: Parafuso especificado com a cabeça sextavada interna ....................................... 61

Figura 7.10: Exemplo da janela “Fixação de chapa circular” em execução ............................ 64

Figura 7.11: Modelo 3D em AutoCAD da chapa representada na figura 7.10 ........................ 65

Índice de tabelas

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS ....................................................................................................... 1

2. SISTEMAS ESPECIALISTAS .......................................................................................................... 2

3. PARAFUSOS DE UNIÃO .............................................................................................................. 9

Tabela 3.1: Diâmetros e áreas de roscas métricas de passo grosso e fino ............................. 16

Tabela 3.2: Diâmetros e áreas de roscas de parafusos unificados UNC e UNF....................... 17

Page 5: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

iv

4. FALHAS POR FADIGA ............................................................................................................... 18

Tabela 4.1: Valores do fator ka para diferentes acabamentos superficiais ............................. 26

Tabela 4.2: Valores do fator kc para diferentes níveis de confiabilidade ................................ 28

5. DIMENSIONAMENTO DAS UNIÕES POR PARAFUSO ............................................................... 35

Tabela 5.1: Resistências de parafusos segundo a especificação SAE ...................................... 42

Tabela 5.2: Resistências de parafusos segundo a especificação ASTM .................................. 43

Tabela 5.3: Resistências de parafusos segundo a especificação métrica ............................... 44

Tabela 5.4: Valores do fator para diferentes tipos de parafuso ........................................ 45

6. DESENHO TÉCNICO .................................................................................................................. 47

Tabela 6.1: Dimensões métricas de parafusos sextavados externos ...................................... 48

Tabela 6.2: Dimensões unificadas de parafusos sextavados externos ................................... 49

Tabela 6.3: Dimensões métricas de parafusos sextavados internos ...................................... 50

Tabela 6.4: Dimensões unificadas de parafusos sextavados internos .................................... 51

7. PROGRAMA DESENVOLVIDO ................................................................................................... 52

Page 6: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

1

1. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS

Com o avanço das tecnologias nas diversas áreas da engenharia, é cada vez mais

importante que se chegue às soluções de novos problemas o mais rápido e

eficientemente possível. Mas para atacar os novos desafios de engenharia, e desenvolver

projetos complexos é necessário que algumas questões sejam resolvidas sem exigir

muito tempo do projetista.

O resultado disso é que, desde o advento do computador digital, existe uma forte

tendência em criar programas que possam facilitar o trabalho do engenheiro na hora de

realizar algumas etapas do projeto. Com isso em mente, o objetivo deste projeto é

desenvolver uma ferramenta que possa desempenhar esse papel no projeto de um

determinado elemento de máquina. Este tipo de programa é chamado de sistema

especialista, e será analisado com mais detalhes posteriormente.

O elemento de máquina escolhido para ser o alvo desse programa foi o parafuso

de união. Este elemento é utilizado largamente em quase toda máquina, desde parafusos

que trabalham em uniões com poucas cargas até parafusos submetidos a grandes tensões

e características complexas de operação.

É muito difícil encontrar um equipamento mecânico que não necessite do uso de

parafusos de união. Sendo assim, é razoável imaginar que se o engenheiro for dedicar o

seu precioso tempo recordando os fundamentos básicos de elementos de máquinas e

mecânica dos sólidos para poder dimensionar adequadamente o parafuso necessário à

sua aplicação, o projeto será consideravelmente atrasado, e num mercado competitivo

isso não é uma ideia nem um pouco atraente.

O objetivo deste projeto é, portanto, desenvolver um sistema especialista que seja

capaz de informar ao engenheiro o parafuso mais adequado para as condições

operacionais indicadas. Basicamente o que o programa fará é analisar todas as

condições sobre as quais o parafuso deve operar, e com base em critérios de

dimensionamento e o conhecimento de elementos de máquinas embutido na sua base

conhecimento, o programa retornará ou usuário as dimensões adequadas ao parafuso

que deve ser especificado, fornecendo também o desenho técnico do parafuso bem

como o seu modelo 3D.

Fica claro que esse tipo de sistema pode facilitar muito o trabalho de um

projetista, mas é claro que o programa serve apenas como um guia para a decisão em

Page 7: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

2

um projeto. Nenhum programa de computador, por mais conhecido e robusto que seja,

deve ser utilizado cegamente, no final das contas o que garante um resultado satisfatório

ao final de um projeto é a experiência e o senso crítico do engenheiro.

Para entender um pouco melhor como é pensado esse tipo de programa que será

desenvolvido, é interessante estudar um pouco mais a fundo o que é um sistema

especialista, isso será apresentado no próximo capítulo.

2. SISTEMAS ESPECIALISTAS

2.1 Estrutura de um Sistema Especialista

Sistemas Especialistas são programas de computador projetados para similar a

tomada de decisões e o raciocínio de um profissional “expert” em uma área de

conhecimento bem específica.

Todo o conhecimento que o Sistemas Especialistas contém, é adquirido através de

pessoas especialistas, que transferem o seu conhecimento (acumulado durante toda sua

vida profissional) para o sistema.

Em resumo podemos afirmar que os Sistemas Especialistas são uma técnica de

Inteligência Artificial desenvolvida para resolver problemas em um determinado

domínio cujo conhecimento utilizado é obtido de pessoas que são especialistas naquele

domínio.

Um sistema especialista tem uma estrutura única, diferente dos programas de

computador tradicionais. Este tipo de sistema é tipicamente dividido em três partes:

base de conhecimento

memória de trabalho

mecanismo de inferências

A base de conhecimento é o elemento que armazena o conhecimento abstrato.

Normalmente, a base de conhecimento é vista como a base de regras onde o

conhecimento abstrato é armazenado em um conjunto de regras de produção do tipo:

Se (situação) Então (conclusão ou ação)

A memória de trabalho é o elemento que armazena o conhecimento concreto, ou

seja, alguns parâmetros que são armazenados na memória para serem analisados no

Page 8: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

3

processo de inferência. Essa memória é de caráter transitório, pois novos parâmetros

podem estar sendo continuamente acrescentados ou apagados.

O mecanismo de inferências é o processador ou interpretador de conhecimento,

sendo considerado o coração do Sistema Especialista. Esta parte do sistema é

responsável por buscar, selecionar e avaliar as regras que foram pegas na base de

conhecimento. A sua principal função é combinar o conhecimento abstrato contido na

base de regras, com o conhecimento concreto armazenado na memória de trabalho,

inferindo conclusões e gerando novos parâmetros para a memória de trabalho.

A figura 2.1 apresenta um esquema que mostra a arquitetura típica de um Sistema

Especialista.

Figura 2.1: Arquitetura típica de um Sistema Especialista

2.2 Etapas de construção de um Sistema Especialista

O processo de coleta e estruturação do conhecimento é chamado de aquisição de

conhecimento. O engenheiro de conhecimento é a pessoa encarregada de construir o

Sistema Especialista, enquanto que a pessoa que possui o conhecimento necessário para

o desenvolvimento do Sistema Especialista é chamada de especialista. As etapas da

criação de um Sistema Especialista são apresentadas a seguir:

Page 9: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

4

a) Estabelecer o problema a ser resolvido;

Primeiramente, é necessário verificar se o problema de interesse pode ser

resolvido de forma declarativa, ou seja, através de um Sistema Especialista, ou

se um programa procedimental é mais adequado para representar e resolver

este problema.

b) Buscar um especialista ou uma fonte de conhecimento equivalente;

Esta é uma etapa importantíssima na concepção de um Sistema

Especialista e deve ser feita com muito cuidado, pois a eficiência e utilidade do

sistema dependem diretamente do conhecimento nele contido, e este

conhecimento é obtido do especialista.

c) Projetar o Sistema Especialista;

Depois do engenheiro de conhecimento ter escolhido o especialista, e ter

definido com ele os recursos necessários para o desenvolvimento deste projeto

(tempo, facilidades computacionais, etc), bem como as metas e objetivos a

serem alcançados, inicia-se o projeto propriamente dito do Sistema

Especialista.

d) Determinar o grau de participação do usuário;

Neste ponto deve ser definido o tipo de interface que deverá ser feita com

o usuário, definindo assim o grau de interação que existirá entre o usuário e o

Sistema Especialista.

e) Definir o tipo de programação a ser utilizada;

Nesta etapa o engenheiro de conhecimento deverá optar entre a utilização

de um ambiente computacional pronto para a construção do Sistema

Especialista (“shell”) e a utilização de uma linguagem de programação de alto

nível.

f) Desenvolver um protótipo;

A etapa de desenvolvimento do protótipo é muito importante para a

criação de um Sistema Especialista, e é interessante que seja realizada o quanto

Page 10: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

5

antes, mesmo que o protótipo seja simples, pois assim é possível avaliar, em

conjunto com o especialista, a viabilidade e o aperfeiçoamento do projeto.

g) Validar o protótipo;

A validação do protótipo deve ser feita inicialmente com sistemas de

dados acadêmicos e de pequeno porte, pois com esses dados os resultados já

são bem definidos. Quando o Sistema Especialista estiver trabalhando

adequadamente com estes dados acadêmicos, deve-se então procurar testar o

protótipo com casos mais reais.

h) Refinar e generalizar o protótipo;

Esta etapa depende diretamente do feedback que o especialista dará ao

engenheiro de conhecimento, no que diz respeito ao desempenho do protótipo.

i) Manutenção;

A manutenção da base de conhecimento e da memória de trabalho do

Sistema Especialista envolve a incorporação de novas regras, ou mesmo a

modificação de regras existentes. Esta tarefa fica amplamente facilitada no

Sistema Especialista, em função de que as suas partes componentes ficam

fisicamente separadas uma das outras.

j) Atualização.

O Sistema Especialista deve ser constantemente atualizado, ou seja, a sua

base de conhecimento deve sempre conter as regras de produção que

representem o pensamento técnico e científico do momento.

2.3 Tipos de problemas solucionados por Sistemas

Especialistas

Tipicamente, os problemas que podem ser solucionados por um Sistema

Especialista são do tipo que seriam atendidos por um especialista humano. Especialistas

reais no domínio do problema (que normalmente é bem específico, como por exemplo,

dimensionar um elemento de máquina) fornecem regras gerais indicando como

Page 11: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

6

analisariam o problema, tanto explicitamente com a ajuda de um analista de

sistema experiente, como implicitamente, fazendo com que estes especialistas analisem

casos de teste e usando programas de computador para analisar os dados de teste e, de

forma limitada, derivar regras dessa análise.

Os Sistemas Especialistas trabalham com problemas cada vez mais difíceis, sendo

assim eles precisam usar todas as técnicas disponíveis de Inteligência Artificial. A fim

de escolher o método mais apropriado (ou uma combinação de métodos) para resolver

um determinado problema, é necessário analisá-lo em várias dimensões-chaves. Abaixo

são apresentados os critérios que dão origem as classes de problemas e as classes

propriamente ditas:

O problema pode ser decomposto em um conjunto (ou quase isto) de

subproblemas independentes, menores e mais fáceis?

- Decomponíveis;

- Não decomponíveis.

Certos passos em direção à solução podem ser ignorados ou pelo menos

desfeitos caso fique provado que são imprudentes?

- Ignoráveis: as etapas para a solução podem ser ignoradas. Exemplo:

demonstração de teoremas;

- Recuperáveis: as etapas para a solução podem ser desfeitas. Exemplo:

quebra-cabeça;

- Irrecuperáveis: as etapas para a solução não podem ser desfeitas.

Exemplo: xadrez.

A recuperabilidade de um problema tem papel importante na determinação da

complexidade da estrutura de controle necessária para a solução do problema?

- Ignoráveis: estrutura de controle simples que nunca retrocede;

- Recuperáveis: estrutura de controle ligeiramente mais complicada

(utilizará o retrocesso com uma estrutura de pilha na qual as decisões de pilha

na qual as decisões são gravadas se precisarem ser desfeitas mais tarde), que às

vezes comete erros;

Page 12: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

7

- Irrecuperáveis: sistema que depende muito esforço para tomar decisões

(sistema de planejamento no qual toda uma sequência de passos é analisada de

antemão, para descobrir onde levará, antes do primeiro passo ser realmente

tomado), já que são definitivas.

O universo do problema é previsível?

- Com resultado certo: podemos usar planejamento para gerar uma

sequência de operadores que certamente levará a uma solução. Exemplo:

quebra-cabeça;

- Com resultado incerto: podemos usar planejamento para, na melhor das

hipóteses, gerar uma sequência de operadores com boas chances de levar a uma

solução. Exemplo: bridge, truco, canastra. Para solucionar problemas desse

tipo precisamos permitir que um processo de revisão de planos ocorra durante a

execução do plano e que seja fornecida a realimentação necessária.

Uma boa solução para o problema pode ser considerada óbvia sem haver

comparação com todas as soluções possíveis?

- Aceitam qualquer caminho: podem ser solucionados em tempo

razoável através do uso de heurísticas que sugerem bons caminhos a serem

explorados;

- Só aceitam o melhor caminho: não existe a possibilidade de usarmos

qualquer heurística que possa prever a melhor solução, portanto, será realizada

uma busca mais exaustiva.

Existe a necessidade absoluta de grande quantidade de conhecimento para

resolver o problema, ou o conhecimento é importante apenas para limitar a

busca?

Um computador que simplesmente receba o problema tem condições de

retornar a solução, ou esta exige a interação entre o computador e a pessoa?

- Solitário: o computador recebe a descrição de um problema e produz

uma resposta sem nenhuma comunicação imediata e sem pedir nenhuma

explicação sobre o processo de raciocínio. Exemplo: demonstrar um teorema;

Page 13: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

8

- Conversacional: existe comunicação intermediária entre uma pessoa e

o computador, para proporcionar assistência adicional ao computador ou para

proporcionar informações adicionais ao usuário, ou ambos. Exemplo: produzir

um diagnóstico médico.

Não existe uma única maneira de resolver todos os problemas. Ao contrário, se

analisarmos nossos problemas cuidadosamente e classificarmos nossos métodos de

solução de acordo com o tipo de problema aos quais se adaptam, seremos capazes de

trazer para cada novo problema, muito do que aprendemos na solução de outros

problemas semelhantes.

O fato é que Sistemas Especialistas são muito úteis para resolver uma infinidade

de problemas práticos, e como foi mostrado neste tópico, as aplicações deste tipo de

sistema vão muito além dos problemas de engenharia, podendo ser utilizado para as

mais diversas finalidades.

2.4 Vantagens da utilização de Sistemas Especialistas

Os benefícios obtidos com a utilização de Sistemas Especialistas são diferentes

daqueles obtidos pelos sistemas tradicionais, isso se deve ao fato de se tratarem de

sistemas dotados de inteligência e conhecimento. Dentre outras vantagens, podemos

destacar:

Um Sistema Especialista é capaz de estender as facilidades de tomada de

decisão para muitas pessoas. O conhecimento dos especialistas pode ser

distribuído, de forma que possa ser utilizado por um grande número de

pessoas;

Um Sistema Especialista pode melhorar a produtividade e desempenho de seus

usuários, considerando que o provê com um vasto conhecimento, que,

certamente, em condições normais, demandaria mais tempo para assimilá-lo e,

consequentemente, utilizá-lo em suas tomadas de decisão;

Sistemas Especialistas reduzem o grau de dependência que as organizações

mantêm quando se vêm em situações críticas, inevitáveis, como, por exemplo,

a falta de um especialista. As pessoas morrem, ficam doentes, tiram férias e até

Page 14: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

9

optam por melhores ofertas de trabalhos; ao assim proceder, tornam as

organizações em que trabalham vulneráveis e extremamente dependentes de

suas decisões. Ao registrar o conhecimento de empregados nos Sistemas

Especialistas, promove-se uma significativa redução no grau de dependência

entre empresa e presença física do empregado;

Sistemas Especialistas são ferramentas adequadas para serem utilizadas em

treinamentos de grupos de pessoas, de forma rápida e agradável, podendo

servir, após o treinamento, como instrumento para coleta de informações sobre

o desempenho daqueles que foram treinados, obtendo subsídios para

reformulação das lições para a obtenção de melhor desempenho, além de

prestar suporte imediato para os treinamentos durante a utilização dos

conhecimentos na realização de suas tarefas diárias.

3. PARAFUSOS DE UNIÃO

3.1 Fixadores na engenharia

Estudos dos projetos de engenharia e dos processos do metal frequentemente

incluem instruções de vários métodos de união, e a curiosidade de qualquer pessoa

interessada em engenharia mecânica naturalmente resulta na aquisição de um bom

conhecimento básico de métodos de fixação. Contrário às primeiras impressões, o

assunto é um dos mais interessantes em todo o campo de projeto mecânico.

Para a manufatura, um dos objetivos chave do projeto é reduzir o número de

fixadores. Contudo, sempre haverá necessidade de fixadores para facilitar a

desmontagem por quaisquer propósitos. Por exemplo, jatos gigantes tais como o Boeing

747 requerem 2.5 milhões de fixadores, alguns dos quais custam várias centenas de

dólares cada um. Para manter os baixos custos, fabricantes de aeronaves e seus

subcontratantes constantemente revêm projetos de novos fixadores, técnicas de

instalação e ferramental.

O número de inovações no campo de fixadores para qualquer período de tempo

nos últimos anos tem sido tremendo. Uma variedade espantosa de fixadores está

disponível para a seleção do projetista. Projetistas sérios geralmente mantêm cadernos

de apontamentos específicos para fixadores. Métodos de união de peças são

Page 15: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

10

extremamente importantes na engenharia de um projeto de qualidade, e é necessário ter

um entendimento completo do desempenho de fixadores e junções sob todas as

condições de uso e projeto.

3.2 Aplicações de parafusos

O parafuso foi sem dúvida uma invenção mecânica extremamente importante. Ele

é a base dos parafusos de potência, que transformam o movimento angular em

movimento linear para transmitir potência ou desenvolver grandes esforços (prensas,

macacos, etc.), e os fixadores rosqueados, um elemento importante em junções não

permanentes. A aplicação de parafusos como elemento de união é largamente difundida

e conhecida por essa característica de promover uma estrutura ou junta desmontável. A

figura 3.1 apresenta alguns exemplos destas aplicações.

Figura 3.1: Exemplos de aplicações de fixação por parafuso

Comparando com outros tipos de juntas, a união por parafusos apresenta algumas

desvantagens. Uma delas é não garantir que o aperto inicial se mantenha, devido a

movimentos e vibrações, havendo frequentemente a necessidade do uso de dispositivos

de segurança contra o afrouxamento do parafuso.

3.3 Classificação dos parafusos

Para ser considerado parafuso, dois requisitos básicos são necessários. O primeiro

é a rosca e o segundo é o dispositivo de atarraxar, que não muito raramente é

confundido com o tipo de cabeça. Os parafusos se classificam quanto as suas partes, que

são: cabeça, pescoço, corpo e extremidade ou ponta. Em alguns casos a cabeça, o

Page 16: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

11

pescoço ou a ponta podem se confundir com o corpo ou simplesmente não existir.

Assim, pode-se classificar parafusos segundo:

a) forma da cabeça: sextavada, quadrada, oval, borboleta, etc.

b) forma do pescoço: quadrado, cilíndrico, estriado, cavado, etc.

c) forma do corpo: totalmente ou parcialmente roscado, com diâmetro igual,

maior ou menor do que o da parte não roscada.

d) forma da extremidade ou ponta: em taça, oval, cilíndrica, cônica, etc.

e) dispositivo de atarraxar: cabeça ou pescoço sextavado, fenda, sextavado

interno, furo transversal na cabeça, etc.

f) tipo de rosca: métrica ISO, unificada ou americana, whitworth, quadrada, etc.

Nas figuras a seguir podem ser observadas algumas imagens contendo essa grande

variedade de formatos que os parafusos podem apresentar, mostrando diversos formatos

de rosca, cabeça e dispositivo de atarraxar.

Figura 3.2: Diversas formas e geometrias de cabeças de parafuso

Page 17: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

12

Figura 3.3: Exemplos de cabeças especiais de parafuso

Figura 3.4: Exemplos de alguns dos tipos de rosca e suas aplicações

Pode-se observar que existe uma infinidade de geometrias utilizadas para fabricar

parafusos, cada tipo com propriedades mecânicas e aplicações específicas. Neste

trabalho serão estudados apenas os parafusos aço, com rosca métrica ou unificada.

Page 18: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

13

3.4 Arruelas

Um componente muito importante em qualquer união por parafuso são as

arruelas. Uma arruela é um disco fino com um furo, geralmente no meio. Ela é utilizada

normalmente para suportar a carga de um parafuso. Outras utilizações são como

espaçadores, mola (arruelas onduladas), almofada de desgaste, e dispositivo de bloqueio

(i.e. arruela de pressão: utilizada para que evite que a porca escape do parafuso com a

trepidação).

Arruelas são geralmente metálicas ou de plástico. Parafusos de alta qualidade

necessitam de arruelas temperadas para evitar a perda da pré-carga após a aplicação

do torque. As gaxetas de borracha ou fibra que são utilizadas em torneiras para bloquear

o fluxo (evitar vazamento) de água são algumas vezes coloquialmente referidas

como arruelas; elas podem ser similares, contudo, arruelas e gaxetas são feitas de

maneira diferente, e projetadas para funções diferentes. Arruelas também são

importantes pare evitar a corrosão galvânica, particularmente isolando parafusos

de aço de superfícies de alumínio.

No programa desenvolvido as arruelas fazem parte de todo o possível conjunto de

elementos de junta, no qual são considerados apenas quatro materiais, aço, alumínio,

cobre e ferro fundido. Esses foram os materiais escolhidos porque representam a grande

maioria das aplicações estudadas.

3.5 Padrões de roscas e definições

A seguir serão definidas algumas dimensões importantes para o trabalho com

parafusos, as definições em questão valem para qualquer tipo de parafuso:

Passo: é a distância entre filetes adjacentes de rosca medida paralelamente ao

eixo da rosca. O passo em unidades inglesas é o recíproco do número de filetes

de rosca por polegada;

Diâmetro nominal: é o maior diâmetro da rosca do parafuso;

Diâmetro menor (ou de raiz): é o menor diâmetro da rosca do parafuso;

Diâmetro primitivo (ou diâmetro efetivo): também conhecido como diâmetro

pitch e diâmetro de flanco, é o diâmetro de um cilindro imaginário, coaxial ao

Page 19: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

14

parafuso ou à porca, que corta os filetes de rosca em um ponto tal que a

espessura do filete é igual ao vão entre os filetes em tal ponto e é igual a

metade do passo;

Avanço: é a distância que a porca avança paralelamente ao eixo do parafuso

quando a porca dá uma volta. Para uma rosca de uma entrada (ou rosca

simples), o avanço é igual ao passo;

Além das dimensões típicas dos parafusos, também é interessante apresentar

algumas características importantes dos diferentes tipos de parafuso que podem ser

encontrados na indústria mecânica.

Um parafuso com rosca de múltiplas entradas contém dois ou mais cortes de

rosca, um ao lado do outro (imagine doas ou mais cordas enroladas ao redor de um

lápis). Produtos padronizados como parafusos e porcas têm uma única rosca: parafusos

com rosca de dupla entrada têm um avanço igual a duas vezes o passo, um parafuso

com rosca de tripla entrada tem um avanço igual a três vezes o passo e assim

sucessivamente.

Todas as roscas são feitas de acordo com a regra da mão direita (a rosca é

apertada girando a mão direita no sentido anti-horário, e é afrouxada girando a mão

direita no sentido horário) a menos que o contrário seja dito.

A norma de roscas American National Thread (Unificada) foi aprovada nos

Estados Unidos e na Grã-Bretanha para o uso de produtos rosqueados padronizados. O

ângulo de rosca é de 60° e as cristas das roscas podem ser planas ou arredondadas.

A figura 3.2 mostra a geometria de rosca de perfis métricos M e MJ. O perfil M

substitui a classe polegada e é o perfil básico da ISO 68 com roscas simétricas de 60°. O

perfil MJ tem um filete arredondado na raiz da rosca externa e um diâmetro menor

aumentado tanto da rosca externa quanto da interna. Esse perfil é especialmente

indicado para casos em que uma alta resistência à fadiga é necessária.

Page 20: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

15

Figura 3.5: Perfil básico para roscas métricas M e MJ

Na figura 3.5, p representa o passo, H a altura do triângulo fundamental, d o

diâmetro nominal (diâmetro maior), dm o diâmetro primitivo e dr o diâmetro menor da

rosca do parafuso. Essas dimensões apresentadas podem ser calculadas a partir das

seguintes relações matemáticas:

(3.1)

(3.2)

(3.3)

As tabelas 3.1 e 3.2 serão úteis ao especificar e projetar peças rosqueadas. Note

que o tamanho da rosca é especificado ao informar o passo p para tamanhos métricos e

ao informar o número de roscas N por polegada para tamanhos unificados. Os tamanhos

de parafusos na tabela 3.2 com diâmetro abaixo de in são tamanhos numerados ou

de bitola. A segunda coluna na tabela 3.2 mostra que um parafuso nº 8 tem um diâmetro

maior nominal de 0.1640 in por exemplo.

Determinar a resistência à tração de um parafuso pode ser complicado, devido à

sua geometria particular, por este motivo os ensaios de tração dos parafusos são feitos

de um jeito bastante particular. Um grande número de ensaios de tração de barras

rosqueadas mostrou que um eixo não rosqueado com diâmetro igual à média entre o

diâmetro efetivo e o diâmetro de raiz terá a mesma resistência à tração que a barra

rosqueada. A área dessa barra não rosqueada é chamada área de resistência à tração At

do eixo rosqueado; valores de At estão listados em ambas as tabelas.

Page 21: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

16

Duas séries principais de roscas unificadas estão em uso comum, a UN e a UNR.

A diferença entre elas é simplesmente que para a série UNR, o raio de raiz deve ser

usado. Isso é feito por causa dos fatores de concentração de tensão reduzidos em roscas,

pois as roscas da série UNR têm resistências de fadiga melhoradas. Roscas unificadas

são especificadas ao se declarar o diâmetro maior nominal, o número de roscas por

polegada e as séries de roscas, por exemplo, in-18 UNRF ou 0.625 in-18 UNRF.

Para especificar as roscas métricas escreve-se o diâmetro e o passo em milímetros,

nessa ordem. Por exemplo, M12 x 1.75 é uma rosca métrica com diâmetro maior

nominal de 12 mm e um passo de 1.75 mm. Note que a letra M, que precede o diâmetro,

é o indicativo para a designação métrica.

Tabela 3.1: Diâmetros e áreas de roscas métricas de passo grosso e fino

Page 22: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

17

Vale observar que para desenvolver a tabela 3.1, o diâmetro menor dr foi

encontrado através da equação (3.3) e o diâmetro primitivo dm através da equação (3.2).

E a média entre esses diâmetros foi usada para calcular a área de tensão de tração At,

que é de vital importância para o dimensionamento de parafusos de união, procedimento

que será discutido detalhadamente no capítulo 5.

Tabela 3.2: Diâmetros e áreas de roscas de parafusos unificados UNC e UNF

Assim como na tabela anterior, a tabela 3.2 faz uso das equações (3.2) e (3.3) para

encontrar os diâmetros dm e dr e então calcular a área de tensão de tração At, da mesma

forma descrita anteriormente.

Page 23: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

18

3.6 Fabricação de parafusos

Como para qualquer elemento mecânico, existem diversas de se fabricar

parafusos. E o método de fabricação de um parafuso de alto desempenho, para uma

aplicação crítica, pode significar o sucesso ou fracasso de uma operação. Isso acontece

porque o método de fabricação utilizado na confecção do parafuso interfere diretamente

nas suas propriedades mecânicas. Ou seja, ao projetar um parafuso, deve-se escolher

com cuidado a forma de fabricá-lo.

Nesta seção serão abordadas as formas mais comuns de se fabricar parafusos, da

escolha do material, até os métodos mais usados para formar a rosca e a cabeça do

parafuso.

Parafusos de união são normalmente fabricados por conformação plástica ou

usinagem, utilizando uma grande diversidade de materiais, como aço, bronze, níquel,

ligas te titânio, alumínio, etc.

Quando o formato do parafuso é obtido por usinagem, parte-se de vergalhões

laminados no formato do tipo de parafuso (hexagonal, redondo, quadrado, etc.). Quando

conformado plasticamente, parte-se de uma peça primária, que pode ser forjada ou

usinada. Diversos estágios de conformação a quente e a frio se seguirão até que a forma

final desejada seja obtida.

Mas uma das informações mais importantes para determinar as propriedades de

resistência de um parafuso é o método de fabricação da sua rosca, que algumas vezes é

a usinagem (fresamento, torneamento, retificação), mas na maioria dos casos, a rosca é

fabricada por rolagem. Após o processo de geração da rosca, muitas vezes o parafuso

passa por um tratamento superficial, como cadmiagem, zincagem, cromagem,

niquelação, fosfatização, etc.

4. FALHAS POR FADIGA

4.1 Introdução à fadiga em metais

Antes de começas a estudar detalhadamente os processos específicos para o

dimensionamento de parafusos, é importante entender bem o fenômeno da fadiga em

Page 24: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

19

metais, uma vez que em muitas das aplicações de parafusos de união, o carregamento é

dinâmico, o que pode resultar em uma falha por fadiga.

Na maioria dos ensaios das propriedades dos materiais que se relacionam ao

diagrama tensão-deformação, a carga é aplicada gradativamente, para dar tempo o

suficiente para que a deformação se desenvolva plenamente. Além disso, o corpo de

prova é testado até a falha, e assim as tensões são aplicadas apenas uma vez. Ensaios

desse tipo são aplicáveis a condições estáticas de carregamento.

Frequentemente, contudo, é possível encontrar condições em que as tensões

variam com o tempo ou flutuam entre diferentes níveis. Um exemplo desse tipo de

carregamento é uma fibra na superfície de um eixo que gira sujeito à ação de cargas de

flexão, esta fibra passa por ambos, tração e compressão, em cada revolução do eixo. Se

o eixo é parte de um motor elétrico rodando a 1725 rpm, a fibra é tensionada em tração

e compressão 1725 vezes a cada minuto. Se, além disso, o eixo também é carregado

axialmente, uma componente axial de tensão é superposta à componente de flexão.

Nesse caso, alguma tensão sempre está presente em qualquer fibra desse eixo, mas

agora o nível de tensão é flutuante. Esses e outros gêneros de carregamento ocorrendo

em membros de máquinas produzem tensões que são chamadas tensões variáveis,

repetidas, flutuantes ou alternantes.

Frequentemente se descobre que membros de máquinas falharam sob a ação de

tensões repetidas ou flutuantes, todavia a análise mais cuidadosa revela que as tensões

submetidas a esses membros estavam bem abaixo da resistência máxima do material, e

até mesmo abaixo da resistência ao escoamento. A característica mais distinguível

dessas falhas é que as tensões foram repetidas um número muito grande de vezes. Por

este motivo, este tipo de falha é chamado de falha por fadiga.

Quando peças de uma máquina falham sob um carregamento estático, de maneira

geral elas desenvolvem grandes deflexões, porque a tensão excedeu o limite de

escoamento do material, e dessa maneira, a peça é trocada antes que a fratura ocorra. Ou

seja, as falhas estáticas dão um aviso visível antecipadamente. Já as falhas por fadiga

não dão qualquer tipo de aviso, elas ocorrem de forma súbita e total e é, portanto,

potencialmente muito perigosa. É relativamente fácil prever uma falha estática, pois o

conhecimento desse tipo de falha é bastante amplo. A falha por fadiga, por outro lado, é

um fenômeno bem mais complicado, não totalmente entendido. Por este motivo é

importante estudar com muita calma este fenômeno.

Page 25: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

20

Uma falha por fadiga tem uma aparência semelhante a de uma fratura frágil, uma

vez que as superfícies são planas e perpendiculares ao eixo de tensão, com a ausência de

estricção. As características de fratura de uma falha por fadiga, contudo, são bem

diferentes de uma fratura frágil estática, surgindo em três estágios de desenvolvimento:

Estágio 1: iniciação de uma ou mais microtrincas, devido à deformação

plástica cíclica seguida de propagação cristalográfica que se estende dois a

cinco grãos em relação à origem da trinca. Nesse estágio as trincas geralmente

não são discerníveis a olho nu.

Estágio 2: propagação de microtrinca à microtrinca, formando superfícies de

fratura paralelas, separadas por sulcos paralelos. Essas superfícies geralmente

são lisas, normais na direção de máxima tensão de tração e podem ter marcas

onduladas escuras e claras, conhecidas como marcas de praia ou marcas de

concha de ostra, como se observa na figura 4.1.

Estágio 3: ocorre no ciclo de tensão final, quando o material não consegue

mais suportar as cargas, resultando em uma fratura rápida e repentina. Nesse

estágio, a falha pode ser frágil, dúctil ou uma combinação de ambas.

Figura 4.1: Falha por fadiga de uma peça submetida a cargas cíclicas

Page 26: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

21

4.2 Determinação da resistência à fadiga

Como já foi dito, a fadiga é um problema sério ao trabalhar com equipamentos

mecânicos que trabalham de forma cíclica. Portanto, algum método de determinação da

resistência à fadiga deve ser utilizado de forma a prever uma possível falha. Um dos

métodos mais comuns é o Método tensão-vida, para determinar a resistência de

materiais sob a ação de cargas de fadiga, corpos de prova são sujeitos a forças repetidas

ou variáveis de magnitudes especificas, enquanto os ciclos ou reversões de tensão são

contados, esse procedimento é repetido até a falha. O dispositivo de ensaio de fadiga

mais utilizado é a máquina de viga rotativa de alta velocidade de R. R. Moore. Essa

máquina submete o corpo de prova à flexão pura (sem cisalhamento transversal) por

meio de pesos. O corpo de prova, mostrado na figura 4.2, é cuidadosamente polido e

usinado, com um polimento final em uma direção axial para evitar riscos

circunferenciais. Outras máquinas de ensaio de fadiga estão disponíveis para aplicação

de tensões axiais flutuantes ou reversas, tensões torcionais ou tensões combinadas aos

corpos de prova de ensaio.

Figura 4.2: Corpo de prova típico para o ensaio de viga rotativa

Para estabelecer a resistência à fadiga de um material, devido à natureza estática

da fadiga, um número grande de testes é necessário. O primeiro ensaio é feito com uma

tensão inferior à resistência máxima do material, o segundo com uma tensão menor que

a utilizada no primeiro teste. O processo é repetido, e os resultados são traçados em um

diagrama S-N, como o da figura 4.3. No caso de metais ferrosos e ligas, o gráfico torna-

se horizontal depois que o material tiver sido tensionado por um certo número de ciclos.

Page 27: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

22

Traçando esse gráfico em escala logarítmica de ciclos, a curva é enfatizada, o que

poderia não acontecer caso fossem utilizadas coordenadas cartesianas.

Figura 4.3: Diagrama S-N do ensaio de fadiga típico de aços

Em breve, será apresentado que os diagramas S-N podem ser determinados para

um corpo de prova de ensaio ou para um elemento mecânico real. Mesmo quando o

material do corpo de prova de ensaio e o do elemento mecânico forem idênticos, haverá

diferenças significativas entre os diagramas de ambos, o motivo dessas diferenças serão

apresentadas na próxima seção.

No caso dos aços, ocorre um joelho no gráfico, e além desse joelho não ocorrerá

falha, não importa quão grande seja o número de ciclos. A resistência correspondente ao

joelho é chamada de limite de resistência à fadiga.

No gráfico da figura 4.3, Sut é o limite de resistência à tração, Sf o limite de

resistência à fadiga para vida finita do corpo de prova e Se o limite de resistência à

fadiga para vida infinita.

4.3 Estimativa da vida do equipamento

Page 28: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

23

Em alguns casos não é do interesse do projetista que um elemento mecânico em

particular seja capaz de resistir a um número grande de ciclos, armamentos são um bom

exemplo de aplicação desse tipo. Com isso em mente, é interessante desenvolver um

modelo que possa estimar com certa segurança a quantidade de ciclos que um

determinado equipamento pode suportar. Como mostra a figura 4.3, existe um intervalo

aproximadamente linear em que, diminuindo a tensão aplicada (σ), o número de ciclos

que o equipamento pode suportar aumenta. Com base nesse intervalo, é possível

desenvolver o modelo procurado, como será demonstrado a seguir. Nesse intervalo

pode-se escrever o número de ciclos da vida do equipamento segundo a equação (4.1).

(4.1)

Para encontrar os valores dos coeficientes a e b, basta utilizar o gráfico da figura

4.3, assim temos que e . Dessa forma obtém-se as

equações (4.2) e (4.3).

(4.2)

(4.3)

4.4 Limite de resistência à fadiga

Atualmente, a determinação dos limites de resistência por ensaios de resistência à

fadiga é rotina, embora seja um processo longo. Contudo, de uma forma geral, o ensaio

de tensão é preferido ao de deformação para limites de resistência à fadiga.

Por outro lado, para o projeto preliminar e de protótipo, bem como para alguma

análise de falha, é necessário um método rápido de estimativa dos limites de resistência

à fadiga. Existe uma grande quantidade de dados na literatura sobre os resultados de

ensaios de vigas rotativas e ensaios de tração simples de corpos de prova tomados da

mesma barra ou lingote. Traçando-se esses dados, é possível notar que existe alguma

correlação entre esses dois conjuntos de resultados. O que se percebeu é que o limite de

resistência à fadiga varia entre 60% e 40% da resistência à tração para aços até cerca de

Page 29: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

24

1450 MPa. A partir de Sut = 1450 MPa, o espalhamento parece aumentar, mas o

tendência parece nivelar-se, para valores em torno de Se’ = 724 MPa. Esse

comportamento é apresentado na figura 4.4.

Figura 4.4: Dados de diversos ensaios de fadiga para diferentes materiais

É interessante, portanto, introduzir um método para estimar limites de resistência

à fadiga. Contudo, estimativas obtidas a partir de quantidades de dados conseguidos de

diversas fontes provavelmente têm um grande espalhamento e podem desviar-se

significativamente dos resultados de testes reais em laboratório. Uma vez que a área de

incertezas é maior, uma compensação deve ser feita empregando-se fatores de projeto

maiores que aqueles que seriam utilizados para o projeto estático. Para aços, é comum

calcular os limites de resistência à fadiga através da equação (4.4):

(4.4)

Onde Sut é o limite de resistência a tração mínima, e o símbolo de apóstrofo em Se’

nessa equação refere-se ao corpo de prova de viga rotativa. O símbolo Se é reservado

para o limite de resistência à fadiga de qualquer elemento de máquina particular

Page 30: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

25

submetido a qualquer tipo de carregamento. Na próxima seção será mostrado que essas

resistências podem ser bastante distintas.

4.5 Fatores modificadores do limite de resistência à

fadiga

Foi visto anteriormente que o corpo de prova de viga rotativa usado em

laboratório para determinar os limites de resistência à fadiga é preparado muito

cuidadosamente e ensaiado sob condições controladas. É, portanto, esperado que o

limite de resistência à fadiga de um elemento mecânico ou estrutural não se iguale aos

valores obtidos no laboratório. Isso se deve ao fato de existirem algumas diferenças

entre corpo de prova e elemento mecânico, essas diferenças são:

Material: composição, base de falha, variabilidade.

Manufatura: método, tratamento térmico, corrosão de piezo-ciclofricção,

condição de superfície, concentração de tensão.

Ambiente: corrosão, temperatura, estado de tensão, tempo de relaxação.

Projeto: tamanho, forma, vida, estado de tensão, concentração de tensão,

velocidade, piezo-ciclofricção, desgaste.

Com base nessas diferenças foram propostos fatores que sejam capazes de

quantificar os efeitos da condição de superfície, do tamanho, do carregamento, da

temperatura e de itens variados. E o cálculo do verdadeiro limite de resistência à fadiga

é dado pela equação (4.5).

(4.5)

onde:

ka = fator de modificação de condição de superfície

kb = fator de modificação do tamanho

kc = fator de confiabilidade

kd = fator de modificação de temperatura

Page 31: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

26

ke = fator de concentração de tensões

kf = fator de modificação por efeitos variados

Quando ensaios de fadiga de peças não estão disponíveis, são feitas estimativas

aplicando-se esses fatores ao limite de resistência à fadiga.

4.5.1 Fator de acabamento superficial (ka)

A superfície de um corpo de prova de viga rotativa é altamente polida, com um

polimento final na direção axial para alisar completamente quaisquer riscos

circunferenciais. O fator de modificação de superfície depende da qualidade do

acabamento da superfície do elemento mecânico e da resistência à tração do seu

material. Para encontrar expressões quantitativas para acabamentos comuns de

elementos de máquina (retificado, usinado ou estriado a frio, laminado a quente e bruto

de forjamento), as coordenadas dos pontos de dados foram recapturadas de um gráfico

de limite de resistência à fadiga versus resistência máxima à tração. Esses dados podem

ser representados pela equação (4.6).

(4.6)

Nessa equação, Sut é o limite de resistência de tração mínima, e os coeficientes a e

b são tirados da tabela 4.1.

Tabela 4.1: Valores do fator ka para diferentes acabamentos superficiais

ACABAMENTO

SUPERFICIAL

FATOR a

EXPOENTE b

[KPSI] [MPa]

Retificado 1.34 1.58 -0.085

Usinado ou Laminado a frio 2.70 4.51 -0.265

Laminado a quente 14.4 57.7 -0.718

Forjado 39.9 272 -0.995

Page 32: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

27

Novamente é importante lembrar que isso é uma aproximação, visto que os dados

são tipicamente espalhados. Além disso, essa correção deve ser feita com bastante

cuidado, visto que o coeficiente tomado para o caso retificado é mais que 170 vezes

menor que o tomado para o forjado. Ou seja, a informação quanto ao acabamento pode

ter uma influência bastante grande no fator calculado.

4.5.2 Fator de tamanho (kb)

O fator de tamanho foi avaliado também colhendo uma grande quantidade de

dados de diversos ensaios. Os resultados para flexão e tração podem ser expressos pela

equação (4.7). Contudo, é importante lembrar que para carregamentos axiais não há

efeito de tamanho, desta forma kb = 1.

(4.7)

Na equação (4.7) d é uma dimensão característica, para o caso de uma seção

circular, d é o diâmetro da seção e se a seção for retangular .

4.5.3 Fator de confiabilidade (kc)

Esse fator indica a probabilidade de um elemento ou equipamento apresentar um

comportamento adequado, sem falhas, durante o período de tempo estabelecido pelo

projetista, sob condições específicas.

As teorias apresentadas levam em conta o espalhamento de dados como mostrado

na figura 4.4. A maior parte dos dados de resistência à fadiga é relacionada como

valores médios. Sendo assim, torna-se importante determinar um fator que possa avaliar

essa probabilidade do equipamento funcionar de forma adequada.

Pode-se mostrar que os desvios padrão da resistência à fadiga são inferiores a 8%.

Assim o fator modificador de confiabilidade para levar em conta esse fato pode ser

escrito pela equação (4.8).

Page 33: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

28

(4.8)

Nesta equação, Z é a variante de transformação, expressa em unidades de desvio

padrão, para cada valor de confiabilidade desejado. Esses valores vêm da teoria de

distribuição normal de uma variável aleatória. E os valores de Z e os seus

correspondentes valores de kc são apresentados na tabela 4.2.

Tabela 4.2: Valores do fator kc para diferentes níveis de confiabilidade

Confiabilidade

[%]

Variante de

transformação Z

Fator de

confiabilidade

(kc)

50 0 1.000

90 1.288 0.897

95 1.645 0.868

99 2.326 0.814

99.9 3.091 0.753

99.99 3.719 0.702

99.999 4.265 0.659

99.9999 4.473 0.62

4.5.4 Fator de temperatura (kd)

Quando as temperaturas operacionais estão abaixo da temperatura ambiente, a

fratura frágil é uma possibilidade forte e deve ser a primeira a ser investigada. Já quando

essas temperaturas são mais altas que a ambiente, o escoamento deve ser investigado

primeiro, porque a resistência ao escoamento cai muito rapidamente com a temperatura.

Nessas circunstâncias, qualquer tensão pode induzir fluência em um material que opere

a altas temperaturas, assim, esse fator também deve ser considerado.

Apesar de existir uma quantidade limitada de dados disponíveis, eles mostram que

o limite de resistência à fadiga para aços aumenta ligeiramente à medida que a

temperatura sobe e, então, começa a cair rapidamente no intervalo de 205 °C a 370 °C.

Esse comportamento é semelhante ao comportamento do limite de resistência à tração e

do limite de escoamento de aços. Por este motivo, assim como foi feito para as outras

propriedades mecânicas, um polinômio foi ajustado para uma série de resultados

experimentais. O resultado deste ajuste é a equação (4.9).

Page 34: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

29

(4.9)

Nesta equação, T corresponde à temperatura de operação da peça, e vale ressaltar

que essa equação tem resultados bons no intervalo de 37 °C a 540 °C. Para temperaturas

menores que 37 °C, para efeitos de cálculo, será considerado , e para

temperaturas superiores a 540 °C o valor adotado será . Isso é feito porque o

polinômio foi interpolado para esse intervalo, e uma extrapolação desses resultados leva

a resultados bastante incoerentes. Mas o valor de 0.5 parece aceitável nessas condições,

contudo, este método deve apresentar erros elevados para temperaturas muito acima de

540 °C.

4.5.5 Fator de concentração de tensões (ke)

A influência das concentrações de tensão sobre o comportamento mecânico de

materiais é um fenômeno bastante conhecido. Sabe-se que a existência de

irregularidades como orifícios, sulcos ou entalhes, em uma peça, aumentam

significativamente as tensões nas proximidades dessa irregularidade. O objetivo do fator

de concentração de tensão é, então, avaliar a influência desse aumento de tensões no

limite de resistência à fadiga da peça. Mas para encontrar esse fator, primeiro é

necessário conhecer o fator kt, que é usado com a tensão nominal para obter a tensão

resultante máxima por irregularidade. Além do fator kt, para encontrar o fator de

concentração de tensão, é necessário conhecer a sensibilidade ao entalhe q da peça, que

é um valor entre um e zero. Sabendo os valores de q e kt, é possível, então, encontrar o

fator ke através da equação (4.10).

(4.10)

Os valores de q e kt foram obtidos por meio de uma série de experimentos cujos

resultados são apresentados em diversas cartas, dependendo do tipo de irregularidade

testada e do tipo de peça, as figuras 4.5, 4.6 e 4.7 apresentam alguns exemplos típicos

das cartas que são usadas para encontrar valores para q e kt.

Page 35: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

30

Figura 4.5: Carta de sensibilidade ao entalhe de aços e ligas de alumínio submetidas à

flexão reversa ou cargas axiais reversas

Figura 4.6: Carta de concentração de tensões em uma peça cilíndrica com redução de

diâmetro submetida à flexão

Page 36: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

31

Figura 4.7: Carta de concentração de tensões em uma peça cilíndrica sulcada

submetida à flexão

4.5.6 Fator de efeitos variados (kf)

Embora este fator tenha como objetivo levar em conta a redução do limite de

resistência à fadiga causada por todos os outros efeitos, ele é realmente proposto mais

como um lembrete de que eles devem ser levados em consideração, porque os valores

reais de kf geralmente não estão disponíveis.

O fato é que existem muitos motivos distintos para considerar este fator em

particular, e o seu valor dependerá da aplicação específica na qual o projetista estiver

trabalhando. Entre os efeitos mais comuns que devem ser considerados no fator kf estão:

tensões residuais, corrosão, ambiente químico e etc. Sendo assim, não existe uma regra

para determinar esse fator, é de se esperar que cada projeto de peça deva chegar a um

valor diferente para o fator kf , por isso deve-se tomar cuidado ao avaliá-lo.

4.6 Critérios de falha por fadiga

Agora que já foram estabelecidos os métodos para calcular o limite de resistência

à fadiga de uma peça, é interessante propor critérios que sejam capazes de avaliar o grau

Page 37: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

32

de segurança que esta peça vai apresentar ao ser utilizada em uma determinada

aplicação.

Mas antes de apresentar os critérios de falha, é interessante definir dois

parâmetros de grande importância para a análise do comportamento de uma peça

submetida a um carregamento dinâmico. Esses parâmetros são a tensão média (σm) e a

tensão de amplitude (σa), a tensão média é, naturalmente, a média da tensão flutuante

imposta à peça e a tensão de amplitude é a amplitude dessa tensão flutuante, essas

tensões podem ser representadas pelas equações (4.11) e (4.12).

(4.11)

(4.12)

Nas equações anteriores σmax e σmin são, respectivamente, a tensão máxima e a

tensão mínima aplicadas na peça e questão. Fica evidente que esta abordagem pressupõe

um padrão senoidal para a tensão flutuante, o que pode não ser o caso para outros

padrões, bastante irregulares, que podem ocorrer. Contudo, descobriu-se que em

padrões periódicos que exibem um único máximo e um único mínimo de força, a forma

da onda não é muito importante, o que importa mesmo são os picos. Assim, σm e σa,

descritos da forma apresentada anteriormente, podem ser usadas para caracterizar o

padrão de tensão imposto à peça.

Uma vez definidas as componentes de tensão associadas a uma peça sujeita à

tensão flutuante, é possível, finalmente, apresentar os principais critérios de falha por

fadiga. Esses critérios foram propostos através do ajuste de curvas para um grande

conjunto de dados experimentais, obtidos de testes nos quais foram variadas as tensões

média e de amplitude com o intuito de estudar o comportamento da resistência à fadiga

das peças quando sujeitas a tais situações. Os resultados experimentais, bem como os

ajustes propostos por cada um dos critérios de falha são apresentados na figura (4.8).

Page 38: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

33

Figura 4.8: Diagrama de fadiga para vários critérios de falha

Critério de Soderberg: O critério de Soderberg é representado pela linha 2 da

figura 4.8, a sua vantagem é que é de aplicação bastante simples e é

relativamente conservador e, consequentemente, seguro. Por levar em conta a

tensão de escoamento do material, é um critério indicado principalmente para

materiais dúcteis. Este critério é representado pela equação (4.13).

(4.13)

Critério de Goodman modificado: Este é o critério representado pela linha 4

da figura 4.8, este critério é um aperfeiçoamento do critério de Goodman

original, o objetivo deste aperfeiçoamento é tornar o método mais seguro, este

é um critério, assim como o de Soderberg, conservador. Mas ao contrário do

outro método é mais usado para materiais frágeis. Este critério é representado

pela equação (4.14).

(4.14)

Page 39: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

34

Critério de Gerber: Este critério utiliza uma parábola, como forma de melhor

descrever os pontos experimentais obtidos, seu objetivo é ser um método mais

econômico, fazendo frente ao conservadorismo dos métodos anteriormente

apresentados. Este critério é representado pela equação (4.15).

(4.15)

Critério ASME-elíptica: Este critério utiliza uma elipse para aproximar os

pontos experimentais, assim como o critério de Gerber, o objetivo é descrever

melhor os resultados obtidos empiricamente. Esses dois critérios são mais

indicados para aplicações nas quais as incertezas não sejam muito grandes, de

forma a justificar uma abordagem menos conservadora. Este critério é

representado pela equação (4.16).

(4.16)

Em todos esses critérios o parâmetro CS representa o coeficiente de segurança do

critério utilizado. A escolha do critério para o projeto de uma peça é de extrema

importância, por isso é essencial entender bem como funcionam esses critérios e para

quais situações operacionais cada um deles é mais apropriado. Entender melhor o

fenômeno da fadiga, e encará-lo com a devida seriedade e perícia certamente é um

passo importante para um projeto mecânico bem sucedido.

Page 40: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

35

5. DIMENSIONAMENTO DAS UNIÕES POR PARAFUSO

5.1 Cargas na união por parafuso

Apesar de ser um tipo de união relativamente simples e, muitas vezes, de fácil

desmontagem, a união por parafusos apresenta certa complexidade no que diz respeito

ao estado de tensões. Isso ocorre pela geometria peculiar da união por parafusos.

Primeiramente, deve-se levar em conta a quantidade e a composição dos elementos de

junta, também é preciso considerar os dispositivos de travamento, o estado particular de

tensões na rosca do parafuso, a quantidade de parafusos utilizados na união, etc. Fica

claro que especificar com precisão uma união por parafusos pode não ser uma tarefa das

mais fáceis.

O primeiro passo na direção de um bom projeto de união por parafusos é realizar

uma análise dos esforços atuantes nesta união, e das partes da mesma que são

submetidas a estes esforços. A figura 5.1 apresenta uma representação esquemática de

uma união típica por parafusos e a análise dos seus esforços.

Nesta figura as forças apresentadas representam as seguintes grandezas físicas:

P: Carga total aplicada no parafuso;

Pp: Parcela da carga que é aplicada no parafuso;

Fi: Força de aperto inicial aplicada ao parafuso;

Fat: Força de atrito entre os elementos de junta.

Figura 5.1: Análise de esforços em uma união por parafusos

Page 41: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

36

5.2 Critérios para o dimensionamento

O processo de determinação das dimensões corretas de uma união por parafusos

passa por um passo primordial: o parafuso precisa resistir, sem fratura e sem permitir

que os elementos de junta fiquem frouxos, à força externa P, nos elementos de junta e à

carga inicial de aperto Fi, resultado da reação da junta ao aperto promovido pelos

parafusos. Para que isso ocorra, duas condições devem ser satisfeitas. A primeira é a

condição de compressão, i.e, a condição de não separação dos elementos de junta,

garantida pela equação (5.1). A segunda condição que deve ser satisfeita é a mais óbvia,

é a condição de que o parafuso não pode quebrar, esta condição é garantida pela

equação (5.2). Caso o parafuso seja submetido a cargas dinâmicas, existe ainda uma

terceira condição que deve ser satisfeita, apresentada pela equação (5.3), que representa

o critério de Goodman para a falha por fadiga.

Neste caso o critério de Goodman é utilizado, em detrimento do critério de

Soderberg, porque apesar dos parafusos estudados serem feitos de aço (material dúctil),

o que indicaria a utilização do critério de Soderberg, a experiência mostra que quando

parafusos falham por fadiga, a fratura tem características de fraturas frágeis, justificando

assim a utilização do critério de Goodman para analisar os parafusos sujeitos a cargas

dinâmicas.

(5.1)

(5.2)

(5.3)

onde: Fm = carga nos elementos de junta

Fp = carga no parafuso

At = área sob tensão do parafuso

Sy = limite de resistência ao escoamento do parafuso

Sut = limite de resistência à tração do parafuso

Se = limite de resistência à fadiga do parafuso

σm = tensão média

Page 42: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

37

σa = tensão de amplitude

CS = coeficiente de segurança

Como sugere a nomenclatura apresentada, a carga aplicada no parafuso não é a

mesma carga que é sustentada por ele, isso ocorre porque essa carga é distribuída entre

o parafuso e cada um dos elementos de junta presentes na união em questão e porque

além da carga aplicada, existe a carga inicial de aperto, que também faz parte da

composição da carga total aplicada no parafuso. Para calcular esta carga total, é feita a

combinação de duas porções: a carga inicial de aperto Fi, e a parte da carga externa

aplicada que é absorvida pelo parafuso, Pb .

Na junta, a carga total é calculada de forma análoga, também é feita a combinação

de duas porções de força: a carga inicial de aperto Fi, e a parte da carga externa aplicada

que é absorvida pela junta, Pm . As equações (5.4) e (5.5) definem esse método para

calcular as cargas.

(5.4)

(5.5)

onde: Pb = carga externa absorvida pelo parafuso

Pm = carga externa absorvida pela junta

Fica claro, portanto, que para aplicar o critério de dimensionamento proposto,

primeiro é necessário determinar essas porções da força aplicada que vão para cada

parte da união por parafusos. Para realizar essa determinação, é necessário considerar a

rigidez desses elementos e utilizar o fato de que a deformação do parafuso e das juntas

deve ter o mesmo valor.

(5.6)

(5.7)

onde: δ = deformação no parafuso e na junta

Page 43: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

38

Kb = rigidez do parafuso

Km = rigidez da junta

Combinando as equações (5.6) e (5.7) temos:

(5.8a)

(5.8b)

5.3 Rigidez da união por parafusos

Como foi visto na seção anterior, para determinar as forças totais exercidas no

parafuso e na junta, é necessário primeiro conhecer a rigidez do parafuso e a rigidez da

junta. A rigidez do parafuso é facilmente determinada, uma vez que o parafuso é uma

peça homogênea e com um material determinado (aço no caso). Existem métodos para

estimar a rigidez do parafuso dividindo-o em duas partes com rigidezes distintas, uma

para a parte rosqueada do parafuso e uma para a parte não rosqueada, mas uma simples

e boa aproximação dessa rigidez é dada pela equação (5.9).

(5.9)

Onde d é o diâmetro nominal do parafuso, E o módulo de elasticidade do seu

material (geralmente aço) e L o seu comprimento.

Já a rigidez da junta é um pouco mais difícil de determinar, uma vez que a junta

pode ser composta por diversos elementos de geometrias e materiais diferentes, o que

dificulta bastante a sua representação. Nesta seção será apresentado o método mais

comum para se representar a junta de uma união por parafusos e calcular a sua rigidez.

O primeiro passo do método em questão consiste em tratar a junta como um conjunto de

n molas compressivas em série, daí o coeficiente total da mola dos elementos é

representado como:

Page 44: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

39

(5.10)

(5.11)

Caso um desses elementos seja uma gaxeta flexível, a sua rigidez é tão pequena

em relação aos demais elementos que, para efeitos práticos, a rigidez dos elementos

pode ser desprezada e apenas a rigidez da gaxeta é utilizada.

Se não houver uma gaxeta entre os elementos, fica bem mais difícil obter a rigidez

da junta, exceto por experimentação, isso ocorre porque a compressão é distribuída

entre a cabeça do parafuso e da porca, de modo que a área não fica uniforme.

Na literatura são apresentadas técnicas de ultrassom para determinar a distribuição

de pressão na interface dos elementos. Os resultados mostram que a pressão se mantém

alta até 1.5 vezes o raio do parafuso. Contudo, ao se distanciar do parafuso, a pressão

diminui. Seguindo esses resultados, foi proposto o método do cone de pressão de

Rotscher para calcular a rigidez com um ângulo variável de cone. Esse método é

complicado, por este motivo Shigley propõe um método mais simples, utilizando um

ângulo fixo para o cone. A figura 5.2 mostra o esquema que representa o método

descrito acima.

Figura 5.2: Compressão da junta representada por um tronco de cone

A partir desta figura chega-se à equação da contração do elemento do cone de

espessura dx sujeito a uma força compressiva P.

Page 45: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

40

(5.12a)

Desta forma, a área sob tensão é dada pela equação (5.12).

(5.12b)

Substituindo a equação (5.11) na equação (5.12) e integrando, temos:

(5.12c)

Resolvendo a integral a deflexão de cada elemento é determinada:

(5.12d)

Logo, usando as equações (5.11) e (5.12d) a rigidez de cada elemento de junta é

dada por:

(5.13)

Esta teoria foi originalmente desenvolvida para um tronco de cone com um ângulo

α igual a 45°, mas a experiência mostra que este valor superestima a rigidez da junta, o

valor típico utilizado pertence ao intervalo 25° < α < 33°. Na aplicação deste trabalho o

valor utilizado para α será de 30°. Fazendo essa hipótese, é finalmente possível obter a

equação (5.14), que será utilizada para avaliar a rigidez de cada elemento da junta, que

será então aplicada na equação (5.10), de forma a encontrar a rigidez equivalente da

junta, Km.

Page 46: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

41

(5.14)

Uma vez que ambas as rigidezes (Kb e Km) são conhecidas, as equações (5.4) e

(5.5) podem ser reescritas pelas equações (5.15) e (5.16).

(5.15)

(5.16)

onde:

5.4 Resistência dos parafusos

Nas normas de especificação de parafusos, a resistência mecânica é especificada

em relação às quantidades mínimas ASTM, a resistência mínima de prova ou a carga

mínima de prova e a resistência mínima à tração.

A carga de prova é a carga máxima que um parafuso pode aguentar sem se

deformar plasticamente. A resistência de prova é o quociente entre a carga de prova e a

área sob tensão de tração. Os valores da resistência média de prova, da resistência média

de tração e os seus desvios padrão correspondentes não fazem parte dos códigos de

especificação, assim é responsabilidade do projetista obter esses valores, através de

ensaios de laboratório, por exemplo, antes de realizar o projeto.

Através de uma grande quantidade de ensaios de laboratório, e observando a

distribuição estatística desses resultados, é possível levantar dados quanto essas

resistências tão importantes para o projeto de fixadores. Esses dados são apresentados

nas tabelas 5.1, 5.2 e 5.3.

As especificações SAE são encontradas na tabela 5.1. Os graus dos parafusos são

numerados de acordo com as resistências de tração, com decimais usados para variação

no mesmo nível de resistência. Parafusos parcialmente e totalmente rosqueados estão

Page 47: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

42

disponíveis em todos os graus relacionados. Parafusos prisioneiros estão disponíveis em

graus 1, 2, 4, 5, 8 e 8.1.

Tabela 5.1: Resistências de parafusos segundo a especificação SAE

As especificações ASTM estão listadas na tabela 5.2. As roscas ASTM são mais

curtas, porque a ASTM lida principalmente com estruturas. Conexões estruturais são,

em geral, carregadas em cisalhamento, e o comprimento reduzido de rosca proporciona

uma maior área de haste.

Especificações para parafusos métricos são relacionadas na tabela 5.3. Vale a pena

notar (na coluna “Head Marking” de todas as tabelas de resistência) que todos os

parafusos com especificação de grau feita nos Estados Unidos levam uma marca ou

emblema do fabricante, além da marca de grau, na cabeça do parafuso. Tais marcas

confirmam que o parafuso satisfaz ou excede essas especificações. Se essas marcas

Page 48: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

43

estiverem ausentes, o parafuso pode ser importado, os parafusos importados podem não

satisfazer as especificações, exigindo um maior cuidado do projetista.

Tabela 5.2: Resistências de parafusos segundo a especificação ASTM

Page 49: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

44

Tabela 5.3: Resistências de parafusos segundo a especificação métrica

5.5 Fadiga em uniões por parafusos

Junções parafusadas carregadas em tração sujeitas à ação de fadiga podem ser

analisadas diretamente pelos métodos apresentados no capítulo 4. Ou seja, todos os

passos descritos devem ser seguidos, estimativa de Se’, cálculo dos fatores

modificadores e o cálculo das tensões, média e de amplitude. Mas existem algumas

diferenças nesses cálculos específicos para os parafusos.

Estimativa de Se’: para fazer essa estimativa não é utilizada a equação (4.4),

isso se deve a um fato já comentado anteriormente, fraturas em parafusos têm

características de fraturas frágeis, por isso mesmo sendo de aço, o cálculo de

Se’ é feito através da equação (5.17).

(5.17)

Page 50: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

45

Cálculo dos fatores modificadores: quatro desses fatores são calculados da

mesma forma, o fator de acabamento superficial, o fator de confiabilidade, o

fator de temperatura e o fator de efeitos diversos.

O fator de tamanho é sempre igual a um (kb = 1) para parafusos, uma vez que o

corpo de prova nos ensaios de fadiga têm as mesmas dimensões que o próprio

parafuso.

E finalmente o fator de concentração de tensões também é calculado de forma

diferente, já que a geometria do parafuso é bastante particular. O fator ke é

calculado em função do fator através da equação (5.18) onde os valores de

são tirados da tabela 5.4.

(5.18)

Tabela 5.4: Valores do fator para diferentes tipos de parafuso

Roscas

laminadas

Roscas

cortadas Filete

Grau SAE Grau métrico Valores de

0 a 2 3.6 a 5.8 2.2 2.8 2.1

4 a 8 6.6 a 10.9 3.0 3.8 2.3

Cálculo das tensões: as tensões são calculadas da mesma forma apresentada no

capítulo 4, através das equações (4.11) e (4.12).

5.6 Especificação da união por parafuso

Agora que todos os parâmetros necessários para a especificação da união por

parafuso foram apresentados, basta aplicá-los aos critérios de dimensionamento

apresentados no item 5.2. Esses critérios são dados pelas equações (5.1) (5.2) e (5.3).

Mas antes de unir todos estes parâmetros e organizar as equações finais que serão

capazes de determinar o nível de segurança de uma união por parafusos em uma

determinada aplicação, é importante fazer uma distinção entre o carregamento dinâmico

Page 51: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

46

e o carregamento estático, de forma a separar as equações de forma clara para cada um

desses regimes de carga.

5.6.1 Carregamento estático

Se a união por parafusos é submetida a um carregamento estático, as equações de

(5.1) até (5.16) são suficientes para analisá-la. Desta forma as equações finais para uma

união por parafusos submetida a um carregamento estático podem ser escritas da

seguinte forma:

(5.19a)

(5.19b)

5.6.2 Carregamento dinâmico

Se a união por parafusos é submetida a um carregamento dinâmico, além das

equações de (5.1) até (5.16), é necessário calcular o limite de resistência à fadiga, Se, a

tensão média, σm, e a tensão de amplitude, σa. Esses parâmetros serão calculados através

das equações apresentadas no item 5.5. Desta forma as equações finais para uma união

por parafusos submetida a um carregamento dinâmico podem ser escritas da seguinte

forma:

(5.20a)

(5.20b)

Isso conclui o equacionamento do processo de especificação de uma junção

parafusada, seguindo essas regras um passo importante é dado no sentido da segurança.

Page 52: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

47

6. DESENHO TÉCNICO

6.1 Criando um desenho técnico

Desenho técnico é usado pelos projetistas para transmitir a ideia básica do

produto, isso deve ser feita da maneira mais clara possível.

Mesmo preso por procedimentos e regras, um desenho técnico necessita que o

projetista use sua criatividade para mostrar, com facilidade, todos os aspectos da sua

ideia, sem deixar dúvidas. Do outro lado do negócio, o cliente que esteja lendo um

desenho técnico deve compreender seus símbolos básicos, que são usados para

simplificar a linguagem gráfica, permitindo que haja o maior número de detalhes

possível.

No caso deste trabalho o desenho técnico tem este mesmo propósito, mostrar ao

usuário do programa as dimensões exatas do parafuso especificado por ele, fornecendo

desenhos detalhados em 2D, com todas as dimensões, e até modelos 3D se for do

interesse do usuário. Isso é importante porque dá um ar mais concreto a todo esse

sistema de especialista, mostrando o resultado físico de todos os seus cálculos.

6.2 Normas

São guias para a padronização de procedimentos. Dependendo do âmbito de seu

projeto, você pode encontrar normas internacionais, nacionais e internas de sua

empresa, que buscam padronizar os desenhos.

Antes de qualquer coisa, normas não são leis, o profissional pode não se prender a

todos os aspectos da norma, desde que justifique e se responsabilize por isso. No caso

do desenho técnico, não existem normas que comprometam diretamente a segurança

pessoal, porém procura-se sempre manter um padrão, uma vez que isso é importante

para proporcionar uma melhor compreensão, do desenho de uma máquina, por exemplo,

que pode ser bastante complexo.

No caso do desenho técnico de parafusos, tão importante quanto conhecer as

normas de desenho, é conhecer as normas para escolher as dimensões exatas de um

determinado tipo de parafuso. As tabelas a seguir apresentam as dimensões tanto de

parafusos de rosca métrica quanto de parafusos unificados, além disso, dois tipos de

Page 53: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

48

cabeça serão contemplados pelas tabelas, a sextavada interna e a sextavada externa.

Esses tipos de parafusos foram escolhidos porque são os que o Sistema Especialista

desenvolvido foi programado para desenhar.

Tabela 6.1: Dimensões métricas de parafusos sextavados externos

Diâmetro nominal

[mm]

H W

Altura da cabeça

[mm]

Largura da cabeça

[mm]

1.6 1.12 3.06

2 1.4 3.83

2.5 1.75 4.79

3 2.1 5.75

3.5 2.45 6.7

4 2.8 7.66

5 3.5 8.79

6 4 11.05

8 5.3 14.38

10 6.4 18.9

12 7.5 21.1

14 8.8 24.49

16 10 26.75

20 12.5 33.53

24 15 39.98

30 18.7 50.85

36 22.5 60.79

Page 54: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

49

Tabela 6.2: Dimensões unificadas de parafusos sextavados externos

Diâmetro nominal

[in]

H W

Altura da cabeça

[in]

Largura da cabeça

[in]

0.06 0.105 0.045

0.073 0.128 0.054

0.086 0.151 0.064

0.099 0.173 0.074

0.112 0.196 0.084

0.125 0.219 0.094

0.138 0.242 0.104

0.164 0.287 0.123

0.19 0.333 0.143

0.216 0.378 0.162

0.25 0.438 0.188

0.3125 0.5 0.235

0.375 0.562 0.268

0.4375 0.625 0.316

0.5 0.75 0.364

0.5625 0.844 0.404

0.625 0.938 0.444

0.75 1.125 0.524

0.875 1.312 0.604

1 1.5 0.7

1.25 1.875 0.876

1.5 2.25 1.036

Page 55: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

50

Tabela 6.3: Dimensões métricas de parafusos sextavados internos

Diâmetro

nominal

[mm]

D H W E

Diâmetro da

cabeça [mm]

Altura da

cabeça

[mm]

Largura do

encaixe

[mm]

Profundidade

do encaixe

[mm]

1.6 2.9 1.6 1.3 0.7

2 3.7 2 1.7 0.9

2.5 4.6 2.5 2.1 1.1

3 5.5 3 2.5 1.3

3.5 6.4 3.5 0.83 1.5

4 7 4 3 2

5 8.5 5 4 2.5

6 10 6 5 3

8 13 8 6 3.5

10 16 10 8 4

12 18 12 10 5

14 21 14 12 6

16 24 16 14 7

20 30 20 17 8

24 36 24 19 10

30 45 30 22 13.5

36 54 36 26 16

Page 56: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

51

Tabela 6.4: Dimensões unificadas de parafusos sextavados internos

Diâmetro

nominal

[in]

D H W E

Diâmetro

da cabeça

[in]

Altura da

cabeça

[in]

Largura do

encaixe [in]

Profundidade do

encaixe [in]

0.06 0.096 0.06 0.05 0.025

0.073 0.118 0.073 0.062 0.031

0.086 0.14 0.086 0.078 0.038

0.099 0.161 0.099 0.078 0.044

0.112 0.183 0.112 0.094 0.051

0.125 0.205 0.125 0.094 0.057

0.138 0.226 0.138 0.109 0.064

0.164 0.27 0.164 0.141 0.077

0.19 0.312 0.19 0.156 0.09

0.216 0.35 0.22 0.17 0.1

0.25 0.375 0.25 0.188 0.12

0.3125 0.469 0.312 0.25 0.151

0.375 0.562 0.375 0.312 0.182

0.4375 0.656 0.438 0 375

0.5 0.75 0.5 0.375 0.245

0.5625 0.844 0.563 0.438 0.276

0.625 0.938 0.625 0.5 0.307

0.75 1.125 0.75 0.625 0.37

0.875 1.312 0.875 0.75 0.432

1 1.5 1 0.75 0.495

1.25 1.875 1.25 0.875 0.557

1.5 2.25 1.5 1 0.62

É claro que essas tabelas apresentam apenas um dos vários conjuntos normas para

a fabricação de parafusos, existe uma grande variedade de dimensões para o mesmo tipo

de parafuso, essas foram as dimensões implementadas no Sistema Especialista

desenvolvido, e por isso são as apresentadas.

Page 57: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

52

7. PROGRAMA DESENVOLVIDO

O Sistema Especialista desenvolvido é um programa que tem como objetivo facilitar e

orientar o projetista na tarefa de especificar parafusos de união para aplicações diversas,

a ideia é analisar cada parafuso individualmente, de forma a se aplicar para qualquer

tipo de aplicação em que o parafuso seja carregado axialmente. É importante ressaltar

que o programa é destinado apenas para parafusos submetidos a cargas de tração e que o

método de cálculo utilizado é todo aquele apresentado no capítulo 5.

Neste capítulo será feita uma breve apresentação do Sistema Especialista desenvolvido.

Essa apresentação contém os mesmos exemplos de utilização exibidos na janela de

ajuda do programa, são exemplos práticos que mostram todas as funções mais

importantes do programa em execução. O programa tem uma interface bastante

amigável e de fácil utilização, como será visto a seguir.

7.1 Janela principal

Esta é a janela que contém as informações básicas para iniciar a especificação de

uma junção parafusada. Nela o usuário escolhe as características básicas de trabalho que

serão impostas ao parafuso e às juntas. Essas características são divididas em dois

grupos fundamentais, características geométricas e características operacionais.

Características geométricas: As características geométricas compreendem

categoria, classe, diâmetro e passo (ou número de roscas por polegada se o

parafuso não for da categoria métrica). Essas são, provavelmente, as

características mais básicas ao especificar uma junção parafusada.

Características operacionais: Essas são as características que descrevem o

ambiente no qual a junção parafusada especificada deverá trabalhar. Pertencem

às características operacionais o tipo de carregamento (estático ou dinâmico), a

carga máxima aplicada na junção, a carga mínima aplicada na junção, a

temperatura de operação e a força inicial de aperto no parafuso. Essas são

características muito importantes, e devem ser avaliadas com cuidado.

Page 58: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

53

Uma vez escolhidos todos esses parâmetros o programa calcula três resultados

importantes para a especificação do parafuso, o coeficiente de segurança desta

montagem, a força nas juntas (que deve ser negativa para que haja compressão) e a vida

estimada, isto é, o número de ciclos que o parafuso deve aguentar antes da falha,

naturalmente este parâmetro é avaliado apenas para os casos em que o carregamento

seja dinâmico. A seguir será apresentado um exemplo prático da especificação de cada

uma das características comentadas.

Exemplo 1: Na imagem abaixo o parafuso escolhido é o M20x1.5 classe 8.8, e

está carregado dinamicamente com uma carga que varia de 1500N até 78000N a uma

temperatura de 450°C, a força de aperto utilizada foi de 60000N. Com essa

configuração de trabalho os resultados obtidos foram:

Coeficiente de segurança = 1.169

Força nas juntas = -7471.252N

Vida estimada = 21483 ciclos

Figura 7.1: Janela inicial do programa com os dados propostos no exemplo 1

Page 59: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

54

É importante lembrar que todos os resultados obtidos na janela principal são

calculados para apenas um parafuso, ou seja, se a montagem for feita com mais de um

parafuso a carga máxima informada deve ser dividida pelo número de parafusos

utilizados.

Além da parte de entrada de dados, é na janela principal que o usuário inicia todas

as funções do programa, essas funções podem ser encontradas na forma de botões ou de

abas da barra de menus. Para começar a apresentar essas funções, será feita uma

caracterização de cada um desses botões.

Calcular: Este botão é usado para avaliar os dados passados pelo usuário para

fornecer os resultados comentados anteriormente (pressionar a tecla Enter

também aciona a mesma função deste botão).

Plotar: Com esse botão é aberta a janela que apresenta os gráficos calculados

pelo programa, mais detalhes sobre esta janela na seção 7.2.

Avaliar: O botão Avaliar analisa os parâmetros especificados pelo usuário, e

verifica se é possível executar esta operação com segurança. Caso seja

possível, também é informado o intervalo de forças de aperto dentro do qual a

operação pode ser executada sem risco de falhas. Apertando este botão essas

informações serão passadas através da janela “Avaliação do parafuso”, como

está exemplificado abaixo.

Figura 7.2: Janela de avaliação do parafuso mostrando a avaliação feita a partir dos

dados do exemplo 1

Emitir Relatório: Este botão gera um documento de texto no formato docx que

contém todas as informações dadas pelo usuário sobre o parafuso e a operação.

Neste documento também são informados os resultados dos cálculos efetuados

pelo programa e os gráficos gerados.

Page 60: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

55

O restante das funções são acessadas através da barra de menus do programa. A

seguir será feita uma descrição detalhada de cada um dos menus presentes nesta barra.

Menu Arquivo: Este menu possui três botões, o botão Salvar Operação, que

salva todas as informações contidas no programa para um arquivo txt, o botão

Carregar Operação, que carrega as informações guardadas no arquivo

previamente salvo, e o botão Emitir Relatório, que executa a mesma função do

botão presente na janela que foi discutido anteriormente.

Menu Editar: No menu Editar o usuário encontra as variáveis restantes a

serem definidas para a especificação do parafuso. Essas variáveis são a

confiabilidade desejada, o método de fabricação utilizado para fabricar a rosca

e a configuração de juntas da montagem. Além de determinar as variáveis

restantes, neste menu o usuário encontrará o botão para abrir a janela

Configuração dos gráficos, que será apresentada na seção 7.4.

Menu Funções: O menu Funções possui dois botões, o botão Desenhar

Parafuso, que abre a janela que apresenta o desenho técnico do parafuso, e o

botão Múltiplos Parafusos, que abre a janela que faz a análise de uma chapa

circular fixada por parafusos. Essas janelas são explicadas nas seções 7.5 e 7.6

respectivamente.

Menu Ajuda: No menu Ajuda o usuário encontra informações técnicas e de

utilização nos botões Sobre BoltSpec e Ajuda BoltSpec. Neste menu também

estão presentes as tabelas de propriedades dos parafusos convencionais

(Dimensões e Propriedades) e alguns coeficientes de fadiga (Coeficientes de

Fadiga), bem como toda a teoria de elementos de máquinas utilizada na

implementação das funções que efetuam todos os cálculos do programa (Base

Teórica).

7.2 Janela de gráficos

Nesta janela o usuário pode visualizar os gráficos de coeficiente de segurança e

força na junta versus força de aperto do parafuso. Esses gráficos são de grande

importância para a especificação do parafuso, pois dão uma ideia de como o a

Page 61: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

56

montagem e o parafuso especificado se comportam à medida que a força de aperto no

parafuso é aumentada. A figura abaixo mostra os gráficos obtidos do exemplo 1.

Figura 7.3: Gráficos do coeficiente de segurança e da força na junta para os dados do

exemplo 1

Note que ao movimentar o cursor o usuário pode encontrar os valores exatos do

coeficiente de segurança e da força nas juntas.

Essa janela possui diversos botões destinados a mudar o formato do gráfico, como

dar zoom, arrastar e mudar os eixos de lugar na janela. Mas os dois botões mais

importantes, no que diz respeito à possibilidade de passar mais informações para o

usuário, são o botão Cursor de dados e o botão Estimativa da durabilidade. O primeiro

é o botão representado por um cursor, que serve para ligar e desligar o cursor de dados.

O segundo é o botão representado por um parafuso, com esse botão abre-se a janela com

o gráfico que plota o número de ciclos suportados pelo parafuso em função da força

inicial de aperto. Esse gráfico está exemplificado na figura 7.4.

Page 62: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

57

Figura 7.4: Gráfico de número de ciclos em função da força de aperto do parafuso

para os dados do exemplo 1

7.3 Janela de juntas

Na janela de juntas o usuário pode especificar a configuração dos elementos de

junta usados na montagem, ou seja, é nesta janela que são definidos o número de

elementos de junta, bem como o material e o comprimento de cada elemento.

Como já foi dito no capítulo 3, o programa coloca na mesma categoria de

elementos de junta qualquer componente que esteja sendo comprimido pelo parafuso,

isso engloba o próprio equipamento que se deseja prender, arruelas, gaxetas e qualquer

outro material selante que seja utilizado.

Exemplo 2: Na imagem abaixo foram utilizados três elementos de junta.

(1) Junta de aço com 10mm de comprimento;

(2) Junta de alumínio com 5mm de comprimento;

Page 63: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

58

(3) Junta de ferro fundido com 7mm de comprimento;

Figura 7.5: Janela de juntas com as configurações apresentadas no exemplo 2

Para confirmar essa configuração de junta de modo que ela seja considerada na

hora dos cálculos basta que se pressione o botão Enviar.

OBS: se esta janela for fechada sem que o botão Enviar seja acionado a

configuração de juntas será mantida em sua condição inicial.

7.4 Configuração dos gráficos

Na janela de configuração dos gráficos é possível alterar os intervalos nos quais

os gráficos apresentados na janela de gráficos, discutida na seção 7.2, serão exibidos.

Nesta janela também é feita a escolha da precisão na tomada de dados para traçar esses

gráficos. Existem três opções de precisão que podem ser escolhidas pelo usuário:

(1) Baixa: O eixo de Fi é dividido em passos de 0.05N;

(2) Média: O eixo de Fi é dividido em passos de 0.01N;

(3) Alta: O eixo de Fi é dividido em passos de 0.005N;

Page 64: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

59

Exemplo 3: Na imagem abaixo a força de aperto (Fi) varia de 0 a 100kN, o

coeficiente de segurança (CS) varia de 0 a 10, a força nas juntas (Fm) varia de -40kN a

40kN e a qualidade escolhida é média.

Figura 7.6: Janela de configuração dos gráficos com os dados do exemplo 3

Para confirmar essa configuração de gráficos, de modo que ela seja considerada

na hora dos cálculos basta que se pressione o botão Enviar.

OBS: se esta janela for fechada sem que o botão Enviar seja acionado a

configuração de gráficos será mantida em sua condição inicial.

7.5 Janela de desenho

Na janela de desenho é apresentado o desenho técnico do parafuso e o usuário tem

a opção de variar o comprimento do parafuso e o comprimento da rosca do parafuso.

Esta é uma janela bastante importante para o programa, pois como foi discutido nos

capítulos anteriores, o desenho técnico do parafuso é praticamente o produto final

oferecido pelo programa. Após toda a análise teórica de resistência que o programa

executa, é interessante apresentar ao usuário o parafuso resultante dessa especificação,

isso dá um ar mais concreto ao programa.

Page 65: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

60

Figura 7.7: Janela de desenho do programa apresentando o desenho gerado pelos

dados do exemplo 1

Como o objetivo desta janela é apresentar o desenho técnico do parafuso

especificado, a ideia básica foi não contaminar muito a interface com botões, para dar

mais ênfase no desenho em si. Por este motivo, com exceção do botão Desenhar que só

serve para redesenhar o parafuso caso alguma alteração seja feita, quase todas as

funções dessa janela são executadas a partir da barra de menus. Como se vê na figura

7.7, essa barra possui dois menus, o menu Editar e o menu Arquivo.

Menu Editar: No menu editar o usuário pode escolher se as cotas serão ou não

exibidas no desenho com o botão Cotas, pode escolher o tipo de representação

de rosca que será exibido com o botão Rosca e pode escolher o tipo de cabeça

do parafuso no menu Cabeça do Parafuso. Como já foi mencionado no

capítulo 6, o programa desenha dois tipos de cabeça, a sextavada externa e a

interna.

Menu Arquivo: Neste menu o usuário pode salvar o desenho em formato jpg

usando o botão Salvar ou então envia os dados do parafuso para que o desenho

seja feito no AutoCAD. Isso é feito através dos botões Enviar para AutoCAD e

Page 66: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

61

Modelo 3D em AutoCAD. O primeiro botão faz o mesmo desenho que é visto

na janela em um arquivo dwg do AutoCAD. O segundo faz um modelo 3D em

AutoCAD do parafuso especificado. As figuras 7.8 e 7.9 mostram os modelos

3D obtidos para o parafuso especificado.

Figura 7.8: Parafuso especificado com a cabeça sextavada externa

Figura 7.9: Parafuso especificado com a cabeça sextavada interna

Page 67: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

62

OBS: antes que o AutoCAD seja aberto o usuário terá que informar ao programa o

diretório em que está o AutoCAD, isso é feito através da caixa de dialogo que é aberta

ao acionar os botões Enviar para AutoCAD ou Modelo 3D em AutoCAD.

7.6 Fixação de chapa circular

Nesta janela o programa utiliza os dados especificados para um parafuso na janela

principal, e propõe soluções para a fixação de uma chapa circular, utilizando múltiplos

parafusos com as características pedidas. Para fazer esse cálculo, o usuário precisa

informar o diâmetro da chapa a como será o carregamento sobre ela, ou seja, carga

mínima e carga máxima.

Ao efetuar o cálculo o programa informa ao usuário quantos parafusos de cada

classe serão necessários para resistir a esse carregamento e também informa o intervalo

seguro para a força de aperto com a qual esses parafusos devem ser apertados. Ou seja,

os únicos dados que não são utilizados pelo programa nesta função são a classe do

parafuso, a força de aperto e o regime de cargas.

Outra função interessante presente nesta janela é a possibilidade de escolher entre

dois critérios ao efetuar esse cálculo, Para resistência à tração e Para garantir

vedação. O primeiro apenas faz a conta de quantos parafusos são necessários para

resistir ao carregamento, enquanto o segundo além de verificar a resistência à tração,

exige que os parafusos não excedam um valor máximo de separação escolhido pelo

usuário, garantindo assim a vedação com segurança.

Nesta parte do programa também é possível escolher a sua própria montagem para

uma chapa circular, informando número de parafusos utilizados, classe desses parafusos

e a força de aperto em cada um deles. Esses dados serão então processados através do

botão Montar.

É importante salientar que para efeitos de montagem o número de furos em uma

chapa circular deve ser tal que seja possível executar a furação de forma adequada, ou

seja, deve ser um número que ao dividir 360° o resultado seja um número inteiro ou

com no máximo uma casa decimal de precisão. A informação fornecida pelo programa

já leva isso em conta. O que é feito é calcular normalmente quantos parafusos são

necessários e depois esse número é modificado de forma a ser o primeiro que divida

adequadamente 360°.

Page 68: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

63

Essa janela possui três botões, Calcular, Montar e Modelo 3D, esses botões têm

funções bastante claras e serão apresentadas a seguir.

Calcular: Com esse botão o usuário calcula quantos parafusos de cada tipo são

necessários para fixar uma chapa nas condições especificadas, utilizando o

método apresentado no começo desta seção.

Montar: Com esse botão é possível escolher um tipo de montagem para fixar

essa chapa circular. Isso é feito especificando-se o número de parafusos

utilizados na montagem, a classe desses parafusos e a força inicial de aperto em

cada um deles. Ao pressionar esse botão a montagem escolhida será desenhada

no painel à direita e serão calculados o coeficiente de segurança (CS) e a força

na junta (Fm) da montagem.

Modelo 3D: Utilizando este botão, é possível representar a montagem proposta

em um arquivo dwg do AutoCAD.

Exemplo 4: Na figura 7.10 a chapa tem 500mm de diâmetro e é carregada de 25 a

850kN. Utilizando o critério de resistência a tração calcula-se que seriam necessários

quatorze parafusos classe 4.6, onze classe 5.8, nove classe 8.8, oito classe 10.9 ou sete

classe 12.9 (caso o outro critério fosse adotado seriam necessários quinze parafusos de

qualquer classe). Nesta figura também é proposta uma montagem com nove parafusos

classe 8.8, apertados com uma força (Fi) de 64kN. Essa montagem é apresentada no

painel à direita e resulta em um coeficiente de segurança (CS) de 1.01 e uma força na

junta (Fm) de -0.40kN, resultado coerente com os cálculos anteriores.

Page 69: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

64

Figura 7.10: Exemplo da janela “Fixação de chapa circular” em execução

Outro detalhe importante é que em função do comprimento do furo por onde

passa o parafuso, a distância mínima do seu centro até a borda da chapa deve ser

alterada, de forma que a hipótese do cone de pressão de Rotscher seja válida. Isso

influencia no número máximo de parafusos que a chapa pode aceitar, pois diminui o

diâmetro sobre o qual os parafusos podem ser distribuídos. Uma consequência disso é

que o número de graus de parafusos que poderão atender às especificações da

montagem.

Utilizando o botão Modelo 3D, é possível representar a configuração especificada

no exemplo 4 em um arquivo dwg do AutoCAD. O desenho obtido é apresentado na

figura 7.11.

Page 70: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

65

Figura 7.11: Modelo 3D em AutoCAD da chapa representada na figura 7.10

7.7 Visão geral do programa e conclusões

Basicamente, esse programa se destina àqueles que desejam uma forma fácil em

um ambiente amigável para escolher o parafuso adequado para uma determinada

aplicação. No BoltSpec o usuário pode simular dezenas de configurações de montagem

em questão de minutos, de forma eficiente e precisa nos cálculos.

Em um mundo em que os prazos e as tolerâncias estão cada vez menores, é

importantíssimo que o projetista tenha ferramentas para auxiliá-lo na execução do seu

trabalho o mais rápido e precisamente possível. E esse é o objetivo por trás desse

programa, de ser uma poderosa ferramenta nas mãos de um engenheiro mecânico,

facilitando e agilizando o seu trabalho e ao mesmo tempo tornando-o um pouco menos

cansativo. É importante, contudo, lembrar que o usuário do programa tem total controle

sobre o projeto e que apesar de o programa oferecer uma série de sugestões a respeito

do projeto de uma montagem com parafusos, um SISTEMA especialista não pode em

hipótese alguma substituir um especialista HUMANO, apenas auxiliá-lo.

Page 71: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

66

REFERÊNCIAS

WATERMAN D.A., A Guide to Expert Systems., Boston, Addison-Wesley, 1986.

RUSSEL, STUART J., Inteligência Artificial. 3 ed. Rio de Janeiro, CAMPUS, 2013.

RICHARD G. BUDYNAS & J. KEITH NISBETT., Elementos de Máquinas do Shigley

, 8 ed. Porto Alegre, McGraw Hill Inc. & Bookman, 2011.

NORTON, R.L., Machine Design – An Integrated Approach, 1 ed. New Jersey, Prentice

Hall Inc, 1996.

SHACKELFORD, J.F., Introduction to Materials Science for Engineers, 3 ed., New

York, Macmillan Publising Co., 1992.

DOBROVOLSKY, V., and others, Machine Elements – A textbook, 1 ed., Moscow,

Mir Publishers, 1965.

JUVINALL. R.C., Fundamentals of Machine Components Design, 1 ed, Singapore,

Jonh Wiley and Sons, 1983.

Orlov, P., Fundamentals of Machine Design, Vol V, 2 ed., Moscow, Mir Publishers,

1980.

RESHETOV, D.N., Machine Design, 1 ed., Moscow, Mir Publishers , 1978.

SPOTTS, M.F., Design of Machine Elements, 6 ed., New Jersey, Prentice Hall Inc.,

1985.

DE MARCO, F.F. e MONTEIRO, C.F.E., “Expert Systems – Fasteners Threaded

Design”, COBEM/13, Ribeirão Preto, SP, 2013.

DE MARCO, F.F. e ASCOLESI, A., “Expert System – Bolted Joints Specification”,

COBEM/99, Águas de Lindóia, SP, 1999.

MARK SUMMERFIELD, Programming in Python 3 - A Complete Introduction to the

Python Language, 2 ed., Boston, Addison-Wesley ed., 2009.

Page 72: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

67

FIGURAS E TABELAS

Figura 2.1: Arquitetura típica de um Sistema Especialista

Figura 3.1: Exemplos de aplicações de fixação por parafuso

Page 73: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

68

Figura 3.2: Diversas formas e geometrias de cabeças de parafuso

Figura 3.3: Exemplos de cabeças especiais de parafuso

Page 74: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

69

Figura 3.4: Exemplos de alguns dos tipos de rosca e suas aplicações

Figura 3.5: Perfil básico para roscas métricas M e MJ

Page 75: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

70

Tabela 3.1: Diâmetros e áreas de roscas métricas de passo grosso e fino

Page 76: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

71

Tabela 3.2: Diâmetros e áreas de roscas de parafusos unificados UNC e UNF

Figura 4.1: Falha por fadiga de uma peça submetida a cargas cíclicas

Page 77: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

72

Figura 4.2: Corpo de prova típico para o ensaio de viga rotativa

Figura 4.3: Diagrama S-N do ensaio de fadiga típico de aços

Page 78: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

73

Figura 4.4: Dados de diversos ensaios de fadiga para diferentes materiais

Tabela 4.1: Valores do fator ka para diferentes acabamentos superficiais

ACABAMENTO

SUPERFICIAL

FATOR a

EXPOENTE b

[KPSI] [MPa]

Retificado 1.34 1.58 -0.085

Usinado ou Laminado a frio 2.70 4.51 -0.265

Laminado a quente 14.4 57.7 -0.718

Forjado 39.9 272 -0.995

Page 79: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

74

Tabela 4.2: Valores do fator kc para diferentes níveis de confiabilidade

Confiabilidade

[%]

Variante de

transformação Z

Fator de

confiabilidade

(kc)

50 0 1.000

90 1.288 0.897

95 1.645 0.868

99 2.326 0.814

99.9 3.091 0.753

99.99 3.719 0.702

99.999 4.265 0.659

99.9999 4.473 0.62

Figura 4.5: Carta de sensibilidade ao entalhe de aços e ligas de alumínio submetidas à

flexão reversa ou cargas axiais reversas

Page 80: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

75

Figura 4.6: Carta de concentração de tensões em uma peça cilíndrica com redução de

diâmetro submetida à flexão

Figura 4.7: Carta de concentração de tensões em uma peça cilíndrica sulcada

submetida à flexão

Page 81: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

76

Figura 4.8: Diagrama de fadiga para vários critérios de falha

Figura 5.1: Análise de esforços em uma união por parafusos

Page 82: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

77

Figura 5.2: Compressão da junta representada por um tronco de cone

Tabela 5.1: Resistências de parafusos segundo a especificação SAE

Page 83: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

78

Tabela 5.2: Resistências de parafusos segundo a especificação ASTM

Page 84: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

79

Tabela 5.3: Resistências de parafusos segundo a especificação métrica

Tabela 5.4: Valores do fator para diferentes tipos de parafuso

Roscas

laminadas

Roscas

cortadas Filete

Grau SAE Grau métrico Valores de

0 a 2 3.6 a 5.8 2.2 2.8 2.1

4 a 8 6.6 a 10.9 3.0 3.8 2.3

Page 85: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

80

Tabela 6.1: Dimensões métricas de parafusos sextavados externos

Diâmetro nominal

[mm]

H W

Altura da cabeça

[mm]

Largura da cabeça

[mm]

1.6 1.12 3.06

2 1.4 3.83

2.5 1.75 4.79

3 2.1 5.75

3.5 2.45 6.7

4 2.8 7.66

5 3.5 8.79

6 4 11.05

8 5.3 14.38

10 6.4 18.9

12 7.5 21.1

14 8.8 24.49

16 10 26.75

20 12.5 33.53

24 15 39.98

30 18.7 50.85

36 22.5 60.79

Page 86: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

81

Tabela 6.2: Dimensões unificadas de parafusos sextavados externos

Diâmetro nominal

[in]

H W

Altura da cabeça

[in]

Largura da cabeça

[in]

0.06 0.105 0.045

0.073 0.128 0.054

0.086 0.151 0.064

0.099 0.173 0.074

0.112 0.196 0.084

0.125 0.219 0.094

0.138 0.242 0.104

0.164 0.287 0.123

0.19 0.333 0.143

0.216 0.378 0.162

0.25 0.438 0.188

0.3125 0.5 0.235

0.375 0.562 0.268

0.4375 0.625 0.316

0.5 0.75 0.364

0.5625 0.844 0.404

0.625 0.938 0.444

0.75 1.125 0.524

0.875 1.312 0.604

1 1.5 0.7

1.25 1.875 0.876

1.5 2.25 1.036

Page 87: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

82

Tabela 6.3: Dimensões métricas de parafusos sextavados internos

Diâmetro

nominal

[mm]

D H W E

Diâmetro da

cabeça [mm]

Altura da

cabeça

[mm]

Largura do

encaixe

[mm]

Profundidade

do encaixe

[mm]

1.6 2.9 1.6 1.3 0.7

2 3.7 2 1.7 0.9

2.5 4.6 2.5 2.1 1.1

3 5.5 3 2.5 1.3

3.5 6.4 3.5 0.83 1.5

4 7 4 3 2

5 8.5 5 4 2.5

6 10 6 5 3

8 13 8 6 3.5

10 16 10 8 4

12 18 12 10 5

14 21 14 12 6

16 24 16 14 7

20 30 20 17 8

24 36 24 19 10

30 45 30 22 13.5

36 54 36 26 16

Page 88: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

83

Tabela 6.4: Dimensões unificadas de parafusos sextavados internos

Diâmetro

nominal

[in]

D H W E

Diâmetro

da cabeça

[in]

Altura da

cabeça

[in]

Largura do

encaixe [in]

Profundidade do

encaixe [in]

0.06 0.096 0.06 0.05 0.025

0.073 0.118 0.073 0.062 0.031

0.086 0.14 0.086 0.078 0.038

0.099 0.161 0.099 0.078 0.044

0.112 0.183 0.112 0.094 0.051

0.125 0.205 0.125 0.094 0.057

0.138 0.226 0.138 0.109 0.064

0.164 0.27 0.164 0.141 0.077

0.19 0.312 0.19 0.156 0.09

0.216 0.35 0.22 0.17 0.1

0.25 0.375 0.25 0.188 0.12

0.3125 0.469 0.312 0.25 0.151

0.375 0.562 0.375 0.312 0.182

0.4375 0.656 0.438 0 375

0.5 0.75 0.5 0.375 0.245

0.5625 0.844 0.563 0.438 0.276

0.625 0.938 0.625 0.5 0.307

0.75 1.125 0.75 0.625 0.37

0.875 1.312 0.875 0.75 0.432

1 1.5 1 0.75 0.495

1.25 1.875 1.25 0.875 0.557

1.5 2.25 1.5 1 0.62

Page 89: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

84

Figura 7.1: Janela inicial do programa com os dados propostos no exemplo 1

Figura 7.2: Janela de avaliação do parafuso mostrando a avaliação feita a partir dos

dados do exemplo 1

Page 90: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

85

Figura 7.3: Gráficos do coeficiente de segurança e da força na junta para os dados do

exemplo 1

Page 91: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

86

Figura 7.4: Gráfico de número de ciclos em função da força de aperto do parafuso

para os dados do exemplo 1

Figura 7.5: Janela de juntas com as configurações apresentadas no exemplo 2

Page 92: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

87

Figura 7.6: Janela de configuração dos gráficos com os dados do exemplo 3

Figura 7.7: Janela de desenho do programa apresentando o desenho gerado pelos

dados do exemplo 1

Page 93: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

88

Figura 7.8: Parafuso especificado com a cabeça sextavada externa

Figura 7.9: Parafuso especificado com a cabeça sextavada interna

Page 94: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

89

Figura 7.10: Exemplo da janela “Fixação de chapa circular” em execução

Page 95: sistemas especialistas - projeto de parafusos de união

90

Figura 7.11: Modelo 3D em AutoCAD da chapa representada na figura 7.10