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SISTEMA REPRODUTOR HUMANO – CONHECIMENTOS ESCOLARES, SEXUALIDADE E O COTIDIANO DOS ALUNOS 1 Nádia Cristina Holtz Damo 2 Carlos Eduardo Bittencourt Stange 3 RESUMO Tendo em vista que a sexualidade envolve muitos aspectos da vida humana, é preciso estar sempre abertos e atentos às diversas opiniões e interpretações sobre o tema. A preocupação escolar com a orientação sexual dos estudantes deve ser pensada e trabalhada na escola, pois se sabe que muitas vezes os jovens não possuem informações suficientes sobre sexualidade, os pais não conseguem orientar os filhos e a escola nem sempre consegue conscientizar os jovens da importância dos cuidados e da valorização do seu corpo. Assim, o objetivo deste trabalho, é demonstrar que os conhecimentos adquiridos na escola, através das aulas de reprodução e sexualidade, podem contribuir para que os estudantes percebam a importância de conhecer o próprio corpo, adotando hábitos e atitudes saudáveis de qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação ao seu desenvolvimento físico e emocional. Para a obtenção dos resultados, trabalhou-se com pré-teste e pós-teste, técnicas de conversação professor-aluno, técnica da modelagem, do “bebê-ovo”, jogos educativos e filmes. O resultado do estudo demonstra que orientações adequadas sobre reprodução e sexualidade humana contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento de nossos jovens com informações corretas e responsabilidade de ações. Palavras-chave: Reprodução humana. Sexualidade. Adolescência. Valores. Responsabilidade. ABSTRACT Given that sexuality involves many aspects of human life, we must always be open and attentive to different opinions and interpretations on the theme. Schools' concern with the students' sexual orientation should be considered and acted on in school as it is known that young people often lack sufficient information about sexuality, due to parents being enable to guide their children and schools not educating young people about the importance of care and respect for their bodies. The objective of this study is to explore what the students have learned in school through classes on sexuality 1 Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE - da Secretaria de Estado da Educação – SEED, Superintendência da Educação - SUED – Curitiba – Paraná. Dez 2009. 2 Formada em Ciências com Habilitação em Matemática pela FUNESP (Fundação de Ensino Superior de Pato Branco), professora do Colégio Estadual Carlos Gomes – Ensino Fundamental e Médio. 3 Professor Orientador do Departamento de Biologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste- UNICENTRO, Guarapuava – Paraná, Mestre em Educação, Metodologia de Ensino Superior. 1

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Page 1: SISTEMA REPRODUTOR HUMANO – CONHECIMENTOS … · ocorre a reprodução humana e os aspectos que envolvem a sexualidade do ser humano. 2.1 O ENSINO DE CIÊNCIAS E A FORMAÇÃO DE

SISTEMA REPRODUTOR HUMANO – CONHECIMENTOS ESCOLARES, SEXUALIDADE E O COTIDIANO DOS ALUNOS1

Nádia Cristina Holtz Damo2 Carlos Eduardo Bittencourt Stange3

RESUMO

Tendo em vista que a sexualidade envolve muitos aspectos da vida humana, é preciso estar sempre abertos e atentos às diversas opiniões e interpretações sobre o tema. A preocupação escolar com a orientação sexual dos estudantes deve ser pensada e trabalhada na escola, pois se sabe que muitas vezes os jovens não possuem informações suficientes sobre sexualidade, os pais não conseguem orientar os filhos e a escola nem sempre consegue conscientizar os jovens da importância dos cuidados e da valorização do seu corpo. Assim, o objetivo deste trabalho, é demonstrar que os conhecimentos adquiridos na escola, através das aulas de reprodução e sexualidade, podem contribuir para que os estudantes percebam a importância de conhecer o próprio corpo, adotando hábitos e atitudes saudáveis de qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação ao seu desenvolvimento físico e emocional. Para a obtenção dos resultados, trabalhou-se com pré-teste e pós-teste, técnicas de conversação professor-aluno, técnica da modelagem, do “bebê-ovo”, jogos educativos e filmes. O resultado do estudo demonstra que orientações adequadas sobre reprodução e sexualidade humana contribuem de maneira significativa para o desenvolvimento de nossos jovens com informações corretas e responsabilidade de ações.

Palavras-chave: Reprodução humana. Sexualidade. Adolescência. Valores. Responsabilidade.

ABSTRACT

Given that sexuality involves many aspects of human life, we must always be open and attentive to different opinions and interpretations on the theme. Schools' concern with the students' sexual orientation should be considered and acted on in school as it is known that young people often lack sufficient information about sexuality, due to parents being enable to guide their children and schools not educating young people about the importance of care and respect for their bodies. The objective of this study is to explore what the students have learned in school through classes on sexuality

1 Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE - da Secretaria de Estado da Educação – SEED, Superintendência da Educação - SUED – Curitiba – Paraná. Dez 2009.2 Formada em Ciências com Habilitação em Matemática pela FUNESP (Fundação de Ensino Superior de Pato Branco), professora do Colégio Estadual Carlos Gomes – Ensino Fundamental e Médio.3 Professor Orientador do Departamento de Biologia da Universidade Estadual do Centro-Oeste- UNICENTRO, Guarapuava – Paraná, Mestre em Educação, Metodologia de Ensino Superior.

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and reproduction and how this can aid the students in understanding the importance of knowing one's own body, adopting healthy habits and attitudes towards quality of life and acting responsibly in relation to their physical and emotional development. Various techniques were utilized to obtain the results such as pre-test and post-test techniques, teacher-student conversation, technical modeling, “egg baby”, educational games and movies. Study results show that the accurate information given by the teachers on human reproduction and sexuality greatly improve the students accountability for their actions thus significantly contributing to the development of our young people. Keywords: Human Reproduction. Sexuality. Adolescence. Values. Responsibility.

1. INTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo apresentar o desenvolvimento das atividades

realizadas durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), 2ª turma,

2008, sendo que a intervenção didática ocorreu no município de Pato Branco,

situado no sudoeste do Estado do Paraná, no Colégio Estadual Carlos Gomes,

Ensino Fundamental e Médio, com as 7ª séries A e D, totalizando 65 alunos, sendo

a 7ª A, a turma da intervenção, e a 7ª D, a turma de controle, com o tema

“Contribuições para o Ensino de Ciências na Educação Básica do Ensino

Fundamental”, sobre o conteúdo estruturante “Sistemas Biológicos”, com destaque

para o conteúdo específico “Sistema Reprodutor Humano”, objetivando responder à

seguinte pergunta central: “Quais conteúdos e qual metodologia de abordagem

poderiam vir a contribuir de modo significativo frente a esta condição de

responsabilidade social da escola”?

Devido ao grande interesse dos alunos frente ao conteúdo específico

trabalhado: “Sistema Reprodutor Humano”, dando ênfase à Sexualidade Humana,

torna-se importante conhecer metodologias pelas quais sua aprendizagem ocorra de

forma “significativa”, nas quais não estejamos presos apenas a regras e conceitos

científicos, tornando o seu enfoque uma responsabilidade social da escola, já que

esta envolve valores, sentimentos e emoções.

Tendo em vista que na maioria das turmas temos educandos curiosos quanto

às questões referentes à sexualidade e na procura de informações, muitas vezes

adquirindo-as de maneira distorcida, procurou-se desenvolver uma pesquisa que

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ajudasse a encontrar maneiras ou metodologias de trabalhar o tema que realmente

despertam o interesse dos jovens e proporcionem conhecimentos significativos para

o seu desenvolvimento como ser humano.

Várias dificuldades com base no contexto sócio-cultural dos sujeitos

envolvidos constituem-se em barreiras para que a sexualidade seja abordada na

escola, dentre as quais, aspectos relativos a posicionamentos familiares, religiosos,

falta de conhecimento específico e constrangimento em abordar o tema, o que

impossibilita discussões amplas sobre os conteúdos que devem considerar a

formação de identidades sexuais.

Os professores, apesar de perceberem a necessidade de adotar uma maior

abertura para tratar das questões relativas à sexualidade na escola, continuam sem

subsídios adequados para trabalhar essas questões; assim, acabam por relegá-la a

um enfoque biologizante com a função de preservar o educador frente aos alunos. A

contribuição de Louro (1988, p.41) reforça o que temos dito até então:

“... a sexualidade que é geralmente apresentada na escola está em estreita articulação com a família e a reprodução. O casamento constitui a moldura social adequada para seu ‘pleno exercício’ e os filhos, a consequência ou a benção desse ato. Dentro desse quadro, as práticas sexuais não são reprodutivas ou não são consideradas, deixando de ser observadas, ou são cercadas de receios e medos. A associação da sexualidade ao prazer e ao desejo é deslocada em favor da prevenção dos perigos e das doenças.”

A sexualidade está relacionada ao período da adolescência que se

caracteriza por mudanças, não só no corpo, mas também no emocional, nas

relações familiares e na vida social. Ao tratar sexualidade com o adolescente,

precisamos entender que ele faz parte de uma família, um meio sócio-econômico e

cultural, que ele está na fase do pensamento mágico, da onipotência, da

impulsividade e da reivindicação. Manter um relacionamento afetivo, facilitar o

diálogo e desenvolver o conhecimento não é tarefa fácil em se tratando de

adolescentes, mas o professor precisa ter claro que não pode reproduzir

conhecimentos ancestrais, precisa valorizar a existência dos conhecimentos prévios

dos alunos frente ao tema, bem como a influência da escola nesta aprendizagem, já

que é na escola que o adolescente passa grande parte do seu tempo e esta auxilia

no desenvolvimento de sua identidade.

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2. DESENVOLVIMENTO

Essa pesquisa foi realizada para descobrir metodologias diferenciadas de

trabalhar ou abordar o assunto “Sistema Reprodutor Humano” e “Sexualidade” entre

os adolescentes, visto que todos os anos, mesmo trabalhando esse conteúdo de

maneira “tradicional”, observa-se muito interesse pelo assunto, muitas dúvidas

relacionadas a sexo e sexualidade e a ocorrência de muitas adolescentes grávidas

no Colégio, que atende a uma demanda educacional de oito bairros que surgiram e

cresceram sem planejamento urbano e, portanto, sem uma infraestrutura básica

necessária para atender dignamente essa população. Muitas dessas jovens grávidas

acabam abandonando a escola para cuidar das crianças e outras deixam seus filhos

aos cuidados das mães ou avós.

Tornar as aulas mais interessantes para os alunos exige do professor um

maior preparo e planejamento de suas aulas, utilizando recursos didáticos diversos e

atividades práticas que tornem o assunto mais atrativo e aproxime professor-aluno,

favorecendo troca de conhecimentos, esclarecimento de dúvidas e proporcionando

aos jovens uma efetiva aprendizagem que poderá ser refletida no seu dia-a-dia, na

compreensão do funcionamento do seu corpo e na valorização do ser humano.

O trabalho foi desenvolvido com alunos de 7ª série do Ensino Fundamental do

Colégio Estadual Carlos Gomes de Pato Branco, sendo que, na turma A, foi

trabalhado a implementação do projeto, utilizando-se a Unidade Didática produzida

sobre “Sistema Reprodutor Humano” e “Sexualidade” e formas diferentes de

abordagem do conteúdo, aplicando-se pré-teste e pós-teste. Na turma D, chamada

de turma de controle, foi aplicado o pré-teste, depois se trabalhou o conteúdo de

forma tradicional e, na sequência, o pós-teste, para comparar resultados de

aprendizagem.

Fazer uma pesquisa sobre “Sistema Reprodutor Humano” e “Sexualidade”

trabalhar a intervenção com os alunos, analisar e comparar os resultados visa

colaborar de alguma forma, com os educadores ou as pessoas em geral que

precisam tratar desse assunto tão polêmico com os jovens, tentando melhorar ou

modificar o desenvolvimento dos adolescentes de classe média baixa, que na

maioria das vezes, tem na escola, a única fonte de informação correta sobre como

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ocorre a reprodução humana e os aspectos que envolvem a sexualidade do ser

humano.

2.1 O ENSINO DE CIÊNCIAS E A FORMAÇÃO DE CONCEITOS SIGNIFICATIVOS

Sabe-se que o aprendizado dos estudantes começa muito antes do contato

com a escola. Por isso é importante que os professores conheçam a realidade dos

alunos com quem estão trabalhando, para que possam desenvolver atividades que

estejam de acordo com o interesse dos estudantes.

O fator isolado mais importante para a aprendizagem significativa é o

conhecimento prévio, a experiência prévia, ou a percepção prévia, e o aprendiz deve

manifestar uma predisposição para relacionar de maneira não arbitrária e não-literal

o novo conhecimento com o conhecimento prévio. A formação de conceitos

significativos pelos estudantes é fundamental para a aprendizagem ocorra de forma

natural, mas efetiva. A construção de conceitos pelo estudante, não difere do

desenvolvimento de conceitos não sistematizados que traz de sua vida cotidiana.

Para VYGOTSKY (1991ª, p.71), um conceito é:

[...] mais do que a soma de certas conexões associativas formadas pela memória, é

mais do que um simples hábito mental; é um ato real e complexo de pensamento que

não pode ser ensinado por meio de treinamento, só podendo ser realizado quando o

próprio desenvolvimento mental da criança já tiver atingido o nível necessário.

O ensino de Ciências visa desenvolver habilidades, referentes a observações

e vivência de cada aluno, por isso torna-se necessário levar em consideração todo o

seu cotidiano, sendo fundamental não uma transmissão destes conhecimentos, mas

sim uma relação de “parceria” onde a vivência de cada um levará à formação e

melhor entendimento a respeito do que está sendo trabalhado, possibilitando a

comprovação do que consideramos senso comum. Dessa forma, o ensino de

Ciências deixa de ser encarado como mera transmissão de conceitos científicos,

para ser compreendido como processo de formação de conceitos científicos,

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possibilitando a superação de concepções alternativas dos estudantes e o

enriquecimento de sua cultura científica (Lopes, 1999).

O educando traz consigo, como já dissemos, uma carga de conhecimentos

adquiridos em sua vida cotidiana e estes devem ser explorados antes mesmo do

início da aplicação dos conteúdos como forma de sondagem e, a partir destes

conhecimentos prévios, fazer a coligação com os conteúdos disciplinares. Na

disciplina de Ciências isto se torna mais efetivo ainda por ser uma disciplina em que

o aluno está inteiramente em contato com os fenômenos físicos e químicos dos

conteúdos em seu dia-a-dia, seja na saúde ou na anatomia e fisiologia humana.

Dessa forma, o aluno sente-se estimulado na aprendizagem, pois são do seu

interesse o conhecimento e explicações de situações cotidianas.

A realidade da maioria de nossas escolas ainda continua dominada por uma

concepção tradicional, na qual se transmite uma grande quantidade de informações,

muitas vezes seguindo apenas o livro didático. Não estamos preparados para as

diferenças individuais, sonhamos com classes homogêneas e atribuímos os

problemas a fatores externos: família, imaturidade do aluno, distúrbios de

aprendizagem. Para que ocorra a aprendizagem significativa precisamos formular

problemas desafiantes, noções de conceitos, relações, provocando modificação de

comportamentos, que os alunos sejam capazes de veicular os conceitos aprendidos

para desenvolver novas formas de interpretar a realidade, questionando, propondo

soluções, fazendo leituras reflexivas. Faz-se necessário que do discurso se passe à

ação, é preciso mais que novas metodologias, recursos didáticos e tecnologia

avançada. Os alunos precisam ter a oportunidade de interagir com situações que

exijam envolvimento, pois como dizia Freire (2003, p.28) o nosso conhecimento tem

historicidade:

“... ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro que antes foi novo e se fez velho e se dispõe a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que seja tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não existente.”

Os conceitos de aprendizagem e linguagem também devem fazer parte do

nosso estudo porque estão relacionados com a realidade de nossos jovens em sala

de aula e na vida. A linguagem oferece os conceitos e as formas de organização do

real que constituem a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. A

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compreensão das relações entre pensamento e linguagem é essencial para a

compreensão do funcionamento psicológico do ser humano.

De certa forma o estudante pode, também, aprender conteúdos científicos

escolares sem atribuir-lhes significados. Isto acontece, por exemplo, quando

aprende exclusivamente pelo processo de memorização, ou seja, faz uso dos

conceitos sem entender o que está dizendo ou fazendo.

A teoria da aprendizagem significativa de Ausubel (1982) propõe que os

conhecimentos prévios dos alunos sejam valorizados, para que possam construir

estruturas mentais utilizando, como meio, mapas conceituais que permitem

descobrir e redescobrir outros conhecimentos, caracterizando assim, uma

aprendizagem prazerosa e eficaz. Para haver aprendizagem significativa são

necessárias duas condições: o aluno precisa ter disposição para aprender e o

conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente significativo. Com

esse duplo marco de referência, as proposições de Ausubel (1982) partem da

consideração de que os indivíduos apresentam uma organização cognitiva interna

baseada em conhecimentos de caráter conceitual, sendo que a sua complexidade

depende muito mais das relações que esses conceitos estabelecem entre si do que

do número de conceitos presentes.

A aprendizagem significativa tem vantagens notáveis, tanto do ponto de vista

do enriquecimento da estrutura cognitiva do aluno como do ponto de vista da

lembrança posterior e da utilização para experimentar novas aprendizagens, fatores

que a delimitam como sendo a aprendizagem mais adequada para ser promovida

entre os alunos.

Na sua teoria, Ausubel (1982) apresenta uma aprendizagem que tenha como

ambiente uma comunicação eficaz, respeite e conduza o aluno a imaginar-se como

parte integrante desse novo conhecimento através de elos, de termos familiares a

eles. Assim, a construção de significados pelo estudante é o resultado de uma

complexa rede de interações composta por, no mínimo, três elementos: o estudante,

os conteúdos científicos escolares e o professor como mediador do processo de

ensino-aprendizagem.

A aprendizagem significativa processa-se quando o material novo, ideias e

informações que apresentam uma estrutura lógica interagem com conceitos

relevantes e inclusivos, claros e disponíveis na estrutura cognitiva, sendo por eles

assimilados, contribuindo para sua diferenciação, elaboração e estabilidade. Essa

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interação constitui, segundo Ausubel (1968, pp. 37 – 39), “... uma experiência

consciente, claramente articulada e precisamente diferenciada, que emerge quando

sinais, símbolos, conceitos e proposições potencialmente significativos são

relacionados à estrutura cognitiva e nela incorporados”.

2.3 A IMPORTÂNCIA DA REPRODUÇÃO E SEXUALIDADE NA VIDA DOS

ADOLESCENTES

No desenvolvimento do projeto sobre “Sistema Reprodutor Humano” e

“Sexualidade”, procurou-se trabalhar com os adolescentes de maneira a relacionar o

conhecimento prévio que possuem com o conhecimento científico que precisam

adquirir na escola como tentativa de minimizar os problemas enfrentados por nossos

jovens quando iniciam a sua vida sexual sem informações adequadas sobre vários

aspectos do desenvolvimento do seu corpo e da sua sexualidade.

A escola precisa preparar o aluno para viver em uma sociedade caracterizada

pela mudança, cada vez mais rápida de conceitos e valores e para isso os

professores têm que estar pesquisando e aperfeiçoando seus conhecimentos

científicos e suas metodologias de trabalho.

Quando trabalhamos com o conteúdo “Sistema Reprodutor Humano”, e

tratamos o tema “sexualidade” na 7ª série, percebemos que nossos alunos

demonstram um grande interesse por esse assunto, principalmente no que se refere

à sexualidade e nas mudanças que estão ocorrendo em seu corpo nessa fase da

vida do que, propriamente, no conteúdo de fisiologia humana. E, como professores

de Ciências, nos detemos a conceitos, normas e regras que de certa forma não

atingem o interesse real dos jovens em relação à reprodução.

Desse modo, ao vincular a sexualidade a um enfoque simplesmente biológico,

a escola acaba negando que fatores psicológicos, sociais, históricos e culturais

apresentem forte influência sobre ela e também as formas como os sujeitos dela se

apropriam.

A sexualidade humana tem sido tema de discussão ao longo dos séculos,

principalmente devido às doenças advindas do contato sexual e a posicionamentos

divergentes quanto à abordagem do assunto, gerando uma série de concepções,

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comportamentos, preconceitos e estereótipos, por isso, oportuno se faz o

apontamento de Louro (2000, p.86):

“... a sexualidade, não há como negar, é mais do que uma questão pessoal e privada, ela se constitui num campo político, discutido e disputado. Na atribuição do que é certo ou errado, normal ou patológico, aceitável ou inadmissível está implícito em amplo exercício de poder que, socialmente, discrimina, separa e classifica.”

Nesse sentido, a noção de sexualidade entrelaça elementos da história dos

indivíduos e dos grupos sociais, envolvendo valores construídos socialmente, com

reflexos tanto no cotidiano quanto também na escola. Frente a todas essas questões

sobre reprodução e sexualidade, faz-se necessário pesquisar metodologias

facilitadoras de se trabalhar esse assunto, com enfoque em aprendizagem

significativa do conteúdo, associada à responsabilidade social da escola em sua

ação educativa.

O trabalho foi desenvolvido de forma a motivar os alunos ao estudo da

reprodução humana e a compreensão da sexualidade que envolve o ser humano e

enfocando, de forma clara, aspectos conceituais como: a existência de relações

entre o ciclo de vida humana e os processos de formação de óvulos e

espermatozóides; os processos de crescimento e amadurecimento sexual de

meninos e meninas que apresentam ritmos diferentes, assim como aqueles de

pessoas do mesmo sexo; as relações entre a capacidade reprodutiva dos seres

humanos e a sua estrutura anatomofisiológica; a necessidade de manter atitudes de

prevenção das DST ao longo de toda a vida; as especificidades do conjunto de

órgãos do sistema reprodutor masculino e feminino que podem ser entendidas,

compreendendo que esses órgãos são formados ao longo de todo o período de

desenvolvimento do ser, graças à ação de um conjunto de hormônios, que são

diferentes para meninos e meninas, influenciados por um ambiente social que

contribui para a definição de comportamentos.

As dificuldades relacionadas a questões comportamentais expressam-se na

forma de inibição em discutir questões de natureza íntima como a sexualidade em

sala de aula, mas este tema deve ser relacionado com o conteúdo científico, para

que o jovem possa lidar de forma natural com os aspectos do próprio corpo,

evitando problemas como gravidez indesejada e doenças sexualmente

transmissíveis.

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O interesse sobre reprodução e sexualidade no contexto escolar reforça a

característica multidimensional do processo ensino-aprendizagem, mostrando que o

desenvolvimento cognitivo do indivíduo é estreitamente relacionado e, portanto,

influenciado por seu desenvolvimento pessoal e social, no qual a sexualidade e a

afetividade têm papéis fundamentais.

A sexualidade é uma das dimensões fundamentais da condição humana, que

se desenvolve e se apresenta sempre influenciada por sentimentos e valores.

Inerente à vida do ser humano, ela se manifesta desde o nascimento e se constrói

ao longo de toda a existência, sendo, portanto, a discussão sobre sexualidade com

adolescentes tão emocionante quanto a fase da vida em que eles se encontram,

pois como afirma PINTO (1997, p.43):

“A adolescência é a fase de transição e a idade adulta, marcada por transformações

anatômicas, fisiológicas, psicológicas e sociais. É nesse período que ocorre o

encontro de um núcleo de permanência e de estabilidade em si mesmo, denominado

identidade, e sua busca por parte dos jovens pode produzir uma série de

manifestações inquietantes, entre elas aquelas relacionadas ao exercício da

sexualidade “(PINTO, 1997, p.43).

Sabe-se que na adolescência tudo é vivido intensamente, o adolescente varia

constantemente suas opiniões, ideias, comportamentos e humor. Tudo isso leva ao

amadurecimento, que é o objetivo desta fase marcada por duas aquisições

importantes: a capacidade reprodutiva e a identidade pessoal, onde, a busca e a

construção de uma nova identidade é o foco central.

A adolescência tem um aspecto biológico e universal, caracterizado por

modificações visíveis, como o aparecimento de pelos pubianos e axilares, o

aumento da força muscular, a distribuição da gordura, a mudança na voz, o

desenvolvimento da mama, a menarca, a primeira ejaculação e a masturbação.

Todos esses elementos exteriorizam as mudanças internas sofridas pelos

adolescentes e produzem seus reflexos sobre a vida afetiva e emocional dos

mesmos. As mudanças biológicas trazem conflitos e a necessidade de adaptação

que deve ser interna e externa.

Além do processo de mudanças e transformações, a adolescência

caracteriza-se pela tendência grupal, atitude social reivindicatória, constantes

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flutuações do humor e estado de ânimo, comportamento impulsivo e desafio à

autoridade dos pais.

Segundo Frison (2002), ao longo da vida o ser humano interage com a sua

família que é seu primeiro grupo social, posteriormente passa para o convívio na

escola, sendo que o papel desta passa a ser fundamental na medida em que grande

parte do tempo do jovem é vivida dentro dos “muros da educação”, mas ambas,

família e escola, são determinantes na construção de sua identidade.

Os jovens precisam de autodisciplina para enfrentar o mundo atual, mas

também necessitam de autoconfiança, independência e adaptabilidade, bem como

um espaço para tratar questões referentes à sexualidade, valores, sentimentos e

emoções, sendo que, muitas vezes, a escola é o principal espaço de educação

sexual para eles. Contudo, a escola nem sempre tem trabalhado esse assunto de

forma adequada, pois ao invés de informar e educar, acaba por transmitir conteúdos

de forma preconceituosa. Nessa perspectiva, FRISON (2002, p.208) comenta que a

escola se omite em relação à educação sexual:

(...) a omissão da escola nos assuntos relacionados a sexo e sexualidade é muito

grande. Nela ocorrem fatos que demonstram ansiedade, curiosidade, angústia dos

jovens sobre sexualidade, por exemplo, piadas, risos, desenhos provocativos,

bilhetes, recados apelativos aos banheiros, leituras misteriosas e revistas

pornográficas. Frente a isso os professores ficam impactados sem saber o que fazer

e o que dizer. O mais comum é estabelecer regras e medidas muito fortes para que

os alunos passem a “respeitar” o ambiente escolar.

FRISON (2002) ainda argumenta que a escola faz parte da vida do jovem, e

que esta não pode se omitir e ficar alheia ao que acontece com os adolescentes. É

necessário que a mesma oriente os jovens em relação à sexualidade como algo

normal, sem constrangimento, suprindo as necessidades da família, pois de acordo

com Pinto (1997, p.43) “para ensinar adolescentes é necessário que haja a

‘subjetivação do conhecimento’, ou seja, a transformação do conhecimento em caso

pessoal, a vinculação entre o conteúdo proposto e a vida cotidiana do jovem.”

É importante associar o desenvolvimento da sexualidade ao crescimento do

indivíduo em direção à sua identidade adulta, inserção na estrutura social,

determinação de sua auto-estima e relações afetivas. Contudo, as mudanças no

comportamento dos adolescentes em relação à sexualidade e ao desenvolvimento

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do seu corpo exigem atenção cuidadosa por parte dos pais e professores, devido às

repercussões que incluem as vulnerabilidades relacionadas à saúde reprodutiva,

desse modo as intervenções realizadas na escola devem levar em consideração os

contextos familiar e social nos quais o jovem está inserido, a fim de compreender

crenças e valores que permeiam sua vivência.

Nos dias atuais, pode se observar que a mídia exerce uma influência muito

grande sobre os adolescentes e, muitas vezes, a escola e a família se sentem

desestruturadas para trabalhar questões referentes à sexualidade, deixando muitas

vezes o adolescente se apropriar de informações distorcidas, as quais contribuem

para que as dúvidas se tornem mais complexas.

Apesar de alguns professores julgarem que a discussão sobre reprodução e

sexualidade está se tornando uma coisa normal, muitos jovens ainda sentem

vergonha e medo de discutir esse assunto, por isso, entender e discutir os

questionamentos e reflexões dos adolescentes é fundamental para o

amadurecimento e desenvolvimento de atitudes responsáveis. O desafio está, acima

de tudo, no reconhecimento de um saber primitivo que está oculto por detrás dessa

função tão vital de nossa vida: uma sabedoria da natureza que determina para onde

e como nossa espécie vai prosseguir no futuro.

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3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

Durante a implementação do projeto “Sistema Reprodutor Humano e

Sexualidade” foram desenvolvidas várias atividades com os alunos: aplicação de

pré-teste e pós-teste sobre o assunto a ser trabalhado, dinâmica de perguntas sobre

dúvidas e curiosidades dos alunos, leitura de textos relacionados ao conteúdo

utilizando-se a Unidade Didática produzida durante o 2° período do PDE, confecção

dos modelos anatômicos do aparelho reprodutor masculino e feminino, técnica do

“bebê-ovo”, filmes e slides sobre reprodução e sexualidade no ser humano.

3.1. Atividade 1

No início do desenvolvimento do projeto “Sistema Reprodutor Humano e

Sexualidade”, foi aplicado aos alunos das duas turmas envolvidas, a turma da

implementação e a turma controle, totalizando 61 alunos, um pré-teste com o

objetivo de analisar os conhecimentos prévios que possuíam sobre o referido

assunto. Posteriormente, essas mesmas questões foram aplicadas como pós-teste,

para comparar as respostas. As questões do pré-teste foram as seguintes:

1- Quais são as principais diferenças físicas entre o corpo do homem e da

mulher?

2- Quais são as modificações que ocorrem com o corpo na adolescência? O

que provoca essas mudanças?

3- O que você entende por sexualidade no ser humano?

4- Você sabe em que idade ocorre o amadurecimento dos órgãos sexuais?

5- Você sabe como evitar uma gravidez?

6- Quais são as consequências de uma gravidez na adolescência?

7- Você sabe o que são métodos anticoncepcionais? Para que eles servem?

8- Você sabe quando se inicia a formação de um novo ser? Como se chama

esse processo?

9- Você sabia que relações sexuais podem transmitir doenças? Como elas se

chamam? O que podemos fazer para nos prevenir contra essas doenças?

10- A AIDS é uma DST. Você sabe como se previne o seu contágio? Existe

cura para essa doença?

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As respostas, de acordo com a idade, a maturidade e os conhecimentos

prévios dos alunos em relação ao conteúdo estão representadas nas tabelas a

seguir:

ANÁLISE DO PRÉ-TESTE

QUESTÕES RESPOSTAS ESPERADAS TURMA A

TURMA B

01 Altura, forma do corpo, cabelo, pênis, vagina,seios, pelos, barba.

22 20

02 Crescimento do pênis, dos seios, pelos, forma do corpo, menstruação.

19 14

03 Na adolescência aumenta o interesse pelo sexo oposto e ocorrem mudanças no corpo.

05 04

04 Na adolescência, a partir de onze ou doze anos de idade. 27 18

05 Usando camisinha ou a mulher tomando comprimidos. Para não ter filhos ainda muito jovens.

21 21

06 Deixar de estudar, de passear, de namorar, aumentar a responsabilidade.

20 18

07 Poucos sabem. Para não engravidar. 16 14

08 Quando a mulher engravida, com a união de óvulo com um espermatozóide. Gravidez.

18 15

09 Sim. DST. Usar camisinha. 21 18

10 Usando camisinha. Não. 16 15

Tabela01. Referente ao resultado do Pré-teste aplicado nas turmas A e B, sendo A turma de implementação e B turma de controle.

3.2. Atividade 2

Na sequência, foi aplicada a técnica de perguntas relacionadas a dúvidas e

curiosidades que os alunos possuem sobre reprodução e sexualidade. As perguntas

foram feitas individualmente e entregues ao professor, sendo que, durante todo o

desenvolvimento do projeto “Sistema Reprodutor Humano e Sexualidade”, estas

questões foram respondidas de forma coletiva e, às vezes, individualmente.

Algumas dúvidas mais frequentes dos alunos:

“Por que as mulheres menstruam”?

“Por que homens e mulheres possuem diferenças em seu corpo?”

“Com que idade os homens podem ser pais”?

“O que faz o pênis levantar”?

“Como a mulher engravida”?

“Por onde nasce o bebê”?

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“Pode-se pegar DST com sexo sem camisinha”?

“O que é câncer de próstata”?

“Por que os testículos doem quando se bate neles”?

“A mulher engravida quando está menstruada”?

“O que é menopausa”?

“Como se formam os gêmeos”?

“Como se faz aborto”?

“O que é puberdade”?

“Em que idade começa a produção de espermatozóides”?

“Por que se forma leite no seio das mulheres quando tem filho”?

“O que acontece se a camisinha furar durante a relação sexual”?

“Por que algumas meninas se desenvolvem e menstruam antes e outras

demoram mais”?

“Com sexo oral, pode-se engravidar ou pegar AIDS”?

“Pode-se engravidar na primeira relação sexual”?

Percebe-se, pelas questões levantadas pelos alunos, que as informações que

recebem em casa ou através de outros meios, são muitas vezes confusas e

distorcem a realidade e a seriedade com que esse assunto precisa ser tratado. Em

geral, eles possuem poucos conhecimentos científicos sobre o corpo humano,

reprodução e sexualidade, mas fizeram os questionamentos sem restrições ou

preconceitos.

Muitas vezes nós, professores, acreditamos que vivendo num mundo

moderno, com acesso a informações, os jovens possuem conhecimentos sobre seu

corpo e as relações que envolvem sua sexualidade, mas a maioria dos alunos com

os quais trabalhamos, são “alheios” a essas informações corretas, com muitas

dúvidas, anseios e questões a serem esclarecidas, e aí entra o papel do professor

de saber trabalhar com esses jovens de maneira com que eles as adquiram de

forma significativa para a sua vida e para o seu desenvolvimento como ser humano.

3.3. Atividade 3

Para trabalhar a parte teórica do assunto “Sistema Reprodutor Humano e

Sexualidade”, foi utilizada a Unidade Didática produzida, textos informativos, e

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cartazes que permitem uma melhor visualização da anatomia do sistema reprodutor

masculino e feminino.

Durante toda a exposição oral do conteúdo os alunos demonstraram muito

interesse e curiosidade, questionando sempre aquilo que não conseguiam entender;

isso nos leva a perceber a importância de valorizar os seus conhecimentos prévios e

de também proporcionar o conhecimento científico do conteúdo, despertando o

interesse e possibilitando a consequente aprendizagem de um assunto do nosso

dia-a-dia, sendo fundamental ter clareza sobre o mesmo e ainda ter segurança

quando trabalhado em uma série em que os alunos têm tantas dúvidas, porque

infelizmente, alguns pais não conseguem tratar da sexualidade abertamente com

seus filhos e eles acabam buscando essas informações com pessoas

despreparadas, como os amigos, em vez de buscá-las na escola.

3.4. Atividade 4

Para uma melhor compreensão da anatomia dos órgãos reprodutores

femininos e masculinos, de como ocorre a fertilização do ovócito e da formação de

gêmeos monozigóticos ou dizigóticos, foi proposto aos alunos, como atividade

prática, a confecção de modelos utilizando-se massa de modelar. A turma foi

separada em grupos de cinco integrantes para preparar as massas, confeccionar os

modelos que foram colocados em cima de isopor e preparar a exposição oral de

acordo com o item a ser trabalhado pelo grupo.

Os alunos se envolveram de forma impressionante na realização dessa

atividade, desde a preparação das massas para modelagem, na produção dos

modelos anatômicos dos órgãos reprodutores e durante a apresentação oral dos

trabalhos, interagindo também quando os outros grupos se apresentavam. Alguns

alunos mais tímidos sentiram um pouco de vergonha e dificuldade de falar aos

colegas e professor sobre o corpo, mas na atividade prática, eles se envolveram de

forma mais efetiva, deixando a parte oral para os colegas mais “desinibidos”.

Durante a exposição oral dos trabalhos, percebe-se que os alunos

assimilaram o conteúdo, a maioria perdeu a inibição de falar sobre o seu corpo e

conseguiram expor aos colegas como foi o trabalho de preparação dos modelos, o

que aprenderam através dessa atividade de forma natural, sem malícias ou

preconceitos.

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3.5. Atividade 5

Dinâmica sobre gravidez na adolescência

Depois de trabalhar toda a parte da anatomia e fisiologia do sistema

reprodutor humano, as próximas atividades deram ênfase à adolescência e a

questão da sexualidade, assunto que desperta o interesse dos jovens tentando

responder uma questão importante: ”Por que na adolescência existem tantas

dúvidas e dificuldades em entender ou aceitar as mudanças que ocorrem no corpo e

na mente nessa fase tão importante da vida”?

Na adolescência alguns hormônios sexuais provocam mudanças físicas e

psicológicas, fazendo com que mudem os interesses e a atração pelo sexo oposto

se revela de forma mais significativa. Nessa fase surge, muitas vezes, um problema

muito sério em nosso país: a gravidez indesejada na adolescência, que era muito

pouco comentada na época em que nossos avós eram adolescentes. Sexo era

praticamente só após o casamento. Hoje muitas pessoas pensam e agem de forma

diferente, e se há décadas atrás, engravidar aos 14, 15 ou 16 anos não era

considerado um problema, pois o casamento e a maternidade eram as atividades

valorizadas para a mulher; hoje se espera que elas tenham uma profissão, que

trabalhem fora, que tenham uma vida sexual prazerosa, que planejem se querem ou

não ter filhos e quando tê-los. Certamente, uma gravidez não planejada altera o

curso da vida dos jovens nela envolvidos, sendo outro fator preocupante os riscos

que pode trazer à saúde da adolescente e de seu bebê.

Na sequência do desenvolvimento do projeto “Sistema Reprodutor Humano e

Sexualidade” foi proposta, aos alunos, a técnica do “bebê-ovo”, com o objetivo de

despertar a consciência da responsabilidade que envolve ter um filho.

Antes de iniciar a dinâmica retirada do Manual do Multiplicador: adolescente,

2003, deve-se ter trabalhado com os alunos questões relacionadas com a

maternidade/paternidade precoce e com a responsabilidade de suas ações.

É preciso ter uma sala (de aula), um ovo cru de galinha por aluno e canetas

hidrográficas. O tempo necessário é de 15 minutos em sala de aula e 5 a 7 dias no

cotidiano.

O que fazer:

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1. Marcar os ovos previamente: uma cor para o sexo feminino e outra para o

sexo masculino.

2. Distribuir um ovo por participante e explicar que ele simboliza um recém-

nascido que será cuidado pelo garoto (pai) ou pela garota (mãe).

3. Estimular os alunos a personalizarem seu bebê pintando um rosto,

fazendo-lhe um ninho.

4. Estabelecer seu compromisso de levar seu “bebe-ovo” a todos os lugares a

que forem pelo prazo de tempo estipulado pelo professor.

5. Solicitá-los a trazer os “bebês” no dia determinado.

6. Anotar os depoimentos e as histórias ocorridas com o “bebê” e com o

participante.

Pontos para discussão:

- Como o “bebê-ovo” interferiu na vida dos alunos?

- Quais sentimentos surgiram?

- Quais dificuldades surgiram durante o processo?

- Como foram interpretadas as quebras dos ovos?

- Por que há pessoas sem filhos?

- Algum “bebê-ovo” foi sequestrado? Como evitar o sequestro?

- Quais aprendizados resultaram dessa dinâmica?

Resultado esperado: Vivência do sentimento de responsabilidade que envolve

a maternidade e a paternidade precoce e o cuidado com os filhos.

Os alunos se envolveram de maneira satisfatória na realização dessa

atividade. Alguns meninos, no início, resistiram a cuidar do “bebê-ovo”, não foram

forçados pelo professor e, naturalmente, resolveram participar da atividade. A

maioria dos alunos, principalmente as meninas, demonstrou um grande interesse e

responsabilidade no preparo do “ninho” e no cuidado com o seu “bebê” durante os

sete dias em que a técnica foi realizada.

No dia marcado pelo professor, eles trouxeram para a escola o seu “bebê”,

apresentaram para os colegas e relataram as suas experiências durante esse

período. Alguns ovos foram quebrados durante o processo e isso foi relatado por

aqueles que não trouxeram o “bebê-ovo” no dia marcado. Os alunos fizeram

relatórios escritos dessa atividade, os quais foram entregues ao professor para

análise.

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Algumas meninas cuidaram e enfeitaram tanto o seu “bebê” que não queriam

se “desfazer” dele, e aí entra o papel do professor de sensibilizá-los de que é

apenas uma técnica, mas que o objetivo é a compreensão da importância da vida

humana, da responsabilidade de ter um filho na adolescência, época que deve ser

aproveitada para estudar, namorar e fazer descobertas, sempre consciente dos seus

atos e atitudes.

Depois do projeto sobre “Sistema Reprodutor Humano” e “Sexualidade” ter

sido concluído, aplicou-se aos alunos as questões do pós-teste, observando-se uma

evolução nas respostas dos alunos em relação ao conteúdo trabalhado, com

significativa aprendizagem na turma A, que foi a turma da implementação do projeto,

sendo que na turma B, o conteúdo trabalhou-se o conteúdo de forma mais

tradicional, sem atividades práticas.

ANÁLISE DO PÓS-TESTE .

QUESTÃO RESPOSTAS ESPERADAS TURMA A

TURMA B

01 Órgãos sexuais masculinos e femininos, mudanças físicas visíveis no corpo.

25 17

02 Que citem as principais modificações físicas entre o corpo dos meninos e meninas. Ação dos hormônios sexuais.

27 22

03 Que compreendam a importância do funcionamento do corpo. 17 12

04 Que ocorre na puberdade e na adolescência. 29 17

05 Que a compreensão que para evitar gravidez é necessário a utilização de algum método anticoncepcional.

27 21

06 Renúncia a coisas importantes da idade, responsabilidade, compromisso.

27 20

07 Conhecer os principais métodos anticoncepcionais e como cada um age no organismo.

25 17

08 Com a união do óvulo e o espermatozóide no período da ovulação. Fecundação.

20 15

09DST. Conhecer as principais DST e a forma de prevenção.

27 22

10 Compreender que a AIDS é uma DST, como ocorre o contágio, sua prevenção e tratamento.

27 23

Tabela 2. Resultado do pós-teste aplicado às turmas A e B, sendo A turma de implementação e B turma de controle.

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4. CONCLUSÃO

A implementação da proposta pedagógica sobre o tema “Sistema Reprodutor

Humano e Sexualidade” foi realizada no Colégio Estadual Carlos Gomes de Pato

Branco, com a 7ª série do Ensino Fundamental e ocorreu de forma tranquila e

satisfatória, sendo que observou-se um crescimento na aprendizagem desse

conteúdo por parte dos alunos, que demonstraram muito interesse durante todo o

desenvolvimento do trabalho, envolveram-se nas atividades propostas com

entusiasmo, sem preconceitos ou restrições ao assunto, ficando mais amigos do

professor, talvez porque tenha sido estabelecida uma relação de confiança durante o

trabalho.

Sabe-se que a educação sexual é responsabilidade essencialmente dos pais

que têm o direito e o dever da formação moral dos seus filhos e, secundariamente,

de entidades como as escolas. É comum que a família e a escola, responsáveis pela

educação de crianças e jovens, algumas vezes sintam-se amedrontadas ou

inseguras em abordar o tema ou reconhecer a sexualidade de seus filhos ou alunos,

pois vários são os tabus que permeiam o tema. É responsabilidade de todos

promover a saúde e o bem-estar de crianças e adolescentes, através de

informações concisas e corretas das dúvidas que fazem parte do universo jovem,

bem como tornar o assunto liberto de preconceitos e malícias que derivam de

informações errôneas.

O sexo e sexualidade fazem parte da vida das pessoas e é por isso que a

escola deve ajudar a construir nos jovens uma visão sem preconceitos, pois é um

tema que envolve sentimentos e desejos e, portanto, não deve ser abordado

somente com explicações sobre o funcionamento do aparelho reprodutor, por isso,

deve-se ir além do diálogo sobre sexo, que normalmente se restringe aos métodos

contraceptivos e à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis ou de

gravidez não planejada. Sabe-se que a puberdade traz mudanças no corpo, nos

sentimentos e no comportamento das pessoas. Felizmente, é também uma fase em

que os jovens são capazes de compreender que seus atos podem ter

consequências positivas ou negativas para a saúde e para o seu corpo; é o

momento de decisões importantes e conscientes, sendo fundamental que tenham

acesso à informação e ao saber científico em relação ao assunto Sistema

Reprodutor Humano e sexualidade.

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Percebe-se que as aulas sobre sexualidade são marcantes para os jovens,

pois nelas aprendem a conhecer seus desejos, necessidades e afetos, sendo a

postura do educador muito importante ao tratar o assunto, devendo estar sempre

atento a qualquer dúvida que o aluno tiver, por mais simples que pareça, é relevante

e pertinente; ouvir mais do que falar vai estimular o debate, sendo que, jogos,

dinâmicas e discussões em pequenos grupos favorecem a participação dos alunos

mais tímidos. Também devemos tratar o assunto com naturalidade, de maneira

apropriada, racional, carinhosa e saber compreender nossos adolescentes num

momento em que tudo é duvidoso para eles. A escola, querendo ou não, depara-se

com situações nas quais é chamada a intervir. Seja no cotidiano da sala de aula

quando proíbe ou permite certas manifestações e não permite outra, está

transmitindo certos valores mais ou menos rígidos, que dependem da visão de

mundo dos profissionais que nela atuam no momento.

Não cabe ao professor apenas repassar a informação, visto que ela pode ser

obtida em qualquer lugar, como televisão, internet, revistas e colegas; precisamos

ter ferramentas e desenvolver mecanismos de fixação, de compreensão dessa

informação em conhecimento. Os mecanismos de consolidação podem ser

baseados em recursos tecnológicos, mas no caso do assunto “sexualidade”, não

deve estar restrito apenas à condição de anatomia e fisiologia, depende muito da

interação professor-aluno, do elo de confiança e respeito desenvolvido ao longo do

trabalho.

Durante todo o desenvolvimento do projeto sobre “Sistema Reprodutor

Humano e Sexualidade”, com os alunos da 7ª série, percebemos que o interesse

deles pelo assunto é muito grande sendo que a participação nas atividades ocorreu

de forma satisfatória e acreditamos que esse tipo de trabalho sobre orientação

sexual pode contribuir para a formação e bem estar dos jovens na vivência de sua

sexualidade atual e futura.

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5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 27ª ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2003.

FRISON, L. M. B. Desafios da orientação sexual no contexto escolar. Ciências e Letras, Porto Alegre, 2002.

LOPES, A. C. Conhecimento escolar: ciência e cotidiano. Rio de Janeiro: UERJ, 1999.

LOURO, Guacira Lopes. Segredos e mentiras do currículo – sexualidade e gênero nas práticas escolares. A escola cidadã no contexto da globalização. Petrópolis: Editora Vozes, 1988.

LOURO, Guacira Lopes. Sexualidade: lições de casa. In: MEYER, D.E.E. (org.). Saúde e sexualidade na escola. 2ª ed. Porto Alegre: Editora Mediação, 2000.

Manual do multiplicador: adolescente. Brasil: Ministério da saúde: Secretaria de Projetos Especiais de Saúde: Coordenação Nacional de DST e Aids. São Paulo: FDE, 1998.

MELLO, Romário de Araújo. Embriologia Comparada e Humana. Rio de Janeiro: Editora Atheneu, 1989.

PINTO, H. D. S. A individualidade impedida: adolescência e sexualidade no espaço escolar. In: AQUINO, J. G. Sexualidade na escola: alternativas teóricas e práticas. 3ª ed. São Paulo: Editora Summus, 1997.

VYGOTSKY, Liev. Semiovich. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

SEED, Secretaria do Estado e da Educação. Diretrizes Curriculares de Ciências para o Ensino Fundamental, 2008.

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