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III PARTE SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO NO ALENTEJO E OFERTA REGIONAL

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III PARTE

SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO NO ALENTEJO E OFERTA REGIONAL

ÍNDICE

pág.

SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO NO ALENTEJO E OFERTA REGIONAL 5

Introdução 5

O Quadro de Análise para o Sistema de Apoio à Inovação na região do Alentejo 6

Investigação e Desenvolvimento (I&D) 10

Utilização de tecnologia já existente 12

Transferência de Conhecimentos 13

Certificação, Standards, Metrologia e Regulação 15

Difusão de informação 16

Consultoria e apoio aos negócios 17

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Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

ÍNDICE DE QUADROS

pág.

Quadro 1: Tipo de Agentes envolvidos no Processo de Inovação e Transferência de Tecnologia 8

e Capacidades que oferecem, Funções que desempenham nesse processo

Quadro 2: Matriz da Oferta de Serviços de apoio à Tecnologia e Inovação no Alentejo 9

Quadro 3: Unidades de I&D do Distrito de Évora 11

ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Perfil institucional das despesas de I&D no Alentejo em 2001: Comparação com a média nacional 10

ÍNDICE DE CAIXAS DE TEXTO

Caixa de Texto 1: Caso: Centro de Estudos de Ecossistemas Mediterrânicos (CEEM) – Univ. de Évora 11

Caixa de Texto 2: Caso: ADRAL – Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo 13

Caixa de Texto 3: Caso: Projecto de Tecnopólo em Portalegre 14

Caixa de Texto 4: Caso: Programa REDE 18

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Plano Regional de Inovação do Alentejo

SISTEMA REGIONAL DE INOVAÇÃO NO ALENTEJO

Introdução

É hoje mais ou menos estabelecido que a valorização das potencialidades e recursos tecnológicosassociados à actividade empresarial nos diferentes sectores produtivos de uma dada região, não se podeseparar nem das capacidades geradas no seio das empresas, nem das condicionantes infraestruturais dosambientes e espaços onde as mesmas operam. Na verdade, mesmo num quadro de crescenteglobalização da tecnologia, dos mercados e da competitividade, os sistemas de inovação regionais e todoo conjunto de interacções neles contidas, representam elementos decisivos no desenvolvimento de umaregião. Quer isto dizer que as capacidades inovadoras de uma região, mesmo quando o que está emcausa é a competitividade internacional, dependem essencialmente das dinâmicas sectoriais, e estaspermanecem espacialmente vinculadas a regiões, culturas e redes (formais e informais) dotadas dediferentes condições para promoverem dinâmicas endógenas de inovação e, portanto, para seconstituírem como pólos de diferenciação sócio-económica.

Na verdade, as regiões onde a diversidade de saberes e conhecimentos de base local, formais eimplícitos, se conjuga com um esforço de abertura ao exterior orientado para os mercados globais,conseguem maiores níveis de eficácia no seu desenvolvimento. É claro que o património deconhecimentos acumulados, habilidades e recursos adquiridos por um dado sector localizado numadada região, como por exemplo o Alentejo, continua a ser potencialmente decisivo perante os novosdesafios, desde que possam ser capitalizados e redireccionados para áreas de maior potencial inovador.

É nossa convicção que o esforço de endogeneização e incorporação de novos conhecimentos nasempresas no sentido da sua inserção nos mercados e redes globais de hoje, só muito escassamentealcançou resultados substanciais na região do Alentejo.

Isso deve-se a um conjunto de barreiras à difusão regional de inovações e novas tecnologias que urgevencer. No actual estágio de desenvolvimento da região, essas barreiras não estão apenas associadas aodéfice de actividades de I&D na região, por parte das empresas, Estado, ensino superior e IPSFL, mas simaos baixos níveis de aptidões e de frequência do ensino superior, e também, e de forma mais acentuada,aos elevados custos locais de procura e triagem de informação.

Assim sendo, uma estratégia regional para apoio à inovação e à transferência de tecnologia torna-se vitalpara o desenvolvimento da região e deve centrar-se essencialmente no reforço das capacidades da regiãoe da mediação informada e proactiva.

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Essa acção mediadora tem custos elevados de aquisição e transferência de tecnologia, que são os custosda aprendizagem específica em cada sector (e dentro destes em cada empresa), para que se garantaalgum grau de apropriabilidade. Contudo esta acção não deve ser encarada como uma simples operaçãode “transmissão de informação”, mas antes como parte activa e facilitadora da aprendizagem interactivaentre diversas entidades. Ou seja, os agentes mediadores a nível local devem intervir ao nível do apoioaos complexos processos específicos de aprendizagem e inovação do ponto de vista das empresasreceptoras das novas tecnologias.

A tarefa pode contudo ser abordada através do estímulo à escala regional de diferentes tipos de serviços,incluindo: assistência técnica para reparação e manutenção de equipamentos ou para novosdesenvolvimentos; assistência com normas técnicas e certificação; assistência na definição de novasestruturas organizacionais e perfis de funções e responsabilidades; auditorias tecnológicas; serviços deconsultoria financeira; consultoria comercial; apoio à elaboração de patentes; assistência legal ejurídica, etc..

Os fornecedores deste tipo de serviços de mediação são variados e vão desde as infraestruturas de apoiotecnológico, às universidades e politécnicos, às agências de transferência de tecnologia, agências dedesenvolvimento regional, associações industriais e empresariais e empresas de serviços.

Uma vez que os serviços de apoio não se resumem a uma “transmissão de informação”, o que determinaa eficácia da acção mediadora destes actores será, portanto, a sua capacidade para promover, e em certoscasos coordenar e estimular, diferentes processos de aprendizagem interactiva conduzindo à acumulaçãocolectiva de conhecimentos e aptidões necessárias para despoletar processos de inovação tecnológica.

O Quadro de Análise para o Sistema de Apoio à Inovação na região do Alentejo

Para se enquadrar as diferentes formas de operacionalizar o apoio aos processos de inovação nasempresas, ilustrando ao mesmo tempo os mecanismos que assumem uma maior importância, recorremosa um quadro de análise simples - Quadro 1. Nesse quadro, a diferentes tipos de actores (nãonecessariamente localizados na região) associam-se diferentes papéis na sua contribuição para o apoio àinovação e difusão de tecnologias. Definem-se genericamente seis grandes grupos de diferentesmecanismos de transferência de tecnologia.

Num primeiro grupo, consideram-se as colaborações entre empresas e infraestruturas científicas etecnológicas no âmbito de projectos de médio e longo prazo que visam a geração de conhecimentosnecessários para resolver problemas nas empresas.

Num segundo grupo, consideram-se também actividades de colaboração e contratação entre empresas einfraestruturas, mas no âmbito de pequenos projectos (duração inferior a 1 ano) que visem a resolução

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Plano Regional de Inovação do Alentejo

de problemas tecnológicos nas empresas fazendo uso de conhecimentos já disponíveis.

Num terceiro grupo, consideramos a transferência de tecnologia através de mecanismos delicenciamento, mobilidade de pessoas, ou criação de novas empresas que resultem de projectos de I&D(spin-offs).

Um outro grupo de actividades de transferência de tecnologia relaciona-se com a aprendizageminerente à certificação, cumprimento de standards e normas internacionais e, num âmbito mais geral, àgestão da qualidade e do ambiente. Agrupamos também, no grupo seguinte, todas as actividades deapoio que possam ser induzidas pela difusão de informação. Por último, as actividades de consultoriae apoio aos negócios, em geral, são também bastante relevantes para a transferência e difusão deconhecimentos tecnológicos.

Note-se que, o que o Quadro 1 ilustra são as actividades expectáveis que diferentes tipos de entidadesexecutam ou deveriam executar no domínio do apoio à inovação e à difusão de tecnologias. O quadrode referência que se pretende assim usar é, no entanto, incompleto, uma vez que não se considera oapoio indirecto que pode resultar do efeito indutor de práticas e tecnologias que o investimento directoestrangeiro pode ter a montante ou a jusante das suas actividades. Do mesmo modo também não seabordam os apoios que possam existir entre empresas de grandes grupos empresariais.

A aplicação do Quadro 1 à região do Alentejo, permite elaborar uma matriz de oferta de serviços deapoio à tecnologia e inovação no Alentejo (ver Quadro 2). Note-se que não se pretende ser exaustivo,colocando todos os Centros, Instituições e Associações, mas sim dar apenas uma panorâmica dasentidades relevantes, baseada na informação recolhida através de entrevistas e através de informaçãosecundária.

Nas secções que se seguem pretende-se, ainda que de forma sumária, enquadrar o panorama actual dassuas actividades e diferentes contribuições para o processo agregado e complexo de inovação e difusãode conhecimentos tecnológicos na região do Alentejo.

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Investigação e Desenvolvimento (I&D)

Como se sabe as actividades de I&D executadas numa região, não contribuem de forma linear parainovação. Significa isto que mesmo aumentando substancialmente as despesas de I&D numa dada região,daí não decorrerem necessariamente maiores níveis de inovação à escala regional. O que se sabe é queas actividades de I&D contribuem essencialmente para a aprendizagem tecnológica, para a formação demelhores engenheiros e cientistas e, portanto, contribuem para a criação de capacidades e recursosregionais em ciência e tecnologia. Ora tais recursos poderão ou não ser necessários no processo deinovação interactivo, dependendo do estágio relativo em que se encontra a região.

O Alentejo, como se viu em secções anteriores, não é uma região particularmente rica em actividades,recursos e capacidades endógenas associadas à Investigação e Desenvolvimento científico e tecnológicomas, no actual estágio de desenvolvimento em que a procura e a capacidade de absorção são reduzidas,isso não é ainda um dos principais problemas.

Grosso modo, e segundo os dados de 2001 (ano mais recente para o qual existe ventilação dos dados doIPCTN realizado pelo OCES por regiões NUTS II), as despesas regionais totais com I&D no Alentejoascendem em valor absoluto a 25,3 milhões de Euros que correspondem a apenas 2,4% da despesa totalcom I&D realizada no país. Da mesma forma os recursos humanos dedicados a actividades de I&D sãocerca de 703 ETI que correspondem a 3,1% do total nacional.

Uma comparação do perfil das despesas com I&D da região relativamente à média nacional de todas asregiões (Gráfico 1) mostra claramente que as actividades de I&D no Alentejo além de reduzidas, sãoextremamente concentradas no sector do Ensino Superior, nomeadamente na Universidade de Évora,sendo a contribuição das empresas ainda mais reduzida do que a média nacional.

GRÁFICO 1:

Perfil institucional das despesas de I&D no Alentejo em 2001: Comparação com a média nacional

Fonte: OCES

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Plano Regional de Inovação do Alentejo

Com um perfil deste tipo que, com excepção do sector agrícola, parece pouco vocacionado para darresposta às necessidades científicas do perfil empresarial da região, não será portanto de estranhar quedominem na região as actividades de I&D subsidiadas, quer através de programas Europeus quer atravésde programas nacionais geridos pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.

Note-se ainda que nem todas as áreas de actividade de I&D dos centros e institutos registados na FCT,são directamente relevantes para as actividades económicas da região, com excepção do ICAM ouCentro de Estudos de Ecossistemas Mediterrânicos (CEEM) – ver Quadro 3.

QUADRO 3:

Unidades de I&D do Distrito de Évora

Fonte: FCT

CAIXA DE TEXTO 1:

Caso: Centro de Estudos de Ecossistemas Mediterrânicos (CEEM) – Univ. de Évora

O Centro de Estudos de Ecossistemas Mediterrânicos (CEEM) é constituído basicamente por três subunidadessediadas nas seguintes instituições: Universidade de Évora (Departamentos de Ecologia, de Planeamento Biofísico ePaisagístico, e de Química) - instituição líder, Estação Florestal Nacional, EFN (INIA) e Estação AgronómicaNacional, EAN (INIA). As actividades que actualmente se encontram em desenvolvimento no CEEM distribuem-sepelas seguintes linhas de investigação:

I – Estudos de Fito e Zoocenoses

II – Factores Ecológicos nos Ecossistemas Mediterrânicos

III – Adaptação de Culturas e Sistemas Alternativos face aos condicionalismos da PAC

IV - Agrossistemas Mediterrânicos

V - Ecologia da Paisagem e Conservação do Património Natural e Construído

VI – Modos de Utilização do Solo numa perspectiva de Ecologia Humana

VII – Saúde Ambiental em Ecologia Humana e Ecotoxicologia

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Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores

Por outro lado, como se viu em secções anteriores, os níveis de I&D do sector empresarial sãoparticularmente baixos o que dificulta quaisquer iniciativas de apoio à interacção entre as universidadese as empresas da região.

Face a esta situação apresentam-se, desde já, as seguintes recomendações para as actividades de I&D:

a. reforçar a participação da região nos programas nacionais de apoio às actividades de I&D e noPrograma Quadro da União Europeia, procurando aumentar as competências em áreas científicasrelevantes para as fileiras regionais;

b. privilegiar áreas científicas e tecnológicas de interesse estratégico para o desenvolvimento daregião, por exemplo: energias alternativas, técnicas de regadio, tecnologias da cortiça, tecnologiasdo vinho e da vinha, etc.

Resulta desta análise e das visitas realizadas no âmbito deste trabalho que o desenvolvimento de umaboa capacidade regional no que respeita à I&D terá um impacto muito importante no desenvolvimentoa longo prazo, de uma cultura tecnológica e inovadora na região.

Utilização de tecnologia já existente

Este tipo de capacidades e serviços serão concerteza da maior relevância para o actual estágio dedesenvolvimento do Alentejo, onde a aposta passa necessariamente por acção de mediação proactivacentrada na adopção e utilização de tecnologias já existentes.

Contudo, existe ainda um défice regional no número de organizações que oferecem serviços de apoiotecnológico. Nesse tipo de serviços incluímos: estudos de viabilidade, projectos de diagnóstico e serviçosde resolução de pequenos problemas técnicos nas empresas.

Nas visitas efectuadas não detectamos no Alentejo associações ou institutos locais interessados emrealizar actividades de despiste de necessidades através de auditorias de inovação e tecnológicas naregião. Acreditamos que seria importante que tal prática fosse fomentada enquanto processo de detecçãode oportunidades para melhorias por parte das empresas. Porém, reconhecemos que a ausência deactores interessados na sua execução pode ser limitativa de qualquer tipo de acção inovadora nesta área.

O mesmo para serviços de vigilância tecnológica em áreas relevantes como as tecnologias de materiaissintéticos alternativos e/ou complementares à cortiça, tecnologias de apoio à cadeia de valor vitivinícolaou à cadeia de valor das rochas ornamentais, ou ainda as novas tecnologias de regadio.

Um caso interessante que se aproxima bastante do tipo de função regional que aqui se analisa – apoioao diagnóstico, resolução de problemas e utilização de tecnologias existentes – é o caso da ADRAL –Agência de Desenvolvimento Regional (ver caixa). Importa, no entanto, apoiar este tipo de iniciativas nosentido de elas alargarem as suas competências e, por conseguinte, a sua gama de serviços.

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CAIXA DE TEXTO 2:

Caso: ADRAL – Agência de Desenvolvimento Regional do Alentejo

Criada por iniciativa da Associação de Municípios em 1998, a ADRAL é uma parceria público-privado com cercade 60 accionistas. Apesar de contar apenas com 9 pessoas, a ADRAL desenvolve uma vasta gama de actividades deapoio em várias áreas, nomeadamente: inovação, serviços às empresas, financeira.

Na área da inovação a Agência tem desempenhado um importante papel no fomento da participação da região emprojectos INTERREG, no acompanhamento de acções inovadoras, na dinamização de projectos na área dasaplicações bioclimáticas da cortiça e no Alentejo Digital. A Agência participa também na rede de Inovação-Organizacional do INOFOR.

Na área dos serviços às empresas a ADRAL tem participado activamente na promoção do Programa REDE junto dasempresas da região. Graças à acção da ADRAL, cerca de 70 a 80 empresas da região recebem apoio em organizaçãoe gestão dos peritos associados ao Programa REDE do IEFP.

Na área financeira a ADRAL lançou um fundo de apoio a micro empresas. Trata-se do FAME, fundo de apoio atravésde pequenos empréstimos (15.000 a 50.000 Euros) a 6 anos, com taxa de juro 2% e com 1 ano de carência.

Em suma, trata-se de um bom exemplo de como a inovação pode ser apoiada, não através da distribuição desubsídios mas sim, e de forma mais eficaz, através de uma atitude proactiva: contactar com as empresas e identificarnecessidades para ajudar a resolver problemas.

Se levarmos em conta as actuais necessidades é mais ou menos óbvio que este tipo de capacidades(associadas aos serviços de apoio tecnológico, serviços de vigilância e acompanhamento técnico dasempresas) estão claramente subdesenvolvidas no Alentejo, constituindo efectivamente uma barreira àinovação regional. É portanto necessário aumentar consideravelmente as actividades de auditoriatecnológica, contratos de curta duração para estudos de viabilidade e serviços de apoio à resolução deproblemas técnicos orientados para a resposta às necessidades das empresas.

Transferência de Conhecimentos

Apesar de ser uma capacidade recente, existe no Alentejo alguma oferta de espaços para a incubação depequenas empresas, como é o caso do CACE – AA (Centro de Apoio à Criação de Empresas do AltoAlentejo do IEFP em Portalegre).

É contudo difícil encontrar na região casos de transferência de conhecimentos tecnológicos avançados,gerados a partir do financiamento público de I&D na região, e na forma de novas empresas de base

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tecnológica. Ou seja, não tem expressão significativa na região a incubação de empresas resultantes despin-offs da universidade ou dos politécnicos.

É também de chamar a atenção que o sucesso na incubação de novas empresas depende fortemente, nãosó da disponibilização de espaços adequados, mas também da presença de serviços de apoio à gestão,e de instituições financeiras vocacionadas para o apoio ao empreendedorismo, designadamente deCapital de Risco, ambos deficientes na região.

Por outro lado, também não há parques de Ciência e Tecnologia na região. Há contudo um interessanteprojecto de criar um parque tecnológico no parque industrial de Portalegre em terrenos vizinhos aos daEscola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Portalegre ou mesmo no seio doParque Industrial de Portalegre.

CAIXA DE TEXTO 3:

Caso: Projecto de Tecnopólo em Portalegre

Através de uma alargada parceria regional, a Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico de Portalegredefiniu quatro áreas para o lançamento de um futuro tecnopólo em Portalegre:

1. Produtos Tradicionais. No seguimento das iniciativas do Alto Alentejo na área dos produtos certificados da fileiraAgro-Alimentar, o futuro tecnopólo poderia concentrar estruturas laboratoriais em áreas como a microbiologia,análise sensorial, laboratórios de qualidade e certificação. Do mesmo modo faria sentido concentrar no perímetrodo parque uma infraestrutura para o desenvolvimento de tecnologias de logística, transporte de alimentos, design eembalagem, essencial para apoio à colocação de produtos nos mercados internacionais.

2. Energia e Ambiente. Nesta vertente o tecnopólo pretenderia criar centrais de aproveitamento de Biomassa(semelhante à de Tarragona) e para produção de Biodiesel. O processo de criação e exploração das centrais poderiaficar a cargo da Associação de Desenvolvimento Regional, ADR-IPP criada pelo Instituto. O protocolo com aAssociação Espanhola de Energia Nuclear seria também aqui incluído sobretudo no que respeita a futurasactividades de ensino nesta área.

3. Realidade Virtual. As actividades de realidade virtual estariam associadas à criação do museu histórico da região(Fundação Robinson) e ao apoio do curso em comunicação e design.

4. Tecnologias de Informação. Nesta área o tecnopólo propunha-se ser um centro de apoio ao Software Open SourceLynux, fazendo localização de manuais de utilizador e prestando serviços que ajudem à utilização destas tecnologias.

As actividades de intermediação tecnológica (brokerage entre oferta e procura de oportunidades dedesenvolvimento tecnológico) podem também, por outro lado, vir a ser uma das funções maisimportantes no apoio à transferência de conhecimentos. Não tem havido contudo, quer por parte de

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Plano Regional de Inovação do Alentejo

entidades nacionais quer por parte de entidades regionais, iniciativas neste domínio. Outras regiõesnacionais têm sido mais proactivas na organização de “brokerage events” internacionais focandoprecisamente áreas de grande interesse para o Alentejo, como é o caso das tecnologias do vinho e davinha ou do sector agro-alimentar.

Da mesma forma, outro tipo de mecanismos de transferência de tecnologia, como por exemplo o apoioà obtenção de licenças a nível internacional, é concerteza benéfico para a absorção de conhecimentosna região. Chamamos aqui a atenção das actividades de fabrico na região sob licenças de multinacionaiscomo a Selenis, Siemens, entre outras.

Por último, os apoios à mobilidade de Cientistas e Engenheiros entre as Universidades e as Empresas, sãotambém manifestamente escassos, não só na região mas a nível nacional. É hoje internacionalmentereconhecido que uma das formas mais eficazes de transferir tecnologia é transferir pessoas. A mobilidadede cientistas e engenheiros qualificados entre diferentes tipos de instituições de/para a região éinerentemente baixa. Talvez uma forma de estimular este tipo de mecanismos seja através do reforçoregional de incentivos à mobilidade de recursos humanos através dos Centros de Tecnologia já instaladosou através da Universidade e Politécnicos existentes.

É portanto necessário reforçar fortemente as actividades regionais de transferência de conhecimentos.Isto aconselha ao reforço de mecanismos de apoios à criação de novas empresas de base tecnológica,apoio a licenças tecnológicas, actividades de intermediação e organização de eventos internacionais debrokerage de tecnologias com relevância para a região, bem como uma aposta no reforço da mobilidadede pessoal técnico entre os centros tecnológicos regionais e os agentes económicos.

Certificação, Standards, Metrologia e Regulação

Talvez por se tratar de uma região não muito distante da capital onde se situam os principais operadoresde certificação de qualidade (APCER, SGS, Lloyds Register, EIC, RINAVE), não se encontram na regiãoserviços nestas áreas. O desafio para a região será o de encontrar formas de melhor aproveitar os serviçosdos operadores. Não obstante, na área da certificação de produtos alimentares a região tem mostrado uminvulgar dinamismo sendo de assinalar que é hoje a região com mais produtos certificados. Para estaevolução em muito terá contribuído a acção da APAFNA e da Natur-al-Carnes, entre outras.

Não sendo, particularmente relevante discutir a posição da região no que respeita a patentes de naturezacientífico e tecnológica, já que no País em geral essa posição é bastante baixa, parece-nos contudoimportante chamar a atenção para a importância da utilização do sistema nacional de protecção depropriedade industrial (serviços do INPI) nas áreas do design e modelos de utilidade. Ou seja, no querespeita a modelos de utilidade, design, “marcas” e respectivos “conceitos” e “imagens de marca”associados, existe a necessidade de estimular um melhor aproveitamento do sistema de protecção de

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propriedade industrial, em várias áreas que vão desde os produtos agro-alimentares, os mármores, acortiça, o turismo, etc.

Por último, note-se que centros tecnológicos, como por exemplo o CEVALOR, podem e devem ter umpapel mais relevante precisamente nos apoios à certificação técnica, de qualidade e ambiental.

Difusão de informação

À medida que nos vamos afastando do espectro de serviços de apoio à tecnologia e à inovação maisrelacionados com a I&D e nos aproximamos dos serviços relacionados com a difusão de informação eapoio empresarial, começamos a entrar em áreas, a nosso ver, mais prioritárias no actual estágio dedesenvolvimento do Alentejo.

Para as PME em geral e para as empresas mais evoluídas do ponto de vista da tecnologia e da inovação,o acesso a informação actualizada é absolutamente essencial. O acesso a informação técnica e demercado pode mesmo constituir o principal factor de distinção entre a inovação de sucesso e a inovaçãofalhada. Em qualquer região da Europa existe uma grande proporção de empresas que não possuicapacidades para identificar e diagnosticar as suas próprias necessidades (normalmente estas empresassão denominadas as PME contingentes).

O Alentejo terá uma proporção particularmente alta desse tipo de empresas. Acontece que em outrasregiões da Europa, desenvolveram-se mecanismos de interface que facilitam a interacção entre estasempresas e a infraestrutura regional (ou de âmbito nacional) de apoio à tecnologia e à inovação.

No Alentejo esta função de interface quer com infraestruturas tecnológicas já existentes na região quercom outras infraestruturas em Lisboa ou em outras partes do País e da Europa, não está aindadesenvolvida pelo que poderia ser esta área um alvo preferencial para as Acções Inovadoras. Numaprimeira avaliação, necessariamente preliminar, resultante do percurso de visitas a institutos tecnológicose associações de vários tipos, verificámos que as actividades de difusão de informação são relativamentelimitadas. Não obstante a edição e distribuição de brochuras e boletins, realizada essencialmente pelasAssociações ou Centros Tecnológicos, parece faltar no Alentejo uma importante função de difusão deinformação, acompanhada por um serviço de diagnóstico rápido e reencaminhamento das empresas paracentros e institutos que possam então solucionar os problemas detectados.

Como atrás se viu a ADRAL, a Assimagra e a Rota-do-Guadiana, só parcialmente realizam este tipo defunções, sendo portanto importante para a estratégia regional de inovação que se comece a pensar comoorganizar uma rede regional de serviços de informação e atendimento para informação e despiste deproblemas técnicos e industriais.

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Plano Regional de Inovação do Alentejo

Consultoria e apoio aos negócios

Como atrás se sugeriu, os processos de desenvolvimento tecnológico a nível regional, embora centradosnas empresas e nos seus esforços próprios, envolvem outros actores de vários tipos, nomeadamenteUniversidades, Institutos e Centros de I&D e Tecnologia, Centros de Incubação, etc. Isto é, num sistemade inovação organizado há uma especialização do trabalho de desenvolvimento tecnológico queconvida à formação de redes baseadas na complementaridade de competências entre diferentesorganizações. Acontece que em muitos casos comete-se o erro de pensar que as redes de parceria queimporta fomentar são entre as infraestruturas públicas de ciência e tecnologia e as empresas. Ora naverdade são as empresas que fornecem soluções e tecnologias umas às outras (serviços, projectos). Érelativamente raro serem, por exemplo as Universidades a “valorizarem” as suas actividades de I&Dvendendo “soluções” às indústrias. Por outras palavras, uma parte substancial das actividades de geraçãode conhecimentos e capacidades tecnológicas tem lugar nas empresas e nas interacções empresariaisfornecedor-cliente, e não em universidades ou instituições/centros de I&D, ou nas interacções destes como suposto “lado da procura”. É por isso que esta função regional de consultoria e apoio aos negóciospode ser de uma importância vital para o processo de inovação. Note-se que as actividades deconsultoria que aqui incluímos não substituem as de “apoio tecnológico” ou de “difusão de informação”atrás referidas, mas funcionam como um complemento a essas mesmas actividades.

Hoje, o que parece ser essencial é reconhecer que o apoio à formação de parcerias e redes se deveorientar segundo os fluxos de conhecimentos entre empresas. Por exemplo, fluxos de conhecimentocodificado, dados e especificações necessárias para melhorar e desenhar produtos, bem como fluxos denatureza mais intangível/tácita como serviços de aconselhamento técnico especializado, serviços deapoio a alterações na estrutura organizacional ou no layout fabril.

Numa primeira análise da realidade do Alentejo, a consultoria para PME locais e apoio aos seus negóciosconstitui talvez o ponto mais fraco de todo o sistema regional de inovação.

Embora possam estar presentes na região fornecedores privados de serviços de apoio empresariais, comopor exemplo todas as grandes consultoras nacionais e internacionais que disponibilizam serviços deanálise estratégica, planeamento de recursos humanos, marketing etc., tratam-se, no essencial, deserviços de elevado nível orientados para as necessidades das grandes empresas. Tal como nascapacidades de "difusão de informação" as PME contingentes têm grandes dificuldades em utilizar estetipo de serviços, designadamente, por factores de ordem financeira.

Um caso interessante que confirma a grande importância deste tipo de apoios regionais é o caso doprograma REDE, coordenado pelo IEFP, do qual a ADRAL se constitui como um “parceiro institucional”para o Alentejo – ver Caixa de Texto. Este tipo de apoios devem ser substancialmente alargados de formaa abranger uma maior quantidade de empresas.

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CAIXA DE TEXTO 4:

Caso: Programa REDE

O Programa REDE é um programa de Consultoria, Formação e Apoio à Gestão de Pequenas Empresas, concebido egerido pelo IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional, desde 1997. Considerado como uma das 5 BoasPráticas na Europa de Programas deste tipo, o Programa REDE visa a modernização, sustentabilidade e reforço dacapacidade competitiva das pequenas empresas (até 49 trabalhadores), através de apoio em serviços de consultoriae formação que actuem de forma a qualificar o emprego, e adaptados às realidades e às necessidades de cadaempresa. Ao fornecer serviços de consultoria formativa, o Programa não pretende apenas o aumento dascompetências do empresários/dirigentes, quadros e trabalhadores ao nível do indivíduo, mas também induzir umefeito de aumento de capacidades e competências organizacionais.

Tendo começado com um único modelo de intervenção (o REDE anual) o Programa tem hoje 3 linhas diferenciadasde intervenção: REDE Anual (intervenção em profundidade ao longo de um ano); REDE Expresso (intervenção emresposta a necessidades pontuais); REDE Curta Duração (apoio à consolidação de ILE).

Em termos gerais, e para qualquer das linhas diferenciadas de intervenção, o Programa REDE é implementado peloInstituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), em colaboração com os seus parceiros institucionais (públicose privados), formando uma rede de intercâmbio de experiências.

Na sua essência, o Programa REDE consiste em disponibilizar serviços de um consultor em gestão (eventualmentecomplementado por consultores especialistas em outras áreas), que trabalha neste programa a tempo parcial, bemcomo serviços de formação orientados para os gestores e trabalhadores, podendo ainda a empresa beneficiáriareceber um recém-licenciado, por um período de cerca de 9 meses. Em média o Programa, no seu modelo REDEAnual, tem uma duração de 12 meses e começa com o Diagnóstico Estratégico da empresa levada a cabo peloconsultor e empresário, seguida da elaboração de um Plano de Acções, para colmatar as falhas diagnosticadas epromover o desenvolvimento organizacional da empresa. Segue-se a implementação do plano ao longo do ano,sendo realizada uma avaliação final, depois da conclusão do programa. As empresas são, na sequência daintervenção/formação, incentivadas a contratar o estagiário.

A ausência deste tipo de serviços, é na nossa opinião uma das mais sérias lacunas no Sistema Regionalde Inovação no Alentejo e certamente uma das áreas de intervenção prioritárias a considerar. Ou seja,uma possível acção inovadora poderia incidir quer neste tipo de programas (reforçando o REDE e/ou aacção da ADRAL) quer em iniciativas de objectivos semelhantes como por exemplo o apoio a redes decolaboração ou círculos de negócios.

Em forma de síntese conclusiva e tendo em consideração a informação estatística recolhida e o programade visitas realizado, bem como o workshop e as respectivas sessões temáticas, é possível destacar, desdejá, um conjunto de aspectos positivos e negativos da infraestrutura regional que iremos agora sublinhar:

a. Em primeiro lugar, na área das actividades de Investigação e Desenvolvimento científico etecnológico parece ser importante acelerar o crescimento de recursos e atrair competências emáreas científicas chave.

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Plano Regional de Inovação do Alentejo

b. Em segundo lugar, a região tem um défice de funções e serviços de apoio à inovação tecnológicaquando comparada com outras regiões nacionais. Isto é notório nas funções de “ApoioTecnológico”, “Difusão de Informação” e “Consultoria e apoio aos negócios”. O desafio será o deaumentar a difusão de informação e aconselhamento, fomentando uma coordenação regional deserviços para PME e a necessidade de haver uma interface, através da qual as pequenas empresaspossam ter acesso facilitado às capacidades disponíveis;

c. Em terceiro lugar, é muito importante para a região estimular a transferência de tecnologia atravésde maiores taxas de mobilidade de recursos humanos qualificados.

19III CD

Augusto Mateus & Associados, Sociedade de Consultores