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Resumo - Este artigo apresenta o estágio atual do sistema de monitoramento de descargas atmosféricas para o estado do Ceará que conta com uma rede de detecção de raios com o obje- tivo de auxiliar as operações da Companhia de Energética do Ceará (Coelce). Este sistema, STARNET, foi implementado no Brasil em 2006, a partir de um projeto de P&D da Coelce com as Universidades estaduais do Ceará (UECE) e São Paulo (USP). Em 2008, três novos sensores foram comprados em par- ceria com a UECE/USP, SIMEPAR e SIPAM, o que garante um contínuo monitoramento de descargas atmosféricas com acurácia infeiror a 10 km sobre a América do Sul e do Norte, oceâno Atlântico e e continente Africano. Palavras-chave-Descargas atmosféricas, relâmpagos, sistema de detecção de relâmpagos. I. INTRODUÇÃO As descargas atmosféricas emitem radiação eletromagnética durante os processos de quebra da rigidez dielétrica do ar e respectiva ionização o que possibilita a sua observação nas faixas de frequência de VLF, LF, ELF e VHF[1]. As descargas do tipo nuvem terra (NS) são basicamente observadas na faixa de frequência de VLF, LF e ELF enquanto que as tipo nuvem-nuvem (NN) ou intra- nuvem (IN) dominam espectro de VHF. Esta dependência de frequência limita a cobertura de monitoramento de descargas atmosféricas bem como o tipo de relâmpago, a acurácia de localização e a eficiência de detecção. Tipicamente um relâmpago NS irradia energia eletromagnética que pode se propagar ao longo da superfície terrestre (onda de chão) e ou a partir de múltiplas reflexões entre a superfície terrestre e a parte mais baixa da ionosfera (camada D) (ondas de céu). Já os IN, por apresentarem uma menor energia que os NS, são mais bem observados a partir de propagações de linha de visada. Neste sentido, as propagações por ondas de céu, de chão e direta se restringem à distâncias de 5-7.000, 400-600 e 100 km respectivamente. Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Setor de Energia Elétrica regulado pela ANEEL e consta dos Anais do V Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica (V CITENEL), realizado em Belém/PA, no período de 22 a 24 de junho de 2009. 1 Universidade de São Paulo (e-mail: [email protected]). 2 Universidade Estadual do Ceará (e-mail: [email protected] e fgmpinhei- [email protected]). 3 Companhia Energética do Ceará (e-mail: [email protected]). II. DEFINIÇÃO DO SISTEMA DE DETECÇÃO DE RAIOS Com a ausência de informações sobre a incidência de descargas atmosféricas sobre o Ceará e a baixa representação dos mapas isoceráunicos para esta região, a UECE e USP através de um programa de P&D propuseram à Coelce em 2005, o desenvolvimento de um sistema de detecção de relâmpagos que fosse capaz de detalhar a densidade de raios sobre o estado do Ceará, ou seja, distribuição espaço/temporal. Por outro lado, este projeto poderia viabilizar a implementação de um sistema que também fosse capaz de observar a incidência de raios sobre todo o Brasil, o que iria contribuir não somente a Coelce, mas com toda a sociedade brasileira. As tecnologias comerciais existentes estavam restritas ao sistema IMPACT/LPATS da Vaisala e o de VLF da Resolusion Display Inc. (RDI). O sistema IMPACT/LPATS utilizam as medidas de campo elétrico e magnético oriundas de ondas de chão, logo limitadas a distâncias inferiores a 600 km. Por outro lado, a tecnologia VLF possibilitava medidas do campo elétrico de ondas de céu o que permitia medidas até 5-7.000 km de distância. Portanto, após vários estudos optou-se pela tecnologia de VLF da Sferics Timing and Ranging Network – STARNET [2], que possibilitava a detecção de raios a longa distância a um custo reduzido, ou seja, um número reduzido de antenas para cobrir toda a extensão do Brasil (pelo menos 5 antenas). A tecnologia da STARNET foi desenvolvida em 1997 a partir de um projeto da NASA com a RDI e incorpora os mais recentes avanços tecnológicos da época (PC, internet e GPS). Em 2001, este sistema foi implantado na Europa pelo Observatório Nacional de Atenas – Grécia (NOA) e Universidade de Connecticut (UConn) e assim foi criado a rede ZEUS [3]. Em 2004, através de programa da National Science Foundation (NSF-EUA) a UConn instalou mais quatro sensores no continente Africano que foram integrados à rede ZEUS. A partir desta integração foi possível monitorar em tempo real os relâmpagos nos continentes europeu e africano e com menor eficiência sobre o oceâno Atlântico e América do Sul. Com a aprovação do projeto de P&D da Coelce, UECE e USP no segundo semestre de 2005, duas novas antenas de VLF foram adiquiridas para serem integradas com a rede ZEUS. No mesmo período a Universidade de Nevada em Las Vegas, adquiriu uma antena e a instalou na ilha de Gaudeloupe, Caribe, para ser integrada a rede ZEUS e assim melhorar a detecção de raios no oceâno Atlântico e costa oeste da Africa, aonde os furacões se formam. Com o objetivo de melhorar a eficiência de detecção de raios sobre o continente Africano, oceâno Atlântico e Sistema de Monitoramento de Descargas Atmosféricas Para o Estado do Ceará Carlos A. Morales 1 , Francisco Sales 2 , Francisco G. Pinheiro 2 e Keyla S. Câmara 3

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Resumo - Este artigo apresenta o estágio atual do sistema de monitoramento de descargas atmosféricas para o estado do Ceará que conta com uma rede de detecção de raios com o obje-tivo de auxiliar as operações da Companhia de Energética do Ceará (Coelce). Este sistema, STARNET, foi implementado no Brasil em 2006, a partir de um projeto de P&D da Coelce com as Universidades estaduais do Ceará (UECE) e São Paulo (USP). Em 2008, três novos sensores foram comprados em par-ceria com a UECE/USP, SIMEPAR e SIPAM, o que garante um contínuo monitoramento de descargas atmosféricas com acurácia infeiror a 10 km sobre a América do Sul e do Norte, oceâno Atlântico e e continente Africano.

Palavras-chave-Descargas atmosféricas, relâmpagos, sistema de detecção de relâmpagos.

I. INTRODUÇÃO

As descargas atmosféricas emitem radiação eletromagnética durante os processos de quebra da rigidez dielétrica do ar e respectiva ionização o que possibilita a sua observação nas faixas de frequência de VLF, LF, ELF e VHF[1]. As descargas do tipo nuvem terra (NS) são basicamente observadas na faixa de frequência de VLF, LF e ELF enquanto que as tipo nuvem-nuvem (NN) ou intra-nuvem (IN) dominam espectro de VHF. Esta dependência de frequência limita a cobertura de monitoramento de descargas atmosféricas bem como o tipo de relâmpago, a acurácia de localização e a eficiência de detecção. Tipicamente um relâmpago NS irradia energia eletromagnética que pode se propagar ao longo da superfície terrestre (onda de chão) e ou a partir de múltiplas reflexões entre a superfície terrestre e a parte mais baixa da ionosfera (camada D) (ondas de céu). Já os IN, por apresentarem uma menor energia que os NS, são mais bem observados a partir de propagações de linha de visada. Neste sentido, as propagações por ondas de céu, de chão e direta se restringem à distâncias de 5-7.000, 400-600 e 100 km respectivamente.

Este trabalho foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Setor de Energia Elétrica regulado pela ANEEL e consta dos Anais do V Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica (V CITENEL), realizado em Belém/PA, no período de 22 a 24 de junho de 2009.

1 Universidade de São Paulo (e-mail: [email protected]).2Universidade Estadual do Ceará (e-mail: [email protected] e fgmpinhei-

[email protected]).3Companhia Energética do Ceará (e-mail: [email protected]).

II. DEFINIÇÃO DO SISTEMA DE DETECÇÃO DE RAIOS

Com a ausência de informações sobre a incidência de descargas atmosféricas sobre o Ceará e a baixa representação dos mapas isoceráunicos para esta região, a UECE e USP através de um programa de P&D propuseram à Coelce em 2005, o desenvolvimento de um sistema de detecção de relâmpagos que fosse capaz de detalhar a densidade de raios sobre o estado do Ceará, ou seja, distribuição espaço/temporal. Por outro lado, este projeto poderia viabilizar a implementação de um sistema que também fosse capaz de observar a incidência de raios sobre todo o Brasil, o que iria contribuir não somente a Coelce, mas com toda a sociedade brasileira.

As tecnologias comerciais existentes estavam restritas ao sistema IMPACT/LPATS da Vaisala e o de VLF da Resolusion Display Inc. (RDI). O sistema IMPACT/LPATS utilizam as medidas de campo elétrico e magnético oriundas de ondas de chão, logo limitadas a distâncias inferiores a 600 km. Por outro lado, a tecnologia VLF possibilitava medidas do campo elétrico de ondas de céu o que permitia medidas até 5-7.000 km de distância. Portanto, após vários estudos optou-se pela tecnologia de VLF da Sferics Timing and Ranging Network – STARNET [2], que possibilitava a detecção de raios a longa distância a um custo reduzido, ou seja, um número reduzido de antenas para cobrir toda a extensão do Brasil (pelo menos 5 antenas).

A tecnologia da STARNET foi desenvolvida em 1997 a partir de um projeto da NASA com a RDI e incorpora os mais recentes avanços tecnológicos da época (PC, internet e GPS). Em 2001, este sistema foi implantado na Europa pelo Observatório Nacional de Atenas – Grécia (NOA) e Universidade de Connecticut (UConn) e assim foi criado a rede ZEUS [3]. Em 2004, através de programa da National Science Foundation (NSF-EUA) a UConn instalou mais quatro sensores no continente Africano que foram integrados à rede ZEUS. A partir desta integração foi possível monitorar em tempo real os relâmpagos nos continentes europeu e africano e com menor eficiência sobre o oceâno Atlântico e América do Sul.

Com a aprovação do projeto de P&D da Coelce, UECE e USP no segundo semestre de 2005, duas novas antenas de VLF foram adiquiridas para serem integradas com a rede ZEUS. No mesmo período a Universidade de Nevada em Las Vegas, adquiriu uma antena e a instalou na ilha de Gaudeloupe, Caribe, para ser integrada a rede ZEUS e assim melhorar a detecção de raios no oceâno Atlântico e costa oeste da Africa, aonde os furacões se formam.

Com o objetivo de melhorar a eficiência de detecção de raios sobre o continente Africano, oceâno Atlântico e

Sistema de Monitoramento de Descargas Atmosféricas Para o Estado do Ceará

Carlos A. Morales1, Francisco Sales2, Francisco G. Pinheiro2 e Keyla S. Câmara3

nordeste Brasileiro, no primeiro semestre de 2006 foi implantado a STARNET no Brasil que contava com as 4 antenas instaladas na África (Nigéria, Africa do Sul, Etiópia e Tanzânia), 2 no Brasil (Fortaleza e Cachoeira Paulista) e 1 no Caribe (Guadeloupe). Estrategicamente em Setembro de 2007 a antena da Nigéria foi deslocada para Campo Grande(MS) através de uma cooperação entre a UConn e USP, enquanto que em 2008 a USP/UECE e SIMEPAR adquiriram e instalaram mais duas antenas em São Martinho da Serra (RS) e Curitiba (PR), Figura 1. Estas aquisições e expansões visavam melhorar a eficiência de detecção raios e ao mesmo tempo aumentar a área de coberta, que hoje é nacional.

Figura 1. Localização dos sensores da rede STARNET em 12/2008.

O projeto foi desenvolvido no âmbito do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento do Setor Elétrico, cujas princi-pais informações são: Código ANEEL: 0039-025/2005; Títu-lo: Sistema de Monitoramento de Descargas Atmosféricas para o Estado do Ceará; Financiado pela Companhia Energética do Ceará (Coelce); Executoras: Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Estadual do Ceará (UECE); Ciclos 20004/2005, 2005/2006 e 2006/2007; Valor investido: R$ 614.000,00.

II. REDE DE MONITORAMENTO DE RELÂMPAGOS A LONGA DISTÂNCIA - STARNET

O sistema STARNET [http://www.zeus.iag.usp.br] consiste de uma rede de 10 receptores de frequência muito baixa (VLF) que medem o ruído de rádio emitido por descargas atmosféricas na faixa de frequência de 7-15 kHz. Este sistema foi desenvolvido pela Resolution Displays Inc. [2] e dispõe atualmente das seguintes antenas: Addis Ababa [Etiopia], Dar e Salaam [Tanzania], Bethlehem [Africa do Sul], Guadeloupe [Caribe], Campo Grande, Fortaleza, São Martinho da Serra, Curitiba e São Paulo [Brasil], Figura 1, e partir de 2009 contará com mais uma antena em Manaus.

De forma resumida o detector de raios da STARNET é composto por uma antena que mede o campo elétrico vertical, um GPS para sincronização dos dados, uma placa de conversão analógico/digital e um computador para aquisição e transmissão dos dados via internet [2]. Dessa forma, cada detector da STARNET mede continuamente o campo elétrico vertical proveniente das ondas de céu, que está sincronizado com o relógio do GPS a uma resolução

temporal de 1 μseg. Finalmente, para a localização dos sferics utiliza-se a técnica de Diferença do Tempo de Chegada (ATD) que foi desenvolvida por Lee [4].

O software operacional de localização de sferics permite a utilização máxima de 9 sensores, o que representa 36 pares de ATDs (combinação de 9 sensores dois a dois). Adcionalmente, este algoritmo também permite a configuração de soluções por continentes, que no caso da rede STARNET é de 2, ou seja, o Africano e o Americano. Se durante o processo de localização mais de 9 sensores estão disponíveis, o algoritmo calcula a solução que tenha o menor erro residual. Adicionalmente, o algoritimo de localização permite a inferência da polaridade da descarga atmosféricas, positiva ou negativa, a partir de índices de confiabilidade.[5]

III. ACURÁCIA TEÓRICA DAS MEDIDAS

(a)

(b)

(c)

Figura 2. (a)(topo), Acurácia de localização (b) (meio), Eficiência de detecção teórica; (c) (abaixo) erro de localização quando comparado com a RINDAT no sudeste Brasileiro.

A acurácia de localização dos raios é feita a partir de simulações de Monte-Carlo assumindo a presente configuração de 7 sensores [2]. Nesta simulação assume-se que as ATDs possuem um erro aleatório de 20 µs devido ao processamento do sinal, ruído devido a atenuação do sinal e acurácia do tempo do GPS, Figura 2a. Observa-se que a maior parte do Brasil tem um erro esperado inferior a 5 km e aumenta para 10-20 km no resto da América do Sul e oceâno Atlântico. Estes resultados indicam que este tipo de sistema de monitoramento é capaz de detectar as tempestades que se formam ou se propagam sobre o Brasil.

Em termos de eficiência de detecção (DE) utilizou-se um modelo que leva em consideração os efeitos de propagação sobre o dia e noite, diferentes superfícies (continente /oceano) e direção de propagação (leste-oeste, oeste-leste, norte-sul e sul-norte) [2], Figura 2b. A utilização das 7 antenas operacionais viabiliza uma DE superior a 60% sobre a maior parte da América do Sul. As regiões do centro-oeste e norte chegam apresentam DE acima de 70% enquanto que a região Sul é esperado uma DE de ~ 50%. Este último efeito é caracteristico da geometria da rede, uma vez que existem 4 antenas instaladas no Sul e Sudeste do Brasil que por apresentarem regiões equidistantes (até 600 km de distância do sensor) entre as antenas limita o número de sensores utilizados na solução. Este problema poderá ser resolvido com o deslocamento das estação a distâncias maiores que 1.500 km, o que aumenta linha de base e a respectiva DE.

A figura 6c apresenta uma comparação entre as medidas do sistema STARNET com a rede integrada de detecção de descargas atmosféricas – RINDAT [6]. A comparação foi feita sobre a região sudeste do Brasil (nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná) pois é onde a RINDAT apresenta a maior DE, ou seja, 80-90% de detecção dos flashes e acurácia inferior a 2km [7]. Para esta avaliação utilizam-se medidas que apresentem uma diferença temporal a 1 mili-segundo, pois estes sistemas utilizam técnicas e frequências distintas para o monitoramento de descargas atmosféricas. Os resultados ilustrados na Figura 6c foram para o periodo de Novembro de 2007 a Março de 2008, onde somente 3 antenas estavam em operação no Brasil. Observa-se que mais de 50% das medidas coincidentes apresentaram erros inferiores à 10 km, o que é compatível com as estimativas teóricas. Dessa maneira, a inclusão de mais antenas no Brasil irá proporcionar uma melhor significativa tanto na eficiência de detecção bem como na acurácia da localização.

IV. SISTEMA DE APLICAÇÃO DE RAIOS

Com a disponibilidade da localização de raios em tempo real, foi possível identificar as cidades e os municípios que estavam sendo afetados por estas descargas. Portanto a partir destes dados foi elaborado um portal para o projeto de P&D que disponibiliza estas informações em tempo real, Figura 3, http://www.zeus.iag.usp.br/coelce, bem como um acesso às

informações históricas e produtos de probabilidade de ocorrência de raios.

Figura 3. Portal principal do projeto de P&D da Coelce, atualizado a cada 10 minutos.

(a)

(b)

Figura 4. (a) Medidas em tempo real de raios e (b) Probabilidade de raios.

No portal principal, Figura 3, os usuários tem acesso a diversas informações a partir de um menu de disposto à margem esquerda: Raios em Tempo Real; Previsão de Tempestades-Satélite; Alerta Cidades: Previsão de Tempestades: Alerta Cidades: Ocorrência de raios; Arquivos: Relatório Diário, Acumulações Diárias, Mensais e Anuais; Dados Reprocessados: Alerta Cidades: Ocorrência de Raios, Relatório Diário. À margem direita encontra-se a listagem de alertas: Ocorrência de Raios e ou Probabilidade de Tempestades.

Estes menus têm como objetivo auxiliar os usuários e o centro de operações da Coelce na identificação de descargas atmosféricas bem como a aproximação de tempestades sobre a área de concessão da Coelce. As opções Raios em Tempo Real e Previsão de Tempestades-Satélite disponibilizam os mapas individuais da ocorrência de raios e a extensão das tempestades, além de identificar à margem direita os municípios afetados. A opção Alerta Cidades: Tempestades e Raios é similar aos anteriores, porém os municípios afetados são indicados no mapa a partir de diferentes cores ou luz intermitente. Na opção arquivo estão disponíveis o relatório diário de ocorrência de raios e os mapas de acumulações diárias, mensais e anuais. Finalmente, a opção de Dados Reprocessados disponibiliza as mesmas opções anteriores porém com os dados reprocessados, já que durante o processo de tempo real alguns receptores poderiam não estar disponíveis na hora de processamento e serão então processados posteriormente. Esta opção é atualizada após 3 meses de cada medida. A seguir são apresentados as opções do menu bem como uma descrição sucinta dos dados observados.

Apesar de disposto nos menus, os mapas dispostos na páginal principal podem ser selecionados pelos usuários afim de obter ampliações como as Figuras 4a e 4b. Neste exemplo, Fig. 4a, existem eventos sobre os estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba e dependendo da densidade de raios um sistema de alerta é ativado indicando a intensidade e o munícipio afetado. Já na figura 4b temos a extensão das tempestades que apresentam baixa probabilidade de raios. Este produto é extremamente útil pois possibilita ao usuário uma quantificação da extensão da tempestade, bem como as áreas que estão e podem ser afetadas.

Nas Figura 5 e 6 são apresentados os mapas da opção de Alerta Cidades de ocorrência de raios e Previsão de Tempestades respectivamente, ocorridos no dia 26 de Janeiro de 2009 às 18:45 GMT. (-4 para hora local). No exemplo da Figura 5 temos a ocorrência de raios sobre os municípios de Marco, Quixeré, Santana do Acaraú, Senador Sá e Uruoca. Enquanto que na Figura 6 existe baixa probabilidade de ocorrência de raios sobre os municípios de Bela Crus, Camocim, Granja, Jijoca de Jericoacoara, Marco, Martnópole, Massapê, Morrinhos, Santana de Acaraú, Senador Sá e Uruoca. Como se pode perceber, a previsão de tempestades coincide com as cidades que foram atingidas com a ocorrência de raios. O produto de previsão visa a identificação da extensão das tempestades, pois pode-se programar melhor no caso do deslocamento de grandes tempestades, as quais teriam alta probabilidade.

Figura 5. Mapa disponível na opção Alerta Cidades: Ocorrência de Raios.

Figura 6. Mapa disponível na opção Alerta Cidades: Previsão de Raios.

A opção Relatório Diário, Figura 7, apresenta uma listagem dos raios ocorridos no dia ou no passado. Este relatório é atualizado a cada 10 minutos e quando da ocorrência de um raio é apresentado uma listagem com a indicação do município afetado, a data (ano, mês, dia, hora, minuto e segundo em GMT) e a localização a partir das posições em latitude e longitude. Os usuários também têm acesso às informações históricas a partir da seleção da data inicial e final. Neste exemplo da Figura 7 é apresentada a ocorrência de raios no dia 26 de Janeiro de 2009. Observa-se que o município de Marco foi atingido por 6 raios entre as 17h35 e 17h57 GMT. Estas informações são extremamente úteis para o confrontamento dos desligamentos não programados que em geral estão sujeitos a quedas devido à ocorrência de raios e chuvas.

Figura 7. Relatório Diário de Raios ocorridos no dia 26 de Janeiro de 2009.

Na Figura 8 é apresentado a opção de Acumulações diária, ou seja, um mapa que ilustra o número de raios ocorrido em um determinado dia. Neste exemplo é apresentado o dia 26 de Janeiro de 2009 que reflete a listagem parcial apresentada na Figura 7. Neste dia podemos observar que a maior concetração de raios (acima de 100) encontrava-se nas regiões centro, leste e sul do estado do Ceará, enquanto que as demais regiões do estado apresentaram menos que 10 raios durante todo este dia.

Figura 8. Mapa disponível no menu Acumulação Diária.

Finalmente o mapa da Figura 9 ilustra a opção de Acumulação Mensal. Neste exemplo é ilustrado a acumulação de raios do mês de Dezembro de 2008. Observa-se que existem poucos raios sobre o estado do Ceará, os quais se concentram sobre nordeste, mais especificamente próximo de Sobra e redondezas. A estação chuvosa no estado do Ceará se dá entre Fevereiro e Maio, porém pode ser atencipada dependendo do regime climático atuante (El Niño ou La Niña).

Figura 9. Mapa disponível no menu Acumulação Mensal.

V. AVANÇOS NO MONITORAMENTO

Com a implantação da rede de deteção de raios para a Coelce, não somente o estado do Ceará estava sendo monito-rado, mas também a América do Sul. Este avanço está possi-bilitando um melhor entendimento sobre a distribuição de tempestades no Brasil, o que consequentemente possibilitará uma melhora nos modelos de previsão do tempo bem como uma adequação do potencial hídrico do Brasil e das linhas de transmissão.

A Figura 10 apresenta uma ilustração da distribuição de raios observados durante os meses de Dezembro de 2007 e Janeiro de 2008. Nota-se nestes mapas que durante estes me-ses de verão, a regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil apre-sentaram a maior incidência de raios, porém a distribuição espacial não apresentava o mesmo comportamento a cada mês. Neste sentido é importante um monitoramento contínuo que permitirá uma melhor avaliação sobre a distribuição es-paço temporal das tempestades. Consequentemente, a conti-nuação deste sistema de monitoramento permitirá uma me-lhoria nos sistemas de previsão do tempo, bem como na ma-nutenção preventiva do setor elétrico, pois estas informações poderão ser assimiladas pelo modelo matemáticos emprega-dos na previsão do tempo e na operação das companhias elé-tricas.

A baixa frequência de raios observados na região sul e sudeste do Brasil e sul da América do Sul deve-se ao número reduzido de antenas disponíveis durante este período, ou seja, 3 no Brasil. Este problema esta sendo solucionado com a inclusão de mais antenas. Sendo que no final de 2008 duas antenas foram instaladas no sul do Brasil (São Martinho da Serra e Curitiba) e uma terceira será instalada em Manaus no primeiro semestre de 2009. Consequentemente, a rede STARNET poderá apresentar uma melhora significativa no monitoramento de raios sobre toda a América do Sul.

Figura 10. Distribuição de raios sobre a América do Sul durante os meses de Dezembro de 2007 e Janeiro de 2008.

A partir de 1 ano de medidas contínuas foi possível identi-ficar regiões com a maior incidência de raios no estado do Ceará, apesar do número reduzido de sensores operando du-rante este período. Por exemplo, nas Figuras 11a e 11b são apresentados a densidade de raios por mês e o número de dias com raios em cada município sobre o estado do Ceará para o mês de Março de 2008. Observa-se que a regiões a noroeste do Ceará (Santa Quitéria, Santa Cruz, Itatira, Hi-drolândia, Irauçuba, Itapipoca e Granja) apresentaram mode-rada incidência de raios, ou seja, mais de 10 dias com tem-pestades ou mais de 5 raios por mês em uma área de 10 x 10 km2.

Os mapas isoceuránicos sobre o estado do Ceará indicam uma atividade que varia de 30 a 60 dias com trovoadas por ano, e os resultados aqui coletados começam a detalhar melhor esta distribuição de raios sobre esta região. Levando-se em conta que durante este período, somente 3 antenas estavam instaladas no Brasil, o que proporcionava uma eficiência de detecção inferior a 50%, os novos mapas de densidade de raios poderão apresentar uma densidade muito maior do que apresentada. Neste sentido, a instalação dos novos sensores no segundo semestre de 2008 implicará em mapas mais realisticos .

Nas Figuras 12a a 12d são apresentados de forma gráfica a acumulação de raios sobre todos os municípios do estado do Ceará para os meses de Setembro de 2007 à Março de 2008. Observa-se que a incidência de raios se inicia em Dezembro e apresenta um máximo em Março, o que é coincidente com o período chuvoso da região. Neste relatório podemos destacar que os municípios mais afetados (mais que 50 raios em um mês) foram: Amontoado, Boa Viagem, Canindé, Granja, Iraucuba, Itapipoca, Santa Quitéria, Tejuoça e Trairi. Como o avanço deste projeto, estas informações serão correlacionadas com o banco de dados de interrupções não programadas para a averiguação das informações bem como para planejamentos futuros ou mesmo re-estruturação da distribuição de energia.

(a)

(b)

Figura 11. (a) Distribuição de raios por mês (10 x 10 km2) e (b) número de dias com raios sobre o estado do Ceará durante o mês de Março de 2008.

(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 12 Distribuição mensal de raios para todos os municípos do estado do Ceará para os meses de Setembro de 2007 a Março de 2008. (a) a (d) in-dicação dos municípios em ordem alfabética.

I. VI. CONCLUSÃO

Este artigo apresentou uma síntese dos resultados e avanços tecnológicos obtidos no projeto de P&D da Coelce, que encontram-se disponíveis no portal do projeto: www.zeus.iag.usp.br/coelce. O sistema de detecção de raios prevê uma acurácia de 5-10 km e uma eficiência de detecção superior a 70% (assumindo que 5 antenas estejam em operação no Brasil) sobre o território Brasileiro. Comparações preeliminares com outro sistema de monitoramento, RINDAT, indicaram que a acurácia é melhor que 10km, concordando com a previsão teórica. Com a instalação das novas antenas em 2008 e 2009, este sistema irá apresentar uma melhor acurácia bem como a eficiência de detecção estimada pelo modelo teórico.

As informações que vem sendo coletadas por este projeto proporcionam um grande avanço no monitoramento de raios sobre a América do Sul, em especial sobre o Brasil e o estado do Ceará, uma vez que as outras redes não apresentavam tal cobertura.

Para a Coelce, este projeto de P&D está possibilitando uma melhor re-estruturação da sua rede de distribuição, uma vez que melhores mapas de densidade de raios estão sendo elaborados, bem como no sistema de operações aonde as informações em tempo real recebidas são utilizadas para agilizar o religamentos ou mesmo posicionar as equipes de manutenção em determinadas áreas.

Finalmente, este projeto disponibiliza em tempo real uma ferramenta útil para as companhias de energia elétrica ou a população em geral que necessitam identificar a posição dos relâmpagos e a extensão das tempestades. Mapas mais acurados da frequência de raios serão ser elaborados a medida que o monitoramento seja estendido. Por outro lado, estas informações contínuas poderão auxiliar também os institutos que realizam a previsão do tempo. Os usuários que necessitam de informações sobre o Brasil e América do Sul podem acessar diretamente o portal da rede STARNET, http://www.zeus.iag.usp.br. Neste portal existem várias opções gráficas para a visualização das informações bem como o acesso gratuíto dos dados através de um simples cadastro. De comum acordo entre todos os parceiros deste projeto, os dados estão cedidos de forma gratuita uma vez que isso representa uma forma de auxiliar o avanço tecnológico do Brasil.

II. VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] E.T. Pierce, 1977: Atmospherics and radio noise, in lightning, vol. 1, Physics of Lightning, R.H. Golden, 351-384.[2] C.A. Morales, 2001: A Long-Range VLF Receiver Network to Continuously Monitor Thunderstorms: Experimental Calibration and Validation: Part I of Ph.D. thesis.[3] E. N. Anagnostou, T. Chronis, and D.P. Lalas, 2002: New Receiver Network Advances Long-Range Lightning Monitoring. EOS-Transactions, Vol. 83, No. 50, Pages 589, 594-595.[4] A.C.L Lee, 1986: An experimental study of the remote location of lightning flashes using a VLF arrival time difference technique, Quart. J. R. Met. Soc., 112, 203-229.[5] C.A. Morales, E. Anagnostou.; Williams e Kriz, S. 2007: Evaluation of Peak Current Polarity Retrieved by the ZEUS Long-Range Lightning Monitoring System. IEEE Geoscience and Remote Sensing Letters, v. 4, p. 32-36.[6] O. Pinto Jr., I.R.C.A Pinto, K.P Naccarato, M.M.F Saba,A. Cazetta Filho, S. Garcia, C. Beneti, 2004: Brazilian integrated lightning detection network – RINDAT, 18th International Lightning Detection Conference, Helsinki, Finland, CDROM.[7] K. L. Cummins, M. Murphy, E. Bardo, W. Hiscox, R. Pyle, and A. Pifer, 1998a: A combined TOA/MDF technology upgrade of the U.S. National Lightning Detection Network, J. Geophys. Res., 103, 9035-9044.