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Informativo Nº 25 Brasília (DF) Agosto de 2013 InformANDES SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN Confira a agenda de encontros e seminários para o segundo semestre de 2013 3 Democratizar a comunicação para ampliar a liberdade E m agosto, foi lançado nacional- mente o Projeto de Lei de Ini- ciava Popular da Mídia Demo- cráca. Durante o 58º Conad, os delegados aprovaram o apoio do ANDES-SN ao projeto e a parcipação na coleta de assinaturas, por entenderem que a regulamentação da comunicação é um passo importante para consolidar a democracia e ampliar a liberdade de expressão no país. O Plip da Mídia Democráca visa regula- mentar os argos da Constuição Fede- ral que tratam da radiodifusão no Brasil, com isso acabar com os oligopólios no setor e aumentar a pluralidade e diversi- dade dos conteúdos difundidos tanto nas rádios quanto nos canais televisivos. As recentes manifestações populares evidenciam o apoio da sociedade ao tema, que também foi idenficado em recente pesquisa divulgada pelo Instuto Perseu Abramo. 8 a 11 Entrevista: Carlos Latuff O chargista fala sobre as movações para o seu trabalho, as ameaças de morte que recebeu e conclama os movimentos de esquerda a connuarem na luta em defe- sa dos direitos humanos. 12 e 13 Movimento Estudantil na luta pela Educação Estudantes de instuições de ensino su- perior federais, estaduais e parculares intensificam as manifestações e greves e amplificam a denúncia da situação pre- cária das universidades em várias partes do Brasil. 14 a 16

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Page 1: SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE …portal.andes.org.br/imprensa/noticias/imp-inf-377986895.pdf · 2013-10-25 · InformANES Agosto de 013 SINDICATO NACIONAL

Informativo Nº 25

Brasília (DF) Agosto de 2013InformANDES

SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR - ANDES-SN

Confira a agenda de encontros e seminários para o segundo semestre de 2013 3

Democratizar a comunicação para ampliar a liberdade

Em agosto, foi lançado nacional-mente o Projeto de Lei de Ini-ciativa Popular da Mídia Demo-crática. Durante o 58º Conad, os delegados aprovaram o apoio do

ANDES-SN ao projeto e a participação na coleta de assinaturas, por entenderem que a regulamentação da comunicação é um passo importante para consolidar a democracia e ampliar a liberdade de expressão no país.O Plip da Mídia Democrática visa regula-mentar os artigos da Constituição Fede-ral que tratam da radiodifusão no Brasil, com isso acabar com os oligopólios no setor e aumentar a pluralidade e diversi-dade dos conteúdos difundidos tanto nas rádios quanto nos canais televisivos.As recentes manifestações populares evidenciam o apoio da sociedade ao tema, que também foi identificado em recente pesquisa divulgada pelo Instituto Perseu Abramo. 8 a 11

Entrevista: Carlos LatuffO chargista fala sobre as motivações para o seu trabalho, as ameaças de morte que recebeu e conclama os movimentos de esquerda a continuarem na luta em defe-sa dos direitos humanos. 12 e 13

Movimento Estudantil na luta pela EducaçãoEstudantes de instituições de ensino su-perior federais, estaduais e particulares intensificam as manifestações e greves e amplificam a denúncia da situação pre-cária das universidades em várias partes do Brasil. 14 a 16

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InformANDES/20132

EXPEDIENTEO Informandes é uma publicação do ANDES-SN // site: www.andes.org.br // e-mail: [email protected] responsável: Luiz Henrique SchuchRedação: Renata Maffezoli, Nayane Taniguchi MTb 8228Fotos: Renata Maffezoli e Nayane Taniguchi // Edição: Renata Maffezoli MTb 37322 // Diagramação: Ronaldo Alves DRT 5103-DF

Confira notícias diárias sobre as pautas de luta do sindicato no site www.andes.org.br

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A democracia não é uma ideia acabada. É, sim, um processo de construção constante. Esta-belecida sobre os fundamentos

da igualdade, a democracia consolida-se tendo como mediação a educação, a cultura e saber, as condições de traba-lho, as condições de saúde, a participa-ção consciente no processo de escolhas de dirigentes, sem manipulações, engo-dos ou subterfúgios para manutenção do poder. Nada a ver com a democracia burguesa. Nada a ver com a prática de transformação dos direitos iguais de to-dos os cidadãos em vantagens concedi-das de forma clientelista aos cooptados, aos que se simpatizam com determina-da tendência política.

Uma das áreas mais visadas pelos políticos e setores dominantes são as mídias, a comunicação de um modo ge-ral, cujos principais veículos associam--se ao entretenimento, mas tendo como tendência majoritária a repro-dução do modo de produção vigente, quer dizer, da selvageria do capital, sua hegemonia arrogante e de seus falsos pressupostos civilizatórios.

Completando, o 58º Conad deliberou “Apoiar a proposta de projeto de lei de iniciativa popular da Comunicação So-cial Eletrônica – Lei da Mídia Democrá-tica -, divulgar a campanha e proceder à coleta de assinaturas em apoio a essa proposta de iniciativa popular”.

Nessa direção, o 32º Congresso do ANDES-SN orientou as Seções Sindicais à construção de ações públicas pela legítima democratização da mídia bra-sileira, e deliberou a participação do ANDES-SN no Fórum Nacional de De-mocratização da Comunicação (FNDC).

Como se vê, este é um anseio ar-raigado nos movimentos sociais do qual tivemos uma demonstração cla-ra, recentemente nas manifestações de junho, do desejo pela democracia real, pelo atendimento às aspirações do povo exclusivamente pela via dos direitos da democracia.

Continuaremos nossa luta articula-dos com os muitos movimentos que lutam pelos direitos dos trabalhadores, contra a aposentadoria submetida aos interesses privados do Funpresp, contra a mercantilização dos hospitais

universitários, contra a desfaçatez da reforma da previdência, contra o engo-do das fundações públicas submetidas a regras privadas, contra as reformas que tornam a educação campo de inte-resses mercantis.

Nesse quadro, a comunicação tem que avançar para ser controle social no interesse da sociedade – não de partidos, governos ou grupos mercan-tis, buscando caminhar na direção de outro horizonte que seja de igualdade, participação e integração social, com trabalho e vivência democrática diu-turnamente.

Na disputa pela hegemonia social, a comunicação é, pois, questão central que deve ser pensada estrategicamente para possibilitar o avanço da classe, por-que todas as outras lutas nela se encon-tram e nela tem o fio condutor da sínte-se de qualidade para o avanço social.

Muita luta é necessária para que a democracia se efetive e seja praticada integrando a vida, as pessoas e crian-do uma nova cultura do trabalho e do saber, democrática e verdadeiramente humana!

Editorial

Democratizar a comunicação para avançar na luta de classe

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InformANDES/2013 3

Por Renata Maffezoli

Para aprofundar o debate acerca dos temas que integram a pauta de lutas do ANDES-SN, foi aprovada, durante o 58º Conad, uma agenda

de atividades para o segundo semestre de 2013. O acúmulo de discussões nesses encontros e seminários irá contribuir para a elaboração dos textos que serão apre-ciados no 33º Congresso do ANDES-SN, no início de 2013, em São Luís (MA), e para orientar as ações do Sindicato Nacional no próximo período.

A presidente do ANDES-SN, Marinalva Oli-veira, chama todos a participarem dos even-tos e ressalta a importância desses espaços. “É a oportunidade para que nós, docentes, possamos discutir com profundidade temas do nosso cotidiano como, por exemplo, as causas do adoecimento docente e formas de combatê-lo, autonomia nas instituições, financiamento, e formularmos propostas para serem levadas aos espaços deliberativos do Sindicato Nacional”, comenta.

Entre as atividades definidas já para o mês de setembro está o III Seminário Estado e Educação do ANDES-SN, que será realizado entre os dias 13 e 15, na

Universidade Federal de Viçosa (MG). Na programação do evento, entre outras temáticas, está prevista a discussão sobre os Colégios de Aplicação - CAP, Centros Federais de Educação Tecnológica – Cefet, Institutos Federais – Ife - e outras vincula-

das, incluindo a natureza dos CAP, política de formação docente, municipalização do ensino infantil das Ife, carreira de Ensino Básico Técnico e Tecnológico (Ebtt), Reco-nhecimento de Saberes e Competência (RSC) e progressão para professor titular.

● meses de agosto e setembro↘ construir atividades preparatórias ao Seminário Estado e Educação sobre a política para os CAP e demais escolas vinculadas;

● meses de agosto e setembro↘ atuar junto aos parlamentares, durante a tramitação da MP 614/13, em defesa da proposta do ANDES-SN e por abertura de negociações com o poder Executivo; priorizar os temas autonomia, aposentadoriae adoecimento docente e a Jornada de Lutas Contra o Funpresp;

● mês de setembro↘ priorizar os temas “necessidades de cargos/vagas”, “política para os CAP” e demais escolas vinculadas, “política para os Cefet”, IFE, “Hospitais Universitários”;

● mês de setembro↘ participação no seminário Estado e Educação, cuja pauta incluirá o debate sobre política para os CAP e demais escolas vinculadas;

● mês de outubro↘ lançamento nacional e em cada Seção Sindical da II edição da Revista Dossiê Nacional – Precarização das Condições de Trabalho nas IFE;

● mês de outubro↘ priorizar os temas “infraestrutura” e “campi descentralizados”; por ocasião do lançamento nacional da 2ª Edição do dossiê “Precarização das condições de trabalho”, que cada Seção Sindical envide esforços para realizar também o lançamento dos seus respectivos dossiês locais sobre precarização das condições de trabalho docente, potencializando o momento de mobilização da categoria docente para os enfrentamentos necessários no próximo período.

● mês de novembro↘ priorizar o tema “democracia”.

Agenda do segundo semestre tem encontros e seminários

Setembro13 a 15 – III Seminário Estado e Educação do ANDES-SN – Viçosa (MG);

27 a 29 – V Encontro Nacional do ANDES-SN sobre Saúde do Trabalhador – Fortaleza (CE);

27 a 29 – XI Encontro Nacional do Setor das IEES/IMES - Sede do ANDES-SN, Brasília (DF);

outubro4 a 6 – III Encontro Nacional de Comunicação do ANDES-SN – Sede do ANDES-SN, Brasília (DF);

25 a 27 – VII Encontro Intersetorial do AN-DES-SN - Brasília (DF);

Novembro15 e 16 – Encontro do Setor das IPES do ANDES-SN – São Paulo (SP).

Confira a agenda de atividades para o segundo semestre de 2013:

A agenda do Setor das Ifes para o segundo semestre de 2013, aprovada durante o 58º Conad, traz um calendário articulado, com as prioridades temáticas para cada período, como a atualização das

pautas locais e retomada de negociações com as reitorias; o lançamento da Revista Dossiê Nacional 3 – Precarização das Con-dições de Trabalho nas IFE II, destacando principalmente as lutas pelos direitos na

aposentadoria, contra o adoecimento docente, por autonomia, democracia e financiamento público, pela reestrutura-ção da carreira e reversão da precarização das condições de trabalho. Confira:

Setor das Ifes tem agenda temática

Movimento Docente

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InformANDES/20134Movimento Docente

Por Nayane Taniguchi

O ANDES-SN é um dos protagonis-tas na intensa jornada de lutas contra a Fundação de Previ-dência Complementar do Ser-

vidor Público Federal do poder Executivo (Funpresp-exe), que marca os meses de agosto e setembro. Para reforçar a luta contra mais esta retirada de direitos, o Sindicato Nacional elaborou uma série de materiais – cartilha, cartazes e panfleto - que alertam sobre os riscos e danos irre-paráveis que esta instituição pode causar à aposentadoria dos servidores públicos.

“Manter a categoria esclarecida e mobi-lizada sobre as consequências do Funpresp tem sido uma das prioridades do ANDES--SN. Com a regulamentação, o professor federal terá, na prática, sua aposentadoria equivalente a do Regime Geral da Previ-

dência Social sem nenhuma relação com a sua carreira quando na ativa. A eventual complementação que poderá ser feita pelo Funpresp não tem nada a ver com aposentadoria, é resultado de aplicações no mercado financeiro e, também, ob-viamente, não guarda qualquer relação com a carreira”, afirma o 2º tesoureiro do ANDES-SN e encarregado de Assuntos de Aposentadoria, Almir Menezes Filho.

Durante o 58º Conad, realizado em julho em Santa Maria (RS), os delegados aprovaram a realização da jornada na-cional de lutas contra o Funpresp, dentro

da atualização do plano de lutas geral do Sindicato Nacional, em articulação com as demais entidades dos servidores públicos federais (SPF).

A fim de ampliar a divulgação e fortalecer a campanha contra o Funpresp, o ANDES-SN enviou às Seções Sindicais os materiais para serem entregues aos docentes. Os arquivos eletrônicos estão disponíveis no site do Sindicato Nacional. “Este é um trabalho de conscientização sobre o que significa o Funpresp e a que interesses se presta. Sua derrubada é um importante passo na luta para anular a reforma privatizante da pre-vidência de 2003. E mais, será uma vitória emblemática para o enfrentamento que os movimentos sociais vêm fazendo em defesa dos serviços públicos socialmente referenciados”, explica o diretor do ANDES--SN, que orienta: “as Seções Sindicais de-verão promover o lançamento da jornada com distribuição do material e realização de debates nos meses de agosto e setem-bro, unificando a luta nacionalmente”. Segundo Menezes Filho, a ação unificada com as outras entidades representativas dos servidores públicos é imprescindível, articulação que o ANDE-SN tem promovido sistematicamente. O diretor do ANDES-SN acrescenta que é necessário ter a percepção de que esta luta faz parte de uma ação maior, em defesa da Previdência Social. “Ela vem se desenvolvendo ao lado da campanha pela anulação da Reforma da Previdência de 2003, iniciada no primeiro semestre, e do esforço político pela aprovação da PEC 555 [prevê o fim da contribuição previden-ciária dos aposentados e pensionistas do serviço público]”.

ANDES-SN intensifica jornada nacional de lutas contra o FunprespPara reforçar ações por todo o país, Sindicato Nacional elabora e distribui uma série de materiais que compõem campanha contra mais uma retirada de direitos

O diretor do ANDES-SN explica que, com a institucionalização da previdência privada para o servidor público, o governo foge da responsabilidade com os servidores e joga parte importante da aposentadoria para a insegurança do mercado, já que é o Fun-presp que gerencia o fundo de previdência complementar – regime de capitalização que depende do sucesso dos investimentos feitos na compra de ações.

Outras três questões são citadas por Menezes Filho: o servidor que aderir ao Funpresp-exe sabe com quanto irá con-tribuir, mas não saberá o valor da sua aposentadoria. “O servidor conviverá com a incerteza do valor do benefício a ser resga-tado durante toda sua vida laboral e na sua aposentadoria”, explica; o Funpresp admi-nistrará patrimônio constituído pelas con-tribuições mensais dos servidores e, como

consequência, tratará de forma diferencia-da, com evidente prejuízo, os servidores que se aposentarem com menor tempo de contribuição, como no caso das mulheres, professores do ensino básico e aqueles que se aposentarem por doença, “invertendo a lógica da previdência social”; e a opção pelo Funpresp implicará, automaticamente, na renúncia aos direitos previdenciários decor-rentes de regras anteriores, desvinculando o aposentado de sua carreira quando na ativa. “O próprio caráter desta opção, irretratável e irrevogável, deixa claro que não tem volta, os prejuízos serão irreparáveis”, acrescenta.

“O envolvimento da militância é impres-cindível, pois é um embate duríssimo, que vai exigir um envolvimento diário de cada mili-tante em corpo a corpo, sem trégua, procu-rando dialogar com seus companheiros nos locais de trabalho”, conclui Menezes Filho.

ANDES-SN diz NÃO ao Funpresp

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InformANDES/2013 5Movimento Docente

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InformANDES/20136

Por Nayane Taniguchi

Mais que um processo de pre-paração para o VII Encontro Intersetorial – que será reali-zado entre 25 e 27 de outubro

em Brasília, os cursos de formação sindical, organizados pelo Grupo de Trabalho Política de Formação Sindical (GTPFS), são uma oportunidade de conhecer a história e construção do Sindicato Nacional, além de aprofundar as discussões sobre os desafios político-organizativos do ANDES-SN para fortalecer a luta da categoria e enriquecer as discussões do VII Encontro Intersetorial. Realizados ao longo do segundo semestre nas cinco regiões brasileiras, os cursos fa-zem parte das deliberações do 58º Conad, promovido entre 18 e 21 de julho, em Santa Maria (RS).

“O objetivo dessa série de cursos nas cinco regiões geográficas do país, ao lon-

go do segundo semestre de 2013, é o de desenvolver uma compreensão histórica da construção do ANDES-SN e também dos desafios político-organizativos atuais da entidade, que se organiza por local de trabalho. Tanto a abordagem histórica quanto a relativa aos desafios atuais são tratadas como parte dos processos de organização e reorganização da classe trabalhadora no Brasil”, explica o 2º se-cretário do ANDES-SN e encarregado de Relações Sindicais, Paulo Rizzo.

O primeiro dos cinco cursos foi realizado nos dias 16 e 17 de agosto, na Aduff, Seção Sindical do ANDES-SN, em Niterói (RJ). De acordo com Rizzo, a partir de decisão do GTPFS, os próximos encontros serão se-diados em Recife (setembro), Florianópolis (outubro), Goiânia (novembro) e na região Norte (dezembro). Em Niterói, o curso de formação sindical contou com a participa-ção de Paulo Rizzo, de Atnágoras Lopes, da Secretaria Executiva da CPS-Conlutas, e do professor Antônio Libério de Borba, diretor do ANDES-SN e da coordenação do GTPFS.

“Os cursos são voltados aos profes-sores mais novos na carreira, para que eles possam compreender o ANDES-SN e a proposta de organização do Sindi-cato Nacional, a relação do ANDES-SN com o movimento sindical em geral e os desafios atuais”, afirma Rizzo. O diretor ressalta a importância de se conhecer o Sindicato Nacional, que tem mais de 30 anos de história, para tratar dos desafios de hoje. “Nem todos conhecem a história do ANDES-SN”, acrescenta.

“Em relação às discussões preparatórias ao VII Encontro Intersetorial, o GTPFS propõe que haja um levantamento das práticas que vem sendo adotadas nas Se-ções Sindicais de instituições multicampi, e que elas sejam estimuladas a apresentar contribuições para um caderno de textos que a Diretoria deve publicar para o de-bate”, adianta o diretor do ANDES-SN.

Encontro IntersetorialO VII Encontro Intersetorial abordará

as demandas e os desafios do ANDES-SN, com a participação das Seções Sindicais, atendendo aos três setores – Estaduais, Federais e Particulares – a fim de identifi-car pontos comuns de luta entre os setores que fazem parte do Sindicato Nacional e propor uma política unificada de ação.

Diferente dos Congressos e Conads do ANDES-SN, o Encontro Intersetorial não tem caráter deliberativo, mas constitui importante espaço de debates temáticos e organizativos do movimento docente, a fim de articular ações e atividades do Sindicato Nacional para o próximo período. Pode, também, elaborar propostas de en-caminhamentos de acordo com as políticas já definidas em Congressos e Conad. Os participantes são indicados pelas Seções Sindicais, sem limites de representação.

Movimento Docente

Cursos de formação sindical enriquecem debate para o VII Encontro IntersetorialAo longo do segundo semestre, ANDES-SN promove encontros nas cinco regiões brasileiras, que abordam a história e os desafios político-organizativos do Sindicato Nacional

De acordo com o Paulo Rizzo, a criação da Associação Nacional de Docentes do Ensino Superior - a ANDES - em 1981 fez parte do processo de lutas dos trabalha-dores brasileiros no final da década de

1970 e toda a década de 1980, marcada por processos de ruptura com a estrutura sindical estatal e de busca de construção de entidades independentes e democrá-ticas. “Os professores das instituições de ensino superior construíram, então, uma organização sindical que se estrutura ho-rizontalmente e não verticalmente como era e ainda é a estrutura do sindicalismo de estado (estrutura confederativa), baseada no imposto sindical e na separação entre direções e bases, estas últimas alijadas do poder de deliberação”, explica. Para Rizzo, se historicamente o ANDES-SN se organiza horizontal e democraticamente, “o desafio atual é o de compreender as mudanças que vem ocorrendo nos locais e nas condições de trabalho dos professores, com vistas a melhor organizá-los, a ter-se o sindicato organizado e atuante em todos os locais de trabalho”.

Histórico

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InformANDES/2013 7

30 de agosto: resposta da classe trabalhadora às políticas de governo

Por Nayane Taniguchi

Os trabalhadores prometem parar novamente o país em 30 de agos-to, data convocada pelas centrais sindicais como Dia Nacional de

Paralisações. O ANDES-SN, suas Seções Sindicais e demais entidades da Educação concentram esforços para intensificar a mobilização do setor na organização e realização das atividades previstas para o dia. No 58º Conad, realizado em julho em Santa Maria (RS), os delegados deliberaram, como principal mobilização dos docentes para agosto, a construção nacional de pa-ralisação no dia 30.

Para o coordenador-geral do Sinasefe, Shilton Roque dos Santos, o dia 30 re-presenta a continuidade da inserção dos trabalhadores nas manifestações puxadas pela população brasileira desde junho e do movimento de luta. “Ao longo deste ano, a gente não participou apenas dos dias 30 [de agosto] e 11 de julho, mas sim de toda a movimentação pós-greve, com dois anos de fortes greves das categorias. A nossa pauta

não foi contemplada e é necessário discuti-la juntamente com as questões conjunturais e as posições que o governo tem tomado economicamente no nosso país”, explica. Shilton destaca ainda a grande marcha de 24 de abril, em Brasília, como parte da jornada de luta dos trabalhadores.

A coordenadora-geral da Fasubra, Janine Teixeira, afirma que a mobilização tende a pressionar o governo, já muito desgastado, a resolver algumas questões. “No dia 30, é importante que a classe trabalhadora dê uma resposta porque, em junho, quando a juventude foi às ruas, todas as respostas dadas por Dilma [Rousseff] foram contra os trabalhadores. Ela não propôs nada que venha a resolver o problema da classe”. A diretora da Fasubra ainda criticou a pos-tura da presidente durante reunião com as centrais sindicais, no dia 26 de junho. “Concretamente ela não apresentou nada para a classe trabalhadora”. Para o mês de agosto, a Fasubra aprovou uma jornada de lutas com paralisação nacional no dia 15, e novas paralisações entre 26 e 30 de agosto, com realização de atos de rua no dia 30.

“A mobilização dialoga com a população, faz com que a nossa pauta passe a ser dis-cutida e para que a população saiba quais são as nossas reivindicações e se agregue, porque esta é uma mobilização na tentativa de mudar o país. Quando a nossa pauta fala de política econômica, estamos preo-cupados com os serviços públicos que são ofertados e com a forma que o governo está investindo o dinheiro”, acrescenta o dirigente do Sinasefe.

ReivindicaçõesEntre as reivindicações dos trabalha-

dores, Shilton cita questões relacionadas à auditoria da dívida e a forma com que o governo tem investido em serviços como saúde, educação, transporte, moradia, entre outros; os gastos com megaeventos e não em serviços básicos para a população; a reforma agrária; a redução da jornada de trabalho e contra o PL 4330 – PL das Ter-

ceirizações - que intensifica a precarização do trabalho.

Setor da EducaçãoShilton afirma que as reivindicações da

categoria nunca deixaram de estar na rua. “Neste dia 30 estaremos novamente com as nossas bandeiras discutindo que tipo de educação a gente quer para o nosso país. Colocaremos mais uma vez as nossas pautas, o que temos discutido com a população e com a categoria já na greve de 2011 e de 2012 e nas mobilizações ao longo deste ano”.

De acordo com Janine, a Fasubra criou uma pauta específica para fazer a luta interna na universidade, em relação à democrati-zação, aos acordos de greve e pelo fim das terceirizações. “No dia 30, vamos trabalhar com a pauta das centrais”, esclarece.

“Acho importante que a gente fortaleça a luta contra a Ebserh e que a gente se organize com o ANDES-SN e com os sindicatos da área da saúde para ver se consegue invia-bilizar a Ebserh. Este é o momento porque o governo está fragilizado”, acrescentou a coordenadora-geral da Fasubra.

Mundo do Trabalho

Bandeiras de lutas dos trabalhadores nunca deixaram as ruas e reforçam, com o Dia Nacional de Paralisações, manifestações realizadas desde junho no país

Não ao PL 4330!A votação do PL 4330 foi adiada para o

início de setembro. Caso seja aprovado, o projeto permitirá a consolidação da terceirização em todos os setores, e pro-vocará o avanço da superexploração ao trabalhador, desregulamentando todos os direitos garantidos atualmente pela CLT. “Esta é uma vitória importante, pois permite que os trabalhadores ganhem mais tempo e fortaleçam a paralisação nacional do dia 30 de agosto para barrar de vez esse projeto”, disse o membro da Secretaria Executiva Nacional da CSP--Conlutas, Luiz Carlos Prates. “A gente precisa discutir seriamente esta questão da terceirização porque ela retrata e traz a tona uma situação claramente de pre-carização do trabalho”, afirma Shilton.

- Melhoria da qualidade e diminuição do preço dos transportes coletivos;

- 10% do PIB para a educação pública;- 10% do orçamento para a saúde pública;- Fim dos leilões das reservas de petróleo;- Fim do fator previdenciário e aumento do

valor das aposentadorias;- Redução da jornada de trabalho;- Contra o PL 4330;- Reforma agrária;- Salário igual para trabalho igual;

* Com informações da CSP-Conlutas

Pauta uNificada daS ceNtraiS SiNdicaiS Para 30 de agoSto

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InformANDES/20138

Por Renata Maffezoli

A criminalização dos movimentos sociais e sindicais pelos veículos de comunicação de massa, e a enorme dificuldade em colocar

as reivindicações de grande parcela da classe trabalhadora em debate na so-ciedade são realidades experimentadas cotidianamente. A categoria docente en-frenta mais diretamente o bloqueio ou par-cialidade na cobertura midiática quando busca pautar temas como as campanhas salariais e os processos de negociação com os governos, a condição precária de trabalho nas instituições públicas de ensino e o processo de privatização da educação pública.

A manipulação da informação e a ausên-cia de pluralidade nos debates na chamada ‘grande imprensa’ ficaram mais eviden-tes para a população durante a cobertura das manifestações, que tomaram as ruas do país desde junho. A indignação frente à falta de democracia na mídia e a cobrança pelo fim dos monopólios de radiodifusão passaram a fazer parte da pauta dos atos.

Vários cartazes pediam a democrati-zação da comunicação e traziam dizeres como “O povo não é bobo, abaixo à Rede Globo”. O “Fora Globo” acabou virando

símbolo do clamor popular por uma mu-dança na legislação que trata da comuni-cação no Brasil. Presentes na Constituição de 1988, os artigos referentes ao direito à Comunicação nunca foram regulamen-tados. Recente estudo divulgado pelo Instituto Perseu Abramo aponta que 71% dos entrevistados são favoráveis a que haja mais regras para se definir a programação veiculada pelas emissoras televisivas. E para 35%, os meios de comunicação defendem os interesses de seus donos.

“As manifestações de junho foram um termômetro importante, que revelou a insatisfação da população com relação

à forma que o povo é retratado pela mí-dia, muitas vezes de forma inverossímil e manipulada. Há um avanço paulatino da conscientização sobre a necessidade de transformações que revertam esse quadro”, aponta Rosane Bertotti, coor-denadora geral do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC).

Segundo a coordenadora do FNDC, a partir da democratização das comunica-ções é possível alcançar outras reformas fundamentais em busca da redução das desigualdades no país, entre elas a reforma agrária, política e urbana.

Para Cintia Xavier, diretora do ANDES-SN

Matéria Central

Democratização da comunicação como instrumento de lutaEm agosto, foi lançado nacionalmente o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática. Durante o 58º Conad, os delegados aprovaram o apoio do ANDES-SN ao projeto e a participação na coleta de assinaturas, por entenderem que a regulamentação da comunicação é um passo importante para consolidar o processo democrático no país

Pedro Eckman e Rosane Bertotti apresentaram o Plip da Mídia Democrática na Câmara dos Deputados. O projeto precisa de 1,3 milhões de assinatura para ir à votação

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Democratização da comunicação como instrumento de lutae representante do Sindicato Nacional no FNDC, as greves e manifestações promo-vidas pelo Sindicato, assim como pela so-ciedade civil, são encaradas de uma forma preconceituosa pela mídia hegemônica. Assim, uma das formas de conseguir a descriminalização dos movimentos sociais é a partir de uma mídia mais democrática, menos servil aos interesses de segmentos muito específicos da sociedade. “Somente com uma mídia democrática poderemos ter isonomia para o tratamento de diversas mazelas da sociedade que até hoje são tra-tadas de forma superficial ou não existem para a mídia organizada como está”, avalia.

O 58º Conad do ANDES-SN, realiza-do em julho, aprovou a ampla participação dos docentes e do Sindicato Nacional, e suas respectivas Seções Sindicais, na cam-panha pela coleta de assinaturas e pela aprovação do Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Mídia Democrática (Plip), con-forme definido no 32º Congresso, em março deste ano.

Plip da Mídia DemocráticaPara trazer este debate à sociedade e

tentar pautar a regulamentação da Lei da Radiodifusão no Parlamento, a campanha Para Expressar a Liberdade, encabeçada pelo FNDC, lançou neste mês de agosto, no Congresso Nacional, o Plip da Mídia Democrática.

Segundo Rosane Bertotti, o projeto de lei é resultado concreto de lutas empreendidas nas últimas duas décadas em torno de um novo marco regulatório para as comunicações no Brasil. “É fruto

de debates amplos, sistematizados na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2009, e amadurecidos de lá pra cá a partir de discussões com movimentos sociais, sindicatos, juristas e acadêmicos, que lançaram no ano passado a campanha Para Expressar a Liberdade – uma nova lei para um novo tempo. O Projeto de Lei da Mídia De-mocrática é o resultado desse esforço histórico”, explica. Ela acrescenta que o movimento optou por encaminhar um Plip, ao invés de buscar apoio de parlamentares para encaminharem o projeto, por ser este “um instrumento inclusivo, de democracia direta, que

InformANDES/2013 9Matéria Central

Entre os pontos principais, o Plip da Mídia Democrática:↘ Regulamenta a definição constitu-cional de que o sistema de comunicação deve ser dividido entre público, privado e estatal;↘ Define as regras para ter uma licen-ça de um serviço de comunicação, que passará a ser dada por meio de critérios transparentes e com audiências pú-blicas. Proíbe o aluguel de espaços da grade de programação, assim como a transferência da licença, e que políticos sejam donos de emissoras de rádio e televisão;↘ Também estipula as regras para impedir a formação de monopólio nos meios de comunicação, proibindo que um mesmo grupo econômico seja pro-prietário de rádios, televisões, jornais e revistas em uma mesma localidade, com exceção dos pequenos municí-pios; define o direito de antena para grupos sociais; o direito de resposta; a presença de conteúdo nacional e re-gional; garante a proteção da infância e adolescência;↘ Define como se dá a participação social na elaboração, debate e acompa-nhamento das políticas de comunicação para o país, com a criação do Conselho Nacional de Políticas de Comunicação;Com a aprovação de uma nova legislação, as grandes empresas de comunicação te-rão que fazer o que manda a lei. Os oligo-pólios e monopólios não podem existir.

Cintia Xavier ressalta a importância da participação das Seções Sindicais na coleta de assinaturas para o projeto

O Plip da Mídia Democrática prevê, entre outros pontos, o fim do monopólio nos meios de comunicação

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InformANDES/201310Matéria Central

expressa a verdadeira vontade das ruas e pode promover a conscientização da população”.

Para o coordenador do Intervozes e integrante da Executiva do FNDC, w é importante para afirmar, ao conjunto da sociedade, a necessidade de discutir a comunicação como um direito e não apenas como um negócio comercial. “O lançamento consegue colocar esta ques-tão para um conjunto de organizações do movimento social, e é simbólico que seja feito aqui no Congresso Nacional porque é aqui que ele vai tramitar”, explicou durante a atividade, ocorrida no dia 22 de agosto.

O projeto apresentado visa regula-mentar os dispositivos constitucionais que tratam da radiodifusão no país, com o objetivo de promover a pluralidade de ideias e opiniões; fomentar a cultura nacional, a diversidade regional, étnico--racial, de gênero, classe social, etária e de orientação sexual; garantir os direi-tos dos usuários, entre outras questões relacionadas à comunicação eletrônica. “Esses artigos descrevem bem como ter uma comunicação democrática no Brasil, mas não há nenhuma lei que regulamente estas intenções”, pontuou Eckman.

De acordo com o representante do Intervozes, o Plip pretende reequilibrar o espaço das comunicações para que a população, em conjunto, possa difundir a informação de forma mais democrática. “Queremos fazer a reforma do ar brasi-leiro, buscando equilíbrio entre o sistema público, estatal e privado do Estado, e dividir os espaços para os diversos tipos de comunicação, para que ele não se torne único e monopólico no país”, acrescentou.

Controle Empresarial X Controle SocialDesde que a discussão sobre a demo-

cratização da comunicação ganhou força, após a Confecom de 2009, os veículos de comunicação têm pautado a questão sob o fantasma da censura, como se o obje-tivo do projeto fosse barrar a liberdade de imprensa e expressão destes meios.

Frente a esta argumentação, Rosa-ne Bertotti ressalta que o Plip trata apenas das concessões de TV e rádio, que são públicas, e não legisla sobre a comunicação impressa. “A regulação da radiodifusão confere mais liberdade, não o contrário: garante pluralidade e diversidade de vozes. Na prática, é preciso avançar no debate com a po-pulação sobre o direito que ela tem à comunicação para combater esse dis-curso, que se configura em uma cortina

coNfira aLguNS dadoS aPoNtadoS Na PeSquiSa “democratização da mídia”, reaLizada PeLo NúcLeo de eStudoS e oPiNião PúbLica da fuNdação PerSeu abramo, divuLgada No mêS de agoSto. o LevaNtameNto moStra que boa Parte da PoPuLação tem PercePção da faLta de PLuraLidade e democracia da mídia braSiLeira.

O estudo entrevistou 2.400 pessoas junto a uma amostra representativa da população brasileira a partir de 16 anos, e cobrindo as áreas urbana e rural de 120 municípios (estratificados em pequeno, médio e grande porte) das cinco macrorregiões do país.

• Sete em cada dez brasileiros/as não sabem que as emissoras de TV aberta são concessões públicas. Para 60% são “empresas de propriedade privada, como qual-quer outro negócio”;

• 71% são favoráveis a que haja mais regras para a programação veiculada na TV;• 66% a favor de que TV não veicule palavrões (66%);• 61% favoráveis a que não exponha gratuitamente o corpo da mulher;• Para 57% da população brasileira, a TV trata dos problemas do Brasil menos que

deveria;• 43% não costumam se reconhecer na TV;• 25% se veem retratados negativamente;• 28% nunca não se identificam com o modo de pensar das pessoas mostradas;• 58% avaliam que nem sempre a TV abre espaço para a diversidade de opiniões,

24% nunca;• 55% vê a defesa de seus interesses na TV só de vez em quando, 29% nunca;• A maioria considera que a TV retrata as mulheres às vezes (47%) ou quase

sempre (17%) com desrespeito, assim como desrespeita os nor-destinos às vezes (44%) ou quase sempre (19%), e ainda a popula-ção negra (49% e 17%, respecti-vamente) – sendo esta retratada menos do que deveria (52%);

• 61% afirmam que a TV costuma dar mais espaço para os empresá-rios (61%) que para os trabalhado-res (18%);

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Desde junho, manifestantes realizam atos em frente às sedes da Rede Globo

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InformANDES/2013 11

de fumaça para o debate”, comenta a coordenadora do FNDC.

Eckman alerta para o fato de que o ata-que por parte dos detentores do oligopólio da mídia deve se intensificar à medida que o debate sobre o projeto de lei da Mídia Democrática ganhar força junto à sociedade. “Quando a aprovação de um projeto como esse for concreta, com certeza os grandes meios de comunicação tradicionais vão reagir de forma muito violenta”, prevê.

Segundo o coordenador do Intervozes, o próximo passo da campanha “Para Expressar a Liberdade” é intensificar o debate com a sociedade e a conscientiza-ção dos movimentos sociais que apoiam o Plip. “Vamos para as universidades, vamos realizar cursos de formação junto aos movimentos sociais sobre o projeto de lei, debater artigo por artigo, para que as pessoas possam se apropriar em relação ao texto e à proposta, porque é importante que os movimentos sociais estejam com a defesa dos argumentos na ponta da língua. É muito importante que estejamos prontos para responder que a aprovação desse projeto é um avanço na consolidação da democracia, é a ampliação da liberdade de expressão e não a censura de um meio de comunicação, ou de outro, como eles vão querer fazer entender”, ex-plica Eckman, que acrescentou: “foi assim que eles fizeram na Argentina, no Uruguai, e é assim que eles reagem quando seus interesses econômicos são preteridos em nome do interesse público”.

Cintia Xavier reforça a importância de a comunidade acadêmica se apropriar do debate e compreender a relevância do movimento de democratização da comuni-cação. “Os grandes meios de comunicação têm o hábito de tratar tais projetos de lei como algo prejudicial à qualidade da informação e também ao próprio acesso à comunicação. Assim, é fundamental que o ANDES-SN e outros movimentos populares procurem difundir o que é o projeto e quais são as reais intenções de tal iniciativa”, ressalta.

Por que é importante participar?Com a possibilidade de mais vozes e

pontos de vista circulando, temas como financiamento e qualidade da educação pública e da saúde pública, reforma da previdência, auditoria da Dívida Pública, entre tantas outras bandeiras defendidas pelo ANDES-SN poderão ser abordadas de forma mais adensada, contextualizada e não criminalizada, como acontece atualmente.

Para a coordenadora geral do FNDC, a participação do ANDES-SN na luta pela democratização da comunicação é funda-mental. “Além de sua representatividade política, histórica e combativa em relação às pautas mais progressistas da agenda brasileira, o ANDES-SN, por representar a categoria docente, tem papel central nesse processo de conscientização da população nas muitas salas de aula em que está presente e nas ruas do país. A comunidade acadêmica é responsável pela produção e reprodução de valores e discursos que impactam o conjunto da sociedade”, ressalta.

Cintia destaca que o ANDES-SN tem reforçado junto às suas Seções Sindicais a necessidade de fomentar o debate acerca do tema, fortalecer a coleta de assinaturas

e ampliar a divulgação do Projeto de Lei da Mídia Democrática.

“Como o Sindicato se organiza pela base, são as Seções Sindicais que devem fazer o trabalho de coleta de assinaturas e disseminação dos pontos do projeto de lei. Somente com o trabalho de cada Seção Sindical será possível garantir o maior número de assinaturas, além da com-preensão sobre o que de fato significa democratizar a comunicação em um país com as dimensões continentais que temos”, explica a diretora do Sindicato Nacional. Ela acrescenta que, entre os dias 4 e 6 de outubro, o ANDES-SN promove o III Encontro Nacional de Comunicação, que deve reunir as Seções Sindicais para debater também o projeto de lei, entre outros temas.

Matéria Central

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InformANDES/201312Entrevista

Alguma situação em particular te levou a trabalhar com a questão política nos seus desenhos?Carlos Latuff: Eu tinha vontade de trabalhar

em um jornal, só que eu não era famoso, não tinha quem indicasse, eu tentava os grandes jornais e não conseguia e aí quem abriu as portas para mim foi a imprensa sindical. É difícil afirmar o que foi o fator determinante, mas eu posso falar que houve um processo de conscientização que se deu com o meu conta-to com a imprensa sindical, já que me fez ver as bandeiras da esquerda. Este acúmulo de conhecimento que eu obtive a partir do con-tato com a imprensa sindical foi o que deter-minou o meu lado artístico militante.

Qual a importância do seu trabalho para a luta de classe?C.L: Eu não sei se contribui para a luta de

classe, mas creio que a charge facilita o enten-dimento de algumas questões, condensando e tornando de mais fácil compreensão ideias políticas que de outra maneira seria mais complicado discutir e explicar.

Em vários momentos, você contribui com charges para o movimento estudantil e alguns de seus desenhos acabaram virando

símbolo da luta dos estudantes. O que leva o seu envolvimento com o movimento estudantil?C.L: O movimento estudantil é, provavel-

mente, a primeira experiência de militância para muitos jovens. É ali que ele vai ter esse contato de choque com a realidade, que começa a partir da escola e vai para as ruas. Então, é nesse movimento que ele vai saber sobre as mazelas da política e da sociedade, é ali que ele vai ter esse contato de uma ma-neira que possa intervir. O movimento estu-dantil é o primeiro movimento social em que podem participar muitos jovens. Acompanhei o movimento estudantil não só no Brasil, mas em outros países como no Chile, na Turquia, e vi o tanto que os militantes estudantis estão tomando a frente, estão reivindicando, lutan-do. O movimento estudantil é muito nobre e me orgulha ser chamado pelos estudantes em vários estados do Brasil a participar, seja presencialmente ou através das charges. Eu, quando jovem, não participei de nenhum movimento estudantil, porque não me inte-ressava e fui fazer isso depois de ‘burro velho’. É uma honra muito grande ser lembrado pelo movimento estudantil.

Qual sua opinião sobre a cobertura que os veículos tradicionais de

imprensa dão às questões que você aborda nos seus trabalhos? C.L: A grande imprensa, que diz ser isenta,

na verdade tem um lado e o lado dela é do grande capital. Então ela apoia Israel, apoia os Estados Unidos, apoia as grandes corpo-rações, apoia os anunciantes, porque no final das contas eles que fazem o jornal funcionar, são os anúncios que os mantêm. A chamada grande imprensa tem que estar do lado do mais forte.

Como você vê a questão da criminalização dos movimentos sociais e a forte repressão às manifestações recentes?C.L: Não me surpreende, porque o regime

capitalista funciona nesta lógica realmente. Quem quer que se levante, que se insurja con-tra essa desigualdade produzida pelo sistema capitalista irá sofrer as consequências, essa criminalização. Me causa apreensão o fato de que alguns segmentos, até mesmo da antiga esquerda no Brasil, têm abandonado o pensa-mento revolucionário em troca do pensamen-to reformista. O regime capitalista não pode ser melhorado, não pode ser humanizado, não existe estupro com amor, portanto não existe capitalismo com amor. É preciso que a gente tenha noção clara de que o capitalismo

A arte de denunciarPor Renata Maffezoli

“A função do artista é violentar”, disse Glauber Rocha. A frase do cineasta na capa do blog do chargista Carlos Latuff descreve bem o papel de seu

trabalho. Conhecido pelos desenhos críticos, principalmente contra a violência policial e em defesa da causa palestina, o artista também empresta seu traço aos movimentos sociais e sindicais e contribui, com suas charges, para sintetizar vários temas presentes na luta da classe trabalhadora.O interesse por temas de cunho político surgiu devido ao seu trabalho na imprensa sindical, onde onde Latuff teve contato com as pautas dos trabalhadores. Já a denúncia frente à atuação da polícia no Brasil vem da indignação com a impunidade “O que me tocava era ver que pessoas inocentes eram assassinadas sem qualquer possibilidade de defesa”, contou o chargista ao InformANDES. Confira a entrevista concedida pelo cartunista a esta edição.

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InformANDES/2013 13

precisa ser derrubado. A criminalização do movimento social, das lutas sociais, da luta do povo é que mais sofre com o capitalismo, é o alvo. Não espere que o sistema inclua os movimentos sociais. O sistema é excludente e é exatamente por ser excludente que faz a máquina funcionar. É preciso ter os pobres trabalhando para os ricos, então o sistema sempre vai ser excludente.

Algumas temáticas são recorrentes em seus trabalhos, como a violência policial. Por que o foco neste tema? Como você avalia a questão da violência policial?C.L: Quando comecei a desenhar a respeito

da violência policial não houve uma elabo-ração tão maior sobre a violência do Estado, terrorismo de Estado. O que me tocava era ver que pessoas inocentes eram assassinadas sem qualquer possibilidade de defesa ou dessa situação se reverter. Então, o que me motivou a desenhar sobre a violência policial foi este fato.

Você já enfrentou algumas ameaças e inclusive repressão policial aos seus trabalhos. Você poderia comentar um pouco sobre isso?C.L: Desde que eu comecei a desenhar

sobre o segmento policial, a partir de uma exposição virtual chamada “A polícia mata”, em 1999, por conta dos trabalhos fui forçado a prestar depoimento na delegacia por três vezes. Tive também um outdoor alusivo à violência policial no Rio de Janeiro que foi vandalizado de madrugada, o governador Sérgio Cabral interviu para que o outdoor fosse tirado. No Brasil, a temática da violência policial é um tabu. E quem tem coragem de denunciar corre um sério risco de censura ou até mesmo de morte.

Na carta em resposta à recente ameaça à sua vida, feita através das redes sociais por conta da sua manifestação e comentário a respeito do casal de policiais que foi assassinado em São Paulo, você disse que se orgulhava das ameaças e fez um chamado aos partidos e movimentos de esquerda para que continuem na defesa ou para que entrem na defesa dos direitos humanos e contra a violência policial. Qual o teu posicionamento sobre a desmilitarização da polícia e por que você fez esse chamamento?C.L: No caso da desmilitarização, não tem

só que acabar com a Polícia Militar, mas sim acabar com a filosofia militarista na força

policial, porque até mesmo a Polícia Civil, como é o caso do Rio de Janeiro com a Core (Coordenadoria de Recursos Especiais), traba-lha com uma lógica de Infantaria, de Exército. Você vê o policial da Core, ele parece um soldado do Exército, de preto, coturno, capa-cete, parece um militar. Esta filosofia de In-fantaria, da eliminação física do inimigo, tem que ser abolida da polícia. O policial tem que cumprir a lei, ele não é um infante, porque na Infantaria o papel dele é eliminar o inimigo. A polícia não é isso. No caso do Brasil, o ini-migo tem sido o pobre, o negro, o pobre da favela, o movimento social. Então, quando eu conclamei o movimento social de esquerda a cada vez mais levantar esta bandeira é por-que esta polícia, que a gente tem como apa-rato de repressão, é utilizada contra o pobre e contra o militante. Várias ameaças a gente consegue denunciar, mas em estados como

Rondônia, Pará, Roraima, os trabalhadores sem terra lá da Liga dos Camponeses Pobres são assassinados cotidianamente e você nem ouve falar, assim como as ameaças aos povos indígenas no Mato Grosso. No Brasil, você tem um histórico de repressão aos pobres das favelas e aos militantes da esquerda que já vem de longa data. Acredito que a gente cada vez mais se movimente contra isso. Quando disse que eu me orgulhava das ameaças é porque elas vêm de segmentos de extrema direita. Não recebi ameaças do MST, não recebi ameaças dos Sem Teto, não recebi ameaças de militantes da esquerda. Recebi ameaças de figuras que se identificam como militares, nacionalistas exacerbados, antico-munistas, antipetistas, essas figuras todas estão unidas por um mesmo viés ideológico da extrema direita. Isso me faz crer que eu esteja no caminho certo.

Entrevista

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14 InformANDES/2013Movimentos Sociais

Por Nayane Taniguchi

O aumento das manifestações e paralisações ao longo do ano, protagonizadas por estudan-tes de instituições de ensino

superior (IES) – estaduais, federais e par-ticulares - em vários estados brasileiros, denunciam a situação precária vivida pela comunidade acadêmica. Mais que a preocupação com o atraso na conclusão do curso, muitas vezes consequência da falta de professores para ministrarem as disciplinas previstas nos currículos, os alunos estão apreensivos com a qualida-de do ensino superior que garanta uma formação de excelência.

As precárias condições das Ifes, por exemplo, foram intensamente denuncia-das por toda comunidade acadêmica na greve de 2012, com duração de mais de 120 dias. Após as manifestações ocorridas em junho desde ano, que contam com grande participação de jovens e estudan-tes, as mobilizações ganharam ainda mais força, e foram levadas novamente para dentro do ambiente acadêmico.

De junho a agosto, os estudantes rea-lizaram diversos atos – desde protestos a ocupações e greves – em São Paulo, Para-ná, Pará, Paraíba, Mato Grosso, Maranhão, Rio de Janeiro, Goiás, Pernambuco, Bahia, além do Distrito Federal (DF) e outros es-tados, em instituições como Unesp, USP, Ufscar (SP); Unicentro e UEM (PR); UFPA (PA); UFPB, UFCG (PB); UFMT (MT); UFMA (MA); UFRJ, Gama Filho e UniverCidade (RJ); UEG (GO); UFRPE (PE); UFBA, UFOB (BA); e UnB (DF).

Segundo informação da Assembleia Nacional de Estudantes Livre (Anel), os estudantes da USP exigem democracia na universidade, com eleições diretas e paritárias para reitor. Os alunos de Direito fizeram greve por falta de professores, e na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (Echa) há reivindicação por assistência estudantil. Em Recife, os alunos da UFRPE lutam contra o fechamento do hospital veterinário. A falta de professores, de assistência estudantil e problemas com estrutura estão presentes nas pautas dos estudantes da UFMT, UFPE, UFPA, UFPB, UFRJ, UFBA, UEM. Na UFRJ, os alunos

participam ainda de atos contra a Ebserh.A estudante Clara Saraiva, da Comissão

Executiva Nacional da Anel, aponta dois fatores para o aumento da mobilização dos estudantes nas instituições: o acir-ramento dos problemas nas instituições de ensino, fruto da política educacional do governo, relacionada ao “acúmulo das contradições causadas pela expan-são do Reuni”, e um incentivo maior de lutar para conquistar vitórias concretas, estimulada pelo movimento. “Os estu-dantes já vinham se mobilizando desde antes de junho. Nós da Anel chegamos a esta avaliação, de que a greve de 2012 e as mobilizações ocorridas ano passado já eram um prenúncio do que viria em junho deste ano. O movimento estudantil é mais sensível a grandes convulsões e grandes momentos de transformação social no país. Esse processo de acirramento das lutas agora em agosto é um pouco do que a gente esperou que acontecesse na volta as aulas. Houve uma mudança da situação do país, de mais lutas, e era natural que o movimento estudantil enfrentasse isso com mais força”, avalia.

Além da jornada de lutas da Anel para agosto (confira no box abaixo), Clara acres-centa que a Assembleia tem se articulado para o Dia Nacional de Paralisações, em 30 de agosto. “Estamos puxando com força a participação da Anel nas paralisações

Manifestações estudantis expõem situação precária das instituições de ensino superior no paísProtestos, greves e ocupações denunciam problemas como falta de professores e técnico-administrativos, infraestrutura e carência na assistência aos alunos

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Localizados a 500 km de Cuiabá, estudantes do Campus Sinop da UFMT se deslocaram até a capital para pressionar a Reitoria a negociar

Durante a greve que durou quase um mês, estudantes da UFMT/Sinop passaram 12 dias acampados na Reitoria

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InformANDES/2013 15

e atos dos trabalhadores de fora da uni-versidade, mas especialmente com ações dentro das universidades para fazer um grande dia nacional de greve da educação”.

Conquistas do movimentoEstudantes da UFPA e do campus de

Sinop da UFMT obtiveram conquistas a partir da forte mobilização dos estudan-tes nas universidades. Durante um mês e meio, alunos dos cursos de Museologia, Cinema e Comunicação Social da UFPA fizeram paralisações, segundo a coordena-dora-geral do DCE da universidade, Sílvia Guerreiro, quase todos pelo mesma razão: falta de professores e de estrutura para as aulas práticas, salas de aula, e prédio para abrigar os cursos de Cinema e Museologia. “O curso de Cinema foi o que mais per-maneceu em greve. É um curso novo que não tem a mínima estrutura. A primeira turma está se formando e os alunos que estão concluindo ainda não tiveram aula prática”. De acordo com a estudante, há equipamentos do curso de Museologia encaixotados por falta de espaço para instalação. Na Comunicação, curso mais antigo, os alunos reclamam da falta de equipamentos e têm aulas com câmeras fotográficas analógicas, por exemplo. “Re-solvemos parar as disciplinas porque não estava dando para assistir as aulas, que eram de fachada, e não práticas. A falta de estrutura e a precarização incentivou os alunos a entrarem em greve como forma

de pressionar a universidade”, acrescenta. “A expansão da universidade pelo Reuni

foi muito mal administrada. Os estudantes viram na prática isso acontecendo. No caso dos novos cursos, não se sabe onde foi aplicado o dinheiro do Reuni e se ele veio de fato, há má gerência dos recursos e não há transparência sobre a verba do Reuni. O quadro de precarização se agra-vou”, avalia a estudante.

Após a paralisação, segundo Sílvia, a Reitoria se comprometeu a comprar os equipamentos, concluir a construção do prédio Ateliê de Artes até novembro e contratar novos professores. “Foi uma vitória grande, uma conquista. Os alunos fizeram uma greve deles mesmos e pude-ram ver como uma mobilização um pouco

mais radicalizada pode surtir efeito maior dentro das instituições”, afirma. Para a estudante, o apoio do movimento docente foi fundamental. “A Adufpa [Seção Sindical do ANDES-SN] deu assessoria jurídica, os professores foram conversar com os ou-tros e passamos a ter mais apoio. Muitas das lutas já eram feitas pelos professores, eram pautas das greves do ano passado. Sem o apoio seria difícil e ele deu agilidade para resolver problemas”, conclui.

A falta de estrutura e de assistência estudantil também mobilizou os estudan-tes do campus de Sinop da UFMT. Após 27 dias de greve e ocupação da Reitoria em Cuiabá, onde os estudantes ficaram acampados por 12 dias, o presidente do DCE do campus Sinop da UFMT, Miller

Movimentos Sociais

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A mobilização dos estudantes garantiu conquistas na UFPA

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InformANDES/201316

Junior Caldeira Gomes, também avalia o movimento como vitorioso. “Já temos algumas promessas: o funcionamento do hospital veterinário em 60 dias, além de garantia de acesso a internet, ampliação da biblioteca e construção de guarita, espaço para sala de estudo e vivência, e a retomada de obras após o movimento. Os processos para compra e estrutura de laboratórios também foi encaminha-do e chegaram alguns computadores”, exemplifica.

“Víamos que a Reitoria não estava dan-do atenção ao campus de Sinop, localizado a 500 quilômetros da capital, e o recurso não estava chegando. Somado a falta de material para aula prática e espaço para biblioteca, que hoje atende 100 dos 3 mil alunos, há falta de professores, não temos internet no campus, guarita, casa do estudante, e a fazenda experimental precisa de experimentos”, explica Gomes.

Segundo o estudante, a primeira assem-bleia foi realizada no dia 17 de julho, e no dia 23 foi deflagrada a greve.

“Acredito que este é um problema não só de gestão, mas do governo que quer ampliar as universidades com o Reuni, mas não quer investir no quanto a uni-versidade precisa. Queremos educação de qualidade, não queremos salas cheias, queremos salas que tenham número de alunos que condiz com capacidade que a universidade tem para oferecer ensino, pesquisa e extensão. Isso nós não temos hoje”, avalia.

ReivindicaçõesDe modo geral, Clara aponta, como

questão central da Anel, presente também nas reivindicações dos alunos, a falta de assistência estudantil, que envolve a falta de restaurantes universitários, moradia, bolsas de estudos e de pesquisa, transpor-te ônibus internos. “Isso está relacionado diretamente com a permanência dos estudantes para que possam terminar os estudos, e é parte da expansão das federais, e que nas estaduais também houve um processo parecido com o Reuni”, explica. Segundo Clara, a Anel reivindica que o Ministério da Educação (MEC) invista R$ 2,5 bilhões no Programa Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes).

Clara acrescenta que a pauta dos estu-dantes nas diversas instituições também inclui pontos como falta de professores,

falta de segurança - que tem resultado nos aumentos de casos de estupro -, problemas com estrutura e democracia na universidade. “A falta de assistência estudantil combina também com a falta de estrutura para ga-rantir boas condições. Faltam salas de aula e nas universidades periféricas, talvez, é o que mais apareça. Faltam prédios para abrigar novos cursos, laboratórios, e nas escolas técnicas os laboratórios têm equipamentos antigos e defasados, que não dão conta da formação dos estudantes. Há situações em que os alunos começam o curso e não têm duas disciplinas porque não tem professor para dar aula”, diz.

Articulação com outros movimentosPara Clara, a articulação com o mo-

vimento docente e de técnico-adminis-trativos é essencial para se conquistar mudanças concretas. “Sem esta aliança com os trabalhadores é impossível que o movimento estudantil sozinho conquiste as vitórias que a gente quer. A articulação com o ANDES-SN, Fasubra e Sinasefe é fundamental”. A estudante afirma ainda que a mobilização precisa estar ligada ao avanço da própria organização do movi-mento estudantil. “A Anel não traz só a capacidade de unificar nacionalmente as lutas, mas de educar o movimento para uma nova concepção, de luta, de movimento estudantil e de organização independente”.

Movimentos Sociais

Ocupação de Câmaras marca jornada de agosto da Anel

A jornada de agosto impulsionada pela Anel tem como marca a ocupação de Câmaras. Durante o mês, foram fei-tas ocupações nas câmaras municipais de Belo Horizonte, São Luís, Maceió, Campinas, Salvador, Rio de Janeiro, Recife e São Paulo. A pauta principal da jornada é o passe livre. “Como parte do fortalecimento das lutas locais, a Anel impulsionou uma luta nacional que pu-desse se expressar como uma força em todo o país mostrando que os estudan-tes querem reivindicar o passe livre e lutar por esse direito”, explica Clara.

“Estamos reivindicando o passe livre como tema principal, mesmo porque o tema do transporte público foi o que mais motivou, em primeiro lugar, e o que mais se expressou como continui-dade da jornada de junho. O passe livre é um direito da juventude, inclusive colocado na Constituição e nunca se respeitou, poucas cidades tem o direito garantido, mesmo assim limitado em alguns lugares com dois, três, quatro passes por dia”, acrescenta.

Outras reivindicações que a entidade estudantil traz na jornada de agosto é a exigência de que o Congresso Nacional revogue o Estatuto da Juventude, san-cionado recentemente pela presidenta Dilma Rousseff, e o Fora Cabral, no Rio de Janeiro.

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Estudantes vão às ruas dar visibilidade à precarização vivenciada nas IES

Falta de estrutura e a precarização incentivou os alunos a entrarem em greve na UFPA