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serenidadepor coisas sem sentido um filme de Sandro aguilar

sinais de

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Quando as brasas ou faíscas de fogo se pegarem ao vaso de água denota vento. Quando os montes ecoarem muito e o mar fizer grande ruído, denota ventos tempestuosos e tempestades no mar. Quando, ao amanhecer, aparecer muita névoa, denota serenidade por dois dias. a ver vamos.

Hd | cor | 2:35.1 | stereo | 28’

Com Isabel Abreu • Albano JerónimoGustavo Sumpta • Cristóvão CamposEva Aguilar • Eduardo Aguilar

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argumento, realização e montagem

assistente de realização

direcção de fotografia

assistente de imagem

direcção de arte

som

mistura

Colorista

direcção de produção

Produtores

FeStivaiS e prémioS

Curtas Vila do Conde – Competição nacional [Portugal, 2012]

Festival du Nouveau Cinéma de Montréal [Canadá, 2012]

Torino Film Festival [itália, 2012]

Rencontres Internationales Paris/Berlin/madrid [2012]

Festival Internacional de Cinema de Roterdão [Holanda 2013]

BaFici [argentina, 2013]

Sandro Aguilar

Paulo Guilherme

Rui Xavier

João Rosas

Nádia Henriques

Pedro Melo

Tiago Matos

Paulo Américo

Isabel Silva

Luís Urbano e Sandro Aguilar

FiCha téCniCa

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Sandro aguilar

nasceu em 1974 em 1997 conclui o curso de Cinema na área de montagem da escola superior de Teatro e Cinema. em 1998 fundou a produtora O som e a fúria.

Os seus filmes ganharam prémios em festivais como la Biennale di Venezia, Gijón, Oberhausen e Vila do Conde

entreviSta a Sandro aguilar

O título do filme é “Sinais de Serenidade por Coisas Sem Sentido”. Quando tem a ideia de fazer um filme, costuma ir em busca de sinais. Por outro lado, o cinema procura o sentido que existe entre as coisas.

Procuro o que acontece entre os acontecimentos. sigo o fluxo de uma energia e crio uma rede de simetrias e de reenvios entre coisas. aqui, há uma abordagem a um imaginário darwin, no sentido de descobrir a manifestação de pequenas coisas - as crianças, as plantas, uma energia do sexo - num percurso errante que as personagens fazem dentro de um espaço.

interessa-me sugerir algo que está para lá do que estamos a ver. O cinema que faço progride através desses reenvios de energia, de espaços e de intervalos entre os acontecimentos, e o espectador vai sendo conduzido. O título é uma apropriação de um texto, lido no início por

Curtas-metragens diVe: aPPrOaCH and eXiT [2013] sinais de serenidade POr COisas sem senTidO [2012]merCÚriO [2010]VOOdOO [2010] arQuiVO [2007] a serPenTe [2005] remains [2002] COrPO e meiO [2001] sem mOVimenTO [2000] esTOu PerTO [1998]

longas-metragens a ZOna [2008]

e foram exibidos, entre outros, em Torino, Belfort, montreal e Clermont-ferrand.

sandro aguilar foi alvo de retrospectivas no BafiCi e no festival de Cinema de roterdão.

uma criança, que é uma espécie de almanaque que tenta encontrar sinais, uma previsão meteorológica. são tempestades anunciadas em pequenas coisas. eu filmo essas pequenas coisas, mas há sempre uma ressonância maior.

Isso é algo imaterial, uma sensação. Mas também filma coisas muito materiais, como os corpos das personagens. É uma ligação entre o material e o imaterial que está à volta dele e o condiciona. É importante a construção desse espaço?

Quase tudo deriva de algo de concreto, não tenho uma abordagem metafísica aos filmes. faço emanar algo maior e concreto a partir de uma coisa também concreta. aqui, há uma sugestão de mutação de um ser alienígena. Já explorei isso em arquivo [2007], que tinha um contexto também laboratorial, uma abordagem a

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um pequeno fenómeno e ao que ele pode representar na ordem natural das coisas. Tinha a ver com a morte e a possibilidade de um ser, um peixe, que era retirado fora da água, de morrer e renascer. e isso, de repente, mudava tudo.

uma imagem que me ficou, quando andava no liceu, era pôr a água a 100 graus e ver que ela ia ferver. isso é verdade enquanto testarmos todas as infinitas possibilidades em que isso acontece. mas pode haver uma em que não acontece, e é nesse intervalo que gosto de me instalar.

Isso é trabalhar sobre o limite da nossa percepção das coisas. Há momentos em que estamos muito próximos dos corpos e eles reagem, parece haver uma procura sobre até que ponto podemos representar o que os corpos sentem na sua sensualidade.

são fluxos de energia que têm a ver com o nascimento, o crescimento, e uma pulsão sexual que é independente da consciência que as personagens podem ter. É uma procura instintiva de resolver o problema de um corpo, e as personagens seguem os desígnios desse corpo.

Há um momento em que se quebram limites, como uma cena de amor em que passamos a ver plantas e organismos. A barreira que fazemos entre vida e morte deixa de fazer sentido. Interessa-lhe quebrar esse limite?

Quase não faço outra coisa. a maior parte dos meus

filmes tem a ver com habitar essa fronteira entre vida e morte. Tem a ver com mudar as regras do jogo, e anda muito à volta desta tensão operativa entre estar vivo e morto. Parece-me mais sugestivo trabalhar sobre esse momento de transição.

A construção desse espaço deve-se, sobretudo, à montagem. Considera esse o momento em que o filme finalmente se faz?

É onde afino e termino o filme. muitas vezes, o conceito de início é vago, como uma imagem que me atrai, e escrevo à volta desse instinto. É uma matéria-prima que serve para ter coisas a acontecer num espaço. a cada dia de rodagem, vou improvisando. Os argumentos são apenas um ponto de partida. e onde me torno brutalmente racional é quando reorganizo esse material a nível de montagem e dou-lhe um sentido. escrevo para poder filmar e filmo para poder montar.

Entrevista por Francisco Valente

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Ondasas

um filme de miguel FonSeCa

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diante de mim, paisagens da costa, verdadeiramente belas. Para sempre ligadas a estas imagens, a minha juventude, o meu paraíso perdido. O imenso oceano, as praias, as pessoas morrendo docemente, tristemente. a vida e a morte estavam a ser aqui filmadas como um todo: a morte como parte da vida, uma mudança cósmica, uma transformação. e as ondas, indiferentes a tudo.

DCP 24fps | 16:9| 5.1 | Cor | 22’

Com

Andreia Contreiras • Alice Contreiras

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argumento e realização

direcção de fotografia

montagem

som

direcção de Produção

Produtores

FeStivaiS e prémioS

Edinburgh IFF – Competição Curtas metragens [reino unido, 2012]: menção especial do Júri

Festival Internacional de Cinema de Ghent: eFa Short Film award [Bélgica, 2012]

Bucharest Int. Experimental FF [roménia, 2012]: prémio melhor Fotografia41º Festival Internacional de Cinema de Roterdão [Holanda, 2012]

Hamburg International Short Film Festival [alemanha, 2012]

Image Forum Festival [Japão, 2012]

Festival Internacional de Curtas-Metragens de São Paulo [Brasil, 2012]

Festival de Cinema de Martil [marrocos, 2012]

Split Film Festival – international festival of new film [Croácia, 2012]

Curtas Vila do Conde – Competição nacional [Portugal, 2012]

Encounters Bristol International Film Festival [reino unido, 2012]

Festival du Nouveau Cinéma [Canadá, 2012]

Gilmli Film Festival [Canadá, 2012]

Festival International du Film de Belfort [frança, 2012]

Santa Maria da Feira [Portugal, 2012]

Corona Cork Film Festival [irlanda, 2012]

Minimalen Short Film Festival [noruega, 2013]

Festival International du Film d’Amour de Mons [Bélgica, 2013]

BaFici [argentina, 2013]

Miguel Fonseca

Mário Castanheira

Sandro Aguilar

António Pedro Figueiredo

Isabel Silva

Luís Urbano e Sandro Aguilar

FiCha téCniCa

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miguel FonSeCa

miguel fonseca nasceu em lisboa em 1973. estudou na universidade Clássica de lisboa onde se licenciou e pós-graduou em filosofia. em 2008 realiza a sua primeira curta, alPHa. Produz a curta experimental i KnOW YOu Can Hear me, um filme dentro de um filme – usando

entreviSta a miguel FonSeCa

Para além da paisagem da praia e das ondas, o filme parece ser também sobre a juventude. Esta paisagem é um marco da sua vida, algo que transporta hoje no seu olhar?

sim. O filme passa-se quase todo na praia e cheguei a pensar em filmar só o mar. É acerca do desejo de alguém que quer ir para o mar e não pode. esboçou-se então a ideia de ter uma irmã doente e outra não. Vemos uma pessoa que tem uma irmã que é quase ela própria, e tive a ideia de desenvolver uma doença que tivesse a ver com a respiração. É uma doença cruel e verdadeira, começa a aparecer na adolescência e as pessoas têm uma esperança de vida bastante reduzida.

O mar representa todas as possibilidades que uma das irmãs tem e a outra não. Cria-se uma situação de pura dependência em que uma pessoa não consegue estar

Curtas-metragens as Ondas [2012]i KnOW YOu Can Hear me [2010]alPHa [2008]

imagens do primeiro filme onde aparece John rambo, “first Blood”, realizado por Ted Kotcheff em 1982. em 2012 realiza a curta as Ondas. Trabalha como realizador e argumentista.

separada da outra. uma delas precisa de ser tratada e a outra não consegue ficar sem ela. se tivermos a morte da primeira, como a segunda não consegue não estar sem ela, é como se fosse a morte dela também. É uma questão de amor e morte desenhada entre as duas irmãs, uma espécie de Caim e abel.

interessava-me que o filme fosse tão doente como aquela personagem. Ou seja, que os dias se repetissem uns aos outros, que se sinta a falta de energia de uma pessoa que está a morrer. O mar é uma espécie de testemunha, como as ondas: este drama está a desenrolar-se à nossa frente e as ondas estão sempre ali. É uma indiferença da natureza, uma crueldade e uma repetição que está sempre ali.

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Nenhuma das raparigas representa a apenas vida e a outra a morte. São duas coisas que estão tanto numa como noutra, ao ponto de não se distinguir quem é que se está a ver. As ondas vão e vem como a vida e a morte, tal como naquelas personagens.

as ondas parecem uma respiração, que é aquilo que ela não tem. na literatura, o mar é uma espécie de túmulo, onde as pessoas desaparecem. Há um lado lunar nisso, parece que as irmãs estão a andar numa paisagem lunar. mais ninguém, ali, está a morrer como elas, mas num certo sentido, estamos todos. as irmãs vão desaparecer e as outras pessoas não são assim tão diferentes. mas as ondas vão ficar de forma contínua e quase castigadora.

A praia e o mar podem ser vistos como lugares onde o mundo começa e onde também acaba.

Tem a ver com a natureza. Há um plano delas deitadas, visto de cima. Quis fazê-lo porque, quando as pessoas estão deitadas na praia, parece que estão mortas, quietas. inspirei-me num quadro chamado morte de Cleópatra, em que ela está estendida no chão e parece estar a apanhar sol. O facto de serem bonitas e jovens dá força às personagens, porque o drama é cruel. não era suposto acontecer isso àquelas pessoas. Há ali um olhar muito frio que me assusta, quase divino.

Há um plano em que uma das raparigas, para ir ao encontro do mar, passa à frente de um rochedo enorme: é a escala da natureza contra a escala de um corpo que está a morrer. Tem a ver com o facto da vida ser finita e não conseguirmos ter a escala da natureza que vai estar sempre presente?

É a fragilidade daquela criatura, e depois, algo dado pela imagem. interessa-me o contraste entre aquela pessoa e o espaço gigantesco. e a praia tem essa dimensão lunar, com marcas no chão, feitas de passagens de carros, um efeito estranho. não é a praia que nós conhecemos, apesar de a ter filmado como se fosse um documentário.

Entrevista por Francisco Valente

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sOlOum filme de mariana gaivão

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a serra arde sob o calor de agosto.uma bombeira cai, engolida pelo solo.O corpo quebrado sobrevive como pode.lá fora, a noite desce.

Com

isabel abreu

HD | 16:9 | 5.1| Cor | 22’

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realização e argumento

director fotografia

directora som

directora arte

montagem

directora Produção

Produtores

FeStivaiS e prémioS

Festival du Nouveau Cinéma: loup argenté tFo para melhor curta internacional [Canadá, 2012]

Curtas Vila do Conde – Competição nacional [Portugal, 2012]

Split Film Festival – international festival of new film [Croácia, 2012]

Filmfest Dresden – international short film festival [alemanha, 2013]

Mariana Gaivão

Vasco Viana

Raquel Jacinto

Nadia Henriques

Mariana Gaivão, Sandro Aguilar

Isabel Silva

Luís Urbano e Sandro Aguilar

FiCha téCniCa

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mariana gaivão

nasceu em lisboa a 21 de fevereiro de 1984. estudou fotografia no ar.Co e Cinema na escola superior de Teatro e Cinema, na área de realização. Paralelamente, trabalha desde 2007 como montadora, tendo colaborado

entreviSta a mariana gaivão

Como partiu a ideia para o filme? Tomou conhecimento deste lugar preciso ou avançou para ele com a memória de um lugar que já conhecia?

O filme nasceu do encontro entre duas impressões viscerais. a primeira foi a natureza da minha infância: os meses que passava em Góis, na serra da lousã. lembro-me de um mundo primal à nossa volta, do vento que descia ao cair do dia, do negro da noite, do cheiro e do rugido de um enorme incêndio que nascia ao longe, do seu clarão laranja na noite e das cinzas na madrugada. À memória da terra em bruto, juntei o olhar de uma mulher desconhecida que fotografei há alguns anos. estava num pequeno barco de bombeiros, um corpo mais magro no meio deles mas de olhar intenso, de costas direitas, com uma pulsão de desafio. remetia-me para as mulheres de armas de Howard Hawks, uma dignidade quase de pedra mas vulnerável também, numa solidão e vigília

com, entre outros, marco martins, João Pedro rodrigues, Tiago Guedes, frederico serra e João salaviza.

em 2012 realizou a sua primeira curta-metragem sOlO.

constante. Parecia habitar o mundo na mesma medida da terra da minha infância.

a história foi nascendo de outras que ouvia desde pequena, contos de solidão e de sobrevivência ligados a incêndios e às antigas minas. mas a base real não me interessava tanto como o confronto entre aquele olhar desafiante e as forças brutas do mundo. Parti para um primeiro esboço já com um corpo específico em mente: a isabel abreu. e em Góis, sabia que havia o espaço certo para o processo que procurava: encontrar o filme a cada dia, filmar os incêndios de Verão, descobrir a casa certa e conseguir um luxo incalculável – ter tempo.

O filme oferece um percurso: a concentração de um corpo e a sua preparação para uma situação de sobrevivência. A câmara parece focar-se nessa concentração quase espiritual, até porque é um filme

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praticamente sem palavras e onde apenas os sons da natureza se impõem. Interessou-lhe desenvolver um caminho para o filme sob esse ponto de vista?

O caminho do filme foi sempre o da sensualidade do movimento até à imobilidade, de uma vastidão de escalas até ao confinamento, ou do coro de sons da floresta até ao quase silêncio. Havia uma igualdade entre a figura humana e a natureza que tentei procurar, uma certa imparcialidade entre o desejo em bruto de um corpo que corre, que arfa, e que luta, e o cair da chuva, o resvalar das pedras, e o correr do rio. É a mesma indiferença que sentimos quando estamos a sós na serra - podíamos cair numa vala e o mundo continua sereno à nossa volta, o vento sopra da mesma maneira e o rio corre para o mesmo sítio. aqui, a palavra não tem mais força do que o ranger das árvores, é apenas mais um som. descobri um maior rigor perante o som neste processo, o que me levou a regressar ao filme para redesenhar uma montagem sonora que suplantasse a escala das imagens e as erguesse para além do que vemos.

A natureza surge como um lugar de vida e de ameaça. Parece cercar o corpo pelo perigo do fogo e encerra-o num “buraco negro”. Por outro lado, é também aí que o corpo parece repousar, dormir. Interessou-lhe jogar com essa dicotomia?

Havia um movimento que me interessava no filme: o da lenta cadência das forças indiferentes sobre um corpo que se revolta, que se debate e se angustia até não conseguir mais. uma espécie de esvaziar, de se chegar ao fim do corpo.

assim, depois do movimento inicial do filme, que era sensual e vibrante, com a corrida arfante sob as copas fechadas, a carrinha aos solavancos no trilho para o incêndio, a montanha a arder sob a dança do fumo, vem a imobilidade, a rigidez, o silêncio. foi a primeira impressão que tive naquele espaço: a sua indiferença, o tempo passava e não acontecia nada. mas era um nada interessante: o vento soprava leve, os ramos rangiam, ouviam-se os pássaros. as nuvens passavam distantes lá em cima, começava a chover. Tudo igualmente indiferente a qualquer corpo ou luta e desespero. O corpo dela seria absorvido pelo espaço como se fosse lentamente quebrado por essa calma, para ficar camuflado e absorvido pela lama, pela chuva e pelo frio. não me parecia um acolher mas uma lenta digestão. Como se a calma fosse mais forte do que a luta e o silêncio mais alto do que os gritos.

Entrevista por Francisco Valente

SinaiS de Serenidade por CoiSaS Sem Sentido | aS ondaS | Solo © O sOm e a fÚria 2012