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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA INCIDÊNCIA DE ONDAS MARÍTIMAS EM PRAIAS DE NATAL/RN, NORDESTE DO BRASIL, 2012 A 2014 LÍVIAN RAFAELY DE SANTANA GOMES NATAL RN Janeiro de 2017

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Page 1: SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA INCIDÊNCIA DE ONDAS MARÍTIMAS … · highest waves during the period. In the extension of Ponta Negra and Via Costeira the cove of Morro do Careca has attenuated

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA

Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA INCIDÊNCIA DE ONDAS

MARÍTIMAS EM PRAIAS DE NATAL/RN, NORDESTE DO

BRASIL, 2012 A 2014

LÍVIAN RAFAELY DE SANTANA GOMES

NATAL RN

Janeiro de 2017

Page 2: SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA INCIDÊNCIA DE ONDAS MARÍTIMAS … · highest waves during the period. In the extension of Ponta Negra and Via Costeira the cove of Morro do Careca has attenuated

ii

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA INCIDÊNCIA DE ONDAS

MARÍTIMAS EM PRAIAS DE NATAL/RN, NORDESTE DO

BRASIL, 2012 A 2014

LÍVIAN RAFAELY DE SANTANA GOMES

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Ciências Climáticas,

do Centro de Ciências Exatas e da Terra

da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, como parte dos requisitos para

obtenção do título de Mestre em Ciências

Climáticas, área de concentração

Modelagem em Ciências da Atmosfera e

de Oceanos.

Orientadora: Profª. Drª. Maria Helena Constantino Spyrides

Co-orientadora: Profª. Drª. Rosane Rodrigues Chaves

Co-orientador: Prof. Dr. Venerando Eustáquio Amaro

COMISSÃO EXAMINADORA

Profª. Drª. Tereza Cristina Medeiros de Araújo (DOCEAN/UFPE)

Prof. Dr. Graco Aurélio Câmara de Melo Viana (DOL/UFRN)

NATAL RN

Janeiro de 2017

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iii

Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / SISBI / Biblioteca Setorial

Centro de Ciências Exatas e da Terra – CCET.

Gomes, Lívian Rafaely de Santana.

Simulação numérica da incidência de ondas marítimas em praias de Natal/RN,

Nordeste do Brasil, 2012 a 2014 / Lívian Rafaely de Santana Gomes. - Natal, 2017.

108f. : il.

Orientadora: Profa. Dra. Maria Helena Constantino Spyrides.

Coorientadora: Profa. Dra. Rosane Rodrigues Chaves.

Coorientador: Prof. Dr. Venerando Eustáquio Amaro.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Centro de Ciências Exatas e da Terra. Programa de Pós-Graduação em Ciências

Climáticas.

1. Regimes de ondas. 2. Wavewatch III. 3. SWAN. 4. Análise de agrupamentos.

5. Eventos atmosféricos. I. Spyrides, Maria Helena Constantino. II. Chaves, Rosane

Rodrigues. III. Amaro, Venerando Eustáquio. IV. Título.

RN/UF/BSE-CCET CDU: 551.466

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iv

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, por seu apoio e entusiasmo às escolhas

que fiz.

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v

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior

(CAPES) do Ministério da Educação do Brasil pelo aporte financeiro à pesquisa que

originou o presente trabalho.

Agradeço ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas – PPGCC,

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela disponibilidade de

infraestruturas, de material e de recursos humanos.

Agradeço ao Laboratório de Geoprocessamento da UFRN (GEOPRO) pelo

aparato físico e didático essencial à realização do presente estudo.

Agradeço à Profa. Drª. Maria Helena Spyrides pela dedicação e carinho

perante minhas dificuldades nas vicissitudes e desafios de um universo novo

(Estatística em Ciências do Clima).

Agradeço à Profª. Drª. Rosane Chaves pela orientação e confiança durante a

minha incursão nas Ciências Climáticas.

Agradeço ao Prof. Dr. Venerando Amaro por estar presente, desde longa

data, durante meu caminho acadêmico - em seus altos e baixos – equilibrando-me

pela mão, quando sigo em cambaleantes passos.

Agradeço à Drª. Fátima Matos pela espontânea amizade, além do amplo

suporte e incentivo, principalmente durante as horas mais laboriosas desta pesquisa.

Agradeço à Msc. Ana Marcelino, por me trazer à luz das discussões que

interpõem elo entre demanda social e pesquisa científica no Brasil – ajudando-me a

encontrar sentido neste esforço.

Agradeço a todos os meus colegas do PPGCC, pelo excelente ambiente de

estudos e de crescimento pessoal.

Agradeço a meus pais e irmão, pela infinita compreensão e apoio, dia após

dia, mesmo suportando minha ausência.

Agradeço ao meu querido Heriscarth, por toda paciência, incentivo e conselho

para que eu não perdesse de vista as primordiais motivações.

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Criança com a pipa: pés na areia molhada e pensamento nas nuvens.

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vii

RESUMO

Ao longo do litoral do Rio Grande do Norte, verificam-se picos de erosão em praias

arenosas, com impactos negativos do ponto de vista social e econômico, em que

ondas marítimas foram importante fonte de energia para carreada de sedimentos.

Neste trabalho, averiguou-se o regime de ondas incidentes sobre parte do Litoral

Oriental do Rio Grande do Norte, especialmente na orla entre a Praia de Ponta

Negra e a Via Costeira, trecho do litoral urbano de Natal/RN, entre os anos de 2012

e 2014. Aplicou-se modelo de simulação numérica SWAN, desenvolvido pela

Universidade Tecnológica de Delft, operado pela interface gráfica SOPRO, do

Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal. Como condições iniciais e de

contorno, em mar aberto, foram utilizadas informações de altura significativa, período

médio e direção de propagação de ondas oriundas da base Wavewatch III - WWIII.

Representou-se a batimetria com as cartas náuticas 810 e 22100 da Marinha do

Brasil e o nível de água do marégrafo do Porto de Natal. Para segmentação em

intervalos sazonais, aplicou-se Análise de Agrupamento à série WWIII, testando-se a

significância dos grupos por teste ANOVA de variância. Os meses de janeiro a abril

e de junho a setembro foram reunidos em dois grupos, correspondendo a condições

predominantes de verão e inverno, respectivamente. Os meses de maio e outubro

integraram outro grupo, ao que representam transições entre os dois primeiros.

Novembro e dezembro figuraram um quarto grupo de regime de ondas durante o

período estudado. Observou-se que o mais alto percentil de altura significativa

superou os 2,42 m, com máximo em 2,97 m principalmente entre os meses de maio

a setembro. O ano de 2014 apresentou cenários mais energéticos de incidência de

ondas. A maior parte das ocorrências ficou em torno de 1,59 m. A ocorrência de

ondas mais longas (maior período) concentraram-se ao redor de 7,14 s, com o

percentil 99 iniciando aos 10,58 s, máximo de 13,35 s. A direção de propagação

mais recorrente foi próxima dos 99 graus azimute (leste-sudeste), com maiores

declinações superando os 134 graus (sudeste), influenciada pelas variações dos

ventos alísios, dos escoamentos gerados pelo Sistema de Alta Pressão do Atlântico

Sul e pelos Distúrbios Ondulatórios de Leste. De maneira geral, o município de Nísia

Floresta recebeu as ondas mais altas durante o período. No trecho da praia de

Ponta Negra e Via Costeira, a enseada do Morro do Careca tem ondulação

atenuada pela difração do trem no promontório, onde o período variou em torno de

7,55 s e altura de 0,65 m e a energia de incidência aumentou em direção à Via

Costeira, com período de 6,88 s e altura de 0,76 m durante os meses de inverno.

Palavras–chave: Regime de Ondas; Wavewatch III; SWAN; Análise de

Agrupamento; Eventos Atmosféricos.

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viii

ABSTRACT

Along the coast of the Rio Grande do Norte, are verified peaks of erosion in sandy

beaches with negative impacts from the social and economic point of view, in that

maritime waves were important source of energy for carried of sediments. In this

study, was ascertained the incident wave regime on the part of the coast eastern of

the Rio Grande do Norte, especially on the shoreline between Ponta Negra beach

and Via Costeira, extension of the urban coast in Natal/RN, between the years of

2012/2014. A SWAN numerical simulation model was applied. This model was

developed by the Delft University of Technology, operated by the graphic interface

SOPRO, of the National Laboratory of Civil Engineering of Portugal. As initial

boundary conditions in open sea, significant height information was used, average

period and direction of wave propagation from the Wavewatch III (WWIII) base. The

bathymetry was represented by the Nautical Charts 810 and 22100 of Brazilian Navy

and the water level of tide gauge at Port of Natal. For segmentation in seasonal

intervals, Cluster Analysis was applied to the WWIII series, testing the significance of

the groups by ANOVA test of variance. The months from January to April and from

June to September were organized into two groups, corresponding to predominant

conditions of summer and winter, respectively. The months of May and October are

part of another group that represents transitions among the first. November and

December integrated a fourth group of wave regime during the studied period. It was

observed the highest percentile of significant height exceeded 2.42 m, with maximum

in 2.97 m mainly between the months of May to September. The year 2014

presented more energetic scenarios of wave incidence. Most of occurrences were

around 1.59 m. The occurrence of longer waves (long period) are concentrated

around 7.14 s, with percentile 99 starting the 10.58 s, maximum 13.35 s. The most

recurrent direction of propagation was near 99 degrees azimuth (East Southeast)

with higher declines than 134 degrees (Southeast), influenced by the variations of the

trade winds of the flows generated by South Atlantic High Pressure System and by

the Eastern undulatory disorders. In general, the city of Nísia Floresta received the

highest waves during the period. In the extension of Ponta Negra and Via Costeira

the cove of Morro do Careca has attenuated undulation by diffraction of the

promontory, where the period varied around 7.55 s and height of 0.65 s and the

incidence of energy increased toward Via Costeira, with period of 6.88 s and height

of 0.76 m during the winter months.

Key-words: Wave Regime; Wavewatch III; SWAN; Cluster Analysis; Atmospheric

Events.

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SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS ----------------------------------------------------------------------------------- 03

LISTA DE TABELAS ----------------------------------------------------------------------------------- 05

LISTA DE QUADROS --------------------------------------------------------------------------------- 06

LISTA DE SIGLAS ------------------------------------------------------------------------------------- 06

I – INTRODUÇÃO --------------------------------------------------------------------------------------- 08

1. Hipótese ---------------------------------------------------------------------------------------------- 09

2. Justificativa ------------------------------------------------------------------------------------------- 09

3. Objetivo Geral e Objetivos Específicos ------------------------------------------------------- 17

4. Métodos ----------------------------------------------------------------------------------------------- 17

II - PRIMEIRO ARTIGO: SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE ONDAS MARÍTIMAS NA

REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL/RN, NORDESTE DO BRASIL, 2012 A

2014 -------------------------------------------------------------------------------------------------------- 21

RESUMO ----------------------------------------------------------------------------------------------- 22

Palavras-chave --------------------------------------------------------------------------------------- 22

ABSTRACT -------------------------------------------------------------------------------------------- 23

Key-Words --------------------------------------------------------------------------------------------- 23

1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------- 24

2. MATERIAIS E MÉTODOS ---------------------------------------------------------------------- 26

2.1. Simulação Numérica ------------------------------------------------------------------------- 30

2.1.1. Condições Iniciais e de Contorno ---------------------------------------------------- 30

2.1.2. Propagação de Ondas até a Linha de Costa ------------------------------------- 32

2.2. Análises Sazonais ---------------------------------------------------------------------------- 34

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ------------------------------------------------------------- 37

3.1. Ondas na Zona de Altas Profundidades ------------------------------------------------ 37

3.1.1. Análises Estatísticas --------------------------------------------------------------------- 37

3.1.2. Eventos Atmosféricos de Ampla Escala -------------------------------------------- 46

3.2. Ondas Incidentes na Plataforma Continental Oriental do RN -------------------- 50

4. CONCLUSÕES ------------------------------------------------------------------------------------ 54

AGRADECIMENTOS -------------------------------------------------------------------------------- 55

REFERÊNCIAS --------------------------------------------------------------------------------------- 56

III - SEGUNDO ARTIGO: SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE ONDAS MARÍTIMAS NA

PRAIA DE PONTA NEGRA - VIA COSTEIRA, NATAL/RN, NORDESTE DO

BRASIL, 2012 A 2014 --------------------------------------------------------------------------------- 60

RESUMO ------------------------------------------------------------------------------------------------ 61

Palavras-chave ---------------------------------------------------------------------------------------- 61

ABSTRACT --------------------------------------------------------------------------------------------- 62

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2

Key-Words ---------------------------------------------------------------------------------------------- 62

1. INTRODUÇÃO ------------------------------------------------------------------------------------- 63

2. MATERIAIS E MÉTODOS ---------------------------------------------------------------------- 66

2.1. Simulação Numérica ------------------------------------------------------------------------- 70

2.1.1. Condições Iniciais e de Contorno ---------------------------------------------------- 70

2.1.2. Propagação de Ondas até a Linha de Costa ------------------------------------- 72

2.2. Análises Sazonais ---------------------------------------------------------------------------- 75

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES ------------------------------------------------------------- 78

3.1. Sazonalidade das Ondas de Alto Mar --------------------------------------------------- 78

3.2. Ondas Incidentes na Orla Sul de Natal/RN ------------------------------------------- 80

4. CONCLUSÕES ------------------------------------------------------------------------------------ 87

AGRADECIMENTOS -------------------------------------------------------------------------------- 88

REFERÊNCIAS --------------------------------------------------------------------------------------- 88

IV – CONCLUSÕES ----------------------------------------------------------------------------------- 93

V – REFERÊNCIAS ----------------------------------------------------------------------------------- 97

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LISTA DE FIGURAS

I – INTRODUÇÃO

Figura 1.1. Destruição por ação do mar a edificações e equipamentos urbanos

públicos nas praias de (a) Barra de Maxaranguape, 2014, (b) Redinha, 2015, e (c)

Areia Preta, 2013. Fontes: (a) Galdino (2014); (b) JH (2015); (c) TN (2013). -------------- 10

Figura 1.2. Atual estado de urbanização da orla de PPN-VC. Imagem Google Earth©

de julho de 2014. ------------------------------------------------------------------------------------------- 12

Figura 1.3. Equipamento urbano colapsado na orla de Ponta Negra durante o ano de

2012. Fonte: Amaro et al. (2012ª). 14

Figura 1.4. Fotos da orla de Ponta Negra em 2012 (a-d), quando dos intensos danos

ocasionados por erosão costeira, e (e-h) após a implantação do enrocamento (2013-

2014) como tentativa de solução ao avanço da linha de costa. As setas vermelhas

indicam edificações que referenciam o local das imagens. Fotos da equipe do

Laboratório de Geoprocessamento da UFRN (GEOPRO). ------------------------------------- 15

Figura 1.5. Fluxograma procedimental de execução desta pesquisa. ----------------------- 19

II - PRIMEIRO ARTIGO: SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE ONDAS MARÍTIMAS NA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL/RN, NORDESTE DO BRASIL, 2012 A 2014

Figura 2.1. Destruição por ação do mar a edificações e equipamentos urbanos

públicos nas praias de (a) Barra de Maxaranguape, 2014, (b) Redinha, 2015, e (c)

Areia Preta, 2013. Fontes: (a) Galdino (2014); (b) JH (2015); (c) TN (2013). -------------- 25

Figura 2.2. Localização da área de estudo (retângulo vermelho). Bases cartográficas:

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Carta Náutica 22100 da Marinha do

Brasil. --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 27

Figura 2.3. Normal climatológica da precipitação mensal acumulada tomada entre os

anos de 1961 e 1990 para a estação meteorológica de Natal/RN. Fonte: INMET. ------- 29

Figura 2.4. Histogramas de (a) Hs, (b) Tm e (c) Direção oriundos da série temporal de

parâmetros de onda WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. ----- 38

Figura 2.5. (a), (c), (d) Séries temporais e (b), (d), (f) diagramas mensais de caixas

Hs, Tm e Dir, oriundos da série WWIII entre o período de janeiro de 2012 e dezembro

de 2014, no ponto 06°S 34,7°W. Pontos vermelhos indicam médias mensais. Linhas

vermelhas indicam média móvel com suavização de 30 dias. --------------------------------- 40

Figura 2.6. Componentes básicas das séries temporais WWIII de Hs, Tm e Dir, entre

os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. ------------------------------------------------- 42

Figura 2.7. Dendrogramas da Análise de Agrupamento dos dados WWIII entre os

anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W, método de Ward, com parâmetros (a)

ora reunidos (b,e,g) ora individualizados (c,d,f) ora pareados. -------------------------------- 44

Figura 2.8. Gráficos em caixa de (a) Hs, (b) Tm e (c) Dir dos grupos sazonais, dados

WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. -------------------------------- 45

Figura 2.9. Intervalos de confiança para diferenciação por Teste de Tukey das

médias dos grupos para (a) Hs, (b) Tm e (c) Dir, dados WWIII entre os anos de 2012

e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. ------------------------------------------------------------------------ 46

Figura 2.10. Diagramas de pétalas de Hs dos grupos sazonais entre os anos 2012 e

2014, dados WWIII, ponto geográfico 06°S 34,7°W. --------------------------------------------- 49

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4

Figura 2.11. Superfície batimétrica integrada por interpolação com método Vizinho

Natural, oriunda da digitalização das cartas náuticas 810 e 22100 da Marinha do

Brasil. Seta vermelha destaca o cânion submarino do Rio Potengi. ------------------------- 50

Figura 2.12. Litoral do município de Nísia Floresta: (a) rochas de praia e dunas

frontais vegetadas na praia de Pirangi do Sul; (b) segundas residências e hotéis

instalados sobre pós-praia tentam evitar colapso pela retirada de sedimentos com

emprego de rochas na praia de Búzios; (c) falésias vivas que formam a Ponta de

Tabatinga; (d) dunas frontais parcialmente ocupadas na praia de Tabatinga. Fonte:

Fotos da autora, em vistoria pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio

Ambiente do RN (IDEMA), a setembro de 2016. -------------------------------------------------- 52

Figura 2.13. Mapas de médias sazonais de Hs, Tm e Dir, simulados no domínio

computacional SWAN. ------------------------------------------------------------------------------------ 53

III – SEGUNDO ARTIGO: SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE ONDAS MARÍTIMAS NA PRAIA

DE PONTA NEGRA - VIA COSTEIRA, NATAL/RN, NORDESTE DO BRASIL, 2012 A 2014

Figura 3.1. Atual estado de urbanização da orla de PPN-VC. Imagem Google Earth©

de julho de 2014. ------------------------------------------------------------------------------------------- 64

Figura 3.2. Fotografias do enrocamento aderente implantado na PPN como

emergência obra de emergência aos danos provocados por erosão costeira. Fonte:

Laboratório de Geoprocessamento da UFRN (GEOPRO). ------------------------------------- 65

Figura 3.3. Localização da área de estudo (retângulo vermelho). Bases cartográficas:

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Carta Náutica 22100 da Marinha do

Brasil. --------------------------------------------------------------------------------------------------------- 67

Figura 3.4. Normal climatológica da precipitação mensal acumulada, tomada entre

os anos de 1961 e 1990 para a estação meteorológica de Natal/RN. Fonte: INMET. --- 70

Figura 3.5. Mapa das malhas computacionais utilizadas na propagação da agitação

marítima até a linha de costa com SWAN. ---------------------------------------------------------- 73

Figura 3.6. Dendrograma da Análise de Agrupamento dos dados WWIII entre os anos

de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W, método de Ward, com parâmetros de onda

Hs, Tm e Dir. ------------------------------------------------------------------------------------------------ 79

Figura 3.7. Intervalos de confiança para diferenciação por Teste de Tukey das

médias dos grupos para (a) Hs, (b) Tm e (c) Dir, dados WWIII entre os anos de 2012

e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. ------------------------------------------------------------------------ 80

Figura 3.8. (a) Representação batimétrica da PPN-VC originada por interpolação

método Vizinho Natural das cartas náuticas 810 e 22100. Elipse destaca corredor em

profundidade de 10 a 9 metros alinhado com o promontório do Morro do Careca. (b)

Perfil batimétrico na enseada do Morro do Careca (MC). (c) Perfil batimétrico na Via

Costeira (VC). Elevações referentes ao mar em Nível de Redução, cotas batimétricas

em (a) e cotas topográficas em (b) e (c). ------------------------------------------------------------ 82

Figura 3.9. Mapas de médias sazonais de Hs, Tm e Dir, simulados no domínio da

Malha 2 no SWAN. ---------------------------------------------------------------------------------------- 85

Figura 3.10. Mapas de médias sazonais de Hs, Tm e Dir, simulados no domínio da

Malha 3 no SWAN. ---------------------------------------------------------------------------------------- 86

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5

LISTA DE TABELAS

II - PRIMEIRO ARTIGO

Tabela 2.1. Descrição estatística dos dados WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no

ponto 06°S 34,7°W. --------------------------------------------------------------------------------------- 38

Tabela 2.2. Ocorrência das ondas de maior Hs (percentil 99) da série WWIII entre os

anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. ----------------------------------------------------- 39

Tabela 2.3. Ocorrência das ondas mais curtas (primeiro percentil de Tm) da série

WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. -------------------------------- 39

Tabela 2.4. Ocorrência das ondas mais longas (percentil 99 de Tm) da série WWIII

entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. ----------------------------------------- 41

Tabela 2.5. Resultados dos testes de Mann-Kendall para séries temporais de Hs, Tm

e Dir oriundas da reconstrução WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S

34,7°W. ------------------------------------------------------------------------------------------------------- 41

Tabela 2.6. Médias mensais dos parâmetros de onda da série WWIII entre os anos de

2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. ----------------------------------------------------------------- 43

Tabela 2.7. Descrição estatística dos grupos oriundos da Análise de Agrupamento

dos dados WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W. ------------------ 44

Tabela 2.8. Estatísticas do teste F de variância ANOVA dos grupos oriundos da

Análise de Agrupamento dos dados WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto

06°S 34,7°W. ------------------------------------------------------------------------------------------------ 45

III – SEGUNDO ARTIGO

Tabela 3.1. Estatísticas do teste F de variância ANOVA dos grupos oriundos da

Análise de Agrupamento dos dados WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto

06°S 34,7°W. ------------------------------------------------------------------------------------------------ 79

LISTA DE QUADROS

II - PRIMEIRO ARTIGO

Quadro 2.1. Configuração da simulação de agitação marítima SWAN, empregada em

trecho do Litoral Oriental do RN. ----------------------------------------------------------------------- 33

Quadro 2.2. Síntese dos eventos e fenômenos atmosféricos e de escala regional ou

global ocorridos durante os anos de 2012 e 2014 que afetaram a área de estudo.

Fonte: Boletim Climanálise CPTEC/INPE. ---------------------------------------------------------- 48

III – SEGUNDO ARTIGO

Quadro 3.1. Malhas computacionais inseridas na propagação da agitação marítima

por SWAN. --------------------------------------------------------------------------------------------------- 73

Quadro 3.2. Configuração da simulação de agitação marítima SWAN, empregada em

trecho do Litoral Oriental do RN. ----------------------------------------------------------------------- 74

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LISTA DE SIGLAS

ANOVA Análise de Variância

APAS Sistema de Alta Pressão do Altântico Sul

Az Azimute

COPPE Instituto Alberto Luiz de Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de

Engenharia

CPTEC Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos

CN Carta Náutica

CPRM Serviço Geológico Brasileiro

DHA Departamento de Hidráulica e Ambiente

DHN Departamento de Hidrografia e Navegação

Dir Direção de propagação da onda

DOL Distúrbios ondulatórios de leste

DSAS Digital Shoreline Analysis System

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EMC Environmental Modeling Center

ENOS El Niño Oscilação Sul

FEMAR Fundação de Estudos do Mar

FIPE Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

GEOPRO Laboratório de Geoprocessamento da UFRN

GFS Global Forecasting System

GNSS Global Navigation Satellite System

GNU General Public License

H Altura de onda

ha Hectare

Hab/ha Habitante por hectare

Hs Altura significativa de onda

Hmáx Altura máxima onda

hPa Hecto-Pascal (102.N/m2)

IBGE Instituto de Geografia e Estatística

IDEMA Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente

IH-CANTÁBRIA Instituto de Hidráulica Ambiental da Universidade de Cantábria

INMET Instituto Nacional de Meteorologia

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPT Instituto de Pesquisa Tecnológica do Estado de São Paulo

JONSWAP Joint North Sea Wave Observaction Project

L Comprimento de onda

LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal

m Metro

MAPGEO2010 Modelo Geoidal Brasileiro versão 2010

MMAB Marine Modeling and Analysis Branch

MTUR Ministério do Turismo

NCEP National Center for Environmental Prediction

NOAA National Oceanic and Atmospheric Administration

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PNBOIA Programa Nacional de Boias

PNM Pressão ao nível do mar

PPN-VC Praia de Ponta Negra – Via Costeira

QME Quadrado médio dos erros

R2 Coeficiente de ajustamento

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

RN Estado do Rio Grande do Norte

s Segundo

SETUR Secretaria de Estado do Turismo

SEMURB Secretaria de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal

SIG Sistema de Informações Geográficas

SIMCos Sistema de Previsão e Monitoramento Costeiro

SisBAHIA Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental

SMC-Brasil Sistema de Modelagem Costeira do Brasil

SWAN Simulating Waves Nearshore

T Período de onda

Tm Período médio de onda

TSD Tukey Significant Difference

TSM Temperatura da superfície do mar

UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UPGMA Unweighted pair-group method with arithmetic mean

UPGMC Unweighted pair-group method with method centroid

VC Via Costeira

WWIII Wavewatch III

ZCIT Zona de Convergência Intertropical

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I - INTRODUÇÃO

Processos costeiros são modulados por parâmetros meteoceanográficos

físicos que controlam a movimentação de sedimentos e as características

morfológicas do ambiente praial, envolvendo ação de ondas, marés, ventos, bem

como correntes litorâneas geradas pela interação destes agentes. O clima de ondas

ao largo define parte significativa da energia incidente na zona costeira e seu

entendimento é de suma importância para a devida caracterização dos processos

em regiões litorâneas (SUGUIO, 2003; IH-CANTÁBRIA, 2012; PIANCA, MAZZINI e

SIEGLE, 2010).

Tratam-se aqui de ondas marítimas produzidas pelos processos físicos

relacionados com o atrito entre o vento e a superfície do oceano, ao que suas

características dependem principalmente da intensidade, duração e do alcance do

vento. Ao saírem da área de geração ou área fonte, as frentes de ondas podem se

propagar por longas distâncias sem perda significativa de energia até encontrarem

uma praia, onde transferem força motriz para os processos costeiros, gerando

correntes que determinam a direção da movimentação de sedimentos (JEFFREYS,

1925; STEWART, 2006; PIANCA, MAZZINI e SIEGLE, 2010; IH-CANTÁBRIA, 2012).

Séries temporais de medições de ondas são escassos e irregulares no

Nordeste do Brasil. Como solução, observações em boias, campanhas

oceanográficas in situ e radares orbitais vêm sendo utilizados para alimentar

modelos numéricos e bases de reanálises globais de vento e pressão atmosférica,

entre outras variáveis. Tais metodologias de simulação têm sido calibradas e

validadas em diversas partes do mundo, conferindo solução de alta viabilidade, em

termos de logística e recursos financeiros e humanos despendidos. Além de garantir

o preenchimento de lacunas nas séries temporais, tal estratégia permite análise em

locais geograficamente difíceis de acessar diretamente, garantindo apoio à tomada

de decisões e intervenções que permitam manter o equilíbrio dos processos naturais

e o uso do ambiente litorâneo (CAIRES et al., 2004; NORDSTRON, 2010;

EMMANOUIL et al., 2007; LEFÉVRE et al., 2006; PIANCA, MAZZINI e SIEGLE,

2010; DIMITROVA, KORTCHEVA e GALABOV, 2013; MATOS et al., 2013, ONEA e

RUSU, 2016).

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1. Hipótese

Este trabalho baseia-se na intensa exposição do Litoral Oriental do RN a

processos erosivos em suas praias arenosas, os quais recebem aporte energético

do regime de ondas incidente. Especificamente no trecho de orla Ponta Negra - Via

Costeira (doravante PPN-VC), praias urbanas do Município de Natal, capital do RN,

os equipamentos urbanos implantados estão expostos ao espraiamento em

condições severas de mar, associadas a um histórico de danos e degradações

ambientais.

2. Justificativa

O litoral brasileiro, de um modo geral, tem a linha de costa avançando sobre o

continente, causando retirada de sedimentos, perda de terreno, danos a edificações

e equipamentos urbanos da orla, salinização de aquífero, entre outros conflitos

(MUEHE, 2006; SOUZA, 2009).

Ao longo do litoral do RN, picos erosionais caracterizados por avanços da

linha de costa e balanço sedimentar negativo em praias arenosas, têm afetado

comunidades ribeirinhas, atividades de pesca artesanal, indústrias salineira,

petrolífera, parques eólicos e setores turísticos (VITAL et al., 2006; SOUTO, 2009;

NASCIMENTO, 2009; AMARO e BOORI, 2010; SANTOS, AMARO e SOUTO, 2011;

FRANCO, AMARO e SOUTO, 2012; SANTOS et al., 2012; AMARO, SANTOS e

SOUTO, 2012; AMARO, LIMA e SANTOS, 2013; MATOS et al., 2013; FERREIRA,

AMARO e SANTOS, 2014; SANTOS, AMARO e SANTOS, 2014; BUSMAN,

AMARO e SOUZA-FILHO, 2016).

Especificamente no Litoral Oriental, onde localiza-se Natal, setores

imobiliários e equipamentos turísticos vêm sendo afetados pelo avanço da linha de

costa (SCUDELARI et al., 2005; NUNES, ARAÚJO e LIMA, 2008; SANTOS-JR.;

AMARO et al., 2012a,b; BUSMAN, AMARO e PRUDÊNCIO, 2014; FERREIRA,

AMARO e SANTOS, 2014; ALMEIDA et al., 2015; AMARO et al., 2015, MATOS et

al., 2015) e intervenções pontuais no tempo e no espaço – realizadas sem

planejamento adequado – vêm gerando expensas ao poder público e a investidores

de iniciativa privada, além de provocar conflitos sociais entre atores de uso comum

das praias, como pescadores, esportistas e pequenos comerciantes (MACIEL e

LIMA, 2014a,b; DIAS, 2015). Matos et al. (2015) realizaram análise multitemporal da

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linha de costa entre os municípios de Natal e Tibau do Sul, com imagens de satélite

desde 1984 a 2014. Os autores identificaram ciclos destrutivos decadais e perda de

área resultante estimada em 2.127.861,42 m2, com maiores taxas erosivas entre os

anos de 1984 e 1994. Na praia da Barra de Maxaranguape, município homônimo

localizado ao norte da região metropolitana de Natal, eventos intensos de erosão

marinha vêm ocasionando a destruição de prédios na orla (Figura 1.1a), inclusive um

antigo convento (GALDINO, 2014). Outras praias urbanas de Natal, praias da

Redinha (Figura 1.1b) e de Areia Preta (Figura 1.1c), também são afetadas pela

retirada de sedimentos e avanço do mar, com intensos danos ao aparelho público.

Segundas residências e hotéis construídos sobre região de pós-praia na praia de

Búzios, município de Nísia Floresta, sofrem colapso pela retirada de sedimentos

(Figura 1.1d).

Figura 1.1. Destruição por ação do mar a edificações e equipamentos urbanos públicos nas praias de (a) Barra de Maxaranguape (Município de Maxaranguape), 2014, (b) Redinha (Município de Natal), 2015, e (c) Areia Preta (Município de Natal), 2013. (d) Búzios (Município de Nísia Floresta), 2016. Fontes: (a) Galdino (2014); (b) JH (2015); (c) TN (2013), (d) Foto da autora em vistoria pelo IDEMA, setembro de 2016.

A Corrente Norte do Brasil predomina na circulação da superfície do mar no

Litoral Oriental do RN, deslocando-se para norte a partir da bifurcação da Corrente

Sul Equatorial nas proximidades do litoral sul da Bahia (PETERSON e STRAMMA,

1991; CAMPOS et al., 2001; STRAMMA et al., 2003). O sistema anticiclônico

permanente de alta pressão atmosférica conhecido como Alta Pressão do Atlântico

Sul (APAS) atua nas regiões subtropicais próximo a 5°W/32°S durante o verão

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austral, movendo-se 800 km a norte durante o inverno, com centro alocado próximo

a 10°W/27°S, controlando o escoamento superficial do vento sobre o Oceano

Atlântico Sul (PETERSON e STRAMMA, 1991; REBOITA et al., 2012). Além do

APAS, o Nordeste Brasileiro está sob intenso efeito dos ventos alísios de leste e

sudeste, cuja confluência em baixos níveis está associada à Zona de Convergência

Intertropical - ZCIT (MELO, CAVALCANTI e SOUZA, 2009).

As praias marítimas são um importante recurso natural do país, angariando

grandes montantes financeiros pela beleza cênica e possibilidades de usos para

desporto, cultura e lazer. Segundo o Ministério do Turismo (MTUR) até 2010, o

segmento de Turismo de Sol e Praia atraiu o maior fluxo de visitantes estrangeiros

ao Brasil, sendo apontadas pelo Plano Aquarela 2020 como principal atrativo em

31% das viagens ao país entre 2004 e 2006 (MTUR, 2010). A pesquisa sobre

Hábitos de Consumo do Turismo Brasileiro, realizada em 2009 pela Fundação

Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), apontou praias brasileiras como roteiro

favorito de 64,9% dos entrevistados, ao que 54,6% dos turistas elegeram o Nordeste

como destino pretendido para a próxima viagem.

De acordo com a Secretaria de Estado do Turismo do RN (SETUR), a cidade

de Natal, capital do RN, figurou entre os principais destinos turísticos no Estado,

angariando aporte de 4.297.781 visitantes brasileiros e estrangeiros entre os anos

de 2001 e 2004, com média anual de 1.074.445 pessoas em fluxo turístico,

arrecadando uma receita total de US$ 944.309.847,00 Dólares no mesmo período

(AMARO et al., 2012a).

A PPN-VC é destino turístico destacável – um dos principais símbolos cênicos

de Natal – desde a década de 80 (SILVA, BENTES-SOBRINHA e CLEMENTINO,

2006; SEMURB, 2008, 2009; MACIEL e LIMA, 2014a,b). É cenário de festividades

populares, como a Celebração dos Navegantes, o Carnaval e a virada de Ano Novo.

Concentra pequenos bares que promovem shows musicais, encontros de

contemplação da lua e sarais durante todo o ano. A enseada do Morro do Careca é

utilizada por pescadores artesanais como locais de ancoragem e despesca. É de

suma importância a manutenção dos seus atrativos naturais e culturais, via atuação

que privilegie o planejamento e a sustentabilidade ambiental (SOUZA, 2009;

AMARO et al., 2012b; MMA, IH-CANTÁBRIA e UFSC, 2014), tendo em vista que

estimativas da Organização Mundial de Turismo apontam para tendência de

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saturação dos destinos costeiros tradicionais, em locais cuja identidade cultural e

cênica tenha se perdido (MTUR, 2010).

Em 1965, o início das atividades do Centro de Lançamento de Foguetes da

Barreira do Inferno (Figura 1.2) levou à primeira construção da estrada para Ponta

Negra, a atual Av. Engenheiro Roberto Freire (SILVA, BENTES-SOBRINHA e

CLEMENTINO, 2006). No entanto, a ocupação do bairro de Ponta Negra

intensificou-se durante a década de 70, a saber: a construção do viaduto de Ponta

Negra aconteceu ao ano de 1974, seguida do primeiro asfaltamento da estrada para

Ponta Negra, ao ano de 1975; os conjuntos habitacionais Ponta Negra e Alagamar

foram construídos durante os anos de 1978 e 1979, respectivamente, sobre 130

hectares de terras adquiridas da iniciativa privada (SILVA, BENTES-SOBRINHA e

CLEMENTINO, 2006; SEMURB, 2008). No início da década de 80, foi implantada a

Via Costeira, marco no turismo de Natal e a estrada de Ponta Negra foi duplicada,

recapeada e provida de iluminação, passando a se chamar Av. Engenheiro Roberto

Freire.

Figura 1.2. Atual estado de urbanização da orla de

PPN-VC. Imagem Google Earth© de julho de 2014.

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Ao ano de 2000, executou-se o projeto de urbanização Orla de Ponta Negra,

que promoveu a construção do calçadão com aproximadamente 3 km de extensão,

desde o Morro do Careca até o início da Via Costeira, bem como a substituição das

antigas barracas de praia por quiosques de fibra de vidro (SEMURB, 2008; 2009).

A área total ocupada do bairro de Ponta Negra passou de 136,56 ha em 1970

para 545,73 ha em 2012, com densidade demográfica pulando de 5,1 hab/ha para

18,02 hab/ha em 2012 – levando em conta a área total do município neste ano de

1.382,03 ha (MACIEL e LIMA, 2014b). O maior ponto de inflexão deste crescimento

ocorreu entre os anos de 1991 e 2000, passando de 13,07 hab/ha para 17,85

hab/ha, respectivamente, concomitante ao primeiro projeto que urbanizou a orla.

Maciel e Lima (2014a) observaram que a maior concentração de hotéis, pousadas,

bares, restaurantes e outros tipos de serviços está atualmente na orla de Ponta

Negra.

Desde a sua implantação, o calçadão litorâneo vem sofrendo danos e

intervenções pontuais em função de erosão costeira, situação que se tornou

proeminente e generalizada durante o outono de 2012 (BUSMAN, AMARO e

PRUDÊNCIO, 2014; FERREIRA, AMARO e SANTOS, 2014; AMARO et al., 2015,

ARAÚJO, SCUDELARI e AMARO, 2015), afetando aproximadamente 85

comerciantes (informação verbal)1. Além do calçadão, quiosques de fibra de vidro,

escadas e rampas de acesso à praia, bem como postes elétricos e dutos de

drenagem foram danificados pela ação de agentes meteoceanogtáficos (Figura 1.3).

Como eventos de ressaca marítima provocaram danos significativos à orla da

PPN-VC em 2012 gerando risco aos usuários da praia e às edificações adjacentes

(Figura 1.4a,b,c,d), a Prefeitura Municipal de Natal decretou Estado de Calamidade

Pública por três vezes, mediante os decretos: (i) nº 9.744 de 13 de julho de 2012, (ii)

nº 9.912 de março de 2013 e (iii) nº 9.994 de 17 de junho de 2013. Os documentos

apontaram fatores meteoceanográficos como gatilhos para danos à estrutura do

calçadão que margeia a orla da PPN, promovendo insalubridade sanitária pelo

colapso do sistema de esgoto, saneamento e drenagem, com consequente risco à

incolumidade física dos frequentadores da praia. A esta altura, o Ministério Público

demandou laudos periciais, ajuizados pela Ação Civil Pública nº 0006804-

1 Dados apresentados pela arquiteta Tereza Reis, então funcionária da Secretaria de Obras Públicas e Infraestrutura de Natal, quando da apresentação pública dos Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental e Projeto Básico das Obras de Contensão e Erosão relacionada à PPN-VC, realizada ao dia 01 de setembro de 2016, no auditório do Parque da Cidade Dom Nivaldo Monte.

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08.2012.4.05.8400, tramitada pela 4ª Vara da Justiça Federal, concretizado no

documento intitulado “Indicação das obras emergenciais de contenção e reparação

dos equipamentos públicos e de segurança dos frequentadores da praia de Ponta

Negra, Natal-RN”, realizado por Amaro et al. (2012b). Alguns empreendedores já

realizavam tentativas pontuais de contenção do avanço do mar e proteção das

edificações construídas sobre as dunas frontais no pós-praia (e.g. barreira

pedregosa e vegetação arbustiva em frente ao hotel na Figura 1.4a). Porém, nos

locais onde o avanço foi mais pronunciado, mesmo as estruturas urbanas feitas pela

gestão pública não foram capazes de resistir à energia marinha (Figura 1.4b,c,d).

Figura 1.3. Equipamento urbano colapsado na orla de Ponta

Negra durante o ano de 2012. Fonte: Amaro et al. (2012a).

Os eventos de calamidade pública na orla da cidade de Natal suscitaram o

convênio celebrado entre o Ministério do Turismo e a Prefeitura Municipal intitulado

Reestruturação da Orla Marítima Urbana, no trecho da Praia de Areia Preta/Praia do

Forte, e na orla da Praia de Ponta Negra (n° 21762/2012), vigente até 31 de

dezembro de 2016, no valor de R$ 13.305.600,00 Reais, segundo dados do Portal

da Transparência do Governo Federal. O Plano Plurianual para o quadriênio 2014-

2017 da Prefeitura Municipal de Natal, instituído pela Lei nº. 6.433, de 17 de janeiro

de 2014, estabeleceu um investimento total de R$15.483.000,00 Reais em obras de

melhoramento e manutenção de infraestrutura urbana desta cidade, somatório da

contrapartida do Município com a parcela de origem federal.

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Figura 1.4. Fotos da orla de Ponta Negra em 2012 (a-d), quando dos intensos danos ocasionados

por erosão costeira, e (e-h) após a implantação do enrocamento (2013-2014) como tentativa de

solução ao avanço da linha de costa. As setas vermelhas indicam edificações que referenciam o

local das imagens. Fotos da equipe do Laboratório de Geoprocessamento da UFRN (GEOPRO).

13/07/2012 10/10/2013

10/10/2013 13/07/2012

13/07/2012 13/03/2014

13/07/2012 13/03/2014

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Após ampla discussão entre gestores públicos, com participação de alguns

segmentos da sociedade civil organizada, foi estabelecida a implantação de obra

rígida de enrocamento aderente (Figura 1.4e,f,g,h), iniciada durante o ano de 2013

ao custo total de R$ 6.689.000,00 Reais (Processo 59050.000265/2013-98-

Natal/RN), reurbanizando o espaço da orla. A obra foi vistoriada por técnicos do

Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (IDEMA) e da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) quanto ao peso e diâmetro

das rochas e algumas inadequabilidades foram encontradas com relação ao projeto

proposto (vide ação civil pública ajuizada na Justiça Federal – Ministério Público

Federal do RN – com registro 0805878-23.2014.4.05.8400, distribuída para o Juiz

titular da 1ª Vara Federal). Visitando a praia, é possível perceber a carreada de areia

mesmo com o enrocamento (SCUDELARI et al., 2016), principalmente em locais

com saídas de água do escoamento superficial urbano – e que aparentemente não

foram realocadas (Figura 1.4d,h). Mesmo a estabilidade da estrutura rígida é

perturbada, havendo rolamento de alguns blocos para o estirâncio (Figura 1.4f).

Além disso, durante os períodos de maré alta, o espraiamento atinge as estruturas

principalmente na PPN, limitando o uso para desporto e lazer na areia aos períodos

de maré baixa (Figura 1.4f).

Recentemente, ao primeiro dia do mês de setembro de 2016, a Secretaria

Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura de Natal divulgou o produto final dos

“Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental e Projeto Básico das Obras

de Contenção da Erosão – EVTEA”, contratado pela Prefeitura e realizado pela

empresa de consultoria Tetratech, com recursos do Ministério da Integração

(NATAL, 2016). Os resultados indicaram como alternativa mais viável para

recuperação e proteção da orla da PPN-VC, o aterramento hidráulico com

sedimentos de diâmetro médio maior do que os que estão na praia atualmente,

acompanhado da construção de uma linha segmentada de quebra-mares

semisubmersos e a ampliação da extensão do atual enrocamento, alcançando mais

setores da Via Costeira – obra com custo total estimado em R$ 56.000.000,00

Reais. A próxima etapa será o licenciamento ambiental da obra, a ser realizado pelo

IDEMA, mediante apresentação de Estudos de Impacto Ambiental (EIA) e Relatório

de Impacto Ambiental (RIMA). Segundo Tereza Reis, arquiteta da Secretaria de

Obras Públicas e Infraestrutura de Natal, o início da implantação está previsto para o

ano de 2018.

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O presente trabalho faz parte de um esforço maior de construção de

conhecimento sobre a dinâmica costeira no litoral da região metropolitana de

Natal e arredores, que vem envolvendo grupos de pesquisa da UFRN, IDEMA,

Ministério Público, Procuradoria Geral do Estado, Prefeitura de Natal e segmentos

sociais organizados (AMARO et al., 2012b; DIAS, 2015). A inexistência de um

banco de dados técnicos e de monitoramento das variáveis ambientais de médio

prazo, para a região vem sendo latente ao longo do processo de mitigação de

impactos por erosão marítima e inundação, não apenas na orla da PPN-VC, mas

a todo o Litoral Oriental do RN.

3. Objetivo Geral e Objetivos Específicos

Produziu-se este trabalho com objetivo de analisar o regime de ondas que

incidiu no Litoral Oriental do RN, com ênfase na Praia de Ponta Negra – Via Costeira

entre os anos de 2012 a 2014, utilizando técnicas pré-existentes de simulações

numéricas para relacionar os parâmetros de onda associados aos danos ao aparato

urbano do referido trecho de orla. Para tal, estabeleceram-se os seguintes objetivos

específicos:

Simular o regime de ondas incidente na linha de costa entre os anos de 2012

e 2014 empregando o modelo SWAN, interface gráfica SOPRO-LNEC, a partir de

condições iniciais e de contorno oriundos da série temporal de parâmetros de onda

extraída da base de dados Wavewatch III;

Investigar características de temporalidade das ondas em alto mar, a partir

dos dados Wavewatch III durante o período estudado;

Espacializar a variabilidade sazonal do padrão de ondas que atingiram a orla

do Litoral Oriental do Rio Grande do Norte entre os anos de 2012 e 2014, em

ambiente computacional georreferenciado;

Relacionar os processos atmosféricos de escala regional que exerceram

influência sobre as ondas incidentes na área durante o período estudado.

4. Métodos

Neste trabalho, tratou-se das ondas de gravidade geradas pelo fluxo de

momento transferido da atmosfera para o oceano, também chamado de tensão do

vento, calculado a partir da velocidade do vento e do coeficiente de arrasto

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(JEFFREYS, 1925). Para descrição da ondulação, utilizou-se os seguintes

parâmetros: (i) altura significativa Hs, que compreende a altura de 1/3 das mais altas

ondas medidas em um período de referência; (ii) o período médio Tm com que a

onda viaja; bem como (iii) a direção média de propagação do trem de ondas, referido

à frente como Dir.

As etapas de aquisição dos dados iniciais, bem como a preparação e

processamento da simulação numérica aqui adotadas (Figura 1.5), seguiram-se à

semelhança do trabalho de Matos et al. (2011, 2013). A base de dados Wavewatch

III - WWIII (TOLMAN, 2014) forneceu série temporal dos parâmetros de onda ao

largo da plataforma continental adjacente ao Litoral Oriental do RN, entre os anos de

2012 e 2014, inserida como condições iniciais e de contorno para a simulação com o

modelo numérico Simulating Waves Nearshore - SWAN (SWAN-TEAM, 2015). Este

foi operacionalizado pela ferramenta de interface SOPRO/LNEC (FORTES,

SANTOS, et al., 2006; FORTES, PINHEIRO e SANTOS, 2011). Aplicou-se o teste

não paramétrico de Mann-Kendall, a nível de significância de 5%, para indicação de

tendência nas séries WWIII. O caráter sazonal foi investigado por Análise de

Agrupamento a partir de Métodos Hierárquicos, de maneira a estabelecer os

intervalos temporais mais coesos dos dados WWIII, em parâmetros de onda. Os

grupos resultantes foram diferenciados pela sua variância com teste ANOVA, que

compara as médias de diferentes conjuntos de dados, confirmada pelo Teste de

Tukey.

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Figura 1.5. Fluxograma procedimental de execução desta pesquisa.

O corpo desta dissertação, composto pelas sessões II e III, está organizado

em formato de artigos científicos, contemplando os propósitos, a metodologia e os

resultados desta pesquisa. Os mesmos serão submetidos a publicação em

periódicos com revisão em pares.

A Sessão II constitui o primeiro Artigo desta dissertação, em que se apresenta

a simulação da região do Litoral Oriental do RN, bem como o contexto climático que

envolve o regime de incidência de ondas no período estudado.

A seguir, na Sessão III apresenta-se o Artigo 2, com detalhamento da

simulação para a PPN-VC, realçando-se os cenários energéticos que influenciaram

eventos erosionais naquela orla.

O capítulo de Conclusões arremata os objetivos e resultados do trabalho, bem

como aborda propostas de continuidade à pesquisa.

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Nota da autora: Esta dissertação tem forma de

capítulos em artigo científico, ao que algumas

informações se repetirão. Em tais situações, o

texto está grafado em cor cinza para dar imediata

ciência ao leitor de que aquela comunicação já

fora realizada em itens anteriores. Quando da

submissão dos artigos compostos nas sessões II e

III aos periódicos, todo o documento terá fonte em

cor preta.

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II – PRIMEIRO ARTIGO

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE ONDAS MARÍTIMAS NA REGIÃO

METROPOLITANA DE NATAL/RN, NORDESTE DO BRASIL, 2012 A 2014 (*)

Lívian Rafaely de Santana Gomes1

Maria Helena Constantino Spyrides1

Venerando Eustáquio Amaro2,4

Rosane Rodrigues Chaves1,3

Maria de Fátima Alves de Matos2

1Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas – PPGCC/CCET/UFRN, Natal, Brasil.

2Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – PEC/ CCET/UFRN, Natal, Brasil.

3Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas – DCAC/ CCET/UFRN, Natal, Brasil.

4Departamento de Geologia – DG/ CCET/UFRN, Natal, Brasil.

(*) A ser submetido à publicação periódica em Geociências

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RESUMO

Ao longo do litoral do Rio Grande do Norte, vêm ocorrendo picos de erosão em

praias arenosas, com impactos negativos do ponto de vista social e econômico, em

que ondas marítimas foram importantes fontes de energia para carreada de

sedimentos. Neste trabalho, buscou-se caracterizar a propagação de ondas sobre a

plataforma adjacente ao Litoral Oriental do RN entre os anos de 2012 a 2014,

elencando os padrões espaciais e sazonais dos parâmetros de ondas. Aplicou-se

simulação numérica com o modelo SWAN, desenvolvido pela Universidade

Tecnológica de Delft, operado pela interface computacional SOPRO, desenvolvida

por equipe do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal. Como

condições iniciais e de contorno utilizaram-se informações de altura significativa,

período médio e direção de propagação de ondas oriundas da base Wavewatch III –

WWIII em mar aberto; batimetria das cartas náuticas 810 e 22100 da Marinha do

Brasil; bem como a altura do nível de água proveio do marégrafo do Porto de Natal.

Para segmentação em intervalos sazonais, aplicou-se Análise de Agrupamento à

série WWIII, testando-se a significância da diferenciação entre os grupos de meses

por teste ANOVA de variância. Os meses de janeiro a abril e de junho a setembro

foram reunidos em dois grupos, correspondendo a condições predominantes de

verão e inverno, respectivamente. Os meses de maio e outubro integraram outro

grupo, ao que representam transições entre os dois primeiros. Novembro e

dezembro figuraram um quarto grupo de regime de ondas durante o período

estudado. Observou-se que o mais alto percentil de altura significativa superou os

2,42 m, com máximo em 2,97 m principalmente entre os meses de maio a setembro.

O ano de 2014 apresentou cenários mais energéticos de incidência de ondas. A

maior parte das ocorrências ficou em torno de 1,59 m. A ocorrência de ondas mais

longas (de maior período) concentraram-se ao redor de 7,14 s, com o percentil 99

iniciando aos 10,58 s, máximo de 13,35 s. A direção de propagação mais recorrente

foi próxima dos 99 graus azimute (leste-sudeste), com maiores declinações

superando os 134 graus (sudeste), influenciada pelas variações de eventos

atmosféricos relacionados a ventos alísios, escoamentos gerados pelo Sistema de

Alta Pressão do Atlântico Sul e Distúrbios Ondulatórios de Leste. De maneira geral,

o município de Nísia Floresta recebeu as ondas mais altas durante o período.

Palavras–chave: Regime de Ondas; Wavewatch III; SWAN; Análise de

Agrupamento; Eventos Atmosféricos.

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ABSTRACT

Along the coast of the Rio Grande do Norte, are verified peaks of erosion in sandy

beaches with negative impacts from the social and economic point of view, in that

maritime waves were important source of energy for carried of sediments. This study

was aimed at characterizing the wave propagation over the contintental shelf to part

of the coast eastern of the Rio Grande do Norte, between the years of 2012/2014, by

spatial and seasonal trends. A SWAN numerical simulation model was applied. This

model was developed by the Delft University of Technology, operated by the graphic

interface SOPRO, of the National Laboratory of Civil Engineering of Portugal. As

initial boundary conditions significant height information was used, average period

and direction of wave propagation in open sea from the Wavewatch III (WWIII) base;

the Nautical Charts 810 and 22100 of Brazilian Navy and the water level of tide

gauge at Port of Natal. For segmentation in seasonal intervals, Cluster Analysis was

applied the WWIII series, testing the significance of the groups by ANOVA test of

variance. The months from January to April and from June to September were

organized into two groups, corresponding to predominant conditions of summer and

winter, respectively. The months of May and October are part of another group that

represents transitions among the first. November and December integrated a fourth

group of wave regime during the studied period. It was observed the highest

percentile of significant height exceeded 2.42 m, with maximum in 2.97m mainly

between the months of May to September. The year 2014 presented more energetic

scenarios of wave incidence. The largest share of occurrences were around 1.59m.

The occurrence of longer waves (long period) are concentrated around 7.14 s, with

percentile 99 starting the 10.58 s, maximum 13.35 s. The most recurrent direction of

propagation was near 99 degrees azimuth (East Southeast) with higher declines than

134 degrees (Southeast), influenced by atmospheric events like trade winds of the

flows generated by South Atlantic High Pressure System and Easterly Waves

Disturbances. In general, the city of Nísia Floresta received the highest waves during

the period.

Key-Words: Wave Regime; Wavewatch III; SWAN; Cluster Analysis; Atmospheric

Events.

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1. INTRODUÇÃO

A orla do Litoral Oriental do estado do Rio Grande do Norte (RN) está exposta

a intenso clima de ondas marítimas, cuja incidência é associada a um histórico de

erosão costeira nas suas praias arenosas e falésias, danos a equipamentos urbanos

e degradações ambientais (SCUDELARI et al., 2005; NUNES, ARAÚJO e LIMA,

2008; SANTOS-JR. et al., 2011; BUSMAN, AMARO e PRUDÊNCIO, 2014;

FERREIRA, AMARO e SANTOS, 2014; ALMEIDA et al., 2015; AMARO et al., 2015;

ARAÚJO, SCUDELARI e AMARO, 2015), acompanhando tendências de todo RN e

litoral brasileiro (MEUHE, 2006; SOUZA, 2009). O clima de ondas ao largo da costa

define parte significativa da energia que incide nas regiões mais rasas da plataforma

continental e, junto a outras forçantes meteoceanográficas como ventos, marés e

correntes, modula processos morfológicos relacionados principalmente a transporte

sedimentar (SUGUIO, 2003; IH-CANTÁBRIA, 2012; PIANCA, MAZZINI e SIEGLE,

2010).

Intervenções pontuais no tempo e no espaço – realizadas sem planejamento

adequado – vêm gerando expensas ao poder público e a investidores de iniciativa

privada, além de provocar conflitos sociais entre atores de uso comum das praias,

como pescadores, esportistas e pequenos comerciantes (MACIEL e LIMA, 2014a,b;

DIAS, 2015). Na praia da Barra de Maxaranguape, município homônimo localizado

ao norte da região metropolitana de Natal, eventos intensos de erosão marinha vêm

ocasionando a destruição de prédios na orla (Figura 2.1a), inclusive um antigo

convento (GALDINO, 2014). Outras praias urbanas de Natal, praias da Redinha

(Figura 2.1b) e de Areia Preta (Figura 2.1c), também são afetadas pela retirada de

sedimentos e avanço do mar, com intensos danos ao aparelho público.

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Figura 2.1. Destruição por ação do mar a

edificações e equipamentos urbanos públicos

nas praias de (a) Barra de Maxaranguape,

2014, (b) Redinha, 2015, e (c) Areia Preta,

2013. Fontes: (a) Galdino (2014); (b) JH (2015);

(c) TN (2013).

A inexistência de um banco de dados técnicos e de monitoramento das

variáveis meteoceanográficas de médio prazo, para a região vem sendo latente ao

longo do processo de mitigação de impactos por erosão marítima e inundação a

todo o Litoral Oriental do RN (AMARO et al., 2012, ALMEIDA et al., 2015; AMARO et

al., 2015; ARAÚJO, SCUDELARI e AMARO, 2015). Nesse contexto, modelos de

previsão e reconstrução alimentados por dados de campanhas oceanográficas in

situ e radares orbitais, bem como a simulação numérica da propagação de ondas

em regiões costeiras conferem análises geograficamente abrangentes e

preenchimento de séries temporais que atendem às necessidade de intervenção e

decisões relacionadas à manutenção do equilíbrio entre os processos naturais e o

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uso dos espaços costeiros (CAIRES, STERL, et al., 2004; NORDSTRON, 2010;

EMMANOUIL, GALANIS, et al., 2007; LEFÉVRE et al., 2006; PIANCA, MAZZINI e

SIEGLE, 2010; DIMITROVA, KORTCHEVA e GALABOV, 2013; MATOS et al., 2013,

ONEA e RUSU, 2016).

Este trabalho tem o objetivo de caracterizar a propagação de ondas sobre a

plataforma adjacente ao Litoral Oriental do RN entre os anos de 2012 a 2014,

elencando os padrões espaciais e sazonais dos parâmetros de ondas. Para tal,

estabeleceram-se as seguintes etapas: (i) Simular o regime de ondas incidente na

linha de costa entre os anos de 2012 e 2014 empregando o modelo SWAN, interface

gráfica SOPRO-LNEC, a partir de condições iniciais e de contorno oriundos da série

temporal de parâmetros de onda extraída da base de dados Wavewatch III; (ii)

Investigar características de temporalidade das ondas em alto mar, a partir dos

dados Wavewatch III durante o período estudado; (iii) Identificar estatisticamente os

eventos de ondas mais severas e tempestades durante o período; (iv) Espacializar a

variabilidade sazonal do padrão de ondas que atingiram a orla do Litoral Oriental do

Rio Grande do Norte entre os anos de 2012 e 2014, em ambiente computacional

georreferenciado.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A área de estudo está inserida na margem continental do extremo Nordeste

do Brasil, banhada pelo Oceano Atlântico Equatorial Sul, compreendendo o Litoral

Oriental do RN, entre os vértices 35°17’W/6°11’S a sudoeste e 34°55’W/5°31’S a

nordeste, desde o município de Ceará-Mirim, até a Ponta da Tabatinga no município

de Nísia Floresta (Figura 2.2).

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Figura 2.2. Localização da área de estudo (retângulo vermelho). Bases cartográficas: Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística e Carta Náutica 22100 da Marinha do Brasil.

O contexto geológico compreende a Bacia Pernambuco-Paraíba, limitada a

norte com a Bacia Potiguar pelo Alto de Touros e a sul, com a Bacia Sergipe-

Alagoas, pelo Alto de Maragogi (CÓRDOBA et al., 2007). Trata-se de uma margem

continental passiva em estágio evolutivo avançado em termos de tectonismo global,

oriunda da abertura do Oceano Atlântico (BAPTISTA-NETO e SILVA, 2004), sendo

interpretada como último elo entre os continentes sulamericano e africano

(CÓRDOBA et al., 2007). Segundo Barbosa e Lima-Filho (2006), o embasamento

cristalino em toda a faixa costeira entre as cidades de Recife e Natal apresenta-se

como uma rampa suavemente inclinada, declive entre 1° e 3°, desde a faixa costeira

até a plataforma continental, recoberta por sequência sedimentar pouco espessa,

com máximo de 400 m, cujo talude acomoda-se na quebra da plataforma

continental. Sistemas de falhas normais de alto ângulo com direções nordeste-

sudoeste e noroeste-sudeste relacionadas ao rifteamento Atlântico Sul acomodaram

a sedimentação mesozoica e controlaram a sedimentação cenozoica até o recente,

sobremaneira canais de drenagens e depósitos aluvionais, a exemplo dos

alinhamentos do Rio Potengi e da Lagoa do Bonfim (BEZERRA et al., 2001).

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No setor que vai da Falha de Mamanguape até Natal, a sequência sedimentar

tem espessura máxima de 250 m no litoral, ocorrendo entre Baía Formosa e Tibau

do Sul e sobre o gráben de Natal, com ocorrência da Formação Jandaíra, ligando a

evolução desta sub-bacia com a Bacia Potiguar (BARBOSA e LIMA-FILHO, 2006).

Os sedimentos terciários do Grupo Barreiras ocorrem sobre a Bacia

Pernambuco-Paraíba e formam tabuleiros costeiros cortados por canais de

drenagens e aparados em falésias pela ação do mar (MATOS et al., 2015).

Depósitos eólicos quaternários agregam-se em morros dunares com dezenas de

metros de altura, entremeados por lagoas interdunares esporádicas – expressão da

subida do lençol freático durante épocas de maior precipitação. As praias marítimas

arenosas em estágios menos intensos de urbanização são ladeadas ora por dunas

frontais ora falésias vivas. Vários trechos da linha de costa são contornados ainda

por arenitos de praia que formam arrecifes alongados e segmentados.

A plataforma continental na área de estudo tem extensão média de 40 km

perpendicularmente à linha de costa e quebra a partir da isóbata de 100 m. O Rio

Jundiaí-Potengi deságua em estuário cortando ao meio a capital do RN, cidade de

Natal, controlado pela Falha homônima, alinhado com cânion submarino escavado

na plataforma quando o nível de base local estava mais à juzante do que

atualmente. Outras bacias hidrográficas de menor porte, atingem o litoral em

escoamento difuso. A linha de costa é formada predominantemente por baías em

zeta, associadas aos efeitos da estruturação neotectônica da Bacia Pernambuco-

Paraíba, especialmente ao sul de Natal, a qual se depositou em semigrábens

formando altos e baixos estruturais bem pronunciados com falhas extensionais em

direção nordeste (BEZERRA et al., 2001; VITAL et al., 2006). A configuração em

zeta do litoral favorece a erosão principalmente no promontório e no ponto de

incidência imediatamente após a porção protegida da enseada, em decorrência do

padrão de refração e difração particular a essa morfologia (VITAL et al., 2006).

A circulação oceânica da plataforma oriental do RN é caracterizada pela

Corrente Norte do Brasil, que se desloca para norte, originada da bifurcação da

Corrente Sul Equatorial nas proximidades do litoral sul da Bahia (PETERSON e

STRAMMA, 1991; CAMPOS et al., 2001; STRAMMA et al., 2003). O clima sobre a

bacia oceânica atlântica caracteriza-se principalmente por um sistema anticiclônico

de alta pressão atmosférica (ou Alta Pressão do Atlântico Sul - APAS) nas regiões

subtropicais com máxima de 1.021 mbar próximo a 5°W/32°S durante o verão no

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Hemisfério Sul e movendo-se 800 km a norte durante o inverno, com centro de

1.025 mbar alocado próximo a 10°W/27°S. As diferenças de pressão entre os pontos

de máximos e as zonas costeiras da América do Sul e da África aumentam durante

o verão por causa das temperaturas comparativamente mais baixas sobre os

continentes, intensificando o escoamento atmosférico de baixos níveis para oeste

(PETERSON e STRAMMA, 1991; REBOITA et al., 2012). Além do escoamento

proveniente da APAS, o Litoral Oriental do RN está em uma região sob intenso

efeito dos ventos alísios de leste e sudeste, (MELO, CAVALCANTI e SOUZA, 2009)

cuja confluência em baixos níveis está associada à Zona de Convergência

Intertropical (ZCIT).

No trecho de orla da área de estudo, existe apenas a Estação Meteorológica

de Natal, mantida pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). Segundo esses

dados, a normal climatológica de precipitação (de 1961 a 1990) indica que o clima

na região é classificado como tropical chuvoso com verão seco (As’) pelo sistema de

Köppen, com temperaturas máximas e mínimas climatológicas de 30°C e 24°C

respectivamente, período chuvoso compreendido entre os meses de março a julho,

precipitação média anual em torno de 1.465,00 mm, período chuvoso ocorrendo

entre os meses de abril e julho (Figura 2.3).

Figura 2.3. Normal climatológica da precipitação mensal acumulada

tomada entre os anos de 1961 e 1990 para a estação meteorológica de

Natal/RN. Fonte: INMET.

Neste trabalho, tratou-se das ondas de gravidade geradas pelo fluxo de

momento transferido da atmosfera para o oceano, também chamado de tensão do

vento, calculado a partir da velocidade do vento e do coeficiente de arrasto

(JEFFREYS, 1925; HASSELMANN et al., 1973). Para descrição da ondulação,

0.0

50.0

100.0

150.0

200.0

250.0

300.0

Normal Climatológica (1961-1990) INMET -Precipitação Acumulada Mensal (mm) Estação

Natal/RN

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utilizou-se os seguintes parâmetros: (i) altura significativa Hs, que compreende a

altura de 1/3 das mais altas ondas medidas em um período de referência; (ii) o

período médio Tm com que a onda viaja; bem como (iii) a direção média de

propagação do trem de ondas, referido à frente como Dir.

As etapas de aquisição dos dados iniciais, bem como a preparação e

processamento da simulação numérica aqui adotadas seguiram-se à semelhança

dos trabalhos de Matos et al. (2011, 2013), e são descritas nos itens subsequentes.

2.1. Simulação Numérica

2.1.1. Condições Iniciais e de Contorno

A Agitação marítima proveio da base de dados WAVEWATCH III® - WWIII

(TOLMAN, 2014), que constitui um modelo de previsão e reconstrução (hidcasting)

de ondas oceânicas de terceira geração, desenvolvido pelo departamento Marine

Modeling and Analysis Branch (MMAB) do Environmental Modeling Center (EMC) do

National Center for Environmental Prediction (NCEP) do departamento

estadunidense National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Vem

sendo amplamente utilizado em trabalhos para a costa brasileira (e.g. PIANCA,

MAZZINI e SIEGLE, 2010; IH-CANTÁBRIA, 2012; MATOS et al., 2011, 2013), sendo

assimilado inclusive pelo setor de Previsão Oceânica do Centro de Previsão de

Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE) no Sistema de Previsão e

Monitoramento Costeiro do Brasil – SIMCos (CPTEC/INPE, 2016). O WWIII aplica as

mesmas equações hidrodinâmicas que estão no âmago da formulação do SWAN,

contemplando os seguintes processos físicos: refração e tensão (straining) do

campo de ondas devido a variações temporais e espaciais da profundidade média e

da corrente média, crescimento e decaimento das ondas devido à influência do

vento, interações ressonantes não lineares, dissipação por white-capping e fricção

do fundo.

A série temporal do WWIII, em sua versão 4.18, foi obtida através de rotina

escrita em GFortran pela equipe do Departamento de Hidráulica e Ambiente (DHA)

do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal (LNEC), elaborada para o

download em qualquer ponto da grade disponibilizada pelo NOAA. Abrangeu os

anos de 2012 a 2014, contendo 4.384 itens válidos, com informações de Hs, Tm e

Dir, a cada seis horas no Global Forecasting System (GFS), a saber: 0000, 0600,

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1200 e 1800 que compreendem os horários locais 21:00, 03:00, 09:00 e 15:00,

respectivamente. As informações foram originadas no ponto de longitude 34°42’W e

latitude 6°0’S (Figura 2.2) distante aproximadamente 45 km da costa leste do RN,

em zona de profundidade superior a 2.000 m.

Para representar o fundo marinho, digitalizou-se a informação das cartas

náuticas 810 e 22100 da Marinha do Brasil, com resolução espacial de 10 m,

transferidas para arquivo vetorial tipo shapefile EsriTM, por captura em tela das cotas

batimétricas em pontos homogeneamente distribuídos. Utilizou-se a suíte

computacional ArcMap© v.9.3 de Sistemas de Informações Geográficas (SIG). A

integração dos pontos foi realizada por interpolação com método de Vizinho Natural,

mediante a indicação de Moura et al. (2011).

Os valores de cota das cartas náuticas são referenciados com relação ao

nível de redução, que compreende a superfície calculada a partir da média das

marés baixas de sizígia de um período de referência (MIGUENS, 1996). Esse valor é

dado em 1,4 m no Cabo do Calcanhar e 1,3 m nos portos de Natal e de Cabedelo m

abaixo do nível médio do mar.

A estação maregráfica do Porto de Natal, mantida pela Diretoria de

Hidrografia e Navegação (DHN) da Marinha do Brasil (disponível em

http://www.mar.mil.br/dhn/chm/box-previsao-mare/tabuas/), forneceu os valores de altura

da coluna de água para correção da onda simulada. A tábua de maré astronômica é

dada em termos dos máximos e mínimos do nível da água e foi necessária a

interpolação no tempo para os horários GFS obtidos pelo WWIII.

Utilizou-se, para esse fim, o módulo de Análise e Previsão de Maré do

Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental - SisBAHIA® (ROSMAN, 2015),

elaborado e mantido pelo Instituto Aberto Luiz de Coimbra de Pós-Graduação e

Pesquisa de Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ). A partir das constantes harmônicas fornecidas pela Fundação de Estudos

do Mar (FEMAR) no Catálogo de Estações Maregráficas Brasileiras (disponível em

http://www.fundacaofemar.org.br/biblioteca/emb/indice.html), foi possível reconstruir a

previsão da tábua de maré com outros intervalos de tempo.

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2.1.2. Propagação de Ondas até a Linha de Costa

O Simulating Waves Nearshore - SWAN (SWAN-TEAM, 2015) foi

desenvolvido pela Delft University of Technology da Holanda, a partir de equações

de balanço espectral de variância, agregando várias fontes de sumidouro do sistema

(SWAN-TEAM, 2015). Resolve a equação do transporte de energia de modo que as

variações locais da energia espectral no tempo e as variações de fluxo de energia

no espaço são compensadas com as saídas e entradas de energia no sistema. A

presença de correntes conserva a densidade de ação ao invés da densidade de

energia espectral. As fontes e sumidouros de energia são traduzidas nas equações,

contemplando a geração de onda por vento, a dissipação de energia por white-

capping, o atrito com o fundo e por arrebentação da onda, bem como as interações

não lineares tétrades e quádruplas de onda, incorporadas na terceira geração do

modelo.

A simulação foi operacionalizada via interface da ferramenta computacional

SOPRO v.3.0, desenvolvida por equipe do LNEC, que integra diversas

funcionalidades, a saber: a consulta a bases de dados (caso da costa portuguesa),

simulação numérica da propagação de ondas, simulação de navegação em zonas

portuárias e a caracterização de regimes de agitação marítima próximo a estruturas

costeiras ou no interior de portos (FORTES et al., 2006; FORTES, PINHEIRO e

SANTOS, 2011).

Para a simulação matemática, criou-se malha computacional retangular com

nós a cada 100 m, área total de 2.443,72 m2, vértices coincidentes com a área de

estudo (Figura 2.2). Apesar de o local de obtenção da série WWIII não coincidir

exatamente com a borda de entrada da malha, está em local com lâmina d’água

sempre superior a 1.000 m, de modo que a onda não sofre dissipação significativa

de energia pelo leito oceânico por estar em profundidade indefinida em relação ao

comprimento das ondas.

A configuração da modelagem (Quadro 2.1) foi consonante às características

morfológicas e geográficas do trecho de litoral estudado – e.g. direção predominante

da linha de costa e das isolinhas batimétricas, conformação geométrica do leito,

características do substrato sedimentar, as condições de ondas incidentes ao largo.

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Quadro 2.1. Configuração da simulação de agitação marítima SWAN, empregada em trecho do Litoral Oriental do RN.

ESPECTRO

Tipo: JONSWAP (Período médio)

Direção: 0 a 180° Az 24 divisões

Frequência: 0,04 a 0,5 Hz 25 divisões

AGITAÇÃO MARÍTIMA

WWIII 01/01/2012 a 31/12/2014

PROCESSOS FÍSICOS

Difração Fricção Interações Tríades

Granulometria predominante: areia média

CONDIÇÕES ESTACIONÁRIAS

Matrizes regulares de transferência:

Hs = 1m Tp = 10 s Dir = 90°Az Maré = 1,34 m

Bordas de entrada: Norte, leste e sul

O Espectro de JONSWAP, calculado a partir dos dados coletados na

campanha do Joint North Sea Wave Observaction Project (HASSELMANN et al.,

1973), considera que a ondulação nunca chega ao nível completamente

desenvolvido, mas permanece em interações não lineares onda-onda por longos

períodos de tempo e distância.

A título de modelamento numérico das ondas geradas por vento, a camada

crítica de 10 m acima do nível do mar é amplamente utilizada, tendo em vista que a

transferência de calor e momento entre a atmosfera e o oceano é aproximadamente

constante (STEWART, 2006). As condições de vento foram mantidas constantes a

todo o domínio computacional, pois seria necessário cálculo de transporte dos

valores registrado nas estações meteorológicas mantidas pelo INMET para atender

às condições marítimas a 10 m de altura, o que ampliaria os erros de estimativa da

simulação – a estação de Natal está a 48 m acima do nível do mar e distante

aproximadamente 2 km em linha reta do litoral, além de estar localizada à sotavento

de um expressivo campo de dunas com relevo em morros de dezenas de metros de

altura, o Parque das Dunas (significativo obstáculo de desvio do escoamento

atmosférico local). A base de dados WWIII é forçada com campo de ventos do

National Centers for Environmental Prediction (NCEP/NOAA), ao que a simplificação

foi elegida como preferível ao presente estudo.

Quando da realização deste trabalho, não se dispôs de dados diretos da

ondulação adjacente à plataforma do RN, em série temporal extensa o suficiente e

com qualidade para viabilizar a validação da simulação com SWAN.

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2.2. Análises Sazonais

A estatística descritiva básica e demais análises foram realizadas com o

software R©, versão 3.1.3, um pacote computacional de distribuição livre e gratuita,

realizado em projeto de colaboração centrado na R Foundation for Statistical

Computing. Os diagramas em pétalas das direções de propagação foram elaborados

com a utilização do software WRPlot©, desenvolvido e distribuído gratuitamente pelo

grupo Lakes Environmental.

A série temporal WWIII dos parâmetros de onda foi decomposta em suas

componentes básicas, a saber: tendência, ciclicidade e variação aleatória. O

algoritmo foi configurado para realizar a decomposição multiplicativa, tendo em vista

que se adequa melhor a séries cujos níveis exercem influência progressiva entre si

(WILKS, 2006). Aplicou-se teste não paramétrico de Mann-Kendall, a nível de

significância de 5%, para indicação de tendência nas séries. O teste aplica as

relações entre os níveis da série para averiguar independência entre os mesmos,

considerando que na hipótese de estabilidade (H0), a sucessão de valores é

independente e a distribuição de probabilidade permanece constante, da seguinte

forma:

𝑆 = ∑ ∑ 𝑠𝑖𝑔(𝑥𝑖 − 𝑥𝑗)𝑛𝑖−1𝑗=1

𝑛𝑖=2 (Equação 1),

em que o sinal é dado por

𝑠𝑖𝑔𝑛(𝑥) = { 1, 𝑠𝑒 𝑥 > 0 0, 𝑠𝑒 𝑥 = 0−1, 𝑠𝑒 𝑥 < 0

(Equação 2),

sendo n o número de observações, i = 1, ..., n são os termos da série, xj são os

dados estimados da sequência de valores, inferidos pelos termos precedentes. A

hipótese H1 indica tendência monotônica no tempo.

Investigou-se o caráter sazonal das ondas que chegaram à plataforma

continental no Litoral Oriental do RN entre os anos de 2012 e 2014 por Análise de

Agrupamento a partir de Métodos Hierárquicos, de maneira a estabelecer os

intervalos temporais mais coesos dos dados WWIII, em parâmetros de onda Hs, Tm

e Dir, ora reunidos ora individualizados. Trata-se de uma técnica estatística

multivariada que classifica os valores de uma matriz de dados em grupos discretos,

mediante critérios de homogeneidade. Inicialmente gera-se uma matriz simétrica de

similaridade, ao que pares de casos com baixas distâncias entre si vão sendo

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35

selecionados e combinados hierarquicamente, segundo processos aglomerativos,

isto é, cada ciclo de agrupamento obedece uma ordem sucessiva no sentido de

decréscimo da similaridade (WILKS, 2006; LANDIM, 2011).

Não se padronizaram as unidades de medida dos parâmetros de onda, ao

que se aplicam mais adequadamente as distâncias Euclidiana e Manhattan.

Segundo Mingoti (2005), a Distância Euclidiana mede a distância entre dois

elementos i e j pela raiz quadrada do somatório dos quadrados das diferenças entre

os valores de i e j para todas as variáveis (k = 1, 2, ..., p), como segue:

𝑑𝑖,𝑗 = [∑ (𝑥𝑘𝑖 − 𝑥𝑘𝑗)2𝑝𝑘=1 ]

12⁄ (Equação 3).

A Distância de Manhattan é a diferença absoluta entre dois vetores,

representando a menor distância geométrica entre os pontos, dada por:

𝑑𝑖,𝑗 = ∑ (𝑥𝑘𝑖 − 𝑥𝑘𝑗)𝑝𝑘=1 (Equação 4).

Empregaram-se os seguintes métodos de agrupamento: (i) Agrupamento

Pareado Igualmente Ponderado por Média Aritmética (do Inglês unweighted pair-

group method with arithmetic mean – UPGMA, denotado como “Average” no R); (ii)

Agrupamento Pareado Igualmente Ponderado por Centroide dos Grupos (do Inglês

unweighted pair-group method with method centroid – UPGMC, denotado como

“Centroid” no R); e (iii) a Mínima Variância (ou Ward’s method of sum-of-squares,

denotado no R como “Ward”).

O Agrupamento Pareado Igualmente Ponderado por Média Aritmética calcula

a distância entre grupos G1 e G2 pela média de todas as distâncias entre pares de

pontos inseridos nos grupos, respectivamente x1 e x2, de acordo com a seguinte

relação:

𝑑𝐺1,𝐺2 =1

𝑛𝐺1+𝑛𝐺2∑ ∑ 𝑑(𝑥1, 𝑥2)𝑥𝑚

𝑥2𝑥𝑛𝑥1 (Equação 5).

O Agrupamento Pareado Igualmente Ponderado por Centroide calcula a

distância entre os vetores de médias dos grupos em comparação (WILKS, 2006).

Dados os grupos G1 e G2, calcula-se a diferença ponto a ponto nos vetores, como

segue:

𝑑𝐺1,𝐺2 = ‖�̅�𝐺1 − �̅�𝐺2‖ (Equação 6).

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36

O método de ligação de Mínima Variância não opera por matriz de distância

previamente armazenada. Maximiza a homogeneidade dentro dos grupos

minimizando a soma dos quadrados das distâncias entre os pontos e o centroide de

seus respectivos grupos resultantes, minimizando a variância interna a estes

(WILKS, 2006). Dados os grupos G no espaço vetorial de dimensão K dos dados,

tem-se:

𝑊 = ∑ ∑ ‖𝒙𝑖 − �̅�𝒈‖2𝑛𝑔

𝑖=1𝐺𝑔=1 = ∑ ∑ ∑ (𝑥𝑖,𝑘 − �̅�𝑔,𝑘)

2𝐾𝑘=1

𝑛𝑔

𝑖=1𝐺𝑔=1 (Equação 7).

Os resultados de agrupamento foram apresentados em gráficos

dendrogramas, que permitem a visualização das relações entre os grupos

selecionados pelos seus níveis de similaridade (eixo vertical). Como a Análise de

Agrupamento é um método mais exploratório que inferencial (WILKS, 2006), a

escolha dos grupos permeou caráter subjetivo, mediante representatividade do

fenômeno físico e dos fatores climáticos envolvidos, porém a significância da

diferença entre eles foi testada em termos da sua variância por técnica ANOVA com

suas respectivas pressuposições.

A Análise de Variância ANOVA compara as médias de diferentes conjuntos

de dados, verificando se existem ou não diferenças significativas entre eles,

mediante a partição da variabilidade total em componentes, de acordo com o

seguinte modelo (STORCH e ZWIERS, 2003):

𝒀𝑖𝑗 = 𝜇 + 𝑎𝑗 + 𝜀𝑖𝑗 (Equação 8),

supondo que as amostras são independentes, têm distribuição normal e variância

constante, supondo ainda j = 1, ..., J amostras de tamanho n e elementos i = 1, ..., n,

representadas pelas variáveis aleatórias Yij; considerando µ a média geral, aj como a

diferença entre µ e µj (em que a soma de aj para todas as amostras tende a zero),

bem como os erros ε são aleatórios e normalmente distribuídos, com variância σ2. O

teste de efeito de tratamento procede, então, da razão entre a variabilidade do

modelo e a variabilidade residual, em que se tem as hipóteses nula (H0) e alternativa

(H1), a saber:

𝐻0: ∑ 𝑎𝑗2 = 0𝐽

𝑗=1 (Equação 9),

ou seja, não existe diferença entre os tratamentos ou grupos, e

𝐻1 : ∑ 𝑎𝑗2 > 0𝐽

𝑗=1 , (Equação 10),

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indicando que não há diferença significativa entre os tratamentos ou grupos.

O Teste de Tukey comparou pares de grupos, a nível de significância de 5%,

pelas diferenças significativas (WILKS, 2006). Para amostras de tamanhos iguais, o

teste declara que duas médias são significativamente diferentes se o valor absoluto

das diferenças amostrais ultrapassar o índice

𝑇𝑆𝐷 = 𝑞𝛼(𝑘, 𝑁 − 𝑘)√𝑄𝑀𝐸

𝑛 (Equação 11),

sendo n o número de réplicas do nível, k as observações independentes, QME o

quadrado médio dos erros e N o número total de observações.

Compararam-se as informações de ondas WWIII com a ocorrência de eventos

atmosféricos de ampla escala que atingiram a região Nordeste do Brasil segundo

informações do Boletim Climanálise (CPTEC/INPE, 2012; 2013; 2014) publicado

mensalmente até abril de 2014 pelo CPTEC, com objetivo de apontar indícios da sua

influência sobre o comportamento das ondas durante o período estudado.

Para espacialização dos resultados da simulação da propagação de onda, as

grades geradas pelo SWAN para toda a série foram reunidas pela média simples

entre os meses selecionados pelo agrupamento, em cada nó, na hora GFS 00,

utilizando rotina de processamento em R©, migradas para ambiente SIG Quantum

GIS e apresentadas cartograficamente.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Ondas na Zona de Altas Profundidades

3.1.1. Análises Estatísticas

A partir dos dados WWIII, observou-se que os maiores valores de Hs que

chegaram ao largo da plataforma continental leste do RN, entre os anos de 2012 e

2014, superaram os 2,42 m, limiar do percentil 99, com máximo de 2,97 m (Figura

2.4a, Tabela 2.1). A maior parte da série ocorreu em torno de 1,59 m (percentil 50).

A ocorrência de ondas mais longas (de maior período) concentra-se ao redor de

7,14 s, com o percentil 99 iniciando aos 10,58 s, máximo de 13,35 s (Figura 2.4b,

Tabela 2.1). A direção de propagação (Figura 2.4c, Tabela 2.1) mais recorrente foi

próxima dos 99 graus azimute (leste-sudeste), com maiores declinações superando

os 134 graus (sudeste), máxima em 146 graus (sudeste).

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Figura 2.4. Histogramas de (a) Hs, (b) Tm e (c) Direção oriundos da série temporal de parâmetros de

onda WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W.

Tabela 2.1. Descrição estatística dos dados WWIII entre os anos de 2012 e

2014, no ponto 06°S 34,7°W.

Hs Tm Dir

Máximo 2,97 13,35 146,00

Média 1,62 7,34 91,63

Mediana 1,59 7,14 99,00

Mínimo 0,96 5,40 0,96

DP* 0,28 0,99 28,47

Percentis

99 2,42 10,58 134

95 2,10 9,29 126

90 1,98 8,63 123

50 1,59 7,14 99

*DP = Desvio Padrão

As ondas com maior Hs atingiram a área de estudo durante os meses de

junho a setembro de 2012 e de junho a outubro de 2014 (Figura 2.5a,b). As ondas

superaram o percentil 99 principalmente durante os meses de junho a outubro,

exceto ao dia 13 de março de 2013 (Tabela 2.2). Tendo em vista que a densidade

de energia média por unidade de área superficial das ondas de gravidade é

proporcional à altura (APRH, 2007), o ano de 2014 apresentou maior agitação

marítima durante os meses de outono e inverno que os demais, com máximo da

série ocorrendo a 23 de julho.

Em termos de Tm (Figura 2.5c,d), destacaram-se os meses de novembro de

2012 a maio de 2013, elevando ao patamar médio de 8,00 s. As ondas mais curtas,

de maior frequência (1/T), ocorreram durante setembro de 2012, entre junho e

setembro de 2013 e entre março e setembro de 2014, corroborando com o cenário

de maior agitação apresentado pelos dados de Hs. O primeiro percentil indicou limiar

de 5,83 s, com mínimo de 5,40 s ocorrendo ao dia 17 de julho de 2013 (Tabela 2.3).

(a) (b) (c)

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39

Tabela 2.2. Ocorrência das ondas de maior Hs (percentil 99) da série WWIII entre os anos de 2012 e

2014, no ponto 06°S 34,7°W.

Data Hs (m) Data Hs (m) Data Hs (m)

07.07.2012 2,47 24.07.2014 2,63 28.09.2014 2,46

16.08.2012 2,45 26.07.2014 2,47 08.10.2014 2,57

17.08.2012 2,51 27.07.2014 2,51 09.10.2014 2,45

23.08.2012 2,63 28.07.2014 2,43 13.10.2014 2,53

13.03.2013 2,63 29.07.2014 2,50 14.10.2014 2,58

15.06.2014 2,50 09.09.2014 2,72 14.10.2014 2,45

23.07.2014 2,97 10.09.2014 2,60 - -

Tabela 2.3. Ocorrência das ondas mais curtas (primeiro percentil de Tm) da série WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W.

Data Tm (s) Data Tm (s) Data Tm (s)

15.01.2012 5,77 21.08.2013 5,78 04.07.2014 5,72

05.04.2012 5,75 10.10.2013 5,83 05.07.2014 5,51

01.07.2012 5,82 11.10.2013 5,82 07.08.2014 5,80

09.08.2012 5,83 21.03.2014 5,55 10.08.2014 5,75

02.09.2012 5,76 22.03.2014 5,79 06.09.2014 5,83

04.09.2012 5,64 24.03.2014 5,74 16.09.2014 5,66

05.09.2012 5,73 25.03.2014 5,77 18.09.2014 5,81

23.06.2013 5,78 26.03.2014 5,80 19.09.2014 5,70

17.07.2013 5,40 06.06.2014 5,73 27.12.2014 5,80

18.07.2013 5,41 22.06.2014 5,79 28.12.2014 5,82

Durante o ano de 2013, preponderaram ondas mais longas (Tabela 2.4), com

máximo de 13,35 s ao dia 13 de março. Este foi o ano de regime de ondas mais

tranquilo do período estudado.

A direção de propagação apresentou ciclicidade bem marcada (Figura 2.5e,f),

com ondas vindas de nordeste e de leste-nordeste entre os meses de janeiro a maio

de 2012, novembro de 2012 a maio de 2013 e dezembro de 2013 a maio de 2014.

Esse padrão ficou bem marcado quando da decomposição das séries temporais

(Figura 2.6), sugerindo caráter climático no comportamento desse parâmetro. Em

regiões de água profunda, onde não há influência do leito nas ondas se formam na

superfície e viajam, o trem de ondas tende a se paralelizar com a direção do vento

que cisalha na interface atmosfera-oceano (STEWART, 2006). Este padrão

direcional entra em acordo com o deslocamento da ZCIT que, em anos regulares,

tem o ramo de escoamento dos alísios de sudeste atuando no Nordeste brasileiro

entre os meses de julho e setembro, condição que se inverte entre março e abril

(MELO, CAVALCANTI e SOUZA, 2009). Neste trabalho, não se dispôs de dados de

vento em alto mar para realizar semelhante comparação, entretanto, a reconstrução

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do WWIII é feita com reanálises NCEP/NOAA, ao que se ancora a coerência destes

resultados.

Figura 2.5. (a), (c), (d) Séries temporais e (b), (d), (f) diagramas mensais de caixas Hs, Tm e Dir, oriundos da série WWIII entre o período de janeiro de 2012 e dezembro de 2014, no ponto 06°S 34,7°W. Pontos vermelhos indicam médias mensais. Linhas vermelhas indicam média móvel com suavização de 30 dias.

Os parâmetros Hs e Tm também apresentaram um componente de

sazonalidade (Figura 2.6b,e), com as ondas maiores e mais curtas vindo

principalmente de sudeste.

As séries de Hs e Dir apresentaram tendência positiva entre os anos de 2012

e 2014, acompanhando uma tendência negativa do Tm (Figura 2.6c,f,i). Portanto,

ocorreu uma intensificação do regime de onda incidente da área de estudo. Apesar

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41

de não se poder tratar de uma variabilidade mais persistente, em função da curta

janela de tempo analisada, esta informação pode ajudar a compreender diversas

mudanças de curto prazo na morfologia e nas condições de navegação do Litoral

Oriental do RN, que acarretaram danos aos trechos de orla.

Os testes não paramétricos de Mann-Kendall confirmaram tendência para Hs,

Tm e Dir, a nível de siginificância de 5%, com todos os casos rejeitando a hipótese

nula de independência e distribuição de probabilidade constante das séries (Tabela

2.5).

Tabela 2.4. Ocorrência das ondas mais longas (percentil 99 de Tm) da série WWIII entre os anos de

2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W.

Data Tm (s) Data Tm (s) Data Tm (s)

27.03.2012 11,35 25.12.2012 10,61 06.02.2013 10,59

28.03.2012 10,84 26.12.2012 10,59 12.03.2013 13,14

25.10.2012 11,73 05.01.2013 11,14 13.03.2013 13,35

26.10.2012 11,21 06.01.2013 10,85 14.03.2013 11,30

10.11.2012 10,58 16.01.2013 12,03 25.03.2013 11,18

25.11.2012 10,58 17.01.2013 11,13 29.04.2013 11,85

19.12.2012 11,41 26.01.2013 10,59 30.04.2013 10,84

20.12.2012 10,74 05.02.2013 10,63 15.12.2014 10,63

Tabela 2.5. Resultados dos testes de Mann-Kendall para séries temporais de Hs,

Tm e Dir oriundas da reconstrução WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto

06°S 34,7°W.

Coeficientes Hs Tm Dir

α 0,05 0,05 0,05

τ 0,23 -0,124 0,113

P-valor < 0,001 < 0,001 < 0,001

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Figura 2.6. Componentes básicas das séries temporais

WWIII de Hs, Tm e Dir, entre os anos de 2012 e 2014, no

ponto 06°S 34,7°W.

Processou-se a Análise de Agrupamento a partir das médias mensais dos

parâmetros de onda, tendo os anos como réplicas de amostragem (Tabela 2.6).

Para os dados WWIII aplicados nesta pesquisa, a cada método hierárquico

empregado, o tipo da distância não promoveu modificações nos grupos finais (não

ilustrado). Todos os métodos reuniram os meses de janeiro, fevereiro, março e abril

no mesmo grupo, denominado G1, no qual predominam condições de verão austral.

Maio e outubro podem ser considerados como períodos de transição do verão ao

outono e do inverno à primavera, respectivamente, ao que foram reunidos no grupo

G2. Todos os métodos agruparam os meses de junho, julho, agosto e setembro no

G3, bem como novembro e dezembro no G4. As principais diferenças aconteceram

no nível de aglutinação dos ciclos da análise, com os mais altos níveis de

similaridades apresentados pelo método Ward (Figura 2.7).

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Tabela 2.6. Médias mensais dos parâmetros de onda da série WWIII entre os anos de 2012 e 2014,

no ponto 06°S 34,7°W. Hs12 Hs13 Hs14 Tm12 Tm13 Tm14 Dir12 Dir13 Dir14

Jan 1,45 1,53 1,70 7,44 8,51 7,65 67,83 52,94 71,85

Fev 1,45 1,57 1,69 7,33 7,86 7,96 66,70 69,84 56,45

Mar 1,41 1,58 1,42 7,63 8,65 7,10 76,14 56,52 76,86

Abr 1,28 1,45 1,41 6,86 8,31 7,66 85,91 62,24 70,84

Mai 1,47 1,51 1,50 7,59 7,44 7,06 94,60 95,13 110,70

Jun 1,52 1,52 1,88 6,99 6,95 6,87 110,93 107,77 114,73

Jul 1,74 1,60 1,94 7,10 6,63 6,87 114,50 116,85 117,36

Ago 1,86 1,65 1,83 7,15 6,75 6,54 127,43 120,64 120,66

Set 1,56 1,74 1,73 6,70 6,99 6,60 112,56 115,15 115,82

Out 1,77 1,59 1,98 7,63 7,11 7,06 103,32 106,18 107,21

Nov 1,51 1,74 1,74 8,64 6,79 7,30 56,89 96,36 89,55

Dez 1,50 1,68 1,73 8,20 7,28 7,18 61,45 76,23 86,83

Ao se individualizar os parâmetros no agrupamento, os meses foram

agrupados de maneira semelhante, com ênfase para a direção (Figura 2.7d,f,g),

cujos níveis de distância indicados no eixo vertical são equiparáveis ao agrupamento

realizado com os três parâmetros (Figura 2.7a). Quando analisadas individualmente

(Figura 2.7b,e) ou pareadas (Figura 2.7c), Hs e Tm apresentaram níveis de

similaridade muito baixos em todos os métodos e distâncias, o que pode estar

relacionado com a menor expressividade da sua componente cíclica, em relação à

Dir.

A segmentação apresentada na Figura 2.7a é doravante adotada como

intervalos de sazonalidade dos dados WWIII aqui aplicados. A Tabela 2.7 e a Figura

2.8 resumem as principais estatísticas descritivas grupos encontrados.

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Todos os parâmetros

Hs Tm Dir

Hs

Tm -

Dir - -

Figura 2.7. Dendrogramas da Análise de Agrupamento dos dados WWIII entre os anos de

2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W, método de Ward, com parâmetros (a) ora reunidos (b,e,g)

ora individualizados (c,d,f) ora pareados.

Tabela 2.7. Descrição estatística dos grupos oriundos da Análise de Agrupamento dos dados WWIII

entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W.

Grupos Meses Média Hs

(m)

DP Hs

(m)

Média Tm

(s)

DP Tm

(s)

Média Dir

(graus)

DP Dir

(graus)

G1 Jan-Fev-Mar-

Abr 1,49 0,22 7,75 1,12 67,88 24,80

G2 Mai-Out 1,64 0,29 7,32 0,76 102,86 17,37

G3 Jun-Jul-Ago-

Set 1,71 0,29 6,84 0,60 116,26 10,40

G4 Out-Nov 1,65 0,23 7,57 1,11 77,84 21,78

(a)

(c) (d) (b)

(e) (f)

(g)

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Figura 2.8. Gráficos em caixa de (a) Hs, (b) Tm e (c) Dir dos grupos sazonais, dados WWIII entre os

anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W.

A significância dos grupos foi testada pela variância entre os mesmos, com

técnica ANOVA. A hipótese nula de igualdade entre os grupos foi rejeitada para Hs,

Tm e Dir (Tabela 2.8), a nível de significância de 1%.

Tabela 2.8. Estatísticas do teste F de variância ANOVA dos grupos oriundos da Análise de

Agrupamento dos dados WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W.

Coeficientes Hs Tm Dir

GL* 3 3 3

F 4,82 8,52 60,78

p-valor 0,007 <0,001 <0,001

α 0,01 0,01 0,01

*GL = Graus de Liberdade

Investigaram-se os pressupostos, a saber:

a) Aleatoriedade e dependência foram indicadas pela dispersão dos

parâmetros em torno de uma média, com melhores resultados para a Dir;

b) Normalidade dos resíduos, de acordo com o teste de Shapiro-Wilk, a nível

de significância de 5%;

c) Resíduos padronizados com distribuição homogênea, bem como o teste de

Bartlett, indicaram homocedasticidade para os três parâmetros.

Testes de Tukey evidenciaram as diferenças das médias dos grupos,

reforçando direção como parâmetro que mais preponderou sobre o agrupamento,

com p-valores inferiores a 0,001, exceto G1 e G4 (Figura 2.9c), que apresentou p-

valor ajustado de 0,16 – rejeitando a hipótese de diferença entre as médias dos

grupos a nível de significância de 5%. Os grupos G1 e G3 tiveram suas médias

significativamente diferentes para todos os parâmetros de ondas, com p-valor

(a) (b) (c)

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ajustado de 0,004 para Hs e <0,001 para Tm e Dir (Figura 2.9a,b). Tratam-se dos

meses com predominância de condições de verão e de inverno, respectivamente.

O Tm e Dir diferenciaram também os grupos G4 e G3 (Figura 2.9b,c),

distinguindo meses de primavera e de verão (p-valor ajustado de 0,016 e < 0,001,

respectivamente). Os demais pares de grupos não tiveram diferença significativa das

suas médias, considerando-se os parâmetros de Hs e Tm (Figura 2.9a,b), o que

implica dizer que as dimensões das ondas reconstruídas pelo WWIII foram pouco ou

nada sensíveis às estações climáticas durante o período estudado.

Figura 2.9. Intervalos de confiança para diferenciação por Teste de Tukey das médias dos grupos

para (a) Hs, (b) Tm e (c) Dir, dados WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W.

3.1.2. Eventos Atmosféricos de Ampla Escala

Segundo Pianca, Mazzini e Siegle (2010), na região da plataforma continental

da área de estudo, ondas oceânicas em direções concordantes com as dos ventos

alísios predominam durante os meses de primavera e verão ao largo da área. No

entanto, durante os meses de outono e inverno há ocorrência de ondas vindas de

sul, as de maior potência energética na região, revelando a influência de ventos

fortes oriundos de frentes frias e polares. Observaram-se essas características na

área de estudo, durante o período analisado.

No Quadro 2.2 apresenta-se uma síntese dos fenômenos atmosféricos que

aconteceram durante o período simulado, de acordo com os boletins mensais

Climanálise (CPTEC/INPE, 2012; 2013; 2014), e que tiveram influência sobre a área

de estudo. Condições de La Niña declinaram até o primeiro semestre de 2012 e o

fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS) manteve-se em neutralidade até o segundo

semestre de 2014, quando se retomou o padrão da fase quente El Niño. O sistema

APAS atuou anomalamente intensificado, promovendo cenário positivo de pressão

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ao nível do mar (PNM) sobre o Atlântico Sul extratropical que se refletiu em

componentes reforçados de escoamento atmosférico de sul e sudeste atingindo a

costa oriental do Nordeste brasileiro, inclusive no RN.

Durante quase todo o período, o gradiente meridional de temperatura da

superfície do mar (TSM) do Atlântico Tropical apresentou-se em Dipolo Positivo –

anomalias positivas no Hemisfério Norte e negativas no Hemisfério Sul -, que

favoreceram uma atuação da ZCIT prolongadamente deslocada a norte da sua

posição climatológica, ajudado pela atuação de vórtices ciclônicos persistentes de

altos níveis sobre o Norte e Nordeste do Brasil que dificultaram o deslocamento para

sul da faixa convectiva. Isso implica em atuação prolongada do ramo de sudeste dos

ventos alísios sobre o Nordeste brasileiro e oceano adjacente durante o ano.

Entre janeiro e abril de 2013 e 2014, meses do G1, as ondas chegaram à

plataforma oriental do RN principalmente de nordeste (Figura 2.10b,c). Para os

grupos G2 e G3, que representam os meses de maio a outubro, as ondas vieram

predominantemente de sudeste, com forte componente de leste em 2013 (Figura

2.10e,h), influenciados pelo escoamento ocasionado pela intensificação do sistema

APAS e pelos episódios de DOL, principalmente durante maio deste mesmo ano

(CPTEC/INPE, 2013). Além disso, durante outubro de 2013, observou-se

escoamento atmosférico de leste intensificado adjacente à costa oriental da América

do Sul. Esses fenômenos podem ter induzido as ondulações que atingiram a

plataforma.

Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL) são distúrbios nos ventos equatoriais

de leste, nucleados sobre a costa oeste da África, no caso do Oceano Atlântico

(SPINOZA, 1996). No Brasil, atingem principalmente a costa do extremo Nordeste,

intensificando eventos de escoamento e precipitação. Para o período estudado,

ocorreram durante os meses pertinentes ao grupo G2 e G3 (Figura 2.10d-i), que

associados a circulação anticiclônica intensificada, conferiram componente de leste

às ondulações que chegaram à plataforma continental da área de estudo. Essa

componente encontrou alísios enfraquecidos, não tendo que concorrer com a

componente nordeste deste escoamento.

Em 2013, ondas com Hs em torno de 3,0 metros chegaram de norte-nordeste

apenas durante o G1 (Figura 2.10b). Os grupos G2 e G3 concentraram ocorrências

de ondas de tal magnitude (Figura 2.10d-i), principalmente durante 2014 (Figura

2.10f,i). Essas situações fazem disparar alertas de mar agitado no boletim Avisos

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aos Navegantes da Marinha do Brasil, para a costa do extremo Nordeste brasileiro.

Na maior parte do tempo estudado, ocorreram predominantemente ondulações entre

1,5 e 2,0 m.

Quadro 2.2. Síntese dos eventos e fenômenos atmosféricos e de escala regional ou global ocorridos

durante os anos de 2012 e 2014 que afetaram a área de estudo. Fonte: Boletim Climanálise CPTEC/INPE.

2012

- La Niña em declínio - TSM Dipolo Positivo - ZCIT deslocada a norte - APAS intensificado - Alísios enfraquecidos em janeiro - Sistema frontal sul da BA em 06 de abril

- ENOS neutro - TSM Dipolo Positivo

- ZCIT ligeiramente deslocada a norte - APAS intensificado

- Escoamento anticiclônico anômalo

2012

2013

- ENOS neutro - TSM Dipolo Positivo - ZCIT deslocada a norte - APAS intensificado - Alísios enfraquecidos

- ENOS neutro - APAS intensificado

- Alísios enfraquecidos - Escoamento de leste intensificado

- Sistemas frontais ao sul da BA

2013

2014

- Condições iniciais de El Niño - APAS deslocado a oeste - Alísios enfraquecidos - Sistemas frontais sul da BA

Análises sinóticas não disponíveis.

2014

G1 G2

2012

2013

2014

G4 G3

2014

2013

Análises sinóticas não disponíveis. Análises sinóticas não disponíveis.

- ENOS neutro - TSM dipolo positivo - ZCIT posição climatológica (5°N) - Alísios enfraquecidos - Escoamento anticiclônico anômalo - Sistemas frontais ao sul da BA

- ENOS neutro - TSM dipolo positivo reduzido

- APAS intensificado e deslocado a leste

- Alísios de NE enfraquecidos - Escoamento de sudeste

intensificado - DOL (1-3jul, 5,18,29ago,13set) - Sistemas Frontais no sul da BA

- ENOS neutro - TSM Dipolo Positivo - ZCIT deslocada a norte - Anomalias negativas de PNM

- ENOS neutro - TSM Dipolo Positivo

- ZCIT deslocada a norte - Alísios ativos com anomalias de leste em

julho, enfraquecidos em setembro - Escoamento anômalo de sudeste em

setembro - Sistemas frontais no sul da BA

- Vários episódios de DOL

2012

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Figura 2.10. Diagramas de pétalas de Hs dos grupos sazonais entre os anos 2012 e 2014, dados

WWIII, ponto geográfico 06°S 34,7°W.

2012 2013 2014 G

1

G2

G3

G4

Hs (m)

N

N

N

N

N

N N

N

N

N

N

N

(a) (b) (c)

(d)

(j)

(e) (f)

(k)

(g) (h) (i)

(l)

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3.2. Ondas Incidentes na Plataforma Continental Oriental do RN

Na representação do leito a partir das Cartas Náuticas 810 e 22100, a feição

de fundo mais perceptível na região profunda é o cânion submarinho do Rio Jundiaí-

Potengi (destacado na Figura 2.11), que mede aproximadamente 11 km de extensão

meridional na sua parte mais oeste. Nas demais porções, a plataforma apresenta

aprofundamento gradual, com inclinação suave até perto dos 30 km de distância da

costa, ao que se inicia o relevo abrupto da quebra da plataforma continental, em

colunas de água com 90 a 100 m de altura.

Figura 2.11. Superfície batimétrica integrada por interpolação com método Vizinho Natural, oriunda da digitalização das cartas náuticas 810 e 22100 da Marinha do Brasil. Seta vermelha destaca o cânion submarino do Rio Potengi.

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Observou-se que as diferenças com relação aos valores de um mesmo dia

das ondas marítimas incidentes foi muito baixa. Como não se utilizou campo local de

ventos na simulação, não se pode inferir sobre possíveis efeitos das variações

diurnas da brisa marítima na ondulação incidente na área de estudo

De acordo com a simulação da chegada de ondas até a orla, durante todo o

período, os meses dos grupos G1 e G4 apresentaram ondas com menores valores

de Hs, contrastantes com os meses dos grupos G2 e G3 (Figura 2.13), que

representam transição entre o outono e inverno e deste para a primavera.

Em todas as ocasiões, as praias do município de Nísia Floresta receberam

ondas mais intensas que os demais. Matos et al. (2015) identificaram avanço da

linha de costa neste município, com ciclos destrutivos nos períodos de 1984 a 1994

e 2004 a 2014, notadamente na praia de Tabatinga. Algumas áreas de recuo da

linha de costa foram encontradas entre os anos de 1994 a 2004. O litoral de Nísia

Floresta não tem ocupação tão recorrente da faixa de pós-praia quanto Natal, de

modo que ainda existem trechos com alguma possibilidade de oferta de sedimentos,

com fontes como as falésias vivas e dunas frontais das praias de Pirangi do Sul e

Tabatinga (Figura 2.12a,c,d). Onde existe ocupação, os efeitos do avanço do mar já

são sentidos, a exemplo de hotéis e segundas residências construídos sobre o pós-

praia da orla de Búzios – os proprietários instalaram rochas na tentativa de conter a

ação marinha sobre as edificações (Figura 2.12b).

A direção de propagação predominante de leste e de leste-nordeste ocorreu

para os grupos G1 e G4, entre os meses de novembro e abril, Entre os meses de

maio e outubro, as ondas chegaram principalmente de sudeste ou leste-sudeste. A

propagação na área de estudo é consonante com os ramos dos ventos alísios que

atuaram predominantemente em cada época. Durante o ano de 2014, ondas mais

intensas atingiram o Litoral Oriental do RN, primordialmente durante os meses dos

grupos G2 e G3 (Figura 13j,k). Neste período, iniciam-se condições para entrada na

fase quente do ENOS, o El Niño, entretanto, série bem maior de dados de onda é

necessária para estabelecer ligação entre ENOS e a ondulação que chega ao Litoral

Oriental do RN.

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Figura 2.12. Litoral do município de Nísia Floresta: (a) rochas de praia e dunas frontais vegetadas na praia de Pirangi do Sul; (b) segundas residências e hotéis instalados sobre pós-praia tentam evitar colapso pela retirada de sedimentos com emprego de rochas na praia de Búzios; (c) falésias vivas que formam a Ponta de Tabatinga; (d) dunas frontais parcialmente ocupadas na praia de Tabatinga. Fonte: Fotos da autora, em vistoria pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do RN (IDEMA), a setembro de 2016.

Supõe-se que o cânion submarino do Rio Potengi (demarcado pela isóbata de

100 m) retarda a dissipação de energia de um trecho do trem de ondas, promovendo

gradiente lateral de Hs. Entretanto, o padrão de direção não foi perturbado pela

feição, na escala deste trabalho, o que pode estar atrelado a limitações da

modelagem.

A interseção entre as isolinhas de Tm e as cores de Hs indica a relação

espacial desses parâmetros, ou seja, após a arrebentação da onda, ao se propagar

pela zona rasa da plataforma continental oriental do RN, a altura da onda diminui

com a mesma taxa com que encurta seu ciclo, viajando em direção à linha de costa,

denotando um padrão de dissipação energética que aponta para a intensificação do

trabalho hidráulico com o raseamento do leito.

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Figura 2.13. Mapas de médias sazonais de Hs, Tm e Dir, simulados no domínio computacional SWAN.

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4. CONCLUSÕES

A série temporal WWIII apresentou tendências positivas de parâmetros de

onda nos anos estudados, entretanto, é necessário lançar mão de séries mais

longas, da ordem de 30 anos ou mais, para se indicar com segurança alguma

intensificação dos estados de mar e agitação na plataforma oriental do RN.

Fenômenos atmosféricos de escala regional condicionaram a ondulação que

adentrou a plataforma continental adjacente à área de estudo. A direção de

propagação foi influenciada pelo conjunto das variações dos ventos alísios, o

escoamento gerado pelo sistema APAS intensificado durante quase todo o período,

além de anomalias de leste relacionadas a ocorrências pontuais de DOL

concentrados aos meses do grupo G3.

Cenários de pressão ao nível do mar anomalamente reduzidas no Oceano

Atlântico Sul acompanharam o relaxamento dos alísios na região equatorial durante

os meses de verão. Tais fatores promoveram ondas de menores magnitudes

atingindo a plataforma continental leste do Nordeste brasileiro.

Ao contrário, anomalias positivas de pressão atmosférica no Atlântico Sul

promoveram escoamento superficial que amplificou a magnitude das ondulações

formadas em alto mar e que atingiram a costa da área de estudo, principalmente

durante os meses de outono e inverno – associados a atividades mais proeminente

do sistema APAS e da ocorrência de eventos DOL entre julho e agosto.

A partir dos parâmetros Hs, Tm e Dir, análises de Agrupamento identificaram

períodos de similaridade do regime de ondas que chegaram à plataforma continental

adjacente ao Litoral Oriental do RN entre os anos de 2012 e 2014, a saber: janeiro,

fevereiro, março e abril reunidos no grupo G1; maio e outubro, enquanto meses

transicionais, no grupo G2; junho, julho, agosto e setembro, meses com condições

de outono e inverno, no grupo G3; e novembro e dezembro, no grupo G4.

Em função da escala espacial e dos propósitos de representação ao nível

global em que se baseia o WWIII, é recomendável a inserção de dados ambientais

regionais atualizados na própria reconstrução da série, especialmente quando da

sua utilização em análises mais específicas, para fins de planejamento de obras de

Engenharia Costeira, instalações offshore, dentre outros. Dessa maneira, torna-se

possível representar campos de ventos locais, variações de temperatura do ar e de

pressão atmosférica em melhor resolução.

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A agitação marítima na plataforma continental compreendida pela área de

estudo foi mais severa durante os meses de G2 e G3, com ondas maiores e mais

curtas atingindo as praias do Litoral Oriental do RN. Nessa época, o litoral de Nísia

Floresta recebeu as ondulações mais intensas, em relação aos municípios vizinhos.

O ano de 2014 teve cenário de ondas mais intensas, o que pode ser atribuído à

formação de condições de El Niño no Oceano Pacífico. Entretanto, o curto período

analisado não permite esse tipo de afirmativa, ao que séries temporais mais longas

precisam ser empregadas.

Este trabalho apresentou cenários de ondulação em plataforma rasa que

podem ser diretamente relacionados a eventos recentes e às respostas de curto

prazo do ambiente costeiro do RN, em termos de picos erosionais e danos a aparato

urbanístico, notadamente na orla do município de Nísia Floresta.

As cartas náuticas são produtos oficiais, gratuitos e de livre acesso,

disponibilizados em mídia digital via Internet pela Marinha do Brasil, além de receber

constantes correções e melhoramentos da sua qualidade, bem como

compatibilizações com cartografias internacionais. Desse modo, podem viabilizar

pesquisas técnico-científicas de baixo custo para diversos fins, desde construção

didática até gestão do espaço costeiro. Além disso, utilizaram-se dados e pacotes

computacionais de acesso gratuito e livre (exceção da interface SOPRO, transferida

sem custos por acordo de cooperação técnica entre LNEC e UFRN), o que viabilizou

análises de grande valia para decisões territoriais e de intervenções na zona

costeira.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Ensino Superior (CAPES) do Ministério da Educação do Brasil pela concessão de

bolsa de mestrado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências

Climáticas – PPGCC, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ao

Laboratório de Geoprocessamento da UFRN (GEOPRO) pelo treinamento operativo

e estrutura computacional de hardware, ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil

de Portugal (LNEC) pelo aparato de software em que se deu a execução desta

pesquisa. Ao PPGCC por ancorar e apoiar o desenvolvimento deste trabalho.

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III – SEGUNDO ARTIGO

SIMULAÇÃO NUMÉRICA DE ONDAS MARÍTIMAS NA PRAIA DE PONTA NEGRA

- VIA COSTEIRA, NATAL/RN, NORDESTE DO BRASIL, 2012 A 2014 (*)

Lívian Rafaely de Santana Gomes1

Venerando Eustáquio Amaro2,4

Maria Helena Constantino Spyrides1

Rosane Rodrigues Chaves1,3

Maria de Fátima Alves de Matos2

1Programa de Pós-Graduação em Ciências Climáticas – PPGCC/CCET/UFRN, Natal, Brasil.

2Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil – PEC/ CCET/UFRN, Natal, Brasil.

3Departamento de Ciências Atmosféricas e Climáticas – DCAC/ CCET/UFRN, Natal, Brasil.

4Departamento de Geologia – DG/ CCET/UFRN, Natal, Brasil.

(*) A ser submetido à publicação periódica em Geociências

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RESUMO

A praia de Ponta Negra e sua extensão até a Via Costeira, litoral sul do município de

Natal/RN, vem sendo atingida por eventos de erosão costeira que ocasionam danos

ao aparato urbanístico instalado e às condições sanitárias da praia, gerando riscos

aos frequentadores e os empreendimentos comerciais e hoteleiros que ali se

concentram. Em 2012, instaurou-se estado de calamidade pública na PPN-VC e em

2014, construiu-se enrocamento aderente para a proteção costeira da orla. Neste

trabalho, buscou-se averiguar o regime de ondas incidentes durante esse período.

Realizou-se simulação numérica com o modelo SWAN (Universidade Tecnológica de

Delft), operado pela interface computacional SOPRO (Laboratório Nacional de

Engenharia Civil de Portugal). Como condições iniciais e de contorno, em mar

aberto, utilizaram-se informações de altura significativa, período médio e direção de

propagação de ondas oriundas da base Wavewatch III - WWIII. Representou-se o

leito pela batimetria das cartas náuticas 810 e 22100 da Marinha do Brasil; a série

maregráfica da estação do Porto de Natal. Para segmentação em intervalos

sazonais, aplicou-se Análise de Agrupamento à série WWIII, testando-se a

significância da diferenciação entre os grupos de meses por teste ANOVA de

variância. Os meses de janeiro a abril e de junho a setembro foram reunidos em dois

grupos, correspondendo a condições predominantes de verão e inverno,

respectivamente. Os meses de maio e outubro integraram outro grupo, ao que

representam transições entre os dois primeiros. Novembro e dezembro figuraram um

quarto grupo de regime de ondas. A ondulação teve influência de eventos

atmosféricos de ampla escala que afetaram o escoamento superficial de ar sobre o

Atlântico Tropical Sul. No trecho da praia de Ponta Negra e Via Costeira, a enseada

do Morro do Careca tem ondulação atenuada pela difração no promontório, onde o

período variou em torno de 7,55 s e altura significativa de 0,65 m, e a energia de

incidência aumenta em direção à Via Costeira, com período de 6,88 s e altura de

0,76 m durante os meses de inverno.

Palavras–chave: Regime de Ondas; Praia em Zeta; Wavewatch III; SWAN; Análise

de Agrupamento; Eventos Atmosféricos.

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ABSTRACT

Along sandy beach of Ponta Negra and Via Costeira, southest part of the urban

coast in Natal/RN, are verified peaks of erosion with negative impacts and damage to

urbanistic facilities and sanitary conditions, promoting risks for users and local

touristic enterprises. A state of public calamity was established in 2012. A seawall

rockfill was built for coastal protection of the shoreline in 2014. In this work, was

ascertained the incident wave regime between this period. The numerical model

SWAN (Delft University) was applied operated by the graphic interface SOPRO

(National Laboratory of Civil Engineering of Portugal). As initial boundary conditions

in open sea, significant height information was used, average period and direction of

wave propagation from the Wavewatch III (WWIII) base. The bathymetry was

represented by the Nautical Charts 810 and 22100 of Brazilian Navy and the water

level of tide gauge at Port of Natal. For segmentation in seasonal intervals, Cluster

Analysis was applied the WWIII series, testing the significance of the groups by

ANOVA test of variance. The months from January to April and from June to

September were grouped into two groups, corresponding to predominant conditions

of summer and winter, respectively. The months of May and October are part of

another group that represents transitions among the first. November and December

integrated a fourth group of wave regime during the studied period. The wave trend

was influenced by atmospheric events that were conditions for air flow over South

Tropical Atlantic. In the extension of Ponta Negra and Via Costeira the cove of Morro

do Careca has attenuated undulation by diffraction of the promontory, where the

period varied around 7.55 s and height of 0.65 s and the incidence of energy

increased toward Via Costeira, with period of 6.88 s and height of 0.76 m during the

winter months.

Key-Words: Wave Regime; Zeta Bay; Wavewatch III; SWAN; Cluster Analysis;

Atmospheric Events.

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1. INTRODUÇÃO

A orla do Litoral Oriental do Estado do Rio Grande do Norte (RN) está exposta

a intenso clima de ondas marítimas, cuja incidência é associada a um histórico de

erosão costeira nas suas praias arenosas e falésias, danos a equipamentos urbanos

e degradações ambientais (SCUDELARI et al., 2005; NUNES, ARAÚJO e LIMA,

2008; SANTOS-JR. et al., 2011; BUSMAN, AMARO e PRUDÊNCIO, 2014;

FERREIRA, AMARO e SANTOS, 2014; ALMEIDA et al., 2015; AMARO et al., 2015),

acompanhando tendências de todo RN e litoral brasileiro (MEUHE, 2006; SOUZA,

2009; AMARO, SANTOS e SOUTO, 2012). O clima de ondas ao largo da costa

define parte significativa da energia que incide nas regiões mais rasas da plataforma

continental e, junto a outras forçantes meteoceanográficas como ventos, marés e

correntes, modula processos morfológicos relacionados principalmente a transporte

sedimentar (SUGUIO, 2003; IH-CANTÁBRIA, 2012; PIANCA, MAZZINI e SIEGLE,

2010).

A PPN-VC é um dos principais símbolos cênicos da cidade e destacável

destino turístico desde a década de 80, quando foi implantada a Via Costeira e

duplicada a Av. Engenheiro Roberto Freire, que dá acesso direto dos bairros

circunvizinhos à praia (SILVA, BENTES-SOBRINHA e CLEMENTINO, 2006;

SEMURB, 2008, 2009; MACIEL e LIMA, 2014a,b). Dados da Secretaria do Turismo

do RN indicam fluxo turístico de 4.297.781 visitantes brasileiros e estrangeiros em

Natal, entre os anos de 2001 e 2004, com média de 1.074.445 pessoas por ano,

arrecadando uma receita total de US$ 944.309.847,00 Dólares (AMARO,

SCUDELARI, et al., 2012a).

Ao ano de 2000, executou-se o projeto de urbanização Orla de Ponta Negra,

que promoveu a construção do calçadão com aproximadamente 3 km de extensão,

desde o Morro do Careca até o início da Via Costeira (Figura 3.1), bem como a

substituição das antigas barracas de praia por quiosques de fibra de vidro

(SEMURB, 2008; 2009). Nesse período, houve um significativo crescimento da

densidade demográfica do bairro de Ponta Negra, que passou de 13,07

habitantes/ha em 1991 para 17,85 habitantes/ha em 2000, concentrando próximo à

orla, a maior quantidade de hotéis, pousadas, bares, restaurantes e outros tipos de

serviços e comércio ligados ao turismo do setor sul de Natal. Em 2012 havia 18,02

hab/ha em 2012 – levando em conta a área total do município neste ano de 1.382,03

há (MACIEL e LIMA, 2014a,b).

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Figura 3.1. Atual estado de urbanização da orla de

PPN-VC. Imagem Google Earth© de julho de 2014.

Desde a sua implantação, o calçadão litorâneo vem sofrendo danos e

intervenções pontuais em função de erosão costeira, situação que se tornou

proeminente e generalizada durante o outono de 2012, quando eventos de ressaca

de mar ocasionaram a derrubada de vários trechos do calçadão, acompanhado do

colapso do sistema de esgoto, saneamento e drenagem, com consequente risco à

incolumidade física dos frequentadores da praia (BUSMAN, AMARO e PRUDÊNCIO,

2014; AMARO et al., 2015; ARAÚJO, SCUDELARI e AMARO, 2015). A Prefeitura

Municipal de Natal decretou Estado de Calamidade Pública por três vezes, mediante

os decretos: (i) nº 9.744 de 13 de julho de 2012, (ii) nº 9.912 de março de 2013 e (iii)

nº 9.994 de 17 de junho de 2013. À época, o Ministério Público demandou laudos

periciais, ajuizados pela Ação Civil Pública nº 0006804-08.2012.4.05.8400, tramitada

pela 4ª Vara da Justiça Federal, concretizado no documento intitulado “Indicação

das obras emergenciais de contenção e reparação dos equipamentos públicos e de

segurança dos frequentadores da praia de Ponta Negra, Natal-RN”, realizado por

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AMARO et al., (2012b). Os peritos indicaram aterramento hidráulico como principal

solução para a erosão da PPN-VC.

Após ampla discussão com participação de órgãos públicos e segmentos da

sociedade, estabeleceu-se a implantação de obra rígida de enrocamento aderente

(Figura 3.2), iniciada durante o ano de 2013 ao custo total de R$ 6.689.000,00 Reais

pela Prefeitura de Natal (Processo 59050.000265/2013-98-Natal/RN). Em vistoria

técnica, encontraram-se irregularidades do diâmetro e peso das rochas utilizadas,

além de outras inadequabilidades do projeto (vide ação civil pública ajuizada na

Justiça Federal – Ministério Público Federal do RN – com registro 0805878-

23.2014.4.05.8400, distribuída para o Juiz titular da 1ª Vara Federal). Visitando a

praia, é possível perceber a carreada de areia mesmo com o enrocamento

(SCUDELARI et al., 2016), principalmente em locais com saídas de água do

escoamento superficial urbano – e que aparentemente não foram realocadas.

Mesmo a estabilidade da estrutura rígida é perturbada, havendo rolamento de

alguns blocos para o estirâncio (Figura 3.2b). Além disso, durante os períodos de

maré alta, o espraiamento atinge as estruturas principalmente na PPN, limitando o

uso para desporto e lazer na areia aos períodos de maré baixa.

Figura 3.2. Fotografias do enrocamento aderente implantado na PPN como emergência

obra de emergência aos danos provocados por erosão costeira. Fonte: Laboratório de

Geoprocessamento da UFRN (GEOPRO).

A inexistência de um banco de dados técnicos e de monitoramento das

variáveis meteoceanográficas de médio prazo, para a região vem sendo latente ao

longo do processo de mitigação de impactos por erosão marítima e inundação, não

apenas na orla da PPN-VC, mas a todo o Litoral Oriental do RN (AMARO et al.,

2012b). Nesse contexto, modelos de previsão e reconstrução alimentados por dados

de campanhas oceanográficas in situ e radares orbitais, bem como a simulação

numérica da propagação de ondas em regiões costeiras conferem análises

(a) (b)

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geograficamente abrangentes e preenchimento de séries temporais que atendem às

necessidade de intervenção e decisões relacionadas à manutenção do equilíbrio

entre os processos naturais e o uso dos espaços costeiros (CAIRES, STERL, et al.,

2004; NORDSTRON, 2010; EMMANOUIL, GALANIS, et al., 2007; LEFÉVRE et al.,

2006; PIANCA, MAZZINI e SIEGLE, 2010; DIMITROVA, KORTCHEVA e GALABOV,

2013; MATOS et al., 2013, ONEA e RUSU, 2016).

Este trabalho tem o objetivo de averiguar o regime de ondas que incidiu sobre

o trecho de orla da Praia de Ponta Negra – Via Costeira (doravante PPN-VC), entre

os anos de 2012 a 2014, espacializando os parâmetros de ondas relacionados com

a severidade de incidência sobre o aparato urbanístico atual. Para tal,

estabeleceram-se os seguintes objetivos específicos, a saber: (i) Simular o regime

de ondas incidente na linha de costa entre os anos de 2012 e 2014 empregando o

modelo SWAN, interface gráfica SOPRO-LNEC, a partir de condições iniciais e de

contorno oriundos da série temporal de parâmetros de onda extraída da base de

dados Wavewatch III; (ii) Espacializar a variabilidade sazonal do padrão de ondas

que atingiram a orla da PPN-VC entre os anos de 2012 e 2014, em ambiente

computacional georreferenciado.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

A PPN-VC está na margem continental do extremo Nordeste do Brasil,

banhada pelo Oceano Atlântico Equatorial Sul, trecho de praia urbana do Município

de Natal, capital do RN, que vai desde o Morro do Careca e segue até a Ponta de

Mãe Luiza, à norte (Figura 3.3).

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Figura 3.3. Localização da área de estudo (retângulo vermelho). Bases cartográficas: Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística e Carta Náutica 22100 da Marinha do Brasil.

O Litoral Oriental do RN está em contexto litológico da Bacia Pernambuco-

Paraíba, limitada a norte com a Bacia Potiguar pelo Alto de Touros e a sul, com a

Bacia Sergipe-Alagoas, pelo Alto de Maragogi (CÓRDOBA et al., 2007). Trata-se de

uma margem continental passiva em estágio evolutivo avançado em termos de

tectonismo global, oriunda da abertura do Oceano Atlântico (BAPTISTA-NETO e

SILVA, 2004), sendo interpretada como último elo entre os continentes sulamericano

e africano (CÓRDOBA et al., 2007). Sistemas de falhas normais de alto ângulo com

direções nordeste-sudoeste e noroeste-sudeste relacionadas ao rifteamento

Atlântico Sul acomodaram a sedimentação mesozoica e controlaram a

sedimentação cenozoica até o recente, sobremaneira canais de drenagens e

depósitos aluvionais, a exemplo dos alinhamentos do Rio Potengi e da Lagoa do

Bonfim (BEZERRA et al., 2001).

No setor que vai da Falha de Mamanguape até Natal, a sequência sedimentar

tem espessura máxima de 250 m no litoral, ocorrendo entre Baía Formosa e Tibau

do Sul e sobre o gráben de Natal, com ocorrência da Formação Jandaíra, ligando a

evolução desta sub-bacia com a Bacia Potiguar (BARBOSA e LIMA-FILHO, 2006).

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De acordo com a Carta Geológica Folha Natal SB-25-V-C-V escala 1:100.000,

publicada em 2012 pelo Serviço Geológico Brasileiro (CPRM), na PPN-VC e entorno

afloram as seguintes litologias:

Arenitos terciários de coloração avermelhada do Grupo Barreiras expressos na

paisagem por tabuleiros altiplanos recortados em falésias pela ação fluvial e

marinha;

Depósitos quaternários eólicos formando dunas ora móveis ora vegetadas com

dezenas de metros de altura;

Depósitos quartzosos de praias marítimas em planos de declive suave;

Recifes areníticos de cimentação ora ferruginosa ora carbonática com

bioclastos, granulometria média a grossa, distribuídos como linhas paralelas à

costa;

Depósitos aluviais, lacustres e flúvio-marinhos onde repousam planícies

alagadiças e mangues.

A cidade de Natal é dividida ao meio pelo Rio Jundiaí-Potengi, que deságua

em estuário, alinhado com cânion submarino escavado na plataforma à época em

que o nível de base local estava mais à juzante do que atualmente.

A plataforma continental na área de estudo tem extensão média de 40 km

perpendicularmente à linha de costa e profundidade de quebra a partir da isóbata de

100 m. A PPN-VC figura uma linha de costa em forma de zeta, com enseada

parcialmente protegida pelo promontório onde se localiza o Morro do Careca.

Estudos do Instituto de Pesquisa Tecnológica do Estado de São Paulo (IPT) da

década de 70 indicaram fácies sedimentares litorânea com areias quartzosas em

acumulações alongadas próximas à linha de costa, com porcentagens de

organismos (moluscos, foramníferos bentônicos e fragmentos de algas calcáreas).

Esses sedimentos siliciclásticos transicionam para fácies de algas calcáreas

localizada entre as isóbatas de 12 e 15 m (NATAL, 2016).

A circulação oceânica da plataforma oriental do RN caracteriza-se pela

Corrente Norte do Brasil, que se desloca para norte, originada da bifurcação da

Corrente Sul Equatorial nas proximidades do litoral sul da Bahia (PETERSON e

STRAMMA, 1991; CAMPOS et al., 2001; STRAMMA et al., 2003). O clima sobre a

bacia oceânica atlântica caracteriza-se principalmente por um sistema anticiclônico

de alta pressão atmosférica (ou Alta Pressão do Atlântico Sul - APAS) nas regiões

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subtropicais com máxima de 1.021 mbar próximo a 5°W/32°S durante o verão no

Hemisfério Sul e movendo-se 800 km a norte durante o inverno, com centro de

1.025 mbar alocado próximo a 10°W/27°S. As diferenças de pressão entre os pontos

de máximos e as zonas costeiras da América do Sul e da África aumentam durante

o verão por causa das temperaturas comparativamente mais baixas sobre os

continentes, intensificando o escoamento atmosférico de baixos níveis para oeste

(PETERSON e STRAMMA, 1991; REBOITA et al., 2012). Além do escoamento

proveniente da APAS, o Litoral Oriental do RN está em uma região sob intenso

efeito dos ventos alísios de leste e sudeste, (MELO, CAVALCANTI e SOUZA, 2009)

cuja confluência em baixos níveis está associada à Zona de Convergência

Intertropical (ZCIT).

Segundo série histórica de 1948 a 2010 do banco de dados interno ao SMC-

Brasil (IH-CANTABRIA, 2012), a maré astronômica em frente à PPN-VC varia de -

1,3 a 1,4 m em média, com picos de maré de sizígia equinociais atingindo 1,5 m em

preamar, com a amplitude máxima alcançada a cada seis horas, configurando tipo

de maré semidiurna. A maré meteorológica, em função de fatores como precipitação

e pressão atmosférica, adiciona entre -0,09 a 0,09 m à coluna de água,

apresentando variabilidade em termos principalmente de eventos meteorológicos,

com eventos mais intensos ocorrendo em escala bidecadal.

De acordo com dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), a

normal climatológica de precipitação (de 1961 a 1990) indica que o clima da região

litorânea do município de Natal/RN é classificado como tropical chuvoso com verão

seco (As’) pelo sistema de Köppen, com temperaturas máximas e mínimas

climatológicas de 30°C e 24°C respectivamente, período chuvoso compreendido

entre os meses de março a julho, precipitação média anual em torno de 1.465,00

mm, período chuvoso ocorrendo entre os meses de abril e julho (Figura 3.4).

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Figura 3.4. Normal climatológica da precipitação mensal acumulada,

tomada entre os anos de 1961 e 1990 para a estação meteorológica de

Natal/RN. Fonte: INMET.

Neste trabalho, tratou-se das ondas de gravidade geradas pelo fluxo de

momento transferido da atmosfera para o oceano, também chamado de tensão do

vento, calculado a partir da velocidade do vento e do coeficiente de arrasto

(JEFFREYS, 1925; HASSELMANN et al., 1973). Para descrição da ondulação,

utilizou-se os seguintes parâmetros: (i) altura significativa Hs, que compreende a

altura de 1/3 das mais altas ondas medidas em um período de referência; (ii) o

período médio Tm com que a onda viaja; bem como (iii) a direção média de

propagação do trem de ondas, referido à frente como Dir.

As etapas de aquisição dos dados iniciais, bem como a preparação e

processamento da simulação numérica aqui adotadas seguiram-se à semelhança

dos trabalhos de Matos et al. (2011, 2013), realizados para o Litoral Setentrional do

RN, excetuando-se as dimensões planimétricas do domínio computacional da

modelagem e o intervalo de tempo evocado. Nos itens que seguem, detalham-se as

etapas de trabalho.

2.1. Simulação Numérica

2.1.1. Condições Iniciais e de Contorno

A Agitação marítima proveio da base de dados WAVEWATCH III® - WWIII

(TOLMAN, 2014), um modelo de previsão e reconstrução (hidcasting) de ondas

oceânicas de terceira geração, desenvolvido pelo departamento Marine Modeling

and Analysis Branch (MMAB) do Environmental Modeling Center (EMC) do National

Center for Environmental Prediction (NCEP) do departamento estadunidense

0.0

50.0

100.0

150.0

200.0

250.0

300.0

Normal Climatológica (1961-1990) INMET - Precipitação Acumulada Mensal (mm) Estação Natal/RN

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71

National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA). Vem sendo amplamente

utilizado em trabalhos para a costa brasileira (e.g. PIANCA, MAZZINI e SIEGLE,

2010; IH-CANTÁBRIA, 2012; MATOS et al., 2011, 2013), sendo assimilado inclusive

pelo setor de Previsão Oceânica do Centro de Previsão de Tempo e Estudos

Climáticos (CPTEC/INPE) no Sistema de Previsão e Monitoramento Costeiro do

Brasil – SIMCos (CPTEC/INPE, 2016). O WWIII aplica as mesmas equações

hidrodinâmicas que estão no âmago da formulação do SWAN, contemplando os

seguintes processos físicos: refração e tensão (straining) do campo de ondas devido

a variações temporais e espaciais da profundidade média e da corrente média,

crescimento e decaimento das ondas devido à influência do vento, interações

ressonantes não lineares, dissipação por white-capping e fricção do fundo.

A série temporal do WWIII, em sua versão 4.18, foi obtida através de rotina

escrita em GFortran pela equipe do Departamento de Hidráulica e Ambiente (DHA)

do Laboratório Nacional de Engenharia Civil de Portugal (LNEC), elaborada para o

download automatizado em qualquer ponto da grade disponibilizada pelo NOAA.

Abrangeu os anos de 2012 a 2014, contendo 4.384 itens válidos, com informações

de Hs, Tm e Dir, a cada seis horas no Global Forecasting System (GFS), a saber:

0000, 0600, 1200 e 1800 que compreendem os horários locais 21:00, 03:00, 09:00 e

15:00, respectivamente. Adquiriu-se a série no ponto de longitude 34,7°W e latitude

6,0°S (Figura 3.3) distante aproximadamente 45 km da costa leste do RN, em zona

de profundidade superior a 2.000 m.

Para representar o leito na área de estudo, digitalizaram-se as cartas náuticas

810 e 22100 da Marinha do Brasil, com resolução espacial de 10 m, transportadas

para arquivo vetorial tipo shapefile Esri, por captura em tela das cotas batimétricas

em pontos homogeneamente distribuídos. Utilizou-se a suíte computacional

ArcMap© v.9.3 de Sistemas de Informações Geográficas (SIG). Integraram-se os

pontos por interpolação com método de Vizinho Natural, mediante a indicação de

Moura et al. (2011).

Os valores de cota das cartas náuticas estão referenciados com relação ao

nível de redução, que compreende a superfície calculada a partir da média das

marés baixas de sizígia de um período de referência (MIGUENS, 1996). No caso da

PPN-VC, esse valor é dado em 1,34 m abaixo do nível médio do mar nas

imediações do marégrafo do Porto de Natal, mantido pela Diretoria de Hidrografia e

Navegação (DHN).

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72

A estação maregráfica do Porto de Natal, mantida pela DHN (disponível em

http://www.mar.mil.br/dhn/chm/box-previsao-mare/tabuas/), forneceu os valores de altura

da coluna de água para correção da onda simulada. A tábua de maré astronômica é

dada em termos dos máximos e mínimos do nível da água e foi necessária a

interpolação no tempo para os horários GFS obtidos pelo WWIII.

Utilizou-se, para esse fim, o módulo de Análise e Previsão de Maré do

Sistema Base de Hidrodinâmica Ambiental - SisBAHIA® (ROSMAN, 2015),

elaborado e mantido pelo Instituto Aberto Luiz de Coimbra de Pós-Graduação e

Pesquisa de Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ). A partir das constantes harmônicas fornecidas pela Fundação de Estudos

do Mar (FEMAR) no Catálogo de Estações Maregráficas Brasileiras (disponível em

http://www.fundacaofemar.org.br/biblioteca/emb/indice.html), foi possível reconstruir a

previsão da tábua de maré com outros intervalos de tempo.

2.1.2. Propagação de Ondas até a Linha de Costa

O SWAN foi desenvolvido pela Delft University of Technology da Holanda, a

partir de equações de balanço espectral de variância, agregando várias fontes de

sumidouro do sistema (SWAN-TEAM, 2015). Resolve a equação do transporte de

energia de modo que as variações locais da energia espectral no tempo e as

variações de fluxo de energia no espaço são compensadas com as saídas e

entradas de energia no sistema. A presença de correntes conserva a densidade de

ação ao invés da densidade de energia espectral. As fontes e sumidouros de

energia são traduzidas nas equações, contemplando a geração de onda por vento, a

dissipação de energia por white-capping, o atrito com o fundo e por arrebentação da

onda, bem como as interações não lineares tétrades e quádruplas de onda,

incorporadas na terceira geração do modelo.

A simulação foi operacionalizada via interface da ferramenta computacional

SOPRO v.3.0, desenvolvida por equipe do LNEC, que integra diversas

funcionalidades, a saber: a consulta a bases de dados (caso da costa portuguesa),

simulação numérica da propagação de ondas, simulação de navegação em zonas

portuárias e a caracterização de regimes de agitação marítima próximo a estruturas

costeiras ou no interior de portos (FORTES et al., 2006; FORTES, PINHEIRO e

SANTOS, 2011).

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73

Para a simulação matemática, criaram-se três malhas computacionais

retangulares acopladas, com a utilização do ArcMap© v.9.3 (ilustradas e descritas

na Figura 3.5 e Quadro 3.1, respectivamente).

Figura 3.5. Mapa das malhas computacionais utilizadas na propagação da agitação marítima até a linha de costa com SWAN.

Apesar de o ponto de obtenção da série WWIII não coincidir exatamente com

a borda de entrada da malha (Figura 3.5), está em local com lâmina d’água sempre

superior a 1.000 m, de modo que a onda não sofre dissipação significativa de

energia pelo leito oceânico.

Quadro 3.1. Malhas computacionais inseridas na propagação da agitação marítima por SWAN.

Malha Vértices (long/lat)* Área (km2)

Resol. Espacial

Abrangência (Toponímia)

1 SW: -35,282629/-6,074060 NE: -34,921323/-5,520360

2.443,72 100 m Barra de Maxaranguape (Maxaranguape/RN) até a Ponta de Tabatinga (Nísia Floresta/RN)

2 SW: -35,211767/-5,966832 NE: -34,986123/-5,735321

639,93 50 m Praia de Redinha (Natal/RN) até a Ponta do Flamengo (Parnamirim/RN)

3 SW: -35,207869/ -5,893603 NE: -35,118151/-5,804456

98,01 25 m Ponta de Mãe Luiza até o Morro do Careca (Natal/RN)

*Coordenadas geográficas em graus decimais, Datum WGS-1984

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74

A configuração da modelagem (resumida no Quadro 3.2) foi consonante com

base nas características morfológicas e geográficas do trecho de litoral estudado

(e.g. direção predominante da linha de costa e das isolinhas batimétricas,

conformação geométrica do leito, características do substrato sedimentar, as

condições de ondas incidentes ao largo).

Quadro 3.2. Configuração da simulação de agitação marítima SWAN, empregada em trecho do Litoral Oriental do RN.

ESPECTRO

Tipo: JONSWAP (Período médio)

Direção: 0 a 180° Az 24 divisões

Frequência: 0,04 a 0,5 Hz 25 divisões

AGITAÇÃO MARÍTIMA

WWIII 01/01/2012 a 31/12/2014

PROCESSOS FÍSICOS

Difração Fricção Interações Tríades

Granulometria predominante: areia média

CONDIÇÕES ESTACIONÁRIAS

Matrizes regulares de transferência:

Hs = 1m Tp = 10 s Dir = 90°Az Maré = 1,34 m

Bordas de entrada: Norte, leste e sul

O Espectro de JONSWAP, calculado a partir dos dados coletados na

campanha do Joint North Sea Wave Observaction Project (HASSELMANN et al.,

1973), considera que a ondulação nunca chega ao nível completamente

desenvolvido, mas permanece em interações não lineares onda-onda por longos

períodos de tempo e distância.

A título de modelamento numérico das ondas geradas por vento, a camada

crítica de 10 m acima do nível do mar é amplamente utilizada, tendo em vista que a

transferência de calor e momento entre a atmosfera e o oceano é aproximadamente

constante (STEWART, 2006). As condições de vento foram mantidas constantes a

todo o domínio computacional, pois seria necessário cálculo de transporte dos

valores registrado nas estações meteorológicas mantidas pelo INMET para atender

às condições marítimas a 10 m de altura, o que ampliaria os erros de estimativa da

simulação – a estação meteorológica de Natal está a 48 m acima do nível do mar e

distante aproximadamente 2 km em linha reta do litoral e 5 km da PPN-VC, além de

estar localizado à sotavento de um expressivo campo de dunas com relevo em

morros de dezenas de metros de altura, o Parque das Dunas (significativo obstáculo

de desvio do escoamento atmosférico local). A base de dados WWIII é forçada com

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campo de ventos do National Centers for Environmental Prediction (NCEP/NOAA),

ao que a simplificação foi elegida como preferível ao presente estudo.

Quando da realização deste trabalho, não se dispôs de dados diretos da

ondulação adjacente à plataforma do RN e tampouco na zona de surfe da PPN-VC,

em série temporal extensa o suficiente e com qualidade para viabilizar a validação

da simulação com SWAN.

2.2. Análises Sazonais

Realizou-se a estatística descritiva básica e demais análises com o software

R©, versão 3.1.3, um pacote computacional de distribuição livre e gratuita, realizado

em projeto de colaboração centrado na R Foundation for Statistical Computing.

Elaborarm-se os diagramas em pétalas das direções de propagação com o software

WRPlot©, desenvolvido e distribuído gratuitamente pelo grupo Lakes Environmental.

Investigou-se o caráter sazonal das ondas de alto mar por Análise de

Agrupamento a partir de Métodos Hierárquicos, de maneira a estabelecer os

intervalos temporais mais coesos dos dados WWIII, em parâmetros de onda Hs, Tm

e Dir, ora reunidos ora individualizados. Trata-se de uma técnica estatística

multivariada que classifica os valores de uma matriz de dados em grupos discretos,

mediante critérios de homogeneidade. Inicialmente gera-se uma matriz simétrica de

similaridade, ao que pares de casos com baixas distâncias entre si vão sendo

selecionados e combinados hierarquicamente, segundo processos aglomerativos,

isto é, cada ciclo de agrupamento obedece uma ordem sucessiva no sentido de

decréscimo da similaridade (WILKS, 2006; LANDIM, 2011).

Não se padronizaram as unidades de medida dos parâmetros de onda, ao

que se aplicam mais adequadamente as distâncias Euclidiana e Manhattan.

Segundo Mingoti (2005), a Distância Euclidiana mede a distância entre dois

elementos i e j pela raiz quadrada do somatório dos quadrados das diferenças entre

os valores de i e j para todas as variáveis (k = 1, 2, ..., p), como segue:

𝑑𝑖,𝑗 = [∑ (𝑥𝑘𝑖 − 𝑥𝑘𝑗)2𝑝𝑘=1 ]

12⁄ (Equação 1).

A Distância de Manhattan é a diferença absoluta entre dois vetores,

representando a menor distância geométrica entre os pontos, dada por:

𝑑𝑖,𝑗 = ∑ (𝑥𝑘𝑖 − 𝑥𝑘𝑗)𝑝𝑘=1 (Equação 2).

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Foram então empregados os seguintes métodos de agrupamento: (i)

Agrupamento Pareado Igualmente Ponderado por Média Aritmética (do Inglês

unweighted pair-group method with arithmetic mean – UPGMA, denotado como

“Average” no R); (ii) Agrupamento Pareado Igualmente Ponderado por Centroide dos

Grupos (do Inglês unweighted pair-group method with method centroid – UPGMC,

denotado como “Centroid” no R); e (iii) a Mínima Variância (ou Ward’s method of

sum-of-squares, denotado no R como “Ward”).

O Agrupamento Pareado Igualmente Ponderado por Média Aritmética calcula

a distância entre grupos G1 e G2 pela média de todas as distâncias entre pares de

pontos inseridos nos grupos, respectivamente x1 e x2, de acordo com a seguinte

relação:

𝑑𝐺1,𝐺2 =1

𝑛𝐺1+𝑛𝐺2∑ ∑ 𝑑(𝑥1, 𝑥2)𝑥𝑚

𝑥2𝑥𝑛𝑥1 (Equação 3).

O Agrupamento Pareado Igualmente Ponderado por Centroide calcula a

distância entre os vetores de médias dos grupos em comparação (WILKS, 2006).

Dados os grupos G1 e G2, calcula-se a diferença ponto a ponto nos vetores, como

segue:

𝑑𝐺1,𝐺2 = ‖�̅�𝐺1 − �̅�𝐺2‖ (Equação 4).

O método de ligação de Mínima Variância não opera por matriz de distância

previamente armazenada. Maximiza a homogeneidade dentro dos grupos

minimizando a soma dos quadrados das distâncias entre os pontos e o centroide de

seus respectivos grupos resultantes, minimizando a variância interna a estes

(WILKS, 2006). Dados os grupos G no espaço vetorial de dimensão K dos dados,

tem-se:

𝑊 = ∑ ∑ ‖𝒙𝑖 − �̅�𝒈‖2𝑛𝑔

𝑖=1𝐺𝑔=1 = ∑ ∑ ∑ (𝑥𝑖,𝑘 − �̅�𝑔,𝑘)

2𝐾𝑘=1

𝑛𝑔

𝑖=1𝐺𝑔=1 (Equação 5).

Apresentaram-se os resultados de agrupamento em gráficos dendrogramas,

que permitem a visualização das relações entre os grupos selecionados pelos seus

níveis de similaridade (eixo vertical). Como a Análise de Agrupamento é um método

mais exploratório que inferencial (WILKS, 2006), a escolha dos grupos permeou

caráter subjetivo, mediante representatividade do fenômeno físico e dos fatores

climáticos envolvidos, porém testou-se a significância da diferença entre eles, em

termos da sua variância, por técnica ANOVA com suas respectivas pressuposições.

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77

A Análise de Variância ANOVA compara as médias de diferentes conjuntos

de dados, verificando se existem ou não diferenças significativas entre eles,

mediante a partição da variabilidade total em componentes, de acordo com o

seguinte modelo (STORCH e ZWIERS, 2003):

𝒀𝑖𝑗 = 𝜇 + 𝑎𝑗 + 𝜀𝑖𝑗 (Equação 6),

supondo que as amostras são independentes, têm distribuição normal e variância

constante, supondo ainda j = 1, ..., J amostras de tamanho n e elementos i = 1, ..., n,

representadas pelas variáveis aleatórias Yij; considerando µ a média geral, aj como a

diferença entre µ e µj (em que a soma de aj para todas as amostras tende a zero),

bem como os erros ε são aleatórios e normalmente distribuídos, com variância σ2. O

teste de efeito de tratamento procede, então, da razão entre a variabilidade do

modelo e a variabilidade residual, em que se tem as hipóteses nula (H0) e alternativa

(H1), a saber:

𝐻0: ∑ 𝑎𝑗2 = 0𝐽

𝑗=1 (Equação 7),

ou seja, não existe diferença entre os tratamentos ou grupos, e

𝐻1 : ∑ 𝑎𝑗2 > 0𝐽

𝑗=1 , (Equação 8),

indicando que não há diferença significativa entre os tratamentos ou grupos.

O Teste de Tukey comparou pares de grupos, a nível de significância de 5%,

pelas diferenças significativas (WILKS, 2006). Para amostras de tamanhos iguais, o

teste declara duas médias são significativamente diferentes se o valor absoluto das

diferenças amostrais ultrapassar o índice

𝑇𝑆𝐷 = 𝑞𝛼(𝑘, 𝑁 − 𝑘)√𝑄𝑀𝐸

𝑛 (Equação 9),

sendo n o número de réplicas do nível, k as observações independentes, QME o

quadrado médio dos erros e N o número total de observações.

Compararam-se as informações de ondas WWIII com a ocorrência de eventos

atmosféricos de ampla escala que atingiram a região Nordeste do Brasil segundo

informações do Boletim Climanálise (CPTEC/INPE, 2012; 2013; 2014) publicado

mensalmente até abril de 2014 pelo CPTEC, com objetivo de apontar indícios da sua

influência sobre o comportamento das ondas durante o período estudado.

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78

Para espacialização dos resultados da simulação da propagação de onda, as

grades geradas pelo SWAN nas três malhas computacionais foram reunidas pela

média simples em cada nó, na hora GFS 00, a cada dia do período simulado,

utilizando rotina de processamento em R©, migradas para ambiente SIG Quantum

GIS e apresentadas cartograficamente. Observou-se que as diferenças com relação

aos valores de um mesmo dia das ondas marítimas incidentes é muito baixa. Tal

resultado pode estar atrelado a não utilização de campo de ventos local na

simulação, dificultando identificarem-se efeitos das variações diurnas da brisa

marítima na ondulação incidente na área de estudo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Sazonalidade das Ondas de Alto Mar

Processou-se Análise de Agrupamento a partir das médias mensais dos

parâmetros de onda, tendo os anos como réplicas de amostragem. Para os dados

WWIII aplicados nesta pesquisa, a cada método hierárquico empregado, o tipo da

distância não promoveu modificações nos grupos finais (não ilustrado). Todos os

métodos reuniram os meses de janeiro, fevereiro, março e abril no mesmo grupo,

denominado G1, no qual predominam condições de verão austral. Maio e outubro

podem ser considerados como períodos de transição do verão ao outono e do

inverno à primavera, respectivamente, ao que foram reunidos no grupo G2. Todos

os métodos agruparam os meses de junho, julho, agosto e setembro no G3, bem

como novembro e dezembro no G4.

As principais diferenças aconteceram no nível de aglutinação dos ciclos da

análise, com os mais altos níveis de similaridades apresentados pelo método Ward.

Quando analisadas individualmente ou pareadas, Hs e Tm apresentaram níveis de

similaridade muito baixos em todos os métodos e distâncias, o que pode estar

relacionado com a menor expressividade da sua componente cíclica, em relação à

Dir. A segmentação apresentada na Figura 3.6 é doravante adotada como intervalos

de sazonalidade dos dados WWIII aqui aplicados.

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79

Figura 3.6. Dendrograma da

Análise de Agrupamento dos

dados WWIII entre os anos de

2012 e 2014, no ponto 06°S

34,7°W, método de Ward,

com parâmetros de onda Hs,

Tm e Dir.

A significância dos grupos foi testada pela variância entre os mesmos, com

técnica ANOVA. A hipótese nula de igualdade entre os grupos foi rejeitada para Hs,

Tm e Dir (Tabela 3.1), a nível de significância de 1%.

Tabela 3.1. Estatísticas do teste F de variância ANOVA dos grupos oriundos da Análise de

Agrupamento dos dados WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W.

Coeficientes Hs Tm Dir

GL* 3 3 3

F 4,82 8,52 60,78

p-valor 0,007 < 0,001 < 0,001

α 0,01 0,01 0,01

*GL = Graus de Liberdade

Investigaram-se os pressupostos, a saber:

a) Aleatoriedade e dependência foram indicadas pela dispersão dos

parâmetros em torno de uma média, com melhores resultados para a Dir;

b) Normalidade dos resíduos verdadeira, de acordo com o teste de Shapiro-

Wilk, a nível de significância de 5%;

c) Resíduos padronizados com distribuição homogênea, bem como o teste de

Bartlett, indicaram homocedasticidade para os três parâmetros.

Testes de Tukey (95% nível de confiança) evidenciaram as diferenças das

médias dos grupos, reforçando direção como parâmetro que mais preponderou

sobre o agrupamento, com p-valores inferiores a 0,001, exceto o par G1-G4 (Figura

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80

3.7c), que apresentou p-valor ajustado de 0,16 – rejeitando a hipótese de diferença

entre as médias dos grupos a nível de significância de 5%.

Os grupos G1 e G3 tiveram suas médias significativamente diferentes para

todos os parâmetros de ondas, com p-valor ajustado de 0,004 para Hs e <0,001 para

Tm e Dir (Figura 3.7a,b). Tratam-se dos meses com predominância de condições de

verão e de inverno, respectivamente.

O Tm e Dir diferenciaram também os grupos G4 e G3 (Figura 3.7b,c),

distinguindo meses de primavera e de verão (p-valor ajustado de 0,016 e < 0,001,

respectivamente). Os demais pares de grupos não tiveram diferença significativa das

suas médias, considerando-se os parâmetros de Hs e Tm (Figura 3.7a,b), o que

implica dizer que as dimensões das ondas reconstruídas pelo WWIII foram pouco ou

nada sensíveis às estações climáticas durante o período estudado.

Figura 3.7. Intervalos de confiança para diferenciação por Teste de Tukey das médias dos grupos

para (a) Hs, (b) Tm e (c) Dir, dados WWIII entre os anos de 2012 e 2014, no ponto 06°S 34,7°W.

3.2. Ondas Incidentes na Orla Sul de Natal/RN

Reservando-se à resolução espacial de 10 m, as cartas náuticas 810 e 22100

interpoladas por método de Vizinho Natural indicaram presença de bancos e calhas,

ondulações do relevo associadas a cúspides praiais (Figura 3.8a), bem como o

caráter dissipativo gradando a intermediário do Morro do Careca à Via Costeira

(Figura 3.8b,c). Feições semelhantes foram observadas por Ferreira, Amaro e

Santos (2014), que obtiveram modelos digitais de elevação de toda a face praial de

Ponta Negra, em suas porções emersas e submersas, integrando a superfície ao

referencial altimétrico geodésico do Brasil (MAPGEO2010), a partir de técnicas de

posicionamento por Global Navigation Satellite System (GNSS). Os autores

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81

calcularam profundidades de fechamento de até 4 m, utilizando as equações do

Sistema de Modelagem Costeira do Brasil (SMC-Brasil).

Alinhando-se com o promontório do Morro do Careca, ocorre um banco

alongado semelhante a um corredor com profundidades de 10 a 9 m (destacado na

Figura 3.8a), que forma ângulo suave com a direção predominante das isóbatas

mais externas, que variam de 11 a 13 m de profundidade. Tal feição pode estar

associada a efeitos da estruturação tectônica da Sub-Bacia Natal, a qual se

depositou em semigrábens formando altos e baixos estruturais bem pronunciados

com falhas extensionais em direção nordeste. A configuração em zeta do litoral

favorece a erosão principalmente no promontório e no ponto de incidência

imediatamente após a porção protegida da enseada, em decorrência do padrão de

refração e difração particular a essa morfologia (VITAL et al., 2006).

Segundo os resultados da propagação de ondas, entre janeiro e abril de 2013

e 2014, meses do G1, as ondas chegaram principalmente de nordeste (Figura

3.9a,e,i), levemente defletidas a leste em 2012. Para os grupos G2 e G3, que

representam os meses de maio a outubro, as ondas vieram predominantemente de

sudeste. Os meses dos grupos G2, G3 e G4 de 2014 apresentaram clima de ondas

mais severo (Figura 3.9j,k,l).

Em termos de contexto climático, condições de La Niña declinaram até o

primeiro semestre de 2012 e o fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS) manteve-se

em neutralidade até o segundo semestre de 2014, quando se retomou o padrão da

fase quente El Niño (CPTEC/INPE, 2012; 2013; 2014). Durante todo o período

estudado, o sistema APAS atuou anomalamente intensificado, promovendo cenário

positivo de pressão ao nível do mar (PNM) sobre o Atlântico Sul extratropical que se

refletiu em componentes reforçados de escoamento atmosférico de sudeste

atingindo a costa oriental do Nordeste brasileiro.

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82

Figura 3.8. (a) Representação batimétrica da PPN-VC originada por

interpolação método Vizinho Natural das cartas náuticas 810 e 22100. Elipse

destaca banco em profundidade de 10 a 9 metros alinhado com o

promontório do Morro do Careca. (b) Perfil batimétrico na enseada do Morro

do Careca (MC). (c) Perfil batimétrico na Via Costeira (VC). Elevações

referentes ao mar em Nível de Redução, cotas batimétricas em (a) e cotas

topográficas em (b) e (c).

(a)

(b)

(c)

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83

Os mapas de simulação no domínio da Malha 2 (Figura 3.9) permitem

observar a influência dos bancos de areia nos padrões da ondulação, principalmente

a partir da isóbata de 20 m. À medida que a frente de onda se aproxima da linha de

costa, as ondulações perdem altura e o período encurta até alcançar a cota

batimétrica de 5 m aproximadamente, onde o Tm volta a ser ampliado em alguns

trechos da orla, marcando variações nos perfis das praias. Segundo Araújo,

Scudelari e Amaro (2015), as profundidades de fechamento da PPN-VC aproximam-

se desta cota, o que evidencia o efeito do perfil da praia sobre a dissipação da

energia de onda incidente.

A propagação de onda na PPN-VC, simulada com resolução de 25 m da

Malha 3 (Figura 3.10), demarca a zona de baixa energia de incidência de ondulação

na enseada do promontório do Morro do Careca (Figura 3.10), porção mais ao sul da

praia, onde o período variou em torno de 7,55 s e Hs de 0,65 m. Ocorre a difração

da frente de onda em virtude do promontório que suporta o Morro do Careca, como

também foi observado por Almeida et al. (2015) com o SMC-Brasil. Em direção à Via

Costeira, a praia muda para um perfil refletivo (declividade mais pronunciada), na

qual a energia de incidência de onda é mais intensa, com Tm de 6,88 s e Hs de 1,35

m durante os meses do G3. Tais resultados corroboram com a variação de perfil

topográfico de praia encontrada por Ferreira, Amaro e Santos (2014), Amaro et al.

(2015) e Almeida et al. (2015), em que a praia é dissipativa (declive mais suave) nas

adjacências do Morro do Careca.

Durante outubro de 2013, observou-se escoamento atmosférico de leste

intensificado adjacente à costa oriental da América do Sul (CPTEC/INPE, 2013).

Distúrbios ondulatórios de leste (DOL) ocorreram durante os meses pertinentes ao

grupo G2 e G3, que associados à circulação anticiclônica intensificada, conferiram

componente de leste às ondulações que chegaram à plataforma continental da área

de estudo. Entretanto, a ondulação predominante de sudeste destes períodos está

relacionada com a intensificação do sistema APAS.

Os trabalhos de Amaro et al. (2012b); Busman, Amaro e Prudêncio (2014) e

de Amaro et al. (2015) apontam esse trecho como de maior evidência da retirada de

sedimentos e danos ao equipamento urbano durante o ano de 2012 (Figura 3.10),

relacionados a eventos de ressaca marinha, principalmente durante os meses de

G3. Análises de viabilidade técnica, econômica e ambiental contratadas pela

Prefeitura Municipal de Natal apontaram a necessidade de prolongar o enrocamento

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84

aderente até parte da VC, adotando-se concomitante alimentação de praia com

sedimentos retirados da plataforma e instalação de linha segmentada de gabiões

semisubmersos próximos à profundidade de fechamento da PPN-VC (NATAL,

2016).

Araújo (2015) demonstrou a intensificação da carreada de sedimentos

durante os meses de outono e inverno, o que o autor atribuiu ao período chuvoso da

cidade e a percolação superficial como vetor de mobilização de sedimentos em

direção à plataforma. Neste trabalho, a série WWIII propagada por SWAN até a linha

de costa reforçou essa tendência entre os anos de 2012 e 2014, demonstrando que,

além das chuvas, ondas mais intensas incidiram sobre a área de estudo durante

esse mesmo período, fornecendo energia para o seu transporte longitudinal.

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85

Figura 3.9. Mapas de médias sazonais de Hs, Tm e Dir, simulados no domínio da Malha 2 no SWAN.

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86

Figura 3.10. Mapas de médias sazonais de Hs, Tm e Dir, simulados no domínio da Malha 3 no SWAN.

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87

O ângulo horizontal formado entre a frente de onda e a linha de costa da PPN

favorecem o transporte longitudinal de sedimentos, que passam a ser carreados

para fora da praia e levados pela deriva litorânea local, que se movimenta para norte

na costa oriental do Nordeste brasileiro. Busman, Amaro e Prudêncio (2014)

realizaram prognóstico da movimentação da linha de costa da PPN com os métodos

de regressão temporal em transectos, utilizando algoritmos da suíte computacional

Digital Shoreline Analysis System (DSAS/NOOA). Constatou-se, com coeficientes de

determinação R2 acima de 0,60, que mais de 97% da extensão da praia está sujeita

a erosão costeira.

Amaro et al. (2015), por meio de análise espaço-temporal de imagens de

satélite de resoluções moderadas e altas, identificaram avanço da linha de costa na

PPN, em escalas de tempo decadal e anual, notadamente intensificados quando dos

booms de urbanização da orla, década de 70 e primeira década dos anos 2000.

Segundo os autores, as edificações e estruturas implantadas impermeabilizaram a

região do pós-praia, especialmente dunas frontais, interrompendo assim a troca de

sedimentos entre o estirâncio e os compartimentos mais altos da orla, que conferia o

equilíbrio da praia. Foram obtidas taxas de avanço da linha de costa com até 3,7

m/ano nas áreas mais afetadas.

Corroboram com os dois trabalhos supracitados, os resultados de Araújo,

Scudelari e Amaro (2015), que apontam taxas de transporte longitudinal de

sedimentos no litoral sul de Natal reduzindo-se entre as décadas de 50 e 70,

intensificando-se a partir dos anos 2000 – data do primeiro projeto de urbanização

da orla (SEMURB, 2008; 2009).

4. CONCLUSÕES

Agruparam-se os parâmetros de ondas em alto mar em intervalos sazonais

com técnicas de Análise de Agrupamento, sendo bem representados os meses de

verão e inverno em termos de regime de ondas, a saber: grupo G1 de janeiro a abril,

grupo G2 com maio e outubro – meses de transição climática –, grupo G3 de junho a

setembro, grupo G4 com novembro e dezembro.

Fenômenos atmosféricos de escala regional condicionaram a ondulação que

adentrou a plataforma continental adjacente à área de estudo. Anomalias positivas

de pressão atmosférica no Atlântico Sul promoveram escoamento superficial que

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amplificou a magnitude das ondulações formadas em alto mar e que atingiram a

costa da área de estudo, principalmente durante os meses de outono e inverno –

associados a atividades mais proeminente do sistema APAS e da ocorrência de

eventos DOL entre julho e agosto.

Na simulação de propagação de ondas que incidem na PPN-VC, destacou-se

a zona de baixa energia de incidência de ondulação na enseada do Morro do

Careca, porção mais ao sul, em função da difração da frente de onda em virtude do

promontório que suporta o próprio Morro. Ondas maiores e mais curtas incidem na

parte mais ao norte da praia – em direção à Via Costeira, trecho em que o perfil

topográfico vai gradando ao estado refletivo.

Este trabalho apresentou informações atualizadas, que podem ser associadas

a eventos erosionais recentes e às respostas de curto prazo do ambiente costeiro da

PPN-VC, bem como às pressões sofridas pelo enrocamento aderente instalando

entre os anos de 2013 e 2014 na PPN. Foram utilizados dados e pacotes

computacionais de acesso gratuito e livre (exceção da interface SOPRO, transferida

sem custos por acordo de cooperação técnica entre LNEC e UFRN), o que viabilizou

análises de grande valia para decisões territoriais e de intervenções na zona

costeira.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de

Ensino Superior (CAPES) do Ministério da Educação do Brasil pela concessão de

bolsa de mestrado no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Ciências

Climáticas – PPGCC, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Ao

Laboratório de Geoprocessamento da UFRN (GEOPRO) pelo treinamento operativo

e estrutura computacional de hardware, ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil

de Portugal (LNEC) pelo aparato de software em que se deu a execução desta

pesquisa. Ao PPGCC por ancorar e apoiar o desenvolvimento deste trabalho.

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93

IV - CONCLUSÕES

Realizaram-se simulações de incidência de ondas em parte do Litoral Oriental

do RN, com ênfase no trecho da PPN-VC, litoral sul de Natal.

A série temporal WWIII obtida entre os anos de 2012 e 2014, apresentou

limiar do percentil 99 de Hs em 2,42 m, com máximo de 2,97 m e média de 1,59 m.

A ocorrência de ondas mais longas (de maior Tm), com o percentil 99 iniciando aos

10,58 s, máximo de 13,35 s e média de 7,14 s. A direção de propagação mais

recorrente foi próxima dos 99 graus azimute (leste-sudeste), com maiores

declinações superando os 134 graus (sudeste), máxima em 146 graus (sudeste). As

ondas WWIII com maior Hs ocorreram durante os meses de junho a setembro de

2012 e de junho a outubro de 2014. O ano de 2014 apresentou maior agitação

marítima durante os meses de outono e inverno que os demais, com máximo da

série ocorrendo a 23 de julho. Durante o ano de 2013, preponderaram ondas mais

longas, com máximo de 13,35 s ao dia 13 de março. Este foi o ano de regime de

ondas mais tranquilo do período estudado.

A decomposição das séries temporais WWIII indicaram tendências positivas

de Hs nos anos estudados, indicando intensificação da energia de onda incidente na

plataforma continental oriental do RN, confirmada pelo teste não paramétrico de

Mann-Kendall.Entretanto, é necessário lançar mão de séries mais longas, da ordem

de décadas, para se indicar com segurança alguma intensificação dos estados de

mar e agitação na plataforma oriental do RN. A direção de propagação apresentou

ciclicidade bem marcada, com ondas vindas de nordeste e de leste-nordeste entre

os meses de janeiro a maio de 2012, novembro de 2012 a maio de 2013 e dezembro

de 2013 a maio de 2014, sugerindo caráter climático no comportamento desse

parâmetro, em consonância com o deslocamento meridional da ZCIT.

Agruparam-se estes parâmetros em intervalos sazonais com técnicas de

Análise de Agrupamento, com mais altos níveis de similaridade apresentados pelo

método Ward. Foram bem representados os meses de verão e inverno, a saber:

grupo G1 de janeiro a abril, grupo G2 com maio e outubro – meses de transição

climática –, grupo G3 de junho a setembro, grupo G4 com novembro e dezembro. A

significância dos grupos foi testada pela variância entre os mesmos, com técnica

ANOVA, ao que a hipótese de igualdade entre os grupos foi rejeitada para Hs, Tm e

Page 102: SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA INCIDÊNCIA DE ONDAS MARÍTIMAS … · highest waves during the period. In the extension of Ponta Negra and Via Costeira the cove of Morro do Careca has attenuated

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Dir, com p-valores de 0,007 e inferiores a 0,001 respectivamente (nível de

significância de 1%). Testes de Tukey aplicados aos grupos em pares indicaram que

Hs e Tm não tiveram diferenças significativas de suas médias, implicando que as

dimensões das ondas reconstruídas pelo WWIII foram pouco ou nada sensíveis às

estações climáticas durante o período estudado.

Fenômenos atmosféricos de escala regional condicionaram a ondulação que

adentrou a plataforma continental adjacente à área de estudo. Cenários de pressão

ao nível do mar anomalamente reduzidas no Oceano Atlântico Sul acompanharam o

relaxamento dos alísios na região equatorial durante os meses do G1. Tais fatores

promoveram ondas de menores magnitude atingindo a plataforma continental leste

do Nordeste brasileiro. As anomalias positivas de pressão atmosférica no Atlântico

Sul, promoveram escoamento superficial que amplificou a magnitude das

ondulações formadas em alto mar e que atingiram a costa oriental do RN,

principalmente durante os meses de G2 e G3 – associados a atividades mais

proeminente do sistema APAS e da ocorrência de eventos DOL entre julho e agosto.

Em função da escala espacial e dos propósitos de representação ao nível

global do WWIII, é recomendável a inserção de dados ambientais regionais

atualizados na própria reconstrução da série, especialmente quando da sua

utilização em análises mais específicas, para fins de planejamento de obras de

Engenharia Costeira, instalações offshore, dentre outros. Dessa maneira, se torna

possível representar campos de ventos locais, variações de temperatura do ar e de

pressão atmosférica em melhor resolução.

Em termos da propagação de onda até a linha de costa, na Região

Metropolitana de Natal, a agitação marítima na área de estudo foi mais severa

durante os meses de G2 e G3, com ondas maiores e mais curtas atingindo as

praias, chegando a 1,29 m na PPN-VC. Nessa época, o litoral de Nísia Floresta

recebeu as ondulações mais intensas, em relação aos municípios vizinhos, com Hs

próximo de 1,65 m durante os meses de G3 de 2014.

O ano de 2014 teve cenário de ondas mais intensas, o que pode ser atribuído à

formação de condições de El Niño no Oceano Pacífico. Entretanto, o curto período

analisado não permite quantificar essa relação, ao que além de séries temporais

mais longas, precisa-se comparar numericamente alguns dos diversos índices

Page 103: SIMULAÇÃO NUMÉRICA DA INCIDÊNCIA DE ONDAS MARÍTIMAS … · highest waves during the period. In the extension of Ponta Negra and Via Costeira the cove of Morro do Careca has attenuated

95

relacionados ao fenômeno ENOS e variáveis das condições locais de agitação

atmosférica e marítima da área de estudo.

Detalhando-se a simulação à PPN-VC, os meses dos grupos G2, G3 e G4 de

2014 apresentaram clima de ondas mais severo. Nessa escala do trabalho, aparece

destacadamente a zona de baixa energia de incidência de ondulação na enseada do

Morro do Careca, onde o período variou em torno de 7,55 s e Hs de 0,65 m, em

função da difração que o trem de ondas sofre no promontório ao sul da praia. Ondas

maiores e mais curtas incidem na parte mais ao norte da PPN – em direção à Via

Costeira, trecho em que o perfil topográfico vai gradando ao estado refletivo. Em

direção à Via Costeira, a praia muda para um perfil refletivo (declividade mais

pronunciada), na qual a energia de incidência de onda é mais intensa, com Tm de

6,88 s e Hs de 1,35 m durante os meses do G3.

Este trabalho apresentou informações atualizadas, que podem ser

relacionadas a eventos recentes e às respostas de curto prazo do ambiente costeiro

da PPN-VC e as pressões sofridas pelo enrocamento aderente instalando entre os

anos de 2013 e 2014 na PPN, que poderá ser ampliado até a VC. Além disso, foram

empregados bancos de dados gratuitos e de livre acesso, do Brasil e de instituições

internacionais de pesquisa, para representar o leito batimétrico, o nível de maré,

bem como as condições iniciais e de contorno da ondulação que entrou na

plataforma continental oriental adjacente ao RN, viabilizando a pesquisa em escala

global e regional. Tal abordagem pode ter aplicações práticas ao quantificar e

espacializar parte da energia marinha incidente sobre a orla, informação de grande

valia para decisões de intervenção e/ou uso do espaço.

Como recomendações de continuidade e/ou complementação desta pesquisa,

sugere-se ampliar estudos de transporte longitudinal de sedimentos, previsão de

deslocamento de linha de costa e cotas de inundação, mediante cenários extremos

de condições atmosféricas e agitação marinha.

Nesse sentido, listam-se alguns aspectos que poderão ser melhor analisados,

a saber:

Aprimoramento das condições iniciais e de contorno da simulação

numérica com aplicação de séries mais longas de parâmetros de

ondas, além de dados de satélites altimétricos oceanográficos,

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meteorológicos e bases de reanálise (campos de vento, precipitação,

insolação, temperatura do ar, temperatura da superfície do mar, entre

outras variáveis offshore);

Validação da série WWIII com dados de boias ondógrafas próximas da

área de estudo (destaque para boias colocadas à frente do litoral do

Estado de Pernambuco dos programas PIRATA e Plano Nacional de

Boias – PNBOIAS);

Avaliações de outras bases de dados de ondas em altas

profundidades;

Integração de informações batimétricas atualizadas e de melhor

resolução;

Quantificação das condições energéticas de incidência de ondas sobre

a orla da área de estudo em eventos extremos de agitação marítima,

em seus trechos mais e menos urbanizados, agregando-se aspectos

de fontes de energia, e.g. atividades sísmicas e vulcânicas na Dorsal

Mesoatlântica e outras questões de Neotectônica.

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