simbol is mo

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Medeiros e Albuquerque, “A águia” (Canções de Decadência, 1887) Vi baixar da amplidão do páramo profundo uma águia segurando um gigantesco verme e não pude deixar, pasmado, de deter-me saber onde achara esse despojo imundo. A águia me respondeu, volvendo o olhar aflito, onde pairava a sombra imensa do Terror, que vinha do fatal e gélido negror das noites sepulcrais dos campos do infinito. «... Sobre o corpo de Deus, exposto e corrompido, do Nada na mudez da lugubre carneira, pastava lentamente, em fúria carniceira, este verme tenaz que eu trouxe suspendido...» Cruz e Sousa, “Sexta-Feira Santa” (Últimos Sonetos, 1905) Lua absíntica, verde, feiticeira, pasmada como um vício monstruoso... Um cão estranho fuça na esterqueira, uivando para o espaço fabuloso. É esta a negra e santa Sexta-Feira! Cristo está morto, como um vil leproso, chagado e frio, na feroz cegueira da Morte, o sangue roxo e tenebroso. A serpente do mal e do pecado um sinistro veneno esverdeado verte do Morto na mudez serena. Mas da sagrada Redenção do Cristo, em vez do grande Amor, puro, imprevisto, brotam fosforescências de gangrena!

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uma super descrição dos meandros da poesia imaginativa. sjfjkasfjasfasmbfmasbmfbmasbfmsabmfbamnsbfmbasmfbmasbfmasbmfbasmbfmasbmfbasmnbfmnasbmfbsmnfbmnasbmfnbasmnfbmnsbmfbasmbfmasbfmnbasmnfmasnbf

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Page 1: Simbol is Mo

Medeiros e Albuquerque, “A águia” (Canções de Decadência, 1887)

Vi baixar da amplidão do páramo profundouma águia segurando um gigantesco vermee não pude deixar, pasmado, de deter-mesaber onde achara esse despojo imundo.

A águia me respondeu, volvendo o olhar aflito,onde pairava a sombra imensa do Terror,que vinha do fatal e gélido negrordas noites sepulcrais dos campos do infinito.

«... Sobre o corpo de Deus, exposto e corrompido,do Nada na mudez da lugubre carneira,pastava lentamente, em fúria carniceira,este verme tenaz que eu trouxe suspendido...»

Cruz e Sousa, “Sexta-Feira Santa” (Últimos Sonetos, 1905)

Lua absíntica, verde, feiticeira,pasmada como um vício monstruoso...Um cão estranho fuça na esterqueira,uivando para o espaço fabuloso.

É esta a negra e santa Sexta-Feira!Cristo está morto, como um vil leproso,chagado e frio, na feroz cegueirada Morte, o sangue roxo e tenebroso.

A serpente do mal e do pecadoum sinistro veneno esverdeadoverte do Morto na mudez serena.

Mas da sagrada Redenção do Cristo,em vez do grande Amor, puro, imprevisto,brotam fosforescências de gangrena!

Paul Verlaine “Langueur” (1883)

Je suis l’Empire à la fin de la décadence,Qui regarde passer les grands Barbares blancsEn composant des acrostiches indolentsD’un style d’or où la langueur du soleil danse.

L’âme seulette a mal au cœur d’un ennui dense,

Page 2: Simbol is Mo

Là bas on dit qu’il est de longs combats sanglants.Ô n’y pouvoir, étant si faible aux vœux si lents,Ô n’y vouloir fleurir un peu cette existence!

Ô n’y vouloir, ô n’y pouvoir mourir un peu!Ah! tout est bu! Bathylle, as-tu fini de rire?Ah! tout est bu, tout est mangé! Plus rien à dire!

Seul, un poème un peu niais qu’on jette au feu,Seul, un esclave un peu coureur qui vous néglige,Seul, un ennui d’on ne sait quoi qui vous afflige

Paul Verlaine, “Langor” (1883)

Eu sou o império no fim da decadência, Que olha passar os grandes Bárbaros brancos Compondo acrósticos indolentesNum estilo de ouro onde o langor do sol dança

A alma solitária sofre no coração de um denso tédio.Além se diz que é por causa de grandes combates sangrentosOh não ser capaz disso, sendo tão frágil, de votos tão lentos, Oh não querer florir um pouco esta existência!

Oh não querer, oh não poder morrer um pouco!Ah! Tudo foi bebido! Bathylle, terminaste de rir? Ah! Tudo foi bebido, tudo foi comido! Nada mais a dizer!

Somente um poema um pouco simplório que se lança ao fogo, Somente um escravo um pouco libertino que vos negligencia, Somente um tédio por não saber o que vos aflige!