sim 85 o homem e a tartaruga de buda

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OLIBERAL BELÉM, DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 MAGAZINE 11 sim [email protected] VICENTE CECIM O homem e a tartaruga de Buda C ontinuamos hoje nossa con- versa com o Osho, o expul- so de 21 países irreverente e rebelde guru indiano de milhares de jovens do mundo intei- ro nos anos 60/70, quando se tornou famoso com o nome de Rajneesh. Na semana passada, terminamos com Osho afirmando que a vida não tem propósito algum, ela não pode ter qualquer propósito. Todos os propó- sitos estão dentro da vida, mas a vida em si mesma não pode ter qualquer propósito porque ela não é um meio para algum fim. Diálogo com Osho (II) O poeta John Keats escreveu: - Um instante de beleza é uma alegria para sempre. Os Poetas dizem que também a Poesia não tem um propósito, nem qualquer utilidade, e que justamente isso é que faz a Beleza da Poesia. Se dá o mesmo com a vida? - Sim. não há qualquer propósito e essa é a beleza da vida. Se houvesse al- guns propósitos, então a vida não seria tão bonita, então haveria uma motiva- ção, então ela seria como um negócio, muito séria. Olhe flores. Qual o propó- sito? O sol nascendo... Qual o propósi- to? Não é intrinsecamente lindo? Todas A consciência permanece livre - a liberdade é a sua maior qualidade, é sua própria natureza. OSHO as coisas precisam de propósitos fora de si mesmas? Não, elas já são, em si mesmas, seus propósitos. - A vida é intrinsecamente linda. Ela não tem qualquer propósito extrínse- co. Ela é exatamente como uma canção de um pássaro na escuridão da noite, ou o som da água, ou o som do vento passando através dos pinheiros... Afinal, por que os homens fazem tantas perguntas à Vida - estranhos em uma terra estranha - como se es- tivessem perdidos nela - por que es- tranham a Vida como se não fossem eles próprios a Vida? - A mente do homem é voltada para objetivos, ela cria perguntas como esta: “Qual o objetivo da vida? Deve haver algum objetivo.” Mas se alguém disser, “esse é o objetivo da vida”, então você irá perguntar: “Qual o objetivo desse objetivo? Por que nós devemos alcançá-lo? A que propósi- to ele irá servir?” E se alguma outra pessoa disser “Esse é o objetivo desse objetivo”, as mesmas perguntas irão surgir novamente e você vai voltar ao mesmo ponto, ad infinitum. Se você me pergunta: “Qual é o propósito da criação?” Eu respondo: - O mundo nunca foi criado. O mundo sempre esteve aqui, ele é eterno. Não existe criador. Deus não é o criador do mun- do. Deus é a própria energia criativa da existência. É mais criatividade do que um criador. Ele não é o poeta, mas sim a poesia: não o dançarino, mas a dança. A vida é um mistério. Ela está simplesmente aqui. Por que não aproveitá-la? Por que não se apro- fundar mais e mais nela? Talvez no centro mais profundo você irá saber a resposta. Mas a resposta vem de uma tal maneira que ela não pode ser ex- pressada. É como um homem mudo que experimenta açúcar. Ele sabe que é doce, mas não consegue falar. Gautama Buda disse que as chances do Homem saber o que é a Vida são infinitamente menores do que as da tartaruga que vaga há infinitos anos pelo fundo dos oce- anos um dia vir à tona justamente quando for passando a pequena ar- gola que também vaga há infinitos anos pela superfície dos oceanos - e enfiar a cabeça nela. - Nas viagens de Buda alguns discí- pulos iam à frente e anunciavam nas cidades: “Buda está chegando, mas, por favor, não façam aquelas onze pergun- tas”. E uma daquelas onze perguntas era “Por que a vida existe?”. Nessas onze perguntas toda a filosofia estava contida. Se você abandonar essas per- guntas, nada sobra para ser pergunta- do. Buda dizia que essas eram pergun- tas inúteis. Irrespondíveis pela própria natureza das coisas. Perguntar em silêncio, e esperar a resposta do Silêncio? - Eu estou interessado em dissolver as suas perguntas. E quando todas as perguntas desaparecerem, aquele que pergunta também desaparecerá, ele não pode existir sem as perguntas. Quando nenhuma pergunta mais exis- tir, nem aquele que pergunta... quantas bênçãos, quanto êxtase! Neste exato momento, você nem pode imaginar, você nem pode sonhar, você nem pode compreender. Então, todo o mistério da vida se abrirá, mistérios e mais misté- rios... e isso não tem fim.

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Quais as chances do homem saber o que é a Vida?

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O LIBERALBELÉM, DOMINGO, 25 DE JANEIRO DE 2015 MAGAZINE 11

sim [email protected] CECIM

O homem e a tartaruga de Buda

Continuamos hoje nossa con-versa com o Osho, o expul-so de 21 países irreverente e rebelde guru indiano de

milhares de jovens do mundo intei-ro nos anos 60/70, quando se tornou famoso com o nome de Rajneesh. Na semana passada, terminamos com Osho afirmando que a vida não tem propósito algum, ela não pode ter qualquer propósito. Todos os propó-sitos estão dentro da vida, mas a vida em si mesma não pode ter qualquer propósito porque ela não é um meio para algum fim.

Diálogo com Osho (II)

O poeta John Keats escreveu: - Um instante de beleza é uma alegria para sempre. Os Poetas dizem que também a Poesia não tem um propósito, nem qualquer utilidade, e que justamente isso é que faz a Beleza da Poesia. Se dá o mesmo com a vida?

- Sim. não há qualquer propósito e essa é a beleza da vida. Se houvesse al-guns propósitos, então a vida não seria tão bonita, então haveria uma motiva-ção, então ela seria como um negócio, muito séria. Olhe flores. Qual o propó-sito? O sol nascendo... Qual o propósi-to? Não é intrinsecamente lindo? Todas

A consciência permanece livre - a liberdade é a sua maior qualidade, é sua própria natureza. OSHO

as coisas precisam de propósitos fora de si mesmas?

Não, elas já são, em si mesmas, seus propósitos.

- A vida é intrinsecamente linda. Ela não tem qualquer propósito extrínse-co. Ela é exatamente como uma canção de um pássaro na escuridão da noite, ou o som da água, ou o som do vento passando através dos pinheiros...

Afinal, por que os homens fazem tantas perguntas à Vida - estranhos em uma terra estranha - como se es-tivessem perdidos nela - por que es-tranham a Vida como se não fossem eles próprios a Vida?

- A mente do homem é voltada para objetivos, ela cria perguntas como esta: “Qual o objetivo da vida? Deve haver algum objetivo.” Mas se alguém disser, “esse é o objetivo da vida”, então você irá perguntar: “Qual o objetivo desse objetivo? Por que nós devemos alcançá-lo? A que propósi-to ele irá servir?” E se alguma outra pessoa disser “Esse é o objetivo desse objetivo”, as mesmas perguntas irão surgir novamente e você vai voltar ao mesmo ponto, ad infinitum. Se você me pergunta: “Qual é o propósito da criação?” Eu respondo: - O mundo nunca foi criado. O mundo sempre esteve aqui, ele é eterno. Não existe criador. Deus não é o criador do mun-do. Deus é a própria energia criativa da existência. É mais criatividade do que um criador. Ele não é o poeta, mas sim a poesia: não o dançarino, mas a dança. A vida é um mistério. Ela está simplesmente aqui. Por que não aproveitá-la? Por que não se apro-fundar mais e mais nela? Talvez no centro mais profundo você irá saber a resposta. Mas a resposta vem de uma

tal maneira que ela não pode ser ex-pressada. É como um homem mudo que experimenta açúcar. Ele sabe que é doce, mas não consegue falar.

Gautama Buda disse que as chances do Homem saber o que é a Vida são infinitamente menores do que as da tartaruga que vaga há infinitos anos pelo fundo dos oce-anos um dia vir à tona justamente quando for passando a pequena ar-gola que também vaga há infinitos anos pela superfície dos oceanos - e enfiar a cabeça nela.

- Nas viagens de Buda alguns discí-pulos iam à frente e anunciavam nas cidades: “Buda está chegando, mas, por favor, não façam aquelas onze pergun-tas”. E uma daquelas onze perguntas era “Por que a vida existe?”. Nessas onze perguntas toda a filosofia estava contida. Se você abandonar essas per-guntas, nada sobra para ser pergunta-do. Buda dizia que essas eram pergun-tas inúteis. Irrespondíveis pela própria natureza das coisas.

Perguntar em silêncio, e esperar a resposta do Silêncio?

- Eu estou interessado em dissolver as suas perguntas. E quando todas as perguntas desaparecerem, aquele que pergunta também desaparecerá, ele não pode existir sem as perguntas. Quando nenhuma pergunta mais exis-tir, nem aquele que pergunta... quantas bênçãos, quanto êxtase! Neste exato momento, você nem pode imaginar, você nem pode sonhar, você nem pode compreender. Então, todo o mistério da vida se abrirá, mistérios e mais misté-rios... e isso não tem fim.