seu abel: o guardador de sementes

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SEU ABEL: O GUARDADOR DE SEMENTES Seu Antônio Abel da Silva tem 56 anos e é, casado com 'dona Luzia Felício de Sena Silva. O casal teve seis filhos e uma penca de netos. Alguns moram na casa deles e outros nas redondezas, mas estão sempre lá. Eles moram na comunidade de' Pedra 2, distante seis quilômetros de Caraúbas, cidade situada na região Oeste do Rio Grande do Norte, no semiárido brasileiro. Desde os oito anos de idade seu Antônio Abel trabalha na agricultura e há pelo menos 40 anos, aprendeu com o seu pai, Cirilo Abel da Silva, já falecido, a guardar as melhores sementes da safra pra plantar no inverno seguinte. Essas sementes, quardadas de um ano para o outro, são chamadas de "sementes crioulas". Seu Abel, dona Luzia e uma pequena parte de sua família Quando ele se casou, aos 19 anos, saiu da casa dos pais e foi morar no terreno do sogro. Lá, construiu urna casinha de taipa para viver com dona Luzia e começou a plantar um pedacinho de terra. Uma das primeiras coisas que Iez.Toi trazer -seus pais para perto, para manter a família junta, , assim, ficava mais fácil se ajudarem no dia a dia e também no trabalho. Essa prática está desaparecendo, mas era muito comum antigamente. Seu Abel conta que fazendo a seleção das melhores sementes o agricultor garante sempre tero melhor plantio e 'uma melhor safra, Hoje, seu Abel vive num pequeno terreno de 7 hectares, onde trabalha com sua família. Mas nem sempre foi assim. Sua juventude foi trabalhar para os outros junto' com os pais, que viviam como moradores das terras alheias. Ele conta 'que a situação era difícil, trabalhando todo dia, tirando uma diária que só dava para comer. Seu""bel e suas seme'ntes crioulas Muito tempo depois, ele começou a juntar umas coisinhas e um dinheirinho e, com muita peleja, construiu de próprio punho, uma casinha na cidade. Ele nunca teve interesse de morar em Caraúbas, mas sabia que o patrimônio era importante. Então, um dia, surgiu a oportunidade que sempre sonhou: ter o seu pedaço de terra. Próximo a sua, casa, um vizinho estava vendendo uma área de 7 hectares

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Page 1: Seu Abel: o guardador de sementes

SEU ABEL: O GUARDADOR DE SEMENTESSeu Antônio Abel da Silva tem 56 anos eé, casado com 'dona Luzia Felício deSena Silva. O casal teve seis filhos euma penca de netos. Alguns moram nacasa deles e outros nas redondezas,mas estão sempre lá. Eles moram nacomunidade de' Pedra 2, distante seisquilômetros de Caraúbas, cidadesituada na região Oeste do Rio Grandedo Norte, no semiárido brasileiro.

Desde os oito anos de idade seu AntônioAbel trabalha na agricultura e há pelomenos 40 anos, aprendeu com o seupai, Cirilo Abel da Silva, já falecido, aguardar as melhores sementes da safrapra plantar no inverno seguinte. Essassementes, quardadas de um ano para ooutro, são chamadas de "sementescrioulas".

Seu Abel, dona Luzia e uma pequena parte de sua família

Quando ele se casou, aos 19 anos, saiu da casa dos pais efoi morar no terreno do sogro. Lá, construiu urna casinha detaipa para viver com dona Luzia e começou a plantar umpedacinho de terra. Uma das primeiras coisas que Iez.Toitrazer -seus pais para perto, para manter a família junta,

, assim, ficava mais fácil se ajudarem no dia a dia e tambémno trabalho.

Essa prática está desaparecendo, mas era muito comum antigamente. Seu Abel conta que fazendo aseleção das melhores sementes o agricultor garante sempre tero melhor plantio e 'uma melhor safra,

Hoje, seu Abel vive num pequeno terreno de 7 hectares, onde trabalha com sua família. Mas nemsempre foi assim. Sua juventude foi trabalhar para os outros junto' com os pais, que viviam comomoradores das terras alheias. Ele conta 'que a situação era difícil, trabalhando todo dia, tirando umadiária que só dava para comer.

Seu""bel e suas seme'ntes crioulas

Muito tempo depois, ele começou a juntar umas coisinhas eum dinheirinho e, com muita peleja, construiu de própriopunho, uma casinha na cidade. Ele nunca teve interesse demorar em Caraúbas, mas sabia que o patrimônio eraimportante. Então, um dia, surgiu a oportunidade quesempre sonhou: ter o seu pedaço de terra. Próximo a sua,casa, um vizinho estava vendendo uma área de 7 hectares

Page 2: Seu Abel: o guardador de sementes

por um valor razoável. ,Seu Antônio Abel não tinha o dinheiro, masconseguiu quem comprasse a sua casa da cidade,juntou mais algum dinheiro e pagou o terreno avista, A área, além de pequena, estavaabandonada, mas (isso não foi problema para oagricultor, que juntou a família e, em pouco tempo,cercou e organizou tudo.

Aproveitando seus conhecimentos na arte depedreiro, .ele foi construindo aos poucos suacasinha que hoje tem espaço pra todo mundo, umgrande armazém e até um alpendre para as boasconversas de D?mingo.

Seu Abel ajudando na horta de dona LuziaSeu Antônio diz que sempre foi apaixonado pela.agricultura, embora seja um trabalho sofrido para o pequeno, Seus filhos seguem o mesmo caminho e,os que não vivem com ele, moram num assentamento da reforma aqrária, próximo à sua casa'. A única

, .coisa que seu Antônio Abel reclama é da falta de água na região, mesmo estando entre duas grandesbarragens, a de Santa Çruz, no município de Apodi e a de Umari, no município de Upanema. Ele acha

. que essa água deveria ser distribuída para os agricultores poderem trabalhar.,

Dona Luzia Felíciotambém é uma grande trabalhadora rural. Ela faz parte de um grupo de mulheres dacomunidade de Pedra 2, que cultivahortas orqánicas. Como o projeto é novo, ainda não tiveram comoguardar as sementes, mas ela conta que esse é umdos planos do projeto. '

Assim como essas mulheres, seu Antônio também não usa veneno para produzire há muito tempo,'deixou de queimar a terra para plantar. Uma das coisas que o faz manter a tradição de guardar suaspróprias sementes é justamente. por saber que não·têm aqrotóxico. •

. .

Com as últimas grandes secas, muita semente foi perdida, mas ele ainda tem guardado um pouquinho .de semente de feijão, milho; jerimum, sorgo, melancia, castanha de caju e mantém em seu quintal

algumas ramas de batata e rnacaxeira. Seu Abel fazisso para não -fícar dependendo do governo quesempre chegà depois das' melhores chuvas.

Embora acredite. muito em sua -agricultura, seuAntônio Abel orienta os amigos a sempre ouvirem opessoal da assistência técnica. Ele não reclama dasdificuldades e acha que muita'. gente não· estáaproveitando as ajudas que chegam. "O governo e aassistência técnica ajudam, mas é preciso que o povoqueira trabalhar pra poder dar certo", conta seuAntônio.

Seu Abel e dona luzia acreditam na agricultura

A luta desse agricultor ainda não acabou, mas ele sevê como alguém que venceu as dificuldades antigas ...Cuidadoso com o que faz, está sempre aproveitandoo que sabe para melhorar sua vida e avida da família .:

Realização:

1 anos

,ASA~-.~•....Programa Uma !erra e Duas Aguaswww.asabrasil.org.br