setentanos de uma boa prosa

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SETENTANOS DE UMA BOA PROSA, 35 meus, 35 do Zélio, conta facetas da nossa amizade permeada pelo humor e pelos cartuns do Coelho. Texto e numeração desenhada por Zélio Alves Pinto, foi editado em 2009. Três mil exemplares do 36o cartão de Natal do Coelho foram distribuídos a meus amigos e clientes, e doados aos acervos das Bibliotecas do Estado de São Paulo, e da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, Fernando Coelho dos Santos.

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Page 1: SETENTANOS DE UMA BOA PROSA
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SETENTANOS DE UMA BOA PROSA, 35 meus, 35 do Zélio, conta facetas da nossa amizade permeada pelo humor e pelos cartuns do Coelho. Texto e numeração desenhada por Zélio Alves Pinto, foi editado em 2009. Três mil exemplares do 36º cartão de Natal do Coelho foram distribuídos a meus amigos e clientes, e doados aos acervos das Bibliotecas do Estado de São Paulo, e da Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro, Fernando Coelho dos Santos.

Page 5: SETENTANOS DE UMA BOA PROSA

Natal é época

de reafirmar nosso amor aos queridos

e a alegria das amizades. Comemorando 35 anos

de Cartão do Coelho, este cartão-livreto conta uma história

que começou numa idéia e se transformou numa grande amizade.

Com os Coelhos que abrem e encerram este livreto,

que anjos e santos acompanhem você

agora e sempre.

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SETENTANOSDE UMA BOA PROSA

o século passado, final dos anos 60, recém chegara a São Paulo vindo das montanhas, através do Rio. Meu ateliê ficava no fundo de um jardim acanhado, “pero cumplidor”, em Santa Cecília.

N6

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Ali me perdia, ou antes me encontrava, entre palavras, aquarelas e imagens, quando sorridente entrou-me estúdio adentro o vice-presidente do DCE Mackenzie, Fernandinho Curtição.

Tudo começou em 1973 com

uma proposta inédita de

um concurso de humor e

quadrinhos.

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A testa invadindo o cocuruto da cabeça, usava colares e bata indiana escondendo a faixa de algodão colorido da calça jeans, e vinha propor um concurso de cartuns.

Um dos cartazes convocava para

as inscrições e divulgava o regulamento, escrito com a inexperiência visionária de

seus curadores.

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Buscava parceria por ter lido um texto sobre minha visita ao Salão de Lucca, na Itália, onde eu externava minha intenção de realizar um projeto similar no Brasil.

Com a verba curta do DCE e o entusiasmo de seus criadores, as ações se multiplicaram e teve até um segundo cartaz.

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Além da curtição, Fernando queria minorar o estrago da arruaça entre Mack e USP ocorrida na Rua Maria Antonia pouco antes. Com a ironia e o humor d’O Pasquim as sequelas poderiam ser atenuadas.

Com o passar dos anos,

já formado em economia, Fernando

tornou-se empresário,

mas continuou frequentando a

mesma praia e foi homenageado com

o prêmio HQMix. Cutucado pelo antigo

vício, em 2006 resolveu relembrar os

bons tempos dos anos setenta e promoveu

uma seção saudade, rememorando o evento com um DVD contendo

imagens e depoimentos dos envolvidos.

Daí o cartaz em cores, um luxo!

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Para virar o jogo, iniciamos a prosa que dura até hoje, 35 anos de cada que somados perfazem setenta. Com sua inquietação e minha preferência por ações regulares, nomeamos o evento 1º Salão Mackenzie de Humor e Quadrinhos.

Fernando levando Jaguar, Branca Ribeiro, o produtor Laerte Mangini

e Zélio à TV Bandeirantes, que deu uma força na divulgação e

produziu um programa explicando ao público o que

estava acontecendo.

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Tentávamos antever futuras edições que, embora ensaiadas, nunca realizamos. Semanas depois chegavam centenas de trabalhos vindos de distantes regiões do país e até do exterior.

Na saída da TV Bandeirantes, Fernando gira o anel ouvindo atento o que Jaguar - jurado

- explica e o ainda cabeludo Sérgio Augusto - jurado - se assusta com a proteção tipo Tudo

isso é meu! que Zélio dá pra Ciça - também jurados os dois.

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A exposição foi montada no Museu Lasar Segall, distante de rixas e enroscos, o que trouxe grande visibilidade para nossa parceria inicial. E o êxito logo ecoou em Piracicaba.

Fernando fotografa Sérgio Augusto entregando um dos prêmios no auditório

do museu, assistido por eclética platéia formada pelos Maurícios, Segall e de

Sousa, além de Ciça e Zélio, entre outras personalidades.

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Mais tarde, repetindo a cena protagonizada por Fernando, um grupo piracicabano veio ao estúdio propor a realização de um eventosimilar no tradicional reduto republicano do interior paulista.

Enquanto ao fundo Fernando faz charme para a jornalista, em primeiro plano os premiados Marcos Benjamim e Helio Lage (mais perto) apreciam os trabalhos não laureados, quase tão bons quanto os seus.

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Entusiasmados, pretendiam enfrentar a ditadura através do desenho de humor, acreditando que com ironia iriam conseguir delatar o estorvo e dar vazão às indignações.

Assistido por Mauríciode Sousa, Fernando dá seu endereço à jovem jornalista, encantada com a elegância do vice-presidente do DCE Mackenzie de gola rolê preta.

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Esta era de fato a meta que o grupo buscava desde sempre, com a perspectiva de um evento cultural cujo foco seria desafiar, com riscos calculados, os algozes da comunidade.

Alusão à tortura política que campeava naqueles dias,

o trabalho de Benjamim

provocou risos e temores.

O autor mineiro ganhou

o prêmio especial e hoje é um

artista plástico consagrado no

mundo todo.

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Entendi dessa forma o projeto. E, com o envolvimento dasautoridades locais, o apoio do “Tupamaro” e a eficiência do Fernando, fizemos o Salão de Humor de Piracicaba em 1974.

Fernando fotografa um Jaguar ressabiado, que apreciava os trabalhos expostos no Museu Lasar Segall.

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Na volta de minha primeira visita ao Salão de Lucca no ano anterior, ficara a zunir a intenção de promover um festival de Filmes de Animação semelhante ao de lá.

Com a experiência

adquirida, em 1974

Fernando colaborava

com o curador

na organização

do I Salão de Humor

de Piracicaba, reduto

emedebista contrário

à ditadura vigente.

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A idéia levou a um almoço na casa do fundador e mandatário da Bienal de São Paulo, Ciccillo Matarazzo, que surgia como boa parceira para o projeto. Levei a proposta, e ele aprovou!

Pensado para sobreviver aos tempos da repressão, o Salão vem repetindo ano a ano o sucesso do primeiro e já está na 36ª edição.

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Já buscava alguém que pudesse deixar como responsável pelo planejamento e pela realização do evento, o que nos dias de hoje, elegantemente, conhecemos por bíznesplan e produção executiva.

No Piracicaba III, Fernando coordenou o evento e emplacou a novidade de exibir o trabalho premiado do ano anterior no cartaz da hora.

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Sugeri o nome do Fernando, que seria a solução natural, com as credenciais que a experiência adquirida nos Salões de Humor do Mackenzie e de Piracicaba lhe conferia para esse encargo.

No restaurante do Salto, durante o Salão de 1976, Fernando e Jaguar aplaudiam a sobremesa;

Hilde Weber e Carlos Cabrera, o “Tupamaro”, observavam enquanto Zélio ruminava, absorto.

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Ciccillo concordou. Como eu seguiria no dia seguinte para a Europa, por recomendação de sua sobrinha e secretária Baby Matarazzo, Fernando deveria chegar antes que o tio se recolhesse à sesta.

O cartaz anuncia o 10º Salão de Lucca,

Itália, onde Fernando representou a Bienal

de São Paulo. Pela primeira vez o evento se

realizava num inflável, montado na praça

principal da cidade em frente ao teatro Giglio,

sede administrativa e festiva do Salão.

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Viria para ser ungido representante da Bienal de São Paulo em Lucca. Diante do suspense do chega-não-chega, conseguimos manter o presidente da Bienal acordado à custa de chá forte.

Fernando adentra a sala de palestras com sua câmera indiscreta enquanto Zélio aproveita para

tirar mais uma casquinha da Ciça, ladeados por Márcio de Sousa e Miguel Paiva, olhando para outros lados, na sala de palestras em Lucca 10.

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Fernando chegou, recebeu bênçãos, passagem, ajuda de custo, e alguns dias depois partiu para nosso encontro na Toscana em sua primeira aventura mundo afora.

Fernando ao centro muito sério, cercado

por Naumin Aizen, Zélio, Ciça, Sonia

Hirsch e os par de óculos que

antecediam o Márcio de Sousa, parte da

comitiva brasileira no Lucca 10.

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Em Lucca foi tudo festa para Fernando. Ao voltar, apresentou o projeto de inclusão do humor e quadrinhos e da realização do festival internacional de cinema de animação na Bienal 75.

Numa roda de samba à italiana, Fernando sola com a lata de refrigerante, acompanhado pelo violão de Márcio e percussão de Zélio, enquanto o premiado Franco Bonvicini registra para a posteridade o momento histórico.

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Por artes do prefeito paulistano, alguns meses depois a presidência da Bienal foi arrematada para virar moeda de troca no balcão da política, e o Ciccillo Matarazzo foi afastado da instituição.

Fernando observa disfarçadamente

a técnica do cartunista

Mordillo. No fundo tentou,

tentou, mas nunca aprendeu a

desenhar.

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Dessa forma, mesmo tendo sido concluído com as bênçãos da Fédération Internationale du Film d’Animation, o projeto do Iº Festival de Filme de Animação de São Paulo acabou dançando.

Ao lado de Miguel Paiva e cercado por parte da comitiva do Brasil - Joyce Joppert, Ciça, Rui e Jô Oliveira, e outros, Fernando no garageiro da plenária do 10º Salão de Lucca, Teatro Giglio.

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Fernando e eu prosseguimos com nossa prosa, desta vez em parceria com Sabina Libman. Galerista inovadora, criou o convite em forma de quebracabeça e incentivou Fernando a produzir o filme sobre os artistas.

Com sua famosa câmera, Fernando (ao fundo) se aproxima enquanto Bonvi recebe o prêmio na cerimônia final de Lucca 10.

O depoimento-documento em super 8, produzido pelo Fernando, contou com a colaboração da moçada da Grife, escola de cinema do saudoso Abrão Berman.

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Fernando também me ajudou a montar, no Museu de Arte de São Paulo – MASP –, uma retrospectiva do meu trabalho como artista gráfico, em comemoração à minha entrada nos quarentanos.

Sarado, de camiseta, colares e cigarro no bico, já no calor dos trópicos, Fernando ajudando Jaguar, Jacob Klintowitz e Zélio durante o julgamento dos trabalhos selecionados no III Salão de Piracicaba.

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Para seguir freqüentando a mesma praia onde fizera tantos amigos, Fernando criou uma empresa para representar e distribuir trabalhos de artistas gráficos e quebrou a cara. Seu negócio era mais seguro.

Fernando não pôde sair na foto porque fotografava os convidados do III Salão de Piracicaba: Hermenegildo Sábat olha de soslaio, Zélio afere as contas, o editor da Punch, Geoffrey Dickson, exibe seu inglês londrino para Mino Carta, então editor da Isto É. Sonia Hirsch, editora da Rio Gráfica, se aninha nos braços de Sérgio Aragonés, editor da MAD, e o secretário de Cultura de Piracicaba, Luis Antonio Fagundes, dá seriedade ao evento.

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Mais tarde, perto de sexagenar já em 2006, Fernando recebeu o prêmio HQMix, como reconhecimento por seu empenho em favor do segmento de humor e dos artistas gráficos.

Fernando ao centro, cercado por admiradores, durante a abertura

da mostra do III Salão de Humor de Piracicaba, no salão do clube São José.

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Hoje continua curtindo a vida, justificando a antiga identidade bicho-grilo e pensando desafios como este documento que o amigo leitor tem nas mãos, e lá se vão os tais setentanos, 35 de cada.

Por sua vocação para contorcionista - vide logo - Fernando acabou por criar uma empresa para organizar a vida dos cartunistas e quadrinhistas pátrios e por uns tempos trocou a curtição pela contorção.

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Contagiado pelo humor gráfico, Fernando desejou fazer seu primeiro cartão de natal com os santos coelhos, iniciando a coleção de cartuns que os amigos recebem com votos de Feliz Sempre.

Afetuoso, o conhecido

cartunista da MAD Magazine, Sérgio Aragonés,

tascou um abraço brasileiro em

Fernando e imortalizou o

carinho numa charge em

Piracicaba, 1976.

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Como só falharam poucas vezes, o acervo cresceu e justificou até um livrinho de memórias, recordação dos chamados bons tempos. Cá estamos nós, em meio às lembranças, curtindo como sempre.

Gualberto Costa, quadrinhista, livreiro e um dos criadores do HQMix, anos depois resolveu destacar Fernando por suas atividades pró quadrinhos e convocou Zélio para a festividade.

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E assim continua nossa prosa, onde cada imagem tem sua história junto com reminiscências dos setentanos de todos nós, inclusive de quem não participou no semeio das memórias que vão sendo reinventadas.

Em cerimônia condizente com o momento, semanas mais tarde, Fernando recebeu do mesmo Zélio o troféu que cutucou o vício do ex-vice-presidente do DCE, culminando com a gravação do DVD histórico que recuperou as imagens do Salão Mackenzie, hoje socializado no blogsalaomackhq.wordpress.com

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O Coelho é dos Santos porque seus antepassados eram santeiros em Portugal, razão da auréola ter mandado tão bem no primeiro cartão que ele enviou aos amigos há séculos passados, ainda nos anos 70.

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Titular de importante corretora de seguros, desde então Fernando passou a enviar ao final de cada ano seus votos humorados de feliz tudo: o Cartão do Coelho.

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Porque o ilustrador oficial dos cartões era chegado a viajar mundo afora, alguns anos tiveram o cartão repetido. O primeiro da década encantada de 1980 aparece com um Coelho Noel brincando com o ano novo.

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Em meio aos ecos da Anistia o Coelho tira o Papai Noel da

cartola, como votos de felizes anos novos e

um presente de natal para os amigos.

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A corretora de Fernando começava a alçar voo e ele frequentava Trancoso, na Bahia, lutando para salvar o hoje famoso balneário e curtindo sol, sal e mar, que ninguém é de ferro.

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Enquanto o já velho Sarney e o ministro brinquedista Dílson Funaro lançavam o cru$ado, o Coelho mostrava aos amigos, em forma de votos de feliz sempre, o verdadeiro cruzado de direita.

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No ano seguinte à troca dos cruzados, Fernando achou por

bem mandar seu Coelho correr para levar logo os votos de novos

tempos menos truculentos.

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Como nem tudo era luz, e outro Fernando se aproximava sorrateiro, o dos Santos achou por bem colocar o Coelho em negativo, mas almejando dias límpidos e claros.

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Preocupado com o meio ambiente, o

Coelho pintava de verde seus votos já

prevendo o que estava por vir. Sempre com

muita segurança...

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Como o futuro era cada dia mais inevitável, o Coelho levou seus votos já se escondendo, deixando de fora apenas a cauda e o olhar assustado com as perspectivas sombrias a collorirem o horizonte.

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Com a história de sai presidente e entra pré-existente, um Coelho com duas caras cabia bem. E tome bons votos...

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Os anos noventa anunciavam o novo milênio, e o Coelho achou por bem subir uma escadinha e lá do alto lançar seus votos de feliz sempre para os amigos esperançosos.

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Apesar do cargueiro Exxon-Valdez que manchava de petróleo o branco do Alasca, o Coelho navegava em mares tranquilos, seguro de que tudo estava seguro.

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Inspirado na elegância do presipríncipe, o Coelho vestiu uma camisa com monograma e saiu por aí falando em eternidade.

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O final do milênio se aproximava rapidamente e o Coelho achava de bom alvitre ficar cada dia mais clean.

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O novo milênio estava na ordem do dia e começava a maratona em torno do que foi, do que era e do que seria.

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A maratona do milênio seguia por aí e todos queriam chegar primeiro. Fernando se adiantou ao espírito da época e vestiu o Coelho a caráter para enviar seus votos de felizes sempríssimos!

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Ali estava ele, feliz e incógnito diante de tudo, pela primeira vez na vida. Sorria porque era seu jeito. Nem pato, nem ganso. E por aí surgiu o cartão de Feliz Século aos amigos.

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Entrou o novo milênio e a pomba pediu socorro. Jaquetas e caftans dialogavam com as facas nos dentes. O clima pedia paz, e lá veio o Coelho propondo dividir a dele com os amigos.

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Virou o milênio e o operariado finalmente assumiu o poder. O céu era turvo mas o horizonte, esperançoso. E o Coelho, a rigor, chegou à casa dos amigos levando votos de felicidade.

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Passou o primeiro impacto da novidade e os amigos

começaram a ficar com cara de burros. Não entendiam,

porque era inédito. Assumindo a cara das gentes, o Coelho veio

também com cara ruminante, zurrando feliz felicidade para os

amigos que ainda resistiam.

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Começava a surgir o novo Brasil, e o ás da F1 já pintava no pedaço. Uma expectativa escancarada contaminou toda gente, e o Coelho foi buscar no futuro um cartum de feliz felicidade.

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Os amigos ainda não abandonavam o semblante ásnicodiantedacatedral mas alguma esperança já resplandescia no horizonte de sempre. Por isso o Coelho coloriu ao máximo seu Feliz Ano Novo.

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Comemorando os Jogos Panamericanos, o Coelho veste a camisa e convoca a galera para subir no pódio.

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Em meio à crise todos querem estar seguros, e nessa o Fernando nadava de braçada. Tava tudo 10, nota dez! E era com a cara inchada de felicidade que o Coelho sorria, enviando aos amigos os votos de Feliz Sempre.

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Mais uma vez o entusiasmo com a rapidez e com a vitória – juntas – contagiava o Coelho, que novamente se inspirou nas emoções de Interlagos e comemorou mostrando o lindo troféu criado por Oscar Niemeyer.

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Nem só de votos de Feliz Natal e Ano Novo vive Fernando. Ele investiu em outros nichos de amizade e carinho. Tempo de Páscoa é sagrado. Você não passa uma vez sem receber sua mensagem alegre e bem humorada, é ou não é?

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O que queria dizer antes é isso, Óianóisaquitravêz. Fumo e vortemo com mais um voto de Feliz Paz Côa, onde côa subentende feliz ou Feliz Felicidade! A idéia geral é essa...

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Páscoa foi apenas o princípio. Tem Feliz Aniversário, Parabéns pela Vitória, Por Existir, enfim, o que o Coelho quer é Curtição!

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Vários artistas fizeram a caricatura do Fernando. Muitas delas se perderam, mas as duas deste livreto se salvaram. A do Sérgio Aragonés e esta do Hermenegildo Sábat, importante chargista uruguartino, mezzo Che, mezzo Tupamaro. O curioso é que esta nossa história setentina, 35 meus, 35 dele, começa com um Coelho Santo e termina com um Coelho Anjo. Isso deixa de parecer história pra desenhar clarividência.

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SETENTANOS DE UMA BOA PROSA foi idealizado por Fernando Coelho dos Santos, escrito e desenhado por Zélio Alves Pinto, com colaboração gráfica e editorial de Luiza Whitaker. Contou com a participação de Gualberto Costa no planejamento inicial, e da Sonia Hircsh na revisão final. Impressos e numerados 3 mil exemplares, Gráfica Aquarela, Primavera 2009, São Paulo, Brasil.

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