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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 1 SETEMBRO / OUTUBRO 2013 9 772238 088006 5 3

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 1SETEMBRO / OUTUBRO 2013

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2 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 3SETEMBRO / OUTUBRO 2013

EDITORIAL

ÍNDICE

DESCASO HISTÓRICOESGOTO DESPEJADO SEM TRATAMENTONAS ÁGUAS BRASILEIRAS CAUSOUINCONTÁVEIS ESTRAGOS AOS MANANCI-AIS. PROFISSIONAIS DEFENDEM MELHORGESTÃO E MAIOR EFICIÊNCIA

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O despejo indiscriminado de esgoto é considerado umproblema ambiental extremamente grave, que afeta di-retamente o ambiente e influencia a qualidade de vidada população. Dados mostram que somente 37,5% detodo o esgoto gerado no Brasil é tratado, apontando que,apesar dos investimentos terem crescido na última dé-cada, ainda há muito que se fazer pela universalizaçãodo saneamento no país. Este tema será amplamentedebatido na matéria de capa “Descaso Histórico”, queaponta a falta de planejamento das prefeituras e gover-nos, o custo de implantação das obras e as leis rigoro-sas como os principais fatores que impedem o desen-volvimento do setor no Brasil. Enquanto isso não ocor-re, nossas águas são penalizadas com muito esgoto. Porsua relevância, o tema também está em debate durante oIII Congresso Internacional de Meio Ambiente Subterrâ-neo (III CIMAS), em São Paulo (SP), de 1 a 3 de outubro,juntamente com outros destaques diretamente ligados aosproblemas e soluções em contaminação de áreas urba-nas existentes, mas invisíveis aos nossos olhos. É preci-so encontrar saídas para um legado mais limpo às futu-ras gerações. E por falar em limpeza, a matéria “Para umaágua mais que limpa” explica como a desinfecção depoços tubulares é uma ferramenta eficaz para evitar acontaminação dos aquíferos. Isso porque, durante a cons-trução do poço, é comum resíduos e até mesmo algu-mas bactérias serem introduzidas, por meio dos materi-ais e equipamentos utilizados durante o processo de per-

furação que, claro, atingem o meio ambiente subterrâ-neo. Um espaço cada vez mais ocupado pelos empreen-dimentos para mobilidade e pelas infraestruturas de co-municação e energia, principalmente nos grandes cen-tros urbanos, em consequência do adensamentodemográfico. Tal ocupação, no entanto, exige muitos cui-dados na investigação e no planejamento geológico egeotécnico, como você pode ver na matéria “Na cidade,sob nossos pés”, determinando o sucesso ou o fracassodo empreendimento. Acompanhe ainda, na seção Cone-xão Internacional, o “Prato do dia: Solventes clorados comazeite” ou como a injeção de emulsões de óleos vegetaispode ser usada para remediar áreas contaminadas.

Por último, e muito importante, fica o nosso convi-te: venha prestigiar o III CIMAS e a VIII Feira Nacionalda Água (FENÁGUA), que acontece simultaneamenteao maior evento do setor do país, no Centro Fecomérciode Eventos. Assim como nas edições anteriores, pre-tendemos alertar a sociedade quanto à importânciada preservação do ambiente sob nossos pés e discu-tir as implicações dos múltiplos usos do subsolo edas águas subterrâneas.

Desejamos a todos uma boa leitura.Um grande abraço,

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4 Agenda

5 Núcleos Regionais

6 ABAS Informa

8 Mercado das Águas

10 Hidronotícias

30 Conexão Internacional

32 Perfuração

33 Remediação

34 Opinião

Waldir Duarte Costa Filho

Presidente da ABASMarlene Simarelli, editora

NAS CIDADES, SOB NOSSOS PÉSA TENDÊNCIA MUNDIAL DE USO DO ESPAÇO SUBTERRÂ-NEO SURGE PARA PROVER ALTERNATIVAS DEINFRAESTRUTURA, MOBILIDADE E ARMAZENAMENTO

PARA UMA ÁGUA MAIS QUE LIMPAPROCESSO DE DESINFECÇÃO DE POÇOS GARANTE QUA-LIDADE DA ÁGUA E EVITA CONTAMINAÇÃO NO AQUÍFERO

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CAPA

ÁGUA E ESGOTO NO BRASIL: UMA QUESTÃO DE PRIORIDADE

4 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

AGENDA

EXPEDIENTE

EVENTOS PROMOVIDOS PELA ABAS

III CONGRESSO INTERNACIONAL

DE MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO

E FEIRA NACIONAL DA ÁGUA (FENÁGUA)

Data: 1 a 3 de outubro de 2013

Local: Centro FECOMERCIO de Eventos,

São Paulo – SP

Informações: Acqua Consultoria

Telefone: (11) 3868-0726

Email: [email protected]

Site: [email protected]

CONCEITOS E FUNDAMENTOS DA

MODELAGEM MATEMÁTICA DE FLUXO

SUBTERRÂNEO NO GERENCIAMENTO

DE RECURSOS HÍDRICOS

Data: 14 e 15 de outubro de 2013

Local: Hotel Riema Saint Charbel Flat Service

Informações: Acqua Consultoria

Telefone: (11) 3868.0726

Email: [email protected]

EVENTOS APOIADOS PELA ABAS

14º CBGE – CONGRESSO BRASILEIRO

DE GEOLOGIA DE ENGENHARIA E

AMBIENTAL

Data: 1 a 6 de dezembro de 2013

Local: Rio de Janeiro – RJ

Telefone: (11) 3868-0726

Email: [email protected]

DIRETORIA EXECUTIVAPresidente: Waldir Duarte Costa Filho (PE)1º Vice-Presidente: Claudio Pereira Oliveira (RS)2º Vice-Presidente: Maria Antonieta Alcântara Mourão (MG)Secretário Geral: Débora Perozzo (MT/CO)Secretário Executivo: Everton de Oliveira (SP)Tesoureiro: José Lázaro Gomes (SP)

CONSELHO DELIBERATIVOCarlos Alberto de Freitas (MG), Carlos Eduardo Dorneles Vieira (PR),Cláudio Luiz Rebello Vidal (RJ), Elisa de Souza Bento Fernandes (RJ),Francisco de Assis Matos de Abreu (PA), Humberto Alves Ribeiro Neto(BA), João Bosco de Andrade Morais (CE)

CONSELHO FISCALTitulares: Álvaro Magalhães Junior (SC), Suely Schuartz Pacheco Mestrinho(BA), Gustavo Alves da Silva (SP)Suplentes: Helena Magalhães Porto Lira (PE), Maria do Carmo Neves dosSantos (AM), Maria da Conceição Rabelo Gomes (CE)

CONSELHEIROS VITALÍCIOS/EX-PRESIDENTESAldo da Cunha Rebouças (in memorian), Antonio Tarcisio de Las Casas,Arnaldo Correa Ribeiro, Carlos Eduardo Q. Giampá, Ernani Francisco da RosaFilho, Euclydes Cavallari (in memorian), Everton de Oliveira, Everton Luiz daCosta Souza, Itabaraci Nazareno Cavalcante, João Carlos Simanke de Souza,Joel Felipe Soares, Marcílio Tavares Nicolau, Uriel Duarte, Waldir Duarte Costa

NÚCLEOS ABAS – DIRETORESBahia: Zoltan Romero Cavalcante Rodrigues - [email protected] -(71) 9611-7222Ceará: Carlos Borromeu de Passos Vale - [email protected] - (98)3227-1069 / (98) 8896-3595Centro-Oeste: Débora Perozzo - [email protected] - (65) 9971-8301 /9221-6344Minas Gerais: Carlos Alberto de Freitas - [email protected] -(31) 3250-1657 / (31) 3309-8000Paraná: Jurandir Boz Filho - [email protected] - (41) 3213-4744Pernambuco: Fernando Feitosa - [email protected] - (81) 3316-1463Rio de Janeiro: Gerson Cardoso da Silva Junior - [email protected] -(21) 2598-9481 / (21) 2590-8091Santa Catarina: Lauro Cezar Zanatta - [email protected] - (48) 9971-8638 Rio Grande do Sul: Mario Wrege – [email protected] – (51) 3406-7330

CONSELHO EDITORIALEverton de Oliveira, Gustavo Alves da Silva e Rodrigo Cordeiro

EDITORA E JORNALISTA RESPONSÁVELMarlene Simarelli (Mtb 13.593)

DIREÇÃO E PRODUÇÃO EDITORIALArtCom Assessoria de Comunicação – Campinas/SP(19) 3237-2099 - [email protected]

REDAÇÃOGabriela Padovani, Larissa Stracci, Marlene Simarelli e Tatiane Bueno

COLABORADORESCarlos Eduardo Q. Giampá, Carlos Maldaner, Juliana Freitas e Marcelo Sousa

SECRETARIA E [email protected] - (11) 3868-0723

COMERCIALIZAÇÃO DE ANÚNCIOSSandra Neves e Bruno Amadeu - [email protected]

IMPRESSÃO E ACABAMENTOGráfica Mundo

CIRCULAÇÃOA revista Água e Meio Ambiente Subterrâneo é distribuída gratuitamente pelaAssociação Brasileira de Águas Subterrâneas (ABAS) a profissionais ligados ao setor.

Distribuição: nacional e internacionalTiragem: 5 mil exemplares

Os artigos assinados são de responsabilidade dos autores e não refletem,necessariamente, a opinião da ABAS.Para a reprodução total ou parcial de artigos técnicos e de opinião énecessário solicitar autorização prévia dos autores. É permitida areprodução das demais matérias publicadas neste veículo, desde quecitados os autores, a fonte e a data da edição.

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 5SETEMBRO / OUTUBRO 2013

NÚCLEOS REGIONAIS

ABAS Núcleo CE discute o temaáguas subterrâneas no MaranhãoA ABAS Núcleo Ceará esteve presente, através de seupresidente, Carlos Borromeu, em duas importantes con-ferências do estado do Maranhão. A 5ª Conferência Es-tadual das Cidades (Concidades), realizada de 22 a 24de agosto, em São Luís - MA, teve como tema central“Quem muda a cidade somos nós. Reforma Urbana, já".A 2ª Conferência Estadual de Desenvolvimento RuralSustentável e Solidário, realizada de 25 a 28 de agosto,também em São Luís, abordou o tema “Por um BrasilRural com gente do jeito que a gente quer”.

“Em ambas as conferências, o abastecimento de águasubterrânea foi amplamente discutido, já que boa parteda população maranhense, tanto da zona urbana quan-to rural, é abastecida com água captada em poçostubulares”, afirma o geólogo Carlos Borromeu, que tam-bém ocupa o cargo de Secretário de Agricultura e Coor-denador da Conferência Municipal da Cidade, emChapadinha-MA.

ABAS Núcleo CO obtém vitóriaem defesa jurídicaA presidente da ABAS Núcleo CO, Débora Perozzo, es-teve reunida, no último dia 21 de agosto, com o presi-dente do Conselho Regional de Engenharia e Agrono-mia de Mato Grosso (CREA-MT), Juares SilveiraSamaniego, para tratar de assuntos relacionados àságuas subterrâneas e, especialmente, para apresentaruma defesa jurídica à respeito do caso de um engenhei-ro sanitarista que conseguiu permissão da Câmara Téc-

nica de Engenharia para se responsabilizar pela perfu-ração de um poço tubular.

“Como presidente da ABAS Núcleo Centro-Oeste, in-gressei com processo junto ao CREA-MT solicitando ocancelamento de tal permissão, pois o engenheiro sani-tarista não possui atribuição para esta função”, comen-ta. Após a reunião, o presidente do CREA-MT solicitou ocancelamento da decisão tomada pela Câmara Técni-ca. “Portanto, já obtivemos sucesso na primeira açãodesta diretoria”, avalia Débora Perozzo, que tomou pos-se da presidência do Núcleo ABAS CO em julho de 2013.

ABAS-RJ promove debate sobreáguas subterrâneas e saúde públicaA Associação Brasileira de Águas Subterrâneas NúcleoABAS-RJ realizou, no último dia 26 de setembro, o eventoTardes Hidrogeológicas, cuja temática foi “Águas Sub-terrâneas e Saúde Publica”. A programação contou compalestras de Alexandre Cruz (geólogo/INEA), com o tema“Panorama da Outorga no Estado do RJ – Fontes Alter-nativas de Abastecimento”; Rodrigo Raposo de Almeida(engenheiro/UFF), que ministrou a palestra “Ocorrênciade Radionuclídeos Naturais nas Águas Subterrâneas doEstado do Rio de Janeiro”; Lucio Carramillo Caetano(geólogo/UFRRJ) e Ricardo Caetano (cientista social/PUC-RJ) que debateram sobre “Água Mineral um Re-curso Hídrico ou Mineral?” e Cassio Roberto da Silva(geólogo/CPRM) que discursou sobre “A Aplicação daGeomedicina em Temas de Gestão da Saúde Pública”.As palestras ocorreram no auditório do Instituto Estadu-al do Ambiente (INEA), no Rio de Janeiro.

6 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

ABAS INFORMA

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Contagem regressiva para o III CIMAS

dará o tema Bioremediation of Contaminated Sites

(Geosyntec and Dupont), e conta com Gary Wealthall,James Henderson e Michaye McMaster na grade depalestrantes. Ambos os cursos têm início às 8h e encer-ramento às 18:30h.

PATROCINADORES AVALIZAMINICIATIVA DA ABASO patrocínio do III CIMAS conta com importantes nomesde empresas e instituições do setor, como: Ag Solve,ANA, Analytical Technology, ASL Análises Ambientais,Capes, Corplab, Doxor, EP Engenharia do Processo,Fugro In Situ Geotecnia, Geoambiente, Geoartesiano,Governo Federal, Hidroplan, Ministério do Meio Ambien-te, NIL Ambiental e Trionic.

INSTITUIÇÕES SE UNEMEM APOIO AO EVENTOO III CIMAS conta com o apoio institucional de quinzeimportantes representantes do setor, o maior número des-de o primeiro evento. São elas: Associação Brasileira deEntidades Estaduais de Meio Ambiente (ABEMA); Asso-ciação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental(ABGE); Associação Brasileira de Resíduos Sólidos eLimpeza Pública (ABLP); Associação Brasileira de Me-cânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS); As-sociação Brasileira de Membros do Ministério Públicode Meio Ambiente (ABRAMPA); Associação Brasileira deRecursos Hídricos (ABRH); Associação Brasileira dasEmpresas de Consultoria e Engenharia Ambiental(AESAS); Associação Interamericana de Engenharia

NA ABERTURA, LANÇAMENTODE LIVRO PIONEIRO

No primeiro dia do con-gresso, 1 de outubro, às18h, ocorre o lançamen-to da 2ª edição do livro“Águas Subterrâneas ePoços Tubulares Profun-dos”, publicação pionei-ra na abordagem dotema no Brasil. Os auto-res são os representan-tes da ABAS e membrosdo Conselho de Recur-sos Hídricos, CarlosEduardo QuagliaGiampá e Valter Galdiano

Gonçales. A obra conta com a participação de 14 auto-res de conhecida capacitação, além de coautores e co-ordenadores. A primeira edição do livro foi apresentadaao público em 2006, durante o XIV Congresso Brasileirode Águas Subterrâneas, em Curitiba – PR.

CURSOS ACONTECEM PÓS-CONGRESSOApós o III CIMAS, serão realizados dois cursos especi-ais nos dias 4 e 5 de outubro, no Hotel TransaméricaExecutive 21st Century, em São Paulo (SP). O cursoAdvanced Site Characterization for Environmental

Remediation será realizado na sexta-feira, dia 4 de outu-bro e ministrado por Seth Pitkin, Mike Rossi e Marco Pede.O segundo curso, que acontece no sábado, dia 5, abor-

A terceira edição do Congresso Internacional de Meio Ambiente Subterrâneo (CIMAS) está chegando! As inscriçõesjá foram encerradas, a programação já está alinhada e os preparativos estão à mil. A expectativa de público para esteano é de cerca de 500 pessoas. Durante os dias 1, 2 e 3 de outubro, o evento promovido pela Associação Brasileirade Águas Subterrâneas (ABAS) reunirá especialistas da Inglaterra, do Canadá e do Brasil, em palestras e mesasredondas voltadas à apresentação de tecnologias.

Os participantes - representantes de universidades, legisladores, reguladores, consultores e prestadores de serviçoem geral - poderão aprimorar seus conhecimentos na área, durante as conferências, mesas redondas, talk show eapresentação de 100 trabalhos técnicos, em formato oral ou painel. Dentre os nomes de destaque da programação,está Jan Hellings, da Dr. Jan Hellings & Associates, responsável pela construção da Vila Olímpica de Londres sobreuma área reabilitada de 250 hectares, antes ocupada por um parque industrial. O especialista abordará a habilitaçãode projetos operacionais e a remediação sustentável e de custo eficaz. Outro destaque é a presença de CarlosTramontina, da Rede Globo, que vai abordar a “Mídia e o Tema Água: Relacionamento Próximo à Vista?”. EduardoSan Martin, diretor de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e José EduardoIsmael Lutti, promotor do Ministério Público do Estado de São Paulo, compõem o time de grandes nomes do setor. Aprogramação completa do III CIMAS está disponível na página: www.abas.org/cimas

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 7SETEMBRO / OUTUBRO 2013

ABAS INFORMA

FENÁGUA, evento simultâneo ao CIMAS, reúne principais empresas do setor

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to:

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Sanitária e Ambiental (AIDIS); Associação Latino-ameri-cana de Hidrologia Subterrânea para o Desenvolvimen-to (ALHSUD); Associação Paulista de Geólogos (APG);Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais(FEAM); Governo de Minas Gerais; Governo do Estadode São Paulo; Rede Brasil de Organismos de Ba-cias Hidrográficas (REBOB) e Portal Tratamentode Água.

FENÁGUA, A MAIOR DO SETORParalelamente ao III Congresso será realizadaa VIII Feira Nacional da Água - FENÁGUA. Duran-te a ocasião, os visitantes terão a oportunidade deconhecer as novidades em produtos e serviços dosetor de águas e meio ambiente subterrâneo, es-tabelecendo novos negócios e ampliando a redede relacionamento comercial.

Todos os 35 estandes foram comercializadosem tempo recorde. Estarão presentes na feira:Ag Solve, ANA, Analytical Technology, AragonSondagens, ASL, Bioagri, Chicago Pneumatic,Clean Environment, Corplab, Doxor, EP Enge-

nharia do Processo, FMC, Fugro In Situ, Gaiatec Sis-temas, GeoAcqua, Geoambiente, Geoartesiano,Geotech Environmental Equipment, Hidrosuprimentos,In Situ Remediation, Keller, MGA Sondagens, NILAmbiental, Sanifox e Trionic.

8 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

MERCADO DAS ÁGUAS

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Colabore com notícias para esta seção enviando um email para [email protected] ou para [email protected]

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Tecnologia inovadora da Ag Solve detectacontaminação por hidrocarbonetosO Uvilux, equipamento da linha de produtos de qualidadeda água da Chelsea, comercializada exclusivamente pelaAg Solve no Brasil, é um eficiente alerta para a presençade hidrocarbonetos em água. O sensor digital, que operacom radiação ultravioleta (UV), é destinado à detecção docontaminante em sua fase bruta (petróleo) ou refinada(combustíveis, benzeno, acetona e toda a cadeia de HC),

em águas doces, litorais e oceano profundo. Disponívelem dois modelos com diferentes frequências, uma quedetecta petróleo e outra, petróleo refinado, o Uvilux é con-siderado altamente sensível, pois identifica desde peque-nas quantidades de hidrocarbonetos em água até valoresexcessivamente altos. Conectado ao Ag Logger, permite omonitoramento dos dados em tempo real.

Emar lança novosprodutos para poçosA Emar, empresa fabricante de embalagens flexíveis, pe-ças injetadas e tubos de PVC,lançou recentemente doisnovos produtos em sua linha Geo Emar. São eles o TuboGeo e o Edutor DN65. O Tubo Geo chega ao mercadoem duas versões: de 115 mm, na classe Standard (até150 metros) e na classe Reforçada (até 300 metros), am-bos usados para revestimento de poços. Já o EdutorDN65 é utilizado na instalação de bombas submersaspara a edução da água. Ambos os produtos são fabri-cados em PVC aditivado, material com alta resistênciamecânica, quimicamente inerte, não-contaminante, leve,resistente, de fácil manuseio e totalmente reciclável. Oobjetivo é oferecer produtos seguros para a máxima efi-ciência nas obras de perfuração e para garantir a quali-dade do poço e da água.

GeoAcqua oferece maisserviços em novo endereçoA GeoAcqua está de endereço novo. Localizada na RuaSilva Correia, 110 – Vila Olímpia, São Paulo (SP), a em-presa passa a oferecer serviços de manutenção,calibração, limpeza e descontaminação de equipamen-tos. Há também uma sala de treinamento, para que aequipe técnica possa orientar o cliente a respeito dacalibração de sondas multiparâmetros e detectores degases, além de dar dicas sobre como manter os equipa-mentos precisos, acurados e longevos. A GeoAcqua tam-bém adicionou novos produtos à linha de equipamentos.A bomba Sample Pro, os medidores de nível com maisde 50 metros e uma ampla linha de multiparâmetros, sãoexemplos de equipamentos inseridos à linha, que já con-ta com insumos como filtros de linha, mangueiras e de-tergentes, sempre à pronta entrega.

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Bomba solar da Anauger é aposta para projetos sociaisO Instituto para o Desenvolvimento de Energias Alterna-tivas e da Auto Sustentabilidade (IDEAAS) desenvolvemodelos sustentáveis para acesso e uso de energiasrenováveis, gerando melhoria de renda às famílias resi-dentes em zonas rurais ou isoladas e está utilizandobombas do sistema solar da Anauger, modelo P100, emseus projetos. O Instituto implantou projetos de abaste-

cimento de água para comunidades isoladas na Ama-zônia e no norte de Goiás. O produto funciona por meiode tecnologia fotovoltaica. A luz solar, armazenada nospainéis, passa pelo driver que a converte em energiaelétrica promovendo o funcionamento da bomba. Emum dia de sol intenso, o equipamento é capaz de bom-bear mais de 8 mil litros de água ininterruptamente.

Clean recebe certificação ISO 17025A Clean Environment Brasil recebeu em setembro acertificação ISO 17025 para calibração de detectores degás para os parâmetros isobutileno, metano, sulfeto dehidrogênio, monóxido e dióxido carbono, oxigênio e

hexano. Com essa certificação, a Clean passa a fazerparte da RBC (Rede Brasileira de Calibração) e a ofere-cer calibrações normatizadas pelos mais rígidos padrõesde qualidade, precisão e confiabilidade.

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 9SETEMBRO / OUTUBRO 2013

10 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

HIDRONOTÍCIAS

Enquanto a ONU afirma que a maior parte da água usa-da no planeta vai para a irrigação, pesquisadores estãodesenvolvendo uma série de ideias para fazer rendermais a água utilizada na agricultura.

É um novo produto que afirmam ter potencial parasuperar o desafio global de se cultivar em condiçõesáridas. Denominado “Chuva Sólida”, ele é um pó capazde absorver enormes quantidades de água e ir liberan-do o líquido aos poucos, para que as plantas possamsobreviver em meio a uma seca.

Um litro de água pode ser absorvido por apenas 10gramas do material, que é um tipo de polímero absor-vente orginalmente criado pelo Departamento de Agri-cultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês).

Nos anos 1970, o USDA desenvolveu um produtosuperabsorvente feito de um tipo de goma. Ele foi usa-do principalmente na fabricação de fraldas. Mas um en-genheiro químico mexicano chamado Sérgio Jesus RicoVelasco via no produto um potencial que ia além de dei-xar bebês sequinhos. Ele então desenvolveu e paten-teou uma versão diferente da fórmula, que pode ser mis-turada com o solo para reter a água.

Carlos Eduardo Quaglia Giampá,diretor da DH Perfuração de Poços

A seção Hidronotícias/Recordar é Viver é de responsabilidade do autor.

Fonte: www1.folha.uol.com.br/bbc/2013/08/1328763-agua-em-po-pode-tornar-a-seca-um-problema-do-passado.shtml

Engenheiro químico mexicano Sérgio Jesus Ricodesenvolveu a “Chuva Sólida”

O engenheiro vem vendendo a “Chuva Sólida” no Mé-xico há cerca de 10 anos. Sua empresa afirma que ogoverno mexicano testou o produto e concluiu que acolheita poderia ser ampliada em 300% quando ele eramisturado ao solo.

Segundo Edwin González, vice-presidente da empre-sa Chuva Sólida, o produto agora vem atraindo um inte-resse cada vez maior, já que crescem os temores porfalta de água. “Ele funciona encapsulando água e podedurar 8 a 10 anos no solo, dependendo da qualidade daágua. Se você usar água pura, ele dura mais.”

A empresa recomenda usar cerca de 50 quilos do pro-duto por hectare (10 mil metros quadrados), mas essaquantia custa cerca de US$ 1.500 (o equivalente a R$ 3.500).

Segundo Gonzalez, a “Chuva Sólida” é natural e nãoprejudica o solo, mesmo após ser usada por vários anos.Ele afirma que o produto não é tóxico e, ao se desinte-grar, o pó se torna parte das plantas.

‘SEM EVIDÊNCIAS’No entanto, nem todos estão convencidos de que a “Chu-va Sólida” é uma solução válida para o problema da seca.A professora Linda Chalker-Scott, da Universidade doEstado de Washington, afirma que esses produtos nãosão novidade. “E não há evidência científica que sugiraque eles armazenem água por um ano”, disse ela à BBC.

“Outro problema prático é que esse gel pode tambémcausar problemas. Isso porque à medida que eles se-cam, ele vai sugando a água ao redor dele maisvigorosamente. E assim ele desvia a água que iria paraa raiz das plantas.”

Segundo ela, usar adubo de lascas de madeira pro-duz o mesmo efeito e é significantemente mais barato.

González, no entanto, tem uma opinião diferente: “Osoutros concorrentes não duram três ou quatro anos. Osúnicos que duram tanto são os que usam sódio em suasformulas, mas eles não absorvem tanto.”

Apesar do fato de que a ciência ainda não estar totalmen-te confiante nos benefícios de produtos como esse, Gonzálezafirma que sua empresa recebeu milhares de pedidos vin-dos de locais áridos, incluindo Índia e Austrália.

“ÁGUA EM PÓ” PODETORNAR A SECA UMPROBLEMA DO PASSADO

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 11SETEMBRO / OUTUBRO 2013

HIDRONOTÍCIAS

RECORDAR É VIVER

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 11NOVEMBRO/DEZEMBRO 2012

12 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

PRODUÇÃO DE ÁGUA

A quífero ou lençol freático facilmente nos reme-tem à imagem de água limpa, cristalina e pró-

pria para consumo. No entanto, essa associação podeser alterada quando, durante o processo de perfura-ção de um poço, não forem seguidos os padrões delimpeza determinados.

PRODUÇÃO DE ÁGUA

Para uma águamais que limpa

Processo dedesinfecção depoços em suafinalização garantequalidade daágua e evitacontaminaçãono aquíferoGabriela Padovani e Tatiane Bueno

Durante a construção do poço é comum que resídu-os e algumas bactérias sejam introduzidas sem queisso seja notado. Os materiais e ferramentas usadosna perfuração são contaminados por impurezas e, paraque a qualidade da água não seja comprometida, aofinal de todo o processo é necessário realizar uma de-

12 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 13SETEMBRO / OUTUBRO 2013

PRODUÇÃO DE ÁGUA

geralmente estão retidas nas ferra-mentas de perfuração, tubos e outrosmateriais, são os coliformes fecais etotais. Além disso, também podemser provenientes do solo onde o poçoestá localizado. São principalmenteespécies inócuas, em geral nãopatogênicas. No entanto, o geólogoda Iguaçu Poços Artesianos, WalterEduardo Lamb, as considera perigo-sas, já que o consumo dessa águacontaminada pode ocasionardiarreia. “Quando presente, a bacté-ria coliforme indica poluição porexcrementos humanos ou de ani-mais. Isto quer dizer que a água podeconter germes patogênicos, organis-mos que normalmente vivem no apa-relho intestinal do homem e dos ani-mais de sangue quente”, completa.

sinfecção completa tanto no poçotubular profundo quanto nos instru-mentos utilizados.

“A água de um poço tubular pro-fundo somente será considerada po-tável quando os exames de laborató-rios comprovarem que não contémbactérias coliformes. Se tais bactéri-as, colhidas no solo durante a perfu-ração, forem encontradas em amos-tras de água retiradas do poço apóssua conclusão, a água será conside-rada poluída e imprópria para o con-sumo humano, ainda que no próprioaquífero possa ser da mais alta qua-lidade”, relata Joel Felipe Soares, daTrionic – Produtos e Equipamentospara Perfuração.

As bactérias residuais que podemser encontradas no poço ou na água

ELIMINAÇÃO DOS PARASITASPara evitar qualquer tipo de contami-nação, torna-se fundamental a execu-ção da desinfecção logo após a cons-trução ou qualquer reparo de manu-tenção do poço, alerta Joel Soares. Adesinfecção é feita de maneira bemprática, com a introdução de um pro-duto desinfetante no interior do poçopara eliminar principalmente oscoliformes fecais e totais.

“Atualmente existem no mercado,eficientes bactericidas, isentos de clo-ro e com forte poder germicida, desen-volvidos especificamente para esterili-

zar o ambiente interno do poço e queatuam sobre bactérias nadantes eretidas em biofilmes”, detalha Soares.

“Os produtos mais utilizados e re-comendados para desinfecção dospoços são o cloro e o hipoclorito desódio, porque são os produtos maisconhecidos pelo homem com açãodesinfetante”, comenta Lamb. O pro-cedimento no uso destes produtos,segundo o geólogo da Iguaçu PoçosArtesianos, é feito da seguinte manei-ra: “despeja-se em torno de 1 litro decloro ou hipoclorito de sódio no poçoe deixa-se o mesmo agindo por cercade duas horas. Em seguida, faz-se obombeamento da água do poço pelotempo que for necessário para a eli-minação completa do produto”.

Soares faz uma importante ressal-va: “a aplicação desses produtos deverespeitar as dosagens recomendadaspelos respectivos fabricantes e/ou for-necedores”.

Joel Felipe Soares, diretor da Trionic

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14 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

PRODUÇÃO DE ÁGUA

CONTAMINAÇÃO ALTERA QUALIDADE DA ÁGUA PARA CONSUMOAlém das bactérias, existem parâmetros químicos daágua que podem torná-la imprópria para o consumohumano. “Águas com teores de fluoretos acima de 1,5mg/l são consideradas impróprias, de acordo com aPortaria do Ministério da Saúde nº 2914 de 12 de de-

zembro de 2011. Conheço casos de águas com presen-ça de selênio e arsênio e que, apesar do bom aspecto,são nocivas à saúde”, coloca Walter Eduardo Lamb.Poços perfurados em rochas arenosas, no meio urba-no, caso não haja coleta de esgoto, podem ter sua águacontaminada por coliformes e nitratos, mesmo que opoço seja construído rigorosamente dentro das normasda ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

Joel Felipe Soares, da Trionic, aponta que as bactéri-as coliformes também podem ser introduzidas no siste-ma no momento da instalação e ligação da bomba aosistema de distribuição de água e durante a instalaçãoda tubulação. “A contaminação pode ocorrer tambémtoda vez que o poço ou a tubulação forem abertos parafins de manutenção, visto que a abertura de qualquerparte do sistema oferece uma oportunidade para a in-trodução de matéria estranha”, explica o geólogo.

“Um poço pode apresentar uma contaminação contí-nua, caso a fase de instalação de revestimento/cimentação não seja feita de maneira adequada, no sen-tido de isolar totalmente a água circulante no solo”, aler-ta Walter Lamb.

Análises laboratoriais sãoessenciais para comprovar

a qualidade da água

Walter Eduardo Lamb, da empresa Iguaçu Poços

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 15SETEMBRO / OUTUBRO 2013

Filmagem, um processo aliado à desinfecçãoO processo de filmagem consiste na descida de umacâmera de vídeo colorido, que permita visualizar opoço investigado na direção lateral (vista lateral dacâmera) e virada para o fundo. Durante a descidado equipamento, o operador utiliza a vista lateral paradetectar visualmente anomalias que podem compro-meter a qualidade do poço. A filmagem é um traba-lho de investigação minuciosa, com geração de ima-gens para visualização e análise posterior.

O geólogo Fernando Conte Júnior, da Hydrolog

Serviços de Perfilagem, explica que nos poços fi-nalizados é possível observar a localização de rup-turas no revestimento. “Estes rompimentos podempermitir a passagem de contaminantes do exteriorpara o interior do poço. Em algumas situações épossível identificar um fluxo através destes rompi-mentos”, coloca.

Após esse processo, as imagens são entreguespara a empresa contratante, que utiliza as imagenspara decidir quais providências serão tomadas.

MUITO ALÉM DA ESTRUTURATanto após a perfuração e a primeira instalação do equi-pamento de bombeamento, como após qualquer ope-ração de reparo ou manutenção, os reservatórios deágua e a tubulação necessitam de desinfecção similarà da estrutura do poço. Para isso, pode-se bombear dopróprio poço a solução esterilizante para o restante dosistema de distribuição.

“A eficiência da desinfecção deve ser averiguada de-pois de completada a instalação, analisando-se amos-tras de água para se verificar se há ou não presença debactérias. O poço deve ser bombeado e a tubulação

lavada de um extremo ao outro para se removerem to-dos os traços do agente desinfectante, antes da coletadas amostras para análise”, expõe Soares. As amostrasdevem ser colhidas por um profissional habilitado, emrecipientes apropriados fornecidos por um laboratório.

A desinfecção tornará o poço tubular profundo e seusacessórios livres de qualquer contaminação temporáriaque possa eventualmente ter sido introduzida durantesua construção ou nas operações de manutenção, ga-rantindo assim a qualidade da água e a saúde de quema consumir.

16 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

AMBIENTE

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Nas cidades,sob nossos pés

ace ao grande adensamento demográfico e cres-cimento acelerado dos centros urbanos, o espaço

subterrâneo das grandes metrópoles está, cada vezmais, sendo utilizado para abranger infraestruturas demobilidade (transporte urbano); túneis para utilidadepública (transporte de cargas, água, esgoto, cabos elé-tricos, telefônicos e de comunicação, etc.) e paraarmazenamento (água, estacionamentos, controle deenchentes, reservatórios de gás e petróleo, etc.). O apro-

Empreendimentos subterrâneosse tornam solução para o

armazenamento, transporteentre outros serviços, em

cidades cada vez maisurbanizadas. Investigação e

planejamento são essenciaispara o sucesso da obra

Por Larissa Straci

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 17SETEMBRO / OUTUBRO 2013

AMBIENTE

veitamento do subsolo no Brasil é refle-xo de um fenômeno chamado EraAmbiental de Uso do Espaço Subterrâ-neo, que ocorre em todo o mundo, con-forme relata André Pacheco de Assis,presidente da Associação Brasileira deMecânica dos Solos e EngenhariaGeotécnica (ABMS) e docente Univer-sidade de Brasília (UnB). “Após déca-

das de pressão sobre as cidades parase criar obras de infraestrutura de mo-bilidade, sendo estas obras predomi-nantemente de superfície, o resultadofoi uma degradação dos centros urba-nos. A tendência de uso do espaço sub-terrâneo surge para prover alternativasde infraestrutura, mobilidade earmazenamento e para deixar o espa-ço de superfície para fins mais nobres,como moradia, ambientes de trabalhoe áreas lazer”. São Paulo, Rio de Janei-ro e Ceará são os estados brasileiroscom mais obras subterrâneas urbanas.

Sérgio Augusto Palazzo, representan-te da International Society for TrenchlessTechnology (ISTT) e diretor da Associa-ção Brasileira de Tecnologia nãoDestrutiva (ABRATT), explica que as ci-dades requerem novas instalações deredes subterrâneas em todos os servi-ços e, devido aos reconhecidos proble-mas na superfície, a opção é levar es-tas instalações para o subsolo. “A cida-de de São Paulo, por exemplo, discutehá anos a remoção dos postes e as re-des neles penduradas, para instalaçãono subsolo, ou seja, seriam dezenas demilhares de quilômetros no subterrâ-neo”, relata. Palazzo, que também é co-ordenador técnico do curso de MNDpara projetistas, gerenciadores e propri-etários de redes instaladas no subsolo,informa que a capital paulista possuimais de 1,5 milhão de postes em suasruas e avenidas.

Para Arsênio Negro Junior, diretor daBureau de Projetos e ex-presidente daAssociação Brasileira de Mecânica dosSolos e Engenharia Geotécnica (ABMS),a falta de espaço disponível na superfí-cie das principais cidades obrigou a dis-posição de equipamentos urbanos nasubsuperfície. “Vantagens do uso doespaço subterrâneo são inúmeras, masse pudesse elencar apenas uma, diriaque é o ganho de qualidade urbana aomanter o uso da superfície visível para oque for de melhor qualidade social, visu-al, estética e funcional. Não seria umamaravilha se nos livrássemos de toda fi-ação aérea de São Paulo?”

Construção da Linha5-Lilás do Metrô de

São Paulo

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18 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

AMBIENTE

OBRAS SUBTERRÂNEAS: RISCOS EM DOBROObras subterrâneas apresentam um maior risco de aci-dentes do que obras na superfície. Uma investigaçãogeológica, por mais detalhada que tenha sido realizadaem campo e laboratório, pode apresentar característi-cas e riscos não previstos inicialmente, que só serãodescobertos com o início dos trabalhos. Na opinião deHugo Cássio Rocha, assessor técnico da Companhiado Metropolitano de São Paulo (Metrô SP), o pior riscoé a incompetência. Ele explica que há dois tipos de vari-ações geológicas e também geotécnicas, asimprevisíveis e as não prognosticadas.“As imprevisíveissão aquelas que mesmo utilizando as melhores técni-cas e conhecimento disponíveis não poderiam ser pre-vistas, como uma anomalia geológica de baixa probabi-lidade de ocorrência ou feições geológicas com com-portamentos geotécnicos fora dos padrões usuais paraos materiais em questão. Entretanto, na maior parte doscasos, as anomalias geológicas ou geotécnicas poderi-am ter sido detectadas e previstas a partir de uma ade-quada campanha de investigações”.

Para dar início ao empreendimentosubterrâneo, os cuidados são muitos.“Precedendo as obras e o projeto, ésempre necessária uma investigaçãogeológico-geotécnica. Em segundolugar, é fundamental o envolvimentode um engenheiro geotécnico na con-cepção e detalhamento do projeto.

Por último, é essenci-al que a obra subter-rânea seja devida-mente instrumentada

Hugo CássioRocha, doMETRÔ-SP

Acidente semelhante ao ocorrido em São Paulo registrou trêsmortes, além de 11 veículos engolidos, emdesabamento do túnel do metrô em Hangzhou, leste da China

e monitorada para que se avalie seu desempenho du-rante a implantação e para que se acione contingên-cias no caso de desvios de desempenho”, explanaArsenio Negro Jr.

Hugo Cássio Rocha exemplifica uma situação que podeser considerada um erro de planejamento: queda de tú-nel devido ao excesso de chuvas e o maciço não resiste.“A chuva ocorre todos os anos e os índices pluviométricossão conhecidos. Uma obra de porte não pode ser proje-tada sem considerar a probabilidade de ocorrências anô-malas e o projeto precisa ser robusto o suficiente paraaceitar variações. Em geral, os túneis estão abaixo donível d´água e variações pluviométricas não exercem qual-quer influência no maciço em escavação”.

As cidades requerem novasinstalações de redessubterrâneas em todos osserviços principalmente paraevitar os reconhecidosproblemas na superfície

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 19SETEMBRO / OUTUBRO 2013

AMBIENTE

FASE DE INVESTIGAÇÃO PODE DETERMINAR O SUCESSO DO EMPREENDIMENTODentre todas as obras de engenharia civil, não existenenhuma que mais depende das condições geológico-geotécnicas do que a subterrânea. Quanto mais incer-tezas existirem no conhecimento de tais condições, maisriscos decorrentes vão existir. “É possível reduzir os ris-cos relacionados ao conhecimento das condições geo-lógico-geotécnicas, desde que se façam campanhas deinvestigações com a antecedência e em grau dedetalhamento compatível com a complexidade da obra.Por fim, profissionais qualificados devem interpretar taisdados e gerar os chamados modelos geológicos egeomecânicos. Para isso, é necessário um planejamen-to adequado da obra que inclua recursos e tempo paraesta fase de investigações”, explana André Assis, presi-dente da ABMS.

Conforme compara Sérgio Palazzo, assim como ocorpo humano possui órgãos, o subterrâneo das cida-des é povoado por diversas instalações. “Perfurar, es-cavar sem o detalhamento é como abrir um paciente deolhos vendados”. Segundo o diretor da ABRATT, nospaíses avançados, a análise prévia é representada porum relatório geológico, no qual o “projetista” analisa ex-

tensivamente o subsolo. “As informações farão parte dadecisão quanto aos métodos que serão utilizados, seusdetalhes e custos, permitindo assim, um planejamentoadequado e uma instalação rápida, segura e dentro dopreço contratado”, complementa.

Quando mal investigadas, mal planejadas, malprojetadas ou executadas, as obras subterrâneas po-dem impactar a superfície e trazer prejuízos tantotemporários como permanentes. “Uma obra subter-rânea tem uma fase crítica que é sua construção, quecaso ocorra um acidente, os pre-juízos podem chegar até a super-fície com grande repercussão.Mas se vencida esta fase, as obrasnão rompem mais e são conheci-das por terem uma vida útil mui-to, muito longa, sendo inclusivemuito resistentesa terremotos (oque não é o casodo Brasil)”, deta-lha Assis.

André PachecoAssis, presidente

da ABMS

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20 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

Principais destinações para o espaço subterrâneo

5Túneis para transporteferroviário interurbanode alta velocidade

4Obras subterrâneas de revitalização decentros urbanos (substituição de viadutos,estacionamentos, linhas férreas etc. desuperfície por obras subterrâneas)

1Transporte de massa (metrôs)e vias expressas rodoviárias eferroviárias que cruzamcentros urbanos

2Túneis para utilidades públicas(redes de água, esgoto, gás ecabos em geral)

3Cavernas de armazenamentoe controle de enchentes,inclusive estacionamentos

Construção da Linha 5-Lilás do Metrô de São Paulo. Foto-Arquivo Comitê Brasileiro de Túneis (CBT)

AMBIENTE

GERENCIAMENTO DAS OBRAS SUBTERRÂNEASPara executar uma obra subterrânea bem sucedida,ou seja, realizá-la no prazo e cronograma previstos,sem ocorrência de acidentes de impacto médio ougrande, são necessários, antes do início da obra: pla-no e estratégia de gerenciamento de riscos; proces-so de identificação, qualificação e quantificação dos

riscos; processo de monitoramento econtrole dos riscos.

“Quando se trata de um terreno nãocontaminado, as questões e preocu-pações básicas referem-se à garan-tia de não ocorrência de instabilida-

des da escavação,evitando perdasmateriais e aciden-tes pessoais; e àgarantia de não

ocorrência de danos em edificações e instalações vi-zinhas ao terreno onde se implanta a obra subterrâ-nea. Quando se trata de projetos em terreno conta-minado, as duas preocupações básicas somam-se aoutras ligadas a não ocorrência de danos à saúdedos operários, dos futuros usuários da instalação, devizinhos e da população em geral”, salienta ArsenioNegro Jr., da Bureau de Projetos.

O planejamento e o gerenciamento dos projetos deuso do espaço subterrâneo deveriam ser baseados emuma agência municipal de cadastro, onde se cadastratudo que é feito no espaço subterrâneo e lista-se adisponibilização do espaço, para potenciais usuários nofuturo, afirma André Assis. “Esta agência poderia disporde mapas de uso em função das condições geológico-geotécnicas de determinados locais. Mas há muito ain-da que caminhar neste sentido”.

Sérgio Palazzo recomenda que os proprietários deredes subterrâneas revejam suas práticas e come-cem, conscientemente e a partir de diretrizes deta-lhadas, a investir na fase de projeto para só licitar a

obra com projeto executivo e todo o detalhamentoem mãos. “Qualquer coisa diferentemente disto, eminstalação de redes subterrâneas beira o nível deirresponsabilidade”.

Arsenio NegroJr., Bureau deProjetos

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 21SETEMBRO / OUTUBRO 2013

O QUE REGULAMENTA O USO DO ESPAÇO SUBTERRÂNEO?No Brasil, o espaço subterrâneo pertence à União, mas,segundo André Assis, presidente da ABMS, ao final oque vale é a lei de quem chega primeiro. “Se hoje asempresas públicas constroem túneis de água, amanhão metrô terá que respeitar este espaço já conquistadoe passar por baixo. Se hoje um edifício constróitrês subsolos, amanhã outro agente pode utilizaro espaço abaixo desta obra, desde que garanti-das as condições de segurança. Este tipo deregulação é favorável, pois não garante reservade domínio do espaço subterrâneo, porém exigecadastro e mapeamentos confiáveis para o pla-nejamento futuro do uso do subsolo”, opina.

Sérgio Palazzo expõe que, quanto à regulamen-tação, ainda não há muitos protoco-los definidos. “A Prefeitura de SãoPaulo, por meio do Decreto no

46.921/2006, orienta esse tipo deinstalação, porém está mais relaci-

onada à reposição da pavimentação asfáltica do que aprópria instalação no subsolo”. Ele explica que o Convias(Departamento de Controle de Uso de Vias Públicas deSão Paulo) é órgão regulador, que autoriza a instalaçãodas redes subterrâneas na maior cidade do país. “Quan-

to aos critérios, além dopouco que temos já esta-belecido, pouco se temfeito em termos de diretri-zes para o projeto. Na re-alidade, o Brasil, atravésda Lei no 8.666, de 21 dejunho de 1993 (Lei das li-citações e contratos admi-nistrativos) permite a dis-pensa do projeto executi-vo na fase de contratação.A meu ver, um suicídio téc-nico”, finaliza.

Sérgio Palazzo,diretor da

ABRATT

AMBIENTE

22 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

Esgoto despejado sem tratamento

nas águas brasileiras durantedécadas causou incontáveis danosà qualidade dos mananciais. Apesar

do crescimento dos investimentosnos últimos anos, profissionaisdefendem melhor gestão e maior

eficiência para esgotamento sanitário

Por Larissa Straci

O

DESCASOHISTÓRICO

reflexo da falta de planejamento sanitário nascidades brasileiras pode ser demonstrado em

números. Dados do Sistema Nacional de Informaçõessobre Saneamento (SNIS) referentes ao ano de 2011e divulgados em julho de 2013, apontam que o Brasilcoleta 55,5% do esgoto gerado na área urbana e so-mente 37,5% passa por algum tipo de tratamento an-tes de retornar aos rios e reservatórios. Somente cin-co entre as 100 maiores cidades brasileiras coletam100% de esgotos (o que não significa que são trata-dos): Santos, Piracicaba, Jundiaí e Franca, no interiorde São Paulo, e a capital mineira, Belo Horizonte.“Esteé o fruto de um descaso histórico com relação ao es-gotamento sanitário no Brasil. Os governos e municí-pios privilegiaram o acesso da população à água esimplesmente se esqueceram do esgoto, apesar doenorme potencial de doenças que traz”, avalia ÉdisonCarlos, presidente do Instituto Trata Brasil, organiza-ção da sociedade civil que luta pela universalizaçãodo acesso à coleta e tratamento de esgoto.

Para Carlos Eduardo Borges Pereira, superintenden-te de Operação e Tratamento de Esgotos da Compa-nhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal(CAESB), alguns fatores contribuíram para o quadroatual do esgoto no Brasil. “O primeiro deles está rela-

CAPA

22 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 23SETEMBRO / OUTUBRO 2013

SANEAMENTO DEVERIA SER PRIORIDADEFalta de planejamento, custo de implantação muitoelevado, leis rigorosas que exigem altos investi-mentos em tecnologias de tratamento.ParaJosineto Araújo, diretor de Operações da Com-panhia de Água e Esgoto do Ceará (CAGECE),estes são alguns dos fatores que empatam o de-senvolvimento do setor de saneamento no Brasil.“O que impede um maior avanço é a falta depriorização nos programas governamentais e ofato de se tratarem de obras que exigem altos in-vestimentos, que não apresentam grande visibili-dade, além de não existir uma conscientizaçãoplena da sociedade de que o esgotamento sani-tário é um bem de saúde pública”.

Édison Carlos afirma que "o problema é quemuitas cidades constroem a rede de coleta de es-

goto para afastá-lo da sua população, mas lançaestes esgotos nos rios. Portanto, somente passamo problema para a próxima cidade. O ideal é queo sistema seja construído como um todo: leva-sea água tratada, coleta-se o esgoto e trata-se o es-goto, antes de devolvê-lo à natureza”. Ele cita tam-bém a baixa prioridade da maioria dos municípiose a dificuldade para se conseguir recursos. “Issomelhorou bastante, mas ainda há uma burocraciamuito grande para se chegar a esse dinheiro. Édifícil até mesmo para as cidades que alcançam odinheiro, pois não conseguem realizar as obrasno prazo necessário. Além disso, há a demora naslicenças ambientais e mais uma série de entravesque o setor vive, fruto dos mais de 20 anos que opaís ficou sem investir em saneamento”.

CAPA

cionado ao Plano Nacional de Saneamento(PLANASA), que vigorou a partir de 1978. Nadécada de 1980 ocorreu um intenso desenvol-vimento para solucionar problemas relaciona-dos ao abastecimento e tratamento de água eforam priorizados, com razão, os projetos paraabastecimento público. A questão dos esgotosvinha em segundo plano. O objetivo inicial era oafastamento dos dejetos humanos, com inúme-ros projetos de coleta dos esgotos, mas, no en-tanto, não houve avanço nos sistemas de trata-mento de esgotos”. Se mantido o nível de in-vestimentos atuais em saneamento no Brasil, sóem 2039 será alcançada a universalização dosserviços de abastecimento de água em áreasurbanas e em 2060 se alcançará a de esgota-mento sanitário, afirma Álvaro José Menezes daCosta, presidente da Companhia de Saneamen-to de Alagoas (CASAL) e vice-presidente da As-sociação Brasileira de Engenharia Sanitária eAmbiental (ABES). “Saneamento é tão estraté-gico e representa uma ação de infraestrutura deresultados sociais, econômicos e ambientais tãorelevante, que deve haver maior participação doGoverno Federal na definição das concessõesou formalização dos contratos de programa. Nãobasta ter um PAC (Programa de Aceleração doCrescimento) ou um cofre cheio de dinheiro, énecessário ser eficiente na utilização dos recur-sos e eficaz na gestão dos serviços”.

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 23SETEMBRO / OUTUBRO 2013

24 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

CAPA

88% das mortes pordiarreia no mundosão causadas pelosaneamentoinadequado. Esta éa segunda maiorcausa de mortesentre crianças de 0a 5 anos. Estima-seque a cada ano 1,5milhão de criançasmorram no mundo,em consequênciada doença.Fonte: OrganizaçãoMundial de Saúde(OMS)

Entre as capitaisbrasileiras, Porto Velho(RO) detém o pioríndice de coleta,apenas 3,0%, com0,0% de tratamento.Entre as capitais quetratam menos de 10%de esgotos aparecemSão Luis/MA, 8%; eBelém/PA, 1,6%. Omelhor índice detratamento entre ascapitais fica paraSalvador/BA, com97,4%, seguida deCuritiba/PR, 87,2% eBrasília/DF, 65,6%.Fonte: Dados do SistemaNacional de Informaçõessobre Saneamento em 2011

De todo o volume deesgoto gerado nas100 maiores cidadesdo país, somente36,28% é tratado.Essas mesmascidades lançamquase 8 bilhões delitros de esgoto todosos dias nas águasbrasileiras, semnenhum tratamento.Fonte: Avaliação dosaneamento nas 100maiores cidades do país- Ranking Trata Brasil

Sete milhões debrasileiros aindanão possuemacesso abanheiro.Fonte: EstudoProgress onSanitation andDrinking Water –OMS/UNICEF,2011

Cada realinvestido emsaneamentogera umaeconomia de R$4,00 em saúde.Fonte:OrganizaçãoMundial daSaúde, de 2004

Dados impactantes

24 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 25SETEMBRO / OUTUBRO 2013

CAPA

MUDANÇA NA GESTÃO: É NECESSÁRIA?Não há como imaginar auniversalização do saneamento amédio prazo com os mesmos mo-delos de licitação, contratação,gestão e de captação de recursosfinanceiros, coloca Álvaro JoséMenezes da Costa. “A Lei nº8.666, de 21 de junho de 1993 (leidas licitações e contratos admi-nistrativos) deve ser reformulada,pois apesar do Regime Diferenci-ado de Contratações (RDC), háainda muitos entraves para umacontratação mais ágil e segura.De outro lado, também é impor-tante revisar a lei da Parceria Pú-blico-Privada - PPP (Lei Nº 11.079,de 30 de dezembro de 2004) parao saneamento, o que tornaria este

modelo mais atrativo para o setore os parceiros envolvidos”.

É necessária uma remodelagemna gestão da água e esgoto no Bra-sil, defende Édison Carlos. “Hoje,seria importante se pensar em ba-cias hidrográficas, ou seja, todas ascidades que estão à beira de ummanancial precisam promoverações de saneamento ao mesmotempo. Muitas vezes, o municípioé pequeno e poderia se conveniarcom o do lado e fazer uma únicaestação de tratamento de esgotopara as duas cidades. A ideia defazer ações interligadas entre mu-nicípios significaria um grandeavanço, mas, infelizmente, o fatorpolítico atrapalha muito”.

Édison Carlos, presidente doInstituto Trata Brasil

26 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

CAPA

Investimentos em saneamento

*Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento

Em 2001, o índice de coletaera 50,9%, o de tratamentoera 25,6%. Foram investidosR$ 1,153 bilhão;

Em 2006, o índice de coletaera 48,3%, o de tratamentoera 32,2%. Foram investidosR$ 1,856 bilhão;

Em 2011, o índice de coletaera 55,5%, o de tratamento era37,5%. Foram investidos R$

3,919 bilhões - quase omesmo valor que se investiuem abastecimento de água.

CONSEQUÊNCIAS PARA A QUALIDADE DA ÁGUAO despejo indiscriminado de esgotos sem tratamentonos rios e reservatórios causa uma série de danos aoambiente e altera a qualidade da água a ser consumidapela população. “A eutrofização (aumento excessivo dealgas) e as consequências decorrentes, resultam naperda da qualidade, o que pode até mesmo inviabilizarseu uso em razão dos riscos para a saúde”, detalha Ál-varo Costa. Os efeitos podem variar desde a perda total

da capacidade biológica atéa apresentação de pontos deelevada contaminação. “O es-goto bruto lançado nos ma-nanciais provoca osurgimento de nitratos,nitritos, coliformes, algas no-civas, altera os níveis de pH,DBO (Demanda Biológica deOxigênio) e DQO (Demanda

Química de Oxigênio) e difi-culta a operação das Esta-ções de Tratamento de Água(ETA’s), aumentando os cus-tos do tratamento com apli-cação de produtos quími-cos”, complementa.

Apesar dos danos causa-dos, Carlos Eduardo BorgesPereira afirma ser possível reverter a situação dos cor-pos d’água poluídos. “Brasília deu esse exemplo aodespoluir o Lago Paranoá, que até a década de 1990era contaminado e hoje abastece o Distrito Federal,mesmo recebendo cerca de 30% de esgoto tratado.”ParaPereira, quando se fala em rios ou regiões litorâneas areversibilidade da poluição é mais fácil, devido à eleva-da capacidade de renovação de suas águas, desde queos esgotos sejam tratados adequadamente.

Álvaro José Menezes daCosta, da ABES-Casal

Carlos Eduardo BorgesPereira, da Caesb

26 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

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ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 27SETEMBRO / OUTUBRO 2013

CAPA

Região

NorteNordesteSudesteSulCentro-OesteBrasil

Total(IN

056)

Índice de atendimen-to com rede (%)

Coleta de esgotosUrbano

(IN024

)

Índice de tratamentodos esgotos

coletados (%)

90,684,262,182,192,568,8

Índice de tratamentodos esgotos gerados

(%)

9,621,373,836,247,548,1

11,828,478,842,052,055,5

Total(IN

016)

Total(IN

046)

12,730,141,234,644,037,5

Esgotamento sanitário no Brasil

Nota: Para cálculo do IN046

estima-se o volume de esgoto gerado como sendoigual ao volume de água consumido.

Fonte: Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), 2011.

INVESTIMENTOS NOS ÚLTIMOS ANOSSegundo Gustavo Fraya, chefe de gabi-nete da Secretaria Nacional de Saneamen-to Ambiental (SNSA), órgão do Ministériodas Cidades, a universalização do aces-so ao saneamento básico pela populaçãobrasileira é um dos grandes desafios en-frentado pelo Poder Público. “Para isso, oGoverno Federal passou a investir maisem saneamento básico, especialmenteapós a instituição do PAC (Programa deAceleração do Crescimento), em janeirode 2007. O Governo elevou o volume deinvestimentos em saneamento de umamédia de R$ 4 bilhões anuais, no períodode 2002 até 2006, para cerca de R$ 10,5bilhões por ano, de 2007 a 2012”, relata.

“Além dos recursos, ações como a apro-vação da Lei do Saneamento (Lei 11.445/2007), depois de 20 anos circulando noCongresso Nacional, a criação do Ministé-rio das Cidades e a volta do setor privadoao saneamento fazem parte do recomeçoda reestruturação do setor e são passosimportantes. O problema é que a velocida-de de investimentos está muito abaixo danecessidade do país”, analisa ÉdisonCarlos, presidente do Instituto Trata Brasil.

“Seria um contrassenso dizer que nãohá recursos financeiros no Brasil. Só oFundo de Garantia do Tempo de Serviço(FGTS) possui um fundo e já é sócio deparceiros privados nos setores de logísticae transporte; entretanto, para o setor desaneamento segue quase os mesmos

modelos de financiamento, fazendo comque a utilização do FGTS tenha altaimprodutividade”, afirma Álvaro JoséMenezes da Costa, da CASAL/ABES.

Gustavo Fraya garante que, existem hoje,no âmbito do PAC, mais de 800 intervençõesde grande porte na modalidade esgotamen-to sanitário, acompanhadas pelo Ministériodas Cidades, em todas as regiões do Brasil.“O Governo Federal tem buscado melhoraro seu desempenho, na medida em que seestá saindo da inércia provocada pela au-sência de investimentos de porte no setorem anos anteriores”. Segundo ele, está emfase final de elaboração o Plano Nacional deSaneamento (PLANSAB),com metas para oacesso da população aos serviços de sane-amento básico até 2033 e previsão de in-vestimentos de R$ 140 bilhões.

Gustavo Frayer, chefe de Gabineteda Secretaria Nacional deSaneamento Ambiental (SNSA)

28 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

CAPA

Josineto Araújo, diretor de Operações da CAGECE

Roberta Henriques,superintendente interina

de esgotamentosanitário da EMBASA

AMPLIAÇÃO PREVISTA

AÇÕES EM GRANDES CIDADESlo, com 99,8% de rede de esgoto. A Companhia de Sa-neamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP)pretende universalizar o saneamento no estado até 2020.Segundo a Secretaria de Saneamento e RecursosHídricos, serão 192 mil novas conexões, com resulta-dos diretos para cerca de 800 mil pessoas, em um pro-grama que investirá R$ 349,5 milhões ao longo do pra-zo previsto.

Entre as ações realizadas para desenvolver o sanea-mento em Fortaleza (CE) estão o Programa Sanear I e IIe obras de esgotamento sanitário do PAC, o que elevoua taxa de cobertura de cerca de 25% para 56% nos últi-mos dez anos. “Também devem ser mencionados osconvênios com órgãos ambientais (Secretaria de MeioAmbiente do Ceará - SEMACE e Secretaria de Urbanis-mo e Meio Ambiente de Fortaleza - SEUMA) para fiscali-zação de ligações clandestinas e despoluição de rios elagoas, e o Programa Socioambiental desenvolvido pelaCAGECE para conscientizar a população das vantagensde adesão ao sistema coletor de esgoto”, explanaJosineto Araújo.

A região Sudeste do Brasil possui a maior porcentagemde municípios com rede de esgoto: 95,1%, segundodados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico(PNSB), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografiae Estatística (IBGE), em 2008. O único estado quase to-talmente contemplado pelo serviço de coleta é São Pau-

A capital baiana, Salvador, conta atualmente com 80,5%de cobertura de esgotamento sanitário, uma das maio-res do país. Na região, mais de dois milhões de pesso-as são atendidas com os serviços de coleta, transporte,tratamento e destinação adequada dos esgotos domés-ticos através de 449.264 ligações implantadas que aten-dem 755.566 unidades consumidoras. “De 2007 até2014, a Empresa Baiana de Águas e Saneamento(EMBASA) está investindo cerca de R$ 740,3 milhõesna ampliação do esgotamento de Salvador. A realiza-ção de obras de adensamento em todas as 28 baciassanitárias da cidade, juntamente com as intervençõespara implantação de três novas bacias sanitárias(Trobogi, Cambunas e Águas Claras) devem ampliar a

cobertura do serviço deesgotamento sanitárioaté 2015. Serão realiza-das ao todo, 24 mil liga-ções, o que ampliará acobertura para 86%”, de-talha Roberta Henriques,superintendente interinade esgotamento sanitário da EMBASA.

COM ESTAÇÕES, DESDE A FUNDAÇÃOBrasília (DF) já nasceu com duas estações de tratamen-to de esgotos, as ETE´s Norte e Sul. “Até o ano de1993 existiam, no Distrito Federal, cinco estações detratamento de esgotos. Já em 2004 foram construídase operadas mais 11 estações capazes de tratar todosos esgotos dessa unidade da Federação. Com o cres-cimento desordenado das áreas urbanas, regulariza-das ou não, o nível de cobertura de coleta não conse-guiu atingir a universalização, mantendo o patamar de

93,71% de coleta de esgotos, sendo que 100% dosesgotos coletados são tratados”, ressalta Carlos Eduar-do Borges Pereira, da CAESB. Atualmente diversasobras estão em andamento, principalmente a expan-são das redes de esgoto, visando elevar o percentualde atendimento em coleta da capital federal.“Enfatizamos que existe capacidade instalada nasETE´s para o tratamento de 100% dos esgotos produ-zidos em Brasília”, finaliza.

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 29SETEMBRO / OUTUBRO 2013

CAPA

Esgoto e a contaminação das águas subterrâneasQuem pensa que o esgoto é um problema que sóatinge as águas superficiais, se engana. Em certoslocais, a qualidade da água dos aquíferos tambémestá sendo indiretamente alterada por conta do des-pejo de esgotos. “A falta de coleta e tratamento deesgotos obriga a população a utilizar sistemas indi-viduais constituídos por fossas sépticas ou negras.A infiltração desses esgotos no solo carreia gran-des cargas orgânicas e de nutrientes para o lençolfreático e para os aquíferos profundos, podendocontaminar gigantescos reservatórios subterrâne-os. A falta de coleta e de tratamento de esgotos éum grande risco para os mananciais subterrâneos,cuja reversão dessa poluição é muito mais com-plexa do que em águas superficiais”, analisa CarlosPereira, da CAESB.

Segundo Josineto Araújo, da CAGECE, a falta defiscalização, os baixos índices de cobertura e efici-ência dos sistemas de tratamento, bem como a di-ficuldade dos órgãos de controle ambiental em iden-tificar as origens poluidoras são fatores responsá-

veis pela contaminação dos aquíferos. “O lança-mento de esgotos sem tratamento causará infiltra-ções no subsolo que podem alterar drasticamentea qualidade dos aquíferos, requerendo mais inves-timentos para o tratamento, o que pode torná-loinviável sob o aspecto de sustentabilidade”.

Os casos mais graves decorrem da infiltraçãoem áreas onde o solo é muito permeável, detalhaÁlvaro Costa, da ABES. Para Waldir Duarte CostaFilho, presidente da ABAS e geólogo do ServiçoGeológico do Brasil (CPRM), os poços devem serconstruídos de acordo com as normas técnicas,além de protegidos e fiscalizados para que não setornem pontos de infiltração de esgoto. “Por isso aimportância de serem construídos sistemas hidráu-licos de coleta, afastamento e tratamento de esgo-tos. Do ponto de vista de saúde pública, são ne-cessárias ações para evitar a poluição e contami-nação dos aquíferos e poços, decorrentes da infil-tração de esgotos, diminuindo assim os gastos como tratamento de doenças de origem hídrica”.

30 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

CONEXÃO INTERNACIONAL

Bill Newman, RNAS -Remediation & NaturalAttenuation Services Inc.

PRATO DO DIA:

Como a injeção de emulsões de óleo vegetal pode estimular abiodegradação de contaminantes em subsuperfície

Carlos Maldaner (Universidade de Guelph - Canadá) e Marcelo Sousa (Brasil)

icroorganismos são grandes aliados na remediação de solos e águas subterrâneas. Eles podem metabolizarcontaminantes, transformando-os em compostos menos tóxicos ou com menor mobilidade. Em alguns ca-

sos, tentamos ajudar nesse processo como parte das atividades de remediação. É nessa área que nosso entrevista-do, Bill Newman, vem trabalhando há mais de 25 anos. Newman é fundador e presidente da RNAS, uma companhialocalizada nos Estados Unidos que desenvolve produtos para estimular a biorremediação do solo e de águas conta-minadas. Seu trabalho lhe rendeu uma série de patentes internacionais e nos Estados Unidos. Bill Newman estará noIII Congresso Internacional de Meio Ambiente Subterrâneo (III CIMAS) e sua empresa está entrando no mercadobrasileiro em colaboração com as empresas Envirologek e Geoambiente.

Como a injeção de emulsões de óleos vegetais pode

ser usada para remediar áreas contaminadas?

A injeção dessas substâncias promove condições para a

biorremediação anaeróbia, pois os óleos vegetais liberam

lentamente alimento para os microorganismos. Quando

projetadas de forma correta, essas emulsões são distri-

buídas eficientemente no solo e na água subterrânea e

liberam produtos de fermentação por vários anos, a partir

de uma única injeção. Uma vez que a fonte de alimento

(doador de elétrons) está disponível para os

microorganismos, o solo e o aquífero tornam-se rapida-

mente deficientes em receptores de elétrons, como oxi-

gênio dissolvido, sulfato e nitrato. Nessas condições,

microorganismos podem começar a utilizar contaminantes

como receptores de elétrons, transformando-os em ele-

mentos menos tóxicos e/ou menos móveis.

Quais tipos de contaminantes podem ser tratados com

esta tecnologia?

Uma grande variedade de contaminantes pode ser remedi-

ada por esta técnica, como solventes clorados, nitrato,

perclorato, explosivos (ex.: TNT, RDX, e HMXO) e alguns

metais tóxicos (ex.: cromo VI). Solventes clorados, como

cloroetenos e cloroetanos, são transformados em cloro e

produtos não tóxicos, como eteno e etano. O nitrato na água

subterrânea pode ser rapidamente transformado no inerte e

inofensivo gás nitrogênio. O cromo VI não pode ser destruído,

mas pode ser transformado em cromo III, uma forma menos

móvel, menos solúvel e menos tóxica. Uma vez que a

emulsão desaparece e o aquífero volta ao estado aeróbio,

processos naturais não são capazes de reverter essa rea-

ção e o cromo permanece como cromo III.

Esta tecnologia esta sendo aplicada há muito tempo

ou foi desenvolvida recentemente?

Um dos nossos concorrentes tentou convencer clientes que

eles haviam inventado essa técnica no ano 2000, o que não

é verdade. Com o objetivo de nos proteger contra possíveis

problemas relacionados a patentes, fiz uma extensa pesqui-

sa e, portanto, tenho um bom conhecimento da história des-

ta tecnologia. Pesquisas de laboratório e discussões sobre a

aplicação de emulsões de óleos vegetais para biorremediação

começaram na década de 1990. Em fevereiro de 1992, Battelle

patenteou uma versão de injeção de óleos vegetais. Está

claro na patente que eles nunca aplicaram a tecnologia e, de

acordo com sua descrição, nunca iria funcionar. Entretanto,

isso mostra que a aplicação de emulsões em projetos de

remediação já estava pelo menos sendo considerada em

1992. Dr. Hunter, do USDA, também trabalhou com óleos

vegetais e emulsões para o tratamento de nitrato em solo e

água subterrânea. O primeiro teste piloto em grande escala

foi desenvolvido em 1999 e 2000 pelas empresas Parsons,

Terra Systems e Solutions IES. Naquela época, emulsões

com gotas de grande diâmetro foram utilizadas, resultando

em muitas dificuldades para distribuir adequadamente os do-

adores de elétrons no aquífero. Minha empresa (RNAS) co-

meçou a produzir emulsões em 2000 e, em meados de 2002,

produzimos o primeiro lote industrial de emulsões com go-

tas de diâmetro submicrométrico. Desde então, produzimos

e vendemos mais de 5 milhões de quilos de emulsões que

foram usados em centenas de projetos.

Como é feita a injeção da emulsão em subsuperfície?

A emulsão de óleo vegetal com gotas de pequeno diâmetro

pode ser injetada no solo com a mesma facilidade com que

M

SOLVENTES CLORADOSCOM AZEITE

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 31SETEMBRO / OUTUBRO 2013

CONEXÃO INTERNACIONAL

se faz a injeção de água. Leite homogeneizado, por exemplo,

é uma emulsão com gotas submicrométricas que conhece-

mos em nosso dia a dia. Assim como o leite, emulsões de

óleos vegetais com pequenas gotas possuem essencialmen-

te a mesma viscosidade que água, quando possuem de 1% a

5% de óleo em volume. Nossos produtos estão sendo aplica-

dos pelo método "directpush", por sistemas de circulação de

água subterrânea e pela injeção de grandes volumes em po-

ços profundos. Outros produtos que liberam doadores de elé-

trons, como géis ou pastas de alta viscosidade, só podem ser

injetados em pequenos volumes através do método

"directpush". Em contraste, um de nossos grandes projetos

envolve uma bio-barreira de aproximadamente um quilôme-

tro, com poços de injeção a cada 30 metros e filtros

posicionados a 100 metros abaixo da superfície. A aplicação

de pastas ou géis seria inviável nesse tipo de projeto.

Quais mudanças você espera que ocorram no futuro

na área de remediação de áreas contaminadas?

O maior desafio para a remediação "in situ" é a distribuição

dos produtos injetados em subsuperfície, seja para oxida-

ção química ou para bioremediação. A existência de cami-

nhos preferenciais dificulta essa tarefa e frequentemente não

temos clareza em relação à localização dos contaminantes

ou para onde vão os reagentes injetados. Acredito que

tecnologias mais desenvolvidas para caracterização da

subsuperfície - como "membrane interface probes” (MIP),

sondas de condutividade, fluorescência induzida por laser,

entre outras - provavelmente vão nos ajudar na tarefa de

avaliar a localização dos contaminantes e o contato entre os

mesmos e reagentes injetados. Muitas dessas tecnologias

são relativamente novas e caras, porém esses custos de-

vem diminuir. Atualmente, a nossa comunidade profissional

acaba se baseando em “chutes” para estimar a localização

dos contaminantes e reagentes injetados. Espero que num

futuro próximo estas tecnologias nos permitam criar mapas

tridimensionais detalhados, que precisamos para

dimensionar tratamentos mais efetivos e baratos.

Quais são suas sugestões e recomendações para um

profissional da área ambiental em início de carreira?

Adoraria ver mais pesquisas e desenvolvimento na área de

caracterização de ambientes subterrâneos. Na minha opinião,

não podemos simplesmente instalar alguns poços de

monitoramento ou injeção e fingirmos que entendemos o que

está acontecendo em relação ao destino e transporte dos

contaminantes e em relação à eficiência do tratamento. Mi-

nha esperança é que a nova geração desenvolva melhores

ferramentas para gerar as informações que são necessárias

para uma caracterização e remediação mais eficientes.

32 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

PERFURAÇÃO

Rogério Pons da Silva,Diretor da Sidermetal

Afiadorade bits

AFIAÇÃO DOS BITSDE PERFURAÇÃO

s brocas ou bit de perfuraçãopara martelo pneumático têm

maior vida útil quando é dada aten-ção aos insertos (botões). A utiliza-ção (errônea) do verbo “afiar” ou“amolar” faz alguns operadoresacreditarem que esta ação aumen-ta a velocidade de perfuração, o queé um equívoco. Aumenta, na verda-de, a vida útil da ferramenta.

A maioria dos bits utilizados emrochas cristalinas normalmente éequipada com insertos de geome-tria “dome” (esférico) na parte ex-posta. Esta é a melhor geometriapara a dissipação do impacto parao corpo do bit. A afiação - ou recom-posição - reduz o risco de quebraou cisalhamento do inserto prema-turamente. Mas quando se deve afi-ar? A resposta é: sempre que oinserto apresentar desgaste na suageometria original. Não há regra demetragem perfurada. Ou quando,por desgaste abrasivo no aço docorpo da ferramenta, os insertos fi-carem expostos algo em torno de40% do que seu próprio diâmetro.Veja um exemplo: para um bits cominsertos de 16 mm de diâmetro, omáximo aceitável de exposição doinserto para fora aço será de 6 mm.

Se o inserto ficar exposto acima deste comprimento,haverá alto risco de quebra e, por consequência, que-bram outros insertos, chocando-se entre si. Quando forafiar, não se deve utilizar retíficas elétricas ou pneumáti-cas de alta rotação, como já foi tecnicamente aconse-lhado no passado. É impossível manter a estabilidadeem alta rotação de retíficas manuais nesta operação,além de ser extremamente perigoso para a integridade

“Não se deve utilizarretíficas elétricasou pneumáticas dealta rotação, comojá foi tecnicamenteaconselhado nopassado, quandofor afiar”

A física do operador. A “ponta mon-tada” de pedra de silício, definiti-vamente, deve ser banida daafiação do bits, devido ao pó desilício em suspensão no ar e tam-bém em razão do alto risco de aci-dente com mãos, olhos e rosto.Além de promover uma afiação ar-riscada, precária e demorada. Aforma mais segura e eficiente é arecomposição dos insertos, quedeve ser feita com a utilização deuma furadeira de bancada de bai-xa rotação, com altura suficientepara encaixe do bits em um gaba-rito tubular, onde a ferramenta fi-cará fixa e estável (veja foto).

Deve ser utilizado um rebolocôncavo diamantado de diâme-tro compatível com os insertose muita refrigeração para man-ter o rebolo em baixa tempera-tura. Este trabalho deve ser feitosempre na sede da empresa, emlocal apropriado, seguindo as nor-mas de segurança do trabalho e ooperador deve estar devidamenteequipado com os equipamentosde proteção individual (EPIs). Istonunca deve ser feito à campo,onde os recursos são limitados,principalmente os recursos de as-

sistência, caso haja algum acidente. Levar para a obraos bits apontados previamente é o mais indicado paraesta classe de ferramentas. Os fabricantes identificamos bits com números de série, assim é possível montaruma planilha de manutenção, identificando a ferramen-ta por metragem e também o controle de vida útil , oque apontará a melhor relação custo/benefício das fer-ramentas disponíveis no mercado.

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 33SETEMBRO / OUTUBRO 2013

REMEDIAÇÃO

Rogério Toledo de Almeida,Diretor Técnico Comercial,EP - Engenharia do Processo

Pode-se obter a desmineralização de água empre-gando-se sistemas de desmineralização tanto por

Troca Iônica (TI) como pela tecnologia de OsmoseReversa (OR). Há alguns critérios que influenciam nadecisão de qual tecnologia escolher. São eles o local deinstalação, a qualidade da água tratada requerida e dabruta disponível para desmineralização, os quais influ-enciam diretamente o pré-tratamento de maior ou me-nor complexidade. Para águas de baixo teor de sais dis-solvidos (TSD), o processo de resinas de troca iônica émais econômico em operação do que o de OsmoseReversa. Águas com alto TSD devem ser preferencial-mente desmineralizadas empregando-se processos deOR, pois a maior frequência de regenerações implicaem maior consumo de produtos químicos.

CONSUMO DE PRODUTOS QUÍMICOSOs sistemas de troca iônica requerem produtos quími-cos agressivos, porém de baixo custo, como Na OH pararegeneração da resinas aniônicas ou HCl ou H

2SO

4 para

as catiônicas. Outro ponto negativo é que o efluente, ge-rado pelo processo de regeneração das resinas, requeruma etapa adicional de neutralização antes que possaser descartado. Por outro lado, o sistema de OR exigepequenas quantidades de antincrustantes especiais e/ou produtos químicos para limpeza das membranas, queé feita, normalmente, em intervalos de 60 a 90 dias.

GERAÇÃO DE EFLUENTESA Osmose Reversa gera mais água residual, pois a re-cuperação é de 50% a 80%, sendo o rejeito destinadopara o esgoto ou para uma aplicação menos exigente.Já um sistema de Troca Iônica moderno tem uma recu-peração de aproximadamente 96%. Deve-se observar,contudo, que o rejeito da OR pode ainda ser adequadopara uma utilização secundária como sistemas deresfriamento, limpezas, etc. Em uma situação como esta,o rendimento total de OR pode estar perto de 100%.

QUALIDADE DA ÁGUA PRODUZIDAA Troca Iônica produz uma maior qualidade de águadesmineralizada em comparação com OR, pois normal-mente rejeita até 95% - 98% dos minerais. Comtecnologias mais modernas, remove-se até 99% dos sais.É possível - e comum - adicionar um equipamento parapolimento (um segundo sistema de OR ou leito mistode resinas de troca iônica) - tanto após a TI como de-pois da OR, fazendo com que ambos os processos pro-duzam água desmineralizada de alta qualidade (baixoteor de sais dissolvidos).

QUALIDADE DE ÁGUA DEALIMENTAÇÃO REQUERIDAA Osmose Reversa remove todas as espécies de partícu-las presentes na água de forma muito eficaz, mas requerum pré-tratamento adequado, pois deve eliminar com-pletamente os sólidos em suspensão, ferro e dureza daágua bruta. As membranas devem ser cuidadas para evi-tar proliferação de microorganismos e requerem atençãodos operadores para promoverem limpezas sempre queos indicadores de processo mostrarem ser necessário. Afalta de atenção para com o sistema pode converter rapi-damente um sistema de osmose reversa em um sistemade “osmose perversa”, não raramente implicando na ne-cessidade de substituição das onerosas membranas deosmose que são o coração do sistema. Os sistemas detroca iônica, por sua vez, são muito mais tolerantes quantoa sólidos e falhas de operação.

CONSUMO ENERGÉTICOMembranas de osmose trabalhando com água de superfí-cie ou poços de baixa salinidade operam com pressõesna ordem de 7 a 12 bars. Um sistema de OR convencionalrequer até 10 vezes mais kWh para funcionar. Em grandeescala de produção, o consumo de energia para sistemasde osmose e consumo de químicos em sistemas de trocaiônica devem ser confrontados para a tomada de decisão.

DESMINERALIZAÇÃO DE ÁGUATROCA IÔNICA X OSMOSE REVERSA

34 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013

OPINIÃO

A

Zuleika Stela Chiacchio Torquetti, engenheiraquímica e mestre em Saneamento, Meio Ambientee Recursos Hídricos; presidente da FundaçãoEstadual do Meio Ambiente - FEAM/MG

falta de legislação ambiental específica para pro-teção do solo e das águas subterrâneas em tem-

pos passados gerou passivos ambientais decorrentesda disposição incorreta de resíduos, que hoje represen-tam grandes desafios aos gestores públicos e às em-presas geradoras, para que não sejam legados proble-mas ainda maiores às futuras gerações.

A responsabilidade do passivo ambiental é de quemo gerou, seja a pessoa física ou jurídica. Em termos eco-nômicos, o passivo ambiental corresponde ao investi-mento que uma organização pública ou privada devefazer para que possa corrigir os impactos ambientaisadversos gerados por suas atividades e que não tenhamsido controlados ao longo dos anos de suas operações.

Segundo a Lei nº 6.938/81 - Política Nacional do MeioAmbiente -, o poluidor é obrigado, independentementede existência de culpa, a indenizar ou reparar os danoscausados ao meio ambiente e a terceiros afetados porsua atividade. Esta é a famosa regra da “Responsabili-dade Objetiva”, na qual o causador do dano é responsá-vel, seja culpado ou não. Outro marco legal de extremaimportância para a gestão de passivos é a Lei no 9605/98,conhecida como Lei de Crimes Ambientais, que imputaresponsabilidade administrativa, civil e penal às pesso-as jurídicas pelo dano ambiental causado, além de res-ponsabilizar pessoas físicas, co-autoras do fato, taiscomo diretores de empresas e prefeitos municipais.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), insti-tuída pela Lei no 12.305, que completou três anos devigência no último dia 3 de agosto, fixou o conceito degestão integrada de resíduos sólidos como o “conjuntode ações voltadas para a busca de soluções para osresíduos sólidos, de forma a considerar as dimensõespolítica, econômica, ambiental, cultural e social, comcontrole social e sob a premissa do desenvolvimentosustentável”. Esta é uma definição bastante inovadora eousada no contexto real da gestão de resíduos no Bra-sil, pois, além de incluir as bases do tripé do desenvolvi-mento sustentável, traz o controle social como instru-mento do processo.

Significa que os responsáveis pelo gerenciamento deresíduos deverão mudar rapidamente as estratégias atéentão usadas, focadas muito mais no tratamento e nadisposição final do que nas oportunidades de reduçãoda geração, reuso e reciclagem, como define a hierar-quia da gestão de resíduos delineada pela PNRS.

Em Minas Gerais, apesar dos esforços empenhadosna última década pelos governos municipais e estadual,ao final de 2012 ainda existiam 558 áreas inadequadasde disposição de resíduos sólidos urbanos (RSU), entrelixões e aterros controlados. Considerando que das 853cidades mineiras cerca de 70% possuem população ur-bana menor que 20 mil habitantes, é fácil perceber quesomente a gestão integrada de RSU por meio de consór-cios intermunicipais poderá mudar este cenário, haja vis-ta a carência de recursos técnicos e econômicos nas pre-feituras. Além disso, os prefeitos municipais têm e terãoum desafio ainda maior para a reabilitação ambiental dasáreas de antigos lixões, com expressivo potencial de con-taminação do solo e das águas subterrâneas.

Já os empresários e gestores das atividades produti-vas terão outro desafio, o de praticar o conceito de “res-ponsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos pro-dutos”, também definido na PNRS. As empresas têmuma bela fatia de responsabilidade em minimizar o vo-lume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem comoem reduzir os impactos causados à saúde humana e aomeio ambiente decorrentes do ciclo de vida de todos osprodutos, desde a extração dos recursos naturais paraa produção até o descarte pós-consumo.

E o controle social? Será, sem dúvida, a chave para osucesso de todas as ações voltadas para a gestão integra-da de resíduos. Não no sentido da identificação dos culpa-dos pelos passivos ambientais e da cobrança por medi-das corretivas, mas para incluir a sociedade na discussãodos padrões de produção e consumo (in)sustentáveis. Estámais do que na hora da população enxergar o invisível: odano que a disposição inadequada de resíduos causa nosolo e nas águas subterrâneas e o que cada um podefazer para minimizá-lo.

A GESTÃO INTEGRADA DOSRESÍDUOS SÓLIDOS NAPROTEÇÃO DO MEIOAMBIENTE SUBTERRÂNEO

ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO 35SETEMBRO / OUTUBRO 2013

36 ÁGUA E MEIO AMBIENTE SUBTERRÂNEO SETEMBRO / OUTUBRO 2013