sete povos das missões

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  • Sete Povos das Misses, suas lutas e mistrios

    Os Sete Povos foram fundados na derradeira onda colonizadora jesuta na regio, depois de terem sido fundadas dezoito redues em tempos anteriores, todas destrudas pelos bandeirantes brasileiros e exploradores portugueses. Dentre as causas apontadas pelos historiadores para o retorno esto a abundncia de gado na regio e o desejo da coroa espanhola de assegurar a posse daquelas terras, em virtude da crescente presena portuguesa no sul. Contudo, essas teses so controversas.

    Seja como for, a partir de 1687 os Jesutas comearam a voltar para as suas antigas terras, e neste mesmo ano foi fundado o primeiro dos Sete Povos: So Francisco de Borja, seguido por So Nicolau, So Luiz Gonzaga e So Miguel.

    So Miguel Arcanjo

    Seu primeiro fundador fora o padre Cristvo de Mendona, em 1632, que igualmente atacado por predadores bandeirantes, abandonou o local com os ndios e se refugiaram em Concepcin, no Paraguai. A volta aconteceu em 1687, com o deslocamento de 4.195 pessoas. E trs anos j estava quase completa, com a casa dos padres e cem outras para os ndios.

    Em 1697 So Miguel foi dividida, indo 2.832 pessoas fundar a reduo de So Joo Batista. Em 1707 possua 3.110 habitantes. A igreja foi obra do padre Joo Batista Primoli, que de 1735 a 1744 a levantou empregando somente operrios indgenas.

    Suas runas so ainda visveis nos dias de hoje, pertencentes ao municpio de So Miguel das Misses, constituindo o mais importante stio arqueolgico de sua natureza no estado, tendo sido declarado Patrimnio da Humanidade pela UNESCO, junto com outras runas no Paraguai, Argentina e Bolvia.

  • A Catedral Angelopolitana, erguida semelhana da antiga igreja de So Miguel

    Os Sete Povos fazem parte de um importante captulo da histria do Rio Grande do Sul. Deram origem a cidades prsperas, auxiliaram na delimitao de fronteiras, e foram tema para a formao de um grande folclore regionalista de tom herico em torno das figuras dos padres e dos ndios, dentre os quais em especial Sep Tiaraju. A cultura desenvolvida nestes centros chegou a alto nvel de complexidade em termos de arte, urbanismo e harmonia social, e suas relquias ainda podem ser vistas nos stios arqueolgicos e nos museus regionais. Sua importncia tamanha que foi digna da ateno da UNESCO, e o acervo de estaturia que se preservou e est espalhado em colees privadas e pblicas hoje patrimnio nacional tombado pelo IPHAN.

    Igncio Paica Testemunhos se multiplicam sobre a grande inclinao natural dos ndios para a msica, que foi usada desde os primeiros contatos para atrair os aborgines para fora de suas selvas.[62] O padre Noel Berthold afirmou que o Irmo Verger podia fascin-los de tal modo quando tocava ao rgo que eles permaneciam imveis, como que em xtase, por at quatro horas. Muitos ndios chegaram a se tornar proficientes construtores de instrumentos, como Ignacio Paica e Gabriel Quiri, ou instrumentistas exmios, a exemplo de um menino de doze anos que executava com perfeio sonatas e danas cortess de insignes compositores europeus. Diversos dentre os prprios jesutas eram msicos de primeira ordem, como os ditos padres Verger e Sepp, este o autor do primeiro rgo construdo nas Amricas, Domenico Zipoli, cuja obra foi imensamente popular, e o padre Juan Vaseo, que fora msico da corte espanhola. Formaram ainda grandes orquestras e coros, que rivalizavam com grupos de formao europia e eram convidados para se apresentar nas cidades principais. Na misso de San Ignacio funcionou um dos primeiros conservatrios de msica da Amrica.[63][64][27][58] Alguns ndios at mesmo se tornaram compositores eruditos, como o caso de um paraguaio que foi co-autor de uma pera sacra sobre a vida de Incio de Loyola, e um mexicano que comps uma missa completa em 1560. A maior parte das partituras compostas ou executadas nas misses se perdeu aps sua dissoluo, mas no sculo XX diversos estudos especializados trouxeram novamente luz uma significativa quantidade de material, como foi a espetacular descoberta em 1972 de cerca de dez mil partituras na misso de Chiquitos, na Bolvia, e j existe discografia disponibilizando parte desse acervo.[61]

    Lenda de Sep Tiaraju

  • Em 1750 a Espanha queria trocar com Portugal as terras das misses dos jesutas , conhecida como Os Sete Povos das Misses , pela colnia de Sacramento . O problema que Os Sete Povos das Misses eram habitados por milhares de ndios . Os jesutas souberam da situao , mas para evitar pnico no falaram nada para os indgenas . Aconteceu que nestas terras morava um ndio que recebia espritos dos seus ancestrais e era muito dedicado ao Xamanismo , seu nome era Sep Tiaraju . Uma certa manh Jussara , a esposa de Sep que tambm era curandeira , anunciou a todos que teve um sonho : um anjo falou que homens brancos iriam destruir aquelas terras . Depois de alguns dias os ndios lutaram contra os exploradores brancos , entre os guerreiros indgenas estava Sep Tiaraju . No final da batalha , os exploradores prenderam Sep . Porm alguns ndios voltaram s Misses e avisaram Jussara , que logo fez algumas magias para que seu marido sasse desta luta vivo . Na priso Sep ficou cara a cara com um general lusitano que queria saber o local em que estavam os cavalos dos ndios . Ento o branco ofereceu presentes para Sep em troca desta informao , mas o indgena recusou e ainda por cima exclamou : - Esta terra tem dono ! Aps isto o general gritou : - Se me falar onde esto os cavalos , eu libertarei voc ! Ento o ndio respondeu : - Existem foras sobrenaturais capazes de me libertar . O branco deu risada . Mas , de repente , surgiu o barulho de um trovo . Como um raio , apareceu um cavalo com cabea de fogo , que deixou todos assustados e paralizados como esttuas . Sep se aproveitou de todo este espanto , conseguiu escapar e fugiu montado em cima deste cavalo sobrenatural . Quando os brancos voltaram ao normal , o ndio j estava longe . Dias depois , numa segunda batalha , Sep lutou contra os brancos com o seu cavalo de fogo . Porm , desta vez , ele ficou muito ferido , no resistiu e morreu . Reza a lenda que , no momento de sua morte , todos os ndios que olharam para o cu viram Sep cavalgando no firmamento , com o seu cavalo de fogo , no meio de uma luz azulada . Muitos anos se passaram , as Misses viraram runas , mas dizem que neste local possvel ver o fantasma de Sep , com o seu cavalo de fogo , cavalgando pelas noites de Lua cheia . Luciana do Rocio Mallon

  • A lenda da cobra grande de So Miguel Esta uma lenda sobre a Cobra Grande contada aqui no Rio Grande do Sul, pois para os menos avisados, entre os mais diversos povos do mundo, podemos encontrar lendas e mitos que envolvem diversas espcies de ofdios. Eis mais uma entre elas: Quando foi erguida em pedra a imponente catedral de So Miguel Arcanjo, o mais belo dos Sete Povos das MIsses, s se construiu uma das torres, o campanrio onde balanava um sino fundido em So Joo Batista. O sino regulava a vida da aldeia. Todos os compromissos eram marcados pelas badaladas, desde seis horas da manh. Mas o sino tocava tambm, repicava festivo, em momentos especiais de alegria, dobrava a finados, se morria algum e tocava a rebate, nas ocasies de perigo. Nestas ocasies, as mulheres de So Miguel tinham ordem de pegar as crianas e se reunirem todas dentro da igreja, que era um local de pedra, mas capacitado a qualquer resistncia. Aconteceu porm, que a Cobra Grande, veio morar na torre de So Miguel, escondendo-se nos desvos, galerias e tneis que existiam. Quando o sino tocava a rebate e a igreja se enchia de mes e filhos, ela simplesmente engolia uma criana mais afastada do grupo, enlaando a vtima com seus anis e a comia calmamente nos escuros de sua morada. E, mesmo quando no havia rebate, ela mesma laava o sino com a cola e tocava a vontade, at reunir as mulheres e as crianas sua total disposio...

    Mas tendo o "olho maior que a barriga", que de tanto comer crianas ndias, engordou muito e um dia arrebentou, atirando gordura para tudo quando foi lado. E foi toda esta gordura que pintou de escura e tornou mal-cheirosa todas as paredes da galeria da torre de So Miguel...

    Esta lenda foi contada pela primeira vez por Luiz Carlos Barbosa Lessa em seu livro "O Boi das Aspas de Ouro". Todas as serpentes tanto de mar como de gua doce, representam as correntes telricas nefastas vida, que so temveis em suas cleras, que provocam o furor dos oceanos e o desencadeamento da tempestade. A serpente feita a imagem das divindades dos oceanos, um ser arcaico e fundamentalmente inumano. Na cosmognese grega, segundo a Teogonia de

  • Hesodo, ela o prprio "Oceano", assim como tambm, representa o esprito de todas as guas. Muitos rios da Grcia e da sia Menos tm o nome de Ophis (serpente). Na mitologia grega, Aquelo (o maior rio da Antiga Grcia), certa vez se metamorfoseou em serpente para enfrentar Hrcules. E quem j no ouviu dizer que um rio se serpenteia? As LENDAS da Cobra Grande ou Boiuna nos fazem lembrar a luta entre a vida e a morte, inseparveis uma da outra... O mito da serpente, simboliza a vida que corre como um rio, espalhando a exuberncia e a abundncia da me-terra, grvida de energia csmica, pulsando incessantemente, alimentando-se da morte para gerar mais vida...

    neste Brasil onde imergem e emergem lendas e mitos como a da Cobra Grande, que encontramos formas para divulgar e valorizar a cultura de nossas almas brasileiras.

    Texto pesquisado e desenvolvido por Rosane Volpatto

    Boi Tat

    um Monstro com olhos de fogo, enormes, de dia quase cego, noite v tudo. Diz a lenda que o Boitat era uma espcie de cobra e foi o nico sobrevivente de um grande dilvio que cobriu a terra. Para escapar ele entrou num buraco e l ficou no escuro, assim, seus olhos cresceram.

    Desde ento anda pelos campos em busca de restos de animais. Algumas vezes, assume a forma de uma cobra com os olhos flamejantes do tamanho de sua cabea e persegue os viajantes noturnos. s vezes ele visto como um facho cintilante de fogo correndo de um lado para outro da mata. No Nordeste do Brasil chamado de "Cumadre Fulzinha". Para os ndios ele "Mba-Tata", ou Coisa de Fogo, e mora no fundo dos rios.

    Dizem ainda que ele o esprito de gente ruim ou almas penadas, e por onde passa, vai tocando fogo nos campos. Outros dizem que ele protege as matas contra incndios.

    A cincia diz que existe um fenmeno chamado Fogo-ftuo, que so os gases inflamveis que emanam dos pntanos, sepulturas e carcaas de grandes animais mortos, e que visto de longe parecem grandes tochas em movimento.

    Nomes comuns: No Sul; Baitat, Batat, Bitat (So Paulo). No Nordeste; Batato e Biatat (Bahia). Entre os ndios; Mba-Tata. Origem Provvel: de origem Indgena. Em 1560, o Padre Anchieta j

  • relatava a presena desse mito. Dizia que entre os ndios era a mais temvel assombrao. J os negros africanos, tambm trouxeram o mito de um ser que habitava as guas profundas, e que saa a noite para caar, seu nome era Biatat. um mito que sofre grandes modificaes conforme a regio. Em algumas regies por exemplo, ele uma espcie de gnio protetor das florestas contra as queimadas. J em outras, ele causador dos incndios na mata. A verso do dilvio teve origem no Rio Grande o Sul. Uma verso conta que seus olhos cresceram para melhor se adaptar escurido da caverna onde ficou preso aps o dilvio, outra verso, conta que ele, procura restos de animais mortos e come apenas seus olhos, absorvendo a luz e o volume dos mesmos, razo pela qual tem os olhos to grandes e incandescentes.

    Santa Tecla

    Histria

    No contexto da invaso espanhola de 1763-1776, o governador da Provncia de Buenos Aires, D. Juan Jos de Vrtiz y Salcedo, liderou, em 1773, uma coluna espanhola com destino Coxilha Grande. No incio de 1774, atingiram Santa Tecla, posto avanado da estncia de So Miguel das Misses. Nesse local, estratgico para o controle do trnsito das tropas que cruzavam a regio, foi ordenado ao engenheiro Bernardo Lecocq a construo de uma fortificao. GARRIDO (1940) atribui-lhe muralhas de treze palmos de altura e fosso profundo, nomeando quatro baluartes: Santo Agostinho e So Miguel, a Leste, sete palmos a cavaleiro das cortinas que os ligavam aos de So Joo Batista e So Jorge, e ao meio-baluarte de So Francisco (op. cit., p. 150). As muralhas foram levantadas com leivas de barro socado (taipa) e as construes, de pau-a-pique, distribudas em torno da praa de armas no terrapleno. O barranco do rio Negro servia-lhe de proteo natural pelo lado norte (BARRETTO, 1958).

    Aps vinte e seis dias de cerco por foras portuguesas sob o comando do sargento-mor Rafael Pinto Bandeira (filho de Francisco Pinto Bandeira), rendeu-se a 23 de Maro de 1776, sendo incendiado e arrasado no dia seguinte (SOUZA, 1885:132). Uma planta posterior a essa poca, resume: "Plano da Fortaleza de Santa Tecla, feita de taipa pelos castelhanos em um stio eminente, e descoberto nos anos de 1774 e 1775, e rendida, arrasada e

  • queimada pelos portugueses em o ms de maro de 1776 (...)" (Arquivo Histrico Ultramarino, Lisboa) (IRIA, 1966:95).

    O Tesouro do Jesuta

    A primeira tentativa dos padres jesutas, que resultou na fundao de 18 Povos Missioneiros no Rio Grande do Sul, deu em nada. Os bandeirantes de Piratininga, que haviam arrasado as redues do Guair caando e escravizando ndios para a escravido das lavouras de cana-de-acar de So Paulo e Rio de Janeiro, quando souberam que os padres tinham vindo mais para o sul e erguido suas aldeias no Tape, vieram aqui fazer o que sabiam fazer. Assim e aos poucos, os padres tiveram que refluir para o oeste, fazendo agora na volta o mesmo caminho que tinham feito na vinda.

    E nessa fuga tratavam de levar consigo tudo o que podiam carregar. O que no podiam, queimavam ou enterravam. Casas, plantaes, at igrejas foram incendiadas, para que nada ficasse ao emboaba agressor.

    Pois diz-que numa dessas avanava pelo Planalto, no rumo da Serra, uma carreta carregada de ouro e prata, fugindo das Misses. Ali vinha a alfaia das igrejas, candelabros, castiais, moedas, ouro em p, um verdadeiro tesouro cujo peso faziam os bois peludearem. Com a carreta, alguns ndios e padres jesutas e atrs deles, sedentos de sangue e ouro, os bandeirantes.

    Ao chegarem s margens de uma lagoa, no puderam mais. Desuniram os boise atiraram a carreta com toda a sua preciosa carga na lagoa, muito profunda. E vai ento os padres mataram os ndios carreteiros e atiraram os corpos n'gua, para que no contassem a ningum onde estava o tesouro. Com o sangue dos mortos, a lagoa ficou vermelha.

    E l est, at hoje. Ao seu redor, cresceu uma bela cidade, que tomou seu nome - Lagoa Vermelha. E cada que um dos seus moradores passa na beira das guas coloradas, lembra que ali ningum se banha, nem pesca, e segundo a tradio, a lagoa no tem fundo. E nas secas mais fortes e nas chuvaradas mais brabas, o nvel da lagoa sempre o mesmo.

    Histria mitolgica indita dos ndios guaranis Mbys de So Miguel, Biguau (Santa Catarina)

    Por Ozias Alves Jr (jornalista)

  • No princpio dos tempos, a Terra era habitada por criaturas abominveis. Eram os Pamba'e Djagu (Feras Extraordinrias). Nhanderu ete, o Deus supremo do universo, decidiu eliminar os Pamba'e Djagu lanando sobre a terra uma estrela incandescente, a Djatchir Tata'i guatch.

    Tidos como criaturas do mal, os Pamb Djagu, que a civilizao ocidental chama de "Dinossauros" ("Lagartos Terrveis" em grego), foram mortos pelo terrvel calor provocado pelo cometa. Sobre as cinzas deste mundo, Nhander Et decidiu repovo-lo com um novo ser, o "Homem".

    Em guarani, Nhander et significa "Deus Verdadeiro". o Deus de forma humana cujos olhos refletem a infinidade das cores. Onde aparece, reflete luz. Vaga pelo cosmos num veculo voador chamado Bair. Nhanderu ete percorreu o Nhe' Rekuagui, o "lugar das almas", o mundo dos espritos. De l trouxe Nhande ypy, o "Primeiro Homem", transportando-o em seu Bair at a Terra.

    Chegando aqui em nosso planeta, Nhanderu ete advertiu a Nhande ypy que sua misso era povoar a Terra e no permitir que o egosmo tomasse conta dos coraes de seus descendentes. Acrescentou o deus que o egosmo tornar-se-ia a raiz de todo o mal da humanidade pois desencadeia as guerras e toda sorte de violncia do homem contra o homem. Advertiu para que os homens prezassem por sua memria, cujo exemplo inspiraria os homens a praticar o bem. Nascia ali a religio guarani.

    - "Nunca pense em si para que a humanidade no sofra", aconselhou profeticamente o Deus na lngua do mundo dos espritos que se transformou no primeira idioma da Terra, segundos os guaranis mbys.

    Nhande p era um esprito. Chegando Terra, transformou-se num "homem" de carne e osso. Um esprito, se quiser e tiver a energia necessria, pode se materializar em forma de um corpo, diz a tradio dos ndios guarani.

    Nhande p , o "Ado" dos guarani mby, ficou dois anos sozinho na Terra. Moki aragudj (dois anos depois), eis que o deus Nhander et voltou ao mundo espiritual Nhe Rekuagu para trazer uma Nhande Tchir p (A 1 mulher). Tomando-a como esposa, Nhande p teve seis filhos cujos nomes so:

    Kra (Poder Divino) - sobre as matas e animais. o protetor da Ecologia. Nhamand (Reflexo do Sol),

  • Djatchir (Dona da Noite), Wher Tup (Deus da Chuva), Wher Nhimbodjer (Dia e Noite, o giro da Terra) e Par Guatch (Oceano).

    Eram cinco homens e uma mulher (Djatchir). Eis o grupo inicial do qual, segundo os guaranis, descende a humanidade. Os mby tm o costume de adotar como sobrenome um dos seis filhos do casal Nhande p e Nhande Tchir p. Segundo eles, tal costume visa indicar de quem descende os atuais ndios entre os seis primeiros filhos da humanidade.

    O primeiro casal e seus filhos so os primeiros homens "mortais" da humanidade, de acordo com a mitologia guarani mby. O deus supremo Nhander et gerou trs deuses secundrios principais para serem seu intermedirio junto aos homens. Tratam-se de:

    Kra (Iluminado), Kra Rendy Vydj (Poder da Luz) e Kra Kend (Anjo que mostra o Bem e o Mal).

    Este ltimo, Kra Kend, quem os catlicos chamam de "Anjo da Guarda" pois um esprito que adverte os homens sobre o Bem e o Mal. aquela voz interior que chamamos "Conscincia".

    Ao mesmo tempo que os deuses vindos do espao sideral percorriam a Terra, o Ado e Eva da mitologia guarani mby vivia num mundo de bonana e prosperidade. Mas faltavam os netos. O casal tinha seis filhos- cinco homens e uma mulher. Os filhos no tinham esposas. Se quisesem ter filhos, s a irm. Porm, mesmo nos primrdios da humanidade, respeitava-se o tabu do incesto, isto , irmo no poderia manter relao sexual com a irm.

    Em virtude desse problema, o deus supremo do universo Nhander et voltou novamente ao mundo dos espritos, o Nhe Rekuagu, no qual buscou trs mulheres e um homem. Transportou-os em seu bair, a nave voadora que atravessa os confins do universo numa velocidade inimaginvel.

    As trs mulheres tornaram-se as esposas dos cinco irmos. J o homem trazido pelo deus tornou-se o marido da filha Djatchir (Dona da Noite). Desses casamentos, nasceram filhos, netos do primeiro casal da humanidade. Os netos, todos primos, casaram-se entre si. Houve tambm casamentos com

  • tios. Assim foi-se passando o tempo e a populao humana multiplicando-se no planeta Terra.

    A populao cresceu acentuadamente ao longo do tempo. Todos falavam a mesma lngua. Ao contrrio dos catlicos, os guaranis mbys no possuem lenda semelhante da bblica Torre de Babel. Dizem que a primeira lngua do mundo, surgida por inspirao divina, foi modificando-se ao longo do tempo quando grupos foram afastando-se da tribo original com o objetivo de conquistar a Terra. Com o distanciamento e a falta de comunicao, tais grupos foram inventando novas palavras que se tornaram particulares da tribo. Com o tempo, passaram a falar idiomas cada vez mais diferentes, de sorte que chegou um tempo em que as diferentes tribos no mais se entendiam.

    As mudanas apareceram no s apenas nas lnguas. Os povos, mesmo primos, foram diferenciando-se em costumes, hbitos, cultura, vesturio e, principalmente, religio. Dois eram os principais grupos humanos. O primeiro era os da tribo dos Kurup (egostas). O segundo tratava-se dos Iap G (os que vivem nas rochas).

    Os Kurups formavam uma coligao de povos em cuja religio j no mais se cultuava o verdadeiro deus, o Nhanderu et, mas "espritos ruins da Terra". Segundo os guaranis, os Pamb Djagu (as criaturas terrveis dos primrdios da Terra- "dinossauros") eram guiados por espritos ruins. Com a morte das criaturas, os espritos desprenderam-se dos animais e ficaram vagando pela Terra. Com o tempo, povos como os Kurups passaram a cultuar tais espritos que apareciam em forma de "fantasma". Conforme os ndios, os "fantasmas" so os espritos ruins que os catlicos chamam de "demnios". S vivem na Terra. So to medocres que no vieram do cosmos. Nasceram da prpria Terra, um mundo de provao. Em guarani, recebem o nome de Baipotchir (Raiva de Gente).

    J os Iap G eram os povos que viviam em aldeias de casas de pedra nas quais contavam com iluminao moderna. Seria a eletricidade? A religio dos Iap G, ao contrrio dos Kurup, no invocavam demnios Baipotchir como deuses. No entanto, esse povo tambm no acreditava em Nhander et. Havia alguns entre eles que eram "puros de alma", mas a grande maioria no passava de gente corrupta moralmente.

  • Antes poucos, os kurupi multiplicaram-se demasiadamente de sorte que passaram a ambicionar a conquista do mundo. Entre os kurupi, havia um chefe chamado Karamb, chefe de um poderoso exrcito. Sua alma fora dominada por um diabo Baipotchir. Alucinado pelo mal e de alma perversa, Karamb ambicionou conquistar os Iap G. Eis que um dia comeou uma gigantesca guerra entre os kurupi e os Iap G. Ambos povos no dispunham de tecnologia. Fora uma guerra de "machados de pedra". Mas as batalhas impressionaram pelo nmero gigantesco de combatentes. Somavam milhes de guerreiros.

    A guerra toda durou apenas dois meses, mas fora devastadora. Matou tanta gente que a humanidade ficou reduzida ao mnimo. O local da batalha final situa-se hoje num ponto do oceano, surgido aps o dilvio, a catstrofe que ocorria na Terra sculos aps a grande guerra dos kurup e os Iap Gu.

    O chefe Karamb sobreviveu catastrfica guerra, mas no viveria por muito tempo. Sucumbiu a uma doena misteriosa. J os poucos sobreviventes entre os Iap G tornar-se-iam, milnios mais tarde, os pais dos povos da antiga Atlntica, a misteriosa ilha do meio do oceano atlntico, e os incas, conforme diz a lenda guarani mby.

    No se sabe quanto tempo foi, mas as poucas milhares de pessoas que sobraram aps a grande guerra foram multiplicando-se novamente nos sculos de paz que se prosseguiram. No entanto, as novas geraes tornaram-se mais perversas ainda. Continuaram a no acreditar no deus verdadeiro, o Nhander et. Sucederam-se sculos de inmeras breves guerras de pilhagem. Tratava-se de um mundo de mentira, persevidade, pecado e crueldade.

    Poucas tribos eram as que acreditam em Nhander et. A maioria dos povos tornou-se idlatra de deuses baipotchir. E a Terra tornou-se novamente um mundo de total corrupo moral. Numa de suas passagens pelo planeta, Nhander et concebeu a idia de que o mundo deveria ser destrudo para recoloniz-lo com homens mais puros como Nhamandur (Filho do Sol). Concebeu a idia do "Dilvio".

    Nhamandur acreditava em Nhander et. Sua f era persistente. Numa certa noite, Nhander et apareceu em sonho, dentro de seu veculo voador Bair, para Nhamandur . No sonho, o deus avisou-lhe que iria destruir o mundo

  • com uma chuva torrencial. Descendente de uma mortal com o deus Kra Kend, Nhamandur foi aconselhado a subir na maior montanha da terra, nico lugar em que a gua do Dilvio no alcanaria. Com ele e sua mulher Nhandetchir Ypy, outros dois casais foram avisados para se salvarem no alto da mesma montanha.

    Eis que quando tinha 86 anos de idade, o grande Dilvio comeou com uma tempestade nunca antes imaginada. Foi ento que a humanidade inteira foi destruda, sobrando os trs casais, sob liderana de Nhamandur.

    Antes a Terra era um imenso continente. Aps o Dilvio, surgiram os Para Guatch (oceanos) que dividiram a Terra em vrios continentes. Foi ento que o hoje conhecemos como Amrica ficou separado da Europa, frica e sia. Antigos rios transbordaram formando mares. Montanhas viraram ilhas. A humanidade voltou estaca zero com trs casais. Logo Nhamandu Ra'y ficou vivo pois sua mulher, que havia perdido a f em Nhanderu et, falecera de Ikaruguap (paralisia). Outras doenas dizimaram os outros dois casais pelo mesmo motivo de no terem f no verdadeiro deus.

    Eis que Nhander et buscou uma mulher para Nhamandu Ra'y em outro mundo espiritual chamado Nhanderu Vutchu (Onde o Sol nasce). Os ndios guaranis acreditam que a alma boa vai para o cu e o mal fica na Terra com os diabos. Estes ltimos so invisveis, mas segundo os ndios, as pessoas sentem suas desagradveis presenas.

    Eis que um dia veio Terra Nhanderu Ra'y para a misso de ensinar os homens o verdadeiro ensinamento de Nhandery et.

    Homenageado - Jos Hilrio Ajalla Retamozo

  • Coronel da Reserva da Brigada Militar, sempre foi destaque dentro e fora da corporao a qual dedicou 35 anos de sua vida profissional. Na Brigada Militar foi Comandante de Esquadro, em Uruguaiana e Alegrete, Comandante de Companhia em Taquara e Osrio, Comandante da Operao Golfinho do Litoral Norte, Chefe da Diretoria de Ensino da BM, Secretrio do Estado Maior da BM, Chefe do Estado Maior do Policiamento da Capital. Foi Chefe da Comisso Editorial da Brigada Militar. Em reconhecimento aos bons servios prestados foi condecorado com as medalhas de Bronze, Prata e Ouro, Medalha de Reconhecimento Grau Bronze e o Trofu Sesquicentenrio de Criao da Brigada Militar. Comps canes brigadianas, como Cano do Cadete, e hinos para alguns municpios do Estado, dentre os quais se destacam: Rosrio do Sul, So Luiz Gonzaga e So Miguel das Misses. conhecido nacionalmente nas Polcias Militares pelo seu poema Braos Abertos uma ode ao policial militar. Advogado, professor, escritor, ensasta e poeta. Casado com a poetisa Aldira Corra Retamozo, pai de quatro filhos. Autor de inmeras obras de poesia e histria do Rio Grande do Sul. Dentre as quais se destacam: Reduto de Bravos; Rodeio do Tempo; Lua Andarenga; Provincianas; Cantos Provincianos e Dcimas e Milongas. Seus livros j atingiram a marca de 30 mil exemplares distribudos. Membro da Academia Sul-rio-grandense de Letras onde desenvolveu reconhecido trabalho literrio, foi Diretor do Instituto Estadual do Livro. Membro e atual Presidente da Estncia da Poesia Crioula, entidade de lides literrias essencialmente campeiras. Pelo excelente trabalho cultural desenvolvido no mbito da comunidade rio-grandense, Retamozo foi citado em obras literrias de nvel nacional, inclusive na Enciclopdia de Literatura Brasileira, do professor Afrnio Coutinho. Laureado em diversos Festivais de msica e poesia, coleciona cerca de uma centena de trofus nas mais variadas premiaes. Dentre as principais: 1 lugar em Poesias inditas no Rodeio Internacional da Vacaria, o 1 lugar na Califrnia da Cano de Uruguaiana e o mais recente na Tafona da Cano Nativa e Sesmaria da Poesia Gacha de Osrio. constantemente convidado

  • a atuar como jurado em vrios concursos literrios e Festivais no estado, dentre os quais a Tafona da Cano Nativa e a Sesmaria da Poesia Gacha.

    JOS HILRIO RETAMOZO um artista que plasmou sua sensibilidade nas terras coloradas de So Francisco de Borja, o primeiro dos Sete Povos, terra onde nasceu 13 de janeiro de 1940. Missioneiro que , seu canto se levanta como resposta de beleza a tudo quanto lhe deu seu bero natal, neste extremo de Ptria que se debrua sobre os peraus e remansos de seu rio Uruguai. JOS HILRIO RETAMOZO, homem de rara sensibilidade, est fazendo uma viagem de retorno ao seu prprio mago. A conteno de linguagem em muitos dos seus poemas bem a mostra do que somos, principalmente na regio da fronteira: de poucas palavras, porm com corao do tamanho do mundo para abrigar amizades que perduram para muito alm dessa existncia mundana. Como Diz o Poeta:

    H timidez de gestos escondidos no amargo chimarro que vai e vem, e abraos nunca dados, recolhidos,

    no mundo sem razo de querer bem...

    Jos Hilrio Retamozo uma voz que se afirma provinciana, comprometida com suas razes. Poeta regionalista que, pelo trabalho paciente na palavra, vai cantando de modo especfico um tipo de homem e, assim, atinge o universal. Aparcio Silva Rillo, ao prefaciar o O Tesouro dos Jesutas diz: O poeta se prope a inventariar o muito que ainda falta desde a objetiva sensvel dos nossos poetas. Como todo o artista, Retamozo molda sua maneira o barro sensvel que a inspirao e a sensibilidade lhe colocam s mos. O ndio e o padre que canta no seu verso foram, talvez intencionalmente, desvestidos de sua condio humana, e nos so apresentados numa moldura ideal, retocando-os de sol e distncia, luares, mistrios e eternidade. Retamozo um poeta e, aos poetas, importa mais o mgico que o lgico, mais a projeo da figura que a figura, mais o desenho da pedra que o seu peso. O Tesouro dos Jesutas traz a marca inconfundvel de seu trao de artista, a pureza de manh de seus poemas, o telurismo que ressuma de seus versos limpos como gua de cacimba do mato. E, mais, a condio que lhe podemos emprestar de inventarista sensvel de grande parte do legado material e cultural que nos deixaram os Sete Povos. JOS HILRIO RETAMOZO! Destaque no panorama cultural do Rio Grande do Sul.

    (JOS HILRIO RETAMOZO AUTOR DAS LETRAS DO GRUPO TERRA VIVA)