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SESSÃO EM HOMENAGEM AO CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DO MINISTRO BARROS MONTEIRO SESSÃO REALIZADA EM 16 DE OUTUBRO DE 2008 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL BRASÍLIA – 2008

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SESSÃO EM HOMENAGEM

AO CENTENÁRIO DE

NASCIMENTO DO MINISTRO

BARROS MONTEIRO

SESSÃO REALIZADA EM 16 DE OUTUBRO DE 2008

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

BRASÍLIA – 2008

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Ministro GILMAR Ferreira MENDES (20-6-2002), Presidente

Ministro Antonio CEZAR PELUSO (25-6-2003), Vice-Presidente

Ministro José CELSO DE MELLO Filho (17-8-1989)

Ministro MARCO AURÉLIO Mendes de Farias Mello (13-6-1990)

Ministra ELLEN GRACIE Northfleet (14-12-2000)

Ministro CARLOS Augusto Ayres de Freitas BRITTO (25-6-2003)

Ministro JOAQUIM Benedito BARBOSA Gomes (25-6-2003)

Ministro EROS Roberto GRAU (30-6-2004)

Ministro Enrique RICARDO LEWANDOWSKI (16-3-2006)

Ministra CÁRMEN LÚCIA Antunes Rocha (21-6-2006)

Ministro Carlos Alberto MENEZES DIREITO (5-9-2007)

Diretoria-GeralAlcides Diniz da Silva

Secretaria de DocumentaçãoJaneth Aparecida Dias de Melo

Coordenadoria de Divulgação de JurisprudênciaNayse Hillesheim

Seção de Padronização e RevisãoRochelle Quito

Seção de Distribuição de EdiçõesLeila Corrêa Rodrigues

Capa e Diagramação: Jorge Luis Villar Peres

Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF). Sessão em homenagem ao centenário de nascimento do Ministro Barros Monteiro [recurso eletrônico] : sessão realizada em 16-10-2008 / Supremo Tribunal Federal. – Brasília : Supremo Tribunal Federal, Secretaria de Documentação, 2008.

1. Ministro do Supremo Tribunal Federal, Brasil. 2. Tribunal supremo, Brasil. I. Monteiro, Raphael de Barros, centenário.

CDD-341.4191

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Supremo Tribunal Federal – Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal)

Ministro Barros Monteiro

SUMÁRIO

Palavras do Senhor Ministro Cezar Peluso, Presidente ............. 6

Discurso do Senhor Ministro Marco Aurélio ............................ 8

Discurso do Senhor Ministro Cezar Peluso, Presidente ............. 20

Discurso do Doutor Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, Procurador-Geral da República ............................................ 28

Discurso do Doutor Cezar Britto, Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil .............................. 32

Palavras do Senhor Ministro Cezar Peluso, Presidente .............. 39

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Palavras do Senhor MinistroCEZAR PELUSO,

Presidente___________________________________________

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O Senhor Ministro Cezar Peluso (Presidente) — Dou por abertos os trabalhos desta sessão plenária, cuja primeira parte destina-se a prestar homenagem à memória dos Senhores Ministros Olavo Bilac Pinto e Raphael de Barros Monteiro, por motivo de centenário do nascimento.

Para prestar homenagem em nome da Corte ao eminente Ministro Bilac Pinto, concedo a palavra a Sua Excelência o Senhor Ministro Marco Aurélio.

Discurso do Senhor MinistroMARCO AURÉLIO

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O Senhor Ministro Marco Aurélio — Senhor Ministro Cezar Peluso, Vice-Presidente no exercício da Presidência; Senhores Ministros Celso de Mello, Carlos Ayres Britto, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Menezes Direito; Senhores Ministros aposentados Francisco Manoel Xavier de Albuquerque, José Carlos Moreira Alves, Aldir Guimarães, Ilmar Nascimento Galvão; magistrados; membros do Ministério Público e da Defensoria Pública; advogados; amigos do saudoso Ministro Bilac Pinto; caríssimos familiares do Ministro, Ana Carolina Zincone, bisneta, Gisela Pinto Zincone, Guilherme Pinto Zincone e Paola Moreira Pinto Beraldo Francischetti, netos.

Uma das primeiras verdades com a qual deparamos ainda na infância é de que nada existe para sempre. Vêm-nos à mente lembranças de eventos longamente esperados, cuja efêmera duração chega a nos frustrar. Doloroso faz-se o momento da percepção de que a seqüência dos dias e das noites aporta na finitude dos seres humanos.

Entretanto, há aqueles que conseguem perpetuar-se, vencer o tempo, alcançando o patamar do eterno. Não pela continuidade da existência biológica, mas pelo caráter imorredouro da obra, aqui entendida como o somatório das singulares características pessoais e da produção material daí decorrente.

A trajetória do Ministro Bilac Pinto revela que Sua Excelência tem jus a figurar na galeria dos grandes varões da Re- pública.

E digo isso com o sadio orgulho de quem hoje ocupa a cadeira que já lhe pertenceu, a Cadeira de número 4. Inaugurada em 28 de fevereiro de 1891 com a posse do Ministro Andrade Pinto, foi, em continuidade, preenchida pelos Ministros Lucio de Mendonça (1895), Pedro Lessa (1907), Alfredo Pinto (1921), Arthur Ribeiro (1923), Carlos Maximiliano (1936), Waldemar Falcão (1941), Hahnemann Guimarães (1946), Themistocles Cavalcanti (1967), Bilac Pinto (1970), Décio Miranda (1978), Carlos Madeira (1985) e por mim (1990).

Quis o destino que não chegasse a conhecer o Ministro Bilac Pinto pessoalmente. O apreço que por ele tenho decorre da leitura dos artigos e livros que escreveu e dos votos que proferiu. Decorre do ardor com que defendia as idéias e teses

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que lhe foram caras e, especialmente, da saudade e da admiração que suscitou no coração de seus contemporâneos. Um desses, o Ministro Oscar Dias Corrêa, por ocasião da homenagem prestada por esta Corte quando do falecimento do Ministro Bilac Pinto, assim proclamou:

“De todas, porém, Senhor Presidente, nenhuma me atinge tão fundo como a que hoje sofro, trêmulo e angustiado. Porque me faz rever meio século de existência, e, mais grave do que tudo, não somente minha, mas da República, tanto os anos em que vi, conheci, admirei, respeitei e estimei Bilac Pinto. Hão de ser, portanto, minhas palavras, o depoimento e o testemunho que não devo calar, quando, a esta altura, poucos poderão ainda prestá-lo, se a morte já os colheu a muitos, e, a outros, a vida não lhes concedeu a honra de fazê-lo (...).”

Ouso, então, unir a voz aos que antes de mim reverenciaram Sua Excelência. Todas as homenagens que forem destinadas ao Ministro Bilac Pinto não serão suficientes a demonstrar quão exitoso foi o percurso desse insigne mineiro, desse cidadão brasileiro, mas cada uma delas se justificará pela necessidade de garantir à posteridade o conhecimento de que a formação e a consolidação da democracia nacional em muito se devem à bravura do homenageado.

Olavo Bilac Pereira Pinto nasceu em 8 de fevereiro de 1908, em Santa Rita do Sapucaí, Minas Gerais, filho de João Pereira Pinto e Laura Pereira Pinto.

Concluiu os cursos primário e secundário na cidade natal, de lá saindo para ingressar na Faculdade de Direito de Minas Gerais, graduando-se bacharel aos 21 anos. Em 1926, iniciou a vida profissional como Escrivão da 1ª Delegacia Auxiliar.

Também cedo despertou-lhe o interesse pela militância política: em 1928, foi eleito Presidente do Centro Aca-dêmico da mencionada faculdade; em 1929, tendo participado da campanha da Aliança Liberal, filiou-se ao Partido Republicano Mineiro – PRM.

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No ano seguinte à formatura, tornou-se Auxiliar de Advogado da Prefeitura de Belo Horizonte. Em 1931, passou a exercer a advocacia criminal, área na qual alcançou destaque, chegando a Membro Titular da Sociedade Brasileira de Criminologia, com assento no Conselho Técnico, Membro do Congresso Brasileiro de Direito Judiciário, do Congresso Nacional de Direito Penal e representante do Brasil na Comissão Organizadora do Instituto Internacional de Direito Processual, com sede em Buenos Aires. A atuação no campo criminal, o contato tão direto com as mazelas e sofrimentos humanos, fez florescer a semente da característica tão peculiar ao Ministro Bilac Pinto: a preocupação com a liberdade.

Vitoriosa a Revolução de 1930, foi eleito, em 1934, Deputado para a Assembléia Constituinte mineira pelo Partido Progressista. Não chegou a completar o mandato, porquanto dissolvidos, pelo Golpe de 1937, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, as Assembléias Legislativas dos Estados e as Câmaras Municipais.

Voltou, então, ao magistério, carreira na qual deu os passos iniciais em 1933, como Professor de Noções de Direito do Departamento de Instrução da Força Pública de Minas Gerais. Por concurso público, conquistou, em 1937, a Cátedra de Ciência das Finanças da Faculdade de Direito da Universidade de Minas Gerais. Inquieto, possuidor de largo conhecimento em searas diversas, integrou, como membro, a Comissão Especial para Elaboração do Anteprojeto da Lei Federal de Regulamentação dos Serviços de Utilidade Pública, o Primeiro Congresso Brasileiro de Urbanismo, a Comissão Examinadora do Concurso para a Cátedra de Ciência das Finanças da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, o Centro de Investigação Permanente de Direito Financeiro, o Seminário de Ciências Jurídicas e Sociais da Faculdade de Direito e Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires, a Comissão Examinadora do concurso para livre-docência de Direito Constitucional da Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, a Comissão Examinadora do concurso para o provimento da Cátedra de Ciência das Finanças da Faculdade de Direito da Universidade da Bahia, entre outras.

Transferindo-se para o Rio de Janeiro, visando a dirigir a Revista Forense, assumiu, em 1943, também mediante aprovação em concurso público, a Cátedra de Direito Administrativo

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da gloriosa Faculdade Nacional de Direito da então e sempre Universidade do Brasil.

Nesse mesmo ano, começaram os movimentos pela retomada da legalidade. As manifestações contra o Estado Novo ampliaram-se em Minas Gerais. Os políticos mineiros, sufocados pela repressão ao exercício político-partidário e apreensivos pelo aumento da participação brasileira na II Guerra Mundial, decidiram reivindicar o fim do regime ditatorial, pleiteando a realização de eleições livres e a restauração das garantias individuais.

Essas foram as idéias centrais do chamado Manifesto dos Mineiros, divulgado em 24 de outubro de 1943, do qual Bilac Pinto foi um dos signatários, ladeado por Virgílio de Melo Franco, Dario de Almeida Magalhães, Luís Camilo de Oliveira Neto, Antonio Neder, entre outros notáveis.

Eis parte do que continha o referido documento, conforme citado pelo Ministro Leitão de Abreu em discurso proferido por ocasião da aposentadoria do Ministro Bilac Pinto:

“Do que fica dito, fácil é inferir que a de-mocracia por nós preconizada não é a mesma do tempo do liberalismo burguês. Não se constitui pela aglomeração de indivíduos de orientação isolada, mas por movimentos de ação convergente. Preconi-zamos uma reforma democrática que, sem esquecer a liberdade espiritual, cogite, principalmente, da de-mocratização da economia. Num e noutro domínio, o tempo do liberalismo passivo já findou. Não é de fraqueza renunciante e de tolerância cética que a democracia precisa. Assim escoltada, ela pareceria digna de piedade, face às doutrinas baseadas na violência e que nenhum escrúpulo detêm. Ao reco-nhecimento disto ligamos a renovação espiritual do regime democrático. (...) Queremos algumas coisas além das franquias fundamentais, do direito de voto e do habeas corpus. Nossas aspirações fundam-se no estabelecimento de garantias constitucionais que se traduzam em efetiva segurança econômica e bem-estar para todos os brasileiros, não só das Capitais, mas de todo o território nacional.”

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O reclamo por tais direitos – a cuja total implemen-tação ainda se dedicam incansáveis lutadores – é, na quadra atual, corriqueiro, matéria diária de editoriais, tema propalado e defendido à unanimidade, objeto direto das campanhas eleitorais. Afigura-nos, hoje, impensável que o pleito pudesse motivar qualquer espécie de represália por parte do governo. Entretanto, à época, foi tido como subversivo instrumento destinado a desmoralizar os detentores do poder. A reação do Estado Novo foi rápida e dura: punições de várias ordens, inclusive prisões e demissões no serviço público. Bilac Pinto foi aposentado sumariamente, em 1944, com base no artigo 177 da Constituição de 1937, da Cátedra obtida por concurso público na Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil.

Tamanha decepção o afastou do País, permanecendo dez meses em estudos nos Estados Unidos.

O sacrifício não foi em vão. Sangrado, o Estado Novo entrou em colapso em fevereiro de 1945, com a reconquista da liberdade de imprensa, esteio maior da democracia, oxigênio de valores republicanos, vindo finalmente a ruir em outubro do mesmo ano.

Ao retornar do exterior, já reintegrado à Cátedra, passou a fazer parte do Instituto Brasileiro de Ciências Adminis-trativas da Fundação Getúlio Vargas, atuando como membro de comissões examinadoras de concursos para o provimento de cátedras na Universidade do Brasil, na Universidade do Rio Grande do Sul e na Universidade do Amazonas, presidindo a Comissão encarregada da elaboração do anteprojeto de reajustamento dos vencimentos dos funcionários públicos de Minas Gerais, compondo os seguintes institutos internacionais: Sociedade de Legislação Comparada, de Paris; Associação Internacional Fiscal, de Haya; e Instituto Internacional de Finanças Públicas, também em Paris. Manteve intensa produção intelectual, com publicações em diversos campos da ciência jurídica.

Nos anos de 1948 e 1949, estudou na Europa. Retor-nou à política em 1950, quando foi eleito para o cargo de Deputado Federal pela UDN.

Na Câmara, ficou por quinze anos, chegando à Presi-dência da Casa em 1965. A atuação fez-se marcada pela defesa da austeridade no trato com a coisa pública e da concretude dos

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direitos relacionados ao princípio do respeito à dignidade da pessoa humana. Em síntese: dedicou-se ao melhor, dedicou-se às causas da liberdade e da probidade administrativa.

Cônscio de que o fracasso das instituições decorre da fragilidade humana, suscetível ao erro, empenhou-se em criar instrumentos próprios a impedir e punir condutas incompatíveis com o interesse público.

Logo no início do primeiro mandato, entregou-se à defesa da nacionalização das reservas de petróleo. A discussão sobre o tema veio à balha durante os trabalhos da Assembléia Constituinte de 1946, quando Artur Bernardes revelou que o § 1º do artigo 153 da Constituição então vigente não continha a necessária proteção das reservas nacionais de combustíveis fósseis contra possível ingerência do capital estrangeiro.

Em dezembro de 1951, mediante a Mensagem Presi-dencial 469, encaminharam-se ao Congresso Nacional os projetos de criação da Petrobras e da instituição de recursos para o programa de petróleo e para a composição do Fundo Rodoviário Nacional. O sistema proposto pelo governo era misto, ao que Bilac Pinto opôs-se de forma aguerrida. Obteve apoio do partido, a UDN, que apresentou substitutivo contendo a chamada solução estatal absoluta, tese aprovada no Plenário. Assim, em 3 de outubro de 1953, o Presidente Vargas sancionou a Lei 2.004, criando a Petrobras e instituindo o monopólio estatal, o qual entendo existente, sob o ângulo formal-constitucional, até hoje, mas esvaziado no campo das circunstâncias, no campo dos interesses globalizantes – voto vencido proferido no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.273, em março de 2005.

Quanta miopia nos dias atuais! Quanto retrocesso em termos de seriedade de propósitos! Quanta perda de parâmetros e abandono a princípios! Até quando vingará a óptica oportunista dos que não têm compromisso com o amanhã? Até quando?

Retornando ao homenageado, Ministro Bilac Pinto, de todos os projetos a que se dedicou, emana o olor de severidade, tanto em relação a governantes quanto a governados, visando à defesa do interesse público e ao desenvolvimento socioeconômico. Cito, a propósito, alguns exemplos:

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1. Tendo em vista a batalha contra a corrupção, logrou a aprovação da Lei 3.502/1958, regulando o seqüestro e o perdimento de bens nos casos de enriquecimento ilícito, por influência ou abuso de cargo ou função pública, que ficou conhecida como Lei Bilac Pinto;

2. Objetivando munir a população de instrumental destinado a impedir lesão ao patrimônio público, apresentou emenda substitutiva ao projeto do Executivo de lei complementar da Constituição, transformado na Lei 4.717/1965, instituidora da ação popular;

3. Também se originou de projeto de Bilac Pinto a Lei 4.319/1964, que criou o Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana.

Inúmeras foram as proposições com idêntico inten-to, entre as quais menciono: disciplina da prestação de contas das entidades de direito privado e de direito público que recebessem e aplicassem contribuições parafiscais, criadas ou outorgadas por lei federal; regulamentação do procedimento destinado a efetuar as compras do governo no exterior; sistema denominado escala móvel de salário, tendo por fim o controle da inflação e a redução da perda do poder aquisitivo da moeda; busca de solução dos problemas agrários, vindo esta a resultar no Estatuto da Terra.

Em abril de 1966, Bilac Pinto deixou a Câmara para assumir o cargo de Embaixador do Brasil na França, onde permaneceu até abril de 1970. Em junho do mesmo ano, retornou ao País para assumir o cargo de Ministro do Supremo.

A propósito da nomeação para chefiar a represen-tação brasileira na França, e objetivando demonstrar, com insu- plantável exemplo, o desvelo com que deve ser tratada a coisa pública, reproduzo trecho extraído de discurso proferido pelo Deputado Federal Olavo Bilac Pinto Neto, por ocasião de homenagem prestada ao avô pela Câmara Federal, no último dia 25 de março:

“Em 1966 é Bilac Pinto nomeado pelo Presidente da República Embaixador do Brasil em Paris, função que desempenhará com retitude e zelo até 1970. Sobre essa passagem, permita-me, Sr. Presidente, transcrever o testemunho de Paulo

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Affonso Martins de Oliveira, então Secretário-Geral da Mesa da Câmara, constante no livro O Congresso em Meio Século, admirável depoimento que prestou ao jornalista Tarcísio Holanda. Palavras do saudoso Paulo Affonso: ‘O relato de alguns episódios serve para ilustrar a personalidade de Bilac Pinto e sua conduta austera, quando se tratava de dinheiro público. Fui procurado por funcionário do gabinete do Ministro das Relações Exteriores, que desejava entregar as passagens e diárias ao novo embaixador brasileiro em Paris. Levei o assunto ao conhecimento de Bilac Pinto, em sua residência, avisando-o de que o diplomata queria combinar a data do vôo a Paris. Ele disse-me que nada receberia, uma vez que só poderia considerar-se embaixador a partir do momento em que entregasse as credenciais ao Presidente Charles de Gaulle. Pagou, do próprio bolso, as passagens dele e da esposa’.”

Esse o homem que, em 17 de junho de 1970, tomou assento neste Tribunal, em vaga decorrente da aposentadoria do não menos ilustre Ministro Themistocles Brandão Cavalcanti. Abrilhantou a Corte com inegável retidão de caráter; singular proficiência na subsunção do fato à norma; total devotamento à causa da justiça; fecunda atividade jurisdicional; genial capacidade criadora. Daqui saiu, em 8 de fevereiro de 1978, aposentado por implemento de idade – alvo do castigo da aposentadoria compulsória, cujas balizas hão de ser revistas em prol do interesse nacional. É chegada a hora de ter-se presente não o critério da idade cronológica para definir a velhice, mas, como proclamado pela Organização Mundial de Saúde, a funcional, medida com base na autonomia da pessoa, na aptidão para realizar tarefas rotineiras. À luz desse novo entendimento, devem-se repensar preceitos constitucionais que arbitrariamente imprimem limite não biológico à capacidade produtiva de um ser humano, que restringem o exercício livre do universal direito ao trabalho. A aposentadoria há de representar uma recompensa, nunca um castigo, para quem, pelo tanto que se dedicou à causa pública, merece ao menos ser considerado digno e apto a concluir por si mesmo já ter cumprido a própria jornada.

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Perdeu-se, como vem-se perdendo diuturnamente, a sabedoria dos anos magnificamente vividos pelo Ministro Bilac Pinto1.

Constam dos anais desta Casa que a maior parte dos Verbetes da Súmula, editados no período em que aqui esteve presente, originaram-se de teses contidas em acórdãos por ele relatados. Cito, a propósito, os de número 559, 560, 561, 569, 571, 574, 576, 577, 579, 582, 586, 588, 590, 591, 592 e 595.

A proficuidade é um dos predicados distintivos fundamentais do Ministro Bilac Pinto. Tendo transitado pelas esferas dos três Poderes – no Legislativo exerceu mandatos de Deputado Estadual e Federal, no Executivo ocupou o cargo de Secretário das Finanças do Estado de Minas Gerais e de Embaixador na França e no Judiciário integrou o Supremo – com igual airosidade, jamais tergiversou quanto a valores éticos e conduta moral; nunca se deixou iludir pelos cargos ou funções exercidas. Ao contrário, a todos elevou em dignidade ante a competência, a erudição e a idoneidade reclamadas de um varão ou varoa, de quem, ocupando cargo público, apresente-se para servir e não para dele se servir. Triste é a quadra vivenciada!

Honrado por hoje ocupar a Cadeira número 4, de tradição ímpar, honrado pela designação do Ministro Presidente Gilmar Mendes, para falar em nome do Tribunal neste registro de inteira justiça, encerro citando outra vez trecho do discurso proferido pelo Ministro Oscar Dias Corrêa. E o faço porque não seria capaz de ordenar as palavras de modo a transmitir emoção equivalente à de quem conviveu com o homenageado, nem de expressar, com tal poder de síntese, o significado da estada do Ministro Bilac Pinto entre nós:

“Este, Senhor Presidente, o Bilac Pinto que conheci durante 50 anos, preso à contemplação das virtudes e ao reconhecimento pelos serviços que prestou ao País.

1 Nesse sentido artigo de minha autoria sob o título “O Brasil lugnagiano – o castigo da aposentadoria compulsória”, publicado nos informativos: Folha de São Paulo, em 12-6-2002; Correio Braziliense, em 20-6-2002; jornal A Tarde (BA), em 20-6-2002; revista Justiça & Cidadania, em set/2002; jornal Perfil Econômico (SP), de 5-9-2002 a 6-10-2002; revista O Magistrado, Ano 2, n. 8, ago/2002; Gilberto Amaral, em 19-2-2003; e Editora Fórum, em 9-5-2003.

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Por isso, quero que essas palavras sejam o depoimento de quem viu o lutador no momento mesmo do combate, e não teve senão como segui-lo e admirá-lo.

Nunca lhe venceu o ânimo a aspereza da luta, nem lhe esmoreceu o ímpeto a incerteza da batalha, ou lhe minou a resistência a fraqueza dos que batiam a seu lado; era comando, estímulo, firmeza, obstinação, objetividade, certeza, fé.

Comerciário, bancário, escrivão de dele-gacia de polícia, estudante, bacharel, advogado, professor, Deputado, Secretário de Estado, líder e Presidente de Partido, Presidente da Câmara, jurista, estadista, Ministro do Supremo Tribunal Federal, Bilac Pinto foi sempre o mesmo: o que quis ser, comandando o próprio destino.

E, quando a sorte o feriu, funda e irrepara-velmente, levando-lhe o filho, que procurava guiar para o destino da Pátria; ou quando pareceu que lhe se desmanchavam os projetos de realização de bem comum que foram sempre sua permanente preocupação; enfrentou duro e rijo a adversidade, como se não a temesse, ou lhe não quisesse con-ceder nem mesmo a aparência da vitória.

Verdade é que teve para acompanhá-lo, nas alegrias dos êxitos que conquistou, com talento, esforço e audácia, ou na aspereza das batalhas sem glória que perdeu, como todos os homens, contra o destino, a permanente vigília, o poderoso amparo, o sereno aconchego da segurança, da fé, da firmeza, da altivez e da bravura de D. Carminha, que lhe foi sempre o superior lenitivo e o sublime refúgio.

Enfrentou a vida como quem lhe não temeu nunca os desafios, sobranceiro, nobre, altivo. E, quando, terminada a tarefa, cumprida a missão, lhe chegou a hora e o veio colher a morte, foi como se lhe estivesse à espera para acompanhá-la, com

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a mesma segura tranqüilidade, o mesmo superior desprendimento, a mesma impassível firmeza.”

É a esse extraordinário cidadão brasileiro que a mais alta Corte do País prostra-se jubilosa, lembrando o filósofo Sêneca – citado pelo Padre Antônio Vieira –, para quem “o maior prêmio das ações heróicas é fazê-las. (...) O prêmio das ações honradas elas o têm em si, e o levam consigo; nem tarda nem espera requerimento, nem depende de outrem; são satisfação de si mesmas. No dia em que a fizeste, vos satisfizeste”. Oxalá seja essa a visão predominante, expungidas as vaidades de toda ordem.

Muito obrigado.

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Discurso do Senhor MinistroCEZAR PELUSO,

Presidente___________________________________________

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O Senhor Ministro Cezar Peluso (Presidente) — Agradeço a manifestação do Ministro Marco Aurélio.

Neste momento presto homenagem, em nome da Corte, ao Ministro Raphael de Barros Monteiro.

Senhores Ministros, ativos e aposentados, já nomi-nados; demais autoridades.

O Ministro Raphael de Barros Monteiro guarda, entre outras, uma singularidade muito para admirar: era de tradicional família de Juízes. Seu pai o foi; um de seus irmãos – o Professor Washington de Barros Monteiro – também o foi, tendo-se aposenta-do como Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo; dois de seus filhos – e nisso orgulho-me de haver sido colega de ambos – foram Juízes de Direito e Desembargadores do mesmo Tribunal, tendo um deles, Raphael de Barros Monteiro Filho, integrado o Superior Tribunal de Justiça, do qual foi Presidente. Sua biografia, pode dizer-se, quase se identifica com a carreira de Magistrado.

Nascido em Areias, no Estado de São Paulo, em 26 de outubro de 1908, foi aluno exemplar da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, onde se formou, em 1930, como aluno laureado da turma. Ainda estudante, ingressou, mediante concur-so, no Departamento dos Correios e Telégrafos do Estado, tendo depois entrado a advogar nos auditórios da comarca da Capital.

Ingressou na magistratura estadual, por brilhante concurso, em 1935. Serviu em várias comarcas do interior, até ser nomeado, em 14 de novembro de 1949, Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo.

A partir de 7 de fevereiro de 1956, ocupou, como professor contratado, a terceira cadeira de Direito Judiciário Civil da Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Eleito para o Egrégio Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo em 1958, como Juiz efetivo, na classe de Desembar-gador, assumiu, em 15 de setembro daquele ano, as funções de Corregedor-Geral da Justiça Eleitoral. Reconduzido para o segundo biênio em 15 de fevereiro de 1961, foi eleito Vice-Presidente da-

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quela Corte e, finalmente, Presidente, função que desempenhou de 14 de agosto de 1961 a 2 de fevereiro de 1963.

No Tribunal de Justiça de São Paulo, foi eleito 2º Vice-Presidente em 3 de maio de 1961. A 18 de dezembro de 1963, foi eleito 1º Vice-Presidente para o biênio de 1964-1965. Em 22 de dezembro de 1965, foi eleito Presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, para o biênio 1966-1967.

Em 1962, foi, ainda, eleito Presidente da Associação Paulista de Magistrados.

Nomeado Ministro do Supremo Tribunal Federal, por Decreto de 23 de junho de 1967, do Presidente Costa e Silva, para a vaga decorrente da aposentadoria de outro notável Juiz oriundo do mesmo Tribunal de Justiça, o Ministro Pedro Rodovalho Marcondes Chaves, tomou posse no dia 7 de julho seguinte.

Não posso, quanto a esses eventos, deixar de mencionar a marcante circunstância de ter Sua Excelência, estri-tamente por seus méritos, logrado todos esses honrosos cargos como Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, então integrado pelas magistrais e saudosas figuras dos maiores Juízes que já teve a magistratura paulista e aquela Corte, na sua já longa e gloriosa história, como – só para citar alguns dos seus contemporâneos – Joaquim de Sylos Cintra, Cantidiano Garcia de Almeida, Euler Bueno, Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Acácio Rebouças, Dimas Rodrigues de Almeida e Laffayette Salles Júnior, todos os quais, por suas reconhecidas qualidades de magistrados extraordinários, decerto também teriam honrado e engrandecido este Supremo Tribunal Federal. Ter sido, dentre tão ilustres pares, escolhido para Ministro desta Corte, dá, pois, a exata dimensão da sua proeminência como Juiz exemplar, dotado daquela austeridade e compostura, sem as quais ninguém que envergue a toga pode aspirar ao respeito que se deve aos magistrados, nem justificar a reverência que merece a magistratura.

Indicado Juiz Substituto do Tribunal Superior Elei-toral, ali tomou posse em 25 de fevereiro de 1969, passando-lhe a membro efetivo a partir de 5 de novembro do mesmo ano. Exerceu as funções de Vice-Presidente, de 11 de fevereiro de 1971 até 12 de fevereiro de 1973, quando assumiu a Presidência daquela Corte Eleitoral, onde permaneceu até 12 de novembro do mesmo ano.

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O Ministro Raphael de Barros Monteiro faleceu na Capital do Estado de São Paulo em 3 de maio de 1974.

Casado com D. Marina Vieira de Morais de Barros Monteiro, deixou por descendentes quatro filhos, dos quais o mais velho é o Ministro Raphael de Barros Monteiro Filho, de quem lhe nasceram as netas Anna Luísa de Barros Monteiro e Flávia Marina de Barros Monteiro, hoje mãe da bisneta Lia de Barros Monteiro Amato.

Depois, ao Desembargador Ralpho Waldo de Barros Monteiro e seus três filhos: Ralpho Waldo de Barros Monteiro Filho, Marina Stella de Barros Monteiro e Mariana de Barros Monteiro.

Em seguida, aos advogados Ronaldo de Barros Monteiro e Ruy Carlos de Barros Monteiro, que teve dois filhos: Raphael de Barros Monteiro Neto e Maria Luísa de Barros Monteiro.

A Prefeitura da Capital paulista reverenciou-lhe a memória, atribuindo seu nome a uma rua, e, no Município de Santo André, o Fórum local foi denominado Ministro Barros Monteiro.

De sua recatada vida pessoal, sabe-se que adorava cinema, filatelia, leitura de obras famosas, e tinha hábito de anotar pensamentos de autores ilustres e acontecimentos do cotidiano.

Em elogio fúnebre, o Desembargador Humberto José da Nova tornou público que nosso homenageado “tinha em seu poder apenas cinco processos ao ensejo de seu último afas-tamento do cargo”.

O não menos ilustre Ministro Rodrigues Alckmin recordou:

“A consciência nítida desta vocação (ma-gistratura) ele próprio a afirmou, em mais de uma oportunidade. Ao despedir-se do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, a fim de assumir o cargo de Ministro deste Supremo Tribunal, reiterou a afirmativa, ao declarar:

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‘Jean-Paul Sartre, numa frase amarga, disse que não se escolhe a vo-cação: acerta-se ou malogra-se, eis tudo.

Não é verdade. Posso assegurar a Vossa Excelência, Senhor Presidente, bem como a todos os meus ilustres colegas da magistratura de São Paulo, que fui, sou e serei juiz por vocação. Só esta me fez permanecer na função judicante até hoje e somente ela far-me-á nela permanecer até que a Providência ainda me dê forças para tanto.’

(...)”

Se a dedicação à judicatura foi o tema de existência do Ministro Barros Monteiro, múltiplos foram os traços de sua per-sonalidade de escol.

A dois deles me referirei. Não vou mencionar as suas altas qualidades do espírito, de leitor sempre ávido pelo sábio e belo; nem às qualidades de magistrado imparcial e culto. Refiro-me à profunda e tranqüila bondade, ditada pela simplicidade e pela modéstia.

Disse um ilustre advogado de São Paulo, ao saudá-lo no Tribunal Regional Eleitoral, a que presidia, como Desembargador:

“O Desembargador Raphael de Barros Mon-teiro é a expressão rigorosa da modéstia. Sua docilidade de trato encanta aos que dele se cercam. A todos ouve com franciscana paciência. Seu tom de voz é sempre o mesmo. Jamais procura impor o prestígio de sua autoridade.

Tem o culto do respeito às opiniões alheias. Não ordena: solicita. Vai ao encontro dos desejos: não espera que lhe roguem.

A sua alegria é a de todos os companheiros.

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Sente-se feliz ao vê-los contentes. Pers-cruta as tristezas alheias, à procura da razão, para tentar aliviá-las. Nobreza de sentimentos igual é difícil de encontrar.”

O Poder Judiciário e as funções judicantes mere-ciam-lhe as atenções de todos os momentos. Demonstram-no dois fatos, que relembro.

Ao presidir a instalação do ano judiciário de 1967, no Tribunal de Justiça de São Paulo, repetiu palavras de Pedro Chaves, dando-lhes especial realce, a fim de explicar os motivos determinantes daquela solenidade. Disse naquela oportunidade:

“Já é tempo de divulgar nos setores popu-lares que o nosso Governo é tripartido e que os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário estão no mesmo plano constitucional, cada um na sua esfera de ação, desempenhando suas atribuições peculiares, todos três delegados em exercício da soberania do povo paulista.

Não são revolucionárias, nem novas, estas concepções decorrentes de preceitos constitucionais, mas é preciso repetir os fatos e dar-lhes o merecido destaque, para que não desapareçam no mais completo olvido.”

Pesava-lhe que a silenciosa atividade do Judiciário o tornasse quase desconhecido como um dos poderes do Estado. Queria vê-lo considerado em sua eminente posição constitucional.

Relembro o segundo fato: a declaração de seu amor pela judicatura. Barros Monteiro o frisou, ao tomar posse neste Supremo Tribunal Federal.

Recordou a fina comparação que o Ministro Luiz Gallotti, então Presidente, fizera, a propósito de sua permanência em Brasília, com Fabrício, da Chartreuse de Parme, que, preso mas enamorado da filha do diretor da prisão, temia a hora da liberdade.

E acrescentou o Ministro Barros Monteiro: “Nós ambos, Senhor Presidente, enamorados de Clélia, a nossa querida

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Judicatura, continuamos presos, mas sempre temendo a soltura, por algum inesperado golpe do destino.”

Penso que não terá sido mais precisa a síntese de sua vida de Magistrado do que a traçada por um dos símbolos da grandeza da magistratura e das letras jurídicas nacionais, o Desembargador e Professor José Frederico Marques, que, em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo de 5 de outubro de 1975, deixou gravadas as palavras que podem agora subscritas por esta Corte, como termo desta homenagem:

“Por fim, um preito à memória do ilustre Juiz paulista arrebatado pela morte, também em 1974 – o Ministro Raphael de Barros Monteiro. Quando ingressou no Supremo Tribunal, ele levava consigo um passado fulgurante, na magistratura de carreira de nosso Estado, cujos degraus palmilhou um a um, desde comarcas sertanejas do ‘hinterland’ paulista, até a presidência do Tribunal de Justiça. Com essa larga experiência, a que se juntava sua viva inteligência e cultura jurídica, logo se destacou no Supremo Tribunal, como Juiz de grande capacidade de trabalho, rapidez e descortino na tarefa de julgar. Infelizmente, a morte cortou a trajetória dessa carreira judiciária tão brilhantemente iniciada e exercida, pelo que só nos resta, agora, perpetuar sua memória na saudade e no coração, em perene homenagem ao que ele foi e produziu.”

Os discursos proferidos, dignos dos saudosos homenageados, ficarão registrados nos anais do Tribunal.

Faço agora a leitura da mensagem recebida da Dra. Beatriz Moreira Pinto Beraldo, filha do saudoso Ministro Bilac Pinto:

“Sou Beatriz Moreira Pinto Beraldo, filha do Ministro Bilac Pinto, cujo centenário de nascimento será lembrado proximamente.

No momento em que o Supremo Tribunal Federal homenageia a memória de meu pai, e na impossibilidade de estar presente à solenidade, quero manifestar a Vossa Excelência, por seu inter-

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médio e com sua permissão, aos demais Membros desta Corte, por este ato que muito nos comove e sensibiliza, a mim e a minha família, que estará sendo representada nesta cerimônia por minha filha Paola Beraldo Francischetti.

Com o meu eterno reconhecimento, expres-so a Vossa Excelência os sentimentos de alta con-sideração.”

Concedo a palavra ao eminente Procurador-Geral da República para saudar os nossos homenageados.

Discurso do DoutorANTONIO FERNANDO BARROS E SILVA DE SOUZA,

Procurador-Geral da República

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O Doutor Antonio Fernando Barros e Silva de Souza (Procurador-Geral da República) — Excelentíssimos Senhores Ministros, autoridades presentes, Senhores Advogados, familiares dos homenageados.

Nesta solenidade, na mesma medida em que se cumpre um ritual de tradição, também se pratica uma homenagem substancialmente justa a dois ex-integrantes desta Corte Suprema: Ministros Bilac Pinto e Barros Monteiro, que marcaram suas pas-sagens neste Tribunal com o brilho destacado de suas inteligências e com a dedicação total à causa da Justiça.

Olavo Bilac Pinto, mineiro de Santa Rita de Sapucaí, exerceu a advocacia e o magistério superior; foi Deputado Federal em diversas legislaturas, sendo eleito Presidente da Câmara dos Deputados em 1965. Exerceu o cargo de Embaixador do Brasil na França de 1966 até 1970, quando foi nomeado Ministro desta Corte Suprema, em junho de 1970, onde permaneceu até fevereiro de 1978, em razão de aposentadoria por implemento de idade.

Sua biografia revela intensa e consistente produção jurídica, especialmente na área do Direito Público, destacando-se obras sobre a Contribuição de Melhoria, a Regulamentação Efetiva dos Serviços de Utilidade Pública e Estudos de Direito Público, além de dezenas de primorosos artigos doutrinários.

Segundo o Ministro Leitão de Abreu, em discurso que proferiu nesta Corte, “na contribuição de melhoria, Bilac Pinto não vê, pois, somente tema capaz de servir a dissertação para fim de concurso, mas providência que urgia se adotasse para impedir enriquecimento injusto, ou sem causa, de proprietários cujos imóveis se beneficiassem da mais valia acarretada por trabalhos efetuados pela administração pública”; e, em outra passagem observa: “Não esquece, todavia, as objeções suscitáveis quanto à viabilidade prática do tributo; antes, com riqueza de erudição e dialética irrespondível, as refuta uma a uma, como a prevenir dificuldades que embaraçassem a edição de lei onde se regulasse o uso da faculdade constitucionalmente outorgada à administração pública para impor esse justo gravame. Muitos sóis, aliás, se passariam, antes de sobrevir ato legislativo que disciplinasse a matéria, pois somente cerca de quinze anos após, já sob a vigência da Constituição de 1946, se registrava, no plano federal, o advento

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de lei na qual se dispunha sobre a cobrança da contribuição de melhoria.”

Portador de um cabedal cultural extremamente rico, Bilac Pinto, que teve participação eminente na vida política e parlamentar brasileira, revelou-se um Magistrado pronto, equilibrado, imparcial e probo, transmitindo em seus votos o compromisso com os aspectos superiores do interesse público, sempre mirando como objetivo a ser alcançado o da efetiva reali-zação da justiça.

Portanto, é com satisfação que o Ministério Público associa-se à homenagem que é prestada ao Ministro Bilac Pinto nesta oportunidade.

O Ministro Raphael de Barros Monteiro, paulista da cidade de Areias, depois de breve passagem pela advocacia, ingressou na magistratura do Estado de São Paulo em 1935, sendo promovido, por merecimento, a Desembargador do Tribunal de Justiça em 1949. Integrou o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, sendo seu Presidente de agosto de 1961 a fevereiro de 1963. Foi 2º Vice-Presidente, 1º Vice-Presidente e, finalmente, eleito Presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para o biênio 1966/1967. Ao lado da magistratura, exerceu o magistério superior, regendo a cadeira de Direito Judiciário Civil na Faculdade Paulista de Direito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Foi nomeado para esta Corte Suprema em junho de 1967. Ocupou a Vice-Presidência e a Presidência do Tribunal Superior Eleitoral.

Na homenagem póstuma que lhe prestou o Tribunal de Justiça de São Paulo, em todas as orações proferidas ficou assinalada a sua qualidade de Juiz de rígida integridade moral e refinada formação intelectual que destacava sua finíssima inteligência.

Em discurso proferido nesta Corte, o Ministro Rodrigues Alckmin, reportando-se a palavras de ilustre advogado de São Paulo, assim descreveu o nosso homenageado quando ainda exercia o cargo de Desembargador:

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“O Desembargador Raphael de Barros Monteiro é a expressão rigorosa da modéstia. Sua docilidade de trato encanta aos que dele se acercam. A todos ouve com franciscana paciência. Seu tom de voz é sempre o mesmo. Jamais procura impor o prestígio de sua autoridade.

Tem o culto do respeito às opiniões alheias. Não ordena: solicita. Vai ao encontro dos desejos: não espera que lhe roguem.

A sua alegria é a de todos os companheiros.

Sente-se feliz ao vê-los contentes. Pers-cruta as tristezas alheias, à procura da razão, para tentar aliviá-las. Nobreza de sentimentos igual é difícil de encontrar.”

Quem teve oportunidade de conviver com o Ministro Barros Monteiro, e aqui me refiro a José Arnaldo Gonçalves de Oli-veira, afirmou com convicção que sua vida foi “voltada à realização da Justiça, foi Magistrado da verdade e do Direito, sabendo ser justo e, ao mesmo tempo, profundamente humano”.

O Ministério Público externa, com igual satisfação, o seu tributo ao Ministro Barros Monteiro e manifesta cumprimentos aos familiares dos homenageados.

Discurso do Doutor CEZAR BRITTO,

Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil

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O Doutor Cezar Britto (Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil) — Excelentíssimo Senhor Presidente desta sessão, Ministro Cezar Peluso; Senhores Ministros; Senhores Ministros que, no ontem, construíram a história do Supremo Tribunal Federal; Senhores advogados; familiares dos homenageados; Senhoras e Senhores.

Quero inicialmente me congratular com o Supremo Tribunal Federal pela iniciativa de evocar, em sucessivas sessões solenes, a memória de ilustres magistrados que aqui tiveram assento, tendo como motivação comum a celebração de seus res-pectivos centenários de nascimento.

É difícil ou quase impossível a qualquer historiador contar a história do Brasil sem contar a história do Supremo Tribunal Federal. Por isso que, em solenidades como esta, datas de aniversários são mais que meras convenções ou ritos do calendário. Ensejam reflexões a respeito de fatos e personagens da história, que, com suas vivências e protagonismos, nos deixaram lições e exemplos que os perpetuam perante a posteridade.

Evocá-los é, pois, sadio exercício de memória cívica, que, remetendo ao passado, ajuda a melhor compreendê-lo e, nesses termos, lança luzes sobre o presente e o futuro.

É o caso dos saudosos Ministros Raphael de Barros Monteiro e Olavo Bilac Pinto, personagens que honraram a magistratura e o direito em nosso País e integram este ciclo de homenagens centenárias que o Supremo ora promove.

Coube-me a honrosa tarefa de, em nome da Ordem dos Advogados do Brasil, homenageá-los. E o faço com satisfação.

Ambos tiveram na advocacia o ponto de partida para as carreiras distintas, mas igualmente respeitáveis e bem-sucedidas.

Começo por evocar o Ministro Olavo Bilac Pinto, que pontificou não apenas no Direito, mas também na política nacional, uma exata compreensão de que a advocacia e a política são irmãs gêmeas, não se pode falar de uma sem a outra.

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Mineiro de Santa Rita do Sapucaí, bacharelou-se em Direito pela Universidade de Minas Gerais, em 1929, com apenas 21 anos de idade. Começou imediatamente a advogar, mas não demorou a ser contagiado pelo vírus da política, que, nos anos iniciais de sua carreira, o vinculou a iniciativas que correspondiam na época a um projeto progressista para o Brasil.

Naquele mesmo ano de 1929, associou-se à Aliança Liberal, vinculando-se ao Partido Republicano Mineiro (PRM), que teria grande participação nos acontecimentos que desembocaram na Revolução de 1930.

Mesmo tendo apoiado a Revolução, não hesitou em dela se apartar quando constatou que não punha em prática o ideal que a motivou.

Por essa razão, rompeu com os vitoriosos e ligou-se aos revolucionários constitucionalistas de São Paulo, em 1932, o que lhe impôs custo político alto. Seu partido foi extinto, mas não sua luta, que o levaria a tornar-se um dos fundadores do Partido Progressista e a eleger-se Deputado Federal constituinte em 1934.

Aos 25 anos, portanto, já exibia um admirável currículo de intensa cidadania. A ditadura do Estado Novo, ins-taurada a partir de 1937, o colocou no ostracismo político. Voltou a advogar, mas não se descuidou da política. Mais uma vez demonstrando que política e advocacia têm de andar juntas. Razão por que a Ordem dos Advogados do Brasil mereceu, do constituinte brasileiro, esse papel de defensor do Estado Democrático de Direito.

Foi, em 1943, um dos signatários do Manifesto dos Mineiros, em protesto contra a ditadura de Vargas, e que acabaria por ser uma das peças fundamentais de sua deposição e do início do processo de redemocratização do País.

O Estado Novo puniu severamente todos os signa-tários com prisão e demissão de cargos públicos. Dentre os que o conceberam, figuravam personagens ilustres de então, como os advogados Virgílio de Melo Franco e Dário de Almeida Magalhães e o historiador Luís Camilo de Oliveira Neto. Bilac Pinto foi destituído de suas cátedras nas Universidades do Brasil e de Minas Gerais.

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Só iria recuperá-las após a redemocratização, em 1945, quando se envolveria na fundação de um novo partido, a União Democrática Nacional (UDN), que reunia as lideranças que se opuseram ao Estado Novo. Nesse partido, que freqüentemente adotou posições conservadoras, mas que nasceu de um discurso democrata, Bilac Pinto sempre teve comportamento independente, alinhando-se quase sempre com sua ala mais avançada e combativa, que ficou conhecida como a “banda de música”.

Elegeu-se Deputado Federal em 1950 e, não obstan-te a oposição intransigente que a UDN movia contra Getúlio Vargas, não hesitou – como bem registrou o Ministro Marco Aurélio – em apoiar projetos nacionalistas como o da Petrobras.

Houve, na época, iniciativa no sentido de dar à Pe- trobras o perfil de empresa de capital misto, permitindo a presen-ça de capital estrangeiro em sua composição, o que a desfiguraria em seu propósito de dotar o Brasil de autonomia energética.

Foi Bilac Pinto voz decisiva para não permiti-lo, con-tribuindo para que triunfasse a campanha “O Petróleo é Nosso”, que hoje readquire atualidade, com as recentes descobertas do pré-sal.

Em sua densa carreira política testemunhou acon-tecimentos marcantes da história republicana brasileira do século XX: além dos que já mencionei – Revolução de 1930, Revolução Constitucionalista de 1932, Constituinte de 1934, ditadura do Estado Novo, Redemocratização –, passou ainda pelo suicídio de Vargas, pelo governo JK, pela renúncia de Jânio Quadros, pela breve experiência parlamentarista e pelo golpe militar de 1964.

Presidiu, em 1965, a Câmara dos Deputados e assistiu à edição do Ato Institucional 2, que extinguiria os partidos políticos. Filiou-se à Arena, o partido do regime militar, mas desencantou-se – talvez por isso mesmo – da vida partidária, à qual não mais voltaria.

Foi nomeado no ano seguinte Embaixador do Brasil em Paris, cargo de que se afastaria em 1970, para assumir vaga neste Supremo Tribunal Federal, onde ficou até aposentar-se pela compulsória, aos 70 anos, em 1978.

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Ao tempo de sua investidura no Supremo, Bilac Pinto já era nome consagrado em matéria de Direito Administrativo e de Finanças Públicas, temas em que a maioria dos juristas brasileiros de então, mais afeita ao culto do Direito Privado, era leiga.

Trouxe para esta Corte a tolerância política, garan-tindo, em plena vigência do AI-5, liberdade de expressão ao partido de oposição ao regime militar, o PMDB. O voto que garantiu ao Presidente do partido, Ulysses Guimarães, o direito de pregar o programa de sua legenda, foi acolhido por unanimidade por esta Casa, surpreendendo corajosamente a ala mais radical do regime militar. Uma demonstração clara, já aprendida na sua vida política, de que a independência do Poder Judiciário é fundamental para o Estado Democrático de Direito e de que não se confunde o nomeante com o nomeado. Ao ser nomeado Ministro, é Ministro do Supremo, não Ministro do nomeante.

Passemos agora ao Ministro Raphael de Barros Monteiro. Sua carreira é mais linear, mais voltada para a especi-ficidade do mundo do Direito.

Nasceu em Areias, em 26 de outubro de 1908. Filho de juiz de direito, bacharelou-se na Faculdade de Direito de São Paulo em 1930, aos 22 anos. Não foi um bacharelando qualquer: foi o primeiro da turma e distinguido com o prêmio Rodrigues Alves por essa performance.

Ainda estudante, começou a trabalhar numa repartição dos Correios. Formado, começou imediatamente a advogar nas Comarcas da Capital, mas já em 1935 faria a opção definitiva em sua vida: a magistratura, novamente classificado em 1º lugar, em concurso público.

Nessa militância permaneceu até 1949, quando, por merecimento, foi promovido a Desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, cuja presidência ocupou por quatro vezes.

A partir de 1956, passa a exercer, paralelamente, mediante aprovação do Conselho Técnico Administrativo da respectiva congregação, o ofício de Professor da Faculdade Paulista de Direito da PUC de São Paulo, lecionando na cadeira de Direito Judiciário Civil.

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Em 1958, é eleito para o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, como Juiz efetivo, na classe de Desembargador. No biênio seguinte, é reconduzido ao cargo e eleito Vice-Presidente daquela Corte, onde fica até 1963.

No Tribunal de Justiça de São Paulo, foi também eleito Vice-Presidente em 1961 e reconduzido ao cargo no biênio seguinte.

Ainda nesse período, em 1962, foi eleito Presidente da Associação Paulista de Magistrados. Aí, um traço marcante já de modernidade: em 1962, o Brasil era efervescente; a política tomava conta de todos nós; e presidir uma associação de magistrados é reconhecer, antecipando também o tempo, que o magistrado não pode ficar insensível ao mundo que circula lá fora. O magistrado é um ser político, que tem de interagir o tempo todo com a sociedade e em associações.

Essa sucessão de eleições ao comando de tribunais e de órgãos de classe denota a intensa militância que Raphael de Barros Monteiro exerceu em seu ofício.

Presidiu por diversas vezes delegações de juízes paulistas em reuniões internacionais na Europa e nos Estados Unidos.

Não é de se estranhar, pois, que adquirisse a estima e a respeitabilidade moral e intelectual que o fizeram chegar ao topo do Poder Judiciário em 23 de junho de 1967, ocasião em que é nomeado pelo Presidente Costa e Silva para este Supremo Tribunal Federal.

Foi ainda Juiz Substituto do Tribunal Superior Elei-toral e ocupou a Vice-Presidência daquela Corte.

Sua intensa militância na magistratura está expres-sa na importância que seu nome passou a ter na cidade em que mais intensamente atuou, São Paulo, onde se tornou nome de rua.

No Município de Santo André, seu nome foi dado ao fórum local. Seu talento de magistrado foi transmitido ao filho, seu homônimo, que, hoje, aposentado, chegou à Presidência do Superior Tribunal de Justiça. Não há dúvida, pois, de que esta

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homenagem que hoje o Supremo Tribunal presta à memória de Raphael de Barros Monteiro está plenamente justificada.

Foi um trabalhador do Direito, ao qual serviu com generosidade, total dedicação e talento.

Tanto ele quanto Bilac Pinto tornaram-se paradigmas de homens públicos íntegros que, não obstante eventuais diver-gências doutrinárias ou ideológicas, não maculam o currículo admirável que construíram. Parabéns ao Supremo Tribunal Federal por esta iniciativa de evocá-los. Parabéns aos seus familiares que aqui vieram relembrá-los.

Se de história estamos tratando, e se a história do Brasil se confunde com a história do Supremo Tribunal Federal, em nome da advocacia convido o Supremo a que participe conosco das atividades que faremos no dia 16 de janeiro, em que discutiremos, em termos reflexivos, a aposentadoria compulsória de três Ministros do Supremo Tribunal Federal: Evandro Lins e Silva, Hermes Lima e Victor Nunes Leal.

Que a história nos ensine nesse episódio que a democracia é o melhor dos regimes; que a ditadura que não respeita o Judiciário jamais possa voltar; e que o dia 16 de janeiro seja sempre lembrado como uma data de resistência para todos nós.

Muito obrigado.

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Palavras do Senhor MinistroCEZAR PELUSO,

Presidente___________________________________________

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O Senhor Ministro Cezar Peluso (Presidente) — Agradeço ao Ministro Marco Aurélio, ao nosso Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, e ao Dr. Cezar Britto, Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, as brilhantes orações.

Registro e agradeço a presença dos Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Ministros aposentados Francisco Manoel Xavier de Albuquerque, José Carlos Moreira Alves, Aldir Guimarães Passarinho, Ilmar Nascimento Galvão; das esposas dos Senhores Ministros, Dra. Evany Albuquerque Maul Alves e Dra. Yesis Ilcia Y. Amoedo Guimarães Passarinho; do Procurador-Geral da República, Dr. Antonio Fernando Barros e Silva de Souza, em nome de quem cumprimento os demais membros do Ministério Público; dos familiares do Ministro Barros Monteiro, Flávia Marina de Barros Monteiro e Marina Stella de Barros Monteiro, netas do ilustre Ministro, e do Dr. Ruy Carlos de Barros Monteiro, filho de Sua Excelência, bem como dos familiares do Ministro Bilac Pinto, Ana Carolina Zincone, bisneta, Dra. Gisela Pinto Zincone, Dr. Gui-lherme Pinto Zincone e Paola Moreira Pinto Beraldo Francischetti, netos do Ministro; do excelentíssimo Senhor Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Nilson Naves; do Dr. Roberto Caldas, Juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos; do Dr. Cezar Britto, Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; dos Presidentes de Associações; e de todos os presentes.

Interrompo a sessão, por dez minutos, para os cumprimentos da Corte aos familiares de Suas Excelências, os Senhores Ministros Bilac Pinto e Barros Monteiro, que serão pres-tados ainda neste Salão.