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BRASÍLIA – 2016 SESSÃO SOLENE DE INSTALAÇÃO DO ANO JUDICIÁRIO DE 2016 SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL SESSÃO REALIZADA EM 1º DE FEVEREIRO DE 2016

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BRASÍLIA – 2016

SESSÃO SOLENEDE INSTALAÇÃODO ANO JUDICIÁRIODE 2016

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SESSÃO REALIZADA EM 1º DE FEVEREIRO DE 2016

SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

Ministro Enrique RICARDO LEWANDOWSKI (16-3-2006), Presidente

Ministra CÁRMEN LÚCIA Antunes Rocha (21-6-2006), Vice-Presidente

Ministro José CELSO DE MELLO Filho (17-8-1989)

Ministro MARCO AURÉLIO Mendes de Farias Mello (13-6-1990)

Ministro GILMAR Ferreira MENDES (20-6-2002)

Ministro José Antonio DIAS TOFFOLI (23-10-2009)

Ministro LUIZ FUX (3-3-2011)

Ministra ROSA Maria WEBER Candiota da Rosa (19-12-2011)

Ministro TEORI Albino ZAVASCKI (29-11-2012)

Ministro Luís ROBERTO BARROSO (26-6-2013)

Ministro Luiz EDSON FACHIN (16-6-2015)

Secretaria-Geral da Presidência Fabiane Pereira de Oliveira Duarte

Secretaria de Documentação Dimitri de Almeida Prado

Coordenadoria de Divulgação de Jurisprudência Juliana Viana Cardoso

Produção gráfica e editorial Juliana Viana Cardoso, Renan de Moura Sousa e Rochelle Quito

Fotografias Carlos Humberto, Dorivan Marinho e Nelson Gontijo Resende Júnior

Capa Lucas Ribeiro França

Projeto gráfico Eduardo Franco Dias

Diagramação Jorge Luis Villar Peres

Brasil. Supremo Tribunal Federal (STF).Sessão solene de instalação do Ano Judiciário de 2016 [recurso eletrônico]  :

sessão realizada em 1º de fevereiro de 2016 / Supremo Tribunal Federal. – Brasília : STF, Secretaria de Documentação, 2016.

25 p. : il., fots. color.

Modo de acesso: <http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=publicacaoPublicacaoInstitu

cionalAberturaAno>

1. Poder Judiciário, Brasil. 2.  Tribunal supremo, Brasil. 3.  Ministro de tribunal supremo, discursos etc. I. Título.

CDD-341.4191

Supremo Tribunal Federal — Biblioteca Ministro Victor Nunes Leal

Senhor José Eduardo Cardozo, Ministro de Estado da Justiça,

e Ministro Ricardo Lewandowski, Presidente do Supremo

Tribunal Federal.

Da esquerda para a direita: Deputado Eduardo Cunha, Presidente da Câmara dos Deputados;

Senhor José Eduardo Cardozo, Ministro de Estado da Justiça; Ministro Ricardo Lewandowski,

Presidente do Supremo Tribunal Federal; e Senador Renan Calheiros, Presidente do Senado Federal.

Da esquerda para a direita, em primeiro plano: Ministros do Supremo

Tribunal Federal Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello.

Plenário do Supremo Tribunal Federal durante a sessão solene de Abertura do Ano Judiciário de 2016.

SUMÁRIO

Discurso do Excelentíssimo Senhor Ministro Ricardo Lewandowski, Presidente do Supremo Tribunal Federal ...... 7

Discurso do Doutor Marcus Vinicius Furtado Côelho, Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil ...................... 17

Discurso do Doutor Rodrigo Janot Monteiro de Barros, Procurador-Geral da República ........................................ 20

Palavras do Excelentíssimo Senhor Ministro Ricardo Lewandowski, Presidente do Supremo Tribunal Federal .... 24

Discurso do Excelentíssimo Senhor Ministro RICARDO LEWANDOWSKI,

Presidente do Supremo Tribunal Federal

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O Senhor Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente) — Boa tarde a todos. Inicio di-zendo que esta sessão especial destina-se à Abertura do Ano Judiciário de 2016. Eu convido os presentes a celebrarem, em atitude de respeito, o Hino Nacional brasileiro.

(Execução do Hino Nacional.)

Agradeço a Banda do Corpo de Fuzileiros Navais pela excelente execução do Hino Nacional. Muito obrigado.

Eu tenho a honra de cumprimentar e agradecer a presença das seguintes perso-nalidades e autoridades arroladas pelo nosso cerimonial: representando a Excelentíssima Senhora Presidenta da República Federativa do Brasil, Dilma Rousseff, Sua Excelência o Senhor Ministro de Estado da Justiça José Eduardo Cardozo; os Excelentíssimos Senhores Presidente do Senado Federal, Senador Renan Calheiros, na pessoa de quem cumprimen-to os Membros do Poder Legislativo; o Presidente da Câmara dos Deputados, Deputado Federal Eduardo Cunha, em cuja pessoa também cumprimento todos os Parlamentares aqui presentes.

Tenho a honra de saudar Suas Excelências os Senhores Ministros do Supremo Tribunal Federal, de hoje e de sempre; o Presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ministro Francisco Falcão; o Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Ministro Barros Levenhagen; a Corregedora Nacional de Justiça, Ministra Nancy Andrighi, que está à nossa direita, na pessoa de quem cumprimento os Conselheiros do Conselho Nacional de Justiça.

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Tenho a satisfação de registrar a presença do Advogado-Geral da União, Ministro Luís Inácio Lucena Adams; do Procurador-Geral da República, Doutor Rodrigo Janot, em cuja pes-soa cumprimento os Membros do Ministério Público; do Presidente do Tribunal de Contas da União, Ministro Aroldo Cedraz, em cuja pessoa cumprimento os Ministros daquele Tribunal; do Presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, Desembargador Getúlio de Moraes Oliveira; do Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos, recém--eleito, o brasileiro Doutor Roberto de Figueiredo Caldas, a quem cumprimento com efusão; do representante do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, especialmente do seu Presidente, Doutor Marcos Vinícius Furtado Coelho, em cuja pessoa cumprimento todos os eminentes advogados aqui presentes; do Defensor Público Federal interino, Doutor Lúcio Ferreira Guedes, em cuja pessoa cumprimento os defensores públicos; do Núncio Apostólico Dom Giovanni D’Aniello, que nos honra com sua presença; do Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros, Juiz João Ricardo Costa, em cuja pessoa cumprimento os pre-sidentes das associações e magistrados aqui presentes e demais juízes; do Doutor César Bochenek, Presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil – Ajufe; dos demais pre-sidentes de associações de magistrados; dos Senhores Ministros dos Tribunais Superiores; dos Senhores integrantes da Magistratura brasileira; dos Senhores jornalistas, de servidores deste e de outros tribunais.

Minhas Senhoras e meus Senhores.

Esta singela cerimônia marca, do ponto de vista protocolar, o início dos trabalhos do Supremo Tribunal Federal em 2016 e, simbolicamente, formaliza a abertura do Ano Judiciário em todo o País.

Digo simbolicamente porque, em verdade, o Poder Judiciário jamais suspende as suas atividades: ele se encontra permanentemente alerta, ativo e acessível aos jurisdicio-nados, dia após dia, mesmo nos finais de semana, sempre pronto para assegurar aos que batem às suas portas a plena fruição dos direitos e das garantias fundamentais abrigados na Constituição e nas leis em vigor.

Ao longo de 2015, essa permanente prontidão revelou toda a sua essencialidade. Em meio a uma severa crise política e econômica, que atingiu não apenas o Brasil como outras nações do mundo, os juízes brasileiros, de todos os ramos da judicatura, espalhados pelos mais diversos rincões deste País continental, foram em grande parte responsáveis pela ma-nutenção da paz social ainda desfrutada por todos nós.

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Esta Suprema Corte, por seu turno, acionada em diversas oportunidades para dirimir questões da mais destacada relevância, sempre atuou de modo tempestivo, firme, sereno e responsável, no sentido de garantir a estabilidade das instituições republicanas.

Ao Supremo Tribunal Federal, ademais, na condição de mais alta Corte do País, cou-be – como ainda cabe – desincumbir-se da delicada e sublime missão de liderar o Poder Judiciário, ao fixar diretrizes para a correta interpretação de nossa Lei Maior.

Essa liderança é exercida não apenas por meio da uniformização da jurisprudên-cia em matéria constitucional, mas também mediante a fixação de paradigmas de gestão processual.

De fato, administrar de modo eficiente e célere a colossal quantidade de processos que ingressa no STF a cada ano configura tarefa hercúlea, que exige a utilização de técnicas avançadas de administração.

Como já mencionamos em outras oportunidades, atualmente prevalece em nossa sociedade uma cultura de extremada litigiosidade, que se revela pelo aumento exponencial do número de processos trazidos à apreciação do Poder Judiciário ano após ano.

Em 2015, esse fenômeno relevou-se com toda intensidade: apenas nesta Suprema Corte ingressaram mais de 90.000 novos casos, incluindo processos originários e recursos diversos, o que representou um incremento de mais de 10% em relação ao ano anterior. Nas demais instâncias, foram ajuizados cerca de 30 milhões de novos feitos, totalizando apro-ximadamente 100 milhões de processos em tramitação sob a responsabilidade de mais ou menos 16.000 juízes federais, estaduais, trabalhistas, militares e eleitorais.

No ano passado, para fazer frente a essa crescente massa de feitos, demos ênfase, no STF, ao julgamento de temas com repercussão geral reconhecida, sem, contudo, descui-darmos dos denominados “hard cases”, cuja solução reverberou intensamente na sociedade brasileira.

Nessa linha, relembramos que, em 2015, foram realizadas 81 sessões plenárias, sendo 38 ordinárias e 43 extraordinárias. Esse esforço por parte da Corte permitiu o julga-mento de 2.724 processos pelo Colegiado Maior. Não obstante essa intensa mobilização, o Plenário ainda conta com 649 processos pendentes de julgamento, isso sem considerarmos as inúmeras “listas” liberadas semanalmente por cada Ministro.

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Com o objetivo de diminuir esse acervo, estamos cogitando – com a ativa colabo-ração de alguns de nossos pares – colocar em prática algumas saídas alternativas, como a representada pelo julgamento de novas categorias de processos pelo Plenário Virtual.

Iniciaríamos com feitos que usualmente são julgados em listas, tais como embargos de declaração e agravos regimentais, e ainda outros que, como regra, não comportam sus-tentação oral, ressalvados os pedidos de destaque formulados pelas partes. Pretendemos submeter à análise dos colegas, dentro em breve, uma proposta nesse sentido.

Outra ação que reputamos de enorme valia – e que pretendemos retomar neste ano – foi a de priorizar a devolução e o julgamento de processos com pedidos de vista. De fevereiro a julho de 2015, 77 deles foram decididos. E, de agosto a dezembro do mesmo ano, 24 foram julgados, totalizando 101 processos do gênero, colocando, dessa maneira, um fim a questões que, de longa data, aguardavam uma solução definitiva.

Tratou-se de um aumento expressivo com relação ao número de vistas julgadas no ano de 2014, quando apenas 63 processos, com essa característica, foram decididos em Plenário.

Hoje, já contamos com mais 45 vistas devolvidas, prontas para julgamento. O atin-gimento desses números só foi possível – não é demais ressaltar – porque pudemos contar com a compreensão e o apoio dos Ministros desta Corte, a quem dirijo, nesta oportunidade, os meus agradecimentos.

Pretendemos persistir nessa senda, que se revelou assaz profícua, mas, para tanto, é preciso que contemos com o apoio e a cooperação dos membros da Casa para que liberem os processos com vista, sob sua responsabilidade, desde que – por óbvio – entendam este-jam eles maduros para apreciação do Plenário.

No campo da uniformização da jurisprudência, gostaríamos de destacar que logra-mos aprovar 16 novas Súmulas Vinculantes no ano passado, número que representou mais do que o triplo de verbetes dessa natureza aprovados em 2014, os quais se resumiram a apenas 5.

O benefício trazido pelas Súmulas Vinculantes, a toda evidência, afigura-se inesti-mável, pois permite que os magistrados brasileiros, de todos os ramos e graus de jurisdi-ção, enfrentem com mais eficiência e racionalidade o enorme acervo processual sob sua apreciação.

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Merecem igual destaque os julgamentos de processos com Repercussão Geral, ins-trumento da mais alta eficácia e utilidade para a pacificação do entendimento jurisprudencial concernente a temas repetitivos, os quais, não por acaso, são os de maior abrangência em termos quantitativos.

No ano de 2015, o Plenário Virtual do STF analisou um total de 82 casos novos. Em 40 deles foi reconhecida a Repercussão Geral para posterior julgamento de mérito. Desses, 32 foram objeto de julgamento de mérito pelo Plenário Físico. Como resultado das decisões, um total de 28.411 processos, que estavam sobrestados nas instâncias inferiores aguardando o julgamento do STF, foram liberados.

Quanto ao tão aguardado novo Código de Processo Civil, que entrará em vigor em março vindouro, esta Presidência pretende apresentar à Comissão de Regimento da Casa, dentro em breve, algumas propostas para adequação de nosso centenário Regimento Interno ao texto do novo diploma instrumental. Ao mesmo tempo, buscaremos atualizar os demais atos normativos domésticos que tenham eventualmente sido afetados pela nova disciplina processual.

De outra parte, mas não menos importante, daremos prosseguimento aos esforços de aprovação do Estatuto da Magistratura, previsto no artigo 93, caput, da Constituição, os quais se encontram bastante adiantados, retomando as sessões administrativas, às quartas--feiras, para sua discussão, como vínhamos fazendo rotineiramente. Estimamos que, man-tido o ritmo dos trabalhos, no final de março, teremos uma minuta pronta para revisão final.

Esta é também, segundo pensamos, a ocasião de destacarmos a atuação do Conselho Nacional de Justiça em 2015. Ao completar 10 anos de funcionamento, o CNJ pôde avançar e amadurecer enquanto instituição, sobretudo ao investir, com o necessário vigor, no planeja-mento estratégico e no aperfeiçoamento da gestão do Poder Judiciário, sem prejuízo de sua já consolidada atuação no campo correcional.

Entre os avanços alcançados pelo Conselho, ressaltamos o lançamento, em meados de novembro último, do Plenário Virtual, instrumento que potencializou sobremaneira a capa-cidade decisória do seu órgão colegiado. A realização de sessões plenárias virtuais, todas as semanas, em acréscimo às tradicionais sessões presenciais que ocorrem quinzenalmente, contribuiu decisivamente para uma maior celeridade e eficiência na tomada de decisões do CNJ.

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Nessa linha, vale ressaltar que o ano de 2015 foi marcado por passos importantíssi-mos no tocante a políticas na área de tecnologia da informação. E o presente ano de 2016 promete ser um período em que colheremos os frutos dos esforços despendidos no passado recente.

Em primeiro lugar, destacamos a consolidação do sistema Processo Judicial Eletrônico (PJe), que foi objeto de uma revisão em sua arquitetura, de maneira a torná-la mais acessível e funcional, ou, no jargão técnico, mais “amigável” para os seus distintos usuários, permitindo que o seu aprimoramento se faça a partir de distintas mãos, segundo uma teia de colaboração interinstitucional.

Lembro, nesta oportunidade, que também o STF passará a integrar a comunidade do PJe, estimando-se que a sua implantação nesta Corte se dará já no primeiro trimestre deste ano.

Outro ponto relevante a destacar diz respeito ao “Escritório Digital” – construído em parceria com o Conselho Federal da OAB –, que caminha para se tornar a principal porta de acesso a todos os tribunais, independentemente do estágio tecnológico em que se encon-trem ou o tipo de sistema que tenham desenvolvido até o momento.

O CNJ, além disso, desenvolveu um sistema próprio de videoconferência via internet, simples e prático, cujo objetivo é auxiliar os magistrados no desempenho de atos processuais e atividades correlatas, em conformidade com o que prevê o novo CPC quanto ao tema.

Por outro lado, a consolidação das Audiências de Custódia – procedimento que de-termina a apresentação de qualquer cidadão preso a um juiz no prazo de 24 horas – exigiu o desenvolvimento de uma ferramenta tecnológica, prevista na Resolução 213/2015, para registro de dados estatísticos acerca desse projeto (SISTAC), em tempo real, destinado a aprimorar as políticas do CNJ nessa área e subsidiar os magistrados com informações ne-cessárias para aprimorar a sua atuação.

Cumpre recordar que, lançadas em fevereiro do ano passado, as Audiências de Custódia, disciplinadas pela Resolução CNJ 213/2015, estão hoje implantadas em todas as capitais do Brasil e funcionando nos 27 Tribunais de Justiça e 5 TRFs do País, encontrando-se em fase de interiorização por todo o território nacional.

Desde o seu lançamento foram realizadas 38.746 sessões presenciais, nas quais os juízes libertaram 18.790 detidos, mediante condições, ou seja, 48,49%, ao passo que

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decretaram 19.956 prisões preventivas, correspondendo a 51,51% dos presos em flagrante. Nesse período, detectaram-se 2.351 casos de tortura, a saber, 6,07%, e 4.542 pessoas, con-figurando 11,72%, foram encaminhadas para atendimento social ou assistencial.

A expectativa que temos, caso as Audiências de Custódia sejam efetivamente colo-cadas em prática em todo o Poder Judiciário, é podermos reduzir pela metade o número de presos provisórios, que hoje alcança, mais ou menos, 40% de um total de 600.000 pessoas que integram a nossa população carcerária, beneficiando por volta de 120.000 detidos sem culpa formada.

Permanecendo ainda na questão prisional, registramos que, ainda no primeiro tri-mestre deste ano, colocaremos em funcionamento a ferramenta eletrônica denominada Sistema Eletrônico de Execução Unificada (SEEU), cujo objetivo é permitir o pleno controle da execução das penas em todos os tribunais brasileiros.

Sua adoção imprimirá maior agilidade na tomada de decisões por parte dos juízes da execução, mediante, por exemplo, a emissão de avisos quanto às datas para a progressão de regime ou a concessão de outros benefícios prisionais.

Ainda no campo das inovações tecnológicas, vale destacar a criação do “Sistema de Mediação Digital”, plataforma online para resolução consensual de conflitos, concebida para auxiliar na solução de litígios de massa, com destaque para as relações de consumo e os processos de execução fiscais.

O potencial desta plataforma é bastante significativo, porquanto cerca de 25% das novas demandas propostas no Poder Judiciário podem perfeitamente ser resolvidas na fase pré-processual, quer dizer, sem a necessidade da propositura de ações judiciais.

Ao par dessa iniciativa, o CNJ lançará, no corrente ano, o Cadastro Nacional de Mediadores Judiciais e Conciliadores – em atenção às disposições da Lei de Mediação e do novo Código de Processo Civil –, o qual permitirá aos interessados a escolha, pela rede mundial de computadores, dos auxiliares da justiça que atuam em processos consensuais, tendo em conta as avaliações de suas últimas atuações, o seu nível de especialização e os parâmetros dos respectivos honorários, entre outros critérios.

Diante do elevado número de execuções fiscais em tramitação, correspondente a cerca de um terço de todos os processos que tramitam no Poder Judiciário nacional, bem como o elevado custo operacional inerente a esse tipo de feitos, o CNJ adotará mecanismos

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para acelerar essas ações, por meio de mutirões para acelerar as demandas envolvendo os grandes devedores, especialmente naqueles casos em que a dívida para com o Fisco já esteja garantida.

Quanto às execuções fiscais de menor impacto financeiro, serão adotados outros instrumentos, igualmente eficazes e de baixo custo operacional, tal como o Sistema de Mediação Digital antes referido.

No âmbito da cooperação internacional, com o objetivo de fomentar a educação no campo dos direitos fundamentais e de consolidar os mecanismos de proteção desses di-reitos, o CNJ celebrou um “Memorando de Entendimento” com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, que promoverá cursos de capacitação para magistrados e servidores do Poder Judiciário, presenciais e à distância.

Gostaríamos, por fim, de registrar uma importante iniciativa a ser colocada em prá-tica pelo CNJ, em conjunto com o Ministério das Relações Exteriores, neste ano. Trata-se da aplicação, no Brasil, do regime da Convenção sobre a Eliminação da Exigência de Legalização de Documentos Públicos Estrangeiros (“Convenção da Apostila”).

A partir de agosto de 2016, com o início da vigência da Convenção no plano domés-tico, não haverá mais a necessidade de efetuar-se a legalização consular de documentos (também conhecida por “consularização” ou “chancela consular”), procedimento sabida-mente longo e custoso, que chega a envolver quatro instâncias burocráticas.

Em seu lugar, ocorrerá a simples emissão da denominada “Apostila da Haia”, que, uma vez anexada ao documento público pelas autoridades competentes do país no qual foi emitido, torna-o imediata e automaticamente válido em todos os demais 107 países que são parte da Convenção, reduzindo significativamente a burocracia e os custos de procedimentos em que incorrem, sobretudo aqueles que têm negócios com o exterior.

No Brasil, a emissão da Apostila da Haia será realizada com base em resolução a ser editada pelo CNJ, que exercerá, igualmente, o papel de órgão central do sistema junto a entidades nacionais e estrangeiras, incumbindo-lhe especialmente disciplinar a atuação de cartórios e juízes na autenticação desses documentos.

Como demonstram os projetos e as ações que acabamos de destacar, não obstan-te o severíssimo e inusitado corte orçamentário que foi imposto ao Poder Judiciário, pela implacável tesoura fiscal brandida em conjunto pelo Executivo e pelo Legislativo, os juí-

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zes brasileiros continuam atuantes, coesos e determinados no cumprimento de sua missão constitucional, que tem por fim, em última análise, oferecer aos cidadãos brasileiros uma prestação jurisdicional de qualidade crescente.

Em que pese vivermos hoje em um cenário nacional e internacional de incertezas e dificuldades, o Judiciário não tem medido esforços para mitigar os problemas sofridos pela sociedade brasileira, ao desempenhar as tarefas que lhe competem com altivez e senso de responsabilidade, em harmonia com os outros Poderes do Estado e em sintonia com os demais operadores do Direito.

Imbuídos desse espírito, e com redobrada disposição para o trabalho, iniciamos as atividades judiciárias deste ano com a esperança de que, em breve, a Nação iniciará um novo ciclo de desenvolvimento e prosperidade.

Com essas palavras, declaro aberto o Ano Judiciário, desejando a todos que 2016 seja repleto de boas realizações.

Cumpre-me, agora, com a maior satisfação, conceder a palavra ao eminente ex--Presidente e integrante nato do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Doutor Marcus Vinicius Furtado Coêlho, que neste ato representa o Presidente daquele sodalício.

Vossa Excelência está com a palavra.

Discurso do Doutor MARCUS VINICIUS FURTADO CÔELHO,

Conselho Federalda Ordem dos Advogados do Brasil

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O Doutor Marcus Vinicius Furtado Côelho (pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil) — Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Ricardo Lewandowski; Excelentíssimas Senhoras; Excelentíssimos Senhores Ministros que, com muita dignidade e altivez, compõem a Suprema Corte do Brasil; Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral da República; Excelentíssimo representante da Presidência da República; Excelentíssimos Senhores Presidentes do Senado e da Câmara.

Senhoras e senhores, colegas advogados.

Trago o abraço dos 945 mil advogados do Brasil ao Supremo Tribunal Federal, a Suas Excelências, às Ministras e aos Ministros que cumprem com muito destemor, muita altivez, a árdua tarefa de assegurar a ampla eficácia, a ampla envergadura da norma constitucional.

O estado democrático de direito brasileiro pressupõe o respeito à independência da magistratura, à independência dos Poderes, e o Supremo Tribunal Federal, na tarefa de guar-dião da Constituição, tem esta relevante tarefa com a Nação, que tem sido desempenhada com destemor, com brilhantismo e com êxito por todos os Ministros e as Ministras que com-põem o Supremo Tribunal Federal.

O Presidente eleito da Ordem dos Advogados do Brasil se encontra, neste instante, presidindo a sua primeira sessão ordinária e pediu-me que viesse representando a entidade. E assim o faço com muita satisfação ao perceber que Sua Excelência o Ministro Ricardo Lewandowski tratou de temas muito caros à advocacia brasileira e à cidadania de nosso país.

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A audiência de custódia tem o integral apoio da advocacia brasileira. É um revolu-cionário método de trazer o réu à presença do juiz. É a aplicação, alguns séculos depois, do Habeas Corpus Act da Inglaterra, dando concretude a normas internacionais de direitos humanos. A ampla presença de processos na Justiça, a litigância que sempre vem crescendo de forma progressiva, pode, sim, ser enfrentada pela mediação, pela arbitragem, pela con-ciliação. No novo Código de Ética da Advocacia, que entrará em vigor em maio, passa a ser um princípio deontológico do advogado brasileiro estimular a mediação e a conciliação, algo fundamental para diminuir o acúmulo de processos no Judiciário.

O escritório digital, construído pelo CNJ em parceria com a OAB, implanta o processo eletrônico de forma a ser inclusivo e não excluir a cidadania do acesso à Justiça. A adequa-ção do Judiciário ao novo Código de Processo Civil, anunciado por Vossa Excelência, Ministro Ricardo Lewandowski, também vai ao encontro do desejo da sociedade, em termos de justiça com celeridade, mas assegurando o direito de defesa, o devido processo legal. E, afinal, é a tarefa primeira do Supremo Tribunal Federal: assegurar a altivez, a prevalência da ordem jurídica do estado democrático de direito, que é a Constituição da República.

Feliz do país como o Brasil, que tem o Supremo Tribunal Federal à altura dos desafios dessa quadra histórica.

Muito obrigado.

Discurso do Doutor RODRIGO JANOT MONTEIRO DE BARROS,

Procurador-Geral da República

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O Doutor Rodrigo Janot Monteiro de Barros (Procurador-Geral da República)  — Excelentíssimo Senhor Ministro Ricardo Lewandowski, Presidente do Supremo Tribunal Federal; Excelentíssimo Senador Renan Calheiros, Presidente do Congresso Nacional; Excelentíssimo Ministro de Estado da Justiça, Doutor José Eduardo Cardozo, aqui represen-tando a Excelentíssima Presidente da República; Senhoras Ministras, Senhores Ministros; demais autoridades aqui presentes, senhoras e senhores advogados; senhores servidores.

Senhoras e senhores, meus colegas de Ministério Público.

O Ministério Público brasileiro, nesta tradicional solenidade, saúda o reinício dos tra-balhos neste ano de 2016. A expectativa é muito positiva, vez que o país espera que o Poder Judiciário, fiel balança da justiça e garante do estado democrático de direito, bem como todo o poder público estatal encarnado nas mais diversas instituições, cumpra o seu papel de bem servir à sociedade brasileira. Nesse contexto, reconheço vivermos bons tempos no que diz respeito ao franco diálogo institucional entre o Poder Judiciário e o Ministério Público brasileiro.

Cientes de nossas atribuições constitucionais e certos da essencialidade que nos marca em relação à função jurisdicional, o enfrentamento dos mais importantes temas na-cionais se impõe. Nesta mesma solenidade, no início do ano passado, tivemos a oportunidade de registrar temas que mereciam real atenção dos poderes constituídos.

É indubitável que avanços significativos foram conquistados. Cito inicialmente os avanços do sistema de justiça quanto ao princípio da celeridade processual, advindos do esforço envidado pela Presidência do Supremo Tribunal Federal, em 2015, na política de

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priorização a recursos com repercussão geral. Os resultados são colhidos de forma direta pelos tribunais de origem e pelos jurisdicionados.

Menciono também importante decisão do Supremo em relação ao financiamento pú-blico e privado das campanhas eleitorais no julgamento da ADI 4.650/DF, em que se firmou o cidadão como elemento central da democracia participativa ao se colocar ao largo a possibi-lidade de financiamento de campanhas eleitorais por pessoas jurídicas.

Destaco, por oportuno e não por acaso, dada a sua importância, o reconhecimento, pelo plenário desta Corte, da competência do Ministério Público brasileiro para promover, por autoridade própria, investigações de natureza penal. A decisão, há muito esperada, tornou possível avançarmos igualmente noutro tema fundamental, a solidificação do combate à corrupção como fortalecimento das instituições e do próprio regime democrático.

Nessa seara, gostaria de destacar a bem-sucedida denominada Operação Lava Jato, cuja dinâmica dos fatos impede-nos de trazer dados mais atualizados. Os números aqui consolidados se referem até 18 de dezembro de 2015, revelando, contudo, significativo re-sultado. Foram 1.016 procedimentos instaurados; 396 buscas e apreensões realizadas; 99 mandados de condução coercitiva cumpridos; 119 mandados de prisão cumpridos, sendo 62 prisões preventivas e 57 prisões temporárias; 86 pedidos de cooperação internacional, sendo 77 pedidos ativos para 28 países e 9 pedidos passivos com 8 países; 40 acordos de cola-boração premiada foram celebrados; 5 acordos de leniência foram firmados; 36 acusações criminais ajuizadas contra 179 pessoas, apontando cometimento de crimes contra o Sistema Financeiro Internacional e Nacional, corrupção, tráfico transnacional de drogas, formação de organização criminosa, lavagem de ativos, entre outros ilícitos.

No que toca aos valores até então envolvidos, destaca-se que os crimes já denuncia-dos envolvem o pagamento de propina de 6,4 bilhões; 2,8 bilhões já foram recuperados por meio de acordos de colaboração e 659 milhões foram objeto de repatriação; 2,4 bilhões em bens dos réus que já foram bloqueados. Até o momento, são 80 condenações contabilizando 783 anos e 2 meses de pena. E, pela frente, temos também, neste ano de 2016, outros desa-fios com a inafastável melhoria das condições do sistema carcerário, as medidas necessárias para prevenir e punir graves crimes ambientais, como os que vivenciamos recentemente, a necessária valorização das carreiras dos servidores do Poder Judiciário e do Ministério Público, entre outras demandas que batem à porta da nossa instituição. Obviamente, não minimizo as dificuldades econômicas e políticas que gravam particularmente este momento.

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Penso, contudo, que tais obstáculos serão superados pela atuação firme das instituições públicas e pela grandeza do nosso país.

Os avanços sociais não podem ser historiados numa senoide, exige-se que as con-quistas dos brasileiros sejam galgadas de forma perene, e não por espasmos. Os poderes político, econômico e os setores da sociedade civil hão de entender que o país adentrou em nova fase da qual os holofotes não serão desligados e estarão constantemente direcionados à observância estrita do ordenamento jurídico. É isso que a sociedade espera do Ministério Público, ao qual a Constituição adjetivou de “público”; o que é público é de todos, não é e não pode ser de alguém.

Ao Ministério Público brasileiro cumpre a persecução e a tutela de bens e direitos conferidos a cada um dos cidadãos. Por natureza, não compactuamos ou tergiversamos com o ilícito, com autoritarismo, com interesse velado. Buscamos, simples e só, de forma clara e objetiva, a verdade dos fatos e não de factoides, e o seu enquadramento jurídico, sem eva-sivas, sem cortina de fumaça.

A atuação ministerial sempre se pautará pela impessoalidade, jurisdicidade, aparti-darismo, tecnicismo e pela estrita observância dos direitos e garantias individuais, em es-pecial daqueles que, chamados à Justiça, devem responder por seus atos. Enganam-se de forma propositada e interpretam de forma distorcida aqueles que questionam o nosso cerne. Da mesma forma que elementos podem conduzir nossa atuação ao oferecimento de denún-cia, igualmente levam-nos a requerer o arquivamento. A autonomia e a imparcialidade da Justiça e do Ministério Público opõem-se a qualquer tipo de autoritarismo de caráter político, ideológico ou econômico. Nosso compromisso é com o estado democrático e de direito.

Encerro, Senhor Presidente, afirmando que o Ministério Público renova sua parceria com o Supremo Tribunal Federal sem medir esforços para que o ano de 2016 seja profícuo na colheita de bons resultados, que de forma efetiva alimentem a esperança dos que tem sede e fome de justiça e de paz.

Muito obrigado.

Palavras do Excelentíssimo Senhor Ministro RICARDO LEWANDOWSKI,

Presidente do Supremo Tribunal Federal

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O Senhor Ministro Ricardo Lewandowski (Presidente) — Indago se algum dos presentes à Mesa deseja fazer uso da palavra.

Gostaria de assinalar que os discursos proferidos pelo Doutor Marcus Vinicius Furtado Coêlho e pelo Doutor Rodrigo Janot honram o Poder Judiciário da Nação e integrarão os anais e a história do Tribunal.

Cumprida a finalidade desta sessão, declaro-a encerrada.