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SERVIÇO SOCIAL SUÉLLEN ANDRESSA APARECIDA MATTE O AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO E A BUSCA POR AUTONOMIA: UMA ANÁLISE COM BENEFICIÁRIOS DO PROJETO CIDADANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR CONJUNTURAL DO CRAS II DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR. TOLEDO 2014

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SERVIÇO SOCIAL

SUÉLLEN ANDRESSA APARECIDA MATTE

O AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO E A BUSCA POR AUTONOMIA: UMA ANÁLISE

COM BENEFICIÁRIOS DO PROJETO CIDADANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR

CONJUNTURAL DO CRAS II DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR.

TOLEDO

2014

1

SUÉLLEN ANDRESSA APARECIDA MATTE

O AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO E A BUSCA POR AUTONOMIA: UMA ANÁLISE

COM BENEFICIÁRIOS DO PROJETO CIDADANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR

CONJUNTURAL DO CRAS II DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Serviço Social, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas, da Universidade Estadual

do Oeste do Paraná – campus de Toledo, como

requisito parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profa. Ms. Naraiana Inêz Nora

TOLEDO

2014

2

SUÉLLEN ANDRESSA APARECIDA MATTE

O AUXÍLIO ALIMENTAÇÃO E A BUSCA POR AUTONOMIA: UMA ANÁLISE

COM BENEFICIÁRIOS DO PROJETO CIDADANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR

CONJUNTURAL DO CRAS II DO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PR.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Serviço Social, Centro de Ciências

Sociais Aplicadas da Universidade Estadual do

Oeste do Paraná – campus de Toledo, como

requisito parcial à obtenção do grau de

Bacharel em Serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________

Profa. Ms. Naraiana Inez Nora

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

__________________________________

Profa. Ms. Ane BárbaraVoidelo

Universidade Estadual do Oeste do Paraná

__________________________________

Prof.Ms. Izaque Pereira de Souza

Instituto tecnológico e Educacional

Toledo, 07 de novembro de 2014

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço imensamente a Deus pelo dom da vida, por proporcionar tantas bênçãos e

realizações a mim.

Agradeço de todo coração à minha maravilhosa família, meu pai Walmir, por sempre

acreditar em mim, dar-me todo o apoio e incentivo nessa caminhada. Minha mãe, Suely, pelas

palavras reconfortantes quando precisei, pela força e carinho que me dedicas-te sempre. Sou o

que sou hoje, por todo o amor, dedicação e valores que vocês me dedicam. À minha irmã

Alanna, pelo apoio e incentivo em todos os momentos. Amo muito vocês, que são a minha

base, o meu exemplo. Essa conquista devo à vocês!

Agradeço especialmente a minha tia Tere, profissional Assistente Social que tão bem

desempenha seu trabalho, da qual sinto tanto orgulho. Obrigada por me ajudar a escolher o

curso de Serviço Social, para que eu possa seguir agora o caminho profissional. Obrigada pela

força, pela atenção, as palavras amigas quando precisei, amo você.

A todos meus familiares, avós, tios e primos que me acompanharam nesta luta diária

para a realização de mais uma conquista.

Preciso dizer um obrigado de todo coração ao meu avô José, que há dois anos foi

morar com Deus, obrigado por sempre ter rezado por mim, lembro tão bem do seu jeitinho

todo cuidadoso me dizendo: “vai tranquila nas suas provas, eu vou rezar por você”. É esse

jeitinho da pessoa tão importante que sempre será para mim e que marca minha vida, sinto

muitas saudades.

Ao meu namorado Renan pelo seu amor, compreensão e paciência, pois não mediu

esforços pra me ajudar neste momento tão importante que é a graduação.

Ao meu cunhado Marcelo por me aguentar nos momentos de nervosismo.

À professora/orientadora Nara, agradeço pelo tempo a mim dedicado para a

construção deste trabalho, o conhecimento compartilhado, pela sua atenção e incentivo, pois

nada disso seria possível sem a sua participação.

As supervisoras de campo de estágio Jaque, Débora e Marilda, por todo o aprendizado

na vivência e experiência como estagiária no CRAS II, sem dúvida foi um momento único

que pude compartilhar com vocês, que tanto me mostraram por meio do trabalho realizado

com tanta ética e dedicação.

À professora e supervisora acadêmica, India Nara, e os demais professores com os

quais pude aprender durante os 5 anos que estive aqui, muito obrigada por todos os

4

ensinamentos e vivências compartilhados, cada um foi muito importante para que eu pudesse

chegar ao final deste curso com o conhecimento e bagagem necessárias para iniciar o trabalho

como profissional.

A banca examinadora deste trabalho, obrigada pela participação, professores Ane e

Izaque, neste momento, tão importante da defesa desse TCC. As contribuições teóricas e

críticas que vierem, vão me fazer crescer muito como profissional, posteriormente.

Às minhas amigas e companheiras de faculdade Fabi, Gi, Lu, Jeh, Pri, Hayame e

Elisangela pelas palavras de conforto na hora do desespero, pelas risadas, o carinho que

sempre tiveram por mim, cada uma com seu jeitinho único de ser, amo vocês. com vocês tive

a certeza de que as melhores amizades nós fazemos na faculdade.

À vocês Pri e Sol, com as quais pude compartilhar nesse ano as alegrias, tristezas,

inseguranças com a preparação do TCC, mas acima de tudo, a força de vontade e esforço para

alcançarmos o tão sonhado diploma como assistentes sociais, obrigada por tudo!

Às minhas queridas Elisangela e Aline que dedicaram a sua amizade, conforto e

atenção nos momentos em que precisei e que não mediram esforços pra me animar e colocar

um sorriso em meu rosto.

A Unioeste pela oportunidade de estudar nessa Universidade tão bem conceituada.

5

MATTE, Suéllen Andressa Aparecida. O auxílio alimentação e a busca por autonomia:

uma análise com beneficiários do Projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural do

CRAS II do Município de Toledo-PR. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em

Serviço Social). Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Universidade Estadual do Oeste do

Paraná – campus Toledo-PR, 2014.

RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) analisou a respeito do auxílio alimentação

e a busca por autonomia, tendo como público alvo os usuários participantes do Projeto

Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural do Centro de Referência de Assistência Social

– CRAS II, no município de Toledo-PR. Foi estabelecido como objetivo geral: Analisar em

que medida o processo de recebimento da cesta básica promove a pretensa autonomia dos

sujeitos participantes do projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural do CRAS II

do município de Toledo- PR. A pergunta norteadora da pesquisa partiu da seguinte indagação:

Em que medida o recebimento da cesta básica favorece ou não o desenvolvimento da

autonomia dos participantes do Projeto Cidadania e Segurança Alimentar do CRAS II

do município de Toledo/PR? Os autores utilizados como aporte teórico para o presente

Trabalho de Conclusão de Curso foram Vieira (1992), Yasbek (1996), Abranches (1998),

Netto (2009), Netto (1992), Ziegler (2013). Para a análise de dados foram utilizados os

seguintes autores: Antunes (2007) Pereira (2007), Alayon (1992), entre outros. As categorias

elencadas para a construção deste trabalho foram a pobreza, a desigualdade social e a fome.

Para a realização da pesquisa de campo foi adotada a pesquisa exploratória de cunho

qualitativo. Na coleta de dados, utilizou-se de entrevista com roteiro de perguntas abertas e

fechadas. A entrevista foi realizada com 8 sujeitos participantes do projeto. Para a análise de

dados recorreu-se a revisão bibliográfica bem como, a interpretação e analise dos dados

obtidos. O resultado obtido foi que, o auxílio alimentação por si só é insuficiente para gerar

autonomia dos participantes, a qual requer a efetivação de outros aspectos, como a

integralidade do atendimento e a intersetorialidade entre as políticas sociais, aspectos que

muitas vezes são dificilmente atingidos em meio a complexidade das contradições na

sociedade capitalista.

Palavras-chave: Política de Assistência Social; Auxílio alimentação; Projeto Cidadania e

Segurança Alimentar Conjuntural.

6

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01: Evolução temporal da extrema pobreza: Brasil, 1976 a 2008 ............................ 24

Gráfico 02: Evolução da pobreza no longo prazo no Brasil: 1970-2011 .............................. 24

Grafico 3: Extrema pobreza e o objetivo de desenvolvimento do milênio: Brasil,

1990 a 2009 ...........................................................................................................................

27

Gráfico 4: Nível de escolaridade dos habitantes de Toledo –PR, no ano de 2010 .............. 50

Gráfico 5: Renda atual dos entrevistados tendo como base o Salário Mínimo Nacional........ 51

Gráfico 6: Tempo de participação no projeto no ano de 2013 ................................................ 55

7

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Equipe necessária no CRAS de acordo com a quantidade da população ............

40

8

LISTA DE SIGLAS

BM Banco Mundial

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

CERTI Centro de Revitalização da Terceira

CNAS Conselho Nacional de Assistência Social

CRAS Centro de Referência de Assistência Social

FMI Fundo Monetário Internacional

IDH Índice de Desenvolvimento Humano

LOAS Lei Orgânica de Assistência Social

MDS Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a Fome

MPC Modo de Produção Capitalista

NOB/SUAS Norma Operacional Básica

ONU Organização das Nações Unidas

PAIF Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PNAD Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PNSAN Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

PR Paraná

PTR Programa de Transferência de Renda

SISAN Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

SUAS Sistema Único de Assistência Social

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

UNIOESTE Universidade Estadual do Oeste do Paraná

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10

1 ESTADO, POLÍTICA SOCIAL E POBREZA: ENGRENAGENS DA SOCIEDADE

DE CLASSES .......................................................................................................................... 13

1.1 ESTADO E POLÍTICA SOCIAL NO CAPITALISMO .............................................. 13

1.2 A POBREZA COMO DIMENSÃO ESTRUTURAL DO CAPITALISMO: CONCEITO E

ENFRENTAMENTO NASOCIEDADE BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA .................... 18

2 ASSISTÊNCIA SOCIAL E SEGURANÇA ALIMENTAR ............................................ 28

2.1 ASSISTÊNCIA SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ........................... 28

2.2 A LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (LOAS) ............................................. 30

2.3 O NOVO DESENHO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: A POLÍTICA NACIONAL DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL E OSISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL ................... 32

2.4 SEGURANÇA ALIMENTAR: E NUTRICIONAL: PROPOSTAS E AÇÕES ................ 35

2.4.1 A POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL ..... 37

2.5 O CRAS E O PROJETO CIDADANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR

CONJUNTURAL: A EXPERIÊNCIA DE TOLEDO/PR ....................................................... 39

3 APRESENTANDO OS DADOS DA PESQUISA ............................................................. 45

3.1 METODOLOGIA UTILIZADA E CAMINHO DA PESQUISA ...................................... 45

3.2 A PESQUISA E OS SUJEITOS: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ........... 48

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 63

APÊNDICES ........................................................................................................................... 68

APÊNDICE 1 – FORMULÁRIO DE ENTREVISTAS ...................................................... 69

APÊNDICE 2 – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ............ 70

ANEXOS ................................................................................................................................. 72

ANEXO 1 - PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP ................................................ 73

ANEXO 2 - PROJETO CIDADANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR .......................... 75

10

INTRODUÇÃO

A pobreza, enquanto fenômeno histórico e estrutural da sociedade capitalista, resulta

dentre outros aspectos, na exclusão de uma grande parte da população, dos bens e riquezas

coletivamente produzidas. Como fruto das contradições entre as classes sociais vigentes e,

portanto, expressão da chamada “questão social”, figura-se como uma de suas manifestações

mais perversas, a fome, essa que expressa a negação do acesso ao bem mais básico e primário

para a sobrevivência do ser humano, a alimentação.

É nesse sentido que são criadas políticas públicas e sociais que atendam às

necessidades humanas e estejam relacionadas ao usufruto da riqueza socialmente produzida.

No Brasil, segundo Gomes (2008), o tema referente à segurança alimentar tem sido muito

estudado nas últimas décadas. Suas discussões perpassam o âmbito social e político entre

Estado e Sociedade Civil. Porém, é importante destacar que a alimentação só foi assegurada

como direito fundamental ao cidadão com a revisão da Constituição de 1988, no ano de 2010,

passando a ter nova redação o artigo 6º: “são direitos sociais a educação, a saúde,

a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção á

maternidade e á infância, a assistência aos desamparados, na forma desta constituição”

(BRASIL,2014a, s.p, grifos nossos).

A política de Assistência Social, historicamente tem sido o espaço no qual se

desenvolvem ações de enfrentamento à pobreza e a fome. Em Toledo-PR, o Centro de

Referência de Assistência Social II, localizado no Jardim Europa, desenvolve um projeto

denominado Projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural, que oferece o auxílio

alimentação, com a entrega de uma cesta básica para cada família participante no período

médio de seis meses.

O objetivo central de nossa pesquisa é analisar em que medida o acesso ao auxílio

alimentação promove a pretensa autonomia dos usuários inseridos neste Projeto. A autonomia

a que nos referimos neste trabalho está relacionada a busca por liberdade, melhores condições

de vida e possibilidades bem como a independência dessas famílias, visto que esse é um dos

objetivos do Projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural. Ademais, temos como

objetivos específicos: compreender a pobreza como um produto da sociedade burguesa, ou

seja, como resultado da contradição própria do modo de produção capitalista; conhecer os

marcos normativos da Política de Assistência Social e da política de Segurança Alimentar,

bem como compreender o significado destas políticas sociais na sociedade brasileira;

investigar a compreensão que os usuários têm sobre o benefício da cesta básica.

11

A escolha do tema é fruto de indagações feitas a partir do Estágio Curricular

Obrigatório em Serviço Social, realizado no Centro de Referência de Assistência Social –

CRAS II - Jardim Europa, município de Toledo- PR nos anos de 2012 e 2013, bem como o

acompanhamento do Projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural. Devido à

iniciativa de um projeto de intervenção que foi elaborado e implementado no ano de 2013,

intitulado “Conhecendo os Seus Direitos” pelo que preconiza as normatizações do Estagio

Curricular Obrigatório do Curso de Serviço Social. A participação continua no projeto trouxe

a reflexão sobre o processo de autonomia destes sujeitos a partir da inserção destes no projeto,

bem como o questionamento sobre se esta é garantida depois da participação no projeto e o

recebimento da cesta básica.

O acesso à cesta básica corresponde a uma necessidade básica dos sujeitos, que por

sua vez se materializa em necessidades imediatas e emergenciais de sobrevivência. Ademais,

trata-se de um beneficio temporário, o qual possui como o público alvo, famílias que

apresentem situação de vulnerabilidade social decorrente de eventuais condições de

fragilização ou risco social.

Desse modo, espera-se que a família consiga superar tal condição de vulnerabilidade,

mediante processo de autonomização dos sujeitos. Nossa hipótese sugere que tal benefício é

insuficiente para gerar essa autonomia, a qual requer a efetivação de outros aspectos, como a

integralidade do atendimento e a intersetorialidade entre as políticas sociais, aspectos que

muitas vezes são dificilmente atingidos em meio à complexidade das contradições na

sociedade capitalista.

Esta pesquisa é do tipo qualitativa, exploratória e referenciada a pesquisa de campo.

Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas que tiveram por base um roteiro de

perguntas abertas e fechadas. Para a análise dos dados que foram coletados a partir de

entrevistas, utilizou-se a revisão bibliográfica de livros, legislações e artigos que também

compõem o aporte teórico dessa pesquisa.

Este trabalho está estruturado em três capítulos. No primeiro trata-se do papel e

desempenho do Estado e sua atuação a partir das políticas públicas frente a pobreza, a

desigualdade e a fome no contexto da sociedade capitalista, bem como sua estrutura e

organização para tratar dos problemas sociais diante deste modo de produção.

No segundo capítulo, trataremos dois importantes temas para o atendimento do direito

a alimentação: a assistência social e a segurança alimentar e nutricional. Abordaremos as

legislações que norteiam a assistência social enquanto direito assegurado a todo cidadão que

dela necessitar, como a LOAS, a Política Nacional de Assistência Social, o SUAS, além de

12

algumas das ações governamentais para a prestação da política de Segurança Alimentar e

Nutricional.

A construção teórica exposta nestes capítulos dará suporte para que, no terceiro e

último, capítulo seja tratado com rigor analítico e crítico as informações coletadas por meio de

entrevistas realizadas com participantes do Projeto Cidadania e Segurança Alimentar

Conjuntural do CRAS II. Por fim, explicitaremos algumas considerações finais que

expressam os resultados desta pesquisa de conclusão de curso.

13

1 ESTADO, POLÍTICA SOCIAL E POBREZA: ENGRENAGENS DA SOCIEDADE

DE CLASSES

Neste capítulo abordaremos noções fundamentais para compreender a política social,

como Estado e capitalismo, para que se possa compreender como o primeiro é incorporado

pela sociedade, sua atuação e legitimidade frente aos interesses tanto capitalistas quanto por

parte dos trabalhadores. A partir destes fundamentos pode-se ter em vista as formas e atuações

que são incorporadas pelo Estado para atender os interesses de classes por meio de políticas

sociais que demandam estratégias de governo para respondem as necessidades de reprodução

do capital.

Em um segundo momento, exploraremos a categoria pobreza, passando também pela

desigualdade e a fome, entendendo-as como dimensões intrínsecas ao capitalismo em seu

processo de manutenção e acumulação do capital, e que aqui, relacionam-se diretamente com

o objeto de pesquisa, ou seja, com os impactos do acesso ao auxílio alimentação para a

autonomização dos usuários do Projeto Cidadania e Segurança Alimentar. Desse modo,

traremos noções conceituais sobre a pobreza, bem como as formas de enfrentamento adotadas

pelo Estado brasileiro na contemporaneidade.

1.1 ESTADO E POLÍTICA SOCIAL NO CAPITALISMO

O Estado é dotado de força e poder político, os quais o constituem como um governo

que rege um povo, uma nação em um determinado território. Esta legalidade que dele emana é

dividida em três poderes: o Poder Executivo, que executa as leis; o Poder Legislativo que cria

e fiscaliza as leis; e o Poder Judiciário que garante os direitos advindos da lei. No entanto, o

Estado não é uma entidade neutra, mas é atravessado por distintos interesses, sendo ele

também produto e produtor da luta de classes.

Estado é a expressão de interesses inerentemente conflitivos “dos sujeitos

sociais de cuja relação emana”. Interesses que não são neutros ou

igualitários, mas que reproduzem uma relação social que articula desigual e

contraditoriamente a sociedade. “Isto equivale a dizer que o Estado em seu

conjunto – como aspecto e objetivações – é uma forma de objetivações

daqueles sujeitos sociais” (O‟ DONNEL, 1981 apud YASBEK, 1996, p.38).

O Estado tal como conhecemos é o Estado burguês ou Estado capitalista, uma vez que

assume essa conotação de defesa dos interesses da classe dominante, portanto, para

14

compreender as funções do Estado e da política social na contemporaneidade é necessário

situá-lo dentro do modo de produção capitalista.

O capitalismo, enquanto sistema econômico sucedeu o modo de produção feudal,

alastrando-se por todo o mundo, de acordo com Vieira (1992) O Estado nesse sistema:

Em se tratando de poder político ou de poder estatal, a conceituação decorre

do meio próprio ao Estado, do meio que o Estado utiliza. A conceituação de

poder político, portanto não se inspira nos fins do Estado, mas em seu meio

particular que é a força. Alguns aludem a coação física, outros falam de

violência. Qualquer que seja a escolha neste caso é certo que a força não é o

único instrumento, não é o único meio empregado pelo Estado, embora seja

o seu instrumento ou seu meio muito especial (VIEIRA, 1992, p.20).

O mesmo utiliza-se da sua força e autoridade para mostrar a sua legitimidade e

encontra ainda várias formas de induzir a sua ideologia política perante os homens, como cita

Vieira (1992): “O Estado retrata uma relação de dominação dos homens sobre os homens,

baseada na força” (VIEIRA, 1992, p.20).

Desse modo, a política social se configura em uma estratégia do Estado diante das

reivindicações da classe trabalhadora em prol de seus direitos e lutas por melhores condições

de vida, mais especificamente a partir no século XIX. O Estado passa então a oferecer

serviços e benefícios que dão respostas a tais necessidades, ao mesmo tempo em que media e

amortiza o conflito de classes. Nesse enfoque, é importante destacar que, “[...] as políticas

sociais no Brasil nascem e se desenvolvem na perspectiva de enfrentamento da “questão

social”, permitindo, apenas acesso discriminado a recursos e a serviços sociais” (YASBEK,

1996. p.36-37)1.

A „questão social‟ é definida pela Autora Iamamoto como:

[...] questão social apreendida como o conjunto das expressões das

desigualdades da sociedade capitalista2 madura, que tem uma raiz comum: a

produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais

amplamente social, enquanto a apropriação de seus frutos mantem-se

privada, monopolizada por uma parte da sociedade. A globalização da

produção e dos mercados não deixa dúvidas sobre esse aspecto: hoje é

possível ter acesso a produtos de varias partes do mundo, cujos componentes

1É nesse contexto que o profissional assistente social realiza o seu trabalho. A “questão social” é objeto de

intervenção, matéria-prima desta categoria profissional, sendo que a intervenção se faz sobre as expressões que

ela assume na sociedade burguesa, como produto da acumulação desigual do modo de produção capitalista. 2Desde a sua consolidação na passagem do século XVIII ao XIX, ele experimentou uma complexa evolução [...]

atualmente não se confronta com nenhum desafio externo à sua própria dinâmica: impera nas sociedades mais

desenvolvidas (centrais) e vigora na economia das sociedades menos desenvolvidas (periféricas) [...] (NETTO;

2009, p.95).

15

são fabricados em países distintos o que patenteia ser a produção fruto de um

trabalho cada vez mais coletivo; contrastando com a desigual distribuição da

riqueza entre grupos e classes sociais nos vários pises o que sofre a decisiva

interferência da ação do Estado e dos governos (IAMAMOTO,1999, p.27).

O modo de produção capitalista (MPC), fundado na exploração do trabalho, tem

como principal objetivo a obtenção a acumulação do lucro. Por conseguinte há a produção de

mais- valia.3

O capitalismo passou por diversas fases, cada uma expressou mudanças significativas

que favoreceu cada vez mais o seu sistema de produção. Netto (2009, p.171) cita como

estágio inicial, o capitalismo comercial, nesse estágio:

[...] a burguesia – nascendo especialmente dos grupos mercantis que

acumularam grandes capitais comerciais – afirmaram-se como classe que

tem nas mãos o controle das principais atividades econômicas [...] ( NETTO,

2009, p.171)

Outro estágio posterior como explica o mesmo autor é o capitalismo concorrencial que

ocorreu no século XIX e se consolidou nos principais países Europa Ocidental. A sua

característica trata-se das possibilidades aos negócios que abriram para os pequenos e médios

capitalistas. A concorrência ocorria de maneira desenfreada e generalizada. É nesse estágio

que surgem as lutas de classes fundadas na contradição capital versus trabalho (NETTO,

2009).

No período em que sucedeu o capitalismo concorrencial, a burguesia conquistou seu

espaço no mercado capitalista. Havia grande competição a qual ocorria de maneira

desenfreada, pela busca por obtenção de lucro, uma necessidade do capital.

A intervenção do Estado nesse período estava voltada para o capital, tinham-se como

base as propostas liberais4.O Estado já estava aliado à classe dominante, como bem observa

Netto (2009): “O essencial das funções do Estado burguês restringia-se as tarefas repressivas:

3Mais Valia é um conceito fundamental da economia política marxista, que consiste no valor do trabalho não

pago ao trabalhador, isto é, na exploração exercida pelos capitalistas sobre os seus assalariados. Disponível em:

http://economidiando.blogspot.com.br/2011/06/marx-mais-valia-absoluta-e-relativa.html. Acesso em: 22 de

maio.2014

4O liberalismo pode ser definido como um conjunto princípios de e teorias políticas, que apresenta como

po22nto principal a defesa da liberdade política e econômica. Neste sentido, os liberais são contrários ao forte

controle do Estado na economia e na vida das pessoas. Disponível em

:http://www.suapesquisa.com/o_que_e/liberalismo.htm.Acesso em: 16 de maio.2014

16

cabia-lhe assegurar o que chamamos de condições externas para a acumulação capitalista- a

manutenção da propriedade privada e da „ordem pública‟[...]”(NETTO, 2009, p.173).

Vale destacar ainda que nesse momento histórico a população estava completamente

excluída dos processos decisórios do Estado, a mesma tinha direito a participação social

restrita. De acordo com Netto (2009), suas conquistas como o direito ao voto e a democracia

política só foram conseguidas com a luta dos próprios trabalhadores, em suas reivindicações e

manifestações.

No último quarto do século XIX, ocorreram modificações expressivas neste contexto

devido ao surgimento dos monopólios. Capitalistas controlando indústrias, oferecendo

emprego a milhares de trabalhadores, alterando assim, toda a dinâmica econômica, tudo isso

em menos de trinta anos. Esse período corresponde ao chamado capitalismo monopolista, o

qual “recoloca, em patamar mais alto, o sistema totalizante de contradições que confere á

ordem burguesa os seus traços basilares de exploração, alienação e transitoriedade histórica”

(NETTO, 1992, p.15).

São os traços que se agravaram no capitalismo monopolista, a exploração da classe

trabalhadora em detrimento da mão de obra em troca de salário, a fim de garantir o lucro para

os donos da indústria. A concorrência desenfreada entre os mesmos continua neste estágio,

ainda mais acirrada. Nesse sentido: “[...] a constituição da organização monopólica obedeceu

a urgência de viabilizar um objetivo primário: o acréscimo dos lucros capitalistas através do

controle dos mercados” (NETTO, 1992, p.16).

Tratando-se do papel do Estado nesse estágio do capitalismo, suas funções políticas

passaram a ser também econômicas: “o eixo da intervenção estatal na idade do monopólio é

direcionado para garantir os superlucros dos monopólios – e, para tanto, como poder político

e econômico, o Estado desempenha uma multiplicidade de funções” (NETTO, 1992, p.21).

A burguesia dessa forma sustentava não só por si, mas também por meio do Estado a

sua base de dominação. Dessa forma, a relação do Estado passou a ser não só social, mas

também econômica, duas funções totalmente interligadas, servindo ao capital. Como afirma

Vieira (1992, p.15): “[...] qualquer exame da política econômica e da política social deve

fundamentar-se no desenvolvimento contraditório da história”.

Vale ressaltar ainda que, foi o percurso da história e as modificações do capitalismo

em suas diversas fases que favoreceram a consolidação do capital e, ainda, as contribuições

do Estado frente ao modo de produção capitalista.

Dessa forma, pode-se compreender o surgimento da política social com esta dupla

vinculação: de um lado como produto da luta de classes; e de outro como um produto

17

histórico e necessário para o desenvolvimento do próprio modelo de produção capitalista, de

modo que atende a uma funcionalidade de preservação e controle da força de trabalho, Netto

(1992) argumenta:

Através da política social, o Estado burguês no capitalismo monopolista

procura administrar as expressões da „questão social‟ de forma a atender às

demandas da ordem monopólica conformando, pela adesão que recebe de

categorias e setores cujas demandas incorpora, sistemas de consenso

variáveis, mas operantes (NETTO, 1992, p.26-27).

O Estado, ao atender as reivindicações da classe trabalhadora se legitima e amortiza o

conflito de classe. É neste sentido, que o mesmo, com base no seu poder de mando institui

formas de governo que são incorporadas para dar resposta as necessidades da população.

Desse modo, a política social se configura em uma estratégia do Estado diante das

reivindicações da classe trabalhadora em prol de seus direitos e lutas por melhores condições

de vida, mais especificamente a partir no século XIX. O Estado passa então a oferecer

serviços e benefícios que dão respostas a tais necessidades, ao mesmo tempo em que media e

amortiza o conflito de classes. Segundo Vieira (1992):

[...] a política social é uma maneira de expressar as relações sociais, cujas

raízes se localizam no mundo da produção. Portanto, os planos, os projetos,

os programas, os documentos referentes em certo momento á Educação, Á

Habitação popular, ás Condições de Trabalho e de Lazer, á Saúde Pública, a

Previdência Social e até a Assistência Social não se colocam como totalidade

absolutas (VIEIRA,1992, p.22).

A política social está vinculada as reivindicações da classe trabalhadora frente às

crises econômicas. Vê-se assim a influência da política econômica sob a política social

atrelada a dominação estatal. A política social vem, sobretudo, da luta popular por direitos a

serem reconhecidos pelo Estado para assim, obter a intervenção na realidade social dos

trabalhadores.

Não tem havido, pois, política social desligada dos reclamos populares. Em

geral, o Estado acaba assumindo alguns destes reclamos, ao longo de sua

existência histórica. Os direitos sociais significam antes de mais nada, a

consagração jurídica de reivindicações dos trabalhadores (VIEIRA, 1992,

p.23).

Yasbek (1996) ainda complementa sobre a ampliação da intervenção estatal:

18

Duas prováveis razões levaram à ampliação da intervenção do Estado nesses

anos: a primeira diz respeito ao crescente processo de concentração de renda

e à potencialização das carências da população que, muitas vezes se

manifesta de forma explosiva; a segunda resulta da percepção por parte do

Estado autoritário do papel legitimador da política social (YASBEK, 1996,

p.40).

Trata-se então, do recorte do Estado à sua intervenção para com a classe

trabalhadora, bem como os planos, programas e projetos que dão visibilidade a consolidação

da política social para a concentração de renda e também a forma como o Estado irá implantar

a política social, utilizando o poder autoritário e regulador que dele emana. Suas ações são de

caráter contraditório das lutas sociais.

Os contrastes entre miséria e abundância observáveis „a olho nu‟ em nossa

experiência diária nos mostram que a evolução econômica do capitalismo

brasileiro fortaleceu mais a desigualdade do que diminuiu. Sabemos que o

Estado, para obter legitimidade, necessita desenvolver ações que pelo menos

no nível da aparência se voltem para o enfrentamento dessa desigualdade

(YASBEK, 1996, p.40).

Ainda de acordo com a autora Yasbek (1996) a regulação do Estado no que se refere

às relações sociais vem dando formato às políticas sociais no país: estas políticas são

caracterizadas como políticas fragmentadas, sem regras e reconhecimento de direitos.

Portanto ações que reproduzem a desigualdade.

A partir disso, no próximo item trataremos especificamente as categorias referentes à

pobreza, desigualdade e fome como expressões da “questão social” que se intensificam na

sociedade burguesa atual e adquirem centralidade no âmbito do Estado mediante o seu

enfrentamento via políticas sociais, especialmente àquelas que aglutinam ações de redução da

pobreza e extrema pobreza.

1.2 A POBREZA COMO DIMENSÃO ESTRUTURAL DO CAPITALISMO: CONCEITO E

ENFRENTAMENTO NA SOCIEDADE BRASILEIRA CONTEMPORANEA

A questão da pobreza é parte constituinte do atual modelo de produção, o

capitalismo, haja vista que este modelo econômico está assentado sobre a produção e o

usufruto desigual da riqueza que é socialmente produzida. Sendo, neste contexto, o trabalho a

principal fonte de sobrevivência da classe trabalhadora e que gera a acumulação de riqueza

19

para o capital, a qual por sua vez é repartida de maneira injusta e desigual entre a maior parte

da população.

A medida que o modo de produção capitalista foi se desenvolvendo,

sobretudo pela exploração da força de trabalho e das revoluções

tecnológicas, milhares de postos de trabalho foram sendo destruídos e a

acumulação do capital foi se concentrando nas mãos de poucos, deixando

grande quantitativo de pessoas sem acesso ao usufruto da riqueza

socialmente produzida (SANTOS; ARCOVERDE, 2011, p.2).

Diante desse contexto, a pobreza tem como consequência questões biológicas, ou seja,

nutricionais, e também estruturais da sociedade bem como as questões econômicas e sociais.

A má distribuição de renda, a falta de emprego, por exemplo, também constituem elementos

que integram a pobreza.

Segundo Santos e Arcoverde (2011, p.3) referente às questões de renda “o

atendimento das necessidades básicas depende da aquisição de renda, geralmente proveniente

do trabalho, nem sempre disponível no mercado”.

O sistema capitalista requer e evidencia que quanto mais se trabalha, mais lucro se

obtém, porém, por vezes a falta de estrutura, condição de estudo e de profissionalização por

parte dos trabalhadores faz com que os mesmos não consigam ingressar no mercado de

trabalho.

Abranches (1994, p.16) complementa ainda com relação a pobreza que esta acarreta a

“destituição, dos meios de sobrevivência física; marginalização no usufruto dos benefícios do

progresso e no acesso as oportunidades de emprego e consumo; desproteção por falta de

amparo público adequado e inoperância dos direitos básicos de cidadania [...]”.

Ou seja, a pobreza tem muitas dimensões há a carência de bens materiais, a submissão

à exploração e a busca por melhores condições de sobrevivência, a negação do acesso a

direitos e serviços públicos. A pobreza em sua estrutura gera, sobretudo as carências quanto a

moradia, a alimentação, a saúde e ao lazer que constituem os direitos sociais.‟

Yasbek (1996, p.62-63) relata que “a pobreza é expressão direta das relações sociais

vigentes na sociedade e certamente não se reduz as privações materiais. Alcança o plano

espiritual, moral e político dos indivíduos submetidos aos problemas da sobrevivência”.

A mesma autora relata a respeito da pobreza no âmbito brasileiro:

A pobreza brasileira constitui-se de um conjunto heterogêneo, cuja unidade

buscamos encontrar na renda limitada, na exclusão e na subalternidade. Do

ponto de vista da renda, o que se evidencia é que para grande maioria dos

trabalhadores, com registro em carteira ou não, por contrato ou por conta

própria, predominam os baixos rendimentos e a consequente privação

20

material daí advinda. Do ponto de vista da exclusão e da subalternidade, a

experiência da pobreza constrói referências e define “um lugar do mundo”,

onde a ausência do poder de mando e decisão, a privação de bens materiais e

do próprio conhecimento dos processos sociais que explicam essa condição

ocorrem simultaneamente a praticas de resistência e luta (YASBEK, 1996,

p.63).

Com base na referida autora, a pobreza trata-se de uma das expressões da “questão

social” que se configura e se sistematiza diante das modificações nas condições de trabalho,

da proteção social para com os trabalhadores, o que atinge diretamente a obtenção de direitos

conquistados por eles.

As políticas sociais que atuam no combate a pobreza, fazem-se presentes por meio de

planos, programas e projetos criados pelos governos Federal, Estadual e Municipal e trazem

concepções e estratégias para erradicar a fome, dar subsídios quanto à renda, habitação, saúde,

lazer e são efetivadas conforme o órgão competente destinado à prestação desse serviço.

Nesse sentido, Soares (2011) indica que para a superação da pobreza na América Latina

devem ser fixadas algumas prioridades, tais quais:

Políticas tendentes a evitar a reprodução da pobreza, a exclusão e a

segmentação social das novas gerações; políticas de incorporação da

juventude ás ocupações nos setores mais dinâmicos da economia; política de

equipamento de bens de produção, instalações de uso social e sistemas de

apoio, com vistas a aumentar a produtividade dos recursos humanos

existentes; políticas de geração de emprego produtivo e política de

distribuição de renda e ativos (SOARES, 2011, p.54).

A autora sintetiza com base nas pesquisas da CEPAL (Comissão Econômica para a

América Latina e o Caribe5) as estratégias governamentais que se utilizam de “[...] políticas

de tipo geral, aquelas que proporcionem o acesso universal a toda a população, ou a políticas

dirigidas para grupos de extrema vulnerabilidade”(SOARES, 2001, p.54).

A autora referencia ainda as pesquisas da CEPAL relacionadas ao Brasil,

mencionando a desigualdade social e a pobreza entre os anos de 1980 e 1990, diante das

5A CEPAL é uma das cinco comissões econômicas regionais das Nações Unidas (ONU). que tem como mandato

o estudo e a promoção de políticas para o desenvolvimento de sua região, especialmente estimulando a

cooperação entre os seus países e o resto do mundo, funcionando como um centro de excelência de altos estudos.

Os países requerem um organismo com a capacidade de compilar informação, analisá-la e fazer recomendações.

Deste 1948 a CEPAL contribui para o debate da economia e da sociedade latino-americana e caribenha,

apresentando alertas, ideias e propostas de políticas públicas. Além de identificar características estruturais que

nos distinguem de outras regiões ou de diferentes trajetórias de desenvolvimento, a CEPAL sempre apontou para

os desafios contra a desigualdade, para a luta contra a pobreza, para o fomento à democracia, justiça e paz e para

as opções de inserção na economia mundial. Disponível em : http://www.onu.org.br/onu-no-brasil/cepal/ Acesso

em: 05 de abr.2014

21

modificações estruturais advindas da América Latina que levaram ao aumento da pobreza e as

formas que ela assume no nosso país:

Ao mapear a ‟Questão Social‟ no período de 1980/1990, estudo do IBGE

(2003) aborda as mudanças demográficas, no mercado de trabalho e no perfil

de rendimentos; as dimensões da Pobreza; as condições de Saneamento

Básico; e as condições de Educação (SOARES, 2001, p.159).

São tratados neste contexto questões de natureza pública, sem mencionar as noções de

renda e de saúde, situando o estudo da população, o ingresso ao mercado de trabalho, suas

condições, os aspectos e dimensões da pobreza e as estruturas e condições que se

encontravam nesta época o Saneamento básico e a Educação.

Para dimensionar a prática realizada com a política de combate a pobreza, a partir dos

anos 90, Abranches (1998) relata que essas políticas em sua estrutura e determinação são

tratadas como específicas, tem duração limitada – mesmo que prolongada, possui aspectos das

políticas sociais que são permanentes e combina elementos da política macroeconômica e

setorial, nos campos fiscal, industrial e de emprego.

Tratam-se de políticas específicas, pois são formuladas em benefício de uma

determinada população, são setoriais combinadas com dimensões macroeconômicas, partem

de um política maior atingindo determinadas necessidades da população como assistência

social, a alimentação, saúde, habitação, mercado de trabalho, acesso a benefícios. Essas

políticas oferecem duração prolongada, e para sua efetivação combinam elementos diversos

que assim as tornam políticas sociais permanentes que trazem em sua dimensão a efetividade

para a prestação de serviços a população que dela necessita.

O fenômeno da pobreza também envolve questões atreladas à desigualdade, estes são

problemas sociais agravantes na sociedade capitalista. Estas duas categorias não se opõe, mas

tem características que as complementam, estão aliadas as necessidades básicas. Referente à

associação entre desigualdade e pobreza Abranches (1998) relata:

A desigualdade é fenômeno distinto da destituição. Não são fenômenos

independentes, pois interagem histórica e estruturalmente: um reforça o

outro, em medida variável no tempo e no espaço. Mas obedecem a lógicas

distintas, econômica e politicamente (ABRANCHES, 1998, p.21).

A desigualdade é então tida como uma espécie de falta de algo que lhe foi tirado,

necessidades a serem atendidas. Porém, o processo histórico juntamente com as questões

econômicas e políticas reforçou ainda mais a evidência da desigualdade. A desigualdade pode

22

se tratar tanto de questões relacionadas a emprego, oportunidade, renda entre outros,

entretanto, a que mais salta aos nossos olhos é a desigualdade social, que é explicitada por

questões de renda familiar.

É nesse contexto que Abranches (1998) argumenta a respeito do declínio de renda, ou

seja, o padrão distributivo que pode agravar ainda mais os problemas de fome, desnutrição e

morte no mesmo patamar que a desigualdade.

O autor refere-se às melhores distribuições de renda que se complementam com as

ações políticas e econômicas, que estão ligadas a integridade humana e ao acesso aos direitos

sociais da população. O acesso negado a elas por tais direitos, por meio da repressão e do

poder geram ainda mais o sentimento discriminatório que sentem. “Politicamente, as escolhas

e as ações voltadas para um e para outro objetivos dependem da correlação predominante de

interesse e de poder” (ABRANCHES, 1998, p.22).

Outro aspecto a se considerar é a relação entre a desigualdade e a pobreza. Com base

no exposto acima, Abranches (1998) expõe da relação entre a desigualdade e a pobreza,

tratando especificamente das questões ligadas à renda e distribuição de outros bens no geral

para que se obtenha a superação das mesmas:

A relação, entre desigualdade de renda e pobreza tem características

especiais. Se houver uma elevação marcada da renda, pode diminuir o nível

relativo da pobreza, mesmo que não se altere o perfil distributivo de renda.

Mas sem alterações significativas no perfil distributivo, não apenas de renda,

mas de patrimônio, alcança-se um ponto de inflexibilidade que torna

impossível superar certos níveis de pobreza nos setores inferiores de

rendimento (ABRANCHES, 1998, p.23).

Uma das dimensões que se relacionam à pobreza e, ao mesmo tempo, a expressam de

modo contundente, é a privação ao mínimo necessário para reprodução das necessidades

básicas dos homens: a fome. Sendo uma dimensão da pobreza, a fome é a manifestação de

necessidades fisiológicas que devem ser atendidas e esta é agravada, sobretudo, nas condições

em que a pobreza se manifesta na sociedade capitalista. Esta envolve ainda questões físicas e

psíquicas. A fome, como bem cita o autor Ziegler (2013), tem suas categorias citadas como

fome estrutural e a fome conjuntural, a qual a ONU se refere:

A “fome estrutural” é própria das estruturas da produção insuficientemente

desenvolvidas dos países do Sul. Ela é permanente, pouco espetacular e se

reproduz biologicamente a cada ano. [...] A fome conjuntural, em

contrapartida é altamente visível [...] ela se produz quanto, repentinamente,

uma catástrofe natural- gafanhotos, seca ou inundação assolam uma região –

23

ou uma guerra destrói o tecido social, arruína a economia [...] (ZIEGLER,

2013, p.37).

A fome está inter-relacionada com diversas questões como bem cita o autor, uma delas

é à produção de alimentação, esta muitas vezes produzida em quantidades escassas para

atender a toda a população, por outras vezes está ligada a condições acidentais a qual ocorrem

devido a catástrofes ambientais, que acabam interferindo em questões sociais e econômicas.

A alimentação está assegurada enquanto direito pela Constituição Federal de 1988, em

seu artigo 6º o qual designa: ”São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o

trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à

infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (BRASIL, 2014a, s.p).

Nesse contexto, Ziegler (2013, p.31) relata que, [...] “dentre os direitos humanos, o

direito a alimentação é, seguramente, o mais constante e mais maciçamente violado em nosso

planeta.” Violado pois, as condições a qual são distribuídos os alimentos, de maneira

desigual, mesmo com o impasse obtidos de maneira positiva das políticas públicas

regulamentadas para este fim mas também a efetividade as condições de acesso.

As condições de subalimentação, de fome e desnutrição em virtude do não acesso ao

alimento adequado e a política de segurança alimentar, transforma a vida de bilhões de

pessoas que privadas desse acesso modificam suas estruturais fisiológicas.

A pobreza é um problema histórico no Brasil, com significativo aprofundamento nas

décadas de 70 e 80 do século XX, especialmente relacionadas ao período de crise que marca

nossa sociedade e o acirramento do fosso social existente entre as classes sociais. Os Gráficos

a seguir ilustram o dimensionamento da pobreza e da extrema pobreza nas últimas décadas do

século passado e na primeira década do século XXI.

24

Gráfico 1 - Evolução temporal da extrema pobreza: Brasil, 1976 a 2008

Fonte: BRASIL/IPEA 2009 apud NORA, 2012, p.48

Gráfico 2 - Evolução da pobreza no longo prazo no Brasil: 1970-2011

Salienta-se, que a queda brusca no ano de 1986 deve-se ao efeito meteórico do Plano

Cruzado, porém, assim como o plano não se consolidou, retornando em curto período de

tempo a conjuntura econômica que lhe deu origem – como os efeitos perversos da inflação,

arrocho salarial e desemprego para grande parte da população – tampouco permaneceram as

condições sociais e econômicas que haviam mudado os dados de pobreza no Brasil. Outro

destaque se refere à queda dos índices de pobreza e extrema pobreza no início dos anos 1990,

o qual se deve a estabilização da economia proporcionada pelo Plano Real. Década esta que

25

mostra uma estagnação nos índices, sendo que uma nova redução se vislumbra somente a

partir de 2003, já no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

A definição de pobreza e extrema pobreza, feita pelo Ministério de Desenvolvimento e

Combate a Fome é caracterizada a partir do critério de renda6 per capita, sendo consideradas

famílias de extrema pobreza aquelas que possuem renda mensal de até R$ 77,00 e pobreza

aquelas que possuem renda mensal de R$ 154,00.7

A redução ou superação da pobreza e extrema pobreza também estão relacionadas com

as metas do milênio definidas pela Organização das Nações Unidas (ONU)8. O enfrentamento

no Brasil vem ocorrendo por meio de programas criados especificamente para atender estes

objetivos, sendo esses programas executados de forma focalizada e com transferência de

renda condicionada aos beneficiários. Podemos citar como exemplo, os programas de

transferência de renda levados a cabo em vários da América Latina9, sendo que no Brasil

temos o Programa Bolsa Família10

, bem como, as estratégias de superação da fome. Ambos

congregam investimentos internacionais via organismos multilaterais como o Fundo Monetário

Internacional (FMI) e o Banco Mundial (BM).

Os Programas de Transferência de Renda (PTR) são constituídos, conforme cita Nora

(2012, p.81) em:

[...] uma modalidade de política social que se inscreve no contexto do

pensamento neoliberal de redução do Estado e de desmonte das políticas

6Essa definição de renda para caracterizar a pobreza e a extrema pobreza, além de servir como indicador,é

utilizada para a inclusão em programas sociais, benefícios e serviços. [...]; 7Informação obtida pela Prefeitura Municipal de Toledo- setor do Cadastro Único, os valores mudam conforme o

valor do salário mínimo; 8 [...] a cúpula do milênio foi a maior reunião de chefes de Estado e de governo em 55 anosde criação da ONU

em Nova York no sentido de entre outras resoluções , diminuir a proporção da população mundial com renda

diária inferior a U$$ 1, alem de reduzir a daqueles que tem fome e não tem acesso a água potável. Apesar do

ceticismo quanto a tradução dessas resoluções em medidas praticas pelos governantes, a Cúpula do Milênio se

constituiu num reconhecimento internacional da necessidade e da importância do compromisso, principalmente

das noções desenvolvidas, em reduzir a pobreza no mundo (GUILHON, 2001, p.40) entre os anos de 1990 a

2015; 9 Mattei (2010) em pesquisa acerca dos PTR‟S na América Latina, destaca, além do Brasil, outros países que

constituíram programas com transferência monetária: “o Programa Familiar, na Argentina; o Programa Família

em Ação, na Colômbia; o Plano de Alimentação dos Trabalhadores, na Venezuela; o Plano Nacional de

Alimentação, no Uruguai; o Programa Chile Solidário, no Chile; o Programa Local de Alimentação, no Equador;

e o Programa Oportunidades, no México” (MATTEI, 2010, p.03); 10

O Bolsa Família é um programa de transferência de renda direta que beneficia famílias em situação de pobreza

e extrema pobreza em todo o país. Integra o Plano Brasil Sem Miséria, que tem como foco de atuação os

milhões de brasileiros com renda familiar per capita inferior a R$ 77 mensais e está baseado na garantia de

renda, inclusão produtiva e no acesso aos serviços públicos. O Bolsa Família possui três eixos principais: a

transferência de renda promove o alivio imediato da pobreza: as condicionalidades reforçam o acesso a direitos

sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social. E as ações e programas complementares

objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de

vulnerabilidade (BRASIL, 2014e, s.p).

26

sociais de cunho universal. Todavia, convém destacar que em nações

periféricas, de desigualdades sociais escandalosas, esse formato de política

social pode se constituir em importante mecanismo de redistributividade da

riqueza socialmente produzida.

Estes programas fazem parte das estratégias governamentais para a erradicação da

pobreza, os quais visam criar mecanismos que asseguram a sobrevivência das famílias através

do acesso a renda. É nesse sentido, que o Brasil criou estes mecanismos para que pudesse

apresentar propostas para este fim. No âmbito dos governos, de maneira geral tem-se:

Últimos anos foram implementados diversos programas de transferência de

renda, com o objetivo de combater a pobreza através da visão da

„focalização‟ das ações de política pública. Esta visão foi fortemente

influenciada pelas experiências pioneiras realizadas em países como Brasil e

México, ainda em 1996 e 1997, respectivamente (MATTEI apud NORA,

2012, p.82).

Como mencionado, o Brasil teve a extrema pobreza reduzida nos últimos anos,

conseguindo atingir o objetivo inicial da meta de desenvolvimento do milênio – que era de

reduzir o índice de extrema pobreza pela metade até 2015 - ainda no ano de 2006. O Gráfico

03 abaixo apresentado pela Pesquisa Nacional por amostra de Domicílios (Pnad), aponta e

demonstra a evolução desse objetivo no período de 1990 a 2009.

pobreza e o objetivo de desenvolvimento do milênio: Brasil, 1990 a 2009

FONTE:MDS, 2014f. Disponível em:http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/boletins/

boletimmds/2981 /Estudo_Ricardo%20Barros_Rosane%20Mendonca_Raquel%20Tsukada_SAE.pdf/

Segundo o gráfico acima no ano de 1990 a extrema pobreza no Brasil atingia 22,1 %,

atingindo o seu ápice no ano de 1993 de 22,9 %. Já nos anos seguintes houve uma redução

27

chegando em 1995 a 17,3 % e mantendo uma pequena oscilação para mais e para até o ano de

2003, após houve redução da extrema pobreza ano a ano, chegando em 2006 a meta a ser

alcançada no ano de 2015 de 10,8 %, e no ano de 2009 a 8,4 % .

28

2 ASSISTÊNCIA SOCIAL E SEGURANÇA ALIMENTAR

Dando continuidade a pesquisa bibliográfica acerca do tema proposto, neste segundo

capítulo abordamos como tema central a política social que se relaciona especialmente ao

enfrentamento das vulnerabilidades sociais, a Assistência Social. Assim trataremos da

constituição desta política social como direito e das normativas vigentes que a norteiam, como

a Constituição Federal de 1988, a Lei Orgânica da Assistência Social, a Política Nacional de

Assistência Social e a consolidação do Sistema Único de Assistência Social.

Posteriormente, integra ainda a este capítulo, o marco legal que sustenta o direito a

alimentação, compreendido como um dos direitos sociais básicos e fundamentais para o

atendimento dos mínimos sociais, de modo que explicitaremos o auxílio alimentação (cesta

básica) e a Política de Segurança Alimentar, entendendo que esta discussão respalda ao

tratamento dos dados coletados na pesquisa de campo.

2.1 A ASSSISTÊNCIA SOCIAL NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Como já citado no capitulo I, o Estado tem o dever de garantir os meios de

sobrevivência da população, a intensificação da garantia dessas necessidades ocorreu por

meio das lutas e reivindicações da classe trabalhadora. Mas é a partir de 1988, com a

promulgação da Constituição Federal que esses direitos, por meio da proteção social,11

foram

garantidos a população na forma da lei. Nesse sentido, os direitos conquistados foram

respectivamente a saúde, assistência social e a previdência social, estas constituem o tripé da

Seguridade Social. A Seguridade Social compreende:

[...] conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da

sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência

e a à assistência social. Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos

termos da lei organizar a seguridade social, com base nos seguintes

objetivos: I- universalidade da cobertura e do atendimento; II- uniformidade

e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e rurais; III-

seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços; IV-

irredutibilidade do valor dos benefícios; V- equidade na forma de

11

O conceito de sistema de proteção social corresponde as formas “institucionalizadas que as sociedades

constituem para proteger parte ou o conjunto de seus membros. Tais sistemas decorrem de certas vicissitudes da

vida natural ou social, tais como a velhice, a doença, o infortúnio, as privações. (...) Neste conceito, também,

tanto as formas seletivas de distribuição e redistribuição de bens materiais (como a comida e o dinheiro), quanto

os bens culturais (como os saberes), que permitirão a sobrevivência e a integração, sob várias formas da vida

social. Ainda, os princípios reguladores e as normas que, com intuito de proteção, fazem parte da vida das

coletividades” (DI GIOVANI apud NORA, 2014, p.1).

29

participação no custeio; VI- diversidade da base de financiamento; VII;

caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão

quadripartite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores e dos

aposentados e do Governo dos órgãos colegiados (BRASIL, 2014a, s.p,

grifos do autor).

No que diz respeito à Assistência Social, a Constituição Federal de 1988 traz em seu

artigo 203 a responsabilidade do Estado para com a população no que tange a garantia dos

direitos conquistados nessa Lei, dessa forma, fica a cargo do Estado:

Art 203- A assistência social será prestada a quem dela necessitar,

independente de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I-

proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II- o

amparo às crianças e adolescentes carentes; III- a promoção da integração ao

mercado de trabalho; VI- a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras

de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V- a

garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de

deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria

manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

(BRASIL, 2014a, s.p).

A Lei traz ainda, no artigo 204, as ações governamentais na área da assistência social a

qual é realizada por meio do orçamento da Seguridade Social, entre outras, esta

compreendem:

Art. 204. As ações governamentais na área da assistência social serão

realizadas com recursos do orçamento da seguridade social, previstos no art.

195, além de outras fontes, e organizadas com base nas seguintes diretrizes: I

- descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as

normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos respectivos

programas às esferas estadual e municipal, bem como a entidades

beneficentes e de assistência social; II - participação da população, por meio

de organizações representativas, na formulação das políticas e no controle

das ações em todos os níveis.Parágrafo único. É facultado aos Estados e ao

Distrito Federal vincular a programa de apoio à inclusão e promoção social

até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, vedada a

aplicação desses recursos no pagamento de: I - despesas com pessoal e

encargos sociais; II - serviço da dívida; III - qualquer outra despesa corrente

não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados (BRASIL,

2014a, s.p).

Percebe-se assim, com subsídio da Constituição Federal de 1988, a instituição dos

direitos conquistados pela população brasileira, e com ela, no que se refere, sobretudo a

assistência social um marco de referência para a população que dela necessita. Dessa forma, o

assistencialismo, a benesse, a caridade dão lugar ao direito reconhecido. Como bem cita

30

Sposati: “A apresentação de motivos para a inclusão da assistência social na Constituição

repudia o conceito de população beneficiaria como marginal ou carente o que seria vitimá-la,

pois suas necessidades advêm da estrutura social e não do caráter pessoal” (SPOSATI, 2004,

p.42).

A partir de um viés crítico, a autora Couto (2004) faz uma análise da promulgação da

Constituição Federal e a via de direitos e a partir da necessidade desse reconhecimento e de

intervenção no social é que, segundo a mesma autora, deu-se o contexto: “[...] participação

política da sociedade brasileira, mas ao mesmo tempo, de pouca densidade de disputa de

projetos para a área da assistência social, o que pode ser creditado [...] as dificuldades de

concebê-la como campo de direito e política social [...]” (COUTO, 2004, p.169).Nesse sentido

“trata-se de uma relação que, sob a aparência de direitos de inclusão reitera a exclusão, pois

inclui de forma subalternizada, e oferece como benesse o que na verdade é direito” (YASBEK

apud COUTO, 2004, p.169).

Dessa forma, é que mais tarde com a promulgação da CF, a Assistência Social, integra

o tripé da Seguridade social e passa a fazer parte desta lei, por meio dos artigos 203 e 204

(citados acima). Sobre essa inovação na ótica de direitos, Couto (2004, p.170) relata:

[...] introduz o campo da assistência social como política social, dirigindo a

uma população antes excluída do atendimento na ótica dos direitos. Sua

definição impõe compreender o campo assistencial como o da provisão

necessária para enfrentar as dificuldades ou podem ser interpostas a qualquer

cidadão e que devem ser cobertas pelo Estado.

Assim, anos depois foi criada a Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) que trata

especificamente da Assistência Social e dá as providencias necessárias para a sua efetivação,

tema que trataremos a seguir.

2.2 A LEI ORGÂNICA DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (LOAS)

A Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS) nº 8.742/93 foi promulgada em 7 de

dezembro de 1993 e trouxe consigo regulamentações importantes para a área da Assistência

Social. A mesma foi promulgada no Governo de Itamar Franco e é posterior a Legião

Brasileira de Assistência - LBA.12

A LOAS, é instituída com o intuito de regulamentar os

12

A primeira grande instituição nacional de assistência social, A Legião Brasileira de Assistência, é organizada

em sequência ao engajamento do país na Segunda Guerra Mundial. Seu objetivo declarado será o de “Prover as

necessidades das famílias cujos chefes hajam sido mobilizados, e, ainda,prestar decidido concurso ao governo

31

artigos 203 e 204 da Constituição Federal de 1988, estas que tratam da proteção social e do

acesso aos direitos sociais previstos na lei. Alem de ter participação efetiva do Estado que se

responsabiliza pelo acesso a esta política, bem como ao enfrentamento da pobreza e da

desigualdade social em suas diversas formas.Nessa perspectiva, Sposati (2004) explicita:

A necessidade da criação de um sistema de assistência social

descentralizado, participativo e com garantias de alocação dos

recursos financeiros, superação da fragmentação, da descoordenação,

da superposição do programas sociais, introdução do controle do setor

publico sobre os recursos repassados ás entidades privadas com

mecanismos de avaliação e controle social, são todas demandas que

aparecem na argumentação do Senador e relator da Constituição [...]

(SPOSATI, 2004, p.42).

No artigo 2º da LOAS é especificado os objetivos da Lei Orgânica de Assistência

Social que corresponde a proteção social de diversos segmentos da sociedade:

Art. 2o A assistência social tem por objetivos: I - a proteção social, que visa

à garantia da vida, à redução de danos e à prevenção da incidência de riscos,

especialmente:a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à

adolescência e à velhice; b) o amparo às crianças e aos adolescentes carentes

c) a promoção da integração ao mercado de trabalho; d) a habilitação e

reabilitação das pessoas com deficiência e a promoção de sua integração à

vida comunitária; e e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício

mensal à pessoa com deficiência e ao idoso que comprovem não possuir

meios de prover a própria manutenção ou de tê-la provida por sua família; II

- a vigilância sócio assistencial, que visa a analisar territorialmente a

capacidade protetiva das famílias e nela a ocorrência de vulnerabilidades, de

ameaças, de vitimizações e danos; III - a defesa de direitos, que visa a

garantir o pleno acesso aos direitos no conjunto das provisões sócio

assistenciais. Parágrafo único. Para o enfrentamento da pobreza, a

assistência social realiza-se de forma integrada às políticas setoriais,

garantindo mínimos sociais e provimento de condições para atender

contingências sociais e promovendo a universalização dos direitos sociais

(BRASIL, 2014b, s.p).

No respectivo art 4º desta lei, estão referenciados os princípios da Assistência Social:

Art. 4º A assistência social rege-se pelos seguintes princípios: I - supremacia

do atendimento às necessidades sociais sobre as exigências de rentabilidade

econômica; II - universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o

destinatário da ação assistencial alcançável pelas demais políticas públicas;

III - respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a

benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e

em tudo que se relaciona ao esforço de guerra”. [...] a LBA começa a atuar em praticamente todas as áreas de

assistência social [...]” (IAMAMOTO,CARVALHO, 2009, p.250-251).

32

comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade;

IV - igualdade de direitos no acesso ao atendimento, sem discriminação de

qualquer natureza, garantindo-se equivalência às populações urbanas e

rurais V - divulgação ampla dos benefícios, serviços, programas e projetos

assistenciais, bem como dos recursos oferecidos pelo Poder Público e dos

critérios para sua concessão (BRASIL, 2014b, s.p).

Já no art 5º está descrita a forma de organização da assistência social enquanto

diretrizes desta lei e apresentam-se como:

Art. 5º A organização da assistência social tem como base as seguintes

diretrizes: I - descentralização político-administrativa para os Estados, o

Distrito Federal e os Municípios, e comando único das ações em cada esfera

de governo; II - participação da população, por meio de organizações

representativas, na formulação das políticas e no controle das ações em todos

os níveis; III - primazia da responsabilidade do Estado na condução da

política de assistência social em cada esfera de governo (BRASIL, 2014b,

s.p).

No capítulo IV desta lei estão dispostos os benefícios, serviços, programas e projetos

da assistência social. No art 23, afirma-se que os serviços socioassistenciais visam à melhoria

da vida da população, voltadas às necessidades básicas (BRASIL, 2014b).

Especificamente no artigo 24, a LOAS, faz referência aos programas da Assistência

Social, os quais compreendem: “[...] ações integradas e complementares com objetivos, tempo

e área de abrangência definidos para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os

serviços socioassistenciais” (BRASIL, 2014b, s.p).

A LOAS prevê ainda a organização do Conselho Nacional de Assistência Social

(CNAS) que esta disposta em conselhos municipais e estaduais, estes órgãos representativos

dão suporte as deliberações realizadas nas duas esferas de governo.

2.3 O NOVO DESENHO DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: A POLÍTICA NACIONAL DE

ASSISTÊNCIA SOCIAL E O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL

A Política Nacional de Assistência Social- PNAS surgiu a partir da resolução nº 145

de 15 de outubro de 2001 (DOU 28/10/2004) para tratar das questões ligadas a Assistência

Social e efetivar as suas ações, estas que, estão dispostas nas diretrizes da LOAS que se

tratam de uma política pública. A mesma foi pensada pelo Ministério de Desenvolvimento

Social e Combate a fome - MDS, com subsídio da Secretaria Nacional de Assistência Social-

SNAS e do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS. Essa experiência é fruto das

33

deliberações da IV Conferência Nacional de Assistência Social, realizada em Brasília, no mês

de dezembro de 2003. Para gestar esta política, segundo PNAS (2004), houve a

implementação do Sistema Único de Assistência Social- SUAS.

A PNAS considera como questão fundamental as desigualdades sócio-territoriais, à

garantia dos mínimos sociais, o atendimento que trate das condições à universalização dos

direitos sociais (BRASIL, 2014c). O público dessa política são os cidadãos e grupos que se

encontram em situações de vulnerabilidade e risco social. Ela significa garantir a todos, que

dela necessitam, proteção social. E tem como objetivos:

Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e,

ou, especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem;

Contribuir com a inclusão e a equidade dos usuários e grupos específicos,

ampliando o acesso aos bens e serviços socioassistenciais básicos e

especiais, em áreas urbana e rural;

Assegurar que as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade

na família, e que garantam a convivência familiar e comunitária (BRASIL,

2014c, p.33).

Através da PNAS a assistência social está dividida em áreas de proteção social em

duas modalidades, proteção básica e proteção especial, que integra ainda a proteção social

especial de média complexidade; e proteção social especial de alta complexidade, que são

decorrentes da conquista com base na LOAS e do SUAS.Sendo que a proteção social básica é

realizada pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), este que se constituí como

a “porta de entrada” dos usuários da política de assistência social. A proteção especial

compreende o atendimento assistencial àqueles que se encontram em situação de risco tanto

pessoal quanto social.

Como já mencionado, para a gestão da Política Nacional de Assistência Social foi

criado o Sistema Único de Assistência Social- SUAS, dessa forma este sistema propiciou

tratar das ações socioassistenciais, incorporou ainda serviços por níveis de complexidade. O

seu surgimento foi regulamentado pela Norma Operacional Básica NOB/SUAS e por outros

instrumentos reordenada a rede socioassistencial para o atendimento da população, segue

modelo de gestão unificado como vistas a garantir direitos (SILVEIRA; COLIN, 2007).

O SUAS trata-se de um sistema não contributivo, descentralizado e participativo que

visa materializar o que esta disposto na LOAS. A maneira de organização desse sistema é

feita com base no princípio de territorialização e a atenção às famílias. (BRASIL, 2014c) O

princípio de territorialização é visto como a maneira que está composto aquele território, sua

organização e os serviços, as funções desempenhadas e o número de pessoas que necessitam

34

do atendimento. É através deste sistema que é recolocado e reordenado os serviços prestados

para a viabilização da política de assistência social, haja vista as contribuições previstas na

LOAS.

O SUAS enquanto sistema recoloca a necessidade do controle social e da

participação dos usuários para a sua efetiva implantação. Assim, a potência

dos Conselhos e das Conferencias como espaço privilegiado de construção

da política retoma força na perspectiva do SUAS que reitera aquilo que já é

determinação legal a partir da LOAS (COUTO, 2006, p.35).

Nesse sentido, vale ressaltar que o SUAS envolve três questões importantes: “a) o

fundamento nos direitos humanos e sociais; b) o fundamento do Estado republicano e

democrático; c) o efetivo ingresso da assistência social no campo das políticas públicas”13

(SPOSATI, 2006, p.113). Pode-se dessa forma compreender que o SUAS sustenta-se em

virtude do acesso aos direitos humanos, a participação do Estado frente a composição de

programas e projetos para a efetivação do que está previsto em lei para efetivar a assistência

social como política pública.

A PNAS juntamente com o modelo de gestão do SUAS, traz também um enfoque

primordial na área de assistência social que é o trato da política de segurança alimentar,

constituição de direitos assegurado. Por esta política, por meio de programas e projetos

destinados a viabilizar o acesso a alimentação, entre outras necessidades.

De acordo com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS) 2004, a

política de transferência de renda se constitui em uma política de proteção

social no Brasil, na interface com o novo modelo de gestão da assistência

social– o SUAS, e ao lado da política de segurança alimentar. Isso pelo fato

da assistência social ser historicamente o espaço de operar benefícios,

serviços, programas e projetos de enfrentamento a pobreza, tendo, portanto,

a erradicação da fome como componente fundamental, o que mostra „que é

preciso articular distribuição de renda com trabalho social e projetos de

geração de renda com as famílias’ (NORA, 2012, p.94, grifos da autora).

Neste sentido, no próximo ponto abordaremos especificamente a respeito da segurança

alimentar e nutricional, bem como a política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional,

prevista na forma da Lei, para que, posteriormente, seja discutido o acesso a alimentação no

CRAS II – Jardim Europa, o qual se dá por meio do Projeto Cidadania e Segurança Alimentar

Conjuntural.

13

A política publica parte das ações públicas governamentais, tendo ou não a participação da sociedade civil e a

política social são aquelas desenvolvidas por meio de programas que visem o direito da população como saúde,

educação, habitação, etc.

35

2.4 SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL: PROPOSTAS E AÇÕES

Apresentaremos neste ponto as exposições e estudos ligados à segurança alimentar e

seus desdobramentos bem como, as estratégias adotadas pelo Estado para que sejam atendidas

a população que necessita destes cuidados, como exemplo, podemos citar o Programa Fome

Zero, criado em 2003, posteriormente expor a política ligada a segurança alimentar e

nutricional.

Muitos são os avanços no decorrer dos anos ao que diz respeito à efetivação dos

direitos da população ao acesso a alimentação. O reconhecimento desta necessidade humana

ocorreu mais precisamente no ano de 2010, por meio da nova emenda n 64/2010 da

Constituição Federal de 1988, que instaurou a alimentação, como um direito assegurado na

Lei que compreende:

Porém mesmo antes desta questão ser incorporada na constituição, programas

governamentais foram criados para tratar da necessidade de alimentação. Como exemplo,

podemos citar o Programa Fome Zero do Governo Lula, que tratou de incorporar a segurança

alimentar e nutricional em sua estratégia de governo:

Enfrentar esse tema na perspectiva de elaborar uma proposta de governo

implica trabalhar tanto a disponibilidade dos alimentos como o acesso das

populações a eles, com qualidade e quantidade suficiente para a ingestão dos

nutrientes necessárias para a nutrição humana . (Menezes, 2004, p.27).

Tem-se dessa forma a necessidade de oferecer a população a qualidade e quantidade

necessária de alimentação para que os indivíduos se desenvolvam de maneira saudável com

vistas a sobrevivência. Pois, sabe-se que, existe produção de alimentos necessária para

alimentar toda população do planeta, mas muitos seguimentos dessa população são privados

desse consumo. (MENEZES, 2004). Há então a criação de políticas que tem como principal

fundamentação discutir esse acesso, bem como criar meios para que esse acesso esteja de fato

acontecendo.

O destaque principal a estas políticas implantadas se deu nos anos 1990. No governo

de Fernando Collor, houve a reestruturação dos programas ligados à saúde e nutrição, mas

também houve o enfraquecimento de outras políticas, como o Programa Nacional de

Alimentação Escolar, o Programa de Alimentação do Trabalhador. (VALENTE,apud BELIK

etal, 2001).

36

Em 1995, o governo de Fernando Henrique Cardoso tratou de políticas adotadas,

focalizando em estratégias e ações de governo para com a população, incorporando programas

de complemento de renda, e a criação do Programa Comunidade solidaria, o qual trata-se de:

[...] uma nova fragmentação das políticas públicas de combate à fome, que

resultou, por exemplo, na extinção do Inan14

, em 1997, e na manutenção do

programa de distribuição de cestas básicas de forma instável e sujeito ao

calendário eleitoral. Em 1998, ano eleitoral, o governo distribuiu o recorde

de 30 milhões de cestas básicas (BELIK; SILVA; TAKAGI, 2001.s.p).

Segundo Menezes (2004, p.28) “[...] o Bolsa Alimentação, o Bolsa Escola, o Auxílio

Gás15

acabaram se tornando propriedades de áreas especificas, aprofundando ainda mais a

departamentalização das políticas sociais”. Em segundo lugar, Menezes se refere ao Cartão

Alimentação16

, o qual trouxe importantes contribuições para a criação de comitês gestores

para se obter o controle social. A conquista da criação destes comitês foram essenciais para

que a população pudesse participar do controle das ações desempenhadas pelo governo,

especificamente das políticas adotadas pelo mesmo.

Já o Programa Fome Zero aglutinou programas pontuais de transferência de renda,

criado pelo governo Lula no ano de 2003 trata de maneira muito diferenciada a questão da

fome, trouxe diversos avanços e possibilidades para a efetivação da política de segurança

alimentar e nutricional, bem como, tratar da pobreza nas suas mais variadas designações.

Segundo Néri (2004), no Governo Lula, a surpresa maior não foi econômica, mas sim social,

com vistas a combater a desigualdade. Nesse ponto de vista, tratar do social é combater a

miséria e a fome foram pontos cruciais desse governo.

A autora Aranha (2010) sintetiza um grupo de três políticas adotadas pelo presidente

Lula para empreender a política de Segurança Alimentar e Nutricional, são elas:

a) Políticas estruturais, voltadas para as causas mais profundas da

insegurança alimentar, a serem adotadas pelo governo federal de forma

articulada com estados e municípios, políticas agrícolas e agrárias, políticas

14

Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição. 15

hoje esses programas, chamados programas remanescentes, foram unificados ao Programa Bolsa Família.

Portanto, famílias beneficiárias de um ou mais de um desses antigos programas, tiveram seus cadastros

transferidos para o Cadastro Único e, aquelas que ainda se encontram em situação de vulnerabilidade, em

conformidade com os critérios de inclusão do PBF, passaram a receber o benefício do Programa Bolsa Família.

Essa troca foi feita sem que beneficiário perdesse recursos com a mudança de Programa (BRASIL, 2014, s.p). 16

no ano de 2003, foi criado o Cartão Alimentação, para famílias beneficiárias cuja renda per capita não

alcançava meio salário mínimo, a transferência monetária era de 50 reais, e deveria ser usada exclusivamente na

compra de alimentos (Soares; Sátyro, 2010).

37

de abastecimento, políticas de comercialização e distribuição dos alimentos,

políticas de geração de emprego e renda, políticas de educação e saúde.

b) Políticas especificas, destinadas a dar condições imediatas para que as

famílias que passam fome possam alimentar-se adequadamente (políticas de

transferência de renda para famílias em situação de pobreza, políticas de

distribuição de alimentos, políticas de segurança e qualidade dos alimentos).

c) Políticas locais, que tem por objetivo mobilizar os gestores estaduais

e municipais na promoção da segurança alimentar e nutricional de suas

populações (criar restaurantes populares e banco de alimentos, promover

feiras de produtores, promover assistência técnica aos agricultores familiares

(ARANHA, 2010, p.88-89).

O Fome Zero, via de Estado, mobilizou a sociedade enquanto política de renda,

encontra-se hoje condensada no Bolsa Família, que busca a aplicabilidade de recursos

financeiros na área social geridos também pelo Estado. Vale mencionar ainda que,

recentemente, houve integração das secretarias do Programa Bolsa Família, do Programa

fome Zero e do Ministério de Assistência Social no Ministério de Desenvolvimento Social e

Combate a Fome, como forma de unir diferentes políticas para que assim se possa avançar no

que se refere a programas e projetos cada vez mais eficazes (NÉRI, 2004).

2.4.1 A POLÍTICA NACIONAL DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL

O decreto nº 7.272 de 25 de agosto de 2010 regulamenta a Lei nº 11.346 de 15 de

setembro de 2006, que tem por objetivo criar o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional – SISAN. O qual visa assegurar o direito a alimentação adequada, e também

institui a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional- PNSAN (BRASIL, 2014d).

Em seu art 2º e 3 º respectivamente, estão referenciados os objetivos e diretrizes da

PNSAN o qual compreendem:

Art. 2o Fica instituída a Política Nacional de Segurança Alimentar e

Nutricional - PNSAN, com o objetivo geral de promover a segurança

alimentar e nutricional, [...] bem como assegurar o direito humano à

alimentação adequada em todo território nacional. Art. 3o A PNSAN tem

como base as seguintes diretrizes, que orientarão a elaboração do Plano

Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional:I - promoção do acesso

universal à alimentação adequada e saudável, com prioridade para as

famílias e pessoas em situação de insegurança alimentar e nutricional;II -

promoção do abastecimento e estruturação de sistemas sustentáveis e

descentralizados, de base agroecológica, de produção, extração,

processamento e distribuição de alimentos;III - instituição de processos

permanentes de educação alimentar e nutricional, pesquisa e formação nas

áreas de segurança alimentar e nutricional e do direito humano à alimentação

adequada;IV - promoção, universalização e coordenação das ações de

38

segurança alimentar e nutricional voltadas para quilombolas e demais povos

e comunidades tradicionais de que trata os povos indígenas e assentados da

reforma agrária;V - fortalecimento das ações de alimentação e nutrição em

todos os níveis da atenção à saúde, de modo articulado às demais ações de

segurança alimentar e nutricional; VI - promoção do acesso universal à água

de qualidade e em quantidade suficiente, com prioridade para as famílias em

situação de insegurança hídrica e para a produção de alimentos da

agricultura familiar e da pesca e aqüicultura; VII - apoio a iniciativas de

promoção da soberania alimentar, segurança alimentar e nutricional e do

direito humano à alimentação adequada em âmbito internacional e a

negociações internacionais baseadas nos princípios e diretrizes da Lei

no 11.346, de 2006; e VIII - monitoramento da realização do direito humano

à alimentação adequada (BRASIL,2014d, s.p).

Dessa forma fica instituído o compromisso de promoção da segurança alimentar e

nutricional, assegurando ainda o direito a alimentação. Nas suas diretrizes estabelecem-se as

bases para a elaboração do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Fica assim

assegurado o direito a alimentação em suas diversas formas tanto de acesso, produção

qualidade, quantidade.

A PNSAN tem ainda no art 4º os objetivos específicos que buscam:

I - identificar, analisar, divulgar e atuar sobre os fatores condicionantes da

insegurança alimentar e nutricional no Brasil;II - articular programas e ações

de diversos setores que respeitem, protejam, promovam e provejam o direito

humano à alimentação adequada, observando as diversidades social, cultural,

ambiental, étnico-racial, a equidade de gênero e a orientação sexual, bem

como disponibilizar instrumentos para sua exigibilidade;III - promover

sistemas sustentáveis de base agroecológica, de produção e distribuição de

alimentos que respeitem a biodiversidade e fortaleçam a agricultura familiar,

os povos indígenas e as comunidades tradicionais e que assegurem o

consumo e o acesso à alimentação adequada e saudável, respeitada a

diversidade da cultura alimentar nacional; e IV - incorporar à política de

Estado o respeito à soberania alimentar e a garantia do direito humano à

alimentação adequada, inclusive o acesso à água, e promovê-los no âmbito

das negociações e cooperações internacionais (BRASIL, 2014d, s.p).

Dessa forma desenvolvem-se serviços capazes de atuar frente aos fatores de

insegurança alimentar esta que corresponde também a falta de acesso ao alimento.

Corresponde também a proteção do direito a alimentação adequada observando e respeitando

todo o contexto social de cada família, as suas necessidades. Promover, desta forma, a

sustentabilidade na produção e disponibilidade e acesso aos alimentos. Esta política é

assegurada a todas as pessoas residentes no Brasil.

39

2.5 O CRAS E O PROJETO CIDADANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR

CONJUNTURA: A EXPERIÊNCIA DE TOLEDO/PR

O CRAS como já mencionado é a principal porta de entrada para o acesso aos serviços

da Assistência Social. Compreende nível de proteção básica, de base municipal, de

atendimento e prestação de serviços as famílias em situação de vulnerabilidade social. A

proteção social básica tem como objetivos:

[...] prevenir situações de risco por meio do desenvolvimento de

potencialidades e aquisições, e o fortalecimento de vínculos familiares e

comunitários. Destina-se à população que vive em situação de

vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda,

precário ou nulo acesso aos serviços públicos, dentre outros) e, ou,

fragilização de vínculos afetivos – relacionais e de pertencimento social

[...] (BRASIL, 2014c, p.34).

Dessa forma, o CRAS desempenha serviços17

, programas e projetos conforme a

situação de vulnerabilidade social, promovendo a assistência necessária tanto para o

acolhimento quanto para o atendimento social das famílias. Sendo assim:

[...]é por meio do CRAS que a proteção social da assistência social,

territorializa-se e aproxima-se da população, reconhecendo a existência das

desigualdades sociais daquela região. Observa-se, ainda, a importância de

políticas sociais para redução dessas desigualdades, prevenindo as situações

de vulnerabilidades e risco social, estimulando as potencialidades de cada

local e, com isso, modificando a qualidade de vida dos que vivem nessas

regiões (LIMA, 2013, p.26).

A referência quanto ao número de famílias atendidas nesse espaço é caracterizada,

com base na seguinte divisão:

Até 2.500 famílias;

2.501a 3.500 famílias

3.501 a 5.000 famílias (BRASIL, 2014g, s.p)

Para a execução dos serviços previstos para a área de assistência social e o

atendimento as famílias, a Norma Operacional Brasileira- Recursos Humanos (NOB-SUAS)

prevê que os CRASs devem atuar disponibilizando de uma equipe mínima que se

responsabilize pelo atendimento as famílias referenciadas aquele equipamento. Sendo assim,

17

Os serviços referenciados ao CRAS como, o PAIF e o Serviço de Fortalecimento de Vinculosserá detalhado

ainda neste capitulo, ao descrevermos a atuação do CRAS Europa.

40

conforme for a quantidade de famílias que o território demande será disposto a equipe

necessária para o atendimento.

Tabela 1- Equipe necessária no CRAS de acordo com a quantidade da população

Pequeno Porte I Pequeno Porte II Médio, Grande, Metrópole

e Distrito Federal

Até 2.500 famílias

referenciadas

Até 3.500 famílias

referenciadas

A cada 5.000 famílias

referenciadas

2 técnicos de nível superior,

sendo 1 assistente social e o

outro, obrigatoriamente,

psicólogo;

3 técnicos de

nível superior, sendo 2

assistentes sociais e,

obrigatoriamente1

psicólogo;

4 técnicos de nível superior,

sendo 2 assistentes sociais, 1

psicólogo e 1 profissional que

compõe o SUAS;

2 técnicos de nível médio. 3 técnicos de nível médio. 4 técnicos de nível médio.

Fonte: BRASIL, 2014g,s.p

Dimensionada as noções do que pretende o CRAS com suas atuações do sentido de

desenvolver serviços, programas e projetos vista a orientar famílias em situação de

vulnerabilidade social, abordaremos a seguir o CRAS correspondente a esta pesquisa

localizado no Município de Toledo- PR, bem como o movimento dos serviços, programas e

projetos desenvolvidos pelo mesmo, destacando com prioridade o Projeto Cidadania e

Segurança Alimentar.

Toledo é um município brasileiro do estado do Paraná que está localizado na região

oeste, faz parte de um eixo de desenvolvimento ligado ao agronegócio que concentra

cooperativas e outras empresas do ramo, tornando-o um dos maiores produtores de grãos do

estado. Sua população é de 130.295 habitantes, em 2014 conforme estimativa do IBGE.

Atualmente este município é composto por 23 bairros18

e 10 distritos.19

Toledo é considerado um município de grande porte, tendo em vista a sua população

de 130.295 habitantes, e contempla 5 CRAS distribuídos entre os bairros de maior

18

Centro, Cerâmica, Prata, Jardim Bressan, Jardim Concórdia, Jardim Coopagro, Jardim Europa/América, Jardim

Gisela, Jardim Independência, Jardim La Salle, Jardim Pancera, Jardim Parizotto, Jardim Panorama, Jardim

Porto Alegre, Jardim Santa Maria, Pinheirinho, Sadia, São Francisco, Tocantins, Vila Becker, Vila Industrial,

Vila Operária, Vila Pioneiro, Vila Paulista. 19

Concórdia do Oeste, Dez de Maio, Dois Irmãos, Novo Sarandi, São Luiz do Oeste, São Miguel, Vila Ipiranga,

Vila Nova e Novo Sobradinho, Bom Princípio.

41

vulnerabilidade social.20

Vale destacar que o CRAS II está localizado no Jardim Europa, e foi

inaugurado no município de Toledo no dia 14 de junho de 2008, numa perspectiva de efetivar

direitos sociais recomendados pela CF de 1988 e a Lei Orgânica da Assistência Social

(GARCIA;MATTE, 2012).

Atualmente este é o CRAS com maior demanda devido à realidade social do território

de abrangência, onde são atendidos pelo equipamento 14 bairros na zona urbana sendo eles:

Jardim Europa /América, Pinheirinho, Jardim Concórdia, Jardim Independência, Jardim Porto

Alegre, Jardim Bela Vista, Santa Clara III, Santa Clara IV, Vila Pedrini, Jardim Heloísa,

Jardim Careli, São Pelegrino e, os 05 distritos na área rural: São Luiz do Oeste, Ouro Preto,

Boa Vista, Vista Alegre, e Bom Princípio.

Os serviços que o integram são: o Serviço de Proteção e atendimento Integral a

Família- PAIF, e o Serviço de Fortalecimento de Vínculos. Com base na Tipificação Nacional

dos Serviços Socioassistenciais, que trata do texto da resolução nº 109, de 11 de novembro de

2009, o PAIF compreende:

[...] trabalho social com famílias, de caráter continuado,com finalidade de

fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura de seus

vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na

melhoria de sua qualidade de vida. [...] as ações do PAIF não devem possuir

caráter terapêutico (BRASIL, 2014h, p.6).

Suas ações então são desenvolvidas por meio do trabalho social com as famílias, de

maneira continuada e compreendem ações protetivas, possibilitando tratar do enfrentamento

da desigualdade social e das situações vivenciadas pelas famílias.

Já o serviço de Proteção e Fortalecimento de Vínculos, com base na tipificação

visa:“Serviço realizado em grupos, organizado a partir de percursos de modo a garantir suas

ações progressivas aos seus usuários, de acordo com o seu ciclo de vida, a fim de

complementar o trabalho social com famílias e prevenir a ocorrência de situações de risco

social” (BRASIL, 2014h ,p.9).

A organização dos serviços ofertados no CRAS possui como eixo central o Serviço de

Proteção de Atendimento Integral a Família – PAIF ofertando ações continuadas que visam a

proteção das famílias, o usufruto de seus direitos e de melhores condições de vida, e

20

Sendo o CRASI situado na Vila Pioneiro, O CRAS II, no bairro Jardim Europa/América, CRAS III no bairro

Coopagro e o CRAS IV no bairro Panorama. No ano de 2014, foi implantado o CRAS V, no Bairro Santa Clara

IV, a população atendida neste equipamento, era anteriormente atendida pelo CRAS Europa.

42

compreendem os serviços:21

[...] prestados por este equipamento tem como eixo central o

Serviço de Proteção de Atendimento Integral a Família – PAIF ofertando ações continuadas

que visam a proteção das famílias, o usufruto de seus direitos e de melhores condições de vida

[...] (GARCIA; MATTE, 2012,p.10) e envolvem:

Pré atendimento/recepção: trata-se do primeiro contato da família/ individuo

com o CRAS;

Escuta qualificada: primeiro diálogo com o indivíduo/família para conhecer a

situação social e econômica, sua história, necessidades para a realização de

encaminhamentos como: inserção em projetos e programas do CRAS,realização de

visita domiciliar e encaminhamentos a serviços de outras competências e instituições;

Atendimento social: Acolhimento, visitas domiciliares, concessão de benefícios

eventuais, encaminhamento para a rede socioassistencial;

Acompanhamento Familiar: Procura identificar as famílias que descumprem os

compromissos assumidos na assistência relacionados sobre tudo o Programa Bolsa

Família;

Visita Domiciliar: Visa aproximar o profissional da realidade vivenciada pelas

famílias do CRAS, avalia as necessidades dessas famílias;

Plano de Ação com a família: Busca fortalecer os vínculos familiares e

comunitários, autonomia familiar, referência a vínculos afetivos e sociais;

Reuniões e serviços sócio educacionais: Acompanhamento a jovens(referente as

condicionalidades da Bolsa Família), Programa Projovem e no próprio atendimento a

essas famílias;

Encaminhamento a política de Assistência Social e outras

políticas:Encaminhar os usuários aos serviços dos quais ele necessite;

Encaminhamentos para inclusão/ atualização do Cadastro Único: Inserir as

famílias no Cadastro Único para Programas Sociais (GARCIA; MATTE, 2012).

Referentes ao PAIF, são desenvolvidos os seguintes programas e projetos: Projeto

Fortalecendo a Família; Projeto Informar para a Cidadania; Projeto Cidadania e Direito ao

Trabalho; Projeto Cegonha Feliz; Projeto Oficina Cidadania e Direito Social-

Condicionalidades do Programa Bolsa Família; Programa de Qualificação Profissional;

Projeto: Oficina de Artesanato; Projeto: Cursos de Qualificação;Importante destacar ainda os

21

Estas informações estão contidas na documentação da Construção aproximativa com o campo de estágio.

43

programas e projetos prestados pelo Programa de Fortalecimento de Vínculos,que são: Projeto

Projovem Adolescente e Projeto Roda da Conversa.

Tratando especificamente do Projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural22

,

vale ressaltar que o mesmo é ofertado por todos os CRAS do município de Toledo- PR. O

mesmo atua na perspectiva do SUAS, com famílias e indivíduos de forma a garantir o acesso

aos direitos socioassistenciais, autonomia e segurança alimentar. Sendo assim, com base nos

direitos instituídos pela Constituição Federal, o Projeto Cidadania e Segurança Alimentar

Conjuntural foi proposto a fim de proporcionar a aqueles que necessitem o auxilio

alimentação, assegurado pelo Estado, o acesso a alimentação é concedido em curto período de

tempo com beneficio de uma cesta básica. (TOLEDO, 2011).

Esse benefício de cesta básica, é um auxílio alimentação que integra o rol dos

benefícios eventuais no campo da política socioassistencial. Os benefícios eventuais são

“benefícios da Política Nacional de Assistência Social de caráter suplementar e provisório,

prestados aos cidadãos e às famílias em virtude de morte, nascimento, calamidade pública e

situações de vulnerabilidade temporária” (BRASIL, 2014i, s.p).

Desse modo, o público alvo deste projeto visa atender de maneira gradual as “famílias

que apresentem situação temporária de desemprego ou outras vulnerabilidades, que

necessitem acompanhamento do serviço PAIF” (TOLEDO, 2011, p.10 ). Este projeto traz em

sua dimensão sócio assistencial o comprometimento de propor atividades de ações

socioeducativas 23e de qualificação profissional que visam principalmente, a inclusão social,

com principal objetivo de: Promover o acompanhamento e a inserção de famílias em situação

de vulnerabilidade temporária por período médio de 6 meses, com acesso aos serviços do

CRAS e segurança alimentar e ao Cadastro Único (TOLEDO, 2011, p.9).

O número de participantes neste projeto varia de mês para mês, mas em consulta as

listas de frequência, verificou-se que em média cerca de 70 pessoas comparecem as reuniões a

cada mês. O projeto não possui metas fixadas de quantidade das famílias participantes neste

CRAS, pois são inseridas com base nas análises realizadas pelo profissional assistente social.

A metodologia utilizada como mencionado parte de ações socioeducativas e

contempla ainda, geração de renda e qualificação profissional e visa as

seguintes etapas: recepção, escuta qualificada e cadastramento das famílias,

levantamento e identificação das necessidades das famílias, visita domiciliar

22

O Projeto Cidadania e Segurança Alimentar é efetuado por todos os CRAS do Município de Toledo. 23

As ações socioeducativas são ofertadas por meio de palestras e oficinas referentes a diversos temas como

saúde, educação, meio ambiente, entre outros planejadas pela assistente social e/ou psicóloga e quando

necessário são convidados profissionais de varias áreas para ministrá- las.

44

para avaliação situacional, inserção no projeto, elaboração do plano de ação

com família e encaminhamento diversos (TOLEDO, 2011, p.11).

As parcerias deste projeto incluem equipamentos voltados ao encaminhamento e

acompanhamento de famílias aos cursos de qualificação profissional: “(SENAI);

encaminhamento dos usuários para o mercado de trabalho (SINE) e profissionais de

equipamentos públicos, profissionais e acadêmicos das universidades para o desenvolvimento

de palestras e oficinas” (TOLEDO, 2011, p.11)

A avaliação do projeto é feita semestralmente e parte da ficha de avaliação dos

participantes, e da equipe responsável pela coordenação do mesmo, para avaliar o andamento

do projeto bem como propor novas ações.

Apresentado o Projeto Cidadania e Segurança Alimentar, seu objetivo e suas

fundamentações, no próximo capítulo será realizada a análise e tratamento de dados da

pesquisa com os entrevistados participantes deste projeto.

45

3 APRESENTANDO OS DADOS DA PESQUISA

O terceiro capítulo deste Trabalho de Conclusão de Curso contempla a apresentação e

a análise dos dados coletados na pesquisa empírica realizada junto aos beneficiários do

projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural do CRAS II – Município de Toledo.

A análise partirá das falas dos sujeitos participantes da pesquisa, considerando assim, a

possibilidade de conhecer a realidade a qual estão inseridos, as condições objetivas que

levaram a busca pelo benefício, o reconhecimento ou não deste benefício como direito, além

de verificarmos a possibilidade de atendimento do objetivo de promover a autonomia destes

sujeitos.

Para tanto, esta investigação é pautada no rigor teórico e crítico, para assim, dar

respostas a pesquisa de maneira detalhada obtendo os significados dela decorrentes.

Estruturalmente, iniciamos pela explicitação dos caminhos metodológicos da pesquisa e, em

seguida, a análise e interpretação dos dados que contemplam as perguntas feitas aos

entrevistados.

3.1 METODOLOGIA UTILIZADA E CAMINHO DA PESQUISA

A metodologia segundo Minayo (1994, p.22) é o “[...] caminho e o instrumental

próprios da abordagem da realidade [...]” na qual se deseja intervir. Refere-se às técnicas que

possibilitam a compreensão da realidade e os avanços do pesquisador para obter o

conhecimento do assunto a ser investigado. A pesquisa “[...] é uma atividade de aproximação

sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e

dados”. (MINAYO, 1994, p.23) de maneira que o pesquisador se identifique com o que se

propõe a analisar.

Dessa forma, a escolha da pesquisa, partiu da vivência a partir do período de estágio

curricular obrigatório no Centro de Referência de Assistência Social –CRAS II- Jardim

Europa- Toledo-PR. Diante das indagações a partir do problema abordado, o objetivo do

trabalho é responder em que medida o recebimento da cesta básica favorece ou não o

desenvolvimento da autonomia dos participantes do projeto Cidadania e segurança Alimentar

Conjuntural do CRAS II do Jardim Europa no município de Toledo/PR.

A partir destas indagações foi traçado como objetivo geral desta pesquisa:analisar em

que medida o processo do recebimento da cesta básica promove a pretensa autonomia dos

sujeitos participantes do projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural do CRAS II

46

Jardim Europa- Toledo- PR. Como objetivos específicos fica proposto os seguintes pontos: 1-

Compreender a pobreza como um produto da sociedade burguesa, ou seja, como resultado da

contradição própria do modo de produção capitalista; 2- Conhecer os marcos normativos da

Política de Assistência Social e da política de Segurança Alimentar, bem como compreender o

significado destas políticas sociais na sociedade brasileira; 3- Investigar a compreensão que os

usuários têm sobre o beneficio da cesta básica.

A metodologia adotada para a realização da pesquisa é de caráter exploratório, pois

primeiramente deve-se conhecer o objeto a ser pesquisado, obtendo contato e norteando os

caminhos a serem percorridos na pesquisa. Segundo Gil (2010) esse tipo de pesquisa “tem

como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias tendo em

vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos

posteriores” (GIL, 2010, p. 27).

A pesquisa obteve enfoque qualitativo, o qual pretende mostrar a relação entre a

realidade e o sujeito presente na dinâmica que se busca conhecer, ou seja, como o acesso a

cesta básica promove a pretensa autonomia dos sujeitos pesquisados.

De início, foi feito a revisão bibliográfica para recorrer ao que já há de escritos sobre o

tema, para posteriormente seguir de base para a análise de dados desta pesquisa. Foram

utilizados nesta etapa, livros, legislações, artigos, projeto Cidadania e Segurança Alimentar.

Para a construção do referencial teórico foram definidas as categorias e respectivos autores:

pobreza e desigualdade, os autores Abranches (1998) e Yasbek (1996) e referente à fome o

autor Ziegler (2013).

Posteriormente a análise teórica, partiu-se para a pesquisa de campo realizada na

forma de entrevista. Para a coleta de dados, tendo como instrumento um roteiro com questões

abertas e fechadas que, possibilita aos sujeitos da pesquisa o diálogo aberto, buscando a

espontaneidade das respostas. A entrevista segundo Gil:

Pode ser entendida como a técnica que envolve duas pessoas numa situação

“face a face” em que uma delas formula questões e a outra responde

formulário, por fim pode ser definido como a técnica de coleta de dados em

que o pesquisador formula questões previamente elaboradas e anota as

respostas (GIL, 2009, p.115).

Anteriormente a realização da pesquisa, o projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética24

e pesquisa da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste e, assinado um

24 Número do CAAE: 30973414.7.0000.0107

47

documento pelos responsáveis pelo local da pesquisa. Foi realizado contato prévio com os

entrevistados por meio de contato telefônico e assim, Foi mencionado o objetivo da pesquisa e

dessa forma, se deu o agendamento de horários. Aqueles que não foram possível obter o

número de telefone foi feita a busca ativa no dia da entrevista. Destes 5 foram contatados por

meio telefônico e 3 por meio da busca ativa, tendo no total 8 entrevistas. Todas as entrevistas

foram realizadas na casa dos sujeitos. Vale destacar que todas as entrevistas foram feitas com

mulheres, pois não foi possível localizar o endereço dos dois homens que estavam aptos a

participar da pesquisa.

Foi determinado os seguintes critérios de inclusão e exclusão para a execução da

pesquisa:

Os sujeitos da pesquisa serão inclusos a partir dos seguintes critérios:

Participantes do Projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural no período

março a outubro de 2013;

Nome do membro da família que estiver cadastrado no projeto;

Famílias que concordarem em participar da pesquisa; Duas famílias por mês de

inclusão no Programa nos meses de março, abril, maio e junho de 2013, sendo

preferencialmente uma delas com permanência de até 6 meses e outra com permanência maior

que este período.

Referente aos critérios de inclusão tem- se:

Pessoas que não participam do projeto Cidadania e Segurança Alimentar

Conjuntural;

Pessoas inseridas no projeto em períodos que antecedem a março de 2013;

Famílias que não concordarem em participar da pesquisa.

Para a realização das entrevistas foi necessário adotar como referência o Termo de

Consentimento Livre e Esclarecido –TCLE, o qual foi devidamente aprovado e assinado pelo

CEP. Este documento foi apresentado e assinado por cada participante da pesquisa, antes da

coleta de dados. No mesmo foi mencionado o objetivo da pesquisa, bem como os riscos e

benefícios, o TLCE foi assinado em duas vias.25

A fim de obter maior fidedignidade nas

respostas dadas pelos entrevistados, foi empregado o uso de gravador. De posse da coleta de

dados, as gravações foram devidamente transcritas e tabuladas.

O universo da pesquisa compreende 8 famílias, beneficiárias do Projeto Cidadania e

Segurança Alimentar Conjuntural do CRAS II no ano de 2013. A amostra compreende: 2

25

Uma das vias foi entregue a cada entrevistada

48

famílias que iniciaram sua participação neste projeto no mês de março, 2 no mês de abril. 2 no

mês de maio e 2 no mês de junho, no ano de 2013. Os entrevistados foram identificados a fim

de manter sua identidade, com a nomenclatura: p1; p2 e assim sucessivamente, que designa o

número da pessoa entrevistada.

De posse dos dados obtidos os mesmos serão analisados e tratados com o rigor teórico

ao que se aproxima destas respostas. Ou seja, trata-se da análise de dados, que consiste em

trabalhar sistematicamente o material coletado articulando a teoria e os dados da realidade,

bem como o aprofundamento e revisão da literatura.

Por se tratar de uma pesquisa qualitativa, o tratamento dos dados será feito através da

análise de conteúdo:

A análise de conteúdo parte de uma literatura de primeiro plano para atingir

um nível mais aprofundado: aquele que ultrapassa os significados

manifestos. Para isso a analise de conteúdo em linhas gerais relaciona

estruturas semânticas (significados) com estruturas sociológicas

(significados) dos enunciados. Articula a superfície dos textos descrita e

analisada com os fatores que determinam suas características: variáveis

psicossociais, contexto cultural, contexto e processo de produção da

mensagem (MINAYO, 1994, p.203).

3.2 A PESQUISA E OS SUJEITOS: ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

Primeiramente, como já mencionado, foram entrevistados 8 sujeitos participantes do

Projeto Cidadania e Segurança Alimentar do CRAS II no ano de 2013, todos do sexo

feminino. Sobre a idade das entrevistadas: 4 delas possuem entre 31 e 37 anos e outras 4 tem

entre 44 e 58 anos.

Referente ao nível de escolaridade observa-se que destas, duas não possuem grau de

escolaridade, portanto, não são alfabetizadas; 4 frequentaram a escola entre a 1ºsérie e a 3º

série do ensino fundamental, uma estudou até a 8º série e somente uma das entrevistas chegou

até o ensino médio, porém sem concluí-lo; ou seja, nenhuma das entrevistadas concluiram o

ensino médio.

A educação abre as portas para o conhecimento e oferece ao indivíduo e a sociedade

como um todo o crescimento intelectual e financeiro, no jargão popular é a “semente que

produz muitos frutos”. Por meio da educação temos contato com uma forma peculiar de

conhecimento do mundo, que amplia as possibilidades de acesso e inserção no mercado de

trabalho e renda, e consequentemente, possibilidade de melhores condições de vida e

49

mobilidade social26

. Dessa forma, boa parte daqueles que tiveram acesso mínimo escolar na

infância ou que não frequentaram os bancos escolares, tem muitas vezes, a inserção no

mercado de trabalho restrita, limitada, pois não possuem mão de obra qualificada para

prestação de serviço, e, com isso recebem renda insuficiente para a sua subsistência e

necessitam recorrer aos programas sociais do governo.

Em contraste com as informações coletadas, está o fato do município de Toledo-PR

apresentar um alto nível no Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, o qual contempla três

dimensões básicas do desenvolvimento humano: saúde, educação e renda. Assim, o IDH é

uma:

[...] medida resumida do progresso a longo prazo em três dimensões básicas

do desenvolvimento humano: renda, educação e saúde. O objetivo da criação

do IDH foi o de oferecer um contraponto a outro indicador muito utilizado, o

Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão

econômica do desenvolvimento. (BRASIL, 2014j, s.p).

O Município, em 2010, segundo dados do Programadas Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD), encontrava-sena posição nº249 no ranking de desenvolvimento

humano dos municípios do Brasil (IDHM)27

com índice geral de 0,768 , e relacionado a

educação com índice de 0,702.

Como esta pesquisa foi feita com pessoas já na fase adulta, maiores de 25 anos, vale

demonstrar como está o grau de escolaridade desta faixa etária no Município de Toledo-PR no

ano de 2010, de acordo com o gráfico428

:

26

A compreensão da importância da educação na vida dos sujeitos não significa coloca-la como mecanismo de

equalização de oportunidades, conforme prega o pensamento liberal, tampouco atribuir a educação o papel de

superação das desigualdades sociais. Apenas reconhecer a educação como importante instrumento de acesso ao

conhecimento científico produzido historicamente e como mecanismo que possibilite certa autonomia de escolha

dentro dos limites da sociabilidade burguesa. 27

http://www.pnud.org.br/atlas/ranking/Ranking-IDHM-Municipios-2010.aspx. Acesso em 05 de out.2014

28A designação OUTROS não foi especificada na fonte da pesquisa, mas pode-se supor que esteja tratando dos

dados incompletos (fundamental, médio e superior incompletos.

50

Gráfico 4 - Nível de escolaridade dos habitantes de Toledo –PR, no ano de 2010

Fonte:Pnud, Ipea e FJP apud Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013Disponível em:

http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil/toledo_pr. Acesso em: 25 de out.2014.

Considerando a amostragem da nossa pesquisa, na qual 25% (vinte e cinco porcento)

são analfabetas; 50% possuem o ensino fundamental incompleto; 12,5% possui o ensino

fundamental completo; 12,5% tem o ensino médio incompleto; e comparando com os dados

da educação de Toledo-PR à adultos maiores de 25 anos,verifica-seque o grau de escolaridade

das entrevistas é bem inferior Ao mostrado no gráfico.

As transformações na sociedade capitalista nas últimas décadas refletem na

diminuição das famílias, na queda do índice demográfico e na taxa de fecundidade. (NORA,

2014). Dessa forma, pode-se compreender que tanto estes dados como a pesquisa apontam

para a falácia do senso comum que atribui aos pobres o aumento do número de filhos visando

benefícios sociais.

Outro aspecto que indagamos se refere à renda mensal das famílias que varia entre R$

1.444,00 até casos sem nenhuma renda, conforme mostra o gráfico 5 abaixo:

51

Gráfico 5 – Renda atual dos entrevistados tendo como referência o Salário Mínimo

Nacional

Fonte: Produção nossa

Tendo como referência o gráfico acima, pode-se dimensionar o nível de renda de cada

família atualmente, sendo assim, o maior percentual de renda está concentrado entre 1 salário

mínimo e um salário mínimo e meio. Os que recebem até meio salário contabilizam 25%. E

as rendas que variam entre meio salário a 1 salário mínimo e 1 salário mínimo e meio e

totalizam também 25%. A família a qual não possui renda tem valor estimado em 12%.

A renda das famílias é proveniente da inserção no campo da proteção social, seja

mediante direitos socioassistenciais, seja mediante direitos previdenciários; da solidariedade

da comunidade; da inserção precária no mercado de trabalho via informalidade, pois, não há

renda proveniente da inserção no mercado formal de trabalho. As falas a seguir ilustram este

cenário:

“hoje eu trabalho como babá, to ganhando R$ 400,00 e o meu filho

recebe pensão, hoje ele recebe R$ 500,00, pois aumentou o

valor”.(p1)

“dá R$722,00 dos dois, dá mil e pouco, uns1.400,00. [...] meu marido ficou

doente e foi “encostado” pelo INSS, e minha filha recebe o benefício pra

pessoa que tem deficiência. Como eu não posso trabalhar porque to doente,

minha renda vem daí”(p2)

52

“nada, não tenho renda nenhuma. O que eu ganho vem de doações dos

amigos e vizinhos [...] recebo bolsa família, mas foi cortado não sei

porque”.(p5)

“eu recebo do bolsa família, é a única renda que tenho, eu não lembro bem

certo, mas era150,00 e aumento R$ 100,00 reais, da uns R$ 250,00 por

mês.[...] não posso trabalhar”.(p6)

O IDHM do Município de Toledo-PR em 2010 quanto a renda per capita por habitante

é estimado em R$ 876,72.29

o que demonstra que a renda das entrevistas é bem inferior.

Uma questão que levantamos junto aos beneficiários foi com relação à busca por

atendimento do serviço de proteção social básica, a fim de verificar os principais motivos que

levaram a procurar o CRAS. Entre as demandas apresentadas, as principais são:

“Eu vou lá por todo qualquer motivo né, eu fui lá pra fazer a segunda via

do registro do meu filho, e eu preciso da assistente social e também a cesta

básica”. (p4)

“foi a questão de necessidade né, consegui a cesta básica, baixa renda da

luz, fiz o cadastro único. Consegui também o bolsa família mas ele foi

cortado a um tempo atrás, mês que vem está agendado pra fazer o

recadastramento” (p5).

“quando eu procurei o CRAS foi por que eu tava necessitada ne, no

momento só eu tava trabalhando,meu marido tava desempregado,[...]. Fui

lá e eles me deram. E eu recebia também o bolsa família por uns 7 anos eu

recebi, mas daí cortaram “[...](p8)

“a assistente social ficou sabendo da minha dificuldade, ela veio aqui, ela

me trouxe a cesta básica.”(p2).

As buscas por atendimento no CRAS foi realizada de modo espontâneo pela maioria

das entrevistadas. As dificuldades para o mantimentos básicos as levaram a procurar o

programa governamental, sendo assim tiveram acesso aos serviços prestados de modo a

garantir documentação, auxílio a alimentação e aos programas de transferência de renda,

incorporados via Cadastro Único. Outra forma a qual foi prestado atendimento a família foi

por meio de contato telefônico de vizinhos, que levou a assistente social a fazer visita

domiciliar e que, ao fazer busca ativa constatou a real dificuldade da família em prover a

alimentação, e a mesma foi inserida no Projeto Cidadania e Segurança Alimentar.

29

http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil/toledo_pr. acesso em 12 de out.2014

53

Sendo assim, pode-se constatar que não há por parte das famílias, como prover o

atendimento dos mínimos sociais, de demandas que são emergenciais, como a alimentação,

assim este benefício é então ofertado por meio da provisão básica da assistência social.

Sobre a oferta de mínimos sociais com base no que preconiza a LOAS no artigo 1º30

Pereira (2007, p.26, grifos do autor) relata:

Mínimo e básico, são na verdade, conceitos distintos pois, enquanto o

primeiro tem a conotação, de menor, de menos, em sua acepção mais ínfima,

identificada com patamares de satisfação de necessidades que beiram a

desproteção social, o segundo não. O básico expressa algo fundamental,

principal, primordial que serve de base de sustentação indispensável e

fecunda ao que a ela se acrescenta. Por conseguinte, a nosso ver, o básico

que na LOAS qualifica as necessidades a serem satisfeitas (necessidades

básicas) constitui o pré requisitos ou as condições prévias suficientes para o

exercício a cidadania em acepção mais larga. Assim, enquanto o

mínimopressupõe supressão ou cortes de atendimentos, tal como propõe a

ideologia liberal, o básico requer investimentos sociais de qualidade para

preparar o terreno a partir do qual maiores atendimentos podem ser prestados

e otimizados.

Os entrevistados, ao serem questionadas sobre o mantimento das necessidades básicas

antes da inserção no projeto, elas relataram algo em comum: o fato de alguém da família estar

inserido no mercado de trabalho. Porém devido ao fato desta inserção ser de modo precário ou

informal, a ocorrência de incapacidade proveniente de condição de saúde fez com que

ficassem sem renda ou com renda muito baixa, resultando na necessidade de buscar

atendimento ao CRAS.

“antes de eu receber a cesta básica meu marido trabalhava, daí eu

mantinha né, depois que ele ficou doente a gente passou a receber a cesta

básica “(p2).

“olha, eu só tenho um ano e meio que moro aqui, antes eu não morava aqui,

eu morava com minha mãe em Cuiabá, e daí eu não pagava aluguel, hoje

eu estou pagando R$ 350,00 de aluguel, fora luz e água .”(p3).

30

Art. 1º A assistência social, direito do cidadão e dever do Estado, é Política de Seguridade Social não

contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através de um conjunto integrado de ações de iniciativa

pública e da sociedade, para garantir o atendimento às necessidades básicas (BRASIL, 2014b, s.p).

54

“antes eu trabalhava de doméstica , mas daí eu cai de cama com

problema de coluna, fiquei dois meses de cama e não pude mais

trabalhar “(p5).

“quando eu trabalhava de diarista daí eu não precisava pegar né,, e quando

faltou eu fui procura o CRAS. A moradia tenho casa própria [...]hoje tenho

depressão não consigo trabalhar “(p6).

As condições as quais boa parte destas famílias estão inseridas no mercado de

trabalho, ocorrem de modo informal, ou seja, sem vínculo empregatício. Dessa forma muitos

não têm o acesso a benefícios previdenciários, há uma relação com a negação do seguro social

uma vez que as incapacidades para o trabalho só são garantidas via política contributiva por

meio da previdência social, assim aqueles que trabalham de modo formal tem seus direitos

assegurados pela proteção social e os que não contribuem são assistidos com os benefícios da

proteção social via política de assistência social.

Antunes (1997) aborda a precarização da força de trabalho no capitalismo

contemporâneo, diante das transformações socorridas no mundo do trabalho. Essas

transformações ocasionaram de um lado, a desproletarização do trabalho industrial fabril no

capitalismo avançado e também uma subproletarização intensificada, em virtude do trabalho

parcial, temporário, precário, subcontratado, terceirizado, marcas do capitalismo avançado

(ANTUNES, 1997).

Nesse sentido, o desemprego e o subemprego, ou seja, a não inserção ou inserção

precária no mercado de trabalho é uma característica das sociedades periféricas a medida que

se intensificaram as expressões da questão social. Desse modo, as políticas socioassistenciais

são fundamentais para garantir o mínimo de sobrevivência, pois se inscrevem no campo da

provisão social e do enfrentamento às condições agudas de exclusão do modelo de produção

capitalista.

Com relação ao tempo de participação e permanência no projeto Cidadania no ano de

2013, podemos observar, conforme ilustra o Gráfico 6que a maioria das participantes, (75%),

permaneceu no projeto pelo tempo estimado de 6 meses, sendo que 62,5% do total

permaneceram por até 4 meses.

55

Gráfico 6 – Tempo de participação no projeto no ano de 2013

Fonte: Produção nossa

A participação no projeto Cidadania e Segurança Alimentar é estimada pelo tempo

aproximado de 6 meses, tem-se o acompanhamento neste projeto, ao atendimento da

assistente social por meio de visitas domiciliares e também da psicóloga se necessário a fim

de instruírem as famílias, dar os devidos encaminhamento a outras políticas públicas para que

a situação de vulnerabilidade social possa ser enfrentada. Em virtude disso é que são

incorporadas no projeto as reuniões socioeducativas, acesso ao cadastro único e seus

programas e interação social.

Esse dado da permanência, associado ao dado atual da renda (conforme exposto

anteriormente), mostra a brevidade do benefício quando articulada a outras ações que

garantam a integralidade e a intersetorialidade das políticas sociais, o que significa que a

necessidade de atendimento foi pontual e focalizada atuando frente à necessidades

temporárias das famílias, porém buscando estratégias que garantissem a autonomia.

Segundo Doyal e Gough (1991,apud PEREIRA,2007,p.70) a autonomia.ӎ a

capacidade do individuo de eleger objetivos e crenças, de valorá-los com discernimento e de

pô-los em pratica sem opressões”.

Dessa maneira, segundo os dados obtidos, a maioria das famílias entrevistadas superou

as condições emergenciais as quais se encontravam naquele momento, principalmente de

emprego, visto que, o provimento de renda dessas famílias está integrado ao campo da

proteção social, o que evidencia que a inserção no projeto cidadania possibilitou uma

integralidade no atendimento, viabilizando assim, o acesso a outros direitos que estavam

56

sendo negados como (o auxílio doença, bolsa família, BPC) e ainda a melhoria de condições

via mercado de trabalho. Dessa forma, há a consolidação do caráter transversal e intersetorial

da política de Assistência Social.

Com base no gráfico apresentado, podemos observar que a maioria das participantes,

(75%) permaneceram no projeto pelo tempo estimado de 6 meses, sendo que 62,5% do total

permaneceram por até 4 meses. Esses dados mostram a brevidade do benefício, ou seja, a

necessidade de atendimento pontual e focalizado, atuando frente às necessidades temporárias

das famílias naquele período.

A participação no projeto Cidadania e Segurança Alimentar é estimada pelo tempo

aproximado de 6 meses, tem-se o acompanhamento neste projeto, ao atendimento da

assistente social por meio de visitas domiciliares e também da psicóloga se necessário a fim

de instruírem as famílias, dar os devidos encaminhamento a outras políticas públicas para que

a situação de vulnerabilidade social possa ser enfrentada. Em virtude disso é que são

incorporadas no projeto as reuniões socioeducativas, acesso ao cadastro único e seus

programas e interação social.

Dessa maneira, segundo os dados obtidos a maioria das famílias entrevistadas superou

as condições emergenciais as quais se encontravam naquele momento, principalmente de

emprego visto que, o provimento de renda dessas famílias está integrado ao campo da

proteção social, o que evidencia que a inserção no projeto cidadania possibilitou uma

integralidade no atendimento, viabilizando assim, o acesso a outros direitos que estavam

sendo negados como (o auxílio doença, bolsa família, BPC) e ainda, a melhoria de condições

via mercado de trabalho. Dessa forma há a consolidação do caráter transversal e intersetorial

da política de Assistência Social.

A constituição da rede de serviços que cabe à assistência social prover, com

vistas a conferir maior eficiência, eficácia e efetividade em sua atuação

especifica e na atuação intersetorial, uma vez que somente assim se torna

possível estabelecer o que deve ser de iniciativa desta política pública e em

que deve se colocar como parceira a execução (PNAS, 2014c,p.15).

Porém, do mesmo modo em que as condições objetivas são alteradas na correlação

entre as políticas, também quando há a negação ou o não atendimento dos critérios de

elegibilidade, a vulnerabilidade volta a imperar como determinante para o acesso ao auxilio

alimentação, necessidade esta, que é primeira e emergencial na vida dos sujeitos. Portanto,

vale destacar que as famílias inclusas neste projeto são inseridas e desligadas conforme se

57

alteram suas reais necessidades. Sendo assim, algumas das famílias embora acompanhadas no

período estimado, foram reinseridas neste ano de 2014.

“sim eu continuo, porque preciso, não posso trabalhar tenho problema nos

braços, sinto muita dor “(p4.)

“sim, porque a advogada ta me enrolando pra me”encostar pelo INSS”, foi

passado pelo CRAS já faz 3 anos que to esperando e nada ainda, a gente

arruma todos os papéis de todo lado e nada. A sobrinha do meu marido que

ta pagando meu INSS e o dele também, mas não sai, eu precisava faze um

plano de saúde , mas de que jeito, eu sinto muita fraqueza, e compra

remédio como? Da onde? Se não posse minha filha compra um remédio pra

coluna que eu precisava eu não sei o que ia fazer. Então a cesta básica eu

ainda preciso muito “(p7).

“sim, eu vou um mês sim, um mês não,[...] como eu não posso trabalhar

porque tenho depressão “(p3.)

As falas das entrevistadas trazem em comum, o fato de ambas terem problemas de

saúde, os quais continuam a impossibilitá-las ao trabalho, há a demora ou obstaculização do

atendimento junto ao campo da previdência social. Outro aspecto que buscamos compreender

junto às entrevistadas foi com relação ao significado de receber/ter recebido o auxílio

alimentação.

“pra mim foi ótimo né porque foi uma ajuda que eles podem dar pras

pessoas né. E tem varias pessoas que necessitam desta cesta básica, eu

mesma fui uma delas” (P2.)

“foi muita ajuda pra mim, assim não precisei comprar ne, nem pedir ajuda

pra ninguém, assim ajudava eles e eu também. (amigos e vizinhos) “(P5)

.

“me ajudou bastante, porque hoje não está fácil a vida, sempre tem um

remédio, o gás, fruta, mistura. E a cesta já me ajuda, eu agradeço ao CRAS,

porque não é fácil “(P3).

Por meio das falas das entrevistadas, percebe-se que as mesmas não compreendem o

benefício da cesta básica como um direito a alimentação assegurada a elas e sim caracteriza- a

como ajuda. Esse “pensamento” é parte de um processo histórico, visto que as formas

anteriores de prestar atendimento as famílias eram feitas por meio da caridade e benesse, ou

seja, na forma de assistencialismo, por „parte da igreja católica, que mais tarde foi se

desenvolvendo para ações voltadas ao Estado, que como mencionado no 1 capítulo criou

políticas sociais para dar conta das necessidades da população. A objetivação dessas ações

enquanto direito só foi possível com a promulgação da CF de 1988.

58

Sobre a forma assistencialista Alayon (1995) faz referência que o assistencialismo não

compreende só as formas de ajuda anteriores ao Serviço Social, mas que muitas vezes, ainda

estão presentes. Essa ideia assistencialista voltada ao favor, a ajuda está enraizada na

ideologia que, grande parte dos usuários tem sobre a política de Assistência Social e suas

ações. Sendo assim, não a compreendem como direito a alimentação e as outras formas de

atendimentos prestados pelo CRAS.

Indagamos ainda sobre o nível de suficiência da cesta básica para atendimento das

necessidades familiares, boa parte das entrevistadas mencionaram que os produtos, incluídos

na cesta básica nem sempre são suficientes para atender as prioridades como alimentação e

mencionam ainda a falta de outros produtos os quais consideram básicos.

“olha considero boa, mas acho que falta produto de limpeza né, e uma lata

de óleo pro mês inteiro não é suficiente, é muito pouco, depende a família a

gente sabe que falta. Tem que vim mais produto né, é muito fraco”(p5)

“eu acho que falta algumas coisas, os produtos que a gente usa mais tipo

arroz e feijão é pouco” (p8).

“Foi muito importante sim por que era o que estava necessitando no

momento e eles me ajudaram, me selecionaram. Considero que o beneficio

foi suficiente pois somos em 2 pessoas em casa” (p1.)

“ acredito que falta produto de limpeza, isso não tem “(p4).

A partir dos relatos das entrevistadas sobre a satisfação com a cesta básica, as

denominações “é pouco” e “muito fraco” aparece com maior frequência e dimensionam que

os produtos são, muitas vezes, insuficientes para atender as necessidades básicas das famílias

durante todo o mês, os itens das quais sentem falta são os produtos de limpeza e alguns

alimentos que são utilizados com mais frequência como arroz e feijão.

Vale mencionar que, a mesma cesta básica é ofertada para famílias de uma, duas

pessoas e também sete ou oito pessoas e o grau de suficiência e satisfação das famílias podem

ser considerados a partir deste quesito. Dessa maneira, a entrevistada (p1) considerou

suficiente os produtos adquiridos, pois moram somente como filho. Isso significa que embora

as cestas básicas se relacionem ao direito a alimentação, este é tomado de modo genérico, sem

uma correlação direta com as demandas das famílias com as necessidades objetivas, com sua

realidade social.

Segundo Maria (2011) a cesta básica ofertada é composta de produtos não perecíveis,

dessa forma são incorporadas minimamente por produtos que não estragam. Sendo assim, os

59

produtos de limpeza, visto prazo de validade longa que apresentam poderia também serem

incorporados nessa cesta básica.

É importante destacar como cita, (BELIK apud MARIA 2011, p.51) “as políticas de

combate a fome devem ser mais abrangentes que as ações emergenciais de doação de

alimento”. Políticas mais expressivas que possam atender e ofertar benefícios de maneira a

garantir uma melhor alimentação às famílias.

O último aspecto que questionamos e queremos destacar nesta análise, refere-se ao

acesso a outras políticas públicas como saúde, educação, cultura, lazer bem como as

atividades e cursos ofertados pelo CRAS.

Os resultados mostram que o acesso das entrevistas ao que se refere às políticas

públicas mencionadas nesta pesquisa, ocorre de maneira parcial, principalmente aquelas que

se referem a cultura, lazer e cursos. A política de saúde, de que é necessário atendimento com

maior periodicidade é acessada por todas as participes:

“eu tenho acesso ao posto de saúde mas olha, acho muito precária as

condições esses dias fui pegar um remédio e fui lá era meia noite pra ser

atendida de manha cedo, é muita gente que precisa e não tem atendimento

pra todo mundo [...] A educação[...] meus filhos a tarde, ate pouco tempo

eles participavam da casa de Maria no período da manha faziam atividades

de computação, futebol, faziam s tarefas de casa [...] sobre cursos do CRAS

e PRONATEC nunca fui encaminhada e nem participei, mas tenho muita

vontade sim, tenho muitas amigas que aprenderam faze tapetes e bordado

em chinelo que hoje ganham muito dinheiro e nao vencem fazer de tantas

encomendas que elas tem. “(p8)

“Não, tenho acesso ao posto de saúde somente.[...] , mas assim, veio uma

senhora aqui, falando pra gente fazer exercício acho que é lá no outro

CRAS, (CERTI) [...] É,mais eu não tinha ainda idade é depois dos 60, mas

ela disse que meu marido podia ir que tinha os exercício La, so que eu

ainda não posso e ele também não foi, porque esta encaminhando uma

cirurgia de hérnia” (p3)

“não tem acesso a lazer, mas tenho acesso ao posto de saúde quando

preciso. [...] sobre cursos no CRAS E PRONATEC [...] fiz curso de pintura, de diarista, mas só por fazer mesmo” (p4)

Todas as entrevistadas fizeram menção ao acesso a política de saúde, algumas com

destaque para o acesso precário e demora de atendimento. Outra política mencionada é a da

educação, porém voltada especificamente para crianças/adolescentes em idade escolar, sem,

contudo, mencionar o acesso a esta política para os adultos, considerando que, conforme

exposto ensino fundamental.

60

Foi destacado o conhecimento sobre as atividades desenvolvidas no CERTI31

(Centro

de Revitalização da Terceira Idade), entretanto, a impossibilidade de participação devido ao

não atendimento do critério de idade. Este aspecto da seletividade no campo socioassistencial,

tem sido recorrente na organização dos serviços, estando inclusive, normatizados na própria

tipificação dos serviços. Entretanto, percebe-se que a seletividade também pode configurar

um mecanismo de exclusão e obstaculizar a convivência comunitária.

Em referência aos cursos do CRAS, apenas uma das entrevistadas mencionou ter

acessado e participado de alguns dos cursos ofertados pelo equipamento. Mas, também houve

intenção de busca pelos cursos e inserção nas atividades propostas. Sobre os cursos

profissionalizantes, nenhuma entrevistada fez menção de participação, caso houvesse

interesse por parte das mesmas, é importante salientar que apenas algumas das entrevistadas

da pesquisa estariam aptas a participar, haja vista que para ingressar nos cursos

profissionalizantes é exigido na maioria das vezes o grau de escolaridade mínima de ensino

fundamental completo, neste caso somente duas destas poderiam possuem o grau de

escolaridade exigido.

31

Possibilitar aos cidadãos idosos do Município de Toledo ações diferenciadas através dos CERTI´s,

preconizando o favorecimento da qualidade de vida por meio de atividades culturais, educacionais, físicas,

sociais, lazer e atendimentos especializados independente deste ser ou não membro de grupos de idosos. (Fonte:

TOLEDO, Secretaria Municipal de Assistência Social. Centro de Revitalização da Terceira Idade, 2014, s.p)

61

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente Trabalho de Conclusão de Curso à medida que buscou analisar o acesso ao

auxilio alimentação e seus impactos para os beneficiários do Programa Cidadania e Segurança

Alimentar Conjuntural do CRAS II congregou a pesquisa bibliográfica e documental, de fonte

secundária, com os relatos oriundos de entrevistas com estes sujeitos, como fonte primária de

pesquisa.

A estruturação da pesquisa foi desenvolvida em três capítulos. O primeiro tratou da

dimensão do Estado frente às políticas sociais e o enfrentamento da pobreza,o que possibilitou

compreender os mecanismos contraditórios presentes na sociabilidade burguesa. Desse modo,

a pobreza é compreendida em sua totalidade, como uma dimensão dessa sociedade capitalista,

bem como a desigualdade social e a fome, afastando destas categorias qualquer viés

conservador e positivista do real.

Já no segundo capítulo abordamos a política de Assistência Social, sua fundamentação

a partir do marco legal da Constituição Federal de 1988 que instituiu o direito a proteção

social na área de Assistência Social entre outras e que depois desta conquista teve suas bases

fixadas na Lei Orgânica de Assistência Social e na Política Nacional de Assistência Social.

Neste mesmo capítulo relatamos a respeito da segurança alimentar, a sua importância junto à

política de Assistência Social bem como algumas das ações governamentais desenvolvidas

para este fim.

No terceiro e último capítulo apresentamos a análise e interpretação dos dados da

pesquisa, com a qual possibilitou verificar a real necessidade do auxílio alimentação de modo

emergencial em virtude das condições de saúde e falta ou precária inserção no mercado de

trabalho.

Nesse sentido, pode-se perceber a importância da Assistência Social na viabilização de

direitos frente a sociedade periférica e desigual. Verificou-se a exclusão social ao acesso ao

mercado de trabalho formal, visto que este acesso formal viabiliza a proteção social com base

na previdência social via contributiva. Sendo assim, o trabalho informal é parte da realidade

dessas famílias, bem como as situações de desemprego e doença levaram as entrevistadas a

procurar o CRAS para atendimento a busca pelo auxilio alimentação assegurado como

beneficio eventual.

Contudo, vale mencionar que o formato da sociedade capitalista com vista à

desigualdade de acesso ao mercado de trabalho entre outras necessidades não é capaz de gerar

62

a autonomia. Portanto, é necessário o acesso às políticas públicas e deve-se levar em conta a

intersetorialidade entre as políticas públicas e a dimensão estrutural para o bom atendimento

as famílias. Porém, o projeto Cidadania e Segurança Alimentar Conjuntural foi a porta de

entrada para possibilitar o acesso emergencial a alimentação, acesso ao direito e a busca por

autonomia, mas ele sozinho não capacita as famílias para uma melhoria de condição de vida.

Foi possível desvendar, que há famílias que conseguiram superar a condição

temporária em que se encontravam e reinseridas ao mercado de trabalho, porem de maneira

informal, obtiveram acesso ao seguro social e outras que em virtude principalmente de

doença da entrevistada ou de algum membro da família não tem condições aptas ao acesso a

políticas ligadas lazer, esporte. Verificou-se ainda que o acesso a saúde, foi considerado por

muitas, estar oferecendo serviço precário.; a inserção em cursos oferecidos pelo PRONATEC

por meio do CRAS tem sua inserção quase nula em virtude do baixo grau de escolaridade das

entrevistadas. Sendo assim, os determinantes como doença, renda, baixa escolaridade e até

mesmo a falta de informações aos seus direitos limitam o acesso as políticas publicas.

Sendo assim, comprovamos nossa hipótese, uma vez que o auxilio alimentação por si

só é insuficiente para gerar autonomia, a qual requer a efetivação de outros aspectos, como a

integralidade do atendimento e a intersetorialidade entre as políticas sociais, aspectos que

muitas vezes são dificilmente atingidos em meio a complexidade das contradições na

sociedade capitalista.

63

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