serra da bodoquena: encontro de culturas, histórias, biomas e ecossistemas

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SERRA DA BODOQUENA Franciéle Pereira Maragno Jeferson Aparecido Almeida da Silva Liliane Lacerda ENCONTRO DE CULTURAS, HISTÓRIAS, BIOMAS E ECOSSISTEMAS

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Um local misterioso e especial, reconhecido inicialmente por sua reserva de água e calcário, o Planalto da Bodoquena, cada vez mais, ao longo das pesquisas realizadas, surpreende pelas descobertas referentes à tradição e costume de seu povo e, principalmente à beleza cênica e à biodiversidade, ainda pouco conhecida e que pode vir a agregar muito mais valor a esta região singular do país, reforçando, confirmando e fortalecendo sua importância no cenário local, regional e nacional. Esperamos que após a leitura da Cartilha Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas você perceba a grandiosidade, a fragilidade e as imensas potencialidades do patrimônio histórico e natural do Planalto da Bodoquena. Uma parte do Brasil com belezas naturais únicas e também de importantes descobertas arqueológicas, paleontológicas, geológicas e biológicas. Cabe a todos nós valorizá-lo, conservá-lo e reconhecê-lo.

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Page 1: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

SERRA DABODOQUENA

Franciéle Pereira MaragnoJeferson Aparecido Almeida da Silva

Liliane Lacerda

ENCONTRO DE CULTURAS, HISTÓRIAS, BIOMAS E ECOSSISTEMAS

Page 2: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

SERRA DABODOQUENA

Franciéle Pereira MaragnoJeferson Aparecido Almeida da Silva

Liliane Lacerda

ENCONTRO DE CULTURAS, HISTÓRIAS, BIOMAS E ECOSSISTEMAS

Page 3: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

1ª Edição, junho de 2015

Realização:Instituto das Águas da Serra da Bodoquena

Pesquisa, elaboração e compilação de textos e imagensFranciéle Pereira Maragno

Jeferson Aparecido Almeida da SilvaLiliane Lacerda

DiagramaçãoKiko Azevedo

IlustraçãoRonald Rosa

Foto CapaLuis Plinio

Revisão finalPriscila Varges da Silva

Tiragem1.000 exemplares

ImpressãoCorgraf – Gráfica e Editora

Patrocínio:Petrobras, por meio do Projeto Ilhas Verdes

Prefeitura Municipal de Bonito, por meio do Projeto Conectados na Serra

O Instituto das Águas da Serra da Bodoquena – IASB é uma organização não governa-mental sem fins lucrativos, fundada em 12 de dezembro de 2002, por pessoas com formação e experiências variadas na área rural e ambiental. Tem como missão gerir os recursos naturais de forma participativa e sustentável, visando recuperar, conservar e proteger o solo, matas, rios e a biodiversidade da região da Serra da Bodoquena, contribuindo para melhoria da qualidade de vida. O IASB desenvolve ações nas áreas de recuperação florestal e educação ambiental com o objetivo de incentivar a conservação da natureza e a proteção dos recursos naturais.

Como exemplo, podem ser citados os Projetos Ilhas Verdes, patrocinado pela Petrobras e o Projeto Conectados na Serra, que recebe o patrocínio da Prefeitura Municipal de Bonito, por meio da Secretaria de Meio Ambiente e Conselho Municipal de Meio Ambiente. Ambos os proje-tos promovem atividades voltadas para a valorização da Serra da Bodoquena atuando em quatro municípios (Bodoquena, Bonito, Jardim e Porto Murtinho) com um público variado e em diferentes modalidades: produtores rurais, professores, estudantes (crianças e jovens), turistas e empresários, desenvolvendo palestras, oficinas, jogos e concursos educativos, plantio de mudas, recuperação de áreas degradadas, dias de campo, cursos de capacitação, feiras socioambientais, eventos técnicos, assistência técnica às áreas rurais, materiais educativos, dentre várias outras atividades.

Para saber mais sobre o IASB e seus projetos acesse: www.iasb.org.br.

SERRA DABODOQUENA

ENCONTRO DE CULTURAS, HISTÓRIAS, BIOMAS E ECOSSISTEMAS

“Todo e qualquer conteúdo da Cartilha Serra da Bodoquena pode ser reproduzido, distribuído, colocado em murais, multiplicado, utilizado como instrumento de educação ambiental e cidadania desde que sejam citadas as fontes e que

o fim não tenha caráter lucrativo”.

Page 4: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

Nos Jardins submersos da Bodoquena

Não são suspensos, nem tão famososmas nem por isso, menos formosos.

São babilônicas maravilhas:potamoguêtons... mini lentilhas...

A clorofila e o azul calcáriomoldando a Vida – vivos cenários!

Não é história: na Bodoquenaos rios se escondem de forma plena

depois ressurgem Azuis, piscosos,e os Perdidos viram Formosos.

O paraíso? Lugar bendito?Ou simplesmente... lugar...

Bonito.

Rochas que crescem como ser vivolá onde o nome é adjetivo.

A força d’água que se enfraqueceperante a frágil folha que cresce.

As maravilhas, na Bodoquena:tão grandiosas e tão... pequenas!

Dentro da fonte de água purauma floresta em miniatura!

São tantas plantas, de tantas cores,tantas texturas... tantos odores...

Sentir é fácil. Difícil é veros nós... na teia do bem viver.

Indescritíveis livres aquáriosnão cabem dentro dos dicionários.

Paulo Robson (1999)

PREFÁCIO

A proposta de elaboração da Cartilha Serra da Bodoquena já vinha de longa data. Considerando que uma das finalidades do Instituto das Águas da Serra da Bodoquena - IASB é conservar e proteger a biodiversidade da região que dá nome a esta publicação, muitos dos trabalhos de Educação Ambiental desenvolvidos são voltados para que professores, estudantes e demais membros da comunidade possam conhecê-la melhor.

No entanto, tais trabalhos sempre se deparam com duas situações, a falta de informação sobre alguns aspectos locais ou a existência de informações espalhadas em diversos artigos técnicos e científicos, cuja linguagem dificulta o acesso por pessoas leigas.

Sendo assim, visando reunir considerável número de informações em um único material para facilitar a oferta de conhecimento a diferentes públicos sobre o Planalto da Bodoquena, sendo esta a denominação adequada, foi que o IASB aceitou o desafio de pesquisar, estudar e compilar diversos textos referentes à região sob os mais variados temas: paleontologia, etnias, turismo, anfíbios, mamíferos, peixes, morcegos, aves, unidades de conservação, geoparque, cavernas, tufas calcárias, geomorfologia, dentre muitos outros.

Por meio dos levantamentos realizados foi possível identificar que existem diversas pesquisas desenvolvidas no âmbito da Serra da Bodoquena. Entretanto, muitas divergem sobre os dados mencionados, principalmente os relacionados à localização do Planalto, aos municípios que o margeiam e à quantidade de espécies já registradas. Desta forma, optou-se por identificar os autores com mais no hall para que os textos pudessem ser elaborados.

A ideia principal da Cartilha Serra da Bodoquena não é apresentar uma verdade absoluta sobre o tema, e sim oferecer um material educativo que venha confirmar a importância de uma das mais belas e impressionantes regiões do Brasil, a fim de que se possa valorizá-la e por consequência priorizar sua conservação. O material tem ainda a intenção de provocar nos estudantes e pesquisadores a vontade de estudar o que mais se esconde neste paraíso. Ainda há muito que descobrir. A cada nova expedição, novas descobertas. E são estas pesquisas que, juntas, moldam e contam nesta cartilha, a história de uma região única, localizada no interior do Mato Grosso do Sul, nos limites do Pantanal do Nabileque.

Page 5: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

1.Conhecendo a Serra da Bodoquena Introdução ______

Como surgiu a Serra da Bodoquena? ______Contexto geológico e geomorfológico ______As diversas feições do relevo cárstico ______

Pedologia ______Rios ______

O clima e as chuvas ______Água, personagem importante ______

As curiosas tufas calcárias ______História de ocupação ______

Etnias ______Cultura ______

Economia ______ 2.Biodiversidade da Serra da Bodoquena

Introdução ______Flora ______

Vegetação nas áreas úmidas ______As florestas não podem ficar vazias ______

Fauna ______Peixes ______

Piracema ______Anfíbios ______Répteis ______

Aves ______Mamíferos ______

Espécies da Fauna ameaçados de extinção ______Animais indicadores de qualidade ambiental ______

Existe vida nas cavernas? ______Fósseis e animais pré-históricos ______

3.Unidades de Conservação na Serra da Bodoquena Introdução ______

O que são Unidades de Conservação? ______ Parque Nacional da Serra da Bodoquena ______

Monumento Natural ______Reserva Particular de Patrimônio Natural (RPPN) ______

Área de proteção ambiental (APA) ______Reserva Indígena Kadiwéu ______

Geoparque ______ 4.Ameaças à biodiversidade da Serra da Bodoquena _______ 5.Boas práticas na Serra da Bodoquena _________________

6.Considerações Finais ______________________________7.Bibliografia / sites consultados ______________________

8.Glossário _______________________________________

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SUMÁRIO

Cachoeiras do Aquidaban

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CONHECENDO A SERRA DA BODOQUENA

INTRODUÇÃO

Localizado no sudoeste do estado de Mato Grosso do Sul, o Planalto da Bodoquena, conhecido popularmente como Serra da Bodoquena, caracteriza-se pela beleza cênica, reconhecida internacionalmente. Apresenta relevo singular, no qual a composição das rochas permite o surgimento de cânions, cavernas, dolinas, rios de águas cristalinas, piscinas naturais e cachoeiras com bordas formadas por tufas calcárias. Funciona como um grande captador das águas das chuvas e divisor de águas, sendo berço de rios que correm para todas as direções.

A região possui uma fauna rica, servindo de refúgio para algumas espécies ameaçadas de extinção. A flora é peculiar, composta por remanescente de Mata Atlântica inserido no domínio Cerrado e influenciada pelo Chaco. Suas rochas e cavernas são fontes de registros fósseis de diferentes tempos geológicos. É habitada por povos indígenas, que juntamente com imigrantes de distintas regiões do país, compõem sua população.

Devido a sua significativa biodiversidade, a Serra da Bodoquena é espaço onde foram criadas diferentes categorias de unidades de conservação, incluindo um Parque Nacional que leva seu nome. No entanto, a região merece atenção redobrada. Extremamente vulnerável às ações antrópicas, tem sofrido ao longo dos anos pressões crescentes que podem vir a prejudicar suas funções ecológicas.

Conhecer este local de encantamento nos convida a refletir sobre sua importância, servindo de inspiração para valorização e conservação dos recursos naturais, bem como fortalecimento e resgate de sua cultura e história.

Localização da Serra da Bodoquena e seu gradiente de altitude

ALTITUDE1000

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12567SERRA DA BODOQUENA

Vista do Morro do Careca / Faz. Princesinha

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COMO SURGIU A SERRA DA BODOQUENA?

O Planalto da Bodoquena se desenvolveu sobre rochas carbonáticas que tiveram origem ao fim da Era Pré-Cambriana, entre 580 a 540 milhões de anos, quando um supercontinente chamado Rodínia foi se rompendo com a formação de grandes oceanos entre as massas continentais.

Nesses oceanos existiam pequenas formas primitivas de vida, conhecidas como estromatólitos. Os estromatólitos são algas com carapaças calcárias que, ao morrerem, se acumulavam no fundo do oceano formando grandes depósitos de sedimentos. Ao longo do tempo estes sedimentos se consolidaram e se transformaram em rocha calcária.

Aproximadamente 20 milhões de anos depois, com a reaproximação das massas, estas rochas surgiram na superfície o que provocou o aparecimento de uma alta cadeia de montanhas.

Com o tempo, este maciço rochoso foi sendo lentamente erodido até moldar a Serra da Bodoquena como a conhecemos hoje, com sua paisagem distinta das demais regiões devido à grande quantidade de calcário em sua composição.

O Planalto da Bodoquena constitui feição de relevo carste localizada na porção centro-sul do Estado de Mato Grosso do Sul, na borda do Pantanal do Nabileque, onde se localizam os municípios de Bodoquena, Bonito e parte de Jardim, Guia Lopes, Porto Murtinho e Miranda.

Esta unidade geomorfológica é sustentada por rochas carbonáticas – calcários e dolomitos - de idade pré-cambriana do Grupo Corumbá no topo e rochas do Grupo Cuiabá na base.

Apresenta forma alongada na direção norte-sul, com 200 km de comprimento e largura variando de 10 a 70 km. Inclinado para leste, tem em sua borda oeste escarpa de 200 m de desnível, voltada para o Pantanal do Nabileque. No centro há um amontoado rochoso onde se encontram as maiores altitudes da região que atingem por volta de 750 m. Neste maciço, denominado Maciço do Rio Perdido, as rochas são aflorantes, com densa floresta ainda preservada. Para leste, as altitudes diminuem gradativamente até onde o planalto se limita com a planície do Rio Miranda, com altitude variando entre 200 e 300m.

De forma resumida, o Planalto da Bodoquena compreende um conjunto de relevos dispostos na direção norte-sul, abrangendo um corpo principal, tradicionalmente conhecido como Serra da Bodoquena, e relevos menores, localmente denominados de serras, como a da Alegria, de São Paulo, de São Francisco, do Papagaio, do Alumiador, da Bocaina e da Esperança.

As rochas carbonáticas, responsável pelo formato encontrado no Planalto, são facilmente diluídas pela água da chuva, influenciando a paisagem ao facilitar o aparecimento de cavernas, grutas, dolinas e rios subterrâneos.

CONTEXTO GEOLÓGICO E GEOMORFOLÓGICO

Você sabia? O nome Serra da Bodoquena tem origem indígena e significa “atoleiro em cima da serra”.

Cachoeiras do Aquidaban / Vista da Reserva Indígena Kadwéu

Cachoeira Bôca da Onça / Rio Salobra

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No Planalto da Bodoquena é possível encontrar com facilidade cavernas, dolinas, vales (cânions), sumidouros e ressurgências nas áreas rurais dos municípios que o margeiam. Isso se deve a uma das principais características das rochas carbonáticas, ou seja, absorver praticamente toda a água da chuva, fazendo com que se infiltrem do solo para a rocha com muita rapidez. Em contato com o carbono existente nestes tipos de rocha, a água se torna mais ácida, sendo assim capaz de esculpir as diversas feições do relevo cárstico.

Nas porções sul e leste da Serra da Bodoquena é mais comum a incidência de dolinas, com diâmetros desde alguns metros até centenas de metros e profundidade também muito variada, podendo atingir até 100 metros. A dolina mais famosa da região é o Buraco das Araras, localizada no município de Jardim. Trata-se da maior dolina da América do Sul com 100 metros de profundidade e 160 metros de diâmetro. Outra dolina bastante conhecida no município de Jardim, com 75 metros de profundidade, abriga em seu fundo um lago que chama a atenção pela beleza cênica. Este lago, no entanto, caracteriza outra formação bastante conhecida do relevo cárstico, ou seja, as cavernas. Conhecido como Lagoa Misteriosa, o lago representa a sétima caverna mais profunda do país e uma das mais profundas cavernas inundadas do Brasil, atingindo acima de 220 metros de coluna d’água.

Estudos para catalogar este tipo de feição têm sido desenvolvidos ao longo dos anos. Até o momento são conhecidas cerca de 180 cavernas, sendo 8 delas dentro do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, mas é possível que existam ainda muitas outras. A maioria caracteriza-se por salões de grandes dimensões e existência de cavidades subterrâneas submersas. As dimensões destas cavidades têm surpreendido. A Gruta do Lago Azul, por exemplo, cartão postal do município de Bonito, possui 55 metros de profundidade para o lago existente em seu interior. Já o Abismo Anhumas, também localizado em Bonito, apresenta profundidade superior a 60 metros. A maior caverna conhecida na região, o Buraco das Abelhas, em Jardim, possui 1900 metros de desenvolvimento e 58 metros de desnível. Por outro lado, a gruta Dente de Cão, em Bodoquena, é considerada a maior cavidade seca descoberta, com mais de 1,8 km mapeados.

Porém, as pesquisas para catalogação de cavernas revelaram que na Serra da Bodoquena não ocorre grande quantidade deste tipo de formação, ou seja, a densidade de cavernas é baixa e também com baixo desenvolvimento médio. Por outro lado, o número de cavernas submersas supera outras regiões. Provavelmente os maiores sistemas de cavernas da Serra da Bodoquena são submersos e ainda estão no início de sua exploração e mapeamento.

Talvez este fato explique a existência de inúmeros sumidouros e ressurgências nos cursos d’água. O exemplo mais conhecido encontra-se no Rio Perdido, porção sul da Serra, no município de Bonito. O rio se “perde” em um sumidouro, “reaparecendo” cerca de 1 km abaixo. Diz-se ainda que boa parte do Córrego Lalima e Lau-de-já, na zona norte da Serra, tem desenvolvimento subterrâneo. Fato similar parece ocorrer com o rio Formoso, que se supõe estarem ligados ao rio Perdido através de grutas, em subsuperfície.

Ao mesmo tempo em que soa interessante, a existência de cavidades subterrâneas também intriga. Não se sabe ao certo, mas o lençol freático da região pode ser pressionado pela abertura de poços artesianos, comprometendo o volume das águas subterrâneas. Em Bonito, por exemplo, existem três poços artesianos responsáveis pelo abastecimento público. Entretanto, a empresa responsável pelo saneamento básico da cidade informou em 2014 que estes poços já chegaram ao seu limite máximo de exploração, havendo necessidade de buscar outras formas de captação de água.

AS DIVERSAS FEIÇÕES DO RELEVO CÁRSTICO

O Planalto da Bodoquena apresenta particularidades nos seus solos, que diferem de outras regiões do Bioma Cerrado-Pantanal. Pesquisas científicas revelam a existência de 6 (seis) classes de solos, sendo eles: Argissolos; Neossolos; Chernossolos; Planossolos; Gleissolos e Vertissolos. No entanto, a mais expressiva é o Chernossolo, ocupando uma área de 189.886 hectares.

PEDOLOGIA

Gruta do Lago AzulAbismo Anhumas

Sumidouro do Rio PerdidoParque Nacional da Serra da Bodoquena

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RIOS

O Planalto da Bodoquena ergue-se como um extenso divisor entre a bacia do rio Paraguai (a oeste) e as sub-bacias dos rios Apa (a sul) e Miranda (a leste). Dividido em dois grandes blocos, é caracterizado pelos rios principais que o abastece: ao norte, onde a drenagem ocorre em direção ao rio Salobra, é possível observar os entalhes que a água provocou na rocha, gerando um relevo com escarpas íngremes, reentrâncias profundas e estreitas, formando cânions. Ao sul, as águas escoam principalmente para o rio Perdido, onde o relevo já não se apresenta tão heterogêneo (acidentado).

Por conta de sua extensão, a Serra funciona como uma grande superfície de captação de água das chuvas e armazenamento desta em aquíferos cársticos. Por isso, a presença de nascentes é relativamente comum na região. O Planalto da Bodoquena tem ainda importante atuação como divisor de água, agindo como área de cabeceiras fluviais.

Das escarpas ocidentais, partem os córregos Jatobá e Tarumã, o rio Aquidabã e seus afluentes (Água Limpa, Mastigo, Liena), o rio Branco e seus tributários (córrego Lau-de-Já, Felício e Baguaçu), o rio Tereré e o rio Amonguijá. Destes, o rio Aquidabã marca o limite sul da Terra Indígena Kadiwéu (município de Porto Murtinho).

Da borda oriental, partem os rios da Prata, Formoso e Peixe. Para sul correm os rios Perdido e Jacadigo. E para norte segue o rio Salobra, afluente do Miranda. De todos eles, os mais expressivos são o rio Salobra e o Perdido. O rio Salobra corta toda a parte centro-norte da Serra, abrindo um expressivo cânion na borda setentrional da mesma. Por sua vez, o rio Perdido, ao se dirigir para sul, drena litologias das Formações Bocaina e Cerradinho, indo desaguar no rio Apa.

Nos trechos altos dos rios da Prata, Formoso e Perdido existem extensos banhados, dos quais somente os do Perdido inserem-se parcialmente no Parque Nacional da Serra da Bodoquena, cuja criação é explicada no tópico “Unidades de Conservação”.

Você sabia? A temperatura das águas na região varia entre 18º C a 25º C, dependendo do lugar e da época do ano.

O clima do Planalto da Bodoquena é do tipo “Tropical Quente e Úmido”, com estações seca e chuvosa bem definidas. A estação chuvosa começa em outubro e segue até abril, quando a temperatura é mais alta, podendo chegar próximo aos 40ºC. Já na estação seca, que dura de maio a setembro, a chuva é menos frequente e a temperatura é mais baixa. Nos meses mais frios (junho e julho), a temperatura pode chegar próximo a 0°C em alguns municípios. Assim, os verões são quentes e chuvosos e os invernos secos.

Essa alternância das estações seca e chuvosa, associada ao tipo de relevo e vegetação encontrada na região, influencia intensamente a dinâmica da Serra da Bodoquena, regulando as cheias dos rios e o reaparecimento dos córregos temporários. Também influencia o crescimento das tufas calcárias, bem como a reprodução dos animais, a floração das plantas e o aparecimento dos frutos, tendo relação direta com a variedade de formas de vida encontradas na região.

O CLIMA E AS CHUVAS

Bacia do Paraguai

Bacia do Paraná

Bacias Hidrográficas e principais rios

Rio Sucuri / Bonito-MS

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ÁGUA, PERSONAGEM IMPORTANTE

A transparência da água dos rios da Serra da Bodoquena chama atenção por sua beleza, se caracterizando como um dos principais atrativos turísticos da região. Em algumas áreas, a visibilidade debaixo da água é de 50 a 60 metros, o que a faz ser considerada uma das mais cristalinas do mundo. O responsável pela transparência observada em praticamente todos os cursos d´água é o calcário, rocha sedimentar de origem química que apresenta em sua composição minerais solúveis, principalmente a calcita. Estes minerais ao se dissolverem possibilita à água permanecer cristalina, pois o calcário não apresenta impureza como argilas, as quais poderiam turvá-la.

Geralmente as nascentes dos rios da região ocorrem nas porções mais rebaixadas do terreno, indicando serem águas que percorreram grandes distâncias no interior de bloco calcário. Sendo assim, é comum encontrar nascentes nas quais as águas brotam caudalosamente com aspecto extremamente cristalino, como é o caso do Rio Sucuri, em Bonito.

No entanto, contrariamente algumas águas naturais, como por exemplo do rio Mimoso (importante afluente do rio Formoso), em certas áreas se apresentam mais turvas devido à ação de material vegetal em oxidação.

O calcário também chama a atenção pelo “sabor” que dá a água dos municípios de Bodoquena, Bonito e Jardim, provocando um gosto salobro. Este fenômeno é conhecido como “água dura”. Mesmo com sabor alterado, as águas duras não apresentam inconvenientes imediatos à saúde humana, a não ser quando de uma possível formação de magnésio e/ou sulfato de sódio, oferecendo ação laxativa para algumas pessoas não acostumadas com seu consumo. Importante destacar que a detecção de sabor depende da sensibilidade dos sentidos humano, variando entre indivíduos e com a constância de exposição. Sendo assim, moradores locais, em sua maioria, pelo frequente consumo de água dura, não detectam mais o sabor salobro e ao contrário, sentem-se incomodados ao consumir água mineral por considerar que não sacia a sede.

Mas, as águas duras são consideradas incômodas porque, dentre outras coisas, deixam uma película insolúvel sobre a pele, pia, carros, banheiras e azulejos, ocasionando incrustação e “borras” nas superfícies dos encanamentos e outros materiais. O cabelo dos banhistas também se apresenta mais ressecado, com sensação de endurecido após a secagem, obrigando uso maior de shampoos ou condicionadores. Donas de casa ao ferverem a água logo percebem a formação de filmes, películas e porções esbranquiçadas em sua superfície e na parede interior do utensílio utilizado (hidróxido e carbonato). É o que se chama de “leite de pedra”.

Quando a dureza é elevada, rapidamente percebe-se a formação de depósitos preocupantes nas superfícies sólidas ocasionando crostas, barreiras, entupimentos e perda da função dos utensílios, como por exemplo nos chuveiros. É por isso que nas cidades de Bonito, Bodoquena e Jardim existem problemas como obstrução nos encanamentos que conduzem a água nas residências.

No entanto, estes depósitos são os responsáveis por parte das belezas cênicas observadas na Serra da Bodoquena, justamente pela alta capacidade de incrustação dos minerais dissolvidos na água. Cachoeiras e piscinas naturais são formadas pelo barramento natural dos córregos à medida que o carbonato de cálcio se precipita e fixa-se sobre troncos de árvores, folhas e tudo o mais que estiver na água.

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alCurimbatás no Rio da Prata / Jardim-MS

Ressurgência no Rio Baía Bonita

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O alto teor de calcário dissolvido na água nos revela os segredos de nosso subsolo cárstico.

TUFAS, formações como pequenas piscinas dispostas em degraus.

A denominação - tufa - deriva da palavra grega “tophus”, que significa materiais porosos. Nas tufas, o calcário deposita-se ao longo da queda d’água, fixando-se nas barreiras que encontra, como pedras, troncos, galhos, folhas, musgos ou algas, que resultam em pequenos obstáculos e crescem moldados pela força do fluxo da água que desce pelo relevo.

Partículas cobertas por calcário irão aderir ao obstáculo, aumentando o tamanho da borda que contém a água. Esse processo é cíclico: a borda de calcário retém mais água e a água traz mais calcário.

Desta maneira, a tufa aumenta suas dimensões como o passar do tempo.

A combinação desses fatores prossegue, criando novos e sucessivos degraus desta curiosa formação que não para de crescer.

AS CURIOSAS TUFAS CALCÁRIAS

A FORMAÇÃO DAS TUFAS CALCÁRIAS

Essa capacidade de incrustação do carbonato de cálcio proporciona também a formação de estruturas interessantes e raras no Brasil, as “tufas calcárias”. As tufas se formam a partir da ação de algas e musgos que retém o carbonato de cálcio sobre suas estruturas, formando um fino tapete de seres vivos e calcário. As tufas são depósitos carbonáticos fluviais frágeis e facilmente erodidos e quebrados. Por se encontrarem em formação, são dependentes das condições físico-químicas e biológicas de suas águas, cuja descaracterização pode causar danos irreversíveis às tufas e consequente comprometimento da atividade turística, que a tem como atrativo das áreas naturais.

No município de Bonito, no seu extremo oeste, existe uma grande concentração de tufas no Rio Aquidaban, que possui mais de 11 cachoeiras, sendo a maior com aproximadamente 120 m de altura. Ao norte, no município de Bodoquena, o atrativo Boca da Onça Ecotur, possui a maior cachoeira do Mato Grosso do Sul, com 156 m de altura, em escarpa originada pelo entalhamento do Rio Salobra, com forma de garganta no maciço calcário central da Serra da Bodoquena, onde apresenta diversas tufas que recobrem os paredões. Ainda em Bodoquena, existe o Rio Betione, além de drenagens menores, como o Córrego Campina, com inúmeras barragens e cachoeiras de tufas, porém com alturas inferiores a um metro. Ao Sul, no município de Jardim, tem-se a ocorrência de tufas no Balneário Municipal de Jardim no Rio da Prata e no Recanto Ecológico Rio da Prata.

Se considerada a área de distribuição das tufas e as concentrações, principalmente do Rio Formoso e seu afluente Formosinho, e Rios Mimoso, Perdido e Salobra, Aquidaban e Betione, pode-se afirmar que as tufas da Serra da Bodoquena constituem um dos maiores conjuntos de tufas das Américas e sem dúvida se encontra entre as maiores do mundo, perdendo apenas para o de Plitvice na Croácia e o de Jiuzhaigou, na China, ambos declarados Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

Não existe ainda nenhum projeto constante e de longo prazo de monitoramento do grau de preservação das tufas da Serra da Bodoquena, além da observação visual, a qual possibilita constatar que, no geral, encontram-se em bom estado de conservação, com pontuais locais de degradação física apenas. A maior ameaça à conservação dessas estruturas é o intenso turvamento das águas em função dos desmatamentos, falta de manejo adequado dos solos para as atividades de pecuária e agricultura e, ainda, a carência de manutenção das estradas, que na época das chuvas acabam carreando grande quantidade de terra para os rios e córregos.

Como o processo de formação das tufas calcárias vem acontecendo há muitos milhões de anos, seu estudo pode revelar ainda, fósseis e informações sobre o clima e hidrologia do passado.

Tufas calcárias / Parque Nacional da Serra da Bodoquena foto

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HISTÓRIA DA OCUPAÇÃO

Antes da chegada dos europeus, a região da Serra da Bodoquena já era habitada por indígenas, funcionando como um ponto de contato entre etnias guaranis e etnias do chaco, e dentre elas, os guaicurus.

Baseado em diversos estudos pode-se considerar que os indígenas da etnia Kadiwéu foram seus primeiros habitantes. Descendentes dos mbayá-guaikuru são originários do Chaco Central. Sua migração em busca de novas perspectivas territoriais se deu por meio de uma impactante pressão demográfica e territorial entre os séculos XVI e XVII com a fundação de Assunção (1537), sendo que ao longo dos anos, outros episódios provocaram sucessivos deslocamentos, limitando seu espaço de reprodução cultural, fazendo-os ocupar as margens ocidentais do rio Paraguai. Por conta do fracasso das tentativas castelhanas de colonização de parte do atual território sul-mato-grossense houve uma mudança de hábito dos mbayá-guaikuru da margem ocidental para a oriental do rio Paraguai, ocupando assim terras brasileiras. Essa mudança deixou notórias consequências, dentre elas a aquisição de cavalos, transformando o hábito pedestre desse grupo em equestre e, com a fácil e rápida mobilidade (útil na caça e indispensável na guerra), adquiriram imbatível superioridade sobre as sociedades vizinhas. Os últimos remanescentes das diversas etnias Mbayá-guaicurus seguiram então, já nas primeiras décadas do século XX, pelo vale do Nabileque e do Naitaca, sempre em direção leste, entrincheirando-se atrás dos alagadiços e morros isolados das fraldas noroeste da Serra da Bodoquena.

A colonização da região pelos europeus teve início após o Tratado de Tordesilhas, quando os espanhóis estabeleceram fundações no território inicialmente conhecido como província do Itatim. Cinquenta anos depois, em 1631, padres jesuítas vieram para a região com o objetivo de catequizar os indígenas que aqui viviam e conseguiram desenvolver essa atividade por 40 anos, até serem expulsos por bandeirantes paulistas. A região passou então a ser dominada novamente por duas etnias da família linguística Guaicurus: os Mbaiás e os Paiaguás, considerados extintos no Brasil.

Com a descoberta de ouro na região onde hoje é Cuiabá, Mato Grosso do Sul torna-se uma região estratégica por servir de rota de acesso e produzir bens que poderiam abastecer os viajantes dessas rotas e da mineração. Foi justamente o ouro que motivou a criação da Capitania de Mato Grosso e, depois do Tratado de Madri entre Portugal e Espanha, o território dos atuais Mato Grosso e Mato Grosso do Sul ficaram sob domínio português.

A Guerra do Paraguai (1864 a 1870), depois que o Brasil já estava independente de Portugal, deixou marcas importantes na região, na qual os personagens envolvidos na Marcha e na Retirada da Laguna estão homenageados em escolas, ruas e praças dos municípios sul-mato-grossenses, como é o caso do município de Guia Lopes da Laguna e Jardim. A participação dos índios Mbaiá-Guaicurus nessa guerra foi reconhecida por Dom Pedro II que cedeu as terras onde hoje está a Reserva Indígena Kadiwéu, no município de Porto Murtinho. No entanto, consta que a prova documental que comprove a doação jamais foi encontrada. Ao longo do tempo, após essa guerra foram surgindo os municípios que hoje tem em seu território a presença da Serra da Bodoquena: Porto Murtinho, Bonito, Guia Lopes da Laguna, Jardim, Bodoquena e Miranda.

A região onde hoje é o Porto Murtinho surgiu inicialmente como região de produção e exploração de erva-mate, quebracho (para a extração de tanino), pesca e pecuária, tornando-se cidade de Porto Murtinho em 1926. Em 1927, a cidade de Bonito é estabelecida a partir da fazenda Bonito. A cidade de Jardim era inicialmente ocupada por fazendas de gado, mas um povoado se estabeleceu na região com as obras para a construção da rodovia Porto Murtinho – Aquidauana (atual BR-267) e em 1953, a cidade é reconhecida. A região da atual cidade de Bodoquena foi reconhecida em 1980 e surgiu inicialmente como colônia agrícola de café. O município de Guia Lopes da Laguna tem sua história ligada à construção do Presídio do Miranda, em 1767, no entanto, as referências indicam que seu primeiro morador se estabeleceu apenas em 1848. Inicialmente fundada como distrito de Nioaque, se tornou independente apenas em 1953. Miranda também teve sua história ligada à construção de um presídio, Nossa Senhora do Rio Mondego, cujo nome foi dado inicialmente à cidade. Em 1857 foi elevada à vila onde foi adotado o nome atual da cidade.

Você sabia? Próximo à cidade de Bodoquena, em cavernas no assentamento Campina, foram encontrados urnas e objetos de cerâmica com desenhos e técnicas de produção de um grupo de etnia já extinta e que é diferente de todos os povos indígenas da atualidade. Esses objetos estão agora no Museu de Arqueologia da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul.

Localização de Terra Indígena da região da Serra da Bodoquena

LEGENDA

Terra Indígena Kadiwéu

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Zona de Amortecimento

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A História conta que os Kadiwéu e Kinikinawa - hoje residentes no entorno da Serra da Bodoquena - tiveram grande influência na Guerra do Paraguai, conhecida como Tríplice Aliança, de 1864 a 1870. Isso se deve à sua maneira de domesticar e utilizar os cavalos, trazendo temor aos adversários. Conhecidos como guerreiros e exímios cavaleiros, escondiam-se no dorso dos animais para confundir os inimigos. Eram ágeis e habilidosos combatentes.

Os Kadiwéu são descendentes dos `Mbayá-guaikuru, um dos seis grupos da etnia Guaicuru. Atualmente ocupam uma reserva indígena localizada ao sudoeste de Mato Grosso do Sul, no município de Porto Murtinho. Com o fim da Guerra do Paraguai, Dom Pedro II reconheceu os serviços prestados pelos indígenas, doando esta terra a eles. A Reserva Indígena Kadiwéu é a maior área indígena homologada no Centro-Sul brasileiro. Demarcada em 1981, possui 538.536 hectares, abrange áreas no Pantanal e na Serra da Bodoquena e abriga uma rica diversidade ambiental no contexto do Domínio da Mata Atlântica. Dentro da reserva a população Kadiwéu se divide em cinco aldeias: Bodoquena, Barro Preto, Campina, Tomázia e São João.

As principais expressões artísticas dos Kadiwéu são a pintura corporal e a cerâmica - utilizam suco de jenipapo e pó de carvão para obter a tinta – sendo as mulheres responsáveis pela produção das requintadas peças cerâmicas características desta etnia, com linhas bem definidas e coloridas. As peças fazem sucesso mundo afora, principalmente na Europa.

Mas diferente dos Kadiwéu, os indígenas Kinikinawa, que já eram em menor número, tiveram sua população reduzida expressivamente ao fim da guerra. Por cerca de 50 anos foram considerados uma etnia extinta. Obrigados a renunciar à sua própria identidade e convencidos pelo órgão indigenista oficial na época a se autodeclarar índios Terena, somente em meados da década de 90 foram reconhecidos pela Funai, após persistentes exigências por parte da etnia. No entanto, não possuem terra própria, ainda vivendo da solidariedade dos Kadiwéu. Atualmente, apenas 250 (duzentos e cinquenta) indivíduos vivem na Aldeia São João, dentro da Terra Indígena Kadiwéu.

ETNIAS

Você sabia?

Os Kadiwéu, na atualidade, se autodenominam Ejiwajegi (lê-se “edjiúadjegui”). Em língua portuguesa significa gente da palmeira eyuguá. A referida palmeira, também conhecida como carandá (Copernicia cerifera), representa um bem substancial e é um destaque quantitativo expressivo na paisagem do habitat étnico, portanto, fundamental para o grupo.

CULTURA

As manifestações culturais da Serra da Bodoquena, como nos demais municípios de Mato Grosso do Sul, são um reflexo dos povos que participaram na formação das áreas urbanas e rurais. Nesse sentido, a população indígena e os imigrantes do sul, sudeste e nordeste trouxerem contribuições nos hábitos e arquitetura regional.

A pecuária, importante atividade econômica no estado, motiva eventos como rodeios, campeonatos de laço e festas de peão, muitas vezes organizados pelos Clubes do Laço. As comitivas, grupos de peões que conduzem rebanho de gado entre pastagens, também deixaram contribuições nos hábitos. Agora pouco frequentes, as comitivas podiam percorrer longas distâncias e durar em média de 20 a 30 dias para levar o gado a pastagens melhores.

Além da influência cultural das diferentes regiões do Brasil, a culinária também recebe influência do Paraguai com as saborosas chipa (semelhante ao pão de queijo) e sopa-paraguaia (torta a base de farinha de milho). Uma bebida bastante apreciada na região é o “Tereré”, uma infusão da erva mate (Ilex paraguaiense) com água gelada, geralmente consumida em recipiente a base de um chifre de boi cortado ao meio. O costume de consumir essa erva é muito antigo, tendo sido encontrado registros no Peru, antes mesmo da chegada de Colombo nas Américas. Pesquisas apontam que o hábito de beber tereré no estado de Mato Grosso do Sul chegou junto aos índios guaranis prisioneiros de bandeirantes paulistas, por volta de 1640.

Cerâmicas dos índios Terenas e Kadiwéu

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Quanto às tribos indígenas, ainda preservam seus rituais religiosos e culturais. Dentre os diversos ritos, destacam-se o navio ou “etogo” que é considerado pelos Kadiwéus a expressão mais visível de sua autenticidade, pois, como dizem, é melhor mostra que eles são “índios mesmo”. Outra manifestação interessante acontece durante os ritos funerários, onde os parentes do morto têm seus cabelos cortados em sinal de luto. O indivíduo kadiwéu também recebe um nome por ocasião de seu nascimento e quando da morte de seu parente. Quando se perde um parente próximo é também possível adotar alguma outra pessoa (independentemente da idade, sexo e do grau de parentesco ou mesmo da existência de parentesco) para preencher a falta do morto. Um parente adotado nestas circunstâncias é chamado godocogenigi.

CULTURA

Você sabia?

A arte das índias Kadiwéu foi escolhida para decorar a fachada de edifícios de Berlim, na Alemanha, em 1998. O trabalho concorreu com mais de 50 outros trabalhos da América Latina.

A Guerra contra o Paraguai, um verdadeiro divisor de águas dentro da evolução histórica e econômica da Serra da Bodoquena, contribuiu para a vitória do capital internacional. A navegação dos rios da bacia platina foi liberada, abrindo as portas da região para a livre penetração dos investimentos estrangeiros, destacando-se aí a pecuária e erva-mate.

A agricultura se intensifica por meio da implantação de grandes programas de desenvolvimento agrícola do Centro-Oeste. Entre a década de 1950 até os anos setenta, a pecuária foi a atividade produtiva predominante. Após esse período, a região acolheu migrantes oriundos do Paraná, que introduziram lavouras de café nas terras mais férteis, prejudicadas por geadas em meados dessa década. Durante os anos oitenta, já separado do Estado de Mato Grosso (1977) com a vinda de mais migrantes do sul e de empresários paulistas, houve substancial incremento das lavouras como o arroz, milho e soja. Esta última cultura vai substituindo, rapidamente as outras, refletindo o que vinha acontecendo no âmbito nacional, sobretudo nas áreas de novas fronteiras agrícolas.

Atualmente, a economia está baseada na agricultura, pecuária de corte, mineração e turismo ecológico. Vários hotéis de grande porte foram construídos em Bonito e cidades próximas. Atrativos de Bodoquena, Bonito e Jardim receberam infraestrutura turística de alto nível, contribuindo para configurar a Serra da Bodoquena como o segundo polo turístico do Estado de Mato Grosso do Sul, perdendo em número de turistas anuais apenas para o Pantanal. Entretanto, no caso do Pantanal, trata-se, na sua grande maioria, de praticantes da pesca esportiva. Sendo este um dos fortes atrativos do município de Porto Murtinho.

ECONOMIA

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Flutuação no Aquário Natural

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Por conta do turismo desenvolvido na região, outras manifestações culturais foram adotadas, se tornando atrativos para a vinda de visitantes. No município de Bonito tem destaque o Festival de Inverno e o Festival da Guavira que oferece um leque de atividades culturais com artistas regionais e nacionais. Em Porto Murtinho é promovido o Festival Internacional, onde o foco é a tradicional disputa dos touros Bandido e Encantado, um misto de religiosidade e folclore. Em Jardim é realizada a ExpoJardim a festa agropecuária mais esperada do ano. Já Bodoquena tem suas festividades ligadas às questões religiosas, promovendo a Festa da Padroeira, São Sebastião, Laço Comprido e Folia de Reis. Sendo assim, novamente o município de Bonito precisa ser citado com as festas de São Pedro e a Procissão de Sinhozinho.

Cordel do Fogo Encantado Festival de Inverno de Bonito

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Frutos do Bacuri

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BIODIVERSIDADE DA SERRA DA BODOQUENA

Resultado de milhões de anos de evolução biológica, uma complexa e longa combinação de fatores naturais permitiu que uma variedade de espécies de plantas e animais convivessem harmonicamente na Serra da Bodoquena, uma área de transição ambiental entre os biomas Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal e Chaco. Local onde os animais encontram um habitat que lhes proporciona alimento abundante e a proteção de que necessitam.

Suas condições naturais fazem com que seja considerada a maior extensão de florestas naturais preservada do estado de Mato Grosso do Sul, abrigando espécies da fauna e flora ameaçadas de extinção, além de algumas espécies endêmicas.

Portanto, única no Brasil e no mundo, esta região impressiona por seus aspectos cênicos de grande relevância nacional, guardando uma rica biodiversidade, sendo boa parte desconhecida e ameaçada.

A vegetação de porte arbóreo existente no Planalto da Bodoquena situa-se nas porções mais elevadas, formado um grande maciço florestal, conservado principalmente pelo fato de estar sobre um relevo acidentado, o que acaba por dificultar o uso para outros fins. Por conta deste relevo e do tipo de solo presente na região, o Planalto conserva uma variedade de formações florestais.

Nas áreas planas se desenvolve a vegetação de Cerrado com suas variações fisionômicas e estruturais: cerradão, campo cerrado e campo limpo. Onde ocorre exposição de rochas carbonáticas, a vegetação é de Floresta Estacional Decidual Submontana, conhecida como Matas Secas, e Floresta Estacional Semidecidual de Terras Baixas, ambas características do Domínio da Mata Atlântica. A diferença entre estas florestas se dá pela quantidade de folhas que se perdem durante a estação seca. As Matas Secas caracterizam-se por apresentar mais de 60% das plantas com perdas de folhagem, enquanto a Floresta Estacional Semidecidual, em torno de 30%.

Ocorrem também na região Floresta Estacional Decidual Submontana; Cerrado lato sensu (Savana Florestada); Floresta Estacional Semidecidual Aluvial (Formações Ripárias), além das florestas “Matas de palo-blanco”, que fazem parte das matas de transição do Chaco da Argentina.

Entre as manchas de matas e cerrados há uma grande faixa de mistura desses dois domínios, conhecida cientificamente como ecótono, ou seja, área de contato ou tensão ecológica que apresentam características e espécies dos dois ambientes.

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INTRODUÇÃO

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Pela variedade de formações florestais proporcionada por essas áreas de transição, é muito grande a diversidade de espécies, tanto de árvores, arbustos e orquídeas que podem ser encontradas na Serra da Bodoquena. Nela se encontram espécies de muito alto valor econômico e algumas já ameaçadas de extinção. Apenas para exemplificar tamanha riqueza, podem ser citadas: Gonçalo, Aroeirinha, Aroeira, Peroba, Guatambu, Bocaiúva, Piúva-da-mata, Louro-preto, Carne-de-vaca, Cansanção, Aromita, Espinheiro, Angico, Barriguda, Piúva-roxa, Peroba-do-campo, Caroba, Ipê amarelo ou Paratudo, Piúva-cascuda, Ipê branco, Monjoleiro, Falso-alecrim, Castelo, Aguaí, Maria-mole, Paineira, Embiruçu, Mandacaru, Marmelada, Fruta-de-pombo, Cactos, Bananinha, Alazão, Chá-de-bugre, São domingos, Alecrim, Embaúba, Jatobá-mirim, Espinho-agulha, Rosquinha, Açoita-cavalo, Espinheira-santa, Jaborandi, Gravatá-de-linho, Veludo-de-espinho, Canela-de-cutia, Sarandi, Urtiga, Limãozinho, Bromélia, Orquídeas, Peperômia, Jacaratiá, Pimenta-de-macaco, Catiguás, Caraguatá, Alecrim, Espeteiro, Figueiras, Marinheiro, Chico-magro, Ingá, Canelas, Amora Branca, Canela-preta, Pororoca, Peito-de-pombo, Canafístula, Capitão, Marolo, Pindó, Guatambu, Angelim, Pau-santo, Lixeira, Pau-terra, Ata-brava, Embiruçu, Guaçatonga, Psicótria, Taquarinha, Araticum, Barbatimão, Carandá, Babaçu, Camboatá, Bacuri (ou acuri), Guaçatonga, Jaborandi, Amiruca, Crindiúva, Urtiga-braba, Cipó-preto, Guaimbê-de-folha ondulada, Bromélia, Avenca, Selaginela, Mandiocão, Trevo e Orquídeas. São observadas ainda trepadeiras e herbáceas.

Cobertura vegetal da região da Serra da Bodoquena

A Serra da Bodoquena também sofre influências do Chaco, ou formalmente chamado de Savana Estépica, apresentando plantas lenhosas, baixas e espinhosas, de folhas pequenas e que caem na estação seca, associadas a um campo com vegetação rasteira, cactos e ervas. A única região de ocorrência do Chaco no Brasil é na parte sul do Pantanal, em Miranda, Nabileque e Porto Murtinho, que se conecta ao Chaco do Paraguai, Bolívia e Argentina, formando uma grande extensão.

FLORAFLORA

Matas secas Paratudo - Chaco Carandazal - Chaco

Vegetação Ciliar

Florestas

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Contatos Florísticos

Pioneiras

Área Antrópica

Água

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MataCiliar

Cabe ressaltar que foi encontrada no interior do Parque Nacional da Serra da Bodoquena uma espécie de margarida (Dimirostemma annuum), que teve seu primeiro e único registro no chaco paraguaio em 1815. Essa é uma espécie considerada rara e ameaçada de extinção

Não menos importante, a vegetação também é rica e presente em muitos rios, especialmente em alguns brejos da bacia do rio Formoso, apresentando uma grande biomassa de macrófitas aquáticas, formada principalmente por espécies submersas, além de outras espécies aquáticas flutuantes.

A predominância de palmeiras Bacuri indica que a Mata Ciliar está em processo de regeneração. As características da vegetação mudam com o distanciamento do rio e a mata se torna mas seca, começando a aparecer árvores típicas do Cerradão como o Castelo e a Aroeira. Dentro do Cerradão é possível observar mais longe, pois existem menos arbustos e suas folhas são mais esteitas.

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VEGETAÇÃO NAS ÁREAS ÚMIDAS

Áreas úmidas são as nascentes e os banhados, bastante comuns na Serra da Bodoquena. Nesses locais cresce um tipo específico de vegetação, que até pode parecer homogêneo aos olhos, mas na verdade abriga uma grande riqueza de espécies vegetais. Estudos revelaram num inventário rápido a ocorrência de 235 espécies, mas é possível que esse número seja bem maior.

Entre as espécies aquáticas encontradas estão algumas algas que, durante a fotossíntese, usam o carbonato de cálcio presente na água, ficando impregnadas desse mineral e formando pequenos tubos calcários facilmente visualizados no leito dos rios. Outras espécies microscópicas de organismos (fitoplâncton) também foram observadas, sendo estas as responsáveis pela coloração verde nas águas dos rios da região.

No banhado do Rio Perdido foi observado um gradiente de vegetação: nas regiões mais altas, são mais comuns espécies herbáceas, de gramíneas e de ciperáceas. Da borda para o centro, são mais comuns as espécies de outras famílias de planta (Asteracea e também uma samambaia, Pityrogramma trifoliata). Já onde a água flui, predomina o capim-navalha (Cladium jamaicense), formando uma área quase impenetrável. Existem ainda os campos úmidos, faixas de vegetação com até 20 m de largura compostas por plantas típicas de vereda.

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Numa floresta há uma relação próxima entre as plantas e organismos como os decompositores (animais e fungos que reciclam a matéria orgânica), os polinizadores (que fecundam as flores para que os frutos existam) e os dispersores (que levam as sementes das plantas para longe). Uma floresta vazia de animais está destinada a morrer, mesmo que pareça forte.

AS FLORESTAS NÃO PODEM FICAR VAZIAS

Você sabia?

A Serra da Bodoquena abriga uma das maiores áreas de Floresta Estacional Decidual do país, formação esta pertencente ao domínio da Mata Atlântica. Para se ter uma ideia, este bioma ocupava inicialmente 16% do estado do Mato Grosso do Sul, mas atualmente sobraram apenas menos de 2,8%. Trata-se de um tipo de floresta que não apresenta grandes áreas contínuas no Brasil. A inclusão da Serra da Bodoquena como Floresta Atlântica no Mapa de Vegetação do Brasil, do IBGE, em 1993, demonstra a importância de se continuar preservando os ecossistemas da região.

Plantas polinizadas por pássaros geralmente possuem flores coloridas, tubulares ou curvadas e que abrem de dia. Os beija-flores são considerados os principais vertebrados polinizadores da região neotropical. No Brasil, são conhecidas cerca de 82 espécies.

Em um trabalho nas matas da Serra da Bodoquena, os pesquisadores encontraram oito espécies de plantas polinizadas por seis espécies de beija-flores. Em seus estudos, descobriram que essas plantas florescem o ano todo, especialmente no final da estação chuvosa, sendo que uma delas é muito importante para o beija-flor P. pretrei, que também é seu principal visitante.

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FAUNA

Todas as características no que se refere ao relevo, clima e a variedade de flora que compõem o Planalto da Bodoquena, explicam a exuberância da fauna dessa região. Considerando que a presença dos animais está relacionada com a estrutura e conservação da vegetação, oferta de alimentos, de locais para reprodução e desenvolvimento de seus filhotes, o Planalto da Bodoquena se torna ambiente perfeito para abrigar uma grande diversidade de mamíferos, aves, artrópodes, peixes, répteis e anfíbios, como pode ser visto a seguir pelo número de espécies já registradas:

- 384 de aves;

- 61 de mamíferos não voadores;

- 27 de morcegos (mamíferos voadores);

- 25 de répteis (cobras, lagartos, jacarés e tartarugas);

- 38 de anfíbios (sapos, rãs e pererecas);

- 90 de peixes;

- 49 de invertebrados aquáticos (insetos, moluscos, anelídeos e outros);

- 169 de formigas;

- 52 espécies de borboletas frugívoras

- 33 de libélulas (insetos que voam e vivem próximos a ambientes aquáticos);

-23 de mosquitos potencialmente transmissores de doenças como a Leishmaniose;

- 236 espécies de diferentes grupos de animais que habitam as cavernas da região.

Entretanto, este é um dos temas que ainda apresenta poucos estudos e que poderia ser melhor explorado visando colaborar com a tomada de decisão para conservação de espécies importantes.

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PEIXES

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O Brasil tem a maior riqueza de peixes de água doce do mundo, com estimativas que variam entre 4000 e 5000 espécies. Grande parte desses peixes vive em ambientes de águas escuras ou barrentas, situação bem diferente da encontrada no Planalto da Bodoquena. As nascentes e rios da região formam cenários ideais para contato com este imenso patrimônio natural, se tornando uma excelente janela para observação de ambientes de água doce e seus organismos. Suas águas absolutamente cristalinas dão um verdadeiro banho de sensibilização ambiental. Graças à transparência, os rios da Serra da Bodoquena são como janelas abertas por onde é possível ver peixes, plantas e até jacarés, sucuris, antas e ariranhas. Em conjunto, esses organismos formam uma intrincada trama de vida, que conecta desde uma alga unicelular aos grandes predadores dos rios, como os Dourados.

Apesar de muito transparentes, as águas do Planalto da Bodoquena ainda escondem verdadeiros tesouros naturais. Quanto mais os cientistas estudam, mas descobrem que têm apenas um rascunho das riquezas do local. Estimativas avaliam que cerca de 20% das 80 a 90 espécies dos peixes já identificadas ainda não foram descritas pelos biólogos. O maior desconhecimento dos peixes está nos grupos formados por pequenos lambaris e bagres.

Entre as espécies mais vistas estão: as piraputangas, de alimentação onívora; os dourados, que são predadores de outros peixes; os curimbatá, que se alimentam de detritos no fundo dos rios; e os mato-grosso, que são pequenos e de alimentação onívora. Mas também podem ser encontradas muitas outras espécies, como:- joaninha, que reproduz nas nascentes dos rios riachos;- peixes-cascudos do gênero Farlowella; - os bagres;- cachara, também predador de outros peixes;- pacu, de alimentação onívora;- pintado, grande predador de outros peixes e encontrado no fundo dos rios- 5 bagres-cegos restritos às cavernas da região (Ancistrus formoso, Trichomycterus dali e os ainda não descritos, Ancistrus sp., Rhamdia sp. e Trichomycterus cf. dali);- Canivete, Traíra, Piava, Piapara, Sagüiru, Piquira ou Mocinha, Tuvira, Peixe-Cachimbo, Piau, Cará e Mussum.

PEIXES

Você sabia? Piraputanga na língua indígena significa peixe do rabo vermelho.

Piraputanga Brycon hilarii

Entre as espécies encontradas na Serra da Bodoquena que realizam a piracema, podemos encontrar: piraputangas, curimbatás, dourados, pintados e cacharas. Já entre as residentes, estão as joaninhas e cascudos. A época da piracema varia em cada estado brasileiro, mas em grande parte do Brasil e também no Mato Grosso do Sul, percebeu-se que o período de novembro a fevereiro é o mais importante para a reprodução dos peixes que habitam os rios. Todos os anos, o governo publica as datas que serão consideradas como início e fim da piracema e, durante esse período, fica proibida a pesca, transporte, a não declaração do estoque, comercialização, beneficiamento e a industrialização do pescado, salvo em algumas exceções. É muito importante que seja respeitado o período reprodutivo das espécies para que as populações de peixes nos rios se recuperem. Caso seja desobedecida essa norma, os infratores podem ser penalizados legalmente.

Um fato interessante para a região se dá pela criação de duas leis específicas que visam proteger a biodiversidade aquática da Serra da Bodoquena, proibindo a pesca, seja esportiva, comercial ou amadora nos rios Formoso, Prata e Peixe. A Lei das Águas Cristalinas (Lei nº 1.871, de 15 de julho de 1998) proíbe a pesca com qualquer apetrecho nos Rios da Prata e Formoso, com exceção para a pesca de barranca feita pelos moradores ribeirinhos, visando tão somente ao consumo e subsistência de sua família. Já a Lei dos Rios Cênicos, reforça a proibição nos limites do município de Bonito para as bacias hidrográficas dos rios Formoso, Prata e Peixe, permitindo a pesca apenas para fins científicos ou para controle ambiental, desde que autorizada previamente por um órgão ambiental competente.

Piracema é a migração de peixes adultos rio acima em busca de locais para reprodução, desova e nascimento dos filhotes. Frequentemente, esses locais são as águas calmas e de melhor qualidade próximos às nascentes. Nem todas as espécies de peixes de rios realizam a piracema, sendo que algumas se reproduzem nos mesmos locais onde passam a vida, chamadas “espécies residentes”. Em um estudo realizado no rio Olho D’água, em Jardim, os pesquisadores perceberam que metade das 57 espécies encontradas realizam a piracema e as demais são residentes. A nascente do rio Baía Bonita, em Bonito, também é palco de reprodução de peixes residentes. Destacam-se as espécies do gênero Ancistrus e Crenicichla.

A Serra da Bodoquena é rica em nascentes de rios que servem como berçário natural e viveiro dos jovens. Assim, tanto as espécies que realizam piracema quanto as residentes dependem da preservação das suas águas. As atividades turísticas realizadas na região devem sempre levar em consideração essas questões para que a reprodução e sobrevivência dos peixes não sejam prejudicadas.

PIRACEMA:O DESLOCAMENTO DOS PEIXES PARA REPRODUÇÃO

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O Brasil é o país de maior riqueza de anfíbios do mundo, tendo a Serra da Bodoquena importante contribuição. Entretanto, ainda há estudos escassos sobre estes animais na região. Atualmente, pesquisas apontam o registro de apenas 38 espécies de anfíbios, onde a família Hylidade foi a mais representativa.

A distribuição das espécies não se apresenta de forma homogênea, podendo ser encontradas em diversos ambientes, como matas de galeria; campo úmido de nascente e vegetação arbórea - mata estacional semidecidual.

Dos anfíbios registrados, tem-se um grupo considerado generalista quanto ao hábitat, de ampla distribuição geográfica ou que ocupam rapidamente áreas que sofreram perturbações antrópicas. Por outro lado, há outro grupo com espécies mais exigentes quanto ao hábitat, presentes em áreas mais restritas como nascentes com predominância de gramíneas e formação ciliar florestada.

Na região da Serra da Bodoquena, os anfíbios são mais vistos e ouvidos na estação chuvosa, quando estão reproduzindo. As espécies mais comuns são aquelas que reproduzem em açudes, lagos ou banhados. Mas também existem espécies que reproduzem nos córregos e solo das matas.

ANFÍBIOS

Você sabia? Esses animais são os vertebrados com maior diversidade de modos reprodutivos (cerca de 40 modos diferentes): podem colocar ovos em rios, lagoas, bromélias, nas folhas do chão das matas; os girinos podem crescer na água, ou serem carregados pelos adultos, ou guardados dentro da barriga dos pais; então nem terem girinos e assim um mini adulto nasce dos ovos ou das costas da mãe, ou ainda muitos outros modos).

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ANFÍBIOS

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Informações sobre os répteis do Planalto da Bodoquena são escassas e pontuais e, aparentemente, sugerem uma semelhança com a fauna de cerrado. Estudos apontam a presença de pelo menos 25 espécies de répteis, sendo a família Colubridae a mais representativa. Nesta família são encontrados os répteis escamados, ou seja, as serpentes, sendo algumas venenosas, mas sem um aparelho eficaz de injeção durante a mordedura. No entanto, as espécies de serpentes que merecem atenção redobrada são as peçonhentas, pertencentes a outras famílias. As mais conhecidas na região são: jararaca, cascavel e coral-verdadeira.

Mesmo sem veneno, mas com uma presença de mexer com o imaginário das pessoas, está a sucuri, animal relativamente comum nos rios da região. Considerada um predador capaz de engolir animais inteiros após asfixiá-los, a sucuri se refugia em brejões nativos, como os do Rio Formoso e Prata, onde se reproduzem. É mais fácil avistá-las em épocas de estiagem, quando saem da água para ficar nas margens dos rios se aquecendo ao sol. As espécies que podem ser encontradas na Serra da Bodoquena são a sucuri-amarela e a sucuri-verde, sendo esta última considerada a mais pesada e mais grossa de todas as cobras do mundo.

Um fato curioso diz respeito ao período de acasalamento. Existem relatos de que na época da reprodução a sucuri pode comer um dos machos. Então nesta época os machos tendem a ficar agressivos porque têm medo de serem devorados pela fêmea.

Outro réptil bastante imponente, facilmente encontrado em lagoas, lagos e rios é o jacaré. Sua presença representa, ao contrário do que muitos pensam, uma contribuição eficaz para o aumento da população de peixes nos corpos d’água, já que suas fezes servem de adubo para o desenvolvimento de fitoplâncton, utilizado como alimento por diversos peixes.

RÉPTEIS

Sucuri Eunectes notaeus

RÉPTEIS

Jacaré-de-papo-amarelo Caiman latirostris

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Page 22: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

Além desses, também podem ser avistados na região os seguintes animais:

- Jabuti, animal terrestre encontrado em solos encharcados, mas também em regiões florestais;

- lagartinhos pequenos que vivem no chão das matas ou sobre rochas (cerca de 7 espécies);

- teiú, atinge cerca de 1,5m de comprimento e se alimenta de diversos itens (onívoro);

- lagarto-de-rabo-verde, também pode ser visto próximo às residências, de alimentação onívora;

- calangos, encontrados tanto em áreas de mata, como de vegetação aberta, podendo ser vistos pelos muros das residências enquanto se aquecem ao sol.

É importante destacar que as espécies de répteis encontradas até o momento superam em número os registros anteriores disponíveis para a região, supondo que a cada novo estudo a quantia deverá aumentar consideravelmente baseado da diversidade de ambientes que estes animais podem ser encontrados.

Voce sabia? As serpentes são solitárias e só encontram com outras serpentes para a reprodução. A maioria das espécies coloca ovos, mas não fica perto para cuidar deles. Mesmo quando os filhotes nascem direto da mãe, essa não fica junto para cuidar da ninhada, que logo se espalha e cada serpente já começa a cuidar de sua sobrevivência sozinha.

RÉPTEIS

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Geochelone carbonaria

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AVES

Page 23: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

As características naturais da Serra da Bodoquena tornam este ambiente favorável para uma grande diversidade de fauna, notadamente aves. São conhecidas atualmente mais de 400 espécies no Planalto da Bodoquena, sendo algumas de relevante interesse turístico.

Das espécies registradas, seis são migratórias, isto é, estão de passagem e não se reproduzem na região. Todas as demais espécies avistadas residem na Serra da Bodoquena.

Vale destacar que das aves registradas, 5 (cinco) são consideradas endêmicas, dentre elas estão: Pyrrhura devillei (periquito – Psittacidae), Syndactyla rufosuperciliata (trepador – Furnariidae) e Phyllomyias reiseri (piolhinho – Tyrannidae).

Outra informação de destaque está relacionada à presença de uma das maiores e mais fortes águias do mundo na região, a harpia (Harpia harpyja), uma espécie de ave considerada em situação crítica no Brasil. O primeiro avistamento de um casal de harpia no estado do Mato Grosso do Sul foi feito no município de Bonito em 2005, borda nordeste da Serra da Bodoquena. Após esta descoberta, outros avistamentos foram feitos, mas em regiões distintas: extremo sul e extremo norte da Serra. Também há registros de um ninho em uso no município de Bodoquena. Com base nestes registros, estima-se que exista uma população com aproximadamente dez casais ao longo de toda a Serra da Bodoquena.

Demais aves de notável importância também foram observadas durante as pesquisas de campo: maria-preta-bate-rabo (nunca antes observada no Brasil); peixe-frito-pavonino; maria-da-copa, araponga-do-horto e andorinha-de-dorso-acanelado (observada pela primeira vez no Mato Grosso do Sul).

AVES

As aves também são importantes por participarem de diversos processos ecológicos, seja ajudando na regeneração da vegetação nativa dispersando sementes e pólen, seja controlando as populações de insetos, ratos silvestres, cobras e outros animais.

Por isto, exercem um papel fundamental na conservação da natureza e hoje são foco de um rentável produto que vem crescendo na região, a observação da vida selvagem. Municípios de Bonito, Bodoquena e Jardim já atraem um número significativo de pessoas que pagam valores

Tucanuçu, Ramphastos toco Araçari-castanho, Pteroglossus castanotisMurucututu,Pulsatrix perspicillata

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expressivos pela oportunidade de observar determinada espécies.

Veja abaixo relação com algumas das aves que podem ser avistadas no Planalto da Bodoquena:

Ema, marreca-cabocla, mutum-de-penacho, socó-boi, curicaca, urubu-de-cabeça-vermelha, gavião-fumaça, carcará, seriema, cafezinho, quero-quero, fogo-apagou, arara-vermelha, arara-canindé, arara-azul, anu-branco, anu-preto, coruja-buraqueira, caburé, suindara, surucuá-de-barriga-vermelha, martim-pescador-verde, udu-de-coroa-azul, ariramba, tucano-toco, pica-pau-de-topete-vermelho, joão-de-barro, bem-te-vi, gralha-cancã, japacanim, sanhaço-azul, joão-pinto, sabiá-laranjeira, dentre muitos outros.

Urubu-de-cabeça-vermelha Gavião-caramujeiro

Mutum-de-penacho

Martim-pescador

Carcará

Sanhaço

Anu-preto

Caturrita

Quero-quero

Sabiá-Poca

Bem-te-vi

Siriema

João-pinto

Coragyps atratus Rostrhamus sociabilis

Crax fasciolata

Ceryle torquatus

Caracara plancus

Thraupis sayaca

Jaçanã ou CafezinhoJacana jacana

Crotophaga ani

Myiospsitta monachus

Vanellus chilensis

Turdus amaurochalinus

Pitangus sulphuratust

Cariama cristata

Icterus croconotus

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Page 24: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

Nos meses mais secos ocorre uma mudança na paisagem, que perde as cores verdes em troca de tons amarronzados. Este também é o período em que os animais começam a ficar “mais ativos”, para que os filhotes nasçam na primavera, crescendo quando a oferta de alimentos é abundante e as condições climáticas mais favoráveis. Até o momento são conhecidas nesta região mais de 60 espécies de mamíferos, dentre elas:

- tamanduás: o bandeira e o mirim; - tatus: peba ou peludo, tatu-bola, galinha, de-rabo-mole; - morcegos, sendo apenas 1 (uma) espécie hematófoga; - coati, mão-pelada e zorrilho; - lobinhos, lobo-guará e cachorro-vinagre; - anta; - veado-mateiro, veado-catingueiro, cateto e queixada; - macacos: bugio-preto e macacos-prego; - lontra, ariranha, irara e furão; - felinos: onça-parda, onça-pintada, jaguatirica, gato-palheiro, gato-mourisco;

- cotia, ariranha, irara, lontra, capivara.

MAMÍFEROS

Onça-parda

Tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla

Onça-pintada Panthera onca

Irara

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MAMÍFEROS

Macaco-prego Cebus apella

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Page 25: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

Em 2014 foi lançada a versão mais recente da lista brasileira de espécies ameadas de extinção, gerada por um esforço conjunto do ICMBio (órgão do governo) e pesquisadores brasileiros. No quadro abaixo constam alguns vertebrados encontrados na Serra da Bodoquena que estão na lista vermelha.

ESPÉCIES DA FAUNA AMEAÇADAS DE EXTINÇÃO

Nenhum réptil ou anfíbio registrado na Serra da Bodoquena está presente nessa lista, no entanto, algumas espécies desse grupo merecem destaque: o jabuti (Geochelone carbonária), o lagarto teiú (Salvator merianae) e um sapinho de folhiço (Ameerega picta) estão na lista que possuem comércio internacional monitorado e regulado. Além dessas, o jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris) é listado como comércio internacional proibido.

NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO

MAMÍFEROS

Cachorro-vinagre Speothos venaticus

Tamamnduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla

Lobo-guará Chrysocyon brachyurus

Gato-palheiro Leopardus colocolo

Onça-pintada Panthera onca

Onça-parda Puma concolor

Cuíca Thylamys macrurus

Anta Tapirus terrestres

Queixada Tayassu pecari

Ariranha Pteronura brasiliensis

Morcego Furipterus horrens

NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO

AVES

Harpia Harpia harpyja

Águia-cinzenta Urubitinga coronata

Socó-boi Tigrisoma fasciatum

Uiraçu-falso Morphnus guianensis

NOME POPULAR NOME CIENTÍFICO

PEIXES

Cascudo-cego Ancistrus formoso

Cascudo-cego Trichomycterus dali

Lobo-guará Chrysocyon brachyurus Águia-cinzenta Urubitinga coronata

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MAMÍFEROS

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Cotia

Capivara

Lobinho Anta

Tamandua tetradactyla

Ozotoceros bezoarticus

Dasyprocta azarae

Hydrochoerus hydrochaeris

Cerdocyon thous Tapirus terrestris

Tayassu pecari

Pteronura brasiliensis

Macaco-pregoCebus apella

Euphractus sexcinctus

Leopardus pardalis

Nasua nasua

BugioAlouatta caraya

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Page 26: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

Alguns organismos possuem pouca tolerância às mudanças de qualidade ambiental, vivendo apenas em locais que apresentem as características necessárias à sua sobrevivência. São conhecidos como bioindicadores. Na Serra da Bodoquena, já foram reconhecidos diversos exemplares com esta característica.

ANIMAIS INDICADORES DA QUALIDADE AMBIENTAL

Anfíbios que habitam as matas e se reproduzem nos riachos da região podem dar dicas sobre a conservação, já que dependem desses dois ambientes para existirem. O sapinho-folha (Rhinella scitula) - ao lado - e o sapinho Ameerega picta são exemplos.

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Farlowella sp. Socó-boi Tigrisoma fasciatum

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Sim! Alguns animais usam as grutas e cavernas apenas como abrigo ou local de alimentação (trogloxenos), outros permanecem bastante tempo nesses ambientes, mas podem sair (troglófilos), e existem aqueles que habitam exclusivamente os ambientes subterrâneos (troglóbios), com adaptações próprias como redução ou até ausência de olhos e de pigmentação no corpo.

Sabe-se que existem pelo menos 236 espécies de animais vivendo nas cavernas da Serra da Bodoquena, sendo pelo menos 17 espécies habitantes exclusivos de cavernas! Entre elas estão 5 espécies de peixes (Ancistrus formoso, Trichomycterus dali, Ancistrus sp., Rhamdia sp. e Trichomycterus cf. dali) e 12 de invertebrados como insetos, crustáceos, aracnídeos, piolhos-de-cobra (diplópodas) e onicóforos (vermes de pele aveludada). Quanto aos crustáceos, a Gruta do Lago Azul, em Bonito, é abrigo de uma importante e rara espécie, o Potiicoara brasiliensis. Também encontrado em outras cavernas da região, mede 7,1 mm, não despertando qualquer interesse comercial.

Você sabia?

Os onicóforos são pré-históricos, com pelo menos 350 milhões de anos! São pequenos (cerca de 10 cm), caçadores e esguicham jatos de uma substância adesiva a uma distância de até 40 cm para imobilizar a presa. A espécie encontrada na Serra da Bodoquena era totalmente desconhecida pela ciência.

EXISTE VIDA NAS CAVERNAS?

Ancistrus formoso

Entre as espécies que apenas se abrigam nas cavernas, já foram observadas sete de morcegos, três de roedores, uma coruja, uma cuíca e um anfíbio.

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Potiicoara brasiliensis.

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Por exemplo, as tufas calcárias (associação de algas, musgos e deposição de calcário) são sensíveis à poluição e turbidez da água. Os peixes cascudos do gênero Farlowella são sensíveis as alterações da disponibilidade de algas (seu principal alimento). O peixe Joaninha, que constrói ninho e cuida dos filhotes, é sensível às mudanças na estrutura do rio. O peixe curimbatá se alimenta de partículas orgânicas do leito do rio, podendo dar informações sobre a saúde deste leito. Ainda nos rios da região, muitas espécies de invertebrados são sensíveis às alterações da qualidade da água.

Além de animais aquáticos, a presença de espécies que vivem nas matas e não conseguem sobreviver em áreas abertas (desmatadas) ou de plantações também fornecem informações sobre a qualidade do local. Nesse caso, entre as aves podemos citar o socó-boi-escuro, especialista em rios límpidos, com corredeiras e cercados por florestas densas e preservadas. Entre os mamíferos, a presença da onça-parda ou puma, predadora de topo de cadeia, indica que existem muitas outras espécies de mamíferos na região.

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Page 27: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

FÓSSEIS E ANIMAIS PRÉ-HISTÓRICOS

Os fósseis são o registro da biodiversidade que viveu no passado e nos permitem viajar no tempo quando imaginamos como era o mundo naquela época. Muitos dos padrões de distribuição da fauna observados hoje são consequências de eventos históricos de mudança do clima, vegetação e conexão entre continentes, e o registro fóssil encontrado no Planalto da Bodoquena ajuda a confirmar essa ideia. Essa região é rica em registros da megafauna sul-americana (grandes mamíferos), com fósseis bem preservados.

Quando surgiu uma ponte entre as Américas do Norte e Sul (istmo de Panamá), há cerca de 2,5 milhões de anos atrás, houve uma grande dispersão de animais para ambas as direções. Depois disso, durante os últimos 1,6 milhões de anos ocorreram intensas mudanças climáticas na Terra chamada de glaciações (na quais extensas porções da Terra congelavam). Conforme o clima mudava, as regiões ocupadas por florestas aumentavam ou diminuíam e novas espécies de animais iam surgindo, desaparecendo ou mudando sua área de ocorrência. Foi nessa época que a Serra da Bodoquena esteve ocupada por grandes mamíferos como tigres-dente-de-sabre (Smilodon populator), preguiças gigante (Heremotherium laudilardi), toxodontes, semelhantes a hipopótamos (Toxodon platensis), glyptodontes, semelhantes a tatus gigantes (Glyptodonte clavipes), mastodontes (Stegomastodon waringi), mamutes (Haplomastodon sp.) entre outros.

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(Glyptodonte clavipes)

Exemplos da megafauna encontrada na Serra da Bodoquena

arte: H. Mussolini

FÓSSEIS E ANIMAIS PRÉ-HISTÓRICOS

Você sabia? Nem só de megafauna vive o registro fóssil! Em todo o Mato Grosso do Sul, incluindo a Serra da Bodoquena, já foram encontrados registros de organismos microscópicos, algas, conchas de moluscos e diversos outros animais de corpo mole. Muitos desses organismos fizeram parte das primeiras formas de vida na Terra e deram origem a muitos seres que conhecemos hoje.

Até o momento, já foram encontrados fósseis de pelo menos 13 espécies extintas. Esses registros estavam nas grutas e cavernas inundadas da região, como Gruta do Lago Azul, Gruta Nossa Senhora Aparecida e Nascente do Formoso (em Bonito); Gruta das Fadas (Bodoquena) e Buraco do Japonês (Jardim).

Foi nessa época também que surgiram os primeiros registros culturais humanos, observados nas inscrições rupestres. Eis que ocorreu, então, uma extinção em massa dos grandes mamíferos. As causas dessa extinção podem ser por doenças, competição entre as espécies, mudanças climáticas e na vegetação e inclusive ação humana. Em seguida, os mamíferos de médio e pequeno porte observados nos dias atuais começaram a aumentar em número e área de ocorrência. Acredita-se que 35% das espécies de mamíferos conhecidas hoje que habitam o Cerrado e Pantanal já existissem nos últimos 1,8 milhões de anos.

preguiça-gigante

(Heremotherium laudilardi)Castor Cartelle

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Page 28: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

Introdução A Serra da Bodoquena é de reconhecida riqueza ambiental, identificada como área de importância “extremamente alta” para a conservação pela Comissão Nacional de Biodiversidade (CONABIO). Além disso, a Serra da Bodoquena também é núcleo de duas “Reservas da Biosfera”: a da Mata Atlântica (desde 2001), e a do Pantanal (desde 2000). “Reservas da Biosfera” são definidas internacionalmente pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) e correspondem a áreas extensas de ecossistemas, onde se buscam alternativas de desenvolvimento humano compatíveis com a conservação da biodiversidade.

No documento denominado “Ações Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade do Cerrado e Pantanal”, elaborado em 1999 pelo Ministério do Meio Ambiente, Funatura, Conservação Internacional do Brasil, Fundação Biodiversitas e Universidade de Brasília, a Serra da Bodoquena foi considerada como área prioritária para a conservação da diversidade de aves, mamíferos, biodiversidade aquática e botânica, justificando plenamente a criação de Unidades de Conservação (UC) na região.

As 16 unidades existentes, distribuídas nos municípios de Bodoquena, Bonito e Jardim contribuem com a proteção de mais de 110 mil hectares. Incluindo a área protegida pela Reserva Indígena Kadiwéu, uma área de preservação ambiental no município de Porto Murtinho, esse número sobe para mais de 650 mil hectares. Essas UCs estão distribuídas em dois Monumentos Naturais, doze Reservas Particulares do Patrimônio Natural, uma Área de Proteção Ambiental e um Parque Nacional. Também é importante citar a existência de um Geoparque.

O que são Unidades de Conservação? As Unidades de Conservação (UCs) são áreas de proteção ambiental, podendo ser de responsabilidade Federal, Estadual e Municipal, divididas em dois grupos:

- Proteção integral (para proteger os ecossistemas das alterações humanas): Estação Ecológica; Reserva Biológica; Parque Nacional; Monumento Natural; Refúgio de Vida Silvestre e Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN);

- Uso sustentável (permite alguns tipos de intervenções humanas): Área de Proteção Ambiental (APA); Área de Relevante Interesse Ecológico; Floresta Nacional; Reserva Extrativista; Reserva de Fauna; Estrada Parque e Reserva de Desenvolvimento Sustentável.

As UCs Federais são geridas pelo ICMBio - Instituto Chico Mendes de Proteção da Biodiversidade que neste caso é o responsável direto pelo Parque Nacional da Serra da Bodoquena. Na Serra da Bodoquena existem ainda 10 UCs de responsabilidade estadual, nesse caso, o órgão responsável é o Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (Imasul). Caso as UCS sejam municipais, o gestor é o próprio município.

UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA SERRA DA BODOQUENA PARQUE NACIONAL DA SERRA DA BODOQUENA

É a unidade de conservação mais importante da Serra da Bodoquena, sendo sua gestão de responsabilidade do ICMBio por se tratar de uma UC Federal. Um Parque Nacional tem o objetivo de preservar ecossistemas de relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando pesquisas científicas, atividades educacionais, recreação e turismo ecológico.

Com cerca de 77.000 hectares, o Parque Nacional da Serra da Bodoquena (PNSB) está dividido em dois fragmentos: norte (27.793 ha) e sul (48.688 ha) e abrange 4 municípios. A área do PNSB ocupa 8,3% do território de Bodoquena, 5,2% de Bonito, 2,4% de Jardim e 1,4% de Porto Murtinho.

O PNSB está inserido no bioma Cerrado (segundo o IBGE), sendo o 6º maior Parque Nacional entre os 13 (treze) desse bioma. No entanto, a vegetação predominante é a “Floresta Estacional Decidual Submontana”, pertencente ao Domínio de Mata Atlântica, por isso é também reconhecido como o maior remanescente deste bioma no Mato Grosso do Sul. Olhando com mais detalhes, pode-se perceber que o PNSB protege um pouco de tudo o que foi abordado até agora: a rica biodiversidade (fauna e flora), as águas, a beleza cênica, as grutas e cavernas, as tufas calcárias e muitos registros fósseis do passado.

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Page 29: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

A harpia foi incluída na logomarca do PNSB e recebeu o nome de “Kaluanã” (que significa ave forte e guerreira) após um concurso educativo para escolha do nome da mascote do parque, realizado com escolas públicas dos municípios de Bodoquena, Bonito, Jardim e Porto Murtinho.

Ave símbolo do PNSB

A harpia (Harpia harpyja), maior ave de rapina do Brasil, foi escolhida para representar o PNSB. Com cerca de 1 m de comprimento e até 2,30 m de envergadura, é encontrada em florestas densas. Seu ninho é tão grande quanto o de um tuiuiú, formado por pilhas de galhos no alto de árvores altas. A fêmea põe 2 ovos, mas geralmente apenas um filhote sobrevive e leva cerca de 5 meses para voar, e de 2 a 3 anos para se tornar adulto. Alimenta-se de animais grandes, como a preguiça-real, macacos, filhotes de veados, araras-azuis, seriemas, tatus, cachorro-do-mato e répteis.

Kaluanã - o mascote e a logomarca foram criados pelo artista Ronald Rosa. O nome foi dado pela aluna Alessandra Martinez Martins, da Escola Munic. Profa. Rufina Loureiro Caldas, de Jardim/MS, em um concurso promovido pelo ICMBio.

A intensão de proteger essa região tão interessante foi sugerida pela primeira vez em 1989, no Macrozoneamento Geoambiental do Mato Grosso do Sul. Depois de muito esforço de algumas pessoas e entidades, finalmente em 1998 foi determinado que os recursos de compensação ambiental do Gasoduto Bolívia Brasil seriam aplicados na regularização fundiária inicial das áreas do PNSB. Mas ainda muito esforço e discussão foram necessários até que em 21 de setembro de 2000, no Dia da Árvore, finalmente o decreto de criação do Parque Nacional da Serra da Bodoquena fosse assinado, criando a primeira unidade de conservação federal no estado.

BREVE HISTÓRIA DO PNSB

Harpia Harpia harpyja

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Também considera um UC de proteção integral, agora com o objetivo de preservar sítios naturais raros, singulares e/ou de grande beleza cênica, permite a visitação e pesquisa

científica. Na Serra da Bodoquena existem 2 UCs desse tipo, ambas em Bonito:

Gruta do Lago Azul

MONUMENTO NATURAL

Transformada em UC em 2001, é formada por duas áreas que somam cerca de 274 ha. Tem o objetivo de proteger as grutas do Lago Azul e Nossa Senhora Aparecida. Em 1978, essas grutas já haviam sido tombadas pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), que reconhece locais com destaque nas áreas da geologia, paleontologia, espeleologia, hidrologia, biologia e ecologia.

Transformada em UC em 2003 e com cerca de 18 ha, essa UC está inserida na bacia hidrográfica do Rio Formoso (Bonito), no local conhecido regionalmente como “Ilha do Padre”, hoje denominado Eco Parque Porto da Ilha.

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Page 30: Serra da Bodoquena: Encontro de Culturas, Histórias, Biomas e Ecossistemas

As RPPNs são áreas privadas naturais, transformadas em UC por escolha do proprietário, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. É permitida a pesquisa científica e a visitação pública com finalidade turística, recreativa e educacional. Na Serra da Bodoquena existem várias RPPNs, dentre estaduais e federais:

RPPN Cidade HectaresRPPN Fazenda Singapura (Federal) Bonito 456

RPPN Fazenda América (Federal) Bonito 401

RPPN Fazenda Boqueirão (Federal) Bonito 173,60

RPPN Buraco das Araras (Federal) Jardim 29,03

RPPN Fazenda São Geraldo (Estadual) Bonito 642,00

RPPN Xodó do Vô Ruy (Estadual) Jardim 487,62

RPPN Fazenda Cabeceira do Prata (Estadual) Jardim 307,53

RPPN Estância Mimosa (Estadual) Bonito 271,76

RPPN Reserva do Saci (Estadual) Bonito 178,00

RPPN Fazenda da Barra (Estadual) Bonito 88,00

RPPN Rancho do Tucano (Estadual) Bonito 29,85

RPPN Cara da Onça (Estadual) Bodoquena 11,69

RPPNRESERVA PARTICULAR DO PATRIMÔNIO NATURAL

RPPN Buraco das Araras

São UCs de uso sustentável que, em geral, possuem certo grau de ocupação humana. Seu objetivo é proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. Na Serra da Bodoquena, existe a APA do Rio Perdido, no município de Porto Murtinho, com cerca de 36.000 hectares.

ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL (APA)

Na Serra da Bodoquena, existe ainda uma área de preservação ambiental que não é enquadrada em nenhuma categoria de unidade de conservação. Intitulada no site da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) na modalidade de Terras Indígenas Tradicionalmente Ocupadas, a Reserva Indígena Kadiwéu ou Campo dos Índios, nomes regionalmente conhecidos, possui área de 538.000 hectares pertencente ao município de Porto Murtinho, sendo a maior terra indígena no centro-sul do país, estando totalmente regularizada. Essa área é destinada à posse e ocupação pelos povos indígenas para que possam viver e obter meios de subsistência, com direito ao usufruto e utilização das riquezas naturais, garantindo-se as condições de sua reprodução física e cultural.

Uma parte considerável das terras da Reserva Indígena Kadiwéu encontra-se, hoje, sub jurice, por conta de ações movidas por fazendeiros da região contra a União, proprietária legal das terras indígenas no Brasil. Essas ações referem-se, sobretudo, a questões ligadas a arrendamentos ilegais e titulação de terras.

Nesta área vivem os índios da etnia Kadiwéu, únicos falantes no Brasil de uma língua filiada à família linguística isolada Guaikuru. Inclui-se ainda vivendo no local as etnias Kinikinau e Terena. Até a década de 1990, os Kadiwéu eram parcialmente desconhecidos pelos moradores de Porto Murtinho, devido às enormes distâncias entre a sede do município e as aldeias (Barro Preto, Bodoquena, Campina, São João e Tomázia). Havia, ainda, a ideia errônea de que esses índios viviam nos municípios de Bodoquena e Bonito, confusão, em parte, gerada pela proximidade da maior aldeia Kadiwéu, chamada nos dias de hoje de Bodoquena (antigo Posto Indígena Presidente Alves de Barros), com a cidade sul-mato-grossense homônima.

A reserva tem como limites naturais os rios Paraguai e Nabileque a oeste, a Serra da Bodoquena a leste, o rio Neutaka ao Norte e o rio Aquidabã ao sul.

RESERVA INDÍGENA KADIWÉU

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GEOPARQUE BODOQUENA-PANTANAL

O Geoparque Bodoquena-Pantanal localiza-se no Estado do Mato Grosso do Sul, abrangendo as microrregiões geográficas Bodoquena; Baixo Pantanal e Aquidauana e áreas parciais de 11 municípios (Bela Vista, Bodoquena, Bonito, Caracol, Corumbá, Guia Lopes da Laguna, Jardim, Ladário, Miranda, Nioaque e Porto Murtinho). Geoparque é uma marca atribuída pela UNESCO a uma área onde ocorrem excepcionalidades geológicas que são protegidas e aproveitadas como elementos indutores de educação ambiental e de desenvolvimento sustentável. A área que contorna o proposto Geoparque Bodoquena-Pantanal foi definida pelo decreto estadual nº 12.897 de 22/12/2009 sob o nome de “Geopark” Estadual Bodoquena-Pantanal e possui 39.000 km2. A proposta foi encaminhada para submissão da UNESCO, sendo que ainda não foi aprovada. É importante ressaltar aqui que o Geoparque não se enquadra como uma unidade de conservação prevista no SNUC (Sistema Nacional de Unidades de Conservação).

Geopark Bodoquena-Pantanal

AMEAÇAS À BIODIVERSIDADE DA SERRA DA BODOQUENA*

Até a segunda metade do século XX, o Estado de Mato Grosso do Sul apresentava-se coberto, em quase sua totalidade, por vegetação nativa. A partir da década de 40 iniciou-se um processo de contínua modificação dessas paisagens naturais. As florestas estacionais e semideciduais da Região Centro-Sul do Estado foram intensamente exploradas pela indústria madeireira e sequencialmente substituídas por extensas monoculturas e pecuária extensiva de baixa produtividade. Atualmente o estado conta com menos de 30% da sua cobertura vegetal nativa. Na Bacia Hidrográfica do Rio Miranda a situação não é diferente. Um levantamento realizado em 2004 apontou que mais de 80% de sua área encontra-se ocupada por agricultura, campos e pastagens, com destaque para cultura da soja, o arroz de sequeiro e irrigado e o milho.

Apesar da Serra da Bodoquena abrigar um imenso patrimônio natural e ser fundamental para conservação da biodiversidade e dos recursos hídricos da região, vem sofrendo com vários impactos ambientais advindos da ocupação e atividades econômicas desenvolvidas. Um estudo realizado pela ONG Conservação Internacional do Brasil estimou que até 2004, cerca de 40% dos 363.442 km2 da Bacia do Alto Paraguai teve sua vegetação original suprimida. Destes, cerca de 140 km2 ou 37,44% da BAP foram em áreas de Planalto e o restante na própria planície pantaneira. O estudo ainda apontou que municípios como Jardim e Bodoquena já perderam entre 40 e 60% de sua vegetação original, enquanto Bonito perdeu entre 60 e 80%. Outro estudo aponta que boa parte da vegetação original localizada no entorno do Parque Nacional da Serra da Bodoquena foi substituída por áreas de pastagem cultivada.

O resultado dessa ocupação desordenada é uma grande perda da biodiversidade original. Recentemente tem sido verificado o avanço de carvoarias no sudoeste do Estado do Mato Grosso do Sul, as quais têm preferência pela utilização da mata decídua para produção de carvão. Em 2010 estimava-se que somente nos municípios da região da Serra da Bodoquena existiam mais de 36 carvoarias, o que representa, sem dúvida, uma grande ameaça para o meio ambiente, podendo ser considerada incompatível com a realização de algumas atividades, como o ecoturismo.

Outro problema identificado é a instalação de assentamentos rurais em locais inadequados para o desenvolvimento de programas de reforma agrária. Um exemplo disso são os assentamentos Guaicurus (Bonito) e Canaã (Bodoquena), os quais são dominados por declives muito acentuados e/ou afloramentos calcários, o que dificulta a utilização da área pelos assentados, ou ainda a existência de projetos para instalação de assentamentos no entorno de unidades de conservação. Um estudo desenvolvido pelo Grupo Iguaçu discute os problemas ambientais decorrentes da implantação inadequada de assentamentos rurais na Serra da Bodoquena, o que pode levar a degradação dos recursos naturais desta região e representar uma ameaça ao próprio Parque Nacional da Serra da Bodoquena.

Durante os anos de 2004 e 2005 uma série de ações de fiscalização foram realizadas nos municípios de Bodoquena, Bonito, Jardim e Porto Murtinho, concentrando-se principalmente no entorno do Parque Nacional. As principais irregularidades constatadas durante os trabalhos de fiscalização foram a posse irregular de motosserra, o acondicionamento irregular de agrotóxicos, a realização de drenagens em áreas de banhado e sua substituição por agricultura ou pasto e desmatamentos não autorizados.

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A constatação de que áreas de banhado estão sendo drenadas e substituídas por agricultura ou pasto é muito preocupante, pois estas áreas funcionam como um filtro natural, além de serem áreas de abastecimento para os rios da região. Desta forma, essa atividade pode afetar tanto a qualidade quanto a quantidade dos recursos hídricos. O acondicionamento irregular de agrotóxicos também chama a atenção, principalmente pela possibilidade de contaminação dos recursos hídricos, devido às particularidades do solo e geologia.

As características hidrológicas e geológicas da Serra da Bodoquena com a formação de rochas carbonáticas lhe dá o título de mais importante e significativa das cinco áreas de recarga dos aquíferos da bacia do Alto Paraguai, de acordo com o diagnóstico ambiental do Plano de Conservação da Bacia do Alto Paraguai - PCBAP. Além disso, as litologias calcárias que compõem a Serra da Bodoquena são responsáveis pelos inúmeros rios cristalinos, cachoeiras, represas naturais, tufas calcárias, rios de sumidouros e grutas, tão característicos da região e que a tornou um famoso destino de ecoturismo no Brasil e a transformou em uma das cinco maiores províncias espeleológicas do país.

Porém, essa mesma característica fez com que a indústria da mineração apresentasse interesse pela região, a qual explora as formações de rochas como suprimento de matéria prima para a produção de cimento e calcário. As atividades mineradoras, além de gerarem forte impacto visual, causam assoreamento e modificam a trajetória dos corpos d’água, contaminando as bacias com dejetos de diferentes origens e intensificando processos erosivos, com consequente descaracterização da paisagem.

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O turismo vem crescendo muito nos últimos anos e exerce forte impacto econômico na região, tendo ênfase principalmente na porção sul da Bacia Hidrográfica do Rio Miranda. Apesar do município de Bonito se destacar nessa atividade, outros municípios como Jardim e Bodoquena também apresentam alto potencial turístico, desenvolvendo ações para incentivar a atividade na região.

Nesse contexto, o turismo pode surgir como uma oportunidade de atividade de menor impacto, sendo mais compatível com a conservação da região, uma vez que os visitantes buscam o contato com a natureza e suas famosas águas claras. De fato, na Serra da Bodoquena existem alguns avanços conceituais e operacionais, que tornam menores os impactos de tal atividade, tais como: obrigatoriedade de licença ambiental, acompanhamento de guia credenciado e limites na capacidade de visitação dos atrativos turísticos. Porém acomodar e ajustar o crescente número de visitantes vem se tornando um grande desafio, o qual exige um sério planejamento e ações de controle e monitoramento da atividade.

Importante ressaltar que as ameaças relatadas para a Serra da Bodoquena não geram impactos somente sobre a biodiversidade e os recursos hídricos locais, mas também afetam diretamente a planície pantaneira. As nascentes dos rios que correm para o Pantanal estão localizadas principalmente nas regiões de planaltos e a remoção da vegetação nestas áreas, vem sendo a principal causa do assoreamento dos rios na planície e da intensificação das inundações na Bacia do Alto Paraguai. Ressalta-se ainda que a conservação da região, especialmente do Parque Nacional da Serra da Bodoquena é de extrema necessidade para a continuidade da atividade turística das áreas de entorno, pois o desmatamento daquela área comprometeria a integridade de todos os atrativos.

Algumas iniciativas de organizações não governamentais e do setor privado têm sido importantes para desacelerar o processo de degradação, apesar disso existe urgência em investimento em ações de fiscalização e monitoramento ambiental por parte do poder público, além de programas de recuperação e conservação ambiental. Além disso, a criação de áreas protegidas sejam elas, públicas ou privadas, assim como investimentos na efetiva implantação destas áreas são fundamentais para a conservação desse inestimável patrimônio que é a Serra da Bodoquena.

* Texto extraído na íntegra de: Serra da Bodoquena: Um paraíso ameaçado? Autores: Angela Pellin / Sandro M. Scheffler

AMEAÇAS À BIODIVERSIDADE DA SERRA DA BODOQUENA*

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AMEAÇAS À BIODIVERSIDADE DA SERRA DA BODOQUENA*

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• Caça, pesca e tráfico de animais silvestres

O problema: É a captura, venda e compra de animais silvestres. É o terceiro maior comércio ilegal no mundo, perdendo penas para o tráfico de drogas e armas. Além de reduzir a biodiversidade, essa prática também é um ato de crueldade, provocando sofrimento por maus tratos e morte nos animais vítimas. A Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres (RENCTAS) estima que de cada dez animais traficados, nove morrem antes de serem comercializados.

As grandes rotas de tráfico tem origem nas regiões Norte e Centro-Oeste e Mata Atlântica, com destino ao eixo Rio-São Paulo. No Mato Grosso do Sul, os animais são capturados no Pantanal, Serra da Bodoquena, sul e norte do estado e vendidos na capital e cidades de fronteiras. O Paraguai também é destino das rotas de tráfico de animais no estado.

As espécies que mais sofrem pressão dos traficantes são as aves, como o papagaio-verdadeiro e as araras, mamíferos, lagartos, serpentes e alguns anfíbios. Segundo a Lei de Crimes Ambientais, é proibido caçar, vender, transportar e manter animais silvestres em cativeiro.

Como evitar: Não compre animais silvestres. Se você gosta de ver aves na sua casa, plante árvores que elas virão; Não pratique a captura, venda, transporte ou manutenção de animais em cativeiro. Além de crime, é também cruel e prejudica a sobrevivência das espécies na natureza. Denuncie qualquer ação relacionada ao tráfico para a polícia militar ambiental da sua cidade. Não é necessário se identificar.

OUTRAS FORMAS DE AMEAÇA

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Foto retirada no CETAS Centro de Triagem de Animais Silvestres IBAMA

• Atropelamento da fauna silvestre

O problema: Pode até não parecer, mas o atropelamento de animais silvestres é uma importante ameaça à fauna. Uma estimativa realizada pelo Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE) mostra que 15 animais silvestres são atropelados por segundo nas estradas brasileiras! Isso soma mais de 1,3 milhões de animais por dia (475 milhões por ano!). Na região da Serra da Bodoquena, a cada dia, é possível perceber o aumento do número de animais atropelados nas rodovias que dão acesso aos seus municípios de entorno (BR 267, BR 060, MS 178, MS 382). Os mais observados atropelados na beira das estradas são: tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, lobinhos, seriema, tatu e anta.

Como evitar: A melhor forma de prevenir os atropelamentos é dirigir com atenção e responsabilidade, respeitando os limites de velocidade, especialmente em estradas próximas a fragmentos de mata, rios e banhados; Além disso, pode-se evitar dirigir, ou redobrar os cuidados, nos horários de maior atividade dos animais. Durante o amanhecer e anoitecer, quando a luz do dia está bem suave (lusque-fusque), muitas aves e mamíferos estão entrando em atividade ou retornando para os abrigos. Justamente nesses horários a visibilidade é pior na estrada. Essa mistura frequentemente resulta em atropelamentos; Também se encontra alguns mamíferos durante a noite. Nesse caso, é importante regular o farol do carro para que seja possível visualizar o animal na estrada em tempo de frear ou desviar. Se o farol estiver muito baixo, o animal só é percebido tarde demais; Você pode evitar um atropelamento. Se estiver dirigindo, seja responsável e diminua a velocidade. Se estiver de carona, ajude a prestar a atenção na estrada. Divulgue os horários de maior risco de encontro de animais nas estradas para amigos, familiares e turistas, colaborando com a diminuição desses tristes números de mortes.

OUTRAS FORMAS DE AMEAÇA

Tamanduá-bandeira atropelado

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Apesar de existirem ameaças que possam vir a afetar a integridade da Serra da Bodoquena, há diversos exemplos de boas práticas que vêm a contribuir para a conservação desta região de extrema importância ambiental e turística.

Aqui estão elencadas apenas algumas, a título de exemplificação, mas com certeza, espalhadas nos seus municípios de entorno, há muitas outras que nem sequer serão listadas nesta publicação.

• Propriedades rurais*

Com o Brasil atravessando uma grave crise hídrica, provocada pela escassez e distribuição irregular das chuvas, o que afetou o abastecimento de água de algumas cidades, a geração de energia e ameaça a produção de alimentos, a discussão e a busca por alternativas para racionalizar o uso da água em todo o país se intensificou. Na Serra da Bodoquena, alguns produtores rurais adotam um conjunto de boas práticas em sua fazenda, como a conservação do solo com plantio direto, rotação de culturas, integração lavoura-pecuária e captação da chuva para uso no cultivo, entre outras, se tornando referência no estado para o uso sustentável da água na agricultura e pecuária.

Outra medida que vem sendo adotada visando à economia no uso dos recursos hídricos é a instalação de um sistema de captação e armazenamento da água da chuva para o preparo das caldas de defensivos que são aplicados nas lavouras.

* Texto extraído do Portal G1 (http://g1.globo.com/mato-grosso/agrodebate/noticia/2015/02/produtores-de-ms-adotam-boas-praticas-para-uso-racional-da-agua.html)

BOAS PRÁTICAS NA SERRA DA BODOQUENA

• Legislação ambiental

Nas bacias hidrográficas dos rios Formoso, Prata e Peixe, a faixa de proteção ambiental é de 150m de largura para cada lado da margem.

Nessa faixa é proibido: agricultura, indústria, extração de madeira ou mineral, criação de pequenos animais, uso de embarcações motorizadas, e qualquer atividade que danifique as tufas e cachoeiras (Lei Estadual 1.871/1998). Além disso, também é proibida a divisão, loteamentos ou desmembramentos da área e qualquer tipo de pesca (Lei Municipal 989/2003 - Lei dos Rios Cênicos). E ainda, a Lei Estadual 2.223/2001 responsabiliza proprietários e arrendatários de imóveis rural e urbano pela poluição e degradação dos rios e suas margens. Fica proibido o uso direto das águas dos rios cênicos para consumo animal, emissão de dejetos humanos e agrotóxicos usados nas áreas de cultivo.

Também é preciso citar a Lei Orgânica de Bonito que dentre todos os seus artigos, dois chamam a atenção. No Artigo 175 há a proibição do desmatamento na Cordilheira conhecida como Serra da Bodoquena com topografia superior a vinte por cento, nos limites do munícipio. Já o Artigo 179, um dos mais importantes desta lei diz respeito à proteção das matas ciliares, proibindo o desmatamento, a descaracterização e qualquer outro tipo de degradação ao meio ambiente no trecho de cinquenta metros das margens de todos os rios e mananciais na área rural e de trinta metros das margens de todos os rios e mananciais da área urbana do Município.

• Poços artesianos

Com relação aos poços artesianos, estudos da Sanesul, empresa de saneamento básico prestadora de serviços em Bonito, indicaram que a capacidade da empresa para o fornecimento de água aos consumidores atingiu seu limite máximo. Dessa forma, a Promotoria de Justiça exigiu dos proprietários que possuem poços artesianos a instalação de hidrômetros ocasionando o pagamento do esgoto proporcional ao consumo de água, e por consequência o uso mais racional do líquido

BOAS PRÁTICAS NA SERRA DA BODOQUENA

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Integração lavoura-pecuária: Aumento na produção com respeito ao meio ambiente e ao bem estar animal.

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garantir um futuro sustentável

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• Licenciamento ambiental das atividades turísticas*

No município de Bonito não existem atrativos turísticos funcionando sem licença ambiental. A medida foi tomada a partir de 2006 por conta de uma grande preocupação quanto à capacidade de carga dos passeios. A partir de então, esse fato fez com que todos os atrativos priorizassem o licenciamento ambiental da atividade, gerando uma visão de sustentabilidade da cidade. Bonito se sobressai nas questões ambientais por ter uma coalização muito forte entre o Ministério Público e demais órgãos ambientais aliado a organização do turismo e especialmente a conscientização e colaboração dos profissionais do turismo como proprietários dos atrativos e os guias de turismo.

O município de Bonito também é pioneiro no que se refere ao licenciamento de cavidades turísticas, servindo de modelo para outras regiões do Brasil. De acordo com o Promotor de Justiça, Luciano Furtado Loubet, responsável pela iniciativa “Não existia nenhuma gruta licenciada no Brasil, porque tinha uma discussão se era o IBAMA ou se era o Estado que licenciava, então chamamos autoridades nacionais no assunto e conseguimos chegar num acordo, estabelecendo um procedimento de licenciamento como atrativo turístico, permitindo que as grutas do Lago Azul, São Miguel, Abismo Anhumas e São Mateus se regularizassem”.

* Texto extraído do site Bonito Net (http://bonitonet.com.br/artigo.php?artigo=12622)

BOAS PRÁTICAS NA SERRA DA BODOQUENA

• Fundo Municipal do Meio Ambiente

Nos municípios presentes no entorno da Serra da Bodoquena existe o Conselho Municipal de Meio Ambiente, órgão colegiado inserido no Poder Executivo Municipal de natureza deliberativa ou consultiva integrado por diferentes atores sociais (governo, empresariado, universidades, trabalhadores e sociedade civil) que lidam com temas relacionados ao meio ambiente. Em Bonito, além do Conselho, o COMDEMA, existe um Fundo Municipal de Meio Ambiente cujo uso dos recursos é decidido pelos seus conselheiros junto à administração pública. Estes recursos eram provenientes, em sua maioria, de compensações ambientais, mas a partir de 2014, foi criada uma emenda (Emenda nº 12, de 14 de maio de 2014) à Lei Orgânica Municipal de Bonito que destina 20% do ICMS Ecológico ao Fundo, garantindo recursos para utilização em questões prioritárias de caráter socioambiental..

• Organizações não governamentais

Em uma região que abriga uma das mais ricas biodiversidades do Estado do Mato Grosso do Sul podem ser encontradas organizações da sociedade civil, de caráter não governamental e sem fins lucrativos, que atuam com a finalidade de promover a proteção do patrimônio natural da Serra da Bodoquena. Estas organizações, integrantes do terceiro setor, têm levantando ao longo dos anos inúmeras bandeiras e em parceria com os setores público e privado desenvolvem ações que buscam melhorias socioambientais para a região, bem como aos moradores locais. Como exemplo, podemos citar: Instituto das Águas da Serra da Bodoquena – IASB, Fundação Neotrópica do Brasil e Instituto Família Legal.

BOAS PRÁTICAS NA SERRA DA BODOQUENA

Capacitação de Proprietários Rurais Projeto Ilhas Verdes - IASB

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Capacidade de carga para as atividades turísticas, monitoramento ambiental de longo prazo, e acompanhamento de guias capacitados nos passeios são medidas

que diminuem significativamente o impacto causado pelo ecoturismo.

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Esperamos que após a leitura da Cartilha Serra da Bodoquena você tenha percebido a grandiosidade, a fragilidade e as imensas potencialidades do patrimônio histórico, cultural e natural do Planalto da Bodoquena.

Cabe a todos nós, valorizá-lo, conservá-lo e reconhecê-lo como um lugar de encontro de culturas, de histórias, de lendas e de diferentes biomas e ecossistemas. Uma parte do Brasil com belezas naturais, únicas, e também de importantes descobertas arqueológicas, paleontológicas, geológicas e biológicas.

Um local misterioso e especial, reconhecido inicialmente por sua reserva de água e calcário, o Planalto da Bodoquena, cada vez mais, ao longo das pesquisas realizadas, surpreende pelas descobertas referentes à tradição e costume de seu povo e, principalmente à beleza cênica e à biodiversidade, ainda pouco conhecida e que pode vir a agregar muito mais valor a esta região singular do país, reforçando, confirmando e fortalecendo sua importância no cenário local, regional e nacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O homem e a natureza

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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UETANABARO, M., SOUZA, F.L., FILHO, P.L., BEDA, A.F. & BRANDÃO, R.A. 2007. Anfíbios e répteis do Parque Nacional da Serra da Bodoquena, Mato Grosso do Sul, Brasil. Biota Neotropica, 7(3): 279-289.

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SITES CONSULTADOS

Associação de Proprietários de Reservas Particulares do Patrimônio Natural do Mato Grosso do Sul (REPAMS) – http://www.repams.org.br/pt/

Centro Brasileiro de Estudos em Ecologia de Estradas (CBEE)

http://cbee.ufla.br/portal/index.php

Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora)

http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/

Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul (IMASUL)

http://www.imasul.ms.gov.br/

Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio)

http://www.icmbio.gov.br/portal/

Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) – Monitoramento de queimadas e incêndios:

http://www.inpe.br/queimadas/sitAtual.php

Rede Nacional Combate Tráfico Animais Silvestres (RENCTAS) - http://www.renctas.org.br/

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

Afloramento de Rochas: É a exposição de rochas na superfície da Terra, formada naturalmente pela erosão do solo, ou pela ação humana, como por exemplo, em cortes de estradas ou em pedreiras.

Antrópica: Que se refere a tudo aquilo que resulta da atuação humana.

Biologia: É a ciência que estuda os seres vivos.

Calcita: Mineral composto por carbonato de cálcio Caco3, geralmente branco ou incolor, podendo apresentar várias outras cores.

Cânions: São formações montanhosas em forma de vale, os quais são profundos e possuem paredes abruptas. É o mesmo que desfiladeiro.

Caudalosamente: Que é abundante em águas (rio).

Beleza Cênica: O resultado visual e audível harmônico agradável formado pelo conjunto dos fatores naturais de um local ou paisagem; resultado da representação cênica da natureza.

Dolinas: São depressões, de formato aproximadamente circular, formadas pela dissolução de rochas no terreno abaixo delas ou também por desmoronamento do teto de cavernas.

Ecologia: É a ciência que estuda as interações entre os organismos e seu ambiente.

Ecossistema: Significa o sistema onde se vive o conjunto de características físicas, químicas e biológicas que influenciam a existência de uma espécie animal ou vegetal.

Envergadura: A distância entre as duas asas de uma ave.

Erodido: Corroído lentamente; que sofreu erosão.

Escarpa: É uma elevação súbita do solo, superior à 45º, caracterizada pela formação de um penhasco ou uma encosta íngreme. As escarpas são geralmente formadas pela erosão de rochas sedimentares ou pelo movimento vertical da crosta terrestre, ao longo de uma falha geológica.

Espécies endêmicas: São seres, sejam eles animais ou plantas, que por características básicas não são encontrados em qualquer outro ambiente natural que não aquele de onde é originário.

Espeleologia: É a ciência que estuda as cavidades naturais e outros fenômenos cársticos, nas vertentes da sua formação, constituição, características físicas, formas de vida, e sua evolução ao longo do tempo.

Espeleotema: É um termo genérico usado em Geologia que define depósitos minerais formados em cavernas e grutas calcárias.

GLOSSÁRIO

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Geologia: É a ciência que estuda a composição, a estrutura e a evolução da Terra, através dos produtos e processos geológicos que ocorrem no interior e na superfície do planeta.

Herbáceas: São plantas que habitualmente se designam por “ervas”, têm caules não lenhosos ou flexíveis, com altura geralmente inferior a 1-2 m.

Incrustação: É a formação de crosta ou matéria sólida nas paredes de rochas ou de minerais. Depósitos que se formam no interior das tubagens; mais ou menos duro que deixa uma água calcária.

Laxativa: Relativo à laxante.

Monocultura: É a produção ou cultura de apenas uma especialidade agrícola.

Onívoras: Que se alimenta de carnes e vegetais. Que come de tudo.

Oxidação: Processo de oxidar, ou seja, de combinar um elemento com oxigênio, transformando-o em um óxido.

Paleontologia: É uma ciência que estuda os animais e vegetais que viveram no passado, através dos fósseis.

Polinização: É o processo de transferência do pólen de uma planta para a outra. O agente polinizador carrega os grãos de pólen das anteras de uma flor para o estigma de outra flor.

Planalto: Superfície da terra plana a um nível elevado do mar.

Reentrância: Ângulo ou curva para dentro; cavidade.

Relevo Cárstico: É um tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução química (corrosão) das rochas, o que leva ao aparecimento de uma série de formações físicas, tais como cavernas, rios subterrâneos, paredões rochosos, dolinas, etc.

Ressurgência: Afloramento natural da rede de drenagem subterrânea. Aparecimento de rios.

Rochas Carbonáticas: São rochas constituídas por calcita (carbonato de cálcio) e/ou dolomita (carbonato de cálcio e magnésio). Podem ainda conter impurezas como matéria orgânica, silicatos, fosfatos, sulfetos, sulfatos, óxidos e outros.

Salobro: Diz-se daquilo que tem certo gosto de sal.

Sumidouros: Onde o curso d’água penetra no solo.

Supercontinente: É o mesmo que um continente, com a diferença de serem os mesmos continentes atuais bilhões de anos no passado, quando tinham outra forma, supostamente unidos ou completamente diferentes.

GLOSSÁRIO

Tufas Calcárias: É uma rocha calcária muito porosa. Forma-se quando a água flui à superfície das regiões calcárias carregada de carbonato de cálcio dissolvido, ao encontrar-se com a atmosfera, ocorrendo à liberação do CO2 dissolvido (processo favorecido pela existência de vegetação), pelo que a componente calcária precipita, formando a rocha.

Turbidez: É uma propriedade física dos fluidos que se traduz na redução da sua transparência devido à presença de materiais em suspensão que interferem com a passagem da luz através do fluido.

Turva: Que está impura, suja.

GLOSSÁRIO

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foto: Kiko Azevedo

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2015

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Um local misterioso e especial, reconhecido inicialmente por sua reserva de água e calcário, o Planalto da Bodoquena, cada vez mais, ao longo das pesquisas realizadas, surpreende pelas descobertas referentes à tradição e costume de seu povo e, principalmente à beleza cênica e à biodiversidade, ainda pouco conhecida e que pode vir a agregar muito mais valor a esta região singular do país, reforçando, confirmando e fortalecendo sua importância no cenário local, regional e nacional.

SERRA DABODOQUENA

ENCONTRO DE CULTURAS , H ISTÓRIAS , B IOMAS E ECOSS ISTEMAS

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