sermão lucas 22.54-62
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William Roberto da Silva
Sermão em Lucas 22.54-62
Lucas 22.54-62
Introdução:
Existe uma musica de uma banda chamada NX0 que ouço constantemente
em minhas reflexões ao final de um dia cansativo de estudos ou trabalho. Sua letra
diz assim:
Quando perco a fé fico sem controle.
Eu me sinto mal e sem esperança.
Ao meu redor a inveja vai fazendo as pessoas se odiarem mais.
Me sinto só, mas sei que não estou, pois levo você no pensamento.
Meu medo se vai, recupero a fé e sinto que algum dia ainda vou te ver.
Cedo ou tarde.
Cedo ou tarde a gente vai se encontrar e tenho certeza numa bem melhor.
Esta musica não é de uma banda Cristã, mas reflete o medo de qualquer
crente que possa entrar em crise.
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Pedro era um cidadão como todos os outros, que trabalhava duro para tirar
seu sustento e de sua família. Ele era pescador, conformado com seu estilo de vida,
com a sociedade, com o sistema e com aquilo que parecia ser a vontade de Deus
para ele. Sua história caminhava rumo à normalidade: aquilo que podia se esperar
para qualquer pescador.
Um belo dia as coisas saíram do controle de Pedro. Foi um dia ruim em que
nenhum peixe caía em sua rede. Após muito tentar, ele resolveu desistir até que
ouviu uma voz vinda da praia e ela dizia – jogue a rede do outro lado. Parecia algo
insano, já que ele havia tentado o dia todo, porém, aquela voz era irresistível e
quando Pedro fita o homem que havia dito estas palavras de conselho, ele percebe
um olhar arrebatador. Pedro confiou e sua vida mudou naquele dia.
Após uma maravilhosa pesca, aquele homem chamou Pedro para segui-lo.
Aquele mesmo Pedro que não conhecia outra profissão, que mal sabia ler e
escrever, que muito provavelmente foi rejeitado por um mestre em sua infância
agora havia sido escolhido para caminhar lado a lado com Jesus. Esse chamado foi
tudo o que Pedro não esperava, mas ele largou tudo o que tinha para servir a seu
novo mestre.
Pedro teve de pagar o preço do discipulado. Aprender com Jesus não era
nada fácil. Aquelas parábolas complicadas às vezes não faziam muito sentido para
Pedro. Ele tinha que conviver com mais onze homens que pensavam diferente da
forma como ele pensava. Mas Pedro era convicto, jamais desistiu. Por sua
insistência viu coisas que nenhum homem jamais viu. Sempre que Pedro errava em
alguma coisa, Jesus com seu olhar paciente se achegava a ele para uma correção
que o fazia crescer. Certo dia, em alta voz e bom som, Pedro declarou as seguintes
palavras: Tu és o Filho de Deus.
Pedro entendeu o principal, mas ele ainda precisava vencer seu orgulho. Num
dia de festa ele declara a Jesus diante de seus amigos – Eu irei contigo pra onde
fores, e se preciso morrerei contigo. Jesus conhecia o coração de Pedro e também
suas debilidades. Jesus então declara aquilo que ninguém gostaria de ouvir: Você
não vai me seguir e antes negará que me conhece.
Aquelas palavras ecoam no coração de Pedro naquela noite em que tudo
parecia muito diferente. A ceia é servida e Jesus não está agindo ou falando como
normalmente fazia. Judas sai de uma maneira abrupta daquele recinto sem dar
muitas explicações. Quando a festa termina, o sono já está dominando seu corpo,
mas Jesus faz ainda um pedido... ele chama seus discípulos para orar no monte.
Enquanto Jesus está em oração, os olhos de Pedro estão pesados o
suficiente para que ele dê alguns cochilos, até que dorme pesadamente. Jesus o
repreende. Quando as coisas parecem que não poderão mais piorar, algo estranho
acontece. Judas chega de repente e dá um beijo em Jesus. Junto com ele estavam
vários guardas, e eles pegam o seu mestre. A única coisa que Pedro consegue fazer
é puxar sua espada e cortar a orelha de um soldado que conseguiu desviar de um
golpe mortal. Neste momento Jesus olha para Pedro com um olhar de repreensão.
Ele coloca a orelha do soldado no lugar de uma forma milagrosa, e Pedro entende
menos ainda aquela situação.
Pedro percebe, então que os outros discípulos correram de medo. Jesus
estava apanhando e seu sangue já escorria. Como que por extinto, ele se esconde
em algumas moitas e atenta para seu mestre que está sendo levado. Pedro segue
de longe, sem que ninguém o perceba. Enquanto ele faz isso, muitas coisas passam
por sua cabeça. Pedro não estava preparado para aquela situação.
A multidão que carregava Jesus parou. Pedro também para e tenta se infiltrar
no meio daquela gente sem ser percebido. Ele se aquenta em uma fogueira com os
demais, porém o medo ainda invade seu coração. Pedro não consegue lidar com o
medo e esquece por quem ele está enfrentando tudo aquilo. A situação vai se
agravando e chega a seu ápice quando algumas pessoas perguntam para Pedro se
ele estava com Jesus. Pedro não sabe o que fazer e o medo invade seu coração de
forma que sua mente não consegue pensar em mais nada.
“Pedro é vencido por sua natureza pecaminosa”
A Palavra de Deus diz que neste momento Jesus olha mais uma vez para
Pedro, e Pedro diante do profundo arrependimento sai daquele lugar e chora
amargamente.
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Existe uma fábula que conta um fato que ocorreu em uma floresta. Uma
pequena Ilha foi incendiada e os animais ficaram apavorados. Aqueles que sabiam
nadar logo pularam na água, mas os outros padeceram no fogo ardente. Um
escorpião muito amedrontado pela situação chegou ao extremo de perguntar a um
sapo se ele poderia carrega-lo nas costas enquanto nadava para a salvação. O sapo
ficou receoso, mas concordou no fim.
Enquanto o sapo nadava até uma margem segura sentiu uma pontada em
suas costas e percebeu o veneno invadindo seu corpo, então passou a afundar. A
morte chegava cada vez mais próxima, mas conseguiu fôlego para perguntar ao
escorpião: Por que fez isso? Agora nós dois morreremos.
O escorpião com lágrimas respondeu: Perdoe-me, mas eu não posso negar
minha natureza.
Lembro-me do dia da minha conversão, quando percebi o olhar de Cristo que
me arrebatou para sua presença. Muitas coisas aconteceram desde aquele dia.
Coisas boas e ruins. Aprendi que o preço do discipulado é caro, mas vale a pena.
Hoje estou aqui no seminário, pois creio que posso ser usado por Deus pra
mudar o meio onde estou inserido.
Quando percebo, no entanto que minha natureza pecaminosa é muitas vezes
mais forte que minha intenção de fazer o bem eu entro numa crise tanto existencial
como funcional. Eu pensava que nunca seria capaz de negar a Cristo, mas sei que o
nego sempre que saio de uma aula e faço aquilo que não condiz com a vida de um
verdadeiro discípulo. Sim. Foram várias as vezes que arrumei uma porção de
encrencas com meus amigos e irmãos. O Eun pode confirmar isso para aqueles que
por ventura não acreditam. Eu digo isso com profunda tristeza no meu coração.
Pra piorar ainda mais minha crise eu verifico que muitos seminaristas saem
daqui e dão de cara com sua natureza carnal numa batalha mortal entre o bem e o
mal, e abandonam seu ministério. Eles abandonam a Fé e negam conhecer o Cristo
que um dia os libertou.
Sempre que percebo que fiz aquilo que não deveria, encosto a noite em meu
travesseiro e sinto que Jesus está olhando para mim. Seu olhar me dá medo. Eu
choro amargamente por perceber o quanto sou fraco diante de tantas situações.
Assim o pecado persegue o homem desde seu nascimento, e a natureza do
pecado faz até os mais tementes a Deus entrarem em crise com respeito a sua fé.
“O ser humano é vencido por sua natureza pecaminosa”.
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Mas enquanto Pedro chorava amargamente por sua derrota, eu tento
imaginar o que se passava na mente e coração de Jesus naquele momento que era
crucial em sua vida. O que continha naquele olhar?
Quando Jesus escolhe Pedro para ser seu discípulo ele age com extrema
graça, não levando em consideração qualquer debilidade que poderia excluí-lo.
Jesus sabia da natureza de Pedro e conhecia seu coração. Jesus age com graça,
também, ao permitir que Pedro aprendesse tudo a respeito de um Reino que estava
chegando juntamente com o Evangelho. Ele age com graça quando permite a Pedro
ver sua glória resplandecente no momento de sua transfiguração. Ele age com graça
ao convidá-lo para caminhar por sobre as águas mesmo percebendo que sua fé era
tão pequena.
Todas estas afirmações podem nos levar a acreditar que Jesus não estava
com pensamentos diferentes disso ao perceber que Pedro estava se deixando
vencer por sua natureza pecaminosa.
Jesus precisava provar Pedro até o limite de seu orgulho, antes de ensiná-lo
sua ultima lição.
Aquele olhar de Jesus Cristo significava muito mais do que uma simples
repreensão ou desaprovação. O Olhar de Jesus continha um amor que só Deus é
capaz de fornecer. O amor de quem estava dando sua própria vida por pecadores
que não mereciam nada além da morte.
O arrependimento que leva Pedro a chorar amargamente é o mesmo que faz
Jesus se alegrar, por que logo o pecado seria vencido numa Cruz. Jesus sabia
exatamente que Pedro deveria passar por aquela dor, a fim de aperfeiçoar-se.
“Jesus derrama sua graça onde abunda o pecado de Pedro”.
Toda essa graça de Deus derramada através de Jesus pode ser confirmada
quando olhamos o final do Evangelho de João. Ali vemos um Pedro derrotado e
entregue aos seus medos e desânimos. Quando ele tenta voltar a sua velha vida,
surge Jesus, com seu olhar restaurador. Pedro é chamado mais uma vez após outra
pesca milagrosa.
Na praia, Jesus tem uma conversa que confirma o chamado de Pedro para
seu ministério apostólico. Depois destes momentos Pedro e os demais discípulos
recebem o Espírito Santo consolador e com poder prega o Evangelho indo até as
ultimas consequências. Ele morre como um mártir crucificado de ponta cabeça para
que não pudesse ser comparado a Jesus em perfeição.
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Mas assim como Jesus restaurou a dignidade e vida devocional de Pedro
após sua traição e negação, vejo seu olhar hoje na vida daqueles que se
arrependem verdadeiramente de seus pecados. O pecado já foi vencido de uma vez
por todas naquela cruz e hoje o Espírito Santo é responsável por gerar este tipo de
arrependimento nos corações.
Se hoje estou aqui pregando esse sermão, não é por que estou livre da minha
natureza pecaminosa, mas por que tenho certeza que fui restaurado e liberto no
momento em que me propus a pedir o perdão em nome de Jesus. A Graça foi
derramada sobre mim. A Graça é de graça.
“Jesus derrama sua graça hoje onde abunda o nosso pecado”
Certa vez em uma pequena cidade nos Estados Unidos, uma adolescente
muito amada pelos seus pais resolve fazer algo que seus pais jamais aprovariam.
Ela recebe um não quando decide fazer uma tatuagem em sua pele. Sua revolta é
tanta por seus pais não a entenderem que ela resolve fugir de casa. Ela vai parar na
cidade de Detróide, conhecida na época pelo perigo que rondava cada esquina.
Ali essa moça conhece um homem que resolve ensiná-la a “viver” com
liberdade. Ele oferece a ela uns comprimidos que conseguiam tirar dela qualquer
depressão ou mesmo dores físicas. Ela aprende uma maneira fácil de ganhar
dinheiro com aqueles simpáticos cavalheiros que amavam seu corpo.
Um dia ela percebe que aqueles comprimidinhos mágicos somados ao cigarro
e a má alimentação a fazem ficar doente. Os simpáticos cavalheiros pararam de dar
dinheiro em troca daquele corpo acabado e a única coisa que lhe resta é o frio e o
perigo das ruas de Detróide. Neste momento ela se lembra de que tem pais.
Como uma solução de ultima hora ela compra uma passagem de trem para o
Canadá. Este trem pararia em uma ferroviária na cidade de seus pais, então numa
posição de desespero ela usa a última moeda para discar o numero de casa. Após
muitas tentativas ela recebe a mensagem de uma secretária eletrônica e como não
havia mais tempo, resolve deixar um recado:
“Pai, é sua filha que te abandonou há muito tempo. Sei que não deveria fazer
isso, mas estou passando na cidade onde vocês moram. Vou parar na ferroviária às
seis da tarde de amanhã. Caso esteja disposto a me aceitar de volta, deixe-me um
sinal, colocando um lenço branco em uma das árvores de lá. Caso eu não veja o
lenço, entenderei seu desgosto e partirei para tentar minha vida no Canadá”.
Ela toma o trem e mesmo com sono não consegue dormir por nem um
segundo. Seus únicos pensamentos eram com respeito à reação de sua antiga
família: Será que vão me aceitar de volta? Será que sequer receberam o recado que
deixei na secretária? O que vou dizer para meu pai? Será que eu deveria mesmo
parar alí?
Quando o trem chega a seu destino, suas pernas começam a tremer e o frio
toma conta de seu corpo. Ela desce vagarosamente e percebe que não há ninguém
na frente da ferroviária. Ela se lembra do sinal que pediu, mas não tem coragem de
observar a única árvore que estava na parte de trás da bilheteria. Neste momento
ela está com tanto medo que pede para um senhor verificar a árvore por ela. A
resposta vem: Moça, naquela árvore não tem nenhum lenço branco, mas tem um
louco em cima dela balançando um grande lençol e uma família inteira
comemorando embaixo dela.
A moça então corre para seu pai e começa a redação que havia ensaiado
dizendo: Pai... Perdoa-me por...
Ela é interrompida pela voz amável daquele que disse: psiu... Depois nós
conversamos, não podemos chegar atrasados para a festa que está preparada em
casa para você minha filha.
O momento é encerrado com um beijo carinhoso.
Com esta história que foi adaptada de fatos reais, concluo dizendo que assim
como um pai terreno pode demonstrar tanto amor por uma filha que falha, Deus,
sendo perfeito em bondade, também derrama sua Graça sobre seus filhos
pecadores restaurando, assim, nossa alegria e valor.