sÉrie para tv. futebol o universo ao · do projeto porto iracema das artes. quando recebi o...

1
FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 23 DE JUNHO DE 2014 5 SÉRIE PARA TV. FUTEBOL O universo ao redor do estádio K arim Ainöuz é in- cansável. Sempre à espreita e um pro- jeto interessante, o diretor de Praia do Futuro repetiu a do- bradinha com o pernambu- cano Marcelo Gomes, com quem já havia trabalhado em 2009, em Viajo por- que preciso, volto porque te amo. A parceria desta vez é no curta-metragem Gentilândia Park, produzi- do especialmente para a Copa do Mundo. O projeto do mexicano Da- niel Gruener reuniu cerca de 30 diretores de várias partes do mundo para contar, em poucos minutos, uma história que girasse em torno do fute- bol. A ideia é que Short Plays, como é chamada a série de- senvolvida para TV, seja exibi- da em vários canais de televi- são durante o Mundial. O POVO conversou com Karim, diretamente de Ber- lim, cidade onde vive, sobre o projeto. Confira abaixo. O POVO - Qual é o significado do futebol na tua vida? Karim Ainöuz - Na verdade, nenhum. Não torço para nenhum time e não tenho nenhuma lembrança marcante com o futebol. Recebi um convite para filmar um curta sem diálogo sobre o assunto e fiquei intrigado. Achei muito divertido e desafiante adentrar um universo que eu desconheço. OP - Como foi repetir a parceria com Marcelo Gomes? Karim - Fazia muito tempo que a gente não trabalhava junto. Este ano estamos trabalhando como tutores num laboratório de desenvolvimento de roteiro em Fortaleza, dentro do projeto Porto Iracema das Artes. Quando recebi o convite do diretor mexicano Daniel Gruener para participar do projeto Short Plays, onde ele convidou diretores do mundo inteiro para se dedicarem a um curta de temática futebolística, pensei no Marcelo na hora. Trabalhar com o Marcelo é sempre muito prazeroso, eu ainda me lembro do quanto nos divertimos durante as filmagens do Viajo porque preciso... , longa que fizemos juntos em 2009. OP - Conte um pouco sobre o curta que vocês desenvolveram. “O que eu acho bonito no futebol no Brasil é o que acontece ao redor dos estádios. Aquela coisa do churrasquinho, a bandeirinha, a música, a cachaça.” SAIBA MAIS Em entrevista a O POVO, o diretor cearense Karim Ainöuz fala de seu curta sobre futebol que integra a série para televisão Short Plays FILIPE ACÁCIO/ESPECIAL PARA O POVO Ainöuz: “achei desafiante adentrar um universo que desconheço” A Copa que já estamos tendo A sequência de manifestações iniciada em junho do ano passado consagrou um lema: “Não vai ter Copa”. Como to- do motto, se tratava muito mais de uma frase retórica pa- ra congregar e exortar – no caso congregar a população e exortá-la a uma resistência à imposição de interesses con- trários às suas prioridades – do que de uma ameaça ou profecia. Contudo, mesmo com a Copa já em curso, muitos ainda parecem se chocar e se indignar com a ampla adesão ao evento. Esquecem o “óbvio ululante”: a relação do Bra- sil com o futebol, que torna um evento futebolístico desta natureza dificilmente recusável pela maioria. Para que a Copa que já estamos tendo pudesse se tor- nar indesejada, e acabasse rechaçada, teria sido necessá- ria uma mobilização focada desde a candidatura do Brasil ao posto de país-sede, em 2003. Pouco houve nesse senti- do. Ao contrário, o que se viu depois, por ocasião da confir- mação da Copa brasileira, foi uma sucessão de comemora- ções pela “honra” de termos sido escolhidos. A falta de atenção para tais obviedades recapitula uma deficiência de nossos intelectuais, algo que Nélson Rodri- gues – este incontornável filósofo do futebol, seguido por João Saldanha – não deixou de assinalar: em sua maioria eles ignoram o futebol e, assim, permanecem míopes para o que somos. Como compreender o Brasil se “nossos escri- tores não sabem cobrar um reles lateral”? E se, mesmo no futebol, alguns jornalistas agem como “idiotas da objetivi- dade” que acreditam em fatos e creem no videotape, em vez de olharem para as nuances do jogo? O futebol celebra uma dinâmica corporal singular. Pode-se enxergá-lo como uma dança dos pés com a bola, como uma arte. O futebol não é essencial apenas para compreendermos a multiplicidade complexa de nosso ethos. É certo que uma análise do esporte permite traçar uma psicologia do brasi- leiro, e que o seu sucesso aqui pode ser deduzido de fatores como clima, mistura étnica e diferença social, como sugeria Saldanha: “Como esporte de pobre [se joga descalço e com qualquer objeto esférico], é evidente que o futebol tem uma transa bem maior com o Brasil”; “o Brasil é um país pobre e tropical, o que permite que seja praticado o ano inteiro” etc. Além disso, porém, o futebol celebra uma dinâmica cor- poral singular que merece destaque independentemente de tudo isso. Pode-se enxergá-lo como uma dança dos pés com a bola, como uma arte (“arte popular” segundo Saldanha). Enquanto tal, o futebol é capaz de recriar aspectos da exis- tência e seria – não fosse o preconceito – tema de filosofia; sobretudo aqui, onde é praticado com tanta paixão. Os mesmos gregos que patentearam a filosofia e a demo- cracia tinham a atividade esportiva como vital. Inventaram, por exemplo, os jogos olímpicos (século VIII a.C.). Do período homérico até as filosofias helenísticas, o esporte sempre foi encarado como uma prática fundamental de constituição de si. Desempenhava uma função moral e política, estimulando a responsabilidade e a coragem, unindo e colocando em evi- dência a igualdade entre os cidadãos. Um de seus maiores atletas (Mílon de Crotona) foi, inclusive, discípulo de um fi- lósofo (Pitágoras de Samos). O futebol radicaliza as virtudes que os gregos atribuíam ao esporte em geral. Em primeiro lugar, trata-se de um espor- te coletivo que se assemelha a uma batalha (o gol é um al- vo e falamos em fuzilar, desarmar, em tática, em invadir a área inimiga). Um segundo aspecto estabelece uma distin- ção com relação a outros esportes do tipo: a bola é jogada com os pés, o que impede que ela seja retida e permite criar a tal dança, com suas gingas e esquemas coreográficos. En- fim, por ser jogado com bola solta pelo chão, o futebol im- plica imprevisibilidade e depende de habilidades irredutíveis ao físico dos praticantes (sua força ou tamanho). Como no caso do negro brasileiro, que se valia do drible para vencer a violência racista, literal e simbolicamente, dentro e fora do campo, numa forma de carnavalização. O futebol, portanto, não apenas marca um pensamento ar- tístico, intuitivo e corporal, como também realiza uma de- mocracia: qualquer um pode jogá-lo, tanto do ponto de vista da preparação do jogo (basta uma bola) quanto em termos físicos (basta ter pernas). O encontro entre Brasil e futebol talvez deva ser interpre- tado à luz de tudo isso. Quem sabe assim não descobrimos que, mesmo na Copa, ele pode congregar e até implicar re- sistência. Basta estarmos atentos ao “jogo”, dispostos a não perder o foco neste forte elo que liga o futebol e o Brasil há mais de um século, quer isso nos agrade ou não. Esta coluna é publicada às segundas Filosofia pop [email protected] POR PAULO DOMENECH ONETO Karim - A história se passa em Fortaleza. Foi muito prazeroso poder filmar lá, que é uma cidade que eu conheço tão bem. Além disso, me interessava contar uma história que saísse do eixo Rio-São Paulo, Corinthians, Flamengo, essas coisas. Eu quis mostrar um futebol de margem, futebol de raiz. Filmamos no Estádio Presidente Vargas. Optamos por ele porque é menor e ainda preserva essa aura que a gente queria passar no filme. As filmagens duraram quatro dias, em março deste ano. O filme tem uma narrativa muito simples e começa num vestiário, antes de um jogo. A história de sete minutos começa com um funcionário preparando o vestiário para os jogadores. O filme é contado da perspectiva dele. O que eu acho bonito no futebol no Brasil é o que acontece ao redor dos estádios. Aquela coisa do churrasquinho, a bandeirinha, a música, a cachaça. O espectador acompanha esse funcionário, que é vivido pelo excelente Yuri Yamamoto, até uma praça em torno do estádio, onde ele vai encontrar a namorada, vivida pela Natali Rocha. A trilha sonora é do cantor potiguar Kelvis Duran. É um filme bonito, carinhoso. OP - Quais as suas expectativas para a Copa do Mundo? Karim - É uma sensação estranha, porque de um lado o brasileiro tem uma aversão grande ao evento, e ao mesmo tempo eu acredito que, se o Brasil ganhar, essa rejeição vai acabar. O Brasil está passando por um momento de muita insatisfação, fruto de anos de desenvolvimento, de crescimento. Então é normal chegar uma hora em que a gente quer mais. Acho que essa insatisfação às vezes está sendo projetada na copa, contra a copa, e isso é muito delicado. De um lado, fico torcendo que dê tudo certo, porque acho que vai ser muito triste, ter uma memória da copa que não teve devido aos protestos. Daqui a cem anos não será uma memória muito boa. Manoella Barbosa é jornalista freelancer em Hamburgo, Alemanha Curta em exibição na TV O curta Gentilândia Park, dirigido por Karim Ainöuz e Marcelo Gomes, está em exibição durante o período da Copa do Mundo, no canal de TV por assinatura Arte 1. Mais informações sobre a programação da emissora podem ser conferidas em http://arte1.band.uol.com.br/ São Jorge sob ótica hiperrealista A motivação do quadri- nista paulistano Danilo Bey- ruth para criar a HQ São Jorge foi uma coincidência: o aniversário do autor é no mesmo dia em que se come- mora o dia do santo, em 23 de abril. A obra, publicada em duas partes pela Panini (a segun- da deve ser lançada no pró- ximo semestre), é o quinto livro de Beyruth, 41, conheci- do por retratar heróis angus- tiados e perturbados. Ao contar a história de São Jorge, o quadrinista bus- cou uma abordagem mais re- alista, que mistura aspectos históricos com as diferentes lendas sobre o santo. Em uma das versões, Jorge nasceu na Capadócia, na região em que hoje fica a Turquia. Outra lenda coloca o santo como um herdeiro de um lorde britânico. HQ. LANÇAMENTO Manoella Barbosa, de Hamburgo ESPECIAL PARA O POVO Na história contada por Beyruth, Jorge é retratado como soldado do exército romano, um cristão em meio a um império em luta para manter as antigas tradições politeístas -e que ainda tem um dragão para enfrentar. Beyruth passou três meses fazendo um levanta- mento histórico para situar o personagem no período em que teria vivido, por volta do século 3º. Com isso, ele cria um ce- nário hiperrealista em que tenta evitar ao máximo os aspectos fantásticos das vá- rias histórias contadas sobre o santo. A exceção é a parte da luta contra o dragão. Danilo Beyruth se tor- nou conhecido com As- tronauta - Magnetar, pri- meiro lançamento da linha Graphic MSP, da Mauri- cio de Sousa Produções. Publicado em quatro paí- ses, a obra vai ganhar uma continuação em dezembro, mas Beyruth evita dar mais detalhes sobre a nova história. (Folhapress) DIVULGAÇÃO A HQ São Jorge é o quinto livro publicado por Danilo Beyruth SÃO JORGE Autor: Danilo Beyruth Editora: Panini Quanto: R$ 19,90 (124 págs.)

Upload: trinhthu

Post on 05-Aug-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

FORTALEZA - CE, SEGUNDA-FEIRA - 23 DE JUNHO DE 2014 5SÉRIE PARA TV. FUTEBOL

O universo ao redor do estádio

Karim Ainöuz é in-cansável. Sempre à espreita e um pro-jeto interessante, o diretor de Praia do Futuro repetiu a do-

bradinha com o pernambu-cano Marcelo Gomes, com quem já havia trabalhado em 2009, em Viajo por-que preciso, volto porque te amo. A parceria desta vez é no curta-metragem Gentilândia Park, produzi-do especialmente para a Copa do Mundo.

O projeto do mexicano Da-niel Gruener reuniu cerca de 30 diretores de várias partes do mundo para contar, em poucos minutos, uma história que girasse em torno do fute-bol. A ideia é que Short Plays, como é chamada a série de-senvolvida para TV, seja exibi-da em vários canais de televi-são durante o Mundial.

O POVO conversou com Karim, diretamente de Ber-lim, cidade onde vive, sobre o projeto. Confira abaixo.

O POVO - Qual é o significado do futebol na tua vida? Karim Ainöuz - Na verdade, nenhum. Não torço para nenhum time e não tenho nenhuma lembrança marcante com o futebol. Recebi um convite para filmar um curta sem diálogo sobre o assunto e fiquei intrigado. Achei muito divertido e desafiante adentrar um universo que eu desconheço. OP - Como foi repetir a parceria com Marcelo Gomes? Karim - Fazia muito tempo que a gente não trabalhava junto. Este ano estamos trabalhando como tutores num laboratório de desenvolvimento de roteiro em Fortaleza, dentro do projeto Porto Iracema das Artes. Quando recebi o convite do diretor mexicano Daniel Gruener para participar do projeto Short Plays, onde ele convidou diretores do mundo

inteiro para se dedicarem a um curta de temática futebolística, pensei no Marcelo na hora. Trabalhar com o Marcelo é sempre muito prazeroso, eu ainda me lembro do quanto nos divertimos durante as filmagens do Viajo porque preciso..., longa que fizemos juntos em 2009. OP - Conte um pouco sobre o curta que vocês desenvolveram.

“O que eu acho bonito no futebol no Brasil é o que acontece ao redor dos estádios. Aquela coisa do churrasquinho, a bandeirinha, a música, a cachaça.”

SAIBA MAIS

Em entrevista a O POVO, o diretor cearense Karim Ainöuz fala de seu curta sobre futebol que integra a série para televisão Short Plays

FILIPE ACÁCIO/ESPECIAL PARA O POVO

Ainöuz: “achei desafiante adentrar um universo que desconheço”

A Copa que já estamos tendo A sequência de manifestações iniciada em junho do ano passado consagrou um lema: “Não vai ter Copa”. Como to-do motto, se tratava muito mais de uma frase retórica pa-ra congregar e exortar – no caso congregar a população e exortá-la a uma resistência à imposição de interesses con-trários às suas prioridades – do que de uma ameaça ou profecia. Contudo, mesmo com a Copa já em curso, muitos ainda parecem se chocar e se indignar com a ampla adesão ao evento. Esquecem o “óbvio ululante”: a relação do Bra-sil com o futebol, que torna um evento futebolístico desta natureza dificilmente recusável pela maioria. Para que a Copa que já estamos tendo pudesse se tor-nar indesejada, e acabasse rechaçada, teria sido necessá-ria uma mobilização focada desde a candidatura do Brasil ao posto de país-sede, em 2003. Pouco houve nesse senti-do. Ao contrário, o que se viu depois, por ocasião da confir-mação da Copa brasileira, foi uma sucessão de comemora-ções pela “honra” de termos sido escolhidos. A falta de atenção para tais obviedades recapitula uma deficiência de nossos intelectuais, algo que Nélson Rodri-gues – este incontornável filósofo do futebol, seguido por João Saldanha – não deixou de assinalar: em sua maioria eles ignoram o futebol e, assim, permanecem míopes para o que somos. Como compreender o Brasil se “nossos escri-tores não sabem cobrar um reles lateral”? E se, mesmo no futebol, alguns jornalistas agem como “idiotas da objetivi-dade” que acreditam em fatos e creem no videotape, em vez de olharem para as nuances do jogo?

O futebol celebra uma dinâmica corporal singular. Pode-se enxergá-lo como uma dança dos pés com a bola, como uma arte.

O futebol não é essencial apenas para compreendermos a multiplicidade complexa de nosso ethos. É certo que uma análise do esporte permite traçar uma psicologia do brasi-leiro, e que o seu sucesso aqui pode ser deduzido de fatores como clima, mistura étnica e diferença social, como sugeria Saldanha: “Como esporte de pobre [se joga descalço e com qualquer objeto esférico], é evidente que o futebol tem uma transa bem maior com o Brasil”; “o Brasil é um país pobre e tropical, o que permite que seja praticado o ano inteiro” etc. Além disso, porém, o futebol celebra uma dinâmica cor-poral singular que merece destaque independentemente de tudo isso. Pode-se enxergá-lo como uma dança dos pés com a bola, como uma arte (“arte popular” segundo Saldanha). Enquanto tal, o futebol é capaz de recriar aspectos da exis-tência e seria – não fosse o preconceito – tema de filosofia; sobretudo aqui, onde é praticado com tanta paixão. Os mesmos gregos que patentearam a filosofia e a demo-cracia tinham a atividade esportiva como vital. Inventaram, por exemplo, os jogos olímpicos (século VIII a.C.). Do período homérico até as filosofias helenísticas, o esporte sempre foi encarado como uma prática fundamental de constituição de si. Desempenhava uma função moral e política, estimulando a responsabilidade e a coragem, unindo e colocando em evi-dência a igualdade entre os cidadãos. Um de seus maiores atletas (Mílon de Crotona) foi, inclusive, discípulo de um fi-lósofo (Pitágoras de Samos). O futebol radicaliza as virtudes que os gregos atribuíam ao esporte em geral. Em primeiro lugar, trata-se de um espor-te coletivo que se assemelha a uma batalha (o gol é um al-vo e falamos em fuzilar, desarmar, em tática, em invadir a área inimiga). Um segundo aspecto estabelece uma distin-ção com relação a outros esportes do tipo: a bola é jogada com os pés, o que impede que ela seja retida e permite criar a tal dança, com suas gingas e esquemas coreográficos. En-fim, por ser jogado com bola solta pelo chão, o futebol im-plica imprevisibilidade e depende de habilidades irredutíveis ao físico dos praticantes (sua força ou tamanho). Como no caso do negro brasileiro, que se valia do drible para vencer a violência racista, literal e simbolicamente, dentro e fora do campo, numa forma de carnavalização. O futebol, portanto, não apenas marca um pensamento ar-tístico, intuitivo e corporal, como também realiza uma de-mocracia: qualquer um pode jogá-lo, tanto do ponto de vista da preparação do jogo (basta uma bola) quanto em termos físicos (basta ter pernas). O encontro entre Brasil e futebol talvez deva ser interpre-tado à luz de tudo isso. Quem sabe assim não descobrimos que, mesmo na Copa, ele pode congregar e até implicar re-sistência. Basta estarmos atentos ao “jogo”, dispostos a não perder o foco neste forte elo que liga o futebol e o Brasil há mais de um século, quer isso nos agrade ou não.

Esta coluna é publicada às

segundas

Filosofia [email protected]

POR PAULO DOMENECH ONETO

Karim - A história se passa em Fortaleza. Foi muito prazeroso poder filmar lá, que é uma cidade que eu conheço tão bem. Além disso, me interessava contar uma história que saísse do eixo Rio-São Paulo, Corinthians, Flamengo, essas coisas. Eu quis mostrar um futebol de margem, futebol de raiz. Filmamos no Estádio Presidente Vargas. Optamos por ele porque é menor e ainda preserva essa aura que a gente queria passar no filme. As filmagens duraram quatro dias, em março deste ano. O filme tem uma narrativa muito simples e começa num vestiário, antes de um jogo. A história de sete minutos começa com um funcionário preparando o vestiário para os jogadores. O filme é contado da perspectiva dele. O que eu acho bonito no futebol no Brasil é o que acontece ao redor dos estádios. Aquela coisa do churrasquinho, a bandeirinha, a música, a cachaça. O espectador acompanha esse funcionário, que é vivido pelo excelente

Yuri Yamamoto, até uma praça em torno do estádio, onde ele vai encontrar a namorada, vivida pela Natali Rocha. A trilha sonora é do cantor potiguar Kelvis Duran. É um filme bonito, carinhoso. OP - Quais as suas expectativas para a Copa do Mundo? Karim - É uma sensação estranha, porque de um lado o brasileiro tem uma aversão grande ao evento, e ao mesmo tempo eu acredito que, se o Brasil ganhar, essa rejeição vai acabar. O Brasil está passando por um momento de muita insatisfação, fruto de anos de desenvolvimento, de crescimento. Então é normal chegar uma hora em que a gente quer mais. Acho que essa insatisfação às vezes está sendo projetada na copa, contra a copa, e isso é muito delicado. De um lado, fico torcendo que dê tudo certo, porque acho que vai ser muito triste, ter uma memória da copa que não teve devido aos protestos. Daqui a cem anos não será uma memória muito boa.

Manoella Barbosa é jornalista freelancer em Hamburgo, Alemanha

Curta em exibição na TV O curta Gentilândia Park, dirigido por Karim Ainöuz e Marcelo Gomes, está em exibição durante o período da Copa do Mundo, no canal de TV por assinatura Arte 1. Mais informações sobre a programação da emissora podem ser conferidas em http://arte1.band.uol.com.br/

São Jorge sob ótica hiperrealista A motivação do quadri-

nista paulistano Danilo Bey-ruth para criar a HQ São Jorge foi uma coincidência: o aniversário do autor é no mesmo dia em que se come-mora o dia do santo, em 23 de abril.

A obra, publicada em duas partes pela Panini (a segun-da deve ser lançada no pró-ximo semestre), é o quinto livro de Beyruth, 41, conheci-do por retratar heróis angus-tiados e perturbados.

Ao contar a história de São Jorge, o quadrinista bus-cou uma abordagem mais re-alista, que mistura aspectos históricos com as diferentes lendas sobre o santo.

Em uma das versões, Jorge nasceu na Capadócia, na região em que hoje fica a Turquia. Outra lenda coloca o santo como um herdeiro de um lorde britânico.

HQ. LANÇAMENTO

Manoella Barbosa, de Hamburgo ESPECIAL PARA O POVO

Na história contada por Beyruth, Jorge é retratado como soldado do exército romano, um cristão em meio a um império em luta para manter as antigas tradições politeístas -e que ainda tem um dragão para enfrentar.

Beyruth passou três meses fazendo um levanta-mento histórico para situar o personagem no período em que teria vivido, por volta do século 3º.

Com isso, ele cria um ce-nário hiperrealista em que

tenta evitar ao máximo os aspectos fantásticos das vá-rias histórias contadas sobre o santo. A exceção é a parte da luta contra o dragão.

Danilo Beyruth se tor-nou conhecido com As-tronauta - Magnetar, pri-meiro lançamento da linha Graphic MSP, da Mauri-cio de Sousa Produções. Publicado em quatro paí-ses, a obra vai ganhar uma continuação em dezembro, mas Beyruth evita dar mais detalhes sobre a nova história. (Folhapress)

DIVULGAÇÃO

A HQ São Jorge é o quinto livro publicado por Danilo Beyruth

SÃO JORGE Autor: Danilo Beyruth Editora: Panini Quanto: R$ 19,90 (124 págs.)