iracema de alencar

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Obra: Iracema: lenda do Ceará Autor: José de Alencar Ano: 1865 Título: retrata a principal personagem do livro Escrito durante o Romantismo, Iracema apresenta as origens da terra natal e o nascimento da figura do brasileiro, representado pelo filho da índia Iracema com o colonizador português Martim.

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Page 1: Iracema de alencar

Obra: Iracema: lenda do Ceará

Autor: José de Alencar

Ano: 1865

Título: retrata a principal personagem do livro

Escrito durante o Romantismo, Iracema apresenta as origens da terra natal e o nascimento da figura do brasileiro, representado pelo filho da índia Iracema com o

colonizador português Martim.

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O entusiasmo, que reinava no Brasil com a proclamação da Independência política, alimentava o sonho de uma cultura genuinamente brasileira. José de Alencar (1829-1877), dedicou-se ao direito, à literatura, ao jornalismo e à política e, contaminado pelo nacionalismo, fundou na narrativa a nossa mitologia indígena, mestiça e tropical, submetendo uma coleção de heróis e vilões, índios e brancos, virginais herdeiras e morenas sedutoras, ao seu poder de criação.

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Introduzindo no romance brasileiro a figura do índio e os elementos que o caracterizam em seu ambiente natural, o autor abarca em sua obra um amplo painel nacional, enfocando o passado e o presente, o litoral e o sertão, a cidade e o campo, explorando perseguições, sofrimentos e dores.

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O Romantismo fundiu em sua arte fantasia e realidade, aventura e história. Logo, a obra de Alencar parece mais verossímil aos olhos do leitor da época do que ao de hoje, já que o autor é um idealista que crê nos motivos do coração e, moralizando comportamentos, enreda suas personagens em um ambiente infectado por valores corruptores dos quais os protagonistas acabam se libertando.

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Iracema (A lenda do Ceará), de José de Alencar Romance publicado em 1865. Forma com “O Guarani” e “Ubirajara”, a trilogia indianista de José de Alencar.

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Iracema conta, de forma poética, o amor quase impossível entre um branco, Martim Soares Moreno, pela bela índia Iracema, a virgem dos lábios de mel explica poeticamente as origens da terra natal do autor, o Ceará.

Esse romance é uma "Lenda do Ceará". Segundo críticos e historiadores, um poema em prosa, romance histórico-indianista.

A valorização da cor local, do típico, do exótico inscreve-se na intenção nacionalista de embelezar a terra natal por meio de metáforas e comparações que ampliam as imagens de um Nordeste paradisíaco, primitivo. É o Nordeste das praias e das serras, dos rios.

A relação do casal serviria de alegoria para a formação da nação brasileira. Iracema representaria a natureza virgem e a inocência, enquanto o colonizador Martim representa a cultura europeia.  Da junção dos dois surgirá a nação brasileira, representada alegoricamente, por Moacir, filho do casal.

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  Fundindo poesia e prosa, o romance

apresenta um grupo de personagens simbólicas:

Iracema seria a América; Iracema, a virgem dos lábios de mel, é uma alegoria da colonização brasileira, símbolo da América (aliás, Iracema é anagrama de América) e do índio livre e puro.

Martim, a guerra; Poti, a amizade; Araquém, a sabedoria e a prudência da velhice;

Irapuã, o ciúme; Caubi, “senhor dos caminhos” Moacir, a miscigenação, o primeiro cearense.

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Resumo e comentário

Iracema, de José de Alencar: o guerreiro branco Martim Soares Moreno, amigo dos índios pitiguaras, perde-se nas matas do litoral brasileiro. Nesse cenário é encontrado por Iracema, filha do pajé Araquém, da tribo interiorana dos tabajaras. A virgem leva o jovem branco para sua tribo, onde é recebido como hóspede, mas ao descobrir o combate aos pitiguaras, Martim tenta fugir, mas é impedido por Iracema, sob a proposta de guiá-lo pelas matas com a ajuda do irmão Caubi. Nasce aí o afeto entre as personagens, que logo se transforma em paixão. A situação se complica, quando Irapuã, que também é apaixonado pela índia, tenta matar o branco. 

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Após uma noite de amor, a qual Martim imaginava ter acontecido apenas em sonho, ele foge, levando Iracema, após revelar a verdade sobre a relação. Os dois partem ao encontro de Poti, chefe dos pitiguaras, que considerava o português um irmão. Foram seguidos por Irapuã e os tabajaras, o que resultou no conflito entre as duas tribos. Martim sofre de banzo, mas não pode levar a esposa para a terra natal. Com o nome indígena de Coatiabo, o guerreiro branco enfrenta combates, enquanto Iracema está grávida. De saudade do amado, a índia definha de tristeza. Ao voltar de uma batalha, Martim a encontra com seu filho, chamado de Moacir, "o filho do sofrimento".

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Debilitada, entrega a criança e pede para que seja enterrada aos pés de um coqueiro, local que passou a se chamar Ceará. “Moacir é o símbolo forte do livro, mesmo com pequena atuação. Ele representa o povo brasileiro formado pela índia e pelo português. Da mãe é herdado o amor pela terra, enquanto o pai dá a educação europeia. Na visão de Alencar, essa deveria ser a figura do brasileiro”, comenta o professor de literatura. Com o filho, Martim volta para Portugal, mas anos depois retorna ao Brasil para ajudar na catequização da fé cristã. Saudoso, ele costumava ir ao local onde Iracema estava enterrada

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ENREDO — Por tópicos

1 A partida (Martim, Japi e Moacir)

"onde vai a afouta jangada, que deixa rápida a costa cearense, aberta ao fresco terral a grande vela?"

  2 O encontro (Martim e

Iracema) "Rumos suspeito quebra a

doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se.

  Diante dela e todo a contemplá-la, está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. Foi rápido, como o olhar, o gesto de Iracema. A flecha partiu.

Gotas de sangue borbulham na face do desconhecido.

De primeiro ímpeto, a mão lesta caiu sobre a cruz da espada; mas sorriu.

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O moço guerreiro aprendeu na religião de sua mãe, onde a mulher é símbolo de ternura e amor. Sofreu mais d'alma que da ferida.

O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu. Porém a virgem lançou de si o arco e correu para o guerreiro, sentida da mágoa que causara. A mão que rápida ferira, estancou mais rápida e compassiva o sangue que gotejava. Depois Iracema quebrou a flecha homicida; deu a haste ao desconhecido, guardando consigo a ponta farpada. O Guerreiro falou:

— Quebras comigo a flecha da paz?“

3 Martim, hóspede de Araquém

Importante: tema da hospedagem;

regras rigorosas; respeito absoluto a elas.

4 Relação amorosa Vestal - religiosidade;

"Estrangeiro, Iracema não pode ser tua serva. É ela que guarda o segredo de jurema e o mistério do sonho. Sua mão fabrica para o Pajé a bebida de Tupã."

Apaixona-se por Martim; Envolve e seduz o guerreiro

branco.

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5 Ciúme de Irapuã Apaixonado por

Iracema; Ódio por Martim; Desejo de vingança; Obrigado a respeitar a

hospitalidade de Araquém.

"— Nunca Iracema daria seu seio, que o espírito de Tupã habita só, ao guerreiro mais vil dos guerreiros tabajaras! Torpe é o morcego porque foge da luz e bebe o sangue da vítima adormecida!...

— Filha de Araquém, não assanha o jaguar! O nome de Irapuã voa mais longe que o goaná do lago, quando sente a chuva além das serras. Que o guerreiro branco venha, e o seio de Iracema se abra para o vencedor.

— O guerreiro branco é hóspede de Araquém. A paz o trouxe aos campos do Ipu, a paz o guarda. Quem ofender o estrangeiro ofende o Pajé."

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6 Confrontos a) Martim X Irapuã Aldeia tabajara: ambiente

de revolta; Martim foge, ajudado por

Caubi; Irapuã persegue e

intercepta o fugitivo; Caubi intercede. b) Tabajaras X Pitiguaras Irapuã retira-se

7 Guerra Tapuitingas + Irapuâ X

pitiguaras; Jacaúna chama Poti e

Martim; Martim parte para a guerra.

8 Abandono de Iracema "[...] Poti refletiu: — As lágrimas da mulher

amolecem o coração do guerreiro, como o orvalho da manhã amolece a terra.

— Meu irmão é grande sabedor. O esposo deve partir sem ver Iracema.

O cristão avançou. Poti mandou-lhe que apressasse: da alijava de setas que Iracema emplumara de penas vermelhas e pretas e suspendera aos ombros do esposo, tirou uma.

O chefe potiguara vibrou o arco; a seta rápida atravessou um goiamum que discorria pelas margens do lago; só parou onde a pluma não a deixou mais entrar.

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Fincou o guerreiro no chão a flecha, com a presa atravessada, e tornou para Coatiabo.

— Podes partir. Iracema seguirá teu rasto; chegando aqui, verá tua seta, e obedecerá à tua vontade. Martim sorriu; e quebrando um ramo do maracujá, a flor da lembrança, [...]

— Ele manda que Iracema ande pra trás, como o goiamum, e guarde sua lembrança, como o maracujá guarda sua flor todo o tempo até morrer.

A filha dos tabajaras retraiu os passos lentamente, sem volver o corpo, nem tirar os olhos da seta de seu esposo; depois tornou à cabana. Ali sentada à soleira, com a fronte nos joelhos esperou, até que o sono acalentou a dor de seu peito."

9 Volta de Martim Nascimento de Moacir Sofrimento e morte de Iracema Martim enterra Iracema "— Recebe o filho de teu

sangue. Era tempo; meus seios ingratos já não tinham alimento para dar-lhe! Pousando a criança nos braços paternos; a desventurada mãe desfaleceu [...] O esposo viu então como a dor tinha consumido seu belo corpo; mas a formosura ainda morava nela [...]

Enterra o corpo de tua esposa ao pé do coqueiro que tu amavas. Quando o vento do mar soprar nas folhas, Iracema pensará que é a tua voz que fala entre seus cabelos.

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O doce lábio umedeceu para sempre; o último lampejo despediu-se dos olhos baços.

Poti amparou o irmão na grande dor. Martim sentiu quanto um amigo verdadeiro é preciosos na desventura

[...] O camucim que recebeu o

corpo de Iracema, embebido de resinas odoríferas, foi enterrado ao pé do coqueiro, à borda do rio. Martim quebrou um ramo de murta, a folha da tristeza, e deitou-o no jazido de sua esposa. A jandaia pousada no olho da palmeira repetia tristemente: - Iracema!"

10 Canto da Jandaia e nascimento do Ceará

"Desde então os guerreiros potiguaras que passavam perto da cabana abandonada e ouviam ressoar a voz plangente da ave amiga, afastavam-se com a alma cheia de tristeza, do coqueiro onde cantava a jandaia. E foi assim que um dia veio a chamar-se Ceará o rio onde crescia o coqueiro, e os campos onde serpeja o rio."

  11 Quatro anos depois... Martim volta com o filho e um

padre; Encontro com Poti; Conversão de Poti: batizado

católico; Martim, Camarão e Albuquerque

partem para Mearim: expulsão do branco tapuia.

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"Poti foi o primeiro que ajoelhou aos pés do sagrado lenho; não sofria ele que nada mais o separasse de seu irmão branco. Deviam ter ambos um só deus, como tinham um só coração.

A janela cantava ainda no olho do coqueiro; mas não repetia já o mavioso nome de Iracema.

Tudo passa sobre a terra." Ele recebeu com batismo o

nome do santo, cujo era o dia; e o do rei, a quem ia servir, e sobre is dois o seu, na língua dos novos irmãos. Sua fama cresceu e ainda hoje é o orgulho da terra, onde ele primeiro viu a luz. [...]

Jacaúna veio habitar nos campos da Porangaba pra estar perto de seu amigo branco; Camarão erguera a taba de seus guerreiros nas margens da Macejana.

Era sempre com emoção que o esposo de Iracema revia as plagas onde fora tão feliz, e as verdes folhas a cuja sombra dormia a formosa tabajara.

Muitas vezes ia sentar-se naquelas doces areias, para cismar e acalentar no peito a agra saudade.

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A obra e As personagens de Alencar: ´[...] muito dessa irresistível atração foi o vocabulário de Alencar, o brilho, a musicalidade verbal. A imagem inebriante e soberba para o seu tempo, as graças capitosas da minúcia, da precisão, da habilidade idiomática e mesmo sua sintaxe, as concessões ao sabor local, os neologismos, brasileirismos, enfim a liberdade ousada, aberta, corajosa, ostensiva, em empregar uma técnica que era eminentemente sua e que apaixonou o Brasil inteiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS...

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Iracema - não é, somente, o índio idealizado; é muito mais. Alencar queria criar um mito fundador para a nação, um passado para o Brasil por de meio de um índio heroico. Precisamos de uma imaginação nacional, essa é a grande questão. E ele fez essa imaginação a partir de uma imaginação cearense’’. Para Régis Lopes, José de Alencar quis estabelecer, pela maternidade indígena, uma relação de pertencimento entre brasileiros e Brasil. ‘’Iracema, hoje, é uma leitura que faz a gente pensar sobre a memória. Qual é a memória que vamos ter em relação ao nosso passado?’, conclui, com a pergunta que não quer calar.