seraf e os artefatos místicos - controlador de mentes

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Seraf e os Artefatos Místicos - Controlador de Mentes Gabriel Edgar I A Escolha A quela era uma noite como nunca vista antes, fria e chuvosa, juntamente com trovões que ribombavam abrindo espaço em meio às nuvens. Noite de sua cor azulada, contrastando com a cor branca e apagada das nuvens. Era uma noite em que tudo de mais imprová- vel poderia acontecer, e aconteceu. O grito de terror e dor rasgou o ar na pequena casa em meio a tantas outras na súbita província de Rudgart, antiga aliada do Rei Mark, que governava no extremo oriente. Na casa, ouvia-se o murmurar de duas vozes diferentes, uma de um garoto e outra de um homem mais velho. Nenhum deles imaginava o quanto àquela noite seria agitada para os dois. — Você escutou? – perguntou meu pai John para mim. Mesmo com seus quase cinquenta, tinha aparência de um homem de trinta anos. — Claro! Esse grito deve ter acordado todos em nossa província.

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Seraf e os Artefatos Místicos - Controlador de Mentes (ou SAM - Controlador de Mentes) é o primeiro livro de uma coleção cunhada na idade média e principalmente na fantasia. A história narra a vida de um jovem chamado Seraf - daí o nome da coleção - que ao completar seus 15 anos é incumbido involuntariamente da tarefa de defender seu reino. Como de praxe em Rudgart, Seraf precisa escolher em qual ofício irá trabalhar, pois já está em idade. O rapaz escolhe ser um "Monge Guerreiro", tornando-se ao mesmo tempo um lutador e um erudito. Apesar de sua pouca idade, quando um homem é morto e uma mensagem sangrenta deixada pelo vento, ele terá que abandonar o único lugar que sempre foi sua âncora no mundo. Agora que está liberto tem apenas uma tarefa: salvar sua terra, e todos que lá vivem.

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IA Escolha

Aquela era uma noite como nunca vista antes, fria e chuvosa, juntamente com trovões que ribombavam abrindo espaço em meio às nuvens. Noite de sua cor azulada, contrastando com a cor branca e

apagada das nuvens. Era uma noite em que tudo de mais imprová-vel poderia acontecer, e aconteceu. O grito de terror e dor rasgou o ar na pequena casa em meio a tantas outras na súbita província de Rudgart, antiga aliada do Rei Mark, que governava no extremo oriente. Na casa, ouvia-se o murmurar de duas vozes diferentes, uma de um garoto e outra de um homem mais velho. Nenhum deles imaginava o quanto àquela noite seria agitada para os dois. — Você escutou? – perguntou meu pai John para mim. Mesmo com seus quase cinquenta, tinha aparência de um homem de trinta anos. — Claro! Esse grito deve ter acordado todos em nossa província.

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Parece estranho que um grito possa acordar toda uma pro-víncia, mas é verdade. Nossa província é muito pequena para os padrões normais, ela se estende somente por cinquenta quilôme-tros, sendo que menos da metade é habitada. O resto da pro-víncia esconde densas florestas, como a floresta da perdição. Aos olhos de quem não conhece, pode parecer muito bonita, mas abriga estranhos perigos, como lobos assassinos e extremamente inteligentes. Desses, resta agora somente um pequeno bando de cinco, pois os outros foram exterminados em uma grande batalha que ocorreu há alguns anos, antes de eu nascer. Como tenho quatorze para quinze anos, isto quer dizer que ela ocorreu há exatos dezesseis anos, dois anos antes de eu ter nascido. Na batalha, houve até grandes monstros com couraça feita de espi-nhos grossos e afiados. — Acho que deveríamos contar para Lauren. Para quem não sabe, é ele quem cuida dos negócios e da papelada do castelo, para que nada saia do normal. Quando chegamos a seus aposentos, contamos o que ouvimos e o que pensávamos sobre tudo aquilo. — Então eu acho que devemos, por precaução, examinar as redondezas do castelo. Seraf, você mande chamar cinco solda-dos, que estejam muito bem armados. Eu e seu pai encontraremos você aqui em minha sala. Logo após nossa breve conversa, já estava de volta aos apo-sentos de Lauren com os soldados. — Muito bem Seraf. Agora que estamos reunidos e com segurança extra poderemos sair do castelo para ver o que aconteceu. Descemos as escadas que levam ao segundo andar, onde

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ficam os aposentos de Lauren e andamos pelo pátio do castelo. Ele não é muito grande, mas muito bonito por fora. Saímos pelo portão da frente e continuamos a caminhar sem rumo, mas com um objetivo, encontrar o causador daquele grito frio que abalou todos nós. — Já estamos andando faz quinze minutos e nem sabemos de onde pode ter vindo aquele grito, acho melhor voltarmos amanhã, quando estará claro. Somente a luz desses lampiões não vai adiantar muita coisa. Levantei meu lampião para meu pai vê-lo. A fraca luz iluminou um sorriso de quem sabe tudo, até coisas de mais. — Calma, logo encontraremos alguma coisa.Meu pai me olhou com repreensão e retribui o olhar. — Olhem lá na frente, estou vendo alguma coisa. Parece um homem. – rapidamente, aceleramos o passo. — Eu não lhe disse Seraf? Meu pai olhou com um sorriso meio sombrio por causa do reflexo de pouca luz em seu queixo, isto o deixava assustador, por causa da longa cicatriz que partia de baixo de seu olho esquerdo e terminava no queixo. Mais à frente, encontramos o corpo de um homem, boiando no rio, estava infestado de moscas à procura de alimento. Havia uma flecha cravada no peito do homem. Em uma das extremidades da flecha eu vi um bilhete enrolado. Os cadáveres me lembravam minha mãe, porque eu a vi morrer quando tinha seis anos. Já supe-rei isso, e o medo de pessoas mortas também, embora elas ainda revirem meu estômago. Inclinei-me à frente e peguei o bilhete. Ele estava muito úmido, e as letras meio borradas, o que dificultava a leitura. Estava escrito:

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“Spardian, o homem que foi rejeitado e exilado por Mark irá vol-tar para se vingar das pessoas que o humilharam. ’’ Eu fiquei lívido, pois já escutara em algumas histórias sobre a discórdia, o medo e a desgraça que Spardian espalhou pelas terras que o Rei Mark governava naquela época e ainda governa. Dizem que Spardian pode destruir cinco homens de uma só vez, com sua habilidade com a espada. — Seraf... Seraf... SERAF! — Hã... O quê? — O que você estava pensando? Bom, deixe para lá e nos diga o que está escrito aí neste bilhete. – falou John.— Está escrito que... Spardian,... Ele irá voltar para se vingar das pessoas que o humilharam. – todos escutaram com rostos som-brios, mas apreensivos. — Bom, depois disso, acho que devemos voltar para o caste-lo, aqui não é lugar para falar sobre isso. Mas, antes de partirmos, enterrem o corpo. – disse Lauren, quebrando o silêncio. Algum tempo depois, já estávamos nos dirigindo rapidamente para o castelo. O corpo foi devidamente enterrado sob uma árvore, e depois coberto de terra. — Não é mais seguro dormir na casa de vocês, então, por enquanto, vocês podem dormir no castelo. – Lauren disse para mim e meu pai, assim que chegamos à frente do castelo. Este era feito com grossos blocos de pedra, com mais ou menos trinta centímetros de largura, para evitar invasores. — Seraf, você pode ficar no quarto ao lado do meu, e seu pai pode dormir no quarto do outro lado do corredor, que também está vago.

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Continuamos a andar, já na segurança dos muros do castelo e su-bimos para o segundo andar, de onde Lauren me guiou para meus novos aposentos. Só nos ofereceu os quartos porque meu pai foi estrategista e trabalhou para ele. Com a idade chegando, ele não trabalha mais para Lauren, agora com seus vinte anos. Assim que cheguei ao quarto, me atirei na cama para tentar dormir, mas depois daquele episódio seria difícil. Ainda podia escutar os passos de Lauren e de meu pai ecoando nos cor-redores do castelo. Mesmo achando que não conseguiria dormir naquela noite, fechei os olhos, cai no sono na hora. O dia já estava amanhecendo e eu acordara antes de o Sol se mostrar no céu, hoje com grandes e nebulosas nuvens vagando pelo ar. Estava passeando pelos inúmeros corredores do caste-lo, que são muito escuros e úmidos. Estava preocupado com os acontecimentos da noite anterior e só de pensar no corpo que encontramos boiando no lago, minha espinha gelava e eu sentia um calafrio. Estava descendo as escadas do castelo quando escutei algumas vozes muito conhecidas vindas do pátio, quase um andar abaixo de mim. Continuei a descer as escadas, mas em silêncio. — Devemos enviar alguns espiões aos últimos lugares onde Spardian apareceu para saber se ele está mesmo tramando alguma coisa contra o Rei Mark e as províncias em que ele governa, pois se estiver, devemos estar preparados, você não acha? – pergun-tou Lauren, um pouco preocupado. — Sim, com certeza. Mas acho que este é um assunto que devemos tratar com Hako, mestre de guerra e Monge Guerreiro. Então, mudando de assunto, Seraf completa quinze anos hoje. Che-gou à hora de ele escolher qual será o seu ofício. – disse John. Quando ouvi isso, senti um friozinho na barriga. Já faz dois anos

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que espero para escolher meu ofício, desde que meu pai me disse que eu teria que escolher, quando chegasse a hora. — Você tem razão, vá acordá-lo, diga que eu quero trocar umas palavras com ele e me encontre na minha sala em uma hora, eu estarei com os mestres de ofício. John obedeceu imediatamente, e começou a subir as escadas. Quando escutei o bater de pés na escada, corri para o meu quarto. Fui pulando os degraus de três em três tentando não perder o fôlego, e principalmente não ser pego pela pessoa que subia a escada, que deduzi fosse o meu pai. Quando che-guei ao quarto, me joguei na cama e me cobri rapidamente com os lençóis. Eu dormia em um quarto rústico, com odor de poeira. O aposento emprestado possuía poucos móveis, somente um guarda-roupa de madeira todo preto com entalhes prateados e dourados formando a cabeça de um leão. O aposento possui também uma mesa com duas cadeiras e uma janela, que deixa pou-ca luz entrar. Na frente da minha cama, uma lareira acesa. Alguns minutos depois, John já estava em meu quarto. — Acorde, Seraf! Lauren quer falar com você na sala dele. — Por quê? Fiz alguma coisa errada? Tentei fingir, mas eu não sou muito bom nisso. Ainda bem que meu pai também não, senão eu teria uma experiência nada boa. — Eu não sei. Ele quer falar apenas com você. Só me disse que é importante, o suficiente para me convencer a pegar você em seu quarto a essa hora da manhã. — Que horas são? – eu disse, esfregando os olhos para fingir cansaço. — Mais ou menos umas... Seis horas da manhã. Concordei com meu pai em descer e rumei com ele para os

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aposentos de Lauren. Na verdade, eu estava muito tenso, pois não sabia se tinha qualidades suficientes para ser treinado para me tornar um Cavaleiro ou um Monge, ou qualquer outra profissão de prestígio. — Rápido, vamos apressar o passo, não quer deixar Lauren esperando não é? — Tudo bem, estou indo. Quando chegamos, Lauren me contou que havia chegado o dia da escolha. Tentei forçar um sorriso, mesmo com a insegurança reinando em mim. — Muito bem, aqui estão os mestres. O Cozinheiro, o Ferreiro, o Cavaleiro e o Monge. Qual será a sua escolha, Seraf? – per-guntou Lauren. Eu realmente estava indeciso, porque ali havia três de que eu gostava. O Ferreiro, o Cavaleiro e o Monge, mas o único que eu conhecia era o Ferreiro Will, um grande amigo meu e de meu pai. Mas depois de alguns minutos indeciso, respondi. — Monge. O mestre Monge, um homem alto forte e sorridente chamado Hako, me observou muito atento, certamente vendo se eu tinha as qualidades necessárias para ser um Monge. — Eu aceitarei você como meu aprendiz se passar em um tes-te. – falou Hako, dirigindo-se para mim. — E o que seria esse teste? – perguntei ao Monge Hako. — O teste seria passar dois dias na floresta da perdição, apenas com uma faca de caça para arranjar comida, uma espada para se defender dos perigos e dois odres vazios, que você encherá com a água que encontrar na floresta. Você terá que ca-çar a sua comida, procurar água para beber e fazer a sua própria

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moradia. Aceita o desafio, Seraf? — Para ser um Monge, eu aceito. Um murmúrio percorreu o aposento e Hako soltou uma leve risada e eu o olhei, tentando esconder a minha raiva por ele rir de mim. Certamente ele achava que eu não conseguiria passar pelo teste. — O desafio começará amanhã neste mesmo horário. – falou Hako. — Muito bem, vocês estão dispensados. – falou Lauren, olhan-do para os mestres de ofício e para John. — Seraf, hoje você tem o dia livre para fazer o que quiser, pode ir também. Lauren falou para mim, e imediatamente eu corri para o pátio, tomar um pouco de ar, para refrescar a memória. Uma hora depois subi para o meu quarto. Quando cheguei lá, eu vi uma faca de caça, uma espada velha com entalhes apagados e dois odres em cima da minha cama temporária. “Hako deve ter deixado essas coisas aqui logo depois que acabou a reunião”, pensei. Peguei meu alforje dentro do armário e coloquei dentro dele a faca de caça e os dois odres. A espada eu pendurei ao lado da cama. “Amanhã será um dia muito difícil, mas muito proveitoso também”. Olhei pela janela do quarto para a floresta da perdição, que fica a dois quilômetros do castelo, mas ainda assim podia ser avistada de lugares altos, como o meu quarto no segundo andar. O resto do dia eu fiquei treinando escalar árvores para estar bem preparado para o desafio do próximo dia. Depois, passeei pelos corredores e pelo pátio do castelo, pensando com todas as minhas forças que eu conseguiria terminar o desafio de finalmente ser treinado para me tornar um hábil Mon-

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ge. Melhor até que Hako, o mestre Monge, depois de alguns anos de treino. No final do dia eu cai na cama e dormi profundamente, como uma pedra, pois precisava estar muito bem descansado e preparado para o grande dia. Acordei às seis horas da manhã, levantei cansado, pelo exces-sivo ‘‘treino’’ de escalada, se é que eu posso denominá-lo assim. Espreguicei-me e fui até o armário, onde estavam o alforje e os dois odres vazios. Coloquei o alforje nas costas, peguei a espada velha e enferrujada que Hako também me dera e desci as escadas em direção à cozinha do castelo, um lugar ensolara-do e bem arejado, diferente dos quartos do castelo, que são mal iluminados e não muito grandes. Quando cheguei à cozinha, vi que estava vazia, como era de se esperar, pois ainda era muito cedo, os cozinheiros geralmente começavam a trabalhar às oito horas. Peguei uma maçã da fruteira e uma pera, e as coloquei no alforje aberto, então me virei para a fruteira e peguei outra maçã, quando escutei uma voz. — Não, você não pode comer, esqueceu que seu desafio é hoje? – ironizou Hako – Você terá que fazer o seu próprio café da manhã na floresta. Agora largue essa maçã e a outra fruta que você colocou no alforje. — Droga. – resmunguei. Pelo menos eu fiquei com a pera. Coloquei as duas maçãs na fruteira e comecei a seguir Hako, mas ele fez um gesto com a mão para eu parar. — A pera também. — Como que você?... Há, deixa para lá. Coloquei a pera de volta na mesa da cozinha e voltei para a porta. — Agora podemos ir – Hako me olhou e sorriu. Nós fomos até

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o pátio e de lá rumamos para o portão de acesso ao castelo. Paramos ao lado dele. — O desafio já começou. Vá para a floresta, te vejo daqui a dois dias. Obedeci e fui em direção à floresta, me embrenhando até não conseguir mais ver Hako, que abandonara o portão, assim que comecei a entrar na floresta da perdição. — Agora, eu vou pegar o meu café da manhã. – resmunguei para mim mesmo e bati na barriga, que roncava de fome. Comecei a procurar na floresta alguma árvore que tivesse frutas. Uma hora depois, estava começando a sentir uma pontada de cansaço. Não tinha encontrado comida, e andara por mais de três quilômetros, cheios de decidas e subidas, através da mata fechada, tornando o caminho muito longo e cansativo. Eu me sentei e retirei do alforje um odre que havia enchido pelo meio do caminho em um córrego de água pura e gélida. Bebi um pouco da água e me levantei para voltar a andar. Algum tempo depois, cheguei a uma clareira bem ensolarada, com algumas macieiras e arbustos com frutas silvestres. Fui em direção a uma árvore muito alta, que proporcionava bastante sombra, ao lado da qual corria um pequeno córrego. “Isto parece mais um paraíso, e não uma floresta escura e assustadora como todos falam que é”, pensei. Cortei com minha faca de caça um cipó que estava pendurado em uma árvore perto da clareira. Girei-o e o arremessei em um dos galhos da árvore que ficava ao lado do córrego. Com cer-teza, para abraçar a árvore, teriam que reunir um grupo de umas sete pessoas. Amarrei o cipó em minha cintura e fazendo uma alavanca com a outra ponta que pendia ao meu lado icei-me até o topo da árvore. Quando estava quase chegando meus braços

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já queimavam de cansaço. Alcancei o galho mais alto da árvore, me dobrei sobre ele e impulsionei o corpo com os braços, chegando ao topo da enorme árvore. Segurei-me nos galhos ao redor para não cair. Os galhos grossos entrelaçavam-se, formando

um extenso apoio para os pés, onde eu poderia descansar e

me proteger dos animais a noite. Depositei o alforje no grosso

chão formado pelos galhos, com umas quatro ou cinco polegadas

de espessura. Procurei em meu alforje um pedaço de ferro ar-

rebitado, e com o cabo da faca o finquei no tronco da árvore.

Pendurei o alforje no ferro, pois os galhos entrelaçados davam

espaço para somente uma pessoa deitar, nada mais.

Utilizei o mesmo sistema de subida para descer da árvore, que

parecia estar um pouco escorada para a esquerda. Após a rápida

descida, de faca em punho, embrenhei-me na floresta à procura

de comida. Depois de uma curta caminhada avistei uma toca de

coelhos. Devia haver uns cinco, todos atrás do coelho maior,

que parecia ser o mais velho, com o pelo um pouco amarelado

e com quase o dobro do tamanho dos outros.

Agilmente girei a faca na direção de um dos coelhos mais

gordos, ainda jovem e com carne macia. Ao meu movimento todos

se jogaram para trás com um salto meio desajeitado, mas ainda

assim consegui acertar um dos coelhos. Peguei-o pelas patas e

o joguei sobre meus ombros. Enquanto eu voltava para a clareira

onde estava acampado, os coelhos restantes abandonavam a toca

por mim atacada. No caminho para a clareira juntei alguns grave-

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tos, e ao chegar coloquei o coelho no chão e cavei um buraco,

coloquei os gravetos um em cima do outro dentro do buraco e

comecei a esfregá-los até conseguir fazer algumas faíscas, que

iniciaram o fogo. Com a faca retirei a pele do coelho e o assei

espetado em um pedaço de galho de árvore. O fogo crepitava

e o cheiro de coelho assado enchia o ar. Quando ele ficou

pronto, comi rapidamente, pois estava faminto. Aquele dia na flo-

resta estava me deixando um pouco cansado. Com um sorriso no

rosto, continuei a comer. Quando o coelho acabou subi na casa

da árvore e deitei. “Um dia já se foi, só falta mais um.” O dia estava acabando e logo o sono me envolveu por com-

pleto.

O primeiro dia de desafio havia passado, e o segundo estava

apenas começando. Eu acordei, levantei, e olhei para o céu. A

manhã estava clara e o Sol já despontava no horizonte. Alguns

animais corriam livremente ao redor da clareira. Abaixei os olhos

para ver o córrego. Um cervo de grande galhada se refrescava

na água límpida e gelada. Depois de alguns instantes ele levantou

a cabeça e começou à trotar em direção a floresta.

Desci da árvore, abri meu alforje e peguei algumas maçãs,

depois as comi. Logo depois fui tomar banho no córrego, que

era cheio de peixes, e tão cristalino que se podia ver-lhe o

fundo. Peguei a pele do coelho que havia comido na noite pas-

sada, tirei a gordura dela, lavei-a no córrego, acendi novamente

a fogueira que havia feito na noite passada e coloquei a pele

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sobre o fogo, pendurada por um galho para secar. Enquanto o couro do coelho secava, peguei a faca de caça, três galhos de árvore bem longos e comecei a afiá-los. Depois de haver feito três lanças encostei-as em uma árvore. Peguei a pele do coelho e com a faca cortei-lhe as patas, ficando somente a parte das costas e da barriga, com pelos muitos macios. Guardei a pele do coelho no alforje e apanhei as lanças improvisadas. Olhei para o Sol e constatei que devia ser umas onze e meia da manhã. Fui até o riacho e posicionei-me para jogar a lança. Fiquei esperando até que aparecesse algum peixe. Depois de alguns instantes, um cardume atravessou apressadamente o rio, cuja água devia chegar até minha barriga. Impulsionei a lança com o braço e arremessei-a na direção dos peixes. A lança voou assobiando e cravou na terra, sem acertar sequer um peixe. Restavam-me ainda duas lanças, então me apossei de mais uma. Novamente posicio-nado à espera dos peixes, observei as águas que se remexiam intensamente. Certamente um peixe estava se aproximando e tur-vando a água. Depois de alguns instantes, o tão esperado peixe apareceu acompanhado por mais uns dez ou doze, que nadavam lentamente, sem perceber a ameaça iminente. Posicionei-me e ten-tei novamente. Dessa vez a lança assobiou no ar e trespassou dois peixes, grandes e pesados. — Finalmente minha pesca teve êxito. Quando estava voltando para a árvore onde dormia, encontrei surpreso cinco lobos.

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Quando me viram, avançaram para dar o bote. Mais rápido que eles, me armei das duas lanças que me restaram. Iniciei uma louca corrida para subir em alguma árvore alta, mas um dos lobos me ultrapassou e parou à minha frente. Ele novamente correu em minha direção, retesou as pernas e saltou. Nos instantes seguintes levantei minha lança e somente pude vê-la se enterrar bem fundo na barriga do lobo. A lança que-brou ao meio e o meu atacante ficou agonizando no chão até que a morte chegasse. Com a última lança que me restava, subi em uma árvore para que o resto dos lobos não me alcançasse. Eles uivavam e tentavam escalar a árvore para alcançar a mim. As patas raspavam na árvore, fazendo um barulho estridente. Cortei um cipó grande e bem resistente, para que pudesse usá-lo como um chicote e lutar com os lobos. Encurralado, eu amarrei uma das pontas do cipó em minha faca, segurei a outra ponta do cipó e desferi um ataque mortal sobre um dos lobos, que rapidamente se esquivou do meu ataque. — Muito lento, humano. Surpreso, eu me desequilibrei e quase cai da árvore. — Ao contrário do que eu pensei, essa floresta é mesmo assustadora. — Você ainda não viu nada garoto. Um dos lobos do bando, que estava entre os mais fortes, arreganhou os dentes amarelados e sujos de sangue seco. — Chegou à hora de morrer. Dizendo isso o lobo saltou sobre mim para dar o bote mortal.