ser professor: saber dar para receber · responsabilidades que surgem com a profissão, seja feita...
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Ser Professor: Saber dar para
receber
Relatório de Estágio Profissional
Relatório de Estágio Profissional
apresentado à Faculdade de Desporto da
Universidade do Porto com vista à obtenção
do 2º ciclo de estudos conducente ao grau
de Mestre em Educação Física nos Ensinos
Básico e Secundário ao abrigo do Decreto-
lei nº 74/2006 de 24 de Março e o Decreto-
lei nº 43/2007 de 22 de Fevereiro.
Professora Orientadora: Professora Doutora Lurdes Ávila Professor Cooperante: Mestre João Alves
Daniela Brito Reis Porto, Setembro de 2017
Ficha de Catalogação
Reis, D. (2017). Ser Professor – Saber dar para receber. – Relatório de Estágio
Profissional. Porto: D. Reis. Relatório de Estágio Profissional para a obtenção do
grau de Mestre em Ensino de Educação Física nos Ensinos Básico e Secundário,
apresentado à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto.
PALAVRAS CHAVE: ESTÁGIO PROFISSIONAL, ESTUDANTE ESTAGIÁRIO,
EDUCAÇÃO FÍSICA, CONDIÇÃO FÍSICA, TREINO FUNCIONAL.
II
Dedicatória
À minha família pelo apoio, mãe e irmãs pelo carinho e sorriso e ao meu amor
que me amparou as quedas nas maiores tempestades.
III
Agradecimentos
Obrigado a todos os seres que me acompanharam nesta caminhada difícil
mas compensadora. Obrigado aos amigos e companheiros de treino, aos meus
colegas de curso, quer da Universidade da Madeira, quer da Universidade do
Porto. Obrigado a todos os professores e educadores que me acompanharam
ao longo do meu percurso de vida. Obrigado pelos preciosos ensinamentos.
Aos “meus alunos” desde as escolinhas até ao 10º pelo colaboração em
tudo o que era pedido.
Obrigado às minhas princesas, Sofia e Margarida (irmãs), que me fizeram
sorrir sem motivo e me deram todo o carinho e amor que duas crianças podem
dar.
Obrigado ao meu príncipe pelo apoio incondicional em todos os
momentos, sobretudo nos menos bons. Obrigado pela paciência, pelas
oportunidades e pelo amor e carinho. Obrigado pelo orgulho e pelo abraço no
momento certo.
Obrigado à minha mãe por todos os sacrifícios que fez ao longo da sua
vida para me dar uma vida melhor.
À minha professora orientadora, Lurdes Ávila, pela compreensão e apoio
quando o cenário era menos positivo, dando horas a mais só para me ajudar.
Ao professor cooperante, João Alves, pela liberdade de experimentar as
minhas ideias e acompanhar todo este processo que agora se inicia.
Obrigada ao quarteto fantástico pelos trabalhos intermináveis na melhor
companhia de sempre.
Obrigado Sílvia Gouveia, por tudo!
Obrigada Madeira e Porto por me receberes.
V
Índice Geral
Dedicatória III
Agradecimentos V
Índice Geral VI
Índice de Figuras VIII
Índice de Quadros IX
Índice de Anexos X
Resumo XI
Abstract XII
Lista de Abreviaturas XIII
1. Introdução 1
2. Enquadramento Biográfico – Dimensão Pessoal 5
2.1. Quem sou eu? Como cheguei aqui? 7
2.2. Expectativas e Impacto com o conexto de estágio 12
2.2.1. Estágio Profissional 12
2.2.2. Alunos 14
2.2.3. Departamento de Educ. Física e Comunidade 16
2.2.4. Núcleo de estágio 17
3. Enquadramento da Prática Profissional 19
3.1. Em termos legais o Estágio Profissional… 21
3.2. Enquadramento institucional 22
3.2.1. Escola – uma instituição 22
3.2.2. Escola Básica e Secundária Tomás de Borba 23
3.2.3. Departamento de Educação Física 25
3.2.4. Núcleo de estágio 26
3.2.5. A minha turma 27
4. Realização da Prática Profissional 29
4.1. Organização e Gestão do Processo de Aprendizagem 31
4.1.1. Conceção 31
4.1.2. Planeamento 33
VI
4.1.2.1. Planeamento Anual 34
4.1.2.2. Unidade Didática 35
4.1.2.3. Plano de Aula 38
4.1.3. Realização 41
4.1.3.1. Professor e aluno – uma relação de dar e receber 41
4.1.3.2. Eles não gostam de educação física 45
4.1.3.3. Organização da aula 48
4.1.3.4. Natação! E agora?! 50
4.1.3.5. Respostas certas? 50
4.1.3.6. Reflexão – Essencial, mas não suficiente 51
4.1.4. Avaliação 54
4.2. “Nós”: Participação e relação com a comunidade 57
4.2.1. Escolinhas do Desporto 58
4.2.2. Corta-Mato escolar 60
4.2.3. Reuniões 62
4.2.4. Formação “Desenvolvimento e treino da força” 64
4.2.5. Formação “Novas propostas e metodologias para o ensino do
karaté (…) em ambiente escolar” 66
4.3. Desenvolvimento Profissional – Estudo de Investigação 67
4.3.1. Resumo 67
4.3.2. Revisão de Literatura 68
4.3.3. Objetivos 73
4.3.4. Metodologia 73
4.3.5. Apresentação e discussão dos resultados 79
4.3.6. Conclusões 85
4.3.7. Bibliografia 87
5. Considerações finais 91
6. Bibliografia 95
Anexos 103
VII
Índice de Figuras
Figura 1 – Escola Básica e Secundária Tomás de Borba 25
Figura 2 – Distribuição da turma por género 27
Figura 3 – Medidas descritivas das idades da turma 27
Figura 4 – Ação de Formação 67
Figura 5 – Diferença entre as médias obtidas nos estudos 82
VIII
Índice de Quadros
Quadro 1 – Distribuição das modalidades por período. 35
Quadro 2 – Exercícios adaptados da bateria de testes FITSCHOOL 74
Quadro 3 – Circuito de Treino Funcional de Futebol 76
Quadro 4 – Circuito de Treino Funcional de Natação 77
Quadro 5 – Circuito de Treino Funcional de Badminton 78
Quadro 6 – Medidas descritvas obtidas na bateria de testes 79
Quadro 7 – Diferenças nas médias obtidas 82
Quadro 8 – Descritivas e resultados obtidos no questionário A 83
Quadro 9 – Descritivas e resultados obtidos no questionário B 84
IX
Índice de Anexos
Anexo I – Unidade Didática de Judo XIV
Anexo II – Plano de aula de Futebol XV
Anexo III – Questionário sobre Treino Convencional XVI
Anexo IV – Trabalhos realizados pelos alunos XVII
X
Resumo
O relatório apresentado está inserido na unidadade curricular, Estágio
Profissional, integrante no 2º ano do Mestrado de Ensino de Educação Física no
Ensino Básico e Secundário, conducente ao grau de mestre da Faculdade de
Desporto da Universidade do Porto. Este teve a duração de um ano letivo e
decorreu na escola básica e secundária Tomás de Borba. O objetivo deste
projeto passa por inserir o estudante num contexto similar ao real e analisar o
seu desempenho, através de uma prática supervisionada. Contém todo o
caminho percorrido ao longo do ano letivo no que diz respeito às atividades
realizadas, dificuldades, decisões, estratégias e aprendizagens daí resultantes.
Integra ainda atividades não letivas onde a estudante-estagiária esteve
integrada. A acompanhar o estágio este um professor cooperante da escola e a
professora orientadora da faculdade.
Este documento está organizado em 5 capítulos que retratam todas as
experiências e aprendizagens adquiridas. Nestes capítulos há um devido
enquadramento dos contextos onde decorreram cada um dos momentos, as
sensações, os pensamentos, as emoções e as decisões tomadas. Não só
descreve como demonstra as estratégias utilizadas e o resultado da
implementação das mesmas.
O primeiro capítulo diz respeito a uma breve introdução, o segundo sobre
o contexto pessoal da estudante, o terceiro sobre o envolvimento social, o quarto
sobre prática propriamente dita e um final com uma breve conclusão sobre a
experiência vivida ao lecionar duas turmas (10º e 6º ano).
XI
Abstract
This document is the final result from the Professional Internship made in
the framework of the 2nd Cycle of The Physical Education Teaching program, at
a Basic and Secondary School levels, inserted in the Masters Degree of the
Faculty of Sport of the University of Porto. This intern took place in basic and
secondy Tomás de Borba School and it took the all year. The goal with this project
is insert the student in a real environment, analyzing the supervised practice of
the intern on his activities.
This report describes and shows all the activities embraced by the intern
student, as well as the strategies she founds, difficulties and acquired knowledge.
The studen doesn’t walk alone, and there was a guidance of a school professor
and a collegede guidance. This document is organized in 5 main chapters with
all the information of the background and also included the feelings, emotions,
solutions and problems.
The first chapter is a short introduction, the second talk about the student’s
background, the third describes the social environment, the forth aproach the
teaching activity and the final one is a short conclusion about all this way to be a
teacher.
XII
Lista de Abreviaturas
AKA – Associação de Karaté dos Açores
EBSTB – Escola Básica e Secundária Tomás de Borba
EP – Estágio Pedagógico
FADEUP – Faculdade de Desporto da Universidade do Porto
IPDJ – Instituto Português do Desporto e da Juventude
MEC – Modelo de Estrutura do Conhecimento
MED – Modelo de Educação Desportiva
PC – Professor Cooperant
PES – Prática de Estágio Supervisionada
PNEF – Plano Nacional de Educação Física
RAA – Região Autónoma dos Açores
XIII
3
Este documento é um requisito legal (Decreto-Lei n.º 74/2006 de 24 de
março e Decreto-Lei n.º43/2007 de 22 de fevereiro) para a obtenção do grau
Mestre em Ensino da Educação Física nos ensinos Básico e Secundário da
Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Surge no âmbito da realização
do Estágio Profissional que decorre durante o 2º ano deste ciclo de estudos,
através da prática de ensino supervisionada.
Intitulado por “Relatório de Estágio”, é um documento onde descreve e
reflete sobre aquele que foi o meu primeiro passo enquanto docente, através da
designação estudante-estagiária. Não só contém informações acerca das
situações que aconteceram, mas também reflexões acerca do meu crescimento
profissional. Esta etapa da formação inicial procura confrontrar a teoria com a
prática, oferecendo uma riqueza de vivências fantástica.
O estágio profissional é um projeto que visa a integração do estudante na
comunidade educativa, de modo a que a sua envolvência com as
responsabilidades que surgem com a profissão, seja feita de forma gradual e
supervisionada. É permitido ao estudante desenvolver competências na área da
docência, nomeadamente no olhar crítico e capacidade de resposta aos desafios
constantes que profissão coloca. O estágio desenvolveu-se na Escola Básica e
Secundária Tomás de Borba, onde o “núcleo” adotado era constituído por mim,
pelo professor cooperante e pela professora orientadora. Fiquei responsável por
lecionar duas turmas, uma residente do 10º ano e outra partilhada do 6º ano.
De forma a adotar uma estrutura mais organizada, este documento divide-
se em 4 capítulos: Introdução, Enquadramento Biográfico, Enquadramento da
Prática Profissional e a Realização da prática. Este último subdivide-se em 3:
Organização e Gestão do Ensino, Participação e Relação com a comunidade e
Desenvolvimento Profissional. Em cada um são abordados confrontos que
vivenciei enquanto estudante estagiária, onde procuro melhorar as capacidades
adquiridas pela teoria. Finalizo com uma breve recordação de toda a experiência.
7
2.1 Quem sou eu? Como cheguei aqui?
Estava previsto para dia 13 de novembro, mas o quentinho apenas me
deixou sair 2 semanas depois. A 27 de novembro de 1994, perto da uma hora
da manhã, no antigo hospital em Angra do Heroísmo, o mundo me ouviu pela
primeira vez. Talvez não o mundo, mas pelo menos a minha mãe e a equipa
médica. O meu físico era maior do que a média aponta, no entanto o tamanho
das minhas conquistas apenas ao futuro pertencia.
De origem madeirense, confesso que me saiu a sorte grande ao nascer
num pedaço de terra no meio do oceano atlântico chamado Ilha Terceira e que
para mim é um pedacinho do paraíso. Natural da freguesia de Nossa Senhora
da Conceição, foi no concelho de Angra do Heroísmo (Ilha Terceira – Região
Autónoma dos Açores) que vivi toda a minha vida. Pelo menos de acordo com
as informações transmitidas pela minha mãe ou pelos flashbacks que tenho da
minha infância, pois pelo que parece para crescer de forma saudável temos de
esquecer (Akers, 2014). Não cresci rodeada de primos, mas cresci rodeada de
boas experiências e de amigos.
Filha de mãe solteira, a vida levou-nos a mudar de casa diversas
ocasiões. Estas altrações por vezes levaram-me a transferir de escola, no
entanto nunca considerei que esta dinâmica tenha tido um efeito negativo para
o meu crescimento. Aprendi a partilhar a casa com outras pessoas, fiz novos
amigos e conheci novos caminhos. Por viver apenas com a minha mãe conheci
de perto a necessidade de “lutar pela vida” e a “lei do desenrasque” esteve
sempre presente nas mais diversas situações, por exemplo nas diferentes
formas de ir para a escola ou de ocupar o tempo quando minha mãe estava a
trabalhar. Infelizmente não nasci no tempo em que apenas passava um carro na
rua a cada meia hora e como tal, as brincadeiras na rua não eram tão comuns
como gostaria. Dependendo do lugar onde vivia, havia momentos que podia
brincar na rua (andar de trotinete e de bicicleta), no entanto não se via mais
crianças pelo que acabava por ir para casa. Em casa ocupava o meu tempo com
jogos, sobretudo puzzles, a pintar/fazer atividades em livros ou a ver
filmes/desenhos animados. Com cerca de 7 anos, nas férias de verão, que eram
8
como uma pequena tortura para mim, ia sozinha para a Praça Velha onde
colocavam imensos insufláveis, palhaços e outras diversões de forma gratuita.
De forma geral apenas saía de lá para almoçar e rapidamente regressava.
Quando a minha mãe conseguia tirar férias no verão aí sim! Desde tenra idade
que nesta época íamos para a zona balnear da Silveira, onde passávamos
literalmente todo o dia. Com o almoço na mala térmica, era um peixe na água.
São certamente memórias das quais me orgulho, pois nunca troquei uma boa
brincadeira ou uma saída de casa por um jogo, apesar de gostar muito de
televisão/computador.
A nível escolar a minha mãe nunca teve preocupações que lhe tirassem
o sono. Aliás, numa fase inicial considero que era um problema tirar-me da
escola. Na pré-escola pedia para ser a última a ir para casa e na primária pedia
(leia-se chorava) para não chegar atrasada e para não ir para casa ou faltar caso
estivesse doente. Lembro-me nas férias de verão do 1º para o 2º ano pedir para
a minha mãe ensinar-me a tabuada dos 2. Sempre gostei muita da escola,
possivelmente pelas professoras, educadoras e auxiliares que me
acompanharam e que me lembro sempre que as vejo. Apesar das mudanças de
escola nunca sofri com estas alterações e rapidamente me adaptei às situações,
uma vez que a minha mãe tinha a preocupação de me explicar o porquê. Estas
vivências levaram a que, num certo sentido, “crescesse” mais do que os meus
colegas. Olhando para as “notas” que as professoras escreviam no final de cada
período era recorrente ler afirmações como “A Daniela relaciona-se muito bem
com os adultos” e a razão deste amadurecimento possivelmente tem a sua
origem nestas experiências. A única preocupação que a minha mãe recebia de
forma constante era o facto de falar muito nas aulas, mas isso foi algo que foi
muito difícil corrigir. Apesar de ter um crescimento precoce em certos aspetos,
nunca deixei de ser verdadeiramente criança e sempre soube o quão bom era
ser criança. Já aos 5 anos pedia à minha mãe para não crescer, queria ser
sempre criança, queria ser como o Peter Pan. Vivendo apenas com ela, via de
perto as dificuldades que tinha e então rapidamente chegava a conclusão que
ser criança era muito melhor do que ser adulto.
9
No final do 3º Ciclo (9º ano) foi pedido que escolhesse a área que
pretendia seguir. No início fez-me alguma confusão o que deveria seguir mas
encontrei uma pergunta que resolveu este dilema de uma criança de 14 anos,
“qual a área que me dá acesso a mais cursos?”. Esta pergunta não surge da
minha ausência de perspetivas daquilo que pretendo ser, mas sim do facto de
querer ser muita coisa. Desde nova, e puxando à minha falta de noção de tempo,
pretendia ser 7 profissões (professora de educação física, treinadora, professora
de matemática, dentista, veterinária, etc.). O certo é que esta visão foi afunilando
e nem mesmo no 9º ano tinha a certeza. Assim optei pela área de Ciências e
Tecnologias na então Escola Secundária Padre Jerónimo Emiliano de Andrade.
O secundário se passou sem grandes precalços a nível escolar, quando cheguei
ao 12º ano e pensei “e agora?”. Todos os dias era bombardeada com
informações como “devias ser médica” ou “não escolhas essa que não tem
saída” reviravam-me as ideias. Foi necessário refletir sobre aquilo que era mais
importante e olhar para um futuro que me parecia muito distante, quando tinha
apenas 16 anos. Um dia disseram-me que “quem é bom naquilo que faz tem
sempre trabalho”. Então se tenho que ser excecional naquilo que faço tenho que
sentir gosto por essa atividade, caso contrário será muito mais difícil. Bem, a
escolha tornou-se mais simples, a área de Desporto era sem dúvida o meu
caminho. Contra muitas críticas e receios próprios procedi à minha candidatura,
preenchendo todos os campos na folha destinada ao efeito. Eu adoro a minha
ilha e, ao contrário de muitas colegas, eu não pretendia sair, nem tão pouco viver
noutro sítio. Então, já que o tinha que fazer, candidatei-me à Universidade da
Madeira. Um regresso às origens que nunca conheci totalmente, procurando
manter a insularidade que me anima. Eram 30 vagas e entrei, estava decidido.
Era lá que ia estar nos próximos 3 anos. Sim, tinha a certeza que seriam apenas
3 pois a minha mãe fez questão de o esclarecer, não que fosse necessário.
Com 17 anos embarquei para um novo ciclo. Um ciclo novo e que
claramente sabia o que pretendia, cumpri-lo o mais rapidamente possível para
regressar a casa. Foram momentos difícieis e por vezes tenho a sensação de
que foram anos muito longos. No terceiro ano tinha 3 opções para tomar (Saúde
e Prescrição, Treino Desportivo, Gestão Desportiva), optei pelo “treino”, mais
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específicamente no karaté com vista ao reconhecimento na carreira de treinador.
Nas férias de verão, com o objetivo de ganhar alguma experiência, concorri aos
projetos “Estagiar U” do Governo Regional dos Açores, trabalhando durante um
mês num ginásio (renumerado!). Ultrapassei os desafios a que me propus e
chegou-se o final da etapa com a mesma pergunta do 12º ano, “E agora?”.
Conversei com pessoas próximas que me aconselharam e me ajudaram a refletir
sobre o que seguir. Tinha 20 e optei por tirar um mestrado em ensino de
educação física. Esta opção surgiu por gosto, mas com uma intenção por detrás
que se prendia com fatores profissionais, não pelo facto de haver muitas vagas
nas escolas, mas com outras questões como a prioridade no concurso, entre
outras. Lembro-me da maioria dos meus professores, e de todos os meus
professores de educação física. Tenho as melhores recordações destas aulas
pelo que também foi um fator importante para a minha escolha. Contactei a
Faculdade de Motricidade Humana, a Faculdade de Desporto da Universidade
do Porto (FADEUP), a Universidade de Coimbra e a Universidade da Madeira,
uma vez que necessitava de segundas opções caso não entrasse na primeira. A
FADEUP foi a única que me ofereceu a possibilidade de realizar o estágio
pedagógico nos Açores, pelo que esta informação aliada à qualidade que se tem
vindo a praticar nesta entidade à largos anos, foi como juntar ouro sobre azul. E
assim, mais uma vez embarquei para um novo ciclo, num novo lugar. Este
percurso multicultural permitiu-me sair da minha zona de conforto, conhecer
novas formas de pensar e agir. Apesar das dificuldades, foi um percurso do qual
me orgulho e do qual me sinto agradecida por ter pessoas do meu lado e que
me ajudaram. Aqui me encontro a terminar esta etapa e questiono-me por vezes
se voltarei a estudar, mas só o futuro me encaminhará para esta decisão.
Ao nível desportivo iniciei a prática da modalidade de karaté aos 5 anos
e, ao contrário do que as previsões diziam, ainda acompanho a modalidade com
vigor e assiduidade. Alcancei diversos lugares de pódio nas diferentes
competições que participei (nível local, regional, nacional, internacional, seleção
regional e universitário) e alcancei a graduação de 2ºDan (2º nível de cinto negro)
por umas das associações mais respeitadas a nível nacional e internacional.
Iniciei a carreira de arbitragem, sendo atualmente árbitro de nível B, faltando
11
apenas um curso para atingir o topo da carreira a nível nacional. Ambiciono, mais
uma vez contra todas as probabilidades, frequentar um curso que me ofereça a
oportunidade de alcançar o estatudo de árbitro internacional. Formei-me ainda
como dirigente e sou, atualmente, dirigente de nível II. Este ano concorri numa
lista para os corpos sociais da Associação de Karaté dos Açores (AKA), sendo
atualmente a diretora de provas. Alcancei muito no karaté, cresci muito e vivi
muito. Sobretudo conheci pessoas boas e algumas delas especiais que me
ajudam e apoiam, que demonstram orgulho e carinho por tudo o que faço. Para
além do karaté, pratiquei basquetebol federado durante 5 anos, que apesar de
ter desistido devido à falta de tempo, ainda me deixa saudades pelo que quem
sabe se no futuro não irei inserir-me em algum projeto. Para infelicidade minha
apenas pratiquei futsal durante alguns meses uma vez que não tinha tempo para
praticar tudo quanto gostaria, uma vez que o meu comprometimento com o
karaté preenchia-me todos os dias da semana. Queria ter experimentado 1001
modalidades e atividades, pois em criança entrei para a pintura e para o teatro
mas infelizmente o dia apenas tem 24 horas. Chegava a ter aula de educação
física (90 minutos) no 2º ciclo, correr até outra escola para ter uma hora de
basquet e voltar a correr até ao estádio para ter uma hora de karaté. O cansaço
acumulou-se e tive que optar.
A rotina aborrece-me e necessito de experiências novas todos os dias. O
estágio tem oferecido isso mesmo. Agora passei para o lado de professor (que
não se trata do lado oposto) e tenhos os olhos dos alunos postos em mim.
Felizmente, a profissão de docente é a única pela qual obrigatoriamente já
passámos pela experiência de estar do outro lado, ou seja, um médico não
necessitou de ser doente ou um advogado não necessitou de ser réu. No
entanto, um professor já foi, com toda a certeza, aluno. Este aspeto procuro não
esquecer, porque guia-me na minha ação enquanto professora de educação
física.
“A sua estrada é somente sua. Outros podem acompanhá-lo, mas
ninguém pode andar por você.” (Rumi, s.d.)
12
2.2 Expectativas e Impacto com o contexto de Estágio
2.2.1 Estágio Profissional
É agora! Já começo a ouvir os alunos e funcionários da escola a chamar-
me “oh professora” e “oh sra. professora”. O derradeiro momento começou e há
muito que aprender. A oportunidade de lecionar uma turma, à minha
responsabilidade, durante um ano letivo completo é fundamental para o início da
carreira profissional.
O estágio profissional é, do ponto de vista cronológico, a última etapa
daquela que é considerada a fase de formação do professor. Não passa de um
novo começo, ou de um caminho diferente, uma vez que se trata de um contacto
direto e regular com a grande maioria das variáveis que interferem no processo
de ensino da educação física. Apesar de ter a consciência de que se trata apenas
de uma parte daquilo que é ser docente, é uma janela que se abre para
experimentar a teoria na prática e aos olhos dos alunos não somos mais vistos
como “um deles”. Segundo Bento (2003, p. 39), “o ensino constitui o elo decisivo
na cadeia do processo global de formação e educação”, e neste sentido
considero que esta definição se dirige ao processo de formação dos alunos, mas
também a mim enquanto estudante estagiária.
Sendo o processo de ensino-aprendizagem um constructo dinâmico e
complexo, espero encontrar muitos desafios. É necessário à priori ter essa
mesma consciência de que nem tudo correrá como planeado e o inesperado
sempre acontece. Os obstáculos vão aparecer e o primeiro passo para os
ultrapassar e resolver é identificá-los. As soluções irão surgir de forma mais ou
menos natural, através da tentativa e erro, assim como através da colaboração
do professor cooperante e da professora orientadora da faculdade, no sentido
de me proporcionar uma opinião crítica acerca da minha prática pedagógica. Só
assim será possível melhorar e aprender, pois é através destas observações e
da minha análise que serão dados os ingredientes para uma reflexão que
promova correções e atitudes lógicas e coerentes. Um estágio profissional
deverá ser, na minha óptica, um espaço de crescimento privilegado, onde a
construção da identidade profissional tem o seu começo. Este momento, não se
13
pode resumir a um acumular de conhecimento e experiências, mas deve antes
“estimular uma perspetiva crítico-reflexiva (...) que permita uma (re) construção
permanente de uma identidade pessoal” (Nóvoa, 1992, p. 25). A teoria acerca
do processo educativo e toda a literatura em volta desta temática é estudada há
largos anos. No entanto, segundo Nóvoa (1992), apesar da teoria fornecer
indicadores e grelhas de observação, são as vivências que irão construir o seu
saber e a sua identidade.
Ao primeiro olhar é possível identificar dificuldades mesmo antes de iniciar
as aulas. Considero que o processo educativo tem a sua base numa relação
interpessoal. Neste sentido, a sensibilidade e perspicácia para saber estar e ser
com cada indivíduo (alunos, funcionários, outros docentes e elementos da
comunidade educativa) é fundamental para tirar o máximo partido dessas
mesmas relações. Não fará sentido (re)agir a todos por igual, porque de facto
não somos todos iguais. Assim, pretendo que a aspetos como a comunicação e
a observação de pequenos detalhes que me permitam estabelecer relações
positivas com os alunos, sejam desenvolvidas e aprimoradas na medida do
possível. Por outras palavras, pretendo desenvolver o tato pedagógico. Acredito
que esta é a base para um trabalho e um desenvolvimento exponencial de cada
aluno, de acordo com as suas capacidades e respeitando as suas
individualidades. Penso que estas ferramentas que pretendo desenvolver serão
úteis quer na minha vida profissional, quer na minha vida pessoal.
Não são apenas de competências sociais que fazem de cada docente um
bom professor. As competências técnicas são exigentes e “cada professor deve
estar sempre à altura da ciência da sua especialidade” (Bento, 2003, pág. 41) e
a educação física não é exceção. O meu conhecimento prévio e
experiências/pré-disposição para determinadas modalidades é um ponto
favorável, no entanto existem lacunas que pretendo, com o auxílio da minha
formação no ensino superior, minimizar, como é o caso da natação.
Para além destas preocupações, o processo de avaliação é algo que me
inquieta constantemente, pois primo pela justiça nos valores apresentados,
tendo presente a “preocupação de conduzir os alunos da “zona atual” para a
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“zona próxima” do seu desenvolvimento”, passando de uma atividade de direção
com aumento progressivo da autonomia dos alunos (Bento, 2003, p. 42). Espero
acima de tudo ser capaz de cativar e proporcionar experiências positivas aos
meus alunos para que no futuro sejam estas as vivências que lhes marquem a
memória e quem sabe, adotem algum comportamento regular em relação à
atividade física.
Para Mark Ginsburg, citado por Nóvoa (1992, p. 23), “a profissionalização
é um processo através do qual os trabalhadores melhoram o seu estatuto,
elevam os seus rendimentos e aumentam o seu poder/autonomia”. A minha
perspetiva é semelhante, olhando para o substantivo “estágio” como um mero
anexo ao adjetivo “profissional”. É com esta visão que pretendo reduzir os efeitos
da minha inexperiência enquanto professora, porque, embora já tenha algumas
vivências na orientação de treinos, esta passagem real da postura de “estudante”
para “professora” (apesar de sermos eternos aprendizes) ganha uma dimensão
diferente.
Dado isto, torna-se mais simples captar algumas das características
omnipresentes aos “bons professores”. Essa definição/ideia/símbolo torna-se
mais completo e requintado à medida que progredimos na nossa formação
académica, no entanto considero as minhas vivências e memórias enquanto
aluna uma fonte importante para o enquadramento de determinados saberes que
considero importantes e necessários (que pretendo desenvolver), como por
exemplo: ser justa, ser acessível, ser boa comunicadora, ser conhecedora do
conteúdo específico e ser motivadora/positiva.
2.2.2 Alunos
Estando a lecionar uma turma do 10º ano, com alunos de faixas etárias
relativamente alargadas (dos 15 aos 20 anos), a diferença de idades entre mim
e eles era uma preocupação. Aliás foi uma das razões pela qual não optei por
uma turma do 12º ano. Afinal de contas para dois dos alunos a diferença
cronológica que nos separa é de apenas 2 anos e a forma como deveria abordar
15
as aulas era uma incógnita que foi ultrapassada através da tradicional “tentativa
e erro”. Será melhor entrar “a matar” ou “ir na onda”? Eram questões que se
levantavam antes das primeiras aulas. Lidar com uma turma com diferentes
graus de competência e níveis de motivação díspares é um desafio para o qual
já me mentalizei à algum tempo, mas os cenários que me inquietavam diziam
respeito a turmas com pouca cultura desportiva (ainda pior quando a educação
física não conta para a nota de ingresso ao ensino superior) e os problemas com
o comportamento que podem surgir. No entanto, a turma é exemplar a nível
comportamental, deixando-me mais à vontade, procurei deixar o ritmo fluir e
considero que consegui cativá-los para a prática.
Este ano, para além do estágio pedagógico, candidatei-me a um projeto
designado “Escolinhas do Desporto” que consiste em dar a oportunidade dos
alunos experimentarem diferentes modalidades. Pela primeira vez estou
diretamente a ensinar karaté a crianças do 1º ao 4º ano (cerca de 70 alunos em
2 escolas) e tem sido uma experiência fantástica. Interessante a forma diferente
como as aulas devem ser abordadas, retirando o facto de ser um conteúdo que
não consta do programa de educação física das escolas. Dando aulas a
diferentes horários, torna-se evidente que esse também é um facto que pesa na
forma como a aula deve ser planeada, por exemplo, nas aulas que se realizam
imediatamente após o horário é necessária alguma sensibilidade para os
primeiros momentos da aula pois os alunos estão “hiperativos” e cheios de
energia.
Por vezes questiono-me acerca do meu papel enquanto professora, se
está ou não a chegar aos alunos de alguma forma. Quando passo em algum sítio
em que ouço uma “vozinha” a gritar “oh professora!” com a mão esticada no ar,
então confesso que sinto um alívio no coração. E então eles sussurram a quem
os acompanha “é a minha professora de karaté”. No caso dos alunos mais velhos
o cumprimento vem com um sorriso no rosto. Certamente deverá querer dizer
algo acerca da minha atuação perante eles.
16
2.2.3 Departamento de Educação Física e Comunidade Educativa
O departamento de educação física da Escola Básica e Secundária
Tomás de Borba (EBSTB) conta com 14 professores da disciplina. Em relação a
este grupo espero encontrar o apoio e compreensão necessários para a minha
integração no ambiente escolar. Esta integração engloba sobretudo as questões
logísticas como rotações de espaços, material e outras questões do mesmo
âmbito. Embora para os alunos eu já seja professora, ainda me considero uma
aluna perante os restantes docentes da disciplina. Até porque fui aluna de alguns
professores que estão na escola, no entanto não considero isso um aspeto
negativo, sendo até uma situação divertida e interessante.
É no estágio profissional que se começam a criar as primeiras “redes
coletivas de trabalho”, quer a nível de núcleo de estágio ou com os restantes
professores (mesmo departamento ou outros), pois segundo Nóvoa (1992) a
interligação entre os professores é fundamental para consolidar conhecimentos
resultantes da prática pedagógica. Relativamente aos docentes das restantes
disciplinas aguardei por uma aceitação pacífica que se verificou, principalmente
nas reuniões de conselho de turma. Nestes momentos tenho a real noção de
que a maioria dos alunos comportam-se de forma totalmente diferente nas aulas
de educação física quando comparado com outras disciplinas, de acordo com os
testemunhos dos restantes docentes.
Neste momento tenho uma noção mais real do papel imprescendível dos
funcionários. O apoio que estes oferecem aos docentes é essencial, que permite
melhorar o ambiente escolar, rentabilizar o tempo de aula, controlar a
conservação dos materiais, entre outros aspetos. Para além disso, auxiliam a
minha integração no contexto escolar.
Com o projeto das escolinhas tenho uma relação mais próxima com os
pais/encarregados de educação, embora não esteja em jogo o percurso escolar
dos seus educandos. Facilmente se distingue os diferentes níveis de presença
dos encarregados nas atividades dos alunos e é interessante analisar o nível de
importância que dão a este tipo de atividades em que os seus educandos estão
inseridos.
17
2.2.4 Núcleo de Estágio
Por variadas razões, algumas mencionadas anteriormente, realizo o
estágio pedagógico na Região Autónoma dos Açores (RAA), mais
especificamente na ilha Terceira. Apesar de outros alunos estarem a realizar o
estágio em outras ilhas (São Jorge, São Miguel e Madeira) nenhum outro colega
está a frequentar o estágio na mesma escola que eu. No entanto, o contacto com
outros colegas do mestrado é frequente e as experiências continuam a ser
trocadas, de forma virtual, incluindo com alunos de mestrado de outras
universidades. Apesar de não haver uma troca e partilha de trabalho in loco,
continuo, na medida do possível, a interagir com outros colegas que me ajudam
em dúvidas logísticas, metodológicas e de análise. O auxílio e cooperação da
orientadora de estágio e do professor cooperante foram fundamentais na
projeção, realização e finalização deste desafio.
21
3.1. Em termos legais o Estágio Profissional...
No 2º Ciclo de estudos do Mestrado de Ensino da Educação Física nos
Ensinos Básico e Secundário, da FADEUP, integra a unidade curricular Estágio
Pedagógico (EP) enquadrada pela Comissão Científica do respetivo curso. A
nível legal integra o ordenamento jurídico da formação de professores do ensino
básico e secundário de acordo com o Decreto-Lei nº 344/89 de 11 de outubro e
respetivas alterações introduzidas pelo Decreto-Lei nº79/2014 de 14 de maio. O
EP tem ainda em consideração os regulamentos geral dos segundos ciclos da
Universidade do Porto e da FADEUP. Este por sua vez engloba duas
componentes, sendo elas a Prática de Ensino Supervisionada (PES) por um
professor cooperante, numa escola com protocolo estabelecido com a FADEUP
e o relatório de estágio profissional, orientado por um professor da faculdade. A
PES procura integrar o aluno na vida profissional de forma progressiva e
orientada, através de contextos reais, de forma a que este desenvolva as
competências necessárias ao exercício da docência.
No caso dos alunos que pretendem realizar o EP nas regiões autónomas
dos Açores e da Madeira, estes devem cumprir os regulamentos estipulados
para o efeito. No caso da RAA a Direção Regional da Educação estabeleceu, na
Portaria n.º 75/2015 de 22 de junho, os pré-requisitos necessários para a
frequência do estágio na região sendo eles: ser portador de uma declaração de
Junta de Freguesia da Região em como manteve o domicílio na mesma durante
a frequência de todo o curso; ser portador de um documento comprovativo de
que tem o seu domicílio fiscal na RAA; não ser detentor de habilitação
profissional para a docência. Foi necessário contactar a Secretaria Regional da
Educação e Cultura de modo a comprovar a veracidade de todos os documentos
apresentados, aguardando a aprovação do mesmo.
O EP está organizado em 3 grandes áreas de desempenho onde os
estudantes estagiários irão procurar desenvolver e dominar de forma a
desempenhar a sua profissão enquanto professores da melhor forma possível.
As áreas designam-se de: Organização e Gestão do Ensino e da Aprendizagem,
Participação na Escola e Relações com a Comunindade e finalmente,
22
Desenvolvimento Profissional. Relativamente à operacionalização do EP, os
alunos estagiários devem ser responsáveis por lecionar as aulas de uma das
turmas do professor cooperante (PC) ao longo de todo o ano letivo.
3.2. Enquadramento Institucional
3.2.1. Escola – uma instituição
A educação é um processo que, logo no início de vida, acontece em dois
lugares. Numa primeira fase exclusivamente em casa/família, passando esta
responsabilidade a ser partilhada com a entidade escolar. A escola trata-se de
um ambiente que reúne uma variedade de atividades, conhecimentos, regras e
valores, de onde emergem problemas e soluções (Mahoney, cit. por Dessen &
Polonia, 2007). Este espaço, caracterizado nos âmbitos físico, psicológico, social
e cultural, promovem o desenvolvimento global do sujeito, quer na sala de aula,
quer fora desta (Rego cit. por Dessen & Polonia, 2007). Os diversos estímulos a
que o indivíduo está sujeito, promovem um ambiente multicultural que prepara o
estudante para uma vida social integrada e ativa.
A escola é um constructo dinâmico e que ao longo dos anos se tem
modificado e reconstruído, quer nos seus objetivos, quer nos meios e recursos
que utiliza. A escola que em tempos foi apresentada como uma fábrica
massificada, hoje olha para o ser humano com outros “olhos”. O processo
educativo que dizia respeito exclusivamente ao Estado, passa a contar e a exigir
a participação e opinião dos encarregados de educação. Neste sentido, a escola
surge mais uma vez como uma parceira e colaboradora da família. As mudanças
vão surgindo de fora para dentro e a escola deve dar resposta a um
mundo/sociedade que se altera constantemente, em termos políticos, sociais,
morais e económicos. Tendo em conta o apresentado, é necessário ter em
atenção que as escolas são organizações que, embora obedeçam a um conjunto
de leis estabelecidas (no caso de Portugal), existe sempre uma margem de
autonomia que permite a cada escola formar a sua identidade de acordo com o
ambiente cultural em que se insere. A questão “que Homem pretendemos
23
formar?” é universal a todos os estabelecimentos de ensino, e a partir desta
surgem muitas outras que necessitam de resposta para dar continuidade ao
processo de ensino.
Do meu ponto de vista, considero que o ser humano necessita muito mais
do que um conjunto de conhecimentos que devem ser adquiridos. É necessário
promover sempre uma formação o mais global possível, onde todas as matérias
se devem interligar, não sobrepondo o saber científico ao saber ser. Utilizar a
educação física para aprender matemática ou línguas não é impossível e podem
aliar-se procurando atingir os objetivos específicos da disciplina e comuns ao
processo de ensino. Não existem conteúdos mais importantes, e este é um
paradigma que deve ser tido em conta, de modo a evitar os excessos
desnecessários, não naturais e prejudiciais aos futuros adultos do mundo para o
qual os preparamos.
3.2.2. Escola Básica e Secundária Tomás de Borba
Inaugurada em 2008, a EBSTB, sita na Ilha Terceira – Açores, no
concelho de Angra do Heroísmo, abriu as portas com cerca de 900 alunos de
todos os níveis de ensino, marcando a sua imagem com uma oferta formativa
alargada e significativa no ensino artístico. Esta organização caracteriza-se por
3 principais objetivos: promover as artes e o empreendorismo; formar para o
sucesso e educar para a cidadania plena, responsável e inclusiva. Em termos de
unidade orgânica, conta com 10 estabelecimentos de ensino dos diferentes
ciclos.
No ano letivo 2016/2017 conta com uma oferta formativa que abrange as
seguintes áreas: ensino pré-escolar; ensino básico (1º, 2º e 3º ciclo), ensino
secundário (incluindo o cursos profissionais) e ensino artístico especializado.
Relativamente ao ensino secundário conta com 3 áreas de ensino regular:
Ciências e Tecnologias com três turmas, Línguas e Humanidades com 2 turmas
e Artes Visuais com 1 turma. Ainda no secundário esta escola está dotada com
1 turma que frequenta o curso profissional de técnico de apoio à gestão
24
desportiva e 2 turmas que frequentam o curso profissional de técnico de apoio à
infância. Ao nível do ensino artístico especializado conta com uma gama
alargada de cursos, nomeadamente: 1 turma no curso de artes visuais e
audiovisuais (design e comunicação), curso de iniciação (instrumento e dança)
para o 1º ciclo, curso básico de música e dança para 2º e 3º ciclos, curso
secundário de música (instrumento e canto) e cursos livres. Relativamente ao
ensino de alunos com necessidades educativas especiais a escola conta com
programas e regimes especializados (pré-profissionalização, programa
ocupacional, etc.) contando com um total de 263 alunos. No total, esta escola
verifica um crescimento no número de alunos relativamente ao ano inaugural,
confirmando 1646 alunos e cerca de 100 turmas.
A estrutura organizacional da escola conta com um Conselho Executivo
como orgão superior, seguido do Conselho Pedagógico onde estão inseridos os
diferentes coordenadores de departamentos. Neste patamar a disciplina
educação física é dotada de um departamento exclusivo. Para além destes,
existem ainda outras estruturas de orientação educativa referenciadas a projetos
e procedimentos da própria escola como por exemplo: coordenadores do
gabinete de triagem; coordenadora dos projetos escolares; coordenador do
jornal escolar, etc.
O investimento financeiro é notório e felizmente não se ficou pelas salas
de aula nem pelo material artístico, sendo que a preocupação com as instalações
desportivas é também evidente. A escola está equipada com um complexo que
engloba os seguintes espaços: piscina interior (16 metros), sala de judo, sala de
ginástica/dança/badminton, parede de escalada, polidesportivo (capacidade
para abergar 3 turmas em dias de chuva), 1 sala de aula, sala do departamento
de educação física, balneários, bancadas e diversas arrecadações. No exterior
a escola conta com 1 campo coberto (com 2 tabelas de basquetebol) utilizado
para basquetebol, patinagem e ténis, com balneários e arrecadações anexas; 1
campo de futebol com relvado sintético; 1 pista de altetismo ajustada com piso
sintético; 2 caixas de areia com pista para corrida preparatória e zona de
lançamentos. Ao nível do material didático a escola está bem apetrechada, com
material de qualidade e em bom estado na sua maioria. Este material está
25
distribuído pelas diferentes arrecadações para as modalidades a lecionar nos
respetivos espaços, por exemplo o material de ginástica está na arrecadação
anexa à mesma. No caso das modalidades que podem ser lecionadas no exterior
ou interior, verifica-se material adaptado para a mesma, por exemplo, nas
arrecadações exteriores tem bolas de basquetebol para serem jogadas no
exterior e as arrecadações interiores têm as mesmas bolas mas adaptadas ao
espaço interno.
Uma escola recente, com instalações novas, é sem dúvida um ingrediente
extra à motivação dos alunos para a prática de educação física. Para além disso
é possível oferecer aos alunos uma gama de atividades alargada comparando
com outras escolas mais antigas. Por exemplo, enquanto aluna nunca tive a
oportunidade de lecionar natação nas aulas desta disciplina, pelo que o cenário,
neste âmbito, é muito positivo.
3.2.3. Departamento de Educação Física
A EBSTB possui um departamento individualizado e respetivo
coordenador para a disciplina de educação física, sendo composto por 14
professores da disciplina.
Como foi referido anteriormente, a escola dispõe de 7 espaços destinados
à prática de atividade física no âmbito da disciplina de educação física e ao nível
da distribuição dos mesmos, o roulement é feito por 7 espaços, totalizando 8
rotações. Não é usual a sobreposição de turmas no mesmo espaço, sendo
apenas utilizado nos dias de chuva, no entanto não se trata de um problema
Figura 1 - Vista aéra da EBSTB
26
recorrente ou difícil de se adaptar. É estratégia da escola que os professores
acompanhem a turma ao longo do ciclo em que iniciam, ou seja, se um professor
inicia uma turma no 10º irá acompanhá-la, na medida do possível, até ao 12º
ano.
O departamento é responsável pelo planeamento e realização de
atividades desportivas na escola como é o caso do corta-mato, mega-sprint,
mega-salto, passeios pedestres e outras atividades que considerem relevantes.
Para além destas, é da responsabilidade da associação de estudantes promover
os torneios de final de período. O departamento não se trata apenas de um
conjunto de pessoas que lecionam a mesma disciplina, sendo que, no caso da
educação física, é necessário um trabalho de equipa bem gerido de modo a
cumprir as tarefas que são da sua competência, como é o caso da realização do
inventário anual, seleção do equipamento a comprar pelos serviços de ação
social, elaboração do roulement, entre outras atividades.
3.2.4. Núcleo de Estágio
A FADEUP é uma entidade que possui um regulamento estabelecido para
os alunos que pretendam realizar o EP nas regiões autónomas da Madeira e dos
Açores. No caso dos Açores a Direção Regional da Educação estabelece alguns
critérios que limitam os candidatos, como foi apresentado anteriormente. Para
além dos requisitos necessários, o facto da RAA ser constituída por 9 ilhas
diminui a probabilidade de ter algum colega a candidatar-se para a mesma ilha.
E foi o que sucedeu, no entanto não limitou o meu contacto e comunicação com
colegas da faculdade que se encontram a realizar o estágio em outros pontos do
país, assim como colegas de outras universidades. Foi-me possível, através das
novas tecnologias, a partilha de experiências, dúvidas e inquietações com os
meus colegas. O trabalho passa a focar-se apenas sobre mim, no entanto não
considero isso um problema. A colaboração com a orientadora de estágio e o
PC foi importante para culmatar na medida do possível a ausência de um núcleo
formal.
27
3.2.5 A minha turma
O PC é responsável por 4 turmas, sendo 2 do 12º ano e outras 2 do 10º
ano. Foi proposto que observasse as primeiras aulas de cada uma das turmas e
que, posteriormente, selecionasse a turma que pretendia dar aulas. A turma
selecionada foi a do 10º ano e trata-se da junção da turma 6 e da turma 7.
A turma é composta por 17 alunos, com idades compreendidas entre os
14 e os 20 anos, sendo 7 rapazes e 10 raparigas. São alunos das áreas de
Design e Audiovisuais pelo que prevê-se alguma distância em relação à
disciplina. Ao longo do ano letivo alguns alunos, por diversas razões, tiveram de
abandonar a turma, assim como alguns ingressaram a mesma a meio do
primeiro período e no início do segundo período.
Ao nível do background da turma, não se verifica (atualmente) casos de
grande preocupação, excetuando 2 alunos. A nível comportamental, na aula de
educação física, não se verificam casos problemáticos. Poderia até dizer, que
em certos aspetos, é uma turma “de sonho” que se mostra disposta a aprender
e demonstra empenho.
Figura 2 - Distribuição da turma pelo género.
Figura 3 - Descritivas das idades da turma.
Feminino59%
Masculino41%
Género
Feminino Masculino
1420
16
0
10
20
30
Mínimo Máximo Média
Idade
31
4.1. Organização e Gestão do Processo Ensino-Aprendizagem
4.1.1. Conceção
Para alcançar qualquer meta a que nos propômos é necessário prever.
Embora com a consciência de que as probabilidades de haver uma sobreposição
entre o previsto e realidade serem baixas. Segundo a Lei de Murphy (s.d.) as
situações deixadas ao acaso provavelmente darão errado. Neste sentido, para
desempenhar esta função da melhor forma possível é necessário um
conhecimento adequado das normas orientadoras das modalidades a lecionar
em cada um dos anos escolares (programas nacionais). Para entender melhor
aquilo que são as linhas orientadoras, analisei o Programa Nacional de
Educação Física (PNEF). Para além deste conhecimento e análise, e do
conhecimento pedagógico da disciplina, é fundamental estar a par da
metodologia da estrutura orgânica onde estamos inseridos. A forma como se
organizam os departamentos, a forma como o departamento de educação física
interage nos diferentes aspetos (espaços, material, etc.). Conhecer todo este
background é essencial para uma conceção assertiva daquilo que será o nosso
projeto anual na educação dos alunos. Qualquer planeamento deve ter como
base a conceção e os próprios conteúdos destes programas e normas de ensino
(Bento, 2003).
A escola é um “local de encontro de culturas” e como tal o processo de
ensino deve estar orientado para a diversidade. Encontrei na escola alunos com
diferentes origens, distintas oritentações religiosas, motivações diversificadas e
objetivos singulares. Com as constantes mudanças de paradigma que cada
contexto sofre é necessário encontrar mecanismos de resposta adequados às
problemáticas relacionadas com a cidadania, e neste sentido os valores da
aceitação, cooperação e respeito foram pontos de ordem em todas as aulas. A
educação física não é exceção, sendo aliás um meio privilegiado para, segundo
Mesquita e Rosado (2011), a projeção de contextos efetivos de aprendizagem,
multidisciplinares e diversificados, prontos a pontenciar ao máximo diferentes
competências. O seu domínio não se restringe ao domínio físico e motor,
incluindo também as questões éticas, sociais e afetivas (Mesquita & Rosado,
32
2011). Procurei esclarecer de imediato nas minhas aulas que a educação para
com os outros é a base do bom funcionamento. Independentemente da sua
capacidade motora ou das metas que pretendiam alcançar, quer na disciplina,
quer no seu futuro, sem estes valores fundamentais não irião cumprir os seus
objetivos. Este foi um conselho que procurei enfatizar, uma vez que o meio
competitivo em que se vive tem tendência a exigir aspetos menos positivos da
personalidade de cada um. Acredito que estas competências sociais, que são no
fundo as regras base da boa educação, são a semente de um cidadão bem
sucedido (a nível pessoal e profissional).
Aliar estes dois pontos é por vezes uma tarefa difícil, pois nem sempre os
programas estão adequados à realidade quer das escolas (por exemplo
infraestruturas), quer das próprias turmas (heterogeneidade). Quando estas
situações acontecem, faz parte das competências do professor saber adaptar-
se da melhor forma possível, visando sempre optimizar o processo educativo de
todos os alunos na sua plenitude. Esta flexibilidade teve de ser muito trabalhada,
sobretudo nas questões práticas, ou seja, criar momentos óptimos de
aprendizagem para os alunos que não se encontravam no nível suposto, e, em
simultâneo, proporcionar tarefas desafiantes aos alunos mais dotados. Então,
para conhecer melhor a realidade da escola, embora já tivesse tido contacto
anteriormente, acedi a alguns documentos internos (regulamentos, protocolos,
fichas, projeto educativo, etc.), assim como o contacto com o PC, outros
docentes e os funcionários. Para além das questões logísticas e legislativas,
torna-se cada vez mais essencial que o professor seja capaz de atender a um
conjunto vasto de características sócio-culturais. “É da convergência e partilha
das diferenças que se criam condições para ascender a uma sociedade mais
equilibrada” (Bento cit. por Mesquita & Rosado, 2011). Cada vez mais deve ser
competência do professor atender às necessidades individuais dos alunos, uma
vez que “a única forma de atender verdadeiramente à igualdade de
oportunidades entre indivíduos é equacionar as diferenças de cada um”
(Mesquita, cit. por Mesquita & Rosado, 2011).
É este o verdadeiro desafio do professor que, com habilidade e mestria,
tem de “agradar a gregos e a troianos”. Num papel político, onde procura cumprir
33
questões legislativas (programas, currículos, normas), adaptado à realidade
estrutural e orgânica da escola onde se insere, com a única finalidade de poder
promover uma aprendizagem global e integrante. Tudo isto de “mãos dadas” com
a melhor qualidade possível a cada um dos indivíduos que integram as suas
turmas. Foi com estas ideias e estes documentos em cima da mesa que comecei
a definir “para onde quero ir” e “como vou lá chegar”, procurando sempre cumprir
e atender a todos estes aspetos que considero fundamentais para um processo
de ensino bem sucedido.
4.1.2. Planeamento
No dicionário de língua Portuguesa, planear significa “definir
antecipadamente um conjunto de ações ou intenções”. Segundo Bento (2003),
um plano integra características fundamentais que guiam o caminho da sua
estratégia, realçando os seus objetivos, meios, decisões e processos
metodológicos. Para além disso, qualquer plano deve ter um carácter dinâmico
que permite atuar, modificar e reestruturar-se, revelando-se uma ferramenta de
ação e não meramente teórica.
Na área da educação e formação, a planificação incorpora “as
componentes do processo de ensino e aprendizagem nos diferentes níveis da
sua realização” (Bento, 2003, p.15). Neste sentido, o docente planifica as normas
orientadores dos programas (conjugando os princípios didáticos, psicológicos e
pedagógicos), em concordância com as singularidades dos alunos e contexto
onde se insere (nível social, material, etc.). Todo este processo visa conduzir da
melhor forma o processo de desenvolvimento dos diferentes domínios da
personalidade dos alunos (Bento, 2003). Já no planeamento comecei por
procurar perceber as preferências da turma e respeitá-las para que os níveis de
interesse na disciplina aumentassem, aliando às características que as
respetivas idades sugerem. Os alunos ao percecionarem esta atenção sentiram
que havia da minha parte a preocupação de atender aos seus pedidos, acabando
por ceder nos momentos mais difíceis (por exemplo: aulas de natação).
34
O ato de planear é um elo de ligação permanente entre a teoria e a prática,
entre o passado, presente e futuro. Para que os objetivos mencionados
anteriormente sejam cumpridos é necessário iniciar esta previsão ainda antes
das aulas começarem. Colocando-me a par de todas as questões logísticas
(programas, rotação dos espaços, etc.), as singularidades da turma foram sem
sombra de dúvida as incógnitas que mais me inquietaram. Alguns estereótipos
ajudaram a prever algumas situações, ou seja, o facto da turma ser de artes e
audiovisuais previa-se que possivelmente não tivessem uma grande
proximidade com a disciplina. Apesar de ser um cenário possível, foi necessário
estar preparada para que o contrário também acontecesse. De modo a conhecer
a turma pesquisei indicadores que me fornecessem informações importantes,
como por exemplo verificar o caso dos alunos com registo de abandono escolar
ou retenção de anos anteriores. Estes aspetos foram fundamentais para o meu
planeamento pelo que procurei dar o máximo de atenção mesmo antes do ano
letivo iniciar.
O planeamento do ano letivo foi organizado segundo o Modelo de
Estrutura do Conhecimento (MEC) de Vickers (1990) aplicado aos diferentes
níveis de planeamento: plano anual, unidade didática e planos de aula. Apesar
de serem diferentes degraus, são parte de uma única pirâmide e como tal devem
estar todos em sintonia e estarem dotados de coerência e lógica.
4.1.2.1. Planeamento Anual
Se o processo de ensino se tratasse de um quadro, o plano anual seria
uma vista mais alargada da tela, onde se desenharia o esboço “da obra de arte”.
Neste sentido, trata-se de uma análise mais global que tem como objetivo
contextualizar o programa de ensino na escola, sem grandes preocupações com
os detalhes relativamente à atuação ao longo do ano, contemplando os
momentos de controlo (Bento, 2003). Nesta fase determinam-se os objetivos
para o ano, de acordo com o programa e planifica-se as matérias a abordar. Esta
última tarefa irá ser uma variável dependente do roulement dos espaços
estipulado no início do ano letivo.
35
No caso da turma do 10º ano a ordem apresentada no quadro 1.
Quadro 1 - Distribuição das modalidades por período.
Roulement dos espaços
1º Período 2º Período 3º Período
Voleibol - 9 aulas de 90min
Futebol - 7 aulas de 90min
Basquetebol - 7 aulas de 90min
Altetismo - 8 aulas de 90min
Natação - 8 aulas de 90min
Andebol - 7 aulas de 90min
Judo - 8 aulas de 90min Badminton - 8 aulas de
90min
O roulement é também uma forma de planeamento e como tal possui um
carácter flexível. Esta virtude permitiu fazer um ajuste no final do ano letivo que
permitiu equilibrar o número de aulas lecionadas às duas últimas modalidades,
uma vez que o último espaço é repetido para todos os professores. O facto de
dispor de pouco mais de um mês por modalidade foi benéfico, no meu ponto de
vista, pois permite desenvolver e consolidar melhor alguns conteúdos.
Este instrumento foi fundamental para a planificação das aulas, quer a
nível das modalidades, quer a nível dos próprios conteúdos que se tornam objeto
de reflexão no nível de planeamento seguinte. Já nesta fase começa a haver um
afunilamento e adaptação dos objetivos propostos pelos programas curriculares,
ao que pretendemos para os alunos, de acordo com o cenário com que nos
deparamos. Esta capacidade de observação por parte dos docentes é
fundamental que, caso não se verifique, todo o planeamento e atuação torna-se
desajustado e destinado ao fracasso naquilo que são as finalidades do processo
ensino-aprendizagem.
4.1.2.2. Unidade Didática
Após o planeamento anual segue-se um nível mais específico, que
consiste na planificação detalhada de cada uma das modalidades. “Constituem
unidades fundamentais e integrais do processo pedagógico e apresentam (…)
etapas claras e bem distintas de ensino e aprendizagem” (Bento, 2003, p.75).
36
Deste modo, as unidades didáticas ou temáticas são guiões de preparação para
as aulas de cada uma das modalidades, que visam o aumento qualitativo de
cada aula. Tratam-se de ferramentas indispensáveis para a organização do
processo de desenvolvimento da personalidade e habilidades dos alunos,
dotadas de um carácter dinâmico e ajustável.
O MEC está segmentado em categorias de conhecimento
transdisciplinares divididas em 3 grandes blocos (Vickers, 1990):
Análise (Módulos 1, 2 e 3):
1. Estudo da modalidade no que diz respeito às suas
categorias transdisciplinares (habilidades motoras, cultura desportiva, condição
física, fisiologia e conceitos psicossociais);
2. Análise do contexto onde irá decorrer o processo de
ensino da modalidade (espaço, materiais, etc.);
3. Análise das características da turma (pré-disposição
motora, personalidade, perfil motivacional e psicológico).
Decisão (Módulos 4,5,6 e 7):
4. Determinar a extensão e sequência da matéria a
lecionar, através da elaboração das unidades didáticas e respetiva justificação;
5. Definição de objetivos de cada uma das categorias
transdisciplinares;
6. Determinação do modo de avaliação dos objetivos
estabelecidos no módulo 5;
7. Elaboração de propostas metodológicas e situações
de aprendizagem que permitam os alunos atingir os objetivos propostos.
Aplicação (Módulo 8):
8. aplicação dos módulos anteriores em contexto real.
A elaboração desta estrutura para todas as modalidades foi fundamental
para organizar o pensamento lógico do processo de ensino. Facilitou a seleção
dos conteúdos a lecionar, equacionando as variáveis em jogo (turma, materiais,
objetivos, métodos, etc.). As maiores dificuldades debruçaram-se na modalidade
de natação que trata-se da modalidade desportiva com a qual me sinto menos
37
confortável. Como tal, foi exigido de mim uma maior pesquisa, estudo e análise
sobretudo do módulo 1. Uma vez que, para tomar decisões mais acertadas,
necessito dominar as componentes mais importantes da modalidade, foi
necessário recorrer à pesquisa de orientações metodológicas (progressões de
ensino, etc.).
A estrutura das unidades didáticas é mais ou menos variável, sendo que
deve conter de forma eficiente e eficaz toda a informação necessária para que,
de forma rápida, o docente seja capaz de identificar os objetivos específicos de
cada aula. Nesta sequência, procurei organizar todos os dados necessários,
criando um modelo que me facilitaria a planificação das aulas. Alguns dos
elementos que considero mais importantes são: nível inicial dos alunos e o
número de aulas disponíveis. É com base nesta informação, aliada aos
conteúdos dos programas, que defini as matérias a serem abordadas em cada
uma das modalidades. Optei por não sobrecarregar ao nível das habilidades a
serem desenvolvidas, tendo preferência na qualidade de consolidação das
mesmas (exemplo de uma unidade didática no anexo I). Por vezes os alunos
não se encontravam no nível esperado numa determinada modalidade e este foi
um aspeto que levou à alteração e ao ajustamento do plano inicialmente previsto.
Só assim foi possível um processo de ensino individualizado para a turma em
questão. Com o tempo, a experiência e observação da turma permitiu-me prever
o seu desempenho noutras modalidades, sem os ver em ação e assim notei que
as minhas antecipações foram cada vez mais assertivas.
A seleção dos conteúdos é fundamental, assim como a sua distribuição
ao longo das aulas. Conseguir prever o tempo necessário para introduzir,
exercitar e consolidar cada um dos assuntos é uma competência que exige um
raciocínio lógico, assim como uma análise real das dificuldades de cada um
deles. Esta noção tornou-se cada vez mais assertiva quando a atenção aos
pormenores que caracterizam os alunos nas suas vertentes foi cuidada. Mais
uma vez torna-se evidente a importância da prática para adquirir um saber que
apenas esta nos pode oferecer. Além disso, todos estes temas e tempos devem
ser coordenados com momentos de controlo e avaliação, também eles
coerentes. “O que devo ensinar? Se ensino isto, então faz sentido que aborde
38
este tema…” foram questões e linhas de pensamento constantes na construção
das minhas unidades didáticas, procurando que cada uma das decisões
tomadas fossem devidamente justificadas. Foi importante para mim que os
alunos tivessem também esta consciência do porquê de determinados assuntos,
tornando a aprendizagem significativa e, consequentemente, duradoura. Nestes
momentos senti algumas dificuldades dada a heterogeneidade da turma e decidir
o que abordar torna-se mais conectado à forma de abordar. Ao selecionar os
conteúdos e timmings era-me exigido já a perceção da forma como ia lecionar
as respetivas temáticas de acordo com as características da turma: alunos mais
ou menos aptos, tarefas, modelos de ensino, etc.
4.1.2.3. Plano de aula
O planeamento vai afunilando no seu grau de especificidade, culminando
naquele que é o último nível de planificação, o plano de aula. É através desta
etapa que o professor formaliza a sua ação no terreno e que atua diretamente
sobre os alunos e é também através da aula que decorrem os estímulos ao
desenvolvimento dos alunos.
Um professor leciona mais de 20000 aulas ao longo da sua carreira
(Bento, 2003) e estas aulas exigem força de vontade para seguir o plano
construído, mas em simultâneo mobilidade, capacidade de reação e adaptação
às situações imprevistas. Uma aula é um cenário, em certa medida, imprevisível
que requer do professor competências na análise e resposta aos feedbacks que
lhe vão surgindo. Neste âmbito considero que os momentos desenrolaram-se
com naturalidade, com decisões mais ou menos assertivas, procurando sempre
agir de forma lógica. Nem sempre fui capaz de prever os problemas e respetivas
soluções, no entanto, para cada decisão que pretendia tomar questionava-me
se esta medida iam cumprir o objetivo inicialmente proposto. Esta estratégia
permitiu-me manter focada nas metas estipuladas.
A primeira tarefa prendeu-se com a construção de uma estrutura auxiliar
que me permitisse orientar a aula. Considero este aspeto muito pessoal, na
39
medida em que cada modelo serve as necessidades de quem o constrói. À
medida que o tempo foi passando esta estrutura foi-se adaptando às situações
que iam surgindo até finalizar no modelo que se encontra no anexo II. Esta
atividade ajudou-me na elaboração da aula e naqueles que são os parâmetros
objetivos daquilo que se pretende da própria aula e dos respetivos exercícios.
Por outras palavras, teve um papel fundamental que me permitiu focar naquilo
que era realmente necessário sem dispersar a informação (por exemplo as
componentes críticas). Algumas ideias fornecidas pelos professores da
faculdade no primeiro ano do mestrado revelaram-se informações práticas e
úteis na sua aplicação (por exemplo, a colocação da hora de término do exercício
permite identificar rapidamente se estou ou não atrasada em relação ao
planeado). No preenchimento de cada um dos campos do plano de aula procurei
ser sucinta e criar espaços para inserir possíveis variações de exercícios perante
determinados cenários, ou seja, para cada tarefa equacionei quais as variáveis
a manipular caso os alunos reagissem bem ou menos bem ao exercício
proposto. “Se acontecer isto, farei assim; se acontecer o contrário optarei por
esta via”, este pensamento permitiu que a resposta fosse mais rápida. O que não
significa que houvesse uma atuação linear. Por vezes surgiram situações em
que não utilizei nenhuma das variáveis que tinha planeado, dado que não fui
capaz de prever todas as situações possíveis. No entanto fui desenvolvendo a
minha capacidade de atuação, acabando por acusar cada vez menos que houve
uma alteração aos planos (exemplo: nervosismo). Apesar de saber que o plano
se encontra disponível procurei sempre não estar presa ao papel. Houve
momentos pontuais de verificação, sobretudo nos momentos de hidratação, no
entanto, e pelo facto de ter sido eu a conceber o plano de aula, foi uma questão
bem resolvida desde o início. Neste âmbito houve algumas correções,
nomeadamente na identificação das 3 partes da aula (inicial, fundamental, final),
do tempo total de cada um dos exercícios e na descrição mais detalhada dos
exercícios. Este último ponto considero que se torna mais útil, não na própria
aplicação prática da aula, mas para o futuro. No caso de ser necessário recorrer
a exercícios feitos anteriormente, se estes se encontrarem devidamente
40
descritos nos planos irá facilitar o trabalho da memória e este foi um aspeto
chamado à atenção pelo professor cooperante e pela orientadora da faculdade.
Na elaboração propriamente dita dos exercícios e respetivas
componentes procurei sempre desenvolver tarefas novas e que oferecessem
uma resposta personalizada às necessidades da turma. Apesar de recorrer a
alguns exercícios já escritos em diversos documentos, tentei desenvolver
atividades novas e isso exigiu de mim muito tempo e criatividade, assim como
um processo de análise constante se o exercício realmente estava bem inserido
e respondia ao que era solicitado. No entanto, algumas vezes considero que o
nível de dificuldade não foi devidamente ajustado, assim como as questões de
organização da aula levaram a tempos de transição mais longos. Estes aspetos
foram melhorados juntamente com o professor cooperante. Relativamente à
quantidade de exercícios, houve sempre 2 momentos que procurei que tivessem
sempre um espaço guardado em todas as aulas. Estes momentos dizem respeito
ao início da aula que contemplou atividades lúdicas de interação e
desenvolvimento da condição física e jogo no final. Foram decisões que
considero fundamentais para a motivação e interesse dos alunos para a aula.
Todos os restantes exercícios deram prioridade à exercitação com qualidade, de
forma a que os alunos tivessem perceção do porquê que se realiza determinada
tarefa da forma que era solicitado. Na determinação das componentes críticas
procurei ser sucinta e o mais objetiva possível, de forma a que a informação dada
aos alunos lhes permitissem estar focados nos aspetos fundamentais. A
tendência inicial era colocar muitas componentes críticas, acabando por
sobrecarregar os alunos com informação. Reduzi a quantidade de informação,
mantendo presente os outros critérios para transmitir aos alunos mais
avançados.
Segundo Bento (2003, p.101), as aulas “devem ser também horas felizes
para o professor, proporcionando-lhe sempre alegria e satisfação renovadas na
sua profissão”. Segundo esta ideia, acredito que nós somos melhores naquilo
que gostamos de fazer e um profissional que faz aquilo que lhe preenche o
coração será certamente competente na sua área. Com este estágio não tenho
dúvidas que escolhi a profissão certa.
41
4.1.3. Realização
“Oh professora!”. Esta afirmação começou a ser-me dirigida com muito
mais frequência e este estatuto trás consigo um conjunto de responsabilidades.
Responsabilidades essas que tomaram, para mim, outra dimensão a partir do
momento que tenho uma diferença de cerca de 5 anos para os “meus” alunos. A
par das dificuldades que surgem nas questões didáticas das respetivas
modalidades, estava a postura e atitude que me era exigida perante os alunos,
de forma a não perder autoridade.
O modo ideal de agir faz parte de um conjunto de pressupostos teóricos,
que consideram ser a forma óptima de potenciar o processo de ensino. No
entanto, como foi dito anteriormente, o ensino é um processo imprevisível pelo
sem número de cenários possíveis e pelo igual número de variáveis a que este
contexto está exposto. É neste estágio pedagógico que passamos a testar toda
a informação que nos foi transmitida e a desenvolver a competência necessária
para perceber como manipular e utilizar este conhecimento nas devidas
situações. Não realizar uma mera reprodução acrítica, mas sim produzir novo
conhecimento e novas formas de atuar. É certo que nem todas as estratégias
poderão ter o sucesso desejado, no entanto, esta experiêcia é fundamental na
formação do professor. Foi esta a ideologia pela qual me guiei este ano letivo,
com a noção de que a minha formação ainda não terminou.
4.1.3.1. Professor e aluno – uma relação de dar e receber
Segundo Couto (2004), para que a aprendizagem aconteça é necessário
juntar alguns ingredientes que ultrapassam o saber teórico, nomeadamente: o
desejo, o interesse, a necessidade e a motivação de ensinar e aprender. Logo,
o acto de ensinar coloca em cima da mesa uma troca de impressões que irá ter
uma influência determinante no processo de ensino. “A relação professor/aluno
tem um carácter eminentemente dialógico, uma negociação entre saberes e
dizeres (…)” (Couto, 2004, p.33). Há toda uma esfera em volta do professor que
42
toma contornos até então menosprezados e foi possível constatar este aspeto in
loco. A emoção na comunicação, o próprio vestuário e aparência física têm
influência na relação entre o professor e o aluno e se esta interferência existe
então deve ser aproveitada e potencializada ao máximo.
Numa primeira fase senti-me avaliada “dos pés à cabeça”, quer por parte
dos alunos do secundário, quer dos alunos do ensino básico. Tudo era alvo de
uma pré-imagem que teriam de mim e tinha que “jogar” com isso a meu favor.
Nem sempre foi fácil e o dilema sobre a postura que deveria adotar inicialmente
(mais flexível ou mais rígida) era um questão que me fazia alguma angústia.
Relembrava os meus professores e qual foi o seu comportamente neste âmbito,
no entanto, como era de esperar não obtive resposta para esta minha dúvida.
Ao contrário daquilo que se faz na fase de planeamento de todos os aspetos que
podem interferir na aula, optei por deixar os meus sentidos guiarem a minha
ação. Correu bem e considero que, da melhor forma possível, consegui adotar
as diferentes facetas que são necessárias sem grande conflito com os alunos.
Segundo Allen (1986), citado por Rosado e Ferreira (2011), os alunos
pretendem estar com os amigos e divertirem-se nas aulas, procurando minimizar
os riscos pessoais e o esforço. Passando à prática, podemos verificar que nem
sempre a realidade é tão linear, e perante turmas tão heterogéneas deparamo-
nos com cenários divergentes. Esta afirmação ganha ênfase na turma do ensino
básico, onde se verificou a existência de “duas equipas”, rapazes versus
raparigas. Uma “dor de cabeça” que ocupou grande parte do tempo de
planeamento de modo e evitar conflitos, que considero resolvida quando a
formação das equipas fica a cargo dos próprios alunos (permite juntar as
afinidades). Embora esta decisão possa resultar em outro tipo de
comportamentos menos positivos, com a turma em questão teve resultados
positivos. O sistema social dos alunos engloba 3 dimensões e uma delas diz
respeito à relação entre o professor e o aluno. Esta relação deve estar assente
num clima de respeito, consideração e aceitação (Rosado & Ferreira, 2011).
Estes aspetos irão ter influência direta na motivação e qualidade do processo de
ensino-aprendizagem.
43
No estudo realizado por Tavares e Veiga (2006), conclui-se que a
existência de um auto-conceito positivo, por parte dos alunos, tem uma influência
positiva nos resultados escolares. Ainda na mesma análise, quando se verifica
um apoio positivo por parte dos professores, o autoconceito eleva-se
positivamente. Mais uma vez, a relação professor-aluno torna-se fundamental
para o sucesso académico dos alunos.
Como docente procurei investir nesta relação, demonstrando
compreensão (das dificuldades dos alunos, dos seus contextos e
singularidades), aceitação (das suas opiniões e preferências), disponibilidade
(para os ouvir e entender) e preocupação genuína com cada um dos alunos, nos
diversos contratempos que possam ter. Segundo Rosado e Ferreira (2011) estes
aspetos otimizam a integração dos alunos nos programas de ação, e como tal
deve ser tido em conta. Segundo Tavares e Veiga (2006), as conversas
estabelecidas entre o professor e o aluno são valorizadas por este. Então, o
professor não tem que ser uma personagem distante do aluno, superior e dotado
de um instrumento de poder, a autoridade. A autoridade do docente deve ser,
aos olhos do aluno, vista como um reconhecimento e responsabilidade (Moreira,
2016). Logo na primeira aula estabeleci um conjunto de regras (por exemplo,
referi que não era um papagaio e como tal não gostava de repetir) e procurei ser
o mais direta e sincera possível e dirigi-me a eles da seguinte forma: “terão de
mim o melhor, se me derem o vosso melhor”. Esta conversa inicial funcionou
bem com ambas as turmas e fez com que os próprios alunos se corrigissem uns
aos outros durante as aulas.
Os pequenos pormenores tornam-se importantes para o sucesso desta
relação, e é fundamental atender mais uma vez aos aspetos que distinguem
cada um dos alunos. Do geral para o específico, o genéro é um fator que não
deve passar despercebido por parte do professor, quer no ensino básico, quer
no ensino secundário, embora por diferentes razões. Alunos menos habilidosos
sentem-se menos observados pelos professores e como tal têm menos
oportunidades de aprender (Portman, cit. por Rosado & Ferreira, 2011). Num
olhar mais específico, as preferências/traços de cada um dos alunos (por
exemplo: afinidades, modalidades preferidas, etc.) que nos são transmitidas de
44
forma subliminar (histórias que contam, pequenos gestos, etc.). Se o docente
estiver consciente desta informação e de forma subtil for demonstrando que tem
atenção a estes aspetos, os alunos têm a perceção de serem alvos da atenção
do professor. Esta sensação leva ao sentimento de pertença a um grupo e de
preocupação. Não são mais um aluno da turma, de facto o professor sabe algo
sobre eles especificamente e isso transmite sensações positivas que se
manifestam em comportamentos positivos nas aulas e mais tarde se transferem
em competências para outros contextos durante a sua vida. Por exemplo, a
turma do ensino secundário referia por vezes a existência de exames para os
quais se sentiam ansiosos. Embora não fosse aceitável faltar à aula para
estudar, procurei demonstrar preocupação dando algum tempo no final da aula,
mesmo sabendo que para alguns esse tempo seria desperdiçado. Considero
uma opção válida que aproxima o aluno do professor, demonstrando respeito e
cooperação na vida dos alunos, para além da própria disciplina. Estas atitudes
valeram níveis de empenho superiores na própria aula e a conquista de
reconhecimento por parte dos alunos.
Apesar do ditado “faz o que eu digo e não faças o que eu faço”, considero
que, e já alguém o disse, “uma imagem vale mais do que mil palavras”. Acredito,
pela vivência enquanto aluna e enquanto professora estagiária, que obtemos
mais dos alunos, se soubermos dar na medida certa. Afinal de contas, é com os
professores que os alunos passam grande parte dos seus dias e é nosso dever
transformar esta influência em alterações positivas na vida destes futuros
adultos.
Alguns casos que me surgiram ao longo do ano demonstraram a
importância destes aspetos e deixo aqui o registo de um que acredito que possa
espelhar a sensação de muitos alunos que menos dotados do ponto de vista
motor: na turma do secundário a aluna A. apresentava dificuldades acrescidas
ao nível motor e como tal, desde o primeiro dia que afirmava não gostar da
disciplina. Antecipava-se um caso difícil, no entanto o seu empenho foi
crescendo ao longo do ano e tive o prazer de ouvir, pelas suas palavras “foi a
única professora que se preocupou comigo de verdade”.
45
Sim eu sei, só tive uma turma e são muitos os alunos. É muito, muito,
muito difícil o professor estar atento a cada um dos alunos, quando o simples
nome é difícil memorizar. Também sei que é trabalhoso arranjar estratégias que
permitam manter a disciplina e a autoridade nas aulas, e deixar uma imagem
positiva perante os alunos, sem que eles “abusem”. Nem sempre funciona e em
conversa com outros docentes é possível entender as vezes em que o professor
“deu o dedo” e os alunos “quiseram o braço”. No entanto, são os professores
que irão procurar atender a estes aspetos que terão maior probabilidade em
marcar positivamente a vida dos alunos. Existem estratégias que facilitam,
nomeadamente a correta utilização do feedback, e se a contrapartida é o
trabalho, então “quem corre por gosto não cansa” e se “é para fazer, é para fazer
bem feito”. Verifica-se cada vez mais o afastamento dos pais em relação aos
alunos, que por vezes se intensifica nas idades pré-adultas, e na minha opinião
a o papel do professor deve ser muito mais do que a mera transmissão de
conhecimentos.
4.1.3.2. “Eles não gostam de educação física”
Nos momentos iniciais com os alunos uma das questões que salta logo
para os primeiros diálogos é sobre a sua proximidade com a disciplina. Embora
possa criar um pré-conceito para os docentes sobre um possível desempenho
dos alunos, para mim é um desafio. Na escala de afinidade de cada um dos
alunos, pretendo que no final o score seja melhor na medida do possível.
Perceber esta prédisposição inicial exige de imediato uma análise de
medidas a tomar para incrementar a motivação dos alunos e promover um clima
positivo, uma vez que considero que estes dois aspetos são fundamentais para
promover um processo de qualidade. Sem estas duas esferas, que por sua vez
integram outros fatores, não há exercício ou modelo que funcione. Estas
estratégias são baseadas em aspetos como os mencionados no ponto anterior
(pormenores sobre preferências, singularidades, gostos, relações sociais, etc.).
46
Neste sentido optei por implementar um modelo híbrido/simplificado do
Modelo de Educação Desportiva (MED) na turma do ensino básico, uma vez que
percebi que mais depressa aderiam a este tipo de exigências. Considero que
funcionou muito bem e todos os alunos estavam envolvidos nas tarefas. Para um
dos casos até demais, uma vez que recebi uma queixa sobre o aluno L.. Este
aluno levou a competição demasiado a sério e acabou por ameaçar alguns
colegas, no entanto conversei com ele e dei-lhe a escolher entre este tipo de
aulas ou aulas em que não havia espaço para diálogo. A questão ficou resolvida
e não se voltou a falar no assunto. Esta estratégia funcionou melhor do que
estava à espera e perante uma turma difícil (muitos alunos repetentes), não senti
qualquer dificuldade no controlo da turma e obtive resultados que considero
positivos. Melhoraram as suas relações interpessoais, demonstraram evolução
na aquisição de valores como a cooperação, fairplay, sinceridade, aceitação,
esforço e responsabilidade. Foi um desafio ainda maior sendo que esta turma
tinha o dobro de alunos comparando com a turma do ensino secundário, mas
registo um saldo positivo.
Relativamente à turma do secundário a apatia e o desinteresse era maior,
pelo que entendi que o MED não iria resultar, então recorri a pequenas tarefas
com base neste modelo. Com o obstáculo da disciplina não contar para a média
de acesso ao ensino superior, percebi que apesar dos alunos serem obedientes,
não realizavam com afinco as tarefas que eram propostas. Então, como ia
motivar adolescentes e jovens adultos para as aulas? Procurei implementar
várias estratégias e uma delas prendia-se com a avaliação teórica exigida. Não
sendo uma seguidora dos trabalhos regulamentares ou dos testes escritos,
pesquisei uma forma de ligar a área de especialização dos alunos (artes e
audiovisuais) com a disciplina. Concurso de fotografias (altetismo), cartaz de
evento (natação), flyer alusivo à final do campeonato de europa (futebol), vídeo
livre (judo), organização de um torneio com a turma (basquetebol). Apesar de
alguns alunos realmente mostrarem interesse e preferência, a maioria mostrava
apatia em relação a estas tarefas. Por serem idades onde os amigos ganham
valor acrescido procurei que as aulas fossem muito interativas e considero que
47
esse foi o ponto chave para o aumento da motivação e criação de um clima
positivo.
Numa aula durante o meu primeiro ciclo no ensino superior, o professor
referiu que “nós gostamos de fazer aquilo que sabemos fazer”. Questionei-me
logo porque é que a matemática é das disciplinas menos apreciadas, e é onde
os alunos apresentam resultados menos positivos. Então, se os meus alunos
não gostam de educação física porque não se sentem competentes a fazê-lo, é
o meu dever criar situações de sucesso para que a sua perceção de competência
seja superior. Sim, dá muito trabalho, mas foi esta a minha linha orientadora em
todas as aulas, no que diz respeito à operacionalização da aula. Nem sempre
bem sucedida, porque daqui emergem as dificuldades de estar perante alunos
com capacidades muito distintas. Optei então por colocar em prática a
cooperação entre os alunos para ultrapassar mais esta barreira. Para além
destas decisões, defini para cada aluno (ou grupo de alunos caso fosse possível)
um conjunto de objetivos que lhes eram transmitidos de forma informal, ou seja,
cada aluno sabia até onde tinha que chegar e porquê. Estas metas eram
objetivas, auxiliando os alunos a manter o foco em objetivos realistas, permitindo
que o aluno vivenciasse o sucesso e evitando a frustração. Foi um caminho de
avanços e recuos, que no fundo tiveram resultados positivos.
A par de todas as estratégias que procurei experimentar, os aspetos
mencionados anteriormente (relação entre professor e aluno) foram
fundamentais para o decorrer das aulas. Para os alunos, procurei ser uma
professora acessível, com quem podiam falar abertamente e serem sinceros.
Para o secundário, onde o crescimento psicossocial ganha outros contornos, e
para o básico, onde a formação social é fundamental, foi a melhor forma de os
levar a cumprir as atividades com interesse, concentração e empenho, aliando o
desporto à educação e desenvolvimento de competências e da personalidade.
Segundo Henrique e Januário (2006), os processos psicológicos
fumentam ações, quer dos professores, quer dos alunos, e como tal são
poderosos preditores do futuro. De acordo com o Modelo de Pensamento e Ação
do Professor de Clark e Peterson (1986) apresentado por Henrique e Januário
48
(2006), os comportamentos dos professores, dos alunos e os seus resultados,
têm uma influência recíproca. No estudo realizado pelos mesmos autores, a
autoperceção dos alunos corresponde às expectativas dos professores. Palardy
(1969) citado por Henrique e Januário (2006, p. 201) afirma que “a proposição
de uma profecia é, também, um ato de criação das condições para que ela
aconteça”. Segundo o estudo de Henrique e Januário (2006) cerca de metade
da amostra dos estudantes demonstram perceções coincidentes com as
expectativas do professor. Toda esta informação emergente de estudos na área
da docência e, mais especificamente, na disciplina de educação física, realça o
papel fundamental da relação do professor na motivação e nos resultados dos
alunos. Indo ao encontro do ponto anterior, a forma como o professor comunica,
mesmo nos pequenos detalhes, é essencial e passa sempre uma informação
que é percebida pelos alunos. Esta informação não pode de forma alguma ser
menosprezada, podendo induzir os alunos a comportamentos menos positivos.
4.1.3.3. Organização da aula
A gestão e organização da aula, em termos práticos, foi um dos aspetos
que procurei melhorar. Numa fase inicial a gestão dos tempos de transição eram
demasiado longos, acabando por perder tempo de empenhamento motor. Para
além disso, a gestão do timming dos momentos destinados à hidratação ou de
pausa não estava a decorrer da forma mais adequada e como tal foram questões
sobre as quais procurei melhorar ao máximo. Neste momento a ajuda do PC foi
fundamental uma vez que este registou os tempos de transição e momentos fora
das tarefas, chamando a atenção para esta temática. Deste modo foi-me
permitido ter uma noção mais objetiva dos aspetos a melhorar e quando
ocorrem.
Uma das estratégias que procurei implementar esteve relacionada com o
planeamento dos exercícios, procurando que de uma tarefa para outra, não
houvesse grandes alterações estruturais do material e disposição da turma. Esta
opção leva algum tempo a ser implementada, no entanto considero que resultou
muito bem.
49
Outra atenção que procurei ter foi a real necessidade dos alunos irem
beber água, já que por vezes a intensidade dos exercícios não o exigia. Por
vezes utilizava estes momentos quando era necessário alterar a configuração do
espaço, no entanto os alunos acabavam por demorar mais tempo do que era
necessário. Para alterar este comportamento e com a ajuda do PC, comecei a
recorrer mais vezes à ajuda dos alunos para manuseamento do material. O
tempo de transição reduziu e o envolvimento dos alunos com as tarefas de
gestão da aula traduziram-se em resultados positivos, uma vez que alguns
alunos inclusivé ajudavam outros que não sabiam utilizar os respetivos materiais
(por exemplo as redes de voleibol e de badminton). Na implementação dos
circuitos de treino funcional, e no seguimento das estratégias descritas
anteriormente, os alunos ficaram responsáveis por montar os circuitos em todas
as aulas. Mais uma vez o clima social estava a ser estimulado através do
desporto.
Relativamente à turma do ensino básico, com o tempo deleguei a
responsabilidade de irem buscar o material à arrecadação. Apesar de ter corrido
sem incidentes, e os alunos o fazerem com a maior brevidade possível, foi-me
chamado à atenção dois aspetos importantíssimos. A segurança e os
comportamentos desvio. Realmente a opção de irem livremente buscar o
material podia não ter tido resultados bons e a partir desse momento tive uma
maior atenção a este aspeto.
Segundo Henrique e Januário (2006), as impressões e expetativas que
um professor tem, exercem influência na estrutura e gestão pedagógica das
aulas. Esta influência traz consequências para a aula, quer a nível do clima, quer
das oportunidades. Apesar da primeira impressão ser de que os alunos não
apresentavam afinidade com a disciplina, procurei que este pensamento não
contaminasse o meu planeamento, acabando por afastar alguns alunos, mesmo
que inconscientemente. Perante a reação dos alunos, considero que foi uma
etapa bem sucedida.
Em termos práticos considero que este é o aspeto que tive mais
dificuldades em resolver, uma vez que o professor tem de estar atento a tudo e
50
todos, em todos os momentos. No entanto é uma competência essencial para
levar o processo de ensino a bom porto.
4.1.3.4. Natação?! E agora!?
Aprendi a nadar no mar, sozinha e deixando a minha mãe de coração
aflito ao atirar-me sem qualquer suporte. Fora as muitas e longas idas à praia,
não tive uma formação prática intensa que me permitisse estar tão à vontade
nesta modalidade como nas restantes. A formação e experiência adquirida na
FADEUP foi crucial para conseguir oferecer aos meus alunos um ensino de
qualidade.
Com a calma de que não teria nenhum “Michael Phelps” na turma, o facto
dos alunos não terem muita experiência deixou-me mais descansada e tranquila
para o estudo que se avizinhava. Pesquisei e estudei todos os aspetos teóricos,
práticos e didáticos do nado da técnica de crol e considero que correu bem. Fui
capaz de criar uma progressão coerente e desafiante para os alunos e superei
assim um grande degrau na minha carreira enquanto docente.
4.1.3.5. Respostas certas?
Penso que não há forma de prever todos os cenários possíveis e como tal
também torna-se impossível estudar e documentar todas as respostas ideais
para cada situação. Mesmo quando, na “nossa ignorância”, pensamos que já
experiênciamos tudo, acontece algo inesperado.
São tantas perguntas e, apesar do conhecimento que se tem vindo a
adquirir, não há uma resposta para cada uma dessas questões. Relembro uma
situação na FADEUP em que um estudante de um intercâmbio pergunta como
faria para aplicar os conteúdos teóricos ideiais lecionados a aula a 50 alunos e
8 bolas de futebol, pois essa era a sua realidade. A resposta foi a mesma que se
tem ouvido em muitos outros momentos, não existem receitas.
51
É neste sentido que me leva a acreditar que as competências práticas são
a coluna de um bom professor. Com a devida importância que as notas dos
exames representam, cada vez mais é exigido ao professor capacidade de criar,
produzir e inventar. Com a certeza de que nem tudo corre bem à primeira
tentativa, mas que a partir daí tudo pode ser melhorado e reinventado. Para que
isso possa ocorrer, o professor tem o dever de olhar criticamente para todas as
suas decisões, analisar e questionar as suas ações. Não se pode deixar ficar
naquilo que aprendeu, isto se pretende exercer a sua profissão com a
responsabilidade e importância que a mesma impõe.
Formação contínua, atitude crítica, criatividade e muita vontade de
trabalhar são os ingredientes para um professor de sucesso agora e no futuro.
4.1.3.6 Reflexão – Essencial mas não suficiente
Segundo Oliveira e Serrazina (2002) o conceito de prática reflexiva
emerge como modo dos docentes questionarem a sua própria prática
pedagógica. Mas qual o objetivo de por em causa aquilo que fazemos? Segundo
os mesmos autores, este conceito, na sua dimensão tradicional, surge como
forma de pensamento profundo e afastado da ação propriamente dita. No ensino
este ato reflexivo dota-se de uma conotação distinta, orientada para casos mais
concretos. Por outras palavras, o ser humano exerce esta atividade (reflexão)
quando existe um problema para resolver ou quando existe um reconhecimento
desse mesmo problema.
Segundo Schön (cit. por Oliveira & Serrazina, 2002), existem 3 tipos de
reflexões: na ação, sobre a ação e a reflexão sobre a reflexão na ação. As
primeiras duas distinguem-se pelo espaço temporal onde decorrem, mas é a
última que auxilia o docente a formar o seu conhecimento. Trata-se de um
pensamento proativo, orientado para o futuro, que, de acordo com Day (cit. por
Oliveira & Serrazina, 2002) trás consigo a vontade de se aperfeiçoar. Assim, “a
ideia de reflexão surge associada ao modo como se lida com problemas da
52
prática profissional”, envolvendo um “(…) um equacionar e reequacionar de uma
situação problemática” (Oliveira & Serrazina, 2002, p.32).
Como foi mencionado anteriormente, o ensino é uma prática que é
fortemente dotada de imprevisibilidade e constantes mudanças. Uma estratégia
utilizada à 10 anos atrás possivelmente não funciona nos dias de hoje. Só
podemos ter essa noção quando oferecemos espaço para que o docente
reconheça essa mesma incompatibilidade. A par desta característica estão as
inúmeras variáveis que influênciam o processo de aprendizagem. Neste sentido,
Costa (2010) menciona que só um docente que se preocupa em ser apto e capaz
de ensinar, que se prepara, que se conhece a si e aos seus alunos, que se dá a
conhecer e procura conhecer cada vez mais, consegue analisar o contexto na
sua plenitude. Embora com os filtros necessários para aquilo que realmente
importa, um docente que não quer ficar parado no tempo, tem que dedicar-se ao
processo de reflexão.
Para poder agir o professor tem de se conhecer a si próprio, criando uma
bolsa de crenças e valores que podem modificar-se ao longo do tempo, fruto
dessa mesma reflexão. Isto não é um problema, nem tão pouco uma incoerência.
Mudar a forma de pensar e agir não é errado, embora seja essa a ideia da
cultura, que resultam em chamadas de atenção como “Ah! Mas antes dizias outra
coisa, agora mudas de opinião assim”. A reflexão deve estar orientada para uma
ação futura, e essa ação, se necessário, provoca mudanças que surgem de
forma fundamentada. Simplesmente pensar sobre o assunto, sem uma visão
prática em provocar desenvolvimento não é o suficiente. É necessário que a
reflexão tenha “força para provocar a ação” (Oliveira & Serrazina, 2002, p.34).
Um professor que analisa a sua ação envolve-se num processo de
investigação que lhe permite conhecer a si próprio como docente e a melhorar o
seu ensino. Para Oliveira e Serrazina (2002), ensinar é a procura de criar
condições óptimas para que a aprendizagem aconteça. Ora, esta reflexão crítica
tem um papel fundamental no desenvolvimento profissional do professor,
segundo Zeichner (cit. por Oliveira & Serrazina, 2002). Caso contrário, o
professor cai na rotina e no erro de ser um mero peão, deixando que as decisões
53
sejam definidas por outros. Evidentemente esta “apatia” traz consequências
negativas para a qualidade do processo de ensino-aprendizagem.
Colocar em prática um ensino reflexivo é necessário, não só estar atento
ao contexto onde estamos inseridos, aos estímulos e dinâmicas que este sugere,
como solicita do professor um espírito aberto, consciência social e análise
rigorosa de todos os factores. Esta atitude demonstra por parte do professor uma
vontade de mudar, acarretanto também valores de responsabilidade e empenho
(Oliveira & Serrazina, 2002).
No contexto da prática de estágio a reflexão durante e imediatamente
após a ação, ou seja, durante a aula, debruçava-se sobretudo sobre os
feedbacks dos alunos. Se o plano previsto estava a surtir o efeito desejado e se
a motivação dos alunos estava a ser explorada da melhor forma possível. A partir
dessa recolha de dados procurava atuar de acordo com as conclusões que
procurava retirar. Apesar de levar alguns minutos quando procuro transcrever
aquilo que foi vivenciado, trata-se de um processo que se realiza em segundos
e que deve passar à prática o mais rápido possível, mantendo a eficiência e a
eficácia. Foi um trabalho que me obrigou a desenvolver resistência para suportar
90 minutos de análise-ação-(re)análise constante, revelando-se uma capacidade
exigente, mas que se vai aperfeiçoando ao longo do tempo. O mesmo não
acontece com a reflexão sobre a reflexação da ação, onde o espaço e o tempo
onde esta se desenrola facilita uma análise mais profunda e íntegra de influência
das decisões tomadas, nas diferentes variáveis. Era este o momento que, com
o auxílio do PC e da orientadora da faculdade, me era permitido desenvolver o
meu conhecimento.
Pelo perfecionismo que tento seguir, esta reflexão é intrínseca e natural.
Não suporto a rotina e a reprodução de conteúdos sem qualquer filtro sobre a
qualidade e pertinência das decisões tomadas. Para levar a cabo este processo,
mantendo uma guia de pensamento ativo, procurei seguir questões como: “onde
quero chegar?”; “como correu?”; “como melhoro?”; “o que correu bem/menos
bem e porquê?”. O porquê de todos os acontecimentos é fundamental para
encontrar soluções para os desafios que vão surgindo. Perante todas as
54
respostas que vão surgindo, ou não, procurava registar as decisões tomadas e
os acontecimentos após as respetivas adaptações, seguindo este ciclo. Ciclo
este que exige, além de um pensamento crítico e um olhar observador (não um
mero espectador), criatividade para criar novas adaptações e superar os
obstáculos que vão surgindo.
Considero que a reflexão está intimamente relacionada com a avaliação.
Os mecanismos de avaliação serão instrumentos úteis neste processo, na
medida em que facilitam a recolha de dados e a sua análise. Um professor deve
ser crítico, sobretudo de si próprio.
4.1.4. Avaliação
Agora é que são elas! Para além dos desafios com os quais fui
confrontada anteriormente, este é aquele tema que me levantou mais dúvidas
desde a minha formação inicial. A avaliação adota duas dimensões, a definição
do desenvolvimento alcançado e a análise do que deve ser melhorado. A
avaliação diz respeito a um tipo de reflexão que visa a melhoria, a comparação
do objetivo e do resultado, análise do rendimento e das condições de
(in)sucesso. O resultado desta avaliação é um conjunto de dados/informações
acerca da qualidade do trabalho desenvolvido.
Segundo Bento (2003, p.181) “o ensino está direcionado para a realização
de objetivos, para alcance de resultados”. Na minha opinião, é responsabilidade
do professor determinar o alcance desses mesmos objetivos e essa foi desde
logo o primeiro obstáculo que me exigiu determinadas decisões devidamente
justificadas. Como mencionado anteriormente, o ensino visa o desenvolvimento
global do sujeito, e, como tal, considero que a avaliação deve abarcar essa
mesma multidimensionalidade. Isto significa que a avaliação não se deve
restringir à performance e aos resultados físicos alcançados pelos alunos, mas
também uma análise de outras temáticas igualmente importantes, sendo elas:
valores (cooperação, fairplay, respeito), conhecimento teórico-prático (aplicação
de regulamentos), comportamento tático adequado.
55
No caso do ensino, quem avalia é quem dirige o processo é a mesma
pessoa. Este factor torna a avaliação um processo muito pessoal, acabando os
docentes por utilizar diferentes métodos ou até acrescentar variações, mesmo
em caso de instruções regulamentares mais específicas (Gatti, 2003). Neste
sentido, apesar de existirem algumas normas impostas pela escola onde realizei
o estágio, foi-me dada a possibilidade de jogar com os métodos de avaliação.
Introduzi os trabalhos direcionados para a área académica dos alunos, como foi
referenciado anteriormente. Considero que os valores do esforço e do empenho
devem ser muito estimulados, ainda mais quando nos deparamos com alunos
com alguma apatia relativamente às questões que os rodeiam. Neste sentido,
procurei criar oportunidades em que era mais valorizado o esforço ou a tomada
de decisão do que própriamente o resultado do desempenho (por exemplo: se o
aluno, em situação de jogo toma a decisão certa, mesmo que a execução da
habilidade motora não seja a melhor, deve ser valorizado). Num mundo cada vez
mais competitivo, não desistir e ser persistente é fundamental, e, mais cedo ou
mais tarde, isso trará recompensas. Procurei com os instrumentos de avaliação
transmitir esta mensagem aos alunos.
Segundo Gatti (2003), os alunos nem sempre têm a perceção da
conceção da avaliação e do seu papel nas aulas. No seguimento da ideia
anterior, procurei que os alunos estivessem conscientes de dois pontos:
A avaliação é contínua e constante, não havendo momentos
mais importantes. Este fator promove uma concentração orientada em todas as
aulas, embora fosse fácil para os alunos esquecerem este aspeto.
A avaliação serve para percebermos se o que está a ser
feito, está a ter resultados. Como tal, deve ser encarado de forma natural para
que o desempenho não seja influênciado por fatores como o nervosismo ou a
ansiedade.
Neste sentido, foi fundamental que houvesse, em todas as aulas,
momentos de avaliação um pouco mais formal, de modo a que os alunos se
sentissem familiarizados com o processo de observação e registo. Para além
disso, o dia formal de avaliação não se diferenciava muito das outras aulas,
56
procurava que o clima fosse natural e habitual. Foram estratégias que considero
bem aplicadas, na medida em que não se verificou a influência significativa de
fatores psicológicos ou emotivos no desempenho dos alunos.
A avaliação deve ser o mais justa possível. Como se faz isso? Ainda não
descobri a fórmula, mas o que verifiquei é que a justificação e a clareza dos
critérios é fundamental para que o método se torne aceite pelos alunos. Trata-
se no fundo de uma operacionalização coerente, entre o que o professor projeta,
realiza, comunica e desenvolve nas aulas. De acordo com Gatti (2003), existe
uma elevada percentagem de alunos que não consegue identificar e explicar os
critérios de avaliação. Tentei que este processo fosse realizado através de um
trabalho de equipa entre o professor e os alunos, onde estes têm um voto na
matéria. Foi dado espaço para sugestões e foram discutidos os critérios de
avaliação. Estes métodos permitiram aos alunos estar conscientes sobre o que
estão a ser avaliados e a sua importância.
Perante uma turma heterogénea, o que é uma avaliação justa? Colocar
todos os alunos no mesmo patamar e avaliar? Comparar entre os colegas? No
meu caso optei por fazer uma avaliação um pouco mais individualizada.
Utilizando um critério de êxito flexível, coloquei como linha de pensamento o
ponto de partida e o ponto de chegada de cada aluno. As notas surgiram daqui.
Com os devidos ajustes que considerei necessários para um resultado justo,
quer para o aluno menos dotado, mas que se esforça e melhorou muito ao longo
tempo; quer para o aluno mais habilidoso, que tem que se esforçar e superar
igualmente se pretende ter uma classificação superior. Embora cause algumas
situações menos confortáveis, encontrei (para este contexto) aquela que foi a
forma mais justa e útil para ensinar os alunos. Não poderia deixar que um aluno
dotado terminasse com uma classificação elevada, quando este não demonstra
esforço e empenho, assim como não teria a consciência tranquila se um aluno
menos hábil que desenvolveu as suas capacidades em relação ao ponto inicial
terminasse com uma classificação baixa. No fim de contas, estaria a promover
uma seleção natural dos alunos e o meu objetivo foi sempre formar cidadãos,
através do desporto.
57
No final senti-me satisfeita, porque, através da reação dos alunos, percebi
que estes compreenderam o método de avaliação, aceitaram e concordaram
com o mesmo. Senti que, dentro do possível, dei a oportunidade a cada um dos
alunos se superarem e de terem objetivos que lhes foram possível concretizar.
Sentiram-se competentes na medida do possível, dando alguma esperança para
alguns deles.
4.2. “Nós”: Participação e relação com a comunidade
Esta secção referencia todas as tarefas e atividades que envolvem a
comunidade escolar, desde os alunos, docentes, auxiliares, encarregados de
educação e outras entidades. No meu caso particular, a envolvência de um
núcleo na escola não foi possível, no entanto, procurei ultrapassar esta
condicionante da melhor forma possível.
Sabe-se que um professor não se limita a dar as aulas previstas para cada
ano letivo. Existe uma série de tarefas da responsabilidade dos docentes que
podem variar de acordo com o departamento onde se inserem. No caso do
departamento de educação física, este é responsável pela organização de uma
série de atividades ao longo do ano, abertas aos alunos. Estas atividades, de
modo geral, têm como objetivos a promoção do exercício físico e da “festa” que
é a competição e todos os elementos que esta trás consigo (festividade, convívio,
disputa, gosto pelo jogo, etc.).
A escola, que inicialmente era da responsabilidade exclusiva do estado,
tem vindo a dar espaço e oportunidade para outras entidades darem o seu
contributo, como é o caso do papel dos encarregados de educação que têm
vindo a ganhar relevo (Oliveira, 2010). Também o caso de entidades locais,
como juntas de freguesia ou empresas, têm contribuído para o desenvolvimento
das escolas locais. Não esquecendo que a escola é um espaço de construção
do sujeito, esta é altamente influenciada pela cultura local. A mobilidade a que
os professores têm estado sujeitos nos últimos anos é um fator que leva a que
cada professor conheça o meio onde se “move”, tornando-se essencial conhecer
58
o meio que envolve a escola de modo a ter uma atuação útil e eficiente no
processo educativo.
4.2.1. Escolinhas do Desporto
O projeto “Escolinhas do Desporto” é apoiado pela Direção Regional do
Desporto em parceria com as associações das diferentes modalidades e é
destinado aos alunos do 1º ciclo do Ensino Básico, podendo realizar-se em
escolas ou centros de atividades de tempos livres. Cada contrato tem a duração
de um ano letivo, coincidindo com o período letivo (interrupções iguais às que
acontecem na escola) e deve obedecer a um regulamento próprio.
Este ano candidatei-me a este projeto em dois centros, na modalidade de
karaté, sendo um deles a EBSTB e o centro de atividades e tempos livres
“Baloiço”. Lecionei um total de 180 aulas (6 aulas por semana, com duração de
1 hora), tendo cerca de 6 dezenas de alunos inscritos e a praticar, do 1º ao 4º
ano de escolaridade. Das aulas semanais 4 eram lecionadas na EBSTB.
O primeiro contacto foi interessante e considero que era importante deixar
uma imagem positiva perante os alunos e os professores que acompanham os
alunos. Foi uma experiência trabalhosa repleta de avanços e algumas pausas,
acompanhadas de reflexões sobre o que pode funcionar com cada grupo. As
primeiras aulas foram uma análise constante da forma de reagir dos alunos
perante determinadas tarefas, para então poder criar uma rotina que otimize o
tempo de aula. O facto de ser uma modalidade diferente do que estão
acostumados pode criar alguma curiosidade nos alunos. A maioria sabia que era
uma modalidade de combate, e por isso foi importante estabelecer regras e
explicar a essência do karaté, para que não ocorressem incidentes graves dentro
e fora do dojo (local de prática).
O karaté tem a vantagem de se traduzir num percurso muito pessoal, onde
todos os alunos conseguem verificar, de forma clara e evidente, que há uma
transferência direta entre o seu empenho/concentração e o seu progresso. A
implementação de estratégias de pontuações para alcançar as “riscas” nos
59
cintos foi fundamental para manter o foco e a motivação dos alunos nas aulas.
Estas crianças exigiram de mim um comportamento tático constante perante a
sua evolução e isso foi um verdadeiro desafio. Foi interessante verificar que os
alunos perguntavam como podiam adquirir o material específico da modalidade,
sendo que nunca o tinha mencionado nas aulas e este interesse deu-me
motivação para continuar o trabalho que estava a ser feito. Mais tarde surgiram
os encarregados de educação que cada vez mais se mostraram interessados na
atividade que os filhos falavam em casa. Para alguns pais era evidente o
interesse dos seus educandos e como tal optaram por incentivar e investir num
desporto que pouco conheciam. Participaram em provas e estágios, fizeram
exames de graduação e integraram demonstrações e desfiles juntamente com
karatecas de outros clubes. A vontade de participar em todos estes eventos, quer
dos alunos, quer dos pais, era sinal que havia interesse e entusiasmo. Quando
assim é, parece que tudo se torna mais fácil. A integração neste projeto permitiu-
me ter uma relação mais próxima com os encarregados de educação. Embora
uma comunicação diferente, uma vez que a importância não é a mesma que a
da escola, senti que a maioria dos pais foi ganhando interesse pela prestação do
seu filho nestas aulas. Procuraram saber mais sobre a modalidade e o que eram
os “pontos” e as “katas” que o filho falava em casa. Senti apoio e reconhecimento
da maioria dos pais e isso foi fantástico.
Procurei ter, embora seja difícil, uma relação diferente com cada um dos
alunos. Nem tudo foram flores e houve momentos de “sermões” menos bons e
algumas chatices. No entanto procurei fazer com que percebessem que apenas
o fazia porque me preocupava com eles e no fundo acho que a mensagem
chegou, porque era recorrente me chamarem para contar acontecimentos do seu
dia-a-dia ou problemas da escola. E eu ouvia. Ouvia com toda a atenção que o
momento me permitia e procurava ajudar.
Houve um caso especial de um menino que foi alvo de uma transformação
interna com a entrada no 1º ano. Segundo a mãe, começou a ter medos e
inseguranças em determinadas situações. Como ele já tinha demonstrado
interesse na modalidade, acreditou-se que o karaté fosse um bom “empurrão”
para ultrapassar os obstáculos que sente. A motivação dele aumentou, mas em
60
dias de provas ou exame os nervos tomavam conta dele e foi-me difícil reagir.
Contactei com o meu treinador no sentido de lhe pedir conselhos e conversei
muito com os pais de modo a perceber qual seria a melhor abordagem e senti
que aqui foi um momento de cooperação com a família. Foi um verdadeiro
desafio perante um menino com todas as capacidades para ter um
desenvolvimento de sucesso a todos os níveis. A confiança dele aumentou e
segundo a informação que tive esta segurança também se transferiu para a
escola. Nas aulas de karaté já faz exercícios perante a turma, sozinho, com
segurança e confiança. Foi então que decidi “passar-lhe a bola”. Numa conversa
informal disse-lhe para fazermos um acordo… Seria ele a pedir-me para fazer
exame de graduação (passagem de cinto). Ele concordou e disse que o faria. Eu
acredito, mas reforcei: “o que eu quero é que pratiques karaté”. Este caso
especial fez-me ver o desporto de outra forma. Embora já tivesse esta noção,
esta criança, sem saber, lembrou-me o quão bom é praticar atividade pelo
simples prazer de o fazer. Sem “porquês” ou “para quês”. Sem olhos nas
medalhas ou nos cintos. Sem o interesse puro nas vitórias físicas, mas pelo bem-
estar e alegria que a prática nos trás. É esta a verdadeira motivação que
pretendo transmitir aos meus alunos. A este menino, obrigado.
Foi uma experiência muito gratificante com todos os alunos, ver o
crescimento deles quer a nível motor/físico, quer a nível pessoal e social. No final
não queriam que terminasse e foi a melhor prenda que me podiam dar. Tive a
oportunidade de construir uma relação de amizade e respeito com estas
crianças. Eu comecei por dar um pouco de mim, que é a modalidade que pratico
e eles deram-me tudo deles… o bom e o menos bom, memórias boas e
aprendizagens constantes. Algumas alunas fizeram questão de me tirar o
telemóvel sem ver e deixar fotografias de recordação. Foi fantástico.
4.2.2. Corta-Mato Escolar
Este evento é já uma tradição nas escolas da ilha, e relativamente à
EBSTB também não é exceção. Aprovada pelo Conselho Pedagógico e da
responsabilidade do departamento de educação física, esta prova integra alunos
61
de todos os ciclos de ensino que integram esta unidade orgânica (1º,2º,3º ciclos
e secundário da EBSTB e de outras escolas).
Como aluna já tinha participado em eventos do género e pela quantidade
de alunos que participava já se previa que era necessário uma logística bem
organizada para que tudo decorresse sem contratempos. No entanto, estando
do outro lado, temos uma noção diferente e mais real de toda a preparação que
é necessária. Antes do ano letivo começar, o departamento opta por formar
grupos que irão estar responsáveis por organizar cada atividade realizada,
sendo que os restantes docentes colaboram naquilo que for necessário. As
etapas que precedem este evento são similares aos anos anteriores, no que diz
respeito às inscrições nos diferentes escalões etários, percurso a realizar,
material necessário, etc. O trajeto é percorrido dentro da escola, pelo que para
a maioria dos alunos a deslocação está facilitada, assim como as questões de
segurança.
Relativamente à minha participação neste evento, fiquei responsável por
anotar a chegada e o tempo de cada um dos alunos. Dada a afluência de
participantes e perante o material disponível foi decidido que apenas seriam
anotados os tempos dos primeiros dez classificados, ficando os restantes com a
posição anotada. Esta tarefa tem uma dimensão crucial neste evento, uma vez
que é esta que irá traduzir os resultados dos alunos, que no final de contas é o
que estes pretendem saber. Felizmente o departamento estava organizado no
encaminhamento dos alunos para uma fila que os ordena por chegada,
facilitando as anotações. O facto de os alunos terem dorsais facilitou, não sendo
necessário anotar nomes. Quando a prova terminou, com a ajuda de um
professor, foram verificadas as faltas de comparência uma vez que
posteriormente é necessário justificar as faltas dos alunos que participaram.
Na minha opinião houve alguns contratempos nomeadamente na
verificação de todos os participantes presentes e na atribuição dos dorsais que
parece ter havido alguns problemas. No entanto, rapidamente foram criadas
novas soluções que remediaram e permitiram que a prova retomasse o seu rumo
natural. A planificação de todos os eventos tenta diminuir a possibilidade de
62
ocorrência de imprevistos, no entanto, é importante estar preparado para ajudar
e agir de forma rápida e eficiente. Relativamente ao feedback dos alunos, o
sorriso e muitas “carinhas vermelhas” foram a imagem de marca desta edição,
como tal penso que foi um sucesso. Os alunos estavam interessados nos
resultados e em fazer uma boa prestação. O trabalho de equipa demonstrado
pelo departamento, em que cada professor procurava desenvolver as suas
competências da melhor forma possível, foi um ingrediente fundamental para o
sucesso desta atividade. Em forma de sugestão, teria tentado recorrer a um
sistema de som que permitisse tornar claro as partidas de cada um dos grupos,
facilitando a organização dos grupos/alunos que faltavam ou transmitir alguma
informação geral, assim como procurando dar um ambiente mais festivo e
integrante à atividade (apelo à emoção, música em tempos “mortos”, etc.).
Foi uma experiência enriquecedora do ponto de vista profissional, na
medida em que me permitiu observar de perto questões logísticas importantes
para um evento desta dimensão. A nível pessoal esta atividade serviu como
lembrete da importância do trabalho em equipa, a cooperação e o espírito de
interajuda e todas as capacidades inerentes (comunicação, relação, etc.).
4.2.3. Reuniões
O ano letivo 2016/2017 começou com uma reunião geral no auditório da
escola que reuniu alguns dos elementos da escola: professores, auxiliares,
psicólogos, etc. Nesta reunião, que se traduziu sobretudo numa apresentação,
foram abordados vários temas. Pela voz do Presidente do Conselho Executivo
foram apresentados a constituição da escola, respetivos departamentos
coordenadores e todos os integrantes dos projetos a desenvolver pela escola.
Para além disso foram apresentados números referentes aos alunos
matriculados em cada um dos anos/cursos existentes. Destaquei o facto de
existir um curso profissionalizante de técnico de apoio à gestão desportiva,
sendo que até então apenas havia um curso semelhante no outro conselho da
ilha. Também foram apresentados os números referentes à questão financeira
da escola. Neste momento, registei com interesse o apelo do Presidente ao
63
elevado número de fotocópias realizadas pelos docentes. Considero que é nos
pormenores que está a diferença e o que para alguns seria um aspeto pequeno,
o locutor fez questão de demonstrar a diferença que pequenos gestos fazem no
orçamento da escola. Foram apresentados os objetivos do Projeto Educativo
que, na minha opinião, fazem muito sentido para a sociedade de amanhã, no
que diz respeito aos valores da inclusão, sucesso social e pessoal, atitude ativa
na sociedade, promoção do empreendorismo, trabalho de equipa através de
projetos, competência e gestão/respeito pelo espaço. Também foram
apresentados outros projetos como o ProSucesso e o Ensino Especializado em
Desporto (projeto pioneiro a nível nacional).
Antes do início das aulas o departamento de educação física organizou
uma reunião dirigida pelo seu coordenador, com o objetivo de preparar algumas
questões logísticas para o ano letivo que se avizinhava. Iniciou-se com a
apresentação de cada um dos professores, uma vez que existiam docentes
novos na escola, que na minha opinião ajuda a “quebrar o gelo” nos primeiros
dias. Foram decididos os grupos responsáveis pela organização de cada uma
das atividades e sugeridas algumas datas provisórias para a realização das
mesmas. Para além desta reunião, pontualmente eram agendados novos
momentos de discussão acerca de problemas que iam surgindo ao longo do ano,
como é o caso da alteração das rotações pelos espaços inicialmente previsto.
Relativamente às reuniões do conselho de turma, sendo a minha turma
uma junção de duas, participei sempre em ambos os encontros, em cada um dos
períodos letivos. Os momentos dirigidos pelos respetivos diretores de turma,
procuram discutir assuntos pertinentes acerca de cada um dos alunos. Em
alguns casos a psicóloga da escola estava presente para falar sobre casos
específicos. Foi interessante verificar que alguns alunos possuem
comportamentos completamente distintos nas diferentes disciplinas, levando-me
por vezes a questionar se estaríamos a falar do mesmo aluno. Alguns alunos
são maiores de idade e este facto faz com que alguns procedimentos, como o
caso do número de níveis inferiores a 10 e o contacto com os encarregados de
educação, tomem rumos diferentes e este foi um aspeto interessante de analisar.
O papel dos diretores de turma é fundamental, fruto da relação privilegiada com
64
os encarregados de educação, e senti esta importância quando estes
informavam os restantes professores acerca de acontecimentos mais pessoais
dos alunos, dos quais os docentes não tinham qualquer conhecimento. No meu
caso tomei consciência de que há muito por de trás de cada sujeito, e fez com
que tentasse estar mais atenta e a procurar olhar para lá do comportamento que
os alunos demonstravam. Nestas reuniões fazia parte das minhas tarefas
conferir as notas da disciplina de educação física e informar acerca da prestação
do aluno nas respetivas aulas.
Em todos estes momentos senti que tinha espaço para dar a minha
opinião e que era dada a atenção pelos restantes professores, no entanto, nas
reuniões de conselho de turma, senti que as classificações de educação física
eram alvo de pouca discussão ou até atenção. Talvez por serem turmas de artes
e audiovisuais, ou pela importância relativa dada a esta disciplina senti que as
outras unidades curriculares tinham um relevo mais significativo. Realço o
ambiente informal e aberto que as reuniões apresentavam, tendo bolos trazidos
por alguns docentes em época festiva (Natal, Carnaval, etc.). Havia uma relação
de cumplicidade, amizade e respeito entre todos os professores, com espaço
para debates interessantes. No departamento de educação física senti-me bem
recebida pelos restantes docentes e que estavam dispostos a ajudar naquilo que
fosse necessário. Senti sempre algum constrangimento, se é que lhe posso
chamar, uma vez que alguns haviam sido meus professores, no entanto isto é
uma sensação pessoal, uma vez que demonstraram sempre abertura para me
envolver e ajudar.
4.2.4. Formação “Desenvolvimento e Treino da Força e Condição Física”
Nos dias 3 e 4 de junho realizou-se, no concelho da Praia da Vitória, uma
ação de formação ministrada por um professor da Faculdade de Educação Física
e Desporto da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Intitulado
“Desenvolvimento e treino da força e condição física”, a organização deste
seminário esteve a cargo da Associação de Judo da Ilha Terceira, em parceria
com a Federação Portuguesa de Judo, e tinha como população alvo treinadores
65
credenciados, profissionais na área das ciências do desporto, educação física,
exercício e saúde. Esta formação teve uma duração de 10 horas e era creditada
pelo Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) em 2 créditos.
Esta ação de formação surge no âmbito da importância do
desenvolvimento e treino da força em três domínios: nos jovens, na saúde e no
rendimento desportivo. Foram realçadas e apresentadas estratégias e
procedimentos de atuação que visam a melhoria, o treino e o desenvolvimento
da aptição e condição física, assim como a prevenção de lesões em diversas
populações e contextos. Relativamente aos conteúdos específicos foram
abordados alguns conceitos base (força máxima, força explosiva, potência e
resistência de força), métodos de treino para o desenvolvimento da força,
planeamento do treino e elaboração de programas de treino da força, avaliação
e controlo do treino, com interpretação dos resultados e suas implicações no
processo de treino.
O mais interessante neste seminário foi o facto de ter sido dada a
oportunidade de observar como se determinam alguns aspetos (testes físicos)
com o material necessário e sobretudo, como interpretar os resultados dessas
baterias e como aplicá-los em situações reais de treino (planeamento,
determinar cargas, etc.). Houve a colaboração de atletas das modalidades de
karaté e de judo, permitindo simular casos reais de aplicação dos conteúdos que
estavam a ser abordados. Após esta recolha de dados passou-se aos métodos
de treino utilizando os colaboradores como exemplo. Neste sentido, esta
formação foi muito útil em termos de conhecimento prático e raciocínio lógico na
preparação física dos praticantes.
A força é um aspeto determinante na saúde do ser humano, que
apresenta uma tendência para o seu decréscimo ao longo da vida, acarretando
consequências significativas na qualidade de vida do homem. Assim sendo,
considero esta ação de formação um momento de enriquecimento muito útil,
quer para a minha vida pessoal, quer para o âmbito profissional.
66
4.2.5. Formação “Novas propostas e metodologias para o ensino de Karaté
pré infantil e infantil em ambiente escolar”
No dia 29 de julho decorreu, no concelho de Angra do Heroísmo, uma
ação de formação específica para treinadores de karaté, ministrada pelo
responsável técnico da Associação de Karaté do Porto (licenciado em educação
física e desporto, mestre em ensino de educação física nos ensinos básico e
secundário pela FADEUP e treinador de grau IV de karaté pelo IPDJ).
Denominada “Novas propostas e metodologias para o ensino de Karaté pré
infantil e infantil em ambiente escolar”, a organização deste seminário esteve sob
a responsabilidade da AKA, em parceria com a Associação de Karaté do Porto,
tendo como principal público alvo os treinadores credenciados da modalidade na
RAA. Esta ação de formação contou com a presença de 20 treinadores das ilhas
Terceira, Faial e São Miguel, contabilizando 1,6 unidades de crédito (8 horas)
para o título profissional de treinador de desporto.
Embora o karaté não seja uma modalidade integrante do currículo
nacional, existem algumas escolas que dão a liberdade aos docentes de
abordarem outras modalidades quando estão dotados de formação para a
mesma. E nesta formação foi possível verificar, através do trabalho desenvolvido
pelo preletor nas diferentes escolas onde atua, como o trabalho específico do
karaté pode ser uma mais valia para as crianças. Estes benefícios foram
apresentados, não só em termos físicos, sociais e psicológicos, mas como um
elo de ligação incrível entre a modalidade e as outras áreas curriculares do
ensino, nomeadamente as línguas, história, matemática, música, entre outras.
Apesar da especificidade do seminário relativamente ao contexto da
modalidade, foram fornecidas um conjunto de ideias e ferramentas que podem
prefeitamente ser utilizadas na disciplina de educação física. Esta ligação entre
esta disciplina e as restantes resultou numa aproximação dos docentes e no
desenvolvimento dos alunos nos outros âmbitos através do desporto. Considero
esta união de forças uma relação fundamental e retrata aquele que deve ser um
verdadeiro ensino integrado. Evidentemente é exigido um grande nível de
criatividade e empenho por parte do docente, no entanto tiveram resultados
67
positivos ao nível da motivação, interesse e empenho dos alunos, assim como
no seu desenvolvimento global.
Figura 4 - Ação de formação sobre “Novas propostas e metodologias para o ensino de Karaté pré infantil e
infantil em ambiente escolar”
4.3. Desenvolvimento Profissional – Estudo de Investigação - “Treino
Funcional para desenvolver a condição física”
4.3.1. Resumo
A realização deste estudo emerge da intenção de oferecer aos alunos
uma metodologia alternativa de desenvolvimento da condição física nas aulas
de educação física, como forma de motivar os alunos para este trabalho. Além
disso, teve ainda como propósito melhorar a própria condição física dos alunos,
assim como perceber se a utilização desta metodologia de forma organizada
traduz-se em resultados efetivos. Num confronto entre esta nova forma de
trabalho e as metodologias utilizadas anteriormente, procurou-se perceber quais
as diferenças ao nível da motivação, entre as respetivas formas de exercício.
A falta de afinidade dos alunos para com a disciplina foi o fator principal para a
apresentação deste desafio.
68
O propósito deste estudo estende-se sobre o efeito da aplicação de
circuitos de treino funcional específicos para cada modalidade de forma regular,
na condição física de alunos do ensino secundário. A amostra foi composta por
13 alunos do 10º ano.
Para este estudo os objetivos específicos foram: averiguar o efeito da
aplicação de circuitos de treino funcional durante 11 semanas na condição física
dos alunos do 10º ano; averiguar a motivação dos alunos do 10º ano para o
trabalho de condição física, através do método de treino “convencional” e do
método de treino funcional.
A bateria de testes utilizada para levar a cabo as respetivas avaliações da
condição física dos alunos foi a “FITSCHOOL”. Relativamente ao tratamento
estatístico recorreu-se ao programa Statistical Package for the Social Sciences
– Versão 23.0 (SPSS Statistics 23.0). O nível de significância adotado foi fixado
em α=0.05 (intervalo de confiança de 95%). A estatística descritiva foi
determinada recorrendo à média como medida de tendência central e ao desvio
padrão como medida de dispersão. Relativamente à estatística inferencial
utilizámos o Wilcoxon test para a comparação de medidas repetidas (cada um
dos momentos de avaliação).
Relativamente ao desenvolvimento da condição física concluímos que a
implementação de um programa estruturado de treino funcional nas aulas de
educação física, traduz-se em melhorias significativas. Concluiu-se ainda que
não existiram diferenças ao nível da motivação intrínseca e extrínseca, em
ambos os métodos (convecional vs funcional).
4.3.2. Revisão da Literatura
A temática da prática de atividade física tem sido amplamente abordada
em reflexões, téses e estudos ao longo dos anos (por exemplo por Caspersen et
al., 1985). As divisões deste tema variam de acordo com: o rendimento
desportivo (Araújo, 2002), os benefícios para a saúde (Silva & Junior, 2011), os
diferentes contextos como escola, treino, etc. (Zenha et al., 2009), as faixas
69
etárias (Matsudo et. al, 2002), entre outras. O que é certo, é que de uma forma
ou de outra podemos verificar que a promoção da atividade física é importante e
esta deve ser estimulada e desenvolvida ao longo de toda a vida do ser humano
(Matsudo, 2009).
Muitas estratégias foram surgindo no sentido de incutir o gosto pela
prática desde tenra idade, e coloca-se a questão acerca dos resultados da
implementação destas estratégias (Garganta & Santos, 2015). Segundo o
Eurobarómetro (2014), 42% dos cidadãos da União Europeia praticam atividade
física pelo menos uma vez por semana, valor que cresceu 3% desde 2009. Na
mesma fonte concluiu-se que em Portugal 64% da população respondeu “nunca”
à questão “Com que frequência pratica atividade física ou desportiva?”. São
números alarmantes e que não apresentam uma curva decrescente que seria de
esperar com o aumento do conhecimento acerca dos benefícios que esta prática
apresenta. Segundo a mesma fonte, em Portugal, as duas principais razões para
não se praticar atividade física são:
Falta de tempo para dedicar à atividade física;
Falta de motivação ou interesse para a prática de atividade física.
Garganta & Santos (2015) questionam os resultados efetivos das
estratégias que têm sido implementadas, perante os objetivos a que estas se
propõem. Quer numa fase adulta, partindo dos dados fornecidos pelo
Eurobarómetro (2014), quer nas escolas onde a maioria dos alunos apenas
praticam atividade física por serem obrigados (Garganta & Santos, 2015). Se as
estratégias propostas por métodos como o programa FITNESSGRAM não têm
resultado então é necessário repensar e mudar. As novas estratégias devem
contrapor os argumentos apresentados para a inatividade física apontados pelo
Eurobarómetro (2014). Algo que não seja demoroso, que motive e suscite
interesse. Certamente não iremos encontrar a solução de imediato, mas sim um
modelo que deverá aperfeiçoar-se ao longo dos anos perante o conhecimento
científico que se irá adquirindo, assim como dos feedbacks por parte da
sociedade.
70
O Treino Funcional define-se como uma gama de exercícios, baseados
nos padrões de movimento, que melhorem o desempenho físico e sirvam de
suporto a uma conjunto de tarefas do quotidiano ou de habilidades/técnicas
desportivas (Garganta & Santos, 2015). Na área da fisioterapia os especialistas
recorriam aos movimentos do quotidiano para o processo de reabilitação motora
dos pacientes (Corezola, 2015).Esta metodologia tem vindo a ganhar outra
dimensão nos anos que correm, no entanto a sua origem remonta a 7000 anos
A.C., segundo Check citado por Garganta & Santos (2015).
Treino Convencional versus Treino Funcional
Segundo Garganta & Santos (2015) é na Roma Antiga e Grécia que se
registam treinos com o objetivo de melhorar as capacidades físicas do indivíduo
utilizando cargas adicionais, como é o exemplo de troncos e pedras, aliadas ao
peso do corpo. Nos anos 50 surgem os primeiros discos e halteres, aparecendo
as máquinas de musculação mais tarde. Estes instrumentos procuravam isolar
cada um dos músculos e fornecer ao mesmo um estímulo maior (Arthur Jones
cit. por Garganta & Santos, 2015).
Tudo varia em função daquilo que se pretende. O adjetivo “funcional”
refere-se à eficiência com que se realiza uma tarefa, seja ela qual for (Corezola,
2015). O exercício de supino poderá ser funcional para um halterofilista, mas
poderá não o ser para um maratonista. Partindo deste pressuposto, o que torna
um determinado exercício numa tarefa dita “funcional”? Se o nosso objetivo é
treinar a potência e a força, sabe-se que estas se manifestam de formas
diferentes de acordo com cada desporto. O objetivo do treino funcional segundo
D’Elia citado por Corezola (2015), trata-se de recorrer a um programa de treino,
individual e específico, de desenvolvimento da capacidade funcional do sujeito,
utilizando tarefas que se relacionem com a atividade realizada pelo indivíduo,
transferindo de forma positiva os efeitos ganhos para o seu quotidiano. Assim
sendo, a funcionalidade não dependerá exclusivamente da sua
multidimensionalidade, mas também da sua integração, variação da força e do
contexto onde cada ação motor se desenvolve (desporto, nível de fadiga, fatores
mentais, etc.), segundo Garganta & Santos (2015). Segundo os mesmos
71
autores, a arquitetura do corpo humana está projetada para se mover numa
variedade de planos, enquanto este tipo de instrumento estão concebidos para
estimular os músculos em um dos três planos de movimento. Perante esta
informação começa a renascer uma nova abordagem mais abrangente, o “Treino
Funcional”. Esta metodologia não é recente, no entanto, a sua versão mais atual
surge como forma de reabilitação física, passando a ser utilizado no treino
desportivo, como forma de aproximar o treino àquilo que são as exigências reais
da modalidade (Gargante & Santos, 2015). Atualmente este método estende-se
ainda ao âmbito do exercício para a saúde.
Em termos metodológicos, as principais características e benefícios do
treino funcional apresentadas D’Elia & D’Elia (2005) citados por Garganta &
Santos (2015) são:
Utilização de atividades representativas do quotidiano;
Utilização de movimentos primários;
Movimentos realizados em cadeias cinéticas (ação multiplanar);
Utilização controlada de momentos de instabilidade que promovem
uma reação;
Desenvolvimento da consciência corporal e postural dinâmica que
promove a qualidade do movimento.
Segundo Boyle, citado por Corezola (2015), um programa de treino bem
sucedido deve cumprir os seguintes passos:
1. Exercícios básicos: iniciar as progressões pelos exercícios mais
simples;
2. Exercícios com o peso do corpo: a sobrecarga num exercício
pode ser suficiente para destruir o treino, uma vez que o corpo não é funcional
para suportar determinada carga;
3. Do simples para o complexo: somente após dominar os
exercícios básicos, o sujeito deve progredir para tarefas mais intensas ou com
maior carga.
72
Para este estudo, o treino convencional diz respeito ao
desenvolvimento das diferentes capacidades físicas e músculos de forma
isolada, através de metodologias que seguem uma posologia global para todos
os alunos (por exemplo: 4 séries de 20 abdominais, etc.). Para obter resultados
utilizando este género de tarefas verifica-se que é necessário, para melhorar a
aptidão física, uma rotina regular e estruturada, além de que não auxilia naquilo
que são as exigências do quotidiano (pegar um saco, empurrar um móvel, etc.)
ou do esforço exigido pelas diferentes modalidades (Garganta & Santos, 2015).
Segundo Cook (2010) o cérebro não identifica músculos, registando padrões de
movimento, colocando em causa o isolamento muscular utlizado pelo treino
convencional. O que diferencia estas duas visões é o foco da atividade. O treino
convencional visa isolar os músculos, ao passo que o treino funcional tem o seu
foco no movimento.
Então...
Torna-se necessário e urgente apresentar uma metodologia que combata
de imediato as principais razões para a inatividade física, sendo que as camadas
jovens são o primeiro público onde a intervenção deve ser feita. Como já foi
abordado por diversos estudiosos, como Dan Pink (2009), a motivação é o
principal fator influenciador do comportamento humano, e esta motivação
manifesta-se de formas distintas: sobrevivência (exemplo: fome, sede, etc.),
extrínseca (exemplo: recompensas ou evitar castigos) e intrínseca (exemplo:
satisfação pessoal na realização). Segundo Raposo e Fernandes (2005), um
comportamento guiado pela motivação intrínseca tem maior probabilidade de se
perpetuar no tempo. Logo, estratégias que apelem à perceção do sucesso e de
competência são exemplos onde a intervenção irá promover este tipo de
motivação. Nesta linha de pensamentos, o “marketing” associado à prática
desportiva deve incidir sobre a satisfação que estas atividades trazem para o ser
humano, e não apenas conetar estas tarefas como forma de evitar as doenças
associadas ao sedentarismo (Moutão, 2005).
73
4.3.3. Objetivos
Objetivo Geral: Averiguar os efeitos psico-motores do treino funcional
regular e intencional, após 11 semanas de intervenção, em alunos do 10º ano
de escolaridade.
Objetivos Específicos:
Averiguar o efeito da aplicação de circuitos de treino funcional
durante 11 semanas na condição física dos alunos do 10º ano;
Averiguar a motivação dos alunos do 10º ano para o trabalho de
condição física, através do método de treino “convencional” e do método de
treino funcional.
4.3.4. Metodologia
Amostra
A amostra foi composta por um grupo de intervenção com um total de 13
alunos (n=13) do 10º ano de escolaridade, sendo 5 rapazes e 8 raparigas. A
média de idades foi de 16 anos (σ = 1,871), sendo que o aluno mais velho tinha
20 anos e o aluno mais novo 14 anos.
Relativamente à experiência desportiva da nossa amostra, consideramos
que não apresenta atualmente uma taxa de participação significativa (apenas 2
praticantes federados), sendo que as modalidades já experienciadas pelos
alunos foram o judo, ciclismo, basquetebol, dança, kickboxing, atletismo,
voleibol, equitação, futsal, canoagem e patinagem. De um modo geral todos os
alunos da nossa amostra cumprem todas as tarefas que lhes são solicitadas na
aula de educação física, não demonstrando no entanto uma relação forte de
autonomia e gosto pelo desporto.
Protocolo
74
A intervenção nesta investigação passa pela aplicação de um circuito de
treino funcional, nas duas aulas de educação física que a turma dispõe na
semana, por um período de 11 semanas. Esta aplicação é feita na parte inicial
da aula utilizando material didático, coluna com música, temporizador e apito. Os
exercícios dos circuitos variam consoante a modalidade que está a ser
lecionada, sendo futebol, natação e badminton as atividades desportivas onde
incidiu esta metodologia. Foram realizados dois momentos de avaliação (inicial
e final) correspondentes à primeira e última aula do segundo período.
A bateria de testes utilizada para determinar o ponto inicial e o ponto final
dos alunos é uma adaptação dos testes apresentados pela bateria FITSCHOOL
(Garganta & Santos, 2015) adotando a metodologia dos exercícios isolados. A
bateria é constituída por 6 estações onde os alunos estão dispostos a pares,
sendo um aluno o executante e o outro o juiz responsável pela contagem. Ao
nível da posologia, para cada exercício os alunos devem realizar o máximo de
repetições possível, em quarenta e cinco segundos. Os alunos dispõem de trinta
segundos para trocar de estação, sendo que as funções trocam ao terminar o
circuito. Os exercícios e os respetivos critérios estão apresentados na tabela 1
que se segue:
Nº Nome
Conta o número de saltos
após a colocação das mãos no
chão e extensão dos MI em
prancha.
Burpees S/ material6 Peso do corpo
Conta o número de vezes que
salta.Saltar à corda Corda Peso do corpo
4
5
Peso do corpo
1
2
3
Conta o número de vezes que
o Halter toca no chão.
Desenvolvimento
com halter.Halter
4 Kg
10 Kg (ES Masc.)
8 Kg (ES Fem.)
Parte da posição de pé. Troca
os mecos de lugar (um com o
outro) e bate palma, de
seguida, acima da cabeça.
Conta o número de vezes que
bate palma acima da cabeça
após trocar os mecos.
Equilíbrio em
prancha trocando
os mecos de sítio.
Plataforma de
equilíbrio
Mecos
Conta o número de vezes que
a bola toca acima dos 2 m e é
agarrada.
Passe de peito
com bola
medicinal no plano
sagital
Bola medicinal
Critérios de contagem Material Peso
Número de vezes que toca no
chão com os MI em flexão e
agarrado com uma mão no
TRX.
Agachamento com
torçãoTRX Peso do corpo
Quadro 2 - Exercícios adaptados da bateria de testes FITSCHOOL (Garganta & Santos, 2015).
75
As adaptações fizeram-se ao nível das cargas e do material utilizado. O
exercício número 4 seria feito, na versão original, com o kettlebell. No entanto
não tivemos acesso a este material, substituindo por material similar, por um
halter com a mesma carga.
Para a construção dos circuitos a aplicar nas aulas foram tidos em conta
alguns pressupostos básicos apresentados por Garganta & Santos (2015) sendo
eles:
Iniciar com exercícios que desenvolvam a mobilidade articular das
principais articulações onde se perde esta capacidade mais cedo (anca, tórax,
ombros e tibiotársica);
Alternar as cadeias cinéticas (membros inferiores, membros
superiores e tronco), equilibrando o volume de exercícios destinado a cada uma
delas;
Ter atenção à execução técnica e corrigir sempre que necessário;
Variar as intensidades (um exercício mais intenso deve seguir-se
um de intensidade inferior).
Circuito de Treino - Futebol
O circuito de futebol compreende 8 exercícios com 30 segundos de
exercitação. Nas duas primeiras semanas o tempo de repouso permitido foi de
20 segundos, perfazendo 6 minutos e 40 segundos de atividade para cada aluno.
Nas semanas seguintes, com base no Princípio da Adaptação à Carga,
reduzimos o tempo de repouso. Passando este a ser de 10 segundos. Desta
forma o circuito final passou a ter 5 minutos e 20 segundos de atividade para
cada aluno.
Ao nível da gestão da turma, o circuito foi realizado a pares, sendo um
aluno o executante e o outro o supervisor/auxiliar do colega (dois grupos:
executante e supervisor), trocando de funções no final do circuito. Dada a
76
Quadro 3 - Circuito de exercícios de Treino Funcional de futebol.
intensidade dos exercícios, a organização dos alunos e o tempo disponível para
a aula, os alunos realizam o circuito apenas uma vez.
Circuito de Treino - Natação
O circuito de natação integra 8 exercícios realizados durante 30
segundos cada um. O tempo de repouso nas primeiras duas semanas foi de 20
segundos, passando a 10 de acordo com princípio mencionado anteriormente.
Relativamente à gestão da turma, o circuito foi realizado a pares e ambos
executaram as tarefas em simultâneo. Uma vez que todos os alunos realizaram
os exercícios em simultâneo fez com que fosse disponibilizado mais tempo para
esta tarefa.
Deslocamento
lateral (3 metros)
O aluno desloca-se na horizontal, tocando com a mão no
cone. Volta a deslocar-se no sentido contrário, mantendo a
posição base.
Nome Representação Descrição
Cones em linha
(distância de um pé
½)
Afastar os pés em cima do cone, juntar no espaço entre os
cones e assim sucessivamente.
Lunge com rotação
(bola de futebol)Variante: com pliometria
O aluno deve realizar agachamento com salto para o lado,
voltando a realizar agachamento e saltando para a posição
inicial.
Agachamento com
salto lateral
Os pés estão fixos e são os membros superiores que avançam
através da extensão dos membros inferiores. O retorno é
feito através da impulsão dos membros superiores. Variante:
regressar com pequenos apoios das mãos.
Extensão
Deslocamento
antero-posterior
Num corredor com marcas a diferentes distâncias, o aluno
deverá correr até à primeira marca, voltar à anterior, dirigir-
se à 2ª e assim sucessivamente.
Zigue ZagueZigue zague através de junção dos pés a meio (não realizar
movimento circular com o pé).
Espelho
O colega tem a iniciativa de deslocar-se
multidirecionalmente (de forma contínua), enquanto o aluno
deve responder em espelho, o mais rápido possível.
77
Para além disso, somando ao facto do circuito decorrer na piscina, fez
com que a intensidade fosse menor e por isso os alunos realizam o circuito duas
vezes, com um tempo de transição de 1 minuto e 30 segundos entre as séries.
Assim, o circuito na sua totalidade teve uma duração de 16 minutos e 20
segundos nas primeiras duas semanas, e de 13 minutos e 40 segundos nas
semanas seguintes.
Quadro 4 - Circuito de exercícios de Treino Funcional de natação.
Circuito de Treino - Badminton
O circuito de batminton, à semelhança dos anteriores, integrou 8
exercícios realizados durante 30 segundos cada um. O repouso (entre os
exercícios) foi de 20 segundos, reduzindo para 10 segundos duas semanas
depois de ter iniciado, tornando-se num novo estímulo para os alunos.
Nome Representação Descrição
Tríceps no bordo da
piscina
Colocando as mãos no bordo da piscina, à largura dos ombros,
os alunos deverão fazer flexão e extensão do cotovelo,
elevando o corpo. Os pés não podem apoiar no fundo.
Salto com joelhos
peito
Saltar elevando os dois joelhos ao peito em simultâneo,
trazendo fora da água. Variante: fazer o mesmo exercício mas
com elevação alternada (skipping alto ).
Arrasto do colete
no plano sagital
Segurando nas extremidades do colete, transportá-lo no
plano sagital, utilizando a resistência da água.
Segurando nas extremidades do colete, transportá-lo no
plano transversal, utilizando a resistência da água.
Arrastodo colete no
plano transversal
Desenvolvimento com halter, fazendo com que este toco no
fundo da piscina e elevá-lo acima da cabeça.
Desenvolvimento
com halter
Corrida Os alunos deverão correr uma mais rapidamente possível na
piscina.
Abertura e fecho
das placas
Segurando uma placa em cada mão e utilizando a resistência
da água, o aluno deverá realizar um movimento de abertura e
fecho com os membros superiores.
Batimento das
pernas
Com as mãos apoiadas no bordo da piscina, os alunos
deverão realizar batimento das pernas de forma alternada.
78
No que diz respeito à organização da turma, os exercícios foram
realizados a pares, de modo a integrar todos os alunos no circuito. Dado o tempo
disponível, os alunos percorreram o circuito duas vezes, usufruindo de um
intervalo de 1 minuto e 30 segundos entre as séries. A duração total foi de 16
minutos e 20 segundos na primeira fase de aplicação do circuito, passando a 13
minutos e 40 segundos na segunda metade.
Para dar resposta ao segundo objetivo específico deste estudo, aplicámos
à turma sujeita a este trabalho de condição física através de circuitos de treino
funcional, um questionário adaptado. Este inquérito adaptado de Kobalt (1996),
foi aplicado no final do segundo período (30 de março) e centrou-se na análise
acerca da motivação intrínseca e extrínseca dos alunos quando trabalham
Burpees O aluno deve realizar burpees, pousando o tronco no solo.
Mountain Climbers
O aluno deve aproximar os joelhos, de forma alternada, ao
peito, mantendo a postura corporal adequada. Variante:
apoiar as mãos num nível do espaldar.
Deslocamento
lateral
Num corredor com marcas a diferentes distâncias, o aluno
deverá correr até à primeira marca, voltar à anterior, dirigir-
se à 2ª e assim sucessivamente. O corpo deve estar orientado
para o lado.
Lunge PliométricoUtilizar os braços para controlar o movimento, aproximando o
joelho do solo.
O aluno deve elevar os joelhos, mantendo uma postura
adequada.
Elevação dos
joelhos
Num corredor com marcas a diferentes distâncias, o aluno
deverá correr até à primeira marca, voltar à anterior, dirigir-
se à 2ª e assim sucessivamente. O corpo deve estar orientado
no mesmo sentido.
Deslocamento
antero-posterior
Flexão pliométrica
com abertura e
fecho das mãos.
O aluno deve realizar uma flexão de braços com as mãos à
largura dos ombros, seguida de uma extensão explosiva e
afastando ligeiramente as mãos. Deverá repetir o movimento
e voltar a aproximar as mãos. Variante: joelhos apoiados.
Nome Representação Descrição
Deslocamento
multidirecional
O aluno parte do centro e dirige-se para um dos cones. O
deslocamento é feito sempre com a mesma perna à frente,
do lado correspondente ao deslocamento. O aluno deverá
voltar ao centro antes de se dirigir ao próximo cone.
Quadro 5 - Circuito de exercícios de Treino Funcional de badminton
79
condição física nas aulas de educação física através do método “convencional”
e quando trabalha a condição física através da metodologia associada ao treino
funcional. Este questionário reúne 6 questões sobre cada uma das
metodologias, integrando 27 afirmações às quais os alunos deverão responder
utilizando a escala de Likert. Esta escala varia entre 1 (Discordo Totalmente) e
5 (Concordo Totalmente). O questionário encontra-se no anexo 3.
4.3.5. Apresentação e discussão dos resultados
Inicialmente serão apresentadas as medidas descritivas referentes aos
dois momentos de avaliação do grupo onde decorreu a intervenção do plano
metodológico apresentado anteriormente, comparando os resultados obtidos em
ambas as instâncias. Procede a apresentação da comparação dos resultados
obtidos (momento 1 vs momento 2) no grupo de intervenção.
No quadro 6 constam as medidas descritivas (média, desvio-padrão,
mínimo e máximo) dos resultados obtidos em ambos os momentos da avaliação
da bateria de testes FITSCHOOL (adaptada). Integram ainda os valores de p
(Wilcoxon test) da comparação dos diferentes testes no grupo de intervenção.
Quadro 6 - Apresentação das medidas descritivas (média, desvio-padrão, mínimo e máximo) dos dois
momentos de avaliação da bateria de testes FITSCHOOL (adaptada) e dos níveis de significância entre os
dois momentos.
Legenda: *p≤0.05
Exercícios TRX Bola Plataforma Halter Burpee Corda
Momentos 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2 1 2
N 13
Média 26,77 34,85 17 20,77 14,92 15,62 14,31 17,46 12,62 16,85 59,46 76
Desvio
Padrão 10,402 11,51 4,655 4,799 3,499 4,610 3,093 4,371 3,280 3,997 18,76 26,589
Mínimo 10 15 10 12 11 9 10 7 10 10 35 33
Máximo 44 55 23 26 21 21 20 22 20 22 99 108
P 0,015* 0,003* 0,0609 0,019* 0,003* 0,014*
80
Uma primeira análise dos dados recolhidos permite-nos perceber que em
todos os testes há um aumento positivo da média dos resultados obtidos em
todos os exercícios, do primeiro para o segundo momento de avaliação. Apesar
de em alguns testes o número mínimo ter reduzido (exercício da plataforma, do
halter e do salto à corda), o máximo manteve-se no teste da plataforma e
aumentou em todos os restantes. Tendo em conta que no segundo momento o
material utilizado para este teste (plataforma) foi diferente, levou a que a
dificuldade na realização do exercício fosse maior, e provavelmente tenha
influenciado os resultados. Comparando com os nossos dados com os
recolhidos por Silva (2016) verifica-se também um aumento positivo na média de
quatro dos seis testes realizados. Também no estudo realizado por Coutinho
(2015) há um aumento positivo da média de todos os testes realizados. Nos
estudos realizados por estes autores também se verificam um aumento do
número mínimo em todos os testes. Relativamente ao número máximo, Coutinho
(2015) regista um aumento em todos os testes e Silva (2016) regista um
aumento, com exceção dos testes dos burpees e do salto à corda. Um dado
interessante diz respeito à prestação obtida no teste de kettlebell que nesta
amostra se realizou com um halter. Embora o movimento seja semelhante, os
alunos integrantes nesta amostra obtiveram um desempenho inferior quando
comparado com os estudos realizados pelos autores mencionados. Acreditamos
que o facto de ter sido utilizado um material diferente seja um fator influenciador
do resultado final. Cunha (2015) após uma intervenção durante 31 aulas obteve
também resultados satisfatórios no que diz respeito aos resultados obtidos
utilizando o trabalho de treino funcional como ingrediente das suas aulas numa
turma de ensino secundário. Costa (2016) aplicou um programa durante 7
semanas numa turma do 3º ciclo e também obteve resultados positivos.
Relativamente ao desvio-padrão (variação individual em relação à média),
demonstra a heterogeneidade das capacidades dos alunos que compõe a turma.
Comparando estes dados com os dados recolhidos por Coutinho (2015) e por
Silva (2016) podemos verificar que as turmas do ensino atual integram alunos
com capacidades motoras muito diferenciadas, tornando o ensino da disciplina
81
num verdadeiro desafio. No caso da amostra deste estudo verifica-se que as
medidas do desvio-padrão são menos acentuadas na maioria dos testes.
Os alunos foram avaliados em dois momentos e podemos verificar que
existem diferenças significativas em 5 dos 6 exercícios realizados (exceção do
teste da plataforma de equilíbrio). Isto pode significar que aplicação do protocolo
de condição física com base nos princípios do treino funcional promove
positivamente o desenvolvimento das capacidades físicas dos alunos. No estudo
realizado por Coutinho (2015), aquando a comparação entre o momento inicial
e o momento final dos resultados obtidos nos testes através da bateria
FITSCHOOL do grupo de intervenção, a diferença é significativa em todos os
elementos. Segundo o mesmo autor, embora seja necessário um programa
continuado (superior a 6 semanas), a aplicação do treino funcional nas aulas de
Educação Física traduz-se em melhorias do ponto de vista da aptidão física dos
estudantes.
Na figura 5 e quadro 7 que se seguem estão representadas as diferenças
obtidas entre a média do primeiro momento e a média do momento final da
implementação de cada um dos protocolos realizados pelos autores
mencionados. No teste da bola medicinal e no teste do kettlebell os valores das
respetivas diferenças estão próximos e o mesmo não se verifica nos restantes
testes. Com exceção do estudo apresentado por Silva (2016), no teste dos
burpees e do salto à corda, todos os restantes resultados apresentam aumentos
positivos na performance.
82
Figura 5 - Comparação das diferenças relativamente à média obtida no momento inicial e final de cada
estudo, em cada um dos testes. 1-TRX; 2-Bola Medicinal; 3-Salto à Corda; 4-Burpees; 5-Kettlebell; 6-
Plataforma
Quadro 7 - Apresentação e comparação das médias obtidas nos diferentes estudos
Perante os resultados obtidos por Costa (2016) é interessante verificar
que em alguns testes (TRX, Burpees, Plataforma e Kettlebell) os alunos do 3º
ciclo apresentaram valores inicias e finais (estes últimos com com exceção para
os Burpees) superiores aos alunos do ensino secundário. Este fenómeno ocorre
não somente com este estudo, mas em alguns casos nos estudos apresentados
pelos mesmos autores, como demonstrado na tabela anterior. Nos exercícios
Reis (2017) Cunha (2015) Coutinho (2015) Silva (2016) Costa (2016)
Mom.1 Mom.2 Mom.1 Mom.2 Média
1
Média
2
Média
1
Média
2
Média
1
Média
2
TRX 26,77 34,85 18,72 21,69 21,85 29,59 23,69 24 29,13 35,61
Bola 17 20,77 29,52 33,9 18 23,88 17,54 21,38 15 20,29
Corda 59,46 76 69,03 78,03 40,85 55,53 48,08 45,92 46,96 57,52
Burpees 12,62 16,85 15,03 20,59 13,85 17,53 13,38 13,08 13,52 18,39
Kettlebell 14,31 17,46 18,52 20,72 21,2 26 17,85 19,15 14,65 18,57
Plataforma 14,92 15,62 12,34 21,86 10,95 19,59 8 14,62 15,52 18,91
-5
0
5
10
15
20
0 1 2 3 4 5 6 7
Reis (2017) Cunha (2015) Coutinho (2015)
Silva (2015) Costa (2016)
83
sem carga adicional, ou seja, executados com o peso do corpo, os alunos do 3º
ciclo obtêm valores superiores, ao passo que nos exercícios com carga adicional
já não alcançam uma performance tão elevada. Segundo o modelo Long Term
Athlete Develompent, entre os 11 e os 15 anos há um desenvolvimento da
velocidade nas crianças e jovens. Talvez este factor seja responsável pela maior
velocidade de execução por parte dos alunos do ensino básico, que se traduz
em resultados superiores.
Após a avaliação da performance dos alunos procurou-se perceber se há
diferenças motivacionais entre a metodologia utilizada nos anos transatos
(“treino convencional”) e a metodologia experienciada este ano (“treino
funcional”). Podemos então verificar na tabela 7 os valores médios obtidos em
cada uma das questões, e o nível de significância obtido através do Wilcoxon
test, referente à comparação da motivação intrínsica (parte A) entre o treino
convencional e o funcional
Quadro 8 - Apresentação das medidas descritivas e do nível de significância entre o treino convencional e
o treino funcional, relativamente à motivação intrínseca.
Legenda: *p≤0.05
Questionário Parte A. Motivação Intrínseca
Treino Convencional
Treino Funcional
Wilcoxon test
± σ ± σ p≤0,05
A1. Realizo
os exercícios porque:
1. Gosto dos Exercícios 3,54 ± 0,967 3,77 ± 1,013 0,569
2. Os exercícios dão-me prazer. 2,77 ± 1,166 2,77 ± 1,013 0,66
3. Gosto de melhorar a minha condição física.
4,31 ± 0,630 4,23 ± 0,725 0,317
4. Acho importante desenvolver a minha condição física.
4,15 ± 0,899 4,15 ± 0,987 1
5. Sinto-me melhor fisicamente com a sua realização.
3,92 ± 0,862 3,54 ± 0,967 0,429
A2. Eu gosto destes
exercícios quando:
1. Dedico-me ao máximo. 3,77 ± 0,725 3,85 ± 0,801 0,655
2. Compreendo os benefícios destes exercícios.
3,92 ± 0,760 4,23 ± 0,725 0,206
3. Os exercícios dão-me prazer. 3,08 ± 1,115 2,62 ± 0,961 0,271
4. Consigo ultrapassar os meus limites.
3,85 ± 0,801 3,62 ± 1,044 0,763
5. Movimento o meu corpo. 3,69 ± 0,855 3,54 ± 0,877 0,589
A3. Não gosto destes
exercícios quando:
1. Não consigo realizar o exercício. 3,38 ± 1,121 3,31 ± 1,377 0,777
2. Não sinto prazer na atividade. 2,69 ± 1,032 3,08 ± 1,188 0,212
3. Não encontro benefícios nesta atividade.
2,69 ± 0,947 3,00 ± 1,155 0,271
4.Exercito pouco o meu corpo. 2,77 ± 1,166 2,77 ± 1,092 1
�̅� �̅�
84
Uma análise dos dados recolhidos na primeira parte do questionário,
referente à motivação intrínseca dos alunos para o desenvolvimento da condição
física através das metodologias apresentadas, é possível verificar que não há
diferenças significativas entre as abordagens. De uma forma geral as respostas
assemelham-se nos diferentes itens. Nas 2 primeiras secções os alunos centram
as suas respostas no nível 3 e 4, sendo que na última questão as respostas
descem um pouco na escala utilizada. Perante os resultados apresentados por
Miranda (2014) verifica-se que os resultados apresentados relativamente à
disciplina de educação física são similares para ambas as metodologias.
Na tabela 8 estão referenciados os valores médios obtidos relativamente
a ambas as metodologias, no âmbito da motivação extrínseca (parte B). Estão
ainda representados os níveis de significância obtidos através do Wilcoxon test
na comparação entre o treino convencional e funcional.
Quadro 9 - Apresentação das medidas descritivas e do nível de significância entre o treino convencional e
o treino funcional, relativamente à motivação extrínseca.
Questionário Parte B. Motivação Extrínseca
Treino Convencional
Treino Funcional
Wilcoxon test
± σ ± σ p≤0,05
B1. Realizo os exercícios porque:
1. Faz parte da disciplina. 4,08 ± 0,760 4,46 ± 0,519 0,206
2. Preciso de tirar boa nota. 4,08 ± 0,862 4,31 ± 0,630 0,18
3. Os meus amigos também fazem.
1,92 ± 0,760 1,92 ± 0,862 1
4. O ambiente é positivo. 3,31 ± 1,182 3,62 ± 0,768 0,557
B2. Eu gosto destes exercícios quando:
1. Esqueço outras preocupações.
3,62 ± 1,261 3,15 ± 1,144 0,131
2. O meu professor e colegas reconhecem o meu esforço.
3,00 ± 1,155 3,00 ± 1,000 1
3. Sinto-me integrado no grupo. 3,46 ± 1,198 3,31 ± 0,947 0,317
4. Realizo com os meus colegas. 3,38 ± 0,870 3,62 ± 0,870 0,257
B3. Não gosto destes exercícios quando:
1. Não me sinto integrado no grupo.
2,00 ± 0,816 2,23 ± 1,092 0,18
2. Quando as minhas falhas fazem-me parecer fraco.
2,92 ± 1,320 3,08 ± 1,320 0,317
3. Tiro resultados baixos. 3,08 ± 1,038 3,00 ± 1,000 0,655
4. Os meus colegas gozam comigo.
1,85 ± 0,899 1,77 ± 1,013 0,564
5. Realizo os exercícios sozinho. 2,62 ± 1,502 2,85 ± 1,345 0,518
Legenda: *p≤0.05
�̅� �̅�
85
Analisando as respostas na secção da motivação extrínseca para a
temática abordada, uma vez mais não se verificam diferenças significativas na
comparação das respostas dadas para o “treino convencional” e para o “treino
funcional”. Nas primeiras 2 secções desta parte do questionário as respostas
voltam a rondar os valores 3 e 4 da escala, com exceção da afirmação “Realizo
os exercícios porque os meus amigos também o fazem”. Esta informação torna-
se relevante no sentido de perceber que os amigos poderão ter uma baixa
influência na adesão dos alunos a este conteúdo da aula, e como tal, deve ter
sido em conta nas estratégias adotadas pelo professor. Na última secção os
valores das respostas centram-se nos valores 1 e 2, com destaque para a
afirmação “Não gosto destes exercícios quando tiro resultados baixos” que
obteve uma média em torno do 3. Mais uma vez é um aspecto determinante para
a atuação do professor na aula. Comparando estes resultados com os obtidos
por Miranda (2014), percebemos que a motivação para esta metodoliga é
semelhante àquela que têm para as aulas de educação física, embora por
motivos distintos.
Apesar da resposta “estou na dúvida” ser uma opção muito recorrente ao
longo do questionário, verifica-se que há uma tendência para a motivação para
o desenvolvimento da condição física ser intrínseca, em ambas as metodologias.
4.3.6. Conclusões
Após a aplicação de um programa de treino funcional durante 11
semanas, e recorrendo à mesma bateria de testes no início e no final da nossa
intervenção (FITSCHOOL), foi possível verificar que há diferenças significativas
e positivas no nível da condição física dos alunos em 5 dos 6 testes avaliados.
Assim, com aproximadamente 16 minutos de aula, é possível desenvolver a
condição física dos alunos de uma forma integrada e útil, quer para o quotidiano,
quer em função das modalidades desportivas que foram abordadas ao longo do
ano letivo.
86
Relativamente à motivação dos alunos, não se verificaram diferenças
significativas entre a sua opinião sobre o trabalho de condição física através do
método de “treino convencional” e do método de “treino funcional”, quer a nível
intrínseco, quer a nível extrínseco. O sistema educativo de qualquer país deve
ter como objetivo formar cidadãos da melhor forma possível, procurando
apetrechar os seus alunos das ferramentas que considere mais úteis. Assim
sendo, a promoção de hábitos/rotinas/estilos de vida saudáveis deverá ser uma
preocupação desses mesmos sistemas educativos (Maia et. al, 2001), tornando
a disciplina de educação física num meio predileto para este objetivo que se irá
refletir ao logo da vida dos estudantes. Para além do aspeto da saúde, a
educação física pode ser um espaço representativo da sociedade. A competição,
o respeito pelos colegas (da própria equipa e adversários), o trabalho em equipa,
os valores (esforço, fairplay, entrega) e o cumprimento das regras são alguns
fundamentos que irão encontrar na sua vida adulta, numa sociedade competitiva,
multicultural e com uma legislação a ser cumprida. As aulas de educação física
são fundamentais no desenvolvimento destes conteúdos.
Neste sentido, é da responsabilidade dos docentes ter atenção a que
formas de trabalho são mais apelativas para os alunos. Embora este resultado
não nos dê uma resposta clara sobre que direção tomar enquanto docente, é
importante o professor explorar diferentes opções que permitam os alunos
descobrir prazer na atividade que realizam. Todas esta recolha de informação é
determinante para compreender os motivos e razões que podem incentivar, ou
por outro lado, desmotivar os alunos para a prática. Segundo Vasconcelos e
Maia (2001) há uma estabilização do índice de atividade física total por volta dos
13 e 16 anos (rapazes e raparigas respetivamente) e um decréscimo a partir dos
18/19 anos (rapazes e raparigas respetivamente). Estes dados tornam mais
desafiante o papel da disciplina de educação física no sentido de promover a
motivação intrínseca para o trabalho da condição física, para a aprendizagem
das habilidades desportivas e para o desenvolvimento de valores inerentes ao
desporto.
87
4.3.7 Bibliografia
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93
Parece que terminou mais uma etapa e agora só podemos aguardar pela
próxima. Foram experiências muito ricas, de ansiedade, diversão, nervosismo e
confiança. Na verdade um misto de sentimentos que culminam num trabalho do
qual me orgulho, embora o considere inacabado.
Com as reflexões feitas, os olhos estão postos no futuro e trago comigo
uma bagagem fundamental para o meu futuro profissional. Experimentei, errei,
acertei, fiz confusões e tive atitudes assertivas. O que é certo é que com a ajuda
do PC e da orientadora da faculdade aprendi a refletir melhor sobre a minha
prática. No entanto, foram os alunos que me transmitiram os ensinamentos mais
importantes.
Saber lidar com tantas pessoas e tantas personalidades foi um verdadeiro
desafio e esta a competência social que considero mais importante, quer na
nossa vida pessoal, quer na nossa vida profissional. Miúdos e graúdos,
problemáticos, ou talvez não sejam, encontrar uma semente de motivação em
cada aluno foi desafiador, mas considero que no final de contas o saldo é
positivo.
Levo comigo o carinho dos alunos, o apoio dos docentes e a hospitalidade
da comunidade que envolveu este caminho difícil. Da relação com os meus
colegos reconheço a importância do trabalho em equipa e da colaboração. Se
um professor for praticante destes valores fora do contexto de aula, irá saber
certamente transmiti-los aos alunos. Com este estágio confirmei ainda mais a
minha posição sobre a importância das relações pessoais e a necessidade de
se preocupar com o próximo.
Com a minha veia de perfecionismo obriguei-me a aceitar o erro como
parte da evolução. Não está mal errrar ou mudar de opinião. Pode ser apenas
um sinal de evolução.
Mais desafios se avizinham e agora resta trabalhar, melhorar e aprender
muito.
97
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