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SENTIDOS SOMÁTICOS E SENTIDOS ESPECIAIS Visão Geral da Sensibilidade e das Sensações Consciência da informação sensorial para o SNC – a partir das estruturas associadas com o olfato, a gustação, a visão, a audição e o equilíbrio. Sentidos Especiais - olfato, a gustação, a visão, a audição e o equilíbrio Sentidos Gerais – sentidos somáticos (somat = corpo) e viscerais. o Sentidos Somáticos – sensações táteis, térmicas, sensações de dor, e proprioceptivas o Sentidos Viscerais – informações sobre as condições internas dos líquidos corporais e dos órgãos. Definição de Sensibilidade e Sensação Sensibilidade percepção consciente ou inconsciente das condições externas e internas do corpo e de suas modificações Sensação – impressão física causada por um estímulo. Condições Para Ocorrência de Uma Sensação: Ocorrer um estímulo, ou alteração no ambiente capaz e ativar certos neurônios sensitivos. o Estímulo em forma de luz, calor, pressão, energia mecânica ou energia química. Conversão de um estímulo pelo receptor sensorial em um sinal elétrico, que produz um ou mais impulsos nervosos – sendo suficientemente grande. Impulsos nervosos conduzidos ao longo de uma via nervosa – do receptor sensorial para o encéfalo. Recepção e integração dos impulsos nervosos em uma sensação em uma região do encéfalo. 1

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SENTIDOS SOMÁTICOS E SENTIDOS ESPECIAISVisão Geral da Sensibilidade e das Sensações

Consciência da informação sensorial para o SNC – a partir das estruturas associadas com o olfato, a gustação, a visão, a audição e o equilíbrio.

Sentidos Especiais - olfato, a gustação, a visão, a audição e o equilíbrio Sentidos Gerais – sentidos somáticos (somat = corpo) e viscerais.

o Sentidos Somáticos – sensações táteis, térmicas, sensações de dor, e proprioceptivas

o Sentidos Viscerais – informações sobre as condições internas dos líquidos corporais e dos órgãos.

Definição de Sensibilidade e Sensação Sensibilidade – percepção consciente ou inconsciente das condições

externas e internas do corpo e de suas modificações Sensação – impressão física causada por um estímulo.

Condições Para Ocorrência de Uma Sensação: Ocorrer um estímulo, ou alteração no ambiente capaz e ativar certos

neurônios sensitivos.o Estímulo em forma de luz, calor, pressão, energia mecânica ou

energia química. Conversão de um estímulo pelo receptor sensorial em um sinal elétrico,

que produz um ou mais impulsos nervosos – sendo suficientemente grande.

Impulsos nervosos conduzidos ao longo de uma via nervosa – do receptor sensorial para o encéfalo.

Recepção e integração dos impulsos nervosos em uma sensação em uma região do encéfalo.

Características das Sensações Córtex Cerebral – local onde ocorre a integração das sensações

conscientes ou percepçõeso Impulsos sensitivos chegam a regiões específicas do córtex cerebral

que interpreta a sensação como proveniente dos receptores sensoriais estimulados

Parece que vemos com os olhos, ouvimos com as orelhas e sentimos dor em uma parte lesada do corpo.

o Um dado neurônio sensitivo conduz a informação para apenas um tipo de sensação.

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Tipos de Receptores SensoriaisSentidos Somáticos

Originam-se da estimulação de receptores sensoriais na pele, túnicas mucosas, músculos, tendões e articulações, distribuídos irregularmente.

Sensações Táteis - Tato, pressão, vibração, prurido e cócegas. Tato – resultam da estimulação dos receptores táteis na pele ou na tela.

Subcutâneao Corpúsculos do tato ou corpúsculos de Meissner – localizados nas

papilas da derme da pele desprovida de pêlos. São abundantes nas mãos e nos pés, pálpebras, ápice da

língua, lábios, papilas mamárias (mamilos), clitóris e na glande do pênis.

o Terminações nervosas no folículo piloso – localizam-se em torno do folículo piloso, na pele que contém pêlos.

Detectam os movimentos na superfície da pele que perturba os pêlos.

Pressão – sensação sustentada sentida sobre uma área maior do que o tato.o Corpúsculos do tato, os mecanorreceptores tipo I e os corpúculos

lamelados.(ou corpúsculos de Vater-Pacini) Distribuídos na derme e na tela subcutânea; nos tecidos que

revestem as túnicas mucosas e serosa; em torno das articulações, tendões e músculos; no periósteo; nas glândulas mamárias, órgãos genitais externos e certas vísceras (pâncreas e a bexiga urinária)

Vibração – sinais sensoriais de repetição rápida dos receptores táteis.o Corpúsculos do tato e os corpúsculos lamelados.

Corpúsculos de tato podem detectar as vibrações de freqüência mais baixa.

Corpúsculos lamelados detectam as vibrações de freqüência mais alta.

Pruridoo Estimulação por certas substâncias químicas, como a bradicinina,

como conseqüência de uma resposta inflamatória local. Cócegas – surgem tipicamente apenas quando alguém o toca, não quando

a pessoa se toca.

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Sensações Térmicas Os termorreceptores são terminações nervosas livres. Sensação térmicas distintas – calor e frio

o Mediados por receptores distintoso Ativação receptores frio localizados na epiderme – 10 – 40 C.o Ativação receptores quente localizados na derme – 32 – 48 C.o Temperaturas abaixo de 10 e acima de 48 C – estimulam

principalmente os nociceptores (sensação de dor).Sensação de Dor

Nociceptores (noci- = nocivo) – receptores sensoriais de dor.o Encontrados em praticamente todos os tecidos do corpo, exceto

encéfalo, e respondem a vários tipos de estímuloso Produção da sensação de dor:

A estimulação excessiva dos receptores sensoriais, a distensão excessiva de uma estrutura, as contrações musculares prolongadas, o fluxo sangüíneo inadequado para um órgão ou a presença de certas substâncias químicas, podem produzir a sensação de dor.

Sensações Proprioceptivas Informam, consciente e inconscientemente, o grau de contração dos

músculos, a tensão presente nos tendões, a posição das articulações e a orientação da cabeça.o Cinestesia (kin-=movimento; -esthesia = percepção) – percepção

dos movimentos corporais – permite caminhar, digitar ou vestir sem usar os olhos

o Sensações proprioceptivas Estimar o peso de objetos Determinar a quantidade de esforço para realizar uma tarefa.

o Localização dos Proprioceptores Nos músculos esqueléticos (fusos musculares) Nos tendões (fusos neurotendinosos ou órgão tendinosos de

Golgi) Nas articulações sinoviais e em torno delas (receptores

cinestésicos articulares) Na orelha interna (células ciliadas)

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Sentidos EspeciaisOlfação: Sentido do Olfato

O nariz contém de 10 milhões a 100 milhões de receptores para o sentido do olfato (olfactu= cheirar)o A olfação é o exercício do olfato, a ação de cheirar.

Receptores Olfatórios individuais respondem a centenas de moléculas odoríferas diferentes produzem sinais elétricos desencadeiam um ou mais impulsos nervosos.

Gustação: Sentido do Gosto Órgãos das sensações gustativas: papilas veladas da língua Gosto ou gustação (gustu = gosto, sabor)

o Cinco sabores primários – ácido, doce, amargo, salgado e umami (picante)

o Receptores localizados nos calículos gustatórios (botões gustativos)o Substâncias para serem saboreadas devem estar dissolvidas na

saliva.Visão

Órgãos da visão olho e órgãos acessórios; vias ópticas e centros ópticos encefálicos.

Primeira etapa da visão absorção dos raios luminosos dos fotorreceptores

Audição e Equilíbrio (órgão estato-acústico ou vestíbulococlear) Orelhas externa, média e interna. Equilíbrio Estático – orientação do corpo em relação à força da

gravidade. Equilíbrio Dinâmico – manutenção da posição do corpo em resposta à

rotação, aceleração e desaceleração.Referência:DANGELO, J. G. FATTINI, C. A. Anatomia Humana Sistêmica e Segmentar. 3ª Ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2007.TORTORA, G. J. GRABOWSKU, S. R.. Corpo Humano: fundamentos de anatomia e fisiologia. 6ª Ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

O olfato é o mais primitivo dos cinco sentidos, uma vez que o rinencéfalo (rhino, nariz, en, dentro, cephalos, cabeça), que contém as estruturas responsáveis pelas sensações do olfato e do paladar e pelo controle de funções vegetativas, faz parte do paleocéfalo. Diretamente associados ao sistema límbico, que controla as respostas emocionais do indivíduo, os odores promovem reações instintivas muito fortes – normalmente respostas binárias, como sim ou não (atração ou repulsão). O olfato é menos desenvolvido nos humanos do que em outros animais, como os cães, que por isso são empregados na detecção de substâncias químicas proibidas em locais públicos e em meios de transporte.

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O paladar é o sentido do sabor dos materiais que entram em contato com as papilas gustativas localizadas na língua. É um sentido extremamente associado ao olfato; muitas vezes, quando estamos com esse sentido comprometido (por exemplo, durante uma gripe), fica alterada a sensação do sabor dos alimentos. Tanto o olfato quanto o paladar podem ser classificados como sentidos químicos, porque ocorre uma interação direta entre as substâncias químicas e os receptores presentes no nariz e na língua.

A visão é, na verdade, um conjunto de dois sentidos: o sentido de percepção da cor e o sentido da percepção da luminosidade. Ainda que não seja um sentido químico, por não haver interação entre substâncias químicas e receptores protéicos específicos, este sentido depende das propriedades eletrônicas dos compostos presentes naquilo que é visto, pois estas irão determinar as propriedades de absorção de radiação luminosa desses objetos e, conseqüentemente, irão determinar as propriedades da radiação que emitem ou refletem – que é o que os olhos detectam.

O tato é um sentido de mecanocepção, ou seja, de percepção de estímulos mecânicos, especialmente de pressão, sobre o maior órgão do corpo humano: a pele. Existem diversos tipos de receptores do tato, cada qual capaz de diferenciar sensações específicas, como toques leves e toques fortes, entre outros. Há ainda a percepção de temperatura, com receptores específicos para as sensações de calor e frio. Embora classicamente incluída no sentido do tato, esta percepção de temperatura é hoje considerada um sentido diferente, a termocepção.

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Assim como a visão e o tato, a audição é um sentido físico, ou seja, independe da interação entre moléculas e receptores no organismo. Ela consiste na percepção da alteração da pressão que as ondas mecânicas do som fazem sobre membranas presentes nas estruturas dos ouvidos. O som também é percebido pelo sentido do tato; sons que não

estimulam a audição humana (fora da faixa entre 9 a 22.000 Hz) podem ser percebidos pelo sentido da mecanocepção.Atualmente, essa definição clássica de cinco sentidos é contestada. Nos humanos, por exemplo, existem outros sentidos, como a nocicepção (percepção da dor) e a propiocepção, que é a percepção de seu próprio corpo e da localização espaço-temporal de cada uma de suas partes. Outros animais possuem sentidos inexistentes em humanos, como a magnetocepção (percepção do campo magnético terrestre), de aves e insetos, e a eletrodetecção (percepção de campos elétricos), encontrada em peixes e em mamíferos da ordem Monotrêmata, como o ornitorrinco.Imagens: http://www.musee-moyenage.fr/homes/home_id20393_u1l2.htm

Os sentidos do paladar e do olfato, como você viu, são sentidos químicos, ou seja, dependem da interação de moléculas com receptores neuronais específicos. Dessa forma, as sensações obtidas por esses sentidos são fortemente dependentes das estruturas e das propriedades físico-químicas das moléculas que irão ativá-los.Em relação ao olfato, a principal propriedade físico-química a ser estudada é a volatilidade dos componentes do objeto que está sendo cheirado. Essa propriedade está diretamente relacionada às interações entre as moléculas dessas substâncias, de forma a permitir a passagem do estado líquido ou do estado sólido para a fase gasosa (evaporação e sublimação, respectivamente) e ser carreado pelo ar até os bulbos olfativos no interior do nariz.

Evaporação (http://www.flickr.com/photos/oldonliner/436326382/)e

Sublimação (http://www.flickr.com/photos/slice/464646935/)

No sentido do paladar, a principal propriedade físico-química envolvida é a solubilidade em água, que representa a capacidade das moléculas de uma substância de formar interações com moléculas de água (interações soluto-solvente) às custas das interações entre as moléculas dessa mesma substância (interações soluto-soluto) e entre moléculas do solvente.

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Assim, para compreender como certas moléculas conseguem ativar esses sentidos e outras não, é preciso compreender essas interações intermoleculares. As mais importantes – e que iremos discutir aqui – podem ser enquadradas em três categorias:

1.Ligações hidrogênio2.Interações dipolo-dipolo3.Forças de van der Waals

Outras interações menos discutidas são variações das interações do tipo dipolo-dipolo, como a íon-dipolo e os complexos de transferência de carga, também chamados de interações do tipo π-stacking (a tradução literal seria empilhamento de sistemas π), em que um anel aromático, normalmente ligado a um grupo eletrodeficiente (R2), funciona como dipolo positivo, e então forma uma interação dipolo-dipolo com outro anel aromático ligado a um grupo doador de elétrons (R1), porém de alta densidade eletrônica e que atua como dipolo negativo. Esse tipo de interação é muito importante no meio biológico, pois possibilita a interação entre os anéis aromáticos presentes nas estruturas de diversos fármacos e os anéis aromáticos de resíduos de aminoácidos como a tirosina e o triptofano.

Após a divisão dos grupos, trabalhamos o sentido da audição, explicando toda a parte teórica relacionada à biologia e à física. Na prática, trabalhamos todo o sentido de equilíbrio dos alunos demonstrando como a privação dos sentidos e dependência apenas de um influencia o equilíbrio. Logo em seguida, trabalhamos o sentido da visão, explicando teoricamente como enxergamos e as deficiências na visão das cores. Na prática, utilizamos uma caixa com três lâmpadas com as 3 cores primárias de luz, para demonstrar a mistura das cores, e provar que qu luz branca que vem do sol é formada pelas 7 cores do arco-íris. Após a visão trabalhamos o sentido do tato, explicando sobre os corpúsculos que existem na pele e são responsáveis pelas sensações de quente e frio e de pressão. Na prática pedimos aos alunos que, vendados, identifiquem certas “peças” através do tato. Em seguida trabalhamos o paladar, explicando aos alunos as 4 regiões da língua e como recebemos as informações adquiridas nas células gustativas. Na prática, os alunos identificaram os sabores dos alimentos colocados em sua boca, enquanto estes se encontram vendados e com obstrução do canal olfativo. Finalmente terminamos a oficina com o sentido do olfato, começando com a correlação do olfato com a capacidade de sentir o gosto das coisas. Na parte química, explicamos como o cheiro é sentido e porque certas coisas têm ou não cheiro. Passamos também pela parte de aromas artificiais, explicando o trabalho do químico no desenvolvimento de tais substâncias. Na prática, desenvolvemos a síntese do acetato de isoamila (óleo de banana) com os alunos. Durante o período da prática, citamos algumas vidrarias de laboratório e seu uso, comentamos sobre segurança em laboratório e utilidades do produto formado.Mais adiante, quando discutirmos a constituição da matéria, voltaremos à relação entre os níveis macroscópico e microscópico. Por hora, o mais importante é despertar a curiosidade que naturalmente trazemos conosco. Uma das nossas primeiras sensações no nascimento é que o mundo é cheio de coisas, cheio de matéria. A química tenta responder às perguntas sobre a natureza da matéria. Percebemos de maneira intuitiva as transformações químicas e físicas. Somos sensíveis aos fenômenos como a luz, o calor (temperatura), a distância, o tempo, a força e quando uma combinação destes fenômenos age sobre a matéria, esta matéria é modificada de algum modo. Quando cortamos um pedaço de queijo, o produto resultante possui as mesmas propriedades: sabor, cor, textura... os pedaços cortados são do mesmo tipo de queijo, apesar de serem mais leves e mais fácil de serem comidos. Porém, após certo tempo, o sabor e

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a cor podem se alterar, e o queijo já não é o mesmo: se estragou. Uma vez comido, o queijo interage de diversas formas com nosso organismo para fornecer nutrientes e também energia. Por que tudo isso acontece? Pense sobre isso e iniciaremos o entendimento do Universo através das lentes da química.

Visão, audição, paladar, tato e olfato. Quando crianças, nós aprendemos sobre os cinco sentidos e que os utilizamos para perceber o mundo à nossa volta. Cores, cheiros, sabores, gostos, sons, calor, frio, sensações táteis, enfim, somos bombardeados por estímulos ambientais o tempo todo e o que nos difere de outros animais é a nossa capacidade de interpretar esses estímulos e dar-lhes significado. Aliás, o significado dos eventos vivenciados e memorizados no curso de nossas vidas somente têm sentido graças às emoções a eles associadas.Sempre encontro pessoas que me perguntam sobre minha profissão e que se surpreendem com uma profissão um tanto fascinante, mas ainda desconhecida: a Análise Sensorial. Daí, procuro usar minha habilidade de professor e explicar o que faço e sua aplicabilidade. Então, vamos lá, o que afinal é isso?

A Análise Sensorial é definida como a disciplina científica usada para evocar, medir, analisar e interpretar as impressões causadas por alimentos e materiais nos órgãos dos sentidos. Note que há uma referência aos alimentos porque a Análise Sensorial originalmente surgiu na indústria alimentos e bebidas nas primeiras décadas do século XX. Porém, tem havido nos últimos anos um crescente interesse de outros segmentos industriais pelos métodos sensoriais, segmentos como personal care, cosméticos, fármacos, papel, têxteis e até automóveis e aeronaves. E por quais motivos? Os que já bem conhecemos: desenvolver produtos que satisfaçam as expectativas e preferências dos consumidores e garantir um determinando padrão de qualidade dos mesmos. Antes de apresentar os métodos da Análise Sensorial, creio ser necessário tratar ainda de sua conceituação. Sendo uma disciplina, a Análise Sensorial segue o método científico, ou seja, o caminho sistemático para estudar um fenômeno. Neste sentido, um método sensorial adequado deve atender a uma questão formulada sobre tal fenômeno (por exemplo, há diferença geral entre os produtos? Em que atributos eles são similares e diferentes? Há preferência?), ser descrito e reprodutível, propor uma hipótese, ser controlado para testar a validade dessa hipótese e ter uma forma de análise apropriada dos dados obtidos. A interpretação dos dados é a busca das causas do fenômeno observado, o que permite as conclusões e formulações de novas hipóteses. Isso tudo pode parecer um tanto “acadêmico”, mas é exatamente o que um analista faz em sua rotina laboratorial. Ao evocar o método científico, minha intenção é desvincular a Análise Sensorial daquelas cenas típicas de comerciais de televisão nos quais as pessoas tentam adivinhar qual é a marca da cerveja que estão tomando ou dos “testes cegos” com pessoas vendadas degustando presunto. Na verdade, essas cenas são criações de publicitários no intuito de aumentar a dramaticidade e o poder de convencimento de suas mensagens! Acabei de mencionar “adivinhação” e “testes cegos” e isto me conduz a outras questões cruciais em Análise Sensorial: sua base científica psicofísica e psicológica e a forte base estatística no delineamento experimental e a análise dos dados. O delineamento experimental

é a atuação planejada do experimentador, ou seja, como ele aplica um teste sensorial corretamente para obter os dados que necessita. 

Há vários fatores de ordem fisiológica e psicológica que podem influenciar as respostas dos sujeitos de um teste sensorial, além de variáveis ambientais como

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iluminação, temperatura e umidade relativa, odores e ruídos da área de testes. A forma como as amostras são apresentadas (quantidade, forma de preparo, temperatura de serviço etc) também representam fontes de variação. Por isso, testes sensoriais normalmente são realizados em laboratórios ou áreas que ofereçam o mínimo de conforto e controle das condições ambientais adequadas. E quanto aos testes serem cegos, isto significa que sempre codificamos as amostras de forma que os avaliadores não saibam a marca ou tenham informação demasiada sobre o teste. Assim, não se criam expectativas, nem se estimulam as respostas. Quanto ao método a ser aplicado, o experimentador deve ter definido o que ele quer avaliar, a questão central do teste.  Há três grupos de métodos sensoriais com diferentes aplicações e frequentemente encontro profissionais utilizando-os de forma equivocada. Eis os métodos:Métodos de diferença: São testes com duas amostras (comparação pareada, duotrio, triangular) ou mais (dois-em-cinco, ordenação, diferença-do-controle) utilizados em situações nas quais o experimentador deseja simplesmente saber se existe diferença entre as amostras, de forma global ou direcionada (cor, sabor, aroma etc). Alguns destes testes são simples, rápidos e necessitam de apenas alguns indivíduos selecionados, como os testes de comparação pareada e o triangular. Já o teste de diferença-do-controle usa uma escala para medir o grau de diferença entre a amostra-teste e uma amostra controle sendo, portanto, um teste mais informativo e mais apropriado a controle de qualidade ou estudos de shelf-life (tempo de validade de um produto). Métodos descritivos: são métodos que descrevem e quantificam similaridades e diferenças entre produtos. A Análise Descritiva Quantitativa (ADQ), o Perfil de Textura e o Perfil Livre são exemplos desses métodos. Necessitam de equipes de avaliadores selecionados e treinados, podendo-se utilizar glossários de termos descritivos já estabelecidos (e seus materiais de referência) ou deixar que o próprio avaliador crie seu vocabulário descritivo. A estatística – uni ou multivariada – é fundamental na análise dos dados oriundos de métodos descritivos, desde a seleção da equipe  de avaliadores até a geração de perfis e mapas sensoriais. Os métodos descritivos encontram aplicação em garantia de qualidade, P&D e benchmarking (processo de comparação de sistemas ou processos) e seus resultados podem ser correlacionados com medidas instrumen- tais e dados de consumidores, por exemplo, para estabelecer os atributos-chave em controle de qualidade. Métodos afetivos: são realizados com consumidores, em laboratórios, em outros locais onde se encontra o mercado de interesse ou mesmo no próprio domicílio do consumidor. Os testes afetivos avaliam o grau de aceitabilidade (escalas hedônicas) ou a preferência (escolha forçada, como pareado e ordenação) entre dois ou mais produtos. Em pesquisa de mercado, é comum associar medidas de atitude e intenção de compra aos testes afetivos. Pelo exposto, cada tipo de método tem uma filosofia diferente e necessita de avaliadores selecionados e/ou treinados ou consumidores. A seleção e treinamento de avaliadores sensoriais é um fator especialmente crítico em algumas situações, como controle de qualidade de insumos ou produtos acabados, uma vez que deverão aprender parâmetros sensoriais de qualidade – chamados atributos-chave – e utilizá-los para julgar o nível de qualidade do produto, liberando ou não o produto para o mercado.  Por outro lado, testes afetivos requerem consumidores que, via de regra, não têm conhecimento técnico sobre o produto, a não ser experiência, expectativas e preferências. Testes com consumidores devem ser bem delineados sob o risco de não se avaliar o produto pelo consumidor que realmente interessa, ou seja, o mercado-alvo. Tendo-se escolhido o teste e coletado os dados é necessário utilizar uma técnica estatística apropriada para analisá-los. Um bom analista sensorial deve conhecer os métodos estatísticos básicos, bem como a natureza dos dados obtidos. Dados categóricos e ordinais exigem estatísticas não-paramétricas, enquanto os dados de razão e intervalo são analisados através de métodos paramétricos. Infelizmente, a Estatística ainda é um desafio para alguns profissionais, o que inibe o uso de métodos sensoriais em seu cotidiano na indústria e mesmo na academia. 

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Outro desafio é o uso de métodos estatísticos multivariados que possibilitam estudar a relação entre variáveis sensoriais e instrumentais e buscar relações entre elas. Mapas de preferência, análise fatorial, análise de regressão múltipla são alguns exemplos de técnicas estatísticas multivariadas. 

Finalmente, a interpretação dos resultados de uma avaliação sensorial depende dos conhecimentos do analista sobre o(s) produto(s). Há uma interpretação estatística, ou seja, se diferenças significativas existem e qual hipótese é aceita. Mas também há a interpretação à luz da composição, da tecnologia e de outras características do material avaliado. Sempre recomendo que o experimentador não seja um mero “aplicador de testes”, mas que se envolva no projeto e, como um investigador, tenha o máximo de informação sobre os produtos para delinear um teste que tenha validade e interpretar coerentemente os resultados. Qual a relação entre aQuímica e a Análise Sensorial? Imaginemos um vinho tinto que se encontra à venda no mercado. Do ponto de vista químico, podemos defini-lo como uma solução de álcool etílico em água entre 10% e 13%. Podemos, também, tratá-lo como uma mistura de vários componentes como água, alcoóis, ácidos carboxílicos, hidrocarbonetos, cetonas, ésteres, aldeídos, compostos polifenólicos, minerais etc. Podemos, ainda, descrever suas propriedades físico-químicas como densidade e pH. Enfim, conseguimos caracterizá-lo física e quimicamente através de métodos ditos “objetivos” e neste caso obteremos números com um certo significado. Agora, vamos tomar o vinho, degustá-lo. Podemos percebê-lo e caracterizá-lo como ácido, suave ou doce, com sabor alcoólico, adstringente, de cor vermelha (púrpura, tijolo, clara, escura etc.), aroma frutado, herbáceo, amadeirado. “Ligeiro de boca” (isso é com os enólogos!) ou denso. A descrição sensorial é tida por alguns como subjetiva, já que depende da acuidade e pode variar de pessoa a pessoa (Cuidado: equipes treinadas em atributos bem definidos e referenciados atuam como verdadeiros aparelhos!). O que temos nesta segunda descrição do vinho, a sensorial? Simplesmente uma tradução da composição química e características físicas da bebida em percepções sensoriais. Percebemos as cores vermelhas e não comprimentos de onda. O trânsito de prótons através das membranas das células gustativas não dão uma medida de pH, mas de gosto ácido e sua intensidade. O sabor característico do vinho é um fenômeno químico complexo resultante da interação de substâncias voláteis (os aromas), dos gostos e de sensações provocadas pelo álcool, ácidos, polifenóis, entre outros, na mucosa bucal. Olfato e gustação são, por definição, sentidos químicos! A analogia acima pode ser feita com outros produtos cujas propriedades sensoriais são importantes na qualidade percebida. A textura de um creme cosmético, a fragrância de produtos de higiene e limpeza, a sensação térmica proporcionada pelo vestuário ou em um ambiente climatizado, enfim, tudo o que percebemos através dos sentidos e influenciam a avaliação de qualidade, aceitação e conforto. Em alguns casos, a legislação menciona atributos sensoriais entre os padrões de qualidade e identidade de um produto. Resumindo, com a Química estudamos a composição da matéria, suas qualidades primárias dadas à razão. Com a Análise Sensorial, avaliamos formalmente um produto através das impressões que nos causam, ou seja, suas características secundárias, derivadas das primárias dadas aos sentidos. Assim, vejo a Química e Análise Sensorial como uma relação entre razão e sensibilidade.

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