sentido da vida

5
Livro: Man`s Search for Meaning “Entre o estímulo e a resposta, o homem tem a liberdade de escolha.” (Viktor Frankl) O doutor Viktor Frankl teve sua família inteira – à exceção de sua irmã – morta nos campos de concentração nazistas. Tamanho sofrimento não o impediu de escolher um caminho que desse sentido para sua vida, inclusive para todo esse sofrimento. A liberdade essencial que os seres humanos possuem é justamente a de escolher a atitude diante das circunstâncias encontradas na vida, por mais negativas que estas possam ser. No famoso livro Man`s Search for Meaning, Frankl faz um relato de sua experiência nos campos de concentração, assim como apresenta os principais pontos da logoterapia, sua criação psicoterapêutica cuja essência é justamente a busca do sentido existencial de cada indivíduo. A seguir, pretendo pular os detalhes dos horrores infringidos aos prisioneiros de Auschwitz, para tentar resumir a essência do pensamento de Frankl, cuja mensagem pode ser muito útil num mundo repleto de niilismo. Diante das circunstâncias mais absurdas possíveis, Frankl compreendeu que a intensificação da vida interior ajudava o prisioneiro a fugir do vazio, da desolação e da pobreza espiritual de sua existência naquele inferno, onde sobreviver muitas vezes parecia uma péssima opção. Aqueles que se deixavam consumir pela apatia e pela sensação de que o mundo não faz sentido, após ser vítima de tanta injustiça e crueldade, costumavam durar menos. A postura diante daquelas terríveis circunstâncias fazia toda a diferença do mundo, tanto nas chances de sobrevivência como na forma de morrer – com ou sem dignidade. O que Frankl compreendeu foi que, mesmo rumo à morte provável, ele poderia ao menos dar algum sentido àquilo tudo. Sendo ele médico, ajudar os companheiros seria um propósito bem melhor do que simplesmente vegetar ou abandonar quaisquer esperanças de sair dali. Claro que não é fácil tomar tal decisão, e o próprio Frankl lembra que, para julgar os demais, é preciso sinceramente tentar se colocar em seus lugares e perguntar se acha que faria diferente. Nessas circunstâncias mais extremas é que o verdadeiro caráter dos homens é testado. Seus valores mais básicos são colocados em dúvida, sob a influência de um mundo que não mais reconhece a vida humana e sua dignidade como valores. Mas se o homem não luta contra isso num último esforço de salvar seu respeito próprio, ele perde o sentimento de ser um indivíduo, um ser com uma mente, uma liberdade interior e um valor pessoal. Frankl afirma que “é muito difícil para alguém de fora compreender quão pouco valor era colocado na vida humana no campo”. Podemos apenas imaginar, já que aquelas pessoas eram tratadas como porcos. Neste ambiente, manter a individualidade deve ser uma tarefa hercúlea mesmo. No entanto, o fato é que alguns conseguiram, e isso faz toda a diferença. As experiências nos campos de concentração mostraram que o homem é capaz de escolher mesmo nas situações mais aberrantes. Frankl conclui que o homem “pode preservar um vestígio de liberdade espiritual, de independência da mente, mesmo em tais circunstâncias terríveis de estresse psíquico e mental”. Tudo pode ser retirado do homem, menos uma coisa: sua liberdade de escolher a atitude em qualquer circunstância. Fundamentalmente, qualquer homem pode decidir o que será de si em termos mentais e espirituais. Ele pode manter sua dignidade mesmo no campo de concentração. E é justamente essa liberdade espiritual, segundo Frankl, que transforma a vida em algo com sentido, com um propósito. Ninguém pode tirar isso do indivíduo. O prisioneiro tinha diante de si uma oportunidade e um desafio. Era possível transformar aquele sofrimento numa vitória de sua força interior, utilizar aquelas experiências todas para seu crescimento pessoal, ou então ignorar o desafio e vegetar até morrer. Encontrar sentido no sofrimento foi a grande descoberta de Frankl. Viver significa sofrer também. E se a vida tem um sentido, então o sofrimento também deve ter. Frankl escolheu usar seu próprio sofrimento para se tornar uma pessoa melhor, para crescer por dentro. Transformar uma tragédia num triunfo pessoal pode ser um caminho para o sentido da vida. A frase de Nietzsche, “aquele que tem um porque viver pode agüentar quase qualquer como viver”, é repetida com freqüência no livro de Frankl. Ao encontrar uma razão para viver, o homem parece disposto a encarar quase qualquer forma de vida. Esse motivo pode ser o amor por alguém, uma obra a ser realizada, ou qualquer meta que faça o indivíduo desejar

Upload: marcus-lima

Post on 02-Jul-2015

80 views

Category:

Documents


3 download

TRANSCRIPT

Page 1: sentido da vida

Livro: Man`s Search for Meaning

 

“Entre o estímulo e a resposta, o homem tem a liberdade de escolha.” (Viktor Frankl)

O doutor Viktor Frankl teve sua família inteira – à exceção de sua irmã – morta nos campos de concentração nazistas. Tamanho sofrimento não o impediu de escolher um caminho que desse sentido para sua vida, inclusive para todo esse sofrimento. A liberdade essencial que os seres humanos possuem é justamente a de escolher a atitude diante das circunstâncias encontradas na vida, por mais negativas que estas possam ser. No famoso livro Man`s Search for Meaning, Frankl faz um relato de sua experiência nos campos de concentração, assim como apresenta os principais pontos da logoterapia, sua criação psicoterapêutica cuja essência é justamente a busca do sentido existencial de cada indivíduo. A seguir, pretendo pular os detalhes dos horrores infringidos aos prisioneiros de Auschwitz, para tentar resumir a essência do pensamento de Frankl, cuja mensagem pode ser muito útil num mundo repleto de niilismo.

Diante das circunstâncias mais absurdas possíveis, Frankl compreendeu que a intensificação da vida interior ajudava o prisioneiro a fugir do vazio, da desolação e da pobreza espiritual de sua existência naquele inferno, onde sobreviver muitas vezes parecia uma péssima opção. Aqueles que se deixavam consumir pela apatia e pela sensação de que o mundo não faz sentido, após ser vítima de tanta injustiça e crueldade, costumavam durar menos. A postura diante daquelas terríveis circunstâncias fazia toda a diferença do mundo, tanto nas chances de sobrevivência como na forma de morrer – com ou sem dignidade. O que Frankl compreendeu foi que, mesmo rumo à morte provável, ele poderia ao menos dar algum sentido àquilo tudo. Sendo ele médico, ajudar os companheiros seria um propósito bem melhor do que simplesmente vegetar ou abandonar quaisquer esperanças de sair dali.

Claro que não é fácil tomar tal decisão, e o próprio Frankl lembra que, para julgar os demais, é preciso sinceramente tentar se colocar em seus lugares e perguntar se acha que faria diferente. Nessas circunstâncias mais extremas é que o verdadeiro caráter dos homens é testado. Seus valores mais básicos são colocados em dúvida, sob a influência de um mundo que não mais reconhece a vida humana e sua dignidade como valores. Mas se o homem não luta contra isso num último esforço de salvar seu respeito próprio, ele perde o sentimento de ser um indivíduo, um ser com uma mente, uma liberdade interior e um valor pessoal. Frankl afirma que “é muito difícil para alguém de fora compreender quão pouco valor era colocado na vida humana no campo”. Podemos apenas imaginar, já que aquelas pessoas eram tratadas como porcos. Neste ambiente, manter a individualidade deve ser uma tarefa hercúlea mesmo. No entanto, o fato é que alguns conseguiram, e isso faz toda a diferença.

As experiências nos campos de concentração mostraram que o homem é capaz de escolher mesmo nas situações mais aberrantes. Frankl conclui que o homem “pode preservar um vestígio de liberdade espiritual, de independência da mente, mesmo em tais circunstâncias terríveis de estresse psíquico e mental”. Tudo pode ser retirado do homem, menos uma coisa: sua liberdade de escolher a atitude em qualquer circunstância. Fundamentalmente, qualquer homem pode decidir o que será de si em termos mentais e espirituais. Ele pode manter sua dignidade mesmo no campo de concentração. E é justamente essa liberdade espiritual, segundo Frankl, que transforma a vida em algo com sentido, com um propósito. Ninguém pode tirar isso do indivíduo. O prisioneiro tinha diante de si uma oportunidade e um desafio. Era possível transformar aquele sofrimento numa vitória de sua força interior, utilizar aquelas experiências todas para seu crescimento pessoal, ou então ignorar o desafio e vegetar até morrer. Encontrar sentido no sofrimento foi a grande descoberta de Frankl. Viver significa sofrer também. E se a vida tem um sentido, então o sofrimento também deve ter. Frankl escolheu usar seu próprio sofrimento para se tornar uma pessoa melhor, para crescer por dentro. Transformar uma tragédia num triunfo pessoal pode ser um caminho para o sentido da vida.

A frase de Nietzsche, “aquele que tem um porque viver pode agüentar quase qualquer como viver”, é repetida com freqüência no livro de Frankl. Ao encontrar uma razão para viver, o homem parece disposto a encarar quase qualquer forma de vida. Esse motivo pode ser o amor por alguém, uma obra a ser realizada, ou qualquer meta que faça o indivíduo desejar continuar vivo, assumir a responsabilidade por sua existência e dar sentido a ela. Quem tem consciência do porque de sua existência, pode suportar quase qualquer coisa. Para Frankl, existem duas “raças” diferentes de pessoas: aquela de pessoas decentes e aquela de pessoas indecentes. Existem os dois tipos nos diferentes grupos da sociedade. A postura diante da vida, e também do sofrimento que dela faz parte, separa o joio do trigo.

De acordo com a logoterapia desenvolvida por Frankl, a busca pelo sentido da vida é a principal força motivacional dos indivíduos. O desejo de encontrar o sentido da vida contrasta com o desejo pelo puro prazer ou o desejo pelo poder. Alguns autores acreditam que esse sentido e os valores não passam de “mecanismos de defesa” do homem. Mas como o próprio Frankl coloca, ele não estaria disposto a viver apenas por conta dos seus “mecanismos de defesa”. Os homens são capazes de viver e mesmo morrer por causa de seus ideais e valores! Frankl considera o imperativo categórico da logoterapia a máxima “viva como se você estivesse vivendo já pela segunda vez e como se você tivesse agido da primeira vez tão errado como você está para agir agora”. Essa idéia desperta o senso de responsabilidade individual, convidando a pessoa a encarar o presente como um passado e, depois, compreender que esse “passado” ainda pode ser alterado. Quantas atitudes erradas nós podemos deixar de praticar através deste exercício simples!

Page 2: sentido da vida

O que incomodava Frankl na época em que o livro foi escrito, em 1946, ainda é relevante atualmente: o vácuo existencial que se tornara uma doença coletiva. No fundo, uma forma de niilismo, onde nada na vida parece ter qualquer sentido. Esse “fatalismo neurótico” é fortalecido por todas as crenças que negam a liberdade do homem. Claro que a vida é finita, e a liberdade é restringida por vários fatores externos. Não temos liberdade das condições, mas temos liberdade de reagir diante das condições. O homem não existe apenas, ele decide o que será de sua existência. Todo mundo tem a liberdade para mudar a qualquer instante. É uma questão de escolha, mesmo que graus distintos de dificuldade se apresentem por conta do ambiente. Um câncer terminal pode não ser mudado, mas podemos mudar como vamos enfrentá-lo. Os homens não são como máquinas. Aquilo que ele se torna, ele fez de si próprio!

A frustração existencial leva a todo tipo de fuga. Cabe a cada um decidir enfrentar os obstáculos e encontrar o sentido de sua própria vida. O mundo não é uma piada sem sentido, como os niilistas dizem. A forma como escolhemos agir faz toda a diferença no que somos. Freud acreditava que todos agiriam de forma uniforme diante da fome, com uma expressão igual de desespero por comida. Freud foi felizmente poupado do terror dos campos de concentração. Viktor Frankl não. E sua experiência pessoal mostra justamente o oposto: as diferenças individuais não desapareceram diante da fome extrema, criando uma reação uniforme; ao contrário, as pessoas se tornaram mais diferentes, suas máscaras caíram, “tanto dos suínos como dos santos”. Aqueles que conseguem reagir de forma digna mesmo diante de calamidades terríveis serão sempre minoria. Mas devemos lutar justamente para fazer parte desta minoria. Devemos dar o melhor de nós mesmos para viver com sentido, e não apenas sobreviver como máquinas vazias.

2

Viktor Emil Frankl, nasceu em Viena em 26 de março de 1905 e morreu em 02 de setembro de 1997. Doutor em medicina e psiquiatria, foi professor de Neurologia e psiquiatria na Universidade de Viena e de Logoterapia na Universidade Federal da Califórnia, entre outras, e foi conferencista, inclusive no Brasil.Em seu livro “Em busca de Sentido”, Frankl relata o drama vivido com milhares de outros prisioneiros dos campos de concentração nazistas. Foram torturados física e psicologicamente, passaram fome e frio devido ao trabalho forçado na neve. Frankl relata que uma pergunta era freqüente: o por quê de tanto sofrimento? Que sentido havia em tudo aquilo?Durante a guerra, observou a si mesmo e a outros em situações limite nos campos de extermínio e comprovou a essência do que é ser humano: numa situação desumanizadora, usar a capacidade de transcrever e manter a liberdade interior. Segundo ele, a pessoa podia permanecer corajosa, valorosa e digna e somente sucumbia às influências do campo de concentração aquele que entregava os pontos espiritual e humano. Foi considerado o médico da "doença do século XX", decorrente do vazio existencial. Afirmou que "o homem, por força de sua dimensão espiritual pode encontrar sentido em cada situação da vida e dar-lhe uma resposta adequada". Segundo Frankl, as pessoas em desespero sempre perguntam “o que esperar da vida?”. É preciso mostrar para a pessoa que devemos perguntar “o que a vida pode esperar de nós?”. Viver não significa outra coisa senão arcar com a responsabilidade de responder às perguntas da vida, pelo cumprimento das tarefas colocadas pela vida a cada indivíduo.A Logoterapia é um sistema teórico criado por Frankl. O termo "logos" é uma palavra grega que significa "sentido"; e “terapia” significa “cura”. Assim, a "Logoterapia concentra-se no sentido da existência humana, bem como na busca da pessoa por este sentido", é considerada como terapia centrada no sentido. O sofrimento e a falta de sentido configuram o vazio existencial que muitos experimentam. A busca do indivíduo por um sentido é a motivação primária em sua vida, pois de acordo o indivíduo precisa de algo em função da qual viver. O vazio existencial é um fenômeno do nosso século, que tem causado ao indivíduo uma perda de alguns instintos que asseguram sua existência, como a perda de tradição, por exemplo. Esse vazio se manifesta num estado de tédio, que gera problemas, que geram angústia e que leva ao suicídio. A Logoterapia procura criar no paciente uma consciência plena de sua própria responsabilidade, e só ele pode optar pelo que se julga responsável. O logoterapeuta tem o papel de nos capacitar para ver o mundo como é na realidade, ele não nos dá uma imagem pronta. A Logoterapia leva o indivíduo a mudar

Page 3: sentido da vida

sua situação, percebendo que pode tirar lições de tudo o que ele vivencia, desde os momentos mais alegres até aqueles que trazem algum sofrimento.

origem: Em busca de sentido http://pt.shvoong.com/humanities/religion-studies/1805538-em-busca-sentido/#ixzz1IiBdOfXT

3

Viktor Frankl, psiquiatra e neurologista do século XX dedicado especialmente aos males da depressão e suicídio de jovens, foi também um filósofo extremamente inteligente e sensível às grandes enfermidades de nosso tempo: as crises existenciais provocadas pela falta de valores e de sentido da vida.Frankl comprovou mediante a prática médica que a raiz de grande parte da angústia que afetam o homem atual tem sua raiz no aspecto psicológico e no filosófico. Os resultados de suas investigações demostram que a maioria dos pacientes que chegavam a seu consultório alegavam uma mesma preocupação: o sentido de sua existência. Isso causava muitas enfermidades psicossomáticas. Estes depoimentos o permitiram advertir para a necessidade de aplicar a filosofia como um método de cura científica.Em busca de sentido, é uma obra que comove pelas observações e vivência pessoal onde Frankl se viu como seu próprio objeto de estudo psicológico e científico, aplicando a sua pessoa o princípio da logoterapia, um procedimento terapêutico cuja finalidade consiste em ajudar o homem a recuperar o sentido de sua vida e suportar as difíceis provas de sua existência. Esta obra é o testemunho de vida de uma vítima do holocausto, de que se pode aprender muito a respeito da liberdade humana e transcender as mais terríveis dificuldades. Durante seu cativeiro, Frankl pode comprovar que os prisioneiros não viam nenhum sentido em sua vida devido a perda da fé no futuro. Estes eram os que estavam verdadeiramente condenados ao aniquilamento físico e mental e que renunciando a liberdade, se entregam a seu destino abandonando a luta pela sobrevivência. “Do homem se pode tirar tudo, exceto a ultima das liberdades humanas, a eleição de atitudes pessoais entre um conjunto de circunstâncias para decidir seu próprio caminho”.Frankl embasa-se em seu próprio âmbito cientifico e recorre a resgatar os aspectos mais positivos do existencialismo. Sua filosofia sustenta que por mais que haja qualquer tipo de condicionamento e diferenças físicas, psicológicas e sociais que caracterizam as pessoas, existe uma fundamental dimensão comum entre todos os seres humanos: sua dimensão espiritual; a qual tende por natureza a buscar sempre, fora de si, um motivo ou razão para sua existência. Quando o homem não consegue descobrir o sentido de sua vida, sustenta Frankl, desencadeia-se uma crise em sua dimensão espiritual, que se manifesta com o

Page 4: sentido da vida

vazio, angústia, frustração e abandono. É graças à liberdade é que o homem tem a possibilidade e a capacidade de auto-transcender-se, de sair de si mesmo para enfrentar-se tanto em seu mundo exterior como eu seu mundo interior e encontrar uma meta para sobreviver, uma causa, uma tarefa ou uma pessoa que dê a sua vida um por que, para que e o para quem viver. Mais que uma novela, Em Busca de Sentido é um estimulo que ajuda o homem a recuperar o equilíbrio interior e redirecionar sua visão com relação as suas realizações com um ser mais humano e espiritual.A vida só tem sentido se vivida com a certeza de que nada e ninguém podem obrigar o homem a perder sua dignidade nem despojá-lo de sua liberdade e sua convicção de que somente assumindo as responsabilidades acerca de si mesmo, pode construir uma vida firme, significativa e coerente