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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES CURSO DE DIREITO SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA E A REPARAÇÃO DE DANOS NO JUÍZO CÍVEL Bruna Zanchet Klunk Baldissera Lajeado, novembro de 2014.

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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE DIREITO

SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA E A REPARAÇÃO DE DANOS NO JUÍZO CÍVEL

Bruna Zanchet Klunk Baldissera

Lajeado, novembro de 2014.

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Bruna Zanchet Klunk Baldissera

SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA E A REPARAÇÃO DE DANOS NO JUÍZO CÍVEL

Monografia apresentada na disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso II, do

Curso de Direito, do Centro Universitário Univates, como parte da exigência para a

obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Profª. Ma. Loredana G. Magalhães

Lajeado, novembro de 2014

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Bruna Zanchet Klunk Baldissera

SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA E A REPARAÇÃO DE DANOS NO JUÍZO CÍVEL

A Banca examinadora abaixo aprova a Monografia apresentada na Disciplina de

Trabalho de Conclusão de Curso II, do Curso de Direito, do Centro Universitário

Univates, como parte da exigência para a obtenção do grau de Bacharela em Direito:

Profa. Ma. Loredana G. Magalhães – orientadora

Centro Universitário Univates

Profa. Del. Elisabete Cristina Barreto Müller

Centro Universitário Univates

Profa. Dra. Giovana Beatriz Schossler

Centro Universitário Univates

Lajeado, 27 de novembro de 2014.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, por me guiar sempre nas minhas escolhas,

dando força para eu seguir nesta dura jornada.

Agradeço à minha mãe e a meu pai, por terem me concedido educação, humildade e respeito, bem como por terem me ensinado a ter coragem para enfrentar

todas as dificuldades e alcançar meus objetivos.

Agradeço a meu marido que sempre me deu grande suporte, orientando-me

com muito carinho e afeto para que eu buscasse meus objetivos.

Agradeço também de forma muito especial à minha orientadora que me auxiliou

com seu conhecimento, sempre com muita paciência e dedicação. Aos demais professores da Univates, que são responsáveis pela minha formação pessoal e

profissional.

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RESUMO

A sentença penal condenatória transitada em julgado está prevista no rol dos títulos executivos judiciais, que sofreu considerável alteração com o advento da Lei nº 11.719/08, ao estabelecer que o juízo criminal fixe quantum mínimo indenizatório na sentença penal. Assim, esta monografia tem como objetivo geral analisar a execução civil da reparação de danos na sentença penal condenatória. Trata-se de pesquisa qualitativa, realizada por meio de método dedutivo e de procedimento técnico bibliográfico e documental. Dessa forma, as reflexões começam pelo estudo dos títulos executivos judiciais, conceito de execução, princípios de maior importância, conceituação do título executivo e dos requisitos do título, bem como o elenco dos títulos executivos judiciais. Em seguida, faz-se um estudo acerca da classificação da sentença, a partir da análise de seus efeitos, analisando a liquidação no processo civil, a fim de verificar a melhor estratégia de atuação da vítima na tutela ressarcitória. Finalmente, examina-se o cumprimento da sentença penal condenatória, com base nas alterações da Lei nº 11.719/08. Nesse sentido, conclui-se que o ofendido deve valer-se do instituto do cumprimento de sentença na esfera cível, aguardando o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, para posteriormente liquidá-la e executá-la civilmente, resguardando-se de eventuais incidentes processuais, que dificultarão a obtenção da tutela pretendida, de modo que o ofendido, ao valer-se da liquidação, apurará completamente a extensão do dano sofrido e do valor a que realmente faz jus. Palavras-chave: Título executivo judicial. Sentença penal condenatória. Reparação de danos. Lei nº 11.719/08.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Art. – Artigo

CC – Código Civil

CF – Constituição Federal

CP – Código Penal

CPC – Código de Processo Civil

CPP – Código de Processo Penal

p. – Página

REsp – Recurso Especial

RS – Rio Grande do Sul

STJ – Superior Tribunal de Justiça

STF – Supremo Tribunal Federal

TJ RS – Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

§ – Parágrafo

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7

2 OS TÍTULOS EXECUTIVOS JUDICIAIS ............................................................... 10 2.1 Conceito de execução ....................................................................................... 10 2.2 Classificação de execução ............................................................................... 13 2.3 Princípios de maior importância aplicáveis à execução ................................ 16 2.4 Dos requisitos necessários para realizar qualquer execução ...................... 19 2.5 Da conceituação do título executivo e dos requisitos do título .................... 22 2.6 O elenco dos títulos executivos judiciais (artigo 475-N do CPC).................. 25

3 CLASSIFICAÇÃO DA SENTENÇA E A LIQUIDAÇÃO NO PROCESSO CIVIL .. 29 3.1 Classificação das sentenças a partir da análise de seus efeitos .................. 29 3.2 Considerações acerca das sentenças líquidas e ilíquidas ............................ 41 3.3 Liquidação da sentença, noções gerais e características ............................. 43 3.4 Espécies de liquidação ..................................................................................... 48

4 CUMPRIMENTO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA NO JUÍZO CÍVEL....... ................................................................................................................. 54 4.1 Alterações introduzidas através da Lei nº 11.719/08 no Código de Processo Penal e seus reflexos processuais civis ............................................................... 54 4.2 Ponderações acerca dos aspectos positivos e negativos da Lei nº 11.719/08 em sede de reparação de danos ............................................................................ 62 4.3 Liquidação da sentença penal condenatória no juízo cível e procedimento executivo na tutela ressarcitória da vítima ........................................................... 71

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 79

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 83

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1 INTRODUÇÃO

A sentença penal condenatória transitada em julgado está prevista entre os

títulos executivos judiciais elencados no artigo 475-N do Código de Processo Civil

(CPC), dentro do rol de provimentos jurisdicionais que ensejam a execução no juízo cível que podem ser exigidos mediante o procedimento definido pelos artigos 475-J e

seguintes do referido Código.

O presente tema está presente em dois ramos do Direito, quais sejam, penal e

civil, em razão de que fatos reais, condutas humanas não só possuem importância

significativa dentro do Direito, como também incidem em mais de um de seus ramos.

Aborda-se no presente estudo, especificamente, a execução da sentença penal condenatória no juízo cível, com base nas alterações da Lei nº 11.719/08, a qual

modificou o artigo 387, IV, do Código de Processo Penal (CPP), prevendo que o magistrado, ao proferir sentença penal condenatória, fixará um quantum mínimo para

a reparação dos danos causados pela infração. Dessa forma, justifica-se relevante

discutir a fixação do valor indenizatório na sentença penal condenatória com o escopo

de se apurar a melhor estratégia de atuação da vítima na tutela de seus interesses

em demanda de reparação de danos civis causados na prática de ilícito criminal.

Nesse sentido, o presente trabalho pretende, como objetivo geral, analisar a

execução civil da sentença penal condenatória em sede de reparação de danos, tendo

por base as alterações realizadas pela Lei nº 11.719/08. O estudo discute como

problema “qual é a melhor estratégia de atuação da vítima na tutela de seus interesses em demanda de reparação de danos civis causados na prática de ilícito criminal, à luz

da Constituição Federal e da legislação alteradora do Código de Processo Penal?”

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Como hipótese para tal questionamento, entende-se que a vítima deve buscar o

instituto do cumprimento de sentença no juízo cível, obedecendo às regras específicas

do processo civil, inclusive, a liquidação da sentença penal condenatória, se necessário.

A pesquisa, quanto à abordagem, será qualitativa, segundo Mezzaroba e

Monteiro (2009), pois o que se procura atingir é a identificação da natureza e do

alcance do tema a ser investigado, utilizando-se, para isso, do exame das

interpretações possíveis para o fenômeno jurídico em análise, que, no caso, abordará

a execução da sentença penal condenatória no juízo cível, com base nas alterações

da Lei nº 11.719/08, em conformidade com a Constituição Federal de 1988, buscando-

se a melhor alternativa de atuação da vítima a fim de lograr a reparação de danos.

Para obter a finalidade desejada pelo estudo, é empregado o método dedutivo,

cuja operacionalização se dá por meio de procedimentos técnicos baseados na

doutrina, legislação e jurisprudência, relacionados, inicialmente, aos títulos executivos judiciais, passando pela sentença e pela liquidação, para chegar ao ponto específico

do cumprimento da sentença penal condenatória na tutela ressarcitória da vítima.

Dessa forma, no primeiro capítulo de desenvolvimento deste estudo, são

abordados os títulos executivos judiciais, haja vista a sentença penal condenatória

fazer parte de seu rol, a qual embasará o estudo. Primeiramente, é apontado o

conceito de execução, passando-se por sua classificação, analisando-se os princípios de maior importância aplicados à mesma, para depois abordar os requisitos

necessários para realizar qualquer execução, demonstrando-se a conceituação do

título executivo e dos requisitos do título, para finalmente elencar os títulos executivos

judiciais.

No segundo capítulo, conceitua-se a classificação da sentença, bem como a

liquidação no processo civil. Assim, para compreender o cumprimento da sentença

penal condenatória, num primeiro momento, faz-se necessário identificar a

classificação da sentença, a partir da análise de seus efeitos, tecendo-se também

considerações acerca das sentenças líquidas e ilíquidas. Além disso, será analisada

a liquidação da sentença, suas noções gerais e características, a fim de fundamentar

e verificar a atuação da vítima.

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Adiante, no terceiro capítulo, faz-se um estudo acerca do cumprimento da

sentença penal condenatória no juízo cível, observando-se as alterações advindas da

Lei nº 11.719/08 no Código de Processo Penal (CPP) e seus reflexos no sistema processual civil. Além disso, ponderam-se os aspectos positivos e negativos do

mencionado instituto em sede de reparação de danos, bem como verificam-se a

liquidação da sentença penal condenatória no juízo cível e procedimento executivo na

tutela ressarcitória da vítima.

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2 OS TÍTULOS EXECUTIVOS JUDICIAIS

Os títulos executivos judiciais estão elencados no artigo 475-N do Código de

Processo Civil. São provimentos jurisdicionais ou equivalentes que contêm a

determinação de que uma das partes prestará algo a outra e, não ocorrendo a prestação espontânea, a parte credora poderá utilizar-se do emprego de atos

executórios.

Dessa forma, faz-se necessário o desenvolvimento das noções acerca dos

títulos executivos judiciais, a conceituação da execução, bem como dos títulos, a

citação dos princípios de maior importância aplicados a esses títulos e a identificação

dos requisitos necessários à execução e aos títulos e seu elenco.

2.1 Conceito de execução

No tocante ao conceito de execução, conforme ensinamentos de Didier Júnior

et al. (2013, p. 28):

Executar é satisfazer uma prestação devida. A execução pode ser espontânea, quando o devedor cumpre voluntariamente a prestação, ou forçada, quando o cumprimento da prestação é obtido por meio da prática de atos executivos pelo Estado.

A execução é o instrumento processual de que dispõe o credor para exigir o adimplemento de forma forçada da obrigação, operando-se a retirada de bens do

patrimônio do devedor ou responsável para a satisfação do exequente,

independentemente da vontade do executado. Busca-se o adimplemento da

obrigação imposta pelo título judicial de forma voluntária por parte do devedor.

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Entretanto, havendo resistência, utiliza-se a intervenção estatal para lograr êxito no

cumprimento da obrigação.

Montenegro Filho (2013) destaca que, em qualquer execução, o fim esperado é atribuir ao credor exatamente a obrigação que o título lhe confere, devendo ocorrer

no menor espaço de tempo possível, em atenção ao princípio da efetividade do

processo de execução. Havendo o descumprimento da obrigação por parte do

devedor, é necessária a conversão do seu valor em perdas e danos, observando-se

as regras da execução por quantia certa.

Segundo ensinamentos de Câmara (2014), a execução forçada busca a

concretização do direito objetivo pleiteado, com ou sem a observância da vontade do

devedor, sendo possível a utilização da expropriação de bens. Dessa forma, a

execução forçada objetiva a satisfação concreta de um direito, utilizando-se de meios

invasivos ao patrimônio do devedor.

Donizetti (2011) relata que se espera da tutela executiva uma eficácia total, com a produção de todos os resultados almejados. Todavia, há certos óbices que se

antepõem à prestação da tutela jurisdicional executiva, reduzindo a potencialidade da

execução forçada. Dessa feita, busca-se a atividade estatal para substituir a atuação

voluntária do devedor, autorizando-se o uso de fortes medidas para o cumprimento

da obrigação prevista no título líquido, certo e exigível.

Câmara (2014) destaca que através da execução busca-se a substituição da atividade das partes pela concretização do direito material. Salienta que o processo

executivo não se forma apenas de atos executórios, os quais são considerados os

atos mais comuns. Há, pois, outros, podendo-se citar os casos de sub-rogação

(momento em que o Estado-juiz substitui a vontade do executado, atuando até mesmo

sem a concordância do devedor, a fim de buscar seu patrimônio e concretizar o direito

em discussão), casos de penhora de bens e de expropriação em hasta pública.

O referido estudioso ainda alerta que em casos de execução de fazer e de não

fazer, as quais não possuem o caráter executivo, são utilizadas, durante a fase

executiva ou durante o processo em si, multas no caso de descumprimento da

obrigação e prisão civil de alimentos.

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No tocante ao direito de uma prestação jurisdicional, Didier Júnior et al. (2013,

p. 25), sustentam que:

Direito a uma prestação é o poder jurídico conferido a alguém de exigir de outrem o cumprimento de uma prestação (conduta), que pode ser um fazer, um não-fazer, ou um dar – prestação essa que se divide em dar dinheiro e dar coisa distinta de dinheiro.

Explicam ainda que uma prestação concretiza-se com a efetivação do direito devido, dessa forma, não sendo prestada a obrigação pelo devedor, estar-se-á

lesando o direito do demandante, podendo ele se utilizar do Poder Judiciário para o

obtenção da tutela pretendida.

Wambier (2006a, p. 39) colaciona acerca da atividade jurisdicional na

execução:

Entretanto, a atividade jurisdicional identifica-se pela atuação da vontade concreta da lei, através da substituição das partes pelo Estado (representado pela pessoa do juiz). A execução é dotada desses atributos: (I) a atuação da vontade concreta da lei na execução é até mais evidente e incisiva do que na cognição: há a aplicação material do comando normativo; (II) a atuação da sanção é feita pelo Estado, substituindo em grau maior ou menor a conduta do credor (que se teria com a autotutela) e do devedor (verificável no cumprimento espontâneo e voluntário).

Câmara (2014) destaca que com o advento da Lei nº 10.444/2002 e Lei nº

11.232/2005, a condenação agora não mais é tratada como uma forma de

esgotamento do processo, e, sim, como uma continuação. Assim, o processo não é

apenas cognitivo nem apenas executivo. Trata-se de um processo sincrético – misto

-, no qual as duas fases misturam-se, a fim de se obter a prestação da tutela

jurisdicional de forma mais célere e efetiva. O autor ainda destaca que com as

modificações introduzidas pelas leis supracitadas, abandonou-se a autonomia do

processo de execução para se implantar um processo sincrético que segue duas

fases, quais sejam, a de conhecimento e a de execução.

A respeito do processo sincrético, Didier Júnior et al. (2013) destacam que a

primeira mudança ocorrida na tutela jurisdicional deu-se nas obrigações de fazer e

não fazer, com o Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 84. Em seguida, o

artigo 461 do Código de Processo Civil exerceu mudança expressiva na tutela

executiva, não sendo mais necessária a propositura de uma ação autônoma de

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execução, já que essas obrigações de fazer e não fazer podem ser executadas no

mesmo processo em que foram prolatadas.

Ainda, os autores mencionados aduzem que as referidas modificações implementaram que as execuções de sentenças, nos casos citados, não mais

ocorrerão em processo autônomo, sendo a execução uma fase de complementação

do processo de conhecimento. Trata-se dos processos sincréticos, mistos ou

multifuncionais. Esse modelo passou a ser utilizado posteriormente às obrigações de

dar coisa diferente de dinheiro, conforme preceituam os artigos 461-A e 621 do Código

de Processo Civil.

Na mesma seara, os referidos estudiosos sublinham que com o advento da Lei

11.232/2005, objetivou-se o término do processo autônomo de execução de sentença,

elaborando-se a fase de cumprimento de sentença prevista nos artigos 475-I a 475-R

do referido código, correlata à execução de sentença da demanda do mesmo objeto.

Outrossim, asseveram que há execução sempre que se objetiva a efetivação material de um título executivo que tenha por escopo uma prestação de fazer, não fazer,

entregar coisa ou pagar quantia, não levando-se em conta a natureza da referida

prestação. Alertam que resta o processo autônomo nos casos de sentença penal

condenatória transitada em julgado, de sentença estrangeira homologada pelo STJ,

de sentença arbitral e de acórdão que julgar procedente revisão criminal, tendo o

último caso previsão no artigo 630 do Código de Processo Penal.

Com base no exposto, passa-se à classificação de execução para melhor

entendimento sobre o tema.

2.2 Classificação de execução

A execução pode diferenciar-se de acordo com o procedimento adotado,

podendo ser comum, utilizada para vários créditos, a exemplo da execução por

quantia certa, e o procedimento executivo especial, utilizado para créditos específicos,

como a execução de alimentos e execução fiscal (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

No tocante à execução, Montenegro Filho (2013, p. 344) explica:

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A execução é gênero que se desdobra nas espécies da execução por quantia certa (contra devedor solvente e contra devedor insolvente), execução para entrega de coisa (certa ou incerta), execução das obrigações de fazer e não fazer. Na espécie da execução por quantia certa, temos as subespécies da execução de prestação alimentícia, da execução contra a Fazenda Púbica e da execução fiscal.

Conforme ensinamentos do último autor, a diferença entre as espécies de

execução está no seu objeto, que estabelece a prestação a ser cumprida pelo devedor

- pagar, entregar coisa, fazer ou não fazer. O estudioso refere, ainda, que nas

subespécies de execução, há regras específicas para a busca da tutela pretendida. É

o caso de alimentos (a necessidade de uma atividade jurisdicional mais célere e

efetiva) e da execução contra a Fazenda Pública (impossibilidade de penhora de

bens).

Referentemente à execução baseada em título executivo judicial e extrajudicial,

Didier Júnior et. al (2013) dispõem que a execução pode classificar-se conforme o

título que a constitui, dividindo-se em judicial e extrajudicial.

O mesmo estudioso aduz que no Código de Processo Civil, originariamente,

não havia distinção de rito entra as execuções judiciais e extrajudiciais, sendo que em

ambas o devedor era citado para que em vinte quatro horas pagasse o débito ou indicasse bens para o ato de constrição judicial. Atualmente, com as modificações

introduzidas, o procedimento a ser aplicado depende do título executivo. Caso seja

judicial, aplicar-se-ão as regras do cumprimento de sentença previstas nos artigos

475-J a 475-R do Código de Processo Civil e, sendo extrajudicial, utilizar-se-ão as

normas previstas no Livro II do referido Código, utilizando-se do procedimento a partir

do artigo 652.

Marinoni e Arenhart (2014) ensinam que a doutrina também diferencia a

execução direta e indireta, ressaltando que a indireta não é propriamente uma forma

de execução. Destacam que tal distinção ocorre em razão de a execução ser

compreendida como um ato jurisdicional que substitui a vontade do devedor, a fim de

que o direito seja alcançado de forma independente do adimplemento, realizando-se

forçosamente mesmo que alheio à vontade da parte - execução forçada, direta.

Didier Júnior et al. (2013) asseveram que a execução forçada pode dar-se com

ou sem a participação do executado, dependendo do que foi determinado pelo

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Magistrado na sentença (necessidade ou não da participação do devedor), e, tendo

ou não a participação do devedor, pode classificar-se a decisão como sendo de

caráter executivo ou mandamental. Observar-se que a última inflige uma prestação ao réu, determinando uma medida coercitiva indireta que irá operar sobre a vontade

do demandado, a fim de obrigá-lo ao cumprimento da decisão, não havendo a

substituição da sua conduta pela do Estado, como nos casos de aplicação de multa

coercitiva (coerção patrimonial) e prisão civil (coerção pessoal). Afirmam que a

tendência atual é aplicação de meios coercitivos indiretos, haja vista sua eficácia e

menor onerosidade ao devedor.

Nesse contexto, ainda aduzem que uma decisão de caráter executivo

determina uma prestação por parte do réu, regulando uma medida coercitiva direta, a

qual substituirá a vontade do demandado em caso de inadimplemento voluntário -

execução direta/sub-rogação -, citando-se o desapossamento (busca e apreensão), a

transformação (obrigação de fazer converte-se em obrigação de pagar quantia), expropriação (alienação em hasta pública, por inciativa particular, adjudicação).

Marinoni e Arenhart (2014, p. 71) conceituam a execução indireta como uma

coerção sobre a vontade do devedor, objetivando o cumprimento da obrigação,

podendo-se valer da multa a fim de que o devedor cumpra com sua obrigação - não

se caracterizando uma execução propriamente dita. Nesse sentido, os autores

explicam:

Trata-se, indubitavelmente, de formas de execução da tutela jurisdicional dos direitos, ainda que formas de execução distintas, o que evidentemente recomenda a manutenção da distinção entre elas, e assim o emprego dos qualificativos direita e indireta, mas com o grifo de que ambas constituem formas de execução das tutelas jurisdicionais, especialmente daquelas imprescindíveis ao Estado constitucional, como a tutela inibitória (que, em regra, é imposta mediante ordem de não fazer sob pena de multa) e a tutela ressarcitória na forma específica (que se impõe mediante um fazer sob pena de multa).

Didier Júnior et al. (2014), diferentemente de Marinoni e Arenhart (2014),

entendem que a coerção indireta também é considerada uma forma de execução,

mesmo atuando de forma a ser um estímulo ao demandado para cumprir a obrigação.

Câmara (2014, p. 231) enfatiza que a execução classifica-se também em

definitiva e provisória, referindo que a execução provisória está prevista no artigo 475-

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O do Código de Processo Civil, caracterizando-se quando a decisão da execução não

sofreu o trânsito em julgado e está pendente de recurso ao qual não foi atribuído efeito

suspensivo. O autor destaca:

O art. 475-I, §1º do CPC é expresso em afirmar que a execução provisória é a que tem por base “sentença impugnada mediante recurso ao qual não foi atribuído efeito suspensivo”, o que a distingue, portanto, da definitiva, conceituada no mesmo dispositivo como sendo a ‘execução da sentença transitada em julgado’.

Na mesma esteira de pensamento de Câmara (2014), Didier Júnior et al. (2013,

p. 40) também ensinam que a execução de título judicial pode ser definitiva ou

provisória, tendo por base o artigo 475-I, §1º do Código de Processo Civil, assinalando

que:

O critério, agora, é a estabilidade do título executivo em que se funda a execução: se se tratar de decisão acobertada pela coisa julgada material, a execução é definitiva; se se tratar de decisão judicial ainda passível de alteração (reforma ou invalidação), em razão da pendência de recurso contra ela interposto, a que não tenha sido atribuído efeito suspensivo, a execução é provisória.

A execução provisória pode ser aplicada a qualquer tipo de obrigação: fazer,

não fazer (artigo 461 do Código de Processo Civil, no que couber); entregar coisa

(artigo 461-A do Código de Processo Civil, no que couber) e obrigação pecuniária

(artigo 475-J e seguintes do Código de Processo Civil). Tal execução sempre se

inaugura por iniciativa do credor, conforme previsão do artigo 475-O, I, do referido

diploma legal, desencadeando-se por sua responsabilidade, cabendo a este reparar

todos os danos que o executado tenha sofrido de forma indevida (CÂMARA, 2014).

Feitas essas considerações, abordam-se, agora, os princípios de maior

importância aplicados aos títulos executivos judiciais, bem como à execução.

2.3 Princípios de maior importância aplicáveis à execução

Os princípios são valores historicamente predominantes nos sistemas legislativo e processual, tendo seu nascimento ocorrido com o prévio consenso para,

posteriormente, ser instalado no sistema processual (ASSIS, 2010b).

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O mesmo pensador complementa que a doutrina processual brasileira

diferencia os princípios em informativos e fundamentais, sendo os informativos de

caráter mais técnico, sofrendo escassas influências de variações socioeconômicas. Os fundamentais, que variam de acordo com a situação concreta em que estão

inseridos, muitas vezes incontroversos, baseiam-se na Constituição. Ademais, o autor

refere que os princípios não se aplicam de forma análoga em todos os processos. Não

são, portanto, inflexíveis, podendo-se ampliar suas abordagens.

Na concepção de Montenegro Filho (2013), a importância dos princípios para o

processo ratifica-se nos processos de conhecimento, execução e cautelar, valendo-

se dos princípios do juiz natural, do devido processo legal, da isonomia, do

contraditório e da ampla defesa, da motivação das decisões judiciais e da publicidade

do processo e dos atos processuais.

Câmara (2014) esclarece que o princípio da efetividade deve viabilizar o

processo para que propicie tudo aquilo a que tem direito o demandante. Assinala que tal assertiva aplica-se a todos os tipos de processo, no entanto, no processo de

execução, há a busca objetiva de uma tutela esperada. O autor sublinha que o nosso

sistema processual utiliza-se da execução específica para dar ao demandado aquilo

que tem direito, valendo-se, em poucos casos, da execução genérica, em que o credor

recebe valor pecuniário em troca do direito pretendido.

O mesmo autor leciona sobre o princípio da efetividade:

A execução forçada, destinada que é a satisfazer o direito de crédito do exequente, só será efetiva à medida que se revelar capaz de assegurar ao titular daquele direito exatamente aquilo que ele tem direito de conseguir. Assim, na execução por quantia certa, o processo de execução será efetivo se for capaz de assegurar ao exequente a soma em dinheiro a que faz jus. Da mesma forma, na execução por entrega de coisa, a efetividade do processo depende de sua aptidão para garantir que o exequente receba a coisa que lhe é devida (p.165).

Em relação ao princípio de menor onerosidade da execução, o artigo 620 do

Código de Processo Civil preceitua que, caso haja diversas formas de execução,

optar-se-á pela menos gravosa para o devedor. Destarte, havendo mais de um meio eficaz à obtenção da tutela esperada, deve-se utilizar a menos onerosa ao executado.

Trata-se, assim, de norma que resguarda a boa-fé, impelindo o abuso do direito por

parte do credor (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

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Montenegro Filho (2013) colaciona que o princípio da menor onerosidade para

o devedor determina que, na execução, busca-se a satisfação do credor, todavia, o

sacrifício do devedor deve ser o menor possível, conforme determina o artigo 620 do Código de Processo Civil, alertando que a execução deve ir contra os bens do

devedor, não contra sua pessoa.

O princípio do contraditório, segundo Wambier (2008), aplica-se ao processo

de execução, estando superada a ideia de sua inaplicabilidade. O contraditório, na

execução, visa a garantir a devida observância ao princípio do menor sacrifício ao

devedor e para que se suscitem as questões que o juiz poderia até conhecer de ofício.

Menciona que o contraditório é de extrema importância ao processo, afirmando que

alguns autores entendem que só há processo quando houver a incidência dessa

garantia constitucional.

A título de explicação, Câmara (2014) explana que o contraditório deve ser

compreendido como uma forma de garantir às partes o conhecimento de todos os atos e termos do processo, sendo facultada a sua manifestação sobre tais atos e termos

do processo.

O mesmo doutrinador destaca que o contraditório está presente no processo

executivo. Como exemplo, citam-se a execução por quantia certa contra devedor

solvente (havendo a penhora de bens, as partes devem tomar conhecimento sobre o

laudo, para, querendo, impugná-lo) e a citação do devedor para pagar em três dias (momento que também propicia ao devedor o conhecimento da ação, possibilitando

efetuar o pagamento ou suportar a reação executiva).

No tocante ao princípio da responsabilidade patrimonial, Assis (2010b) explica

que possui caráter exclusivamente real, visando somente à execução, extraindo-se tal

norma da previsão inscrita no artigo 591 do Código de Processo Civil, respondendo o

devedor com seus presentes e futuros. O autor sublinha que a referida previsão não

é pacífica, haja vista a execução abarcar créditos, mormente o pecuniário.

Consequentemente, utilizar-se-á de meios executórios, que muitas vezes

transpassam a patrimonialidade quando do emprego da coerção pessoal.

O princípio da adequação evidencia-se também na execução, especialmente

na cláusula geral executiva inscrita no artigo 461, §5º do Código de Processo Civil. A

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medida mais adequada demonstra-se de acordo com cada caso concreto, ajustando-

se, dessa forma, às regras processuais (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

Seguindo na mesma esteira dos referidos doutrinadores, em relação ao princípio do resultado, colacionam que a execução deve ser específica, momento em

que o demandante pode ter sua obrigação adimplida de forma igual ao cumprimento

espontâneo da obrigação por parte do réu. Alerta que o credor tem direito ao

cumprimento específico da obrigação e, somente se ele não quiser ou sendo

impossível a tutela, a obrigação transformar-se-á em perdas e danos. Tal princípio

tem previsão no artigo 461, §1º do Código de Processo Civil – obrigação de fazer e

de não fazer -, e no artigo 461-A, §3º do mesmo diploma legal – obrigação de dar

coisa distinta de dinheiro.

Por fim, Assis (2010b) ainda cita os princípios do título e da responsabilidade

patrimonial por parte do devedor, destacando que a pretensão de executar nasce do

efeito executivo da condenação, a qual se deve basear sempre em um título líquido, certo e exigível, consoante dispõe o artigo 586 do Código de Processo Civil. O autor

refere que o executado responde pela obrigação com seus bens presentes e futuros,

com base no artigo 591 do mesmo Código.

Após a explanação acerca dos princípios de maior importância aplicados à

execução, abordam-se os requisitos necessários para realizá-la.

2.4 Dos requisitos necessários para realizar qualquer execução

Primeiramente, para a viabilização da execução, faz-se necessária a presença

das condições da ação, bem como dos pressupostos processuais de constituição e

desenvolvimento válido e regular do processo, a fim de que a parte autora pleiteie

sentença de mérito a seu favor. Estando presentes os requisitos mínimos, verifica-se

a necessidade do preenchimento de outros dois, sendo eles, o inadimplemento do

devedor e o título executivo. Não estando presentes os requisitos citados, extingue-

se o processo sem resolução de mérito por carência de ação (MONTENEGRO FILHO,

2013).

Didier Júnior et al. (2013, p. 92), complementam:

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Além de ter que atender, genericamente, aos pressupostos de existência, aos requisitos de admissibilidade e às condições da ação, a deflagração do procedimento executivo depende da observância de dois requisitos específicos, a saber: a) a apresentação de um título executivo a partir do qual se possa aferir a existência de um direito a uma prestação líquida, certa e exigível; b) a afirmação, pelo exequente, de que houve inadimplemento do executado quanto ao dever jurídico que é correlato a esse direito de prestação. Daí a previsão normativa contida no Capítulo III do Título I do Livro II do Código de Processo Civil, que cuida ‘dos requisitos necessários para realizar qualquer execução’.

Observando os ensinamentos do pensador Assis (2010b), os requisitos

necessários para realizar qualquer execução são dois: o inadimplemento previsto nos

artigos 580 a 882 do Código de Processo Civil e o título previsto nos artigos 585 e 586

do referido diploma legal. O autor refere, ainda, que devem ser observados também os requisitos ora tratados na teoria do processo.

O mesmo estudioso destaca que o inadimplemento e o título encenam as

condições da ação executiva. Observa que a ação, no sentido de direito de acesso à

justiça, não permite limitações, sustentando que os requisitos reportam-se à própria

ação executiva, à pretensão à execução.

A título de explicação, Câmara (2014) evidencia que o título executivo, no tocante à sua função, é condição da ação, sendo um dos elementos do interesse de

agir.

Montenegro Filho (2013) colaciona que o inadimplemento do devedor é

requisito que determina o interesse de agir, estando atrelado à exigibilidade do título,

configurando a mora, que se representa através da não prestação da obrigação. Caso

não haja o inadimplemento, não há o que se falar em lide e, por conseguinte, não há

questão a ser solucionada pelo Poder Judiciário.

Wambier e Talamini (2014) sublinham que os pressupostos necessários para

realizar qualquer execução estão previstos no artigo 580 e seguintes do Código de

Processo Civil, aduzindo que:

Nos termos do art. 580: ‘A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação líquida, certa e exigível, consubstanciada em título executivo’ (redação dada pela Lei 11.382/2006). E o art. 586 prevê que ‘a execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em obrigação certa,

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líquida e exigível’ (redação dada pela Lei 11.382/2006). O art. 475-J, caput (acrescido pela Lei 11.232/2005), também alude à certeza e à liquidez da ‘quantia’ objeto da condenação. Ainda, o art. 618 determina ser nula a execução não fundada em título que retrate obrigação líquida, certa e exigível (incs. I e III). O art. 581, por sua vez, tal como o já mencionado art. 580, vincula a viabilidade da execução ao inadimplemento total ou parcial do devedor. (WAMBIER; TALAMINI, 2014, p.69-70).

Nesse contexto, percebe-se que o requisito do título também se faz

imprescindível à execução, haja vista sua ausência acarretar a nulidade da execução,

de acordo com a máxima nulla executio sine titulo. O autor explica que os requisitos

do inadimplemento do devedor e da existência do título executivo são cumulativos, de

modo que a parte, na execução, deve apresentar o título executivo judicial ou

extrajudicial e demonstrar o inadimplemento do devedor (MONTENEGRO FILHO,

2013).

Por conseguinte, os requisitos supracitados são necessários para a admissibilidade do procedimento executivo, e, não ocorrendo a apresentação do título

executivo ou, não havendo a confirmação do inadimplemento, ocorrerá a

inadmissibilidade do procedimento (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

Conforme o último autor, para a propositura de qualquer ação executiva faz-se

necessária a presença do título executivo, requisito indispensável na petição inicial,

exigindo a lei a presença de tal documento para propor a demanda. É, pois, considerado requisito de admissibilidade no procedimento. A ausência do título

acarreta a inadmissibilidade do procedimento, ocasionando o indeferimento da petição

inicial, conforme artigo 282 combinado com o artigo 284 do Código de Processo Civil.

O estudioso destaca que o título executivo é meio de prova das condições da ação,

em razão de que através dele comprova-se a legitimidade das partes, o interesse de

agir e a possibilidade jurídica do pedido.

Acerca do título executivo, Câmara (2014, p. 186) destaca que a doutrina não

é pacífica em relação ao tema, abordando em sua obra as teorias mais notórias.

Esclarece ao final que:

O título executivo é, portanto, um ato (ou fato) jurídico a que a lei (e só ela) atribui eficácia executiva. Eficácia, como se sabe, é a aptidão para produzir certo efeito. A eficácia executiva consiste na aptidão para produzir o efeito de fazer incidir sobre o devedor (ou responsável) a responsabilidade patrimonial (que nada mais é do que a possibilidade de sujeição de seu patrimônio, para que se obtenha a satisfação forçada do crédito exequendo).

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Por fim, Wambier e Talamini (2014, p. 70) referem que “título executivo é cada

um dos atos jurídicos que a lei reconhece como necessários e suficientes para

legitimar a realização da execução, sem qualquer nova ou prévia indagação acerca da existência do crédito, em outros termos, sem qualquer nova ou prévia cognição

quanto à legitimidade da sanção cuja determinação está veiculada no título”.

Dessa feita, após a fixação dos requisitos necessários para realizar qualquer

execução, passa-se à conceituação do título executivo e de seus requisitos.

2.5 Da conceituação do título executivo e dos requisitos do título

Na concepção de Donizetti (2011), título executivo é o documento previsto na

lei como tal e que representa uma obrigação líquida e certa, que, uma vez inadimplida,

faculta ao credor o manejo da ação executiva (art. 586, CPC).

Montenegro Filho (2013) assinala o título executivo necessita de uma

solenidade documental para que seja qualificado como tal, necessitando, todavia, revelar a ocorrência de um ato ou de um fato jurídico para permitir que se adentre na

esfera patrimonial do devedor na busca da satisfação do credor, reunidos os requisitos

de certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação.

A esse respeito, “o título executivo é o documento que certifica um ato jurídico

normativo, que atribui a alguém um dever de prestar líquido, certo e exigível, a que a

lei atribui o efeito de autorizar a instauração da atividade executiva”, conforme Didier Júnior et al. (2013, p. 152).

Assis (2010b) afirma primeiramente que o título que se constitui com a sentença

civil condenatória (artigo 475-N, I, do Código de Processo Civil) e que fomenta a ação

de execução tem sua natureza controvertida, revelando que o título executivo tem

duas dimensões no plano material (declaração de certeza) e na perspectiva

processual (documento que funda a execução, artigo 586, do referido diploma).

A partir disso, Assis (2010b, p. 159) conclui que: “Em suma, o título executivo

é o documento a que a lei atribui eficácia executiva”, assinalando que o título

representa o documento em que está inserido o crédito, necessário à propositura da

ação executiva.

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A título de explicação, Câmara (2014, p. 187) refere que a função do título

executivo está ligada ao interesse de agir, não servindo como causa da execução,

tampouco servindo como causa de pedir, consistindo-se no meio com o qual a parte irá buscar a tutela jurisdicional pretendida. O autor aduz que:

Tal utilidade estará presente toda vez que se verificar a existência de dois elementos: a necessidade da tutela jurisdicional pretendida (interesse-necessidade) e a adequação do provimento pleiteado e do procedimento escolhido para obtê-lo (interesse-adequação). O título executivo tem a função de fazer presente este último elemento do interesse de agir in executivis. Havendo título executivo, será adequada a demanda da execução forçada do crédito alegado. O título executivo é, pois, responsável por tornar adequada a via executiva como instrumento de atuação da vontade concreta do ordenamento jurídico.

Os títulos executivos, além de outros previstos na legislação especial, são os

enumerados nos artigos 475-N e 585 do Código de Processo Civil.

Donizetti (2011) assinala que os títulos executivos judiciais são aqueles formados em processo judicial (conhecimento, cautelar, homologatório) ou em

procedimento arbitral.

Montenegro Filho (2013, p. 259) dispõe que:

O título executivo sempre apresenta a forma documental escrita, só sendo título se e quando se enquadrar em uma das hipóteses previstas nos arts. 475-N e 585 e em legislações esparsas (no caso dos títulos executivos extrajudiciais), de modo que não há título executivo por criação das partes.

Nesse contexto, Câmara (2014) ensina que os títulos executivos podem ser

judiciais (artigo 475-N do Código de Processo Civil) e extrajudiciais (artigo 585 do

referido Código), sublinhando que os primeiros são formados por meio de processo

perante o judiciário, observadas as condições da ação, fazendo a sentença arbitral

parte também dos títulos judiciais. Acerca dos títulos extrajudiciais, o autor refere que

são formados fora do processo.

Para a propositura da execução, faz-se necessária a presença do título

executivo judicial ou extrajudicial, sendo imprescindível que a obrigação retratada no título seja certa, líquida e exigível, conforme disposto no artigo 580 do Código de

Processo Civil (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

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Assis (2010b) alerta que a redação do artigo 586 pode trazer dúvida quanto à

possibilidade de proceder à execução sem os requisitos acima citados, todavia,

assevera a negativa da questão, aduzindo a necessidade da presença dos requisitos do título executivo, sendo estes, liquidez, exigibilidade e certeza.

Wambier (2008) suscita que a certeza da obrigação refere-se à exata definição

de seus elementos, sendo possível precisar quem é o credor e quem é o devedor;

qual o tipo de obrigação e qual o negócio jurídico.

Acerca do atributo da certeza, Didier Júnior et al. (2013, p. 157) ressalta:

Em primeiro lugar, deve haver certeza da obrigação. A certeza constitui o pré-requisito dos demais atributos, significando dizer que só há liquidez e exigibilidade se houver certeza. A obrigação representada no título pode ser certa, mas ilíquida e inexigível; não pode, contudo, ser incerta, mas líquida e exigível. Diz-se que há certeza quando do título se infere a existência da obrigação.

O referido doutrinador complementa que a certeza dá-se de forma expressa no

título, não necessitado de outros requisitos para ser verificada, evidenciando, entretanto, que, em alguns casos, a certeza decorre de previsão legal, que lhe aufere

tal requisito. É o caso da sentença penal condenatória, haja vista que nela não há

determinação expressa de indenização na esfera cível (requisito do artigo 91, I, do

Código Penal), sendo, porém, um efeito advindo. Haverá a certeza da obrigação na

sentença penal condenatória, mesmo sem expressa previsão desta no título.

Montenegro Filho (2013) leciona que a liquidez da obrigação representa a identificação precisa da obrigação a ser adimplida pelo devedor, e, não sendo

perfeitamente delimitado no título o objeto da prestação, será necessária a liquidação,

a fim de se atribuir ao título o requisito faltante.

O mesmo estudioso refere que:

A sentença penal, embora seja título executivo judicial, como regra não apresenta condenação em dinheiro, reclamando a instauração da liquidação para o seu aperfeiçoamento, para que se torne exigível, com a ressalva de que a Lei 11.719, de 20 de junho de 2008 modificou o inciso IV do art. 387 do CPP, prevendo que o juiz, ao proferir a sentença condenatória, fixará valor mínimo para a reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido (p. 261).

Acerca da liquidez, Assis (2010b, p. 165) declara:

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Como visto, a liquidez importa expressa determinação do objeto da obrigação. Far-se-á a liquidação do título judicial, garante o art. 475-A do CPC, quando o provimento judicial não determinar o valor devido e, convém acrescentar, não individualizar o objeto da condenação.

O último atributo do título é a exigibilidade, e, para Didier Júnior et al. (2013),

esta configura-se quando houver o direito à prestação e o dever de satisfazê-la, não

podendo subordinar-se à condição ou termo suspensivo. Havendo prazo para findar

alguma condição, não há a exigibilidade.

A partir do exposto, conclui-se que, não havendo o preenchimento de qualquer

dos requisitos acima expostos, o processo será extinto, sem resolução de mérito, em razão da carência da ação.

Dessa forma, passa-se ao estudo do elenco dos títulos executivos judiciais,

previstos no artigo 475-N do Código de Processo Civil.

2.6 O elenco dos títulos executivos judiciais (artigo 475-N do CPC)

Segundo ensinamentos de Wambier (2008), os títulos executivos judiciais

consistem em provimentos jurisdicionais, ou equivalentes, que contenham a ordem

para uma das partes prestar algo a outra, havendo a autorização do emprego de atos

executórios, caso não ocorra o adimplemento da obrigação espontaneamente.

Para Montenegro Filho (2013), os títulos executivos judiciais são, na maioria,

uma representação da criação dos representantes do Poder Judiciário, com exceção da sentença arbitral, derivando, na maioria das vezes, de um processo de

conhecimento.

Acerca do referido tema, Theodoro Júnior (2007, p. 68) leciona:

Para o fim de autorizar o cumprimento forçado da sentença, o título executivo por excelência é a sentença condenatória. Existem, porém, outros provimentos judiciais a que a lei atribuiu igual força executiva, como se dá, v.g., com as sentenças homologatórias e os formais de partilha. É, pois, correto afirmar-se que, genericamente, devem ser considerados títulos executivos judiciais os oriundos do processo.

Os títulos executivos judiciais formam-se em processo judicial – conhecimento,

cautelar ou homologatório – ou em procedimento arbitral, enumerados apenas nos

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artigos 475-N e 585 do Código de Processo Civil e outros previstos na legislação

especial (DONIZETTI, 2014).

Conforme elenco do Código de Processo Civil, em seu artigo 475-N, são títulos executivos judiciais:

Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: I – a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia; II – a sentença penal condenatória transitada em julgado; III – a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo; IV – a sentença arbitral; V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente; VI – a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; VII – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal. Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme o caso.

Theodoro Júnior (2007) enfatiza que a enumeração dos títulos executivos

judiciais é taxativa, não cabendo interpretações extensivas.

Acerca do primeiro título executivo elencado no artigo 475-N, Assis (2010b)

leciona que a redação anterior trazia a previsão da sentença condenatória e não

apenas a sentença de forma genérica. Refere que mesmo ocorrendo tal mudança,

nada mudou, fazendo-se necessário estar presente o caráter de condenação na sentença, acompanhado do efeito executivo.

O referido estudioso conclui que:

Logo, a nota fundamental do art. 475-N, I, reside, concretamente, na eficácia condenatória do ato decisório, e não na sua tipificação legal (arts. 162 e 163), até porque, assinala Vicente Greco Filho, trazendo à colação o exemplo edificante do art. 76 do CPC, que alude a declaração quando o denunciado é condenado, a coerência da nomenclatura do estatuto se afigura duvidosa. E há casos em que o CPC qualifica de “sentença” provimento que, além de escapar ao figurino do art. 162, §1º, nenhuma força condenatória ostenta, e portanto, não constituiu título (p. 175).

A título de explicação, Wambier (2008) ensina que a sentença proferida no

processo civil que reconhece a existência da obrigação de fazer, de não fazer e de

entregar coisa ou pagar quantia, para configurar título executivo judicial, deve possuir

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um comando condenatório ou mandamental. Todavia, nas sentenças declaratórias e

constitutivas, muitas vezes há também uma eficácia condenatória funcionando como

título executivo.

A sentença penal condenatória transitada em julgado constitui título executivo

para a vítima receber indenização civil, a qual é arcada pelo condenado, em virtude

do crime que cometeu. Ressalta-se que, com a modificação introduzida pela Lei

11.719/08, o juízo criminal fixará valor mínimo a título de reparação de danos

causados pela infração. Entretanto, a melhor forma para a parte é buscar a liquidação

da sentença no juízo cível, para que o juízo realmente fixe o valor correspondente aos

danos materiais e morais (MONTENEGRO FILHO, 2013).

Constitui outro título executivo judicial a decisão que homologa a conciliação e

transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo.

Acerca do referido tema, Wambier (2006a, p. 59) menciona:

Com a sentença homologatória de transação (art. 269, III; Lei 9.099/95, art. 57) e conciliação (art. 449; Lei 9.099/95, art. 22, parágrafo único etc.), o juiz, ao chancelar a autocomposição (antes verificando a presença dos requisitos para tanto), torna jurisdicional a solução que as partes deram ao conflito. Daí que, contendo o acordo homologado a imposição de prestação a alguma das partes, a sentença homologatória será condenatória quanto a esse ponto, servindo de título para a execução.

Didier Júnior et al. (2013) lecionam que a sentença arbitral também constitui

título executivo judicial, sendo comumente precedida de liquidação (em processo

autônomo) e, após, a execução seguirá com as regras estabelecidas para o

cumprimento de sentença. Caso não haja a fase de liquidação, a execução, em alguns

casos, ocorrerá em processo autônomo de execução, fazendo-se necessária a citação

do executado.

A sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça forma

título quando houver a homologação através do STJ, sendo necessário que não

ocorra ofensa à soberania nacional, à ordem pública e aos bons costumes, provando o interessado ter sido proferida por juiz competente, observadas as regularidades

processuais (MONTENEGRO FILHO, 2013).

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No que se refere ao formal e à certidão de partilha, Greco Filho (2012, p. 62)

aduz que:

O formal de partilha é o documento extraído do inventário com as formalidades do art. 1.027 e que assegura a transmissão aos herdeiros. O formal pode ser substituído por certidão do pagamento do quinhão hereditário, se este não exceder cinco vezes o salário mínimo vigente na sede do juízo.

Por fim, o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente

configura título, sendo que o não cumprimento comporta a instauração da execução

forçada (MONTENEGRO FILHO, 2013).

Feito o estudo acerca do conceito da execução, de seus princípios de maior

importância, dos requisitos necessários para executar, da conceituação do título

executivo e dos requisitos do título, e, finalmente, após elencados os títulos executivos

judiciais, passa-se à análise da sentença e da fase da liquidação, a fim de encontrar embasamento ao tema central do presente estudo, qual seja, a sentença penal

condenatória e a reparação de danos no juízo cível.

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3 CLASSIFICAÇÃO DA SENTENÇA E A LIQUIDAÇÃO NO PROCESSO CIVIL

São de extrema importância a análise da sentença a partir de seus efeitos, bem

como o estudo da fase de liquidação e suas espécies, a fim de se buscar elementos

para verificar a melhor estratégia de atuação da vítima na tutela de seus interesses, quando do pronunciamento da sentença penal condenatória.

Por conseguinte, é objetivo deste capítulo classificar a sentença a partir da

análise de seus efeitos, conceituar as sentenças líquidas e ilíquidas, analisar a

liquidação de sentença como fase do processo civil e como ação autônoma,

estudando suas noções gerais e características, e, por fim, apresentar as espécies de

liquidação.

3.1 Classificação das sentenças a partir da análise de seus efeitos

Primeiramente, Bueno (2007) destaca que há na doutrina grande discussão

acerca da definição de sentença e do critério a ser utilizado para conceituá-la.

Jorge Neto (2013) leciona que o artigo 162 do Código de Processo Civil

classifica os atos do juiz em três, quais sejam, as sentenças, as decisões

interlocutórias e os despachos. Sublinha ser importante tal diferenciação, tendo em

vista que dela dependerá a eficácia do sistema recursal.

O referido estudioso enfatiza que o antigo texto do artigo 162, §1º do Código

de Processo Civil trazia o conceito de sentença como sendo o ato pelo qual o juiz

punha fim ao processo, com ou sem decisão de mérito, utilizando-se de um critério

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topológico de classificação, observando-se o local em que a sentença ocupava no

processo.

Para Bueno (2007), no antigo texto, o critério utilizado para a sentença era o de finalidade, tendo por característica encerrar, por fim ao processo.

O mesmo pensador alerta, todavia, que a doutrina procurou aperfeiçoar o

conceito estabelecido no texto legal, entendendo que a sentença põe fim ao

procedimento em primeira instância e não ao processo, porquanto há possibilidade de

interposição de recurso. Dessa forma, com a modificação introduzida pela Lei n.

11.232/2005, a sentença passou a ser entendida como o ato do juiz que implica

alguma das situações previstas nos artigos 267 e 269 do Código em estudo,

conceituando-se, então, a partir de seu conteúdo e, não, de sua finalidade.

Jorge Neto (2013, p. 29-30) partilha do mesmo entendimento, relatando:

A Lei 11.232/2005, que deu continuidade à reforma processual, alterou o art. 162, §1º, do CPC, que passou a ter a seguinte redação: “sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei”. A partir de então, o Código Civil trocou o critério topológico pelo critério do conteúdo do ato. Não é mais o lugar que o ato ocupa no processo que determina, mas é o conteúdo do ato o que determina sua natureza, se uma decisão interlocutória ou uma sentença.

Acerca do assunto, Marinoni (2009, p. 13) declara que

a alteração em tela foi provocada por questões doutrinárias, visto que a sentença não encerra, na maioria das vezes, o processo, mas sim, o procedimento (sumário, ordinário ou especial), porque normalmente há a interposição do recurso de apelação, hipótese em que o processo continua, agora com um novo procedimento, chamado de recursal.

As alterações introduzidas pela lei mostram-se insuficientes, razão pela qual

deve-se ler o artigo 162, §1º juntamente com outros dispositivos que também restaram alterados pela Lei n. 11.232/2005, quais sejam, o caput dos artigos 269 e 463,

observado o §2º do artigo 162 (BUENO, 2007).

Donizetti (2014) assinala que o projeto de Lei do Novo Código de Processo Civil

(PLS 166/10) aperfeiçoa o conceito de sentença, definindo-a como o pronunciamento

por meio do qual o juiz põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como

o pronunciamento que extingue a execução.

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Montenegro Filho (2007, p. 524) evidencia que

a sentença é, portanto, o pronunciamento final da instância de primeiro grau de jurisdição, ou seja, da instância conduzida pelo juiz de forma isolada, que põe fim à fase de conhecimento com ou sem resolução de mérito, sem encerrar o processo, considerando a possibilidade de a decisão ser revista pelo órgão colegiado imediatamente superior, em termos hierárquicos, sem falar no avanço a outras fases (de liquidação e de execução).

Bueno (2007) aduz que sentença, no sistema processual civil, deve ser

entendida como o ato que encerra a fase de conhecimento na jurisdição de primeira

instância, tendo obrigatoriamente um dos conteúdos dos artigos 267 e 269 do Código

de Processo Civil, não havendo mais atividade jurisdicional a ser desenvolvida.

Ressalta que, em algumas circunstâncias, o juiz exercerá outras atividades, havendo

necessidade e provocação das partes. Ainda, reforça que a sentença possui uma

função específica de encerrar a etapa do processo em que a atividade principal do

magistrado é de examinar se o direito postulado pelo autor existe ou não e de que

forma a tutela deve ser prestada.

Alvim (2007, p. 590) ensina que

tanto é sentença aquela prolatada com base no art. 267 (extinção do processo sem resolução de mérito), quanto aquela proferida com base no art. 269, I (julgamento da causa), como, ainda, a que seja enunciada com base no art. 269, II a V (que tenham como subjacentes atos autocompositivos). Em todas elas, quando a sentença colocar fim ao procedimento ou à fase cognitiva do processo de conhecimento, em primeiro grau de jurisdição, caberá o recurso de apelação (art. 513).

Jorge Neto (2013, p. 34) conclui:

Para os fins desse breve opúsculo, na esteira da doutrina mais autorizada, consideramos sentença o ato processual que põe fim ao processo ou às suas fases, como a liquidação e a execução, e não ao ato que põe fim a uma ou algumas das ações do processo, decidindo incidentalmente umas das questões dos arts. 267 e 269 do CPC.

No tocante ao conteúdo das sentenças, classificam-se em terminativas e definitivas, sendo que, nas primeiras, há extinção do processo sem julgamento de

mérito e, nas segundas, há resolução da lide, trazendo solução ao pedido do autor do

processo (SANTOS, 2007).

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Montenegro Filho (2007) menciona que as sentenças terminativas não deixam

o Magistrado conhecer da matéria de forma aprofundada, em virtude da colisão com

alguma questão processual, não estando o processo em condições de julgamento.

O mesmo doutrinador complementa que tais sentenças fazem coisa julgada

formal, não podendo haver nova discussão acerca dos elementos da ação na relação

jurídica em discussão.

Donizetti (2014) leciona que as sentenças definitivas são aquelas que resolvem

o mérito, momento em que o Magistrado aplica o direito objetivo ao caso concreto.

Alerta, todavia, que a prolação de uma sentença definitiva não significa que ela seja

inalterável, o que ocorrerá somente após esgotadas todas as possibilidades recursais,

fazendo coisa julgada material. A sentença definitiva constitui-se no provimento que

finaliza a lide em primeiro grau de jurisdição.

Referentemente à classificação das sentenças, seguindo os ensinamentos de

Assis (2010b), toda sentença possui elementos integrantes de seu conteúdo, que possibilitam distingui-las das semelhantes, sendo que tais elementos produzem

efeitos típicos. A qualidade do elemento denomina-se eficácia. O autor aduz que, após

a individualização da eficácia possível e, considerando a preponderância de uma ou

de outra, surge a classificação das sentenças.

As sentenças, que podem também ser classificadas de acordo com os efeitos

que se estendem para fora do processo, para a esfera do direito material, transportam a tutela jurisdicional. Seguindo a classificação da doutrina tradicional, faz-se referência

às sentenças declaratórias, às sentenças constitutivas, às sentenças condenatórias,

às sentenças executivas lato sensu e às sentenças mandamentais (BUENO, 2007).

Marinoni (2009, p. 14) refere:

Em termos doutrinários, a classificação das sentenças pode ser feita de duas formas: a primeira delas, mais tradicional, só aceita três tipos de sentença: declaratória, condenatória e constitutiva; uma corrente mais moderna, no entanto, entende que a classificação deve ser mais ampla, aceitando, então, a existência de cinco classificações diferentes para as sentenças: declaratória, condenatória, constitutiva, executiva lato sensu e mandamental.

Didier Júnior et al. (2008) lecionam que a classificação das sentenças utilizada

no Brasil ao longo do século XX era a ternária - condenatória, constitutiva e

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declaratória. Todavia, com a crítica trazida por Pontes de Miranda, a classificação

passou a ser pensada de outra forma, passando-se à classificação quinária,

acrescentando as modalidades mandamental e executiva.

Jorge Neto (2013, p. 34-35) evidencia que “essa classificação utiliza como

critério o dispositivo da sentença, a ordem judicial emanada do ato processual”,

ressaltando que, em seu entendimento, o critério para classificar a sentença não está

veiculado à tutela jurisdicional atrelada ao pedido, mas, sim, ao dispositivo da

sentença e, não, ao pedido feito pela parte autora.

Diferentemente de Alvim (2007, p. 598-599) sustenta:

Por outro prisma, classificam-se as ações em tendo em vista basicamente os efeitos processuais especialmente visados pelo autor, quando propôs a demanda. Está, nesta classificação, portanto, relevantemente considerado o critério da simetria ou congruência, a que já nos referimos, dado que, sendo a sentença de recebimento total da ação, produzir-se-ão, precisamente, aqueles efeitos colimados pelo autor. Segundo este critério, são as sentenças declaratórias, constitutivas e declaratórias (precipuamente no processo de conhecimento), em função do tipo de ação proposta.

Theodoro Júnior (2007) mostra que a reforma introduzida pela Lei nº

11.232/2005 estabeleceu que todas as sentenças passaram a um regime único de

cumprimento, não necessitando nenhuma delas a propositura da ação executiva para alcançar a execução. Aduz que não houve extinção de nenhum tipo de sentença,

permanecendo com sua classificação pelo conteúdo, classificando-se em

declaratórias, constitutivas e condenatórias.

No tocante às alterações trazidas pela lei acima mencionada, Didier Júnior et

al. (2008, p. 324-235) destacam:

Atualmente toda decisão que reconhece a existência de dever de prestar (fazer, não-fazer, dar coisa ou pagar quantia) pode ser efetivada no mesmo processo em que foi proferida, não havendo mais necessidade de instauração de um processo autônomo de execução.

Ainda, esses pensadores mencionam que todas as sentenças de prestação (de

procedência) podem ser executadas no mesmo processo, designando-as como

condenatória, conquanto houve grande alteração no conceito de sentença

condenatória. Aduzem que a execução no mesmo processo é a regra no sistema

atual, destacando que, dessa forma, houve mudança na técnica da execução. No

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entanto, permanece a mesma premissa de que somente as sentenças de prestação

ocasionam a execução, podendo-se chamá-las de condenatórias.

Acerca da classificação das sentenças, Marinoni e Arenhart (2014, p. 116) colacionam:

A sentença, quando depende de atividade ulterior para prestar a tutela do direito, não pode ter a sua natureza definida à distância do sistema executivo ao qual é ligada. A sentença, ao se correlacionar com formas de execução, reflete o modo técnico-processual escolhido pelo legislador para dar tutela ao direito material, opção esta que traz em si a forma como o poder jurisdicional deve se manifestar para garantir o direito fundamental da ação.

Em relação à sentença declaratória, Donizetti (2014) esclarece que com ela

busca-se apenas a declaração da existência ou inexistência da relação jurídica, ou da

autenticidade ou falsidade de documento. Ademais, salienta que no caso de a

sentença julgar o pedido improcedente, estar-se-á diante de uma sentença

declaratória negativa, ocorrendo a declaração da inexistência do direito buscado pela

parte.

O mesmo doutrinador complementa (p. 630): “a sentença meramente

declaratória, à evidência, não comporta execução. A sentença, por si, é suficiente para

o exercício do direito pleiteado”.

A ação declaratória objetiva a declaração dos direitos da parte que está

pleiteando, não sendo, por definição, capaz de servir como título para execução futura.

Todavia, com as alterações introduzidas pela Lei 11.232/2005, se sentença declaratória integrar algumas das hipóteses do artigo 475- N, I, do Código de Processo

Civil, valerá como título executivo (ALVIM, 2007).

Acerca da força executiva da sentença declaratória, Humberto Theodoro (2007,

p.26-27) ensina que:

De fato, se nosso direito processual positivo caminha para a outorga de força de título executivo a todo e qualquer documento particular em que se retrate obrigação líquida, certa e exigível, por que não se reconhecer igual autoridade à sentença declaratória? Esta, mais do que qualquer instrumento particular, tem a inconteste autoridade para acertar e positivar a existência de obrigação líquida, certa e exigível. Seria pura perda de tempo exigir, em

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prejuízo das partes e da própria Justiça, a abertura de um procedimento condenatório em tais circunstâncias.

O doutrinador aduz, ainda, que nem todas as sentenças declaratórias

caracterizam-se como títulos executivos, sendo as sentenças declaratórias aquelas

que se reportam à existência de relação obrigacional infringido pelo devedor,

observado o artigo 4º, parágrafo único, do Código de Processo Civil. As sentenças

que apenas estabelecem a existência de uma relação, não havendo dever de prestação, não se constituirão em títulos executivos, haja vista a inexistência de dever

para exigir da parte vencida.

Referentemente à eficácia constitutiva, Assis (2010b, p. 85) colaciona que “a

ação constitutiva implica mudanças (criação, modificação ou extinção) na relação

jurídica”.

Donizetti (2014) colaciona que as sentenças constitutivas, além de declararem

direitos, constituem estado jurídico novo, criando ou modificando a relação jurídica.

Tal sentença é suficiente para modificar a relação jurídica que é matéria da decisão,

não havendo fase de cumprimento de sentença.

Santos (2007, p. 219) sustenta:

Sentenças constitutivas são as que criam, modificam ou extinguem relação jurídica, como a da separação do casal, a de divórcio, a de rescisão dos contratos, a de anulação ou alienação em fraude contra credores.

Na mesma esteira de pensamento, o referido doutrinador evidencia que, em

caso de ato nulo, a sentença será declaratória e, em caso de ato anulável, será

constitutiva.

Jorge Neto (2013, p. 35) explica: “Já as sentenças constitutivas estabelecem

ou extinguem uma relação jurídica. Nesse caso, o julgador não simplesmente declara

o direito, a sentença constitui o direito, a partir dela nasce ou se extingue uma nova

relação jurídica”.

Em relação às sentenças condenatórias, Didier Júnior et al. (2008, p. 326)

lecionam que:

Decisões condenatórias ou decisões que impõem prestação são aquelas que reconhecem a existência de um direito a uma prestação e permitem a

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realização de atividade executiva no intuito de efetivar materialmente essa mesma prestação. Direito a uma prestação é o poder jurídico, conferido a alguém, de exigir de outrem o cumprimento de uma prestação, isto é, de uma conduta material, que pode consistir num fazer, não-fazer, dar coisa ou pagar quantia.

As sentenças condenatórias também declaram o direito, todavia o que as

caracteriza, principalmente, é a sanção. Quando da prolação da sentença

condenatória, a parte recebe um instrumento jurídico para buscar a satisfação da

tutela pretendida. Dessa forma, após o trânsito em julgado da sentença, esta será o

título executivo judicial, que será o meio pelo qual a parte irá adentrar no patrimônio

do devedor para buscar seu direito (ALVIM, 2007).

O mencionado doutrinador complementa que:

A sentença condenatória, assim, é vocacionada para a execução, que hoje é realizável dentro de um mesmo processo de conhecimento, como uma simples fase sucessiva àquela preponderantemente cognitiva. Tal sistema, inspirado na instrumentalidade do processo, passa a ser dotado de um sincretismo total, no sentido de permitir um amálgama entre as atividades jurisdicionais de cognição e execução, proporcionando, assim, uma estrutura normativa capaz de concretizar o direito de forma mais célere e, com isso, atingir a meta da plena efetividade da sentença condenatória que determina o pagamento de soma em dinheiro (p.603).

Júnior (2007) refere que no sistema atual do Código de Processo Civil não há

diferenciação entre as sentenças condenatórias, sendo todas de cumprimento

imediato, não necessitando da propositura de ação executiva.

O autor ainda aduz (2007, p. 24):

Todas se realizam por meio de mandado expedido após sua prolação, na mesma relação processual em que se formar a sentença. O sistema, portanto, é o de executio per officium iudicis e não mais o da actio iudicati. Ação autônoma de execução somente existirá para os títulos extrajudiciais.

Acerca do conceito de condenação, Marinoni e Arenhart (2014, p. 103) relatam:

Como restou claro, o conceito de condenação é caracterizado por abrir oportunidade para a propositura da ação de execução forçada. Liebman disse que a condenação aplica a sanção, autorizando a propositura da ação de execução forçada, ficando o Estado investido do poder de realizá-la e o condenado sujeito a suportá-la.

Nesse contexto, Assis (2010b) evidencia que a condenação deriva da soma de

duas declarações independentes, ocorrendo que, primeiramente, o juiz declara o

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direito objeto da demanda e, por conseguinte, imputa à parte vencida uma sanção

prevista na legislação para a prática do ato ilícito.

Esse estudioso conclui:

Essa concepção vingou no art. 475-N,I, segundo o qual constitui título executivo judicial a sentença que reconheça a existência de obrigação a cargo do réu. Por óbvio, se a resolução judicial reconheceu a existência de obrigação, impôs a prestação ao vencido, e, portanto, não é “meramente” – como se dizia antigamente – declarativa, ou seja, foi além da declaração da simples responsabilidade (art. 4º, parágrafo único) (p.87).

Marinoni e Arenhart (2014, p. 116) destacam que “a sentença que,

reconhecendo obrigação de pagar quantia, deve ser executada com base no art. 475-

J, conservou natureza condenatória, tendo todas as principais características

presentes no velho conceito de condenação”.

Na mesma esteira de pensamento dos últimos dois doutrinadores, o conceito

de condenação não abrange todas as sentenças dependentes de execução.

Alvim (2007) partilha do mesmo entendimento, ao destacar que a ação condenatória atrela-se a diferentes obrigações existentes no ordenamento jurídico,

tendo em vista a modificação do artigo 475-N, I (que estabelece que constitui título

executivo a sentença proferida no processo civil que reconhece a existência da

obrigação de fazer, não fazer, entregar ou pagar quantia), e não apenas à sentença

condenatória proferida no processo civil.

Didier Júnior et al. (2008) esclarecem que condenatória era a designação utilizada para as decisões que necessitavam de propositura de ação autônoma de

execução – processo de execução de título judicial. Em contrapartida, destacam que

as decisões mandamentais e executivas poderiam cumprir-se no mesmo processo em

que fossem prolatadas. Entretanto, após a modificação ocorrida na legislação, tornou-

se dispensável a ação autônoma de execução em todos os casos em que há o

reconhecimento de um direito à prestação.

Ainda, aduzem que as decisões que impõem uma prestação (fazer, não fazer,

dar coisa ou pagar quantia) podem ser chamadas de forma genérica de

condenatórias, referindo que estas dividem-se em mandamentais e executivas,

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partindo do pressuposto de que a execução pode ocorrer com ou sem a participação

do executado.

No tocante à eficácia, Assis (2010b, p. 91) conclui:

No cotejo das soluções aventadas, e no estágio atual alcançado pela ciência do processo, a incapacidade de a condenação satisfazer o demandante no mesmo processo, provocando o nascimento da pretensão a executar, é o ponto máximo alcançável na busca da identidade desta eficácia.

Alvim (2007) colaciona que parte da doutrina ainda classifica as sentenças com

base nos efeitos distintos que geram as espécies mandamentais e executivas lato

sensu. Refere que tais efeitos estão relacionados à forma de perfectibilizar o direito,

não sendo efeitos intrínsecos da decisão. A sentença mandamental pode, dessa

forma, conviver com uma sentença condenatória.

O mesmo pensador (2007, p. 605) ensina que:

Em rigor, o perfil que veio a assumir a mandamentalidade significa que, se a sentença tiver caráter mandamental, isto conduz a que essa mandamentalidade deve levar à supressão da execução, propriamente dita, significando isto que aquele que é o destinatário precípuo da ordem, ou do mandamento, deve cumpri-lo. A mandamentalidade convive, como se disse, portanto, com o caráter condenatório ou constitutivo, dizendo respeito, por excelência, à forma de realização do direito.

Didier Júnior et al. (2008, p. 328) evidenciam o seguinte entendimento:

A decisão mandamental é aquela que impõe uma prestação ao réu e prevê uma medida coercitiva indireta que atue na vontade do devedor como forma de compeli-lo a cumprir a ordem judicial – é o que se dá na decisão que impõe ao réu que faça alguma coisa, num determinado prazo, sob pena de multa diária.

As ordens mandamentais necessitam estar atreladas a uma sanção ao

destinatário da ordem, caso ele não a cumpra. Tal mandamento reforça a decisão de caráter mandamental, conforme estabelece o artigo 14, inciso V do Código de

Processo Civil (ALVIM, 2007).

Na concepção de Assis (2010b), a eficácia mandamental não concede ao

demandante o bem da vida, haja vista a falta de operações práticas. Observa que em

alguns casos o objetivo da parte é apenas a segurança do direito litigioso e a eficácia não o satisfaz, em virtude da origem estatal do mandado.

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O referido doutrinador destaca que:

[...] essência da eficácia mandamental repousa no conteúdo da ação. Elemento independente, o mandado, incrustado no núcleo de eficácias da sentença, irradia efeitos bem discerníveis no campo executivo: primeiro, a já realçada estabilidade imanente, tutelada através da medida coercitiva contra a pessoa do sujeito passivo; ademais, o ato executivo ocorre ulteriormente ao provimento, porém dentro da mesma estrutura (“processo”) (p. 94).

No entendimento de Alvim (2007), as sentenças mandamentais e executivas lato sensu têm capacidade de criar efeitos executivos, independentemente da fase de

cumprimento seguinte ao pronunciamento da sentença.

Para o referido estudioso, não há necessidade de se distinguir as sentenças executivas lato sensu e mandamentais das constitutivas e das condenatórias.

Outrossim, a classificação em declaratórias, constitutivas e condenatórias observam

o critério do tipo de eficácia que produzem, enquanto as mandamentais referem-se à

uma forma de realização do direito. Dessa feita, relata que uma sentença pode ser

condenatória e mandamental.

Diferentemente de Alvim (2007), Assis (2010b) e, Marinoni e Arenhart (2014)

distinguem as sentenças mandamentais e executivas.

Segundo ensinamentos de Marinoni e Arenhart (2014, p.117), “a sentença que

reconhece obrigação de pagar quantia apenas autoriza o requerimento dos meios de

execução, enquanto as sentenças que reconhecem as obrigações de não fazer, fazer ou entregar coisa têm executividade intrínseca”.

Concluem, dessa forma, que a sentença que determina o pagamento de

quantia mantém a inexistência de qualquer conteúdo executivo, diferentemente das

outras, que possuem modalidade de execução como elemento essencial, referindo

que a sentença relacionada à execução indireta é mandamental – há o mandamento

de cumprir a ordem, sob pena de emprego de coerção indireta –, enquanto a sentença

que se refere à execução direta, executiva, utiliza-se da força estatal de forma diferente, voltando-se à realização forçada do direito.

Assis (2010b) assinala que a sentença executiva tem tal força quando

proporciona ao demandante a retirada de valores do patrimônio do demandado e o

coloca no seu. Destaca que a sentença tem eficácia imediata no caso de o

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pronunciamento já estabelecer o bem previamente almejado pela parte, não

necessitando de novo processo para obtê-lo; e efeito diferido, quando necessitar

adentrar o patrimônio do devedor para buscar algum bem de sua propriedade.

Didier Júnior et al. (2008) lecionam que a decisão executiva institui uma

prestação ao réu e estabelece uma medida coercitiva direta, caso não haja o

cumprimento voluntário da obrigação.

Marinoni e Arenhart (2014, p. 117) explicam que:

enquanto as sentenças que reconhecem obrigações de não fazer, fazer e entregar têm executividade intrínseca, a sentença que reconhece obrigação de pagar quantia tem apenas eficácia executiva, restando a produção do efeito executivo na dependência de requerimento do credor.

Assis (2010b, p. 96) ressalta que uma sentença somente tem força executiva

quando relacionada ao direito material objeto da demanda, lecionando que:

Quando os atos de execução, por força do direito material, realizam-se no patrimônio do vencido, e, não no do vencedor, a sentença tem natureza condenatória (efeito executivo diferido). E, neste último caso, a atividade executiva se governa pelo princípio da responsabilidade patrimonial (art. 391 do CC-02).

Entendimento diverso de Assis (2010b) possuem Marinoni e Arenhart (2014) ao estabelecerem que a sentença executiva não se determina com base na estrutura

do direito material buscado pela parte, mas, sim, com base na execução em que está

inserida, a qual prevê a incumbência ao magistrado de determinar a modalidade de

execução ao caso em análise que melhor conceda a tutela almejada.

Por fim, Marinoni e Arenhart (2014, p. 119-120) aduzem:

Em resumo, de acordo com o art. 475-N, a obrigação de pagar quantia é tutelada mediante sentença condenatória, mas a obrigação de não fazer, fazer e entregar coisa podem ser tuteladas mediante sentença mandamental ou executiva. A sentença condenatória apenas tutela obrigação de pagar, enquanto as sentenças mandamental e executiva podem tutelar somente obrigações de não fazer, fazer ou entregar coisa.

Feito o exame das sentenças, a partir da análise de seus efeitos, abordam-se

as considerações necessárias no tocante às sentenças líquidas e ilíquidas.

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3.2 Considerações acerca das sentenças líquidas e ilíquidas

Referentemente às sentenças líquidas e ilíquidas, Wambier (2006a) ensina que

certeza, liquidez e exigibilidade são requisitos atribuídos ao direito constituído no

título, argumentando que a liquidez não é atributo da sentença condenatória, mas,

sim, objeto da própria condenação.

Aduz que liquidez significa ter mensuração definida, indicação de volume,

medida, referir-se especificamente ao bem a ser prestado. Menciona, também, que uma obrigação é líquida quando o objeto dessa obrigação é determinável através da

realização de cálculos.

A sentença deve abster-se da iliquidez, devendo ser certa, haja vista a

sentença ilíquida ensejar a fase de liquidação, anteriormente à ação executiva. Caso

não esteja acobertada do requisito de liquidez, não há como realizar-se a execução

imediata (MONTENEGRO FILHO, 2007).

Didier Júnior et al. (2008, p. 447) ensinam:

Considera-se líquida a decisão que define a extensão do direito subjetivo por ela certificado, isto é, define o quantum debeatur, nas prestações sujeitas à quantificação, bem assim aquela individualizada completamente o objeto da prestação. Quando é ilíquida, uma decisão precisa ser liquidada para poder ser título que fundamente a execução.

O artigo 459, parágrafo único do Código de Processo Civil proíbe que o Juiz

profira sentença ilíquida sempre que o pedido formulado pela parte seja certo. Dessa

forma, o autor, ao requerer na petição inicial a quantidade ou a qualidade da obrigação

devida, deve o Juiz prestá-la observados esses limites, prolatando uma sentença

líquida. Não sendo possível a parte fazer prova suficiente do valor da obrigação, deve-

se admitir uma condenação genérica e, posteriormente, utilizar-se-á do instituto da

liquidação (WAMBIER, 2006b).

Acerca do dispositivo acima referido, Bueno (2007, p. 361) destaca:

A interpretação mais adequada para o dispositivo e que vem recebendo apoio na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que não se deve deixar para a “fase de liquidação de sentença” (arts. 475-A a 475-H)

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atividade que já pode ser resolvida na “fase instrutória”, e que diga respeito à identificação do valor certo pretendido pelo autor.

O mesmo pensador ainda ensina que se a parte formular pedido certo, não

pode o juiz proferir sentença ilíquida e, havendo possibilidades, a sentença deverá

indicar o direito material reconhecido e fixar o valor monetário correspondente. Não

sendo possível, haverá espaço para a fase de liquidação de sentença. O autor

ressalta, ainda, que da interpretação do artigo brota o entendimento de que a não

observância do parágrafo único do artigo 459 é caso de nulidade relativa, somente

podendo ser declarada em favor do autor, conforme entendimento majoritário do

Superior Tribunal de Justiça, na Súmula 318.

Montenegro Filho (2007, p. 101) colaciona:

Como toda execução pressupõe certeza, liquidez e exigibilidade da obrigação (art. 586), a sentença declaratória, em qualquer das outras previstas no art. 475-N, somente terá força executiva quando contiver todos os elementos da relação jurídica obrigacional, ou seja, quando identificar partes, natureza e objeto da obrigação, tempo e demais condições para o seu cumprimento. Portanto, sentença que simplesmente declara a inexistência de relação jurídica ou a existência genérica de um dever jurídico, não pode ser qualificada como título executivo.

Theodoro Júnior (2007, p. 100) evidencia que:

Ilíquida é a sentença que não fixa o valor da condenação ou não lhe individua o objeto. Essa condição é incompatível com a índole do processo executivo que pressupõe, sempre, a lastreá-lo um título representativo de obrigação certa, líquida e exigível (art. 586).

Didier Júnior et al. (2008) referem que uma decisão é ilíquida quando deixar de

fixar o valor devido ou quando não individualizar completamente o objeto da

prestação, independentemente de sua natureza.

Cabe ressaltar que com a nova sistemática dos títulos executivos judiciais

(artigo 475-N), a liquidação não atua somente em relação às sentenças condenatórias

genéricas, mas, sim, em relação a todas as sentenças que não tiverem valor

determinado e que declararem a existência de uma obrigação (THEODORO JÚNIOR,

2007).

O mesmo doutrinador conclui que a iliquidez pode ocorrer no julgamento de qualquer ação, entretanto, no procedimento sumário, a condenação pecuniária não

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pode ser ilíquida. Afirma, por fim, que mesmo a iliquidez podendo ocorrer em qualquer

tipo de ação, o procedimento previsto nos artigos 475-A a 475-H trata apenas das

sentenças genéricas, prolatadas acerca de obrigações em dinheiro ou por prestações dessa espécie.

Expostas as considerações necessárias acerca das sentenças líquidas e

ilíquidas, passa-se a abordar a liquidação da sentença, suas noções gerais e

características.

3.3 Liquidação da sentença, noções gerais e características

Assis (2010a) colaciona que, consoante dispõe o artigo 475-A, caput, do

Código de Processo Civil, proceder-se-á à liquidação no caso de a sentença não

determinar o valor devido pela parte, sendo líquido o crédito completamente

individualizado, não necessitando de qualquer elemento suplementar e ilíquido o que

não se encontrar completamente definido.

A decisão judicial que concede o direito do credor a uma prestação – fazer, não

fazer, entregar coisa ou pagar quantia – deve conter o pronunciamento acerca da

existência da dívida, a quem é devida, quem deve, o que é devido e a quantidade

devida (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

O mesmo estudioso aduz:

O objetivo da liquidação é, portanto, o de integrar a decisão liquidanda, chegando a uma solução acerca dos elementos que faltam para a completa definição da norma jurídica individualizada, a fim de que essa decisão possa ser objeto da execução. Dessa forma, liquidação de sentença é atividade judicial cognitiva pela qual se busca complementar a norma jurídica individualizada estabelecida num título judicial. Como se trata de decisão proferida após atividade cognitiva, é possível que sobre ela recaia a autoridade da coisa julgada material (p. 116).

Marinoni e Arenhart (2014) relatam que, conforme dispõe o artigo 586, 475-I,

parágrafo 2º e 475-J do Código de Processo Civil, o título executivo judicial deve estar

revestido de obrigação líquida, certa e exigível. Evidenciam que, com a reforma trazida

pela Lei nº 11.382/2006, os requisitos citados são atributos da obrigação, não do título,

de forma que o processo somente prosseguirá para a fase de execução se a obrigação

contiver tais características.

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Nesse contexto, Montenegro Filho (2013) menciona que, partindo-se do

pressuposto de que a obrigação contida no título executivo seja líquida, certa e

exigível, conforme artigo 586 do referido diploma legal, a instauração da execução sem a presença desses requisitos acarreta a extinção do processo sem resolução de

mérito.

Ainda, os autores reforçam que nem sempre a obrigação mostra-se de imediato

líquida para proceder-se à execução, necessitando a instauração de um

procedimento, a fim de se averiguar a extensão da obrigação declarada na sentença.

Dessa feita, estar-se-á diante da fase de liquidação da sentença, para a constituição

do requisito faltante ao alcance da tutela jurisdicional.

A título de explicação, Assis (2010a) refere que a iliquidez atinge somente os

títulos executivos judiciais, haja vista os títulos executivos extrajudiciais necessitarem

previamente do requisito da liquidez, caso contrário, não serão títulos, cabendo ao juiz

liminarmente rejeitar a execução.

Wambier e Talamini (2014) assinalam que antes da Lei nº 11.232/2005

considerava-se a liquidação de sentença como processo de conhecimento, autônomo

e independente. Com a modificação dessa lei, houve alteração da natureza da

liquidação, transformando-se em fase, incidente do processo em que a sentença é

prolatada, situando-se entre o momento posterior ao pronunciamento da decisão e

anterior à fase de cumprimento da sentença.

Marinoni e Arenhart (2014) destacam que, com a modificação acima

mencionada, resta evidente que a liquidação não necessita de instauração de novo

processo, o que se pode comprovar com o texto dos artigos 475-A, parágrafo 1º e

475-H, os quais referem a “requerimento de liquidação” e, não, petição inicial;

intimação da parte contrária, ao invés de citação; e agravo contra a decisão, e, não,

apelação.

A partir da promulgação do citado diploma legal, eliminou-se o processo de

liquidação de sentença, sendo agora a liquidação uma fase do processo, que possui

diversos objetivos, quais sejam, sincretismo: certificar o direito, liquidar (complementar

a certificação) e efetividade à decisão judicial (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

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A liquidação de sentença é considerada agora fase do processo, não sendo

mais uma ação judicial que se encontrava entre a finalização do processo de

conhecimento e execução, utilizada como forma de aperfeiçoar o título executivo judicial, possibilitando-se a intimação da parte contrária para satisfazer a obrigação

no prazo legal (MONTENEGRO FILHO, 2013).

Nessa esteira, Theodoro Júnior (2007, p. 103) sublinha que:

Não há mais uma nova sentença de mérito. A definição do quantum debeatur transmudou-se em simples decisão interlocutória de caráter complementar e com função integrativa. Tal como se fora um embargo de declaração, o decisório de liquidação simplesmente agrega o elemento faltante à sentença, isto é o quantum a ser pago em função do débito já reconhecido no julgamento ilíquido.

A liquidação da sentença só é admitida a fim de completar o título executivo

judicial, sendo inadmissível a liquidação em títulos extrajudiciais, em virtude da

necessidade de constituírem-se em títulos líquidos, certos e exigíveis, sob pena de

extinção sem resolução de mérito (MONTENEGRO FILHO, 2013).

Câmara (2013, p. 241-242) colaciona:

A condenação genérica é excepcional, uma vez que a sentença deve ser, como se sabe, uma resposta ao pedido formulado pelo demandante (princípio da congruência entre pedido e sentença, também conhecido como princípio da adstrição da sentença ao pedido). Devendo ser pedido certo e determinado (art. 286 do CPC), ou seja, exigindo a lei processual que o demandante identifique, em sua demanda, não só o bem da vida pretendido, mas também a quantidade desejada (quando, obviamente, tratar-se de um bem da vida quantificável, como dinheiro), deverá a sentença responder a tal pedido, contendo a determinação do quantum debeatur.

Theodoro Júnior (2007) refere que a decisão da liquidação suplementa a

sentença condenatória, não podendo a parte utilizar o procedimento como forma de

atacar a sentença que está sendo liquidada, consoante dispõe o artigo 475-G do Código de Processo Civil, que fixa a proibição de nova discussão da lide ou

modificação da sentença na fase de liquidação.

Cabe mencionar que, em alguns casos, a decisão define todos os elementos,

entretanto, faz-se necessária a realização de cálculos aritméticos para que se possa

fixar a quantia devida pela parte – liquidação por cálculo do credor. Sublinha-se que

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mesmo a simples realização de cálculos mantém a sentença ilíquida, precisando-se

do procedimento de liquidação para apuração do valor (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

O mesmo pensador destaca que nos casos de obrigações de fazer, não fazer ou de entregar coisa, quando não for possível o cumprimento da obrigação de forma

específica, instaura-se na fase de execução um incidente cognitivo para quantificar

em dinheiro o valor dessa prestação – liquidação.

A título de explicação, Câmara (2014) assinala que a liquidação da sentença,

na verdade, é a liquidação do direito nela representado, todavia, utiliza-se tal termo

em virtude de assim estar no texto legal.

No tocante ao contraditório na fase de liquidação, Theodoro Júnior (2007, p.

104) ensina:

O devedor é sempre ouvido na liquidação, que segue a forma de um contraditório perfeito. Poderá defender-se, combatendo excessos do credor e irregularidades na apuração do quantum debeatur. Tal defesa não se confunde com os embargos à execução, e por isso mesmo, pode ser produzida independentemente de penhora. Aliás, é bom lembrar que a impugnação oposta ao cumprimento da sentença, após a sua liquidação, não pode reabrir discussão sobre as questões solucionadas na decisão liquidatória. Sobre seu conteúdo incide a res iudicata, de maneira que à impugnação do devedor só resta matéria do art. 475-L.

Assis (2010a) estabelece que a iliquidez não ocorre somente nas prestações pecuniárias, não se podendo fazer uma leitura restritiva do artigo 475-A, caput, ao

tratar da expressão “valor devido”.

O citado doutrinador leciona que nas prestações genéricas (prestações de

entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade) e nas prestações de fazer também há a necessidade de proceder-se à liquidação – artigo 475-I, caput.

Alerta, todavia, que em alguns casos de obrigações genéricas, a iliquidez ocorre em

partes, haja vista ocorrer o incidente de escolha para se determinar o objeto da

prestação. Nas obrigações de fazer, devem-se estipular as condições em que a

prestação deve ser cumprida e, nos casos mais complexos, deve-se utilizar-se

previamente da liquidação para definir o objeto e cumprir as providências necessárias.

É preciso referir que, em alguns casos, a sentença pode condenar o vencido a

uma prestação líquida e outra ilíquida, podendo o credor, concomitantemente,

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executar a parte líquida da sentença nos próprios autos e propor a liquidação da parte

ilíquida em autos apartados (DONIZETTI, 2014).

Nesse contexto, Didier Júnior et al. (2013) destacam não ser necessário aguardar o trânsito em julgado para promover a liquidação, podendo-se propor a

liquidação mesmo na pendência de recurso, em autos apartados.

Referentemente ao pedido genérico, Assis (2010a) relata que a necessidade

de liquidação advém da formulação de pedido genérico na demanda, o que acarreta

o pronunciamento de sentença ilíquida. Destaca, entretanto, que há casos em que

esse pedido demonstra-se com base no fato concreto, não podendo a parte

individualizá-lo (hipóteses do inciso II do artigo 286 do Código de Processo Civil). Há

a proibição de condenação genérica nos casos de procedimento sumário e nos casos previstos no artigo 275, II, d e e do mencionado diploma.

Convém informar que a liquidação pode ocorrer por iniciativa do vencido, uma

vez que é seu dever dar cumprimento à condenação e seu direito liberar-se dela, de forma que tanto o vencedor quanto o vencido podem promover a execução da

sentença (THEODORO JÚNIOR, 2007).

Existem casos em que a liquidação mostrar-se-á obrigatória, como na sentença

penal condenatória.

Assis (2010a, p. 79) ensina:

E isso porque o dano civil representa assunto estranho ao processo-crime. O juiz só fixará o “valor mínimo” da indenização (art. 63, parágrafo único, c/c art. 387, IV do CPP). Logo, pretendendo o legitimado ativo executar a sentença penal condenatória, na parte que exceder, obrigatoriamente liquidará o título antes de promover a execução, oportunidade em que se atenderá, dentre outras relevantes questões, à participação da vítima no resultado evento (“concorrência de culpas”), conforme reza o art. 945 do CC de 2002.

O mesmo doutrinador aduz que a liquidação será obrigatória também nos casos

de sentença proferida em revisão criminal, sentença arbitral, danos provocados pela execução injusta, entre outros casos.

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Há de se ressaltar que na fase de liquidação não há cabimento de discussão

de questões já resolvidas na decisão objeto de liquidação, tampouco há possibilidade

de modificação de seu conteúdo, sob pena de desrespeito à coisa julgada – princípio da fidelidade à sentença liquidanda (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

Ainda, Didier Júnior et al. (2013) citam que há entendimentos no sentido do

cabimento de discussão referentemente aos juros moratórios e à correção monetária,

desde que os juros e as correções não estejam negados expressamente na sentença,

conforme enunciado n. 254, da Súmula do STF. Alertam, no entanto, que o STJ

preceitua que ocorrerá violação à coisa julgada se houver a incidência de juros

moratórios e remuneratórios capitalizados.

Por fim, Assis (2010b) assinala que, no tocante à natureza da liquidação, a

força do provimento que julga a liquidação (artigo 475-H do Código de Processo Civil)

acolhendo o pedido e determinando o valor do débito tem natureza constitutiva e

eficácia ex tunc.

Após o estudo do instituto da liquidação da sentença, sua noções gerais e

características, abordam-se as espécies de liquidação.

3.4 Espécies de liquidação

Observada a necessidade de complementação da decisão, pode-se verificar a

existência de três espécies de liquidação, sendo estas a liquidação por cálculo do credor, a liquidação por arbitramento e a liquidação por artigos (DIDIER JUNIOR et

al., 2013).

Assis (2010a) partilha do mesmo entendimento ao referir que a liquidação pode

dar-se mediante os três meios acima citados.

Montenegro Filho (2013) refere, no entanto, que há duas espécies de

liquidação, quais sejam, por artigos e por arbitramento, destacando que, ao lado

dessas duas, há a liquidação por cálculos da parte, realizada nos próprios autos da

execução.

Câmara (2014) reconhece apenas a existência de duas formas de liquidação.

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Wambier (2006a) menciona as três espécies de liquidação, estabelecendo que

a liquidação por cálculos do credor, chamada antigamente de liquidação por cálculos

do contador, foi efetivamente eliminada. Isso porque a parte apenas apresenta memória discriminada, já em sede de execução, não podendo ser considerada como

uma fase/procedimento de liquidação. Consequentemente, opera-se uma elaboração

da memória do cálculo por parte do credor, de forma automática, não necessitando

passar-se para a fase de liquidação, tendo em vista não respeitar a lógica do

procedimento.

Marinoni e Arenhart (2014, p. 127) lecionam que a primeira forma de liquidação

prevista é a realizada por cálculos – artigo 475-B do Código de Processo Civil,

aduzindo que:

Esta liquidação, em regra, é realizada extrajudicialmente, a cargo exclusivo do credor. Neste caso, cumpre ao credor, ao requerer a execução da condenação, instruir seu pedido com a memória discriminada e atualizada do cálculo que fez para chegar à determinação exata do quantum debeatur.

Theodoro Júnior (2007) ensina que o próprio credor elaborará um

demonstrativo do débito, mediante a realização de cálculos aritméticos, instruindo o

requerimento de cumprimento da sentença com a memória atualizada e discriminada

do cálculo.

A título de explicação, nos casos de a liquidação depender apenas de cálculos

aritméticos anteriormente à Lei Federal nº. 8.898/94, era necessária a propositura de

ação autônoma de liquidação, a fim de que os cálculos fossem realizados por

contador. Após a edição da mencionada lei, a ação autônoma de liquidação foi extinta,

permitindo-se que, para a apuração do débito que dependa apenas de cálculos

aritméticos, o próprio credor possa calculá-lo na própria ação de execução,

detalhando o cálculo realizado (DIDIER JUNIOR et al., 2013).

Cumpre referir que há casos em que o juiz, de ofício ou a requerimento da parte

pode submeter os cálculos realizados pela parte à conferência do contador do juízo.

Essas hipóteses são tratadas no parágrafo 3º do artigo 475-B – quando houver

excessos e quando a parte beneficiária da assistência judiciária tiver dificuldades em realizá-lo. Ocorrendo desaprovação dos cálculos, a citação observará o valor indicado

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originariamente pelo exequente e, para a penhora, tomar-se-ão por base os efetuados

pelo contador (THEODORO JÚNIOR, 2007).

A liquidação por arbitramento – artigo 475-C do Código de Processo Civil -, é cabível nos casos de tal modalidade ter sido prevista na sentença, por convenção das

partes ou nos casos em que o objeto da liquidação assim o determinar

(MONTENEGRO FILHO, 2013).

Didier Júnior et al. (2013) alertam que, consoante Súmula 344 do Superior

Tribunal de Justiça, não há ofensa à coisa julgada quando a liquidação for realizada

de forma diversa da fixada na sentença. Por conseguinte, a forma como se deve

liquidar uma decisão, bem como os meios executivos impostos não se sujeitam à coisa

julgada. Sendo assim, embora o título estabeleça que a liquidação deva ser feita, por

exemplo, por arbitramento, pode-se proceder à liquidação por artigos, observando-se

o procedimento suficiente para a busca do resultado.

Assis (2010a) lembra que há casos em que a própria lei estabelece as hipóteses em que a decisão utilizará a liquidação por arbitramento, como nos casos

de danos decorrentes da execução provisória e de danos resultantes de dolo

processual.

Acerca do assunto, Câmara (2014, p. 249) leciona:

A primeira destas modalidades, a liquidação por arbitramento, é utilizada toda vez que, para determinar o quantum debeatur, seja necessária a nomeação de um perito para se atribuir valor a uma coisa, serviço ou a um prejuízo. O arbitramento é, em suma, uma perícia (que, neste processo, funcionará – mais do que como mero meio de prova – como uma forma de liquidar a obrigação), feita pelo arbitrador (o qual, pois, é um perito).

Marinoni e Arenhart (2014. p. 132) evidenciam que:

Tal forma de liquidação se mostra necessária quando a determinação do valor a ser executado exceder os limites do conhecimento ordinário. O arbitramento é derivação da prova pericial, em que um expert é convocado para realizar atividades próprias de sua formação, cujo conhecimento extrapola o limite do exigível para o ‘homem comum’.

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Admitido o cabimento da liquidação por arbitramento, o juiz deve determinar

que seja cientificado o sujeito passivo, podendo oferecer defesa e, na mesma

oportunidade, nomear o perito, fixar seus honorários e formular quesitos (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

Observar-se-á no arbitramento as regras da prova pericial. Quando da

apresentação do laudo, as partes terão 10 dias para se manifestar, aceitando ou

impugnando os termos. Caso haja impugnação, caberá ao Magistrado decidir e,

havendo discordância, poderá a parte insatisfeita propor recurso de agravo

(MARINONI; ARENHART, 2014).

A liquidação por artigos deve ser feita quando ocorrer a necessidade de provar

fato novo – artigo 475-E do Código de Processo Civil (THEODORO JÚNIOR, 2007).

Assis (2010a, p. 97) ensina que fato novo “é aquele que resulta da obrigação e que não foi objeto de iudicium no provimento de liquidação, ou surgiu durante ou após

a demanda condenatória, a despeito de essencial à apuração do quantum debeatur”.

Acerca do assunto, Didier Júnior et al. (2013) referem que fato novo é aquele

que não foi mencionado no processo de conhecimento, não necessitando ter ocorrido

após a sentença, mas, sim, ter seu aparecimento no curso da demanda, sendo

necessária a sua apuração na fase de liquidação para que proporcione o contraditório

sobre o fato novo e apure-se o valor com base nesse.

Destaca-se que no caso de o cômputo do montante da dívida depender de prova de fato novo, mesmo sendo necessária a produção de prova pericial, utilizar-

se-á da liquidação por artigos (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

Wambier (2008) cita que a liquidação por artigos observará o procedimento

comum previsto para o processo de conhecimento, segundo disposto no artigo 475-F

do Código de Processo Civil.

Câmara (2014) colaciona que há entendimento unânime na doutrina de que a

liquidação por artigos seguirá o mesmo procedimento de conhecimento condenatório,

de forma que, se o processo seguiu pelo rito ordinário, este será o utilizado na

liquidação; se iniciou pelo rito sumário, valer-se-á deste para a liquidação.

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Montenegro Filho (2013, p.341) destaca que:

No que se refere à dinâmica do procedimento, o art. 475-F prevê que a liquidação por artigos tramita de acordo com as regras do procedimento comum ordinário ou do sumário, a depender de a causa se enquadrar (ou não) em uma das hipóteses do art. 275 da Lei de Procedimentos.

Cumpre referir que qualquer dos procedimentos que venha a ser utilizado, a

liquidação começará a pedido do interessado, sendo mister indicar na petição inicial o fato novo em que se baseia seu pedido (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

O mencionado pensador (2013, p. 142) ainda ressalta:

Nessa petição, o liquidante indicará o fato novo (ou fatos novos) em que fundamenta o seu pedido. É nesse sentido que se fala em liquidação por artigos: é necessário que o pedido de liquidação articule – isto é, exponha, indique – os fatos novos em que se baseia.

Cumpre referir o ensinamento de Marinoni e Arenhart (2014, p. 134):

Normalmente, tal forma de liquidação se relaciona aos casos de ‘pedido indeterminado’ autorizados por lei (art. 286 do CPC). Em tais casos, porque a lei expressamente autoriza o autor a apresentar detalhes de seu pedido futuramente, especificando a exata extensão de seu pedido mediato, poderá ele, após a condenação, valer-se da liquidação por artigos para deduzir esse novo material, integrando a sentença condenatória e especificando o exato momento da condenação.

Assis (2010a) ensina que nos casos previstos no art. 475-N, II, IV e VI citar-se-

á a parte e, nos demais casos, ela será intimada.

Sobre o referido, Didier Júnior et al. (2013) concluem que a intimação da parte

ocorrerá quando se tratar de fase de liquidação, e a citação nos casos de processo

autônomo de liquidação por artigos.

Marinoni e Arenhart (2014) destacam que na sentença penal condenatória não

é atribuição do juízo criminal a fixação de valor indenizatório devido à vítima. Referem

que mesmo sendo título executivo, não há o valor do montante a ser executado, necessitando a vítima apresentar de forma precisa os dados que embasam seu

prejuízo, alegando e provando fatos novos.

A decisão que julgar a liquidação em autos apartados (processo autônomo)

será a sentença, cabendo apelação. De outra banda, o ato decisório que julgar de

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forma incidental a liquidação por artigos poderá ser impugnado mediante agravo de

instrumento (ASSIS, 2010a).

Cabe referir que Câmara (2014) alerta que podem ocorrer casos em que a sentença condenatória genérica, que condena o réu ao pagamento de quantia a ser

fixada na fase de liquidação, declare que não há nada a ser pago pela parte. O autor

refere que há divergência na doutrina, entretanto, segue a linha de pensamento de

que tal hipótese é perfeitamente cabível, verificando-se que na liquidação não há quantum debeatur a ser pago – liquidação zero.

Segundo ensinamentos de Montenegro Filho (2013), há reflexões na doutrina

acerca da liquidação com resultado zero ou sem resultado, sendo aquela em que ao

findar a fase o liquidante nada sofreu de dano. Com base na teoria eclética de

Liebman, o direito de ação não obriga necessariamente ao reconhecimento do direito

material objeto da lide. Dessa forma, na fase de liquidação não há a obrigação de que

o resultado da fase processual seja favorável ao autor, visto que o resultado negativo ocorreu por culpa do exequente, não sendo obrigatória que a fase de liquidação traga

resultado positivo ao jurisdicionado.

Acerca do dano zero, Didier Júnior et al. (2013, p.143-144) esclarecem:

A liquidação com dano zero ou sem resultado positivo é aquela em que se conclui que o liquidante não sofreu dano algum, isto é, o quantum debeatur é zero, o que torna inexistente o próprio an debeatur.

Pode ocorrer de a sentença ser de procedência do pedido e a demanda, na

fase de liquidação, ser julgada improcedente, declarando-se a inexistência do dando

indenizável. É o caso de acidente de trânsito em que se pede a condenação ao

ressarcimento dos danos e, na fase de liquidação, verifica-se que tais danos não têm

valoração econômica (CÂMARA, 2014).

Após todas as considerações tecidas sobre a sentença e a liquidação, passa-

se à redação do último capítulo, o qual versa sobre o cumprimento de sentença.

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4 CUMPRIMENTO DA SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA NO JUÍZO CÍVEL

A Lei nº 11.719/08 deu nova redação ao inciso IV do artigo 387 do Código de

Processo Penal, estimulando o acesso da vítima ao Judiciário para a reparação dos

danos advindos do ilícito penal, tendo por finalidade a celeridade na prestação jurisdicional. A sentença penal condenatória torna certa a obrigação de indenizar,

constituindo a sentença título executivo judicial a ser executado na esfera cível.

Entretanto, a referida lei trouxe o instituto de fixação do valor mínimo indenizatório a

título de reparação de danos na sentença penal condenatória pelo juízo criminal.

Dessa forma, a partir das modificações introduzidas no sistema penal e cível, busca-

se no presente capítulo a análise da nova sistemática em sede de reparação de danos, enfatizando-se a melhor estratégia de atuação da vítima na tutela de seus interesses

no cumprimento da sentença penal condenatória.

4.1 Alterações introduzidas através da Lei nº 11.719/08 no Código de Processo Penal e seus reflexos processuais civis

Primeiramente, cabe referir que um mesmo fato jurídico pode repercutir em

diferentes esferas, tendo consequências jurídicas diversas. Sendo assim, quando da

prática de um ilícito penal, haverá a fixação da pena ao réu, sendo cabível sanção

administrativa ou disciplinar, conforme o caso, e a reparação de danos patrimoniais a que faz jus a vítima (CABRAL, 2010).

Assis (2010a) ensina que a sentença penal condenatória é fadada ao efeito

anexo e extrapenal de tornar certa a obrigação de indenizar o dano e, em virtude da

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separação da justiça cível e penal – artigo 935, 1ª parte do Código Civil, contraiu a

condição de título executivo civil (artigo 475-N, II do CPC).

No direito moderno, há dois sistemas de fixação de responsabilidade civil para a prática de ilícitos penais, quais sejam, o sistema de separação, modelo adotado pelo

Brasil antes da reforma do CPP, o qual proíbe o pedido de reparação civil no processo

penal, e o sistema de adesão, o qual permite o pedido de reparação civil em fase

processual penal. Neste último caso, o pedido é efetuado em alguns casos pela vítima

ou sucessores e, em outros, pelo Ministério Público, podendo o sistema de adesão

ser facultativo ou obrigatório (CÂMARA, 2009).

O citado pensador destaca que antes do advento da Lei nº. 11.719/08, o critério

utilizado era o da separação entre a instância cível e criminal, estabelecendo o artigo

63 do CPP a previsão de que, após o trânsito em julgado da sentença condenatória,

a parte tem a faculdade de manejar a execução no juízo cível, em virtude da previsão

do artigo 91 do mencionado diploma legal, que prevê a obrigatoriedade de indenizar a vítima do ilícito como efeito da condenação criminal.

Montenegro Filho (2013) ensina que um dos efeitos da sentença penal é tornar

certa a obrigação de indenizar, segundo preceitua o artigo 91, inciso I do Código

Penal, constituindo-se em título executivo judicial, de modo que a prática do ilícito

acarretará um duplo desdobramento (cível e criminal).

Acerca do referido, Hertel (2008) salienta que antes da reforma existiam duas possibilidades para a vítima buscar a reparação de danos. O ofendido tinha a

faculdade de esperar o trânsito em julgado da sentença para liquidá-la e executá-la

ou, desde logo, mesmo na pendência do processo crime, propor uma ação de conhecimento – ação civil ex delicto, artigo 64 do CPP.

Theodoro Júnior (2008), entretanto, sublinha que a sentença penal

condenatória nunca foi um título executivo civil verdadeiro, haja vista ser requisito da

sentença tornar certa a obrigação de indenizar. No entanto, antes da alteração

legislativa, a sentença não estava revestida do instituto da certeza – liquidez-. Dessa

forma, verifica-se que a sentença penal condenatória configurava-se título apto

apenas para requerer a liquidação e, posteriormente, a execução.

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Segundo ensinamentos de Filippo (2011), o processo penal sofreu

modificações há pouco tempo, sendo uma delas a mudança relativa à forma de

tratamento da vítima.

A reforma introduzida pela Lei nº 11.719/08 modificou o artigo 387, inciso IV do

CPP, estabelecendo que na sentença penal haverá a indicação do valor mínimo da

indenização devida ao ofendido. Além disso, a mencionada lei inseriu um parágrafo

único ao artigo 63, o qual dispõe que após o trânsito em julgado da sentença

condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código, sem prejuízo da liquidação para a apuração do

dano efetivamente sofrido (GONÇALVES, 2010).

Rieger e Camargo (2009) evidenciam que antes da reforma, a vítima esperava

o trânsito em julgado da sentença penal e depois ingressava com uma ação civil para

a tutela de seu valor indenizatório. Aduzem que a sentença configurava-se em título

ilíquido, valendo-se a parte da liquidação por artigos, com produção de provas do dano, para apurar o valor do quantum.

Os pensadores acima referidos destacam que com a nova redação do artigo

387, inciso IV, a sentença penal tornou-se título líquido – pelo menos em parte -, como

se pode inferir da previsão de o juiz fixar valor mínimo a título de reparação. Tal

entendimento é reforçado pelo parágrafo único do artigo 63, também modificado pela

lei em estudo, estabelecendo que “transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do

art. 387 deste Código, sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano

efetivamente sofrido”.

Didier Júnior et al. (2013, p. 169) colacionam:

O objetivo do legislador foi facilitar a futura execução da sentença penal condenatória, facultando à vítima a possibilidade de executar, de logo, parcela mínima da indenização a que faz jus, reservando as demais discussões para o processo de liquidação. Desta forma, extrai-se o maior proveito cognitivo possível do processo criminal, conferindo-lhe máxima efetividade, de modo a prestigiar a economia processual.

Cabe referir que a previsão do artigo 387, inciso IV do CPP não exclui a competência para a fixação da indenização no juízo cível, conforme prevê o artigo 64

do CPP. Hertel (2008, p. 250) declara:

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Desse modo, nada impede que o ofendido, mesmo durante a tramitação penal, venha a ajuizar uma ação na esfera cível com vistas à obtenção da indenização. Note-se que, nesse caso, poderá a vítima mover uma ação civil ex delicto para obter a fixação de uma indenização pelos danos morais e materiais.

O mesmo pensador complementa que a parte poderá utilizar o instituto da

liquidação da sentença penal condenatória, requerendo a sua liquidação (artigos 475-

A a 475-H do CPC) e, posteriormente, a execução, liquidando-a por artigos ou por

arbitramento, conforme o caso. Cabe referir que o ajuizamento da ação de

conhecimento pode ser intentada mesmo no curso do trâmite processual penal,

todavia, há a recomendação de que o juízo cível suspenda o curso da lide até o

julgamento da ação penal. Tal recomendação está prevista no parágrafo único do artigo 63 do CPP.

Silva (2010a) leciona que a lei em estudo atribuiu ao Juiz Criminal a

competência de arbitrar e condenar o réu a reparar valor mínimo de danos materiais

e morais causados por ilícito criminal. O estudioso menciona que o autor de um ilícito

criminal, que causa danos a outrem, viola, ao mesmo tempo, normas de direito penal e civil. Por conseguinte, o autor da infração sujeitar-se-á a responsabilizações penal

e civil, obedecendo ao devido processo legal, tanto na esfera cível quanto na criminal.

Ressalta, ademais, que a valoração da culpa no juízo cível é mais exigente se

comparada ao juízo criminal, podendo haver casos de condenação no juízo cível e de

absolvição no juízo penal.

Referentemente ao sistema de responsabilização instituído pela lei em análise,

Câmara (2009, p.73) posiciona-se da seguinte forma:

Diga-se, em primeiro lugar, que este novo regime não impede o ajuizamento da demanda civil de reparação de danos. Afinal, permanece em vigor o art. 64 do CPP, segundo o qual, “sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação de ressarcimento do dano poderá ser proposta no Juízo Cível, contra o autor do crime e, se for o caso, contra o responsável civil”. Disso se pode, então, extrair que o Direito brasileiro teria passado, por força da Lei nº 11.719/2008, do regime da separação para o da adesão facultativa.

Da mesma forma, Silva (2010b) ressalta que a mudança ocorrida no processo penal demonstra um avanço no sistema jurídico brasileiro para o processo de adesão,

já utilizado em outros países, como França, Alemanha e Portugal. Esse sistema

baseia-se na economia processual, atribuindo o legislador competência ao juízo

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criminal para decidir a contenda cível no processo penal, condicionado o julgamento

e a decisão à prévia opção da vítima para buscar a reparação de danos civis na esfera

penal.

O mencionado doutrinador aduz que:

O processo de adesão consiste na propositura da ação civil de ressarcimento dos danos causados pela infração penal perante o juízo criminal em que o ofendido, constituindo-se em parte civil, formula pedido, segundo o princípio dispositivo, devendo formar-se a relação jurídica processual regular quanto à lide civil. Em síntese, o sistema jurídico brasileiro funda-se na separação absoluta das ações penal e civil – artigo 64 do Código de Processo Penal – mitigado com vinculação do juízo cível às questões de positivação do fato e da autoria ut 935 do Código Civil, com tendência à adoção do processo de adesão (p. 9-10).

Na mesma esteira de pensamento, Oliveira (2014) destaca que a alteração

ocorrida afastou o rigorismo da independência das esferas cível e penal, estando mais

próximo do sistema de adesão obrigatório, no qual a vítima deve fazer o pedido de reparação de danos no juízo cível.

Tal estudioso ainda salienta que o processo civil é transportado ao criminal e,

caso a vítima não faça o pedido indenizatório, o direito de ressarcimento dos danos

precluirá. Alerta, todavia, que no Brasil prepondera o entendimento de que a vítima

tem faculdade de optar pela propositura posterior da demanda cível, caso não haja no juízo criminal a fixação do valor, adotando-se o sistema da separação parcial.

Gonçalves (2010) destaca que constitui eficácia secundária da sentença penal

condenatória a obrigação de indenizar, advinda de determinação expressa da lei,

existindo independentemente de comando judicial que a reconheça. Refere, ademais,

que a modificação trazida pela lei em apreço torna necessário o comando judicial

explícito para a fixação do valor mínimo a título de indenização, devendo estar

fundamentado. Havendo omissões, a legislação não prevê a possibilidade de

embargos de declaração para sanar a questão. O autor complementa, outrossim, que

a sentença penal mantém sua eficácia cível, conservando o efeito anexo da

obrigatoriedade do dever de indenizar.

Anteriormente à mudança legislativa, a sentença penal condenatória transitada em julgado fixava apenas o an debeatur, necessitando a vítima valer-se do instituto da liquidação por artigos para a fixação do quantum debeatur. A mencionada

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liquidação, em diversos casos, motivava amplo contraditório, alongando o início do

processo de execução (ARAÚJO, 2009).

Mendonça (2008) ressalta que a liquidação utilizada, mesmo sendo incabível a rediscussão da demanda ou modificação da sentença, tardava na tutela almejada pela

vítima, haja vista a necessidade de produção de provas referentemente ao dano

causado, bem como a ocorrência de incidentes processuais que poderiam ocorrer em

um processo de execução.

Araújo (2009) colaciona que a mudança legislativa suprimiu toda a fase de liquidação do quantum debeatur, abreviando o tempo da fixação da indenização e do

pagamento do valor.

Atualmente, é possível a vítima ingressar com a demanda no juízo cível com

um valor pré-fixado pelo juízo criminal. Entretanto, tal previsão não proíbe a propositura da ação civil ex delicto pelo ofendido ou por seus sucessores ou, ainda, o

pedido de liquidação pela diferença a que faz jus a vítima (RIGIER; CAMARGO, 2009).

Câmara (2009, p. 73) destaca que:

Sem que se faça, ainda, qualquer análise crítica dos novos dispositivos, limitado esse estudo por ora ao exame da literalidade do texto, caberá ao Juízo Criminal, na sentença condenatória, fixar um valor mínimo de indenização. Uma vez transitada em julgado a sentença penal, caso a vítima se dê por satisfeita com o valor indicado naquele provimento, promoverá desde logo a execução; caso lhe pareça insuficiente aquele valor, deverá primeiro postular a liquidação da sentença.

A autonomia das esferas penal e cível sofreu relativização com a mudança do

artigo 387, inciso IV do CPP, haja vista o Juiz Criminal, no processo penal, fixar valor

mínimo em sede de indenização cível. O valor indenizatório antes da reforma cabia

exclusivamente ao Juiz Cível, restringindo-se ao Juízo Criminal a análise referente ao

Direito Penal – elementos do crime, excludentes de antijuridicidade, culpabilidade e

dosimetria da pena (HERTEL, 2008).

Nucci et al. (2009, p. 403) colacionam que:

Diferentemente do que ocorria antes do advento da Lei 11.719/2008, regendo-se o processo penal única e exclusivamente pelas normas processuais penais, passa agora a integrar o processo criminal, em virtude o caráter civil do valor a ser fixado na sentença penal condenatória, alguns

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elementos do processo civil. Nesse sentido, o procedimento penal deve se fundamentar por duas lógicas processuais: pela pena, naquelas matérias eminentemente criminais; pela civil, no que se refere à fixação do valor mínimo a ser ressarcido pelo autor da infração penal. Há, portanto, um sincretismo, que bem demonstra a distinção ontológica – senão conceitual – entre os processos civil e penal e que, aliás, não é exemplo inédito em nosso ordenamento.

Rieger e Camargo (2009) referem que o Brasil adota o sistema de

independência relativa entre a esfera penal e cível, haja vista, em diversos casos,

haver subordinação cível à criminal. São prova disso a previsão do artigo 91 do Código

Penal, que prevê a reparação do dano como efeito genérico da sentença penal

condenatória, e o artigo 935 do Código Civil, que determina que não haverá discussão

no cível acerca de matéria de decisão criminal que reconheça a existência do fato ou

sobre quem seja o autor dele.

Oliveira (2014) evidencia que a mudança legislativa teve como um dos objetivos a economia e celeridade processual, haja vista a fixação de um valor mínimo dar

liquidez à sentença, tornando-a um título completo, distanciando-se do trâmite anterior

das sentenças ilíquidas.

O mesmo pensador ainda refere que a alteração almejou também abster a

ocorrência de decisões contraditórias em demandas com fatos equiparados, o que

gera ofensa aos direitos das vítimas e à segurança jurídica.

Referentemente à fixação do valor mínimo e da eficácia da sentença

condenatória, Silva (2010a, p. 136-137) ressalta:

O verbo fixar na realidade não é sinônimo de condenar, porquanto significa indicar, recomendar, prescrever. Por isso, não se confunde nem se pode transformar na dogmática nem na prática uma sentença condenatória criminal em sentença condenatória civil na interpretação dos artigos 475-N-II do CPC, 387, IV do CPP e 91, I do CPP. Com efeito, o verbo fixar no tempo futuro utilizado pelo legislador significa uma recomendação e não uma legitimação do juiz criminal para condenar o réu em reparação de danos civis, situação que, a rigor, jamais ocorrerá na prática jurisdicional. Consequência lógica, a sentença criminal condenatória que fixar valor mínimo a título de reparação de danos produzirá apenas eficácia declaratória na jurisdição civil, valendo, ainda, como forte instrumento de prova, para fins de condenação do réu ou responsável civil na conexa e heterônima ação de responsabilidade civil.

Gonçalves (2010) demonstra que a alteração legislativa não retirou a eficácia

civil da sentença penal condenatória, que continua a ter eficácia anexa sua, tendo em

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vista que, não sendo fixado valor pelo juízo criminal, a sentença penal condenatória

conservará a eficácia anexa de tornar certa a obrigação de indenizar, constituindo-se

em título executivo.

Hertel (2008, p. 243-244), entretanto, partilha do entendimento de que a fixação

do valor mínimo é obrigatória pelo juízo criminal, aduzindo que:

Desse modo, doravante, com o advento da reforma processual penal caberá ao Magistrado criminal, ao prolatar a sentença condenatória, fixar o quantum mínimo de indenização cível. O mecanismo, não há dúvidas, está alinhado ao princípio da celeridade processual. Trata-se, com efeito, de uma forma de otimizar a atividade processual relativa à reparação de danos, porquanto o próprio juiz criminal, após regular processamento do processo criminal, fixará na sentença condenatória o mínimo indenizatório.

No tocante ao assunto, Didier Júnior et al. (2013) sublinham que mesmo que o Código de Processo Penal seja imperativo ao determinar que o juiz fixe o quantum

indenizatório a título de reparação de danos, o Magistrado não está obrigado a fixar

esse valor diante da ausência de elementos de fato e de prova necessários para tal

fim. Sendo assim, nos casos em que não haja dados suficientes para a fixação do

valor, o magistrado não está vinculado à regra do artigo, devendo expressar os motivos pelos quais deixou de fixá-lo.

Segundo ensinamentos de Cabral (2010), a reforma objetivou a celeridade na

prestação da indenização, de modo que a vítima não tenha de suportar a demora da

liquidação da sentença ou do ajuizamento da ação autônoma, bem como visou à

redução de processos.

O mencionado estudioso refere que a nova regra refaz o papel da vítima no

processo penal, de modo que essa passa a ter seus interesses parcialmente

tutelados. Observa uma tendência de novo descobrimento e tratamento da vítima, que

incide na sistemática penal em sede de reparação de danos.

Oliveira (2014, p. 79) aponta o Projeto de Lei nº 8.045/2010 no tocante à tutela

ressarcitória da vítima, destacando que:

O papel da vítima no contexto jurídico-criminal da atualidade passou a ser repensado (ou, para alguns, redescoberto). Aliás, as modificações propostas pela Comissão responsável pelas alterações do atual Código de Processo Penal importam em conceder à vítima maior importância dentro do cenário jurídico.

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A alteração ocorrida no artigo 387, inciso IV dirige-se à vítima, sem valer-se de

preocupações com o réu. Tal modificação considera a fixação do valor a título de

indenização como consequência óbvia da condenação crime, voltando-se o julgador principalmente ao campo patrimonial da vítima (FILIPPO, 2011).

Nucci et al. (2009, p. 399) evidenciam acerca da valorização do ser humano

inserida na reforma do sistema processual penal:

Cabe enfatizar que a inovação legislativa sob análise deve ser festejada pelo seu intento em compatibilizar o tema processual penal com os valores trazidos pela Constituição de 1988. Dito de outra forma, visam as alterações referentes à ação civil ex delicto privilegiar traços restaurativos e garantistas no tratamento da infração penal, fazendo com que o cidadão, quando possível, participe do processo retributivo/restaurativo. Dessa forma, tem a reforma o mérito de promover os valores da Constituição cidadã na processualística penal.

A valorização da vítima passou por diferentes fases no processo penal,

verificando-se, consequentemente, que se faz necessária a ampliação das garantias.

Com isso, observa-se a construção de formas de proteção à vítima, a fim de facilitar

a sua participação no processo, dando-se o principal enfoque à possibilidade de

reparação (OLIVEIRA, 2014).

Tal pensadora ainda salienta que o modelo tradicional seguido era insuficiente, de modo que a contribuição da vítima era ser vitimizada novamente, valendo-se do

processo penal para punir o defensor, mesmo sem possibilidades de ressarcimento

de seus danos e de finalização do litígio. Dessa forma, com as referias críticas, passou

o legislador a dar mais atenção à vítima por meio de reformas precisas na legislação,

buscando a sua satisfação com o ressarcimento dos danos materiais.

A Lei em análise trouxe grande divergência em relação a seu alcance e, feito o

seu estudo no tocante às mudanças na esfera penal e reflexos no sistema civil, passa-

se ao estudo dos aspectos positivos e negativos da referida lei, com o objetivo de

verificar melhor forma de atuação da vítima na busca da tutela ressarcitória.

4.2 Ponderações acerca dos aspectos positivos e negativos da Lei nº 11.719/08 em sede de reparação de danos

Nucci et al. (2009) assinalam que a alteração legislativa nasceu com o objetivo

de facilitar os meios pelos quais a vítima busca o ressarcimento do dano advindo da

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prática do ilícito. Referem ter sido nobre a intenção legislativa, todavia, há diversos

aspectos que não foram tratados que são de grande importância para a eficácia da

lei.

Com a alteração, objetivou o legislador facilitar a futura execução da sentença penal condenatória, podendo a vítima, de imediato, executar o quantum mínimo

indenizatório, deixando casuais discussões ao processo de liquidação, utilizando-se

do máximo possível da fase de conhecimento do processo criminal, dando-lhe mais

efetividade e economia processual (DIDIER JÚNIOR et al., 2013).

Cabral (2010, p. 306-307) declara:

O principal objetivo da reforma foi conferir celeridade à indenização, sem que o lesado tenha que suportar a demora no processo de liquidação de sentença ou ajuizar ação autônoma: algum valor já fica definido desde logo. Mas também foi escopo da nova regra reduzir o número de processos, acompanhando uma tendência mundial de resolver certas questões, em casos de incidência múltipla, na mesma relação processual, procurando reduzir ou apagar, de uma só vez e aproveitando a cognição sobre pontos comuns, todos os efeitos que o crime possa ter gerado.

Verifica-se que a nova regra avançou na tutela dos interesses da vítima ao dar

legitimidade ao juízo criminal arbitrar valor mínimo, possibilitando acesso mais rápido

da vítima à reparação de seus danos, economia processual, evitando contradições com o valor médio ou máximo que possa ser fixado (SILVA, 2010a).

Na visão do mencionado pensador, a avanço legislativo é a primeira forma de

implementar a justiça restaurativa, de modo que se responsabilize o autor do fato a

assumir efetivamente os danos causados, alertando, todavia, para a necessidade do

processo de adesão para a eficácia da mudança legislativa.

Nucci (2009) enfatiza que a inovação visa a compatibilizar o tema processual

com os valores da Constituição Federal, objetivando que as modificações da ação civil

ex delicto evidenciem os traços restaurativos e garantistas em relação à infração

penal, de forma que possa ser garantido ao cidadão que participe, quando possível,

do processo retributivo/restaurativo.

No tocante às alterações, Araújo (2009, p. 93) refere:

Tais alterações visaram, sobretudo, a adequar o referido Código à modernidade, tendo em vista que a matriz da legislação processual penal

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brasileira foi editada em 1940, em plena égide do Estado Novo, sob influxo, portanto, de uma Constituição outorgada e de cunho ditatorial.

Acerca dos aspectos positivos do novo instituto, Silva (2010b, p. 39) declara:

A presente reflexão jurídica apresenta saldo positivo considerável na expressão da Lei nº 11.719/08, na alteração do artigo 387, IV, do CPP, em sede de reparação de danos civis, na medida em que se aproveita da condenação do réu no processo criminal para se impor a composição mínima dos danos causados pelo crime em sentença condenatória penal transitada em julgado. Constitui-se em considerável avanço jurídico no trâmite processual criminal, objetivando, também a sanção civil mediante acordo ou condenação penal, pelos motivos a seguir expostos.

Segundo Câmara (2009), verifica-se o primeiro problema advindo da alteração legislativa no tocante à correlação entre a demanda e a sentença, a qual, conforme

entendimento doutrinário, viola o princípio do contraditório.

O mesmo doutrinador complementa afirmando que a observância ao princípio

da correlação previsto no artigo 460 do CP garante às partes condições de

prognosticar os resultados possíveis da demanda, tendo direito de participação no processo, permitindo que influenciem o juízo no resultado. Dessa forma, o desrespeito

a tal princípio dá permissão a que se tenha um resultado imprevisível para a parte,

não permitindo sua influência na formação, o que infringe o direito ao contraditório.

Entendimento diverso de Câmara (2009), possui Cabral (2010) ao lecionar que

não há necessidade de requerimento da parte no processo penal para a fixação do

valor mínimo indenizatório, salientando que o objetivo da reforma foi dar liquidez ao

título. Destaca que o pedido foi desobrigado pela lei, haja vista, em alguns casos, a

vítima não ter conhecimento de seu direito à reparação dos danos advindos do ilícito,

de modo que em razão da desnecessidade de pedido formulado pela vítima, não há

o que se falar em ofensa à correlação entre acusação e sentença ou sistema

acusatório.

Hertel (2008) colaciona que o princípio da correlação, em sede de processo penal, relaciona-se muito mais com a causa de pedir do que com o pedido, tendo em

vista que o réu defende-se dos fatos narrados e não da tipificação legal. Assinala-se

que a determinação de fixação do valor indenizatório é obrigatória, conforme se

depreende do texto legal. Dessa forma, mesmo que o dano não esteja presente na

denúncia, o valor deve ser fixado.

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O referido pensador destaca que nesse caso haverá a aplicação do princípio

da ultrapetição, segundo o qual, mesmo que não haja pedido da indenização por parte

da vítima, surgindo provas no processo do valor do dano causado, deve o magistrado considerá-lo na sentença. O autor ressalta que essa modificação está em

conformidade com a otimização do processo judicial.

Referentemente ao pedido formal da vítima, Filippo (2011, p. 104) colaciona:

Entretanto, não deve ser ignorada a forma imperativa do verbo constante do dispositivo em tela. Preceitua o art. 387, IV, do CPP que, ao proferir sentença condenatória, o juiz ‘fixará valor mínimo para a reparação do dano [...]’. Aliás, todos os demais incisos do mencionado artigo proscrevem medidas a serem tomadas pelo Magistrado de ofício. Assim, parece-nos evidente que o juiz deva proceder à fixação do valor mínimo indenizatório, independentemente de pedido, quer seja o Ministério Público, quer seja o próprio ofendido.

Oliveira (2014) cita que há divergência na doutrina no tocante à legitimidade do

pedido de ressarcimento, ensinando que há posicionamentos a favor da fixação do

valor pelo juízo criminal, o que amplia os poderes do juiz, ofendendo o atual sistema

acusatório. De outra banda, há discussões acerca da necessidade de requerimento

realizado pela parte ou de quem seriam os legitimados a fazê-lo – vítima, Ministério Público ou Defensoria Pública.

A título de explicação, Gonçalves (2010) suscita que o artigo 68 do CPP prevê

que, nos casos em que o titular do direito à reparação seja pobre, a execução da

sentença condenatória ou a ação civil será promovida, a seu requerimento, pelo

Ministério Público. Todavia, o STF em RE 135328/SP, Tribunal Pleno, Rel. Min. Marco

Aurélio, j. 29.06.94, DJU 20.04.01, declarou inconstitucional o dispositivo, referindo

ser dotado de inconstitucionalidade progressiva, ou seja, o artigo será aplicado

apenas para a tutela dos hipossuficientes enquanto não houver a instauração da

Defensoria Pública nos Estados.

Nucci et al. (2009, p. 406-407) evidenciam que a nova atribuição dada ao juízo

criminal de fixar valor a título indenizatório deve observar as regras e princípios processuais civis, alertando que:

Notemos, portanto, no direito processual civil, a existência do princípio dispositivo, cabendo às partes deduzirem suas pretensões em juízo, sem o que estará o magistrado impedido de apreciar e decidir determinada questão; caso contrário, ver-se-ia violado o princípio da inércia. É o que ocorre com a reparação civil no processo penal. Embora conste no rol do art. 387 do CPP,

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o item relativo à indenização, a apontar requisito da sentença, em verdade deverá o julgador estabelecer o quantum debeatur tão-somente se em decorrência da infração existirem reflexos patrimonial e moral passíveis de indenização e se houver expresso pedido da vítima; em caso negativo deverá declarar a impossibilidade jurídica de fazê-lo. Assim, tratando-se de requisito da sentença, obrigatória é a manifestação do juízo criminal em relação à indenização, pois ainda que não fixe valor, deverá justificar as razões pelas quais deixou de fazê-lo. Ao contrário, a fixação ex officio do valor mínimo a ser indenizado trataria outras incongruências para o sistema processual, com o maltrato aos princípios do contraditório e ampla defesa.

Didier Júnior et al. (2013), bem como Oliveira, que já foi citado, ensinam que

há divergência no tocante à necessidade de pedido expresso. Os primeiros

doutrinadores referem que lhes parece não haver necessidade de pedido, todavia faz-

se necessário que a matéria seja objeto de contraditório, obrigando-se submeter previamente o assunto às partes, a fim de possibilitar o contraditório.

Acerca do referido, Cabral (2010, p. 312) destaca:

Tem-se entendido majoritariamente que não é necessário requerimento para que o magistrado fixe o valor mínimo da condenação. Por força do art. 387, IV do CPP, a cognição judicial e o thema decidendum são estendidos ope legis à quantificação do dano, isto é, o poder de fixar o valor mínimo decorre diretamente da lei, já que o objeto da reforma é tornar, ao menos parcialmente, o título executivo líquido.

Câmara (2009) leciona que a regra estabelecida pela lei em análise mostra-se

em dissonância com o sistema acusatório vigente no sistema processual penal, o qual

tem como uma das características a distinção entre as atividades de acusar e julgar.

Refere que a permissão de o juiz criminal fixar valor mínimo da indenização, sem

existir demanda acerca do objeto, tem como consequência que as atividades de

acusar e julgar recaiam sobre a mesma pessoa.

Refere, ainda, o mesmo doutrinador que o sistema acusatório é completamente

necessário para as normas processuais penais estarem de acordo com as

Constituição Federal, destacando que o Supremo Tribunal Federal estabelece que no

ordenamento jurídico vigora o sistema acusatório.

Diferentemente de Câmara (2009), Cabral (2010) leciona que não há desobediência ao sistema acusatório o poder-dever de o juiz fixar o valor mínimo,

podendo reconhecer de ofício o valor correspondente ao dano. Alerta, todavia, que o

princípio do contraditório, analisado sob uma perspectiva moderna, determina que

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haja discussão entre as partes, mesmo quando se tratar de questões que o juízo

possa reconhecer de ofício.

O mencionado pensador aduz (p. 316):

Portanto, embora seja dispensado requerimento do interessado, não basta que haja prova suficiente dos prejuízos: deve haver debate prévio no processo. E isto se aplica também ao processo penal, mesmo impregnado do interesse público que lhe é característico. Assim têm sido as decisões de nossos tribunais a respeito do art. 387, IV do CPP.

Segundo Oliveira (2014), embora haja controvérsias, é imprescindível que no

Estado Democrático de Direito seja garantido à parte o exercício do contraditório e da

ampla defesa também em relação ao valor a título de indenização, de forma que esteja

em consonância com os demais princípios constitucionais que abarcam o devido

processo legal.

No tocante ao princípio do contraditório e ampla defesa, Filippo (2011, p. 109) assinala:

Em segundo lugar porque, ciente a defesa que a reparação de danos é efeito genérico da sentença penal condenatória, bem como do dever judicial de, quando possível, fixar o valor mínimo, deverá envidar esforços para demonstrar o equívoco do suposto montante do prejuízo causado à vítima, que aparentemente salta aos olhos dos elementos probatórios colhidos durante a instrução criminal ou aferidos até mesmo pelo auto de avaliação oriundos da fase investigativa policial. Assim, poderá a defesa elencar os meios de provas necessários para a demonstração do real prejuízo causado. Nem se cogite de desvirtuamento da instrução criminal, pois a linha argumentativa da defesa, nos crimes de reflexo patrimonial imediato, hodiernamente volta-se mesmo a essas questões.

Outro aspecto a ser tratado refere-se à possibilidade de o juízo criminal fixar

valor pelos danos materiais e morais, estabelecendo indenização com efeitos

patrimoniais e extrapatrimoniais. Nessa esteira, assinala-se que o dano material

refere-se às perdas e danos (lucros cessantes e dano emergente) e o dano moral

corresponde a um valor apto a indenizar o abalo emocional da vítima (HERTEL, 2008).

O juiz criminal pode valer-se dos parâmetros trazidos pelo artigo 948 e seguinte

do CC, o qual estabelece critérios para a quantificação do dano nos casos de

homicídio, ofensas às saúde ou que diminuam a capacidade de trabalho, dentre outros

(CABRAL, 2010).

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Oliveira (2014, p. 90) ressalta acerca da fixação do valor:

Ademais, verifica-se também dificuldade quanto à definição do arbitramento, ou seja, do quantum monetário que deve ser conferido ao ofendido. Isso porque inevitável que, para a compensação de danos materiais sofridos, sejam trazidos aos autos parâmetros para balizar a atuação do magistrado criminal. Por tal razão, a possibilidade do réu contraditar tais documentos deve ser ampla e substancial, situação que, em alguns casos, poderia repercutir na celeridade (ou razoável duração) do rito processual.

Segundo ensinamentos de Gonçalves (2010), tendo em vista a finalidade da

norma permitir à vítima, independentemente de prévia ação ou liquidação, promover

a execução da sentença penal condenatória transitada em julgado, não se pode

estreitar a fixação da indenização apenas aos danos materiais.

Nucci et al. (2009, p. 416) citam que a possibilidade de considerar os danos

morais na fixação do valor é deveras controvertida, observando que o ordenamento

jurídico não deve aceitar a reparação parcial do dano, aduzindo:

Entendemos, portanto, competir ao magistrado fixar um montante correspondente a quanto dos autos se possa extrair; e não somente o quanto se possa inferir pela mera narração do fato delituoso. Encontramos, assim, ser ônus do ofendido, habilitado como assistente de acusação demonstrar em juízo sua perda.

Referentemente ao tema mencionado, Hertel (2008, p. 246) leciona:

Não vejo qualquer óbice na possibilidade de o juiz criminal fixar o valor mínimo tanto para a indenização pelos danos morais. De fato, o art. 387, inc. IV do CPP não estabelece qualquer restrição. Ao revés, o perceptivo mencionado determina que o juiz fixará o “valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido.

O valor a ser estabelecido pelo juízo criminal deve considerar o valor máximo

que pode ser alcançado e fixado pelo juízo, de modo que tal valor não esgota

eventuais danos não aparentes no processo penal e que possam ser pleiteados

posteriormente no juízo cível. Evidencia-se que o valor máximo a ser fixado pelo magistrado na esfera criminal deve observar os danos morais, em razão de a não

observância do valor tocante ao dano moral causar à vítima a obrigatoriedade de

ingresso na esfera cível para buscar o valor real a que faz jus na recomposição dos

danos em sede de liquidação de sentença, o que acaba por desvirtuar o objetivo da

lei (NUCCI et al., 2009).

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Em contrapartida, Cabral (2010) preceitua que a fixação do valor atinente aos

danos morais não pode ser fixada em sede de juízo criminal, haja vista as provas

trazidas ao processo, por exemplo, exclusivamente documental, não serem suficientes para precisar o valor desse tipo de dano, em virtude de normalmente gerarem-se incidentes probatórios para apurar o quantum correspondente ao dano.

Cabe destacar a reflexão trazida por Silva (2010b) no sentido de que a Lei nº

11.719/08 carece de eficácia imediata enquanto não houver regulamentação da

matéria por parte dos Tribunais locais, tendo em vista constituir tema de organização

judiciária de competência da Justiça Estadual de iniciativa do Tribunal de Justiça de

cada Estado, conforme dispõe o artigo 125, §1º da CF.

Outro aspecto a ser tratado é no que tange à coisa julgada material do valor

mínimo fixado na sentença penal.

Nucci (2014) declara que os juízes criminais devem, caso solicitado pela vítima,

promover a discussão do valor relativo à indenização, buscando alcançar o valor real devido à vítima e não somente o valor mínimo. Em decorrência disso, pode-se falar

em coisa julgada material, coibindo-se o acesso da vítima na esfera civil, a fim de

evitar novo trabalho.

Relativamente à coisa julgada, na perspectiva de Didier Júnior et al. (2013),

devem ser observadas as seguintes premissas, mesmo não sendo necessário o

pedido da vítima: a observância de que houve, mesmo não sendo necessário pedido da vítima, o respeito ao contraditório, de modo que a parte não tenha surpresa com a

decisão; isenção do pronunciamento do valor por parte do juízo, caso não haja provas

suficientes; e interesse recursal para discussão do valor, caso não haja elementos

bastantes. Por conseguinte, verifica-se que a melhor solução é atribuir força de coisa

julgada material ao valor mínimo fixado, tendo em vista que, do contrário, estar-se-ia

dificultando a reparação da vítima, ensejando nova discussão acerca do valor.

Câmara (2009) segue a linha de entendimento de que após a reforma da lei,

ocorreu uma mudança nos limites da coisa julgada, que passou a tocar a fixação do quantum mínimo indenizatório, já que constitui requisito da sentença. Aduz que em

virtude de a vítima não participar do processo, a coisa julgada não pode ser invocada

pela vítima, com base no artigo 472 do CPC. O autor explica que a admissão da coisa

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julgada, nesse caso, ocasionaria inconstitucionalidade em relação ao princípio do

contraditório, de modo que o condenado teria a faculdade de discutir na esfera cível

até mesmo a existência da obrigação de indenizar, haja vista a não ocorrência da coisa julgada.

Entendimento diverso de Câmara (2009) possui Cabral (2010) ao preceituar a

diferença entre eficácia da sentença e autoridade da coisa julgada, de modo que o

artigo retromencionado não trata das decisões e, sim, da vedação de rediscussão da

coisa julgada (proibição de rediscussão de questões decididas pelas partes que

participaram do processo).

Ainda, menciona o referido pensador que o réu participa do processo,

vinculando-se à coisa julgada, não sendo possível a ele rediscutir a existência da

obrigação, tendo em vista estar vinculado a ela. Em contrapartida, a vítima que não

se habilitou como assistente de acusação, não fez parte do processo, de modo que

para ela não incidirá a coisa julgada. O autor destaca, por fim, que relativamente ao quantum não há coisa julgada porquanto seu conhecimento não é esgotado.

Cumpre destacar a posição de Silva (2010b), no tocante à mudança legislativa

introduzida pela Lei nº 11.719/08, a qual evidencia que a alteração está acobertada

pela inconstitucionalidade formal vertical, na qual as normas de escalão inferior à

Constituição Federal somente terão validade se estiverem de acordo com a Carta

Magna, sendo que as incompatíveis são abarcadas pela inconstitucionalidade. Conclui que a situação de inconstitucionalidade acarretará inúmeros recursos aos

Tribunais Superiores, retardando a efetividade da lei na tutela dos interesses da

vítima.

Argumenta o Desembargador:

No diapasão da inconstitucionalidade formal vertical da norma do artigo 387, IV, do CPP, na redação da Lei nº 11. 719/08, impondo a condenação do réu à reparação de danos ‘ex officio’ no processo penal, sem pedido da vítima, concluíram os desembargadores do TJRJ Alexandre Freitas Câmara e Geraldo Luiz Mascarenhas Prado em suas palestras sobre esse tema na EMERJ, em 31.03.2009, por violações aos princípios constitucionais seguintes: a) do sistema acusatório, que garante imparcialidade do juiz o que o impede de proferir a condenação ‘ ex officio’ em matéria penal ou civil; b) do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa, não observados no processo penal por essa lei quanto à lide civil (p. 26-28).

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Da mesma linha de pensamento, participam Câmara (2009), Rigier e Camargo

(2009) e Oliveira (2014), concluindo pela inconstitucionalidade da alteração

introduzida pela Lei nº 11.719/2008.

De outra sorte, Nucci et al. (2009) apontam para a constitucionalidade do novo

instituto, evidenciando os méritos da alteração no que tange à promoção dos valores

constitucionais da razoável duração do processo e do acesso à justiça jurisdicional

justa, possibilitando o respeito ao contraditório, à ampla defesa e ao devido processo

legal nas lacunas deixadas pela lei.

Tecidas as considerações referentes aos aspectos positivos e negativos do

novo instituto criado pela Lei nº 11.719/08 no tocante à reparação dos danos, abordar-

se a sentença penal condenatória em sede de liquidação e procedimento executivo,

como formas de atuação da vítima para melhor efetivar a tutela de seus interesses.

4.3 Liquidação da sentença penal condenatória no juízo cível e procedimento executivo na tutela ressarcitória da vítima

O acréscimo do parágrafo único ao artigo 63 do CPP, em consonância com o

artigo 387, inciso IV do mesmo Código, adicionou a possibilidade de a vítima executar

no juízo cível o valor fixado na sentença penal condenatória, sem a necessidade de liquidação (DELGADO; COSTA, 2009).

Os referidos pensadores ressaltam, todavia, a previsão do instituto da

liquidação no caso de a parte buscar apurar o dano efetivamente sofrido, em virtude

de o título constituído na sentença penal condenatória configurar-se apenas como

título executivo de valor mínimo.

Nesse sentido, manifesta-se o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul:

Ementa: APELAÇÃO CRIME. ROUBO MAJORADO. CONCURSO DE PESSOAS. 1. PRELIMINAR. NULIDADE. REPARAÇÃO DE DANOS. AFASTAMENTO. Preliminar de nulidade. Matéria de mérito. A fixação, na esfera criminal, de valor mínimo para a reparação dos danos sofridos pela vítima, viabilizada pelo art. 387, IV do CPP, redação conferida pela Lei nº 11.719/08, publicada em 23.06.2008 com vigência a partir de 22.08.2008, com o trânsito em julgado do decisum, constitui-se em título que pode ser de pronto executado, sem prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido - art. 63, parágrafo único. Norma

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com evidente natureza substantiva, importando em verdadeira sanção a ser imediatamente executada pela vítima. Irretroatividade de lei prejudicial ao réu. Fato ocorrido em 17.10.2006, antes do início da vigência da lei, em 05.10.2007. Decisão que merece reforma, apenas, não importando em nulidade. 2. ÉDITO CONDENATÓRIO. MANUTENÇÃO. (Apelação Crime Nº 70042300384, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Fabianne Breton Baisch, Julgado em 19/09/2012).

É importante destacar entendimento do mesmo Tribunal, em decisão atual, no

que tange ao entendimento da obrigatoriedade da fixação do valor indenizatório,

havendo comprovação do dano nos autos:

Ementa: EMBARGOS INFRINGENTES. APELAÇÃO CRIMINAL. SENTENÇA CONDENATÓRIA. PENA E PAGAMENTO DE REPARAÇÃO DOS DANOS SOFRIDOS PELA VÍTIMA, NA FORMA DO ART.387, IV, DO CPP. ACÓRDÃO QUE, POR MAIORIA, MANTEVE A PENA FIXADA NA SENTENÇA E A REPARAÇÃO DOS DANOS, COM VOTO VENCIDO QUE REDUZIU A PENA E AFASTOU ESTA ÚLTIMA. Quanto à pena-base fixada ao réu, ora embargante, somente a culpabilidade negativa está presente, devendo ser mantida a do voto vencido, um ano e dois meses de reclusão, com o acréscimo, pela reincidência, de três meses, realizado pela sentença, perfazendo a pena definitiva de um ano e cinco meses de reclusão, e multa, de acordo com esta análise dos vetores do art.59 do CP, de quinze dias-multa, mantido o valor unitário mínimo, diante da precária situação econômica do embargante. E no que se refere ao valor estabelecido na sentença, e mantido pelo voto majoritário, está de acordo com a lei nº 11.719, de 22/08/2008, que alterou o art.387, IV, do CPP. Evidenciado o dano à vítima, decorrente do delito ocorrido na vigência da nova lei, a sentença criminal irrecorrível, além de tornar certa a obrigação de indenizar, art.91, I, do CP, traz, ao menos, parcial liquidez para sua execução e liquidação, em evidente economia processual. Portanto, agora, a fixação do valor da reparação dos danos à vítima é consequência obrigatória da sentença condenatória, sempre que estiver comprovado nos autos. EMBARGOS INFRINGENTES PARCIALMENTE ACOLHIDOS. POR MAIORIA. (Embargos Infringentes e de Nulidade Nº 70057835555, Quarto Grupo de Câmaras Criminais, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel de Borba Lucas, Julgado em 28/03/2014).

Didier Júnior et al. (2013) lecionam que a sentença penal condenatória deve

estar transitada em julgado para que a vítima possa promover a liquidação no juízo

cível, antes de iniciar a execução. Referem que há casos em que se dispensa a liquidação, como, por exemplo, nos casos em que houver restituição do produto do

crime à vítima, configurando-se em coisa certa e determinada.

Nesse sentido, decidiu o Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul

quanto aos requisitos do título executivo e à necessidade do trânsito em julgado:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO DE TÍTULO JUDICIAL. SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA. ARTI. 387, IV, DO CPP. DELITO QUE DEU AZO À CONDENAÇÃO RESTOU AFASTADO EM GRAU DE

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RECURSO. ART. 54 E 60 DA LEI 9.605/98. EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO PELA AUSÊNCIA DE TÍTULO. 1. Cuida-se de execução de judicial que tem por título sentença penal condenatória que arbitrou indenização pela prática do delito previsto no art. 54 da Lei 9.605/98 (poluição ambiental). Em grau recursal os acusados foram absolvidos do delito, restando inócua a indenização fixada. 2. Título executivo inexistente. Precedentes deste Colegiado. Sentença de extinção mantida integralmente. APELO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70055025134, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Iris Helena Medeiros Nogueira, Julgado em 08/10/2014).

Segundo ensinamentos de Lovato (2012), caberá ao juízo cível a apuração total

do dano sofrido pela vítima através do procedimento de liquidação de sentença,

aduzindo que pode ocorrer a execução provisória da sentença penal condenatória

transitada em julgado, nos termos do artigo 475-M, parágrafo 1º do CPC, mediante caução, quando for atribuído pelo juiz efeito suspensivo à impugnação ao

cumprimento de sentença.

Gonçalves (2010) suscita a possibilidade de a parte executar provisoriamente

o valor mínimo fixado pelo juízo criminal, entendendo que a mudança legislativa veio

a dar maiores facilidades à vítima. O autor aduz que antes da alteração era necessário

aguardar o trânsito em julgado para liquidação e execução. Todavia, com a modificação, isso não se faz mais necessário.

O mesmo estudioso complementa que o ofendido pode executar

provisoriamente a sentença penal condenatória na parte em que fora fixado o valor

mínimo e requerer a liquidação provisória da sentença penal condenatória para

estabelecer a quantia que entende devida, consoante artigo 475-A, parágrafo 2º do

CPC. O autor destaca ser completamente cabível que a sentença penal condenatória

motive a liquidação provisória, no momento em que houver pendência de recurso

contra ela.

Hertel (2008) colaciona que a alteração legislativa não excluiu a ação civil ex

delicto, alertando para a necessidade de suspender a ação civil até o julgamento da

ação penal, a fim de evitar julgamentos antagônicos.

O mencionado pensador destaca que a sentença penal condenatória pode ser liquidada normalmente no juízo cível, instaurando-se a liquidação, com base nos

artigos 475-A a 475-H do CPC, a fim de vislumbrar os danos realmente sofridos pela

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vítima do ilícito. Destaca que a fixação do juízo cível refere-se somente aos danos

mínimos, cabendo à fase de liquidação apurar o valor correspondente ao real dano.

Didier Júnior et al. (2013, p. 168) evidenciam:

A execução da sentença penal condenatória costuma ser precedida de liquidação. Essa liquidação dar-se-á em processo autônomo. Feita a liquidação da sentença, a execução observará as regras do cumprimento da sentença. Se não for precedida de liquidação – o que pode acontecer em alguns casos, como já examinado -, a execução da sentença penal condenatória dar-se-á em processo autônomo de execução, com a necessária citação do executado, nos termos do par. ún. Do art. 475-N, CPC.

No tocante à execução direta do valor atribuído na sentença penal condenatória

no juízo cível, Hertel (2008) cita que a execução desse valor não pode ser vista como

incidente processual, a ser executado na forma no artigo 475-J do CPC. O autor relata

que a execução da sentença penal condenatória deve ser realizada através da ação

de execução, aduzindo que não há previsão legislativa para sua respectiva execução

na forma utilizada no cumprimento de sentença. Conclui que a execução da sentença

penal condenatória transitada em julgado deve ser realizada na forma do artigo 652

do CPC e, não, na forma do artigo 475-J do mesmo Código.

Delgado e Costa (2009) destacam que no caso de a vítima entender por irrisório

o valor ou, em caso de não haver fixação do quantum mínimo na sentença, valer-se-

á a vítima do instituto da liquidação da sentença penal condenatória.

Complementam os referidos pensadores que a vítima deverá instruir seu

pedido no juízo cível, de modo que a liquidação, ocorrerá, na maior parte das vezes,

por arbitramento ou por artigos, nos termos do artigo 475-C a 475-H do CPC. Nos

casos de a fixação do valor indenizatório depender apenas de cálculo aritmético,

segundo artigo 475-B do mesmo diploma legal, o interessado deve apresentar

imediatamente memória discriminada no cálculo atualizado.

No tocante à liquidação como forma de estratégia da vítima, Hertel (2008, p. 250) menciona:

Desse modo, não há qualquer óbice para que o ofendido, havendo o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, mesmo que esta tenha feito referência à indenização cível, promova a respectiva liquidação. Esta será

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feita na modalidade por artigos ou arbitramento, dependendo da situação em particular.

Cumpre destacar a referência de Delgado e Costa (2009, p. 56) no tocante às

possibilidades da vítima:

Perceba-se, a propósito, que o art. 64 do CPP foi mantido, disciplinando que, sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime, e, se for caso, contra o responsável civil. Em outras palavras, pode inclusive o legitimado optar pelo ajuizamento de ação ordinária, pleiteando a reparação integral de tudo aquilo que entender devido, em vez de simplesmente executar o valor tabelado na sentença (nova alternativa agora aberta) ou pedir a liquidação do valor correspondente à condenação penal em abstrato, única alternativa existente (além do ajuizamento de ação ordinária, que já existia) até a vigência da L. 11.719/08, quando não havia a previsão de a própria sentença penal fixar o valor, ainda que mínimo, da reparação.

É mister colacionar decisão do Superior Tribunal de Justiça em REsp

nº1171708, decisão publicada em 20/06/2012, que se posiciona no sentido da não fixação do valor mínimo indenizatório, caso não haja provas suficientes para apuração

do valor:

PROCESSUAL PENAL. INDENIZAÇÃO DO ART. 387, IV, DO CPP. APLICABILIDADE À AÇÃO PENAL EM CURSO QUANDO A SENTENÇA CONDENATÓRIA FOR PROFERIDA EM DATA POSTERIOR À VIGÊNCIA DA LEI N. 11.719/2008. 1. A regra estabelecida pelo art. 387, IV, do Código de Processo Penal, por ser de natureza processual, aplica-se a processos em curso. 2. Inexistindo nos autos elementos que permitam a fixação do valor, mesmo que mínimo, para reparação dos danos causados pela infração, o pedido de indenização civil não pode prosperar, sob pena de cerceamento de defesa. 3. Recurso especial conhecido, mas improvido.

Na mencionada decisão, o STJ determina não ser possível a fixação do

quantum indenizatório mínimo na sentença penal condenatória pelos danos advindos

da prática do homicídio no caso de não existir nos autos elementos concretos juntados

por parte de acusação e defesa para instruir o pedido indenizatório, de modo a

possibilitar ao réu sua manifestação e contestação.

O referido Tribunal observou a violação do princípio da ampla defesa e a

dificuldade de apurar os danos de natureza material e moral decorrentes do ato

praticado.

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Dessa forma, segue posicionamento homogêneo na decisão do Tribunal de

Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, ao afastar o quantum indenizatório, em

virtude de violação do princípio da correlação e da garantia ao princípio do contraditório em ampla defesa:

Ementa: APELAÇÃO CRIMINAL. RECURSO DEFENSIVO. CRIMES CONTRA O PATRIMÔNIO. FURTO. Conhecimento parcial. Apelo não conhecido quanto à aplicação da atenuante da confissão espontânea, a qual já restou reconhecida na sentença hostilizada. Materialidade e autoria. Devidamente documentadas no caderno processual, presente a confissão do réu, sua prisão em flagrante, sua revelia, bem assim a coeda prova oral coligida e a ausência de insurgência da defesa nas razões recursais. Apenamento. Redução da pena-base pelo afastamento da nota negativa atribuída à culpabilidade, com consequente redução da pena de multa fixada na origem. Redução da pena provisória ao mínimo legal pelo afastamento da agravante da reincidência e sua consequente compensação com a atenuante da confissão espontânea, observada a ausência de decisão condenatória, ao tempo do fato, com força de caracterizar a agravante em comento. Não redução da pena provisória aquém do mínimo legal pela atenuante prevista no art. 65, inc. III, "b", do CP, observada a Súmula 231 do STJ. Pena privativa de liberdade definitiva reduzida para um (1) ano de reclusão. Afastamento da uma das penas restritivas de direito. Mantida apenas a pena de prestação de serviços à comunidade. Indenização mínima em favor da vítima. Art. 387, inc.IV, do CPP. Afastada, tendo em vista o princípio da correlação e a garantia da ampla defesa e do contraditório. APELO CONHECIDO EM PARTE, E, NESTA PARTE, PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Crime Nº 70053613535, Sexta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Bernadete Coutinho Friedrich, Julgado em 11/09/2014).

Acerca do mencionado, Didier Júnior et al. (2013) destacam que, não havendo elementos suficientes para arbitramento do quantum indenizatório, o juiz poderá

deixar de fixar o valor. Nesse sentido, os mencionados pensadores trazem a questão

de que o pedido indenizatório demonstra-se implícito, de modo que o Magistrado

poderá deixar de apreciá-lo quando não houver elementos suficientes para sua

fixação. Observam que não há prejuízos para a vítima, que poderá buscar o quantum

indenizatório em sede de liquidação, apurando os danos efetivamente sofridos.

Em sede de reparação de danos, verifica-se que a liquidação da sentença penal

condenatória mostra-se mais eficaz no arbitramento real dos valores efetivamente

sofridos pela vítima sem gerar incidentes processuais.

Nesse sentido, destacam-se as decisão do Tribunal de Justiça do Estado do

Rio Grande do Sul determinando, na primeira, a obrigatoriedade do pedido de

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indenização para que não haja violação ao princípio do contraditório e da ampla

defesa e, na segunda, a diminuição do valor arbitrado em sede de reparação de

danos:

Ementa: EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. APELAÇÃO. ART. 619 DO CPP. REPARAÇÃO CIVIL DOS DANOS. OMISSÃO SANADA. Constatada ausência de análise acerca da indenização fixada na sentença, prevista no art. 387, IV do CPP, de serem acolhidos os embargos de declaração para sanar a omissão. No caso, a reparação de danos à vítima deve ser afastada, diante da ausência de instauração do contraditório e da ampla defesa em relação aos danos causados e ao montante da indenização, visto que não há pedido da acusação nesse sentido. Omissão sanada. EMBARGOS DECLARATÓRIOS ACOLHIDOS, por maioria. (Embargos de Declaração Nº 70061044327, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Alberto Etcheverry, Julgado em 18/09/2014). Ementa: APELAÇÃO. CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO. ROUBO DUPLAMENTE MAJORADO. EMPREGO DE ARMA. INCIDÊNCIA DA MAJORANTE. REDUÇÃO DA PENA-BASE. IMPOSSIBILIDADE. REDIMENSIONAMENTO DA PENA. REPARAÇÃO MÍNIMA DOS DANOS CAUSADOS À VÍTIMA. REDUÇÃO DO QUANTUM FIXADO NA SENTENÇA. 1. MAJORANTE PELO EMPREGO DE ARMA. INCIDÊNCIA. RECURSO MINISTERIAL PROVIDO. Segundo o entendimento tranqüilo desta Câmara, são prescindíveis para a configuração da majorante descrita no art. 157, §2º, inc. I, do CP, a apreensão da arma e a certificação de sua efetiva potencialidade lesiva, se nos autos do processo criminal restou suficientemente comprovado, por outros meios, a utilização do artefato para a intimidação da vítima. Circunstância amplamente admitida pelo agente e descrita pela vítima. 2. DOSIMETRIA DA PENA. PENA-BASE. MANUTENÇÃO. Os inúmeros antecedentes do agente justificam o distanciamento de 01 ano do mínimo abstratamente cominado ao tipo operado, por demonstrarem, com segurança, sua personalidade francamente voltada à prática de ilícitos, isso sem contar as conseqüências do crime, considerando a restituição parcial da res. Pena provisória mantida nesse patamar, diante da (benéfica) compensação entre a agravante pela reincidência e a atenuante pela confissão espontânea do agente. PENA DEFINITIVA. REDIMENSIONAMENTO. Pena redimensionada para 06 anos, 10 meses e 15 dias de reclusão, em razão da aplicação da fração de aumento de 3/8, na terceira fase da dosimetria, pela presença de duas causas de majoração do roubo (concurso de agentes e emprego de arma). 3. REPARAÇÃO MÍNIMA DOS DANOS CAUSADOS PELA INFRAÇÃO À VÍTIMA. Considerando que o fato delituoso objeto desta ação penal ocorreu em data da posterior à entrada em vigor da Lei n.º 11.719/08, a fixação de valor mínimo de indenização à lesada, prevista no art. 387, inc. IV, do CPP, é medida imperativa. Isso porque, sobrevindo prejuízo decorrente da infração à vítima e estando este evidenciado nos autos, a aplicação do aludido preceito legal é cogente, não sendo possível o seu afastamento, sob pena de violação do Princípio da Legalidade. E, em se tratando de parte integrante do decreto condenatório, é dever do juiz, ao proferir a sentença, incluir o arbitramento de montante mínimo a título de reparação. Redução do quantum indenizatório ao montante descrito na denúncia. RECURSO MINISTERIAL PROVIDO, POR UNANIMIDADE; PROVIDO EM PARTE, O DA DEFESA, VENCIDO O PRESIDENTE QUE O PROVIA EM MENOR EXTENSÃO. (Apelação Crime Nº 70042627265, Oitava Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Dálvio Leite Dias Teixeira, Julgado em 11/04/2012).

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Por fim, segundo posicionamento de Silva (2010b), a vítima do ilícito criminal

poderá valer-se de três possibilidades de atuação, a fim de evitar incidentes

processuais.

A primeira traz como hipótese ingressar com ação civil de conhecimento para

reparação dos danos morais e/ou materiais em separado da ação penal, que, em seu

entendimento, é a melhor forma na atualidade de a vítima buscar a tutela de seus

interesses, resguardando-se de possível questão de inconstitucionalidade da nova lei

por violação ao princípio do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal.

A segunda possibilidade prevê que a vítima aguarde o trânsito em julgado da

sentença penal condenatória para executar o valor mínimo que fora fixado em sede

de processo penal, facultando-se liquidar valores remanescentes dos danos para

posteriormente executá-los. O autor alerta, todavia, que pode a vítima deparar-se

novamente com questões de inconstitucionalidade.

Por fim, a terceira possibilidade diz respeito à propositura pela vítima de ação civil separada da ação penal, baseando o pedido de reparação de danos de forma a

complementar os valores mínimos fixados na sentença penal condenatória,

liquidando-se eventuais valores para após executá-los, conforme artigo 475-N, II do

CPC. O estudioso aduz, todavia, que a parte poderá deparar-se novamente com

inconstitucionalidades.

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5 CONCLUSÃO

A sentença penal condenatória sofreu modificações consideráveis em face das

alterações advindas da Lei nº 11.719/08, a qual alterou o artigo 387, inciso IV do

Código de Processo Penal, prescrevendo que o Magistrado, ao sentenciar, fixará valor mínimo a título de reparação de danos causados pelo ilícito, considerando os

prejuízos sofridos pelo ofendido.

Há de se destacar que a sentença penal condenatória, no âmbito cível, pode

ser utilizada como meio de prova do fato e da autoria, produzindo-se as demais provas

no transcurso do processo/liquidação na esfera cível, podendo-se, dessa forma,

verificar realmente o dano sofrido pela vítima.

As alterações inseridas pela citada lei trouxeram reflexos na forma de atuação

da vítima na busca da tutela de seus interesses, mais especificamente no tocante ao

valor indenizatório que lhe cabe em virtude da prática de crime, de modo que à vítima

abrem-se diferentes possibilidades de atuação.

De qualquer sorte, observa-se que a modificação introduzida no sistema

processual penal demonstrou evolução legislativa, valorizando o ofendido, de modo a

proporcionar maior celeridade na busca da tutela ressarcitória da vítima. Entretanto, verificaram-se problemáticas em relação à fixação do quantum indenizatório em sede

de sentença penal, observando-se que para a apuração dos danos efetivamente

sofridos, sem incidentes processuais, deve a vítima valer-se da liquidação da

sentença para resguardar a indenização real a que faz jus.

Assim, esta monografia ocupou-se em apresentar, no primeiro capítulo do

desenvolvimento, os títulos executivos judiciais, que demonstraram sua configuração

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em provimentos jurisdicionais determinantes de alguma prestação a que faz jus uma

parte em detrimento de outra, de modo que o não cumprimento ocasiona a utilização

de meios executórios para a satisfação do débito.

Passou-se a analisar o conceito de execução como o meio forçado de que

dispõe o credor para satisfação da prestação devida. Estudou-se, também, a

classificação da execução, dividindo-a em judicial e extrajudicial, diferenciando-as de

acordo com o procedimento adotado. Observou-se que a execução pode dar-se de

forma direta e indireta, bem como de forma definitiva e provisória.

Ainda, neste estudo, após contemplar os princípios de maior importância, os

quais demonstraram embasar os ritos e institutos processuais e legislativos, fez-se a

análise dos requisitos imprescindíveis à execução de um título executivo judicial.

Nessa esteira, verificou-se a necessidade da presença das condições da ação, bem

como da necessidade do inadimplemento do devedor e do título executivo,

analisando-se o rol dos títulos executivos judiciais, no qual está inserida a sentença penal condenatória transitada em julgado.

Em seguida, abordou-se a classificação da sentença a partir da análise de seus

efeitos, verificando-se grande divergência em sua conceituação, pautando-se na ideia

de que esta põe fim ao procedimento ou à fase cognitiva do processo de conhecimento

ou de suas fases. Conceituou-se as sentenças em declaratórias, constitutivas, condenatórias, executivas lato sensu e mandamentais.

Na sequência, teceram-se considerações acerca das sentenças líquidas e

ilíquidas, mostrando-se a liquidez quando da mensuração definida do objeto. A

liquidez e a exigibilidade são requisitos atribuídos ao direito constituído no título,

verificando-se que a sentença penal condenatória transitada em julgado, antes da

alteração legislativa, não se revestia de liquidez, e, após a modificação legislativa,

passou a ser parcialmente líquida. Ainda, tratou-se da iliquidez, que ocorre quando a

sentença não fixa o valor da condenação ou não individualiza o objeto. Analisou-se a

liquidação no processo civil, como sendo forma de complementar o valor instituído no

título judicial, considerando-se a liquidação atualmente como fase do processo, não

mais como uma ação judicial que se encontrava entre a finalização do processo de

conhecimento e execução.

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Como o objetivo geral do trabalho estava centrado na análise da execução civil

da reparação de danos na sentença penal condenatória, o capítulo final analisou o

cumprimento da sentença penal condenatória no juízo cível, partindo-se da alteração da Lei nº 11.719/08, determinante para que o juízo criminal fixe valor mínimo

indenizatório para a vítima em sede de sentença penal. Nesse sentido, ressaltam-se

os reflexos processuais civis, pois a sentença penal condenatória torna certa a

obrigação de indenizar. A alteração legislativa não excluiu a competência do juízo

cível para fixar o valor indenizatório, facultando-se à vítima buscar a reparação de danos de diferentes formas, quais sejam, por meio da ação civil ex delicto, por meio

da execução direta sem liquidação do quantum mínimo fixado em sede de processo

penal ou por liquidação da sentença penal condenatória no juízo cível, de modo a

apurar efetivamente o dano sofrido pelo ofendido.

A mudança ocorrida no sistema demonstrou relativização na independência

das esferas civil e penal, observando-se a construção de formas de proteção à vítima, a fim de facilitar a sua participação no processo, dando-se o principal enfoque à

possibilidade de reparação dos danos.

Observaram-se as controvérsias advindas do novo instituto, analisando-se os

aspectos positivos e negativos em sede de reparação de danos, demonstrando-se

algumas objeções ao instituto, em decorrência da ofensa ao sistema acusatório, ao

devido processo legal e à ampla defesa. Procedeu-se ao estudo da liquidação da sentença penal condenatória na esfera cível, objetivando verificar a melhor estratégia

de atuação da vítima, observadas recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça

e do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.

Diante da análise do problema proposto para este estudo – qual é a melhor

estratégia de atuação da vítima na tutela de seus interesses em demanda de

reparação de danos civis causados na prática de ilícito criminal, à luz da Constituição

Federal e da legislação alteradora do Código de Processo Penal? –, pode-se concluir

que a hipótese inicial levantada para tal questionamento é verdadeira, na medida em

que a vítima deve buscar o instituto do cumprimento de sentença no juízo cível,

valendo-se do instituto da liquidação da sentença para apurar a extensão do dano

efetivamente sofrido pelo ofendido, a fim de obter o ressarcimento real que lhe cabe.

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Além disso, a fixação do quantum indenizatório mínimo em sede de sentença

penal condenatória é deveras controversa, entendendo o Superior Tribunal de Justiça

que o valor mínimo a título de indenização somente pode ser fixado na esfera penal quando houver provas suficientes do dano, possibilitando a defesa do réu, sob pena

de estar sendo cerceada sua defesa.

O Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, em sede

jurisprudencial, determina a fixação, na esfera criminal, de valor mínimo para a

reparação dos danos sofridos pela vítima, viabilizada pelo art. 387, IV do CPP, quando

houver comprovação nos autos do dano, de modo que possibilite defesa quanto a

este.

O referido Tribunal demonstrou que o título executivo pode ser diretamente

executado na esfera civil, facultando-se à vítima valer-se da liquidação para apurar o

dano efetivamente sofrido, conforme previsão do artigo 63, parágrafo único do CPP.

Observou-se também instabilidade na fixação do valor indenizatório, de modo a não ser fixado algumas vezes, e, em outras, diminuído; em razão da inobservância

do princípio da correlação e da garantia ao contraditório e à ampla defesa, bem como

em relação à necessidade ou não de pedido do valor indenizatório por parte do

ofendido.

Cumpre destacar a visão de alguns doutrinadores acerca da

inconstitucionalidade do novo instituto, os quais entendem que nada mudou no sistema adotado no Brasil de separação total entre o Juízo Penal e o Juízo Civil.

Portanto, entende-se que o legislador relativamente acertou ao voltar os olhos

de forma cuidadosa à vítima, tratando-a de forma diferenciada na esfera penal, de

modo que o magistrado possa fixar valor mínimo a título de reparação de danos.

Outrossim, em virtude dos diferentes entendimentos da norma veiculada pela

redação dada ao artigo 387, inciso IV do CPP, por meio da Lei nº 11.719/08, observa-

se que a melhor estratégia de atuação da vítima na tutela de seus interesses será

valer-se do instituto da liquidação da sentença penal condenatória transitada em

julgado, para que, dessa forma, o ofendido tenha garantido o valor efetivamente

correspondente ao dano causado pela prática do ilícito penal.

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