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Tribunal Judicial de Valpaços Secção Única Largo do Jardim - 5430-000 Valpaços Telef: 278712150 Fax: 278712169 Mail: [email protected] Proc.Nº 166/12.7TAVLP 893123 CONCLUSÃO - 01-08-2014 (Termo eletrónico elaborado por Escrivão Adjunto Carlos Manuel Dias Lopes) =CLS= I. Relatório Para julgamento em processo comum e com intervenção de Tribunal Singular, o Ministério Público deduziu acusação contra: Manuel António Mesquita Santinho, casado, nascido a 09.02.1939, filho de Manuel José Santinho e de Adriana Mourão Mesquita, natural da freguesia e concelho de Valpaços, titular do Cartão de Cidadão n.º 1716697, com residência na Rua Horta da Fonte, n.º 10, 5430-452 Valpaços, Pelos factos descritos a fls. 323 a 328, cujo teor se dá por integralmente reproduzido para todos os efeitos legais, passíveis de integrar a prática pelo arguido, em autoria material e sob a forma consumada, de um crime de usurpação de funções previsto e punido pelo art. 358.º, alínea b) do Código Penal. * O arguido apresentou contestação oferecendo o merecimento dos autos e arrolou testemunhas (cfr. fls. 446/447). *

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Tribunal Judicial de Valpaços

Secção Única Largo do Jardim - 5430-000 Valpaços

Telef: 278712150 Fax: 278712169 Mail: [email protected]

Proc.Nº 166/12.7TAVLP

893123

CONCLUSÃO - 01-08-2014

(Termo eletrónico elaborado por Escrivão Adjunto Carlos Manuel Dias Lopes)

=CLS=

I. Relatório

Para julgamento em processo comum e com intervenção de Tribunal Singular, o

Ministério Público deduziu acusação contra:

Manuel António Mesquita Santinho, casado, nascido a 09.02.1939, filho de Manuel José

Santinho e de Adriana Mourão Mesquita, natural da freguesia e concelho de Valpaços, titular do

Cartão de Cidadão n.º 1716697, com residência na Rua Horta da Fonte, n.º 10, 5430-452 Valpaços,

Pelos factos descritos a fls. 323 a 328, cujo teor se dá por integralmente reproduzido para

todos os efeitos legais, passíveis de integrar a prática pelo arguido, em autoria material e sob a forma

consumada, de um crime de usurpação de funções previsto e punido pelo art. 358.º, alínea b) do

Código Penal.

*

O arguido apresentou contestação oferecendo o merecimento dos autos e arrolou testemunhas

(cfr. fls. 446/447).

*

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Os assistentes Câmara dos Solicitadores, Ordem dos advogados e ofendido Serafim dos

Santos de Sousa Teixeira deduziram a fls. 343 a 353, 376 a 379 e 389 a 397 pedido de indemnização

cível, alicerçando o pedido nos factos constantes da acusação, peticionando o pagamento de

indemnização compensatória por danos não patrimoniais sofridos em consequência dos factos

praticados pelo arguido.

*

Realizou-se a audiência de julgamento com observância do formalismo legal.

*

Mantêm-se os pressupostos de validade e regularidade da instância verificados no despacho

que designou dia para a audiência de julgamento, não sobrevindo quaisquer nulidades, excepções ou

questões incidentais de que cumpra conhecer.

*

II. Fundamentação de facto

a. Factos provados

1. O arguido era proprietário de uma agência funerária, sita nesta cidade de Valpaços, desde

há já vários anos.

2. Desde data não concretamente apurada até, pelo menos, finais do ano 2009, o arguido

Serafim dirigiu-se, em número de vezes que não foi igualmente possível determinar, a

várias repartições públicas desta cidade de Valpaços, com vista a prestar certos serviços

para outras pessoas, que não ele próprio, para os quais cobrava honorários, em montantes

indeterminados, por si fixados.

3. O arguido deslocava-se à Conservatória do Registo Predial de Valpaços, onde requisitava

certidões e registos, apresentando a documentação necessária para o efeito e solucionando

as dificuldades existentes na efectivação daqueles.

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4. Também se dirigia ao Cartório Notarial desta cidade de Valpaços, onde, entre o mais,

resolvia questões de partilhas e de aquisição de bens e marcava escrituras de habilitação e

de justificação, apresentando toda a documentação para o efeito exigida e acompanhando

posteriormente os interessados em tais actos, solucionando ainda os problemas

relacionados com os mesmos.

5. Dirigia-se ainda à Repartição de Finanças, onde procedia à requisição e levantamento de

certidões e entregava requerimentos assinados pelo seu punho ou pelos próprios

requerentes, pelos quais às vezes se fazia acompanhar.

6. Serafim dos Santos de Sousa e sua mulher Maria Aurora Teixeira Lopes conheceram o

arguido, em data que não foi possível determinar, mas, pelo menos, a partir do falecimento

da mãe e sogra daqueles, cujo serviço fúnebre lhe confiaram.

7. Convencidos de que o arguido era advogado ou solicitador e porque era do conhecimento

de ambos que o mesmo, no âmbito da sua actividade profissional, praticava actos próprios

de tais profissões, os referidos Serafim e Maria Aurora solicitaram-lhe que diligenciasse

no sentido de passarem a dispor de documento para prova do direito de propriedade sobre

vários prédios rústicos.

8. Nessa sequência e com vista à execução de tal serviço, o arguido, manifestando

disponibilidade, conhecimento e habilitação profissional para o efeito, decidiu, ele

próprio, providenciar pela instrução de uma escritura de justificação.

9. Assim, deslocou-se, em 02.12.2008, à Conservatória do Registo Predial de Valpaços, onde

requisitou várias certidões de teor relativas aos prédios em causa.

10. Igualmente, em 16.12.2008, dirigiu-se à Repartição de Finanças de Valpaços, tendo aí

requisitado e levantado várias certidões de teor predial.

11. Por fim, dirigiu-se ao Cartório Notarial desta cidade de Valpaços, à data, do Notário Hugo

André da Silva Guimarães Barbosa Ribeiro, onde entregou todos os documentos

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necessários, emitidos pela Repartição de Finanças e pela Conservatória do Registo Predial

e solicitou o agendamento da outorga da escritura de justificação.

12. Assim, em 19.12.2008, no Cartório Notarial de Valpaços, foi exarada escritura de

justificação notarial, a fls. 86 a 90 do Livro de Escrituras Diversas 3-A, em que foram

justificantes os supra identificados Serafim e Maria Aurora, outorga essa que foi

presencialmente acompanhada pelo aqui arguido.

13. Após, em 17.02.2009, o arguido procedeu, por si ou por interposta pessoa, à inscrição no

registo dos prédios em causa em nome daqueles Serafim e Maria Aurora.

14. Como remuneração pela prestação de tais serviços, em 26.02.2009, o arguido recebeu de

Serafim e Maria Aurora a quantia de €1 200,00 (mil e duzentos euros), através de cheque

sacado sobre a caixa Geral de Depósitos.

15. O arguido não é licenciado em Direito ou em Solicitadoria e jamais foi advogado,

candidato à advocacia ou solicitador e nunca esteve inscrito na Ordem dos Advogados ou

na Câmara dos Solicitadores.

16. Ao agir do modo supra descrito, tinha o arguido a perfeita consciência que os serviços que

prestou correspondiam a actos próprios de advogado ou solicitador e que, para obter essas

qualidades eram necessárias a licenciatura em Direito ou em Solicitadoria e a inscrição em

vigor na Ordem dos Advogados ou na Câmara dos Solicitadores, condições estas que

sabia não reunir e que nunca reuniu e que, por essa razão, o exercício de tais profissões lhe

estava vedado.

17. Porém, aproveitando-se da actividade que desenvolvia na agência funerária e dos

conhecimentos que detinha nas Repartições Públicas e Cartório Notarial acima

identificados, agiu sempre o arguido de forma a criar nas pessoas a convicção de que era

igualmente um advogado ou um solicitador, motivo pelo qual, as mesmas lhe solicitavam

e pagavam a realização dos actos supra discriminados.

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18. Agiu o arguido de forma livre, voluntária e consciente e, não obstante ter o perfeito

conhecimento que a sua conduta era proibida e punida por lei, não se absteve de a

prosseguir.

19. Serafim Teixeira e Maria Aurora residem em Sonim vivendo do cultivo das terras e da

pecuária;

20. Ambos têm instrução rudimentar;

21. Serafim Teixeira e Maria Aurora adquiriram alfaias agrícolas para trabalhar e cultivar as

terras e com elas prestarem serviços a terceiros;

22. Serafim Teixeira e Maria Aurora adquiriram tractores, charruas, grade de discos,

possuíam e possuem animais que integram na sua actividade agrícola e pecuária

23. Por conta da escritura referida em _ Serafim e maria Aurora vieram a ser demandados

como réus na acção de simples apreciação negativa com o processo sumário nº 62/10.2

TAVLP e no processo criminal nº 43/10.6 TBVLP, tendo a primeira sido julgada

procedente.

24. A discussão de tal causa importou seis sessões, tendo sido desginada uma tentativa de

conciliação que se frustrou;

25. No desempenho das suas funções, o mandatário de Serafim Teixeira e Maria Aurora

deslocou-se a este Tribunal nas datas de onde nesses dias e sessões exerceu o patrocínio

dos ofendidos;

26. Serafim e Maria Aurora acompanharam as testemunhas que depuseram, pagaram as suas

refeições em Valpaços e tiveram de agradecer a quem os transportou

27. Os demandantes Serafim e Maria Aurora pagaram ao arguido pelos seus serviços

€1450,00, tendo pago inicialmente 350,00 e posteriormente através do cheque

mencionado em 12.

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28. Os demandantes foram notificados para se deslocarem à GNR de Valpaços onde

compareceram dia 06/12/2011, foram acusados pelo MP do que requereram instrução

cujo debate ocorreu com a presença deles em 30/04/2012 e bem como compareceram em

15/05/2012 à leitura da decisão que os pronunciou

29. O julgamento foi realizado em quatro sessões em 01/10, 24/10, 15/11 e 06/12 de 2012

sendo a decisão que os absolveu lida em 18/12/2012

30. Por conta disso os demandantes perderam 5 dias de trabalho que à média de um salário

diário em Sonim perfaz €250,00 para o demandante marido e €200,00 para Maria

Aurora.

31. Com as 14 deslocações do mandatário e as respectivas intervenções no âmbito dos dois

processos os demandantes liquidaram ao seu mandatário a quantia de €2.800,00 que a

acresce IVA de €644,00 que já liquidaram.

32. Os demandantes tiveram incómodos, arrelias e sofrimento como causa directa e

necessária da instauração dos dois processos;

33. Os demandantes Serafim e Maria Aurora interpuseram recurso da decisão proferida no

processo nº 62/10.2 TBVLP, onde foram liquidadas custas no Tribunal constitucional no

valor de €4.498,20 relativo a incidente de reclamação de indeferimento de recurso por

extemporaneidade

34. Serafim e Maria Aurora foram condenados em custas relativas ao processo nº 62/10.2

TBVLP no valor de €916,00.

35. A Ordem dos Advogados é uma associação pública representativa dos licenciados em

Direito que em conformidade com os preceitos do seu estatuto exercem

profissionalmente a advocacia.

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36. O arguido ao actuar da forma descrita 1 a 20 lesou o interesse público da integridade ou

intangibilidade do sistema oficial de provimento e de exercício de funções da profissão

de advogado, e da administração da justiça.

37. Lesou ainda a prossecução da atribuição da ordem dos advogados de defesa dos DLG

dos cidadãos entre outras

38. A Ordem dos Advogados tem uma comissão de combate à procuradoria ilícita representa

para o Conselho distrital do Porta da Ordem dos Advogados um custo anual de 20.000,00

euros, subdividido em remunerações e encargos sociais da funcionária administrativa,

honorários de instrutores consumíveis, correios.

39. A Ordem dos Advogados tramita anualmente uma média de 50 processos decorrentes de

denúncias de procuradoria ilícita, tal repercute-se num custo aproximado de €400,00 por

processo, e faz campanhas públicas de procuradoria ilícita.

40. A Camara dos solicitadores é uma associação pública representativa dos seus

profissionais.

41. A representação desta classe e o combate á procuradoria ilícita que a Câmara dos

solicitadores e o Conselho Regional do Norte fazem, são formas de defender o interesse

público e da boa administração da justiça, criando mecanismos de defesa para o cidadão

42. O arguido ao praticar actos próprios de solicitador não o sendo, denegriu a imagem da

profissão, desprestigiando-a, bem como a imagem pública destes profissionais,

colocando em crise os seus direitos e interesses.

Mais se provou:

43. O arguido é reformado da actividade de agente funerário, auferindo 379,00 euros de

pensão de reforma.

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44. Manuel Santinho tem a 4ª classe.

45. Manuel António Santinho vive com a ex-esposa em casa própria.

46. Desde 02/01/2014 que arguido deixou de explorar a actividade funerária

47. Actualmente não exerce qualquer profissão remunerada.

48. O arguido é bem considerado no meio social em que se insere.

49. O arguido não tem antecedentes criminais registados.

Factos não provados

Com interesse para a decisão nenhum facto ficou por provar.

***

Quanto à restante matéria resultante da discussão da causa que não foi levada aos factos

provados e não provados, tal resulta de não revestir interesse algum para a boa decisão da causa,

dentro das diversas soluções de direito, tratando-se de conclusões, constatações, considerações ou

discussão de questões eminentemente jurídicas.

Da análise crítica das provas e convicção

A convicção do tribunal fundou-se na prova produzida em audiência de julgamento –

nomeadamente, documentação junta aos autos, designadamente, certidão da Escritura de Justificação a

fls. 419 a 428; Certidão de fls. 1 a 46; Transcrição de fls. 64 a 97 (depoimento de Raúl Rodrigues da

Trindade prestado no processo 43/10.6TAVLP); Transcrição de fls. 98 a 116 (depoimento de José

Alberto Martins prestado no processo 43/10.6TAVLP); Transcrição de fls. 117 a 135 (depoimento de

António Manuel de Sousa prestado no processo 43/10.6TAVLP); Transcrição de fls. 187 a 191

(depoimento de Serafim Teixeira prestado no processo 43/10.6TAVLP); Transcrição de fls. 222 a 246

(depoimento de Maria Amélia Teixeira prestado no processo 43/10.6TAVLP); Transcrição de fls. 197

a 221 (depoimento de Hugo Ribeiro prestado no processo 43/10.6TAVLP); Certidões de fls. 262 a 268

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e 278 a 304, anúncios e facturas de fls. 401 a 415; recibo de fls. 561, plano de pagamentos de fls. 562

e 563, certidão de sentença proferida no processo nº 62/10.2 TBVLP constante de fls. 616 a 660 (de

onde resulta a dedução de reclamação que alude o disposto no artigo 688º do CPC – redacção vigente

à data daquela sentença - por parte de Serafim Teixeira e Aurora Teixeira); as declarações do arguido e

os depoimentos prestados pelas testemunhas - analisada e conjugada, criticamente, à luz das regras da

experiência comum, de acordo com o princípio da livre apreciação da prova (artigo 127.º do Código

de Processo Penal).

*

O arguido prestou declarações, descrevendo a actividade profissional que levava a cabo até

Janeiro de 2014 como agente funerário e mediador de seguros.

Descreveu os moldes em que costumava acompanhar os seus clientes da agência funerária às

repartições públicas, elaborou diversas relações de bens e aconselha quem o procura os tem na conta

de “amigos”, negando porém elaborar escrituras, uma vez que para o efeito, encaminha as pessoas

para advogados.

No que se refere à escritura de usucapião em causa nos autos (ponto 12 dos factos provados) o

arguido admitiu ter orientado Serafim Teixeira para a sua elaboração, requisitou certidões para a sua

feitura.

Negou receber quantias a título de honorários pelo aconselhamento que presta bem como de

algum dia se ter arrogado da qualidade de advogado ou solicitador.

O arguido que adoptou uma postura claramente defensiva, reveladora de desconforto,

comprometimento, com diversas hesitações, pautada pela incoerência e inconsistência, deixou no

Tribunal a certeza de que tem vindo a praticar ao longo dos anos actos que são próprios de advogado e

solicitador.

O Tribunal inquiriu Hugo Ribeiro, notário em Valpaços desde Setembro de 2008 o qual,

declarou conhecer o arguido no exercício e por conta das suas funções (de notário).

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A testemunha em causa descreveu com segurança a presença do arguido no seu escritório

onde pedia informações relativas a habilitações de herdeiros para clientes da funerária, e entregava

posteriormente documentos e certidões para instruir escrituras. Descreveu com coerência e isenção

que o arguido agendava escrituras, acompanhava regularmente as pessoas que para ali encaminhava e

por ali permanecia na elaboração dos documentos públicos, tais como escrituras. Mais deu conta de

muitas outras pessoas que não soube identificar, que apesar de não se encontrarem acompanhadas pelo

arguido, mencionavam virem esclarecidas e aconselhadas pelo arguido.

Mencionou ainda e nos mesmos moldes que desde que se instalou na cidade de Valpaços

já o Sr. Santinho era conhecido pelos serviços e aconselhamento que prestava, designadamente,

habilitações de herdeiros e partilhas na sequência de morte.

No que respeita à escritura em causa nos autos a testemunha nada soube esclarecer, não

se recordando dos seus moldes em concreto, mencionando porém que tal como ali se encontra

mencionado, e como ocorre em todas as escrituras que elabora, que leu e esclareceu os seus termos

para quem ali esteve presente.

Raul Rodrigues de Trindade, viúvo e reformado da função pública, foi testemunha na

escritura de usucapião celebrada pelo ofendido Serafim Teixeira. Deu conta de forma coerente e isenta

que o arguido compareceu e presenciou a sua elaboração, não sabendo porém esclarecer qual a sua

intervenção na mesma, esclarecendo porém que a mesma não se iniciou antes do arguido ali

comparecer, dando conta da essencialidade da sua presença.

Raul Trindade testemunhou ainda no que ao pedido de indemnização civil diz respeito

relatando a actividade agrícola dos ofendidos Serafim e Aurora Teixeira o que fez de modo isento e

coerente.

José Alberto Martins, casado, reformado da GNR e residente em Sonim, Valpaços,

esclareceu os moldes em que se verificou a presença do arguido na elaboração da escritura pública em

causa nos autos, corroborando de forma isenta e coerente as palavras de Raul Trindade no que a tal

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episódio diz respeito bem como ao modo de vida dos ofendidos Serafim e Maria Aurora dando ainda

conta dos transtornos causados na vida dos mesmos por conta de tal documento.

António Manuel Sousa, casado, agricultor, que igualmente testemunhou na elaboração da

escritura de usucapião em causa nestes autos. No que respeita a tal factualidade, descreveu de forma

isenta, coerente com algum rigor (apesar do tempo entretanto decorrido) a presença do arguido na sua

elaboração, descrevendo a impressão com que ficou de que foi o arguido quem tratou da sua instrução

foi o arguido, uma vez que, conforme descreveu, era o arguido quem dialogava e debatia com o Sr.

Notário os seus termos, fazendo assim nota da imprescindibilidade da presença do arguido na mesma.

No que respeita à actividade económica desenvolvida pelo arguido a testemunha

esclareceu nos mesmos moldes que Manuel Santinho é agente funerário, não sabendo se o mesmo

realiza serviços de solicitador ou advogado, sabendo porém que o ofendido o contratou com a

finalidade de elaborar e realizar a escritura de usucapião em causa nestes autos.

Descreveu o modo de vida dos ofendidos Serafim e Maria Aurora dando ainda conta dos

transtornos causados na vida dos mesmos causados por tal escritura.

Serafim Teixeira, ofendido nestes autos, descreveu de forma segura, isenta e sem revelar

má índole para com o arguido, os moldes em que o mesmo interveio no funeral do seu pai, e

posteriormente na elaboração da escritura de usucapião. Sem qualquer hesitação e de forma

peremptória, declarou que o arguido se assumiu perante si como solicitador de execução e por isso

capaz de levar a cabo tal escritura, tendo para tanto reunido com o ofendido no seu escritório em

Valpaços, e ali exibido documentos que a testemunha identificou como outras escrituras que o arguido

já havia elaborado. Deu conta dos montantes que pagou para que o arguido realizasse a instrução e

elaboração de tal escritura, revelando ter confiado nas suas capacidades técnicas para o efeito.

Descreveu nos mesmos moldes a que se destinava a aquisição dos terrenos em causa, não tendo

dúvidas em revelar que o arguido se ofereceu para solucionar tal aquisição.

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Descreveu qual a intervenção do arguido na sua elaboração (agendamento e recolha de

documentos), bem como os moldes em que a mesma foi elaborada, dando conta da falta de

documentos que o arguido dispunha e que por tal motivo foi necessário que comparecesse no notário

de Valpaços naquele dia, corroborando assim e densificando o depoimento de António Sousa, José

Martins e Raúl Trindade.

Maria Amélia Teixeira, casada, residente em Sonim, irmã do ofendido Serafim Teixeira,

localizou no tempo de forma espontânea e rigorosa o momento em que os seus pais faleceram e em

que foram realizados os funerais respectivos, que ficaram a cargo do arguido.

A testemunha de forma genuína e espontânea esclareceu não saber se o arguido é

solicitador ou advogado, precisando que ninguém o trata por doutor, o que da mesma forma acontece

com os solicitadores de execução com quem já teve contacto.

Descreveu o modo de vida dos ofendidos Serafim e Maria Aurora dando ainda conta dos

transtornos causados na vida dos mesmos em face da escritura em causa nestes autos.

António Braz Duarte, solicitador de execução desde 1988, a prestar funções na Câmara

dos Solicitadores na comissão de combate à procuradoria ilícita deu conta de forma isenta, rigorosa,

coerente e imparcial qual a actividade desenvolvida pela Câmara dos Solicitadores para combate à

procuradoria ilícita, esclarecendo os custos de tais campanhas bem como dos danos que tal crime

representa para os Solicitadores de Execução.

Ana Isabel Santos, casada, advogada em Vila Nova de Gaia, Instrutora de processos de

procuradoria ilícita na Ordem dos Advogados, deu conta de forma isenta, rigorosa, coerente e

imparcial qual a actividade desenvolvida pela ordem dos advogados para combate à procuradoria

ilícita, esclarecendo os custos de tais pelouros, campanhas bem como dos danos que tal crime

representa para tal organismo.

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A testemunha deu ainda conta das estatísticas no que se refere à prática de tais crimes,

demonstrando a preocupação crescente que a mesma representa para as ordens profissionais em face

dos perigos que representa para os advogados em exercício de funções.

Joaquim Coelho Marques, advogado nesta cidade de Valpaços, que de forma isenta e

credível, descreveu ter encontrado por diversas vezes o arguido em repartições públicas não sabendo

porém, a que propósito ali estava, ligando-o à actividade de louvado que em tempos exerceu. A

testemunha que exerceu o cargo de Presidente na Delegação da Ordem dos Advogados de Valpaços

deu conta de forma isenta e coerente nunca ter recebido qualquer denúncia ou queixa de actividade de

procuradoria ilícita exercida pelo arguido.

O depoimento do ofendido Serafim Teixeira foi suficiente no sentido da verificação dos

factos que não foram admitidos pelo arguido. O ofendido confirmou, com segurança e espontaneidade,

a matéria factual descrita na acusação pública, em termos que lograram convencer o Tribunal, para

além de qualquer dúvida razoável que se pudesse suscitar em face das declarações do arguido.

As declarações prestadas pelo ofendido, por suficientemente descritivas, mostraram-se

coerentes e objectivas, não tendo sobrevindo qualquer circunstância que pudesse levar o Tribunal a

duvidar da veracidade dos factos que relatou. Na verdade, o ofendido que revelou simplicidade nos

modos, adoptou uma postura genuína, autêntica, pura e legítima, que eivou o seu depoimento de

sinceridade. Não será de olvidar a pouca instrução dos ofendidos, o que lhes confere justificação para

algum desconhecimento que revelaram ter dos assuntos jurídicos “resolvidos” pelo arguido,

circunstancia esta que pautou o seu depoimento de sinceridade.

O assistente produziu um relato muito próximo da acusação, que a corrobora no essencial, mas

não excessivamente “colado” a ela, falando com espontaneidade e a naturalidade possível em face do

tempo já decorrido.

Acima de tudo, destaca-se o reconhecimento do que sabia e do que não sabia, sem procurar

compor um retrato (mais) prejudicial ao arguido.

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À coerência intrínseca do relato soma-se a pormenorização da descrição.

Por outro lado, o relato do ofendido não surge, em qualquer ponto, eivado de qualquer má

índole contra o arguido, para além do natural ressentimento decorrente da prática dos factos em causa

nos autos, o que não pareceu contaminar o percurso do depoimento.

É nos termos expostos que o ofendido confirma o teor da acusação, ponto por ponto.

Por outro lado, o relato das testemunhas que tomaram parte na elaboração da escritura em

causa nos autos, confirmaram com suficiente precisão o teor das declarações do ofendido, uma vez

que os factos que presenciaram são de molde a conformar tais declarações, não tendo sobrevindo

qualquer circunstância que pudesse colocar em dúvida o que os mesmos relataram, adoptando uma

postura isenta, coerente, distanciada e desapaixonada.

O Tribunal ouviu ainda a testemunha arrolada pela defesa Francisco Batista Tavares,

presidente da assembleia municipal de Valpaços, o qual apesar de nada saber no que respeita à

actividade económica do arguido, para além da agência funerária, deu conta ao tribunal de actividades

comunitárias que o mesmo desenvolve, descrevendo-o como pessoa cordial, respeitadora e educada.

Assim e do que se expôs, e ainda que o Tribunal tivesse formado a sua convicção apenas com

base no depoimento do ofendido tal não comportaria violação de qualquer norma ou princípio de

direito processual penal, nomeadamente o princípio do in dubio pro reu.

De facto, se o depoimento da vítima do crime ou de uma testemunha consegue convencer o

Tribunal, para além da dúvida razoável, nada impede que esse elemento de prova seja bastante para

alicerçar a condenação. E, no caso vertente, conjugada toda a prova produzida, o Tribunal

efectivamente convenceu-se que os factos descritos na acusação efectivamente aconteceram.

É que o velho aforismo “testis unus testis nullus” carece de eficácia jurídica num sistema

processual penal como o nosso em que a prova já não é tarifada ou legal mas, antes, livremente

apreciada pelo tribunal (artigo 127.º do Código de Processo Penal) ainda que a mesma se reconduza

apenas às declarações da própria vítima ou depoimento de uma única testemunha que podem ilidir a

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presunção de inocência e fundamentarem uma condenação (cfr. acórdão do Tribunal da Relação de

Guimarães, datado de 25.02.2008, no processo n.º 557/07-1, in www.dgsi.pt), sendo vasta a

jurisprudência autorizando a valoração única das declarações do ofendido com a prática do crime, se

lograrem convencer, como base suficiente para uma decisão condenatória (cfr. acórdãos do Tribunal

da Relação de Coimbra, datado de 10.11.2010, no processo n.º 2354/08.1PBCBR.C2,do Tribunal da

Relação de Guimarães, datados de 17.05.2010, no processo n.º 1379/07.9PBGMR.G1, e de

18.05.2009, no processo n.º 349/07.1PBVCT, todos in www.dgsi.pt).

Em relação aos elementos subjectivos dos factos imputados ao arguido pertencendo os

mesmos à vida interior de cada um, decorrem da conjugação da factualidade objectiva apurada com as

regras da normalidade e da experiência comum do julgador. E quem actua como o arguido actuou, sem

qualquer interferência de elemento perturbador da capacidade intelectual e volitiva, não pode deixar de

querer actuar como descrito, de ter consciência da proibição da conduta e de conformar-se com as

consequências legais da mesma.

*

A prova da inexistência de antecedentes criminais do arguido assentou no teor do Certificado

de Registo Criminal de fls. 564.

*

Os factos relativos às condições pessoais e económicas do arguido resultaram provadas das

suas próprias declarações não tendo sobrevindo qualquer circunstância que as abale.

*

Os demais factos constantes de pedidos de indemnização civil e não contemplados na presente

sentença são de teor conclusivo ou de direito.

Toda a documentação junto aos autos, não referida, após análise cuidada foi tida como

irrelevante para a decisão a tomar.

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Enquadramento Jurídico-Penal dos factos

O arguido vem acusado da prática de um crime de usurpação de funções.

*

Tal crime é previsto e punido pelo art. 358º b) do Código Penal.

Em função do circunstancialismo fáctico supra descrito, e tendo presente que o se mostra

acusado de factos susceptíveis de a constituir na prática, em autoria material de um crime de

usurpação de funções. p. p, pelo art. 358°, b), do Código Penal, conjugado com o disposto nos art.º 1°.

n.º 1 da lei n.º 49/2004, de 24-8 e 610, n.º 1 da Lei n.º 15/2005, de 26.01, que aprovou o EOA -

Estatuto da Ordem dos Advogados, cumpre de momento, fazer o seu enquadramento jurídico-penal.

*

Do crime de usurpação de funções:

Dispõe o citado art, 358°, alínea b), do Código Penal, que

"Quem:

Exercer profissão ou praticar acto próprio de uma profissão para a qual a lei exige título o 1

preenchimento de certas condições, arrogando-se, expressa ou tacitamente, possui-lo ou preenchê-las,

quando o não possui ou as não preenche; é punido com pena de prisão até 2 anos ou com pena de

multa até 240 dias.”

Com efeito, dispõe o art.º, 61°, n. 1 do EOA, sob a epígrafe "Exercido da advocacia em

território nacional" que "Sem prejuízo do disposto no artigo 198°, só os licenciados em Direito com

inscrição em vigor na Ordem dos Advogados podem, em todo o território nacional, praticar actos

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próprios da advocacia, nos termos definidos na Lei n. o 49/2004, de 24 de Agosto."

Por sua vez, preceitua o art.º, 1°, n. 1 da citada Lei n. 49/2004, de 24 de Agosto, que "Apenas

os licenciados em direito com inscrição em vigor na ordem dos Advogados (.. .) podem praticar 05

actos próprios dos advogados ( ... ). 5 - Sem prejuízo das leis de processo, são actos próprios dos

advogados (... ): a) O exercício do mandato forense. B) a consulta jurídica.

Estão assim vedados, entre outros, a qualquer outra pessoa que não seja advogado e não

possua inscrição em vigor na Ordem dos Advogados o exercício do mandato forense - poder para

intervir junto dos tribunais ou julgados de paz - e a consulta jurídica.

Assim o crime em causa consuma-se sempre que o agente se apresente, iludindo as pessoas

perante quem actua, a exercer actos próprios da profissão, como se possuísse o título ou reunisse as

condições que a lei para tanto reclama, sabendo que as não possuí.

Quanto aos actos próprios da profissão titulada em causa nos presentes autos, como já se

adiantou, são os actos exclusivos ou privativos da advocacia e solicitadoria e que estão vedados a

todos que não sejam advogados ou solicitadores e que não tenham inscrição em vigor, na Ordem dos

Advogados e/ou Câmara dos Solicitadores.

A presente alínea b) diz respeito ao exercício ilegal de profissão que abrange todas as

profissões tituladas, para as quais a lei exige um título profissional. É o caso.

O tipo legal de crime em apreço pressupõe ainda que o agente activo se arrecue expressa ou

tacitamente de possuir o título profissional exigido. Ou seja, para praticar o crime em questão basta

que o agente pratique actos ou exerça funções que levem a crer que o mesmo, in caso, é advogado ou

solicitador não precisando de se intitular como tal de forma expressa.

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Todos os actos praticados pelo arguido consubstanciam a prática de actos e o exercício de

funções que levem a crer que o mesmo, in caso, era advogado arrogando-se o mesmo da qualidade de

solicitador de execução perante o ofendido. Mais se apurou que o arguido agiu de forma livre,

voluntária e consciente, sabendo que era proibida a sua conduta.

*

Face à factualidade provada, não se verificando qualquer causa de exclusão da ilicitude ou da

culpa, praticou o arguido, em autoria material e sob a forma consumada, o crime de que vem acusado.

IV - Da escolha e determinação da medida das penas

Qualificados juridicamente os factos e operada a respectiva subsunção ao preceito

incriminadores, cumpre determinar a natureza e medida das penas a aplicar ao arguido Fernando

Machado, uma vez que a todo o crime corresponde uma reacção penal, pela qual a comunidade

expressa o seu juízo de desvalor sobre os factos e a conduta realizada pelo agente.

Da escolha da pena

Os critérios conformadores da escolha da pena estão explanados no artigo 70.º, n.º 1, do

Código Penal, nos termos do qual “se ao crime forem aplicáveis, em alternativa, pena privativa da

liberdade e pena não privativa da liberdade, o tribunal dá preferência à segunda sempre que esta

realizar de forma adequada as finalidades da punição”.

Por sua vez, as finalidades da punição estão consagradas no artigo 40.º do Código Penal

subsumíveis à prevenção geral positiva que visa consciencialização geral da importância social do

bem jurídico tutelado e o restabelecimento ou revigoramento da confiança da comunidade na validade

e vigência da norma violada, sempre que a mesma tenha sido abalada pela prática de um crime, e à

prevenção especial positiva que visa a reintegração do agente na sociedade através da prevenção da

reincidência.

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Ao momento da escolha da pena alternativa são alheias considerações relativas à culpa que

apenas funciona como limite (e não como fundamento) no momento da determinação da medida

concreta da pena já escolhida.

Diz Figueiredo Dias que “só finalidades relativas de prevenção, geral e especial, não

finalidades absolutas de retribuição e expiação, podem justificar a intervenção do sistema penal e

conferir fundamento e sentido às suas reacções específicas. (...) Prevenção geral, porém, não como

prevenção geral negativa, de intimidação do delinquente e de outros potenciais criminosos, mas como

prevenção positiva ou de reintegração, isto é, de reforço da consciência jurídica comunitária e do seu

sentimento de segurança face à violação da norma ocorrida.”(cfr. “Direito Penal Português, Parte

geral II, As consequências jurídicas do crime”, Editorial Notícias, 1993, pág.198).

O Tribunal dará preferência à pena não privativa da liberdade a não ser que por razões ligadas

à necessidade de ressocialização do arguido ou à defesa da ordem jurídica o desaconselhem (cfr.

Anabela Rodrigues, “Sistema punitivo português. Principais alterações ao Código Penal Revisto”, in

Revista SubJudice, n.º 11, pág. 32 e Figueiredo Dias, “Direito Penal Português, As Consequências

Jurídicas do Crime”, Tomo II, Aequitas, Editorial Notícias, 1993, pág. 333).

Constituindo a pena de prisão a ultima ratio da política criminal subjacente ao nosso

ordenamento jurídico e considerando-se adequado e suficiente a pena de multa para que sejam

alcançados os efeitos que se pretendem obter com a reacção penal, deve a mesma ser aplicada.

A escolha da pena terá, assim, de ser perspectivada em função da adequação, proporção e

potencialidade para atingir os objectivos estipulados no referido artigo 40.º, do Código Penal.

*

Há então que ponderar no caso concreto:

- O desvalor da acção, traduzido no facto de o arguido, mesmo sabendo que não o podia

fazer, prestou aconselhamento jurídico instruiu e assistiu à elaboração de escritura, arrogando-se na

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qualidade de Solicitador de execução, conforme resultou provado não possuindo qualquer habilitação

que o autorizasse a praticar tais actos;

- A intensidade do dolo, na sua forma directa;

- O conjunto de solicitações internas e externas que determinaram o seu comportamento,

designadamente a imponderação das possíveis consequências negativas do seu comportamento;

- As suas condições pessoais e a sua situação profissional, social e económica, as quais,

conforme se apurou demonstram que o arguido encontra-se familiar e socialmente inserido;

- O facto de não ter antecedentes criminais;

- Na elevada necessidade de prevenção geral, atento o tipo de objecto em causa e as

passíveis e gravosas consequências que a sua prática poderá acarretar.

No que respeita às exigências de prevenção especial, consideramos que as mesmas são médias

quer pelo facto de o arguido não ter antecedentes criminais registados, quer, ainda, por se encontrar

pessoal, social e familiarmente inserido.

*

Apesar das elevadas exigências de prevenção geral, entende-se que estas, no caso em apreço,

ainda se satisfazem apenas com uma pena de multa, porquanto se crê que a pena de multa reafirmará

na comunidade a manutenção do comando normativo violado, afigurando-se que a pena de prisão seria

manifestamente desproporcional e desajustada quer à ressocialização do arguido quer à reafirmação da

validade da norma violada.

Considera-se, desta forma, adequada e suficiente a aplicação de uma pena de multa ao

arguido pela prática do crime para que sejam alcançados os efeitos que se pretendem obter com

a reacção penal.

Da medida concreta da pena:

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Escolhida a pena de multa a aplicar ao arguido por cada crime impõe-se, seguidamente,

determinar a sua medida.

*

Na determinação da medida da pena, feita em função da culpa do agente e das exigências de

prevenção nos termos do artigo 71.º, n.º 1 do Código Penal, o Tribunal atende a todas as

circunstâncias que, não fazendo parte do tipo de crime, depuserem a favor do agente ou contra ele.

«O seu limite máximo fixar-se-á, em homenagem à salvaguarda da dignidade humana do

condenado, em função da medida de culpa revelada, que assim a delimitará, por maiores que sejam

as exigências de carácter preventivo que social e normativamente se imponham.

O seu limite mínimo é dado pelo quantum da pena que em concreto ainda realize eficazmente

essa protecção dos bens jurídicos.

Dentro destes dois limites, situar-se-á o espaço possível para a resposta às necessidades de

reintegração social do agente» - Ac. do S.T.J. de 12 de Fevereiro de 2004, Proc. n.º 4250/03.

Na determinação da medida concreta da pena, importa assim ponderar no caso concreto os

seguintes factores, quanto ao arguido:

1. Grau de ilicitude é acentuado pelas especiais exigências que a lei impõe a quem

pratica actos como os aqui provados, sem olvidar as consequências dramáticas

que a prática desautorizada e inabilitadas de tais actos poderão ter na esfera

jurídica de quem deles é objecto.

2. Dolo com que agiu (dolo directo).

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3. Modo de execução e respectivo contexto, arrogando-se expressamente perante

Serafim Teixeira da qualidade de Solicitador de execução.

4. As consequências dos factos praticados.

5. E às prementes necessidades de reprimir e prevenir este tipo de criminalidade,

uma vez que se trata de um crime muito frequente na nossa sociedade.

6. Em sem favor militam a inexistência de antecedentes criminais registados, e a

sua inserção familiar, profissional e social.

*

Face ao exposto, considerando as exigências de prevenção geral e especial que no caso se

fazem sentir (já ponderadas supra em sede de escolha da pena), julgam-se adequadas aplicar ao

arguido uma pena de 160 (cento e sessenta) dias de multa;

*

Importa agora determinar o quantitativo diário da pena de multa, cujo limite mínimo é €5,00

(cinco euros) e o limite máximo €500,00 (quinhentos euros), devendo atender-se, nos termos do artigo

47.º, n.º 2, do Código Penal, à situação económica e financeira do arguido e aos seus encargos

pessoais, sem colocar em causa os mínimos de subsistência.

O disposto no artigo 47.º, n.º 2, do Código Penal, na redacção vigente, tem por finalidade

eliminar ou pelo menos esbater as diferenças de sacrifício que o seu pagamento implica entre os

arguidos possuidores de diferentes meios de a solver – cf. Maia Gonçalves, obra citada, pág. 195.

Para Figueiredo Dias a pena de multa não pode representar “um alter ego da absolvição (...). A

multa deve representar, efectivamente (...), para o delinquente, um sofrimento análogo ao de uma

prisão correspondente, embora dentro de condições mais humanas. (….) a pena de multa deve

corresponder sempre, de acordo com as condições sócio-económicas e financeiras do condenado, a

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uma privação que, não sendo de liberdade, ele sinta como verdadeira” (cfr. “Reforma do Código

Penal. Trabalhos Preparatórios”, Volume III, pág. 86).

Como se lê no acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra, datado de 5 de Maio de 2000

(publicado na Colectânea de Jurisprudência, ano 2000, tomo II, pág. 60), “é indispensável que a

aplicação da pena de multa não represente uma forma disfarçada de absolvição ou o Ersatz de uma

dispensa ou isenção de pena que se não teve a coragem de proferir, impondo-se, pelo contrário, que a

aplicação da multa represente, em cada caso, uma censura suficiente do facto e simultaneamente uma

garantia para a comunidade da validade e vigência da norma violada”.

Na fixação do quantitativo diário, só fazendo corresponder àquele que tem maior

disponibilidade um maior quantitativo diário se respeitará o princípio da igualdade de sacrifício e só

assim a execução da pena de multa produz análoga eficácia preventiva, ou seja, a pena de multa

produzirá um efeito preventivo semelhante para o rico e para o pobre.

Entende-se, assim, que o quantitativo diário mínimo de €5,00 (cinco euros) deverá ser

aplicado aos arguidos com baixos rendimentos, de forma a impedir um desvirtuamento da teleologia

subjacente à pena de multa e a evitar injustiças relativas entre os condenados (cfr. Acórdão do

Tribunal da Relação de Guimarães, datado de 4 de Julho de 2008, proferido no processo n.º 153/08.1,

in www.dgsi.pt.).

*

Assim, atendendo à situação pessoal dada como provada supra, relativamente ao arguido, sendo

certo que o mesmo aufere reforma e não tem qualquer encargo com despesas familiares ou de

agregado, entende-se que a determinação de tal montante deve encontrar-se acima do limite mínimo,

pelo que se fixa o quantitativo correspondente a cada dia de multa em 7,00 (sete) euros , o que, atento

o número de dias, perfaz um total de €1120,00 (mil cento e vinte euros).

Da substituição da pena única

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Aplicada ao arguido uma pena de multa de 160 (cento e sessenta) dias, impõe-se, neste

momento, apurar se estão verificados os pressupostos para que seja substituída a pena única de multa

por uma pena de admoestação nos termos do artigo 60.º do Código Penal.

*

Preceitua o artigo 60.º do Código Penal:

“1- Se ao agente dever ser aplicada pena de multa em medida não superior a 240 dias, pode o

tribunal limitar-se a proferir uma admoestação.

2- A admoestação só tem lugar se o dano tiver sido reparado e o tribunal concluir que, por

aquele meio, se realizam de forma adequada e suficiente as finalidades da punição.

3- Em regra, a admoestação não é aplicada se o agente, nos 3 anos anteriores ao facto, tiver

sido condenado em qualquer pena, incluída a de admoestação”.

Face a tal preceito, são os seguintes os pressupostos para aplicação desta pena: a) fixação em

concreto de uma pena de multa não superior a 240 dias (constituindo este o pressuposto formal); b)

assunção pelo tribunal de que por este meio – admoestação – se realizam de forma adequada e

suficiente as finalidades da punição (o que constitui o pressuposto material).

Indispensável é, assim, que o tribunal conclua que a admoestação se revela um meio adequado

e suficiente de realização das finalidades da punição.

*

Apesar do pressuposto formal estar verificado, não se adequa, no presente caso, a substituição

da pena de multa pela pena de admoestação prevista no artigo 60.º do Código Penal na medida em que

os factos praticados pelo arguido não assumem escassa gravidade e as exigências de prevenção geral

não se satisfazem com tal substituição.

Desta forma, decide-se não substituir a pena de multa por uma pena de admoestação.

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V - Da Responsabilidade Civil:

Os Assistentes Ordem dos Advogados e Camara dos Solicitadores deduziram pedido cível a fls.

343 a 353 e 376 a 378 e dos autos, consubstanciando-se a causa de pedir em factos descritos na

acusação pública, e aqui dados como provados, pedindo que seja o arguido condenado a pagar, à OA a

título de indemnização por danos patrimoniais, o montante de €250,00 (duzentos e cinquenta euros), e

de danos não patrimoniais, o montante de €2750,00 (dois mil setecentos e cinquenta euros); à Camara

dos Solicitadores, a titulo de danos morais a quantia de €10.000,00 (dez mil euros).

Os ofendidos Serafim Teixeira e Maria Aurora Teixeira deduziram igualmente pedido de

indemnização civil pedindo a condenação do arguido no pagamento de indemnização no valor de €

7.284,94 dos quais:

a) 1450,00 euros a titulo de honorários liquidados pelos demandantes Serafim e Maria Aurora

ao arguido por elaboração da escritura em causa nos autos

b) 450,00 euros resultantes dos dias de trabalho em que os lesados deixaram de poder auferir

qualquer rendimento na agricultura por comparecerem em Tribunal no âmbito das acções

em que foram demandados.

c) 3.444,00 Euros a titulo de honorários que os demandantes despenderam e liquidaram a

mandatário por conta das acções em que foram arguidos e RR..

d) €11,19 a titulo de outras despesas.

e) 1.200,00 euros a titulo de danos não patrimoniais;

a que acrescem €4.498,20 resultante de custas liquidadas na acção nº 62/10.2 TBVLP em sede de

incidente de reclamação para o Tribunal constitucional da decisão que indeferiu o recurso de Serafim

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Teixeira por extemporaneidade e 960,00 euros a titulo de custas liquidadas no âmbito dos mesmos

autos.

Ora, nos termos do disposto no nº 1, do artigo 483º, do Código Civil, aquele que, com dolo ou

mera culpa, violar ilicitamente o direito de outrem ou qualquer disposição legal destinada a proteger

interesses alheios, fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação.

No que diz respeito aos danos de natureza não patrimonial, o artigo 496º n.º1 do Código Civil

estabelece que “na fixação da indemnização deve atender-se aos danos não patrimoniais que pela sua

gravidade mereçam a tutela do direito”.

Salienta Vaz Serra (RLJ 113-96) que o n.º1 deste art. tem alcance geral, é aplicável quer se trate

de danos não patrimoniais resultantes de lesão corporal, quer de outros, desde que, pela sua gravidade

mereçam a tutela do direito.

Ou seja, trata-se de danos que “não tendo uma dimensão directamente económica, atingem

valores de carácter espiritual ou moral, como a dignidade e a honra das pessoas, por forma a

traduzirem-se em sofrimento, dor, desgosto. A violação destes valores é compensada através do

arbitramento de certas quantias em dinheiro (...)” (Cf. Acórdão da Relação do Porto de 27 de

Novembro de 2002, in CJ, Ano XXVII, 2002, tomo V, pág. 212).

Como referem Pires de Lima e Antunes Varela (Código Civil Anotado, I, 2ª edição, pag. 434) a

gravidade do dano há-de medir-se por um padrão objectivo (conquanto a apreciação deve ter em linha

de conta as circunstancias de cada caso) e não à luz de factores subjectivos (de uma sensibilidade

particularmente embotada ou especialmente requintada), enunciando como possivelmente relevantes a

dor física, a dor psíquica resultante de deformações sofridas, a ofensa à honra ou reputação de um

indivíduo ou à sua liberdade pessoal, e como não justificativas os simples incómodos ou

contrariedades.

A indemnização por danos não patrimoniais não visa reconstruir a situação que existiria se não

se tivesse verificado o evento, mas sim compensar, de alguma forma o lesado pelos momentos

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negativos que passou e sancionar a conduta do lesante. O que se trata é de impor ao ofensor uma

sanção em benefício do ofendido (Inocêncio Galvão Telles, Obrigações, 5ª edição, pag.354). A

indemnização reveste, neste caso, uma natureza essencialmente mista: por um lado visa compensar de

algum modo, mais do que indemnizar, os danos sofridos pela pessoa lesada; por outro lado, não lhe é

estranha a ideia de reprovar ou castigar, no plano civilístico e com os meios próprios do direito

privado, a conduta do agente (Antunes Varela, in “Das Obrigações em Geral”, 1980, Vol. I, pág. 502).

Está assim estabelecido um critério que consiste em conceder ao ofendido uma quantia em

dinheiro considerável, adequada a proporcionar-lhe alegria ou satisfação, que de algum modo

contrabalancem as dores, desilusões, desgostos ou outros sofrimentos, que o ofensor lhe tenha

provocado; assim, será o Tribunal que, equitativamente, terá de fixar os danos relevantes e qual a

indemnização que lhe corresponderá, de harmonia com as circunstancias de cada caso, o que importará

numa certa dificuldade de calculo, com o inerente risco de nunca se estabelecer indemnização rigorosa

e precisa (Acórdão STJ de 16 de Abril de 1991, BMJ 406-618).

Analisada a matéria de facto, verifica-se que os demandantes lograram provar a existência de

danos patrimoniais e não patrimoniais.

No que concerne aos danos não patrimoniais os mesmos consistiram essencialmente no dano à

imagem pondo em causa o próprio exercício da advocacia e solicitadoria e indirectamente a boa

efectivação da justiça através dos seus operadores judiciários.

Com efeito, o arguido praticou actos próprios da advocacia e solicitador intitulando-se como

solicitador quando não o é, levando em erro quer o ofendido, quer a própria justiça.

Ora tal actividade tem de ser necessariamente controlada sob pena de se enganar o cidadão que

quer ver a sua questão resolvida, que quer ver os seus direitos devidamente exercidos. Para tanto,

existe a OA e a Câmara dos Solicitadores como entidade garante do bom exercício das práticas

forenses estando os profissionais na mesma inscritos sujeitos à fiscalização dos seus actos e a sanções

disciplinares.

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Sem o direito e os vários operadores judiciários a vida em sociedade torna-se um caos pondo-se

em risco a própria existência de um Estado de Direito.

Por isso o exercício da nobre profissão de advogado é altamente regulado e vinculado.

Note-se que o demandado exerceu actos de advogado e solicitador, lesando o interesse publico e

causando mesmo danos na vida do ofendido Serafim e Maria Aurora.

Essencialmente por esta razão que tais actos ser exercidos por quem tem conhecimentos

efectivos do Direito e demonstrados através da licenciatura, estágio e consequente inscrição na Ordem

dos Advogados ou Câmara dos Solicitadores, sob pena de os cidadãos serem altamente defraudados

nos seus direitos.

Tais danos não patrimoniais são assim totalmente merecedores da tutela do direito.

Em face da factualidade dada como provada nos presentes autos, dúvidas não subsistem quanto

à obrigação que impende sobre o arguido de ressarcir os assistentes e demandantes, pelos danos de

natureza moral por este sofridos, uma vez que se mostram preenchidos todos os pressupostos da

responsabilidade civil previstos no normativo legal supra citado.

Ponderando que:

- A gravidade das acções praticadas pelo arguido bem como as suas consequências;

- A ilicitude dos actos praticados;

- A indemnização assume carácter compensatório;

- As condições sociais e económicas do arguido.

O tribunal, recorrendo a um prudente e equilibrado arbítrio, considera adequado fixar a título de

indemnização pelos danos não patrimoniais, sofridos pelo assistente Ordem dos Advogados o

montante de 2750,00 euros (dois duzentos e cinquenta euros), e Camara dos Solicitadores o montante

de 3000,00 euros (três mil euros) e dos demandantes Serafim e Maria Aurora €1000,00 euros.

No que concerne aos danos patrimoniais resultou provado que a conduta da arguida causou

prejuízos à demandante designadamente no que concerne às despesas relacionadas com a perda de

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hipótese de ganho dos advogados inscritos na OA pelo que, atendendo ao valor anual de quotas,

entende-se justo e equitativo o montante de €250,00 nos termos do artº 566º, nº 3 do Código Civil.

*

No que se refere aos demandantes Serafim e Maria aurora, ficaram provados que os mesmos

compareceram em Tribunal e que em face disso deixaram de auferir o salario médio relativo aos dias

que peticionaram (5 dias). Atendendo aos costumes de Sonim tais valores computam-se em 250,00

euros (jeira do homem) e 200,00 (jeira da mulher).

Os ofendidos despenderam com a escritura notarial instruída pelo arguido a quantia global de

1450,00 euros, a qual deverá ser reembolsada pelo mesmo.

No que se refere às custas resultantes do processo nº 62/10.2 TBVLP apenas deverão ser

suportadas pelo arguido as originadas pelo processo em causa e liquidadas em 916,00 euros, porquanto

as resultantes do TC, foram originadas por reclamações de decisão de indeferimento de recurso por

extemporâneo, o que não tem qualquer nexo com a conduta do arguido, mas tão só das partes no

litígio, pelo que pedido formulado por Serafim Teixeira e Maria Aurora, decairá no que respeita aos

danos patrimoniais em €4.498,20.

No que respeita às demais despesas peticionadas e que os lesados computaram em €11,19, as

mesmas não se encontram descritas nem liquidadas, razão pela qual, não está o Tribunal em condições

de avaliar a sua origem.

Finalmente a título de danos não patrimoniais, entende-se justa e adequada o montante de

1000,00 (mil) euros para ambos os demandantes.

VI - Das custas

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Nos termos dos artigos 513º do Código de Processo Penal, há lugar ao pagamento da taxa

quando ocorra condenação em 1.ª instância, devendo a taxa de justiça ser fixada pelo juiz, a final e de

forma individual e nos termos do Regulamento das Custas Processuais.

Também nos termos do artigo 514º do mesmo Código o arguido condenado é responsável pelo

pagamento, a final, dos encargos a que a sua actividade tenha dado lugar.

Para a fixação da taxa de justiça a final determina o artigo 8º nº9 do RCP deverá o juiz

recorrer à tabela III do mesmo diploma, ou seja, entre 2 a 6 UC.

No caso concreto, ponderando a complexidade da causa entende-se por equitativo fixar a taxa

de justiça em 4 UC’s que deverá ser reduzida a metade em face da confissão conforme dispõe o artigo

344º nº2 alínea c) do CPP.

Na parte cível as custas repartem-se por Demandantes e Demandado, na proporção do

decaimento, sem prejuízo das isenções a que haja lugar.

VII - Dispositivo:

Em face do exposto, julgo totalmente procedente a acusação pública, porque totalmente

provada, e em consequência decido:

A. Condenar o arguido pela prática, em autoria material, sob a forma consumada de um

crime de usurpação de funções p. e p. no art. 358°, b), do Código Penal, conjugado com o

disposto nos art.º 1°. N.º 1 da lei n.º 49/2004, de 24-8 e 610, n.º 1 da Lei n.º 15/2005, de

26.01numa pena de 160 (cento e sessenta) dias de multa pela detenção das armas à taxa

diária de €7,00 (sete euros), o que perfaz, 1120,00 euros (mil cento e vinte) e a que

correspondem 106 dias de prisão subsidiária;

B. - Condenar o arguido no pagamento ao demandante:

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a. Serafim Teixeira e Maria Aurora Teixeira do montante de €1450,00

euros a título de honorários liquidados pelo demandante Serafim e Maria

Aurora ao arguido por elaboração da escritura em causa nos autos;

€450,00 euros resultantes dos dias de trabalho em que os lesados

deixaram de poder auferir qualquer rendimento na agricultura por

comparecerem em Tribunal no âmbito das acções em que foram

demandados; €3.444,00 euros a titulo de honorários que os demandantes

despenderam e liquidaram a mandatário por conta das acções em que

foram arguidos e RR.; €960,00 a titulo de custas a que deu origem a

acção nº 62/10. 2 TBVLP e finalmente €1.000,00 euros a título de danos

não patrimoniais; absolvendo-o do restante montante peticionado;

b. Conselho Distrital da Ordem dos Advogados do Porto a quantia de

€2750,00 a título de danos moras e €250 a titulo de danos patrimoniais

c. À demandante Conselho Regional do Norte da Câmara dos Solicitadores

a quantia de €3000,00 a título de danos morais.

C. - Condenar o arguido no pagamento das custas do processo fixadas em 4 UC’s de taxa de

justiça (artigos 85º, n.º 1, alínea b) do Código das Custas Judiciais e 513º e 514º do

Código de Processo Penal).

D. Condenar os demandantes e o demandado no pagamento das custas cíveis do processo, de

acordo com o respectivo decaimento, nos termos e ao abrigo do disposto no artigo 523º do

Código de Processo Penal com remissão para o artigo 446º, nºs 1 e 2 do Código de

Processo Civil.

E. Após cumprimento da pena aplicada nestes autos, declarar extinta a medida de coacção

aplicada ao arguido.

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*

F. Remeta boletim à D.S.I.C.C.

*

G. Proceda-se ao depósito da sentença (artigo 372º, nº 5 do Código de Processo Penal).

Texto elaborado em computador e integralmente revisto pela signatária – artigo 94º nº2 do CPP.

Valpaços, d.s.

A Juiz de Direito

Mariana Branco Paulino

(Assinado electronicamente)