semiÓtica e transdisciplinaridade em revista · design e a arquitetura com semiótica. assim como...

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1 Semiótica e transdisciplinaridade em revista, São Paulo, v.8, n.1, p.133-149, Jul. 2018 | ISSN 2178-5368 semeiosis SEMIÓTICA E TRANSDISCIPLINARIDADE EM REVISTA TRANSDISCIPLINARY JOURNAL OF SEMIOTICS resumo Este artigo trás em evidência uma abordagem pouco explorada que relaciona o Design e a Arquitetura com Semiótica. Assim como todo ambiente sagrado, os templos católicos são ricos em signos e simbologias, os quais exercem papel fundamental na comunicação da fé e dos mistérios desta religião. O objetivo deste artigo é evidenciar estes significados, principalmente relacionados ao design de mobiliário litúrgico e ao presbitério dos templos católicos. Para tanto, por meio do Método Pesquisa-ação é apresentado um estudo de caso em que foi adotado o Modelo de Análise Semiótica na perspectiva do Design, proposto por Cardoso (2017), para análise de um Santuário do interior do Estado do Paraná (BR). Os resultados contribuem para ampliar o conhecimento destes valores semânticos, estéticos e simbólicos, no sentido de manter a história, a arte e, principalmente, os processos sígnicos inerentes ao projeto de mobiliário litúrgico católico. PALAVRAS-CHAVE: Design. Semiótica. Mobiliário litúrgico católico. Processos sígnicos. abstract This article brings to light an unexplored approach that links Design and Architecture with Semiotics. Like every sacred environment, catholic temples are rich in signs and symbologies, which play a key role in communicating the faith and mysteries of this religion. The purpose of this article is to highlight these meanings, mainly related to the design of liturgical furniture and the presbytery of Catholic temples. To do so, through the Action Research Method is presented a case study in which the Model of Semiotic Analysis from the perspective of Design, proposed by Cardoso (2017), for the analysis of a Shrine in the interior of the State of Paraná (BR). The results contribute to increase the knowledge of these semantic, aesthetic and symbolic values, in the sense of maintaining the history, art and especially, the sign processes inherent in the project of catholic liturgical furniture. KEYWORDS: Design. Semiotics. Catholic liturgical furniture. Sign processes. Interior de templo católico e mobiliário litúrgico: Arquitetura, design e semiótica construindo processos sígnicos. Marcelo dos Santos Forcato, UNESP | [email protected]; Anelise Guadagnin Dalberto, UEM | [email protected]; Paula da Cruz Landim, UNESP | [email protected]. Semiótica e transdisciplinaridade em revista, São Paulo, v.8, n.1, p.133-149, Jul. 2018 | ISSN 2178-5368

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Semiótica e transdisciplinaridade em revista, São Paulo, v.8, n.1, p.133-149, Jul. 2018 | ISSN 2178-5368

semeiosisSEMIÓTICA E TRANSDISCIPLINARIDADE EM REVISTA

TRANSDISCIPLINARY JOURNAL OF SEMIOTICS

resumoEste artigo trás em evidência uma abordagem pouco explorada que relaciona o Design e a Arquitetura com Semiótica. Assim como todo ambiente sagrado, os templos católicos são ricos em signos e simbologias, os quais exercem papel fundamental na comunicação da fé e dos mistérios desta religião. O objetivo deste artigo é evidenciar estes significados, principalmente relacionados ao design de mobiliário litúrgico e ao presbitério dos templos católicos. Para tanto, por meio do Método Pesquisa-ação é apresentado um estudo de caso em que foi adotado o Modelo de Análise Semiótica na perspectiva do Design, proposto por Cardoso (2017), para análise de um Santuário do interior do Estado do Paraná (BR). Os resultados contribuem para ampliar o conhecimento destes valores semânticos, estéticos e simbólicos, no sentido de manter a história, a arte e, principalmente, os processos sígnicos inerentes ao projeto de mobiliário litúrgico católico.

PALAVRAS-CHAVE: Design. Semiótica. Mobiliário litúrgico católico. Processos sígnicos.

abstractThis article brings to light an unexplored approach that links Design and Architecture with Semiotics. Like every sacred environment, catholic temples are rich in signs and symbologies, which play a key role in communicating the faith and mysteries of this religion. The purpose of this article is to highlight these meanings, mainly related to the design of liturgical furniture and the presbytery of Catholic temples. To do so, through the Action Research Method is presented a case study in which the Model of Semiotic Analysis from the perspective of Design, proposed by Cardoso (2017), for the analysis of a Shrine in the interior of the State of Paraná (BR). The results contribute to increase the knowledge of these semantic, aesthetic and symbolic values, in the sense of maintaining the history, art and especially, the sign processes inherent in the project of catholic liturgical furniture.

KEYWORDS: Design. Semiotics. Catholic liturgical furniture. Sign processes.

Interior de templo católico e mobiliário litúrgico: Arquitetura, design e semiótica construindo processos

sígnicos.

Marcelo dos Santos Forcato, UNESP | [email protected]; Anelise Guadagnin Dalberto, UEM | [email protected];

Paula da Cruz Landim, UNESP | [email protected].

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IntroduçãoA Igreja Católica Apostólica Romana possui tradições que são sustentadas

há milênios, as quais podem ser observadas tanto nas características imateriais desta religião, sendo estas seus ritos litúrgicos e manifestações da fé, quanto nas concretas, Arquitetura e Design.

Na área da arquitetura é possível destacar os elementos simbólicos que dão sentido e significado aos espaços sagrados. Esses, na maioria das vezes apresentam escala monumental que remete à ideia da “grandiosidade de Deus”, com forte presença de linhas verticais e movimentos que elevam o olhar ao céu, assim como iluminação natural direta ou indireta, as quais buscam repousar sobre os fiéis a ‘luz que vem do alto’ reforçando a ideia de ‘lugar sagrado’ (ELIADE, 1992). Esta concepção ascendente do espaço sagrado, por meio de elementos perceptíveis, tem a intenção de persuadir os fiéis (BOROBIO, 2010) criando um ambiente propício para a reflexão e oração.

No campo do design, o mobiliário litúrgico é o principal elemento do espaço sagrado que conserva a tradição católica. O altar, o ambão e a sédia são indispensáveis para a realização do rito litúrgico. Dentre eles, o altar é o principal, sendo que o tempo de sua existência se confunde com a história do catolicismo (ROQUE, 2004). Mais do que funções práticas, estes elementos cumprem, de modo especial, funções estéticas e simbólicas que são indispensáveis para a realização das celebrações religiosas. Além disso, no Concílio Ecumênico Vaticano II, ocorrido no período de outubro de 1962 a dezembro de 1965, a Igreja propôs que a liturgia fosse mais direcionada aos fiéis de modo que se cumprisse o verdadeiro valor da liturgia dentro da celebração (SILVA, 2006).

No entanto, a má aplicação das mudanças propostas provocaram distorção do sentido teológico e desvalorização pedagógica dos principais elementos litúrgicos (SILVA, 2006), entre eles o mobiliário e o próprio espaço sagrado. Boróbio (2010: 7) também menciona a respeito da descaracterização do espaço sagrado e seus elementos simbólicos acerca das mudanças pós Concílio:

Certamente, renovaram-se não poucos sinais e cenários: igrejas, presbitérios, batistérios, etc. Construíram-se novos templos e espaços. No entanto, pode-se também constatar que nem sempre se fez a reforma de maneira adequada. Que nem sempre se valorizaram os sinais. Que muitos espaços são impróprios e pouco adaptados. Que se insistiu mais no ilustrativo do que no significativo. Que não se deu suficiente valor ao “capital simbólico” de que dispomos.

É por esta ótica que se estabelece o objetivo deste artigo que consiste em evidenciar o valor semântico-simbólico destes locais e seu mobiliário, e possivelmente, da plena realização de seus ritos.

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Para isso, o tópico seguinte evidencia a estreita relação entre a semiótica e o design teorizando as possibilidades de suas relações. Na sequência, trata dos elementos semióticos e gestálticos que reforçam os significados e simbolismos do mobiliário litúrgico destacando os processos de comunicação material e imaterial intrínseco a alguns destes móveis. Adiante são apresentados os materiais e método escolhido para a avaliação de mobiliário litúrgico católico por meio da observação e registro fotográfico. Um estudo de caso é apresentado demonstrando a ausência de harmonia entre elementos materiais, o que não ocorre de fato quando se trata dos elementos imateriais. Por fim, conclui-se este artigo e articulam-se sugestões para aplicações futuras.

Design e semiótia: uma relação estreita de comunicaçãoDesign é linguagem. Todo produto de design, muito além de suas

funções meramente práticas, tem a intenção de comunicar. As teorias da semiótica defendidas por Pierce (1893-1914), Saussure (1857-1913), Morris (1901-1979), etc., posteriormente aplicadas ao design por Bense (1910-1990), Baudrillard (1929-2007) e tantos outros semioticistas, filósofos e designers contemporâneos confirmam esta estreita relação entre as duas áreas: Semiótica e Design.

Segundo Bürdek (2006), diferente de processos de comunicação tradicionais, como mensagens e sinais, a comunicação nos produtos industriais ocorre de forma construtiva, envolvendo vários fatores como: background pessoal de quem observa ou utiliza o produto, a situação em que se insere, além de suas influências socioculturais. Além disso, atores formam uma tríade para a concepção deste processo, ou seja, é da relação entre a intenção do criador (designer), da apresentação pelo intermediário (aquele que executa a criação, por exemplo) e das percepções e experiências do usuário (observador) que se obtém o processo de comunicação do produto e a significação. Em outras palavras, mesmo que o designer se esforce para que o usuário identifique as formas de comunicação projetadas, nem sempre isto é possível. Ora porque existem fatores externos que contribuem nos julgamentos feitos pelo usuário, ora porque as convenções do usuário podem fazê-lo construir suas próprias formas de comunicação. Tomando como exemplo o design de mobiliário litúrgico, mesmo que o designer se esforce para projetar uma simbologia adequada, a fidedignidade na execução pode contribuir/prejudicar o potencial de veiculação da mensagem desejada, além de que a compreensão desta ainda depende do background do observador.

Além disso, como afirma Burdek (2006) sobre o senso das coisas, a capacidade de comunicação dos objetos atinge até mesmo os níveis de estratificação social.

No que tratamos do morar, é evidente que os objetos que

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as pessoas utilizam representam em potencial sua vida interior. [...] O interior cumpre o papel de fornecer a diferença hierárquica que estabelecerá a ordem social. [...] Como exemplo do design de mobiliário, [...] os objetos têm tal carga semântica que eles servem também como ajuda na orientação do contexto social (BÜRDEK, 2006: 287).

No espaço sagrado, os mobiliários exercem papel fundamental na formação dos significados. Dotados de simbolismo, cada objeto tem a intenção de comunicar e provocar uma reflexão no observador. Neste contexto, está inserido o mobiliário litúrgico (altar, ambão e sédia) que, dentro do templo católico, são os objetos de design que vinculam a máxima relação entre Semiótica e o Design no que tange seus simbolismos e significados.

A semântica no interior de templos católicosOs templos católicos possuem características que os distinguem do mundo

profano, sendo diferentes simbolicamente de outros edifícios que se encontram ao seu redor. Ao passar pela porta do templo, deixa-se o espaço profano, que é humano, e adentra-se ao espaço que, em um movimento ascendente, conduz ao céu, ao sagrado, ao divino (ELIADE, 1992; BOROBIO, 2010; NUCAP e PASTRO, 2012). Por esta premissa, todo o espaço interno do templo é por si só símbolo.

De acordo com Gomes Filho (2009), sob os preceitos da Gestalt, tudo de concreto que pode ser observado, não é visto ou percebido pelo homem como algo isolado, mas pelo estabelecimento de relações com o todo. “Para a nossa percepção, que é resultado de uma sensação global, as partes são inseparáveis do todo e são outra coisa que não elas mesmas, fora deste todo”, ao passo que nosso sistema nervoso central “tende a organizar as formas em todos coerentes e unificados” (GOMES FILHO, 2009: 19).

Da mesma forma, quando se adentra um templo sagrado, a percepção visual estabelece relação entre tudo que se vê. Tudo se une como um todo insolúvel que remete ao observador a um ambiente sagrado. Deste modo, ao desconsiderar os valores intrínsecos a estes elementos, fora do templo o altar pode parecer apenas uma mesa ou balcão, o ambão um simples púlpito e a sédia uma cadeira ou poltrona. O que dá significado ao espaço sagrado é a unidade observada entre todos os elementos que o compõem.

Estas forças que regem a percepção da forma visual podem ter origens externas e internas (GOMES FILHO, 2009). As externas estão estritamente ligadas aos estímulos provocados na retina devido à luz que é refletida ou emidita pelos objetos. As forças internas, provindas do dinamismo cerebral, organizam as estruturas de forma que as reconheçamos. Os princípios básicos

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que determinam estas forças internas de organização mental são: unidade, unificação, segregação, fechamento, boa continuação, proximidade, semelhança e pregnância da forma. Desta maneira, as imagens percebidas são resultados da interação das forças internas e externas que se correlacionam demonstrando harmonia ou não entre os objetos que são observados (GOMES FILHO, 2009).

Neste sentido, é válido pensar que mesmo o espaço religioso pode ser analisado por esta ótica. Além das diretrizes preconizadas pela Instrução Geral do Missal Romano, é importante que a harmonia possa ser observada neste espaço complementando os significados inerentes a ele. Assim, a arquitetura e o design devem ser concebidos para que haja unidade formal entre seus elementos visuais, estéticos e simbólicos, os quais são determinados por estas forças internas resultando no que se conheçe por pregnância da forma. Os signos e significados, portanto, são construídos pelos observadores quando fazem inconcientemente esta relação.

Na Semiótica, os signos permeiam as interpretações e os significados. Todorov (2014) define signo como aquilo que se expressa pelo espírito, pelos sentidos, aquilo que é vivenciado. “Significar é exteriorizar” (TODOROV, 2014: 54). Burkert (2001) e Gomes Filho (2009) mencionam a respeito da arbitrariedade dos signos, podendo estes mudarem e serem substituídos, e complementa dizendo que “o sentido dos signos é produzido pelo observador” propondo que o ser humano experimente a “significação como algo que flui do exterior rumo a uma consciência psíquica” (BURKERT, 2001: 208). Estas definições revelam a característica particular das significações de cada observador, o qual, por meio de suas interpretações e convenções vivencia um sentido próprio a cada coisa que observa ou interage.

Corroborado por Pignatari (2004: 154) “o signo arquitetônico, funcional ou simbólico, tem a característica de não distinguir entre a representação e a coisa representada”. Ora, a palavra ‘igreja’ ou a foto dela, tende a não se confundir da obra arquitetônica a qual se designa. No entanto, o monumento, a igreja em si, é signo de si mesma. Para o autor supracitado, o arquiteto ou o designer é o criador e emissor da mensagem a qual denomina de código arquitetônico ou tecnológico onde estão inclusas manifestações qualitativas, ou seja, o conceito do projeto. O receptor percebe a mensagem por meio de seu repertório, mas que não necessariamente a entende da forma como foi concebida.

Pignatari (2004) explica que é deste confronto que flui o significado da arquitetura, ou seja, do confronto entre os repertórios do emissor, de seu interpretante e do seu receptor, consequentemente influenciando a emissão da próxima mensagem. Além disso, à medida que, por falta de uso, esta segunda mensagem vai se perdendo com o tempo, a primeira vai se fortalecendo e, o signo passa a uma categoria cultural (PIGNATARI, 2004), configurando o

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caráter artístico e atemporal da mensagem, passando a ter significado simbólico.

Há ainda uma inter-relação entre categorias de códigos sígnicos. No ambiente sagrado, o primeiro é o código arquitetônico e tecnológico caracterizado pelas atividades elementares do profissional (no caso, o arquiteto e o designer; projeto e ideação) e as científicas e tecnológicas, configurando uma dimensão físico-formal do espaço. O segundo é o código visual que faz relação com as interações estéticas e artísticas presentes no espaço sagrado como afrescos, pinturas, cores, estátuas, artes em geral. E o terceiro é o código verbal que expressa uma mensagem, o qual se caracteriza no espaço sagrado pela mística litúrgica, dos cantos, ou do próprio silêncio característicos. Neste sentido, por meio de reações e relações semióticas, a interpretação, a signficação, independente do repertório, identifica-se com o conceito idealizado pela criação daquele espaço (PIGNATARI, 2004).

De forma comparativa, os signos estão conceitualmente ligados à semiótica e suas dimensões. Estudioso de Pierce, Morris propôs a interdependência de três importantes dimensões: a sintática, a semântica e a pragmática. Na linguagem do design, Braida e Nojima (2014) estabelecem relação entre estas dimensões semióticas com as funções práticas, estéticas e simbólicas dos produtos industriais, propostas por Löbach (2001).

A dimensão sintática se refere à relação dos signos com o que se observa ou a quem se observa, tratando-se, portanto, das formas percebidas e interpretadas pelo observador, ou seja, da função estética do produto (LÖBACH, 2001; BRAIDA e NOJIMA, 2014). Além disso, Niemeyer (2010: 50) afirma que esta dimensão está relacionada também aos aspectos “da construção técnica do produto quanto à análise de detalhes visuais como juntas, aberturas, orifícios, superposições, texturas, desenhos e cores” onde um componente exerce influência também na forma total. A esta dimensão, é possível ainda relacionar o código sígnico visual descrito por Pignatari (2004).

A dimensão semântica trata do sentido, do significado, da abstração, do que se refere aquele signo ou aquela forma observada (BRAIDA e NOJIMA, 2014). São “as qualidades expressiva e representacional de um produto” (NIEMEYER, 2010: 53). Por isso, a semântica trata da função simbólica do produto devido sua expressão verbal da estética de valor (LÖBACH, 2001) expressando sua qualidade representacional e um códico sígnico verbal (PIGNATARI, 2004).

Já a pragmática é a dimensão que se relaciona estreitamente com a função prática dos produtos assegurando que os signos percebidos pelo observador ou usuário se comuniquem de maneira correta e inteligível, facilitando a compreensão sobre as necessidades de uso daquele objeto (BRAIDA e

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NOJIMA, 2014), ou seja, a estética empírica do processo de design (LÖBACH, 2001). De forma mais abrangente, a dimensão pragmática busca analisar pelo ponto de vista do uso do produto, desde o projeto ao descarte (NIEMEYER, 2010), aproximando-se do código signico arquitetônico e tecnológico proposto por Pignatari (2004).

Neste sentido, a Figura 1 expõe uma profunda conexão entre as Leis da Gestalt para leitura visual (GOMES FILHO, 2009), Semiótica aplicada ao Design e Arquitetura (PIGNATARI, 2004; NIEMEYER, 2010; BRAIDA e NOJIMA, 2014) e do Design no que se refere às funções dos produtos industriais e à estética aplicada a eles (LÖBACH, 2001).

Tendo sido destacadas graficamente estas inter-relações, é importante que se entenda como se manifestam as qualidades semânticas e simbólicas do mobiliário litúrgico a fim de compreender quão profunda pode ser a perceção do observador que faz uso destes espaços sagrados. Isto contribuirá na formulação de julgamentos quanto ao estudo de caso apresentado neste artigo.

Semãntica do mobiliário litúrgico católicoO altar é o elemento central do templo. Nele que se concentra forte

simbologia da fé cristã (PASTRO, 1999; SECRETARIADO..., 2003: n.296; MILANI, 2006; SILVA, 2006; BOROBIO, 2010; NUCAP E PASTRO, 2012).

O altar cristão quer expressar a íntima relação desses dois aspectos: o do sacrifício-imolação e o do convite ou ceia do Senhor. O sinal mais visível, a mesa com o pão e o vinho, remetem mais diretamente ao aspecto convivial ou de banquete da Eucaristia; ao passo que a mesa com a ara, junto com o pão partido e o sangue derramado, remetem

Figura 1: Inter-relações gestálticas, semânticas e de design.Fonte: elaborado pelos autores, 2017.

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mais diretamente ao sacrifício de Cristo na cruz, presente na Eucaristia (BOROBIO, 2010: 66).

A Instrução Geral ao Missal Romano - IGMR preconiza que o altar seja preferencialmente fixo ao presbitério, afastado da parede permitindo andar em seu entorno e celebrar de frente para a assembleia, constituído de material sólido, rígido, nobre e digno, preferencialmente de pedra. Admite-se também a utilização de outro material, tradicional ou de costume de cada região, desde que mantenha as características citadas anteriormente (SECRETARIADO..., 2003).

O ambão, no espaço litúrgico, é o mobiliário de onde se proferem as leituras bíblicas, salmos, a homilia e as proposições de intenção universal (SECRETARIADO..., 2003). A palavra ambão vem “do grego ‘anabaino’ que significa subir, porque costuma estar em posição elevada, de onde Deus fala” (SILVA, 2006: 11). Também é chamado de mesa da palavra. De fato, é sempre colocado em local elevado no presbitério para que possibilite a apreensão da atenção de todos os fiéis.

Borobio (2010) relata que, simbolicamente, no ambão Deus se manifesta revelando, por meio do que é proferido, caminhos para a salvação. Sendo assim, deve ser compreendido como um instrumento para a anunciação da salvação dos homens onde a atenção deve estar voltada durante a liturgia da palavra. Por isso a necessidade de local de destaque, no presbitério e próximo à assembleia (MILANI, 2006). A IGMR indica que o ambão, assim como o altar, seja constituído de material sólido e digno, recomendando unidade entre os elementos pertencentes ao presbitério (SECRETARIADO..., 2003).

A palavra sédia vem do grego “kathédra”, “sedes” (BOROBIO, 2010), também é chamada de cadeira da presidência (SILVA, 2006). É neste mobiliário onde fica sediado o presidente da celebração, seja ele o bispo, o padre ou o diácono da comunidade. Em catedrais é reservada ao bispo e é chamada de cátedra. Nas outras igrejas pode também ser utilizada pelo bispo em celebrações especiais, mas é geralmente utilizada pelos padres e diáconos sendo chamada simplesmente de sédia ou sede. Possui riqueza simbólica e representa o local destinado ao próprio Cristo:

O simbolismo da cátedra ou sede deve representar Cristo Mestre, que prega e ensina a seus apóstolos, sentados ao seu redor. Compreende-se que seja símbolo da presença do Mestre, de sua autoridade magisterial, de veneração e reconhecimento de seu ensinamento. Por isso, normalmente, os bispos, sucessores dos apóstolos, pregavam da sede. [...] Essa função adquire maior significado quando se trata da cátedra, onde o bispo tem sua “sede” [...] (BOROBIO, 2010: 69-70).

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Borobio (2010) complementa que aquele que ocupa a presidência da celebração, simbolicamente, assume o lugar de Cristo e personifica-o. A IGMR recomenda a localização da sédia no fundo do presbitério, atrás do altar em um nível mais elevado, facilitando a visibilidade da assembleia. Pode estar também na lateral do presbitério, caso a arquitetura e disposição dos elementos assim exija (SECRETARIADO..., 2003). Não deve possuir aparência que lembre um trono, pois segundo Silva (2006: 40, grifo nosso), “a presidência é antes de tudo um serviço”.

Diante do exposto, verificou-se relação direta entre os aspectos semânticos, estéticos e mesmo os práticos, os quais se unem na formulação de significado dentro do espaço sagrado. Além disso, pela incontestável presença de simbolismo neste ambiente, a harmonia e unidade permeiam desde a arquitetura e mobiliário a todas as características visíveis e sensíveis do templo. Sendo assim, é importante comparar o status da criação do conjunto ao status de obra de arte já que complementam a semântica, função e beleza essenciais à liturgia e ao espaço.

Neste sentido, este artigo apresentará estudo de caso que adota Modelo de Análise Semiótica que explora as dimensões sintáticas, semânticas e pragmáticas na perspectiva do design. Para tanto, o modelo busca demonstrar os signos sensíveis de um templo. Antes disso, o tópico seguinte apresenta os materiais e método selecionados para Análise Semiótica de Santuário Católico no Estado do Paraná mostrando as particularidades desta relação entre Semântica e Design no que concerne o mobiliário litúrgico católico.

Materiais e métodoEsta pesquisa utilizou como método a Pesquisa-ação, onde pesquisadores

e envolvidos com a situação pesquisada possuem papel ativo no processo de observação e as ações são determinadas e realizadas em resposta às situações (THIOLLENT, 2011).

Para a estruturação da pesquisa-ação e forma de organização para os procedimentos posteriores, foi tomado como instrumento o Modelo de Análise Semiótica proposto por Cardoso (2017). Este instrumento possui metodologia de fácil compreensão pelos envolvidos, já que foi desenvolvida tendo como intenção sua adoção por cursos de graduação na preparação de seus alunos em disciplinas de Semiótica aplicada ao Design, melhorando seu potencial de análise e construção de significados (CARDOSO, 2017: 23). Este modelo possui fundamentação em Morris, o qual adota e aprofunda os constructos semióticos de Pierce. É composto por 8 etapas (Figura 2) e apresenta relação entre as dimensões semióticas (sintática, semântica e pragmática) de Morris (1946, 1976), na horizontal, e o círculo hermenêutico (na vertical) de Gadamer (2015) (apud CARDOSO, 2017). Os números no esquema indicam os estágios

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de ação para a realização da análise semiótica.

A primeira ação corresponde à descrição da (1) sintática geral dos mobiliários observados que, devem ser comparados à descrição da (2) semântica geral, realizados no segundo estágio. Estes dois primeiros estágios requerem análise de conteúdos explícitos e implícitos correspondentes ao todo analisado.

O terceiro e quarto estágios, respectivamente, referem-se à comparação da (3) sintática detalhada e (4) semântica detalhada nos quais se destaca a percepção e descrição analítica de detalhes explícitos e implícitos dos mobiliários da amostra, os quais podem ser novamente confrontados para o registro das associações entre essas duas dimensões. O quinto estágio consiste da (5) síntese sintática e semântica que, voltando a uma abordagem geral, faz análise comparativa por meio de organização visual ou estratégica dos indícios de relações entre o que é explícito e implícito. O sexto estágio denominado de (6) pesquisa pragmática compreende o envolvimento de usuários com o objetivo de obter provas para validação das análises sintáticas e semânticas já realizadas pelos pesquisadores. Assim, investigam-se as ações efetiva dos signos nas três dimensões semióticas, de forma geral e detalhada. A (7) síntese pragmática, no sétimo estágio, consiste da ordenação dos resultados obtidos no estágio anterior com vistas à, de fato, validar ou não as análises prévias. O último estágio compreende uma análise geral sob o ponto de vista das sínteses sintática, semântica e pragmática incluindo as percepções de todos os envolvidos no projeto, pesquisadores e usuários, apresentados como (8) inferências finais.

Somando-se a isto, foi selecionado para um estudo prévio o Santuário Nossa Senhora Aparecida da cidade de Campo Mourão, Estado do Paraná, Brasil. Os critérios de escolha do referido templo foram: 1) ser uma igreja dedicada a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Esta característica

Figura 2: Modelo de Análise Semiótica na perspectiva do Design.Fonte: Adaptado de Cardoso (2017).

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foi considerada importante pela possibilidade de comparação com outros templos e santuários do país com o mesmo título dado a frequência com que pode ser encontrada e, geralmente, neles se formam importantes pontos de peregrinação de fiéis; 2) devido a grande ocorrência de templos dedicados à Padroeira do Brasil, seria possível identificar autorias e estilos arquitetônicos diferentes que pudessem sofrer comparações semânticas em análises futuras. Além disso, supõe-se que haja alguma similaridade estética e formal justamente pela coincidência de apadrinhamento destes templos.

Resultados e discussõesPor meio de visita ao Santuário Nossa Senhora Aparecida em Campo

Mourão, autorizada e agendada pelo responsável do templo, realizada no dia 26 de fevereiro de 2018, foi realizado o procedimento de registro de imagens. Dois pesquisadores fizeram os registros fotográficos de todos os elementos físicos pertencentes ao presbitério daquele templo, podendo-se destacar o mobiliário, ornamentos, decoração, arquitetura e iluminação. Este artigo ater-se-á à exposição dos resultados referentes aos estágios 1 a 4 do Modelo de Análise Semiótica proposto. Esta medida mantém intacta a originalidade e ineditismo deste trabalho já que se trata de recorte de tese de doutorado. As análises foram realizadas por grupo composto por três pesquisadores, sendo dois docentes e um discente do curso de graduação em Design da Universidade Estadual de Maringá. É importante evidenciar que esta parte das análises foram totalmente influenciadas pelos conhecimentos prévios e convenções dos pesquisadores participantes. O método prevê em seus estágios futuros o confronto das percepções dos pesquisadores com as percepções dos usuários do templo, justamente para que os resultados finais não pareçam tendenciosos ou individualizados. A Figura 3 ilustra as principais imagens que resumem a arquitetura, presbitério e mobiliário litúrgico pertencente ao ambiente foco deste estudo piloto.

Figura 3: Exterior, interior e mobiliários do presbitério do Santuário Nossa Senhora Aparecida – Campo Mourão – PR.Fotos: Dalberto (2018).

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Como preconizado por Cardoso (2017), utilizando o princípio do círculo hermenêutico, a análise se inicia de forma geral para posteriormente analisar partes do conjunto. Na sintática geral foram analisados, estrutural e formalmente, os elementos que constituíam o presbitério, parede de fundo do presbitério, piso e mobiliário. Na semântica geral buscou-se explicitar o que aqueles elementos percebidos no estágio anterior poderiam suscitar comunicar, expressar, evocar, de forma implícita, por meio de associações também globais. Dada extensão das análises, a Tabela 1 sintetiza os resultados mais relevantes destes dois estágios e possibilita fazer comparação e relações entre os elementos sintáticos e semânticos gerais.

Tabela 1: Relações entre sintática e semântica gerais do Santuário Nossa Senhora de Aparecida – Campo Mourão.Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

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De forma geral, o que foi percebido pelos pesquisadores é que os elementos que compreendem o presbitério daquele templo apresentam desarmonia quanto aos estilos artísticos presentes na arquitetura, decoração e mobiliários. A arquitetura do templo não possui estilo definido, porém, sua decoração interna, principalmente a parede do fundo do presbitério possui detalhes em gesso com estilo neoclássico. Já o mobiliário litúrgico, em madeira, com entalhes feitos à mão, possui material nobre e bem trabalhado, mas seu estilo rústico/artesanal não harmoniza com o restante do templo. O que se conclui, nesta etapa de análise generalista é que a harmonia e unidade estética e material do espaço interno daquele templo possui comprometimento grave, já que se verifica a mistura de estilos sem relação clara entre os mesmos. Esta dualidade dificulta a criação de harmonia entre os elementos avaliados.

Nos estágios 3 e 4, Sintática e Semântica Detalhadas, o objetivo era avançar para avaliações mais específicas e detalhes, tanto relacionados a sua estrutura e aspectos visuais do presbitério e mobiliários (no estágio 3) quanto à percepção sobre o que cada detalhe sintático poderia representar, suscitar, evocar, veicular, conotar semanticamente (estágio 4). É importante destacar que as análises nestes estágios se contiveram nas características percebidas no mobiliário litúrgico (imagens de todas as vistas) e no presbitério apenas, conforme ilustrado na Figura 4.

Figura 4: Presbitério e mobiliário litúrgico – Santuário Nossa Senhora Aparecida – Campo Mourão-PR.Fotos: Dalberto (2018).

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Para se chegar aos resultados foram novamente realizadas comparações entre a sintática e semântica detalhadas no sentido de possibilitar a realização de relações entre estes resultados. A extensão das análises não possibilita sua apresentação por completo neste artigo, por isso, a Tabela 2 sintetiza os principais resultados.

Tabela 2: Relações entre sintática e semântica detalhadas da Paróquia Nossa Senhora de Aparecida – Campo Mourão-PR.Fonte: Elaborado pelos autores (2018).

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Embora tenha sido percebida a existência de desarmonia durante as análises sintática e semântica gerais, as análises detalhadas revelam um forte apelo simbólico e comunicativo do ambiente. Por meio de análises mais profundas, da comparação entre os detalhes visuais e estruturais do mobiliário litúrgico e presbitério, ameniza-se a desarmonia simbólica, pois as conexões percebidas entre os significados provocam o fortalecimento e unidade entre os conceitos.

Como preconiza a Igreja Católica em seus documentos, o altar deve ser o centro do ambiente, sendo o elemento litúrgico que mais chama a atenção da assembleia, pois simbolicamente é o mais importante. Além disso, a superfície em madeira trabalhada artesanalmente, as formas figurativas, as cores e as mensagens intrínsecas aos mobiliários analisados reafirmam o valor do mobiliário litúrgico naquele templo, podendo provocar nos observadores uma série de sensações e percepções quanto aos seus significados. Obviamente, cada observador fará um julgamento de acordo com suas experiências e repertório. Porém, a utilização de elementos figurativos, muito utilizados nos ritos católicos, certamente evocará nos observadores o entendimento de mensagens parecidas ou complementares. Por exemplo, o ambão e a imagem entalhada que remete a um livro aberto com inscrições, pode provocar a lembrança de uma bíblia representando que aquele móvel deva ser utilizado para a leitura de textos bíblicos. O altar com suas imagens figurativas de alimentos, certamente evocará nos observadores o julgamento de refeição, banquete. Na sédia, mesmo não possuindo uma imagem ou sinal visível, nota-se sensivelmente sua importância em relação aos demais assentos devido ao tamanho, ao trabalho de marcenaria, entalhes, suas cores, representando o local onde deve sentar uma pessoa de notável importância. A igreja não recomenda a utilização de elementos figurativos que possam prender ou desviar a atenção dos fiéis, no entanto, estes elementos reafirmaram e reforçaram o papel semântico e simbólico do mobiliário litúrgico daquele templo, evidenciando, portanto, as relações entre o design e a semiótica aplicada a ele.

Por fim, a parede de fundo do presbitério apresentou elementos com estilo artístico que não condiz com a arquitetura do templo, tampouco com o estilo do mobiliário. Entretanto, os elementos sintáticos variados reforçam a ideia de importância, de valorização do espaço, podendo comunicar semanticamente ideia de espaço real, palácio. Apesar da harmonia e unidade se darem por meio do esmero percebido com os detalhes e trabalhos manuais tanto do presbitério quanto do mobiliário, seriam melhor percebidos se houvesse uma global harmonização dos estilos artísticos utilizados.

Considerações finaisEste artigo demonstrou preocupação com a manutenção semântica

expressa não só pela arquitetura sacra católica, mas também pelo mobiliário litúrgico. O arcabouço teórico apresentado neste artigo se mostra importante

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para a compreensão desta área pouco explorada que inter-relaciona a Gestalt, a Semiótica, o Design de mobiliário litúrgico e a Arquitetura sacra, construindo repertório suficiente para a compreensão do valor comunicacional e simbólico inerente aos espaços sagrados católicos. Além disso, a explanação sobre o simbolismo do mobiliário litúrgico, requerido pela própria Igreja, contribui para a interpretação dos significados pelos observadores (fiéis).

A aplicação do Modelo de Análise Semiótica adotado para análise neste trabalho se mostrou pertinente, pois revelou capacidade de estratificar detalhes sintáticos e construir significados por meio dos elementos semânticos, o que evidencia o potencial de comunicação da arquitetura e do mobiliário litúrgico.

Recomenda-se que novos estudos ocorram, em templos de diferentes regiões ou países, com a finalidade de averiguar a efetividade deste Modelo de Análise Semiótica e a aplicação da semântica em projeto de templos e mobiliários litúrgicos católicos. Acredita-se que a melhor compreensão dos efeitos de elementos semióticos no espaço sagrado forneça uma gama de possibilidades para o projeto de design do mobiliário litúrgico. No futuro, este e outros resultados poderão ser convertidos em indicações para o projeto de mobiliário litúrgico, contribuindo principalmente para sua manutenção semântica e simbólica no que se refere à arquitetura e o design

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autores

Marcelo dos Santos Forcato.Doutorando do Programa de Pós-graduação em Design da Faculdade da Arquitetura, Artes e Comu-

nicação – FAAC da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP | [email protected]

Anelise Guadagnin Dalberto.Professora Mestre do Departamento de Design e Moda da Universidade Estadual de Maringá –

UEM | [email protected]

Paula da Cruz Landim.Professora Doutora do Programa de Pós-graduação em Design da Faculdade da Arquitetura, Artes e

Comunicação – FAAC da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP | [email protected].

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AgradecimentoO presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.