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Sem título-5 1 25/04/17 16:33

CRÍTICA TEXTUAL DA BÍBLIA HEBRAICA

SUMÁRIO

Lista de Tabelas xiiiLista das Ilustrações xvPrefácio da Terceira Edição em Inglês xixPrefácio da Edição em Português xxiiiPrefácio do Tradutor Abreviaturas e FontesPeriódicos, Obras de Referência e Séries xxxvAbreviaturas Bibliográficas xxxixSistema de Transliteração lxviiBreve Guia Didático lxix

Capítulo 1: Introdução 1 a. A Necessidade da Crítica Textual nas Escrituras Hebraico-Aramaicas 2 1 Diferenças entre os Muitos Testemunhos Textuais 3 a. Sequência de Livros 4

b. Divisão de Capítulo 5 c. Layout do Texto 5 d. Divisão de Verso 6 e. Letras Isoladas e Palavras 6 f. Vocalização e Acentuação 7 g. Notas da Massorá 7 h. Diferentes Edições Baseadas no Mesmo Manuscrito 7 j. Diferenças por Causa de Erros de Impressão 8 2. Erros,CorreçõeseModificaçõesnosTextos,Incluindooå 9 3. O å não Reflete o “Texto Original” dos Livros Bíblicos 12 4. Diferenças Entre Textos Bíblicos Paralelos Internos no å 12 b. Uma Abordagem Moderna para a Crítica Textual 17 c. Inícios da Investigação Crítica a Respeito do Texto das Escrituras 19 d. Texto, Cânone e Status Sagrado 21 e. Subjetividade deste Livro 22

Capítulo 2: Testemunhos Textuais 23I. Testemunhos Hebraicos 23

A. Textos Protomassoréticos e o Texto Massorético (Grupo-å) 24 1. A Estrutura Consonantal: Textos Protomassoréticos e o å 26 a. Contexto Histórico 26

vi Prefácio

b. Desenvolvimento do Texto Consonantal 27 a. Medinḥā’ê—Ma‘arbā’ê 36 β. Variantes em Manuscritos Escritos em Diferentes Sistemas de Vocalização 36 γ. Anotações Massoréticas 37 c. Origem 37 d. Evidência 38 e. SignificadodasDiferençasentreManuscritosMedievais 39 2. Vocalização 40 a. Contexto Histórico 41 b. Sistemas de Vocalização 43 c. Diferenças entre os Sistemas de Vocalização 44 d. Características da Vocalização Tiberiense 47 3. Elementos Paratextuais 48 a. Divisões de Texto: Seções, Versos, Capítulos e Parashot 49 b. Pisqah beemṣa‘ pasuq 51 c. Nunim Invertidos 52 d. Pontos Extraordinários (Puncta Extraordinaria) 52 e. Letras Suspensas (Litterae Suspensae) 53 f. Letras Especiais 54 g. Ketib–Qerê 55 a. O qerê Representa uma Tradição de Leitura 57 β. O Qerê Escrito Corrige o Ketib como Indicado pela Massorá 58 γ. A Palavra do Qerê Servia como uma Variante Escrita para o ketib 59 δ. Posições Intermediárias 59 h. Sebirin 60 i. Correções dos Escribas 60 j. Omissão dos Escribas 62 k. Layout 63 4. Acentuação 63 5. Aparato da Massorá 66 a. Teor 67 b. Manuais Massoréticos 69 c. Edições da Massorá 70 d. Importância da Massorá 71 6. Edições do å 71 b. Textos Pré-Samaritanos e o Pentateuco Samaritano (Grupo-ã) 75 1. Contexto Histórico 77 2. Data e Origem 78 3. Manuscritos e Edições 79 4. Natureza do Texto 80 a. Elementos (Pré-Samaritanos) Antigos no ã 81 a. ModificaçõesEditoriais 81 β. Pequenas Alterações de Harmonização 84 γ. Correções Linguísticas 85 δ. Pequenas Diferenças de Conteúdo 87

viiPrefácio

ε. Diferenças Linguísticas 88 b. Elementos Samaritanos 89 a. ModificaçõesIdeológicas 89 β. ModificaçõesFonológicas 90 c. Ortografia 91 5. Textos Pré-Samaritanos 92 c. Os Textos Bíblicos Encontrados no Deserto da Judeia 95 1. Contexto Histórico 96 2. Evidência 97 3. Datação 100 4. Publicação 101 5. Textos Escritos na Prática Escribal de Qumran 101 a. DestaquesOrtográficos 103 b. Destaques Morfológicos 103 c. Destaques Escribais 104 d. Adaptações Contextuais 105 e. Consistência e Análise Estatística 105 6. Variantes nos Rolos de Qumran 106 7. ClassificaçãodosRolosdeAcordocomaCaracterísticaTextual 108 8. Contribuição dos Rolos do Deserto da Judeia para a Pesquisa Bíblica 112 d. Outros Testemunhos 113 1. Rolos de Prata de Ketef Hinnom 113 2. Papiro de Nash 113 3. Tefillin e Mezuzot do Deserto da Judeia 114 4. Rolo de Severo e Torá do R. Meir 114 5. Fontes Não Bíblicas: Citações e Textos das “Escrituras Reescritas” 116 6. Textos que Têm Sido Perdidos 117

II . As traduções Antigas 117 a. Utilização das Traduções Antigas na Crítica Textual 117 1. Contexto Histórico 117 2. Exegese 120 a. Exegese Linguística 120 b. Exegese Contextual 121 c. Exegese Teológica 122 d. Tendências Midráshicas 124 3. Representação das Construções Hebraicas na Tradução 124 4. Fenômenos Intertraducionais 124 5. Reconstrução da Fonte Hebraica das Traduções 125b. Evidência 129 1. Septuaginta (©) 130 a. Nome e Natureza 131 b. Extensão 131 c. Sequência dos Livros 132 d. Forma Original da ©, Origem e Data 133 e. Evidência 134 a. Testemunhos Diretos 134

viii Prefácio

β. Testemunhos Indiretos: Traduções Filhas da © 136 f. Edições 137 g. Ferramentas Auxiliares 137 h. A Fonte Hebraica da © e o seu Valor Crítico-Textual 138 a. A Pesquisa dos Livros e Capítulos na © que Diferem de ManeiraSignificativadoå+ 138 β. Um Tipo de Texto “Septuagintal”? 142 γ. AvaliaçãodaEvidênciaLiteráriaRefletidana© 142 2. Revisões da Septuaginta 143 a. Contexto Histórico 143 b. Surgimento das Revisões 144 c. Natureza das Revisões 144 d. Revisões Pré-Hexapláricas 145 a. Kaige-Teodocião 145 β. Áquila 146 γ. Símaco 147 e. Héxapla 148 f. Revisões Pós-Hexapláricas: Luciano 149 3. Targumim (ÿo, ÿPs-J, ÿF, ÿN, ÿJ) 150 a. Targumim para a Torá 152 a. Targum Ônquelos 152 β. Targumim Palestinos 152 b. Targum para os Profetas 153 c. Targumim para os Hagiógrafos 153 4. Peshitta(ê) 153 5. Vulgata (×) 155 6. Tradução Árabe de Saadia 156

Capítulo 3: História do Texto Bíblico 157 a. Relação entre os Textos 157 1. Relação entre os Textos na Pesquisa até 1947 157 2. Relação entre os Textos na Pesquisa desde 1947 159 3. Uma Nova Abordagem 160 4. Posição Central do å na Tradição e Pesquisa 162 b. Forma do Texto Bíblico em Períodos Antigos 163 1. Necessidade de Aceitar um Ponto de Vista sobre o Texto Original 163 2. Dois Modelos 165 a. Múltiplos Textos Primitivos 166 b. Um Texto Original ou uma Série de Textos Determinativos (originais) 168 c. Definiçãodo(s)Texto(s)Original(is)(Determinativo[s]) 169 c. Desenvolvimento do Texto Bíblico 172 1. Teorias Textuais 172 2. O Mito da Estabilização do Texto das Escrituras Hebraicas 177 3. Uma Nova Descrição 183 a. Período Antigo até c. 250 aec 184 b. Período de c. 250 aec até 132–135 ec 187

ixPrefácio

Capítulo 4: Copiando e Transmitindo O Texto Bíblico 195 a. Informações Básicas e Estrutura Cronológica 195 b. Copiando o Texto Bíblico 196 1. Materiais, Forma e Extensão 196 2. Práticas de Escrita 199 a. Divisão de Palavra 200 b. Letras Finais e Não Finais 201 c. Divisiões de Texto 202 a. Divisão em Unidades Menores de Sentido (Versos e Linhas Métricas) 202 β. Divisão em Unidades Maiores de Sentido (Seções) 203 γ. Divisão em Salmos 204 δ. Divisão em Livros 205 d. LayoutEsticográfico 205 e. Correção de Erros 206 f. Marcações Escribais 208 g. Escrita de Nomes Divinos 209 h. Separação de Palavras 209 3. Escritas 209 a. Contexto Histórico 210 b. Mudança de Escrita 210 4. Ortografia(Grafia) 211 a. Contexto Histórico 212 b. DiferentesPráticasOrtográficasnosTextosBíblicos 213 c. PráticasOrtográficasdoGrupo-å 216 a. DatandoaOrtografiadoå com Base em Evidência Externa 216 β. Análise Interna do å 217 γ. O åRefleteumSistemadeGrafia? 220 d. Caracterização de Livros Individuais no å 221 5. Tradições Escribais 222 Apêndice: Tefillin e Mezuzot do Deserto da Judeia 222 c. Transmissão textual 223 1. Contexto Histórico 223 2. Diferenças Criadas no Decurso da Transmissão Textual 225 a. Supressões 225 a. Omissões Aleatórias 225 β. Haplografia 225 γ. Homoioteleuton, Homoioarcton (Parablepsis) 226 b. Extras 228 a. Ditografia 228 β. Leituras Duplicadas 228 c. Intercâmbios 230 c.i Intercâmbio de Letras Semelhantes 231 a. SemelhançaGráfica 231 β. Semelhança Fonológica 237 c.ii Diferentes Concepções de Divisão de Palavra 238

x Prefácio

c.iii Ortografia:DiferençasEnvolvendoMatres Lectionis 239 c.iv Ortografia:’Aleph Quiescente 240 c.v Variações Envolvendo o Uso de Letras Finais 240 c.vi Vocalização (Leitura) 241 c.vii Variantes Complexas 241 c.viii Abreviações? 241 d. Diferenças de Sequência 242 e. Interpretações Escribais 243 3. LeiturasVariantesRefletindoModificaçõesdeConteúdo 243 a. ModificaçõesExegéticas 244 a. ModificaçõesContextuais 244 β. ModificaçõesTeológicas 245 b. ModificaçõesLinguístico-Estilísticas 260 c. Inserção de Leituras Sinônimas 261 d. Harmonizações 261 e. Acréscimos Explicatórios e Exegéticos para o Corpo do Texto 262 f. ModificaçõeseAcréscimosComo-Midrash 264

Capítulo 5: Teoria e Práxis da Crítica Textual 267 a. Teoria da Crítica Textual 267 b. Práxis da Crítica Textual 269 c. Tipos Diferentes de Variantes 271 I. Variantes que Necessitam ser Avaliadas (Variantes Genéticas+) 271 a. Transmissão Escribal (Variantes não Intencionais) 271 b. Atividade Escribal (Variantes Intencionais) 272 II. Variantes que não Necessitam ser Avaliadas (Variantes não Genéticas [veja-se a p. 168]) 272 a. DiferençasExtensas(ExemplificadaspeloJeremias-© e pelo Ezequiel-©) 272 b. Importantes Diferenças Menores em Pequenos Detalhes 272

Capítulo 6: Avaliação de Leituras 273 a. Contexto Histórico 273 b. Diretrizes Textuais 274 1. Critérios Externos 276 a. Status Desigual de Fontes Textuais 276 b. Preferência pelo å 276 c. Ampla Atestação 277 d. Idade dos Testemunhos Textuais 278 2. Critérios internos 279 a. Lectio Difficilior Praeferenda/Praevalet/Praestat 279 b. Lectio Brevior (Brevis) Potior 281 c. Assimilação para Passagens Paralelas (Harmonização) 283 d.ModificaçãoInterpretativa 283 c. Leituras Preferíveis 286

Capítulo 7: Crítica Textual e Literária 289

xiPrefácio

a. Contexto Histórico 289 b. Evidência 292 1. Dois Estratos Literários de Jeremias: 4QJrb,d, ©* e å+ 292 2. Dois Estratos Literários de Josué: ©* e å+ 299 a. O Texto Curto da ©* versus o Texto Longo do å+ 300 b. Alguns Elementos Longos na ©* que Diferem do å+, Normalmente Mais Antigos do que o å 302 c. A Sequência Diferente nos Capítulos 8–9 na ©* e no å+ 304 d. ModificaçõesTeológicaseIdeológicas 304 3. Dois Estratos Literários de Ezequiel: ©* e å+ 304 4. Estratos Literários Diferentes em 1Samuel: å+, ©* e 4QSma 306 a. Dois Estratos Literários em 1Samuel 16–18 na ©* e no å+ 306 b. Dois ou Três Estratos Literários em 1Samuel 2 no å+, na ©* e em 4QSma 308 5. Duas Edições Literárias de Provérbios: ©* e å+ 309 6. Diferentes Sistemas Cronológicos em Gênesis 5 e 11: å+, ã e ©* 311 7. 1–2Reis (3–4Reinos) na ©* 311 a. Diferenças Literárias (Editoriais) entre a ©* e o å+ em 1Reis 311 b. Sistemas Cronológicos Diferentes na ©* e no å+ em 1–2Reis (3–4Reinos) 313 c. Diferentes Cronologias e Estratos Editoriais em 2Reis na ©* e no å+ 313 d. Diferente Posição dos Livros de Samuel–Reis na ©Luc e no å+, © 314 8. Sequências Diferentes entre a ©* e o å+ 314 9. Edições Literárias Diferentes de 2Reis 20 // Isaías 38? 315 10. Textos Longos e Curtos de 1Samuel 11: 4QSma e å+, © 316 11. Duas Edições Literárias de Juízes 6 em 4QJza e å+, ©? 318 12. Duas Edições Literárias de Deuteronômio 5 em 4QFil A, B, J e å+ ©? 319 13. Edições Literárias Diferentes de Josué: 4QJsa e å+, ©* 319 14. Diferentes Edições Literárias de Êxodo 35–40: ©* e å+, ã 321 15a. Edições Literárias Diferentes de Ester: ©* e å+ 322 15b. Edições Literárias Diferentes de Ester: ©Texto-A e å+ 323 16. Diferentes Edições Literárias de Daniel: ©* e å+ 324 17. Esdras–Neemias: ©* e å+ 325 18. Composições Como-Escrituras 325 19. Edições Literárias Diferentes de 1–2Crônicas na ©* e no å+? 326 20. Edições Literárias Diferentes de Números na ©* e no å+? 327 21. Edições Literárias Diferentes do ã e do å+, © 327 22. Edições Literárias Diferentes do Salmo 151: © e 11QSla 327 23. Uma Edição Exegética da Torá em 4QPRa–e 328 24. Diferenças Literárias Menores 328 c. Avaliação ???

Capítulo 8: Emenda Conjectural 333 a. Contexto Histórico 333 b. Tipos de Emendas 337

1INTRODUÇÃO

“Um homem que possui senso comum e o uso da razão não deve espe-rar aprender de tratados ou palestras sobre crítica textual nada que ele não poderia, com tempo livre e atividade, descobrir por si próprio. O que as palestras e os tratados podem fazer para ele é poupá-lo do tem-po e aborrecimento, imediatamente apresentando-lhe considerações que lhe ocorreriam em todo caso mais cedo ou mais tarde”, (A.E. Hou-sman, “The Application of Thought to Textual Criticism”, Proceedings of the Classical Association 18 [1922], p. 67-84 [67]).

Bibliografia Geral

Ap-Thomas, Primer; D. Barthélemy, “Text, Hebrew, History of”, IDBSup, p. 878–884 = Études, p. 341–364; id., Critique textuelle 1982–2005; Brotzman, Textual Criticism; Cappellus, Critica Sacra (1650); Deist, Text; id., Witnesses; Eichhorn, Einleitung; Eissfeldt, Introduction, p. 669–719; Fischer, Text; Gentry, “Text”; D.C. Greetham, Textual Scholarship: An Introduction (New York-London:GarlandPublishing,1992);Y.Grintz,mbw’y mqr’ (TelAviv:Yavneh,1972);Hen-del, Genesis 1–11; Klein, Textual Criticism; van der Kooij, Textzeugen; McCarter, Textual Criti-cism; Kreuzer, “Text”; id., “Textkritik”; Mulder, Mikra; Noth, Old Testament World, p. 301–363; S. Pisano, S.J., Introduzione alla critica testuale dell’ Antico e del Nuovo Testamento (5. ed. Roma: Pontificio IstitutoBiblico, 2008);Reynolds–Wilson,Scribes & Scholars, p. 207–241; Roberts, OTTV; M.Z.Segal,mbw’ hmqr’, IV. p. 842–977; Steuernagel, Einleitung, p. 19–85; Talmon, “Old Testament Text”; J.A. Thompson, “Textual Criticism, Old Testament”, IDBSup, p. 886–891; Trebolle Barrera, Biblia;Wegner,Textual Criticism;Weingreen,Introduction;Würthwein,Text; id., Text (em inglês). Ferramentas eletrônicas: ➞ cap. 10 e as fontes textuais descritas nos capítulos 2, 4, 8, 9

A crítica textual1 trata da natureza e da origem de todos os testemunhos de uma obra ou texto, em nosso caso, os livros bíblicos. Esta análise fre-quentemente envolve tentativas de descobrir a forma original de deta-lhes em uma obra, ou mesmo de grandes extensões de texto, apesar de o que exatamente constitui (um) “texto(s) original(is)” é assunto de muito debate. ➞ cap. 3b. Ao longo de tal averiguação, são feitas tentativas para descrever como os textos foram escritos, alterados e transmitidos de uma geração para a outra. Aqueles estudiosos que expressam um ponto de vis-

1 Gesenius, Handwörterbuch, XXII (1810-1812) utiliza o termo Wortkritik (crítica da palavra).

2 Capítulo 1: Introdução

ta sobre a originalidade de leituras o fazem enquanto avaliam o seu valor comparativo. Esta comparação – a área central da praxe textual – se refere ao valor das leituras+ incluídas nos testemunhos textuais. Contudo, nem todas as diferenças devem ser submetidas a uma avaliação textual. Em nosso ponto de vista, (grupos de) leituras que foram produzidas na etapa de crescimento literário dos livros bíblicos (variantes literárias ou edito-riais) não devem ser submetidas a uma avaliação textual, pois não foram produzidas durante o decurso da transmissão de textos. ➞ categoria II na p. 272.Aomesmo tempo, adificuldadeemse reconhecer leiturasdestetipo complica a avaliação textual de tal modo que alguns estudiosos ten-dem a evitar completamente a avaliação textual. O leitor atento notará que estadefiniçãonãoserefere,especificamente,aotextotradicionaldasEscri-turas Hebraico-Aramaicas, o então denominado Texto Massorético (TM = å), mas a todas as formas das Escrituras.

Os objetivos da crítica textual não mudaram com a descoberta de im-portante nova evidência no Deserto da Judeia. Contudo, a quantidade e a natureza da nova evidência nos auxiliam em entender melhor as fontes conhecidas antes de 1947, bem como a fecundação conjunta entre crítica textual, exegese e crítica literária.

Um dos resultados práticos da análise de dados textuais é que isto cria ferramentas para a exegese das Escrituras Hebraico-Aramaicas. A ativida-de exegética é baseada em um texto ou textos e pode somente prosseguir se a natureza do texto for determinada. Da mesma maneira, todas as ou-trasdisciplinas,taiscomoaanálisehistórica,geográficaelinguísticadasEscrituras, operam a partir da base do texto. Em cada caso, o estudioso tem dedefinirabasedotextoparaaexegese,e istoenvolvenecessariamen-te a análise de todos os dados textuais. Contudo, de maneira frequente, disciplinas são baseadas principalmente no å, porque as edições de texto existentes e comentários focalizam em tal versão. ➞ p. 369-372.

Os objetivos e procedimentos da crítica textual das Escrituras Hebrai-co-Aramaicas são definidos mais adiante no cap. 5a. O restante do pre-sente capítulo aborda assuntos introdutórios adicionais, entre eles “texto, cânone e status sagrado” e “subjetividade deste livro” (seções d e e). Na seção a, tentaremos demonstrar que é necessário o envolvimento com a crítica textual, não somente em uma análise comparativa das várias fontes textuais das Escrituras Hebraico-Aramaicas (a1, 2), mas também quando consultarmos o então denominado Texto Massorético (a3, 4) sozinho.

A. A necessidade da Crítica Textual nas Escrituras Hebraico-Aramaicas

Vários fatores requerem o envolvimento da crítica textual dentro da dis-ciplina de estudos bíblicos. Por causa do foco sobre o Texto Massorético+

3Capítulo 1: Introdução

pela maioria dos estudiosos ➞ p. 369-371, o exame de todas as variantes textuais é agora mais do que relevante.

1. Diferenças entre os Muitos Testemunhos Textuais

O texto bíblico foi transmitido em muitas fontes antigas e medievais que são conhecidas por nós de edições modernas em diferentes línguas: pos-suímos fragmentos de rolos de pergaminho e de papiro que possuem pelo menos dois mil anos em hebraico, grego e aramaico, assim como manuscri-tos em hebraico e outras línguas da Idade Média. Estas fontes lançam luz sobre testemunhos para o texto bíblico, por isso seu nome: “testemunhos textuais”. Todos estes testemunhos textuais diferem uns dos outros em maior ou menor extensão. Por nenhuma fonte textual conter o que pudesse ser denominado o texto bíblico, um envolvimento sério nos estudos bíbli-cos exige o estudo de todas as fontes, em que, necessariamente, envolve estudo das diferenças entre elas. A análise dessas diferenças textuais toma, assim, um lugar central dentro da crítica textual.

Não são apenas as diferenças entre os vários testemunhos textuais que requerem o envolvimento com a crítica textual. Diferenças textuais de natureza semelhante são refletidas em várias atestações de uma única tradição textual das Escrituras Hebraico-Aramaicas, a saber, o å, frequen-temente descrito como a principal tradição textual das Escrituras. Tais di-ferenças são perceptíveis em todas as atestações do å, antigas e medievais, e mesmo nas suas edições impressas e traduções modernas ➞ § j,2 pois são baseadas em fontes diferentes (➞ p. 72-78). Primeiro retornaremos a estas edições(veja-seasp.xxiv-xxviparareferênciasbibliográficas),vistoquesão facilmente acessíveis.

Possivelmente, não se esperaria diferenças entre as edições impres-sas das Escrituras Hebraico-Aramaicas, se para uma tradição textual plenamente unificada fosse possível emumdadoperíodo, certamenteteria estado plenamente unificada após a invençãoda imprensa.Con-tudo, este não é o caso, pois todas as edições impressas das Escrituras Hebraico-Aramaicas, que realmente são edições do å, remontam para diferentes manuscritos medievais de tal tradição, ou combinações dela (➞ p. 70-74), e, portanto, as edições também diferem, necessariamente,

2 Veja-se o seguinte exemplo das modernas versões de hl¿yvi aby yk d[ em Gn 49.10: 1. “Até que venha Siló” (KJA) = å hl¿yvi. 2. “Contanto que tributo seja trazido para ele” (NEB; semelhantemente NJPS e NRSV) =

wl yv¾ (assim as coleções do Midrash Yalkut Shim‘oni e Lekah Tov). 3. “Até que ele receba o que lhe é devido” (REB), “até que ele venha para quem pertence”

(RSV e semelhantemente JB), todas baseadas na leitura hl¿(y)v, como na © ê ÿON. Para uma discussão detalhada, veja-se Prijs, Jüdische Tradition, p. 64-66. Outros exemplos são anali-sados abaixo, p. 373-382.

4 Capítulo 1: Introdução

umasdasoutras.Alémdomais,estasediçõesrefletemnãosomenteosvários manuscritos medievais, mas também o ponto de vista pessoal de diferentes editores. Além disso, várias edições contêm certo número de erros de impressão. Consequentemente, não existe uma única edição em existência que concorde em todos os detalhes uma com a outra, exceto porediçõesreproduzidasfotograficamenteouediçõesqueapresentamomesmotextoeletrônico(codificadoporcomputador).Amaiorpartedasedições até difere uma da outra em suas impressões subsequentes, sem informação aos leitores. Observe-se, por exemplo, os diferentes erros de impressão em várias impressões das edições de Snaith e Biblia Hebraica Stuttgartensia (BHS) mencionadas abaixo, e observe-se as decisões edito-riais nas edições Adi e Koren.3 A edição BHS apareceu, originalmente, em fascículosqueforamcorrigidosnaimpressãofinal,quealcançouasdatasde 1967-1977. Esta foi corrigida novamente na impressão de 1984, ainda mesmo contém erros, sobre os quais veja-se abaixo.

Deve ser lembrado que o número de diferenças entre as várias edições é muito pequeno. Além disso, todos são detalhes mínimos ou mesmo mi-núsculosnotexto,eamaiorparteafetaosignificadodotextoapenasdemodo muito limitado.

Veja-se a seguir os exemplos das diferenças entre as edições frequen-temente mais usadas do å.

a. Sequência de Livros

A sequência de determinados livros difere em relação a outros em vá-rias edições. Trata-se da posição de Crônicas e a sequência interna dos livros t“ma (acrônimo para Jó, Provérbios e Salmos) e os Cinco Rolos .4 Na maior parte das edições (ex. BR1–2+ [Miqra’ot Gedolot],Letteris,Gins-burg, Sinai, Cassuto, Snaith, Koren, Adi, BH, BHS), Crônicas aparece como o último dos Hagiógrafos, todavia, na edição de Breuer (1977–1982)esteéoprimeirolivrodaquelacoleção,refletindoasuaposiçãonos códices A+ e L+. A sequência interna dos livros t“ma difere na edi-ção Breuer 1977-1982, BH, BHS (Salmos, Jó, Provérbios [assim b. B. Bat. 14b]) daquela da BR1–2+,Letteris,Ginsburg,Sinai,Cassuto, Snaith, Ko-ren, Adi (Salmos, Provérbios, Jó). Para os Cinco Rolos, são encontrados os seguintes arranjos: Rute, Cânticos, Eclesiastes, Lamentações, Ester (Breuer, 1977-1982, BH, BHS); Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester (algumas impressões da BR1-2+,Letteris,Ginsburg,Sinai,Cassu-

3 Assim a edição hebraica Koren difere da sua edição hebraico-inglês na numeração dos versículos nas transições entre Gênesis 31 e 32 e Ezequiel 13 e 14. Veja-se abaixo em relação a outras diferenças entre as várias impressões das edições Adi e Koren.

4 Sobre as diferenças entre os manuscritos e edições a esse respeito, veja-se especialmente N.M. Sarna, “Bible”, EncJud (Jerusalem: Keter, 1971) 4.827–830.

5Capítulo 1: Introdução

to, Snaith, Adi). Em outras impressões da BR1-2+, livros individuais dos Cinco Rolos seguem os livros da Torá.

b. Divisão de Capítulo

Oscapítulos foramdefinidossomentena IdadeMédia,diferindo leve-mente entre as várias edições. ➞ p. 50. De acordo com o ponto de vista do editor,oúltimoversodeumcapítuloàsvezesfazmaissentidocomooprimeiro verso do capítulo seguinte, ou vice versa e, portanto, a numera-ção do verso difere.

Por exemplo, o verso iniciando com as palavras “Naquele tempo, o enunciado de YHWH, serei…” aparece em algumas edições como o úl-timoversode Jeremias30,30.25 (ex.Letteris,Sinai,Breuer, Koren 1962, Adi 1973–1976), e em outras como o primeiro verso do cap. 31 (Cassuto, Snaith, BH, BHS). Estas duas representações do texto bíblico são baseadas em diferentes entendimentos do verso em seu contexto.

“Então, vieram ter comigo alguns dos anciãos de Israel” constitui o pri-meiroversodeEzequiel14nasediçõesdeLetteris,Sinai,Snaith,Koren1962, Adi 1973–1976, Breuer 1977–1997, BH e BHS, mas na edição de Cas-suto o mesmo aparece como o último verso do cap. 13 (13.24), indicada por uma seção fechada+ depois deste verso. A edição de Ginsburg apresenta o mesmo como o último verso do cap. 13, mas designa este como 14.1.

Da mesma maneira, o verso iniciando com as palavras “Tendo-se le-vantado Labão pela madrugada…” aparece como o último verso de Gê-nesis 31 (31.55) na edição Koren de 1962, mas como o primeiro verso docap.32nasediçõesdeLetteris,Sinai,Snaith,Adi1973–1976,Breuer 1977–1997, BH e BHS.5

c. Layout do Texto

Visto que o layout do texto, tanto como poesia quanto como prosa, depen-de do ponto de vista do editor, igualmente, as várias edições diferem umas das outras neste detalhe.

A maioria das edições apresenta o texto da maior parte dos livros bí-blicos como prosa com algumas poucas passagens como poesia. As edi-ções deLetteris(namaiorpartedassuasimpressões)eCassuto, contudo, apresentam os livros t“ma (Jó, Provérbios e Salmos) como poesia. ➞ p. 62. Contra esta tradição, a NJPS 1999 apresenta a poesia com “quebras de li-nha, na maneira de poesia em séculos mais recentes” (p. xiv). A BH tende a apresentar textos como poesia mais do que as outras edições, incluindo

5 Para outros exemplos de divisões problemáticas de capítulos, veja-se P. Finfer, Massoret Ha--Torah Ve-ha-Nebi’im (Vilna: Graber, 1906; reimpr. [Tel Aviv?], 1970), p. 45–83; J.S. Penkower, “Verse Divisions in the Hebrew Bible”, VT 50 (2000), p. 378–393 (p. 388–393).

6 Capítulo 1: Introdução

a BHS. Veja-se, por examplo, o cântico de Lameque (Gn 4.23-24) e as pala-vras de Deus a Rebeca (Gn 25.23). Ginsburg e a BHS, sendo opostas a ou-tras edições, apresentam a bênção sacerdotal em Nm 6.23-26 como poesia.

Aapresentaçãodotextotantocomoprosaquantocomopoesiarefletea exegese. Assim, a maioria das edições, incluindo a série BH, apresenta Jeremias 7 como prosa, todavia, somente a série BH apresenta o verso 29 daquele capítulo como poesia.

d. Divisão de Verso

A extensão dos versos àsvezesdiferedeumaediçãoparaoutra. Por exem-plo, em Êxodo 20 e Deuteronômio 5, o sexto, sétimo, oitavo e nono man-damentos são registrados em algumas edições como um verso (Êx 20.12 ou 13; Dt 5.17), mas em outras edições como quatro versos diferentes (Êx 20.13-16; Dt 5.17-20). Estas discrepâncias representam as diferenças na numeração de verso nestes capítulos entre as várias edições. As edições deLetteris,Sinai,Snaith,BH e BHS registram estes quatro mandamentos em Êxodo 20 como versos separados, todavia, as edições de Cassuto, Adi 1973–1976, Koren 1962 e Breuer 1977–1997 as apresentam como um verso. Nem toda edição trata os Dez Mandamentos em Deuteronômio 5 da mes-ma maneira, mas o quadro é semelhante. Nas edições deLetteris,Sinai,Adi 1976, Koren 1962 e Breuer 1977–1997, o sexto até o nono mandamentos são tratados como um verso, mas nas edições de Cassuto, Snaith, BH e BHS são tratados como quatro versos distintos por causa da sua acentuação es-pecial (superior). Em Deuteronômio, a situação é ainda mais complexa, já que o segundo mandamento (“Não terás outros deuses diante de mim”.) àvezes iniciaumversonovo, isto é, 5.7 (nas edições de Sinai, Cassuto, Snaith, Koren 1962, Adi 1976, Breuer 1977–1997, BH e BHS), todavia, na edição Adi 1973 o mesmo aparece como verso 6b.6

e. Letras Isoladas e Palavras

O número de diferenças em letras isoladas é relativamente pequeno, a maior parte delas diz respeito a pequenos detalhes, tais como matres lectio-nis. ➞ p. 217–228. Por exemplo:

Dt 23.2 aK;D® ([wxp) Cassuto, Snaith, Adi 1973–1976, Breuer 1977–1997, BH, BHS

hK;D® ([wxp) BR2, Koren 1962

6 Sobre outros aspectos de diferentes tradições de escrita para o Decálogo, veja-se M. Breuer, “The Division of the Decalogue into Verses and Commandments”, The Ten Command-ments as Reflected in Tradition and Literature throughout the Ages(ed.deB.-Z.Segal.hebr.;Jerusalem: Magnes, 1985), p. 223–254.

7Capítulo 1: Introdução

Umas poucas diferenças, no entanto, diz respeito a palavras completas, tais como:

Pv 8.16 Åra yfp juízes da terra Ginsburg, Koren 1977 qdx yfp juízes de justiça

Letteris,Cassuto, Adi 1973–1976, Koren 1962, 1979, Breuer 1977–1997, BH, BHS

1Sm 30.30 ÷v;[;-r/bB] Cassuto, Snaith, Adi 1973–1976, Breuer 1977–1997, BHS ÷v;[;-r/kB] Letteris,Koren1962

Gn 14.1 rm[lrdk BR2, Ginsburg 1926, Koren 1962, Adi 1973–1976, Breuer 1977–1997, BH, BHS

rm[l-rdk Ginsburg1926–,Letteris

Uma lista completa de tais diferenças relacionadas com a edição Koren é colocada como apêndice na edição.

f. Vocalização e Acentuação

As relativamente numerosas diferenças na vocalização (sinais de vogal) e acen-tos+normalmentenãoafetamosignificadodotexto.Amaiorpartedasdiferen-ças neste grupo diz respeito ao ga‘yah (tônica secundária). ➞ p. 63–67

Aseguirháumexemplodeumcasoquealteraosignificado.

Jr 11.2 µT,rbdw e (plural) falareis Letteris,Sinai,Snaith,Koren1962,Breuer

1977–1997, HUB µT;rbdw e as (singular) falarás Adi 1973–1976, BH, BHS

g. Notas da Massorá

As modernas edições das Escrituras incluem principalmente as notas Qerê+ e Sebirin+ da massorá+ e a anotação de seções no texto tanto como aberta+ quanto como fechada+. As edições diferem umas das outras em todos estes detalhes. Por exemplo, Ginsburg, Introduction, p. 9–25 critica as anotações imprecisas das seções na edição anteriordeBaer–Delitzsch.➞ p. 74-75

h. Diferentes Edições Baseadas no Mesmo Manuscrito

Uma vez que os manuscritos do å foramescritosàmãoe,portanto, àsvezes difícil dedecifrar, não é surpresa que às vezes são lidosdedife-rentes maneiras pelos editores de modernas edições das Escrituras. Cinco diferentes edições (que realmente representam somente duas edições) do importante códice de Leningrado B19A (L), a BH e suas versões revisadas,

8 Capítulo 1: Introdução

BHS e BHQ, ➞ cap. 9b, bem como a edição Adi (1973) e Dotan 2001, cada umaafirmaqueapresentafielmenteestecódice.Noentanto,essasedições diferem umas das outras em muitos detalhes, em parte como resultado das dificuldadesemdecifrardetalhes (especialmentevogaiseacentos)eemparte por causa dos diferentes princípios editoriais (veja-se as introduções para as duas últimas edições mencionadas). Além disso, algumas dessas edições contêm erros de impressão.

j. Diferenças Por Causa de Erros de Impressão

Erros de impressão são encontrados tanto em edições mais antigas quanto em edições mais recentes. As primeiras edições que precedem a BR1 e a BR2 contêm muitos erros envolvendo a omissão ou a duplicação de palavras ou versos inteiros.7 ➞ p. 71. No entanto, edições mais recentes também contêm vários equívocos.8 Por exemplo, na edição de Snaith (Lon-don, 1958) são encontrados:

Êx 10.3 ytm da que se deve ler: ytm d[Et 7.7 l[, em vez de:

la,Et 7.8 ynbw em vez de:

ynpwEt 8.5 lkk em vez de:

lkb Muitos dos erros de impressão encontrados nas primeiras impressões da BH (ex.: 1949) foram corrigidos na BHS—por exemplo, Is 35.1 tlxbjb (que se deve ler tlxbjk)9—mas alguns erros de impressão e imprecisões perma-necem até na impressão de 1984 da BHS (1967–1977).10 Por exemplo:

Gn 35.27 ÷wrbh, que se deve ler: ÷wrbj,2Sm 14.30 Q hwtyxhy em vez de:

hwtyxhwDn 11.8 ÷/pX;j¾ em vez de: ÷/pX;h¾

Tais diferenças, mesmo que pequenas, mas materiais, entre as edições mo-dernas do å, bem como os vários erros de impressão e muitos outros fato-res, necessitam do envolvimento da crítica textual. Ao examinar a origem

7 Veja-se J.G. Bidermannus, Programma de mendis librorum et nominatim bibliorum hebraicorum diligentius cavendis (Freiburg:Matthaeanis, 1752);Kennicott,Dissertation (1753), Part the Second, 620–621 (listas dos erros da edição de Nápoles de 1487); Ginsburg, Introduction, 779–976 (revisão extensa dos erros em todas as primeiras edições).

8 Por exemplo, veja-se Cohen-Freedman, “Snaith”. 9 Veja-seI.Yeivin,“TheNewEditionoftheBibliaHebraica:ItsTextandMassorah”,Textus

7 (1969) 114–123. Dotan 2001, X (➞ p. xxi) discute tais erros na BH e na BHS.10 Cf.Wonneberger,Understanding BHS, 74–75. Todos esses erros foram corrigidos em im-

presões subsequentes da BHS.

9Capítulo 1: Introdução

das diferenças entre as várias edições modernas do å, logo descobrimos que a maioria delas remonta às diferenças entre os manuscritos medievais, em que se baseiam. Com efeito, a análise no cap. 2 mostra que manuscritos medievais e rolos do período do Segundo Templo diferem em inúmeros detalhes, variando de letras isoladas e palavras inteiras a versos inteiros. Manuscritos massoréticos medievais diferem nesses detalhes, bem como na vocalização, na acentuação e nos detalhes da massorá+ (leituras Ketib--Qerê+ e divisões de seção+).

As diferenças entre os vários testemunhos textuais, alguns dos quais envolvem detalhes no conteúdo, são exemplificados no cap. 4c.

2. Erros, Correções e Modificações nos Textos, Incluindo o å

A maioria dos textos — antigo e moderno — que é transmitida de uma geração para a outra sofreu corrupção de uma maneira ou de outra. Para composições modernas, o processo de transmissão textual da escrita dos autógrafos+ até a sua impressão é relativamente curto, limitando, assim, as possibilidades delas se tornarem corrompidas.11 Em textos antigos, no en-tanto, como as Escrituras Hebraico-Aramaicas, estas corrupções (o termo técnico para várias formas de “erros”) foram mais frequentes como resul-tado das complexidades da escrita em papiro e em couro e a extensão do processo de transmissão, condições que prevaleceram até o advento da im-pressão. O número de fatores que poderiam ter criado corrupções é grande: a transição do hebraico antigo+ para a escrita quadrática+, escrita manual ilegível, irregularidades na superfície do couro ou do papiro, letras grafi-camente semelhantes que eram muitas vezes confundidas, a falta de voca-lização+, limites ilegíveis entre palavras em textos antigos acarretando em divisões errôneas de palavra+, correções de cópia não compreendidas pela próxima geração de escribas etc.

Corrupções bem como várias formas de intervenção de cópia (modi-ficações, correções etc.) são constatadas em todos os testemunhos textuais das Escrituras Hebraico-Aramaicas, incluindo o grupo de textos agora denominado de Texto Massorético medieval bem como em seus prede-cessores, os textos Protomassoréticos+ (também denominados Protorra-bínicos).12 Aqueles que não estão cientes dos detalhes da crítica textual podem pensar que não deve-se esperar corrupções no å, ou qualquer

11 No entanto, observe-se os muitos erros que foram inseridos em todas as edições de Ulysses de James Joyce como resultado de mal-entendidos de correções do autor nas chapas de prova de seu livro. Esses erros foram corrigidos em uma edição crítica numa fase relativa-mente tardia: James Joyce, Ulysses: Student’s Edition, The Corrected Text (ed. de H.W. Gabler et al. Harmondsworth: Penguin, 1986).

12 Aparentemente, a tradição preservou correções deste tipo: a tradição atribui 8, 11 ou 18 de tais “correções”+no å aos soferim (“escribas”) ➞ p. 59–63, mas muitas destas correções transmitidas são questionáveis. No entanto, a suposição de correções não

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10 Capítulo 1: Introdução

outro texto sagrado, supondo que estes textos foram escritos e transmiti-dos de maneira meticulosa. A abordagem escrupulosa dos soferim e dos massoretas é manisfestada realmente em algumas de suas técnicas. Eles até contavam todas as letras e palavras do å. ➞ p. 68-69. Portanto, não se esperaria corrupções que teriam sido inseridas no texto ao longo de seu trabalho ou correções que teriam sido feitas. Ainda, apesar de sua precisão, até os manuscritos que foram escritos e vocalizados pelos mas-soretascontêmrasuras,modificaçõesecorrupções.Maisimportante,osmassoretas, e antes deles os soferim,fizeramsuacontribuiçãonumafaserelativamente tardia no desenvolvimento do texto bíblico; naquela épo-ca, o texto já continha corrupções e tinha sido adulterado antes dos escri-bas começarem a tratá-lo com tanta reverência e antes de colocarem em prática seus princípios meticulosos. Por conseguinte, paradoxalmente, os soferim e os massoretas preservaram, cuidadosamente, um texto que já estava corrompido. A discussão nos capítulos seguintes explicará o assunto dessas corrupções que ocorreram em todos os manuscritos da Bíblia hebraico–aramaica, incluindo os manuscritos do å.

Não é fácil fornecer provas convincentes de erros no å, mas acredi-tamos que alguns dos exemplos no § 4 fornecem prova parcial. Como já foi reconhecido na Idade Média pelo R. Davi Kimḥi (RaDaK), dois pares de letras semelhantes (daleth/resh e waw/yod) algumas vezes eram inter-cambiáveis. ➞ p. 12–13. Em nossa terminologia, a semelhança dessas letras pode levar a corrupção textual. Em tais situações, não há escapatória da presença que muitas vezes uma de duas leituras semelhantes, ocorren-do em textos paralelos, é “correta” ou “original”+ e a outra uma corrup-ção. Esta hipótese diz respeito, por exemplo, a tais pares de leituras como µynddw/µyndwrw e lbw[/lby[. ➞ Tabela 1

A hipótese de corrupções no texto bíblico permeia muitos dos exemplos neste livro. Tais corrupções são encontradas nos rolos de Qumran quando comparados com o å e com outros textos,13 e da mesma maneira no å quando comparado com outros textos.14 Em todos estes casos, a compara-ção do å e dos textos de Qumran é baseada em dados objetivos textuais e fenômenos reconhecidos de cópia.

Outras corrupções no å são evidentes não por meio de compara-ção de manuscritos diferentes, mas por meio de ocorrência de detalhes problemáticos.

depende da tradição da massorá, uma vez que muitas outras semelhantes são consta-tadas em outros lugares. ➞ p. 244-260

13 Ex.: 1QIsa em Is 13.19 ➞ p. 237; 26.3-4 ➞ p. 226; 30.30 ➞ p. 228; 40.7-8 ➞ p. 227–228. 14 Ex.: 1Sm 1.24 ➞ p. 238; 4.21-22 ➞ p. 230; 2Sm 23.31 ➞ p. 236; 2Rs 11.13 ➞ p. 230; Jr 23.33 ➞

p. 280; 29.26 ➞ p. 234; 41.9 ➞ p. 280.

11Capítulo 1: Introdução

1Sm 13.1 å lary l[ ûlm µyn ytw wklmb lwa hn ÷b (= ×; ≈ ÿ) × li-teralmente: Saul tinha um ano em seu reinar; e dois anos reinou sobre Israel.

NRSV Saul tinha… anos quando começou a reinar; e reinou… e dois anos sobre Israel.

Os aspectos problemáticos deste texto incomum são indicados na NRSV15 por meio de pontos, para o qual as seguintes notas de rodapé são adiciona-das para o primeiro e para o segundo casos, respectivamente: “O número está faltando no texto hebr.”; “Dois não é o número inteiro; alguma coisa desapareceu”. Como resultado destes erros, um entendimento literal ou tra-dução do återiaumsignificadomuitodifícil.Assim,ficamoscomopressu-posto de que o texto recebido contém um erro textual e que o texto anterior (correto?) provavelmente mencionava números realistas para a idade de Saul no início de seu reinado, tais como 30 anos na ©Luc (b-mg oe2) (aceitos pela REB), 21 anos na ê, ou 50 anos sugeridos pela NEB.

Os dois outros exemplos de tais erros são os seguintes.Jz 16.2 å (hnh ÷wm ab) rmal µytz[l Aos gazitas, dizendo: “Sansão chegou aqui”

© kai; ajnhggevlh (ms B: ajphggevlh) toi`~ Gazaoi`~ levgonte~ e foi anunciado aos gazitas, dizendo (= ÿ; ≈ × ê)

A única leitura que é compreensível é a da © e das outras versões, que foi se-guida pela NRSV (“os gazitas tinham dito”) e pela NJPS (“os gazitas [apren-deram]que…”).Ambasastraduçõesmodernasrefletemoverbona©.

Jr 27.1 å hymry la hzh rbdh hyh hdwhy ûlm whyway ÷b µqywhy tklmm tyarb                 (=× ÿ) rmal ‘h tam

NJPS No começo do reinado do rei Jeoaquim,filhodeJosiasde Judá, esta palavra veio a Jeremias do Senhor.

Este verso serve como cabeçalho do cap. 27, que fala de ações ocorrendo naépocadeZedequias.➞ v. 3, 12; 28.1. Portanto, a menção a Jeoaquim no cabeçalho não condiz com o conteúdo do capítulo e o verso 1, provavel-mente, repete erroneamente o primeiro verso do capítulo anterior, o 26. O cabeçalho do cap. 27 foi, provavelmente, acrescentado no precursor da maioria dos testemunhos textuais em uma etapa posterior no desenvol-vimento do livro, enquanto a etapa anterior, em que estava faltando, é representada pela ©. ➞ p. 295-297. ayqdx (Zedequias) da ê (= NRSV) seria entendido, provavelmente, como uma correção contextual.16

15 NJPS e McCarter, I Samuel, 222 utiliza a mesma técnica.16 Comoumaconclusãopara esteparágrafo é apropriado citar aspalavrasdeKennicott,

Dissertation (1753), Part the First, 269: “E agora, se certamente existem erros no texto impresso do Antigo Testamento, podemos não ser autorizados a descobri-los?”

Na obra A Bíblia Grega e Hebraica: Ensaios Reunidos Sobre a Septuaginta são encontrados vários ensaios sobre a antiga versão grega da Bíblia Hebraica, escritos por um dos mais re-nomados eruditos da área acadêmica dos estudos bíblicos: Emanuel Tov. Durantes anos, Tov tem publicado muitos artigos sobre vários aspectos pertinentes à Septuaginta, como história, lexicogra� a, gramática, técnicas de tradução, técnicas de transliteração, exegese, crítica textual, crítica literária, além da relação de mencionada versão bíblica clássica com o Texto Massoré-tico e com os manuscritos bíblicos do Deserto da Judeia. No presente volume, foram reunidos vários dos artigos de Tov que abordam estes e outros assuntos sobre a antiga versão bíblica clássica. A obra que a BV Books publica agora, ajuda o estudioso e o estudante brasileiro a conhecer mais profundamente algumas das características principais da Septuaginta, que não são encontradas normalmente na literatura publicada sobre o assunto em língua portuguesa.

Edson de Faria Francisco.

Após anos de trabalho sobre tradução e revisões, temos a honra de lançar uma obra aca-dêmica de grande importância: a A Bíblia Grega e Hebraica: Ensaios Reunidos Sobre a Sep-tuaginta, de Emanuel Tov. Ter um livro de Tov em português é uma verdadeira conquista. Publicar uma obra do ex-editor-chefe do projeto de publicação dos Manuscritos do Deserto da Judeia vai além de um avanço para todos aqueles que trilham o estudo acadêmico do texto da Septuaginta.

Nascido em Amsterdã, Holanda, em 1941, Tov emigrou para Israel em 1961. Estudou Bíblia e Literatura Grega na Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, e continuou seus estudos no Departamento de Línguas e Literaturas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, entre 1967 e 1969. Ele obteve seu grau de Ph.D. na Universidade Hebraica de Jerusalém em 1973.

Desde 1986, Tov foi professor no Departamento de Bíblia da mesma universidade. Em 1990 ocupou a cadeira do Departamento J. L. Magnes de Estudos Bíblicos. Tov especiali-zou-se em vários aspectos da crítica textual e literária da Bíblia Hebraica e da Septuaginta, bem como dos Manuscritos do Deserto da Judeia. Além de escrever vários livros e artigos, Tov ainda está envolvido em vários projetos de pesquisa. Entre 1990 e 2009, direcionou a sua energia no projeto de publicação de todos os Manuscritos do Deserto da Judeia na série Discoveries in the Judaean Desert (DJD).

Claudio RodriguesEditor Executivo BV Books

A Bíblia Grega e Hebraica: Ensaios Reunidos Sobre a Septuaginta

Tradução Edson de Faria Francisco

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