segurança promotora conta sua história e fala sobre o bairro · isso vale para qualquer carreira....

1
SEXTA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2014 | CIDADES | B5 Folha de Alphaville As melhores opções de locação para clientes corporativos. Empresarial Conti Chiari Lazulli Corporate Office a partir de: R$ 40,00 p/ metro* Segurança e Qualidade Consulte condições : (11) 4196 3333 (11) 9 9633 6975 ou na imobiliária de sua preferência. Localização privilegiada, próximo aos principais restaurantes, fácil acesso pela Via Parque e entre os melhores residenciais de Alphaville. Incluindo Piso Elevado, Ar Condicionado, Forro Acústico com Luminárias e Controle de Acesso Linha Estabilizada e Gerador Total** Áreas prontas para utilização Av. Copacabana 18 do Forte * Valor promocional para a área de 390m no Edifício Empresarial Conti Chiari. Valores sujeitos a reajuste sem aviso prévio e mediante disponibilidade de área. ** As características e a infraestrutura disponíveis em cada unidade podem variar de acordo com o empreendimento consultado. E liana Passarelli tem 35 anos de carreira, sendo 28 como promotora da justiça. A mora- dora de Alphaville, de 59 anos, mãe de dois filhos e professora de Direito Penal, atuou em fa- mosos casos e hoje, a passos da procuradoria da justiça, conta, em entrevista exclusiva à Folha de Alphaville, um pouco de sua história e como vê a segu- rança no bairro. Folha de Alphaville – Como a senhora decidiu que carreira seguiria? Eliana Passarelli – Eu fui fazer o curso jornalismo por causa da minha professora de português no colegial. Eu tinha certeza que seria jornalista. Fiz curso de direito junto com jornalismo, porque eu queria me aprofun- dar na área política e econômi- ca, queria ter base para fazer um jornalismo de qualidade. Mas foi exatamente o contrário: quando terminei o jornalismo, eu estava literalmente apaixo- nada pelo direito. Quais foram seus desafios para chegar à promotoria? Estudo. A força de vontade de estudar. Você não será promo- tor sem estudar, não será um bom advogado sem estudar e isso vale para qualquer carreira. Hoje as faculdades estão muito acessíveis, então é preciso esco- lher uma excelente faculdade e é preciso estudar. Quais foram os casos mais marcantes de sua carreira? Um homicídio de uma moça de 15 anos no Morumbi, em São Paulo, me chocou muito. Ela foi estuprada e morta por um caseiro e foi uma dos coisas mais tristes que acompanhei na vida: a dilaceração de uma família. Outro caso que me mar- cou muito como profissional foi o do Edison Tsung Chi Hsuen da USP, o calouro que morreu afogado dentro da piscina. De- morou muito. Foram dois anos trabalhando diretamente com a Polícia Civil para poder fechar o caso. Muito importante foi o caso da Rua Cuba, que também marcou. São 28 anos de profis- são e eu não conseguiria contar tantos casos que me marcaram. Igual ao dos Nardoni, eu vi mais de 40 na minha vida. Como a senhora faz para a profissão não afetar sua vida pessoal? Não tem como não afetar. Pri- meiro, acho que temos um olhar diferente para o mundo, um pouco mais apurado. Eu tenho muito tempo de terapia e tento não ser promotora 24 horas por dia. Eu sei que se precisarem de mim a qualquer momento e lugar eu vou agir. Mas tento se- parar. Dentro do meu gabinete, tenho uma conduta muito pro- fissional. Não levo para o pesso- al, faço o meu trabalho, basea- da nas leis. O que a senhora acha das leis brasileiras? A nossa lei é de 1940. Em nosso FORTE. Promotora lida diariamente com a justiça, afirma que foi ameaçada várias vezes, não sente medo e seguirá fazendo seu trabalho Até hoje sofro discri- minação por ser mulher em um cargo como este. Não por parte de meus cole- gas, mas por aqueles que procuram a justiça” Segurança Eliana Passarelli, que há 35 anos atua em casos de grande repercussão, avalia leis e sugere mudanças na constituição Ana Carolina Pereira repor [email protected] Fotos: Sandro Almeida/Folha de Alphaville sistema de lei está proibida a pena de morte, mas a prisão per- pétua não – mas não é aplicada. No Brasil, o crime compensa porque nossos legisladores são fracos. Nós não temos uma lei que puna exemplarmente as pessoas. No Brasil o que acon- tece é que se eu cometer 30 cri- mes, não posso ultrapassar 30 anos de pena, tanto faz quanto seja cada pena, e o máximo que vou ficar na prisão são 15 anos ou menos. Só neste país temos um regime aberto para cumprir pena privativa de liberdade. As condições das prisões bra- sileiras têm influências na re- educação do preso? Aqui os presos são extrema- mente mal acolhidos e tratados de maneira sub-humana. Exis- tem muitas maneiras de reedu- car o preso. Na Holanda, por exemplo, mesmo em prisão per- pétua, o preso pode ter infraes- trutura de hotel cinco estrelas, mas ele vai ter que trabalhar. Então tudo é alugado: se você trabalhar, conquista dinheiro para alugar uma televisão para a sua cela ou bons lençóis para sua cama, uma geladeira e a oportunidade de comprar sal- gadinhos, refrigerantes e cho- colates de máquinas espalha- das no pátio do presídio. E se o preso não trabalhar, vai viver em um sub-mundo que ele es- colheu viver. Mas para este tra- balho ser feito, os criminosos têm que cumprir pena e aqui ninguém cumpre pena. Vivemos tempos de muitos cri- mes. A senhora se sente segu- ra no bairro em que mora? O que eu tenho percebido em Alphaville, como moradora, é exatamente a falta de seguran- ça. Reparei falta de ronda que antes tinha muito. Hoje, posso contar nos dedos os seguranças que vejo. Tenho observado que não existe guarda ostensiva. E também aumenta a criminali- dade porque as pessoas sentem que estão seguras e relaxam a guarda. As pessoas vão correr com celular na mão, demoram para entrar no carro e se desli- gam disso. Eu mesma já corri al- guns riscos. Eu não me desligo tanto por conta da minha profis- são. Mas tem que ficar esperto, porque a lei de Alphaville é a mesma do Brasil. Quais são seus próximos pas- sos e objetivos? Eu estou em um ponto da car- reira em que estou indo a pro- curadora de justiça. Mas eu não quero parar de fazer o que estou fazendo. Eu sinto que posso re- solver o problema de cada um que entra na minha sala. Na procuradoria meu trabalho pas- sa a ser processual e não posso interferir diretamente em deci- sões que afetam a população. E isso eu não acho legal. O estudante Luiz Oliveira, de 26 anos, foi assaltado ao sair de um pub na avenida Copa- cabana, no 18 do Forte Empre- sarial, por volta das 22h30 da segunda-feira (27). Ele foi abor- dado por dois jovens em um motocicleta da cor preta. En- quanto o piloto esperava com a moto ligada, o garupa saiu da moto e abordou o estudante para levar seu celular. Luiz explica que o assaltan- te usava um grande casaco e não dava para perceber se ele estava armado ou não e, por conta disto, preferiu não reagir e entregou o celular. “Eu esta- va em frente ao pub. Eu havia andado um pouco e vi dois ca- ras imbicando uma moto. Não deu para ver o rosto porque estavam de capacete. Um deles desceu gritando para passar o celular, eu não tenho certeza Jovem roubado em Alphaville reclama de descaso da PM Crime se eles estavam armados.” Após estar com o celular de Luiz em mãos, o crimino- so abordou outro rapaz que saía do pub. De acordo com o estudante, a outra vítima é funcionário do bar e havia aca- bado de receber o salário. “O bandido pediu para ele passar a mochila e ele disse que não ia passar, então eles começa- ram a se agredir fisicamente. O cara não queria dar a mo- chila de jeito nenhum. Eles se separaram e o assaltado saiu correndo, deixando a mochila cair, e os dois bandidos foram embora. Eu peguei a mala e o chamei novamente e ele me agradeceu.” Como estava sem carro, Luiz foi caminhando para o posto da Polícia Militar loca- lizado na avenida Alphaville, em frente ao Residencial 2, para buscar ajuda, mas diz que houve um descaso por parte da polícia. “Não consegui o fazer o Boletim de Ocorrência ali e tive que fazer na terça-feira (28). A PM disse que não dava para fazer e disse que todas as viaturas estavam ocupadas. Ela não queria passar o rádio para falar a descrição dos as- saltantes, então eu fiquei lá esperando uma atitude dela. Tinha uma viatura lá na fren- te. Quando eu ameacei não ir embora, enfim, ela passou um rádio para as viaturas.” De acordo com o cabo Wag- ner, do posto da Polícia Militar, o papel da base é orientar a ví- tima. “Fazemos o serviço como um 190, aqui na base trabalha um policial sozinho, e ele não pode sair.” CALMA. Luiz entregou o celular aos assaltantes e se manteve tranquilo para ir fazer a denúncia em posto policial Além de Luiz, um funcionário do pub também sofreu ameaça de assalto Ludmilla Amaral [email protected] Promotora conta sua história e fala sobre o bairro

Upload: tranphuc

Post on 14-Feb-2019

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

SEXTA-FEIRA, 31 DE JANEIRO DE 2014 | CIDADES | B5 Folha de Alphaville

As melhores opções de locação para

clientes corporativos.

Empresarial Conti Chiari

Lazulli Corporate

Office

a partir de:

R$ 40,00 p/ metro*

Segurança e Qualidade

Consulte condições :

(11) 4196 3333(11) 9 9633 6975

ou na imobiliária de sua preferência.

Localização privilegiada, próximo aos principais restaurantes, fácil acesso pela

Via Parque e entre os melhores residenciais de Alphaville.

Incluindo Piso Elevado, Ar Condicionado, Forro Acústico

com Luminárias e Controle de AcessoLinha Estabilizada e Gerador Total**

Áreas prontas para utilização

Av. Copacabana18 do Forte

* Valor promocional para a área de 390m no Edifício Empresarial Conti Chiari. Valores sujeitos a reajuste sem aviso prévio e mediante disponibilidade de área. ** As características e a infraestrutura

disponíveis em cada unidade podem variar de acordo com o empreendimento consultado.

Eliana Passarelli tem 35 anos de carreira, sendo 28 como

promotora da justiça. A mora-dora de Alphaville, de 59 anos, mãe de dois fi lhos e professora de Direito Penal, atuou em fa-mosos casos e hoje, a passos da procuradoria da justiça, conta, em entrevista exclusiva à Folha de Alphaville, um pouco de sua história e como vê a segu-rança no bairro.

Folha de Alphaville – Como a senhora decidiu que carreira seguiria?Eliana Passarelli – Eu fui fazer o curso jornalismo por causa da minha professora de português no colegial. Eu tinha certeza que seria jornalista. Fiz curso de direito junto com jornalismo, porque eu queria me aprofun-dar na área política e econômi-ca, queria ter base para fazer um jornalismo de qualidade. Mas foi exatamente o contrário: quando terminei o jornalismo, eu estava literalmente apaixo-nada pelo direito.

Quais foram seus desafi os para chegar à promotoria?Estudo. A força de vontade de estudar. Você não será promo-tor sem estudar, não será um

bom advogado sem estudar e isso vale para qualquer carreira. Hoje as faculdades estão muito acessíveis, então é preciso esco-lher uma excelente faculdade e é preciso estudar.

Quais foram os casos mais marcantes de sua carreira? Um homicídio de uma moça de 15 anos no Morumbi, em São Paulo, me chocou muito. Ela foi estuprada e morta por um caseiro e foi uma dos coisas mais tristes que acompanhei na vida: a dilaceração de uma família. Outro caso que me mar-cou muito como profi ssional foi o do Edison Tsung Chi Hsuen da USP, o calouro que morreu afogado dentro da piscina. De-morou muito. Foram dois anos trabalhando diretamente com a Polícia Civil para poder fechar o caso. Muito importante foi o caso da Rua Cuba, que também marcou. São 28 anos de profi s-são e eu não conseguiria contar tantos casos que me marcaram. Igual ao dos Nardoni, eu vi mais de 40 na minha vida.

Como a senhora faz para a profi ssão não afetar sua vida pessoal?Não tem como não afetar. Pri-meiro, acho que temos um olhar diferente para o mundo, um pouco mais apurado. Eu tenho

muito tempo de terapia e tento não ser promotora 24 horas por dia. Eu sei que se precisarem de mim a qualquer momento e lugar eu vou agir. Mas tento se-parar. Dentro do meu gabinete, tenho uma conduta muito pro-fi ssional. Não levo para o pesso-al, faço o meu trabalho, basea-da nas leis.

O que a senhora acha das leis brasileiras? A nossa lei é de 1940. Em nosso

FORTE.Promotora lida diariamente com a justiça, afi rma que foi ameaçada várias vezes, não sente medo e seguirá fazendo seu trabalho

Até hoje sofro discri-minação por ser mulher em um cargo como este. Não por parte de meus cole-gas, mas por aqueles que procuram a justiça”

Segurança Eliana Passarelli, que há 35 anos atua em casos de grande repercussão, avalia leis e sugere mudanças na constituição

Ana Carolina [email protected]

Fotos: Sandro Almeida/Folha de Alphaville

sistema de lei está proibida a pena de morte, mas a prisão per-pétua não – mas não é aplicada. No Brasil, o crime compensa porque nossos legisladores são fracos. Nós não temos uma lei que puna exemplarmente as pessoas. No Brasil o que acon-tece é que se eu cometer 30 cri-mes, não posso ultrapassar 30 anos de pena, tanto faz quanto seja cada pena, e o máximo que vou fi car na prisão são 15 anos ou menos. Só neste país temos

um regime aberto para cumprir pena privativa de liberdade.

As condições das prisões bra-sileiras têm infl uências na re-educação do preso?Aqui os presos são extrema-mente mal acolhidos e tratados de maneira sub-humana. Exis-tem muitas maneiras de reedu-car o preso. Na Holanda, por exemplo, mesmo em prisão per-pétua, o preso pode ter infraes-trutura de hotel cinco estrelas,

mas ele vai ter que trabalhar. Então tudo é alugado: se você trabalhar, conquista dinheiro para alugar uma televisão para a sua cela ou bons lençóis para sua cama, uma geladeira e a oportunidade de comprar sal-gadinhos, refrigerantes e cho-colates de máquinas espalha-das no pátio do presídio. E se o preso não trabalhar, vai viver em um sub-mundo que ele es-colheu viver. Mas para este tra-balho ser feito, os criminosos têm que cumprir pena e aqui ninguém cumpre pena.

Vivemos tempos de muitos cri-mes. A senhora se sente segu-ra no bairro em que mora?O que eu tenho percebido em Alphaville, como moradora, é exatamente a falta de seguran-ça. Reparei falta de ronda que antes tinha muito. Hoje, posso contar nos dedos os seguranças que vejo. Tenho observado que não existe guarda ostensiva. E também aumenta a criminali-dade porque as pessoas sentem que estão seguras e relaxam a guarda. As pessoas vão correr com celular na mão, demoram para entrar no carro e se desli-gam disso. Eu mesma já corri al-guns riscos. Eu não me desligo tanto por conta da minha profi s-são. Mas tem que fi car esperto, porque a lei de Alphaville é a mesma do Brasil.

Quais são seus próximos pas-sos e objetivos?Eu estou em um ponto da car-reira em que estou indo a pro-curadora de justiça. Mas eu não quero parar de fazer o que estou fazendo. Eu sinto que posso re-solver o problema de cada um que entra na minha sala. Na procuradoria meu trabalho pas-sa a ser processual e não posso interferir diretamente em deci-sões que afetam a população. E isso eu não acho legal.

O estudante Luiz Oliveira, de 26 anos, foi assaltado ao sair de um pub na avenida Copa-cabana, no 18 do Forte Empre-sarial, por volta das 22h30 da segunda-feira (27). Ele foi abor-dado por dois jovens em um motocicleta da cor preta. En-quanto o piloto esperava com a moto ligada, o garupa saiu da moto e abordou o estudante para levar seu celular.

Luiz explica que o assaltan-te usava um grande casaco e não dava para perceber se ele estava armado ou não e, por conta disto, preferiu não reagir e entregou o celular. “Eu esta-va em frente ao pub. Eu havia andado um pouco e vi dois ca-ras imbicando uma moto. Não deu para ver o rosto porque estavam de capacete. Um deles desceu gritando para passar o celular, eu não tenho certeza

Jovem roubado em Alphaville reclama de descaso da PM

Crime

se eles estavam armados.”Após estar com o celular

de Luiz em mãos, o crimino-so abordou outro rapaz que saía do pub. De acordo com o estudante, a outra vítima é funcionário do bar e havia aca-

bado de receber o salário. “O bandido pediu para ele passar a mochila e ele disse que não ia passar, então eles começa-ram a se agredir fi sicamente. O cara não queria dar a mo-chila de jeito nenhum. Eles se separaram e o assaltado saiu correndo, deixando a mochila cair, e os dois bandidos foram embora. Eu peguei a mala e o chamei novamente e ele me agradeceu.”

Como estava sem carro, Luiz foi caminhando para o posto da Polícia Militar loca-lizado na avenida Alphaville, em frente ao Residencial 2, para buscar ajuda, mas diz que houve um descaso por parte da polícia. “Não consegui o fazer o Boletim de Ocorrência ali e tive que fazer na terça-feira (28). A PM disse que não dava para fazer e disse que todas as viaturas estavam ocupadas. Ela não queria passar o rádio para falar a descrição dos as-saltantes, então eu fi quei lá esperando uma atitude dela. Tinha uma viatura lá na fren-te. Quando eu ameacei não ir embora, enfi m, ela passou um rádio para as viaturas.”

De acordo com o cabo Wag-ner, do posto da Polícia Militar, o papel da base é orientar a ví-tima. “Fazemos o serviço como um 190, aqui na base trabalha um policial sozinho, e ele não pode sair.”

CALMA. Luiz entregou o celular aos assaltantes e se manteve tranquilo para ir fazer a denúncia em posto policial

Além de Luiz, um funcionário do pub também sofreuameaça de assalto

Ludmilla [email protected]

Promotora conta sua história e fala sobre o bairro