seguranÇa pÚblica, defesa e eleiÇÕes: conjuntura …...segurança pública, defesa e segurança...

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10º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa – 2018 SEGURANÇA PÚBLICA, DEFESA E ELEIÇÕES: CONJUNTURA POLÍTICA E CENÁRIOS PARA 2018 Victor Teodoro 1 RESUMO Este trabalho pretende lançar luz sobre a reflexão em torno das propostas eleitorais para segurança pública, defesa e segurança regional nas eleições presidenciais de 2018, trazendo ao centro do debate os cenários para este campo. Como pressuposto inicial, apresentar-se-á estas temáticas nos Planos de Governo das duas candidaturas postulantes no segundo turno das eleições de 2014: Dilma Rousseff e Aécio Neves. Utiliza-se a metodologia de análise de discurso para cotejar a conjectura das propostas, apresentando os resultados de forma comparativa. Buscando compreender as dinâmicas de polarização que se acirram desde o resultado da disputa eleitoral em questão e considerando o estado de coisas instaurado no debate acerca dos temas supracitados. Objetiva-se compreender os fatores que corroboraram a militarização da burocracia pública e a constante utilização de forças armadas em missões de GLO e intervenção federal, assim como o conteúdo nos Programas de Governo dos postulantes nas eleições de 2018, focando nas candidaturas de maior solidez programática e eleitoral – que apresentem mais de 2% de intenções de voto (Lula, Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Marina Silva, Ciro Gomes e Álvaro Dias). Considera-se como condicionantes do cenário atual o fortalecimento do crime organizado, a desestruturação do sistema prisional, a fraqueza política dos governos que buscam sustentação no emprego de forças armadas e os desdobramentos da crise econômica e social que atinge populações marginalizadas, estados e municípios. Por fim, pretende-se traçar um panorama geral com as plataformas de maior viabilidade eleitoral, priorizando as propostas nestas áreas. Palavras-chave: Eleições Presidenciais 2018. Segurança Pública. Defesa. Crise Política. Programas de Governo. 1 Doutorando em Ciência Política (DCP-USP); Mestre em Relações Internacionais pelo PPGRI ‘San Tiago Dantas’ e Membro do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES-UNESP). E-mail: [email protected].

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10º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa – 2018

SEGURANÇA PÚBLICA, DEFESA E ELEIÇÕES: CONJUNTURA

POLÍTICA E CENÁRIOS PARA 2018

Victor Teodoro1

RESUMO

Este trabalho pretende lançar luz sobre a reflexão em torno das propostas eleitorais para

segurança pública, defesa e segurança regional nas eleições presidenciais de 2018, trazendo ao

centro do debate os cenários para este campo. Como pressuposto inicial, apresentar-se-á estas

temáticas nos Planos de Governo das duas candidaturas postulantes no segundo turno das

eleições de 2014: Dilma Rousseff e Aécio Neves. Utiliza-se a metodologia de análise de

discurso para cotejar a conjectura das propostas, apresentando os resultados de forma

comparativa. Buscando compreender as dinâmicas de polarização que se acirram desde o

resultado da disputa eleitoral em questão e considerando o estado de coisas instaurado no debate

acerca dos temas supracitados. Objetiva-se compreender os fatores que corroboraram a

militarização da burocracia pública e a constante utilização de forças armadas em missões de

GLO e intervenção federal, assim como o conteúdo nos Programas de Governo dos postulantes

nas eleições de 2018, focando nas candidaturas de maior solidez programática e eleitoral – que

apresentem mais de 2% de intenções de voto (Lula, Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Marina

Silva, Ciro Gomes e Álvaro Dias). Considera-se como condicionantes do cenário atual o

fortalecimento do crime organizado, a desestruturação do sistema prisional, a fraqueza política

dos governos que buscam sustentação no emprego de forças armadas e os desdobramentos da

crise econômica e social que atinge populações marginalizadas, estados e municípios. Por fim,

pretende-se traçar um panorama geral com as plataformas de maior viabilidade eleitoral,

priorizando as propostas nestas áreas.

Palavras-chave: Eleições Presidenciais 2018. Segurança Pública. Defesa. Crise Política.

Programas de Governo.

1 Doutorando em Ciência Política (DCP-USP); Mestre em Relações Internacionais pelo PPGRI ‘San Tiago Dantas’

e Membro do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES-UNESP). E-mail:

[email protected].

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ABSTRACT

This paper aims to shed light on the electoral proposals for public security, defense and regional

security in 2018 presidencial elections, bringing to the center of discussions the scenarios for

this field. As an initial assumption, these themes will be presented in the Government Plans of

the two postulating candidates in the second round of 2014 elections: Dilma Rousseff and Aécio

Neves. The discourse analysis methodology is used to compare the conjecture of the proposals,

presenting the results in a comparative way. Seeking to understand the dynamics of polarization

that have arisen since the outcome of the electoral contest in screen and considering the state of

affairs established in the debate on the above mentioned issues. The objective is to understand

the factors that corroborated the militarization of public bureaucracy and the constant use of

armed forces in internal law and order enforcement missions and federal interventions, as well

as the content in the Government Programs of the postulants in the 2018 elections, focusing on

the candidacies of greater programmatic solidity – with more than 2% in voter preference polls

(Lula, Jair Bolsonaro, Geraldo Alckmin, Marina Silva, Ciro Gomes and Álvaro Dias). The

strengthening of organized crime, de-structuring of the prison system, political weakness of

governments that seek support in the use of armed forces, and the unfolding of the economic

and social crisis that affects marginalized populations, states and municipalities, are considered

as conditioning factors to the current scenario. Finally, it is intended to outline a general

framework with the most viable electoral platforms, giving priority to proposals in these areas.

Key-words: 2018 Presidencial Elections. Public Security. Defense. Political Crisis.

Government Plans.

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INTRODUÇÃO

Diversas análises realizadas por pesquisadores e especialistas das mais variadas

temáticas e em um amplo espectro ideológico têm sido direcionadas à apreciação dos programas

de governos propostos pelos candidatos à Presidência nas eleições do corrente ano. Não são

muito fartas as discussões mais apuradas em torno da defesa nacional, a soberania e até a

temática da segurança pública muitas vezes é relegada a um espaço marginal em um processo

eleitoral focado no prisma ideológico e ad hominem.

As eleições para os legislativos e executivos federais e estaduais devem ocorrer durante

o mês de outubro de 2018 (primeiro turno no dia 07 e segundo turno no dia 28). O país vive

uma das situações mais conturbadas de sua história e traçar cenários para este pleito se torna

uma tarefa difícil, porém, necessária. Paira um clima de “não-eleições” apesar da grande

polarização que se verifica no contexto social brasileiro. Por este motivo, reforça-se a

necessidade de um debate mais amplo, que penetre as estruturas tanto acadêmicas quanto

sociais com perspectivas que habitem a intersecção entre estes dois mundos.

Utilizamos a metodologia de análise qualitativa de discurso, com foco no conteúdo

programático dos documentos submetidos ao TSE pelos candidatos das seis principais chapas

postulantes à presidência nas eleições de 2018. Para a escolha dos candidatos analisados

empregou-se um critério de exclusão com base no resultado das pesquisas eleitorais de intenção

de voto, excluindo os candidatos que não alcançam um mínimo de 2% das intenções. Os dados

coletados foram apresentados sob a forma de prosa textual, para facilitar o entendimento e evitar

o excessivo número de tópicos. Ao final, pretendemos ter construído um panorama crítico geral

sobre as propostas com o propósito de auxiliar a reflexão sobre as opções eleitorais nas

temáticas em tela.

As pesquisas adotadas para a aplicação do critério foram as realizadas pelo Instituto

Datafolha2, do Ibope3 e da CNT/MDA4. Sob estes critérios foram selecionadas as candidaturas

de Lula (PT, com intenções entre 37 e 39%), Jair Bolsonaro (PSL, com intenções entre 18 e

2 Realizada entre 20 e 21 de agosto, com 8.433 entrevistas, em 313 municípios. Margem de erro máxima de 2

pontos percentuais, com nível de confiança de 95%. Registrada o TSE com o número BR-04023/2018. 3 Realizada entre 17 e 19 de agosto, com 2.002 entrevistas, em 142 municípios. Margem de erro máxima estimada

de 2 pontos percentuais, com 95% de nível de confiança. Registrada no TSE com o número BR-01665/2018. 4 Realizada entre 15 e 18 de agosto, com 2.002 entrevistas, em 137 municípios. Margem de erro de 2,2 pontos

percentuais, com 95% de nível de confiança. Registrada no TSE com o número BR-09086/2018.

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20%), Marina Silva (REDE, com intenções entre 5,6 e 16%), Geraldo Alckmin (PSDB, com

intenções entre 4,9 e 9%), Ciro Gomes (PDT, com intenções entre 4,1 e 10%) e Álvaro Dias

(PODEMOS, com intenções entre 2,7 e 4%). Foram excluídas as candidaturas restantes, por

não atenderam aos requisitos: Henrique Meirelles (PMDB), Guilherme Boulos (PSOL), João

Amoêdo (NOVO), José Maria Eymael (DC), Vera Lúcia (PSTU), Cabo Daciolo (Patriota), João

Goulart Filho (PPL).

É neste contexto atribulado, com 13 candidaturas, que o processo eleitoral se desenvolve.

A crise instaurada a partir das manifestações de 2013, que culminaram na deposição da

presidenta eleita, Dilma Rousseff, evidencia que os desdobramentos contemporâneos não são

recentes. Um processo político que bloqueou a governabilidade durante sua existência (entre

02 de dezembro de 2015 e 31 de agosto de 2016) repleto de controvérsias, conflitos de interesses

entre setores fisiológicos dos poderes da república e ebulições populares de matizes difusas,

colocaram fim ao governo legitimamente eleito, levando ao poder o atual governante, Michel

Temer.

Ao assumir o poder, Temer e sua base parlamentar – composta pelo seu partido, o PMDB,

pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), derrotado nas eleições de 2014, e por

partidos que transitam entre o centro e a extrema-direita, como o DEM, PP, PSD, Solidariedade,

PRB, PTB e PSC – adotam uma agenda ultraliberal, pautada em reformas desestruturantes de

amplos setores econômicos e sociais. Trata-se de um governo assentado em uma base política

majoritariamente fisiológica, com componentes militares em altos postos e no comando de

importantes pastas – Ministério da Defesa, Gabinete de Segurança Institucional, Inteligência,

entre outros – e apoio de setores econômicos do ruralismo e do rentismo financeiro. Encampa,

principalmente, um projeto de privatização dos bens públicos, incluindo setores e estatais

estratégicas como a Petrobrás, a Eletrobrás, entre outros desmontes da máquina pública,

incorrendo na extinção de alguns programas sociais, ou no estrangulamento orçamentário de

tantos outros – exemplo mais claro é a Proposta de Emenda Constitucional 95 que congela o

orçamento de investimento público pelos próximos 20 anos.

Há desdobramentos da crise social que o país vive em diversos setores, tendo talvez na

segurança pública o seu maior efeito visível, com uma profunda onda de violência que se

dissemina por todo o território nacional. O atual sistema prisional é uma outra mazela. Conta

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com uma população carcerária de no mínimo o dobro das vagas comportadas pelo sistema –

cerca de 726 mil detentos para 386 mil vagas – com uma média de 40% de detenções provisórias,

num espectro social majoritariamente negro e jovem (cerca de 64% e um pouco mais de 50%,

respectivamente, segundo dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias,

Infopen, de 2017).5 6

O tráfico de drogas é um dos crimes transfronteiriços de maior securitização,

acompanhado do tráfico de armas (Andres; Martínez, 2011). Porém, as tentativas de combate a

esta mazela sob a forma da repressão são políticas falhas. Os efeitos mais “exitosos” destas

políticas são o encarceramento em massa, a repressão e violência policial, segregação social e

racial, aumento dos índices de criminalidade e do aparato do crime organizado, além de

marginalização de populações inteiras nas periferias. O relatório da Global Comissiono n Drug

Policy de 2011 já aponta que políticas centradas na repressão, severidade das penas a crimes

relacionados ao tráfico, assim como a mensuração de quantidades de drogas apreendidas como

parâmetro de sucesso de operações policiais ou militares, são políticas fracassadas (Abramovay,

2011).

Para a discussão presente, é importante ressaltar o papel da violência estrutural (Galtung,

2003) como principal fonte dos problemas sociais de países periféricos como o Brasil. A

ausência de perspectivas de mudança social, falta de acesso a serviços básicos e o convívio em

ambientes violentos ocasiona um ciclo de reprodução de uma cultura de violência. Problemas

como o racismo, xenofobia, sexismo, violência policial, violação de direitos constitucionais e

direitos humanos, abandono, entre outros, são reflexos profundos de estruturas de violência.

Os indivíduos são criminalizados, segregados e reprimidos. Este processo os torna

marginalizados e aprofunda ainda mais a dificuldade de acessar oportunidades de mudança,

inclusive através do trabalho formal. Esta dinâmica amplia o grau de exclusão social,

incrementando a pobreza, o que leva muitas vezes a criminalidade. Retroalimentando o ciclo,

com uma nova onda de criminalização, repressão e marginalização, numa forma de controle

biopolítico sobre as camadas mais pauperizadas da sociedade (Foucault, 2008).

5Agência Brasil. Disponível em <https://bit.ly/2AZ5nu3>. 6 Duas reportagens realizadas pela Empresa Brasileira de Comunicação – EBC (1) e pelo portal Nexo (2) trazem

alguns dados iniciais bastante didáticos sobre as crises prisionais recentes. Ambas estão disponíveis nos links: (1)

<https://bit.ly/2k74yaT> ; (2) <https://bit.ly/2kWq4wJ>.

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Neste sentido, a falha dos mecanismos de promoção do bem-estar social são

catalisadores neste sistema. Políticas neoliberais de austeridade e corte de investimentos sociais

aprofundam os dilemas sociais, recorrendo ao endurecimento da repressão para impor um

sistema de controle social (Andres; Martínez, 2011). Políticas falhas normalmente levam a

sistemas de controle violentos.

A adoção de políticas neoliberais também é um fator que pode exercer impacto nos

números sobre o tráfico transfronteiriço. As reformas neoliberais dos anos 1990 impulsionaram

uma drástica mudança de preços no mercado doméstico e internacional, levando muitos

agricultores de pequeno porte da América Latina a modificarem a matriz de produção de

alimentos ou insumos industriais para a produção de drogas (Andres; Martínez, 2011). Por outro

lado, a fórmula clássica do neoliberalismo também ocasiona grandes cortes nos investimentos

sociais e o incremento das forças de repressão do Estado, fatores estes que modificam as

estruturas de organização da violência.

No Brasil, porém, desde o final do Império, nos anos de 1880 e 1890, já havia leis de

restrição do consumo de psicoativos, como a maconha. O teor destas políticas proibicionistas

denotava uma larga dimensão racial e social, uma vez que o consumo da erva era difundido

principalmente entre os negros recém-libertados do regime de escravidão, mas que

continuavam – e continuam – marginalizados, superempobrecidos e criminalizados (Rodrigues,

2015).

A partir de 1910 e ao longo das décadas de 1920 e 1930 o país passou a adotar políticas

mais restritivas quanto a produção, venda e consumo de drogas. Com as reformas legislativas

durante o Estado Novo a proibição em relação às drogas passa a ter uma dimensão criminal

objetiva, tipificada, e paulatinamente foi adquirindo contornos de securitização ao longo dos

anos seguintes. O consumo de drogas como a cocaína era bastante inicial durante os anos 1960

em países como o Brasil, Argentina e Estados Unidos. No caso brasileiro, o boom do aumento

de consumo e tráfico ocorreu entre o final dos anos 1980 e os anos 1990 (Gootenberg, 2012).

Há uma tendência generalizada de trabalhar os problemas relacionados a violência e

crimes relacionados ao tráfico de drogas com certa simplicidade. Isto impacta numa descrença

popular sobre a capacidade de resolução do Estado.

Corrupção associada com o mercado ilícito afeta diretamente a qualidade das

instituições políticas, violência relacionada ao tráfico de drogas mina a

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segurança pública, e estes dois fatores minam a confiança dos cidadãos na

democracia. Em alguns casos, a percepção que a democracia não lida de forma

efetiva com a criminalidade pode nutrir o apoio da população à respostas

militarizadas de mão-de-ferro ao crime que podem degenerar direitos civis e

liberdades (Andres; Martinez, 2011, p. 382, tradução livre).

Outro ponto indispensável para a compreensão do cenário atual é a polarização política.

Pelo menos desde 1994 o PT e o PSDB passaram a ocupar lados opostos na política brasileira.

Após a conturbada disputa de 1989, quando os partidos ainda possuíam alguma proximidade, e

durante o desastroso governo de Collor de Mello, onde estiveram lado a lado na campanha pelo

impeachment, os partidos passam a disputar o espaço político sob agendas e programas

diferentes. Enquanto o PT adotava a proposição de um “choque de democracia”, o PSDB passou

a defender um “choque de capitalismo”.

A disputa de 2014, peça chave para a compreensão da instabilidade posterior, ocorre no

bojo desta polarização. O sucesso do governo de Lula da Silva garantiu a eleição de sua

sucessora, Dilma Rousseff, que neste momento disputa a reeleição após um mandato de relativa

estabilidade. A força conquistada pela narrativa oposicionista e o capital político de líderes do

PSDB viabilizaram a candidatura do nome anti-establishment, Aécio Neves. O cenário de

polarização política que vinha se configurando em uma direção salutar de conformação

bipartidária até meados de 2012, enreda para um nível mais virulento de enfrentamento a partir

de 2014, empurrando posições para os extremos ideológicos e possibilitando o surgimento de

alternativas pautadas em discursos violentos, ilógicos e reprodutores de fanatismo.

Os documentos de campanha, apesar de muitas vezes serem rasos em certos temas,

contribuem com um pouco mais de substância. Por este motivo os tomaremos como um ponto

de partida sobre as discussões ao redor das propostas para a segurança pública, a criminalidade

e o narcotráfico, visando identificar o momento inicial das reflexões recentes sobre estas

temáticas. Este esforço ensaístico coloca-se na direção de compreender as motivações e espaços

de diálogo que serão construídos ao longo do processo eleitoral.

1.0 OS PROGRAMAS DE GOVERNO EM 2014 E O ESTADO DA ARTE DA

DISCUSSÃO

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Nos programas apresentados para a campanha de 2014, ambos os partidos tratam da

maioria dos temas com certa simplicidade. Obviamente são diretrizes gerais para um provável

futuro governo, porém, ainda assim, são demasiado rasos quanto a propostas mais robustas,

com planejamento e projetos para execução e implementação. Observamos aqui os programas

apresentados pelo PT e pelo PSDB nas eleições presidenciais de 2014, buscando as informações

referentes à segurança pública, criminalidade no âmbito doméstico e de ordem transnacional,

narcotráfico e emprego de forças armadas para a repressão dos mesmos.

O programa de governo de Dilma Rousseff traz trechos bastante breves sobre o tema.

Faz-se um apanhado sobre os resultados das políticas adotadas nos 12 anos de governos petistas,

elucidando o compromisso com a segurança pública. Nesta direção, também são elogiadas as

iniciativas de cooperação com estados e municípios, assim como as ações em regiões de

fronteira. Esta seara específica conta com um Plano Estratégico de Fronteiras, lançado em 2011

e tido como uma das maiores realizações do governo Dilma na área de segurança, no combate

ao tráfico transnacional e ao crime organizado.

Trata-se também da política prisional, um dos problemas mais graves da história recente

brasileira. No documento, evidencia-se um orçamento de 1,1bi, no bojo do Programa de Apoio

ao Sistema Prisional, executado para esta pasta durante o primeiro mandato – entre 2010 e 2014

– repassando aos estados para o financiamento de unidades prisionais.

O incremento da Força Nacional de Segurança Pública e a ampliação do seu escopo de

atuação também são tomados como realizações positivas do governo. As polícias Federal e

Rodoviária Federal tiveram reforços em investimentos, treinamento, inteligência e tecnologia,

além do espaço autônomo de investigação, que foi mantido e fortalecido na maior parte dos

governos petistas.

Em linhas gerais o programa apresentado pela candidatura Dilma Rousseff é mais um

balanço das ações positivas executadas durante o seu primeiro mandato e promessas de

continuidade e aprofundamento dos programas bem-sucedidos da gestão. Há uma noção mais

holística, de que é preciso integrar ações na direção de reformas urbanas, sociais e políticas para

combater a criminalidade nos seus mais variados âmbitos: a corrupção, o tráfico transnacional

de drogas, pessoas e armas, o crime organizado e as facções criminosas, assim como uma

reforma no sistema de justiça e prisional do país.

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A candidatura de Aécio Neves, do PSDB, apresentou um programa igualmente simples

em projetos e meios de implementação de políticas. Em relação à proteção das fronteiras, o

programa só prevê o tratamento em nível de Segurança Nacional a defesa das zonas de fronteira,

na Amazônia e no mar territorial.

Na temática específica da segurança pública, a candidatura propõe uma reorganização

do sistema, pautada em parcerias entre o setor privado e órgão públicos. O combate às drogas

é um dos eixos principais da proposta, com a criação de leitos exclusivos para o tratamento de

dependência química no SUS e monitoramento da população de dependentes através de censos,

também em PPP’s.

Propõe-se uma ampla e sistêmica agenda de reformas para o setor, organizada em 4

eixos principais: prevenção de delitos, reformas legislativas para combater a impunidade,

modernização e inovação nas polícias e o tratamento do problema prisional. Há a intenção de

alocar o tema da segurança pública ao nível ministerial.

A criminalidade é visualizada num espectro mais amplo, indo desde o contrabando e

tráfico de drogas e armas, até a lavagem de dinheiro e a corrupção. Um outro ponto de interesse

é a demarcação de áreas de vulnerabilidade social. Estas localidades seriam abordadas com a

interação de serviços de assistência social, prevenção, educação profissional e repressão aos

delitos em áreas de intensa criminalidade.

Uma proposta original da candidatura é a de promoção de mudanças legislativas nos

códigos Processual e de Execução Penal, como forma de combater a impunidade. A ideia,

entretanto, não possui muita forma, ficando num plano mais genérico.

No âmbito do sistema prisional, visa a adoção de sistemas gerenciais da população

prisional, assim como a ampliação das prisões federais. Estas iniciativas devem contar com o

apoio das parcerias público-privadas, tanto na gestão do sistema prisional, quanto nos

programas de reinclusão.

Apesar das propostas do PT serem mais alinhadas no campo das políticas públicas e as

do PSDB estarem mais direcionadas no rumo das parcerias público-privadas, ambos os

programas possuem pontos interessantes que poderiam colaborar com o desenvolvimento do

sistema de segurança pública do país e com o tratamento de problemas como o tráfico de drogas

e o crime transnacional.

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2.0 O CENÁRIO PARA AS ELEIÇÕES DE 2018

Encampando uma agenda ultraliberal e pautada em reformas desestruturantes, o governo

atual tem contribuído para o aprofundamento da crise econômica e social. O país convive com

uma agenda de austeridade em quase todos os entes da federação, precarizando o trabalho das

forças de segurança, com desinvestimento e calamidade social, vertiginoso incremento da

pobreza, desemprego e falta de acesso a serviços públicos básicos. Este cenário é o habitat

perfeito para a expansão da criminalidade organizada ou não, assim como o tráfico, a atuação

de milícias e organizações criminosas de variados tipos.

Podemos citar como um dos principais eventos desta tendência a crise em que se

encontra o estado do Rio Grande do Norte, que desde 2015 recebe atuação da Força Nacional,

além de ter recebido duas intervenções de GLO, uma em 2016 e outra em 2017, devido a

instabilidades causadas pelo caos orçamentário vivido no estado e disputas entre facções rivais

no sistema penitenciário.

A eclosão de uma série de rebeliões e assassinatos dentro de presídios na região Norte e

Nordeste do país, no início de 2017, também são evidências claras da falência do sistema

prisional e das políticas de segurança pública. Houve incidentes nos estados do Amazonas, onde

60 detentos foram mortos, em Roraima, com mais 33 assassinados e novamente no Rio Grande

do Norte, com 26 mortes, além de fugas e crises causadas pela transferência de detentos nos

estados do Paraná, Minas Gerais e São Paulo. A disputa entre facções cria um campo de

massacre dentro das penitenciárias de todo o país.

O estado do Rio de Janeiro também enfrenta um dos piores estados de violência da

história recente e desde 16 de fevereiro deste está sobre intervenção federal, com a presença de

militares nas ruas e comunidades periféricas, realizando o controle de acesso às mesmas e

atuando como força de segurança pública. No estado, o número de homicídios a cada 100 mil

habitantes é de 37,6.

Em linhas bastante gerais, há um cenário de total inabilidade política para lidar

com os problemas da criminalidade e da segurança pública no país. As complicadas condições

sociais enfrentadas nas periferias, o racismo estrutural da sociedade, a ausência do poder

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público nestas regiões e a intensa crise econômica que se pereniza no país compõem o solo

ideal para o florescimento do crime e da violência.

2.1 Principais Candidaturas de 2018: posições sobre defesa e segurança pública

O cenário político não é nada animador para este ano. Há um fenômeno de radicalização

em ambos os lados do espectro ideológico que certamente irá desaguar em situações de choque

contra o sistema vigente, seja pela direita, seja pela esquerda. No campo à direita, a posição

moderada e mais próxima da centro-centro direita ocupada até então pelo PSDB se vê ameaçada

por uma força que se aproxima em larga medida da extrema direita. A candidatura de Jair

Bolsonaro representa um forte intento de radicalização à direita, com despudorados ataques a

minorias, setores fragilizados da sociedade, mídia, instituições estatais e adversários. No outro

espectro, a radicalização não chega a tomar contornos violentos. Pode-se dizer que dentro do

PT, principal partido do campo progressista desde muito, há uma forte inclinação à esquerda

que não se via pelo menos desde a década de 1990. Este processo é um claro resultado da

autocrítica realizada após os eventos dos últimos anos.

Para ilustrar estas posições e tentar organizar um pouco mais o cenário, apresentaremos

os principais pontos defendidos e argumentos das candidaturas dos principais concorrentes

deste ano. Os documentos base estão descritos nas referências e foram registrados junto ao TSE

quando na proposição das candidaturas, portanto, tratam-se de fontes originais e de acesso

público. A ordem de apresentação, seguirá o mesmo critério de preferência eleitoral, ainda que

possa inferir num desprendimento em relação ao espectro ideológico e programático.

A candidatura de Lula, que ostenta uma preferência em torno dos 39% das intenções e

lidera isoladamente a disputa possui uma clara problemática: o candidato encontra-se preso e é

possível que seja substituído na cabeça da chapa pelo ex-prefeito de São Paulo, Fernando

Haddad, tendo como vice Manuela D’Ávila do PCdoB. Apesar de ter um destino muito incerto,

a candidatura do PT apresentou um programa robusto e que possui grandes chances de passar

ao segundo turno, a depender da capacidade de transferência de votos de Lula para Haddad.

Especificamente no âmbito da defesa, a proposta petista apresenta-se sempre vinculada

a um projeto de soberania nacional e no escopo da política externa. Os principais riscos à

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soberania são elencados em torno das investidas por parte de grandes potências e/ou países

muito desenvolvidos contra os países subdesenvolvidos, ameaçando a estabilidade interna e a

capacidade de autonomia no plano internacional. No contexto do governo atual, apresenta-se

uma crítica à subserviência da política externa adotada em relação aos interesses estrangeiros,

majoritariamente estadunidenses e que atacam a indústria de defesa e a capacidade de

formulação e implemento de uma política de defesa autônoma. Também se critica a

agressividade adotada pelo governo dos EUA no tratamento do sistema multilateral de

resolução de conflitos, priorizando ações militares unilaterais. Apela-se para um retorno ao viés

pacífico e de repúdio ao uso desnecessário da força por parte da política externa brasileira.

Assim como são avaliadas como positivas as experiências de construção da paz durante a gestão

Lula, como a Declaração de Teerã e o reconhecimento do Estado Palestino.

A integração regional também reserva espaço para a temática da defesa. Aponta-se para

um retorno aos moldes anteriores, de respeito mútuo e decisões pacíficas e multilaterais para os

conflitos na região, assim como é elencada a criação do Conselho de Defesa da Unasul como

um avanço nesta seara. No plano global, defende-se a reforma do sistema ONU, inclusive de

seu Conselho de Segurança.

Nas diretrizes mais específicas e propositivas no campo da defesa é defendido um

retorno aos patamares anteriores (do governo Lula) de valorização e compromisso com a

Estratégia Nacional de Defesa (END). Denuncia-se o desvirtuamento do papel das Forças

Armadas devido o constante emprego em missões subsidiárias, como a intervenção militar no

Rio de Janeiro, rebaixando a corporação militar a “instrumento de repressão do povo que vive

na periferia”. Compromete-se com a reorganização da Base Industrial de Defesa e a

consolidação de uma Base Industrial e Tecnológica de Defesa, assim como os projetos

estratégicos que deixaram de ser priorizados recentemente. Pretende que o Ministério da Defesa

volte a ser ocupado somente por civis, aplicando a norma constitucional a eventuais falas e atos

que ameacem a democracia. E, por fim, firma-se o compromisso com a valorização do

profissional militar, retomando investimentos, recompondo efetivos e melhorando condições

de trabalho.

Na seara específica da segurança pública, a proposta orbita a ideia de uma Segurança

Pública Cidadã, que direciona esforços no tratamento holístico das mazelas sociais como forma

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de mitigação da criminalidade. A ideia central é uma articulação entre as políticas de segurança

e as ações específicas de políticas sociais. Para reduzir o número de mortes violentas, propõe-

se um Plano Nacional de Redução de Homicídios que opere em sinergia com políticas

intersetoriais de promoção de serviços públicos em territórios de vulnerabilidade. Também

propõe um controle de armas mais efetivo e a discussão sobre a desmilitarização da polícia para

aumentar a valorização do profissional da segurança. Estas reformas do sistema institucional

de segurança e das polícias são colocadas como prioridades, a fim de fornecer mais inteligência,

tecnologia, monitoramento de fronteiras e qualificação profissional.

Sobre a política de drogas, o diagnóstico é negativo em relação a linha adotada até agora,

julgando-a ineficaz, injusta e equivocada. Para tal, propõe-se o debate sobre a descriminalização,

baseado em experiências exitosas no plano internacional. A proposta é aliar o enfrentamento ao

crime transnacional com a conscientização através das estruturas da saúde e educação públicas.

Neste sentido, propõe-se uma Política Nacional de Alternativas Penais que instaure um sistema

que não retroalimente as organizações criminosas com um alto volume de encarceramento

baseado em pequenas infrações não violentas, como o tráfico de pequenas quantidades de droga,

por exemplo. Por fim, propõe o redirecionamento do Sistema Único de Segurança Pública no

sentido de compor esta estrutura de Segurança Pública Cidadã. Em linhas gerais o programa é

bem abrangente, ainda que pudesse ter mais especificações e planos de ação mais detalhados.

O segundo colocado nas pesquisas, Jair Bolsonaro, apresentou um programa de governo

longo, porém pouco substantivo. Trata-se na realidade de uma coletânea de slides, que muitas

vezes não trazem conteúdo algum, somente imagens e frases de ordem. A segurança pública

toma boa parte do documento, e é vinculada a outras temáticas sempre que conveniente,

propondo “tolerância zero” com o crime.

Na leitura sobre o contexto, apresenta-se alguns dados como o alto número de

homicídios registrados no país (mais de 62 mil por ano). Há uma correlação que não se

apresenta com fundamentos ou fontes de que desde a criação do Foro de São Paulo (organização

dos partidos e movimentos de esquerda da América Latina e Caribe) em 1990 mais de um

milhão de brasileiros teriam sido assassinados. Assim como relaciona a presença e

disseminação do crack no território brasileiro por ação de “filiais das FARC” (em referência ao

grupo guerrilheiro colombiano). Toda esta situação caótica seria resultado de leniência dos

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governos brasileiros com o crime, aceitando a criminalidade como uma característica da

identidade nacional.

No debate mais propositivo no campo da segurança, utiliza-se como fonte um

documentário produzido em 2017 pela Rede Globo, do qual se referenciam dados e estatísticas

que relacionam o número de mortes no Brasil com guerras no Oriente Médio. Argumenta-se

que as armas não representam o real problema (apesar de citar, segundo o documentário que as

armas de fogo estão presentes em 7 de cada 10 homicídios), pois são instrumentos tal qual

“facas e martelos” que sozinhos não operam suas funções. Também cita exemplos de países

desenvolvidos que possuem menores restrições a aquisição e posse de armas e apresentam

número inferiores de homicídios.

Na mesma direção das alegações em relação ao Foro de São Paulo, vincula-se o aumento

da violência nos estados que são “governados pela esquerda” e onde a epidemia de drogas “não

foi coincidentemente introduzida” (mas não apresenta dados e nem discrimina quais seriam

estes casos, apresentando somente um mapa do Brasil onde alguns estados estão coloridos com

a cor vermelha e ao redor se encontram estrelas vermelhas e foices e martelos), vinculando a

expansão do narcotráfico a “países de esquerda”. Aproveita-se o espaço para criticar o “bolsa

crack” oferecido pela administração de esquerda na cidade de São Paulo. Por outro lado,

argumenta que os estados onde mais se encarcera, menores são os índices de violência (mas

novamente não há dados concretos e somente mapas onde aparecem em azul estados segundo

o nível de encarceramento – acima lê-se “Prender e deixar na cadeia salva vidas!”). Relaciona

combate ao estupro com uma mudança ideológica, mas não afirma que mudança é esta e nem

a que ideologia se refere.

Há um aceno populista em relação aos trabalhadores da segurança pública,

principalmente policiais, ao elogiá-los como heróis e comprometendo-se a “inscrever os nomes

dos heróis no Panteão da Pátria e da Liberdade”, referindo-se a homenagens a todos os policiais

que porventura foram ou serão mortos em enfrentamento à criminalidade. Não se propõe

nenhuma ação concreta para a melhoria das condições de trabalho ou valorização destes

profissionais.

Por fim, elenca uma série de ações propositivas, em uma espécie de síntese dos temas

tratados até então, comprometendo-se com o investimento no aparato de segurança,

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encarceramento, redução da maioridade penal, reformulação do Estatuto do Desarmamento e

garantia do direito de autodefesa, assim como pretende classificar como terrorismo as ações de

invasão de propriedade e redirecionar a política de direitos humanos somente para as vítimas

de violência. Nesta seção, duas propostas são relativamente preocupantes: a garantida de

excludente de ilicitude para policiais em exercício, pois “a vida de um policial vale muito mais”;

e a proposição de remover da Constituição os efeitos da Emenda Constitucional 81, que versa

sobre o confisco de propriedades que estejam sendo usadas para cultivo de drogas e/ou

exploração de trabalho escravo, direcionando a propriedade para a reforma agrária ou habitação

popular. A justificativa desta segunda medida é a garantia da não-relativização da propriedade

privada.

Não há nada de substantivo em relação à defesa nacional, somente a exacerbação das

Forças Armadas como bastião da luta contra o comunismo (inclusive na campanha contra os

nazistas durante a Segunda Guerra), tendo salvado o país em 1964, episódio revolucionário com

base na postura de Roberto Marinho no fatídico editorial n’O Globo de 1984 em que o jornalista

defende o regime autoritário. Há uma passagem em que se compromete com a valorização das

Forças através de investimento e modernização, mas não se delineiam projetos concretos.

Também se afirma que as Forças serão utilizadas na segurança pública, porém não especifica

se diretamente ou como apoio às outras forças de segurança. Na mesma oportunidade defende

a implantação de colégios militares em todas as capitais, mas novamente não argumenta sobre

os benefícios ou projetos concretos.

O programa de Marina Silva é bem mais modesto em extensão, porém, carrega um

conteúdo sistemático bastante substantivo. A área da defesa é um tanto mais defasada e conta

com pouco espaço, limitando-se a defender o fortalecimento das Forças Armadas, vinculando

sua função constitucional de defesa da Pátria, porém, não exclui a possibilidade de emprego em

missões de GLO quanto demandado por poderes constitucionais. Em adição, compromete-se

com a adequação dos efetivos das Forças e com o aprimoramento da capacidade operacional e

tecnológica. A defesa das fronteiras tem primazia neste sentido, assim como o combate ao

contrabando, tráfico de drogas, armas e pessoas e na proteção do meio ambiente, em especial a

biopirataria. O debate sobre a defesa nacional deverá ser democratizado e ampliado nas esferas

do Estado e da sociedade civil.

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A agenda de segurança pública é mais abordada. O foco é colocado na implantação do

Sistema Único de Segurança Pública, sob um modelo de gestão por resultados. Pretende-se uma

coalizão entre estados, municípios, universidades e organizações da sociedade civil para a

elaboração de um Plano Nacional de Segurança, assim como para a definição de suas diretrizes,

metas e indicadores de avaliação. Os dados sobre a criminalidade, censo prisional, atuação

policial e investigativa devem ser unificados sob protocolos padronizados para todos os entes

federativos. Esta estrutura de inteligência deverá ser reforçada por investimento em aparato e

metodologias tecnológicas, a fim de monitorar e condicionar a atuação nas manchas de

violência e nas fronteiras, monitorando inclusive os fluxos de capital ilícito e lavagem de

dinheiro. Esta articulação dos meio de segurança deve ser gerida por um conselho nacional.

Em relação às armas, a proposta é de enfrentamento do uso e posso ilegal, reforçando

os mecanismos de registro e fiscalização. Para o sistema prisional externaliza-se o apoio à

melhoria nas condições físicas e operacionais dos presídios e uma correta leitura sobre a

superpopulação carcerária. São apresentadas medidas para reduzir o encarceramento em massa,

limitando-se a melhorias na gestão do sistema e implantação de medidas disciplinares e de

fiscalização mais rigorosas. E também propõe-se medidas para uma Política Nacional de

Medidas e Penas Alternativas como forma de redução dos encarceramentos, principalmente

provisórios.

Uma proposta original á a criação de um Programa de Apoio aos Egressos do Sistema

Prisional, para combater a reincidência criminal e promover a reinserção social e econômica.

Apresenta-se uma concepção de segurança social, como uma alternativa ao modelo vigente,

integrando medidas no campo das políticas públicas como educação, saúde, esportes, cultura e

principalmente o emprego atuando na prevenção da violência.

O programa de Ciro Gomes, por sua vez, traz uma proposta bastante densa e bem

estruturada. A leitura sobre os altos índices de violência e mortalidade levam em consideração

a diferença racial que impacta o perfil das vítimas de crimes violentos. Logo de início é

rechaçada a tese de armamento como solução, apontado para ações no campo da melhoria nas

condições de trabalho de policiais, inteligência investigativa, combate ao tráfico de armas, ao

crime organizado e aos fluxos financeiros ilegais e o policiamento de fronteiras. Em linhas

gerais, a proposta para a segurança pública gira em torno do aumento da presença do Governo

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Federal nas ações. Propõe-se que a União seja o elo de ligação entre as forças de segurança

estaduais, atuando o financiamento, integração e promoção de novas iniciativas, como a criação

de uma Polícia de Fronteira, por exemplo.

Traçam-se alguns objetivos prioritários, como a investigação e prevenção de crimes

violentos, o enfrentamento ao crime organizado, o controle do tráfico de armas, o policiamento

de zonas de fronteira, repressão à lavagem de dinheiro e aos crimes contra a administração

pública. Para alcançar estes objetivos um plano bastante detalhado é desenhado. Propõe-se a

implementação da Política Nacional de Segurança Pública e do Sistema único de Segurança

Pública, assim como da Escola Nacional de Segurança Pública. A criação da Polícia de

Fronteiras, desafogando a carga de trabalho da Polícia Federal e garantindo um efetivo

adequado para a função. Criação da Força Nacional de Segurança Pública, no bojo do art. 144

da Constituição como Programa Permanente de Cooperação Federativa, que seria constituída

através de incentivos à cooperação com os estados, cedendo policiais para o reforço da estrutura

permanente. Também prevê a criação de um órgão federal de Proteção a Testemunhas para o

combate a organizações criminosas.

Para o sistema prisional propõe-se a alocação de presos de alta periculosidade em

presídios federais, para desafogar os sistemas estaduais. Assim como a integração dos sistemas

de inteligência policial e a organização de um sistema em conjunto com o Conselho Nacional

de Justiça para dar celeridade aos processos envolvendo crimes graves.

No campo da defesa, especificamente, a leitura é mais abrangente e condiciona a

soberania nacional à defesa, à política externa e ao controle sobre recursos naturais estratégicos

(fontes de energia e recursos hídricos, por exemplo). Propõe inclusive a recompra dos campos

de petróleo vendidos ao mercado estrangeiro pelo governo atual. Neste sentido são apresentadas

propostas para os três eixos. Na temática da soberania a proposta é aliar o projeto de

desenvolvimento nacional à uma perspectiva soberana, valorizando estratégias que visem

promover a autonomia, como a END e a proteção do complexo industrial da defesa e as

empresas de gestão de recursos estratégicos, como a Petrobrás e a Eletrobrás, por exemplo.

No eixo da defesa a proposta inicial é a abertura do debate sobre o aumento da parcela

do PIB correspondente ao investimento na pasta. Pretende seguir e reforçar as diretrizes da

END de 2008. Apoia a construção de uma cultura militar vinculada às capacitações e não a

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baseada em hipóteses de emprego. Também reafirma o compromisso com os projetos

estratégicos em curso, assim como a primazia da transferência tecnológica na aquisição de

armamentos. Apresenta o forte intento de estruturar um robusto complexo industrial de defesa,

com desenvolvimento tecnológico e produção de inovações de uso dual, tendo em parte o

controle estatal sobre a pesquisa e desenvolvimento e para o setor privado um regime de

dispensa de licitações em troca de espaço decisivo para o Estado nos planos das empresas.

Reforça também a necessidade de priorizar o desenvolvimento de tecnologia nuclear pacífica,

cibernética, geoestratégica e espacial, assim como um programa de inteligência artificial em

regime de PPP. Sobre o emprego de Forças Armadas em missões internas, confere somente a

hipótese da excepcionalidade e como força suplementar em caso de necessidade, priorizando a

defesa de fronteiras como missão principal.

O programa de Geraldo Alckmin é excessivamente curto e não ousa aprofundamento

em nenhuma área. Trata-se de uma coletânea de menos de 15 páginas, onde a maioria dos

espaços são preenchidos por diagramações estilosas e imagens temáticas. As propostas se

apresentam como tópicos de 2 ou 3 linhas, sem nenhuma projeção concreta para implementação.

No campo da segurança pública pretende reduzis a taxa de homicídios para uma razão

de 20 em cada 100 mil habitantes (a atual está entre 30 para cada 100 mil). Pretende integras a

inteligência de todas as polícias para o combate ao crime organizado e o tráfico de armas e

drogas. Propõe a criação da Guarda Nacional, uma polícia militar federal apta a atuar em todo

o território. Apoia a revisão da Lei de Execução Penal para dificultar a progressão de penas

para infratores de crimes violentos e com relação com o crime organizado. Compromete-se com

a atuação primária e secundária na prevenção ao crime em regiões mais violentas, com atenção

especial a juventude. Propõe um pacto nacional contra a violência doméstica, contra idosos e

LGBTI, assim como incentiva a criação de redes não-governamentais de apoio a vítimas de

violência racial e contra o tráfico sexual e de crianças. Não há nenhuma proposta relacionada

diretamente à defesa.

O programa de Álvaro Dias é ainda mais sucinto, porém, consegue apresentar de forma

mais rasa a temática da segurança pública. Inicialmente elenca-se a segurança ineficaz entre os

principais problemas da sociedade brasileira. Então, apresenta 19 metas gerais do plano,

divididas num trinômio Sociedade-Economia-Instituições, 7 delas no campo da sociedade,

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sendo uma a “Violência com Tolerância Zero”. Ao longo do documento não são apresentadas

propostas, somente afirmações vagas do tipo “a eficácia da segurança é uma meta a ser atingida”

ou “ao final de quatro anos a população irá vivenciar uma melhora segurança em todas as suas

esferas”. Somente numa sumarização final de todas as propostas é que aparecem 3 linhas sobre

projetos concretos: redução de 60% dos homicídios e assaltos (poupando 36 mil vidas por ano)

e investimento nas polícias e nos “3 i’s”, inteligência, informação e integração. A defesa que

não havia sido citada até então aparece em um destes tópicos sob a proposta de “Projeto

Integridade da Nação”: proteção das fronteiras secas, mar territorial e espaço aéreo; ocupação

integral do território amazônico; reequipamento das Forças Armadas e avanço na área espacial.

4.0 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A percepção que pode ser depurada deste cenário é de que há uma clivagem profunda

entre um setor que apresenta conteúdo programático mais propositivo e estruturado e um outro

bloco que apresenta sugestões de alto teor populista, repetindo truísmos e fórmulas fáceis que

possam ser facilmente digeridas pela opinião pública. A capacidade de crescimento de discursos

reprodutores de senso comum é ampliada pelo ambiente de polarização que inunda a sociedade.

Não é por acaso que os dois polos desta hipótese convergem com as propostas de centro-

esquerda ou esquerda e no outro oposto à direita ou extrema direita. É perceptível que

candidaturas como a de Alckmin estejam desidratando em detrimento de alternativas mais

radicais como a de Bolsonaro. Este tipo de posicionamento mais técnico e atrelado a agenda

neoliberal que remete aos anos 1990 não tem penetração social, mais ainda no contexto do

governo Temer que implanta agenda tucana de 2014.

Para o âmbito específico da defesa podemos visualizar uma realidade que mais parece

fantástica e invertida: a vanguarda de uma agenda soberanista, pró-independência nacional e

autonomista está justamente na esquerda. O que é completamente desprendido da perspectiva

histórica. Hoje, o Brasil vive algo tão complexo que a esquerda encampa a defesa do Estado,

ao invés de lutar contra ele. Ao passo que os representantes da direita autoritária, que em tese

deveria ser altamente nacionalista, defende uma agenda neoliberal de privatização e abertura so

conteúdo estrangeiro. O país é a terra das ideias fora do lugar.

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Na agenda de segurança pública a divergência reside basicamente na chave respostas

fáceis vs. propostas estruturadas e alternativas. O discurso pró-armamento e pró-

criminalização/encarceramento pretende prover uma resposta fácil - e errônea - para um

problema muito mais complexo. O país vive uma intensa crise no sistema prisional, neste

sentido o encarceramento em massa iria explodir uma situação já efervescente. Ao mesmo

tempo, é amplamente debatida a relação entre o encarceramento de infratores detidos por crimes

não violentos e a retroalimentação do exército de reserva do crime organizado. Não é por acaso

que as facções se ampliam em larga medida durante estes períodos.

A defesa do armamento da população com base em exemplos de países desenvolvidos

é falacioso por si só. Compara-se o número de homicídios como se esta correlação fosse

exclusivamente número de armas vs. taxa de homicídios. Falta a honestidade de incluir todas

as demais características que diferenciam países desenvolvidos e subdesenvolvidos, como os

níveis educacionais, de renda, de infraestrutura, de emprego.

Ao fim, é importante destacar o caráter cíclico da reprodução de sistemas violentos e

crises de segurança pública no Brasil. Trata-se de um fenômeno que se pereniza ao longo da

história recente do país, relacionando-se diretamente com as estruturas de violência sistêmica e

a cultura de violência que permeia o ambiente social nacional. A dinâmica dos problemas

relacionados às drogas são muito diversas e não possui respostas fáceis. A tendência histórica

de tratar este tema sob o viés da repressão, punitivismo e proibicionismo acabaram gerando um

ciclo de violência cada vez mais intenso e retroalimentado.

O debate político dos últimos anos, apesar de permanecer em águas rasas, vem trazendo

a incorporação de algumas ideias e pautas diferentes das políticas de endurecimento penal e

repressão exacerbada que se praticou durante muito tempo. Uma compreensão mais apurada

dos elementos que se combinam na complexa realidade social brasileira e que geram desordens

e injustiças de toda espécie, em si, já é uma leitura mais avançada e que aponta para propostas

mais condizentes com as demandas particulares do país. O objetivo deste trabalho, foi mapear

criticamente as posições dos principais candidatos para auxiliar a reflexão sobre as agendas

políticas propostas para o campo da defesa e da segurança pública. Há lapsos de pensamentos

em torno do desenvolvimento social, cuidado integrado entre saúde, segurança e educação com

a juventude que permitem uma certa expectativa de avanço. Porém, o perigo que ronda o

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horizonte futuro mora justamente onde a esperança se torna inércia. Mais do que nunca, é

preciso debater as opções para o futuro.

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