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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DE MINAS GERAIS
Programa de Ps-Graduao em Ensino de Cincias e M atemtica
SEGMENTAO DO TEXTO DE BIOLOGIA POR MEIO
DA INSERO DE QUESTES E SEUS EFEITOS
SOBRE A APRENDIZAGEM.
Danielle Dias Novais Pinto
Belo Horizonte
2011
Danielle Dias Novais Pinto
SEGMENTAO DO TEXTO DE BIOLOGIA POR MEIO
DA INSERO DE QUESTES E SEUS EFEITOS
SOBRE A APRENDIZAGEM.
Dissertao apresentada ao
Programa de Ps-graduao em
Ensino de Cincias e Matemtica da
Pontifcia Universidade Catlica de
Minas Gerais, como requisito para
obteno do ttulo de Mestre em
Ensino de Cincias e Matemtica.
Orientadora: Prof.. Dr. Andra
Carla Leite Chaves
Belo Horizonte
2011
FICHA CATALOGRFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais
Pinto, Danielle Dias Novais P659s Segmentao do texto de biologia por meio da insero de questes e seus
efeitos sobre a aprendizagem / Danielle Dias Novais Pinto. Belo Horizonte, 2011. 85 p.
Orientadora: Andra Carla Leite Chaves Dissertao (Mestrado) Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais.
Programa de Ps-Graduao em Ensino de Cincias e Matemtica 1. Biologia - Formao de professores. 2. Biologia - Ensino. 2. Biologia -
Ensino 3. Aprendizagem cognitiva. I. Chaves, Andra Carla Leite. II. Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais. Programa de Ps-Graduao em Ensino de Cincias e Matemtica. III. Ttulo.
CDU: 574:371.1
A Jos Edgard e Jeanne meus pais que
sempre acreditaram, orgulharam,
emocionaram, encaminharam, amaram.
AGRADECIMENTOS
Agradeo
Deus pela fora espiritual e por colocar em meu caminho pessoas to
especiais;
Um agradecimento especial aos meus pais Jos Edgard e Jeanne, ao
meu irmo Edy, minha irm Gracielle e minha sobrinha Jlia que sempre me
apoiaram em tudo que precisei e em tudo que quis fazer. Muito obrigada pelos
momentos de carinho e pela alegria com as minhas vitrias;
minha orientadora Prof. Dr Andra Carla Leite Chaves pela
dedicao, carinho, incentivo, competncia profissional e por ter me aceitado
como orientanda em um momento de grande dificuldade desse trabalho.
Obrigada de corao!
Ao Prof. Dr. Francisco ngelo Coutinho por ter me apresentado temas
to interessantes e importantes para o processo de ensino e aprendizagem
como a Teoria da Aprendizagem Multimdia e pelas ideias que nortearam este
trabalho. A todos os outros professores do mestrado que com certeza
contriburam com esse trabalho atravs de seus ensinamentos durante o curso;
A Prof. Dr Cludia Sabino pela ateno em fazer a anlise estatstica
dos dados;
Ao Tio Cizim, Tia Vera, Fabola e Mariana minha famlia de Belo
Horizonte, que mais uma vez me acolheu para realizao dos meus estudos e
me deram todo apoio que precisava;
Ao Colgio Atenas e Escola Estadual Affonso Roquette pelo suporte e
tambm por serem os locais das pesquisas dessa dissertao,
Aos colegas e amigos da 4 turma de mestrado em Ensino de Biologia,
em especial: A Paty pelo companheirismo e a grande amizade que nasceu
durante o curso, Ao Otvio, grande amigo por trazer tanta alegria para esse
curso; A Cris pelas conversas e companhia de viagem; Lud e Luana pelas
dicas e conversas sem fim (no MSN), na qual pude aprender muito; e Ao Tio
Cloves um exemplo de pessoa e profissional;
Ao Gefoni pelo incentivo e carinho na reta final desse trabalho.
Muito Obrigada!!
Se pensarmos pequeno...
coisas pequenas teremos,
mas, se desejarmos fortemente o melhor,
principalmente, lutarmos pelo melhor...
o melhor vai se instalar em nossa vida.
Carlos Drummond de Andrade
RESUMO
A Biologia uma disciplina complexa que exige o processamento de um
grande nmero de informaes pelos alunos, o que pode acarretar dificuldades
na aprendizagem. O excesso de informao, s vezes at mesmo
desnecessrio, pode ser evidenciado nos livros didticos de Biologia. No
presente trabalho foi desenvolvida uma estratgia metodolgica visando
melhorar o processamento de informaes de um contedo de Biologia de
forma a contribuir com a aprendizagem. A estratgia elaborada envolveu a
modificao de um texto de um livro didtico de Biologia, para modificar esse
texto foi usado um dos princpios da Teoria Cognitiva da Aprendizagem
Multimdia (TCAM), chamado princpio da segmentao. O texto foi
segmentado atravs da insero de questes de acordo com Graesser, Len e
Otero (2002). O texto segmentado foi estudado pelos alunos que foram
submetidos a um teste de reteno sobre o contedo abordado. O teste
mostrou que o texto segmentado comparado ao original minimizou a
sobrecarga cognitiva intrnseca e melhorou a aprendizagem. Em uma segunda
etapa deste trabalho, uma oficina com professores de Biologia foi feita, onde a
metodologia utilizada na segmentao de textos foi aplicada e discutida. Os
professores que participaram da oficina consideraram a metodologia eficiente e
fcil de ser empregada na prtica docente. Isso mostra que a metodologia aqui
proposta poder ser til na reduo de dificuldades relacionadas ao ensino-
aprendizagem de Biologia.
Palavras-chave: Segmentao de texto. Sobrecarga cognitiva. Ensino-
aprendizagem de Biologia. Formao de professores.
ABSTRACT
Biology is a complex discipline that requires processing a large amount of
information by students, which can lead to learning difficulties. Too much
information, sometimes even unnecessary may be evidenced in Biology
textbooks. In this paper it was developed a methodology to improve the
processing of information from a Biology content to contribute to learning. The
strategy developed involved the modification of a text from a Biology textbook.
To modify this text it was used one of the Cognitive Theory of Multimedia
Learning (TCAM) principles, called the principle of segmentation. The text has
been segmented by the insertion of questions according to Graesser, Len and
Otero (2002). The segmented text was studied by the students who underwent
a retention test on the content addressed. The test showed that the segmented
text compared to the original minimized the intrinsic cognitive overload and
improved learning. In the second stage of this work, a workshop with Biology
teachers was made, where the methodology used in the segmentation of texts
was applied and discussed. The teachers who participated in the workshop
considered the methodology efficient and easy to be employed in teaching
practice. This shows that the methodology proposed here may be useful in
reducing problems related to teaching and learning of Biology.
Keywords: Segmentation of text, Cognitive load, Teaching and learning of
Biology. Teacher training.
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 1: Fluxo da informao do meio externo para o processo
cognitivo de interpretao da informao proposto p or Atkinson e
Shifffrin.......................................... .................................................................. 18
FIGURA 2: Percurso da informao para a memria ope racional ............. 21
FIGURA 3: Foto dos alunos da Turma A fazendo o estu do do
texto original..................................... .............................................................. 37
FIGURA 4: Foto dos alunos da Turma B fazendo o estu do do
texto modificado................................... .......................................................... 38
FIGURA 5: Foto dos alunos da Turma B fazendo o test e avaliativo
sobre o texto estudado............................. ..................................................... 39
LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Notas alcanadas pela turma A no teste ... ............................... 40
TABELA 2: Notas alcanadas pela turma B no teste. .. ............................... 41
TABELA 3: Teste comparativo entre as notas das Turm as A e B.............. 44
LISTA DE GRFICOS
GRFICO 1: Relao Nmero de aluno/ Nota do teste o btida pelos
alunos da Turma A. ................................. ....................................................... 40
GRFICO 2: Relao Nmero de aluno/ Nota do teste o btida pela
Turma B............................................ ............................................................... 41
GRFICO 3: Barra de Erros - Mdia de Notas Turmas A e B. .................... 42
GRFICO 4: Distribuio normal das notas dos alunos da Turma A. ....... 43
GRFICO 5: Distribuio normal das notas dos alunos da Turma B........ 43
GRFICO 6: Frequncia das notas dos alunos da Turma A. ..................... 44
GRFICO 7: Frequncia das notas dos alunos da Turma B. ..................... 45
GRFICO 8: Comparao entre o nmero de questes in seridas
para segmentar o texto pelos professores participan tes da oficina
e no texto modificado na no nossa pesquisa. ........ ..................................... 51
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
PNLEM Programa Nacional do Livro Didtico do Ensino Mdio
TCAM Teoria Cognitiva de Aprendizagem Multimdia
SUMRIO
1 INTRODUO .............................................................................................. 13
2 REFERENCIAL TERICO.............................. .............................................. 17
2.1 Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimdia (TC AM). ....................... 17
2.2 Efeito Cognitivo da Insero de Questes em um Texto...................... 24
2.2.1 O papel da insero de perguntas na compreens o do texto........... 26
2.2.2 Processos cognitivos de perguntas e respostas na memria .......... 28
2.2.3 O processo cognitivo do texto baseado em perg unta e resposta .... 30
3 O PRODUTO................................................................................................. 34
3.1 A Modificao do Texto ......................... .................................................. 34
3.2 Aplicao dos Textos e Testes para os Alunos ... ................................. 36
3.3 Anlise dos Resultados da Aplicao do Teste p ara os alunos ......... 39
3.4 Realizao da Oficina com os Professores ....... .................................... 46
3.5 Resultados da Avaliao da Oficina pelos Profes sores....................... 49
4 CONSIDERAES FINAIS ............................. ............................................. 54
REFERNCIAS................................................................................................ 57
APNDICE A ......................................... .......................................................... 59
APNDICE B ......................................... .......................................................... 62
APNDICE C ................................................................................................... 63
APNDICE D ................................................................................................... 80
ANEXO A............................................ ............................................................. 81
13
1 INTRODUO
objeto de estudo da Biologia o fenmeno vida em toda sua diversidade
de manifestaes. Esta cincia se debrua sobre as caractersticas e
comportamento dos organismos, a origem de espcies e indivduos, e a forma
como estes interagem uns com os outros e com o seu ambiente.
De acordo com os Parmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
Mdio (BRASIL, 1999), o aprendizado da Biologia deve permitir: a
compreenso da natureza viva e dos limites dos diferentes sistemas
explicativos; a contraposio entre os mesmos; e a compreenso de que a
cincia no tem respostas definitivas para tudo, sendo uma das suas
caractersticas a possibilidade de ser questionada e de se transformar.
A Biologia uma disciplina que possui o que Mayer (2005) chama de
sobrecarga cognitiva intrnseca, ou seja, uma disciplina com certa
complexidade e quantidade de informao maior que a capacidade de
processamento da memria (carga cognitiva). Alm disso, o material didtico
utilizado no seu estudo pode conter a chamada sobrecarga cognitiva extrnseca
quando h um excesso de informaes inerentes a compreenso do contedo
que acaba sendo processada pela memria.
Um fator que agrava o processo de ensino aprendizagem da Biologia o
ensino para concursos como o vestibular, que cobram do aluno uma grande
quantidade de informao e raramente a aplicao do conhecimento. Isso
mudou a postura de vrias escolas em relao forma de ensino, hoje vemos
que a preocupao com a quantidade de informao passada para o aluno
cada vez maior sem considerar se estas informaes esto sendo
processadas.
Durante minha trajetria docente, cerca de 12 anos na rede pblica e
particular de educao na cidade de Paracatu, Minas Gerais, foi possvel
constatar em todas as escolas que trabalhei a dificuldade dos alunos em lidar
com o excesso de informao da disciplina. Para ratificar minhas constataes,
e sustentar o objetivo desse trabalho, foi feita uma pesquisa preliminar com
professores e alunos do ensino mdio da rede pblica e particular de escolas
de Paracatu, MG, onde para cada grupo foi perguntado, aos professores:
14
Qual(is) sua(s) maior(es) dificuldade(s) no ensino de Biologia?; e aos alunos:
Qual(is) sua(s) maior(es) dificuldade(s) para aprender Biologia?
As dificuldades apontadas pelos dois grupos foram semelhantes, a maior
parte dos alunos citou como maior dificuldade para aprender biologia o excesso
de detalhes da disciplina e o fato de ser necessrio decorar uma grande
quantidade de nomes; entre os professores a dificuldade apontada com maior
frequncia foi o excesso de nomes do contedo. Para ambos os grupos as
dificuldades residem no excesso de informao inerente ao contedo. Percebe-
se ento a necessidade de se buscar metodologias que visam diminuir a
sobrecarga cognitiva para melhorar o ensino/aprendizagem.
Consideramos sobrecarga cognitiva quando h uma quantidade de
informao que ultrapassa a carga cognitiva da memria operacional. A
memria operacional representa um armazenamento de capacidade limitada
que retm informaes por um curto perodo para realizar operaes mentais
com o contedo armazenado (GAZZANIGA, 2006). H um limite de quanta
informao pode ser encaminhada para a memria operacional e que pode ser
realmente processada, levando ao aprendizado. A sobrecarga cognitiva ocorre
quando esse limite ultrapassado. (SWELLER, 2005 apud MAYER, 2005).
A sobrecarga cognitiva intrnseca derivada do contedo em si e no
pode ser reduzida, a no ser pela segmentao do material utilizado como
objeto de aprendizagem (SWELLER, 2005 apud MAYER, 2005). A sobrecarga
cognitiva extrnseca pode ser mais facilmente reduzida, uma vez que est
diretamente relacionada ao material didtico utilizado e estes materiais so
constantemente reformulados. (TAROUCO ; CUNHA, 2006).
Mayer (2005) enuncia que as pessoas aprendem mais com o uso de
imagens e palavras, que somente o de palavras ou imagens. Baseado nesta
premissa, estudar meios que descrevem os caminhos de como se aprende
melhor utilizando-se de figuras e palavras constituem a Teoria Cognitiva de
Aprendizagem Multimdia (TCAM). Para orientar como utilizar imagens e
palavras, quando utilizar e para quem devem ser utilizadas de forma a alcanar
melhores resultados no aprendizado a TCAM dispe de princpios que quando
seguidos para elaborao de material instrucional podero estar reduzindo a
sobrecarga cognitiva desse material.
15
Diante do exposto, o foco deste trabalho ser propor formas de diminuir
a sobrecarga cognitiva relacionada ao excesso de informaes do material
didtico. Consideramos que o emprego de materiais didticos adequados pelo
professor facilita a aquisio e o processamento de informaes pelos alunos e
consequentemente incrementa a aprendizagem.
Os materiais didticos utilizados atualmente so muito diversificados.
Com a introduo da tecnologia na sala de aula, foi possvel planejar aulas
cada vez mais atrativas com recursos multimdias, mas, mesmo assim, na hora
de estudar, de aprofundar seus conhecimentos tanto o professor quanto o
aluno recorrem ao livro didtico, ou seja, ele muito utilizado como fonte
bibliogrfica (NETO ; FRANCALANZA, 2003). Principalmente depois que o
acesso a ele foi facilitado pelo Programa Nacional do Livro Didtico (PNLD)
que oferece ao aluno da rede pblica o acesso aos livros didticos de todos os
contedos do Ensino Mdio.
A indiscutvel importncia do livro didtico no cenrio da educao pode
ser compreendida em termos histricos, atravs da relao entre este material
educativo e as prticas constitutivas da escola e do ensino escolar. Esta
importncia atestada, entre outros fatores, pelo debate em torno da sua
funo na democratizao de saberes socialmente legitimados e relacionados
a diferentes campos de conhecimento; pela polmica acerca do seu papel
como estruturador da atividade docente; pelos interesses econmicos em torno
da sua produo e comercializao; e pelos investimentos de governos em
programas de avaliao (MARTINS, 2006).
Para ser considerado didtico, um livro precisa ser usado, de forma
sistemtica, no ensino-aprendizagem de um determinado objeto do
conhecimento humano, geralmente j consolidado como disciplina escolar.
Alm disso, o livro didtico caracteriza-se ainda por ser passvel de uso na
situao especfica da escola, isto , de aprendizado coletivo e orientado por
um professor (LAJOLO, 1996).
Nos livros didticos de Biologia encontramos vrios exemplos de textos
com muita sobrecarga cognitiva, o que dificulta o aprendizado do contedo.
Sendo assim neste trabalho propomos um mtodo para aprimorar a utilizao
de textos cientficos presente em livros didticos ou outras fontes, procurando
reduzir as sobrecargas cognitivas e favorecendo o processamento das
16
informaes pela memria operacional e consequentemente, a aprendizagem
(MAYER, 2005).
Portanto, a presente dissertao tem por objetivo principal testar e
discutir a tcnica de segmentao de texto com alunos e professores.
Assim como objetivos especficos nos propusemos a:
a) buscar na literatura referenciais terico-metodolgico sobre a
compreenso de textos cientficos;
b) modificar, utilizando a segmentao, um texto de um livro didtico de
Biologia;
c) experimentar o texto modificado com os alunos;
d) desenvolver uma oficina com professores para avaliar e divulgar a
metodologia de segmentao de textos.
Para isso, organizamos nosso trabalho em cinco captulos descritos da
seguinte forma:
a) este captulo introdutrio, onde fizemos o levantamento da nossa
problemtica, argumentamos sobre a importncia do tema e
apresentamos nossos objetivos;
b) o segundo captulo que traz o referencial terico adotado, sendo de
grande importncia para a fundamentao e estruturao da
dissertao;
c) o terceiro captulo que apresenta a metodologia utilizada na
elaborao dos produtos educacionais, que consistem em um texto
modificado por segmentao e uma oficina dirigida aos professores;
e analisa os resultados obtidos com aplicao do produto
educacional;
d) o quarto e ltimo captulo que traz as consideraes finais baseadas
na anlise dos captulos apresentados anteriormente.
17
2 REFERENCIAL TERICO
2.1 Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimdia (TC AM).
As pessoas aprendem melhor por meio de palavras e imagens do que
atravs apenas de palavras, esta base do princpio multimdia proposto por
Mayer (2005).
O termo multimdia muito amplo e pode ter diversas conotaes.
Mayer (2005) considera como multimdia qualquer comunicao contendo
palavras e figuras que possa levar aprendizagem, essas palavras podem ser
impressas ou faladas; nas figuras podem incluir grficos estticos tais como
ilustraes e fotos ou dinmicos como animaes e vdeos. Essa definio
ampla o suficiente para incluir captulos de livros, lies online contendo
animaes e narraes e jogos de simulao interativos como multimdia.
O objetivo da cincia multimdia, do ponto de vista da psicologia, a
combinao da compreenso de texto e figura. Isso no requer
necessariamente alta tecnologia, possvel com livros ou quadro-negro ao
invs de telas de computador, ou simplesmente com a voz no lugar de alto-
falantes (MAYER, 2005). Portanto, se um livro didtico de Biologia, como o
usado para extrair os textos desse trabalho, possui textos e figuras ele pode
ser includo como multimdia.
O aprendizado o processo de aquisio de informaes, enquanto
memria refere-se persistncia do aprendizado em um estado que pode ser
evidenciado posteriormente (SQUIRE, 1987 apud GAZZANIGA, 2006, p.320).
O aprendizado, ento, tem um resultado ao qual chamamos de memria.
Colocando isso de outra maneira, o aprendizado acontece quando uma
memria criada ou reforada pela repetio (GAZZANIGA, 2006).
Segundo Gazzaniga (2006), o aprendizado e a memria podem ser
divididos hipoteticamente nos seguintes estgios: codificao, armazenamento
e evocao. A codificao refere-se ao processamento da nova informao a
ser armazenada e envolve duas fases: aquisio e consolidao. A aquisio
registra as informaes em arquivos sensoriais e estgios de anlise sensorial,
18
enquanto a consolidao cria uma forte representao da informao atravs
do tempo. O armazenamento, resultado da aquisio e da consolidao, cria e
mantm um registro permanente. A evocao utiliza a informao armazenada
para criar uma representao consciente ou executar um comportamento
aprendido como um ato motor.
H vrios modelos diferentes e importantes de memria; Mayer (2005),
para explicar a TCAM, destaca o modelo, onde a memria dividida com base
no perodo de tempo que ela retida. Esse modelo, representado na Figura 1,
proposto por Richard Atkison e Richard Shifrin (1968), divide a memria em
trs tipos: memria sensorial, memria de curto prazo e memria de longo
prazo (STERNBERG, 2008).
FIGURA 1: Fluxo da informao do meio externo para o processo cognitivo de
interpretao da informao proposto por Atkinson e Shifffrin
Fonte: STERNBERG, 2008.
A memria sensorial um repositrio inicial de muita informao que
mais tarde entrar nas armazenagens de curto e mdio prazo (STERNBERG,
2008). Tem grande capacidade de armazenagem, mas sua durao muito
curta, medida em milissegundos ou segundos e no diretamente acessvel
conscincia. dividida em dois tipos de acordo com o canal de entrada de
informao: memria sensorial icnica registros provenientes da viso e
memria sensorial auditiva registros provenientes da audio. A memria
icnica guarda informaes por um perodo muito curto de tempo; essa
19
informao pode ser transferida a outra armazenagem ou pode ser apagada
quando uma nova informao se sobrepe antes que haja tempo suficiente
para a transferncia de informaes outra armazenagem da memria
(STERNBERG, 2008). A memria sensorial auditiva pode durar 10 segundos.
As informaes que so selecionadas da memria sensorial icnica e da
memria sensorial auditiva so passadas para a memria de curto prazo
(GAZZANIGA, 2006).
A memria de curto prazo muito limitada em capacidade, tem uma
durao de segundos a minutos e est acessvel ao processamento
consciente. Os primeiros estudos sobre memria de curto prazo levaram a
modelos importantes que propunham a existncia de estgios distintos de
processamento durante o aprendizado e a memria. Um deles o modelo
modal, proposto por Atkinson e Shiffrin (1968), segundo o qual a informao
inicialmente armazenada na memria sensorial, os itens selecionados pelos
processos atencionais podem ser transferidos para o armazenamento de curto
prazo, uma vez na memria de curto prazo, se o item for repetido, ele poder
ser transferido para a memria de longa durao.
Esse modelo ainda sugere que, a cada estgio, a informao pode ser
perdida por destruio, interferncia ou pela combinao dos dois mtodos, e
formaliza a ideia de que existem estgios distintos da memria e de que eles
tm caractersticas diferentes e uma forte estrutura serial: a informao que
atinge o registro sensorial pode ser passada para o armazenamento de curto
prazo e, s ento para a memria de longa durao. (GAZZANIGA, 2006).
medida que os estudos e pesquisas na rea de neurocognio
progrediram, surgiram outros modelos para a memria de curto prazo, nos
quais foram encontradas falhas assim como no modelo modal. Para resolver as
vrias falhas existentes no modelo de memria de curto prazo foi desenvolvido
por Baddeley (1970) o modelo de memria operacional (GAZZANIGA, 2006).
A memria operacional representa um armazenamento de capacidade
limitada de reter informao por um curto perodo e de realizar operaes
mentais com o contedo armazenado. O contedo da memria operacional
pode ser originrio das aferncias sensoriais, atravs da memria sensorial,
mas tambm pode ser evocada da memria de longa durao. Em cada caso,
a memria operacional contm informao que poder ser trabalhada e
20
processada e no simplesmente mantida para repetio, embora esse seja um
aspecto da memria operacional (GAZZANIGA, 2006). A memria operacional
destina-se a fornecer ao indivduo a capacidade de reter informaes durante
um tempo mnimo necessrio para a realizao das operaes do dia-a-dia:
compreenso dos fatos, raciocnio, resoluo de problemas, ao
comportamental e muitas outras (LENT, 2005).
A vantagem da concepo de memria operacional sobre a ideia de
memria de curto prazo, representada no modelo modal, que explica alguns
detalhes sobre a relao entre as memrias de longo e de curto prazo, alm
disso, o conceito de memria operacional, no supe um armazenamento
unitrio de curto prazo, ao contrrio, favorece o esquecimento de curto prazo e
o processamento de nova informao (GAZZANIGA, 2006).
A memria de longo prazo a informao mantida por um longo perodo
de tempo ou talvez para sempre, dependemos muito da memria de longo
prazo, pois onde se guardam informaes necessrias no cotidiano
(GAZZANIGA, 2006).
Quase toda atividade cognitiva humana determinada pela informao retida na memria de longo prazo. Aprendizagem definida como uma alterao na memria de longo prazo. Se nada foi alterado na memria de longo prazo nada foi aprendido (MAYER, 2005 p.20).
Relaes entre memria operacional e memria de longo prazo podem
ser usadas para explicar a compreenso. Compreenso ocorre quando todos
os elementos relevantes da informao podem ser processados
simultaneamente na memria operacional. Quando elementos so organizados
e combinados com esquemas retidos na memria de longo prazo, a construo
e automao dos esquemas progridem ao ponto em que todos os elementos
essenciais compreenso podem ser processados na memria operacional, a
compreenso ocorreu. (MAYER, 2005).
Segundo Mayer (2005) a arquitetura da cognio humana tem evoludo
com um conjunto de relaes entre memria de longo prazo e memria
operacional. A natureza dessas relaes prov uma pea central do
funcionamento da cognio humana e crtica para qualquer teoria de
desenvolvimento instrucional. A altura intelectual que os humanos tm
21
alcanado e pela qual eles aspiram so feitas possivelmente pela maneira em
que a informao na memria em longo prazo altera as caractersticas da
memria operacional.
Na aprendizagem multimdia os aprendizes entendem o texto e as
figuras e constroem mltiplas representaes mentais no sistema cognitivo, por
isso a psicologia cognitiva sugere que arquitetura da cognio humana inclui os
mltiplos sistemas de memria (memria sensorial, memria operacional e
memria de longo prazo) (MAYER, 2005).
A informao entra na memria operacional atravs de canais
sensoriais, um texto escrito geralmente linguagem visual lida com os olhos,
mas pode algumas vezes tambm ser lida com os dedos (pessoas cegas lendo
em Braille), o texto falado geralmente percebido pelos ouvidos, essas
informaes (verbais e pictricas), portanto, podem entrar na memria
operacional por diferentes canais sensoriais, como est representado na Figura
2. Nesse caso, so considerados dois canais sensoriais: o canal visual, que
converte a informao do olho para a memria operacional visual e o canal
audvel, que converte a informao dos ouvidos para a memria operacional
audvel. Para que ocorra a compreenso dos textos e figuras cujas informaes
entraram pelo sistema sensorial necessrio que exista um conhecimento
prvio que fica armazenado na memria de longo prazo. (MAYER, 2005).
FIGURA 2: Percurso da informao para a memria ope racional
Fonte: GOMES, 2009.
Para que ocorra a compreenso de um texto escrito como o que foi
utilizado neste trabalho, a informao verbal visual entra pelo registro visual
atravs dos olhos e encaminhada atravs do canal visual para a memria
22
operacional. Um filtro verbal seleciona as informaes verbais da memria
operacional visual e segue atravs do canal verbal para a memria operacional
proposicional, onde desencadeia a informao da proposio, que na volta
desencadeia a construo ou a elaborao de um modelo mental. Quando o
material verbal entrar, atravs do canal visual, as palavras tomam um caminho
complexo atravs do sistema, e competem pela ateno com a ilustrao que o
aprendiz tambm est processando atravs do canal visual (MAYER, 2005).
A utilizao de textos escritos proporciona um maior controle sobre o
processamento cognitivo, pois estes possibilitam que o aprendiz volte atrs
quantas vezes for necessrio para reler passagens difceis ou que no foram
compreendidas em uma primeira leitura, o que no possvel quando um texto
falado. Esta vantagem do texto escrito sobre o falado chamada de princpio
do controle do processamento, este especialmente importante quando os
textos so de difcil compreenso e o tempo de aprendizado no limitado,
pois permite que o aprendiz tenha controle do seu ritmo de processamento
cognitivo (MAYER, 2005).
Para que ocorra aprendizado significativo quando se utiliza uma
ferramenta multimdia, o aprendiz deve se engajar em cinco processos
cognitivos: selecionar palavras relevantes para processar na memria
operacional verbal; selecionar imagens relevantes para processar na memria
operacional visual; organizar as palavras selecionadas dentro de um modelo
verbal; organizar as imagens selecionadas dentro de um modelo pictorial; e
integrar as representaes verbais e pictoriais com conhecimento anterior.
Esses processos no ocorrem necessariamente na ordem apresentada, um
aprendiz deve se mover de processo em processo de formas diferentes
(MAYER, 2005).
A aprendizagem ocorre quando as informaes dos contedos
ministrados so processadas na memria operacional, como esta limitada,
existe uma quantidade de informao que, ao ser encaminhada para a
memria operacional, ser realmente processada levando ao aprendizado.
Esta quantidade de informao que pode ser processada pela memria
operacional denominada carga cognitiva efetiva (MAYER, 2005, p.27). H
situaes em que a complexidade e a quantidade de informao do contedo
ministrado maior que a carga cognitiva da memria operacional, nesses
23
casos denomina-se sobrecarga cognitiva intrnseca, deve-se salientar que essa
sobrecarga cognitiva pode ser inerente ao contedo ou devido ao pouco
conhecimento prvio da pessoa que est no processo de aprendizagem. Na
Biologia a sobrecarga intrnseca ocorre com frequncia devido ao grande
nmero de informaes necessrias para se compreender determinados
contedos.
Existe tambm a chamada sobrecarga cognitiva extrnseca que est
relacionada ao tipo de material didtico utilizado, no qual pode existir um
excesso de informaes inerentes compreenso do contedo, que acabam
sendo processadas pela memria operacional (MAYER, 2005 p.26, 184). Este
tipo de sobrecarga cognitiva muito comum nos livros didticos de Biologia
usados atualmente, influenciando diretamente na aprendizagem dos alunos.
Tomando como base este conhecimento, foram criados e testados
princpios que visam diminuir a sobrecarga extrnseca dos materiais didticos
e, consequentemente, amenizar a sobrecarga intrnseca para melhorar o
processamento de informaes na memria operacional e favorecer a
aprendizagem. Estes princpios so denominados princpios da TCAM. O
princpio da TCAM utilizado neste trabalho para diminuir a sobrecarga cognitiva
e que ser aqui destacado o princpio da segmentao.
O princpio da segmentao considera que uma pessoa aprende mais
quando a mensagem multimdia apresentada em segmentos (em pequenas
partes) ao invs de uma unidade contnua. A razo terica da segmentao
que a informao fragmentada, assim o aprendiz, a adquire de forma mais
lenta e tem o tempo necessrio para assimilar novas informaes e
compreend-las, cumprindo todas as etapas do processo cognitivo (MAYER,
2005).
Segmentar um texto retirado de um livro didtico de Biologia pode ajudar
muito na sua compreenso e na memorizao de informaes importantes. Os
textos desses livros so longos e com excesso de informao, ou seja, grande
quantidade de sobrecarga cognitiva extrnseca. A sua segmentao, alm de
dar ao aprendiz um tempo maior para o processamento das informaes, pode
selecionar aquelas mais importantes que vo realmente influenciar na
aprendizagem e diminuir a sobrecarga cognitiva.
24
2.2 Efeito Cognitivo da Insero de Questes em um Texto
Graesser, Len e Otero (2002) definem texto cientfico como um material
preparado por um autor com o papel primordial da difuso de novos
conhecimentos sobre a cincia. Portanto, podem ser includos nesta definio
livros didticos, artigos cientficos, manuais tcnicos, revistas, folhetos
informativos para o pblico e multimdia eletrnica na web e em CD-ROM. A
leitura desse tipo de texto demanda esforo e concentrao, no uma leitura
rpida. A maior parte dos alunos precisa gastar horas concentrados no
contedo dos livros didticos at que dominem os difceis conceitos e
mecanismos essenciais em uma cincia.
O contedo de textos cientficos tem mltiplos nveis de representao,
mas a mais importante diviso est entre o conhecimento superficial e o
profundo. Conhecimento superficial consiste em ideias mencionadas
explicitamente em um texto, que se refere a: listas de conceito, fatos simples,
definies simples de termos chave e principais passos em procedimento.
Conhecimento profundo consiste em explicaes coerentes do material que
fortalece o aprendiz para que ele possa gerar inferncias, resolver problemas,
tomar decises, integrar ideias e aplicar o conhecimento em aplicaes
prticas (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
A maior parte das teorias sobre aprendizagem atravs de textos afirma
que a compreenso resulta da interao entre o contedo proposto de um texto
e o conhecimento prvio do aprendiz. Mas no se pode deixar de considerar
que fatores contextuais que influenciam a natureza da interao do texto com o
leitor tm relao com a compreenso. Entre estes fatores est a forma em que
a situao de estudo designada e, especialmente, o objetivo que motiva o
estudo de um texto (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
A compreenso de textos instrucionais complexos requer uma estratgia
elaborada de estudo. Quando os textos so muito especficos, necessrio
estratgias ainda mais elaboradas, o que frequentemente um problema para
os alunos, por causa do conhecimento requerido para processar a informao
25
em mltiplos nveis dentro de uma memria operacional limitada. (GRAESSER;
LEON; OTERO, 2002).
A teoria proposta por Kintsch e Van DiijK (1983) quantifica os processos
psicolgicos que ocorrem quando um estudante tenta ler e entender um texto
cientfico. O texto compreendido atravs de uma srie de ciclos de processo,
durante cada ciclo o leitor adquire uma pequena quantia de informao,
aproximadamente correspondendo a uma sentena. Isto envolve construir
proposies semnticas que formam uma base para o significado da sentena,
conectando as proposies atravs de vrios tipos de ligaes e manter uma
pequena quantidade de proposies na memria operacional, com o objetivo
de conect-las para um prximo ciclo de processamento. Este processo
continua durante cada ciclo subsequente, permitindo ao leitor construir
progressivamente uma rede de contato interconectada de proposies
semnticas, ou um texto base na terminologia de Kintsch e Van DiijK (1978).
A compreenso do texto tambm envolve a recuperao do
conhecimento na memria de longo prazo do leitor. Esta recuperao
sinalizada pelos conceitos e proposies encontrados no ciclo que est sendo
processado. O conhecimento recuperado da memria de longo prazo
integrado com a informao do texto e se torna parte da representao do leitor
na memria de longo prazo (KINTSCH, 1998; KINTSCH ; VAN DIIJK, 1978;
KINTSCH ; VAN DIINK, 1983 apud GRAESSER; LEON; OTERO, 2002, p. 419-
420).
Um leitor que possui uma densa rede de contatos interconectados de
conceitos relevantes prvios para ler um texto ser capaz de us-lo como um
sistema de sinal. Este ir assegurar a difuso da ativao atravs de uma
quantia maior de conceitos na memria de longo prazo, portanto maximizando
a integrao da informao do texto com o conhecimento prvio do leitor.
Inversamente, para leitores com um baixo nvel de conhecimento prvio, a
probabilidade de ativao de informao prvia ocorre em um grau
suficientemente baixo. Por essa razo, estudantes com baixo conhecimento
vo encontrar maiores dificuldades na compreenso de textos cientficos.
(McNAMARA & KINTSCH, 1996 apud GRAESSER; LEON; OTERO, 2002,
p.420).
26
Muitos alunos possuem srias dificuldades para adquirir novo
conhecimento a partir de um texto pelo fato de no possurem muito
conhecimento prvio sobre o tpico, assim, no conseguem integrar
informao textual com sua rede conceitual. Como resultado, a representao
deles do texto gradual e eles no podem estabelecer conexes entre
pedaos distantes de informao. Mais tarde, tais estudantes podem ter
problemas de lembrar a informao que leram, consequentemente, podem no
ser capazes de usar esta informao com objetivo de responder questes,
resolver problemas, ou transferir e ger-la em novas situaes. Em outras
palavras, parte das dificuldades do entendimento de textos cientficos
atribuda a vrios processos de compreenso textual (GRAESSER; LEON;
OTERO, 2002).
Psiclogos e cientistas instrucionais propuseram vrios meios para
aliviar as dificuldades de compreenso de texto pelo aluno. Uma delas consiste
em guiar a atividade do aluno atravs da informao apropriada e/ou nveis de
processamento. A orientao geralmente fornecida pela insero de
questes no texto ou pelo pedido aos estudantes para realizar tarefas
especficas ao ler o texto. (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
2.2.1 O papel da insero de perguntas na compreens o do texto
Allen e Tnia (2002) afirmam que as perguntas so ferramentas chave
para o acesso a aprendizagem do aluno. Quando praticadas adequadamente,
perguntas podem ter um papel fundamental no desenvolvimento das
habilidades intelectuais do estudante.
O papel das perguntas na compreenso e na aprendizagem
extensivamente estudado. Perguntas so um meio de estimular e guiar
atividades que promovem aprendizagem, pois focam a ateno do leitor em
aspectos especficos de materiais a ser aprendido, ou formas especficas de
argumentao ou gerao conclusiva. Elas atuam similarmente a outros
complementos, por exemplo, direes de estudo e objetivos instrucionais. H
27
uma ampla evidncia de que uma informao complementar influencia no
processo de aprendizagem. (ROUET et al, 2001).
O efeito dos complementos instrucionais (perguntas) varia
qualitativamente em funo de um nmero de parmetros. Um primeiro
parmetro, elucidado por Rickards (1979), foi direo do efeito das perguntas
(para frente ou para trs) e o tipo de processamento que elas causaram
(especfico ou geral). Perguntas para trs (no fim da informao) motiva a
reviso mental do texto previamente lido; podem ser utilizadas como um guia
para revisar informaes importantes. As perguntas para frente (antes da
informao) foca a ateno do aluno em uma informao especfica que estar
naquela poro do texto. Perguntas especficas focam em um simples pedao
de informao, enquanto que perguntas gerais podem envolver a passagens
de todo o texto. Perguntas gerais ou de alto nvel facilitam a compreenso
mais profunda, isto , a integrao dos elementos do texto e a produo de
concluso enquanto perguntas especficas aumentam a memria para aquela
determinada informao. (RICKARDS, apud ROUET et al, 2001).
Kinniburgh e Shaw Jr.(2009) ressaltam que, alm de auxiliar os alunos
em saber como relacionar as perguntas para suas respostas, a estratgia de
relao pergunta-resposta fornece uma estrutura para a instruo estratgica
de compreenso. As perguntas colocadas antes, durante e aps a leitura
requer dos estudantes o uso de mltiplas estratgias de compreenso. Por
exemplo, os estudantes devero recordar a informao, fazer previses,
sintetizar a informao, fazer conexes e usar estruturas textuais ao responder
as perguntas. Eles iro aprender que bons leitores usam estratgias mltiplas,
frequentemente simultaneamente, na leitura de um texto para encontrar a
informao.
Uma boa vantagem de usar a estratgia de relao pergunta-resposta
que os professores tm que formular as perguntas com antecedncia e so
direcionados a criarem perguntas divergentes e bem variadas. No incio isso
requer um tempo maior de planejamento e estudo, mas os professores podem
usar o mesmo texto e perguntas com estudantes futuros. (KINNIBURGH e
SHAW JR. 2009).
28
2.2.2 Processos cognitivos de perguntas e respostas na memria
Segundo Cerdn e outros (2009), responder perguntas baseadas em
informaes do texto requer processos internos e externos, isto , processos
de pesquisa de memria e de documentos.
Quando um estudante l um determinado texto e logo aps a leitura se
faz uma pergunta especfica sobre o texto lido, que tipos de processos o
estudante tentar utilizar para fornecer uma resposta a tal questo? O
processo depende em parte da organizao da tarefa. Se o estudante
solicitado a responder somente da memria, o processo consistir em
inspecionar a representao mental do texto, recuperando a informao
relevante e construindo uma resposta. Se, entretanto, for permitido ao
estudante rever o texto com o objetivo de localizar informao relevante para a
pergunta, o processo consistir tanto da pesquisa da memria quanto da
pesquisa do texto. (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
Estudos psicolgicos sugerem que responder perguntas de memria
um processo complexo. De acordo com o modelo QUEST, de Graesser e
Franklin (1990), necessrio primeiramente identificar o tipo de pergunta, seu
foco e fontes de informao relevantes contidas nela para que se possa
formular uma resposta. No caso de perguntas sobre conceitos recentemente
aprendidos, a identificao do foco da pergunta pode ser afetada pelo processo
de baixo nvel, por exemplo, reconhecimento correto de palavras-chave
(GRAESSER E FRANKLIN apud GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
Em uma pesquisa sobre memria, as fontes de informao so
estruturas de conhecimento que podem ser exploradas para responder s
perguntas. Se a pesquisa ocorre aps ler um texto cientfico que apresenta
uma informao complexa ou no familiar, o sujeito pode ter que decidir se
pesquisar somente a sua representao do texto, se usar outra fonte de
informao disponvel, ou se usar uma base mais ampla de conhecimento.
Novamente, a seleo de uma fonte relevante na memria pode ser um
problema para leitores iniciantes. Por exemplo, foi pedido a alunos do sexto e
do oitavo ano para ler um texto de Biologia sobre tubares e responder a uma
srie de perguntas de compreenso. Inesperadamente, algumas respostas
29
continham detalhes dramticos (e irrelevantes), por exemplo, tamanho grande,
inteligncia e temperamento vingativo dos tubares, uma tentativa de
explicao foi encontrada quando se descobriu que o filme Tubaro foi
assistido na TV pela maioria dos sujeitos na noite anterior ao experimento.
Somente um participante do oitavo perguntou se era obrigatrio responder
baseado no texto ou se eles poderiam usar seus prprios conhecimentos
tambm. A observao posterior sugere que a seleo de uma fonte de
informao apropriada pode depender da habilidade metatextual do estudante,
por exemplo, o conhecimento deles de que vrias fontes existem e que elas
no so igualmente teis ou relevantes. (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
De acordo com o modelo QUEST, perguntas diferem no tamanho pela
necessidade da estrutura conceitual para construir uma resposta. Perguntas
simples focam em um simples conceito ou proposio semntica, enquanto
que perguntas complexas focam numa estrutura conceitual mais ampla.
Para responder a uma questo segundo o modelo QUEST tudo se inicia
com a ativao do seu conhecimento, que na maior parte das vezes ocorre a
partir da identificao de algum termo familiar na pergunta, posteriormente,
continua atravs de um mecanismo de radiao chamado processo de busca
de arco. A busca de arco permite a propagao da ativao atravs de uma
rede de contatos de conhecimento, baseada nas restries especificas, para
cada tipo de pergunta, por exemplo, perguntas com como chama pela
pesquisa de antecedentes causais ou objetivos subordinados. A busca de arco
reduz o espao da pesquisa atravs da identificao dessas juntas de
conhecimento que pode ser escolhido por uma resposta. O espao da pesquisa
mais reduzido pela propagao da restrio e regras pragmticas.
Modelos como o QUEST mostram o efeito de perguntas inseridas no
texto na aprendizagem, pois, devido s limitaes do conhecimento dos
estudantes e dos recursos de processos delineado na sesso prvia, uma
simples leitura do texto cientfico pode no ser o suficiente para estabelecer
conexes entre as informaes distantes no texto. As perguntas nos textos
permitem aos estudantes reativar seletivamente parte da informao (a
informao atua como um sinal de recuperao), e para reforar a conexo
entre os pedaos de informao necessrios para responder. (GRAESSER;
LEON; OTERO, 2002).
30
2.2.3 O processo cognitivo do texto baseado em perg unta e resposta
Dependendo do tipo da pergunta utilizada como complemento
instrucional, a pesquisa pode envolver processos de compreenso superficiais
ou profundos. Imagine que algum pede a um estudante para pesquisar o texto
do modelo atmico com o objetivo de localizar o tipo de partculas usadas no
experimento de Rutherford, baseado na anlise do foco da pergunta, o
estudante pode esperar que o alvo seja um nome ou um cdigo que ir
aparecer mais provavelmente ao lado da palavra partcula. Isto define um
critrio bastante preciso que pode ser encontrado sem o uso da leitura
profunda e dos processos de compreenso (pelo menos quando a resposta
est explcita no texto).
Por outro lado, usar a informao do texto para comparar os modelos
atmicos de Rutherford e de Thompson ir requerer do estudante a
reconstruo de representaes coerentes das propriedades respectivas dos
dois modelos atravs de uma cuidadosa releitura de passagens relevantes do
texto. Quanto mais cedo o estudante perceber que ser necessrio estabelecer
conexes entre os dois macro componentes da representao mental, ele far
uma leitura do texto com maior ateno para absorver todas as informaes
necessrias (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
H evidncias que analisar o texto com o objetivo de responder
perguntas uma atividade de aprendizagem efetiva. Pesquisas evidenciaram
que estudantes que reviram o texto com o objetivo de checar a correo de
suas respostas obtiveram melhores pontuaes na mesma questo repetida
mais tarde, comparado a estudantes que receberam retorno externo ou
nenhum retorno em suas respostas. Uma importante condio para que a
pesquisa do texto seja efetiva que uma resposta explcita tem que ser
construda pelo aluno utilizando as informaes contidas no texto e quando
possvel relacionando com as informaes que j possui e esto armazenadas
em sua memria (conhecimento prvio) (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
31
Perguntas e respostas como parte de uma tarefa de estudo do texto
um eficiente meio para melhorar a compreenso dos estudantes e, pesquisar
um texto para encontrar informao relevante, pode ser uma atividade bem
complexa dependendo do tipo de questes, comprimento, complexidade do
texto a ser pesquisado e outros fatores (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
A distino entre perguntas de alto nvel versus as de baixo nvel tem
sido usada frequentemente na literatura. Perguntas de alto nvel so
frequentemente definidas como perguntas que focam em uma ampla
quantidade de conceitos, por exemplo, um pargrafo ou uma seo de um
texto, enquanto perguntas de baixo nvel focam em uma simples proposio ou
sentena. Outra forma de olhar para a distino entre perguntas de alto e de
baixo nvel a quantidade de argumentao ou concluso por parte do leitor.
Algumas perguntas podem ser respondidas pelo uso de informao encontrada
explicitamente no texto, enquanto outras requerem que o leitor projete a
informao textual e o conhecimento prvio dele. Na prtica, perguntas de alto
e baixo nvel frequentemente diferem de acordo com a quantidade de
informao, tipo de informao e o tipo de processamento requerido, sem a
tentativa de isolar estas distines (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
Cerdn e outros (2009) definem questes de alto nvel como sendo
aquelas nas quais a resposta no est explicitamente estabelecida no texto,
mas requerem integrao atravs de vrios pargrafos; perguntas de baixo
nvel so aquelas nas quais a resposta pode ser localizada em segmentos
especficos do texto e pode ser extrada por uma cpia ou fazendo inferncias
mnimas atravs de frases fechadas.
As diferenas de processos entre perguntas de alto e de baixo nvel so
mais bem avaliadas atravs da medida de suas respectivas demandas de
ateno. Halpain e outros (1985) conduziram cinco experimentos com o
objetivo de estudar a influncia do tipo de questo na distribuio dos recursos
cognitivos durante a leitura. Eles apresentaram a estudantes universitrios um
texto explcito de mil e duzentas palavras em que as perguntas de alto e baixo
nvel, de acordo com os contedos de cada pargrafo, foram inseridas.
Usando um segundo mtodo de tarefa, Halpain e outros descobriram
que ler um pargrafo introduzido por perguntas de alto nvel necessitou de
perguntas de baixo nvel. O autor tambm descobriu que, quando as perguntas
32
foram apresentadas aps o pargrafo correspondente, a leitura de perguntas
de alto nvel usa mais recursos do que a de perguntas de baixo nvel. Esta
diferena desapareceu quando perguntas foram apresentadas antes dos
pargrafos relevantes. Assim, quando os estudantes no tiveram
oportunidades de ler o texto antes das perguntas, a quantidade de recursos
destinada a perguntas de alto e baixo nvel no se diferenciaram.
Estas descobertas confirmam a viso de que a colocao de perguntas
de alto nvel posteriormente requer do leitor, revisar e integrar vrios elementos
do texto, criando mais conexes na memria de longo prazo. De acordo com
esta viso, o processo de responder texto baseado em perguntas de alto nvel
requer mais consumo de informao, mas promove uma compreenso mais
profunda, e que as questes de baixo nvel so tambm importantes, pois,
promovem uma melhoria na memria do estudante para os pontos principais
do texto (GRAESSER; LEON; OTERO, 2002).
Para que um aluno responda uma pergunta de baixo nvel ser
necessrio que ele consulte um nmero menor de trechos do texto, porm,
estes trechos so analisados por um perodo de tempo maior para que ele
consiga achar a informao alvo. Rouet e outros (2001), afirmam que nessa
situao o aluno utiliza uma estratgia de localizao e memorizao, na qual
os alunos tentam extrair de um pedao especfico do texto a informao e
ento memoriz-la antes de formularem a resposta.
Os benefcios das questes de alto nvel podem aparecer apenas
quando o leitor solicitado a realizar tarefas cognitivamente exigentes, tais
como uma compreenso aprofundada. (CERDN et al., 2009).
Rouet e outros (2001) sugerem que a localizao de informao e a
compreenso da leitura so dois aspectos de uma categoria mais geral que
pode ser chamada de tarefas de informao, ou tarefas que exigem que os
indivduos utilizem uma fonte de informao externa para responder uma
pergunta ou solucionar um problema.
Saber quando e como utilizar um texto para responder uma pergunta
uma habilidade que pode ser treinada atravs de instruo direta. Supondo que
o aprendiz esteja consciente das demandas da tarefa, algumas tarefas
promovem processos de reviso e integrao que facilitam a compreenso
aprofundada. Quando utilizamos textos para fins instrucionais, tais tarefas
33
podem ser usadas para organizar as estratgias de compreenso dos
estudantes.
Existe, portanto, uma ampla evidncia de que quando se utiliza
perguntas inseridas em um texto, estas facilitam sua compreenso e
memorizao de novas informaes, principalmente quando elas promovem a
produo de inferncias ou de integrao de elementos do texto.
A incorporao das habilidades de compreenso de leitura e estratgias
na instruo cientfica atravs de uso da estratgia de perguntas e resposta
para estudantes tornaro os alunos leitores mais estratgicos de textos
cientficos e de outros tipos de textos usados na sua vida escolar o que
certamente, contribura para a melhoria da sua aprendizagem.
34
3 O PRODUTO
De acordo com os objetivos propostos, foi escolhido um texto de um livro
didtico que foi modificado, ou seja, foi segmentado com a introduo de
questes. Este texto foi aplicado aos alunos, que o utilizaram como fonte de
estudo para um teste. Os resultados obtidos com o estudo do texto e os testes
feitos pelos alunos aps analisados serviram de base para a elaborao de
uma oficina para professores, a fim de apresentar e discutir a metodologia
utilizada.
3.1 A Modificao do Texto
O primeiro passo para iniciar o trabalho foi escolher o livro didtico e o
texto que seria utilizado. O livro foi Biologia- Volume nico da Snia Lopes e
Srgio Rosso. Esse livro foi escolhido porque faz parte do Programa Nacional
do Livro Didtico para o Ensino Mdio (PNLEM) e por ser o adotado na maioria
das escolas pblicas da cidade de Paracatu, MG.
O texto utilizado deste livro foi sobre aves (ANEXO A) e ser
denominado doravante texto original. A escolha foi motivada pelo seguinte
fator: de acordo os referenciais tericos adotados neste trabalho, importante
considerar o conhecimento prvio do aluno no processo de compreenso de
um texto, assim era necessrio que se escolhesse um assunto que os alunos j
conhecessem. Como na poca em que o texto foi aplicado eles estudavam
sobre aves, foi feita a opo por usar um texto que abordava este tema.
Uma vez escolhido o texto, foi feita uma anlise, para detectar a
ocorrncia de sobrecarga cognitiva, e identificar as informaes mais
importantes, aquelas essenciais para os alunos aprenderem o contedo. O
objetivo ao modificar o texto era que estas informaes importantes ficassem
retidas na memria dos alunos, e que informao desnecessria fosse
desconsiderada, reduzindo assim a sobrecarga cognitiva.
35
Para reduzir a sobrecarga cognitiva do texto, optamos por segment-lo,
pois, de acordo com Mayer (2005), quando a informao fragmentada, o
aprendiz adquire esta de forma mais lenta, e tem o tempo necessrio para
assimilar novas informaes e compreend-las, cumprindo todas as etapas do
processo cognitivo, princpio da segmentao da TCAM.
A segmentao foi feita atravs da insero de questes ao longo do
texto. Essas foram inseridas nos locais onde existiam as informaes que
julgamos ser importantes no texto, ou seja, informaes essenciais para
compreenso daquele assunto de acordo com minha experincia docente ao
trabalhar este contedo em sala de aula. A opo por segmentar o texto
utilizando questes foi feita com base em artigos que constam no referencial
terico do trabalho, que afirmam que a introduo de perguntas um meio de
estimular e guiar atividades que promovem aprendizagem, pois focam a
ateno do aluno em aspectos especficos do texto a ser aprendido.
Ainda de acordo com o referencial terico adotado, as perguntas podem
ser inseridas de duas formas no texto: antes ou depois da informao que se
deseja que seja armazenada na memria. Na minha experincia de docncia
sempre observo que quando se fornece uma pergunta a um aluno previamente
e se pede a ele para procurar a resposta em um texto, na maioria das vezes o
ele no faz a leitura de todo o texto, tenta simplesmente localizar a informao
que necessita para responder a pergunta. Esse tipo de atitude pode prejudicar
a compreenso do texto. Por esse motivo, optamos por inserir as questes
sempre aps a informao que desejamos que seja armazenada, isso permite
ao aluno uma reviso mental do texto que j foi lido e faz com releia
determinados trechos onde esto as respostas quase que automaticamente, e
sabemos que esta releitura da informao facilitar sua assimilao.
De acordo com referencial terico consultado, as perguntas utilizadas
podem ser de dois tipos: Perguntas especficas ou de baixo nvel, que focam
em uma informao simples favorecendo sua entrada na memria, ou
perguntas gerais ou de alto nvel, que podem envolver passagens de todo o
texto e facilitam a compreenso mais profunda, isto , a integrao dos
elementos do texto e a produo de concluso. Optamos por utilizar os dois
tipos de perguntas, mas a maior parte delas foi especfica ou de baixo nvel, o
36
que permitiu que pudssemos avaliar a capacidade de reteno da informao
na memria (memorizao).
O texto alterado por segmentao apresentado no APNDICE A e
ser denominado texto modificado. importante salientar que nenhuma
informao foi retirada do texto, apenas segmentamos o mesmo utilizando
questes.
Para exemplificar a segmentao, apresentamos a seguir um trecho do
texto original e como ele foi segmentado atravs da insero de uma questo:
O esqueleto das aves atuais formado em grande parte por ossos ocos (ossos pneumticos), que so pouco densos e delicados. H reduo e fuso de ossos, o que torna o corpo compacto. A cauda reduzida e as cinturas escapular e plvica so fundidas coluna vertebral. (LOPES; ROSSO, 2005).
Pergunta introduzida aps este pargrafo:
Qual a importncia dos ossos pneumticos?
Com a introduo da questo qual a importncia dos ossos
pneumticos? pretendamos que, em um pargrafo onde so mencionados
vrios ossos e modificaes do esqueleto da ave, fosse destacado que a ave
tem um tipo especial de estrutura ssea bem como sua importncia para o voo
e que esta informao fosse armazenada pelo aluno.
3.2 Aplicao dos Textos e Testes para os Alunos
A aplicao dos textos (original e modificado) e do teste de reteno
para avaliar a aprendizagem foi realizada com alunos com idades entre 15 e 17
anos da segunda srie do Ensino Mdio do Colgio Atenas. O Colgio Atenas
faz parte da rede particular de ensino da cidade de Paracatu, MG. uma
instituio de referncia na cidade que atende da Educao Infantil ao Ensino
Mdio, onde os alunos em sua maioria so de classe mdia. Com apenas 13
anos de existncia, esse colgio prope cidade de Paracatu uma educao
de qualidade, no se constituindo em mero estabelecimento de informaes e
37
sim, preocupando-se com a formao geral do aluno e com a formao
continuada dos seus professores. Esta escola foi escolhida para realizao do
trabalho porque alm de trabalhar na instituio por oito anos, ela forneceu
todo suporte e incentivo necessrios para concluso deste trabalho.
O trabalho foi realizado em duas turmas da segunda srie do Ensino
Mdio, turmas que, se comparado o desempenho geral de seus alunos, podem
ser consideradas homogneas. Essas turmas foram identificadas como Turma
A e Turma B. Na Turma A 43 alunos participaram do trabalho e na B 45 alunos.
Em um primeiro momento foi distribudo para cada aluno uma cpia do
texto sobre aves, bom lembrar que os alunos j tinham conhecimento prvio
do assunto do texto, pois o mesmo tinha sido trabalhado pelo professor na
semana anterior ao nosso teste. Os alunos da Turma A receberam o texto
original e os alunos da Turma B receberam o texto modificado.
Em ambas as turmas o procedimento foi o mesmo, foi pedido que eles
estudassem o texto recebido, como se fossem estudar para uma avaliao,
sem limite de tempo. Foi informado que, aps o estudo, fariam uma avaliao
sobre o texto estudado.
FIGURA 3: Foto dos alunos da Turma A fazendo o estu do do texto original
Fonte: Arquivo pessoal.
38
O estudo do texto transcorreu de maneira tranquila (Figuras 3 e 4), todos
os alunos seguiram exatamente as instrues que foram dadas. O tempo gasto
por eles no estudo foi varivel, um aluno da Turma A ficou apenas dez minutos
com o texto, enquanto outro da Turma B gastou cerca de uma hora e quinze
minutos. A mdia de tempo de estudo dos textos para as duas turmas foi de 50
minutos.
FIGURA 4: Foto dos alunos da Turma B fazendo o estu do do texto modificado
Fonte: Arquivo pessoal.
Aps fazerem o estudo de texto e julgarem estarem prontos para fazer
uma avaliao sobre ele, os alunos foram organizados na sala conforme o
procedimento da escola para avaliao. Todos foram submetidos a um teste
(APNDICE B) que constou de sete questes, e para cada resposta correta foi
atribuda um ponto totalizando, portanto, o valor de sete pontos para o teste.
Vale ressaltar que as questes do teste eram todas discursivas e eram
idnticas as questes utilizadas no texto modificado.
Os alunos fizeram o teste (Figura 5) com seriedade e responsabilidade,
como se estivessem fazendo uma avaliao da prpria escola.
39
FIGURA 5: Foto dos alunos da Turma B fazendo o test e avaliativo sobre o texto estudado
Fonte: Arquivo Pessoal.
3.3 Anlise dos Resultados da Aplicao do Teste p ara os alunos
Os textos foram estudados por um total de 88 alunos da segunda srie
do Ensino Mdio, 43 alunos da Turma A estudaram o texto original e 45 alunos
da Turma B estudaram o texto modificado, ou seja, segmentado pela insero
de questes. O teste aplicado aos alunos aps estudo dos textos foi o mesmo
para as duas turmas (APNDICE B), conforme colocado na metodologia, cada
questo do teste foi valorizada em 1,0 ponto e, portanto, a nota mxima para o
teste foi de 7,0 pontos.
A Tabela 1 mostra as notas alcanadas pelos alunos da Turma A (texto
original) no teste. possvel perceber que a maior parte da turma (46,5%)
atingiu nota prxima da mdia de 60% exigida pelo colgio (4,2 pontos), 17
alunos (em azul) atingiram nota inferior mdia exigida e apenas dois alunos
conseguiram acertar 100% do teste (em vermelho).
40
TABELA 1
Notas alcanadas pela turma A no teste
Aluno Nota Aluno Nota Aluno Nota Aluno Nota Aluno Nota Aluno Nota
1 4,0 9 4,0 17 6,2 25 4,2 33 4,5 41 3,0
2 5,0 10 3,5 18 2,0 26 5,6 34 4,0 42 4,0
3 5,0 11 5,0 19 4,2 27 6,0 35 4,3 43 4,0
4 6,3 12 4,0 20 4,3 28 3,7 36 5,3 5 3,2 13 3,5 21 5,0 29 2,0 37 3,0 6 7,0 14 3,0 22 4,0 30 5,5 38 4,3 7 5,0 15 4,5 23 4,5 31 4,5 39 5,5 8 4,0 16 4,5 24 3,0 32 7,0 40 5,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2009.
As informaes da Tabela 1 esto apresentadas no Grfico 1 que
permite uma melhor visualizao da relao entre o nmero de alunos e as
notas alcanadas pelos alunos da Turma A que estudaram o texto original.
GRFICO 1: Relao Nmero de aluno/ Nota do teste o btida pelos alunos da Turma A.
Fonte: Dados da pesquisa, 2009.
A Tabela 2 mostra as notas alcanadas pela Turma B (texto modificado)
no teste. possvel perceber que as notas obtidas pelos alunos da turma B
foram superiores as da Turma A. Verifica-se que mais da metade da turma
(57,7%) atingiu nota acima de 80% (5,6 pontos), cinco alunos acertaram 100%
41
do teste (em vermelho) e apenas quatro alunos ficaram com nota inferior a 60%
mdia (4,2 pontos) (em azul).
TABELA 2
Notas alcanadas pela turma B no teste.
Aluno Nota Aluno Nota Aluno Nota Aluno Nota Aluno Nota Aluno Nota
1 5,6 9 1,4 17 7,0 25 5,0 33 5,6 41 5,0
2 7,0 10 6,5 18 6,0 26 5,6 34 6,0 42 4,6
3 5,6 11 6,5 19 4,6 27 3,7 35 6,0 43 5.6
4 5,6 12 5,6 20 5,6 28 5,3 36 6,0 44 3,7
5 5,6 13 5,0 21 5,0 29 3,2 37 4,6 45 5,0
6 5,6 14 7,0 22 7,0 30 5,6 38 4,6 7 6,0 15 6,0 23 5,0 31 5,0 39 5,0 8 6,0 16 4,6 24 6,5 32 7,0 40 5,0
Fonte: Dados da pesquisa, 2009.
O Grfico 2 permite ter uma melhor visualizao da relao entre o
nmero de alunos e as notas alcanadas pelos alunos da Turma B, que
estudaram o texto modificado, condensando as informaes da Tabela 2.
GRFICO 2: Relao Nmero de aluno/ Nota do teste o btida pela Turma B.
Fonte: Dados da pesquisa, 2009.
Foi feito o clculo da mdia final obtida pelas turmas: a mdia da Turma
A foi de 4,42 e a da Turma B foi de 5,41. A partir desses resultados foi feito um
42
grfico (Grfico 3) comparativo com a insero das barras de erros de cada
mdia. As barras do erro podem ser utilizadas para comparar valores, para
determinar se a diferena entre eles estatisticamente significativa. Como
pode ser visto pelas barras de erro apresentadas no grfico 3, a diferena das
mdias das Turmas A e B significativa.
GRFICO 3: Barra de Erros - Mdia de Notas Turmas A e B.
Fonte: Dados da pesquisa, 2009.
Para comprovar que a diferena entre os resultados do teste foi
realmente significativa foram realizados testes estatsticos utilizando o
programa SPSS1, salientamos que como o programa usa a lngua inglesa, os
grficos apresentados a seguir esto em ingls.
As notas dos testes dos alunos das Turmas A e B apresentam
distribuio normal como se pode observar nos Grficos 4 e 5.
1 SPSS Statistical Package for the Social Sciences - Programa para anlise estatstica nas Cincias Sociais
43
GRFICO 4: Distribuio normal das notas dos alunos da Turma A.
Fonte: Dados da pesquisa, 2009.
GRFICO 5: Distribuio normal das notas dos alunos da Turma B.
Fonte: Dados da pesquisa, 2009.
O fato de a distribuio ser normal permite a utilizao do Teste t para a
anlise dos dados. Quando o valor de Sig (2-tailed) menor do que 0,05 as
amostras so diferentes e, quando o valor de Sig (2-tailed) maior do que
0,05, as amostras so iguais. A anlise dos dados utilizando a mdia das notas
44
obtidas nos testes mostrou uma diferena estatisticamente significativa entre
elas, pois, o valor de Sig (2-tailed) foi menor do que 0,05 (destaque em
vermelho). O Teste t (Tabela 3) indica que as amostras so diferentes.
TABELA 3
Teste comparativo entre as notas das Turmas A e B.
Test Value = 0
95% Confidence Interval of the Difference
t df Sig. (2-tailed) Mean
Difference Lower Upper
A 24,552 42 0,00 4,23256 3,8847 4,5805
B 28,781 44 0,00 5,11111 4,7532 5,4690
Fonte: Dados da pesquisa, 2009.
Em outro estudo estatstico foi feito a distribuio das frequncias das
notas das Turmas A e B, como mostrado nos Grficos 6 e 7. Observa-se que a
frequncia de notas acima da mdia do teste (4,2) da Turma B foi superior a da
Turma A.
GRFICO 6: Frequncia das notas dos alunos da Turma A.
Fonte: Dados da Pesquisa, 2009
45
GRFICO 7: Frequncia das notas dos alunos da Turma B.
Fonte: Dados da Pesquisa, 2009
Os resultados dos estudos estatsticos apresentados acima mostram
que as notas dos testes da Turma B foram superiores s notas dos testes da
Turma A. Como o teste aplicado se tratava de um teste de reteno, os
resultados obtidos permitem inferir que os alunos que estudaram o texto
segmentado pela insero de questes conseguiram reter melhor as
informaes do texto em sua memria.
Segundo Gazzaniga (2006), a aprendizagem est diretamente ligada
aquisio de informaes, desde que essas sejam processadas na memria
operacional. O aprendizado, ento, tem um resultado ao qual chamamos de
memria. Colocando isso de outra maneira, o aprendizado acontece quando
uma memria criada ou reforada pela repetio.
A maior reteno de informaes na memria verificada pelos alunos da
Turma B provavelmente se deve ao fato deles terem obtido as informaes
fragmentadas (segmentadas) e as questes os fizeram reler os mesmo trechos
vrias vezes, como um exerccio de repetio. Isso permitiu aos alunos um
tempo maior para o processamento das informaes e tambm para a seleo
das informaes mais importantes do texto, o que vai contribuir para a reduo
da carga cognitiva e influenciar diretamente na aprendizagem.
46
Ao final da aplicao do teste para a Turma B, foi solicitado aos alunos
que escrevessem sua opinio sobre o estudo de um texto segmentado com a
insero de questes. A seguir apresentamos alguns relatos com as
impresses dos alunos.
A aluna 1 acha que o mtodo ajuda na memorizao, interpretao, mas
acha que se todo material didtico fosse assim poderia se tornar cansativo.
muito interessante, porque durante as aulas eu e uns alunos conversamos com o outro professor sobre o texto, e chegamos seguinte concluso: As perguntas, do modo como vieram dispostas, fizeram com que os alunos criassem o hbito de voltar ao texto para buscar as respostas. O que incita o aluno a aprender sobre interpretao, fundamental em qualquer matria. Eu acredito que, naquele ato de memorizao "rpida", e pra quem percebeu que as respostas estavam atrs das perguntas, o mtodo foi muito til. Entretanto no sei se gostaria de ter um material didtico dessa forma, porque ficaria um pouco cansativo ou at confuso para quem l medida que essa pessoa j sabe interpretar. (Aluna 1).
Outro aluno frisou que gostou principalmente porque o texto segmentado
com questes ajuda a fixar ateno e diminui a disperso durante a leitura.
[...] as perguntas daquele exerccio ficou muito bom do jeito que voc colocou l no meio do texto, pois em alguns textos (especialmente os mais extensos) qualquer pessoa s vezes se distrai ou pensa em algo quando esta estudando o pargrafo e deixa informaes passarem despercebidas, se as perguntas ficassem no final acho que no daria o mesmo resultado do que como voc fez. Assim quando algum l a pergunta no meio j olha o que no prestou ateno ou no apreendeu e l novamente para responder a pergunta. (Aluno 2)
A maior parte dos alunos destacou em seus depoimentos que o texto
segmentado com questes facilitou a memorizao e melhorou a fixao da
sua ateno e compreenso do texto.
3.4 Realizao da Oficina com os Professores
Utilizando o referencial terico deste trabalho e a anlise dos resultados
do teste realizado com os alunos, foi desenvolvida uma oficina com professores
47
de Biologia para apresentar e discutir a metodologia de segmentao de textos
atravs de perguntas.
Segundo Afonso (2006), oficina um termo aplicado s situaes mais
diversas, designando, geralmente, cada encontro em um trabalho em grupo.
um trabalho estruturado com grupos, independente do nmero de participantes
e do nmero de encontros, onde foca-se em torno de uma questo central que
o grupo se prope a elaborar. Um ponto importante das oficinas, ainda
segundo a autora, que durante o desenvolvimento desse tipo de trabalho
ocorre a exposio de laos afetivos e de vivncias com o tema a ser discutido.
As oficinas pedaggicas constituem uma metodologia voltada para a
formao de profissionais, de um modelo epistemolgico que promova a
transformao da realidade e para a construo criativa coletiva do
conhecimento pelos estudantes e educadores (MOITA; ANDRADE, 2006).
Bazin (1998) esclarece que as oficinas devem ser utilizadas como
ferramentas para ensinar com respeito, favorecendo a aprendizagem de cada
aluno e em interao com eles.
O tema geral da oficina chamado de foco e essencial que este tenha
relao com o cotidiano do grupo e que no seja apresentado de forma
intelectualizada, utilizando linguagem estranha ao envolvidos (AFONSO, 2006).
Por isso optamos em realizar a oficina com professores de Biologia atuantes no
Ensino Mdio, que lidam no seu cotidiano com o tema a ser abordado.
A oficina foi realizada nas dependncias da Escola Estadual Affonso
Roquette no dia 02 de setembro de 2010. Participaram da oficina quatro
professores, trs da Escola Estadual Affonso Roquette e um do Colgio Atenas
(Figura 6).
O tema da oficina foi Segmentao do Texto de Biologia Atravs da
Insero de Questes de Biologia: efeitos sobre a aprendizagem. A oficina
teve durao de cerca de quatro horas e foi dividida em trs momentos:
a) 1 momento: incio da oficina, onde foi colocado aos professores toda
base terica na qual se apoia o trabalho. Posteriormente foi falado
sobre o texto modificado atravs da segmentao com a introduo
de perguntas. Foram explicados os passos para a elaborao do
texto modificado e, para finalizar este momento, foi apresentado o
48
resultado do teste feito pelos alunos aps o estudo dos textos original
e modificado por segmentao. A apresentao e discusso foram
apoiadas em slides confeccionados em PowerPoint (APNDICE C);
b) 2 momento: foi entregue a cada professor texto original que foi
trabalhado com os alunos. Foi solicitado que eles analisassem o
texto a fim de selecionarem as informaes que julgassem realmente
importante para que os alunos aprendessem o contedo do texto em
questo. Depois foi solicitado que, usando os critrios que j haviam
sido expostos, fizessem a segmentao do texto utilizando perguntas
com o objetivo de trabalhar o texto com seus alunos em sala aula.
Por ser um grupo pequeno houve muita discusso durante as
atividades, principalmente, durante a seleo das informaes que
julgavam importantes. E aps cada professor segmentar seu texto,
comparam as formas como cada um fez a segmentao e discutiram
a melhor forma de segmentar o texto para ser utilizado por seus
alunos;
c) 3 momento: os professores responderam a um questionrio
(APNDICE D) com o objetivo de coletar opinies, impresses e
sugestes sobre oficina e sobre a metodologia apresentada.
49
FIGURA 6: Foto dos professores participando da ofic ina.
Fonte: Arquivo pessoal.
3.5 Resultados da Avaliao da Oficina pelos Profes sores
A oficina SEGMENTAO DO TEXTO DE BIOLOGIA ATRAVS DA
INSERO DE QUESTES: EFEITOS SOBRE A APRENDIZAGEM teve a
participao de quatro professores de Biologia. Estes professores, possuem
em mdia dez a doze anos de experincia em docncia e, portanto, j
possuem grande bagagem sobre os problemas enfrentados no ensino-
aprendizagem de Biologia.
No primeiro momento da oficina, quando foram expostas as bases
tericas do trabalho, os motivos que levaram a sua origem e foi ensinada a
metodologia utilizada para fazer a segmentao do texto com questes, houve
uma grande participao dos professores, com discusses sobre o assunto,
sugestes, crticas e troca de vivncias entre eles. Foi um momento muito
agradvel onde todos com certeza aprenderam um pouco mais e ficaram muito
50
entusiasmados quando os resultados do teste aplicado aos alunos foram
apresentados.
O segundo momento da oficina foi tambm muito participativo, os
professores individualmente receberam o texto original sobre aves e, aplicando
o que havia sido ensinado no primeiro momento da oficina, o segmentaram
introduzindo questes. Cada professor primeiro fez uma leitura atenta do texto
original e todos, sem exceo, comentaram que algumas informaes eram
totalmente desnecessrias para um aluno da segunda srie do Ensino Mdio,
mostrando que visualizaram no texto sobrecarga cognitiva. A seguir, discutiram
quais as informaes eram mais relevantes no texto e que deveriam ser
assimiladas pelos alunos. A partir dessas discusses cada um passou a fazer a
segmentao do texto atravs da insero de questes.
Interessante ressaltar que cada professor segmentou o texto de maneira
diferente, usando questes muitas vezes semelhantes, mas, em nenhum
momento, idnticas. Levaram de sessenta minutos a uma hora meia para
executar a segmentao do texto e utilizaram tanto questes especficas
quanto gerais que foram adicionadas sempre aps a informao que as
respondia. O nmero de questes inseridas no texto, e consequentemente o
nmero de segmentos, tambm variou para cada professor e se diferenciou do
texto modificado utilizado na nossa pesquisa, como podemos observar no
Grfico 8.
O fato de cada professor ter segmentado o texto de forma diferente,
significa que cada um tem uma maneira diferente de abordar o mesmo
assunto, essa forma muitas vezes est ligada ao tipo de aluno e escola que
trabalham. Todos conseguiram fazer a segmentao com tranquilidade, sem
grandes dificuldades, o que sugere que esta metodologia fcil de ser aplicada
na prtica docente.
51
GRFICO 8: Comparao entre o nmero de questes in seridas para segmentar o texto
pelos professores participantes da oficina e no tex to modificado na no nossa pesquisa.
Fonte: Dados da pesquisa, 2010.
A oficina foi finalizada com a aplicao de um questionrio (APNDICE
D), respondido por todos os professores participantes, para coletar opinies,
impresses e sugestes sobre oficina e a metodologia utilizada. A partir das
respostas avaliamos a metodologia de segmentao de texto apresentada.
Quando questionados sobre a frequncia com que utilizam textos para
trabalhar com seus alunos, todos responderam que sempre trabalham, que
um tipo de atividade comum e, entre os tipo de textos trabalhados por eles,
foram mencionados, em primeiro lugar, citado por 100% dos professores, os
textos dos livros didticos, textos informativos de revistas de circulao
nacional, apenas um professor citou textos de revistas especializadas.
A pergunta seguinte do questionrio se referia aos critrios utilizados por
eles para inserir as questes no texto utilizado na oficina, e todos responderam
de forma semelhante. Relatam que o principal critrio utilizado foi a seleo
dos pontos do texto onde julgavam ter as informaes mais importantes e
relevantes para os alunos.
Posteriormente foram feitas perguntas diretamente relacionada
metodologia de segmentao de texto pela insero de questes. Todos os
52
professores concordaram que essa metodologia pode ajudar no seu trabalho e
facilitar a aprendizagem dos alunos. Abaixo exemplificamos duas justificativas:
O aluno estar sempre revisando o contedo, isto , sempre que se depara com uma nova questo, isto faz com que ele memorize melhor e no tenha uma sobrecarga de informao. (Professor 1)
Facilitar na compreenso das informaes e ajudar os alunos a reter melhor as informaes. O aluno absorver com facilidade, fazendo com que ele volte vrias vezes no texto para obter a resposta. (Professor 2)
Estas respostas mostram que alguns conceitos trabalhados na primeira
etapa da oficina como reteno de informaes na memria, sobrecarga
cognitiva e compreenso de texto foram assimilados pelos professores.
Quando questionados sobre a possibilidade da adoo da segmentao
de texto com a insero de questes pelos livros didticos, todos concordaram,
justificando que poderia facilitar a utilizao do livro pelos alunos. Com a
segmentao o aluno teria a ideia que os textos dos livros so mais curtos, o
que facilitaria sua leitura e entendimento, pois comum os alunos reclamarem
que os textos so muito extensos e se perdem na hora da leitura.
O ltimo questionamento feito aos professores foi se eles utilizariam
essa metodologia de segmentao do texto em sala de aula. Todos disseram
que sim, que iro utiliz-la e alguns justificaram a utilizao da seguinte forma:
Eu j trabalho muito com texto, e se para melhorar a aprendizagem, eu utilizaria sim. Facilita a compreenso do aluno. (Professor 3)
um mtodo prtico e at mesmo para o professor, facilitaria nos debates, uma vez que ao responder as questes, os alunos teriam que colocar respostas baseadas no contexto e no conhecimento prvio, instigando o professor e provando que ele conseguiu reter as informaes. (Professor 1)
A avaliao final da oficina foi muito satisfatria, ou seja, conseguimos
atingir nosso objetivo que era apresentar aos professores uma metodologia
para segmentar textos de Biologia, minimizando principalmente a sobrecarga
cognitiva intrnseca, no sentido de melhorar o processo ensino-aprendizagem
de Biologia.
53
Os professores saram animados, disseram que gostaram da oficina e
acharam a metodologia til, fcil de ser aplicada e eficiente para melhorar a
aprendizagem do aluno. Isso pode ser evidenciado em um relato feito por um
dos professores no final do seu questionrio.
A melhoria do ensino aprendizagem se d atravs de mtodos de ensino com esse; as tentativas so valiosas, apesar de no existir uma receita pronta; estamos sempre no caminho certo. (Professor 1)
54
4 CONSIDERAES FINAIS
Esta pesquisa nasceu de uma dificuldade enfrentada durante minha
trajetria docente; constantes reclamaes dos alunos sobre a quantidade e
complexidade das informaes no ensino de Biologia, associada ao fato dos
contedos possurem uma grande sobrecarga cognitiva intrnseca, como
ressaltado neste trabalho. Dificuldade compartilhada por vrios professores que
trabalham com esta disciplina. Isto motivou a busca por uma metodologia que
pudesse minimiz-la e facilitar o processo ensino- aprendizagem da Biologia.
O alvo da pesquisa foram os textos dos livros didticos, esta escolha se
deu porque, apesar da grande quantidade de recursos tecnolgicos utilizados
no ensino atualmente, o livro didtico ainda o recurso mais usado pelos
professores e alunos. Estudos mostram que os livros didticos apresentam
limitaes e que muitas vezes seus textos so longos, complexos e com
excesso de informaes, ou seja, apresentam sobrecarga cognitiva extrnseca.
Diante desse quadro, essa dissertao se dedicou modificao de um
texto de um livro didtico, usando o principio da segmentao proposto na
Teoria Cognitiva da Aprendizagem Multimdia (TCAM) desenvolvida por Mayer
(2005), visando reduzir a sobrecarga cognitiva do material. A segmentao foi
feita atravs da insero de questes no texto, seguindo referencial de
Graesser, Leon e Otero (2002) nos locais onde foi julgado haver as
informaes mais importantes para os alunos aprenderem o contedo
trabalhado.
Foi observado, durante a leitura e o estudo dos textos utilizados nesta
pesquisa, que os alunos que estudaram o contedo, neste caso as aves, com o
texto modificado pela insero de questes conseguiram fixar melhor a ateno
durante estes processos do que aqueles que utilizaram o original, retirado do
livro didtico sem modificaes. Constatamos, atravs da anlise de um teste
de reteno aplicado aps o estudo dos textos, que os alunos que utilizaram o
modificado obtiveram mdia de notas significativamente maior do que aqueles
que utilizaram o original. Esse resultado mostrou que a segment