segato_okarile

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    -CE xTaR i t a au r a S c g u t t A

    OKARIL ~ TOADA ICNICA EIEMANJA

    O x ng da cidade (le Recife un i c ul t ode posses . lo formado com elementos culturai strazidos ao Brasil por escravos africanos . lam -cham ad o candombl, assemelha-se a cu l-tos religidsos existentes em outras cidades bra-sileiras, tris como Sal v ador, Rio de Janeiro Porto Ale re, S o Lus e Belm, entre outras .Alguns as r ec tos fundamentais do culto, rele-vantes pata minha anlise podem ser resumi dos da seguinte maneira :

    a) Co-isidera-se que cada membro do cult otem um eus do panteo tambm cha ma d oorix ou" anto c o m o gaia, patrono ou d o noda cabea', e um deus secundrio, ou o)unr i que auxilia, acompanha ou complementa oprimeiro . A iniciao ritualiza a atribuio for mal de un' par particular de patronos a oduo, que se torna "filho" desses santos . Assi msendo, tolos o s membros so considerados fi-lhos-de-santo, isto , filhos (los diferentes san to s q u e podem ser escolhidos para desempe-nhar o page l de patrono .

    b) C da divindade representada com oum tipo i cal antropomrfico, dotada de un ecomporta$nento tpico que indica um a persnalidade 1 efnida, de um a aparncia fsica (a

    racl(rulica e at r ibutos associados : cor, ped erencias gast'on(inticas, smbolos materiais ccestimentas.'lodos os deuses relacionam-se cn-trr si como membros dc uma famlia e so asso ciados a papeis familiares particulares .

    c) Cada divindade tem um repertrio espe-cfico (r canocs e um ou mais toques dc tambor carartcristi M,s . ()s membros do culto conSi-dcram cada repertrio distinto dos demais pel oestado de esprito que cria, pelas emoes e scn-sa

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    os c asistemadessaOkarilmostra

    Ese artigo explora a relao de espelh oexistente entre o campo da msica c a cons-truao cultural de tipos de personalidade hu -mana . ~ssim como no caso j clssico da msi-ca e ornitologia dos Kaluli da Nova Guine, ta lrelac tem origem na transferncia de diver-sos iteitens d

    ao

    deusa constituem uma linguagem (urna teoria no sen ido de Feld ; ibid :s`38) para desercvcr amsica e, ao mesmo tempo, como a msic aconstitui uma linguagem para falar do compor -tamcs ntD humano . No caso dessa cano especi-fica, chamarei tal relao de icnica, urn aqu e tar to o descritor quanto o objeto parti-lham a mesma composio formal .

    Antes, porm, caracterizarei brevemente opapel desempenhado pela msica ritual no con -texto d~ culto . Como afirmei em ouro traba -lh o (Se ato, 1984 :573-76 , o panteo fornece acomuni :lade do culto urna espcie de mapacognitivo que equipa as pessoas com u m dispo-sitivo Mental para examinar o meio ambient ehumanesicais d erituais mada que pe imentar sua a finidade emotiva com um (lesse srepert r ios, encontre seu lugar numa comu-nidade ie indivduos.

    )ohr Blacking (1983) argyYmentou que aprtica musical desempenha uln papel funda -mental a criao e reforo de padres de ex presso do "si mesmo" no contexto dos outros .

    . Da m e s m a forma, os repertrios mu s santos, tocados um aps o outro no s)articularmente nas festas pblicas cha toques , constituem um mapa musica lmite qu e cada indivduo, a(t experi

    Ue acordo com esse autor, a msica, por ntai odo afeto, articula c representa as relaoes entr eos diversos estratos de categorias que cont-pnnt a sociedade . No (-aso ela so ciedade afri-cana Venda, a m sica vincula as catego rias do s inustno, ela com unidade e da nao .

    nidadc mctalsica dos orixas e simbolizada ri-tualmente por seus repertrios musicais e amsica que atualiza a equivalencia entre divin-dades e indivduos . Po r meio da msica, os l Ihos-de-santy vi'eni-se rellctidos na comuni-dade sobrenatural de santos e emer g em d ecada experiencia do ritual con un i sentid orenovado c ancorado de si m e s m o s c dr su aidentidade curai ta l .

    ('lifford Creme sugeriu que sociedades d i(crentes talam sabre artc usando metaloras di-tercntes, ao mesmo tempo que abordam "preo-cupacs idiossincrticas (1976:1479) cu msuas obras ele arte . Recomenda, ento, "umainvestigao dos signos . . .eni seu habitat m a t era l " (,bid . : 1498) para determinar o significadodas Guisas para a vida cnt turno tI&'L's ibid . :14 9 9 I . De fato, solicitados a falar sobre musica membros do culto diriam freqentemente :"Penso em mirar m e s m o , ou "1 enebro-rate d emim mesmo ao ouvir cantos particulares do srepertrius de sills santos ; o u ent .o c,ntavantque sc recordavam dr pessoas particulate . ,auscntcs ou falecidas, sempre clue c aratus es-pecifiros (Ios diversos repertrios er .1Jn cxecu-tados . Recordavam-se tantbvn de c f os acon-tecimentos e at(' de sonhos envolvirloout ro s(membros do culto, pessoas que, algu t l,as veies

    vrteriam vivido ha vrias geraes . . partir dosrelatos recolhidos, ficou evidente que . durant eos toques, um a vasta rede de relaes qu einclua, tambm, pessoas ausentes o u falecidas ,

    WA-11 A Ma ~ i k ir ~ ~ ` G c ~ r ~ I f

    ts reunidos num campo semntico para `C Tal abordagem pode iluminar tantbent o: outro campo de tal forma que os itens papel da msica no culto zango . Nele, a comu -npos mantm urna relao ele metfor atica" (Feld, 1981 :26) . Como exemploorrespondncia, focalizarei a toad a

    do repertrio dedicado a lemanj n do como os traos de personalidade da

    r,te ,tna hi smente lgera, o .curas p nu m co t

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    era gradualtnente trazida memria dos pr esentes por meio do repertrio ele canes .

    Uma informante contou-me que pensav ana imincnda da morte de sua mc-de sant omuito idosalsempre que e scutava o canto ( Ie se uorix, Orix inl :

    Len1bro de minha me e sinto a omesmo tempo alegria c tris za porqu elembro-me de a lgo que va i acontecer : De u snos prolteja no dia em qu e e ia fechar o solhos (Casa de Me das Dores, 1980) .Portante, os cantos do culto xang a tuam

    po r um l a r le , como remem oradnres e lo si me smo, como smbolos relacionados co m a prpri apessoa, num ambiente no qual o status existen-cial desse ncleo psquico constitui uma preo-cupao, u n - motivo central da cultura . Mobili-z a nd o e m o e s r e la c io na d a s c om o eu indivi-dual, a msica fortalece a identidade pe ssoal ea auto-estima . Por outro lado, a msica a tu acomo um rememorador de outras pe ssoas par-t iculare s e estabelece um quadro de referenci apara a constituio de uma comunidade c lue ,exposta hi s oricamente a foras (lisruptivas estaria separada no tempo e uo espao . A msi-ca projeta passado e futuro sobre um plan oideal no qucl a comunidade atemporal e imu-tvel dos santos vive perenemente . Po r meio d amusica, a l embrana de outras pe ssoas e do sacontec imertos dos quais participaram i esti-mulada s iste lma t icame nte, dando ao s fieis umsenso de toritenuidade que liga passado, pre sente e futuro, e fornecendo-lhes unia perspec-tiva histrica do culto . As In -las, cuidadosa mente prese rvadas e repetidas de gera o un igerao c o m o a s p e d r a s dos santos, so as a ncoras permanentes do si mesmo e ( los outrosnum contexto urbano em constante mudana .

    I in .i lmentc, 1 Epstein 119 78 , escrevendo ohre identidade (unira, reconhece c lue a etni-cidade Iornece u m conjunto dr categorias pa r aa classilica,o social, mas critica a abordage m(de a U r)res rumo Barth, I` b y que ignoracontedo suhjitiso dessas categorias e a sedu za resultarlo nrccssrio da intera

    ntre grupos (isto boi intuido, ant~irior nunte, ior lilaeking, 077 Para en tender ocontedo (Ias ca tegorias de ident idade, Epstei naconselha local izar sua dimenso afetiva, acarga e mocional a e las a ssociada, e propoe uni aantropologia social do a fe to qu e lctt c mconta a (hmenso ;mociona( do comportam :n-to hun(ano, particularmente da identidade .Segundo esse autor, o conteuilo da identidad eres ide no envolvimento emocional suhjetico d osc/f cona a categoria qu e lhe r obletisament eimputada . No caso do culto xang, a pessoaenr,tiza se profundamente na ca tegoria clue li e atribuida orix ou santo"dono da cabea depois ela iniciao Essa af i l iao e recordada realiment,ida constantemente por uni conjunt ode smbolos afetisos, dent r e os quais o princi-pa l e a notica .

    tinto foi dito 1 s importante eu r oto musical a festa publica denominada toque .Esse longo ritual ocorre noite e dura halo-tualnunte quatro ou cinto horas . Em seu de correr, os repertorios de todos os orixs socantados numa ordem lixa cm que a s fronteira sdo escoto musical estabe lecem a s fronteiras d oevento ritual . trata-se de um ritual musical, u mritual n qual a niitsica e o sistema dominant ede sim( , los . O toque e concebido exclusiva-nrentc , meo unia comemoraa o(lestutaula a marcar a iontluso d eum a sitie importante de oler-e ndas I sp , ra-se que os orixs ba l xrnt rara divertir-se danando e

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    pa'a trazer suas mensagens . Nu toque, mais d oqu .i em qualquer outro itual, s ao represen tac as, de um lado, a relao entre indivduos eseus santos, e de outro, a relao entre a c o m u -nicade total de indivduos e a com unidade to ta lde santos . O temperamento de cada orix reve -la - te mais plenamente nos toques do que na soferendas porque neles todos os repertorioss( executados, exibindo num espao delimita -do de tempo o sistema integral de ideias asso -c ia as com os orixs . Nesse sentido, cada pe r -sor agem e sua representao musical aparec ecotizo distintiva e nica polo contraste co mtocas as demais .

    Todos os repertrios so cantados cm esti-lo esponsorial e na maioria das cano>es o pa iou me-de-santo, isto e , o lder do grupo d cculto, atua como solista . Se ela ou elc esti-verem cansados, velhos ou doentes, podem se raj u :lados por outro sacerdote ou sacerdotis aexperiente, ou por um bom cantor que faz aparte do solista na interpretao de alguma stoadas Essa parte solo tambm pode se r canta -da ?elo filho-de-santo a quem pertence a toa -da, se ele estiver em estado de possesso . Cad arepertrio tem, cm mdia, vinte c cinco o utr irta toadas agrup adas em sries . Cada sri ecorsiste em uma sucesso de toadas cantadasser interrupo e cvnpanhadas pelo mesm otoque de tambores . Quando cantada u m a m e -lo d a qu e requer outro toque, comea um anova srie de toadas .

    Portanto, um a srie pode ser definida co m o um conjunto de toadas, raramente mais el oque de z , a co mpanh adas por percusso ininter-rupta . Geralmente a pr imeira srie (lc cada re -per .rio fixa, assim como a srie de encerra -mesto, mas somente no caso de Orixanl, o06-n o santo a ser chamado ; a ordem em qu eso cantadas todas as outras sries varia de uni

    togne para outro . Contudo, c(mo ja disse, avordem dos repertrios, ou seja, a ordem do sorixs a serem invocados e fixa . No necessrio cantar todas as toadas ()u todas asseries de cada repertrio numa dada ocasio .Normalmente, canta-se um maior nmero detoadas do repertrio daquele santo ao qua l atesta e dedicada .

    Us membros do xang no cmnpmcm ca n tos novos e s muito raramente unta toada eacrescentada a um dos repertorios . Quand oisso ac ontece, no se co nsidera que a cantiga foicomposta por um fiel, mas pelo santo que el erecebe cm possesso . S ouvi falar de dois caso sde filhos-de-santo ue, n(( decon'cr dos rituai sde sua iniciao, entoaram cantigas ati cot o(lesconhccidas, polo menos ent Kecifc . I :n tambos os casos, a toada foi imediatament eincorporada ao repertrio do santo correspon-dente c considerada como pertencente ao ()rix apessoal daquele filho-de-santo. A ausncia d ecomposio determina a preservao de ca datoada como se fosse um objeto sagrado . Assim as toadas, comi, as pedras dos santos, est oimbudas do simbolismo de perenidade, regresentando a continuidade do culto no temp(' e aestabilid4le da comunidade de fiis .

    Durante os ritos finais da iniciao, deno-minados sada de la , o santo, incorporadocm seu filho ou filha, canta unta toada (luc, apartir daquele momento, se torna a toada pe . .))al do indivduo ali iniciado ., Alm desta, o ssantos de pessoas particulares tem preferenciaespecial por unia ou (luas outras toadas d orepertrio do seu orix . Demonstram-n u chegando para possuir seu filho (guando ela ss,ui cantadas, ou ento danando mais expr ssi ..vamente nesse momento . p ilhes-dr-santo fale .,idos ou que esto longe tambm so lembra do s cm conexo com as toadas prediletas de

    o m

    o rq c

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    disse, T a leni dos

    N o i todas asa ocasio.:mero d eao qual

    t cm can ia toada

    Quand ocantiga fo i o que eledois casos

    : .os rituai sate ento

    -cite . E m.iatansentc

    orrespon a o orix a

    .'esencia desao i de ca d ado . Assim .ntos, estnLade, repre o tempo e a _

    ao, dono-ncorporad onada que a1 toada pes c o desta, ospreferencia

    toudas d oonstram-noquando elas

    ; is express i r-santo fa leso l emb ra -prediletas de

    go /t t/IAA 4seus rixas ou com as toadas cantadas por seus melhante, podem ser cantadas, numa unic a

    orix# na sada de la . noite, o fato de nenhuma delas ser repetida C lbnsidera-se qu e algumas toadas de cada significativo . A singularidade sublinhada na k

    repertrio tm muita chama e mais poder de msica da mesma forma como a individuali convccar orixs a incorporarem nos seus fi- dade no seio da condio humana ; ao mesm olhos-de-santo . durante a execuo dessas toa- tempo, porm, as toadas, como indivduos ,das d h grande poder convocatrioem relao adquirem su a identidade ao ser referidas a os entidades sobrenaturais qu e cada repertrio repertrio do santo ao qual pertencem .alcana se u temperamento mais caracterstico e l stahelece-se, assim, um paralel ismo e um ao clmax expressivo que lhe prprio . Mo- , especularidade entre o panteo e o sistema demento este em que percussionistas e cantores 1 repertrios . Pode-se falar tambm de um arepetem-nas por mais tempo . Apesar disso, (ts analogia de equivalncias : um orix est paratodas as toadas atuam como signos conven- um indivduo como um repertrio est paracionais cujos referentes so os orixs, o que ulna toada (orix : indivduo : : reperurio : toadalevou Roger Bastide descrever as cantigas do Cone; afirmei antes, algumas toadas s ocandombl como leis-motim do s santos (Bastide, consideradas particularmente representativas 197823) . da mesma forma como se considera que algun sDefinir a relao entre toadas particulares e indivduos se assemelham de forn mais exata os repertrios aos quais pertencem coloca o en su a personalidade, a detcrnii +ado santo .mesmo tipo de problema qu . estabelecer um a A lem disto, toadas diferentes i luminam a spec -relao entre um indivdul e seu santo . A to : : parciais do repertrio, assim como indiv -ques o : como se reconhece o estilo do duos particulares apresentam apenas algunsreper rio de um santo em cada uma de suas traos do santo de quem s o filhos .toada ? Como se reconhece a personalidade de No desenrolar completo de um toque, s oum o ix particular em cada um de seus filhos ?N as uas operaes, manifesta-se o mesm otipo pensamento . De fato, pessoas e toada ss o nifestaes concretas dos santos em su aconce .o ideal e de repertrios musicais co -mo u todo , respectivamente . O repertri ode to das de um santo, como a personalidad edo pr prio santo, um conceito ao qual a s pe s -soas ribuem um carter geral e o poder d edespe tar um a gama especifica de emoes .Mas da interpretao de uma toada perten-cente a um repertrio nica, ass im como

    7 cada ~ essoa nica . Para enfatiz-lo, toma-seLmuito cuidado para no repetir toadas durant e

    o rito 1 . Considetando-se que at cento e cin -qen ou mais toadas curtas, de estrutura se -

    S

    G

    24 executados doze ritmos (ou toques) d iferente sde tambor . Um deles aparece em todos osrepertrios : o ritmo nag, que d unidade a otoque como evento musical e que, significativa -mente, te m o mesmo nome que a nao qua lpertence o culto . Embora diversos ritmo ssejam usados para a msica de cada orix alguns so especficos, ou pelo menos carac-tersticos, d e divindades particulares . Afirmoque um ritmo idiossincrtico de um sant oquando, embora tocado em mais de u mrepertorio, considerado pela spessoas o ritmo preferido daque l esanto, aparecendo com mais fre-qncia em seu repertrio . Con -sidero um ritmo "especfico" de

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    f

    I nca i

    Terreiro Casa Branca Sereia oto vo identicado rgui o Noronha Santos, IPHAN

    um santo quando tocado exclusivamente n trepertrio deste santo (uma anlise exaustiv ada estrutura dos repertrios e toques de ta m -bores encontra-se em Segato, 1984; ver tam-bm Segato e Carvalho, 1992) .

    O O R I X C M O U M A I D EI A M U S I C A m todas as perform nces cada repertri o

    alcana, no devido tempo, seu momento mai srepresentativo ; da mesma forma, dentro dosdive sos repertrios cada serie alcana a reali-zao plena de seu carter. Com efeito, vriosfatores sociais e ideacionais convergem durantea formance para sue, por um lado, os re-pertrios no comeceis com um clmax, m asalcancem-no aos poucos , e po r outro, no co -

    metem com um efeito musical coerente, m ualcancem-no medida que o canto e a per-cusso se juntem gradativamente .

    Para descrever de maneira acurada o qu eocorre durante os complexos conjuntos de p r-/ormanccs que compem um toque, termoscomo invocao e "rememorao" podem se rusados co m refcrincia experincia m usical ,assim como dramatizao cm relaao dana .Os membros do culto dirigem-se, por interm-di o de cada repertrio, a u m a entidade conce-birla como habitante de uma dimenso supra ordenada e que, em dado momento do canto(l( repertorio, deve tornar-se uma presenareal p r meio da msica . Isso significa que otemperamcnto de cada entidade deve se r dealguma forma expresso em msica e que cad performance musical consiste n u m a busca eol e t iva sempre renovada, da experincia de conta

    N s ( )

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    acurada o quenjuntos de petoque, t e r m o s

    ; > o podem ser-ameia musical ,relao dana s , pr intermentidade conce - ime nso supra -tento do canto

    uma presenasignifica que o

    ide deve se r d esica e que cada. ira busca col e t i l

    ncia de conta

    concreto co m cada modelo ideal de pm-s otrlidade . medida que o canto e () toque d

    t1mbores de cada repertrio progride, alcan aigradativamente o clmax ; as pessoas c o~ l Meam a ter certeza de que esto contempla ndo musicalmente a idia e de que esto, n a

    msica e por meio dela, frente a frente cor no ix . Um estado de euforia domina o a mb ente e ento qu e ocorre a maioria d .op ssesses . Nesse momento, a natureza d . .

    ix que est sendo invocado saturou fina lmente o so m : a presena da divindade pode ser

    Refiro-me particularmente s ideias religiosa se as ideias sobre personalidade no contexto deuma tipologia de perils de comportrment oindividual . Tal tipologia constantement eimplementada pelos membros do culto paramapear o ambiente humano . A o fan-lo, con-cordo expressamente corn a proposio d eSteven Frld, para quem u "objetivo maior d apesquisa ctnumusiculgica ' construir unt ainterpretao simblica que mostre cumanwJalidades expressivas so culturalment econstitudas por cdigos de per/ormancc qu etanto comunicam ativannic, . sentim e nto s

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    Segundo o xford English Dictionary cone , to grego ikon ou eikon, significa sei n

    lhana, imagem, retrato l, smile", e, na Igrej aOriental refere-se representao delum per-sonagem sagrado, em pintura, baixo-relevo o umosaico, visto como sagrado e honrado co madorao ou culto correspondente . Ness adefinio bsica, j est presente relao entrerepresentao icnica e experilncia religiosa .cones soo tambm "imagens alegricas" (cf .Gombric a, 1948) que , durante todo o periododo Renascimento, foram usadas para re -presentar pictoricamente idias, valores e disci-plinas do co nhecimento m orte, destino, sabe-doria, jus ia, histria, matemtica etc . , co m ose deles fossem verdadeiras encarnaes .

    Num artigo que explora a classificao do ssignos de Charles S . Pierce em smbolos ndices e cones, Burks define o cone com ouma representao de um objeto que exempli-fica ou exibe, de alguma forma, a estrutura d oobjeto . L m exemplo so as onomatopias pois o som da palavra sugere ou exibe seu sen-

    tido (194 :674) Alm disso, o autor do artigoobserva cue "a definio original de con ecomo um signo que exibe seu objeto ao inter-pretante ( . . .) implica i que um signo s icni-co se o irterpretante o reconhece como tal" .Ademais, qua lque r cone o resultado elascoiha de a lgumas qualidades e relaes o l eestrutura a serem exibidas, ao passo que outra squal idades e relaes so expressas conven-cionalmente : portanto, no h cones puros ;todos so, ao mesmo tempo, smbolos . U mcone pure seria a reprodukcxata do objeto ,uma encarnao do prprio objeto .

    Para apreciar minha descrio inicial d atoada Okonil como um cone, comearei porcaracterizar a composio do objeto que el areproduz, sto , os componentes da idia co m~txl~

    plexa encarnada pela divindade lemanj,, o squais, segundo os membros do culto, (ambeniesto presentes nos padres sonoros ela toada .Suas afirmaes sobre Icmanj, tanto como ori-x quanto como categoria de pessoa identil-cada com c . s t c orix, gravadas durant(, conver-sa s informais ou durante entrevistas,'o par-ticularmente reveladoras .

    Em primeiro lugar, falam do status d eIcmanj c de su a ii i,,

    Icmanj o santo ao qual todos os out ro stem que se dirigir : eles devem hom enage- l aporque el a e a m e , po r essa razo somente, m es m o que nunca tenha feito nada para merecer

    /) 49 > 6 As pessoas dizem que lemanj falsa .I)izem tambm que ela a rainha do mar . . . agente sabe que embora o mar parea calmo primeira vista, e parea agradvel perto d olocal em que voc est se banhando, abaixo d asuperfcie ele puxa voc para o fundo . Quandovoc v unia onda vindo na superfcie, um aoutra embaixo vai puxando voc para o fundo .Provavelmente, por isso yuc Icmanj d co munia mo e ao mesmo tempo tira com a outra . OyrkA 64 4

    Em seguida, falam de sua ,,, i : filhos de lemanj so muito apegado ss suas lembranas ; nunca esquecem das coisa sque os afetaram, boas ou dolorosas . F ica m lem -brando o tempo todo, olhando para trs e re-cordando coisay i passadas : lembranas puras ebonitas ; e sentem que as coisas distantes aind aesto prximas doles (h aqui uma aluso Africa e ao mar que separou os escravos de su aterra natal) .

    Y tmf oeE ()s llhos ele Icmanj so muito humildese compassivos . Choram facilmente .

    le nc o

    g a l a ao rco e ifals pa l o

    cela

    Icni am ui uenvo i

    press rmas pIcr s upaze s

    todos .dadci rfosos ;coin sfaland oadivin lcal,c amostr e

    - r o - vkeouGofi il sa , idl?T 9e,t,tT ut hl rhr(-t,t o 9ruct

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    E de su a I .i,l . 1 l i 1 , H um lado ele falsidade na vida de

    lemanj e na vida de l seus filhos . E ~ e s so trai -oeirls .

    A maioria dos filhos de lemanj, no ne-cessariamente todos, tm duas caras, eles en-ganatr .A lguns podem es tar fb lando co m voc eao m e s m o tempo pensando em mil coisas trai-oeiras . Tudo o que dizem para voc pode se rfalso . Podem ter qualidades, m as a coisa princi-pa l ssa : no so sinceros .

    filho de lemanj incapaz de lh e re -velar lue no gosta de voc .

    F, difcil reparar nos defeitos do s filhos d eleman : eles agem dissimuladamente ; s omui to discretos, distantes, escutam e nao s eenvolvem .

    Os filhos de lemanj podem dar a im-pres so de qu e compartilham seu sofrimento mas podem estar rindo por trs . No se podeler suas mentes : so falsos . Muitos so inca -pazes c e ter sentimentos verdadeiros .

    Alguns so falsos, no necessariament etodos. Um filho de lemanj falso um ver-dadeirc perigo po r que eles parecem to amis-tosos ; tratam voc bem, beijam, so afetuososc o m voc, quando na verdade podem esta rfalando mal de voc pelas costas. No se podeadivinhar o que est realmente se passando n acabea deles . So tranqilos, dceis, sempremostram a mesma mansido a vida toda .

    Parecem confiveis, mas podem agir incs-peradanente de maneira falsa . Sua aparnci ap ode enganar. Fingem ser bons c controlam-se

    para parecer sempre gentis, e pode ser qu esejam bons, mas o fato e que nao se pode ve rconto eles sao realmente porque seu comporta mento no transparente . Tm ,,m atrativ oespecial porque sabem dizer as p 1 ivras certa sc falam hem, fazendo voc acredimar no quedizem por causa dcsu . Mas alguns Oodem trai rsua co nfiana .

    Podem dar a impresso ele que sa o bons bons devotos, mas as aparncias enganam .Podem tc seduzir com presentes fazendo vocacreditar que so generosos, mas a te de-cepcionam e voc v que a primeira impress oera falsa : so agradaram per interesse . Sointeresseiros .

    Sou uma tpica Icmanj . As pessoas dize mque sou de lemanj primeira vista . Pareo se rmuito calma e as pessoas dizem q u e fao a scoisas por baixo dos panos, mas eu acho qu enao fao isso ; c na o me acho calma .

    I : su a Po r urn lado, eles parecem muito c a l m o s

    muito humildes, mas por outro, po r baixo d ahumildade e das boas maneiras, so muitoarrogantes . A gem de tal maneira qu e vo c nunca consegue saber o que eles pensam d evoc . So

    ttaopolidos

    f` J k Iemanj melanclica, mas pode se rbrava t ambm . Uma mulher c o m o Ela, um amulher-peixe, que mora no fundo do mar, te mque ser brava, tem que ter autoridade para qu eos nixes n o a devorem . u m asereia, um ser misto : metade mu-lher, metade peixe ; um tubaro o u tqualquer um do s peixes grandes d omar 1,odtriam devor-la, mas El a

    anj, ostambm

    da toada .-cimo ori-identifi-

    falsa .mar. . . acalmo rrto do:alzo do-)ua ndo

    u m afu ndo

    d coma outra .

    coisasirn lem-

    s e re puras e

    aindaaluso

    de sua

    IUm

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    sobreviveu po~ sculos porque tem atoridade .Po r um lado, Ela tem bel eza por outro, domi

    do mar, que manda nos peixes .Tem essa personalidade dominadora, forte mas ao mesm tempo tem um jeito suave, amalcia femini a .

    qii dado :de lemanj so calmos, nunca seacientes .

    Os filhos de lemanj so tranqilos, quie-tos, mui to le to s . Parece que esto sempr ecansados, gera?-nente so apagados e sem vida .No tm brilho

    E les levam a vida de forma muito pon-derada, tm u a aparncia humilde .

    So mui o preguiosos, podem ter u memp7go e ir p ra o trabalho todos os dias, ma snunca esto di postos a fazer nenhum esfor oextra .

    Podem tr balhar e ter um emprego est-vel por toda a vida, mas so geralmente pre-guiosos. Voc percebe a pregta tpica d elemanj e dos fihos dela . Sempre parecem can-sados . Podem emorar muito a reagir. E porisso que algum . . pessoas dizem que os filhos d elemanj so ap ticos ; quer dizer que a pesso anunca est disp sta a nada .

    Os filhos 4e lemanj so to calmos quan-to o mar; com9 o mar, n o possvel saber oque est debaixi da supe rf icie

    A s pessoas dizem de ns, filhos d ef manj que so os falsos que falamos demais somos frios, m sos apagados e mui to lentos ;

    que nunca faienn,s nada eons pressa, niesnm s ecoc esti\er morrendo r estivermos tentandote saltar ; cu n o me acho m nem falsa ; so uhumana ; embora possa ser fria com relao aalgumas co isas .

    l en sa nj . e .r me, ento dizem que Ela s eacha superior : no me sinto superior a nin-gum . As pessoas dizem que . sou con encida ;no sou conencida, eu sou calma .

    E su a Os filhos de Iensanj tm a tendncia a

    responder ron u m golpe inesperado . Se u corn-portanrcnto conto o da andas do mar : im-prceisi\el . ao calinos, mas quando chega a ho-ra respondem com uns coice . Voc pode obser-var que o arar i isimo, mas de repente fica tur-bulento : unia qualidade do mar

    O s filhos de lemanj so serenos na saparncias mas n o no fundo do corao . Voci acha que ch s so bons atie incomodar uns deles .Voc v eles sentados calmamente na sua fren-te, mas se fi/er algum a co isa de que eles n ogostam aquela calma se transforma de repent enuma tempestade, num eagalhao, nuns mar agi-tado . Sao temperamentais .

    Nos, filhos de lemanj, no ficamos exi-bindo nossa fora, nossa raiva ; normalment esonsos humildes, pessoas gentis e agradveis .Mas srrdade que os filhos dc lemanj pare cem ser panifico, mas tm mau gnio ; ness esentido . podem enganar .

    Os llhos de Ientanja n o s ao diretos . Po-de m ser muito grosseiros e reagem de m a-neira dosa, r .rd,ic, l quando algum os abur .rice . Ento dizem coisas horrivcis ; sabem co

    m o re s tvas, parrespondtoados trec lama ilogo de lciclo . N manhos o

    Tend passo a f;do a pert nos dep tmus ica l ma base rit i

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    Nenhu idoe esse t oda s " . r pos:dia caract eprimeiros toque geg csigual do ncpanadas n transrri,onao de t iquatro c I iprodu li, a cpresso de rpessoas co nmaneiras e sbitas ex1

    na . E a Rainh

    De sua t r a Os filho s

    revol tam ; so

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    s

    mo responder com palavras agressivas, ofensi % a s , para destruir seu oponente . Dc repent erespondem grosseiramente . Podem ficar cha-teados por uma bobagem e ento xingam o urec lamam . F dispensam voc de repente . M a slogo depois e como se nada tivesse aconte-cido . No tm vivacidade,' mas so espertos emanhosos .

    Tundo caracterizado ai idia de lemanj passo a falar da cantiga Okc~ril na qual, segun -do a percepo nativa, tods os traos descrito snos depoimentos acima esto representado smusicalmente, a-comear pelo toque que lhe d a base rtmica :

    ritmo Gege

    A ssim, u princpio icunieo pode ser identifica do, desde j, na base riunica ela toada .

    Quanto combina,io entre melodia to -que (v . transcrio, ao mal), u quadro torna-semais complexo e elaborado . melodia huida f lutua de maneira bastante l . re sobre o motiv oritmico constante, embora irregular, repetid oincessantemente Arlo. instrumentistas . I :ss acombinao ou\ ida claramente cones um aonomatopia da navegatio. Segundo os m e m -bros do culto, os componentes c e c ts t i ' a m e t a mento afetivo, por um lado, e por outro os d edisttneia~eog'rlica e conse~lrnte saudade anssentimento de perda e nostalgia, todos pre

    24r P^^ ~

    Nenhum dos meus informantes sabia por que esse toque se chama `gege de sete panca das . possvel que o nome descreva a "melo -dia" caracterstica do toque, na qua l os quatroprimeiros pulsos ternrio, caractersticos d otoque gege, so seguidos de uma diviso de-sigual do mesmo nmerd de pulsos em set epancadas mais fortes (v .--a linha superior n atranscrio esquemtica, cima). Essa combi-nao de ternrio e binrio comeando co mquatro clulas exatamente iguais, regulares ,produz, a cada repetioldo toque, uma im-presso de mudana brusg

    a, inesperada, que as

    pessoas comparam ao coo traste entre as boa smaneiras e par?nela plcida de Iemanj e sua ssbitas exploses e atitudes imprevisveis .

    sentes na idia de Iemanj, tambm esto pre -sentes no distanciamento progressivo entre ocanto e a percusso .

    De fato, as pessoas chamavam minha aten- 0 G e 064 -o para o fato de que, ao longo da cano, osinstrumentistas aceleravam o andamento, pro- (du z.indo uma densidade ritmica crescente

    m e l o -dia mais ou menus no mesmo andamento, o uat cantavam em andamento mais lento, pro-duzindo justamente o efeito contrastante . nresultado desses dois movimento scontrrios que, em termos rela-tivos e tomando-se como refern-cia as batidas da percuss .io, asnotas longas da melodia v,io se

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    focaliza o car to ela pode ser ouvida como umaladainha vagarosa Tal divrcio entre o movi -mento das duas l inhas era relacionado ao divr-cio entre funJo e superficie, to caractersticoda divindade, lemanj, o mar e a toada eramconLebidos como portadores da mesma quali-dade, a falta de concordncia entre aparncia erealidade interna q u e faz com que a deusa sej aqual i f i cada como falsa e no transparente .

    Seguindo a mesma linha de raciocinio, o sm e m ~ brosdg sulto comparavam . g,ge de set epancadas", co 'n sua combinao de acentos ir -

    'regulares abrindo caminho sob o fluxo da me -lodia, sbita turbulncia que pode se escon -

    der no fundo do mar, mascarada por um asuperfcie pl .cida . De acordo com os infor-mantes, o ouvinte surpreendido se, suhita-mennte, desvia sua ateno do canto para a per-cusso : a toada revela-se to imprevisvel etraioeira quanto lemanj e quanto o ma r

    fim resumo, elementos consti tut ivos a es-trutura ele lemanj enquanto imagem el4di a

    caracterstica de lemanj . Tal` culturalmente construda tais como 1 nti-efeito tambm associado distrcia que os \ mento de Merda, tranqilidade, falsidade, im-escravos atravessaram por mar e que hoje sepa-~ previsibilidade e reaes bruscas so exibido sra seus descendentes da frica, distncia pro- e mostram-se, sem mediao, na toada enquan -gressiva qu e a nave gao martima interps en- to estrutura sonora. Isso ocorre desde que s etre a terra mtica de origem e a terra da exisV aprenda como ouvir a toada da perspectiva d atncia cotidi ma .

    Outro cc mponente importante da imagemde lemanj sua personalidade melanclica ,lenta, calma e mansa . Os membros do cultoa p o n ta v a m c o m o realizao sonora desses atri -

    ' os o 1e ate eneralizado da me o ia, a ausn -cia de notas acentuadas, abundncia de son slongos e de 1 angos repousos internos em nota sque no so a tnica . Alm disso, alertava mpara o fato de ' que , quando se focaliza a audi ono s tamborei, a toada pode ser escutada com o

    tornando c efeito de d idica e rtm i

    A perce ao da separao e distanciamentona msica e oca a idia de distanciamento, apa-tia e nostalgia no carter . De acordo cem aviso nativa, esse efeito musica contm e torn ama nifesta a saudade de terras e acontecimentosdistantes qt~

    la vez m ais longas, aumentando ot a nc ia m e nto en t r e a s linhas m e l a .

    tradio musical e cultural do xang e desd eque se aceite a orientao para a escuta d acano satgerida pelos mlcmbros do grupo qu epartilha essa t r adio . Desse ponto de vista uma verdadeira antropologia da msica focaliz ano apenas perform nce musical e seus produ tos, mas tem na construo cultural da audiouma chave de entendimento dos mesmos (s .tambm lilacking, 1974, quanto a este ponto) .

    Em meu livro (Segato, 1995), sugeri que ametafsica platnica baseada em relaes con-sistentes entre o mundo das idias e suas re-presentaes terrenas poderia descrever fru-tiferamente a relao entre santos, de um lado e seus filhos, de outro . De fato, como aind asustento, os orixs so idias ou arqutipo sque se tornam acessveis por meio de sua ssempre renovadas manifestaes ou verses .Sua revelao ocorre na msica, particular -mente quando a perform nce do s repertrio salcana o clmax com seus ritmos e toada mais representativos ; a revelao se d tam-bm por meio cio conjunto de movimento padronizados que indicam a presena de cad um dos orixs em possesso

    Coincidentemente, Gombrich aponta, em

    u ni ar im e n t o meio dtncia(1948 :

    ex cde ivi d aal cara roco r [po d divi l

    Nes c o m o aidia qu edoutrin abolos vi scontem pt inw ( i

    Fic atrata as i tde aboli r' conteud encarnato u argu adem n ogo, m a svaler, pa rqual o sluras et c .tiolcntosrantc os Ie , m a is nsial ao s cNodtictii,-a tc

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    U Tu al do 6 AA ( r~ ~Lft 41 /com f o -v. .x a fa s A lti ? um artigo ( sobre cones cymbohcae no Renasci to dos meios no material, (o u pelo nono, nao

    mento, que a concepo d e re ve la o po r salidos), mais etercos, como o do s sons organ tmeio do simbolismo ( . . .) adquiriu nova impor- zados . No caso cio culto xang, k rtl n o e otncia ( . . .) co m o renascer do neoplatonismo nico exemplo de cone musical . H outros, d e(1948 :167) . Para os neoplatnicos : certa forma mais simples, como por e x e m p l o

    y e

    mascarada por um aordo com os infor-

    areendido se, suhita-do canto par a a p e r

    e tio imprevisvel ec quanto o mar .

    is constitutivos da es-anto imagem e idei a

    tais como senti-ilidade, falsidade, im-ltruscas -- so exibidoso, na toada e nquan ocorre desde que se

    sia da perspectiva d aa l do xang e desde

    . o para a escuta d arubros do grupo q u e

    (esse ponto (le vista yia da msia focalizamusical e seus produ

    .,5o cultural da audio+ento dos mesmos (v quanto a este ponto) .), 1995), sugeri que aa v i a em relaes con das idias e suas re leria descrever fru-

    re santos, dc u m lado ,De fato, como aind aidias ou arqu t ipos

    is por meio de su a s: ;estaes ou verses a (M sica , par t icular lance dos repertrio sseus ritmos e toada srevelao se d tam -

    junto de movimentosam a presena de cada

    ;so . ;ombrich aponta, em

    l14 tut t c.0 Can 1A ,f ~tt ~~a t t ~~CG~~M ,1 Cal

    Nesse sentido, a intuio apresenta - s oc o m o a forma m ais e'cvada dc conhecinnnto idia que, segundo Gombrich, funde -sc co m adoutrina cia revelao por intermdio de s mbolos visuais : Pois no smbolo visual tamb mcontempla-se o todo de uma proposio numtimo (id .) .

    Fica claro que o autor privilegia a viso ctrata as imagens visuais como as nicas capaze sde abo#ir nossa diviso racional entre 'forma' e contedo t ibid : 1 477), isto , dc consti tui rencarnaes ic6nicas de idias . No entanto, c stou argumentando precisamente que ideias p odem no apenas assemelhar-se visualm ente a a lgo , m as tam m "soar como" algo . Isso dev evaler, particul rmente, para uma sociedade n aqual os smbolos materiais pinturas, escul-turas et c . - - sofreram polo m enos do s p i sviolentos de destruio : primeiramente, d urante os Longos sculos de com rcio de escravo se, mais recentemente, durante a represso po l lcial aos cultos afro-brasileiros nos anos 1930 .No .de admirar, ento, que a simboliza oicnica tenha sido for da a refugiar se no mil ]

    O verdadeiro conhecimento result aexclusivamente ( . . .) da intuio intelectua lde id ias ou essncias ( . . .) e ( . . .) cm nossasvidas ( . . .) s podemos ter esperana d ealcanar este conhecimento verdadeiro no sraros momentos cm que a alma deixa ocorpo num estado dc ck-crasis, tal como nospode ser outorgado por meio do frenes idivino ibid : 171) .

    os toques aloj e gegc de tantbbres, que, co niitrastando entre si, exibem musicalmente a s

    idias associadas com os orixas contrast .intc s4ang c ()gum, respectivamente . ~ ~ ~ Y Y [)o que foi exposto, gostaria de conclui r

    enfatizando o valor da contribuio antropol-gica para a competnso da msica . C o m odemonstrei, os elementos significativos de u m atcaKfa s podem ser identificados c interprcta-dot luz do conhecimento do sistema d cidias, crcnas e valores do grupo envolvido tratando-se a cultura corno ur n contexto, tu nambiente dentro do qu .t l . . .Ios signos pode mser descritos da forma inteligvel (Geertz 1975) . S 6 essa familiaridade co m a cultura per mite ouvi r urna cano em sua inteno d csignificar, pois a audio i um a ativilade n aqual aspectos musicais e e\tr . t m usicai . c r u

    Trudurtdo por Fhiubcth 'harasse

    zamse no ato da operao scmiotica ' .

    l(ximb-ott- r ~o-QS-6D~ t u e/tc.l,tA

    1 . V 1 1PAd~ Ap

    V .I

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    o mesmo ou

    O ou =E1AII W / V 1 1 r .1 1 1 1111MINI IE~~ ~1~~1 ~I ~

    iii11 =W I Mi WI = 11111I MI= 8 P

    tamb or lnhan

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    Coro _o

    ia goo .. I e o i~ -~

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