secretaria de estado da educaÇÃo programa de ... · o adolescente por si sente-se pressionado...
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
DIRETORIA DE POLITICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ
CADERNO TEMÁTICO
Produção Didático
Pedagógica entregue a
Secretaria de Educação do
Estado do Paraná, sob a
orientação do Profº Doutor
Gracialino da Silva Dias,
como atividade do Programa
de Desenvolvimento
Educacional PDE 2010-2012.
Universidade Federal do
Paraná. Curitiba-Pr.
CURITIBA-PR
PDE 2010/2012
ELINÊS ZANONI NICOLADELI
A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NA ESCOLA: UM ESTUDO DE CASO DE UMA ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE
CURITIBA-PR.
CURITIBA-PR
2010-2012
1. Dados de identificação:
1.1 Professora PDE 2010/2012:Elinês Zanoni Nicoladeli.
1.2 Área PDE: Pedagogia.
1.3 NRE:Curitiba.
1.4 Profº orientador :Gracialino da Silva Dias.
1.5 IES vinculada:UFPR.
1.6 Colégio de implementação: Escola Estadual Doracy Cezarino.
1.7 Público objeto de intervenção: Pais de alunos e educadores.
2.Produção Didático Pedagógico: Caderno Temático.
3.Título: A Participação da família na aprendizagem escolar: Um estudo de caso de
uma escola pública da cidade de Curitiba – Paraná
CURITIBA-PR
2010-2012
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO .................................................................. 5
INTRODUÇÃO........................................................................ 7
UNIDADES TEMÁTICAS...................................................... 10
UNIDADE 1: ADOLESCENTE...................................................................................10
1.1 O QUE É ADOLESCÊNCIA? ...........................................................................10
1.2 O ADOLESCENTE COMO FATOR BIOLÓGICO ...............................................11
1.3 ADOLESCENTE COMO FATOR SOCIAL ..........................................................12
1.4 ADOLESCENTE : CONDIÇÕES PSICOSSOCIAIS- O MUNDO DAS ILUSÕES:
ÁLCOOL E DROGA............................................................................................................14
UNIDADE 2: A FAMÍLIA ........................................................................................17
UNIDADE 3: ESCOLA E APRENDIZAGEM ................................................................20
3.1 A PRODUÇÃO CIENTÍFICA - FUNÇÃO ESSENCIAL DA ESCOLA ......................20
3.2 APRENDIZAGEM SÓCIO POLÍTICA E FORMAÇÃO
HUMANA/ÉTICA/MORAL/CIDADANIA: SÓ SERÁ EFETIVA SE CONTAR COM A PARCERIA
ESCOLA E FAMÍLIA...........................................................................................................23
UNIDADE 4: A FAMÍLIA, ESCOLA E SOCIEDADE......................................................26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:.................................... 29
5
APRESENTAÇÃO
Este Caderno Temático faz parte das atividades do Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), da Secretaria de Educação do Estado do
Paraná; e tem por objetivo subsidiar a professora PDE na implementação de seu
Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola Estadual Doracy Cezarino –
Curitiba/PR.
A área escolhida é a Pedagogia, sob o título: A PARTICIPAÇÃO DA
FAMÍLIA NA APRENDIZAGEM ESCOLAR: UM ESTUDO DE CASO DE UMA
ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE CURITIBA-PARANÁ. O mesmo terá a finalidade
de promover esclarecimento de determinados assuntos-chave para que a família
possa compreender de que forma poderá participar da aprendizagem de seus filhos.
A família é a única instituição social que possui o vínculo capaz de
acompanhar o indivíduo durante toda a história de vida (PRADO, 1981, p.09). É na
família que a criança passa as primeiras experiências e aprendizados, sejam elas de
caráter educacional, social e cultural, as quais fomentarão seu desenvolvimento e
adaptação frente às mais variadas situações. Comenta PRADO (1981, p. 13) que: “a
família influencia positivamente quando transmite afetividade, apoio e solidariedade
e negativamente quando impõe normas através de leis , dos usos e dos costumes”.
O Caderno Temático que será utilizado nos encontros que ocorrerão entre a
professora PDE e a família é composto de quatro Unidades Temáticas; sendo que
cada Unidade foi elaborada a partir de: procedimentos, conteúdos de estudo,
estratégias e avaliação.
O tema “Adolescente” é abordado na primeira Unidade Temática, o segundo
traz conceitos e características sobre “Família”; o terceiro enfoca a “Escola e
Aprendizagem” e a quarta e última Unidade contempla o tema “Família, Escola e
Sociedade”.
Cada Unidade será composta por textos com linguagem acessível. Acredita-
se que após o encerramento destes encontros os familiares poderão vir a consultar
este Caderno Temático quando se fizer necessário a fim de relembrar conceitos e
orientações aportadas pelo grupo participante.
Pretende-se por meio deste Caderno Temático apresentar aos envolvidos no
processo ensino aprendizagem - sendo: familiares, profissionais da educação e
6
alunos – temas referentes ao processo de aprendizagem a fim de promover
reflexões e que a partir dessas, que a comunidade escolar possa através de um
trabalho em conjunto, promover a melhoria da qualidade de aprendizagem das
crianças e adolescentes.
7
INTRODUÇÃO
O objeto norteador deste caderno temático refere-se à participação da
família no processo de aprendizagem do aluno, o tema surgiu da vivência funcional
que ocupo como Pedagoga, há 12 anos, na Escola Estadual Doracy Cezarino,
localizada no Bairro Parolin em Curitiba- PR.
O Caderno Temático “A participação e contribuição da família na
aprendizagem escolar: um estudo de caso de uma escola pública da cidade de
Curitiba – Paraná” tem como principal objetivo colaborar com a discussão e reflexão
sobre a integração da família com a escola, de forma a possibilitar um repensar da
participação da família no processo de educação de seu filho. O público alvo é a
família dos educandos. Para tanto a autora elencou os seguintes objetivos
específicos:
1. Diagnosticar as necessidades, e os anseios dos pais, professores e
comunidade para o desenvolvimento do processo educativo.
2. Colaborar para a conscientização da importância da relação família-
escola no processo ensino-aprendizagem.
3. Identificar que práticas são realizadas e qual é a importância atribuída
pelos pais a escola, objetivando auxiliar o processo de aprendizagem de seus
filhos.
4. Levantar possibilidades de ação para facilitar o bom relacionamento
entre família e escola visando priorizar o processo ensino-aprendizagem do
educando.
Este caderno temático é o resultado de estudos, da pesquisa e produzido
para ser utilizado como instrumento de implementação do projeto da professora
PDE, tendo como público alvo a família dos educandos da citada escola.
A prática contará com a participação da professora PDE e das famílias dos
alunos, com a aprovação da Direção da Escola Estadual Doracy Cezarino. Planeou-
se desenvolver a implementação em quatro encontros com duração de 1 hora e 30
minutos cada, numa das dependências da Escola em questão.
O desenvolvimento as unidades temáticas estará pautado no sócio-
interacionismo, entendendo-se que através da socialização e trocas de experiências
e opiniões, a comunidade escolar chegará a construção de um caminho comum
8
para a solução do problema atual. No decorrer da implementação do projeto a
professora PDE promoverá alguns momentos de discussão em grupo, favorecendo
dessa forma que haja manifestação da opinião de todos os integrantes. A
“metacognição grupal” também será adotada como procedimento metolodológico, a
fim de promover o “ensinar a pensar”, pois é sabido que muitos dos participantes
tem a tendência em participar apenas como expectador, o que não é o nosso
objetivo, a metacognição1 por consistir em metodologia em que se questiona , ou
melhor, se devolve a resposta dada pelo grupo em forma de pergunta, faz os
mesmos refletirem novamente acerca do que deram como resposta, ou seja,
refletem sobre o que foi aprendido e apreendido. Por se tratar de atividade
desenvolvida por meio de encontros em grupo, a professora poderá solicitar um
redator de cada grupo a fim de que registre as opiniões e propostas levantadas dos
mesmos, para posterior reflexão e avaliação do projeto.
Posteriormente a professora PDE apresentará a direção da referida escola,
o feedback do projeto, de acordo com sua avaliação. A implementação ocorrerá por
um período aproximado de três meses no segundo semestre de 2011.
No papel de pedagoga nos é constante a fala dos docentes nos diversos
momentos escolares como: reuniões pedagógicas, conselhos de classe,
hora/atividade, e outros, acerca da pouca ou quase nula manifestação dos familiares
quanto ao acompanhamento escolar dos alunos.
A concepção de escola nos dias atuais diferencia-se daquela que tínhamos
anteriormente. Se até as décadas de 70 ou 80 as escolas eram exclusivamente para
preparar o aluno para sua formação cultural e profissional, hoje a escola tem como
meta formar o cidadão para a vida
A educação passou por diversas concepções ao longo da história, trazendo
em sua característica, as predominâncias filosóficas da época, região e estrutura
cultural da sociedade. Nesse prisma, é compreensível que os diferentes grupos
sociais tenham visões diferentes sobre a responsabilidade que cabe a cada
grupo/instituição e a respeito da “concepção do mundo” ; cabendo então a escola
desempenhar esse papel e apresentar ao aluno as diferentes visões, opiniões e
realidades sociais, bem como as tendências globais.
1 Metacognição pode ser definida como sendo o conhecimento acerca do que se conhece, bem como a capacidade de avaliar e controlar o que foi aprendido (Figueira, s.d. e Ribeiro, 2003)
9
Embora a escola venha cumprindo com mais esse papel, tanto a família
quanto a escola tem a responsabilidade de educar as crianças e os adolescentes,
devendo estabelecer e manter uma relação próxima e harmônica, voltada ao
desenvolvimento cognitivo e global do aluno.
A ambivalência da situação existe na maioria das escolas e não é diferente
na Escola Estadual Doracy Cezarino, que de um lado professores reclamam da
ausência dos familiares no acompanhamento escolar de seus filhos, por não
comparecem quando chamados à escola, não se manifestam quando o filho tira
notas baixas, demonstram não propiciar ou estimular os momentos de aprendizagem
quando são solicitadas pesquisas ou outras tarefas para realizar em casa e também
pelo fato da maioria dos educandos apresentarem carência de valores éticos e
morais tão importantes para o convício social. Do outro lado, a família reclama das
cobranças da escola quanto ao comportamento, a falta de estudo, das ausências do
filho entre outras coisas.
O adolescente por si sente-se pressionado pelas duas partes: pela escola e
por seus familiares, sendo que devido às características emocionais da fase em que
se encontra, outras são as preocupações e interesses, ficando o estudo
propriamente dito para segundo plano. O adolescente gosta de ir à escola para seu
contato e prazer social.
Para que família e escola possam auxiliar o aluno a encontrar o caminho da
aprendizagem com prazer e seriedade, é necessário que ambas se unam, troquem
informações e experiências sobre o educando e se prontifiquem a seguir uma linha
única, demonstrando dessa forma que são conhecedores e cumpridores dos valores
sociais e educacionais.
A avaliação do projeto se dará após a realização do mesmo, sendo que a
proposta é de se reunir Direção, coordenação e alguns professores representantes
de sala a fim de se analisar que durante o processo os mesmos observaram
alterações na participação tanto das famílias para com a escola, quanto dos alunos
em relação às aulas.
Este trabalho, apresentado sob a forma de “ Caderno Temático” busca
oferecer subsídios para a transmissão dos procedimentos de gestão pedagógica
envolvendo a realidade da escola nas referentes Unidades Temáticas:
1.ADOLESCENTE 2.FAMÍLIA 3.ESCOLA E APRENDIZAGEM 4.FAMÍLIA,ESCOLA
E SOCIEDADE.
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UNIDADES TEMÁTICAS
UNIDADE 1: ADOLESCENTE “Não se pode educar eficientemente se os pais e professores se desconhecem, se a
educação escolar estiver isolada da educação familiar”.
Suenens
O relacionamento entre pais e filhos, principalmente com os adolescentes,
tem variações de acordo com os momentos, situações e a cultura de cada família.
Não existe uma maneira única ou certa de se educar ou de se relacionar; no entanto,
é comum observar as dificuldades existentes na comunicação entre pais e filhos
(as). Isto pode acontecer devido a diferença nos gostos, no modo de pensar, na
maneira de se vestir, nos valores e nas concepções que os adultos e os
adolescentes tem sobre determinados assuntos.
Muitas vezes os adultos querem impor seu modo de ver as coisas sem
respeitar o direito de escolha do seu filho. Outras vezes são os jovens que fazem
escolhas que podem levar ao risco a sua saúde e até sua própria vida. A
preocupação dos pais está em querer ajudar os filhos (as) e não sabem como;
acabando por repetir a maneira como foram educados, mesmo que enquanto
adolescentes não aprovaram os pensamentos e atos de seus pais.
Algumas informações acerca dos adolescentes estarão presentes nessa
Unidade Temática, com o objetivo de apresentar aos familiares as características
comuns dos adolescentes.
1.1 O QUE É ADOLESCÊNCIA?
Adolescência é a fase de desenvolvimento humano que marca a mudança
da fase de criança para a fase adulta.
Para o Estatuto da Criança e do Adolescente, no Brasil, a adolescência é a
fase em que o indivíduo se encontra entre seus doze aos 18 anos.
A fase da adolescência traz em si transformações nas áreas física, mental e
social e representa para a pessoa uma evolução em suas formas de comportamento
11
e imunidades típicas da infância e passa a ganhar novas características e
capacidades para poderem assumir as responsabilidades e os papéis sociais do
adulto.
1.2 O ADOLESCENTE COMO FATOR BIOLÓGICO
Além das rápidas alterações físicas, os hormônios produzem também as
mudanças emocionais que podem ser confusas e desgostosas, tanto para os familiares como para o próprio adolescente.
Durante a construção da identidade do adolescente alguns conflitos importantes podem aparecer e se não trabalhados, podem transformar-se em problemas. O caminho que o adolescente escolhe para sua vida, acaba por absorver influências das “modas” sociais, sendo que o “grupo” cobra de cada integrante, uma postura social. Estando o adolescente numa fase de identidade em construção, não é possível se falar em postura social ou papel social definitivo.
Os amigos são priorizados durante este período, ocupando lugar de verdadeiro destaque para o adolescente. Na lista de prioridades, os pais ficam com os últimos lugares, pois durante anos ocuparam um grande pedaço da atenção e admiração dos filhos. Os adolescentes ocupam seu tempo passando longo tempo falando ao telefone, à frente do computador (conversando por meio das redes sociais, jogando ou escutando músicas) ou saem com os amigos, deixando os pais irritados e promovendo conflitos.
Mesmo sendo frequentes os conflitos ocorrem não por causa da personalidade dos pais ou dos adolescentes; o que ocorre é o que o adolescente tem sede em conquistar a sua independência e alcançar os seus primeiros projetos de vida, tentam caminhos diferentes aos que os pais lhe ensinaram para conseguir chegar aos mesmos lugares/ situações.
A família, em especial os pais, pode auxiliar os adolescentes a entender que estão atravessando uma fase com mudanças grandes e que nem sempre tais mudanças podem ter o sucesso como resultado.
Os pais devem estar atentos a sinais de alterações emocionais excessivas ou por longos períodos de tristeza ou isolamento, pois o adolescente inconscientemente pode estar dando sinais de problemas emocionais severos. Esses sinais podem estar ligados a um estado depressivo, o qual pode se manifestar em forma de negação ou excesso de alimentação, alteração no sono (dormir demais ou deixar de dormir), excessiva preocupação sobre sua aparência física, em forma de medos ou ataque de pânico.
12
Os problemas mais freqüentes manifestados pelos adolescentes são: I. Problemas de Condutas ou comportamentos: os mais freqüentes são:o
isolamento ou o prejuízo no relacionamento com pessoas da sua idade, tanto na escola como socialmente (vizinhança, familiares, colegas de clube, etc) demonstrando recatado ou com pouca comunicação. Os problemas de comportamento podem levar a depressão, déficit de atenção e hiperatividade, e outros (BALLONE, 2004).
Tais manifestações tendem a desaparecer na medida em que o adolescente
vai estabelecendo sua identidade e superando suas inseguranças, no entanto os
pais e professores devem observar com cuidado todo e qualquer sinal que vier do
adolescente.
1.3 ADOLESCENTE COMO FATOR SOCIAL
A escola é o local onde o adolescente estabelece seus maiores vínculos
sociais, principalmente para os alunos do contexto em estudo, por pertencerem a
uma comunidade carente com poucas oportunidades fora do contexto em que vivem.
As pesquisas de Charlot (2000, p.33) destacam essa visão do aluno
adolescente como sujeito histórico-social, sustentando que o educando é uma
criança, um adolescente ou um jovem adulto2 enfatizando a estrutura social mais
vasta. Nesta estrutura, o educando é um “um sujeito confrontado com a necessidade
de aprender e com a presença, em seu mundo, de conhecimentos de diversos
tipos”. Para o autor é indispensável considerar o aluno enquanto “sujeito” ao se
estudar a educação. Prosseguindo, o autor explica sua significação acerca do que
seja o sujeito: Um sujeito é: um ser humano, aberto a um mundo que não se reduz ao aqui e agora, portador de desejos, movido por esses desejos, em relação com outros seres humanos, eles também sujeitos; um ser social, que nasce e cresce em uma família (ou em um substitutivo da família), que ocupa uma posição em um espaço social, que está inscrito em relações sociais; um ser singular, exemplar único da espécie humana, que tem uma história, interpreta o mundo, dá um sentido a esse mundo, à posição que ocupa nele, às suas relações com os outros, à sua própria história, à sua singularidade. Esse sujeito: age no e sobre o mundo; encontra a questão do saber como necessidade de aprender e como presença no mundo de objetos, de
2 No caso dos alunos do Ensino de Jovens e Adultos (EJA).
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pessoas e de lugares portadores de saber; se produz ele mesmo, e é produzido, através da educação. (CHARLOT, 2000, p. 33).
Na visão de Edwards (1997), o aluno adolescente enquanto sujeito social
deve ser visto “no que ele é e não no que deve ser", ou seja, seu papel é o de sujeito
social escolar; considerando sua contemporaneidade enquanto aluno “sujeito
cotidiano” e também como um sujeito social.
E é no dia-a-dia da escola, e mais concretamente em classe, que o sujeito educativo se expressa em todas as suas dimensões (EDWARDS, 1997, p.13). O sujeito está determinado por suas condições cotidianas de vida, pela classe à qual pertence, pelo grupo imediato através do qual pertence a ela, e pelo lugar que ocupa na divisão do trabalho, por seu lugar na família e por sua história escolar em parte. Em parte, porque o sujeito também contribui para a constituição de todas essas situações (ibid, 1997, p.15).
Apesar de pertencerem ao mesmo contexto e mesma classe social os
sujeitos "são heterogêneos entre si, ainda que pertençam ao mesmo grupo social e
se considere que estão determinados pelas mesmas estruturas" (EDWARDS, 1997,
p.15), pois são organizados, se expressam e tem anseios diferentes quanto ao seu
presente e futuro.
Considerando que a adolescência é o momento de passagem da fase infantil
para a adulta, esse é um momento particularmente dramático, "constitui a juventude
como categoria de análise entendendo-a como um momento de transição da vida
adulta, da infância para a maturidade, que corresponde a um momento específico e
dramático de socialização, em que os indivíduos processam a sua integração e se
tornam membros da sociedade, através da aquisição de elementos apropriados da
'cultura' e da assunção de papéis adultos" (ABRAMO, 1997, p.28).
Participando desde muito cedo da escola enquanto instituição social, é nela
que o adolescente estabelece suas relações sociais e sente prazer em frequentá-la
com assiduidade, muitas vezes mais com o objetivo de ver os seus pares do que de
estudar. Pode ocorrer dos mesmos se recusarem a frequentá-la devido ao
surgimento de inseguranças, o que proporciona dificuldade em separar-se de seus
familiares ou mesmo de suas casas, por encontrar nesses o seu território de
proteção. Tal sentimento pode se revelar sob queixas de dores físicas, ou mesmo
por meio de mentiras como:- Hoje não tem aula (dizem haver reunião dos
professores, falta da professora, etc).
14
Outra situação de afastamento escolar pode ser a de se ter discutido com o
melhor colega, com outro grupo, dificuldades de incorporar-se entre os grupos ou
estar sendo vítima de bullying. Tais circunstâncias podem expelir o adolescente do
ambiente escolar e fazer com que a ida a escola se transforme em vivência solitária
e ameaçadora.
A insegurança em si mesmo para enfrentar os desafios da aprendizagem escolar e o de ser aceito pela comunidade escolar são conflitos emocionais que abalam o rendimento escolar, uma vez que a concentração nas aulas e nas tarefas é dificultada pela preocupação por si mesmo.
O uso de álcool e droga são fatores que colaboram para a evasão escolar, pois ao estar em contato com tais substâncias o adolescente apresenta dificuldade em sua capacidade cognitiva e social.
1.4 ADOLESCENTE : CONDIÇÕES PSICOSSOCIAIS- O MUNDO DAS ILUSÕES: ÁLCOOL E DROGA
A qualidade de vida do adolescente está intimamente ligada às relações que
se estabelecem desde a infância com a família, com os vizinhos de rua, com os
amigos da escola e com as outras comunidades que esse sujeito venha a
freqüentar, tais como igreja, clubes, projetos educativos, entre outros.
Muitos adolescentes apresentam condições psicossociais desprovidas das
condições de bem-estar, os quais podem ter sua origem na família, na saúde, nas
condições socioeconômicas, no ambiente que vive - estrutura sociogeográfica,
tornando-os sujeitos sociais vulneráveis.
Segundo SIERRA e MESQUITA (2006, p. 153) os fatores de vulnerabilidade
que mais afetam o aluno adolescente são:
• os riscos inerentes à dinâmica familiar: são os problemas relacionados ao
alcoolismo, aos conflitos entre casais que fazem da criança a testemunha de
ofensas e agressões; enfim, toda forma de violência doméstica, traumas, abusos
sexuais, carências afetivas, etc.;
• os riscos relacionados ao lugar de moradia: a precariedade da oferta de
instituições e serviços públicos, a disponibilidade dos espaços destinados ao lazer,
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as relações de vizinhança, a proximidade a localização dos pontos de venda
controlados pelo tráfico de drogas;
• os riscos relacionados à forma de repressão policial às atividades do tráfico
de drogas e a violência urbana;
• o risco do trabalho realizado pelas instituições que os recebem: constituem
os abusos praticados por profissionais, que são encobertos por uma estratégia de
funcionamento que exclui a participação social;
• os riscos à saúde: compreende a ausência de um trabalho de prevenção e
o acesso ao atendimento médico e hospitalar;
• os riscos do trabalho infantil: muitas são as crianças e adolescentes
explorados até pela própria família, trabalhando na informalidade.
• o risco da exploração da prostituição infantil: crianças provenientes de
famílias pobres que se prostituem por dinheiro;
• os riscos inerentes à própria criança ou adolescente: a sua personalidade e
seu comportamento podem torná-los mais vulneráveis aos riscos do envolvimento
com drogas, com álcool, a gravidez precoce, da prática do roubo, furto, etc
Estudos realizados na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) pela
Doutora Veronese 3 com pesquisas efetuadas pelo Centro Brasileiro de Informações
Sobre Drogas e Psicotrópicos, em parceria com a Escola Paulista de Medicina,
investigaram entre alunos das escolas públicas estaduais de Ensino Fundamental e
Médico na capital paulista, obtendo que cerca de 70% dos jovens iniciam seu
contato com bebidas alcoólicas entre os 10 e 12 anos de idade; número superior ao
obtido nos Estados Unidos, cujo índice médio fica próximo aos 50%. O álcool é
prejudicial para todos os níveis de desenvolvimento, sendo que na adolescência traz
prejuízos físicos, emocionais, cognitivos e sociais.
O consumo do álcool na vida do adolescente pode estar relacionado com a
influência familiar e ainda com:
Aceitação num grupo
Curiosidade
Diversão
Sentimento de liberdade
Sentimento de poder.
3 Josiane Rose Petry Veronese é professora titular da disciplina Direito da Criança e do Adolescente e Doutora em direito pela Universidade Federal de Santa Catarina(UFSC).
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A utilização de droga não é tão diferente da utilização do álcool, aliás o
grande parte dos adolescentes que utilizam a bebida alcoólica o fazem em conjunto
como a droga e vice-versa.
Os riscos que podem levar o jovem que se utiliza da droga e do álcool
podem ser reduzidos a partir da parceria escola, diretor, pedagogos, professores e
família.
17
UNIDADE 2: A FAMÍLIA
O ser humano é de natureza social. O primeiro contato social da criança se
dá na família diante de seus pais e demais familiares. Após 2 ou 3 anos o contexto
social se amplia com as brincadeiras com os vizinhos ou com a entrada da criança
na Educação Infantil.
Qualquer que seja a comunidade em que a criança esteja inserida, a mesma
colaborará para sua formação através de atos, mensagens e divulgação dos valores.
“A aprendizagem é influenciar o comportamento inicial do aluno por meio das
experiências vividas na escola, na rua, na família”. (SEAGOE, 1978, p. 6).
Ao buscarmos em escritos de Piaget, Wallon, Vygotsky e outros estudiosos
voltados ao desenvolvimento cognitivo e educacional, temos que: a criança aprende
por observação e posterior imitação do(s) adulto(s) com a qual convive, sendo que
tal conduta “favorece o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral do sujeito”
(PIAGET, 1978). Ora, se é por meio da observação e cópia das atititudes e
comunicações adultas que a criança se desenvolve, apropriando-se de posturas,
condutas e considerações morais de seus cuidadores, pode-se entender que a
criança e o adolescente nada mais são que a reprodução dos que habitam seus
lares e sua comunidade.
Se a familia apresenta uma estrutura de responsabilidade, pontualidade,
honestidade, respeito entre os seus e com os demais ao seu redor,
consequentemente o futuro cidadão também assim o será. Na estrutura familiar em
que cada um faz o que quer, quando quer e se quiser, onde a afetividade familiar
está em decadência e que se tem o direito do outro
como um incômodo, alguns desajustes emocionais e de
condutas com certeza afetarão os entes mais novos. “A família não é um simples fenômeno natural. Ela é uma instituição social variando através da história e apresenta até formas e finalidades diversas numa mesma época e lugar, conforme o grupo social que esteja” (PRADO, 1981, p. 12).
Claro que algumas exceções podem ocorrer, no
entanto nos dias atuais, parece que as exceções estão
virando regras, principalmente no que diz respeito aos
No dicionário Aurélio, a definição de família é a seguinte: “[...] o pai, a mãe e os filhos; pessoas unidas por laços de parentesco, pelo sangue ou por aliança; [...] comunidade formada por um homem e uma mulher, unidos por laço matrimonial, e pelos filhos nascidos dessa união”.
18
deveres escolares.
A estrutura, formação e função dos componentes familiares sofreram
transformações ao longo dos anos, principalmente nas últimas quatro décadas.
Antigamente, ao se falar em família, vinha a mente uma relação de pessoas unidas
por um sentimento de amor, cumplicidade, respeito e com laços sanguíneos, tendo
como membros: um pai, uma mãe, filhos, tios e tias, primos e avós. Toni (2008) a
descreve da seguinte forma: a família de “antigamente” era mais numerosa, mais rígida, com papéis mais estáveis e definidos. Em função disso, com um maior grau de hierarquia, cultivado e respeitado. O arranjo familiar era estável, mediante um casamento duradouro e longevo (TONI, 2008, p.2).
Symanski (2000, p. 17) comenta que “ao se pensar na família hoje, deve-se
considerar as mudanças que ocorrem em nossa sociedade, como estão se
construindo as novas relações humanas e de que forma as pessoas estão cuidando
de suas vidas familiares”.
Embora a C.F. 1988, o ECA, a LDB e outras legislações apontem para a
família quais são as suas funções, não se pode desprezar a informação de qual faixa
a mesma ocupa dentro da organização social e sua participação na economia
nacional ( PRADO, 2005).
Assim, pode-se relacionar algumas das funções que a família tem para com
seu ente familiar e para com a sociedade, visto que um não pode isolar-se do outro:
1. Biológica ou reprodutiva: A origem do sujeito ocorre pelo processo de
reprodução, o qual é regulamentado pela sociedade, em destaque para a
patriarcal, sendo essencial para que a criança seja aceita em seu
contexto familiar – primeira instituição social a qual o sujeito pertence.
2. Identidade social: Função marcante da família; diz respeito a “filiação”, ou
seja, a origem civil do cidadão, registrada em documentos oficiais.
3. Socialização: é na família que ocorre os primeiros aprendizados sobre
costumes e valores, sejam eles morais ou culturais, os quais são
transmitidos pelos membros dessa entidade ( pais, avós, tios, etc).
4. Econômica: a família tem responsabilidade econômica de proporcionar
as necessidades básicas para os seus membros e o estabelecimento do
status social dos mesmos.
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Não é papel da família, ensinar os conteúdos das diversas disciplinas, mas
proporcionar a seus filhos um ambiente adequado, incentivar que os mesmos
prossigam nos estudos. Acrescentando Gokhale (1980) diz que a família “é também
o centro da vida social. A educação bem sucedida da criança na família é que vai
servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for
adulto”. A família sempre foi a base mais poderosa para o desenvolvimento tanto da
personalidade, quanto do caráter de seus membros.
O dever da família está entre outros ao de promover a proteção, afetividade
e educação, tais deveres são reconhecidos pela legislação nacional e nas diretrizes
do Ministério da Educação no tangente a:
- Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), nos artigos 4º e 55.
-Política Nacional de Educação Especial, que adota como umas de suas diretrizes gerais: adotar mecanismos que oportunizem a participação efetiva da família no desenvolvimento global do aluno. E ainda, conscientizar e comprometer os segmentos sociais, a comunidade escolar, a família e o próprio portador de necessidades especiais, na defesa de seus direitos e deveres. Entre seus objetivos específicos, temos: envolvimento familiar e da comunidade no processo de desenvolvimento da personalidade do educando.
Apesar das dificuldades encontradas pela família em lidar com os trâmites
que a vida oferece quanto à situação econômica, social e cultural, cabe sim a esta
instituição a colaboração e participação no desenvolvimento seus filhos.
Os profissionais da educação concordam que a participação da família no
processo escolar de seus filhos vem a contribuir beneficamente para a
aprendizagem destes, os quais se sentem mais seguros e por conseqüência
melhoram seu desempenho escolar.
20
UNIDADE 3: ESCOLA E APRENDIZAGEM
O que é escola? Feita esta pergunta a qualquer pessoa – sendo criança ou
adulto – a imagem elaborada mentalmente remete àquela escola a qual
frequentamos quando pequenos, quer pública ou privada, na qual aprendemos as
cores, a pintar no limite da figura, a reconhecer e traçar a letra “A” (seguida pelas
demais), um quadro negro (que geralmente era da cor verde), uma professora
dedicada, de fala mansa que nos apresentava o mundo das
letras.
A princípio a escola era um local de ensino de
informação intelectual, tendo o professor como sujeito
detentor do saber o qual praticava o ato de transmitir o
conteúdo da matéria curricular ao discentes, que
“absorviam” a informação.
3.1 A PRODUÇÃO CIENTÍFICA - FUNÇÃO ESSENCIAL DA ESCOLA
Atualmente pode-se considerar a escola
como um ambiente físico; local em que o
alcance dos saberes nos remete a real
cidadania. Lugar este onde o trabalho de
mediação entre o conhecimento e o aluno é
desempenhado pelo professor, o qual cumpre o
papel gerador de desenvolvimento e
transformação de cada um de seus alunos
dentro do coletivo da turma.
A escola é um espaço caracterizado pela multiplicidade. Experiências,
realidades, objetivos de vida, relações sociais, estruturas de poder, tradições
Aprendizagem é um
processo que ocorre
através das mudanças
comportamentais
adquirido por meio de
vivências pautadas por
fatores emocionais,
neurológicos, relacionais e
ambientais.
A aprendizagem escolar, ao promover um conhecimento
legitimado pela sociedade, só se torna significativa para
o(a) aluno(a) se fizer uso e valorizar seus conhecimentos
anteriores, se produzir saberes novos, que façam
sentido na vida fora da escola, se possibilitar a inserção
do jovem e adulto no mundo letrado.
21
históricas e vivências culturais diversas dão forma nos discursos que se cruzam em
nosso cotidiano, pondo em diálogo conhecimentos produzidos a partir de várias
perspectivas.
Para se aprender é necessário observar alguém fazendo algo; é assim que
desde cedo os bebês vão se desenvolvendo, através da observação e da imitação
daqueles que os cuidam. Utilizam-se dos órgãos de sentido e pelas sensações vão
decifrando e compreendendo os significados dos sons, das imagens, do odor, do
paladar, do tato. Evidentemente estamos nos referindo à criança normal, que é a
maioria do mundo, sendo que para aquelas com alguma deficiência esse processo
segue um rumo diferente ou moroso em relação aos demais.
O ser humano é um ser social e através do circuito de suas relações, a
aprendizagem se dá de forma quase que natural. O mesmo ocorre com a
aprendizagem escolar, que ocorre num ambiente comunicativo, de observação e
ensaios do aluno, para depois da apropriação dar-se a aprendizagem.
Pautados nos ensinamentos de Vygotsky (1978), a aprendizagem de todo
indivíduo passa pela “zona de desenvolvimento proximal”, a qual diz respeito ao
grupo que convive com o aluno e que o auxilia na gama de sua capacidade
individual cognitiva. Nas palavras de Freire (2001, p.16), a escola propicia a
“aprendizagem em comunhão” e de forma surpreendente, através da valorização da
opinião de todos os envolvidos e respeito de uns pelos os outros, bem como com
respeito a si próprio e a suas condições contextuais.
Teoricamente, a aprendizagem é o resultado da construção e reconstrução
contínua de conhecimentos, no qual o professor é co-autor do processo. Mas como
a escola pode transmitir o conhecimento aos alunos? Diversas são as metodologias
de ensino, algumas opostas devido a filosofia adotada pela escola. O ensino público
segue os DCs o qual orienta que os caminhos a serem seguidos – ou orientados-
sejam os da criatividade, do dinamismo, da valorização das capacidades e
potencialidades individuais de cada aluno, considerando sua vivência e o contexto
no qual o educando está inserido.
Além da aprendizagem conteudística, a escola deve contribuir para a
formação do caráter do cidadão, conforme encontramos na Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDBEN) em seu artigo 32, "O ensino fundamental, com
duração mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola pública, terá por
objetivo a formação básica do cidadão mediante:
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I - o desenvolvimento da capacidade de aprender (...);
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da
tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamentam a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem(...)e a formação de
atitudes e valores;
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de solidariedade
humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.".
Para que se atinja tais finalidades, a escola não pode trabalhar os valores
através de conceitos abstratos e sim por meio de vivências plenas em que o
educando exerça o viver através da prática de valores humanos, de éticas
comportamentais de maneira que se “forme” um cidadão.
Do ponto de vista de Almeida (2004, p.107), “o papel político da escola está
em garantir a todos o acesso ao conhecimento como modo de superar a dominação
decorrente da distribuição desigual do saber e do acesso à cultura”. Para que se
desenvolva um ensino de qualidade politicamente correto, a escola deve oferecer
maneiras de superação das desigualdades.
No tocante a contribuição da escola em respeito do homem, Saviani (2000,
p.36) faz a seguinte consideração "(...) existindo num meio que se define pelas
coordenadas de espaço e tempo. Este meio condiciona-o, determina-o em todas as
suas manifestações." Observa-se a relação da escola tanto no tangente a formação
do homem, quanto na maneira como esta retrata o sistema de classes.
Na visão do citado autor, a educação propicia aos indivíduos a humanidade,
e pode-se avaliar como objetivo alcançado quando os educandos absorvem os
elementos culturais pertinentes a sua humanização.
A função social da escola na concepção de Saviani é o de possibilitar ao
homem que este torne-se responsável, consciente e livre para firmar sua
humanização. Para que isso ocorra faz-se necessário que tanto a escola, quanto a
família ou outra instituição social, promovam a investigação, a reflexão, de forma que
o aluno busque as razões para as explicações da realidade. É através do refletir e do
dialogar que as respostas surgem e não simplesmente através do escutar e “ingerir”
o que foi dito. Saviani (2000, p. 35) faz as seguintes indagações: "(...) a educação visa o homem; na verdade, que sentido terá a educação se ela não estiver voltada para a promoção do homem?"
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"(...) uma visão histórica da educação mostra como esta esteve sempre preocupada em formar determinado tipo de homem. Os tipos variam de acordo com as diferentes exigências das diferentes épocas. Mas a preocupação com o homem é uma constante."
A escola deve abandonar o papel de promotora de mão de obra e ter como
objetivo a formação de jovens como pessoas humanizadas, na qual as funções
consumidoras de produtos, fique a um plano inferior. Oliveira ( 2009) expressa tal
afirmação da seguinte maneira:
É necessário que a práxis educativa dos educadores e educadoras supere o espírito de competitividade individualista e egoísta da sociedade capitalista. A fim de que possa se converter em instrumento de ação política e social, a favor das classes trabalhadoras (OLIVEIRA, 2009, p. 12)
A relação família e escola em conformidade com o tema, podem auxiliar o
jovem aluno a superar suas dificuldades e passar a ver o mundo de forma mais
humana, mais voltada às ações do que às aquisições.
3.2 APRENDIZAGEM SÓCIO POLÍTICA E FORMAÇÃO HUMANA/ÉTICA/MORAL/CIDADANIA: SÓ SERÁ EFETIVA SE CONTAR COM A PARCERIA ESCOLA E FAMÍLIA.
"A educação para a cidadania constitui um conjunto complexo que
abraça, ao mesmo tempo, a adesão a valores, a aquisição de conhecimentos e a aprendizagem de práticas na vida pública.
Não pode, pois, ser considerada como neutra do ponto de vista ideológico". Delors
Assim como a vida social de todo ser humano começa na família, a
formação política e humana do mesmo também deve iniciar pelos familiares, por
meio de procedimentos de humanização, éticos e morais. A escola participa desse
processo juntamente com a família com objetivo de ensinar a criança a ser uma
pessoa civilizada, com educação moral e ética.
A aprendizagem é uma forma de construção e reconstrução de valores e
regras que enobrecem os indivíduos tornando-os mais humanos. Na concepção de
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SIEGEL (2005,p 41) “numa educação ética, é preciso resgatar e incorporar os
valores da solidariedade, de fraternidade, de respeito às diferenças de crenças,
culturas e conhecimentos, de respeito ao meio ambiente e aos direitos humanos".
A aprendizagem da cidadania não acontece de forma teórica, por meio de
informações contidas em livros e apostilas; ela se forma a partir das relações e
convivências tanto sociais quanto públicas. É por meio do exercício diário que
praticamos a cidadania com o circulo relacional e com o meio ambiente.
A construção dos valores morais e éticos tem a ver não só com os
ensinamentos passados pela família e pela escola, como com as fases de
desenvolvimento na qual o educando passa. Num primeiro momento ocorre a
aprendizagem de comportamentos morais; posteriormente ocorre ao julgamento
moral, na qual um avalia os atos de outros, julgando ser certo ou errado. O aspecto
seguinte é o sentimento moral, que se manifesta com os atos do indivíduo, o qual
pode se sentir feliz ou culpado depois de realizar um ato e/ou por não agir da
maneira que mandaria seus princípios ou daqueles que o cercam ( familiares e
profissionais que o acompanha).
A forma como os familiares e a escola lida com as normas e valores,
influência diretamente o desenvolvimento moral de seus filhos, podendo afirmar e
valorizar os comportamentos corretos ou corrigir os errados, dessa forma a
aprendizagem de valores deve ser concisa e desenvolvida de forma sutil, e
transcursar por temas como a democracia, ética, solidariedade, direitos humanos e
ecologia.
Encontramos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs)- Temas
Transversais algumas orientações a respeito da aprendizagem dos direitos de
cidadão aos alunos através da cultura. Por meio da música, teatro, brincadeiras,
esportes e projetos sócio educativos promovidos pela escola, o aluno pode
‘vivenciar’ os seguintes Temas: Dignidade da pessoa humana, Igualdade de direitos,
Participação4 e Co-responsabilidade da vida social. “Na escola, o tema ética encontra-se, em primeiro lugar, nas próprias relações entre os agentes que constituem essa instituição: alunos, professores, funcionários e pais. Em segundo lugar, o tema. Ética encontra-se nas disciplinas do currículo, uma vez que, o conhecimento não é neutro, nem impermeável a valores de todo tipo. Finalmente, encontra-se nos demais Temas Transversais, já que de uma forma
4 Que traz a noção de cidadania ativa, oferecendo complementaridade entre a política tradicional e a participação popular no espaço físico, formada por uma sociedade heterogênea marcada por diferenças de classes, religiosas, étnicas entre outras.
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ou de outra, tratam de valores e normas. Em suma, a reflexão sobre as diversas faces das condutas humanas deve fazer parte dos objetivos maiores da escola comprometida com a formação da cidadania” (PCN: apresentação dos temas transversais, Ética Vol. 8 p. 32).
A formação cidadã , política, moral e ética do aluno terá maior resultado com
a parceria da escola e da família, os quais poderão orientar quanto a formação do
jovem aluno num cidadão atuante na sociedade.
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UNIDADE 4: A FAMÍLIA, ESCOLA E SOCIEDADE
“Uma coisa é por ideias arranjadas; outra é lidar com um país de gente, de
carne e de sangue, de mil e tantas misérias. de sorte que carece de se escolher.”5
(Guimarães rosa, 1956)
A tríade família, escola e sociedade são sustentáculos sem os quais
dificilmente um indivíduo consiga alcançar sua plenitude enquanto cidadão.
A criança nasce dentro de uma família, que indiferentemente a qual modelo
ou classe pertença, é nesse pequeno núcleo que irá receber as primeiras
manifestações de afeto, respeito e segurança ou de rejeição, carência ou violência.
Saber da história da familias e dos alunos são informações importantes
para que a escola possa garantir em seu Projeto Politico Pedagógico (PPP) ações
que busquem a parceria das mesmas com a escola e demais integrantes da
comunidade escolar.
Assim o faz a LDBEN 9394/96 que traz em si a responsabilidade as
instituições a qual nos referimos nesta Unidade. Em seu artigo 1° promulga que a
educação cabe a todos os processos formativos (família, trabalho, movimentos
sociais, organizações da sociedade e manifestações culturais). No artigo 2° institui
que a educação é um direito de todos e um dever do Estado; deve ser baseada nos
princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade; e deve proporcionar uma
preparação plena para a cidadania e o trabalho.
Em seu artigo 12 estabelece os deveres da escola, o qual menciona também
a relação escola e família (observar VI e VII): Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de: I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros; III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabelecidas; IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente; V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento; VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos alunos,
5 Tal frase está inserida no Projeto Político Pedagógico da Escola Estadual Doracy Cezarino, iniciando
o marco situacional dos estudantes, demonstrando dessa forma que a clientela da escola apresenta dificuldades existenciais e situacionais.
27
bem como sobre a execução da proposta pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de 2009)
O artigo 13º trata dos deveres do professor, sendo que no inciso VI novamente
faz menção a articulação família, escola e sociedade: “colaborar com as atividades
de articulação da escola com as famílias e a comunidade”; e o 14 que diz respeito a
gestão democrática da escola, promulgando a participação dos profissionais da
educação e das comunidades escolar e local nos conselhos de classe ou
equivalentes.O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei 8.069/90, traz em
seu artigo 4º ,
É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Dando continuidade as articulações entre a tríade temática, encontramos
nos artigos 53 a 58 do ECA, contidas no capítulo IV que diz respeito ao Direito à
Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer, mencionando o direito á educação, os
deveres do Estado e dos pais, a atuação do Conselho Tutelar, políticas de inclusão
e contexto sócio-cultural
Vale relembrar a iniciativa do MEC em instituir o Dia Nacional da Família na
escola no dia 24 de abril, quando todas as escolas devem promover um encontro
das famílias, seus filhos e profissionais para participar de atividades educativas e
culturais, pois "quando os pais se envolvem na educação dos filhos, eles aprendem
mais", conforme declaração do Ministro Paulo Renato Souza.
O Conselho Escolar auxilia a família, os profissionais da escola e demais
membros a promover a vivência política aos alunos. Nele, as famílias podem
participar de forma ativa nas decisões tomadas pela escola e é um valioso
instrumento que proporciona a aplicação da gestão democrática.
O Conselho Escolar é constituído por representantes de pais, estudantes,
professores, demais funcionários, membros da comunidade local e o diretor da
escola. O Conselho Escolar é de natureza consultiva , deliberativa, avaliativa e
fiscalizadora que pode agir sobre a organização do trabalho pedagógico e
administrativo em concordância com as Políticas e as diretrizes educacionais da
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Secretaria de Estado da Educação, a Constituição Federal, a Constituição Estadual,
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Federal, a Constituição Estadual, a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o Estatuto da Criança e do Adolescente, o
Projeto Político Pedagógico e o Regimento Escolar.
Além dos procedimentos burocráticos, o Conselho Escolar pode voltar-se a
atividades práticas como: atividades sócio culturais com a finalidade de aproximar os
pais para ‘conhecer’ a realidade da vida escolar de seu filho atividades sócio
culturais tais como o dia do cinema, da pintura, do esporte, da família, da receita,
etc.
E para que tudo se efetive com sucesso se faz necessário a parceria da
família com a escola.
‘
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30
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