secretaria de estado da educaÇÃo · 2014. 4. 22. · secretaria de estado da educaÇÃo...
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃOUNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSAPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
CADERNO TEMÁTICO
Relação Professor Aluno: Fator Determinante no Processo de
Ensino e Aprendizagem.
Lucelia Rolinski
Apresentação 4Unidade 1 – Conhecendo um pouco sobre o
assunto 6
Unidade 2 – Aprendizagem Significativa 8Unidade 3 – Relação professor-aluno 12Unidade 4 – Afetividade e Aprendizagem 15Unidade 5 – Disciplina escolar 18Unidade 6 - A Resolução de Conflitos 21Unidade 7 – A Emoção 23Unidade 8 – A Fase da Adolescência 25
SUMÁRIO
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Esta Produção Didático-Pedagógica é uma das atividades que
compõe o Programa de Desenvolvimento Educacional, PDE, que se
constitui numa política de formação continuada e de valorização dos
professores da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná.
O material didático, Caderno Temático, tem a intenção de contribuir
com os profissionais da educação na reflexão acerca de algumas
interfaces constitutivas da Relação Professor-Aluno, abrindo à
possibilidade de ampliação desta problemática e de outras articulações
que lhe sejam pertinentes.
Neste trabalho estão contemplados textos reflexivos que subsidiarão
a implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica no Colégio
Estadual São Judas Tadeu.
As relações em sala de aula, entre professor e aluno, em muitos
momentos passam por dificuldades, acontecem desentendimentos que
interferem sobremaneira no bom andamento dos trabalhos e da
aprendizagem. Percebe-se no atendimento destas situações que os
motivos, por diversas ocasiões, não se tratavam de algo realmente grave
e que o desgaste de ambas as partes poderia ter sido evitado. Torna-se
difícil compreender o que interfere e ajuda no desenvolvimento destes
“conflitos”, dada à grande diversidade presente em sala de aula e a
trama de relações que aí se estabelecem. Estudos confirmam que o
professor ocupa um lugar muito importante na vida do aluno, exercendo
a função de mediador entre o conhecimento, e que quanto maior for o
nível de afetividade entre eles, melhor será o resultado da aprendizagem.
Tem que se considerar que os conflitos que ocorrem na relação
professor aluno não podem ser encarados somente como negativos,
porque somos diferentes, temos opiniões diversas e as contestações e
divergências têm o seu lado positivo, podendo levar ao crescimento, ao
amadurecimento, se for bem conduzido e mediado. Neste contexto o
diálogo aparece como condição para um bom relacionamento,
estimulando o aluno a uma participação mais ativa no ensino
aprendizagem, contribuindo para uma aprendizagem mais significativa.
Ao professor, cabe a grande tarefa de encaminhar este processo,
APRESENTAÇÃO
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procurando entender a sua sala de aula, os indivíduos que ali estão, pois
no processo de transformação que se encontram, contestam a
autoridade, causando tumultos no cotidiano escolar. Conhecer mais a
fundo essas questões, procurando entendê-las, auxiliará aos envolvidos
neste projeto a um fortalecimento e melhor encaminhamento de sua
prática pedagógica.
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Este projeto de intervenção aborda a relação professor-aluno e as
implicações no processo de ensino e aprendizagem. Apesar das
discussões atuais, ainda os profissionais da educação carecem pela falta
de informações nas questões acerca da “relação professor aluno”, que
inúmeras vezes apresentam-se para a equipe pedagógica cheia de
conflitos e problemas. Entre as situações que sempre se repetem e
causam conflitos estão a saída de aluno da sala sem autorização do
professor, provocação e briga entre alunos, má vontade na resolução de
tarefas, falta de respeito com o professor, tumulto em sala de aula entre
outros. Estas situações foram observadas e constatadas por meio dos
registros escolares e na sua maioria causam desconfortos, perda de
conteúdo escolar, gerando estresse e mal estar nos envolvidos, além de
déficits na aprendizagem, evasão e até reprovação.
Percebe-se que a situação, quase sempre, não era tão grave assim
e que poderia ter sido resolvida de outra forma. Estes “fatos” fazem
parte da rotina pedagógica e repete-se freqüentemente.
Isto não enriquece a prática pedagógica, mas pelo contrário,
preocupa, deixando a equipe pedagógica muitas vezes sem ação, por
lançar mão dos conhecimentos e experiências que possui e não
conseguir resolver e/ou atenuar estes contratempos que acabam
prejudicando as atividades escolares.
Ao estudar e refletir mais sobre o relacionamento professor-
aluno espera-se fortalecer a prática pedagógica e ajudar o professor a
compreender melhor e atuar junto aos alunos.
Desta forma, este material didático pretende contribuir com os
seguintes objetivos:
• Identificar os fatores responsáveis pelos conflitos em sala de aula;
• Compreender como a relação professor-aluno interfere no processo
de ensino e aprendizagem;
• Propor momentos de reflexão aos professores para a importância da
UNIDADE
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CONHECENDO UM POUCO SOBRE O ASSUNTO
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adoção de posturas e encaminhamentos que os auxiliem na construção
de uma aprendizagem significativa.
Para atingir tais objetivos será utilizado na metodologia, para
coleta de dados, os seguintes instrumentos: questionários, observações
do contexto escolar e registros de situações conflituosas.
A análise será permeada com a leitura e aprofundamento teórico
acerca do tema.
Espera-se contribuir com a prática pedagógica, ampliando as
discussões para a melhoria das relações humanas na escola e da
aprendizagem dos alunos.
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Antes de compreender a aprendizagem significativa é necessário
discutir as relações que permeiam o processo de ensino, considerando
que neste contexto o professor exerce um papel importante na mediação
do conhecimento. Neste processo de construção do conhecimento é
imprescindível conceber a sala de aula não como simples espaço de
transmissão do conhecimento, mas como espaço onde se constrói este
conhecimento. Desta forma, exige-se do professor que ele reveja
constantemente seu modo de ensinar e de conceber o ensino. Para
Kullok (2002) o processo de aprender é compreendido como a busca de
informações, aquisição de habilidades e de mudanças de atitudes e
comportamentos.
No processo de aprendizagem o aluno é o sujeito e o construtor
desse processo, sendo necessário que os elementos que participam deste
processo tenham um bom relacionamento. Nesta ótica, onde se valoriza
o aprender é necessário haver uma interação entre quem ensina e quem
aprende (KULLOK, 2002). Assim, a aprendizagem deixa de ser
mecânica e memorística e passa a ter significado para o aluno.
A aprendizagem significativa, de acordo com Ausubel, é um “[...]
processo por meio do qual uma nova informação relaciona-se com um
aspecto relevante da estrutura de conhecimento do indivíduo. Ou seja, a
interação da nova informação com uma estrutura cognitiva específica
[..].
Nesta direção a educadora Kátia Smole (2000) ressalta “[...] para que
uma aprendizagem ocorra ela deve ser significativa, o que exige que
seja vista como a compreensão de significados, relacionando-se às
experiências anteriores e vivências pessoais dos alunos, permitindo a
formulação de problemas de algum modo desafiantes que incentivem o
aprender mais, o estabelecimento de diferentes tipos de relações entre
fatos, objetos, acontecimentos, noções e conceitos, desencadeando
UNIDADE
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APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA Revendo Conceitos
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modificações de comportamentos e contribuindo para a utilização do
que é aprendido em diferentes situações”.
Cabe ao professor, como mediador do conhecimento, a
incumbência de possibilitar a articulação entre as experiências anteriores
e o conhecimento científico, por meio de atividades desafiadoras e
estimulantes.
Entretanto, não significa que em determinados momentos de uma
aula, o professor não possa lançar mão da aprendizagem mecânica. O
professor poderá utilizar quando houver a necessidade do aprendizado
de conceitos novos e que mais tarde, passará a ser também Significativa,
a partir do momento que encontrar ou criar novas Estruturas Cognitivas.
Sendo assim a “[...] promoção da aprendizagem significativa se
fundamenta num modelo dinâmico, no qual o aluno é levado em conta,
com todos os seus saberes e interconexões mentais. A verdadeira
aprendizagem se dá quando o aluno (re)constrói o conhecimento e
forma conceitos sólidos sobre o mundo, o que vai possibilitá-lo agir e
reagir diante da realidade. (SANTOS, 2004).
A aprendizagem é significativa para o aluno quando novos
conhecimentos ganham um significado para ele tornando-o capaz de
explicar situações com suas próprias palavras, quando consegue resolver
problemas novos, quando passa realmente a compreender e entender.
Existe um conjunto de atitudes que favorecem a aprendizagem,
entre eles pode-se citar: (SANTOS apud FONSECA, 2008)
- a proposição de desafios que estejam ao alcance de todos;
- o auxílio na superação das dificuldades;
- o acompanhamento da linguagem utilizada em sala de aula e a
linguagem natural do aluno;
- a garantia de um ambiente em que o aluno se sinta parte do processo;
- o reconhecimento e a valorização de pequenos sucessos de cada aluno;
- o estímulo à conquista da autonomia nos alunos;
- estabelecimento de relações entre o novo conhecimento e o saber dos
alunos (SANTOS apud FONSECA, 2008).
De acordo com Fonseca (2008) o professor precisa vencer algumas
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barreiras para promover a aprendizagem significativa:
-compreender que seu principal papel não é dar aulas, mas, sim
provocar a aprendizagem;
-refletir e questionar: o que dá mais trabalho, facilitar a aprendizagem
ou impor a aprendizagem?;
-encarar o desafio de oportunizar em suas aulas momentos de trabalho
efetivo dos alunos em que sejam levados a criar, analisar, simplificar,
enfim a desenvolver sua capacidade de pensar;
-compreender que a aprendizagem se constrói de dentro para fora e para
isso o aluno precisa interagir, deixar de ser passivo;
-entender que a finalidade principal da educação escolar é a
aprendizagem, não o programa de ensino.”
Portanto, pode concluir-se que as “[...] relações envolvidas numa
perspectiva de aprendizagem significativa não se restringem aos
métodos de ensino ou a processos de aprendizagem. Na sala de aula, o
conhecimento não é apenas transmitido pelo professor e aprendido pelos
alunos. Ensinar e aprender com significado implica em interação,
disputa, aceitação, rejeição, caminhos diversos, percepção das
diferenças, busca constante de todos os envolvidos na ação de conhecer”
(SMOLE, 2000). Desta forma, a aprendizagem significativa é uma
trama de relações cognitivas e afetivas, estabelecidas entre os
envolvidos e que repercutem na construção do conhecimento.
REFERÊNCIA
Defendi, Ricardo. Teoria de Ausubel. Disponível em: <http//rdefendi.sites.uol.com.br/ausubel/ausubel3.htm> acesso em 27/06/11.
FONSECA, Tânia Maria de Moura. A Relação Professor Aluno: Realidade e Possibilidades. In: PARANA. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. O professor PDE e os desafios da escola pública paranaense, 2008. Curitiba: SEED/PR., 2011. V.1. (Cadernos PDE). Disponível em: <http://www.pde.pr.gov.br > acesso em 22/09/10.PHPSESSID=2010011308222591.
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KULLOK, Maisa Gomes Brandão. Relação Professor Aluno – Contribuições à Prática Pedagógica. Maceió: Edufal, 2002.
SANTOS, Julio Cesar Furtado dos. Aprendizagem Significativa: modalidades de aprendizagem e o papel do professor. 1ª Ed. Porto Alegre: Mediação, 2008.
SANTOS, Julio Cesar Furtado dos. O Desafio de Promover a Aprendizagem Significativa, 2004. Disponível em: <http//www.juliofurtado.com.br/textodesafio.pdf> acesso em 22/05/11.
SMOLE, Kátia Cristina Stocco. Aprendizagem Significativa: o lugar do conhecimento e da inteligência, 2000. Disponível em: <http://www.mathema.com.br/default.asp?url=http://www.mathema.com.br/intel_multiplas/_display.html> acesso em 22/06/11.
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RELAÇÃO PROFESSOR ALUNO
Não se pode negar que o indivíduo, em sua formação é fortemente
influenciado, primeiramente pelo grupo familiar, no qual satisfaz suas
necessidades básicas, estabelece relações com todos os seus membros,
modelo de aprendizagem para ele e depois pela escola, grupo mais
formal, com normas e regras que deverão ser seguidas, que
proporcionam interações ao indivíduo, necessárias à sua construção
como pessoa.
Conforme KULLOK (2002, p. 54):
No terceiro ano de vida, acontece uma reviravolta nas condutas da criança e nas suas relações com o meio, o qual é de suma importância para a existência da criança e que Wallon acredita haver desde o período fetal, prolongando-se além do nascimento. É nesta fase que se iniciam os conflitos interpessoais, onde a criança opõe-se a tudo que julga diferente dela, que venha do outro. O conflito eu-outro não é exclusivo do estágio da formação do eu, que o autor chamou de personalista; pois surgirá uma nova crise de oposição no período da adolescência, crise essa necessária para a reconstrução da personalidade, sendo, na sua opinião, um importante recurso para a diferenciação do eu.
Os conflitos que acontecem neste período na escola são
importantes para a formação da personalidade e terão que ser
administrados e mediados pelo professor. Refletir e tentar entender essas
situações assim como, o motivo que os desencadeou é uma forma de
diminuir o clima emocional em sala de aula.
Na raiz do pensamento pedagógico walloniano há uma especificidade assinalada ao professor: ele é o eixo da atividade pedagógica. Ao se incumbir da função de transmissor do conhecimento, o professor deve atuar como um arguto observador, no sentido de articular, sempre que possível, os aspectos afetivo e intelectual, ambos inseparáveis e presentes na atividade pedagógica (ALMEIDA, 1999, p.103).
Sendo um espaço educativo, a escola é um local de convivência, de
relações, de conflitos, de desejos, de emoções, onde professor e aluno
estão presentes como pessoas completas, dotadas de conhecimento e de
afetividade, imprescindíveis ao desenvolvimento humano.
Em relação à afetividade é importante ressaltar que ela evolui, no
início da escolarização a criança necessitava de contatos mais físicos
UNIDADE
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como abraçar, beijar e à medida que seu crescimento acontece os afetos
tornam-se mais cognitivos, incluindo conhecer, ouvir, admirar, elogiar.
Ao fazer a adequação da atividade às capacidades do aluno, ao
proporcionar condições para que ele realize a atividade, ao acreditar em
sua capacidade, ao dar atenção às suas dificuldades, o professor está
demonstrando afetividade e estabelecendo vínculos com o aluno.
Segundo KULLOK (2002, p. 60) “[...] o relacionamento entre
professor e aluno deve ser de amizade, de troca de solidariedade, de
respeito mútuo, enfim, não se concebe desenvolver qualquer tipo de
aprendizagem, em um ambiente hostil.
Apesar do relacionamento depender tanto do professor como do
aluno, é dado ao professor, como mediador do processo, a incumbência
de desenvolver vínculos afetivos com os alunos. Para estabelecer esses
vínculos o professor terá que considerar e respeitar a realidade que o
aluno traz consigo, as vivências, os conhecimentos adquiridos até agora,
procurando também despertar o seu interesse pela aprendizagem,
relacionando o novo conhecimento com aquilo que o aluno já sabe.
O diálogo vem a ser um aliado fundamental na relação
professor/aluno e a sua utilização pelo professor não deve desvalorizar e
desmerecer a sua figura como sendo “aquele que permite tudo”, o
“bonzinho”. O professor tem a responsabilidade de manter o domínio e
a hierarquia em sala de aula, buscando o equilíbrio entre autoridade e
democracia.
Na administração de sua sala de aula o professor terá à sua frente
uma heterogeneidade de alunos com os quais terá tanto sentimentos de
simpatia como de antipatia. Sabemos que quando simpatizamos com
alguém nossa relação com essa pessoa torna-se amigável, acentuando-se
cada vez mais as qualidades dela. No caso da antipatia o mesmo
acontece, ressaltam-se as características negativas da pessoa e a relação
tende a se desgastar e as duas pessoas podem se afastar ou entrar em
conflito.
O professor deve procurar ser imparcial com seus alunos lembrando
que exerce uma influência afetiva muito grande sobre cada um deles. O
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mesmo conteúdo dado em uma sala de aula terá diferentes repercussões
na consciência de cada aluno, variando conforme aquilo que já é
conhecido por ele e pela influência afetiva que o mestre exerce sobre
ele.
Sendo assim fica evidente a necessidade do estabelecimento de boas
relações entre os envolvidos no processo ensino aprendizagem,
permeadas principalmente pelo diálogo e o respeito.
REFERÊNCIA
ALMEIDA, Ana Rita Silva. A Emoção na Sala de Aula. Campinas/São Paulo: Papirus, 1999.
FONSECA, Tânia Maria de Moura. A Relação Professor Aluno: Realidade e Possibilidades. In: PARANA. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação. O professor PDE e os desafios da escola pública paranaense, 2008. Curitiba: SEED/PR., 2011. V.1. (Cadernos PDE). Disponível em: <http://www.pde.pr.gov.br> acesso em 22/09/10.PHPSESSID=2010011308222591.
KULLOK, Maisa Gomes Brandão. Relação Professor Aluno – Contribuições à Prática Pedagógica. Maceió: Edufal, 2002.
MARCHAND, Max. A Afetividade do Educador. São Paulo: Summus, 1995.
PATTO, Maria Helena Souza. Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: T. A. Queiroz, 1993.
TARDIF, Maurice & LESSARD Claude. O Trabalho Docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis/Rio de Janeiro: Vozes, 2005.
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AFETIVIDADE E APRENDIZAGEM
Afetividade e aprendizagem fazem parte da natureza de cada um de
nós, visto que somos seres sociais, precisamos um do outro para nos
desenvolver, em nossos relacionamentos e na convivência estamos
continuamente interagindo e aprendendo.
Na teoria de Henri Wallon, a dimensão afetiva é destacada de forma significativa na construção da pessoa e do conhecimento. Afetividade e inteligência, apesar de terem funções definidas e diferenciadas são inseparáveis na evolução psíquica. Entre o aspecto cognitivo e afetivo existe oposição e complementaridade. Dependendo da atividade há preponderância do afetivo ou do cognitivo, não se trata da exclusão de um em relação ao outro, mas sim de alternâncias em que um se submerge para que o outro possa fluir. A escola é um campo fértil, onde essas relações a todo tempo se evidenciam, seja através dos conflitos e oposições, seja do diálogo e da interação (PANIZZI, 2003).
É fundamental entender que a afetividade e a inteligência interagem
constantemente durante o processo de ensino e aprendizagem e sendo a
sala de aula um espaço vivo, rico e heterogêneo, quanto maior for o
nível de afetividade entre os envolvidos, melhor fluência terá a
aprendizagem.
Os conflitos também fazem parte deste cotidiano e são necessários
ao desenvolvimento emocional e intelectual do indivíduo, podendo tanto
permitir questionamentos e reflexões, se forem bem mediados, como
levar ao desgaste da relação professor/aluno e causar transtornos em sala
de aula que prejudicam a aprendizagem e o trabalho docente.
O processo de ensinar e aprender acontece por meio dos vínculos
entre as pessoas envolvidas, iniciando-se já na vida familiar. O suporte
desta relação é extremamente afetivo. O relacionamento afetivo entre
pai-mãe-filho e muitas vezes irmão(s), muito importante para o
desenvolvimento afetivo da criança, será primordial para o seu
desenvolvimento cognitivo, que vai continuar se ampliando com sua
entrada na escola, sendo transferido para a figura do professor, que
assumirá um papel determinante na relação ensino aprendizagem.
A aprendizagem supõe uma relação entre professor-aluno e se estiver
baseada em afeto terá efeitos positivos sobre a aprendizagem do aluno.
UNIDADE
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As demonstrações de atenção, carinho, incentivo, aceitação,
acolhimento, da parte do professor ajudarão na formação de vínculos
entre eles, tornando mais significativa e prazerosa a aprendizagem. “[...]
a trama que se tece entre alunos, professores, conteúdo escolar, livros,
escrita, etc. não acontece puramente no campo cognitivo. Existe uma
base afetiva permeando essas relações (TASSONI, 2003)”.
Preocupar-se com os alunos, considerar a sua experiência de vida,
dar-lhes autonomia, são formas que o professor pode utilizar para
demonstrar sua afetividade para com eles.
No decorrer do processo ensino aprendizagem o aluno precisa
sentir-se aceito e acolhido pelo professor, apesar das dificuldades que
possui. O olhar do professor para o aluno é fundamental para um melhor
encaminhamento de sua aprendizagem o que envolve valorizar suas
sugestões, elogiar, respeitar seus limites e encorajá-lo.
Por abranger as paixões, os sentimentos e as emoções, a afetividade
também incorpora expressões de raiva, medo e agressividade, tornando-
se importante que o professor tenha conhecimento e discernimento
desses conceitos para poder distingui-los e mediá-los, impedindo as
reações emocionais agressivas e descontroladas, que influem
negativamente na aprendizagem do aluno.
Portanto, observar e ler as emoções em sala de aula, aquelas que o
aluno demonstra através do gesto, da mímica, do olhar, da expressão
facial, auxiliará o professor em sua prática pedagógica, dando-lhe
condições de intervir no momento certo, além de servir como forma de
avaliar o trabalho realizado.
O professor deve tentar utilizar as emoções negativas como a
agitação motora, a confusão, a favor da aprendizagem e do
conhecimento, isto irá facilitar o seu trabalho, assim como entender os
mecanismos que geram este tipo de situação e buscar soluções para
resolver estes impasses.
A atitude do aluno muitas vezes pode ocorrer para chamar a
atenção dos colegas, por vaidade, por um sentimento qualquer e até para
tentar cortejá-los. Nem tudo que o aluno faz é para provocar ou afrontar
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o professor.
Sendo assim fortalecer a confiança entre professor e aluno com
atitudes de respeito, simpatia, acolhimento, diálogo, valorização e
aceitação do outro, auxiliará no desenvolvimento de uma interação mais
efetiva e eficaz, tornando o ambiente mais propício para a efetivação do
processo ensino aprendizagem.
REFERÊNCIA
FERNANDÉZ, Alicia. A Inteligência Aprisionada. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.
PANIZZI, Conceição Aparecida Fernandes Lima. A Relação Afetividade-Aprendizagem, 2003. Disponível em: < http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt13/t132.pdf> acesso em 23/11/10. PEREIRA, Maria José de Araújo & GONÇALVES, Renata. Afetividade: caminho para a aprendizagem, 2010. Disponível em: <http://www.seer.unirio.br/index.php/alcance/article/viewFile/669/625> acesso em 28/07/11.
SILVA, Andrea Catarina da & SANTOS, Roseane Moreira dos. Relação Professor Aluno: uma reflexão dos problemas educacionais, 2002. Disponível em: <http://www.nead.unama.br/site/bibdigital/monografias/relacao_professor_aluno.pdf> acesso em 16/05/11.
TASSONI, Elvira Cristina Martins. Afetividade e Aprendizagem: a relação professor-aluno, 2003. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/23/textos/2019t.pdf> acesso em 28/02/11.
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DISCIPLINA ESCOLAR
Podemos considerar disciplina como o seguimento, obediência às
ordens e regras colocadas por alguém e, nesse contraponto, indisciplina
é o colocar-se contra, não cumprir com as determinações feitas,
causando desordem, tumulto.
No ambiente escolar é considerado aluno indisciplinado aquele que é
desobediente, que não admite o que é colocado pelos demais, que não
aceita a autoridade, aquele que utiliza palavras ríspidas com os colegas e
até com o professor, que agride os colegas, atrapalha o trabalho de
todos, além de não ter um bom aproveitamento.
Hoje nossas escolas estão repletas de alunos de uma heterogeneidade
muito grande, que trazem consigo diferentes realidades e que não se
constituem mais como aqueles alunos “ideais”, que deveriam portar-se
de uma maneira correta e exemplar.
Um dos meios mais utilizados para coibir e tentar lidar com estes
maus comportamentos é a repressão, que só funciona com os indivíduos
que tem respeito pela autoridade, aqueles que conhecem o medo e o
afeto, pois fazem parte de suas relações. Os demais, que não tem esses
valores incutidos em si mesmos, não vão atender às ordens colocadas
pela autoridade do professor, vão se sentir vitoriosos ao ver o mestre
irritado e nervoso.
Nesse sentido Gentile (2010) coloca que: “É impossível falar de
indisciplina sem pensar em autoridade. E é impossível falar de
autoridade sem fazer uma ressalva: ela não é dada de mão beijada, mas é
algo que se constrói. Ou seja, ter autoridade é muito diferente de ser
autoritário Dizer "não faça isso", ameaçar e castigar são atitudes inúteis.
O estudante precisa aprender a noção de limite e isso só ocorre quando
ele percebe que há direitos e deveres para todos, sem exceção”.
Em seu texto, Gentile (2010) esboça um quadro distinguindo o
professor autoritário de um professor com autoridade.
UNIDADE
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Um professor autoritário... Um professor com autoridade...
...exige silêncio para ser ouvido; ...conquista a participação com atividades pertinentes;
...pede tarefas descontextualizadas; ...mostra os objetivos dos exercícios sugeridos;
...ameaça e pune; ...escuta e dialoga;
...quer que a classe aprenda do jeito que ele sabe ensinar;
...procura adequar os métodos às necessidades da turma;
...não tem certeza da importância do que está ensinando;
...valoriza o conteúdo de sua disciplina na construção do conhecimento;
...quer apenas passar conteúdos; ...adapta os conteúdos aos objetivos da educação e à realidade do aluno;
Para o bom desenvolvimento da aprendizagem faz-se necessário
uma relação de respeito entre seus pares, que não pode mais vir do
medo, mas da autoridade emanada da figura do professor, que se sente
na obrigação de manter a ordem e a disciplina em sala de aula, pois
acredita que só assim estará desempenhando corretamente a sua função.
Apesar disso, ainda encontramos em nosso meio educacional
profissionais que utilizam a repressão e o autoritarismo para se fazerem
ouvir e que acreditam que os bons alunos são os que obedecem
passivamente, os que não se mexem na carteira, os que não abrem a
boca. Para Aquino (1998) a indisciplina é considerada como “[...] um
evento escolar que estaria sinalizando, a quem interessar, que algo, do
ponto de vista pedagógico, e mais especificamente da sala de aula, não
está se desdobrando de acordo com as expectativas dos envolvidos [...]”.
Assim, para tentar melhorar o ambiente de aprendizagem, faz-se
necessário lançar mão de algumas medidas que já estão sendo utilizadas
com sucesso, tanto nos grupos, como individualmente e que expressam
manifestações de carinho, atenção, interesse do professor em relação ao
aluno. Entre outras medidas, pode-se destacar ainda: encarregar os
alunos que apresentam maiores problemas de algumas
responsabilidades, entrar em contato com os pais, estabelecer com a
turma as normas e regras de comportamento, são caminhos que podem
ser seguidos por aqueles que desejam bons resultados em sala de aula.
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Quando o problema advém especificamente da aprendizagem, dosar a
matéria e relembrar pontos que ficaram em dúvida, ajuda no processo.
Gentile (2010) também sugere outras alternativas para enfrentar
os alunos considerados "rebeldes". Como por exemplo:
- Deve-se esquecer da imagem do aluno "ideal";
- Observar a criança e o grupo com atenção;
- Procurar criar situações, que levem a turma a refletir sobre o
comportamento de um ou mais colegas, sem, contudo expô-los;
- Conversar com os alunos que atrapalham a aula, procurando ouvir suas
razões;
- Não abrir mão do objeto de seu trabalho, que é o conhecimento;
- Não rotular o aluno, em hipótese alguma;
- Diferenciar as aulas, evitando rotinas;
- Esclarecer as conseqüências para a aprendizagem das atitudes
consideradas inadequadas;
- Lembrar-se de que os conteúdos podem ser atitudinais, e não apenas
factuais e conceituais.
Percebe-se que são alternativas de trabalho relativamente simples de
serem implantadas e seguidas, mas que recaem grandemente nos ombros
do professor, dependendo para sua efetivação, muito da sua atitude e
posicionamento.
REFERÊNCIAS
AQUINO, Julio Groppa. Indisciplina na Escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996.
AQUINO, Julio Groppa. A Indisciplina e a Escola Atual. 1998. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0102-25551998000200011&script=sci_arttext > acesso em 13/06/11.
GENTILE, Paola. A Indisciplina como Aliada, 2010. Disponível em:<http://revistaescola.abril.uol.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/indisciplina-como-aliada-431399.shtml> acesso em 10/07/11.
PATTO, Maria Helena Souza. Introdução à Psicologia Escolar. São Paulo: T. A. Queiroz, 1993.
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A RESOLUÇÃO DE CONFLITOS
Podemos entender o conflito como toda opinião ou maneira diferente
de explicar alguma coisa. Assim, pode-se concluir que o conflito já é
parte integrante de nossa vida, dado a natureza diversa de seres sociais
que somos não tem como evitá-lo. Infelizmente só percebemos o
conflito quando ele se manifesta de forma violenta entre nós.
Por tratar-se de um ambiente heterogêneo, a escola por meio de seus
professores e alunos, em suas relações, são os protagonistas dos
conflitos, que podem acontecer entre os docentes; entre alunos e
docentes; entre alunos; entre pais, docentes e gestores, por diferentes
motivos.
Segundo Chrispino (2002), “[..] o mito de que o conflito é ruim está
ruindo.”O conflito começa a ser encarado como algo mais natural, já
que faz parte de nossa vida e não pode ser evitado. Ele apresenta
algumas vantagens:
• colabora no equilíbrio das relações sociais;
• ensina a enxergar o mundo pela perspectiva do outro;
• ajuda a perceber que o outro possui uma percepção diferente;
• ensina que a controvérsia colabora com o crescimento e
amadurecimento social.
Entender que os conflitos ajudam no amadurecimento e na formação
dos sujeitos nele envolvidos, levando-os à reflexão e entendimento de
seu lugar e do lugar do outro nesta relação é extremamente importante e
ajudará na condução, mediação e resolução dos mesmos.A mediação de conflito é o procedimento no qual os participantes, com a assistência de uma pessoa imparcial – o mediador –, colocam as questões em disputa com o objetivo de desenvolver opções, considerar alternativas e chegar a um acordo que seja mutuamente aceitável (CHRISPINO, 2002).
A mediação pode conduzir a novas relações sociais e de cooperação,
de confiança, de solidariedade, bem como a formação de atitudes mais
UNIDADE
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maduras, espontâneas e livres de resolver as diferenças pessoais ou
grupais.
Para a introdução da mediação de conflito na escola é necessário
assumir que existem conflitos e que estes devem ser superados, pois
muitos estabelecimentos não admitem que eles existem e tentam sufocá-
los, transformando-os quase sempre em manifestações violentas.
As escolas que valorizam o conflito e fazem um trabalho com ele,
são aquelas onde sempre existe o diálogo, para melhor decidirem, onde
as regras e o que é exigido do aluno estão bem explicados, falados e
discutidos.
É necessário também ressaltar as vantagens da mediação do conflito
escolar, pois:
• Dá uma visão positiva do conflito, deixando de vê-lo somente como
negativo.
• Ajuda no fortalecimento da cooperação e fraternidade na escola.
• Cria formas para melhor enfrentar as divergências.
• Melhora a qualidade das relações no ambiente escolar.
• Diminui os índices de violência.
• Auxilia no desenvolvimento do autoconhecimento e do pensamento
crítico do aluno.
• Ajuda na boa convivência entre diferentes, exercitando a tolerância.
A implantação no estabelecimento de ensino da mediação de
conflitos exigirá um diagnóstico do tipo de conflito que nele ocorre,
como também de como se dará o trabalho de mediação, ajudando a
melhorar os relacionamentos, contribuindo para uma convivência mais
saudável e feliz.
REFERÊNCIAS
CHRISPINO, Álvaro. Gestão do Conflito Escolar: da classificação dos conflitos aos modelos de mediação. Ensaio: Aval. Pol. Públ. Educ., Rio de Janeiro, V.15, N.54, P. 11-28, Jan./Mar. 2007. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/42935894/apostilapeb2> acesso em 02/12/10.
PANIZZI, Conceição Aparecida Fernandes Lima. A Relação Afetividade-Aprendizagem, 2003. Disponível em: < http://www.anped.org.br/reunioes/27/gt13/t132.pdf>acesso em 23/11/10.
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A EMOÇÃO
Não há um consenso entre os diversos autores em relação à
conceituação e diferenciação entre emoção e sentimento. Muitas são as
correntes e variações existentes, mas pode-se dizer que as emoções
sempre vêm acompanhadas de reações muito intensas do corpo, como o
choro, a gargalhada. Os sentimentos são mais duradouros destacando-se
a amizade e a ternura. Toda essa afetividade faz parte do nosso dia a dia,
estando conosco em todos os momentos.
Em sala de aula é difícil conseguir trabalhar com as emoções, pois
ela pode surgir a qualquer momento, sem avisar, deixando os indivíduos
à mercê dos acontecimentos emotivos, sem condições de raciocinar e
tomar uma atitude mais sensata e coerente. Nesses momentos o
indivíduo, e no caso o professor, pode ser levado por estas situações
emotivas não conseguindo reagir, ficando alheio à realidade que o cerca.
Sob o efeito das emoções perde-se o controle das situações.
Torna-se necessário, no trabalho em sala de aula, que o professor
consiga tomar atitudes racionais e coerentes quando as situações
emotivas tentam dominar a sala de aula, cuidando para não reforçar
ainda mais estas ocorrências.
Em relação ao aluno sentimentos como medo, ansiedade, frustração,
exigem dele uma carga emocional muito grande comprometendo-o
negativamente em sala de aula. Comparando a alegria com a cólera, a
alegria não causa muitos estragos no conhecimento, ao contrário da
cólera, que expõe o indivíduo causando contração muscular, gritos,
alteração de voz, além de um grande desgaste físico e emocional.
Conseguir observar e fazer uma leitura das emoções através das
reações dos alunos é importante e traz benefícios para o trabalho do
professor, ajudando-o tanto a antever possíveis reações emotivas de
origem negativa, como a perceber se o conteúdo está bem dosado, se as
atividades escolhidas são interessantes e estão despertando o interesse
UNIDADE
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dos alunos.
Para tentar atenuar um pouco as situações desgastantes em sala de
aula “... Os professores podem, conforme a emoção, utilizar várias
técnicas – a dramatização, o desenho, o relato oral – como formas de
reduzir a emotividade dos alunos, já que ativar a ação do córtex é um
mecanismo eficiente contra a emoção ALMEIDA (1999, p. 93).”
O caminho indicado para não se deixar levar pelas ocorrências
emotivas colocadas pela turma é conseguir ficar fora delas, não dar-lhes
atenção, pois as emoções necessitam de espectadores. É correto também
não deixar transparecer aos alunos a insatisfação e o desagrado diante
daquela situação, pois o aluno sente-se realizado quando percebe que
conseguiu deixar o professor bravo e irritado.
Lidar com estas situações emotivas em sala de aula procurando
utilizar as emoções de caráter positivo equilibrando-as com a razão, vão
auxiliar no bom desenvolvimento das atividades.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Ana Rita Silva. A Emoção na Sala de Aula. Campinas/São Paulo: Papirus, 1999.
PEREIRA, Maria José de Araújo & GONÇALVES, Renata. Afetividade: caminho para a aprendizagem, 2010. Disponível em: <http://www.seer.unirio.br/index.php/alcance/article/viewFile/669/625> acesso em 28/07/11.
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A FASE DA ADOLESCÊNCIA
Adolescência é uma etapa intermediária do desenvolvimento
humano, entre a infância e a fase adulta, marcado por diversas
transformações corporais, hormonais e até mesmo comportamentais. Ela
ocorre entre os 10 e 20 anos de idade (período definido pela OMS –
Organização Mundial da Saúde). Para Ferreira (2003, p.15) é o período
que situa-se entre o início da puberdade e a maturidade adulta.
Nesta época os jovens apresentam reações e comportamentos que
não dependem da sua vontade. Nem sempre as palavras agressivas ou
arrogantes são frutos da falta de educação. Seu desenvolvimento passa
por diversas transformações, preocupações, questionamentos e conflitos.
Trabalhar com toda esta diversidade e ainda orientá-los na busca de sua
identidade, exige uma atitude firme e respeitosa da parte do educador.
No trabalho com o adolescente não podemos levar para o lado
pessoal qualquer tipo de afronta vinda de algum deles, nem tampouco
responder a uma provocação no mesmo tom, pois isso só nos fará perder
a admiração do grupo. O jovem sente-se vitorioso quando consegue tirar
o professor do sério, consegue deixá-lo bravo, fora de controle.
Na busca pela independência desafiar o professor faz parte deste
processo, além de atitudes agressivas e ríspidas em relação à autoridade
do mestre, até por conta de sua imaturidade. O professor nestes
momentos deve procurar manter a calma, colocar limites e regras com
respeito, procurando estabelecer uma boa relação mesclando afeto e
diálogo.
Esta fase faz-nos lembrar da teoria de Wallon, que diz que por volta
dos três anos de idade acontecem na criança os conflitos interpessoais,
onde ela se opõe a tudo que vem do outro, repetindo-se na adolescência,
em crises de teimosia, agressividade, explosões, revolta contra a
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UNIDADE
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autoridade do adulto. Essas informações vão facilitar para o professor a
condução e resolução destas ocorrências conflituosas, lembrando que
deve deixar claro para o adolescente, depois que os ânimos se
acalmarem, da sua responsabilidade levando-o à reflexão dos
acontecimentos ocorridos anteriormente.
Para a realização de um bom trabalho vai se exigir do professor que
ele conheça bem o aluno, que ele faça ligações entre o mundo do jovem
e o conteúdo, que ele consiga contornar o comportamento da turma,
precisando para isso de planejamento, responsabilidade e muita
paciência.
Quando chega a puberdade, o adolescente não se contenta mais só
com a família e procura os amigos. Com eles irá se identificar, eles
serão muito importantes nesta fase, trazendo-lhe segurança, ajudando-o
também a superar a solidão.
Alguns problemas surgem com a formação de grupos. Muitas vezes,
por medo de ficarem sozinhos jovens acabam adotando regras e
comportamentos do grupo sem colocá-los em questão. Deve-se ajudá-
los a entender que por fazer parte do grupo, cada integrante deverá
assumir as conseqüências das atitudes tomadas por este grupo. Inúmeras
vezes o adolescente deixa-se levar pelo grupo, faz coisas erradas,
prejudica a si próprio em nome do grupo, devido à necessidade de ser
aceito e apoiado por eles.
Apesar de toda a influência que o grupo exerce sobre o adolescente,
pesquisas mostram que os pais ainda conseguem influir sobremaneira
em suas decisões mais importantes, como que tipo de pessoa ele será,
deixando para o grupo a determinação de decisões mais imediatas como:
se irá gazear aula ou não, com quem deve namorar, que tipo de roupas
deve usar.
Outro aspecto importante em relação ao comportamento do
adolescente é o fato dele não pensar muito sobre as atitudes que toma,
deixando-se levar por suas vontades, como também a crença de que para
ele não acontece nada, que pode fazer tudo que lhe vem à cabeça, o que
tem vontade, podendo isso ocasionar-lhe sérios problemas, como é o
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caso da gravidez, o contágio por doenças sexualmente transmissíveis,
acidentes.
Mais uma vez cabe aos pais e educadores a tarefa de orientá-los
sobre as implicações das atitudes que porventura vier a tomar,
esclarecendo e chamando-o à responsabilidade de seus atos.
A partir do amadurecimento do adolescente, este torna-se mais
independente e sensível às necessidades do outro e como dispõe de
muita energia e criatividade nada melhor do que utilizar-se destas
qualidades para inseri-lo em projetos escolares, que exigirão o seu
empenho e dedicação e o colocarão em contato com situações próximas
da realidade, ajudando em sua formação.
Existem algumas alterações que se sucedem nas diferentes etapas da
adolescência, de acordo com Ferreira (2003, p. 16).
a) A puberdade ou adolescência inicial (11 a 14 anos)
- época de muita atividade e energia
- o crescimento físico é muito rápido
- acontecem muitas crises de apatia, alegria, tristeza, cólera
- os meninos tornam-se mais rebeldes
- há uma grande curiosidade sexual
a) A adolescência média (13 a 16 anos)
- período de análise de si próprio através das amizades e trocas com o
outro
- ocorre a maturação sexual
- época em que faz projeção de metas que seguidamente reformula
c) A adolescência maior ou juventude (16 a 19 anos)
- o corpo já adquiriu sua forma definida
- época de extroversão, volta-se para o mundo
- momento ideal para engajá-lo em grupos de trabalho solidário
- época de tomar decisões em relação ao futuro, aos estudos…
- já consegue escolher um companheiro ou companheira
Para ter um melhor relacionamento com o adolescente sugere-se:
- ter com ele uma sincera amizade;
- utilizar-se sempre de compreensão, respeito e confiança;
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- procurar conduzi-lo com firmeza, exigindo aquilo que é realmente
necessário, cedendo naquilo que não é importante;
- ensinar-lhe a respeitar o ponto de vista do outro;
- aprender a escutá-lo;
- oferecer-lhe um ensino estimulante e interessante.
REFERÊNCIAS
CAVALCANTE, Meire. Adolescentes - Entender a cabeça dessa turma é a chave para obter um bom aprendizado, 2004. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/adolescentes-entender-cabeca-431429.shtmletembro 2004> acesso em 16/07/11.
FERREIRA, Berta Weil... [ET AL]. Psicologia e Educação. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
MARTINS, Ana Rita. A importância do grupo para os jovens, 2010. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/crianca-e-adolescente/comportamento/qual-papel-importancia-grupo-jovens-adolescencia-jovem-puberdade-identidade-546793.shtml> acesso em 17/07/11.
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