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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
CURITIBA – PARANÁ
CRENÇAS DE AUTO-EFICÁCIA DOCENTES E SUAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS: UMA ANÁLISE POSSÍVEL
WATFA A. CHAMI1 Profª Drª Helga Loos2
RESUMO
Este artigo investiga o sistema de crenças de auto-eficácia e as percepções sobre suas próprias capacidades para ensinar dos professores de duas escolas da rede pública estadual, a fim de detectar como elas afetam a sua atuação profissional. Para tanto, procura estabelecer articulações entre identidade e emoção, manifestadas na auto-estima e autoconceito do professor e sua conseqüente formulação de auto-eficácia frente aos desafios de suas atividades diárias no ambiente escolar. Tem como objetivo entender como se constitui esse sistema, como se inter-relaciona e quais as suas problemáticas. Tomou-se como referência a pesquisa quantitativa por apresentar-se como uma possibilidade de análise do que se desejava investigar. Assim, foram aplicados questionários a professores de uma escola do ensino regular e a professores de uma escola da EJA. Os resultados da pesquisa indicaram que os professores investigados têm crenças que afetam a sua auto-estima e a sua atuação pedagógica.
Palavras-chave: Professor; Crenças; Identidade; Auto-eficácia; Escola Pública.
ABSTRACT
This paper investigates the system of self-efficacy beliefs and perceptions about their own abilities to teach the teachers of two schools in the public state network, to detect how they affect their professional performance. To that end, it seeks to establish links between identity and emotion, expressed in the self- 1 Professora Pedagoga - PDE 2007 2 Professora Orientadora - UFPR
esteem and self-concept of teacher and their consequent formulation of self-efficacy towards the challenges of their daily activities in the school environment. It aims to understand how that system is, as inter-related and what their problems are. The quantitative research was taken as a reference by presenting itself as an opportunity to review what it wanted investigated. Thus, questionnaires were applied to the teachers of a regular education school and teachers from a school in EJA. The survey results indicated that the teachers investigated have beliefs that affect their self-esteem and their educational performance.
Keywords: Teacher; Beliefs; Identity; Self-efficacy; Public School.
Introdução
Analisar os núcleos de construção da identidade, auto-estima e
autoconceito, como símbolos, significados e códigos de linguagens dos
professores, bem como o sistema de crenças desenvolvido durante a carreira
profissional, a fim de verificar como esse sistema é constituído e como impacta
no seu fazer pedagógico e, conseqüentemente, na aprendizagem dos alunos é
o objetivo deste artigo.
O conhecimento das próprias capacidades do professor e a crença de
que seu comportamento pode interferir no processo de ensino-aprendizagem,
afetando tanto os alunos como o próprio professor, é de capital importância
para melhorar o ensino, pois as experiências do professor, positivas ou não,
representam valiosos fatores na definição da auto-eficácia. Tal é a importância
de se investigar esse tema, pois o sistema de crenças e as percepções do
professor sobre suas próprias capacidades para ensinar afetam sua atuação
profissional e interferem no seu sucesso profissional.
As atividades pedagógicas dos professores, bem como todo o ambiente
escolar inserido num contexto particular de cultura e administração, propiciam
condições para desenvolver algumas características próprias que os
identificam como um todo, como uma classe profissional, bem como os
predispõem a algumas particularidades individuais.
Decorre daí, sob novas referências sociais e profissionais, suas
identidades e suas crenças, pois se sabe que a prática diária do professor está
marcada por dificuldades, frustrações e fracassos inerentes mesmos à função
de ensinar. São limites associados aos diferentes tipos de administração,
algumas distanciadas, a uma carga horária extensa, a trabalho, não raro, em
mais de uma escola, a turmas numerosas, baixa cooperação da família,
ausência de apoio dos colegas, falhas no sistema educacional, o que acaba
interferindo na sua auto-estima e, conseqüentemente, nas crenças sobre sua
eficácia profissional.
Dentro desse contexto, o professor apresenta crenças sobre a natureza
do conhecimento, sobre si mesmo e a sua própria capacidade para ensinar e
promover a aprendizagem. Nessa perspectiva, cabe perguntar: acredita o
professor, em maior ou menor grau, que o seu comportamento pode interferir
no processo de aprendizagem dos alunos e que possui capacidade para tomar
decisões? Quais os aspectos emocionais do professor que se refletem nas
suas atividades e atitudes profissionais? Como a apropriação de valores,
regras sociais e formas de comportamento adquiridos no decorrer da vida
comparecem em seu trabalho cotidiano? Que imagem o professor faz de si
mesmo e como ela transparece em seu trabalho na sala de aula? Que
representações simbólicas transparecem no trabalho do professor que o
identifica com os seus pares? Como essas manifestações ocorrem, evoluem
organizam-se e se transformam, revelando aspectos importantes da
constituição do sujeito e da sua identidade? Como os professores se
representam em suas atividades sociais e profissionais? Quais os significados
de sua ação no contexto social?
Buscar apreender as crenças do professor é um pressuposto que orienta
o trabalho aqui desenvolvido, pois o psiquismo funciona com base nos sentidos
e significados historicamente construídos e compartilhados culturalmente.
Considerando que a atividade humana é explicada por meio de influências
sociais e culturais, este artigo foi idealizado e desenvolvido a partir de pesquisa
teórica e de campo e interpretada à luz da teoria pertinente, estabelecendo as
possíveis causas, expectativas, crenças dos professores e suas implicações no
sucesso escolar.
Considerando-se que subsídios para o conhecimento de nossas crenças
sobre a auto-eficácia são relevantes para entender como elas atuam e afetam
o fazer pedagógico e, conseqüentemente, a aprendizagem dos alunos, tivemos
o interesse em compreender melhor os sujeitos protagonistas do processo
pedagógico. Buscamos analisar suas percepções, crenças e as relações de
comprometimentos entre os fatores pessoais e pedagógicos que permeiam o
viver escolar e as implicações destes fatores no processo de realização
pessoal e profissional. Para tanto, analisamos as crenças de auto-eficácia de
professores de escola regular e de escola da EJA e sua influência na atuação
pedagógica do professor e as conseqüências na aprendizagem dos alunos.
Este trabalho pretende, pois, trazer alguma contribuição para o
autoconhecimento do professor, para que, mais ciente de si mesmo, possa
desempenhar melhor o seu papel no cenário pedagógico. Nesse sentido, dar
ao professor subsídios para esse autoconhecimento através do
reconhecimento de suas crenças é relevante. É importante que conheça os
mecanismos constitutivos da sua personalidade e identidade, que podem
explicar como o professor se percebe, em que acredita e como essa visão e
essas crenças interferem em sua eficácia profissional.
O QUE DIZ A TEORIA
1. Cognição e emoção
A história da construção do indivíduo é constituída por uma sucessão
oscilante de experiências ou momentos dominantemente afetivos ou cognitivos,
de forma integrada. Isso significa que a afetividade depende, para evoluir, de
conquistas realizadas no plano da inteligência e da emoção e vice-versa.
A vida emocional está conectada a outros processos psicológicos e ao
desenvolvimento da consciência de um modo geral. Sendo assim, seu papel na
configuração da consciência só pode ser examinado por meio da conexão
dialética que estabelece com as demais funções e não por suas qualidades
intrínsecas.
Nessa conexão, o repertório cultural, as inúmeras experiências e
interações com outras pessoas representam fatores imprescindíveis para a
compreensão dos processos envolvidos. Por analogia, consideramos que a
interação entre a vida pessoal, as experiências e os sentimentos de uma
pessoa afetam o seu trabalho profissional e vice-versa, ou seja, afetam-se
reciprocamente.
O conhecimento de que a personalidade se aprende traz consigo a
consciência de que a escola e, em geral as instituições educativas e,
principalmente, as famílias contribuem para a aprendizagem e o
desenvolvimento das habilidades, tanto da natureza cognitiva quanto o
aprendizado de “ser pessoa”. O conceito de si mesmo ou autoconceito
abrange, no dizer de Epstein (1981), apud Fierro (1996), um conjunto bastante
amplo de representações mentais que incluem imagens e juízos e não somente
conceitos que o indivíduo tem a respeito de si mesmo e que englobam seus
distintos aspectos corporais, psicológicos, sociais e morais.
O autoconceito comporta juízos descritivos sobre a própria pessoa e
também juízos avaliativos de auto-valorização, compondo este último a auto-
estima. Autoconceito e auto-estima podem referir-se, além disso, à própria
pessoa como um todo, à representação global que se tem de si mesmo, ou
também às atitudes e características particulares referentes, por exemplo, à
própria capacidade intelectual.
Fierro (1996) diz que o autoconceito, as expectativas de conquistas ou
de auto-eficácia, as atribuições, as características e processos de
personalidade são aprendidos. São experiências de vida e dos resultados dos
próprios atos, os quais contribuem para forjar, para “aprender” uma
determinada personalidade. Seguramente, as experiências mais importantes
para a formação da personalidade são as experiências interpessoais, aquelas
que se tem, não com o meio físico ou impessoal, mas com o meio social, com
outras pessoas, sobretudo com pessoas significativas para os mesmos.
À medida que a pessoa se desenvolve, ela vai tendo uma percepção de
si mesma. À princípio, suas impressões se baseiam nas reações de outras
pessoas, do que manifestam sobre ela. Aos poucos, à impressão de si mesma
vai se juntando o sentimento, ou seja, a pessoa começa a entender que se
sente bem quando alguém se refere a ela de forma positiva. Isso lhe dá prazer,
procura sempre agradar e corresponder à expectativa dos outros. Quando
amplia seu universo de experiências, com colegas, companheiros, professores,
além dos pais , suas habilidades de percepção vão se aprimorando, permitindo
uma avaliação por si mesma, não mais pelos outros, e o surgimento de um
senso de dignidade interior ou, dito de outra forma, o desenvolvimento da auto-
estima.
Para Dupret (2006), a auto-estima é algo que acontece nas pessoas e
se define como o sentimento de gostar de si mesmo. Difere do autoconceito,
que se refere à noção ou idéia que faço de mim. Ela vai sendo construída ao
longo do desenvolvimento e por causa de sua amplitude de interferências tem
sido um dos temas debatidos nos ambientes educativos, atualmente. Este
“sentir-se digno”, gostar de si mesmo, acreditar em suas potencialidades,
interfere no enfrentamento e na busca de soluções para situações-problema,
inclusive encorajando o indivíduo a ter iniciativa e criatividade.
2. Autoconceito e auto-eficácia
Autoconceito é uma crença ou conjunto de crenças que temos sobre nós
mesmos. Quem sou eu? Que características eu tenho? Quais as crenças que
me identificam e me diferenciam dos demais? Que crenças auto-refenciadas,
no plano físico, social e acadêmico ou intelectual, fazem parte da minha
identidade?
O que eu sou, quem sou, o que penso sobre mim mesmo, quais são
meus sentimentos, minha história de vida, quais são as minhas capacidades e
limites formam o conjunto de crenças que temos sobre nós mesmos. É uma
crença sobre quem somos, objetiva e subjetivamente. Percepção e crença
criam o conceito ou autoconceito. O que acredito sobre mim mesmo e sobre a
minha capacidade de ter controle sobre as situações que aparecem, com base
nas características que vejo em mim, que gosto ou não, determina o meu
senso de confiança e eficácia. Satisfeito ou não com o meu conceito ou
autoconceito, dou valor ou atribuo uma valoração para as minhas
características, criando, então, a auto-estima.
A auto-estima é o valor que me atribuo e tem uma dimensão afetiva,
emocional. A valoração é subjetiva: gosto ou não gosto de algo, conforme o
grupo social dita o que é válido ou importante. A valoração associa a minha
percepção ao que a sociedade dita. O autoconceito é formado pelo que nos
dizem e o que incorporamos, interiorizamos e é formado pela nossa percepção
(cognição).
Um conceito bastante próximo do autoconceito é a auto-eficácia.
Enquanto o autoconceito refere-se a uma percepção mais ampla de si mesmo,
envolvendo autoconhecimento e sentimentos de auto-avaliação (Marsh, Walker
e Debus, 1991, citado em Costa e Boruchovitch, 2006), a auto-eficácia diz
respeito às expectativas sobre o desempenho em tarefas específicas. A
discussão sobre crenças de auto-eficácia encontra-se inserida na Teoria Social
Cognitiva de Albert Bandura, tendo como marco o clássico texto de 1977.
(Sadalla, Saretta & Escher (2002, apud Azzi et ali, 2006) afirmam que o
conhecimento das crenças docentes e das relações destas com as suas ações
poderão viabilizar efeitos positivos e duradouros no processo ensino-
aprendizagem, beneficiando tanto alunos quanto professores. Conforme aponta
Navarro (2002, apud Azzi et ali, 2006), os professores apresentam crenças
sobre a natureza do conhecimento (crenças epistemológicas), sobre as causas
que explicam suas realizações e as de seus alunos (atribuição causal,
motivação), as percepções sobre si mesmos (auto-conceito, auto-estima) e
crenças sobre sua própria capacidade para ensinar e promover a
aprendizagem (auto-eficácia).
3. Quais são as crenças do professor?
Para Abreu e Massetto (1990, apud Aquino, 1996), “É o modo de agir do
professor em sala de aula, mais do que suas características de personalidade,
que colabora para uma adequada aprendizagem dos alunos. O modo de agir
do professor em sala de aula fundamenta-se numa determinada concepção do
papel do professor”.
Cunha (1988 apud Aquino, 1996) parece concordar com essa idéia ao
afirmar que o “comportamento do professor é um todo e depende do cosmo-
visão que ele possui, pois a forma de agir do homem revela um compromisso.
E é essa forma de ser que demonstra mais uma vez a não neutralidade do ato
pedagógico”.
Segundo Falssetti (1994, citado por Aquino, 1996), para a pedagogia, o
professor seria incondicionalmente aquele que ensina. Porque ensina,
imaginaria portar um determinado saber e estaria decidido a transmiti-lo ou a
ele submeter, por força ou interesse, àquele que se coloca na relação como
aluno.
O ambiente escolar é um ambiente coletivo pelo fato de a interação estar
presente todo o tempo, e todos os atores interagirem socialmente, trabalhando
juntos e defrontando-se com problemas e dificuldades similares, buscando os
mesmos objetivos e, como grupo, sofrerem as mesmas limitações e obstáculos
(Bandura, 1986, 1993 citado em Bzuneck, 2000). Conseqüentemente é
bastante provável que as crenças individuais de eficácia no ensino reflitam
consideravelmente as opiniões e percepções correntes que permeiam o círculo
de professores. Isso reflete não só o que acontece numa determinada escola,
mas vale também para toda a classe profissional, formando uma espécie de
cultura ou sistema (Bandura, 1993; Feiman-Nemser e Floden, 1986, citados em
Bzuneck, 2000).
Da mesma forma, pode-se inferir que quando forem baixas as crenças
individuais de auto-eficácia, pode-se prever que o primeiro impacto negativo
ocorrerá com o nível de metas acadêmicas a serem estabelecidas. Como não
se acredita ser possível conseguir resultados maiores e de melhor qualidade, o
nível das aspirações do grupo sofrerá um significativo rebaixamento, com
conseqüências imediatas nos níveis de esforço a ser desempenhado com os
alunos, dos quais também não se cobra tudo que poderiam render.
Portanto, é de extrema relevância que se conheçam os mecanismos
psicológicos subjacentes às crenças coletivas de auto-eficácia. Segundo
Pajares (1992) (apud Bzuneck, 2000), a aculturação é um dos processos que
explicam a formação da auto-eficácia. Através dela, cada indivíduo acaba
absorvendo elementos culturais de seu meio, resultando, daí, uma
aprendizagem incidental, que envolve observação e imitação, comunicação
verbal, participação e, finalmente, assimilação.
Como exemplo, citamos as conversas informais mantidas em
corredores, nas salas dos professores, nas reuniões pedagógicas, sobretudo
nas conversas paralelas. Muito embora nem todos revelem, nessas ocasiões,
suas dúvidas, seus problemas ou eventuais fracassos, tais situações acabam
invariavelmente revelando os problemas diversos com que os professores se
deparam nas suas atividades docentes, surgindo, então, identificações,
comentários, atribuições de causalidade, propostas ou sugestões de linhas de
ação, tanto positivas e otimistas quanto derrotistas, de fracasso ou de
acomodação.
As interações sociais dos professores exercem forte influência nas suas
crenças de eficácia. Segundo pesquisas, as descobertas mais importantes
sobre as fontes de influência nas crenças de eficácia são resumidamente:
1. O clima geral da escola. Há considerável aumento nas crenças de auto-
eficácia dos professores que percebiam em suas escolas altos níveis de
colaboração entre os mesmos e os supervisores (Chester e Beaudin, 1996;
Imants e Brabander, 1996; Ross, 1995 citados em Bzuneck, 2000). Shachar e
Shmuevitz (1997, apud Bzuneck, 2000) completam dizendo que, além da
colaboração entre os professores influenciar suas crenças de que podem
promover relacionamentos inter-pessoais positivos nos alunos, somente altos
níveis de colaboração entre os professores afetam positivamente as crenças de
eficácia geral no ensino, mas não a crença de eficácia pessoal.
2. Os professores mais jovens e inexperientes, com crenças iniciais mais
baixas de auto-eficácia, tiveram incremento nessas crenças ao trabalharem
cooperativamente com professores mais experientes, intrinsecamente
motivados e com crenças mais elevadas. (Chester e Beaudin, 1996 apud
Bzuneck, 2000).
3. As interações com os colegas que proporcionam um feedback confirmatório
aos procedimentos didáticos empregados por alguns professores contribuem
indiretamente para a crença de eficácia pessoal, enquanto que, em alguns
casos, o feedback negativo pode reduzir tal crença (Smylie, 1988; Ross, 1995
apud Bzuneck, 2000), portanto o impacto de qualquer interação dependerá de
seu conteúdo;
4. A conseqüência prejudicial de certas características negativas dos alunos
não incide diretamente sobre o seu rendimento escolar, mas sim sobre os
professores, que são abalados em suas crenças de eficácia no ensino. Se o
conjunto dos professores, e nisso pesa muito a liderança forte da direção e da
equipe pedagógica, acreditar que, mesmo em situações adversas de uma
clientela não-responsiva, eles podem com seu esforço motivar os alunos e
fazê-los aprender, tais escolas chegarão a resultados positivos surpreendentes;
5. Fortes crenças de auto-eficácia foram encontradas nos professores de
escolas que têm projeto pedagógico com metas definidas, um planejamento
consensual sobre todas as atividades, com uma ideologia de melhora
constante e com uma integração entre as filosofias pessoal e da escola (Ross,
1995, apud Bzuneck, 2000).
Os professores se sentem com mais eficácia quando a ajuda que
recebem de seus colegas contribuem para a melhora progressiva de suas
habilidades de ensino e no domínio dos conteúdos que representam fatores
primordiais para que os alunos se envolvam e aprendam. Assim, a própria
cooperação terá como resultado final a percepção de experiências de êxito por
parte dos professores. Com deficiências de conteúdo ou de didática, eles
produzirão, previsivelmente, níveis mais baixos de aprendizagem nos alunos
com um conseqüente decréscimo nas crenças de eficácia.
O apoio e a ajuda positiva de colegas e da administração rompem essa
cadeia perversa, possibilitando experiências de êxito e incremento nas crenças
de eficácia. De pesquisa realizada por Ashton (1984, apud Bzuneck, 2000), ela
conclui que a dificuldade dos professores de manter fortes crenças de eficácia
era por eles atribuída a seu relativo isolamento, à falta de apoio por parte da
direção e dos colegas e a uma sensação de impotência, por não participarem
das decisões-chave da instituição.
As crenças dos professores como: o professor sabe mais do que o
aluno; o professor deve cuidar para que o aluno não cometa erros; o professor
deve e pode julgar e avaliar o aluno; o professor pode determinar a legitimidade
dos interesses dos alunos; o professor pode e/ou deve definir a comunicação
possível com o aluno, determinam, segundo Aquino (1996), em grande medida
a forma como o professor atua em sala de aula e como ele se relaciona com os
alunos.
Todo professor, sujeito a dificuldades e frustrações, precisa receber, na
forma de verbalização persuasiva, informações de que o seu trabalho pode dar
resultado e de que, portanto, é capaz de dar conta dos desafios da classe. A
ausência de tais informações e gestos de apoio aos professores provoca ou
alimenta dúvidas quanto à sua própria eficácia e, como conseqüência, gera
uma resignação ao cumprimento forçado e mecânico do trabalho, muitas
vezes, infrutífero de reger uma classe.
Por fim, como medida produtora de uma auto-eficácia individual e
coletiva e sua permanência constante, todos os envolvidos no trabalho escolar,
professores, administração e equipe pedagógica, devem manter em foco
atitudes positivas de apoio e incentivo em suas interações sociais.
Metodologia: Características da pesquisa
Analisar o discurso do professor para se chegar aos núcleos de
significação presentes, que compõem o conjunto de crenças e representações
que ele faz de si mesmo e da escola e sua conseqüente interferência na sua
atuação pedagógica é o cerne deste trabalho. Foi desenvolvido a partir da
análise de apenas alguns dos dados colhidos na pesquisa, aqueles
considerados mais relevantes, num enfoque quantitativo. Entretanto, o
instrumento utilizado é misto, contendo questões fechadas e também questões
abertas, sujeitas à categorização e à análise qualitativa.
Para tanto, foram selecionados aleatoriamente professores em vários
momentos da atividade profissional. A obtenção de dados se fez por meio de
questionários estruturados para possibilitar maior abrangência da amostra,
cujas respostas foram agrupadas por categoria.
Através dessa análise, identificamos as unidades de significados mais
recorrentes no discurso do professor, como se constitui sua identidade, suas
representações e suas crenças, considerando o contexto social e a
historicidade do processo, particularmente a representação subjetiva da
identidade manifestada por meio da linguagem e interpretada pelo referencial
teórico adotado e como a escola reconhece os elementos integrantes de sua
identidade e como lida com eles.
A pesquisa de campo foi realizada com professores da Rede Pública
Estadual, sendo que 31 deles são de escola de Ensino Regular e 50 de escola
da EJA, ambas situadas no município de Curitiba PR, totalizando 81
pesquisados.
O contato com as duas escolas e a permissão para realizar a pesquisa
ocorreram sem transtorno. Apresentamos às Direções das duas escolas o
Projeto de Pesquisa, no que foi compreendido e aceito imediatamente. Após, o
Projeto foi apresentado aos professores, juntamente com o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, deixando-os livres para participarem dele
ou não. De forma que só responderam ao questionário aqueles que se
sentiram identificados com ele e desejaram participar da pesquisa. Os
questionários foram respondidos individualmente, sem identificação e sem a
interferência da pesquisadora.
O tratamento dado às informações dos questionários ocorreu da
seguinte maneira:
a) Todas as respostas foram agrupadas conforme sua semelhança e de
acordo com as unidades de análise previamente utilizadas;
b) As unidades de análise tiveram como propósito organizar as falas dos
entrevistados e agrupá-las de acordo com a similitude de seu conteúdo.
Foram estabelecidas de conformidade aos objetivos delineados e
serviram para verificar se a pesquisa efetuada aponta alguns
indicadores que respondem às questões constituintes da problemática
levantada na consecução deste trabalho;
c) O cruzamento das respostas se deu de acordo com a similitude das
questões propostas, pois embora os professores pertencessem a duas
escolas diferentes, com modalidades de ensino diferentes, as questões
envolviam situações comuns a todos os professores;
d) Após a tabulação de todos os dados, procedeu-se à elaboração de
gráficos e tabelas a fim de facilitar a leitura dos mesmos;
e) Por fim, procedeu-se à análise e discussão do material colhido à luz do
referencial teórico adotado.
O QUE DIZEM OS DADOS: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
1. Construção da Identidade Profissional
Os dados coletados através dos questionários indicam que mais da
metade (54%) do grupo de respondentes da amostra é constituída por homens
e 46% são formados de mulheres, cujas idades, em média, variam entre 31 e
50 anos. Cerca da metade dos participantes da pesquisa são profissionais com
experiência acima de 15 anos e 30% deles estão na profissão há menos de 10
anos.
De modo geral, os pesquisados trabalham em uma ou duas escolas e
cerca da metade deles tem uma carga-horária que varia entre 30 e 50 horas
por semana. É também grande o número de professores com carga semanal
entre 15 e 30 horas, chegando próximo dos 40%.
Dentre todos os entrevistados, cerca de 60% afirmam que gostam da
profissão e quase 20% escolheram a profissão por causa da estabilidade que
ela proporciona, de modo que são muito poucos os profissionais que dizem ter
escolhido o magistério por motivos como falta de opção quando fizeram o curso
de graduação ou porque a profissão oferece muitas vantagens.
Ao serem questionados sobre o impacto que o salário de professor tem
sobre sua auto-estima, os respondentes se manifestaram conforme revela a
tabela3 que se segue, demonstrando um número bastante significativo de
profissionais que se sentem afetados por ele. Isso pode significar que o salário
é um importante fator de confiança e auto-afirmação do professor, visto que o
salário é um elemento que se estende por diversos segmentos da vida pessoal
e profissional.
3 Tabelas e Gráficos elaborados pela autora
O salário obtido como professor afeta
sua auto-estima?
Opções Resultado
Total
Sim 40
Não 40
Não respondeu 1
Sinto-me desvalorizada(o) 12 Não corresponde ao esforço e investimento feito
9
Salário baixo é desmotivador 2
Limita minhas possibilidades 2
Outros 6
Por outro lado, é preciso avaliar que o trabalho tem um papel fundamental
como fator de identificação com o grupo. Todas as transformações sociais
ocorridas nos últimos tempos têm provocado profundas mudanças na vida
social e individual e contribuído grandemente na construção de identidades. A
identidade emerge das práticas histórico-sociais dos grupos ou das categorias
profissionais em torno de um objetivo social que os unificam num todo ou que
os fazem distintos e específicos numa sociedade.
De acordo com Martins e Bulgacov, (2006), o trabalho é uma importante
referência para o indivíduo. A relação do indivíduo com o seu trabalho vai além
de uma mera necessidade econômica ou de sobrevivência. Dá também uma
satisfação ao ego e preenche a necessidade de fazer algo, de deixar sua
marca, de registrar sua importância. É através das relações sociais e da
interação com o grupo que o sujeito se realiza, se identifica e é reconhecido.
Se considerarmos a organização como uma identidade construída por grupos
de pessoas que se relacionam entre si, poderemos estudar os processos de
identificação e reconhecimento que ocorrem no interior desta.
A articulação entre identidade e trabalho vem de uma tradição que
confere ao papel social expressividade na constituição da identidade. A
identidade do trabalhador constitui-se precocemente através da identificação
com modelos adultos e / ou através da inserção concreta no mundo do
trabalho. O exercício de certas atividades e o convívio com determinadas
relações sociais constituem os “modos de ser” que qualificam os pares como
iguais e se expressam em comportamentos similares, modos de vestir, de falar,
etc. (Jacques, 1997 in Martins e Bulgacov, 2006).
Um olhar panorâmico sobre os diferentes conceitos de identidade
profissional permite consolidar o entendimento da emoção e da identidade
como partes integrantes da personalidade do indivíduo, que se complexifica no
processo de aquisição de cultura e experiências, formando um sistema de
motivação complexo e interdependente, mediado pelas relações com pessoas,
significados e pela linguagem.
Quem somos ou quem estamos nos tornando a cada momento na vida
social é uma questão cujo construto de identidade possibilita a compreensão
de como as mudanças em que vivemos têm afetado a vida em comunidade e a
vida íntima contemporâneas, segundo Woodward (1997) e Giddens (1992),
(apud Lopes e Bastos, 2002).
Nesse sentido, a adesão total ao trabalho é muito importante para a
constituição da identidade, não só pelo valor de estar empregado, em que se
pode realizar um trabalho, mas também pelo sentimento de pertencimento que
aí se encerra, não estar mais sozinho, conviver com iguais – e iguais altamente
diferenciados dos demais. (Schirato, 2000 in Martins e Bulgacov, 2006).
Para Camargo (2004), no entanto, é da relação emocional com o outro,
indiferenciada e não mediada no início, que irão nascer outras funções mais
elevadas, como a função simbólica, a atividade intelectual e as condutas
sociais. Em busca de reconhecimento e aceitação, o sujeito se deixa levar pela
cultura do meio, pelas exigências profissionais e esquece de olhar para si
mesmo, para os seus desejos e aspirações. Abre mão de sua história e de
seus sonhos e muda radicalmente sua rotina diária. De certo modo, o indivíduo
deixa de se pertencer para pertencer às demandas do grupo e da organização,
o que gera conseqüências para a sua autonomia e identidade.
Quando o salário não o satisfaz ou não lhe dá o sentimento de pertença
suficientemente sólido e contínuo, pode ocorrer que o sujeito queira ou pense
em buscar alternativas de identificação em outras atividades, como sugerem os
gráficos abaixo, contendo o resultado das respostas dos participantes da
pesquisa quando questionados sobre a possibilidade de desistir da profissão e
os motivos que os levaram a pensar nela.
As motivações ou as causas para o professor cogitar em mudar de
profissão aparecem de forma bem delineada, com destaque para o fato de se
sentir desvalorizado social e profissionalmente, pois, conforme Camargo
(2004), a identidade profissional é sustentada pela relação do indivíduo com o
trabalho. O estresse aparece como a segunda causa motivadora do abandono
da profissão. Dos pesquisados, 54% já pensaram em desistir da profissão.
Esse índice significativo aponta para uma direção que vale a pena investigar
com mais profundidade, dada a sua importância quanto à afirmação da auto-
estima e das crenças de auto-eficácia dos profissionais.
Não37
46%
Sim, menos de 5 vezes
2531%
Sim, entre 5 e 10 vezes
1012%
Sim, mais de 10 vezes
911%
Já pensou em desistir da profissão?
Não Sim, menos de 5 vezes
Sim, entre 5 e 10 vezes Sim, mais de 10 vezes
2. Crenças de auto-eficácia e suas variadas manifestações
No âmbito educacional, a auto-eficácia tem sido entendida, de modo
geral, como crença na própria capacidade de alcançar um efeito produtivo e
relevante na quantidade e qualidade do envolvimento e aprendizagem dos
alunos. Para Tschannen-Moran & Wolffolk & Hoy (2001, apud Azzi et ali, 2006)
a crença de auto-eficácia do professor é definida como o julgamento de suas
capacidades em alcançar os resultados desejados de engajamento e
aprendizagem do aluno, até mesmo entre aqueles que possam ser difíceis ou
desmotivados.
As atuais teorias sobre motivação têm como foco central as relações de
crenças, valores e metas com a ação ou comportamento do indivíduo. A partir
de sua vivência e experiência, o professor formula suas crenças e passa a
atuar segundo elas. Segundo Hermann (1992 apud Barone, 2003), essas
experiências revelam o nosso “rosto”, aquilo pelo qual nos reconhecemos e nos
sentimos ser reconhecidos pelos outros. É próprio do homem só se fazer
homem a partir do contato que mantém com outra pessoa, com outro
Desvalorização profissional e
social27
30%
Salário20
22%
Estresse26
29%
Trabalho escolar realizado em casa
89%
Outros9
10%
Por quê?
Desvalorização profissional e socialSalárioEstresseTrabalho escolar realizado em casaOutros
semelhante. Somente outro ser humano é capaz de insuflar no seu íntimo a
marca do humano.
Diante de obstáculos, de um modo geral, o sujeito vê sua auto-estima e
autoconfiança desafiadas. Como eu vou me sair ao resolver os problemas?
Como me sinto em relação à determinada atividade? No caso do professor,
dados da pesquisa indicam que quando seus alunos não vão bem é que sua
auto-estima mais sofre, fazendo-o repensar sua postura e sua prática
pedagógica.
Para Bandura (1986, apud Azzi et ali 2006), as experiências de sucesso
interferem de modo intenso na definição das crenças de auto-eficácia. Com o
professor não é diferente. O resultado positivo dos alunos e verbalizações
persuasivas de que o trabalho docente está dando certo e que é capaz de dar
conta dos desafios da classe geram o incremento da crença, causando um
efeito circular: um bom desempenho dos alunos informa que os professores
podem acreditar em sua capacidade para ensinar com eficácia; o alto senso de
eficácia dos professores melhora a capacidade de aprendizagem dos alunos.
Pesquiso os motivos do aluno.
57%Procuro motivação
e aumento as aulas práticas.
913%
Não podemos mudar conjunturas
econômicas e políticas.
12%
Analiso a minha prática pedagógica
e repenso minha metodologia.
2231%
Às vezes fico deprimido.
913%
Não afeta12
17%
Não respondeu12
17%
Quando os seus alunos não vão bem, como isso afeta sua crença de que você pode fazer melhor e é um bom
professor?
Desse modo, o trabalho do professor exige um repensar constante e
contínuo das suas atividades pedagógicas. Ele se vê, inesperadamente, em
situações que desafiam a sua confiança, fazendo-o buscar alternativas,
fazendo-o dividi-la com a equipe pedagógica, com seus colegas de trabalho ou
buscando respostas em literatura específica, conforme se pode verificar na
tabela abaixo. É provável que sua auto-estima fique afetada, trazendo
conseqüências nas suas crenças de auto-eficácia.
Quando você tem dúvidas sobre sua atuação
pedagógica, o que faz?
Opções Resultados
Total Procura a direção da escola 13
Pede ajuda à equipe pedagógica 59
Conversa com os colegas 53
Procura ajuda na literatura específica 29
Não respondeu 1
Outros - Quais?
Converso com os alunos 3
Não tenho dúvidas 1 Pesquiso na Internet e na biblioteca 1
Faço auto-análise para perceber as falhas 1
Troco idéias 1
O senso de eficácia do professor determina o seu desempenho e as
atividades que escolhe para desenvolver na sala de aula, bem como aquelas
que desenvolve na vida em geral. A confiança que o indivíduo tem na sua
capacidade para desempenhar com sucesso determinada tarefa ou conjunto de
tarefas ajuda a determinar se o indivíduo irá iniciar, perseverar e ser bem
sucedido em determinados desempenhos (Lent, Hackett & Brown, 1999 apud
Azzi et ali, 2006).
Nos anos 80, estudos de Ashton e seus colaboradores (1984, 1985 apud
Bzuneck, 2000) analisavam especificamente o senso de eficácia dos
professores sob a perspectiva da teoria de Bandura. A partir desses estudos,
que focalizavam a relação entre eventuais progressos dos alunos, medidos por
testes padronizados de desempenho com determinados padrões de manejo de
classe, os pesquisadores verificaram que diferenças entre professores em
função de seus conhecimentos e de suas crenças sobre o ensino e
aprendizagem eram determinantes no resultado ou no sucesso de seu
trabalho.
Nesse sentido, os professores se sentem diretamente responsabilizados
pelo desempenho dos seus alunos. Mesmo os questionados podendo assinalar
mais do que uma alternativa na questão abaixo colocada, ainda foi significativo
o número de professores que se consideram, juntamente com a escola,
responsáveis pelo fracasso dos seus alunos.
Quando alguns dos seus alunos fracassam,
a que fatores você atribui esse fracasso?
Opções Resultados
Total
Familiares 63
Econômicos 34
Do próprio professor 33
Sociais 43
Pessoais 45
Da escola 19
A partir dos estudos que estabelecem uma relação entre as crenças dos
professores e o sucesso dos alunos, ampliou-se o interesse pelas crenças dos
professores e pela auto-eficácia como categoria de análise. Desde então, o
conceito de auto-eficácia, desenvolvido por Bandura (1977), denominado
Teoria da Aprendizagem Social-Cognitiva, passou a ser utilizado como
referencial e informa sobre a nossa possibilidade de atuação e controle sobre
as situações. É uma crença, percepção ou expectativa das pessoas sobre suas
próprias capacidades em executar ações exigidas para se atingir determinado
resultado ou desempenho.
Segundo essa teoria, as mudanças de comportamento são possíveis
apenas na medida em que a pessoa tiver um forte senso de auto-eficácia. De
acordo com Bzuneck (2000), o que determinará que uma pessoa inicie
atividades nas quais enfrente situações difíceis, envide esforços
correspondentes e, a despeito de quaisquer obstáculos ou condições adversas,
persista em seus propósitos, são suas expectativas de auto-eficácia, isto é,
suas convicções de que tem capacidade de executar os comportamentos
exigidos para atingir os resultados pretendidos, sem desistir no percurso.
Nessa perspectiva, conforme Camargo (2004), pode-se inferir que a
motivação, conceito que engloba todos os processos e estados psíquicos que
põem em movimento o comportamento do indivíduo e o orientam para objetivos
ou o impulso, intrínseco e individual, para agir a partir de uma necessidade ou
carência para um determinado comportamento, dependerá do grau que a
pessoa revelar essa percepção positiva.
Quando questionados sobre a participação do professor no fracasso dos
seus alunos, os maiores índices das respostas dadas indicam que as causas
estão no professor ou nas crenças que ele tem sobre si mesmo.
Excesso de aulas5
14%
Falta de preparo das aulas
617%
Desmotivação7
20%
Cansaço8
23%Muitas aulas expositivas
617%
Má formação profissional
39%Não participo
00%
Qual a sua participação nesse fracasso?
É preciso considerar que a formação da auto-eficácia se dá a partir das
experiências e das vivências positivas ou não. Quando um encontro ou
experiência tem um valor decisivo e assume uma significativa importância,
daquelas que julgamos divisoras de água em nossa vida e que depois dela
temos a certeza que já não somos os mesmos, essa experiência ganha status
de transformadora e passamos a considerá-la como medida para a crença de
capacidade. Essa experiência é paradigmática e seu valor é fundamental para
determinar as nossas crenças.
Na interação entre professor e aluno, a auto-eficácia do professor é
decisiva na mudança do aluno e é bem marcada por diferentes situações que
exemplificam sua interferência na construção da confiança e da autonomia do
aluno. O outro lado dessa moeda é a percepção do próprio professor perante
as suas capacidades para resolver com eficiência os impasses no seu
complexo fazer pedagógico diário.
3. Impactos das crenças de auto-eficácia dos professores na aprendizagem dos seus alunos
Qual é a importância prática da auto-eficácia do professor na sala de
aula? Quais são as influências das crenças que o professor tem sobre suas
próprias capacidades? Quais são as influências da auto-eficácia sobre o
comportamento e a motivação do professor? De acordo com Bandura (1986,
1993 citado em Bzuneck, 2000), há quatro principais conseqüências da auto-
eficácia que se reflete:
a) No estabelecimento de metas para si próprio. Quem tem mais altas crenças
de auto-eficácia busca maiores desafios;
b) No grau de esforço investido nas tarefas: quanto mais sólidas forem as
crenças de auto-eficácia, mais esforço é feito;
c) No grau de persistência, apesar das dificuldades ou dos obstáculos;
d) Na maneira pela qual a pessoa reage aos eventuais fracassos
Os eventos ou experiências escolares que mais afetam as crenças de
auto-eficácia dos professores são de diferentes ordens, a saber: o
comportamento dos alunos, as realizações dos alunos, o tempo de exercício na
profissão e até a idade do professor, etc. No gráfico abaixo, fica evidenciado
que o desrespeito ao professor comparece como o maior índice de participação
nas respostas dos professores pesquisados, quando questionados a respeito
de suas crenças. Tal fato pode indicar que as crenças dos professores
colocam-nos como causa central da motivação dos seus alunos.
Além disso, Bandura (1997, apud Azzi et ali 2006) desenvolveu um
construto definido como eficácia coletiva, são crenças compartilhadas no grupo
sobre sua capacidade para organizar e executar ações em direção a uma meta
específica. Para ele, as escolas desenvolvem crenças coletivas sobre as
capacidades para aprender, de seus alunos, capacidades para ensinar, de
seus professores e capacidades dos dirigentes para criar ambientes
condizentes às tarefas do professor e ao desenvolvimento dos estudantes.
Escolas com fortes crenças de eficácia coletiva exercem influências sobre seus
membros e esses efeitos são visíveis e evidentes por criar uma atmosfera que
facilita e promove a interação e a integração dos participantes, oferecendo
Desrespeito ao professor
3622%
Desmotivação pessoal do aluno
5131%
Conteúdos sem atrativos
4025%
Aulas Chatas23
14%Outros
138%
Quando os alunos não participam da aula e ficam conversando, isso, para você, é sinal de:
Desrespeito ao professorDesmotivação pessoal do alunoConteúdos sem atrativosAulas ChatasOutros
apoio social e recursos facilitadores para a promoção do sentido de capacidade
pessoal e coletiva.
Considerações finais
Na perpectiva deste trabalho, e já delineando o resultado da pesquisa,
temos como foco de atenção o professor. É evidente a relevância do papel do
professor no sentido de estimular o aluno a descobrir potencialidades,
encorajando-o a acreditar que é capaz de realizar algo, instigando-o a ousar.
Mas, para que isso aconteça, é preciso que o próprio professor mostre, através
de suas ações, que confia em si mesmo como alguém dotado de capacidades
e que acredita no potencial do aluno, demonstrando na prática a importância de
sua figura no próprio desenvolvimento do aluno. Nesse enfoque é que se
sublinha a importância de se investir no trabalho com a auto-estima, como uma
das respostas possíveis para a demanda da Educação na Pós-Modernidade, já
que desperta importantes valores humanos.
Os conteúdos das crenças dos professores entrevistados, expressas nas
respostas dos questionários estruturados, revelam os problemas, as
dificuldades, as crenças, os mitos, as verdades, identificando pontos em
comum, atribuições de causalidade, processos que os unificam e identificam
social e profissionalmente.
A análise dos dados colhidos permite dizer que grande parte dos
professores questionados sentem sua auto-estima afetada por causa do baixo-
salário e do pouco reconhecimento social, provavelmente por causa do impacto
que o ele tem nos mais diversos segmentos da vida pessoal e profissional. Os
dados indicam também que o professor se sente desvalorizado social e
profissionalmente e a maioria já pensou em desistir da profissão.
Os dados obtidos na pesquisa também nos permitem concluir que,
constantemente, o professor se vê em situações inusitadas, que lhe exigem
buscar apoio em diversos segmentos da escola. A pesquisa aponta que boa
parte dos professores pesquisados tem suas crenças de auto-eficácia afetadas.
De maneira geral, tivemos a confirmação de alguns pressupostos
teóricos apontados pelos pesquisadores das crenças de auto-eficácia.
Entretanto, por não ser este um trabalho exaustivo, principalmente pelas
condições materiais do desenvolvimento da pesquisa e dos limites de tempo
que são impostos a trabalhos dessa natureza, percebemos que nossa
contribuição tem limitações que a restringem ao delineamento de uma visão
panorâmica do tema. Entretanto, ela nos permite indicar outros possíveis
caminhos investigativos, que possam completar o escasso universo de
pesquisas a respeito de questões que envolvem as crenças dos professores da
rede pública estadual. Nesta direção, consideramos que merece uma
investigação mais apurada em trabalhos futuros o alto índice de ocorrências de
busca de apoio por parte do professor e de sua culpabilização pelo fracasso
dos seus alunos.
Delineamos neste trabalho, em linhas gerais, as crenças de auto-eficácia
dos professores da rede pública do Estado do Paraná. Acreditamos ter trazido
alguma luz ao tema abordado. Porém, ele está submetido ao nosso
entendimento e habilidade em traçar as conexões necessárias, submetendo a
análise ao foco dos nossos condicionamentos para registrar a realidade
pesquisada, não tendo em momento algum a pretensão de debater o tema
proposto à exaustão. Pretendeu apenas apontar possibilidades de aproximação
ao tema, sem colocar nele um ponto final.
Referências
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e Psicanálise: História, Atualidade e Perspectivas. Casa do Psicólogo, 2003. BZUNECK, José Aloyseo. As crenças de auto-eficácia dos professores. In: SISTO, Firmino Fernandes e OLIVEIRA, Gislene Campos de. Leituras de Psicologia para a Formação dos professores. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. CAMARGO, Denise de. As Emoções & e a Escola. Curitiba: Travessa dos Editores, 2004. COSTA, Elis Regina da e BORUCHOVITCH, Evely. A auto-eficácia e a motivação para aprender. In: AZZI, Roberta Gurgel e POLYDORO, Soely A. J. (Org.) Auto-eficácia em diferentes contextos. Campina, SP: Editora Alínea, 2006 DUPRET, Leila. Identidade e Auto-estima: O Entrelaçamento Possível à Educação da Pós-Modernidade. http://www.ines.org.br/paginas/revista/espaco17/debate1.pdf Acessado em 23/05/2007. FIERRO, Alfredo. Personalidade e Aprendizagem no Contexto Escolar. In: COLL, César et alii (Org.). Desenvolvimento Psicológico e Educação: Psicologia da Educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. LOPES, Luiz Paulo da Moita; BASTOS, Liliana Cabral (Org.) Identidades: recortes multi e interdisciplinares. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2002. MARTINS, Samantha de Toledo e BULGACOV, Yára Lúcia Mazziotti. Identidade, cultura e Socialização em Jovens Executivos. In: CAMARGO, Denise de Camargo e BULGACOV, Yára Lúcia Mazziotti (org.). Identidade & Emoção. Curitiba, PR: Travessa dos Editores, 2006.