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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

ELCIA GODINHO DE MORAES DA SILVA

As Festas do Município de Ubiratã-PR (1960-1990) a Partir de Fotografias: um estudo de identidades culturais e patrimônio

histórico na sala de aula.

CAMPO MOURÃO2012

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEEDSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

FACULDADE ESTADUAL DE CIÊNCIAS E LETRAS DE CAMPO MOURÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

ELCIA GODINHO DE MORAES DA SILVA

As Festas do Município de Ubiratã-PR (1960-1990) a Partir de Fotografias: um estudo de identidades culturais e patrimônio

histórico na sala de aula.Artigo apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, vinculado à Universidade Estadual do Paraná – UEPR/ Faculdade de Ciências e Letras de Campo Mourão –FECILCAM e à Secretaria de Estado da Educação, sob orientação do Professor Me. Jorge Pagliarini Junior.

CAMPO MOURÃO2012

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As Festas do Município de Ubiratã-PR (1960-1990) a Partir de Fotografias: um estudo de identidades culturais e patrimônio

histórico na sala de aula.Elcia Godinho de Moraes da Silva¹1

Jorge Pagliarini Junior²2

RESUMO: O presente artigo problematiza os resultados do projeto de intervenção pedagógica desenvolvido no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2011-2012 e apresenta possibilidades para se romper com a barreira do desinteresse nos estudos históricos escolares. Em síntese, parte-se da proposta na qual a análise imagética de festas locais possibilita a construção de um estudo histórico significativo por produzir fontes junto com os alunos e a partir de arquivos particulares de moradores e de imagens de veículos oficiais da imprensa e da propaganda local e regional. Trata-se de despertar nos alunos o interesse pela pesquisa em história local, tendo a fotografia enquanto fonte mediadora. A fotografia marca usos e costumes e permite ao historiador a produção do conhecimento histórico a partir de releituras do passado e de toda uma discussão da relação dialógica presente entre o olhar daquele que produziu a imagem, a sociedade retratada (e/ou silenciada) e a realidade histórica dos alunos. Assim, a fotografia é uma fonte histórica de fácil acesso, que, a partir diálogo com a arte, propicia o rompimento com o elitismo e socializa os fatos históricos.Palavras-chave: Fotografia, memória, fontes, festas.

ABSTRACTThe Festivals of the Ubiratã city (1960-1990) from Photographs: a study of

cultural identities and the patrimony of the historic inside classroom.

This work discusses the results of the pedagogical intervention project developed at the program for educational development for teachers (PDE) in Paraná State from 2011-2012. It presents the possibilities to break the barrier of lack of interest in historical studies. In short, it starts from the proposed imagery analysis of local festivals enables the construction of a study to produce important historical sources along with students from local residents and images of official vehicles of the media and local and regional advertising. It is to awaken student’s interest in researching on local history having the photograph as a source mediator. The photograph signalize habits and allows the historian the production of historical knowledge from the rereading of the past and a whole discussion of this dialogical relationship between the look of those who produces the image, the society portrayed (and/or silenced) and the historical reality of students. One historical source of easy access, which, from the dialogue with the art, provides a break with elitism and it can socialize the historical facts.

Keywords: Photograph, memory, sources, festivals

1 Graduada em História pela FAFIJA de Jacarezinho, Pós graduada em Historia,Sociedade e Meio Ambiente pela FECILCAM. Atua no Colégio Estadual Cecilia Meireles de Ubiratã.2 Graduado e Mestrado em Historia pela Unioeste de Cascavel, IES- FECILCAM de Campo Mourão.

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1 Introdução

Através de deste artigo pretendo relatar experiências de estudos do programa

de capacitação dos docentes da rede pública do Estado do Paraná, designado

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). Essa experiência inovadora de

valorização do profissional da educação possibilita ao professor o retorno à

academia, numa forma de aproximar prática e teoria. Enfim, a experiência do

Programa PDE levanta um debate sobre o distanciamento do profissional da

educação em relação às teorias como fator de dificuldades para a proposta de novas

metodologias que possibilitem uma renovação educacional.

Nesse sentido, o projeto de intervenção, pautado por sua vez no caderno

pedagógico produzido no decorrer do programa PDE, buscou problematizar o estudo

da história local, e utilizando a temática das festas, através de suas fotografias,

lança as expectativas de se trabalhar numa produção de material didático em sala

de aula incentivando a coleta de acervos fotográficos e mesmo a produção de outras

imagens.

As aulas ocorreram com uma turma do 9º ano do Colégio Estadual "Cecília

Meireles", de Ubiratã. Nessa proposta de trabalho procuramos, inicialmente, romper

com a barreira do desinteresse que acomete nossos atuais educandos, sendo assim

nos focamos no estudo da história local do município de Ubiratã, tendo como

problemática as leituras histórico-social, especificamente a partir de festas

municipais, tendo como principal metodologia a utilização de fontes imagéticas. A

proposta inicial seria sensibilizar os educandos do 9º ano na busca por fontes

históricas, no caso fotografias de álbuns de família, que dariam suporte a um estudo

da sociedade em que estão envolvidos.

Assim, a pesquisa e aplicação em sala de aula nos remeteram aos

programas festivos públicos e oficiais, por um lado, e às festas particulares e ou

familiares, por outro. Como exemplo de festa local, estudamos a tradicional Festa da

Fogueira de São João, que teve início em 1959 (SPERANÇA et alii, 2008, p. 49),

bem como festas de eventos, como a inauguração de uma ponte ou como a festa

tradicional da Paróquia "São Antônio" ou do Colégio "Santo Antônio", ambas

iniciadas para homenagear o padroeiro da cidade. Procuramos entender que as

festas, especificamente as relacionadas a poderes locais, sejam eles prefeituras,

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instituições religiosas ou outras instituições de renome nos municípios, são espaços

de socialização marcados por poderes políticos e econômicos, bem como lugares de

observação de práticas culturais respaldadas em costumes e em hierarquias sociais

locais e ou regionais.

Por sua vez, as festas particulares, que se dão ao nível do familiar ou de

grupos urbanos ou rurais, serviram-nos como contraponto ao caráter oficial da

análise imagética da categoria citada acima, ou seja, das festas municipais.

Entendemos as festas enquanto espaço de materialização de políticas de

poder, característica que, por outro lado, não exclui leituras que enfatizam o

momento de lazer e de festividade em si, ou seja, enquanto espaço de interação e

de encontros, momento materializado por imagens fotográficas, oficiais e

particulares, momento e metodologia significativa ao aproximar o estudo do passado

ao cotidiano dos alunos.

As festas populares que gostaríamos de propor como fonte de estudo são,

na verdade, manifestações que devem ter uma natureza espontânea e, muitas

vezes, confundida com desordem, em que não existem regras, mas no interior

dessas festas podemos perceber, de acordo com Oliveira (2007), que aparentam de

forma geral prazer e desordem; mas contém uma natureza ritual.

Não podemos denominar essas festas populares como cultura inferior ou

superior, apenas em nosso entendimento uma representação dos vários povos que

povoaram nosso país desde o inicio dos tempos. Sagradas ou profanas, as festas

são uma forma de linguagem para manter os laços invisíveis que mobilizam um

conjunto de manifestações. Teremos aí um mecanismo exemplar de democratização

da festa e desvirtuamento de suas características populares (MORIN, 2002 apud

OLIVEIRA, 2007).

Podemos perceber que as manifestações que estão presentes em nossa

cultura fazem parte de um entendimento coletivo, pois, de acordo com Almeida

(2008, p. 34), a festa, por conseguinte, não pode ser considerada força de

desagregação, mas como dramatização de legitimidade da experiência coletiva,

gestada no dia a dia e, ao mesmo tempo, conspirando contra o cotidiano, uma força

das tradições ao longo dos tempos.

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Feito esse embasamento teórico inicial e o recorte temporal e espacial já

destacado, entendemos a fotografia como uma fonte de fácil acesso, que, sob a

visão artística, rompe com o elitismo e socializa os fatos históricos, pois está

presente e acessível a todas as classes sociais. Trata-se de uma fonte que propicia

releituras do passado e toda uma discussão da relação entre o olhar daquele que

produziu a imagem com a sociedade retratada e a realidade dos alunos.

O objetivo então seria possibilitar a aplicabilidade em sala de aula,

valorizando a historia local, problematizando a memória local e a noção de

patrimônio cultural, em eventos que reúnem a comunidade local e potencializam um

sentimento em comum.

Dentro dessa perspectiva do ensino de história, a utilização dos estudos

imagéticos permite apresentar os sujeitos históricos em diferentes esferas do

cotidiano, e recorre às contribuições do movimento da Escola dos Annales ao

romper com a história tradicional e inserir no âmbito da produção do conhecimento

histórico a utilização de novos objetivos de estudo. No tocante à sala de aula, essa

perspectiva nos auxilia no desafio de permitir que o aluno se aproprie do

conhecimento histórico, num movimento dialético em que também ele produz

conhecimento.

No trabalho do professor de historia é comum encontrarmos, como fonte de

pesquisa ou de informação sobre um determinado contexto histórico, uma gravura,

uma pintura ou fotografia. Caberia, então, questionar sua aplicabilidade em sala de

aula enquanto mecanismo de releituras das festas locais e de toda uma gama de

discussões sobre relações de poder a partir de questões políticas culturais e

econômicas. Para tanto, cabe aqui ressaltar o entendimento do professor e

pesquisador Leandro Karnal, quando ele destaca que o importante é que se alerte

para a necessidade de que as fontes recebam um tratamento adequado de acordo

com sua natureza. (KARNAL et alii, 2004, p. 43). Isto é, a partir desses trabalhos nos

questionamos sobre o tratamento dado às fontes.

2 As possibilidades do uso de imagens na sala de aula

No Brasil Imperial, a fotografia cumpria a importante função de demonstrar o

pertencimento a um grupo familiar. A fotografia era utilizada para projetar o poder

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das elites, ostentando seus hábitos refinados, riqueza, educação erudita e círculo de

amizade. Para os alforriados, a fotografia funcionava como um passaporte para ter

ascensão ao mundo dos brancos ou parecer branco. Segundo Koutsoukos (2006):

Não basta ser livre, é preciso parecer livre. Este era o desafio dos negros nascidos livres ou que recebiam a alforria na segunda metade do século XIX. Para abrir caminho naquela sociedade exigente, competitiva e racista, e se fazerem aceitos ou, pelo menos, tolerados, precisavam construir sua imagem a partir de comportamentos tomados “emprestados” dos ditos brancos.

As imagens representadas apresentavam costumes importados, desde o

vestuário, o cenário, tudo para passar uma mensagem, como o livro nas mãos (o

intelectual), o cão ao lado (o domínio, a fidelidade), a pena (que faz um escritor). A

pequena burguesia se utiliza desses símbolos laicos para demonstrar dominação de

uma posição herdada ou adquirida.

Podemos dizer, então, que atualmente fotos tiradas por fotógrafos

profissionais, repórteres ou apenas um cidadão comum passando por um local,

registrando um fato, são consideradas fontes históricas. Nesse contexto, podemos

afirmar que a fotografia se tornou uma ferramenta importante para a sala de aula,

deixando de ser apenas uma imagem que ilustra o livro didático para assumir um

papel de linguagem própria no contexto histórico.

Nesse panorama, o ensinar história por meio da fotografia, provocando uma

análise comparativa através do diálogo com a imagem, se torna uma atividade mais

dinâmicas e capazes de formular debates, pois, de acordo com as Diretrizes da

Educação, “[...] assim os documentos permitem a criação de conceitos sobre o

passado e o questionamento dos conceitos já construídos” (DCE, 2008, p. 77).

Conclui–se, então, que as cenas de uma sequência de fotos podem contribuir para

contextualizar um fato e representar um documento. A questão das fotografias como

fonte afeta os maiores estudiosos, como kossoy (2009, p. 32), que, nesse sentido,

esclarece:

As fontes fotográficas são uma possibilidade de investigação e descoberta que promete frutos na medida em que se tentar sistematizar suas informações, estabelecer metodologias adequadas de pesquisa e análise para decifração de seus conteúdos e, por consequência, da realidade que os originou.

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Essa interpretação de conceitos de fontes fotográficas é capaz de provocar

uma abordagem interdisciplinar, tendo em vista que, ao se analisar uma imagem, o

professor pode interagir com a geografia, a sociologia, a biologia, a matemática, etc..

Essa articulação só é possível porque permite a construção da produção do

conhecimento.

As reflexões posteriores pretenderão ir além de um simples olhar do produto

final, a fotografia, é, portanto, resultante da ação do homem, o fotógrafo, que, em

determinado espaço e tempo, optou por um assunto, empregou recursos oferecidos

pela tecnologia (KOSSOY, 2009, p. 37).

3 Fotografia: uma fonte em potencial ao estudo da história local.

No trabalho do professor de historia é comum encontrarmos, como fonte de

pesquisa ou de informação sobre um determinado contexto histórico, uma gravura,

uma pintura ou um texto. Esses documentos são explorados a partir de seus

conteúdos, de suas figurações mais explícitas, geralmente para demonstrar ou

exemplificar algo já conhecido, a partir de uma história já organizada

(BITTENCOURT et alii, p.100).

A partir das contribuições do movimento em torno da Escola dos Annales e

de releituras do passado norteado em estudos culturais e econômicos

contemporâneos (FONTANA, 2004), pensar o conhecimento histórico principalmente

na sala de aula tem sido um desafio, isso em vista das possibilidades de releituras e

da necessidade de discussões metodológicas que envolvem tal processo de ensino

e produção de conhecimento histórico. Assim, o historiador busca novas fontes de

pesquisa e metodologias de modo a ampliar a discussão da história, permitindo que

o aluno participe e se aproprie do conhecimento histórico:

A aprendizagem de metodologia apropriada para a construção do conhecimento histórico, seja no âmbito da pesquisa cientifica, seja no do saber histórico escolar, torna-se um mecanismo essencial para que o aluno possa apropriar-se de um olhar consciente para a sua própria sociedade e para si mesmo. (KARNAL et alii , p. 42).

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A fotografia é um registro importante do que pode passar despercebido

quando não vinculado aos precursores olhos de pesquisadores, pois um simples

passeio com a família, uma festa com os amigos, até mesmo uma foto de um

monumento registra a história numa linguagem de imagens que nenhuma outra

linguagem captou (MAUAD, 1996).

Nesse processo da apropriação do uso de imagens fotográficas, a máquina

fotográfica passou de um simples aparelho inacessível a um bem de consumo à

disposição de todas as classes sociais e, com isso, as fotografias acompanham o

desenvolvimento da sociedade em todos os espaços sociais e captando momentos

importantes. Ao propor o trabalho com fotografias como fonte para preservar a

memória de um passado recente, por ser um artefato que contém em si um

fragmento determinado da realidade registrado fotograficamente (KOSSOY, 2009, p.

45), o historiador vai além de suas expectativas de pesquisador, pois a análise de

uma fotografia desafia uma interpretação dialógica e vai além de um olhar.

A fotografia, como ferramenta de estudo, nos remete a uma análise de seus

significados, que muitas vezes não encontramos em um primeiro olhar, pois a

análise requer construções inimagináveis no momento fotografado. O significado

mais profundo da imagem não se encontra necessariamente explícito. O significado

é imaterial e "[...] jamais foi ou virá a ser um assunto visível passível de ser retratado

fotograficamente" (KOSSOY, 2009, p. 123).

Posto isso, compreendemos que, ao construirmos fontes para a própria

produção do conhecimento histórico, preocupados com o estudo da história local,

estamos também interagindo com a memória e suas representações de identidades

preservadas através da imagem, pois a memória é um processo permanente de

construção e de reconstrução (MENESES, 1992, p. 10). Nesse sentido, é necessário

potencializar problemáticas em torno do estudo das festas municipais e todas as

relações sociais, econômicas, políticas e culturais observadas. As fotografias de

festas e de eventos religiosos evidenciam diversas perspectivas, que demonstram

rupturas e permanências da história local e ou regional. No município de Ubiratã,

essas questões aparecem no universo das festas municipais, retratadas pelos

moradores e guardadas em seus acervos particulares ou, ainda, registradas pelo

poder municipal.

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4 A fotografia no trabalho de intervenção

Trabalhar com imagens do município de Ubiratã significou um caminho de

diálogo com a história local, história impregnada nos quatro cantos da cidade, nos

objetos expostos no museu e nas histórias contadas na Casa da Cultura. De acordo

com Samuel (1999), a história local requer um tipo de conhecimento diferente e,

depende do entusiasmo do historiador, podendo ser encontrada dobrando a

esquina, descendo a rua.

Esse processo de produção dos trabalhos diretamente com os alunos

submete-se a fatores aleatórios e que provocam mudanças nos objetivos e geram

novas estratégias de ação. Especificamente, fomos além das fotografias de arquivos

pessoais e incentivamos a produção de novas imagens. Propusemos uma prática

pautada na intenção de provocar o aluno a realizar um papel de detetive, como em

uma brincadeira que possibilitaria chamar a sua atenção ao processo dialógico no

qual também ele se identifica enquanto produtor de conhecimento.

Batemo-nos nesse item importante, que explica as mudanças ocorridas

durante o processo de implementação. Fomos motivados a buscar uma nova

temática, indo além da observação de imagens contidas no acervo municipal e de

particulares, identificadas como oficiais. O material nos diz mais sobre os

movimentos políticos relacionados ao discurso do desenvolvimento a partir de festas

que destacam eventos com pessoas de renome na comunidade, condizentes com

sua posição social. Nesse momento percebemos que nossos alunos são

influenciados a mostrar apenas imagens de fatos “importantes”, oficiais do

município, pois não desenvolveram uma noção histórica de valorização do cotidiano,

ou do popular. Logo, nossos educando valorizam o feito realizado por pessoas de

renome, e a historia local é para eles a história do poder enraizada nos feitos dos

chamados “pioneiros”. Daí nossa estratégia de partir dessa leitura histórica e

problematizá-la diante da produção de novas imagens, também relacionadas a

momentos de confraternização, mas agora no nível do cotidiano, das pessoas

“comuns”. Ou seja, os alunos foram incentivados a retratarem a cidade.

Diante dessa nova imposição, foi preciso lembrar que a história local tem um

item importante que não pode ser esquecido, o fato de trazer uma gama de forças

populares. Isso encaminha a reflexão sobre modo de vida, ideologias, experiências

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de vida e festas tradicionais. São informações pertinentes que levam a

questionamentos importantes e não apenas às referências oficiais, mas a toda uma

estrutura social criada sob o ideal do colono vitorioso que desbravou a região

expulsando posseiros e indígenas.

Outra questão evidenciada no momento da aplicação do projeto foi a

dificuldade dos alunos de encontrarem nos arquivos pessoais imagens das festas

municipais. Reconhecendo essas dificuldades dos alunos, partimos das fotografias

que retratavam eventos oficiais, mas relacionamos essas imagens a outras imagens

voltadas ao cotidiano, às pessoas “comuns”. De acordo com Samuel (1999), a

história local não se escreve por si mesma, depende das evidências dos fatores e do

entusiasmo dos historiados (no caso nossos alunos):

A História local não se escreve por si mesma, mas, como qualquer outro tipo de projeto histórico, depende da natureza da evidência e do modo como é lida. Tudo pode variar, desde a escolha do tema até o conteúdo dos parágrafos individuais. Toda forma de trabalho pode ser determinada antes pela adoção de método particular - reconstituição familiar, por exemplo, ou a derivação da “estrutura social” dos relatórios dos recenseadores. (SAMUEL, 1999, p. 237).

Nossa proposta de um trabalho utilizando a fotografia como fonte de pesquisa

levou as discussões referentes às memórias preteridas pelos alunos, que se focam

na historia oficial como única. Partindo dessa premissa, a discussão dos fatos

históricos oficiais foi a base do conhecimento que se queria atingir. No caso,

podíamos engendrar no campo da descoberta existente de uma historia baseada em

fatos de pessoas até então desconhecidas, mas que se tornam importantes para

uma nova construção.

As atividades propostas são uma tentativa clara de alcançar os fatos e torná-

los uma fonte. De acordo com Raphael Samuel, a história local pode acender a

imaginação, assim causando comoções que não devem interferir no produto final,

pois o historiador deve manter sua imparcialidade, sem desconsiderar que toda a

pesquisa parte de uma escolha que responde a questões de seu tempo, e às suas

próprias inquietações e, ainda, deve ser permeada pela subjetividade dos sujeitos

envolvidos, direta ou indiretamente, no processo a abordado pelo conhecimento

histórico.

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5 Práticas e produção de conhecimento histórico: imagens oficiais e imagens retratadas pelos alunos

Ao propormos o estudo de álbuns de família devemos nos ater a uma

descrição do objeto iconográfico, pois os aspectos fotográficos nos impressionam,

nos incomodam, enfim, imprimem em nosso espírito sentimentos diferentes

(MAUAD, 1995).

Sendo assim, foi pedido aos alunos que levassem para sala de aula

fotografias de festas familiares para serem discutidas enquanto fonte da história,

propondo o papel da fotografia como ferramenta histórica. Partindo daí se

propuseram as seguintes indagações: O que se pode perceber na imagem? Os

modos de vestir, de expressar, o cenário e os objetos são elementos que ajudam a

definir o tempo e espaço da fotografia? O que consideramos relevante para merecer

nosso registro? A que tipo de eventos remete a fotografia? Quem é o autor da foto?

O que e quem aparece na foto?

Diante dos questionamentos, percebemos que nossos alunos pouco têm de

interesse nos assuntos familiares ou que as questões familiares não são relevantes em

bate-papos caseiros. As respostas nos levam a repensar metodologias que possam expor

como alcançar os objetivos sem nos afastarmos da proposta inicial, até que ponto as

respostas dos alunos podem ser utilizadas para definir nosso trabalho. Embora ainda sem

definição, mudemos os focos das questões: Qual é a relação entre essas fotografias

apresentadas e o trabalho para se criar fontes? A questão tem o claro objetivo de

despertar nossos alunos para os bens históricos valiosos, bens muitas vezes

guardados em caixas que o tempo irá apagar ou simplesmente que serão corroídos

pelo tempo. É preciso então tomar consciência da existência desses materiais e,

feito isso, transformar em documento em objeto de análise de sala de aula, como

nos afirma Bittencourt, afirmando que a prática em sala de aula depende dos

questionamentos adequados:.

Na prática em sala de aula, a problemática acerca de um objeto de estudo pode ser construída a partir das questões colocadas pelos historiadores ou das que fazem parte das representações dos alunos de forma tal que eles encontrem significado no conteúdo que aprendem. (BITTENCOURT, p.60 apud Saber Histórico na Sala de Aula, 2008).

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Propõe-se uma provocação, qual seja a de levar o aluno a produzir um

material que possa ser analisado sem dificuldades, pois partiu da premissa de que

ele é o autor da fotografia. Sendo assim, foi pedido que ele fizesse uma fotografia de

um local da cidade considerado importante para ele, o que eventualmente irá facilitar

a leitura da fotografia elaborada pelo aluno. Para isso foram utilizadas as seguintes

questões: Pesquisar a história do local. Qual é sua utilidade? Quem frequenta que

ideias ou mensagens que a sua fotografia revela? Quando e onde foi produzida? O

que aparece em primeiro plano, em segundo ou em terceiro? De que ponto de

observação a foto foi tirada, visão frontal, oblíqua ou vertical? Sua imagem tem um

símbolo? O que representa?

Praça da Mão 1

Lançada a questão, fotos nas mãos, agora é transformá-las em fonte de

estudo, o que se torna uma incógnita, pois a história local é deveras oficial, marcada

pela influência de toda uma sinfonia, aparentemente bem escrita, para propor a

imagem de heróis desbravadores que venceram as desavenças do período

colonizador numa terra de ninguém ou, como demonstra a imagem, Ubiratã deve

seu desenvolvimento apenas a produtores de riqueza agrícola, enquanto o resto da

cidade fica no esquecimento oficial. Ubiratã é uma cidade que nasceu de um projeto

de colonização de iniciativa do governo estadual em ocupação desordenada e

culminou com interesses de empresas privadas para interiorizar o desenvolvimento,

no governo Lupion. Esses fatos históricos foram percebidos como importantes para

a imagem atual do município, apenas que, na opinião dos alunos, é carregada de

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significado oficial, mas não traz uma mensagem pessoal, não representa algo na

vida deles, isto é, em outros tempos a imagem teria um significado, mas, com as

mudanças do século XXI, foi se perdendo.

Ao introduzir o assunto, percebemos que a historia oficial é vista como algo

que foi realizado aquém das experiências dos alunos, pois foi tão citado o papel de

determinados cidadãos pioneiros que aos alunos representa como uma posse da

história do município. Eles, os alunos, têm dificuldade de se inserir como parte dos

eventos. Entendemos que o crescimento local é intensamente analisado como fato

de uma construção de dominantes, no caso o papel dos pioneiros.

Surge uma preocupação exposta sob condições imateriais, um obstáculo a

principio, mas o que, quando da exposição do professor, gerou uma necessidade de

discussão por parte dos alunos sob uma nova visão, visão nova que rompe com

uma barreira unilateral, criando o conceito de importância da historia local. Utilizando

as fotografias trazidas pelos alunos, principalmente o trabalho de um grupo com

entrevista de pessoas de suas famílias, puderam perceber que se encontravam

entrelaçados com a história do município através de seus antepassados, mesmo

que não tivessem sidos relatados nos anais oficiais da história de Ubiratã.

Agora a proposta é separar a sala em grupos e propor discussões através do

texto “Álbum de Família” (RHBN nº 30), de Mariana Mauaze. Nesse artigo, a autora

demonstra o valor da fotografia para as famílias das elites do século XIX, pois

representavam uma forma de fundamentar sua posição social. Como ferramenta

final foram socializadas as discussões e percebeu-se que a visão da fotografia

mudou para o aluno, pois agora ele percebe que ela conta uma história que ele

desconhecia:

“O casamento criava novos laços sociais entre as famílias. De um lado, o nome dos Ribeiro de Avellar remetia a riqueza, terras e escravos no Rio de Janeiro; do outro, o poder representado pelo barão de Muritiba, integrante da elite política baiana.

Outras ocasiões especiais também eram representadas em fotografias. O registro auxiliava na divulgação de eventos que antes eram reservados apenas à família, como formatura e primeira comunhão. Aos poucos, cerimônias como essas foram valorizadas, com investimentos em roupas e comemorações para demonstrar prestígio e poder, como fica evidente nos registros da primeira comunhão de Antônio Lemgruber, neto do casal Ribeiro de Avellar, celebrada juntamente com a do príncipe Pedro, filho da princesa Isabel e neto do imperador”.

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Nesse momento discutimos possibilidades que se tornam importantes,

dependendo de relatos feitos que nos remetam a novas questões, pois despertamos

a consciência de que a história vai além dos escritos oficiais. Todavia, o objetivo do

estudo não seria criar conflitos com a história oficial, mas um repensar histórico

utilizando a fotografia de pessoas do cotidiano não citado nos livros oficiais. Assim,

ao propomos a leitura de fotografias de festas, contamos com um desafio, o de

transformar esses eventos coletivos e individuais determinando um imaginário social

pautado em eventos comuns como reveladores dessas contradições.

Eventos como bailes e torneios de futebol sempre aconteceram nas

comunidades sempre na última semana do mês. Outra tradição que, de acordo com

moradores locais, ainda continua acontecendo é a “Festa do Santo Rei”, em que a

bandeira sai dia 24 de dezembro,à meia – noite e chega dia 6 de janeiro, as pessoas

da comunidade pedem que a bandeira passe por suas casas para receber a oferta

para a festa e o canto para agradecer o que cada um puder dar. Conforme nos

garantem alguns moradores em roda de conversa sobre as festas de que eles

participaram, o santo é milagroso, o povo recebe a graça e põe na bandeira.

Um estudo histórico dessas festas acaba tratando da trajetória dos sujeitos

envolvidos com as festividades e da própria história local. De certa forma, as

pessoas acreditam na força religiosa de seus padroeiros ou até mesmo da sua

comunidade. Assim, as imagens e os relatos sobre festas nos levam a pensar em

fatos que demonstram as tradições de um povo, e os eventos locais são formas de

dar continuidade à história. De acordo com as Diretrizes Curriculares, a consciência

histórica critica é pautada na aprendizagem histórica das experiências do passado.

Nessa perspectiva, possibilita a formação de pontos de vista históricos por negação

aos tipos tradicional e exemplar de consciência (DCE, 2008, p. 59).

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Festa de Santo Reis, O Vale

Nesse momento, a fotografia perdeu seu destaque de passatempo, haja vista

que elas são normalmente consideradas algo para brincadeiras. Nesse, não, pois

ela relança a noção de que é arte e uma ferramenta histórica. Ela destaca a festa

mais tradicional de cunho religioso, mas parte da iniciativa da comunidade em

manter vivo esse momento que aproxima as pessoas. Utilizamos a fotografia como

análise da importância desse fato para manter laços familiares e comunitários sem o

compromisso de atuar como pratica de ideias dominantes. O momento de ritual

elaborado e sagrado é bem vindo para conectar nosso aluno com a história local,

pois, nos depoimentos colhidos, percebeu-se a vontade em participar do evento, que

muitos nem conheciam. A partir da discussão gerada, compreendemos o valor que a

festa, um ritual sagrado em varias regiões do Brasil, era capaz de despertar nos

nossos alunos.

Sendo assim, essas leituras da história local fazem do aluno um partícipe do

processo histórico. Para isso contamos com a história oral através de entrevistas,

narrativas de pessoas que participaram, pois, de acordo com Raphael Samuel, a

evidência oral torna possível preencher os ”vazios” que os documentos deixam,

evidenciando as experiências reais, ou as interpretações (re-apropriações) das

pessoas (SAMUEL, 199, p. 232).

A tarefa de transformar o aluno em um “detetive da história local” recorre a um

recurso metodológico bastante complexo, mas, de acordo com Bittencourt, o

trabalho com fontes ou documentos é imprescindível. Assim, percebemos que,

partindo de buscas, pesquisas direcionadas feitas pelos próprios alunos se tornam

uma ferramenta importante para a construção da historicidade. É preciso então que

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se organizem questões problematizadoras para que ocorram soluções e

contribuições praticas para o ensino da história local.

Dessa forma, levamos para os alunos fotografias de festas locais em cenários

que revelam a descontração das pessoas retratadas, deixam transparecer um

ambiente familiar e pessoas de todas as classes sociais. Depois de observadas as

imagens, que foram apresentada em um mural, foi pedido aos alunos que as

descrevessem a partir de questionamentos dirigidos.

Ilustração 1 - Carnaval de Rua Assemu, fev. de 1995. Arquivo Jornal do Vale

Ilustração 2 - Festa do Country Club. Arq. Jornal O Vale

1- Quais são as situações demonstradas?2- O que essas situações representam?3- As referidas imagens descrevem objetivamente uma situação?4- Provoca alguma reação no observador?5- O que posso associar à imagem que estou tentando ler? Qual é o contexto?6- Quem foi o autor das imagens? (ou seja, é possível conhecer a função que ele

exercia, ou era um visitante da festa?). Repórter de algum jornal, etc.?7- Como essas imagens se relacionam com o contexto histórico em que foram

produzidas?8- O que aparece em primeiro plano? 9- De que ponto de observação a foto foi tirada: visão frontal, oblíqua ou vertical?

Qual seria a diferença da imagem se fosse retirada de outro ângulo? Poderia assim representar opiniões diferenciadas sobre as festas? Por quê?

10-Quais as intenções, ou seja, qual imagem a pessoa que fotografou procurou evidenciar?

11-A leitura da imagem acompanhada de estudos da história local apresenta mais informações sobre a cultura ou sobre a economia desse lugar? Justifique.

Após as discussões, o trabalho é instigar o interesse dos alunos para

assuntos históricos, e o desafio, lançar nas mãos dos alunos a busca de fontes, o

que provoca o aluno e, com a contribuição da fotografia, que é uma ferramenta

corriqueira nos dias atuais, facilita-se essa comunicação de interesse dos aluno com

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o conteúdo histórico. A maior barreira a ser transposta pelo educador é lançar uma

via de investigação da vida cotidiana e transformá-la em conteúdo histórico ao

alcance do aluno.

De acordo com Molina (2009), dessa forma consegue-se investigar as

relações de ensino e, nessas relações, examinar os modos como os alunos

constroem o conhecimento, como eles operam, de onde partem, como relacionam

informações e conhecimentos, como tomam a imagem na interface com o

conhecimento histórico.

Assim, é necessário considerar a construção do conhecimento como um

desafio para o qual o papel do aluno está definido enquanto pesquisador. Nesse

processo, o maior desafio para o professor é o de mediar os conflitos com a história

oficial e relacionar com o conteúdo. A imagem deve servir ao seu propósito de

construção, pois, de acordo com Molina (2009), desta forma é possível refletir um

caminho para que se construa o conhecimento histórico a partir de imagens, o que

indicará uma outra relação da história com suas fontes.

Festa de debutantes, Evani b. Pieczarka

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Desfile de Aniversário do Município, Jornal

Um exemplo de trabalho com imagens coletadas pelos alunos em suas

pesquisas, uma festa de debutantes e um desfile de aniversário do município,

trabalho que deu a chance de os alunos perceberem que estão inseridos na história

local ao reconhecerem as pessoas retratadas nas fotografias. Essas imagens foram

apresentadas pelos próprios grupos de alunos, que descreveram as pessoas, o

evento e relataram a importância desses dias festivos para a população local, não

somente como atos comemorativos de datas oficiais, mas como símbolo de uma

geração com valores patrióticos e, nas festas de debutantes, como símbolo os

valores sociais, dada a alegria e o orgulho dos pais em apresentarem suas filhas à

comunidade. Comparando com os valores atuais, os alunos debateram a forma

como se vêm perdendo certos laços comunitários.

As imagens de manifestações populares encantam pela sua simplicidade em

comparação com os eventos oficiais, muitas vezes lotados de maniqueísmo para

determinar a posse política.

No GTR (2011), ambiente virtual de discussão do professor com outros

professores, percebe-se que a proposta de trabalho no material didático, de

aproximar a história local através da fotografia, torna-se mais fácil de ser

interpretada e compreendida propondo aos alunos a construção do conhecimento

científico. De acordo com um integrante do GTR, "As fotografias despertam

curiosidades e achei muito interessante a forma em que você canalizou as

possibilidades de pesquisas, através do questionamento, levando os alunos a

analisar e buscar informações, cumprindo com um dos principais objetivos, que é a

real participação dos educandos na pesquisa pela sua história, tendo a fotografia

como fonte mediadora". Como relatado, o GTR serviu mais como um momento de

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debate dos trabalhos realizados, dando a certeza de que o caminho tomado foi de

aprovação, pois a dificuldade do trabalho com fotografia em sala de aula é a mesma

para todos partindo do interesse dos alunos.

6 Considerações finais

O estudo da história local através de fotografias nos permite refletir acerca do

papel atual dessa ferramenta, que já foi considerada um marco de posição social,

uma confissão, um relato e como documento ilustrativo com capacidade de definir

uma função social. Essa definição de função social é totalmente surpreendente e,

para os estudos históricos, torna-se uma ferramenta essencial, pois a fotografia

enquanto estudo busca responder a questionamentos que ficariam perdidos no

decorrer do tempo e, como fonte ilustrativa, sua mensagem é a de que é preciso

refletir no modo como vemos essas imagens.

Diante dessas constatações, refletimos o papel da fotografia enquanto fonte e

a aplicabilidade metodológica a ser encaminhada para um resultado positivo, tendo

em vista que as metodologias são flexíveis e podem sofrer mudanças conforme as

necessidades do professor em alcançar seus objetivos ou na forma como seu

projeto vai se desenvolvendo. Trata-se de um processo dialógico no qual não se

deve perder de vista o objetivo maior, neste caso, estudar fotografias em sala de

aula e transformá-las em fontes de discussão múltiplas e com cunho crítico no

tocante à história local a partir de festas oficiais.

Em nosso trabalho precisamos rever metodologias para alcançar nossos

objetivos, lançando mão da utilização exclusiva de fotografias consideradas oficiais e

que, num primeiro momento, levem os alunos a refletirem e discutirem. Alertamos

aqui para a falta de diálogo dos alunos com sua própria história, o que se deve a

uma ”visão simplista”, de não se inserirem na história local ou não darem a devida

importância a essa história. Esse é um fator que não se pode desconsiderar no início

da implementação do projeto, pois os alunos tendem a silenciar e a não se incluir

nessa história local.

Ao falarmos sobre a construção de fontes em sala de aula, nós nos

fundamentamos na possibilidade de facilitar o acesso do aluno à produção de

material de estudo da história local e propiciar releitura do passado questionando um

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olhar descompromissado do aluno. Aliadas à ideia de sua aplicabilidade em sala de

aula numa tentativa de trabalhar a memória local, as fotografias de festas populares

nos demonstraram que, a priori, o aluno não se insere, e repete o discurso

dominante de valores históricos em que a pessoa aluno e família são tidos como

desconectados da história oficial.

Neste momento destacamos uma maneira de procurar levar o aluno a ir além

da sala de aula. De acordo com Molina (2009), uma tentativa de conectar o aluno a

essa história é levá-lo à produção de material de discussão. Propomos um novo

olhar para a fotografia, um olhar “popular”, cotidiano, sobre as fotografias oficiais,

Isso resultou em discussões mais proveitosas e instigou os alunos a (re)avaliar suas

posições diante da história local:

Nesse sentido, propor olhar fora da sala de aula é propiciar que os alunos aprendam ir além, ou seja, apreciar as imagens, interpretando-as e analisando sua produção, mensagens e sua inserção na vida cotidiana, mobilizando estratégias e viabilizando ações para que o olhar possa ser provocado, surpreendido, tornando-se crítico e sensível ao outro, ao mundo que se apresenta. (MOLINA, 2009).

Nesse contexto ainda devemos destacar que as famílias dos alunos nas

décadas de 1970 ou 80 ainda estavam distantes do sonho de serem proprietárias de

uma máquina fotográfica, tornando ainda mais improvável o trabalho do aluno em

levar um vasto material para ser estudado. A possibilidade de uma vasta produção

fotográfica familiar naquela época é rara.

Paralelamente, nesse contexto percebemos, nas respostas dos integrantes

do GTR, a preocupação dos professores quanto ao interesse dos alunos em

desenvolverem qualquer tipo de atividade, mas concordando que, ao envolver o

aluno em atividades com o uso de imagens, essa possa ser uma maneira de

despertar o aluno para a sua participação nos meios escolares enquanto figura

principal para elaborar um trabalho de produção. O desafio do professor é tornar

atrativas para o aluno as atividades propostas.

A fotografia pode ser um excelente instrumento facilitador na mediação do

ensino de História, ajuda a despertar a curiosidade pelas sociedades como um todo,

além de desenvolver o interesse pelo tema e contribuir para o desenvolvimento do

raciocínio crítico.

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