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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DE EDUCAÇÃO

UNIOESTE – CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON

PROGRAMA DE DESENOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM BARRACÃO E O ENSINO DE HISTÓRIA

PROFESSORA PDE/2010: MARLISE FIORI POLETTO

ORIENTADOR: ROBSON LAVERDI

BARRACÃO/PR

2012

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A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL EM BARRACÃO

E O ENSINO DE HISTÓRIA

Marlise Fiori Poletto¹

Robson Laverdi2

RESUMO Este artigo apresenta resultados obtidos na reflexão sobre as histórias dos

monumentos e do patrimônio cultural do município de Barracão/PR, através de

depoimentos e fotografias, tendo com objetivo mostrar maneiras como a sociedade

produz e se apropria dos espaços. Conhecer e estudar estas sociedades de outros

tempos e lugares é objetivo da História. Sendo assim, foi desenvolvida a pesquisa

bibliográfica, juntamente com o trabalho de campo com educandos do Ensino Médio

das 2ªs séries A, B, C do período matutino do Colégio Estadual DR. Mário Augusto

Teixeira de Freitas – EFM, que por meio da história oral, entrevistaram familiares e

sujeitos da terceira idade, com variadas experiências sobre seus espaços de

vivência na fronteira e sobre os monumentos históricos edificados. Através desta

pesquisa os educandos também conheceram os espaços vividos na fronteira, onde

estão inseridos, sobre as memórias e silêncios, elaborando produções históricas,

para a melhoria da qualidade de ensino – aprendizagem, despertando sentimentos

de pertencimento, valorização e respeito pelo espaço onde vivem.

PALAVRAS CHAVE: História, Patrimônio Cultural, Monumentos, Memória

____________________________

1. Professora de História da Rede Pública de Ensino, formada em História pela FAFI –Faculdade de Palmas/PR. e Especialista em Supervisão Escolar pela UNIVERSO do Rio de Janeiro/RJ. 2. Bacharel e Licenciado em História pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), 1995, Mestre em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP), 1998 e Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), 2003. Pós-Doutor pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), 2009-2010. Professor do Colegiado do Curso de História da UNIOESTE/campus de Marechal Cândido Rondon/PR.

3

ABSTRACT:

This paper presents results obtained in the reflection on the stories of monuments

and cultural heritage of the city of Barracão / PR, through testimonies and

photographs, with ways in order to show how society produces and appropriates

spaces. Know and study these societies of other times and places is the goal of

history. Therefore, we developed the literature search, along with the field work with

high school students 2nd s of series A, B, and C of the morning of the State College

DR. Mario Augusto Teixeira de Freitas – EFM. Through oral history, students

interviewed family members and residents of old age, with varied experiences in their

living spaces and on the border of the historic monuments built. Through this

research the students also learned about the lived spaces at the border, where they

are inserted on the memories and silences, developing historical production, to

improve the quality of education learning, arousing feelings of belonging,

appreciation and respect for living space.

KEYWORDS: History, Cultural Heritage, Monuments, Memory

1 INTRODUÇÃO

O trabalho apresentado neste artigo trata de uma experiência educativa

desenvolvida com educandos da 2ªs séries A, B e C, do período matutino, do

Colégio Estadual Dr. Mário Augusto Teixeira de Freitas - EFM, na cidade de

Barracão/PR.

Ressalta-se que tal experiência é fruto do Programa de Desenvolvimento

Educacional, promovido pela Secretaria de Estado da Educação do Estado do

Paraná, juntamente com professores da Educação Superior da UNIOESTE.

Este trabalho tem como finalidade mostrar maneiras como as sociedades

produzem e se apropriam dos espaços gerando múltiplas experiências e

temporalidades, do mesmo modo por que as suas relações não são homogêneas.

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Historicamente, as diferentes formações sociais ocupam espaços territoriais

em momentos diferentes. E, assim, o espaço é expressão das formas como esses

diferentes tempos se mesclam, por meio de organizações sociais, espaciais e

paisagens culturais que permanecem, outras que se transformam ou mesmo

desaparecem.

Tais espaços se constituem em diferentes temporalidades, historicamente,

formam sociedades, cujas identificações individuais ou coletivas geram formas de

integração e tensão social nos mais diversos âmbitos.

As cidades são espaços que historicamente se produzem da divisão do

trabalho, da economia, das classes sociais, da cultura, entre outros.

Assim, devem-se enumerar alguns tópicos para a abordagem de temas do

currículo básico, que atravessam várias disciplinas, possibilitando um trabalho de

integração entre educação ambiental, cidadania, intolerância à raça, orientação

sexual, credo religioso, questões de patrimônio cultural, questões econômicas como

desenvolvimento tecnológico/industrial, que estando na sociedade precisam ser

trazidos no espaço escolar para que a partir do conhecimento histórico os

educandos transformem a realidade. Pois é através da escola, que trabalhadores

estarão na sociedade vivendo e guardando as memórias e patrimônios, assim como

construindo cidadania.

A Escola, espaço social de elaboração da produção do conhecimento através

da pesquisa bibliográfica e de campo, utilizando-se da metodologia educação

patrimonial e história oral, será o fio condutor dessa produção histórica local.

É preciso ao longo da reflexão sobre o município de Barracão/PR mostrar

elos entre o passado e o presente, para que ocorra uma prospecção futura,

contemplando cidadãos que vivem e trabalham neste local, para que as gerações

futuras recordem dos muitos espaços edificados e em suas memórias individuais e

ou coletivas, as suas muitas histórias, assim, como seus silêncios e esquecimentos.

Sendo a Escola, espaço social de elaboração da produção do conhecimento,

ao estar utilizando a metodologia de Educação patrimonial, é necessário lançar um

novo olhar sobre a escolha dos livros didáticos, é a lógica na busca desse conteúdo

para melhorar a qualidade do ensino e transformar de outros modos a dinâmica

participativa na sociedade onde os educadores e educandos estão inseridos.

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Dentro desta perspectiva, são propostas interpretações de textos e

documentos (escritos e visuais), visitação a lugares onde ocorram manifestações

sociais, discussão sobre a realidade, análise de eventos do passado ou

contemporâneos, reflexão e comparação entre tempos históricos distintos. É

importante ressaltar que essas atividades permitem ao educando desenvolver a

capacidade de perceber que as questões relativas à história podem ser analisadas e

interpretadas de diferentes formas, de acordo com o olhar e as fontes utilizadas.

Observa-se, atualmente, no Brasil, uma crescente preocupação com

conhecimento, reflexão, discussão e ações sobre o patrimônio cultural e a sua

preservação. Neste sentido, é importante refletir quais prioridades desses espaços e

as formas de expressão que fazem parte da comunidade local como elementos da

identidade individual ou coletiva dessas populações.

Tal observação está fundamentada pelas Diretrizes Curriculares de História,

que propõem um ensino pautado nas correntes historiográficas que evidenciam a

importância de valorizar ações e relações humanas, permitindo que a cultura e as

diferentes manifestações sociais, enquanto modo de vida de uma população tornem-

se objeto de estudo, que é reconhecido por seus sujeitos, produtores de História, em

espaços como: museus, monumentos históricos, avenidas, ruas, casas, lugares de

memória, enfim, onde se vive.

É difícil encontrar trabalhos que discutam as muitas formas de expressão e

lugares de seus viveres. Por isso, constitui este um dos principais objetivos deste

artigo. Dessa forma, buscamos compreender historicamente como a disciplina é

ampla e como sujeitos em seus cotidianos produzem história com a sua geração e

para as seguintes.

Esta sendo abordada a história das gentes, suas manifestações culturais e

dos muitos espaços sociais edificados na forma de monumentos históricos, que

compõem o atual patrimônio cultural institucionalizado do município de Barracão/PR.

Com isso, busca-se perceber tais pessoas como produtores e sujeitos da história.

Assim, ao produzir conhecimento, tem-se por objetivo discutir sentidos

memoriais na busca de construir o conhecimento das formas históricas. Sabendo

que, mesmo não sendo tarefa fácil, discutir memórias e sentimentos através da

história oral, essa pesquisa busca através de entrevistas com moradores de

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Barracão, sobre o processo histórico da cidade de fronteira entre o Brasil e

Argentina.

2 DISCUSSÃO TEÓRICA SOBRE A EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO ENSINO DE

HISTÓRIA

Um grande desafio é ser professor de História neste contexto, pois é o de

mediador de quem aprende e de quem quer conduzir conhecimentos e reflexões nas

salas de aulas de diferentes escolas. O processo educativo em qualquer área deve

conduzir a utilizarem suas capacidades intelectuais para que adquiram novos

conceitos e desenvolvam a partir desses conceitos, ações no convívio social,

político, econômico e cultural, representados nas casas, nas ruas, nas praças, enfim

nos lugares de memória; locais onde estão os sujeitos que vivem e produzem

história. Acredita-se que a escola deve contribuir para a valorização do patrimônio

cultural, preservando a memória e a história local.

Seguindo nesta linha de pensamento e com base na Diretriz Curricular do

estado do Paraná, a disciplina de História está fundamentada com:

A metodologia proposta está relacionada à história temática. A organização do trabalho pedagógico por meio de temas históricos possibilita ao professor ampliar a percepção dos estudantes sobre um determinado contexto histórico, as ações e relações de distinção entre o passado e presente. Para trabalhar deve-se construir uma problemática por meio da construção, na sala de aula de história, das estruturas e das ações humanas que constituíram os processos históricos presentes, tais como fome, desigualdade e exclusão social, confrontos identitários (individual, social, ética, sexual, de idade, de propriedade, de direitos, regionais e nacionais). Assim, as imagens, livros, jornais, histórias em quadrinhos, fotografias, pinturas, gravuras, museus, filmes, músicas são documentos que podem ser transformados em materiais didáticos de grande alta na construção do conhecimento histórico. (HORTA, 1999, p. 6).

É no Ensino Médio que os jovens devem ser desafiados a problematizar,

argumentar e produzir relações entre contextos, pois depois de vários anos de

Ensino Básico, os educandos têm que produzir idéias e buscar respostas às

inquietações que estão à sua volta. O conhecimento crítico e a apropriação em seu

entorno, através do elo que a escola e a comunidade devem conduzir para um

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processo de preservação sustentável, bem como o fortalecimento dos sentimentos

de identidade e cidadania, durante o período que este esteja no espaço escolar.

Os conteúdos devem ter relações com temas da história e com a vida local

desses jovens adolescentes, assim, a contextualização dos vários conteúdos

históricos e a relação presente/passado deve ocorrer para que compreendam o que

participam cotidianamente.

Toda temática exposta aos educandos deve ir além da compreensão visual,

devem ser conduzidos para que aprendam a ler as entrelinhas, compreender as

intenções e as circunstâncias em que foi vivido, que um documento foi escrito, uma

obra foi edificada. Pois cada objeto tem sua finalidade para a época, é através da

reflexão e discussão que se conhece a mensagem do objeto em suas relações com

as atividades humanas.

O uso de diferentes linguagens e metodologias de trabalho em sala de aula

contribui para a construção do conhecimento e reflexão da realidade. Linguagens

como documentos escritos (oficiais, literatura, jornais, revistas, livros, memórias,

história oral, etc.), documentos não escritos (museus, fotografias, cinema, música,

objetos de uso doméstico, como artefatos, cachoeiras, nascentes de rios, etc.

possibilitam contato e discussão de diferentes fontes históricas em relação ao

espaço e tempo da ação dos sujeitos.

Assim, são inúmeras alternativas para análise, compreensão e interpretação

da disciplina com novas perspectivas de trabalho em sala de aula. Propõe-se leitura,

discussão, reflexão das formas em que o Patrimônio Cultural está registrado nas

muitas memórias nos lugares onde vivem os educandos e outros grupos sociais.

Como educadores, necessitamos provocar em nossos educandos um

processo contínuo, pensar a educação patrimonial como forma ativa de valorização

e capacitação do passado para usufruir de nossa identidade cultural presente

(FUNARI, P.P. et AL, 2006, p.11).

A necessidade de se trabalhar o patrimônio cultural nas escolas é um dos

inúmeros objetivos para fortalecer a relação dos educandos com suas heranças

culturais, estabelecendo conhecimento, reflexão, discussão com estes bens, que

eles percebam suas responsabilidades pela valorização e preservação do

patrimônio, fortalecendo a identidade e a vivência no processo histórico do dia a

dia.

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O desafio de propor uma interpretação do Patrimônio Cultural relacionando à

Educação Patrimonial volta a ser discutido por estar inserido nos currículos

escolares, mas muitas vezes com pouca ênfase na relação entre teoria e prática e,

muitas vezes, por não estar vinculada às culturas locais ou compromissadas pelo

poder público.

Através da Educação Patrimonial os professores podem proporcionar

conhecimento e reflexão para que a partir deles, apropriem-se das inúmeras

edificações e memórias no espaço de convívio local onde estão inseridos, criando

ações de reconhecimento, que garantam o direito à memória e a cidadania.

É na sala de aula e em outros lugares propostos, que ao expor a temática

Patrimônio Cultural deve-se instigar a importância de conhecimento, reflexão,

discussão e aprendizado sobre a formação cultural, formas de manifestações de

uma sociedade e a preservação dos valores das diferentes culturas, tanto local

como de qualquer lugar. Desse modo,

Educação Patrimonial é um instrumento de alfabetização cultural que possibilita ao individuo fazer leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo leva ao esforço da auto estima dos indivíduos e comunidades e à valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e plural (HORTA, 1999, p. 6)

Também objetiva-se formar multiplicadores com pesquisa bibliográfica,

visitação a locais onde estão registradas manifestações multiculturais, desde acervo

de objetos, documentos familiares e de governos, fotografias, papéis, brasões, etc.

Levar aos educandos qualquer objeto cultural, apresentar manifestações

culturais na sala de aula ou levá-los em qualquer lugar, provocando neles

indagações sobre aquela determinada manifestação, deve seguir critérios como:

observação, interpretação, conteúdo e expressão, para que ampliem a capacidade

de leitura visual e imaginária, reinterpretando e compreendendo o valor daquela

Temática. sensibilizá-los sobre a família e a comunidade para a importância de suas

memórias representadas nas manifestações culturais, onde cada sujeito ou grupo

social expõem sua cultura, simbolizando a memória individual ou a de seu grupo,

pois cada sujeito social deve ser indagado para que conheça o patrimônio cultural

local, conhecendo os bens para serem preservados, conservados, protegidos e

restaurados. Todo tipo de Patrimônio Cultural local, como alerta Horta et al,

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Trata – se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho da Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação Cultural (Horta et al, 1999,p.6).

O grande desafio da educação contemporânea e, especialmente da disciplina

de História, é oferecer instrumentos, através do processo educacional para que os

educandos aprendam a transformar conscientemente a sua vida e o seu meio social.

Para chegar-se a formação de um individuo crítico, é preciso estimular um

processo educacional que priorize o pensamento intelectual, que seja capaz de

questionar os valores fundamentados no senso comum e possam exercer a

democracia.

As Diretrizes Curriculares do Ensino de História propõem um plano que visa à

superação da História tradicional e criar um paradigma, através do qual os

educandos sejam ativos, questionadores e consigam compreender as relações de

cultura e poder, diversidades culturais, etc., na qual eles estão inseridos.

3 Visitação ao patrimônio

Considerando que o patrimônio cultural de uma população é o conjunto de

bens culturais por ela produzida ao longo de determinado período e preservado em

forma de documentos, monumentos, artefatos, costumes, manifestações diversas,

representações do real e do vivido, faz-se aqui um recorte, elencando obras físicas

tidas efetivamente como monumentos.

O presente trabalho esteve focado na identificação dos principais

monumentos edificados na dita região das três fronteiras, obras feitas com o intuito

de marcar determinados pontos relevantes no cotidiano destas populações que

reproduzem a sua existência entre o Estado do Paraná, Estado de Santa Catarina e

a Argentina.

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Tinha-se por objetivo primordial a visitação destes monumentos com os

alunos das turmas envolvidas nesta pesquisa, e tendo como convidados alguns

antigos moradores desta região, em busca de suas representações sobre o

cotidiano vivido no povoamento destas terras. Os monumentos servem aqui como

documentos ou como testemunhos de um tempo vivido, como detonadores das

memórias que estas pessoas elaboram a partir de suas vivências.

Destarte, em sala de aula, nas turmas 2ªs séries A, B e C do período

vespertino, quando da apresentação deste trabalho, orientou-se que se

organizassem em grupos para melhorar a compreensão, e que suas participações

eram de suma importância no desenvolvimento da implementação, para que

conhecendo os objetivos, compreendessem as etapas do trabalho.

Em vários momentos foram realizados debates do material exposto, ou seja,

fotografias dos vários monumentos históricos locais, como a Gruta Internacional de

Nossa Senhora Aparecida/Brasil e de Nossa Senhora de Lojan/Argentina, Avenida

Internacional Barracão/Paraná/Brasil e Bernardo de Irigoyen/Misiones/Argentina, o

marco do Brasil/Argentina, a gruta de Santa Emilia de Rodat, de Siqueira

Bello/Barracão/PR e a Capela da Linha São José/Barracão/PR. Também foi utilizado

o caderno temático de História, pois durante três semanas foi nas de aulas que

estava sendo instigada a participação coletiva das turmas escolhidas pela

professora/aluna PDE 2010.

Também nesta altura do trabalho exposto em sala, surgiram dúvidas dos

motivos para conhecerem e estudarem a temática. Assim, durante vários dias

ocorreram encontros fora do período das aulas, ou seja, no turno da tarde, para que

observassem outros materiais na biblioteca do Colégio, pudessem compreender

melhor a abrangência do tema.

Aos poucos a relação professora/alunos se aperfeiçoou e estreitamos nossa

relação. Percebiam que em momentos a professora também tinha dúvidas, e o

processo ensino-aprendizagem foi acontecendo de forma tranqüila, sem o

compromisso de fazer uma atividade escrita.

Iniciou-se então um breve comentário sobre a História local, com base em

pesquisa bibliográfica e estudos sobre vários aspectos de Barracão/PR, estando

assim apresentando o patrimônio cultural deste município.

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O presente trabalho tem suporte teórico e metodológico em autores que há

décadas destacam a História Local como de fundamental importância para a

produção historiográfica e para o ensino de História, como Rafael Samuel que

instiga o pesquisador a buscar a concretude da História nas suas vivências mais

concretas.

Ao se trabalhar com História Local neste projeto de implementação junto aos

alunos do Ensino Médio, buscava-se tornar a História uma disciplina mais concreta

para estes alunos, levando-os a um conhecimento maior da História Local, do

palpável, da realidade que os cerca, com vistas a aprimorar o ensino de História.

Saliente-se que o presente projeto não buscava apenas o estudo das

memórias e representações dos moradores da região das três fronteiras, ancoradas

em seus monumentos, mas o oferecimento de uma nova possibilidade para o ensino

de História nas escolas públicas do Ensino Fundamental e médio, tendo como

princípio o envolvimento do aluno com atividades práticas ligas à História Local,

Patrimônio e História Oral.

Neste sentido, procurou-se apresentar aos alunos vários aspectos do

município de Barracão, como a ocupação histórica e a emancipação política, que

ocorre em 14 de dezembro de 1952. Hoje, contando com uma população estimada

em 10 mil habitantes, composta por descendentes de italianos, de alemães e de

caboclos (luso-brasileiros).

Localiza – se no Sudoeste do Estado do Paraná, com limites entre Bom Jesus

do Sul/PR, Flor da Serra do Sul/PR, Dionísio Cerqueira/SC e a fronteira seca com

Bernardo de Irigoyen, Província de Misiones/Argentina. A cidade recebeu esse nome

em quatro de julho de 1903, entre as cabeceiras dos rios Capanema e Peperiguaçu,

pelas mãos do General Dionísio Cerqueira, que chefiou a comissão de demarcação

desses limites entre Brasil e Argentina.

Segundo historiadores brasileiros, o nome deriva-se do acampamento construído em 1836 pelos bandeirantes paulistas. Já os historiadores platinos afirmam que o nome originou-se de um acampamento fortificado, construído por uma redução jesuítica, a qual teria a missão de repetir as

A História Local requer um tipo de conhecimento diferente daquele focalizado no alto nível de desenvolvimento nacional e dá ao pesquisador uma idéia mais imediata do passado. Ela é encontrada dobrando a esquina e descendo a rua. Ele pode ouvir os seus ecos no mercado, ler o seu grafite nas paredes, seguir suas pegadas nos campos. (SAMUEL, 1990, p. 220).

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bandeiras portuguesas em terras missioneiras. Este nome ficou tão enraizado, que por quase três séculos (...), toda a região da tríplice fronteira (Barracão/PR, Dionísio Cerqueira/SC e Bernardo de Irigoyen/Argentina era chamado de Barracão (JORNAL DA FRONTEIRA, 1998,p.1).

Por fazer parte da Tríplice Fronteira com Dionísio Cerqueira/SC e Bernardo

de Irigoyen/Misiones/Argentina, sua economia encontra-se movida pelo comércio

local, agricultura e pecuária, também pela Aduana Internacional de Importação e

Exportação.

Pelo fato de Barracão ser composto por um diversificado conjunto patrimonial

tomado como atrativo turístico, onde se destacam alguns dos monumentos, O Marco

Internacional edificado na divisa do Brasil e da Argentina, o Marco Histórico Estadual

de Barracão/PR e Dionísio Cerqueira/SC, a Gruta Internacional onde está a imagem

de Nossa Senhora Aparecida, padroeira de Barracão/PR e do Brasil e a de Nossa

Senhora de Lojan, padroeira de Bernardo de Irigoyen/Misiones/ Argentina, a avenida

internacional que separa Barracão/PR/Brasil de Bernardo de

\Irigoyen/Misiones/Argentina e junto esta também edificado o Monumento Histórico

dos Trabalhadores Brasil/Argentina, a Gruta de Santa Emilia de Rodat e a cavalgada

de Santa Emilia de Rodat ambas acontecem no Distrito de Siqueira Bello; o Museu

Internacional de Barracão/PR/Brasil e Bernardo de Irigoyen/Misiones/Argentina, Etc.

É exatamente esse significativo patrimônio edificado que se propõe a

investigar com os educandos, as várias memórias silenciadas e submersas em

relação a estes lugares pela sociedade local no processo e formação dessa área de

fronteira.

Ao propor conhecer e refletir parte da produção patrimonial material e

imaterial na fronteira, justamente de Barracão, é primordial que os alunos percebam

que foram construídos em diferentes tempos, os períodos de 1903 até 2003,

demarcando diferentes olhares, como distintos sujeitos procuraram demarcar seus

espaços de pertenças.

Sobre esses diferentes períodos, observa-se que a região sofreu constante

processo de migração de trabalhadores, oriundos de diferentes regiões do país.

Onde Barracão está localizada é a região de fronteira seca com Dionísio Cerqueira,

no estado de santa Catarina e com Bernardo de Irigoyen, Província de Misiones, na

Argentina, é propicia para comercialização e turismo, etc.

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Figura 1: Marco Internacional da Fronteira de Barracão/PR/Brasil e de Bernardo de

Irigoyen/Misiones /Argentina, edificado em 1903. Acervo da autora (2011).

Constam em diversos livros de escritores locais e regionais, tanto desta

cidade como de outras tantas, que passou pela região de fronteira do Brasil o

Marechal Cândido Rondon, juntamente com inúmeros soldados brasileiros para

demarcar a fronteira do Brasil com a Argentina pelos meados de 1903.

Os moradores desta região experimentam uma rara oportunidade de

interação e de construção de inúmeras experiências em seu cotidiano, pois em um

mesmo aglomerado urbano coexistem partes de dois estados brasileiros, Santa

Catarina e Paraná, partes de dois países (Brasil e Argentina) e três cidades distintas

(Barracão, Dionísio Cerqueira e Bernardo de Irigoyen).

Marco Histórico Estadual de Barracão/PR e Dionísio Cerqueira/SC,

edificado em 1926. Acervo da autora (2011).

Aqui não existem barreiras físicas que impeçam o livre trânsito nestas

fronteiras de cidades, estados e países. Não há rio, nem cerca, nem muro.

Atravessa-se a rua já está em outro país, estado ou província, em outra cidade. As

imagens acima mostram os marcos das divisas de estado e de país, constituindo-se

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em barreiras psicológicas ou culturais entre as parcelas desta população que forma

um único agrupamento urbano.

O objetivo desta pesquisa foi no sentido de revisitar estes marcos,

considerados aqui como monumentos, pois que representam uma realidade vivida e

representada por antigos moradores em tempos remotos, onde as divisas entre os

estados e países não eram tão definidas e exatas como hoje. Enfim, vislumbrar

quais memórias os mais antigos moradores desta região relembram ao se deparar

com tais monumentos, quais representações de seu cotidiano no passado e no

presente eles relatam ao visitar estes locais.

Conhecer o passado dos lugares através de olhares e de memórias permite

compreender melhor as realidades em que se vive para descobrir os limites, os

processos históricos ali construídos e materializados, oportunizando a experiência

de conhecer, pesquisar, refletir e produzir conhecimento histórico sobre os

monumentos, que são parte do patrimônio cultural presente no dia a dia da cidade.

Após breve estudo bibliográfico e reflexão com os alunos acerca dos temas

ligados ao patrimônio cultural, apresentou-se a eles as fotografias do Marco

Internacional edificado na divisa do Brasil com a Argentina, do Marco Histórico

Estadual de Barracão/PR e Dionísio Cerqueira/SC, da Gruta Internacional onde está

a imagem de Nossa Senhora Aparecida, padroeira de Barracão/PR e do Brasil e a

de Nossa Senhora de Lojan, padroeira de Bernardo de Irigoyen/Misiones/ Argentina.

Os alunos tiveram acesso também às fotografias da Avenida Internacional,

que separa Barracão/PR/Brasil de Bernardo de Irigoyen/Misiones/Argentina. Nesta

mesma avenida está edificado o Monumento Histórico dos Trabalhadores

Brasil/Argentina.

Oportunizou-se aos alunos o contato com imagens de outros locais as região

em estudo que se convencionou a denominá-los de patrimônio cultural, como a

Gruta de Santa Emilia de Rodat, onde há muitos anos acontece a cavalgada de

Santa Emilia de Rodat, no Distrito de Siqueira Bello, Município de Barracão, e

igualmente o Museu Internacional de Barracão/PR/Brasil e Bernardo de

Irigoyen/Misiones/Argentina, a Cachoeira do Rio Pinhalito e a cachoeira da Linha

Três Passos, a Capela São José, da Linha São José, que fazem parte dos

monumentos históricos material e imaterial do município.

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Em relação às diversas definições de Patrimônio Cultural e da abrangência

deste termo sobre uma infinidade de manifestações culturais da população do país

ou de determinadas regiões, destaca-se a assertiva de HORTA e MONTEIRO.

O Patrimônio Cultural Brasileiro, não se resume aos objetos históricos e artísticos, aos monumentos representativos da memória nacional ou aos centros históricos já consagrados e protegidos pelas instituições e agentes governamentais. Existe o patrimônio vivo da sociedade brasileira: artesanato, maneira de pescar, caçar, plantar, cultivar e colher, utilizar plantas como alimentos e remédios, de construir as moradias, a culinária, as danças e músicas, os modos de vestir e falar, rituais e festas religiosas e populares, relações sociais e familiares, a cultura viva e presente de uma comunidade (HORTA, 1999, p. 7).

Não importa as formas de materialização do patrimônio, por que todas as

manifestações culturais, ou seja, materiais e imateriais identificam uma comunidade

local, regional, estadual, nacional ou da humanidade, sendo elementos comuns que

pertencem a todos.

Após toda discussão e reflexão acerca do tema, os educandos foram

convidados a percorrer o município de Barracão, para vivenciarem um contado

direto com as diversas manifestações do vasto Patrimônio Cultural material e

imaterial e para descobrir os gritos e os silêncios nas memórias dos moradores. As

três turmas de alunos envolvidas neste projeto realizaram a visitação a estes pontos,

cada turma em um dia diferente.

Quando em suas casas, os alunos foram em busca de fotografias

familiares, bens materiais que poderiam relatar a memória local. Posteriormente, nas

salas de aula, eram instigados na elaboração da produção histórica sobre todo o

Patrimônio Cultural local.

Partindo da produção escrita, surgiu dos grupos de educandos a idéia de que

poderiam aproveitar as fotografias tiradas por eles durante as visitações e expor

todo o material coletado, assim foi realizada uma exposição no saguão do Colégio

para que outras turmas pudessem conhecer os monumentos materiais e imateriais

do município.

Assim, depois de algumas semanas, ocorreu a exposição sendo expostas as

fotografias da professora aluna e dos educandos, e em forma de cartazes e painéis

os textos da produção histórica escrita durante as visitações.

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Durante toda a elaboração da exposição, os educandos estavam divididos em

grupos e cada grupo ficou responsável por determinadas fotografias para estudar e

expor a importância de conhecerem a história local e os diferentes monumentos que

possui este município.

As visitações dos demais alunos e da comunidade ocorreram durante as

aulas no período de quatro dias, em todos os turnos. Os educandos envolvidos no

trabalho passaram nas salas de aula para expor quais os motivos da realização da

exposição e convidando para que todos os colegas, acompanhados de seus

professores, fossem até o saguão para ouvir as explicações e ver as fotografias dos

monumentos.

Esta parte de nosso projeto de implementação contribuiu sobremaneira para

uma releitura dos ditos monumentos naturais e edificados, que povoam o imaginário

da população e são detonadores de memórias elaboradas sobre seu cotidiano no

povoamento destas terras.

Por outro lado, o fato de contar com a participação de alunos na

implementação do projeto, tanto nas visitas aos monumentos, estudos bibliográficos

e montagem da exposição, indicou que o ensino de História tem muito a ganhar com

a realização de trabalhos de campo, especialmente aqueles que envolvam

monumentos, memórias e patrimônio cultural.

Seguindo o cronograma do projeto de implementação, os educando foram

orientados a realizar entrevistas orais com alguns moradores mais idosos de

Barracão, para que relatassem momentos vividos e presenciados por eles e seus

familiares sobre o seu cotidiano no passado deste município, ou seja, sobre história

local.

Também foi organizado pela professora/aluna PDE 2010 a gravação das

entrevistas orais, para que em sala de aula, em posse desse material, fosse

realizada a reflexão e o estudo de textos, comparando a memória instituída e a

memória oral.

Apresenta-se aqui uma metodologia utilizada na pesquisa e ensino de

História, a metodologia de Educação Patrimonial, com recursos de fotografias e da

História Oral e com enfoque na história local, acerca do cotidiano dos sujeitos

entrevistados mostrando, através a relação presente passado as suas memórias,

tensões, silêncios e esquecimentos, instigados por diferentes metodologias.

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Toma-se nesta pesquisa o termo Educação Patrimonial como um processo

educacional que tenha os componentes do patrimônio cultural como fonte primária

de pesquisa e estudos, ou na definição de HORTA

A presente pesquisa caracterizou-se como Educação Patrimonial por ter

buscado nas manifestações do Patrimônio Cultural de Barracão e cidades vizinhas o

conteúdo para discutir as memórias dos moradores desta cidade sobre o seu

passado e as representações que fazem dele.

Todas as manifestações contadas de pessoa a pessoa, geração a geração

vivem nas memórias das pessoas ou de grupos. Quando voltam à tona, manifestam-

se com sentimentos emotivos, raivas, tensões, pois são momentos vividos e ou

presenciados, de fazeres e saberes que povoaram o seu cotidiano.

Ao oportunizar às pessoas a descreverem suas memórias, seus momentos

vividos ou presenciados suscitam-se novas representações ao revisitarem as suas

memórias, trazendo emoções, tensões, tristezas e comparações no presente sobre

seu passado.

Assim, o patrimônio cultural imaterial ou material deve ser valorizado, pois

cada momento lembrado revitaliza os acontecimentos com novos olhares e novos

sentimentos.

A memória permite a relação do corpo presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere no processo “atual” das representações. Pela memória, o passado não só vem à tona das águas presentes, misturando–se com as percepções imediatas, como também empurra, “desloca” estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência. A memória aparece como força subjetiva ao mesmo tempo profunda e ativa, latente e penetrante, oculta e invasora (BOSI, 1994, p.46/47).

A expectativa da professora/aluna PDE/2010, ao apresentar aos educandos a

produção didático pedagógica em forma de Caderno Temático, foi no sentido que

Trata-se de um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento individual e coletivo. A partir da experiência e do contato direto com as evidências e manifestações da cultura, em todos os seus múltiplos aspectos, sentidos e significados, o trabalho de Educação Patrimonial busca levar as crianças e adultos a um processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança cultural, capacitando-os para um melhor usufruto desses bens, e propiciando a geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação cultural (HORTA, 1999, p. 06).

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observando o material elaborado sobre a história local, serviria de apoio para

oportunizar momentos memorialistas, quando fossem contadas pelos sujeitos as

diferentes versões da história local.

Nas interações em sala de aula, durante as diversas conversas com da

professora/aluna PDE/2010 com os educandos, refletiu-se a importância do trabalho

que iriam produzir. Os alunos passaram então a discutir em casa, no convívio com

suas famílias, quem seriam os sujeitos moradores do município que gostariam de

expor as suas histórias, angustias e silêncios, enfim, memórias até então

silenciadas.

Foi relevante levar para as escolas os alunos, avôs, pais, mães, para que em

depoimentos orais contassem suas experiências vividas e representadas ao longo

do tempo. Os alunos perceberam que cada um de seus familiares, amigos ou

vizinhos possuem memórias riquíssimas e estas são importantes para sua história

individual e da comunidade em que vivem.

Ao convidar uma pessoa idosa para uma sala de aula, onde estaria contando

para os alunos como era viver na comunidade em outros tempos, como esta foi

construída, qual sua participação, como percebeu determinado acontecimento de

caráter nacional, foi um momento muito importante e rico no processo

ensino/aprendizagem vivenciado pela professora/aluna e pelos educandos.

Para esse tipo de atividade, foi necessário envolver os alunos na preparação

do questionário, nas entrevistas, onde cada educando deveria explicar a atividade e

solicitar a colaboração do entrevistado para a história local.

Foi de muita riqueza cultural, tanto para a professora/aluna quanto para os

educandos os momentos de memórias trazidas pelas pessoas entrevistadas, pois a

maioria dos alunos não conhecia os fatos trazidos à tona nos momentos das

entrevistas. Além disso, descobriram que é muito bom ouvir as memórias da família,

de vizinhos e de outros sujeitos, todos moradores do município de Barracão, que

após toda essa participação, passaram a dar importância e valorizar a história que

cada pessoa traz consigo.

4 REELABORANDO AS MEMÓRIAS

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Ao realizar entrevistas com alguns moradores mais idosos de Barracão, em

busca das memórias que elaboraram e preservam sobre a sua participação no

processo de desbravamento destas terras e povoamento da região fronteiriça, a

presente pesquisa busca seu embasamento teórico também na História Oral.

Tem-se como premissa que todo depoimento colhido de um entrevistado,

seguindo as condições básicas preconizadas pela História Oral dando total liberdade

para que o entrevistado expresse livremente as suas vivências e representações,

constitui um documento histórico merecedor de estudos e análises tão acuradas

quanto qualquer outro documento.

Destaque-se o que KHOURY pondera a respeito da riqueza da subjetividade

da fonte oral, indo além dos fatos em si mesmo, buscando as representações que

cada entrevistado faz dos fatos e da sua relação com eles.

Neste sentido, a presente pesquisa buscou conhecer outras possibilidades de

narrativas sobre a História Local de Barracão e da região fronteiriça, através da

metodologia da História Oral, tendo como provocadores das memórias dos

entrevistados o contato com os ditos monumentos históricos do município.

Nesta fase da pesquisa foram entrevistadas pela pesquisadora e pelos alunos

em sala de aula três pessoas idosas, antigos moradores do Município de Barracão.

Também foram realizadas entrevistas fora da escola, num trabalho extraclasse,

onde cerca de trinta pessoas fizeram seus depoimentos para os alunos.

Assim, ao realizar cada entrevista, instigar a descreverem suas memórias de

momentos vividos ou presenciados, reais ou representados, a presente pesquisa

possibilitou o afloramento e o reviver de emoções, tensões, tristezas e comparações

no presente sobre seu passado. As narrativas decorrentes mostrarão a diversidade

de histórias do município, valores e princípios socioculturais diferentes dos vividos

Cada pessoa, valendo-se dos elementos de sua cultura, socialmente criados e compartilhados, conta não apenas o que fez, mas o que queria fazer, o que acreditava estar fazendo e o que agora pensa que fez. As fontes orais são únicas e significativas por causa de seu enredo, ou seja, do caminho no qual os materiais da história são organizados pelos narradores para contá-la. Por meio dessa organização, cada narrador dá uma interpretação da realidade e situa nela a si mesmo e aos outros e é nesse sentido que as fontes orais se tornam significativas para nós (KHOURY, 2001, nº 22, p. 84).

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no presente, enfim, é a história local, ou uma parcela dela, que estará sendo

contada.

Sobre a riqueza das memórias e a importância das pessoas manterem vivas

as memórias que identificam cada pessoa e cada agrupamento humano, ORIÁ

assevera que

(...) é a memória dos habitantes que faz com que eles percebam na fisionomia da cidade sua própria história de vida, suas experiências sociais e lutas cotidianas. A memória é, pois, imprescindível na medida em que esclarece sobre o vinculo entre a sucessão de gerações e o tempo histórico que as acompanha. Sem isso, a população urbana não tem condição de compreender a história de sua cidade, como um espaço urbano foi produzido pelos homens através dos tempos, nem a origem do processo que a caracterizou. Enfim, sem a memória não se pode situar na própria cidade, pois perde-se o elo efetivo que propicia a relação habitante-cidade, impossibilitando ao morador de se reconhecer enquanto cidadão de direitos e deveres e sujeito da história (ORIÁ, 2009 ).

Relatar algumas experiências vividas, presenciadas ou representadas,

abordando a história das gentes e dos muitos espaços sociais edificados e

institucionalizados no município, notadamente através dos monumentos, é o

principal norte deste trabalho.

Surgiram durante as entrevistas, dúvidas e indagações nas muitas memórias,

que favorecem o estudo das identidades plurais e das vivências da população desse

município, destacando o vivido dessas gerações envolvidas nesta produção.

Assim, após a pesquisa de campo, ocorreu reflexão entre a professora/aluna

PDE/2010 e os educandos sobre a importância dos depoimentos colhidos, definindo-

se que a partir da análise dos mesmos ocorresse um novo debate sobre a história

local, para problematizar a memória institucionalizada do patrimônio cultural local.

Versões da História local do município ou da cidade estão registradas em

jornais e livros de circulação regional e ou até circulação nacional, sites da internet.

Porem pode-se afirmar que a história escrita, noticiada e ensinada não é a mesma

que estará sendo descrita através dos depoimentos de narrativas vividas e ou

presenciadas.

Certamente a presente produção não segue a linha positivista, pois aqui não

se ressaltará a história institucionalizada que mostra o desenvolvimento e o

progresso, protagonizado por “pioneiros” vindos do Rio Grande do Sul e de Santa

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Catarina, porem mostrará outros olhares e diferentes versões sobre a história local,

não descritas nas ideologias dominantes.

Assim, em seus depoimentos os moradores estarão mostrando algumas

realidades locais até então não contadas por grande parcela da população e por

livros, revistas, jornais, mas contido nos momentos de revitalização das memórias e

lembranças, instigadas pelos educandos quando das inúmeras conversas com os

sujeitos da terceira idade.

Visando a preservação do sigilo dos entrevistados, optou-se por não divulgar

os seus nomes no presente trabalho, sendo os mesmo identificados como sujeito 1,

sujeito 2, e assim sucessivamente.

Abordando os sujeitos a serem entrevistados, inicialmente os educandos

perguntavam a respeito da origem da família, que por coincidência tanto os

participantes da sala de aula como os familiares e ou vizinhos, na sua maioria são

oriundos do Rio Grande do Sul que por volta dos anos de 1929 até 1961, grande

fluxo de migrantes daquele Estado deu inicio a inúmeras incursões para várias

regiões do Estado do Paraná.

Os sujeitos que chegaram aqui, que participaram da entrevista na faixa etária

de 65 a 90 anos de idade, sendo do sexo feminino e masculino, na maioria as

mulheres são donas de casa e duas são professoras, ambas são aposentadas.

Os homens também são, em sua maioria, aposentados. Ao longo de décadas

alguns trabalharam na pequena propriedade como agricultores e criadores de

animais, outros como funcionários públicos e comerciantes.

Sendo todos descendentes de italianos e alemães que juntamente com sua

família continuam residindo no município de Barracão.

Grande parte dos depoimentos colhidos pelos nossos alunos e aqueles

concedidos em sala de aula dão conta de memórias referentes a um tempo muito

sofrido em suas vidas, com muitas privações, muito trabalho, pouca estrutura e

apoio do poder público existente na época, contrariando a maioria dos relatos

correntes que apregoam uma caminhada triunfante dos ditos “pioneiros” em busca

de uma terra prometida. O Sujeito 1, recupera suas memórias ainda do tempo de

criança e destaca a extrema pobreza da cidade naquela época.

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Quando cheguei aqui por volta de 1950, rinha apenas cinco anos, a cidade era muito pequena, ruas feitas de picadas com foice, facão, ruas estreitas, apenas poucas casas de madeira, cobertas com tabuinhas, apenas gerador de óleo diesel, para algumas horas do dia e a população local se beneficiarem deste tipo de energia (SUJEITO 1, 2011).

Nesta mesma linha o sujeito 8, falando livremente em uma sala de aula, para

alunos do Ensino Médio, relata sobre o cotidiano de um povo que vivia sob

condições extremas de desconforto, em um ambiente totalmente inseguro, na divisa

nem sempre bem definida entre dois países, em terras sem dono e muitas vezes

vivendo de atividades ilícitas como o contrabando. Estas são as outras histórias do

passado de Barracão e de sua gente, contraditórias a todos os relatos oficiais.

Faz 63 anos que vim morar aqui,(1948) tinha mais ou menos vinte casas. O chuveiro era um latão puxado com uma corda para que ficasse no alto. O banheiro era chamado de patente. As estradas não eram pavimentadas, era muita pobreza. A maioria das terras não tinha donos. Havia muito contrabando, os caminhões vinham de outros municípios trazendo as pessoas para morar aqui e voltavam com os contrabandos carregados. Muitas vezes os Gendarmes (polícia argentina) atiravam nas pessoas que faziam contrabando. Da Argentina vinha banha, azeite, farinha, sabão, pedras preciosas, erva mate. Perto da Igreja Católica de Barracão tinha um cinema que passava filmes para a população das três cidades. Eu aprendi a dirigir com 23 anos. Havia o Colégio Santa Terezinha administrado pelas freiras, hoje atual Colégio Dr. Mário. A nascente do Rio Capanema fica atrás do Banco Itaú. Por mais de vinte anos Barracão foi considerado terra de fugitivos e bandidos (SUJEITO 8, 2011).

É importante sublinhar a frase com que o sujeito 8 encerra o seu depoimento,

indicando que esta região era na época a última fronteira, uma terra sem divisas e

provavelmente sem lei, onde os fugitivos dos locais “mais civilizados” vinham

esconder-se e aqui fazer a sua existência. De certo modo, a grande maioria dos

imigrantes sulistas vinha para esta região fronteiriça não apenas atraídos pela

possibilidade de aqui ter uma vida melhor, mas expulsos de seus locais de origem

pela pouca terra que lá possuíam, pela pobreza, pelo preço elevado daquelas terras

ou por problemas com a justiça, desavenças com parentes ou vizinhos, dentre

outros motivos.

O Sujeito 3, uma senhora com 78 anos, diante do atual monumento

denominado marco internacional entre Brasil e Argentina, recupera as memórias de

um tempo vivido numa fronteira entre dois países, onde a população não tinha

conhecimento e não dava importância às divisas geográficas. A viagem de carroça

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denuncia a extrema dificuldade e pobreza que enfrentavam ao transportar tudo que

tinham em uma pequena carroça puxada por animais, enfrentando uma viagem de

semanas e por caminhos inóspitos.

(...) minha família, chegou em Barracão em 1944, vindo do Rio grande do Sul; Chegamos de carroça, era um vilarejo; lembro da divisa do país que era estrada de chão e me criei não sabendo onde era a divisa dos dois países (SUJEITO 3, 2011).

O Sujeito 6, que chegou ainda criança em Barracão, fala textualmente da

pobreza em que viviam no Rio Grande do Sul, a ponto de não poder pagar uma

viagem de caminhão para trazer a mudança, optando por vir de carroça. Este

depoimento indica também um dos motivos da expulsão destes moradores do

extremo sul para esta região fronteiriça, a pouca terra e o preço elevado da mesma.

Quando meu pai e minha mãe resolveram vir morar para cá, lá pelos anos de 1948, eu tinha apenas três anos de idade. Minha mãe contava que como morava em município pobre não tinham condições de pagar transporte, por que eram agricultores e também eram de família pobre. Havia um custo para fazer esta viagem e vir neste município. Meu pai resolveu que viríamos de carroça e assim levamos cinco dias até chegar aqui, parando para pernoitar em alguns lugares. Assim, fizemos a viagem, abrindo picadas, pois para fazer um trajeto mais curto, passamos por estradas não muito movimentadas (SUJEITO 6, 2011).

A maioria dos entrevistados narra suas memórias com muita emoção, ao

reviverem um tempo de muitas esperanças, mas de muito sofrimento. Alguns vieram

ainda crianças para este lugar, outros jovens, adultos. Aqueles que vieram idosos já

não estão mais entre os seus, suas memórias só sobrevivem na memória coletiva.

Quando se pergunta sobre o passado deles, todos fazem questão de narrar o

ritual da saída daquela vida que tinham em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul e

principalmente as agruras da viagem que enfrentaram para chegar a Barracão.

Imagine-se um casal de jovens, recém casados e vivendo esta aventura. É o que

relata o sujeito 5.

A viagem desde a cidade do Rio Grande do Sul até este local levou três dias de caminhão, por que chegamos na divisa do Estado com Santa Catarina, no rio Uruguai e não passava a balsa de noite, tivemos que dormir amontoados no caminhão. Eu e meu marido casamos no Rio Grande do Sul, eu tinha 19 anos e meu marido tinha 20 anos. Chegamos aqui em 1955, em busca de terras mais baratas, pois as terras na cidade que

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nascemos e estávamos morando eram muito caras, também não tínhamos condições de comprar (SUJEITO 5, 2011).

Da mesma maneira, relatos dos que vinham de caminhão e dos municípios

vizinhos, perto do rio Uruguai, que vinham de carroça informam que a viagem

levando em média cinco dias até chegar aqui. Dizem que as estradas eram

péssimas, como também tinham que passar de balsa o rio Uruguai, na divisa do Rio

Grande do Sul com Santa Catarina, pois a balsa não atravessa no rio a noite. Deste

modo muitos deveriam pernoitar no caminhão e atravessar no outro dia. Além disso,

muitas vezes os caminhões estragavam ou chovia, o que dificultava mais ainda a

chegada ao município.

Ao serem perguntados sobre por que vieram viver em Barracão, a grande

maioria comentava que como eram agricultores, sonhavam com um pedaço de terra

que fosse seu, para formar família. Outros vieram para conseguir emprego, pois

como não tinham terra, obrigavam-se a trabalhar de agregado, nas terras de outras

pessoas e pagar a renda, uma espécie de aluguel da terra. Todos queriam ganhar

mais para um dia poder comprar a “terrinha” tão desejada.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo da elaboração deste trabalho foi desenvolver com os educandos a

pesquisa bibliográfica e de campo, utilizando a metodologia da história oral e

educação patrimonial, reflexões através de entrevistas orais sobre a história dos

monumentos históricos e patrimônio cultural do município, por meio de depoimentos

e fotografias.

Este trabalho procurou vislumbrar aos educandos o estudo sobre a História

Local, melhorando o conhecimento histórico das realidades e representações de seu

cotidiano local e contribuindo para a elevação qualidade de ensino e aprendizagem,

despertando sentimentos de pertencimento, valorização e respeito pelo espaço onde

vivem.

O presente projeto de implementação teve ampliado o seu público

participante, visto que participaram de eventos de estudos, reflexão, oficinas e

exposição de materiais os alunos da 2ª séries A, B, C do período matutino do

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Colégio Dr. Mário Augusto Teixeira de Freitas – EFM, os pais e responsáveis, a

Direção, Equipe Pedagógica e colegas profissionais do educandário, fazendo

acontecer uma espécie de produção coletiva, onde todos os envolvidos puderam ser

agentes ativos na elaboração de conhecimento histórico.

Após a realização das várias etapas da implementação, como a pesquisa

bibliográfica, as entrevistas, os estudo das entrevistas e a produção deste artigo, é

possível apontar o estudo das memórias da população local, com apoio nos

monumentos como uma possibilidade viável para a produção do conhecimento

histórico na História Local.

Por outro lado, considerando os grandes avanços verificados na relação

professor/aluno e aluno/disciplina durante a realização das etapas que envolviam

alunos neste projeto, indica que a realização de atividades teórico/práticas no ensino

de História é altamente positiva e tende a levar os alunos a uma melhoria da

aprendizagem e a formação do gosto pela pesquisa histórica.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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