a problemática da política europeia

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A Problemática Política da Europa DOS SUCESSOS DO PASSADO AOS DILEMAS DO PRESENTE E DO FUTURO José Pedro Teixeira Fernandes INSTITUTO CULTURAL D. ANTÓNIO FERREIRA GOMES 12/Nov/2012

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União Europeia

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Page 1: A problemática da Política Europeia

A Problemática Política

da Europa

DOS SUCESSOS DO PASSADO AOS DILEMAS DO PRESENTE E DO FUTURO

!!José Pedro Teixeira Fernandes

INSTITUTO CULTURAL

D. ANTÓNIO FERREIRA GOMES 12/Nov/2012

Page 2: A problemática da Política Europeia

!!

PARTE I - Retrospetiva dos sucessos do passado

Page 3: A problemática da Política Europeia

A!União!Europeia!nos!50!!(195752007),!cartoon!de!Mike!Mosedale!!(FONTE:!hEp://esharp2.Etp.eu/

issue/200752/Europe5s5anniversary5anJcs)!

Page 4: A problemática da Política Europeia

As catástrofes da primeira metade do século XX

•  Antes de qualquer análise sobre os méritos ou deméritos das Comunidades/União Europeia, importa recordar as circunstâncias históricas em que estas surgiram.

•  A catástrofe provocada pela guerra (mais de 50 milhões de mortos na II Guerra Mundial, face aos mais de 19 milhões que já tinham morrido na I Guerra Mundial), a destruição do tecido económico e das infraestruturas, a escassez de alimentos e de outros bens essenciais, a vulnerabilidade face à Guerra-Fria marcada pela rivalidade entre as superpotências (EUA e ex-URSS), foram factores decisivos no rumo dos acontecimentos a seguir a 1945.

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O Reichstag (parlamento alemão), em 2 de maio de 1945 (FONTE: foto da batalha de Berlim, de Yevgeny Khaldei)

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A génese de uma Europa unificada no pós-guerra

•  Foi no contexto da Guerra-Fria, da ameaça de expansão da ex-URSS sobre a Europa Ocidental, da necessidade de resolução do problema da Alemanha (com o pesado ónus do regime nazi, dividida pelos aliados, mas vista pelos EUA como necessária para o containment da ex-URSS), que a unificação europeia ganhou os primeiros contornos concretos.

•  A 1ª Comunidade (a CECA), surgiu em 1951 para resolver a questão da gestão dos recursos do carvão e do aço alemães, através de uma Alta Autoridade comum. Mais tarde, em 1957, pelo Tratado de Roma, sugiram as outras Comunidades (CEE e EURATOM).

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Declaração Schuman, a 9 de maio de 1950 (Sala do Relógio do Quai d'Orsay, em Paris)

Page 8: A problemática da Política Europeia

Assinatura do Tratado de Roma, a 25 de março de 1957 (hoje sala dos museus capitolinos)

Page 9: A problemática da Política Europeia

O que motivou os Estados fundadores das Comunidades?

•  É bem conhecido que os Estados fundadores (6) foram a França, a Alemanha, a Itália, a Bélgica, a Holanda e o Luxemburgo.

•  Para além dos ideais europeístas (que o b v i a m e n t e f o r a m u m a m o t i v a ç ã o importante), de um ponto de vista político a questão mais interessante é saber também quais foram os interesses (nacionais) específicos que moveram esses países.

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Os interesses/equilíbrios entre os fundadores das Comunidades (1)

•  França: reconciliação com a Alemanha (solução duradoura para o diferendo sobre a Alsácia-Lorena); controlo dos recursos do carvão e do aço; ambição de recuperar o estatuto de potência de primeiro plano; apoiar-se na “Europa dos seis” para multiplicar o seu peso político.

•  Alemanha: reconciliação com a França; superação do ónus do nazismo, estabilização democrática e reabilitação internacional; recuperação da prosperidade económica (e, no longo prazo, do estatuto de grande potência), obtenção de um mercado para a sua produção industrial.

Page 11: A problemática da Política Europeia

O conflito franco-alemão sobre a Alsácia-Lorena (1870-1945)!

Page 12: A problemática da Política Europeia

Os interesses/equilíbrios entre os fundadores das Comunidades (2)!

•  Itália: superação do ónus do fascismo, reabilitação internacional e estabilização democrática (no longo prazo também recuperação do estatuto de grande potência) e expectativa de prosperidade económica.

•  Benelux (Bélgica, Holanda e Luxemburgo): beneficiar do (re)entendimento franco-alemão; expectativa de maior prosperidade económica; ganhos de nova centralidade europeia (as instituições das Comunidades estão, em grande parte, na Bélgica e Luxemburgo).

Page 13: A problemática da Política Europeia

O sucesso do “método comunitário”

•  O chamado “método comunitário” foi um processo engenhoso (e bem sucedido), de compromisso, encontrado pelos fundadores das Comunidades: é mais do que uma tradicional cooperação intergovernamental, mas é também menos do que um funcionamento de tipo federalista.

•  A lógica comunitária implica, por isso, transferência ou partilha de soberania (as palavras aqui não são indiferentes...).

Page 14: A problemática da Política Europeia

O sucesso da solidariedade entre os membros

•  Uma das caraterísticas mais originais do processo integração das Comunidades/União Europeia foi a instituição de mecanismos de solidariedade financeira, com vista a aumentar a coesão económica e social dos seus membros.

•  Estes mecanismos (Fundos Estruturais e Fundo de Coesão) implicam um maior esforço financeiro dos países mais prósperos (ou seja, com um PIB/per capita elevado), em benefício dos países e regiões com níveis de desenvolvimento mais baixos.

Page 15: A problemática da Política Europeia

O sucesso da integração económica e da estabilização política

•  Os objetivos de integração económica das Comunidades/União Europeia foram, em termos gerais, atingidos com apreciável sucesso.

•  É esse o caso do mercado interno, ao nível da liberdade de circulação de mercadorias, pessoas, capitais e serviços e de várias políticas comuns. (Parecia ser esse, também, o caso da moeda única, o euro, até à crise iniciada em 2007/2008).

•  Para além dos sucessos da integração económica há também um sucesso apreciável na estabilização política (basta lembrar-nos que uma questão crucial do fim da Guerra Fria - a reunificação alemã - teria sido muito mais difícil sem as Comunidades/UE).

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A queda do muro de Berlim (1989) (FONTE: https://alum.mit.edu/news/WhatMatters/Archive/)

Page 17: A problemática da Política Europeia

A atração das Comunidades/União Europeia

•  É inquestionável que as Comunidades/União Europeia foram (e provavelmente continuam a ser) um factor de atração no seu espaço envolvente (as exceções a essa atração são a Suíça e a Noruega).

•  Os 6 alargamentos já ocorridos desde a sua fundação (1973, 1981, 1986, 1995, 2004 e 2007), mais que quadruplicaram os seus membros fundadores (atualmente 27, em 2103, com a adesão da Croácia, 28).

•  A União Europeia está também em negociações de adesão com a Turquia. O pedido de adesão da Antiga República Jugoslava da Macedónia foi já aceite. Outros Estados dos Balcãs têm também como objetivo a adesão à União Europeia.

Page 18: A problemática da Política Europeia

PARTE II - prospetiva dos dilemas do presente e do futuro

Page 19: A problemática da Política Europeia

Do otimismo do passado ao pessimismo do presente (FONTE: Klaus-Dieter Borchardt , O ABC do Direito da União

Europeia, p.38 e http://thecomicnews.com/edtoons/2011/1214/euro/01.php

1977! 2011!

Page 20: A problemática da Política Europeia

Os principais desafios da UE •  A gestão da crise do euro encontrando um novo

equilíbrio entre a Europa do Norte com a Europa do Sul países do “Club Med”/“PIIGS”).

•  A ( in)sustentabi l idade da sol idar iedade financeira.

•  A (in)definição do projeto europeu e a “fadiga” dos alargamentos.

•  A tensão entre “mais Europa” (federalismo/governo económico europeu/diretório) e interesse/soberania nacional.

•  A globalização com (des)centragem do mundo na Ásia-Pacífico e a perda de importância relativa das economias europeias.

Page 21: A problemática da Política Europeia

A (in)sustentabilidade da solidariedade financeira

•  Desde a sua fundação, a UE têm funcionado com base numa solidariedade financeira, o que leva os países mais ricos a terem maiores contribuições para o orçamento europeu.

•  Até agora os contribuintes líquidos têm sido essencialmente a Alemanha, a Holanda, Suécia, a França, o Reino Unido, a Itália, a Dinamarca, a Áustria e a Finlândia.

•  Desde o alargamento de 1995 que não entrou para a UE mais nenhum contribuinte líquido (todos os 12 países que aderiram em 2004 e 2007 são beneficiários líquidos; os que se perspetivam para aderir no futuro têm também esse perfil).

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As vinte regiões mais prósperas e pobres da União (FONTE: Eurostat, 2012)

Page 23: A problemática da Política Europeia

As dotações financeiras dos Fundos por objetivo (em %) (FONTE: Comissão Europeia, Política de

Coesão 2007-2013)

Page 24: A problemática da Política Europeia

Contribuintes e beneficiários líquidos em 2007 (I) (FONTE: BBC, http://news.bbc.co.uk/2/hi/europe/8036097.stm#start)

Page 25: A problemática da Política Europeia

Contribuintes e beneficiários líquidos em 2012 (II) (FONTE:http://www.guardian.co.uk/news/datablog/2012/jan/26/eu-

budget-european-union-spending#data)

Page 26: A problemática da Política Europeia

A tensão entre “mais Europa” e interesse/soberania nacional

•  No cerne da construção europeia está um equilíbrio entre “grandes” e “pequenos” Estados.

•  Este complexo equilíbrio tem uma expressão importante nas votações por maioria qualificada no âmbito do Conselho.

•  Inicialmente, o processo assentou numa compressão do peso dos “grandes” Estados, em favor de uma maior representação dos pequenos e médios Estados.

•  Todavia, desde o Tratado de Nice, “mais Europa” tende, cada vez mais, a significar mais peso dos “grandes” Estados.

Page 27: A problemática da Política Europeia

O (difícil) equilíbrio entre os interesses nacionais nas instituições da União (a votação

por maioria qualificada no Conselho – FONTE: Klaus-Dieter Borchardt, idem, p.65 )

Page 28: A problemática da Política Europeia

A “fadiga dos alargamentos”: Até onde deve (ou devia) ir a União Europeia?

Page 29: A problemática da Política Europeia

Os critérios de Copenhaga para “ser europeu” (membro da União Europeia)

•  Estado de direito democrático. •  Economia de mercado com capacidade

competitiva. •  Capacidade de observância das obrigações

inerentes adesão. •  Criação de mecanismos que permitam a

transposição do direito europeu para a legislação nacional.

Page 30: A problemática da Política Europeia

A (in)definição do projeto europeu

•  Qual o objetivo último da integração europeia? •  É um grande mercado com uma moeda única? É

formar uma união política de tipo federal? É criar uma “Europa superpotência”, face aos EUA e ao crescente poder da China?

•  O projeto europeu pode continuar a aberto a qualquer Estado (europeu), baseado apenas nos critérios de Copenhaga? Isso não comprometerá a sua viabilidade (ou seja, a ambição de uma integração económica e política próxima do modelo “Estados Unidos da Europa”)?

Page 31: A problemática da Política Europeia

“Encalhados”, cartoon de Wolfgang Ammer para o jornal Wiener Zeitung

Estratégias bem sucedidas de integração europeia do passado, garantem sucesso

no presente e no futuro?!