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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
SANDRA REGINA DA SILVA TONELLO
ENTRE AS LINHAS DO TEXTO: O CONTO NA FORMAÇÃO DE LEITORES
Artigo Final apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional – 2010/2011 da Secretaria de Estado da Educação do Paraná.
Orientador: Prof. Dr. Aécio Flávio Carvalho
MARINGÁ
2012
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ENTRE AS LINHAS DO TEXTO: o conto na formação de leitores
Autora: Sandra Regina da Silva Tonello1
Orientador: Aécio Flávio Carvalho2
Resumo
O presente artigo tem como intuito divulgar a Implementação do Projeto de
Intervenção Pedagógica do PDE na 2ª e 3ª séries do Ensino Médio do Colégio
Estadual Marechal Costa e Silva, em Cidade Gaúcha – Paraná. Este projeto foi
pensado e executado baseando-se em duas realidades da escola pública do
Paraná: As Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa e a prática docente. As
Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa contemplam a teoria
sociointeracionista da linguagem e têm a leitura como um dos eixos norteadores do
ensino-aprendizagem. A prática docente, por sua vez, constata a carência de leitura
e a dificuldade do educando em perceber os elementos explícitos e implícitos do
texto. Fica, portanto, evidente a necessidade de pesquisar e praticar estratégias que
levem à formação do hábito de leitura e consequentemente, a formação de leitores
mais proficientes. O método utilizado para dar embasamento ao projeto foi o Método
Recepcional sugerido pelas Escritoras Bordini e Aguiar. O Gênero textual escolhido
para desenvolver a proposta foi o conto.
Palavras-chave: Leitura; literatura; conto; formação de leitores.
1 Professora/ PDE da Rede Pública do Estado do Paraná. Graduada em letras – Português
pela UEM. Pós-graduação na área de Magistério de 1º e 2º Graus, com concentração em Formação de Professores pelas Faculdades integradas “Espírita”; docente da Escola Estadual Marechal Costa e Silva – Ensino Fundamental e Médio 2 Professor aposentado da UEM – DLE. Doutor em Cultura Clássica pela USP. Trabalhou
na UEM, no Departamento de Letras e no programa de pós-graduação (PLE) respectivo. Atualmente, trabalho no PARFOR desde sua criação, tem publicações para o EAD/UEM e orienta docentes do PDE desde o surgimento do programa.
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1. Introdução
O intuito de um estudo na área de ensino e aprendizagem da leitura baseia-
se em duas realidades da escola pública do Paraná: as Diretrizes Curriculares da
Educação Básica e a prática docente. As Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa contemplam a teoria sociointeracionista da linguagem e têm a leitura
como um dos eixos norteadores do ensino-aprendizagem. A prática docente, por sua
vez, vem constatando a falta de interesse dos alunos pela leitura de textos,
sobretudo os literários.
Segundo a concepção sociointeracionista, a linguagem é um mecanismo
que não pode se fechar na condição de sistema de normas, mas deve abrir-se na
condição de fenômeno social que interage com o indivíduo. A leitura é vista a partir
desta concepção como uma prática social que estabelece um diálogo entre o leitor e
o autor do texto. E quanto melhor a prática da leitura, mais amplo o conhecimento de
mundo do leitor, mais consciente a sua participação na comunidade.
No cotidiano escolar observa-se a necessidade de propiciar ao aluno
condições de uma leitura mais reflexiva e aprofundada dos textos. Pois, muitas
vezes, pela própria prática docente, a maioria dos alunos fica no nível superficial de
leitura, sem se inserir na compreensão e interpretação do texto lido.
Consequentemente, quando chega ao Ensino Médio, perde o interesse pela leitura
de textos, principalmente de textos literários. Sabe-se que o texto literário pode ser
muito atrativo, emocionante, envolvente; mas, sabe-se também, que se não houver
alguma informação anterior que estabeleça relação com o conhecimento de mundo
do leitor, aguçando-lhe o interesse e a percepção, bem como sem os conhecimentos
mínimos dos elementos estruturais do texto, este pode se constituir como algo
enfadonho e ultrapassado. Assim, cabe à escola e, principalmente, ao professor da
língua, proporcionar estratégias de leitura que motivem gradativamente o aluno ao
gosto pela leitura até habituar-se como leitor proficiente.
A presente proposta de intervenção adotará a sugestão das Diretrizes
Curriculares de trabalhar a aprendizagem de leitura empregando o Método
Recepcional defendido pelas escritoras Bordini e Aguiar, que propõem cinco etapas
para alcançar o objetivo do ensino da leitura, a saber: ler, compreender, interpretar e
inferir nos textos.
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Pelo tempo da aplicabilidade do projeto e, sobretudo, pelo interesse que
provoca no leitor, o gênero textual escolhido para dar ênfase à aprendizagem de
leitura é o conto. Este gênero, geralmente, apresenta-se como uma narrativa
bastante curta, com uma única veia dramática e que, ao mesmo tempo, envolve o
leitor até o fim da história. Desse modo, espera-se suscitar nos alunos interesse pela
leitura e a partir das estratégias estabelecidas, espera-se que confirmem,
aprofundem e ampliem seus conhecimentos.
É pertinente lembrar que um texto não é uma unidade uniforme. Não sendo
uniforme, cada texto poderá dialogar com o leitor de modo diferente. Há elementos
textuais que podem ser vistos como atrativos interessantes na compreensão: o
gênero do texto, a temática, a intenção do autor que transparece na história, a
época, entre outros. Na execução do projeto, as motrizes do interesse ganharão a
individualização possível às características da clientela discente.
Os estudiosos do discurso e as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa
insistem em que oralidade, leitura e escrita estão intimamente ligados, constituem-se
como elementos de um resultado sociolinguístico final: a comunicação. Ora, esta
percepção corresponde à experiência docente mais comum, inclusive à nossa; por
isso, o presente projeto de intervenção, embora enfatize a prática de leitura,
perpassará pelas três práticas.
1.1 Os entraves da prática de leitura
Nenhuma época vivenciou um processo tão rápido de informações quanto o
do presente momento. Era de se esperar, portanto, que na área de transmissão do
conhecimento esta rapidez se processasse. Entretanto, a educação apresenta
índices muito baixos de qualidade. Logo, a consequência se reflete na menor
condição da aprendizagem.
Sobre isso, as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa faz a seguinte
constatação:
Pensar o ensino de Língua portuguesa e da Literatura implica pensar também as contradições, as diferenças e os paradoxos do quadro complexo da contemporaneidade. Mesmo vivendo numa época denominada “era da informação”, a qual possibilita acesso rápido à leitura de uma gama
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imensurável de informações, convivemos com o índice crescente de analfabetismo funcional, e os resultados das avaliações educacionais revelam baixo desempenho do aluno em relação à compreensão dos textos que lê. (DCES, 2008, p. 15)
Geralmente no início da caminhada escolar os alunos gostam de ouvir e ler
textos; mas com o avanço das séries e, principalmente no Ensino Médio, perdem o
interesse pelas leituras, ainda mais se forem textos literários.
Por que os alunos perdem o interesse pela leitura? Como despertar o prazer
pela leitura, principalmente, nas séries mais avançadas? De que modo o professor
de língua portuguesa pode conscientizar o aluno da importância de ler? O que fazer
para que o educando compreenda a leitura como instrumento de cidadania? De que
maneira, a literatura, mais precisamente, a leitura de contos, pode contribuir para
ampliar o conhecimento dos alunos?
Responder a estes e outros questionamentos sobre o ensino e
aprendizagem da leitura não é tarefa fácil para o professor da língua materna, no
dia-a-dia em sala de aula. A intenção deste projeto é tentar contribuir para sanar, ou
pelo menos diminuir, a incidência dos problemas que a carência do ato de ler
implica.
Um sujeito mais crítico tem maior capacidade de trabalhar com as práticas
de oralidade, leitura e escrita. Sendo assim, é papel da escola e mais
especificamente, do professor de língua portuguesa, buscar possibilidades para a
transformação de um leitor superficial em um leitor capaz de contribuir, como
cidadão, com a comunidade em que está inserido.
A partir destes questionamentos, propõe-se uma abordagem de leitura e de
seus vários níveis de aprendizagem, trazendo o Método Recepcional citado
anteriormente, a fim de motivar os alunos a criar o hábito de leitura e levá-los a
dialogar com as várias situações que envolvem o processo de leitura.
Ciente de que é através do professor que a escola deve mostrar a
responsabilidade de recriar o conhecimento pré-existente, nas mais variadas áreas e
temáticas, percebe-se que ela se encontra num estado de crise de identidade, não
sabendo exatamente qual a sua função, tantos são os problemas que se
apresentam para a escola solucionar.
Nesse estágio crítico, a leitura ocupa um grande destaque, porque se
confunde com a própria caracterização dos atos de educar. Ou seja, enquanto lê, o
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aluno se educa. E ler ainda possibilita o conhecimento de um mundo diferente
daquele proposto pelas mídias eletrônicas que, nesta fase da formação cultural, são
dominantes no mundo dos adolescentes.
O Projeto de Intervenção Pedagógica, de que se ocupou este artigo,
procurou associar o processo de leitura nos alunos de 2ª e 3ª séries do Ensino
Médio aos textos previamente escolhidos dentre aqueles contos brasileiros que
estivessem apropriados à capacidade de recepção desses alunos.
2 Desenvolvimento
O presente trabalho está de acordo com as Diretrizes Curriculares de Língua
Portuguesa as quais são norteadas pela teoria sociointeracionista da linguagem.
Segundo Bakhtin, a linguagem deve ser analisada a partir da interação do indivíduo
com o social.
A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico, de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua. (BAKHTIN, 1992, p. 123)
Nesta perspectiva, a leitura é vista como uma prática social, um diálogo
entre o leitor e o autor; isto é, o significado do texto é construído através da sua
interação com o leitor. Para Bakhtin "a língua é um fato social que só se dá nas
interações entre os sujeitos”.
Na superfície textual os sentidos não estão claros e explícitos, mas são
construídos a partir das intenções do autor, bem como são dependentes do
conhecimento do leitor e da sua visão de mundo. É de grande importância que o
leitor tenha uma posição ativa frente a um texto, de forma que consiga dialogar com
ele, contribuindo com seus conhecimentos e experiências prévias. Segundo as
Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa:
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Nestas Diretrizes, compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler, o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem. (DCES, 2008, p. 56)
Para Martins (1994), a escola tem práticas arraigadas de leitura que não
favorecem o desenvolvimento do senso crítico do aluno. Porém, ler vai muito além
do livro, cabe às pessoas prestarem atenção ao seu redor.
A ideia de leitura é normalmente restrita ao livro, ao jornal. Leem-se palavras, e nada mais, diz o senso comum. As ciganas, contudo, dizem ler a mão humana, e os críticos afirmam ler um filme. O fato é que quando escapa dos limites do texto escrito, o homem não deixa necessariamente de ler. Lê o mapa astral, o teatro, a vida – forma a sua compreensão da realidade. (MARTINS, 1994, p.1)
Ler, portanto, não se restringe apenas em decodificar sinais, mas
compreender, analisar, refletir, fazer inferências, enfim, ler as entrelinhas, preencher
as lacunas do texto e ampliar os horizontes do seu próprio conhecimento. Dessa
forma, o leitor se posicionará como sujeito e não objeto da história.
A escola, como mediadora do saber, tem papel de estimular o
desenvolvimento das potencialidades do aluno em relação à leitura. É o que ensina
Frantz:
A escola tem, portanto, um compromisso maior que é propiciar ao sujeito o desenvolvimento de sua capacidade de leitura de mundo. Assim, uma educação que se queira libertadora, humanizante e transformadora passa, necessariamente, pelo caminho da leitura. Da mesma forma, na organização de uma sociedade mais justa e democrática, que vise a ampliar as oportunidades do acesso ao saber, não se pode desconhecer a importante contribuição política da leitura. (FRANTZ, 2001, p.21)
Geraldi (1997) contempla a leitura como uma “interlocução entre sujeitos”,
um espaço em que ocorre a construção e circulação de sentidos; desta forma, ela
está intimamente ligada à constituição do discurso. Ele finaliza esse assunto citando
as palavras de Lajolo:
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Ler não é decifrar, como num jogo de adivinhações, o sentido do texto. È a partir do texto, ser capaz de atribuir-lhe significado, conseguir relacioná-lo a todos os outros textos significativos para cada um, reconhecer nele o tipo de leitura que seu autor pretendia e, dono da própria vontade, entregar-se a essa leitura, ou rebelar-se contra ela, propondo outra não prevista (LAJOLO, 1982, ab, p. 59, apud GERALDI, 1997, p. 91).
Para Menegassi, (2005, p.79) é função da escola propiciar estratégias de
leitura que desenvolvam a capacidade de entendimento do aluno e que,
posteriormente, o levem a compreender textos de seu convívio social, ou seja, a
visão de mundo adquirida pela compreensão da leitura em sala é que o tornará um
“leitor competente”.
Ainda sobre a leitura, Paulo Freire diz:
Desde o começo, na prática democrática e crítica, a leitura do mundo e a leitura da palavra estão dinamicamente juntas. O comando da leitura e da escrita se dá a partir de palavras e de temas significativos à experiência comum dos alfabetizandos e não de palavras e de temas apenas ligados à experiência do educador. (FREIRE, 2005, P29)
Portanto, na concepção de Paulo Freire, a leitura do mundo e a leitura da
palavra estão juntas. Cada uma completa o entendimento da outra num ciclo
contínuo de aprendizagem e interação autor/texto/leitor.
2.1 Literatura
A literatura por ser uma atividade humana está intrinsecamente relacionada
à vida social; e embora seja ficção, reflete e questiona comportamentos e valores
sociais.
O texto literário permite múltiplas interpretações, uma vez que é na recepção que ele significa. No entanto, não está aberto a qualquer interpretação. O texto está carregado de pistas/estruturas de apelo, as quais direcionam o leitor, orientando-o para uma leitura coerente. Além disso, o
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texto traz lacunas, vazios, que serão preenchidos conforme o conhecimento de mundo, as experiências de vida, as ideologias, as crenças, os valores, etc., que o leitor carrega consigo (DCEs, 2008, p.59).
A literatura é uma arte que tem como matéria-prima a palavra. Em prosa ou
verso, o escritor re(cria) a realidade de acordo com suas crenças e vivências.
Portanto, o texto literário é uma ficção que mantém relação com a realidade.
A partir do momento que literatura passa a designar os textos criativos, seja poesia ou prosa, há a associação com a arte e com a humanização do ser. Nesse sentido, literatura guarda um valor em si mesma, ou seja, é por meio da literatura e dos valores éticos e morais que ela veicula que nós nos reconhecemos como humanos, no prazer e no sofrimento.(COSTA & OLIVEIRA, 2010, p.8)
Comumente, a prática de leitura de textos literários nas escolas é feita de
maneira fragmentada, ou de maneira superficial, com caráter meramente didático e
pedagógico. O docente prende-se muito mais na periodização das escolas literárias;
em contrapartida, a leitura dos textos que deveria ser prioridade, fica relegada a
segundo plano.
Veja o que diz Claudio Mello sobre o assunto.
Nas escolas, normalmente, há uma prática que repete uma fórmula atualmente bastante questionada nos estudos literários, qual seja a que se fixa em transmitir um cânone; enrijecido nos manuais escolares, numa metodologia que deslinda a participação do leitor, explicitando, pois uma metodologia que o desconsidera como sujeito ativo na construção do conhecimento. Na maioria das vezes, a escola disciplinariza a leitura literária, desviando-a das expectativas e necessidades dos educandos que acabam fazendo uma leitura superficial e ingênua do texto literário, sem fazer uma intervenção efetiva com texto literário, necessária para a produção de sentidos significativos. (MELLO, 2008, p.45)
De acordo com as Diretrizes, o texto literário no ensino médio deve ser
trabalhado a partir da perspectiva rizomática, ou seja, o professor deve ser um leitor
assíduo e dessa forma, ter mais competência para selecionar textos para sua prática
docente que favoreçam o entendimento do aluno.
Apontam as Diretrizes:
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Assim, a aula partirá do(s) texto(s) selecionados pelo professor que colocará o aluno em face de textos literários integrais em vez de resumos ou sinopses. Aceitará os textos sugeridos pelos alunos como ponto de lançamento para leitura de outros textos, num contínuo texto-puxa-texto que leve à reflexão, ao aprimoramento do pensar e um aperfeiçoamento no manejo que ele terá de suas habilidades de falante, leitor e escritor. (DCEs, 2006, pág. 41).
Percebe-se, então, a importância do professor ser um leitor assíduo;
comprometido com o processo de ensino-aprendizagem e incentivador do hábito de
leitura dos alunos. A leitura de textos deve ser rotineira nas escolas, mas nem
sempre precisa estar agregada a atividades exaustivas e desestimulantes. A leitura
fruição e prazerosa tem que ser constante na prática docente.
2.2 Método Recepcional
Como encaminhamento metodológico, As DCEs (2008, p.74) sugerem o
Método Recepcional, de Bordini & Aguiar: “Optou-se por esse encaminhamento
devido ao papel que atribui ao leitor. Além disso, esse método proporciona
momentos de debates, reflexões sobre a obra lida”.
Bordini e Aguiar doutrinam que o sentido da literatura não se esgota no texto.
Complementa-se no ato da leitura e o pressupõe. A palavra tem a função de
sensibilizar o indivíduo, fazendo-o admirar, rir, chorar, mas, sobretudo, pensar sobre
sua condição ideológica, social e cultural. “O processo de recepção textual, implica
a participação ativa e criativa daquele que lê, sem com isso sufocar a autonomia da
obra” (Bordini, Aguiar 1993, p. 86).
O Método Recepcional que as autoras propõem para a prática da leitura
tem como base a teoria da recepção e do efeito, defendidas por Jauss e Iser,
respectivamente. Esse método, pela análise proposta por Bordini e Aguiar, divide-se
em cinco etapas: determinação do horizonte de expectativas do aluno/leitor;
atendimento ao horizonte de expectativas; ruptura do horizonte de expectativas;
questionamento do horizonte de expectativas texto e vai até a ampliação do
horizonte de expectativas.
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Primeira etapa – Determinação do horizonte de expectativas – o professor
como mediador, deverá investigar, por meio de atividades de questionamentos e
interações, e diagnosticar os interesses e expectativas trazidos pelos alunos: seus
valores, crenças, aspirações, preconceitos, entre outros.
Segunda etapa – Atendimento do horizonte de expectativas – detectados os
conhecimentos e interesses do aluno sobre determinado assunto e/ou gênero
textual, deve ser levado para a classe, nesta etapa, textos literários e estratégias
que vão ao encontro dos anseios e expectativas do educando. Dessa forma, não
haverá qualquer estranhamento na leitura e resolução das atividades propostas.
Terceira etapa – Ruptura do horizonte de expectativas – os textos
selecionados e/ou as atividades propostas para esta etapa devem abalar e romper
com as certezas dos alunos. Apenas um aspecto deve ser mantido: gênero textual,
tema, estrutura, linguagem. Consequentemente, espera-se que os alunos comecem
a desenvolver um maior conhecimento intelectual e ideológico.
Quarta etapa – Questionamento do horizonte de expectativas – Na
sequência, os alunos devem analisar e refletir, por meio de análises comparativas
dos textos em estudo, percebendo quais exigem mais atenção e entendimento,
quais as semelhanças e diferenças e de que forma eles dialogam.
Quinta etapa – Ampliação do horizonte de expectativas – última etapa, a
qual os alunos perceberão que os textos literários são mais que atividades
escolares, podem levá-los a novos conhecimentos ou ampliação dos já adquiridos.
Uma forma de motivá-los a novas leituras e por sua vez, maior enriquecimento
intelectual e de mundo.
Nesta perspectiva, Aguiar e Bordini afirmam que:
Quando o ato de ler se configura preferencialmente, como atendimento ao interesses do leitor, desencadeia o processo de identificação do sujeito com os elementos da realidade representada, motivando o prazer da leitura. Por outro lado, quando a ruptura é incisiva, instaura-se o diálogo e o consequente questionamento das propostas inovadoras da obra lida, alargando-se o horizonte cultural do leitor. O dividendo final é novamente o prazer da leitura, agora como apropriação de um mundo inesperado. (AGUIAR & BORDINI, 1993, p.26)
Não é difícil de concluir que com o referido método, o aluno é sujeito ativo na
prática da leitura, e que seus conhecimentos prévios são importantes para que as
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estratégias oportunizem a proficiência leitora.
2.3 Gêneros textuais
As reflexões sobre a obra lida ensejam a questão sobre gênero textual; é
uma questão que ainda causa estranhamento em muitos professores da língua, uma
vez que na sua formação acadêmica e sua prática docente foram trabalhados outros
conceitos e nomenclaturas. Só mais recentemente a questão foi abordada com mais
amplitude. A respeito, Marcuschi discorre definindo, primeiro, tipo textual:
a) Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza linguística de sua composição {aspectos lexicais. Sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.
(MARCUSCHI, 2002, p.22)
Já para gêneros textuais, o autor apresenta a seguinte definição:
b) Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga par referir a textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. (MARCUSCHI, 2002, p.23)
Portanto, gênero textual pode ser um bilhete, uma carta, uma piada, uma
propaganda, um artigo científico, uma carta pessoal, um conto, um romance, uma
carta eletrônica, bula de remédio, receita de culinária, cardápio de restaurante, entre
tantos outros.
Sobre os gêneros Bakhtin diz o seguinte:
A riqueza e a variedade dos gêneros do discurso são infinitas, pois a variedade virtual da escrita humana é inesgotável, e cada esfera dessa
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atividade comporta um repertório de gêneros do discurso que vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera se desenvolve e fica mais complexa. (BAKHTIN, 1992, p. 279)
No trabalho com os gêneros deve-se priorizar a prática social que cada um deles
está inserido. Dessa forma, a escolha do gênero deve estar de acordo com os
objetivos do professor, especificidades dos gêneros e esfera social em que eles
circulam.
2.4 O conto
O gênero textual escolhido para esta proposta é o conto. Sendo uma
narrativa curta, com uma única unidade dramática e com poucos personagens; é um
gênero que permite mais facilidade no aproveitamento didático-pedagógico. Além
disso, tem os elementos narrativos e a estrutura bem delimitada, geralmente em
prosa; e permite maior possibilidade de interação com outras formas textuais e
imagéticas. Veja o que diz Massaud Moisés sobre o assunto:
Para bem compreender a unidade dramática que identifica o conto, é preciso levar em conta que os seus ingredientes convergem para o mesmo ponto. A existência de uma única ação, ou conflito, ou ainda, de uma única “história” ou “enredo”, está intimamente relacionada com a concentração de efeitos e pormenores: o conto aborrece as digressões, as divagações, os excessos. (MOISÉS, 2001, p.40)
O conto é uma das narrativas mais antigas, mistura-se com a própria história
da humanidade, pois as civilizações mais primitivas tinham a necessidade de “criar”
uma explicação para os fenômenos naturais que causavam medo e mistério.
Surgiam, então, os contos e causos, para suprir a falta da explicação científica para
estes fenômenos. Atualmente, pode se distinguir os contos de fadas, contos de
mistério, contos de costumes, contos eróticos, contos psicológicos, entre outros.
Silva ensina que o conto, por ser breve e dinâmico, pode prender a atenção
do aluno de uma maneira lúdica e enseja maior possibilidade de evocar realidades
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vivenciais:
A leitura de contos pode estimular o aluno-leitor a encontrar, na leitura literária, uma forma lúdica de entender melhor sua própria realidade. Ao ler narrativas curtas que exijam uma resposta mais rápida e dinâmica do receptor, o aluno pode sentir mais atraído pelo texto (SILVA, 2005, p.93).
A presente proposta de leitura foi desenvolvida, portanto, com base nas
considerações teóricas sobre linguagem, leitura, literatura, gêneros textuais e
também pela prática docente. Tanto os estudos teóricos quanto o cotidiano escolar
evidenciam a necessidade de despertar o hábito da leitura no educando, pois ler é a
maneira mais eficaz de conscientizar e, principalmente, transformar o aluno. Uma
vez criado o hábito da leitura, o educando gostará de ler e refletir sobre a temática
do texto. A escola, por sua vez, cumprirá o seu papel: propiciar meios didático-
pedagógicos que levem o aluno a analisar, questionar, inferir e, sobretudo, ampliar
sua visão crítica sobre as questões sociais que o cerca.
2.5 Da teoria à prática
O projeto Entre as linhas do texto: o conto na formação de alunos leitores foi
aplicado com alunos do 2º e 3º anos do Ensino médio do Colégio Estadual Marechal
Costa e Silva Ensino Fundamental e Médio, de Cidade Gaúcha, sob a forma de
Implementação Pedagógica, por meio de aulas práticas, com o desenvolvimento
metódico dos seguintes passos: leitura de contos, levantamentos dos elementos e
da estrutura da narrativa de cada texto, atividades pertinentes, individuais e em
grupo.
Como já mencionado anteriormente, A Metodologia utilizada foi o Método
Recepcional (Bordini e Aguiar). O referido método contempla as Diretrizes
Curriculares de Língua Portuguesa do Paraná e tem como eixos norteadores – a
leitura, a oralidade e a escrita. O primeiro passo para implementação do projeto foi a
socialização do mesmo na semana pedagógica da escola, no mês de julho de 2011.
Nesta ocasião foi apresentada em forma de slides e explanação, uma síntese do
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projeto e de como seria sua aplicabilidade. Pelo questionamentos de muitos dos
presentes, pode-se constatar que a formação de leitores é uma questão que
interessa a todos envolvidos com a educação.
Após o retorno da professora à sala de aula, em agosto de 2011, foi feita uma
conversa informal com os alunos do 2º e 3º anos para explicar os objetivos da
proposta e como a mesma aconteceria. Por serem duas turmas bem pequenas, foi
feito o convite a todos os alunos e a maioria se mostrou interessada. Depois os pais
foram convidados a comparecerem ao colégio para ficarem cientes da proposta e
assinarem um termo de autorização para que os filhos frequentassem o projeto, uma
vez que ele ocorreria no horário noturno.
A Implementação Pedagógica, Entre as linhas do texto: o conto na formação
de leitores foi desenvolvida em cinco capítulos intitulados com o nome de cada
etapa do método utilizado..
Primeiro capítulo – Determinação do horizonte de expectativas.
Na aula inaugural, cada aluno recebeu uma pasta contendo o material básico
para o desenvolvimento do projeto; os alunos se sentiram muito valorizados e
agradeceram a iniciativa da professora. Antes de começar o levantamento dos
conhecimentos prévios do aluno foi lido pela professora um conto. Logo após a
leitura foram feitos questionamentos orais e escritos sobre leitura, literatura e
gêneros textuais, principalmente o conto.
Durante todo esse processo foi realizada leitura de contos, permeando as
atividades. Os elementos da narrativa bem como sua estrutura também foram
relembrados para que se pudesse dar continuidade ao trabalho. Dessa forma, foi
possível detectar o horizonte de expectativas a respeito do tema proposto. Não foi
difícil perceber que a prática de leitura acontecia de forma diferente entre os
participantes. Entre a maioria dos alunos, pode-se constatar que a leitura de textos
literários só acontecia no âmbito escolar. A dificuldade de leitura também ficou
evidente: ”não gosto de ler porque não entendo”, “ quando o professor lê fica mais
fácil entender” e ”eu nem sei o que é texto literário”.
Constatado o horizonte de expectativas a respeito da prática de leitura e,
sobretudo, de textos literários, introduziu-se o segundo capítulo da Produção
didático-pedagógica.
Segundo capítulo – Atendimento do horizonte de expectativas.
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Nesse capítulo começou o estudo dos contos selecionados. O conto em
estudo foi Natal na barca de Lygia Fagundes Telles. Este conto apesar de ter um
final instigante, provavelmente pelas atividades fornecidas, atendeu aquilo que o
aluno está habituado a analisar em contos. Na segunda etapa do Método
Recepcional: alguns questionamentos orais foram feitos sobre o título do conto e os
alunos puderam externar suas impressões. Logo em seguida, o conto foi lido pela
professora e já nesse momento aconteceram algumas colocações sobre os
elementos da narrativa e sua estrutura..
A maioria dos alunos sentiu-se à vontade com a prática de leitura desse
conto, gostaram muita da história da mulher sofrida que mesmo diante de tantas
adversidades, não perdeu a fé e a esperança. A leitura das entrelinhas foi
interessante, porque os levou à reflexão sobre o significado do Natal para os cristãos
e, diante disso, puderam dialogar com as vozes ideológicas do texto.
O levantamento dos elementos explícitos e implícitos do texto e o
desvendamento do seu conteúdo temático foram trabalhados, a princípio, de
maneira oral e depois de forma escrita. Importante salientar que a maioria dos
alunos teve autonomia para responder as questões, mas alguns precisaram da
ajuda da professora e de colegas.
Foi relevante para a complementação das atividades a biografia da escritora
Lygia Fagundes Telles e a leitura de outro conto da escritora: Venha ver o pôr-do-
sol. Nessa ocasião os alunos puderam perceber que algumas características um
desse conto também estavam presentes no conto estudado. O que confirmou que o
estilo da autora tende a certo mistério e que a cor verde é constante na sua obra.
Terceiro capítulo – Ruptura do horizonte de expectativas.
O conto trabalhado foi A moça tecelã de Marina Colasanti. A professora
optou por trabalhar esse conto nessa etapa, porque ele é visto como um conto de
fadas moderno; entretanto, se tem elementos do conto tradicional, traz uma temática
que se opõe: nesse conto temos um “falso príncipe”, pois a personagem masculina
da história é na verdade o opressor da protagonista, a moça tecelã.
De início, trabalharam-se alguns elementos prévios sobre o título do texto,
em seguida, os alunos fizeram a leitura silenciosa e, depois uma aluna leu o texto
em voz alta. Esse foi um conto que gerou muito interesse dos alunos, principalmente
do público feminino, talvez por tratar de relacionamento entre homem e mulher e de
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ficar evidente a linha feminista da escritora. Depois de debatido o conteúdo temático,
passou-se para as atividades escritas e é nesse momento que a ruptura do
horizonte de expectativas do aluno se explica: as atividades propostas levaram os
alunos a refletirem sobre as características do conto tradicionais, tão arraigadas no
imaginário e a confrontá-las com o conto em estudo. Mediante essa análise,
puderam perceber as oposições e as intencionalidades da autora.
Outro momento interessante desse capítulo foi a pesquisa sobre A lenda de
Aracne, O mito de Penélope. As Parcas, Rumpelstiltskim, histórias clássicas que
dialogam com o conto de Marina Colasanti. A turma foi dividida em quatro grupos e,
na aula seguinte, cada grupo apresentou a sua pesquisa para os demais, discutindo-
se a presença de conteúdos temáticos semelhantes no conto A moça tecelã.
Os alunos também foram à sala de informática da escola para realizarem
leitura de outros contos da escritora Marina Colasanti. Ao retornarem à sala de aula,
muitos contaram contos que tinham lido e fazendo uma comparação com o conto em
estudo. Dessa forma, os alunos perceberam, juntamente com a biografia lida de
Marina Colasanti, algumas características tão marcantes da escritora.
Ao término do capítulo pode-se constatar que a leitura do conto mexeu com
as certezas dos alunos e que os mesmos perceberam como é instigante e prazeroso
ler um texto literário aparentemente tão fantasioso, mas que traz questionamentos,
intencionalidades e intertextualidades que dialogam com os conhecimentos e visão
de mundo do aluno/leitor.
Quarto capítulo – Questionamento do horizonte de expectativas.
Neste capítulo houve o estudo comparativo dos contos Natal na barca e A
moça tecelã. Uma maneira de aprofundar-se mais na temática de cada conto,
observando as vozes ideológicas e sociais presentes e trazendo-as para o contexto
atual. Os alunos puderam opinar sobre qual texto exigiu maior grau de
entendimento. As atividades propostas levaram o aluno a refletir sobre as
características das protagonistas da história e compará-las com o papel da mulher
atual; seus anseios e visão sobre assunto como: fé, casamento, filhos.
Esse capítulo foi muito interessante, porque fez com que os alunos
percebessem como um texto literário tem o poder de envolver e fascinar o leitor e
fazê-lo refletir e questionar a sociedade em que vive, bem como o autor pode
dialogar com nossas ideologias. Os dois contos embora com enfoques diferentes
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ressaltam a força da mulher diante das adversidades da vida. A protagonista do
conto Natal na barca é forte porque aceita os infortúnios da vida com dignidade e fé,
já a protagonista do conto A moça tecelã é forte porque age de forma contrária
diante das agruras da vida, toma decisões e muda o rumo de sua história.
Quinto capítulo – Ampliação do horizonte de expectativas.
O conto em estudo foi O peru de Natal de Mário de Andrade. Foi possível
observar, nesse momento, um maior amadurecimento intelectual dos alunos com
relação à leitura de contos. Novamente, antes da leitura do conto foi feito o
levantamento prévio sobre o que os alunos esperavam encontrar no texto a partir do
seu título. Em seguida, foi feita a leitura silenciosa do conto e o levantamento de
elementos estruturais bem como seu conteúdo temático. Comentou-se sobre a
importância do escritor Mário de Andrade dentro da literatura brasileira, também
apontando características importantes de sua obra. Para aprofundar o estudo do
texto, fez-se, por escrito, o levantamento dos elementos explícitos e implícitos do
texto.
Em encontro seguinte, os alunos levaram contos de Mário de Andrade e foi
feita uma roda de leitura, a professora e os alunos comentaram alguns textos.
Ponto importante para averiguar o entendimento dos alunos foi a refacção
dos contos estudados. Embora tivessem autonomia para produzir a releitura dos
contos, todos optaram por fazê-la de forma encenada. Foi muito interessante essa
atividade, pois o entendimento e visão dos alunos sobre os textos puderam ser
concretizados de maneira lúdica e divertida. Um grupo optou por fantoches, os
outros interpretaram as personagens dos contos e deram outro final ao texto.
Os alunos apresentaram seu trabalho à comunidade escolar fazendo
algumas apresentações nas salas de aulas e expuseram as fotos no mural da
escola.
O grupo que optou pelo teatro de fantoches escolheu refaccionar o conto O
Peru de Natal e com cenário e fantoches improvisados trabalharam com humor e
arrancaram gargalhadas da plateia. Os alunos que trabalharam com o conto A moça
tecelã deram um novo final à história: a moça tecelã foge com outro homem e deixa
o marido sozinho com o tear. Já o grupo que refaccionou o conto Natal na barca
conseguiu passar ao público a dramaticidade da cena principal: o menino inerte nos
braços da mãe, morto na visão da narradora, abre os olhinhos e confirma a fé da
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mãe.
Pode-se comprovar pelas práticas pedagógicas desenvolvidas durante a
Implementação do Projeto, o enfoque à prática de leitura, mas ficou claro que a
leitura e a escrita também foram contempladas. Sendo assim, concordou-se com o
que doutrina as Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa: o professor, sempre
que possível, deve trabalhar em sua prática docente o eixo: oralidade-leitura- escrita.
As ações pedagógicas desenvolvidas levaram os alunos ao contato direto
com vários textos literários e desmistificou-se a ideia de que os textos literários são
enfadonhos, cansativos e nada têm a acrescentar à formação de nossos educados.
As relações entre mãe e filhos dentro dos contos Natal na barca e O peru de Natal
e homem/mulher dentro do conto A moça tecelã - despertaram grande interesse o
que incentivou aos alunos se posicionassem sobre os assuntos e, desta forma, que
dialogassem com as vozes ideológicas dos textos, inferindo lições e conceitos.
De modo geral, os resultados desta implementação pedagógica
apresentaram-se de forma positiva, uma vez que os alunos demonstraram interesse
em fazer a leitura dos textos realizaram prazerosamente as atividades propostas e,
principalmente, foram participantes com sua opinião e reflexões sobre as temáticas
e intenções dos textos.
Contudo, alguns fatores externos dificultaram a Implementação Pedagógica.
A escola. tem um Projeto Anual de Feiras de Ciências que envolve todos os alunos e
requer muita disponibilidade de tempo por parte dos alunos e professores; nesse
período algumas aulas tiveram que ser adiadas quebrando a sequência das ações.
Foi preciso intervenção e diálogo constante com os alunos para que concluíssem o
projeto.
Esses e outros entraves fazem parte da realidade do docente da escola
pública. Diante deles, importante foi ter-se comprovado na teoria e na prática
docente, que trabalhar a leitura é possível, e que resulta em palpável mudança no
rendimento escolar, principalmente no que diz respeito à comunicação social dos
alunos. Comprovou-se também que a leitura de textos literários é possível. E que,
contudo, para formarmos um leitor proficiente, é preciso motivar o hábito de leitura
no educando, e essa prática deve ser uma constante no trabalho do professor.
O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) foi um relevante instrumento para a
avaliação dos resultados deste projeto. Por meio da Plataforma Moodle, dez
professores da rede pública estadual do Paraná puderam interagir com a professora
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PDE e conhecer o Projeto de Intervenção e a Unidade Didática. Durante o curso, os
professores fizeram a leitura e análise dos textos e deram suas contribuições
relatando suas experiências sobre atividades que despertam o hábito de leitura nos
alunos. Todos enfatizaram os desafios e a importância de se trabalhar com a leitura
e concluíram que a Implementação pedagógica poderia ser aplicada também na
realidade de suas escolas, fazendo as devidas adequações entre série/turma.
Diante das interações, relatos e reflexões dos cursistas do GTR a respeito
do Projeto Pedagógico e da Unidade Didática, verificou-se a sua viabilidade e
aplicabilidade também em outras escolas.
Quanto aos pareceres da Direção e Equipe Pedagógica, foram unânimes e
se mostraram favoráveis ao Projeto por entenderem que a leitura é de suma
importância no ensino-aprendizagem de Língua Portuguesa e das demais
disciplinas. Ressaltaram ainda que as séries finais do ensino médio precisam de um
reforço a mais, pois muitos prosseguirão com os estudos e a leitura será cobrada
nos vestibulares, ENEM e em outras situações de aprendizagem.
Ao analisarem o Projeto e a Produção Didático-pedagógica e
acompanharem a Implementação constataram que a leitura de textos literários é
fundamental para motivar o hábito de leitura e que a metodologia escolhida permitiu
que os alunos ampliassem seu conhecimento de mundo e refletissem sobre os
mesmos.
Dessa forma, mesmo diante das adversidades que a escola pública enfrenta,
a prática de leitura é sempre relevante, pois todos envolvidos com a educação
sabem da necessidade de se motivar o hábito de leitura nos alunos. A partir dessa
motivação, o entendimento, a reflexão, análise e inferências são consequências.
3 Conclusão
O Projeto Entre as linhas do texto: o conto na formação de leitores foi
idealizado, concretizado e aplicado com o intuito de refletir, questionar e apontar
possíveis soluções à carência e/ou ineficácia da prática de leitura em sala de aula. O
desafio do trabalho docente, principalmente do professor de Língua Portuguesa, é
motivar o hábito de leitura mesmo diante de uma clientela permeada de informações
descartáveis e de apelos midiáticos.
No cotidiano escolar, observa-se que a possível falha do trabalho docente,
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muitas vezes, é consequência de uma supervalorização do programa, em detrimento
de um melhor preparo para suscitar, no aluno, a condição fundamental para a
formação do hábito da leitura: o prazer, a sensação da novidade prazerosa, sem a
qual é impossível o interesse na leitura aprofundada. Quando chega ao Ensino
Médio, o aluno já não tem interesse pela leitura habitual; muito menos interesse terá,
então, pela leitura de textos literários. Sabe-se que o texto literário pode ser muito
atrativo, emocionante, envolvente; mas, sabe-se também, que se não houver
alguma informação anterior que estabeleça relação com o conhecimento de mundo
do leitor, aguçando-lhe o interesse e a percepção, bem como os conhecimentos
mínimos dos elementos estruturais do texto, este pode se constituir como algo
enfadonho e ultrapassado. Assim, cabe à escola e, principalmente, ao professor da
língua, proporcionar estratégias de leitura que motivem gradativamente o aluno ao
gosto pela leitura até habituar-se como leitor proficiente.
Optou-se então em utilizar o Método Recepcionar (Bordini e Aguiar) uma vez
que o mesmo está em consonância com as DCEs de Língua Portuguesa e por
entender que o mesmo tem parte dos conhecimentos prévios do leitor e o leva a
ampliar seus horizontes.
Apesar das dificuldades enfrentadas no dia-a-dia escolar é possível
confirmar, mediante esse projeto, que com a seleção de textos, com uma
metodologia adequada, com determinação e garra é possível colher bons resultados
ou pelo menos motivar os alunos a mergulharem no mundo da leitura, no mundo dos
textos literários e dessa forma, deixar fluir a sensibilidade, a imaginação e
criatividade que estão cada vez mais escassas nos dias atuais.
Ao concluir este artigo é necessário salientar que o projeto de intervenção
pedagógica Entre as linhas do texto: o conto na formação de leitores comprovou que
com dedicação e comprometimento o trabalho com textos literários podem despertar
o hábito de leitura. Professores autônomos e críticos, tendem a contribuir na
formação de alunos, também, autônomos e críticos.
Esse Projeto foi concebido como uma ação pessoal, passível de adequação
a outras escolas, em outras situações de interação sociocultural. Na prática escolar,
apesar de tantos contratempos que o ato de ensinar evidencia, a leitura não pode
ser relegada a segundo plano, muito menos a leitura literária que, de forma criativa e
instigante, leva o leitor a questionar e repensar o comportamento humano.
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