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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ – SEED SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

NÚCLEO REGIONAL DE EDUCAÇÃO PDE - PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Luciene Aparecida Sgobero

FICHA PARA CATÁLOGO PRODUÇÃO DIDÁTICO -PEDAGÓGICA

Título: A EDUCAÇÃO LITERÁRIA NA PERSPECTIVA DOS ESTUDOS DE

LETRAMENTO

Autor Luciene Aparecida Sgobero

Escola de Atuação Colégio Estadual Dom Bosco

Município da escola Campo Mourão

Núcleo Regional de Educação Campo Mourão

Orientador Mirian Hisae Yaegashi Zappone

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual de Maringá

Disciplina/Área Língua Portuguesa

Produção Didático - pedagó

gica

Educação Literária na perspectiva dos Estudos de

Letramento

Relação Interdisciplinar Arte, Sociologia

Público Alvo Alunos 8ª Série do Ensino Fundamental

Localização Rua Duque de Caxias, 938. Bairro: Lar Paraná CEP. 87305120 - Campo Mourão Fone: (44) – 3524-1061

Apresentação:

O presente projeto tem o objetivo de traçar novas

perspectivas para o ensino de Literatura na Educação

Básica e auxiliar na formação de leitores capazes de

vivenciar o texto literário, numa relação dialógica, para a

construção de sentidos, na perspectiva de letramento.

Para tanto, pretende-se: oportunizar o aluno a ter

contato com a ficcionalidade de textos canonizados e

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Luciene Aparecida Sgobero

multissemióticos; reconhecer as convenções de

enunciados ficcionais que permeiam a prosa e o verso;

estudar, de forma temático-comparativa, obras do

presente e do passado, estabelecendo as

intertextualidades; perceber a relação do objeto de

estudo com a realidade ou o contexto de produção, bem

como compreender que o autor recria, transfigura, em

maior ou menor grau a realidade do seu tempo,

devolvendo ao mundo uma interpretação própria e

subjetiva, conforme o seu estilo particular e o do

contexto no qual está inserido. A teoria utilizada será a

que envolve as convenções do texto literário, tanto da

poesia quanto da prosa, bem como as suas

especificidades espaço-temporais, por meio de uma

abordagem diferenciada da literatura canonizada e a

introdução de outras modalidades de discurso ficcional.

Esses conhecimentos, deverão proporcionar ao aluno a

oportunidade de conhecer a obra literária nas suas fun

ções: social, psicológica e formadora, favorecendo o

seu letramento literário.

Palavras-chave

Literatura Canônica; Literatura Muiltissemiótica,

Letramento, Formação de leitor

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Luciene Aparecida Sgobero

LUCIENE APARECIDA SGOBERO

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA UNIDADE DIDÁTICA

A EDUCAÇÃO LITERÁRIA NA PERSPECTIVA DOS

ESTUDOS DE LETRAMENTO

"Uma literatura que não respire o ar da sociedade que lhe é contemporânea, que não ouse comunicar à

sociedade os seus próprios sofrimentos e as suas próprias aspirações, que não seja capaz de perceber a

tempo os perigos morais e sociais que lhe dizem respeito, não merece o nome de literatura: quando muito

pode aspirar a ser cosmética." (Alexander Soljenitsyne)

MARINGÁ 2011

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Luciene Aparecida Sgobero

LUCIENE APARECIDA SGOBERO

A EDUCAÇÃO LITERÁRIA NA PERSPECTIVA DOS

ESTUDOS DE LETRAMENTO

Produção Didática (Unidade Didática)

apresentado à Secretaria de Estado de

Educação do Paraná (SEED) para o

Programa de Formação Continuada intitulado

Programa de Desenvolvimento Educacional

(PDE), sob a orientação da Profª Drª Mirian

Hisae Yaegashi Zappone, da Universidade

Estadual de Maringá.

Campo Mourão

2011

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Luciene Aparecida Sgobero

“Há escolas que são gaiolas e há

escolas que são asas.

Escolas que são gaiolas existem

para que os pássaros desaprendam a

arte do voo. Pássaros engaiolados

são pássaros sob controle.

Engaiolados, o seu dono pode levá-

los para onde quiser. Pássaros

engaiolados sempre têm um dono.

Deixaram de ser pássaros. Porque a

essência dos pássaros é o voo.

Escolas que são asas não amam

pássaros engaiolados. O que elas

amam são pássaros em voo. Existem

para dar aos pássaros coragem para

voar. Ensinar o voo, isso elas não

podem fazer, porque o voo já nasce

dentro dos pássaros. O voo não

pode ser ensinado. Só pode ser

encorajado.”

Rubem Alves

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Luciene Aparecida Sgobero

Sumário 1. Identificação .............................................................................................................................. 7

2. Tema ......................................................................................................................................... 7

3. Título ......................................................................................................................................... 7

4. Considerações Iniciais................................................................................................................ 7

5. Metodologia .............................................................................................................................. 8

6. Avaliação ou Acompanhamento .............................................................................................. 10

6.1. Resultados Esperados ........................................................................................................ 10

7. Recursos a serem utilizados..................................................................................................... 11

8. Cronograma ............................................................................................................................. 12

9. Fundamentação Teórica .......................................................................................................... 13

10. Literatura: um olhar para o mundo – da realidade à ficção ................................................... 19

10.1. PRIMEIRO MOMENTO: análise da realidade factual ......................................................... 19

10.1.1. Fragmento do discurso de Seven Suzuki, Eco 92........................................................ 20

10.2. SEGUNDO MOMENTO: relação entre arte e realidade ..................................................... 22

10.2.1. Vídeo Lixo Extraordinário – Vik Muniz ....................................................................... 22

10.2.2. Pintura: Os Retirantes – Cândido Portinari ................................................................ 24

10.2.3. Charge ...................................................................................................................... 27

10.2.4. Análise de Grafite ..................................................................................................... 27

10.2.5. Frag.: 500 anos de sobrevivência – Gabriel O Pensador ............................................. 30

10.3. TERCEIRO MOMENTO: Literatura – relação dialógica ....................................................... 33

10.3.1. Vídeo: Sonhos – Akira Kurosawa ............................................................................... 33

10.3.2. Frag.: Enfim um indivíduo de idéias abertas – Marina Colassanti............................... 35

10.3.3. Frag.: Os ombros suportam o mundo – Carlos Drummond de Andrade .................... 36

10.3.4. Poemas Concretos – Haroldo de Campos .................................................................. 39

10.4. QUARTO MOMENTO: O texto literário representa o seu tempo ....................................... 41

10.4.1. Fragmento de A Moreninha – Joaquim Manuel de Macedo ...................................... 42

10.4.2. Fragmento da música Burguesinha – Seu Jorge ......................................................... 44

10.4.3. Fragmento do poema Ismália – Alphonsus de Guimaraens ....................................... 46

10.5. QUINTO MOMENTO: A Literatura é ficção ...................................................................... 48

10.5.1. A Cartomante (em quadrinhos) – Machado de Assis ................................................. 48

11. Referências ............................................................................................................................ 58

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1. DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

1.1. Professor PDE: Luciene Aparecida Sgobero

1.2. Área PDE: Língua Portuguesa

1.3. NRE: Campo Mourão

1.4. Professora Orientadora IES: Mirian Hisae Yaegashi Zappone

1.5. IES vinculada: UEM

1.6. Escola de Implementação: Colégio Estadual Dom Bosco

1.7. Público Objeto de Intervenção: Alunos da 8ª série

2. TEMA

Literatura e Escola: Concepções e Práticas

3. TÍTULO

A Educação Literária na Perspectiva dos Estudos de Letramento

4. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O presente material didático objetiva traçar novas perspectivas para o ensino

de Literatura na Educação Básica e auxiliar na formação de leitores capazes de

vivenciar o texto literário, canonizados1 e multissemióticos2, numa relação

dialógica, para a construção de sentidos, na perspectiva de letramento3.

A escolha do tema Literatura e Escola: Concepções e Práticas deu-se por

acreditarmos que uma prática pedagógico-literária que aborda textos autorizados

e reconhecidos pelos críticos literários e os multissemióticos, presentes na

literatura de massa, pode favorecer uma educação literária em que o aluno se

sinta subsidiado a compreender e interpretar um texto ficcional de forma efetiva,

1 A palavra cânone deriva do grego antigo kanon, que significava um padrão demedida, ―uma

norma pela qual todas as coisas são julgadas e avaliadas‖ (McDonald,1996:13 apud LARANJEIRA, Delzi Alves on line).(acesso em nov./2010). 2 Multissemióticos são textos que apresentam todo tipo de linguagem: (verbal ou não verbal),

desenhos, fotos, artes gráficas em geral e etc. 3 Segundo Ângela Kleiman (2004), letramento pode ser definido como um conjunto de práticas

sociais que usam a escrita, enquanto sistema simbólico e enquanto tecnologia, em contextos específicos para fins específicos.

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utilizando- se de conhecimentos sobre as convenções de cada gênero discursivo-

literário, das semioses4 apresentadas por eles e do contexto de produção, aliados

à sua ―visão de mundo‖.

5. METODOLOGIA

Esta Unidade Didática está dividida em ―momentos de trabalho‖, nos quais,

gradativamente, serão apresentados ao aluno o universo ficcional literário de

autores clássicos e populares, partindo do real ao ficcional, a fim de proporcionar

ao aluno subsídios para a leitura e o entendimento do texto literário canonizado.

Para tanto, pretende-se: oportunizar o aluno a ter contato com a ficcionalidade

de textos canonizados e multissemióticos; reconhecer as convenções de

enunciados ficcionais que permeiam a prosa e o verso; estudar, de forma

temático-comparativa, obras do presente e do passado, estabelecendo as

intertextualidades; perceber a relação do objeto de estudo com a realidade ou o

contexto de produção, bem como compreender que o autor recria, transfigura,

em maior ou menor grau a realidade do seu tempo, devolvendo ao mundo uma

interpretação própria e subjetiva, conforme o seu estilo particular e o do contexto

no qual está inserido.

A teoria utilizada será a que envolve as convenções do texto literário, tanto

da poesia quanto da prosa, bem como as suas especificidades espaço-

temporais, por meio de uma abordagem diferenciada da literatura canonizada e

a introdução de outras modalidades de discurso ficcional. Esses conhecimentos,

deverão proporcionar ao aluno a oportunidade de conhecer a obra literária nas

suas funções: social, psicológica e formadora, favorecendo o seu letramento

literário.

Neste sentido, é imprescindível que o professor tenha o conhecimento do que

o aluno pensa sobre literatura, o que já leu, qual a relação estabelecida com a

obra, quem o incentivou à leitura, qual foi o primeiro livro que leu, quais as

4 Qualquer que seja o ponto de vista, uma preliminar definição da semiose é qualquer ação ou

influência para sentido comunicante pelo estabelecimento de relações entre signos que podem ser

interpretados por qualquer audiência. Disponível em http://wapedia.mobi/pt/Semiose (acesso em

05/08/2011)

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dificuldades que sente ao ler, que textos mais gostou e gosta e etc. Esses dados

serão importantes para embasar o percurso metodológico das aulas utilizadas

para implementação deste projeto, buscando o encontro/confronto da experiência

imediata e cotidiana do aluno, com o conhecimento científico que envolvem os

textos literários.

Nesta perspectiva, dividimos a proposta em cinco momentos:

1º MOMENTO: Análise de alguns aspectos reais, factuais que

permeiam a sociedade, tanto no contexto individual, quanto no

coletivo.

OBJETIVO: Promover discussão e tomada de consciência

sobre a nossa realidade, com enfoque na relação: homem X

natureza e homem X homem, subsidiando o aluno a

compreender, num segundo momento, que esta realidade está

presente, de forma transfigurada, nas obras de arte, especialmente na Literatura.

2º MOMENTO: ARTE X REALIDADE: A arte é a representação transfigurada da

realidade individual e/ou coletiva.

OBJETIVO: Levar o aluno a perceber que a arte está inserida num contexto

histórico, mas o representa de forma transfigurada e que o objeto artístico pode

representar tanto fatos históricos como despertar seu interlocutor para uma

compreensão crítica dos mesmos.

3º MOMENTO: A Literatura é a arte da palavra escrita que propõe, assim como

as outras artes, um diálogo com o seu interlocutor.

OBJETIVO: Compreender que toda obra de arte, construída com a palavra escrita

(formas mais tradicionais e conhecidas) ou em formas multissemióticas ou

multimodais propõem um diálogo com seus interlocutores. Para entender e

interpretar um texto literário, é preciso mais do que ver ou ler, é preciso entrar

nele.

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4º MOMENTO: ―O texto literário representa o seu tempo‖

OBJETIVO: Compreender que a produção literária não tem a obrigatoriedade de

retratar a realidade, no entanto, ela transfigura essa realidade, assim como as

demais artes, representando o seu tempo histórico subjetivo ou coletivo. Nessa

representação, cada autor (eu-lírico ou narrador) tem o seu estilo próprio de

escrever, além do estilo da época em que está inserido.

5º MOMENTO: A Literatura é ficção e pode utilizar outras linguagens.

OBJETIVO: Compreender que o texto literário é ficção e como tal representa a

cosmovisão do autor que tem o seu estilo próprio. A Literatura pode estar em

diversos suportes e estar representada por linguagens multimodais.

6. AVALIAÇÃO:

Os alunos serão avaliados com base na sua

participação em discussões em classe, em pesquisas,

produções realizadas, em publicações em bog e apresentações.

6.1. RESULTADOS ESPERADOS:

Espera-se que o aluno:

Compreenda que o texto literário se constitui como matéria de um

tempo e que a realidade, em todos os seus níveis, pode ser abordada

pelo autor, em maior ou menor grau de recriação, conforme o seu estilo

individual ou o estilo da época em que está inserido;

Sinta a necessidade de pensar, refletir, analisar, organizar e estabelecer

relações entre o texto literário do passado e o contemporâneo;

Compreenda as circunstâncias em que se produziu aquele determinado

enunciado literário: momento histórico, lugar e tempo, aspectos socio-

culturais, econômicos, usos e costumes da sociedade em questão,

dentre outros;

Preencha os lugares vazios do texto com as suas próprias experiências,

atualizando o texto, no momento da leitura;

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Relacione as multissemioses de um texto ao seu enunciado, produzindo

sentidos;

Perceba o estilo individual e particular do autor, bem como o estilo da

época na qual está inserido;

Identifique o tema de cada enunciado ficcional, elaborando seno crítico

sobre ele;

Perceba as especificidades dos gêneros narrativos e poéticos,

diferenciando-os;

Utilize as convenções do texto ficcional para a produção de sentidos;

Perceba a intencionalidade e a informatividade do enunciado ficcional;

Descubra os aspectos sociológicos que permeiam os enunciados

ficcionais, estabelecendo relação entre literatura e sociedade.

Pesquise a biografia de autores, fatos históricos e sobre obras literárias

solicitadas, a fim de patrocinar os conhecimentos necessários para que

possa interagir com os textos ficcionais.

Esses posicionamentos favorecerão uma aproximação dialógica entre o

aluno-leitor e os gêneros discursivo-ficcionais literários, mesmo que estejam

distantes estética e historicamente.

Desmistificar a literatura faz parte do processo de inserção do aluno no

mundo literário.

7. RECURSOS A SEREM UTILIZADOS

Como o objetivo desta unidade didática é o favorecimento de

uma Educação Literária que garanta ao aluno, Letramento,

precisaremos abordar a literatura em variados suportes e

utilizando recursos didáticos também diversificados. Utilizaremos, então, fora do

quadro de giz:

TV Pen-drive;

Pen-drive;

Computador;

Papel Bubina;

Tinta guache, spray, lápis de cera e de cor;

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Sulfite, dentre outros.

8. CRONOGRAMA DE APLICAÇÃO DO PROJETO DE INTERVENÇÃO – 32H

Educação literária na perspectivado

dos estudos de letramento

Carga-horária 32h/a

1º Momento: Motivação: Fragmento do discurso da canadense de 13

anos, Severn Suzuki, proferido na ECO 92, no Rio de Janeiro.

2h/a

2º Momento: Vídeo: Lixo Extraordinário5 (WALKER, L.; JARDIM, J.;

HARLEY, K, 2010). - Pintura: Obra Os retirantes (1944) - Análise de charge - Análise de grafite - Fragmento da música: 500 anos de sobrevivência – Gabriel O Pensador.

10h/a

3º Momento: Desafio: Vídeo Sonhos – Akira Kurosawa

- Enfim um indivíduo de idéias abertas – Marina Colassanti - Os ombros suportam o mundo – Carlos Drummond de Andrade - Poesia concreta.

6h/a

4º Momento: Análise de um trecho de A Moreninha de Joaquim

Manuel de Macedo - Fragmento da música: Burguesinha , de Seu Jorge - Poema Ismália, de Alphonsus de Guimaraens

8h/a

5º Momento: A Cartomante – Machado de Assis

6h/a

TOTAL DAS HORAS

32h/a

5 WALKER, L.; JARDIM, J.; HARLEY, K. Lixo Extraordinário. Documentário. Downtownfilmes.

Brasil, Reino Unido. 2010. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=_pyR9qCd2F8>. O documentário deverá ser utilizado na íntegra com o aluno em sala de aula.

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9. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Para início de conversa...

A Literatura é uma produção humana que reflete a vida

social. É concebida como arte que transforma e humaniza o

homem e a sociedade. Segundo CÂNDIDO (1972), a literatura possui três

funções:

Psicológica: permite ao homem a fuga da realidade, mergulhando num

mundo de fantasias, o que lhe permite momentos de identificação, reflexão

e catarse.

Social: É a representação social e humana.

Formadora: Atua como instrumento de educação não moralizante, ao

retratar realidades não reveladas pela ideologia dominante.

Desta forma, a leitura é vista como um ato dialógico e interlocutivo em que o

sujeito tem papel ativo no processo, formulando e reformulando hipóteses,

aceitando e rejeitando conclusões, ao mesmo tempo em que usa estratégias

baseadas em seu conhecimento lingüístico e na sua vivência sócio-cultural.

No texto literário a realidade, em todos os seus níveis, pode ser abordada

pelo autor, em maior ou menor grau de recriação. Sobre essa relação da

Literatura com a sociedade, diz CÂNDIDO (1985):

A arte,e portanto, a Literatura, é uma transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal, que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação à realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à sua configuração, e implicando uma atitude de gratuidade. Gratuidade tanto do criador, no momento de conceber e executar, quanto ao receptor, no momento de sentir e apreciar. (CÂNDIDO, 1985, p.53).

Segundo o autor, portanto, o escritor transfigura um contexto, combinando

a realidade e a percepção, devolvendo ao mundo uma interpretação própria e

subjetiva, longe de funcionar como um mero espelho refletor. Assim, deve-se

pensar a influência exercida pelo meio social sobre a obra de arte, como a

influência que a própria obra exerce sobre o meio, porque ela sai do meio e volta

para o meio, modificada. A arte pode, então, ser uma expressão da sociedade,

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pois Segundo SAMUEL (1984, P.7), ―A literatura faz parte do produto geral do

trabalho humano, isto é, da cultura. A cultura de um povo são as suas

realizações, em diversos sentidos, (...) é um conjunto socialmente herdado, que

determina a vida dos indivíduos‖. Isso se revela em cada linha ou verso de um

enunciado literário, ao mesmo tempo que representa a ideologia de quem

escreve, além do seu ponto de vista, dos seus anseios e da sua visão da

realidade.

No entanto, há que se ressaltar a necessidade de que o aluno

compreenda efetivamente o caráter ficcional da obra literária, concebendo-a,

segundo Iser, como ―um ato de fingir‖. Isto não quer dizer que o fingir seja o falso.

Conforme assevera RANGEL,1985:

Ao falarmos de ficção, de uma maneira mais ou menos explícita, sempre fica claro que estamos perante um fingir. Este fingir ou dissimular não é encarado na ótica do falso. O fingir, pelo contrário, aponta para a complexa dimensão do homem. Como o fingir da ficção, as mais das vezes, envolve, gratifica e transforma o leitor, o simplesmente falso jamais explicaria essa atração e atuação da ficção. O envolvimento não pode ser meramente explicado pelas palavras correntes: divertimento e lazer. Esta dimensão está ligada à catarsis como prazer e plenitude, que só a verdadeira literatura realiza. E também se pode compreender por que a ficção seja literariamente verdadeira, embora possa até falsear fatos históricos. (RANGEL, 1985, p.45)

Desta forma, a obra literária funciona como uma provocação à sensibilida

de e ao intelecto do leitor que se depara durante a leitura, com uma realidade

transfigurada, a qual pode apresentar semelhanças com a realidade do leitor.

Esse processo de verossimilhança pode revelar ao aluno sensações e

conhecimentos capazes de desencadear um amadurecimento que lhe será

indispensável nas práticas sociais. Para tanto, o texto literário deve ser

considerado lugar de interação e de constituição de interlocutores. O sujeito

precisa estabelecer com a obra um diálogo que favoreça tanto a construção de

sentidos, quanto a atualização do texto literário, o que corresponde a trazer o

contexto do autor para o contexto do leitor e vice-versa, fazendo desaparecer a

diferença temporal, lingüística, histórica e social entre ambos..

Segundo COSSON (2009):

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Na leitura e na escrita do texto literário encontramos o senso de nós mesmos e da comunidade a que pertencemos. A literatura nos diz o que somos e nos incentiva a desejar e a expressar o mundo por nós mesmos. E isso se dá porque a literatura é uma experiência a ser realizada. É mais que um conhecimento a ser reelaborado, ela é a incorporação do outro em mim sem renúncia da minha própria identidade. No exercício da literatura, podemos ser outros, podemos viver como outros, podemos romper os limites do tempo e do espaço de nossa experiência e, ainda assim, sermos nós mesmos. É por isso que interiorizamos com mais intensidade as verdades dadas pela poesia e pela ficção. (COSSON, 2009, p.17)

Esse processo dialógico também pode acontecer não apenas no âmbito

pessoal, mas também no intertextual, ou seja, o aluno-leitor pode ler vários textos

num só, o que lhe confere a capacidade de ler para além do contexto

apresentado. A intertextualidade, portanto, quando percebida, favorece outras

possibilidades de leitura, introduzindo uma quebra a linearidade do texto. Cada

referência intertextual pressupõe uma alternativa: ou prosseguir a leitura, vendo

apenas no texto um fragmento como qualquer outro, que faz parte integrante da

sintagmática do texto, ou ler as menções como algo de outrem incumbidas de

pluralizar os sentidos. Segundo KHALIL, o enunciado literário:

O texto literário se constrói em labirinto, como uma rede replena de ―caminhos que se bifurcam‖. Seu corpo, por si só, já é múltiplo em vozes retomadas e reinventadas e em sentidos que se dão a ler no movimento das leituras. Um texto traz, em seu tecido, fios de outros textos e possibilita a formação de novos fios, que, por sua vez, engendrarão outros textos, num movimento intenso de criação que envolve gestos discursivos como a paráfrase, a paródia, a estilização, ou a carnavalização. Tais gestos resultam na movência dos sentidos, na repetição ou na criação de novos enunciados. KHALIL, Marisa 2005 p.199)

Neste sentido, o texto literário, pode propor as suas próprias regras de

leitura, ou seja, cada enunciado ficcional possui particularidades que o sujeito-

leitor precisa conhecer. Mesmo o momento da leitura sendo individual e particular,

há a necessidade de subsidiar o aluno nestas chamadas convenções do texto

literário, incluindo aí a intertextualidade, que podem funcionar como ―chaves‖ de

entrada para o mundo ficcional. A ficcionalidade do enunciado propõe enigmas

escondidos atrás da linguagem, da construção textual, do discurso, do tema, do

contexto, do drama da personagem, dentre outras, que, se não desvendadas,

podem deixar o aluno-leitor na obscuridade de uma interpretação simplória.

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Segundo Kleiman (1989), o professor, deve ensinar a utilização de múltiplas

fontes de conhecimento lingüístico - discursivo, enciclopédicas – visando ofertar

ferramentas para que o aluno desenvolva a sua autonomia na leitura.

Desta forma, é importante, que o aluno conheça as convenções de cada

gênero literário, a fim de entender, através do processo de construção textual, as

diferentes relações estabelecidas com a realidade e tudo que envolve o discurso

literário. A Literatura, como objeto estético, só tem existência própria a partir de

um sujeito que toma o texto ficcional para si, lê e se faz ler, ou seja, o leitor pode

ler do texto, muito mais do que propõe o autor. E nesta perspectiva, com certeza

o sujeito-leitor deve ser considerado parte fundamental da leitura.

Conhecer as convenções de cada gênero literário também significa ler

literariamente o texto ficcional, o que conduz o sujeito a entender em primeiro

lugar que o texto faz parte de um imaginário individual e coletivo ao mesmo

tempo, portanto, que é ficcional. Esse imaginário individual e coletivo é o que vai

estabelecer entre autor e leitor, mediado pelo texto, uma linha de comunicação

que dará condições de o leitor criar sentidos para o enunciado ficcional. Ou seja,

o leitor, no momento da leitura, utiliza-se de toda a sua história pessoal, que

também faz parte de uma história coletiva, para dialogar com o texto ficcional.

Segundo HANSEN (2005, p.20) ―a leitura literária é uma parcialidade

produtora de parcialidades, pois é um trabalho particular de apropriação

intelectual que transforma matérias simbólicas produzindo novas versões (...)‖, ou

seja, o enunciado que reflete a cosmovisão6 do autor, num determinado contexto

de produção, pode, no momento da leitura, proporcionar ao leitor, outras visões

de mundo, por meio de um processo de interação formando uma tríade

leitor/texto/autor. O escritor, através do e-lírico e do narrador, transforma tudo que

passa por ele, combinando a realidade que absorvem com a própria percepção,

devolvendo assim ao mundo uma interpretação própria e subjetiva, longe de ser

um mero espelho refletor. Esse processo só pode se concretizar através da

6 “Em essência, é um conjunto de pressuposições (hipóteses que podem ser verdadeiras, parcialmente

verdadeiras ou inteiramente falsas) que sustentamos (consciente ou inconscientemente, consistente ou inconsistentemente), sobre a formação básica do nosso mundo.(http://www.monergismo .com/textos/cosmovi sao/o-que-cosmovisao_sire.pdf)

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linguagem, que não necessariamente precisa ser apenas escrita, mas toda e

qualquer linguagem, seja ela verbal ou não verbal.

Segundo GOULEMOT, (in: Chartier, Roger), o discurso literário constitui-se

numa modalidade de enunciado que favorece essa a produção de sentidos,

devido ao jogo de conotações que propõe. Segundo o autor, ―A leitura é uma

revelação pontual de uma polissemia7 do texto literário‖, ou seja, o enunciado é

formado por vocábulos que, no conjunto, desenvolve conforme arranjo, a

característica de ter dois ou mais significados diferentes, embora quase sempre

com alguma relação semântica entre si. Esse fenômeno, ao mesmo tempo que

dá sentido de conjunto, aos sentidos produzidos pelas sequências‖, também

pode conduzir o leitor a buscar fora das sequências, os sentidos.

Esses sentidos têm uma gama incrivelmente intrincada de formas sociais

de comunicação e de significação que inclui a linguagem verbal articulada (...) e

tantas outras‖ que estão em várias manifestações literárias: HQ, hip-hop,

poemas, crônicas, samba, fanfiction, contos, novelas de rádio e etc., além de

manifestações artísticas que se agregam ao texto literário: a pintura, as

expressões faciais, fotografia, desenho e etc. Todos esses elementos agregados

dizem muito; todos produzem efeitos de sentido que precisam ser captados e

desvendados pelo leitor. É a semiótica, ciência da linguagem, que se ocupa em

estudar as várias semioses, ou seja, as várias linguagens. Este termo foi

introduzido por Charles Sanders Peirce para designar o processo de significação,

portanto, a produção de significados produzidos por essa linguagens.

Neste sentido, a relação leitor-texto transcende ao próprio texto,

alcançando as vias do contexto, no momento da recepção. Sobre isso, assevera

BORDINI (1993):

A literatura não se esgota no texto. Complementa-se no ato da leitura e o pressupõe, prefigurando-o em si, através de indícios do comportamento a ser assumido pelo leitor. Esse, porém, pode submeter-se ou não a tais pistas de leitura, entrando em diálogo com o texto e fazendo-o corresponder a seu arsenal de conhecimentos e de interesses. O processo de recepção textual, portanto, implica a participação ativa e criativa daquele que lê, sem com isso sufocar-se a autonomia da obra (Bordini; Aguiar, 1993: 86).

7 A polissemia é a característica que possui um signo de ter vários vários sentidos.

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Assim como não se esgota no texto, não se esgota também nas inovações

estilísticas, estéticas e suportes que abarcam esse textos literários. Segundo

ZAPPONE (2007), há vários textos de ficção que estão presentes em outros

espaços, que não a escola, mas que podem ser considerados objetos ficcionais

de letramento literário, apesar de não estarem na lista das obras canonizadas.

São eles: minisséries, telenovelas, jogos na internet, histórias em quadrinhos,

poemas sociais ligados do hip-hop, filmes, entre outros, que utilizam a narrativa

na sua composição.

Segundo ZAPPONE (2007):

O Letramento literário pode ser compreendido como um conjunto de práticas sociais que usam a escrita literária, compreendida como aquela cuja especificidade maior seria seu traço de ficcionalidade. Isso equivale a dizer que, embora o conceito de literatura tenha sido construído no seio da cultura burguesa, particularmente por classes abastadas que, por meio tanto da produção quanto do consumo de certos textos, produziram certo gosto e sensibilidade relativos aos textos, não são apenas os textos que pertencem a essa tradição – ocidental, eurocêntrica, masculina, branca – que podem figurar como suportes literários. (ZAPPONE, 2007, p. 7)

Neste sentido, é preciso que o ensino de literatura também leve em conta

os multiletramentos, ou seja, os múltiplos conhecimentos do sujeito, valorizando

as culturas locais e oportunizando-lhes, o acesso aos letramentos valorizados,

universais e institucionais, que somente a escola pode proporcionar ao aluno.

Uma educação literária voltada para esses vários letramentos, pode ajudar e

muito, no sentido de privilegiar, através do repertório de textos, o maior número

possível de culturas e temas sociais, levando o aluno a conhecer, discutir,

entender diversas realidades e perceber que a literatura, como produção humana

está intrinsecamente ligada à vida social e que o produto literário está sujeito a

modificações históricas.

Rildo Cosson (2009) defende a idéia de que o letramento literário é

diferente da leitura por fruição, apesar de esta última depender daquele. Ressalta,

ainda, que a literatura deve ser ensinada na escola:

―(...) devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, como bem nos alerta Magda Soares, mas sim como fazer essa escolarização

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sem descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais cega do que confirma seu poder de humanização.‖(COSSON, 2009, p.23)

Sendo o letramento literário uma prática social, a sua escolarização não

deve descaracterizá-la, como nos alerta o autor, pois a leitura efetiva de textos da

esfera literária pode levar o aluno ao contato com uma variedade imensa de

situações por meio das personagens e do narrador, que representam vozes

sociais, proporcionando-lhe experiências para o entendimento crítico das

estruturas sociais.

10. LITERATURA: UM OLHAR PARA O MUNDO

Da realidade à ficção

Figura1Disponível em:http://www.dominiopublico. gov. br/download/imagem/go000060.jpg

“ A leitura literária teria a função de

desautomatização de hábitos,

formação crítica do imaginário,

esclarecimento democrático,

aculturação e socialização do

estudante.”

(HANSEN, 2005 p. 42)

10.1 PRIMEIRO MOMENTO: Análise de alguns aspectos reais, factuais que

permeiam a sociedade, tanto no contexto individual, quanto no coletivo.

OBJETIVO: Promover discussão e tomada de consciência sobre a nossa

realidade, com enfoque na relação: homem X natureza e homem X homem,

subsidiando o aluno a compreender, num segundo momento, que esta realidade

está presente, de forma transfigurada, nas obras de arte, especialmente na

Literatura.

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10.1.1. Fragmento do discurso da canadense de 13 anos, Severn Suzuki,

proferido na ECO 92, no Rio de Janeiro.

(...)Eu estou aqui para defender as crianças que passam fome pelo mundo e cujos apelos não são ouvidos. Estou aqui para falar em nome das incontáveis espécies de animais que estão morrendo em todo o Planeta, porque já não têm mais aonde ir. Não podemos mais permanecer ignorados. Eu tenho medo de tomar sol, pôr causa dos buracos na camada de ozônio. Eu tenho medo de respirar este Ar, porque não sei que substâncias químicas o estão contaminando. Eu costumava pescar em Vancouver, com meu pai, até que recentemente pescamos um peixe com câncer… e agora temos o conhecimento que animais e plantas estão sendo destruídos e extintos dia após dia. [...] Há dois dias, aqui no Brasil, ficamos chocados quando estivemos com crianças que moram nas ruas. Ouçam o que uma delas nos contou: "Eu gostaria de ser rica, e se fosse, daria a todas as crianças de rua alimentos, roupas, remédios, moradia, amor e carinho…". Se uma criança de rua que não tem nada, ainda deseja compartilhar, por que nós, que temos tudo, somos ainda tão mesquinhos???

8

COMENTÁRIO:

O discurso proferido por Seven Suzuki aborda um contexto histórico que,

apesar de ser datado em 1992, ainda é muito atual. Ela faz um apanhado da

relação homem X Natureza e homem X homem, promovendo uma reflexão sobre

várias questões que permeiam a sociedade.

FIQUE POR DENTRO:

―A ECO-92, Rio-92, Cúpula ou Cimeira da Terra são nomes pelos quais é mais conhecida a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada entre 3 e 14 de junho de 1992 no Rio de Janeiro. O seu objetivo principal era buscar meios de conciliar o desenvolvimento sócio-econômico com a conservação e proteção dos ecossistemas da Terra. A Conferência do Rio consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável e contribuiu para a mais ampla conscientização de que os danos ao meio ambiente eram majoritariamente de responsabilidade dos países desenvolvidos. Reconheceu-se, ao mesmo tempo, a necessidade de os países em desenvolvimento receberem apoio financeiro e tecnológico para avançarem na direção do desenvolvimento sustentável. Naquele momento, a posição dos países em desenvolvimento tornou-se mais bem estruturada e o ambiente político

8 Fonte. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=BaOCouNeTuM& eature =related.

Este texto será utilizado na íntegra com o aluno, em sala de aula.

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internacional favoreceu a aceitação pelos países desenvolvidos de princípios como o das responsabilidades comuns, mas diferenciadas. A mudança de percepção com relação à complexidade do tema deu-se de forma muito clara nas negociações diplomáticas, apesar de seu impacto ter sido menor do ponto de vista da opinião pública. O principal documento produzido na RIO-92, o Agenda 21 é um programa de ação que viabiliza o novo padrão de desenvolvimento ambientalmente racional. Ele concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Este documento está estruturado em quatro seções subdivididas num total de 40 capítulos temáticos. As ONGs que participaram da RIO-92 acabaram desempenhando um papel fiscalizador, que pressiona os governos de todo o mundo a cumprir as determinações da Agenda 21.‖9

QUESTÕES:

a. Como Seven Suzuki se posiciona no discurso?

b. Qual é a pretensão do seu discurso na conferência?

c. Quando ela diz: ―Estou lutando pelo meu futuro‖, qual o efeito de sentido do

pronome possessivo meu, dentro do contexto apresentado?

d. Na frase: ―Vocês se preocupavam com essas coisas quando tinham a

minha idade???‖ , o pronome pessoal vocês refere-se apenas ao público

da Conferência ou tem uma amplitude maior? Qual o efeito de sentido que

isso provoca?

e. Quando Seven Suzuki diz: ―isso acontece bem diante dos nossos olhos e

mesmo assim continuamos agindo como se tivéssemos todo o tempo do

mundo e todas as soluções‖, ela muda a pessoa do discurso para ―nossas‖

(nós). Qual o efeito de sentido deste posicionamento para o contexto

apresentado?

f. Nas linhas: 30, 31 e 32 há a presença de um recurso utilizado muito em

poesia chamado anáfora , que é a repetição de uma ou mais palavras no

início de cada verso ou oração. Qual o efeito de sentido desta repetição?

g. Você concorda quando ela diz que os pobres compartilham mais do que os

ricos? Por quê? Cite exemplos.

h. Agora você vai fazer um apanhado de todos os problemas sociais,

ambientais e econômicos apontados por Seven.

9 Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/ECO-92#Conferindo_a_Agenda_21 (cesso em 05/07/2011)

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i. A adolescente aponta algumas soluções, quais são?

Um texto informativo está relacionado à realidade factual. Tem por finalidade a transmissão clara, ordenada e objetiva de informações e indicações que digam respeito a fatos concretos e referências reais.

ATIVIDADE:

Escrever palavras e/ou frases criativas

sobre as questões sérias

levantadas por Seven Suzuki, na ECO 92

10.2. SEGUNDO MOMENTO: ARTE X REALIDADE: A arte é a representação

transfigurada da realidade individual e/ou coletiva.

OBJETIVO: Levar o aluno a perceber que a arte está inserida num contexto

histórico, mas o representa de forma transfigurada e que o objeto artístico pode

representar tanto fatos históricos como despertar seu interlocutor para uma

compreensão crítica dos mesmos.

10.2.1. Vídeo: Lixo Extraordinário10 (WALKER, L.; JARDIM, J.; HARLEY,

K, 2010), indicado ao Óscar de melhor documentário em 2011 faz uma

análise sobre o trabalho do artista plástico Vik Muniz no Jardim

Gramacho, localizado na cidade de Duque de Caxias (RJ), que é um

dos maiores aterros sanitários do mundo...

COMENTÁRIO: Antes do surgimento da língua escrita, os acontecimentos e

as experiências da comunidade ou do indivíduo eram

transmitidas, de geração em geração, oralmente. A narração

oral garantia a transmissão do conhecimento acumulado pela

10

WALKER, L.; JARDIM, J.; HARLEY, K. Lixo Extraordinário. Documentário. Downtownfilmes. Brasil, Reino Unido. 2010. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=_pyR9qCd2F8>. O documentário deverá ser utilizado na íntegra com o aluno em sala de aula.

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comunidade. Desde o tempo do homem das cavernas, já se contavam histórias

por meio de desenhos, chamados de rupestres, relatando fatos da vida cotidiana.

Na atualidade, com os recursos existentes, ampliaram-se as maneiras de

se contar histórias. Hoje, há narratividades expressas nos mais variados

suportes11: televisão, cinema, computador, jogos eletrônicos, revistas, dentre

outros, utilizando linguagens diversas: somente escrita; somente falada; somente

imagens; com escrita, imagem, som e movimento ao mesmo tempo. São

ficcionalidades que, como as obras canonizadas da literatura, também

reinventam, transfiguram a realidade.

Filmado ao longo de dois anos (agosto de 2007 a maio de 2009), o

documentário ―Lixo Extraordinário‖ é um excelente exemplo de como a arte pode

transformar vidas. Durante esse período, Vik Muniz fotografa um grupo de

catadores de materiais recicláveis, revelando a luta e o desespero daquelas

pessoas que enfrentam a vida com dignidade., apesar da total ausência de

oportunidades.

Lixo Extraordinário mostra os contrastes que assolam as sociedades e a

transformação do material descartado em obras de arte que compõem as paredes

da alta sociedade carioca.

QUESTÕES:

a. Que sensações as imagens provocam?

b. Você conhece um lixão?

c. Você já conheceu alguém que vive do lixo?

d. Como você imagina que seja a vida dessas pessoas?

e. Qual a sua concepção de lixo?

f. Na sua opinião, a produção de lixo reflete a condição social do sujeito?

g. O que é consumir?

h. Como a arte se manifesta nesse vídeo?

i. Como Vik Muniz representou artisticamente a realidade? Qual a

conseqüência disso para a vida das pessoas?

11

Suportes são os ―ambientes‖, os― lugares‖, os objetos, em que os textos aparecem. Por exem plo,uma ―revista‖ é um suporte de variados textos.

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j. Vik Muniz, através da arte, transformou a vida daquelas pessoas. Na

sua opinião, que outras formas existem para acabar com a

miserabilidade de grande parcela da população brasileira?

k. Na sua opinião, alguém que não conhece lixão, não conhece a

realidade dos catadores e da pobreza dos países de terceiro mundo, vê

a foto artística do catador, poderá experimentar uma sensação

diferente da tristeza e indignação advindas da situação sub humana

com que vivem muitas pessoas brasileiras?

ATIVIDADE:

a. Vik Muniz representou a realidade utilizando

foto dos catadores e materiais recicláveis.

De que outra forma podemos representar

artisticamente a realidade? Vamos recriá-la?

10.2.2. PINTURA: Obra Os Retirantes, (1944)12

Autor: Cândido Torquato Portinari

Características: Painel a óleo sobre tela, 190 X 180cm

Encontra-se no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand.

SINOPSE DA OBRA: Portinari desde pequeno assistia da janela as idas e vindas

das famílias sofridas que fugiam a seca do Nordeste à procura de trabalho nas

cidades grandes. Eram famílias inteiras sofrendo na miserabilidade, por isso

retrata os rostos cansados e desfigurados, a expressão de apatia e o assombro

substituindo o medo e a incerteza.

Denuncia, através do pincel, a degradação de uma parcela significativa de

brasileiros trabalhadores que precisam deixar a sua terra-natal, os seus familiares

em busca de trabalho. Porém, A obra pode criar um universo de significações que

jamais se esgota e que pode até ultrapassar em muito a intenção do autor.

Os Retirantes (1944) de Portinari assumiram uma feição acentuadamente social

na carreira do mestre brasileiro.

12 A reprodução da obra compõe o nº 22 da coleção: pinacoteca, da Caras. Impresso na Espanha em novembro de 1988. Publicação da \editora Caras, São Paulo.

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FIQUE POR DENTRO

PORTINARI:

Filho de imigrantes italianos de origem humilde, Cândido Portinari nasceu em 30 de dezembro de 1903, numa fazenda de café em Brodósqui, interior de São Paulo. Aprendeu a pintar precocemente aos 9 anos e aos 15 foi matriculado na Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Aos 25 anos renovou a sua formação em Paris, quando já havia conquistado as esferas internacionais com seu anti-academicismo e experimentalismo. Em 1935 recebeu menção honrosa com a tela ―Café‖, na Exposição Internacional do Instituto Carnegie de Pittsburg, nos Estados Unidos, ano em que foi convidado a lecionar Pintura Mural no Instituto de Arte. Suas obras apresentavam temas como: cultura brasileira, histórico, social, religioso, natureza, natureza morta, figura humana, não figurativo dentre outros, sempre enfocando–os de forma universal. Candido Portinari falece no dia 6 de fevereiro de 1962, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava.

COMENTÁRIO:

Muitos são aqueles que utilizam as suas artes para falar do que os

rodeia: Jorge Amado, Érico Veríssimo, Graciliano Ramos. Também

Portinari a nada disto fica alheio. Exprime com na sua pintura, as desigualdades

sociais, os efeitos de um país em época de guerra, a recessão e reflete o

sofrimento de um povo. É a cor que se apaga, um drama que se observa.

Na obra ―Os Retirantes‖, há uma expressividade e dramaticidade muito

grandes, pois reflete a voz de famílias, trabalhadores com e sem emprego que

perambulam no país em busca de melhores condições de vida, muitas vezes

fugindo de situações insustentáveis, outras vezes perseguindo um sonho,

instigados pela cidade grande.

A obra é composta por nove personagens com expresão cadavérica, dois

homens adultos, duas mulheres adultas e cinco crianças, sendo que uma delas

pode ser identificado o sexo. Esta mesma criança apresenta um abdome

avantajado, talvez porque no período da produção da obra, o país enfrentava

sérios problemas de saneamento básico e tratamento da água, o que fazia com

que grande parte da população fosse atingida pela esquistossomose. Percebe-se,

ainda, que há a presença no céu azul de grande quantidade de pássaros

parecidos com urubus e um osso parecido com fêmur, ambos simbolizando a

presença da morte.

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TEMAS PARA DISCUSSÃO SUGERIDOS PELA OBRA

Figura2Disponível emhttp://www.dominio publi co.gov.br/download/imagem/go000031.jpg

Exclusão social;

Conflitos sócio-culturais;

Desenraizamento cultural;

Rejeição;

Desestruturação familiar;

Perda da identidade;

Precária condição de moradia,

transporte, serviços básicos

nas grandes cidades;

Dificuldade de inserção na

sociedade;

Desculturalização;

Fúria da natureza; (dentre

outros)

QUESTÕES:

a. Que realidade Portinari recriou? Como caracterizou as personagens?

b. Se um outro pintor tivesse retratado a mesma questão social, ele o faria da

mesma forma?

c. Observe as cores escuras utilizadas e o semblante das personagens.Quais

os efeitos de sentido que esse conjunto traz para a obra?

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CHARGE13

FIQUE POR DENTRO

A charge é uma ilustração cômica que satiriza de forma crítica os acontecimentos

sociais e políticos. No entanto, o seu elemento artístico também é forte, pois, embora seja importante numa charge o seu conteúdo humorístico, ela é feita ainda à mão, podendo ser montada ou retocada por computador.

COMENTÁRIO: A charge mostra um outdoor simbolizando e representando uma

realidade falsa, no momento em que esconde problemas sociais graves.

ATIVIDADES:

a. Pense no vídeo que acabamos de assistir e nas palavras se Seven Suzuki.

Escreva um parágrafo sobre uma das questões discutidas pela arte.

b. Transforme esse parágrafo em charge, lembrando que toda charge tem o

seu lado artístico, crítico e humorístico.

10.2.3 GRAFITE OU GRAFITO – A ARTE URBANA

FIQUE POR DENTRO

GRAFITE - (do italiano graffiti, plural de graffito) é o nome

dado às inscrições feitas em paredes, desde o Império Romano. Considera-se grafite uma inscrição caligrafada ou um desenho pintado ou gravado sobre um suporte que não é normalmente previsto para esta finalidade.Por muito tempo visto como um assunto irrelevante ou mera contravenção, atualmente o grafite já é considerado como forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais, mais especificamente, da street art ou arte urbana - em que

o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade. Entretanto ainda há quem não concorde, equiparando o valor artístico do grafite ao da pichação, que é bem mais controverso. Sendo que a remoção do grafite é bem mais fácil do que o piche. Dentre os grafiteiros, talvez o mais célebre seja Jean-Michel Basquiat, que, no final dos anos 1970, despertou a atenção da imprensa novaiorquina, sobretudo pelas mensagens poéticas que deixava nas paredes dos prédios abandonados de Manhattan Posteriormente Basquiat ganhou o rótulo de neo-expressionista e foi reconhecido como um dos mais significativos artistas do final do século XX.

13 Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br/multimeios/modules/noticias/article.php?storyid=85

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COMENTÁRIO:

A arte da grafitagem é uma manifestação artística em espaços públicos. Constitui-

se como manifestação artística com objetivo de transmitir uma mensagem, no

geral, de protesto. O grafiteiro é o artista desta arte que está ligada ao movimento

do hip hop e representa uma forma de expressar toda opressão que a

humanidade vive, prinipalmente os menos favorecidos. O grafite brasileiro tem um

estilo próprio e é reconhecido como um dos melhores do mundo.

OS ARTISTAS DO GRAFITE SE COMUNICAM

PRINCIPALMENTE POR MEIO DE GÍRIAS. CONHEÇA AS

PRINCIPAIS:

Produção: Grafite que atinge todas as classes.

Tag: Assinatura do nome ou apelido do grafiteiro. ‗Presa‘,

presença.

Atropelo: Invadir o espaço de outro grafiteiro.

Crew: Turma de grafiteiros que se reúnem para grafitar juntos.

Bomb (bombardeio): produção intensa de escritas.

Bullet (boleta): letras arredondadas e ‗infladas‘.

3D: Grafite tridimensional é, talvez, o estilo mais cobiçado entre os grafiteiros da

new school.

Free style (estilo livre): Improviso

Throw-up (vômito), ou „grapicho‟: Estilo de rápida execução, conhecido por

usar poucas cores contrastantes, geralmente duas.

Cap: Bico da lata. Existem varios tipos, podem soltar um jato fino (skin cap, ou

skinny) ou largo (fat cap ou hardcore).

Fanzine (abreviação de fanatic for magazine, fanático por revistas): Revista

produzida de forma independente, geralmente fotocopiada, que funciona como

veículo de comunicação entre os grafiteiros.

Flick: Foto de grafite.

Outline e powerline: Linha de contorno que pode remeter a certos efeitos

próprios da linguagem dos quadrinhos.

Piece: Grafite realizado com primor ou que ocupa uma área delimitada.

Piece book: Livro com desenhos, tags e rascunhos do grafiteiro.

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Toy (brinquedo): Expressão utilizada para indicar um principiante ou alguém

que grafita apenas por moda.

Whole car: Grafite que ocupa a façhada inteira do vagão. Pode ser de cima

abaixo (top to top) e de fora a fora (end to end).

Wild style (estilo selvagem), ou tribal: Estilo complexo, agressivo, composto

por letas entrelaçadas entre si através de setas e traços retorcidos. Característico

da old school, o wild style é considerado um dos estilos mais difíceis de se fazer.

Em 2008 (de 30/Ago a 07/Set), aconteceu a primeira Bienal Internacional

de Grafite, reunindo artistas de diversos países, em Belo Horizonte. A

Universidade de São Paulo (USP) também organizou a primeira Cooperativa

brasileira de grafiteiros, muitos deles ex-pichadores, com o objetivo de

profissionalizar esses artistas. Todos serão orientados por professores de artes

plásticas e designers para fazerem seus trabalhos em painéis e muros

especialmente destinados para exibição de seus trabalhos.

GRAFITE PARA ANÁLISE, disponível em14 :

QUESTÕES:

1. Que figura mostra o grafite? Faça a sua caracterização.

2. Que impressão lhe causou?

3. Que cores o artista utilizou? Qual os efeitos de sentido provocam?

4. O que a escrita presente no desenho transmite?

ATIVIDADE:

a. Com as frases e a palavras escritas na primeira atividade,

vamos formar um painel, em papel bubina, utilizando

desenhos e palavras.

14

http://vejasp.abril.com.br/revista/edicao-2198/minhocao-grafites-galeria-virtual

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1. O GRAFITE E O HIP-HOP: Manifestação poética de

contextação

FIQUE POR DENTRO

Hip- Hop

Há uma íntima relação entre o hip hop e o grafite. Em ambos os casos, os jovens passaram a se interessar por novas linguagens, iniciando um movimento que dava crédito às manifestações artísticas fora dos espaços fechados e acadêmicos, cujo tema é a contestação, o olhar crítico sobre a realidade e a rua passou a ser o cenário perfeito para essas manifestações de arte.

Segundo o Dicionário de relações étnicas e raciais, o rap pode ser definido como: ―termo que deriva da gíria para fala e refere-se ao gênero meio falado, meio cantado que se tornou a tradução musical de experiência afro-americana das décadas de 1980 e 1990‖15. O estilo do rap consiste em rimas improvisadas, com ritmo. Richard Shusterman denomina ―arte em estado vivo‖ as formas expressivas da cultura popular, inclusive o rap. Para o autor, o rap faz crítica a a um determinado modelo sócio-econômico, como também questiona a arte elitizada que se afasta da realidade.

O Hip Hop, no Brasil, inicia-se na década de 1980 e a cidade de São Paulo, tornando-se conhecido por intermédio, em grande parte, dois filmes: Beat Street e FlashDance. O primeiro, produzido por Sidney Portier em 1984, mostrava a cultura Hip Hop como um estilo de vida e o segundo, produto típico da mídia hollywoodiana, em uma de suas cenas, mostra uma batalha de break, uma espécie de dança de rua.

GABRIEL O PENSADOR é um dos maiores nomes do Hip Hop brasileiro. Ainda

hoje é discriminado pelos puristas, não por ser branco, mas porque ser de classe média. É um compositor que se preocupa com o conteúdo ideológico das suas letras (não se importando apenas com o seu arranjo musical) e é conhecido como o filósofo-pop-urbano.

10.2.5. 500 Anos de Sobrevivência16 Gabriel O Pensador Composição : Gabriel O Pensador

―500 anos de vida, 500 anos de sobrevivência, 500 anos de história, 500 anos de experiência,

500 anos de batalhas, derrotas e vitórias, Desordem e progresso, fracasso,sucesso, Dor e alegria, tristeza e paixão,

15 Cashmore, Dicionário de relações étnicas, p. 475. 16 Disponível em: http://www.letras.com.br/gabriel-o-pensador/500-anos-de-sobrevivencia

Para o tranbalho com o aluno será utilizada a música integral.

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500 anos de trabalho, e a obra ainda está em construção, A luta continua, a vida continua, (...)

O que eu vejo no jornal não me deixa feliz, Mas não mudo de canal e não mudo de país, Eu tenho medo, porque o medo está no ar, Mas ainda é cedo pra deixar tudo pra lá, Não adianta ficar aqui á toa, Só esperando pra ouvir notícia boa,(...)‖

COMENTÁRIO: A letra da música, 500 anos de sobrevivência de Gabriel

Pensador foi escrita exclusivamente por ocasião do aniversário dos 500 anos do

Brasil, não fazendo parte de nenhum de seus CDs. A música não quer só lembrar

a data, mas também fazer um ―balanço‖ dos 500 anos de Brasil.

EFEITOS DE SENTIDO:

A letra é construída a partir de enunciados prontos e de

clichês, a luta continua/a esperança é a última que morre, o

que constitui a força expressiva da canção. Através do

conhecido, o eu-lírico demonstra inquietação, revolta e por isso

incentivo o seu interlocutor à luta: ―Não adianta ficar aí à toa,/só esperando pra

ouvir notícia boa‖. Também faz suas denúncias, como podemos ver, por exemplo,

no enunciado ―o que eu vejo no jornal não me deixa feliz‖.

INTERTEXTUALIDADE “acontece quando há uma referência explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade.‖17 No poema de Gabriel O Pensador aparece parte da música: “Será”18 do Legião Urbana (Composição: Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá) ―Será só imaginação? Será que nada vai acontecer? Será que é tudo isso em vão? Será que vamos conseguir vencer?‖

17 http://www.infoescola.com/portugues/intertextualidade-parafrase-e-parodia/ (acesso em 07/07/2011) 18

Disponível em: http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46977/ (será utilizada integral em sala de aula)

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Também faz uma intertextualidade com a bíblia que fala do primeiro milagre de Jesus Cristo, que transformou água em vinho à pedido de sua mãe. Foi um gesto de amor, mencionado também pelo autor como provedor de transformação: ―Faz a água virar vinho e o espinho virar flor.(...) A transformação de revolta em amor‖

QUESTÕES:

a. Nos oito primeiros versos da música, o autor faz um

balanço dos 500 anos de Brasil utilizando vários

substantivos, quais são eles? Qual o efeito de sentido que essa escolha

vocabular traz par o contexto da música?

b. Há uma preocupação com as rimas? Por quê?

c. Estabeleça as rimas.

d. O autor se utiliza de antíteses, um recurso poético que dá um efeito de

contradição, para se posicionar com relação ao tema. Qual é esse

posicionamento?

e. No poema, o autor faz menção à violência, quais versos representam isso?

f. Ao seu ver, qual é o posicionamento da mídia diante dos fatos? O que isto

lhe causa?

g. Os sentidos do poema são efetivados por meio de frases prontas ―clichês‖,

presentes na cultura popular. Que efeitos de sentido isso produz?

h. O autor, entre os versos 18 e 20, estabelece uma relação entre os verbos

saber e vencer. Isso pode denunciar um dos posicionamentos do eu-lírico?

Explique.

i. Nos versos 26 e 27/ 38 e 39 o autor faz um convite. Que convite é esse e

para quem?

j. No verso 41, o autor diz que o futuro é a gente que escolhe. Vc concorda

com isso? Por quê?

k. Estabeleça as vozes sociais que aparecem no poema, ou por meio do

próprio eu-lírico ou por meio do que ele cita do povo brasileiro, nas

entrelinhas.

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l. Que efeitos de sentido causam para o poema, as intertextualidades

apresentadas? Tanto o trecho da música de Renato russo

m. No final do poema, o autor menciona que: ― nem todos que sonharam

conseguiram, mas pra conseguir é preciso sonhar.‖

Cite algumas personagens da história que sonharam e lutaram em prol da

humanidade. O que eles fizeram?

ATIVIDADES:

Lembrando de todas as questões sócio-econômico-

culturais discutidas até agora por meio da arte, vamos

produzir um rap. Primeiramente produziremos uma

poesia de cunho social e depois escolheremos um ritmo

para ela. Mãos à obra.

10.3. TERCEIRO MOMENTO: A Literatura é a arte da palavra escrita que

propõe, assim como as outras artes, um diálogo com o seu interlocutor.

OBJETIVO: Compreender que toda obra de arte, construída com a palavra escrita

(formas mais tradicionais e conhecidas) ou em formas multissemióticas ou

multimodais propõem um diálogo com seus interlocutores. Para entender e

interpretar um texto literário, é preciso mais do que ver ou ler, é preciso entrar

nele.

10.3.1. Apresentação do vídeo: SONHOS19 – Akira

Kurosawa - Van Gogh

Gênero: Drama Origem/Ano: JAP-EUA/1990 Duração: 119 min Elenco:Akira Terao, Mitsunori Isaki, Chishu Ryu, Marttin Scorcese Direção: Akira Kurosawa.

19

http://filmes.seed.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=655

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FIQUE POR DENTRO

Akira Kurosawa, em japonês 黒澤 明, Kurosawa Akira, (Tóquio, 23 de

Março de 1910– Setagaya, 6 de Setembro de 1998) foi um dos cineastas mais importantes do Japão, e seus filmes influenciam uma grande geração de diretores do mundo todo. Com uma carreira de cinquenta anos, Kurosawa dirigiu 30 filmes. É amplamente considerado como um dos cineastas mais importantes e influentes da história do cinema. Em 1989, foi premiado com o Oscar pelo conjunto de sua obra "pelas realizações cinematográficas que têm inspirado, encantado, enriquecido e entretido o público em todo o mundo e influenciado cineastas de todo o mundo.20

SINOPSE:

―O belíssimo "Sonhos", de Akira Kurosawa propõe, em

oito episódios, um passeio pela natureza humana.

Provoca a leitura sobre a ação do inconsciente

quando o homem confronta-se com o inevitável. Cada

episódio pode ser direta ou metaforicamente

relacionado aos horrores da guerra e à capacidade

humana de sobreviver às condições mais inóspitas, seja por meio do trabalho,

seja pela habilidade de se expressar por intermédio da arte. Vale a pena

mergulhar em "Corvos", episódio no qual um observador entra e viaja pelo quadro

homônimo de Van Gogh, tendo como fundo o vibrante som da 9ª Sinfonia de

Beethoven.‖

O filme é mais baseado em imagens do que no diálogo. Sonhos foi indicado ao

Oscar de Melhor Fotografia. O trecho utilizado será o intitulado: Corvos

QUESTÕES:

a) Que linguagem o quadro utilizou que favoreceu a entrada do

sujeito no mundo do artista?

b) Por onde passou o sujeito? Que tipo de paisagem ele presencia?

c) O que se pode perceber sobre o estilo do cineasta?

20

Informações retiradas de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Akira_Kurosawa (acesso em 07/07/2011)

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10.3.2. DESAFIO:

―ENFIM UM INDIVÍDUO DE IDÉIAS ABERTAS” de Marina

Colassanti.

Leitura das informações explícitas

a. O que atormentava?

b. Descreva as atitudes realizadas pela personagem para se livrar do

tormento.

c. O que a personagem procurava?

d. Após a personagem ouvir um estalo, o que acontece em seguida?

A leitura das informações implícitas

a. Qual é o título do conto?

b. Existe uma relação aparente entre o título e o conteúdo do conto?

c. Pensando no título: ENFIM UM INDIVÍDUO DE IDÉIAS ABERTAS,

a personagem se vê incomodada por uma coceira. A que coceira

pode estar se referindo o autor?

d. O que pode representar o processo de pegar a chave mais fininha e

enfiar no orifício no ponto certo em que poderá cessar a coceira?

e. O que pode significar o último parágrafo do texto?

Interpretação. O leitor vai além da inferência: busca

conhecimentos prévios, tece opiniões, relacionando o texto à sua vida.

a. Nas relações sociais, o que significa ―abrir a cabeça‖?

b. O que seria um indivíduo de idéias abertas?

c. A sociedade favorece ao indivíduo a busca do conhecimento?

d. Que tipo de pessoas tem sede de conhecimento ou que precisa

estar sempre em busca dele para exercer a sua profissão.

e. A sociedade favorece ao indivíduo a buscar o conhecimento?

―A coceira no ouvido atormentava. Pegou o molho de chaves, enfiou a mais fininha na cavidade. Coçou de leve o pavilhão, (...)‖

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Vamos então, aos símbolos:

Coceira – pode ser os acontecimentos reais que incomodam

A chave – a compreensão de tudo

Abrir a cabeça – Mudança

“O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é

grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é

grande e cabe no breve espaço de beijar.”

Carlos Drummond de Andrade

10.3.3. OS OMBROS SUPORTAM O MUNDO21

Carlos Drummond de Andrade

―Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. Tempo de absoluta depuração. Tempo em que não se diz mais: meu amor. Porque o amor resultou inútil. E os olhos não choram. E as mãos tecem apenas o rude trabalho. E o coração está seco.‖

FIQUE POR DENTRO

Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por "insubordinação mental". Em Itabira, apesar de formado em farmácia, vivia das aulas de português e geografia. Tornou-se funcionário público em 1929, e, em 1934, o cargo no Ministério da Educação transferiu-o para o Rio de Janeiro. Em 1945, foi co-editor do jornal comunista Tribuna Popular a convite de Luís Carlos Prestes. A partir da década de 50, dedicou-se apenas à literatura, escrevendo novos livros de poesias e contos. Além de intensificar a produção de crônicas, fez também traduções. Carlos Drummond morreu no Rio de Janeiro em 1987.

21 Retirada do livro: Literatura comentada de 1988. Para o trabalho em sala de aula, o poema será trabalhado na íntegra.

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COMENTÁRIO:

O poema faz parte da obra Sentimento do Mundo de

Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1940,

quando o poeta inaugura um novo período da sua

poética: consciência da dolorosa realidade social, aliada

à tensão eu-mundo. Neste poema, Drummond

problematiza a vida, a solidão e o seu desencanto

diante o mundo que o cerca. Há uma consciência da progressiva destruição pelo

tempo e um sentimento profundo de solidão ante a indiferença do cotidiano da

grande cidade. O poeta apresenta um ceticismo em relação à existência e o mundo,

ambos privados de significado. Há uma lucidez contundente que faz com que

Drummond faça uma espécie de balanço da vida em que a única certeza é a

degradação dos sentimentos e a morte.

A obra de Drummond alcança um patamar de solidão, desprendendo-o da

própria História, levando o leitor a uma atitude liberta de referências, ou de marcas

ideológicas. Costuma-se estabelecer três atitudes para a poesia de Carlos

Drummond, a partir da dialética "eu x mundo":

Eu maior que o mundo — marcada pela poesia irônica

Eu menor que o mundo — marcada pela poesia social

Eu igual ao mundo — abrange a poesia metafísica

ALGUMAS CONVENÇÕES DO POEMA A SEREM OBSERVADAS POESIA – do grego poíesis, poetar, compor versos; também denominada ‗gênero lírico ou lírica (do grego ―Lyra‖ – instrumento de sete cordas). Estrutura externa: versos e estrofes/pausas e rimas

O espaço: É o caráter marcadamente visual. A utilização do espaço tipográfico foi sempre um desafio à imaginação dos poetas. Análise lingüística: Qual a contribuição para o sentido, o uso de determinadas classes de palavras ou a utilização de determinadas orações. Linguagem Poética: Os poetas jogam com os duplos sentidos, com as possíveis ambigüidades e com combinações de sons e significados inusitados. Por isso, usam alguns recursos próprios da linguagem poética:

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Algumas figuras de palavras e pensamentos: - Metáfora –emprego de um termo por outro, dada a relação de semelhança ou

possibilidade de associação entre eles. - Comparação: consistem em estabelecer uma relação de semelhança entre dois

termos. - Personificação: atribuição de características de seres vivos a seres inanimados. - Sinestesia: consiste na mistura de sensações e impressões percebidas por diferentes órgãos do sentido humano. - Antítese: Emprego de palavras ou idéias com sentidos opostos. - Eufemismo: Emprego de termos mais agradáveis, para suavizar a expressão. - Ironia: Emprego de palavras que dizem o contrário do que se pensa, a fim de criticar, ironizar. - Hipérbole: Exagero da expressão para realçar uma idéia. Algumas figuras de sintaxe ou construção: - Assíndeto: Supressão da conjunção. - Polissíndeto: Repetição da conjunção - Pleonasmo: Repetição de uma palavra ou de uma idéia para enfatizar. - Anáfora; Repetição de uma ou mais palavras no início de cada verso ou oração.

QUESTÔES:

a. Estabeleça o número de estrofes e versos em cada estrofe.

b. O poeta preocupo-se com as rimas?

c. O poeta inicia o poema com a expressão: ―chega um tempo‖. Que reflexão ele

pretende propor aos leitores?

d. Na segunda estrofe, o poeta tece explicações sobre as questões levantadas

na primeira estrofe, quais são essas explicações?

e. Na terceira estrofe, o poeta introduz um ―tu‖, representado através dos

verbos: ―abrirás‖, ―ficaste‖, ―és‖, ―sabes‖, ―esperas‖. Quem pode ser o tu e o

que o eu-lírico prevê e afirma para ele?

f. Faça uma descrição desse tu, com base nas observações do eu-lírico.

g. O poeta inicia a 4ª estrofe com o verso:‖ pouco importa venha a velhice, que é

velhice?‖ Que efeitos de sentido produz?

h. Busque no poema as anáforas e estabeleça seus efeitos de sentido.

i. Que figura de pensamento aparece na segunda estrofe? Estabeleça seus

efeitos de sentido.

j. Que problemas sociais o eu-lírico enumera na 4ª estrofe?

k. O eu-lírico dá uma explicação do porquê esses problemas ainda ocorrem?

Qual é essa explicação?

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l. Qual é o tema da poesia?

m. Quais as vozes sociais presentes no poema?

ATIVIDADE

Vamos pesquisar outros poemas de Carlos Drumond

e construir um pot-pourri.

PARA RECRIAR, TRANSFIGURAR A REALIDADE, O POETA PODE UTILIZAR-

SE DE OUTRAS LINGUAGENS, NÃO SÓ A ESCRITA. FOI ASSIM, RECRIANDO

A LINGUAGEM E USANDO OUTRAS SEMIOSES QUE HAROLDO DE CAMPOS,

RECRIOU O SEU CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL:

10.3.4. POESIA CONCRETA:

Entre 1956 e 1968, há uma sucessão de novas vanguardas poéticas, dentre ela,

o Concretismo.

FIQUE POR DENTRO

POESIA CONCRETA ―é um tipo de poesia vanguardista, de

caráter experimental, basicamente visual, que procura estruturar o texto poético escrito a partir do espaço do seu suporte, sendo ele a página de um livro ou não, buscando a superação do verso como unidade rítmico-formal. Surgiu na década de 1950 no Brasil e na Suíça, tendo sido primeiramente nomeada, tal qual

a conhecemos, por Augusto de Camposna revista Noigandres de número 2, de 1955, publicada por um grupo de poetas homônimo à revista e que produziam uma poesia afins. Também é chamada de (ou confundida com) Poesia visual em algumas partes do mundo.‖22 Foi oficialmente lançado em 1956, na Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada na cidade de São Paulo. A poesia concreta foi criada por Décio Pignatari (1927), Haroldo de Campos (1929) e Augusto de Campos (1931) e era um ataque à produção poética da época, dominada pela geração de 1945. Os jovens paulistas acusavam-na de verbalismo, subjetivismo, falta de apuro e incapacidade de expressar a nova realidade gerada pela revolução industrial

22

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Poesia_concreta (acesso em 08/07/2011)

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POEMA: LUXO-LIXO DE Haroldo de Campos23

COMENTÁRIO: Em vez de um verso longo, o poeta poderia dizer apenas, como

num cartaz, resumidamente: LUXO-LIXO, ou seja, o luxo cria o lixo, o luxo é lixo, o

lixo e o luxo estão intimamente ligados. O poema LUXO-LIXO tem forma

revolucionária e transforma o significado de lixo em luxo e o de luxo em lixo. O

mundo da mercadoria é também o mundo do lixo. A poesia Concreta reflete o mundo

urbano e tem raiz social. Porém, não se propõe a "tratar do mundo real-concreto",

mas reconstruí-lo, com outras bases.

Fragmento do poema: “Poesia em tempo de fome”24:

―POESIA EM TEMPO DE FOME

FOME EM TEMPO DE POESIA

POESIA EM LUGAR DO HOMEM

PRONOME EM LUGAR DO NOME‖

(Haroldo de Campos)

COMENTÁRIO:

O autor faz uma complexa relação entre poesia e fome, por um lado, fazendo

menção à necessidade física do homem de se alimentar numa época em que falta o

pão.

QUESTÕES:

a. O poema concreto preocupa-se com a ocupação do espaço, como foi

construído o poema ―poesia em tempo de fome‖?

b. A ausência do artigo no início dos sete primeiros versos, desparticulariza as

palavras: poesia, fome, poesia, pronome, homem, que efeitos de sentido isso

traz?

23 http://paulokauim.blogs.sapo.pt/7791.html 24

Disponível em: http://millionways.wordpress.com/2009/07/09/poesia-em-tempo-de-fome/ Os poemas de Haroldo de Campos serão utilizados na íntegra, em sala de aula.

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c. Que classe de palavras o poeta privilegia no poema?

d. O eu-lírico cita algumas classes de palavras, mas como elas funcionam no

poema?

e. A presença do eu-lírico está marcada? Explique.

f. Como pode ser interpretado a relação que o eu-lírico estabelece entre fome e

poesia?

g. Na relação poesia e homem, o eu-lírico compara-a à relação entre nome e

pronome. Qual o efeito de sentido deste arranjo para o entendimento do

poema?

h. Quem está no meio da fome?

i. Você considera esse poema de cunho social? Por quê?

j. Quais as sensações (sinestesia) que o poema sugere?

ATIVIDADES:

a. Pesquisa de mais poemas concretos.

b. Escrever temas relacionados ao homem em

sociedade e ao meio ambiente.

c. Escolher um tema e construir um poema concreto,

lembrando que o poema concreto valoriza o espaço.

10.4. QUARTO MOMENTO: ―O texto literário representa o seu tempo‖

OBJETIVO: Compreender que a produção literária não tem a obrigatoriedade de

retratar a realidade, no entanto, ela transfigura essa realidade, assim como as

demais artes, representando o seu tempo histórico subjetivo ou coletivo. Nessa

representação, cada autor (eu-lírico ou narrador) tem o seu estilo próprio de

escrever, além do estilo da época em que está inserido.

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10.4.1. Fragmento de A MORENINHA, de Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882) - a burguesinha do séc. XIX.

Figura 3Disponível em:http://www.dominiopublico.gov.br/download/imagem/go000102.jpg

O trecho a seguir descreve um sarau, festa noturna em casa particular, muito

comum na época e também Carolina, a Moreninha, típica burguesa do séc. XIX:

CONTEXTUALIZANDO:

SINOPSE: O romance é de 1844 e possui o seguinte enredo: três estudantes de Medicina - Augusto, Felipe e Leopoldo - passam o feriado na casa da avó de Felipe, numa ilha. Augusto, que se considerava muito inconstante no terreno amoroso, faz uma aposta: se ficasse apaixonado por uma mulher por mais de quinze dias, escreveria um romance contando a história desta paixão. Augusto escreve o romance? O desenrolar desta hisória se faz envolto a promessas e segredos. Quiem é o grande a mkor de sua vida, motivo de

tanta inscontância?

―(...) Entre todas essas elegantes e agradáveis moças, que com aturado empenho se esforçam por ver qual delas vence em graças, encantos e donaires, certo que sobrepuja a travessa Moreninha, princesa daquela festa.

Hábil menina é ela! Nunca seu amor-próprio produziu com tanto estudo seu toucador e, contudo, dir-se-ia que o gênio da simplicidade a penteara e vestira. Enquanto as outras moças haviam esgotado a paciência de seus cabeleireiros, posto em tributo toda a habilidade das modistas da rua do Ouvidor e coberto seus colos com as mais ricas e preciosas jóias, d. Carolina dividiu seus cabelos em duas tranças, que deixou cair pela costa; não quis adornar o pescoço com seu adereço de brilhantes nem com seu lindo colar de esmeraldas; vestiu um finíssimo, mas simples vestido de garça, que até pecava contra a moda reinante, por não ser sobejamente comprido. Vindo assim aparecer na sala, arrebatou todas as vistas e atenções.(...)

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A partir da segunda metade do século XVIII, aconteceram mudanças

importantes na economia da Europa tais como:

A evolução da produção agrícola aumenta a oferta de alimentos;

O trabalho artesanal é substituído pelo industrial. Os burgueses, proprietários

das indústrias enriquecem, enquanto os artesãos acabam se transformando

em proletariado..

O comércio ganha nova importância. A distância entre produtor e consumidor

aumenta, e é o comerciante que cobre essa distância.

Nesta época, a desigualdade social já era visível: de um lado a vida difícil e

sacrificada dos operários, do outro a vida abastada da burguesia que foi retratada

pela literatura da época, intitulada, através de histórias fascinantes, cujos capítulos

saíam em folhetins semanais. Já se formava a classe dominante que ainda vê o

modelo estrangeiro como superior. Ex; Os modelos das roupas não condiziam com o

calor brasileiro. Para as mulheres ricas burguesas eram vestidos com mangas

bufantes e mãos cobertas ainda fazendo referência à França, com excessos e

volumes em função da rainha Vitória, monarca da Inglaterra. A roupa dos homens,

também, não eram nada confortáveis, vestiam uma espécie de terno composto por

uma casaca, o colete e as calças. Por baixo, vestia-se a camisa e punha-se sempre

uma gravata.

COMPLEMENTANDO A DISCUSSÃO;

VÍDEO sobre o vestuário25 do séc. XIX.

QUESTÕES:

a. Que cena o trecho retrata?

b. Carolina pode ser considerada burguesinha? Por quê?

10.4.2. Fragmentos de música:

25

http://www.youtube.com/watch?v=0jtg7uI_HHg

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BURGUESINHA26 - Seu Jorge

Composição : Seu Jorge / Gabriel Moura / Pretinho

da Serrinha

―Vai no cabeleireiro

No esteticista

Malha o dia inteiro

Pinta de artista

Saca dinheiro

Vai de motorista

Com seu carro esporte

Vai zoar na pista (...)‖

COMENTÁRIO: A música faz parte do quarto CD solo de Seu

Jorge, América Brasil, composto de onze faixas de samba rock.

Em apenas 16 versos (quatro estrofes de quatro versos), sem

contar o refrão, a letra da música esbanja ironia ao criticar os

caprichos da moça e a futilidade que uma vida abastada pode

proporcionar ao sujeito.Enquanto descreve o cotidiano da ―burguesinha‖, lembra, de

certa forma, o que não faz parte do cotidiano da maioria da população brasileira: ir

para o esteticista, pra casa de praia final de semana, ou ainda, comer filé, croissant

e tomar suco de maçã.

Burguesinha vem de burguesia que era uma classe social (os burgueses) que

surgiu no final da Idade Média e que se dedicava, sobretudo, ao comércio e que

acabou enriquecendo. Os burgueses moravam nos burgos, que eram pequenas

cidades comerciais que surgiam em torno dos castelos feudais.

A palavra burguês, atualmente, passou a ser uma palavra para designar pessoa

rica.

QUESTÕES:

26

Disponível em: (http://letras.terra.com.br/seu-jorge/1089741/) A música será trabalhada em sala de aula ,na íntegra, com o aluno.

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1. Quem vai pro cabeleireiro, no esteticista, malha o dia inteiro...?

2. O que significa a palavra burguesinha?

3. Qual é o seu contrário?

4. O que diz a música faz parte de qual tempo?

5. Quem são os burgues? Como vivem?

6. Existe um jogo de aparências que envolve a burguesia?

7. Essa música é um poema e está dividida em estrofes. São regulares?

8. A ―burguesinha‖ não tem nome, que efeito de sentido isso traz para o

poema?

9. Na descrição do que a burguesinha faz, há a ausência do trabalho. Qual a

relação da burguesia com o trabalho?

10. Por que a ―burguesinha‖ se preocupa tanto com a aparência?

11. Vamos tentar descrever a ―burguesinha‖ física e psicologicamente?

12. Essa música trata da ―burguesinha‖ de forma positiva ou negativa?

13. Quais os verbos que o eu-lírico relaciona à burguesina? Qual efeito de

sentido?

14. Faça a relação desses verbos com os substantivos com os quais se

relaciona. Que sentidos aparecem?

15. No verso 14 aparece uma gíria: ― dança bate estaca‖ o que isso significa?

16. Se você estivesse no lugar da burguesinha, o que faria?

PARA DISCUSSÃO:

Video: ―A ditadura da beleza‖27

ATIVIDADE:

a. Produzir um vídeo sobre a música.

27

Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/ singlefile . php?id=21427 O poema será trabalhado em sala de aula, na íntegra.

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10.4.3. ISMÁLIA

Alphonsus de Guimaraens

―Quando Ismália enlouqueceu,

Pôs-se na torre a sonhar...

Viu uma lua no céu,

Viu outra lua no mar.

(...)

As asas que Deus lhe deu

Ruflaram de par em par...

Sua alma subiu ao céu,

Seu corpo desceu ao mar...‖

COMENTÁRIO:

O poema Ismália será apresentado para alimentar a

discussão a cerca dos valores e mitos apresentados pela

sociedade que faz com que, principalmente as mulheres

jovens façam sacrifícos em busca do corpo perfeito, da fama,

do dinheiro fácil e etc. Na impossibilidade da satisfação dessas ―necessidades‖

criadas pela mídia e pela sociedade consumista, aparecem a insatisfação e com ela

a depressão e demais implicações.

SINOPSE: O vídeo Ismália28, apresenta em desenho animado o poema de

Alphonsus de Guimaraens (Afonso Henriques da Costa Guimaraens), considerado

um dos grandes nomes do Simbolismo, e por vezes o mais místico dos poetas

brasileiros, tratou em seus versos de amor, morte e religiosidade. O poeta nasceu

em Ouro Preto (MG) em 1870.

Colaboração da professora Daisk Valéria de Souza, do município de Colombo - Pr,

Colégio Estadual Tancredo de Almeida Neves.

28

Disponível em: http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/debaser/singlefile.php?id=14443

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FIQUE POR DENTRO:

ALPHONSUS GUIMARAENS, pseudônimo de Afonso Henrique da Costa Guimarães (Ouro Preto, 24 de julho de 1870 — Mariana, 15 de julho de 1921) foi

um escritor brasileiro. Sua poesia é marcadamente mística e envolvida com religiosidade. Seus sonetos apresentam uma estrutura clássica, e são profundamente religiosos e sensíveis na medida em que ele explora o sentido da morte, do amor impossível, da solidão e da inaptação ao mundo. Os poemas de Alphonsus Guimarães apresentam traços comuns a outros poetas de sua época. É o estilo que vigorava na época: Simbolismo: - Dava ênfase a temas místicos, imaginários e subjetivos, desconsiderando os temas sociais. - Caráter individualista, produzindo obras de arte baseadas na intuição. - Estética marcada pela musicalidade (a poesia aproxima-se da música); - Utilização de recursos literários como, por exemplo, a aliteração (repetição de um fonema consonantal) e a assonância (repetição de fonemas vocálicos).

QUESTÔES:

a. Ismália é um poema formado por quantas estrofes e versos?

b. Houve preocupação do autor com a rima? Como ela se apresenta?

c. Nas primeiras 4 estrofes, sempre nos versos 3 e 4, aparece um verbo que se

repete: viu/viu; queria/queria; estava/estava; queria/queria. Que efeitos de

sentido isso produz?

d. Todas as estrofes trazem palavras que se opõem em sentido. Para o

entendimento geral do poema, o que isso significa?

e. O que aconteceu com Ismália?

f. Faça uma breve síntese do que aconteceu com Ismália em cada estrofe.

g. Quais as possibilidades de interpretação?

h. Se entendermos que Ismália se suicidou, quais poderiam ser os prováveis

motivos?

i. Se Ismália vivesse no nosso século quais seriam os prováveis motivos para o

suicídio?

j. Apesar da distância temporal, pode haver uma relação entre a burguesinha e

a Ismália?

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10.5. 5º MOMENTO: A Literatura é ficção e

pode utilizar outras linguagens.

OBJETIVO: Compreender que o texto literário é

ficção e como tal representa a cosmovisão do

autor que tem o seu estilo próprio. A Literatura

pode estar em diversos suportes e estar

representada linguagens multimodais.

“Pensamentos valem e vivem pela observação exata ou nova,

pela reflexão aguda ou profunda; não menos querem a

originalidade, a simplicidade e a graça do dizer.”29

Machado de Assis

10.5.1. A CARTOMANTE – Conto de Machado de Assis (Em Quadrinhos) – Roteiro e desenho: Jo Fevereiro Cores: Jo & Ciça Sperl

HQ – A arte sequencial Sinopse da obra: A Cartomante é um

conto de Machado de Assis, publicado em

1884. Relata um caso de amor proibido, uma

experiência conflitante e um final trágico

dentro de uma sociedade recatada. A

história se inicia com uma conversa

entre Rita e Camilo, seu amante. Rita

revela–lhe que, tomada pelo medo de

perdê-lo, visitara uma cartomante. Quem

é essa personagem? Qual será a sua

participação na obra?

Vilela e Camilo eram amigos desde a

infância. A mãe da Camilo falece e Vilela

29

Disponível em: http://pensador.uol.com.br/autor/machado_de_assis/ (acesso em 12/07/2011)

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e Rita mostram–se grandes amigos.Ela, ardilosa, cuida especialmente do coração

de Camilo, que começa a freqüentar assiduamente a casa do casal. Certo dia,

Camilo recebeu uma carta anônima dizendo que sabiam de sua ventura. Então, por

medo, ele deixou de visitar com tanta freqüência a casa de Vilela. E isso explica a

visita de Rita à cartomante, que restituiu a sua confiança. O que irá acontecer com

o triângulo amoroso? Qual será o desfecho dessa trama?

FIQUE POR DENTRO

JOAQUIM MARIA MACHADO DE ASSIS (RJ, 21/06/ 1839 — RJ, 29/09/1908) foi

um escritor brasileiro, um dos maiores nomes da literatura nacional. Era de saúde frágil, epilético, gago. Escreveu em praticamente todos os gêneros literários, sendo poeta, romancista, cronista, dramaturgo, contista, folhetinista, jornalista, e crítico literário. Testemunhou a mudança política no país quando a República substituiu o Império e foi um grande comentador e relator dos eventos político-sociais de sua época.

Nascido no Morro do Livramento, Rio de Janeiro, de uma família pobre, filho de um operário mestiço de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis,

aquele que viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua, perde a mãe muito cedo e é criado pela madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que freqüentará o autodidata Machado de Assis. Aos 16 anos, publica em 12-01-1855 seu primeiro trabalho literário, o poema "Ela", na revista Marmota Fluminense, de Francisco de Paula Brito. Com 17 anos, consegue emprego como aprendiz de tipógrafo na Imprensa Nacional, e começa a escrever durante o tempo livre. Conhece o então diretor do órgão, Manuel Antônio de Almeida, autor de Memórias de um sargento de milícias, que se torna seu protetor. Podemos dividir as obras de Machado de Assis em duas fases: Na primeira fase (fase romântica) os personagens de suas obras possuem características românticas, sendo o amor e os relacionamentos amorosos os principais temas de seus livros. Desta fase podemos destacar as seguintes obras: Ressurreição (1872), seu primeiro livro, A Mão e a Luva (1874), Helena (1876) e Iaiá Garcia (1878).

Na Segunda Fase ( fase realista ), Machado de Assis abre espaços para as questões psicológicas dos personagens. É a fase em que o autor retrata muito bem as características do realismo literário. Machado de Assis faz uma análise profunda e realista do ser humano, destacando suas vontades, necessidades, defeitos e qualidades. Nesta fase destaca-se as seguintes obras: Memórias Póstumas de Brás

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Cubas (1881), Quincas Borba (1892), Dom Casmurro (1900) e Memorial de Aires (1908).

Machado de Assis também escreveu contos, tais como: Missa do Galo, O Espelho e O Alienista. Escreveu diversos poemas, crônicas sobre o cotidiano, peças de teatro, críticas literárias e teatrais.

Assumiu diversos cargos públicos, passando pelo Ministério da Agricultura, do Comércio e das Obras Públicas, e conseguindo precoce notoriedade em jornais onde publicava suas primeiras poesias e crônicas. Em sua maturidade, reunido a colegas próximos, fundou e foi o primeiro presidente unânime da Academia Brasileira de Letras.

COMENTÁRIO

A Cartomante, de Machado de Assis retrata uma visão objetiva e pessimista da vida, do

mundo e das pessoas. A autor faz uma análise psicológica das contradições humanas na

criação de personagens imprevisíveis, jogando com insinuações em que se misturam a

ingenuidade e malícia, sinceridade e hipocrisia.

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FRAGMENTO DA OBRA:30

30

Esta obra será utilizada na íntegra pelo aluno em sala de aula.

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CONVENÇÕES DA NARRATIVA

1. ENREDO: é o conjunto de fatos de uma história. Para entender a organização dos fatos do enredo, é preciso compreender o elemento estruturador: o conflito.

Conflito: é qualquer componente da história (personagens, fatos, ambiente, idéias, emoções) que se opõe a outro, criando uma tensão que organiza os fatos da história e prende a atenção do leitor. O conflito pode ser ainda: moral, religioso, econômico e psicológico.

2. PARTES DO ENREDO:

EXPOSIÇÃO: é a parte na qual se situa o leitor diante da história.

COMPLICAÇÃO (intriga): é a parte do enredo na qual se desenvolve o conflito(s).

CLIMAX: é momento culminante da história, de maior tensão, na qual o conflito chega ao ponto máximo.

DESFECHO: é a solução dos conflitos, podendo ser de vários tipos: surpreendente, feliz, trágico, cômico e etc. (obs: acontecem alguns desfechos em que o conflito não se resolve total ou parcialmente).

3. ENREDO PSICOLÓGICO: é a narrativa na qual os fatos não equivalem a ações

concretas da personagem, mas movimentos interiores. 4. NARRADOR: É o ser fictício que conta a história. Ele pode narrar em terceira

pessoa ou também em primeira pessoa, quando também atua como personagem. 5. PERSONAGENS: é um ser fictício responsável pelo desempenho do enredo. 6. TEMPO:

Duração da história: Pode passar-se num curto período de tempo ou se estende por vários anos.

Tempo cronológico: é o nome que se dá ao tempo que transcorre na ordem natural dos fatos no enredo, isto é, do começo para o final. Está, portanto, ligado ao enredo linear)

Tempo psicológico: É o tempo que transcorre na ordem determinada pelo desejo ou pela imaginação do narrador ou dos personagens, Uma das técnicas mais conhecidas utilizadas nas narrativas a serviço do tempo psicológico, é o flashback que consiste em voltar no tempo.

7. ESPAÇO: É o lugar onde se passa a ação da narrativa. Quanto mais psicológica for a narrativa, menos importância terá o espaço físico.

8. AMBIENTE: É o espaço carregado de características socioeconômicas, morais, psicológicas, em que vivem as personagens.

DISCURSOS 9. DIRETO: Quando a personagem fala diretamente no texto, ou através do travessão

ou através das aspas. Ex: Camilo, eu fui à cartomante.-disse Rita ao seu amante.

10. INDIRETO: Quando é o narrador fala o que fez a personagem: Ex: Rita disse a Camilo, seu amante, que fora à cartomante.

11. INDIRETO LIVRE: Quando narrador e personagem se confundem e o primeiro diz exatamente o que o segundo estaria pensando. Ex: Atormentada pela insegurança fora à cartomante, mas nem imaginara o quanto isso lhe aliviava ah, como aliviava! Quanto sofrera à toa, nem queria mais pensar besteiras!

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QUESTÔES:

1. Em que tipo de linguagem está apresentada A Cartomante?

2. Onde podemos encontrá-lo?

3. Para que ele serve?

4. Quais são as personagens da história e quais as suas características?

5. A abertura do conto apresenta uma atmosfera de tensão misteriosa que leva o

leitor a experimentar uma sensação de inquietude. Que tensão é essa e

envolvem quais personagens?

6. O início do conto representa exatamente o início da história propriamente dita?

7. O narrador inicia o conto com uma frase de Hamlet, que frase é essa e qual o

seu significado?

8. Quais os espaços onde a história acontece e qual o ambiente sugerido?

9. Qual é o conflito que envolve que personagens?

10. Que acontecimentos dão origem a esses conflitos?

11. Qual seria o ponto culminante desse conflito?

12. Como o autor resolve esse conflito?

13. O final pra você foi inesperado? Por quê?

14. O tempo aparece no conto em três instâncias:

a. O primeiro é o tempo que aparece na narrativa. Estabeleça datas,

verbos que indicam esse tempo.

b. O segundo diz respeito à construção da narrativa. O narrador começa a

contar a história pelo meio da história. Portanto, esse tempo é

cronológico ou não cronológico?

c. Existe um outro tempo que simboliza o psicológico da personagem.

Camilo, no caminho para a casa de Vilela se perde nos pensamentos, o

que nos dá a idéia de que o caminho até a casa da cartomante é mais

longo do que realmente é, pois esse momento pega parte significativa

do conto. O que poderia ser narrado em duas frases, transforma-se em

vários parágrafos tensos, inseguros e cheios de imprevistos. Que efeitos

de sentido trouxe para a obra a utilização pelo narrador desse tempo

psicológico?

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15. Qual o papel da cartomante no conto? Através da suas ações podemos inferir o

que o autor pensava sobre cartomantes?

16. Podemos dizer que a história poderia realmente acontecer? Você sabe o que é

crime passional? Explique.

SOBRE A CONFECÇÃO DE QUADRINHOS FIQUE POR DENTRO

A imagem, o desenho, serviu, há

milhares de anos, para o homem contar

a sua história. Eram os homens

das cavernas que representavam cenas

da sua vida cotidiana através de dese-

nhos chamados ― rupestres".

Arte rupestre representa a mais antiga

representação artística conhecida,

datada do período Paleolítico

Superior (40.000 a.C.) gravadas em

abrigos ou cavernas, nas paredes e nos

rochosos, ou também em superfícies

rochosas ao ar livre, mas em lugares

protegidos, normalmente datando de

épocas pré-históricas.

Ainda hoje, juntamente com o texto, o desenho é amplamente utilizada para contar

histórias, cuja conotação também representa a história do homem moderno.E

gêneros multimodais como os quadrinhos é importante observar:

Aspectos da estrutura composicional e do estilo das HQ;

Reconhecimento do contexto de produção;

O enquadramento que é importante na organização do espaço interior do

quadrinho e tem por finalidade dar a sensação de movimento, de ação, além

de facilitar a compreensão da mensagem;

A sequência narrativa.

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As onomatopéias (palavras que representam sons);

As interjeições;

Tipos de letra;

As metáforas visuais – constitui signos que têm ligação direta com

expressões do senso comum. Ex: ―ver estrelas‖; ―cobras e lagartos‖:

A fisionomia das personagens para a produção de sentidos;

A função dos quadrinhos é basicamente a de separar as vinhetas e que essa

―moldura‖ pode também ser irregular ou interrompida, em geral, quando a

cena é imaginária ou representa algum fato ocorrido em outro lugar;

Níveis de linguagem / variação linguística.

SAIBA MAIS

Gênero Multimodal – São gêneros que utilizam-se de várias linguagens:

escrita, desenho, imagem, cores, ícones, dentre outros, para a produção de

sentidos. São exemplos: Tiras, cartuns, caricaturas, charges,

Enquadramento – O enquadramento é algo que afeta diretamente a maneira

como os leitores percebem a sua história. Planos abertos aumentam a

sensação de imersão, closes criam um elo emocional mais forte com os

personagens.

Linhas cinéticas – Linhas que indicam movimentos.

Vinhetas ou quadrinho – Representa, por meio de uma imagem fixa um

instante específico ou de uma sequência interligada de instantes, que são

essenciais para a compreensão de uma determinada ação ou movimento.

Quadro ou Requadro – São as linhas que formam os quadros em que

ocorrem as cenas da história. É a moldura dentro da qual se desenha as

cenas.

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SÃO EXEMPLOS DE ALGUNS BALÕES:

• Figuras 1,2,3 – Diálogos;

• Figura 4 - Pensamento;

• Figura 5 – Balão de Angústia;

• Figura 6 – Balão Elétrico (grito);

• Figura 7 – Balão sussurro;

• Figura 8 – Duplo Balão

sequência de falas.

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PREPARANDO UMA HQ:

- Roteiro não-verbal

-Como serão as personagens?

- Que traços físicos e psicológicos (personalidade) elas terão?

- Quais serão as ações que terão na história?

- Que roupas usarão?

A roteirização dos quadros

- Que ações serão colocadas em cada quadro?

- Quantos quadros terão a história?

- Quais os balões que farão parte de cada quadro?

- Quais as cores?

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ATIVIDADE:

a. Transformar os contos abaixo em HQ:

A Metamorfose (Luís Fernando Veríssimo)

Aquele Estranho Animal (Mário Quintana)

Lixo (Luís Fernando Veríssimo)

Capítulo “Festa”, de Vidas Secas (Graciliano

Ramos)

11. REFERÊNCIAS

ANDRADE. Carlos Drummond. Poema ―Os ombros suportam o mundo‖ in Literatura Comentada. São Paulo: Nova Cultural.1988. p.54 e 55. ASSIS, Machado. A cartomante/Contos de Machado de Assis; roteiro, desenhos e arte final: Jô Fevereiro; cores Jô e Ciça Sperl. – São Paulo: Escala Educacional, 2006. – (Séire Literatura Brasileira em Quadrinhos). WALKER, L.; JARDIM, J.; HARLEY, K. Lixo Extraordinário. Documentário. Downtownfilmes. Brasil, Reino Unido. 2010. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=_pyR9qCd2F8>. CÂNDIDO, Antônio, 1918 – Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária/ 7. Ed. – São Paulo: Nacional, 1985.

CHARTIER, Roger. Práticas de Leitura. 1ª reimpresão.Estação Liberdade.

COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro, Rocco, 1986. p,

11 COSSON, Rildo. Letramento literário: teoria e prática. São Paulo: Contexto, 2009.

HANSEN, João Adolfo. Reorientações no campo da Leitura literária. In: Cultura

Letrada no Brasil: objetos e práticas/ ABREU, márcia, SCHAPOCHNI, Nelson (orgs).

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– Campinas, SP: Mercado das Letras, Associação de Leitura e do Brasil (ALB); São Paulo, SP: Fapesp:2005. – (Coleção História das Letras). KHALIL , Marisa Martins Gama. LABIRINTOS LITERÁRIOS: SUPORTES E MATERIALIDADES. LINGUAGEM – Estudos e Pesquisas, Catalão, vol. 6-7 – 2005

KLEIMAN, A. Modelos de letramento e as práticas de alfabetização na escola, in____.(org.) Os significados de letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, 1995, p. 15-64.

___________. Leitura: ensino e pesquisa. São Paulo: Pontes, 1989. MENEGASSI, R. J.; ANGELO, C. M. P. Conceitos de leitura. In: MENEGASSI, R. J. (ORG.). Leitura E Ensino – Formação de Professores EAD, 19. Maringá:EDUEM,

2005. PORTINARI, Cândido. Disponível em: http://www.portinari.org.br/ppsite/ppacervo/s _biogra.htm. Acesso em 12/06/2011

(Mário Quintana. Aquele estranho animal. Caderno H, Porto Alegre, 1973. In

Português de todo dia, 7.ª série, Luís Agostino Cadore, Editora Ática, São Paulo,

4.ª edição, 1990.)

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas. 58ª Ed. Rio de Janeiro: Record. 1986. Pg.71 a 84.

RANGEL, Samuel (Org). Manual de Teoria Literária.Petrópolis. Vozes, 1985. 192p.

SAMUEL, Rogel (Org) Manual de teoria literária. Petrópolis: Vozes, 1984 SHUSTERMAN, Richard. Vivendo a arte: o pensamento pragmatista e a estética popular. São Paulo: 34, 1998. VERÍSSIMO, Luís Fernando. A Metamorfose.In Ed Mort e outras Histórias. Círculo do livro, São Paulo, 1979.pg.32 __________, Lixo. A Palavra é Humor.São Paulo: Scipione.1989. ZAPPONE. Mírian H.J. Modelos de letramento literário e ensino da literatura: problemas e perspectivas.In: revista Teoria e Prática da Educação. Vol.3, n. 10, 2007.

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