secretaria de estado da educaÇÃo … · de acordo com os pcn's (1999, p. 39), a geografia...

17

Upload: doanthu

Post on 09-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

NÚCLEO REGIONAL DA EDUCAÇÃO DA ÁREA METROPOLITANA NORTE

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

ÁREA: GEOGRAFIA

LUIZ FERNANDO MARQUES

AS POSSIBILIDADES DE USO DA LITERATURA NO ENSINO DA GEOGRAFIA ESCOLAR

CURITIBA

2012

1 INTRODUÇÃO

No decorrer do tempo a Geografia vem passando por muitas mudanças, que vão desde uma nova e moderna análise de seus conceitos, seus fundamentos, até suas relações e envolvimento com outras áreas do conhecimento humano, a exemplo da Literatura, das Artes e diversas outras formas do saber.

Hoje, o ensino da Geografia, assim como as outras disciplinas curriculares, se torna mais facilitado, a partir do momento em que conta com a diversidade de recursos didáticos disponíveis, a exemplo de aulas de campo, recursos audiovisuais, cartografia e da Literatura.

Então, questiona-se: por que a maioria dos professores de Geografia não trabalha com Literatura e Geografia juntas, isto é, não procuram ensinar a ciência geográfica se utilizando da Literatura?

Na tentativa de responder a essa questão e desenvolver a busca de algumas respostas, neste texto vamos discorrer sobre algumas das possibilidades de se inserir a Literatura com o propósito de oferecer apoio ao ensino-aprendizagem da Geografia, como um recurso significativo e relevante. Considerando que a Língua Portuguesa e a Literatura são elementos essenciais e indispensáveis para a aprendizagem, justifica-se sua inserção no ensino da Geografia, pois traz valores enriquecedores para o conteúdo dessa área, contribuindo para a melhoria da qualidade de ensino e para a ampliação do conhecimento dos educandos.

Considere-se ainda que a Literatura, ao ser usada nas aulas de Geografia, possibilita a interação de temas afins abordados pela interdisciplinaridade existente entre Geografia e História, por exemplo; ou Geografia e Ciências, de tal forma que cada área curricular da Geografia se inter-relacione com momentos e livros da Literatura, produzidos por descrições e relatos do contexto vivenciado pela sociedade, pois sua exposição permite um aprendizado ampliado acerca do tema, tendo como base de ensino o planejamento de Geografia.

O objetivo geral do desenvolvimento deste trabalho foi pesquisar alguns princípios básicos que podem ser conquistados pelo ensino interdisciplinar da Geografia aliado à Literatura, e como o professor de Geografia pode contribuir

para que os alunos adquiram o hábito de leitura como metodologia significativa de aprendizagem e desenvolvimento do conhecimento.

Também se pretendeu incentivar os docentes da disciplina de Geografia da educação básica a trabalharem empregando obras literárias, em especial os contos curtos, em suas aulas, conduzindo os educandos a entenderem que podem adquirir conhecimento mais sólido da ciência geográfica por meio da leitura.

A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste estudo tem como base a pesquisa bibliográfica e entrevistas dirigidas que foram aplicadas com os professores e alunos da disciplina de Geografia, quando o material didático foi aplicado na escola do professor PDE.

Os estudos dirigidos são meios pelos quais se pode, não somente expor, mas também aplicar o conhecimento acerca da integração didática possível entre Literatura e Geografia, considerando que esta é a “ciência que estuda a descrição da superfície da Terra, seus acidentes físicos, climas, solos e vegetações, e as relações entre o meio e os grupos humanos, a economia da produção e do consumo” (FORNARI, 2001, p. 125), cujos conhecimentos podem ser enriquecidos com as intervenções da Literatura no saber geográfico, tanto físico como humano.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os diversos campos do conhecimento, em seus mais variados aspectos científicos, culturais e sociais, conduzem o ser humano a identificar a sua realidade e ampliar sua apreensão dessa realidade, compreendendo o mundo que o cerca e considerando as novas possibilidades e alternativas do seu espaço. Nesse sentido, a Geografia, na sua prática escolar, tem papel relevante para a formação do aluno-cidadão à medida que esta fornece mecanismos para a leitura da realidade e ajuda-o a aprender a observar, perguntar, descrever, comparar e contextualizar os acontecimentos, considerando as dimensões de espaço e tempo, em níveis científicos. (COLFERAI e GOMES, 2012, p. 10). Essa citação ressalta que o estudo da Geografia envolve saberes sociais, culturais e históricos, e sua exposição e descrição é feita pela Literatura em suas mais variadas formas. Para Souza (2012, s. n.), há indicadores que sugerem que, para ter sucesso profissional na tarefa de ensinar, é necessário ao professor conhecer, dominar e articular os vários elementos que compõem o seu trabalho, como conteúdos, realidade do educando, teorias e metodologias, avaliação e aprendizagem.

Nesse cenário, constata-se que, hoje, a compreensão e explicação de mundo devem ser contempladas sob a visão dos avanços tecnológicos que surgiram no decorrer do tempo e que proporcionaram transformações socioculturais, econômicas e até mesmo geográficas no planeta Terra. Assim, a informação, a Literatura e outras disciplinas sociais participam hoje do ensino da Geografia e precisam ser valorizadas e utilizadas pelos professores no exercício da sua tarefa de ensinar e difundir o conhecimento.

2.1 A importância da interdisciplinaridade entre a Literatura e a Geografia

De acordo com os PCN's (1999, p. 39), a Geografia reflete em seu conteúdo um conhecimento interdisciplinar, pois não tem a capacidade de explicar o mundo sozinha, precisando, sim, se relacionar com outras ciências, conservando sua identidade, mas sendo acrescida de outros saberes e estabelecendo uma unidade coerente, embora se identificando com a diversidade e abrindo nova visão por meio dessa integração.

No ambiente escolar, a Literatura já se encontra associada às disciplinas de História e às demais Ciências Humanas, porém entende-se que ela apresenta igualmente uma excelente relação direta com o estudo da Geografia, que também é uma ciência humana, uma vez que muitas das obras literárias apresentam localizações não somente históricas, mas também geográficas, que oferecem maior conhecimento e sabedoria aos educandos. Segundo Oliveira e Moura (2010, s. n.), nos últimos anos, várias pesquisas com base na produção literária vem contribuindo com o ensino de Geografia, abrindo possibilidade de um entendimento real e objetivo a partir da inter-relação entre a linguagem científica e a linguagem artística. O geógrafo tem o papel de produzir material que busque explicar a espacialidade de um lugar, e esse processo pode ser enriquecido com a Literatura, que se torna ferramenta para os exercícios geográficos, ao fornecer uma síntese sobre uma realidade ou um determinado lugar (OLIVEIRA e MOURA, 2010, s. n.).

A Geografia tem como um de seus objetivos estudar a organização da sociedade e da natureza, assim como o espaço e a interação entre todos esses elementos, suas transformações, diferentes ângulos e mudanças. Entre seus objetivos de estudo também se encontram os conflitos humanos, o uso dos recursos disponíveis pelo homem e a preservação da natureza.

Portanto, é necessário que o professor reconheça que o estudo da Geografia esteja direcionado principalmente aos alunos, para oferecer experiências concretas, relacionando o seu aprendizado com a vivência deles, pois esse reconhecimento é fundamental para que a aprendizagem dos alunos seja

significativa. A propósito, Claval (2002, apud OLANDA; ALMEIDA, 2008, p. 21), em sua obra, escreve que, para enveredar pela abordagem da cultura na Geografia, é essencial extrapolar o visível, o material, reconhecendo que, simultaneamente às lógicas econômicas, sociais ou políticas, há as representações de signos e símbolos pelos quais apreendemos o mundo.

Essa realidade emerge, por exemplo, no estudo da Geografia Cultural por meio da literatura, pois apresenta a representação de uma realidade onde símbolos, identidade e cultura são redefinidas por meio de um diálogo com as ciências humanas fundamentadas na Antropologia, na Sociologia, na História e na Geografia.

Ao se falar em Geografia, se está falando acerca do homem no espaço geográfico, da sua relação com o tempo e com o universo que o cerca e, também, da sua vivência familiar, cultural e social.

Literatura e Geografia têm inúmeros pontos em comum, e essa relação é de grande importância, pois elas, juntas, mostram a mudança sofrida pelo homem e pela sociedade, considerando que para o ensino da geografia em todas as modalidades de ensino esta relação com a Literatura, que é um tema vastamente trabalhado quando se estuda a língua materna, é essencial, pois lega ao professor mais um recurso a ser utilizado, espaços-outros além daquele que seu aluno vivencia (BERALDI, 2011, s. n.).

O estudo da Geografia se faz em um específico campo científico de conhecimento e tem a oportunidade atualmente de ampliar a capacidade de entender conceitos geográficos, dando novas oportunidades para criar sua identificação e reconhecimento por meio de vivências, culturas, identidades étnicas. Essa identificação pode ser retratada por meio de palavras específicas e da cultura literária, sob as mais variadas formas. Para Antonello (2005, p. 7), considera-se que o texto literário, ao se apresentar como uma reelaboração da realidade se constitui em um potencial para apreensão da produção espacial ao permitir a compreensão das relações socioespaciais tanto no plano do pensamento objetivo/racional como no plano da subjetividade.

Motta (2012) refere que os projetos de pesquisa interdisciplinares podem fazer integração entre “as disciplinas de Português, História, Geografia, Arte e Matemática, a partir das pesquisas e trabalhos dos alunos, em que os mesmos serão os pesquisadores e criadores em escolas e comunidades (povoados e municípios)”, cujas ações e descrições ganham importância, atraem os alunos para os conteúdos programáticos e valorizam os estudos, conforme recomendam os PCN (2000, p. 46-47).

A Geografia também traz à tona na sala de aula diversas paisagens e lugares retratam espaços diferentes, permeados por seus aspectos sociais e culturais, relatando a identidade do seu povo e seus habitats. Mesmo ao ultrapassar as

fronteiras disciplinares do saber escolar, a Geografia reforça o conceito de lugar e o espaço vivido, oferecendo a sua contribuição no processo de aquisição do conhecimento e contribuindo para que a arte literária, por sua excelência, reforce a ciência e o conhecimento já identificado.

Na combinação de Geografia com Literatura, buscam-se caminhos possíveis para que os alunos entendam melhor o ambiente em que vivem e a partir daí tomem decisões para possíveis mudanças. Precisando criar expectativas, incentivando a leitura, fazendo com que o aluno crie o hábito da leitura, despertando para a curiosidade e aprendizado. A leitura deve ser um dos principais momentos em sala de aula, pois a formação de leitores é um dos papéis da escola (COLFERAI e GOMES, 2012, p. 9).

Para Tuan (In: OLANDA e ALMEIDA, 2008), “o lugar é o conceito que centraliza o estudo do ser humano sob a visão humanista, considerando que o homem é capaz de compreender o espaço e, por meio dele, estende sua experiência de lugar e mundo, uma vez que homem e mundo não existem um sem o outro”.

O ser humano sempre esteve presente nas investigações geográficas, todavia estas se fundamentavam na perspectiva humanista, a qual buscava alargar o conceito de indivíduo humano, ou seja, procurava-se ampliar a visão de pessoa humana, as suas ações e seus produtos. O viés humanístico avança no sentido de investigar como as atividades humanas e os fenômenos geográficos podem revelar a qualidade da conscientização humana em relação ao meio em que vive. (OLANDA e ALMEIDA, 2008, p. 8).

O que tem seu início sob a visão de um espaço indiferenciado, aos poucos vai-se transformando em um lugar, pela ação do homem, pois este vai lhe acrescentando identidade, de tal forma que, ao final, se constitui em uma tradução, ou num retrato da sua experiência e vivência, exposta pela obra literária. Assim, Lefebve (1980, apud OLANDA; ALMEIDA, 2008, p. 22), sugere que a linguagem literária possa de certa maneira refletir, na sua estrutura, os objetos, as ideias, as sensações que comunica; que ela possa de algum modo imitar o seu conteúdo. (...) A obra representa o mundo, mas é também uma visão do mundo e, finalmente, uma tomada de posição sobre o mundo.

Pode-se então afirmar com todas as letras que a linguagem literária é uma representação cultural que permite uma identificação com a Geografia, por meio da leitura, compreensão e construção do espaço geográfico.

2.2 A Literatura e sua influência no ensino da Geografia

Conforme cita Bastos (1998, apud DCE´s, 2008, p. 84), “a literatura, em seus diversos gêneros, pode ser instrumento mediador para a compreensão dos processos de produção e organização espacial; dos conceitos fundamentais à abordagem geográfica e, também, instrumento de problematização dos conteúdos”.

A obra literária é uma produção que contempla a construção de um espaço muitas vezes ficcional, que, no entanto é construído com base em elementos que envolvem categorias da geografia, como lugar, espaço, território. Ainda que não haja necessariamente o rio, a rocha, a natureza nua, mesmo assim muitas obras literárias merecem ser estudadas geograficamente, porque fazem leituras do espaço que podem contribuir para pensarmos a linguagem geográfica, como um exercício, como uma forma de nos localizarmos no espaço geográfico (BERALDI, 2011, s. n.).

No mesmo sentido, Antonello, Moura e Tsudamoto (2005, apud COLFERAI e GOMES, 2012, p. 8), afirmam que a Literatura, como recurso para o ensino de Geografia, tem como função educar para conduzir o sujeito a ver, enxergar, questionar, observar e analisar o que já existe de fato, ampliando a sua percepção de mundo, bem como compreender que a literatura mostra o espaço por ele vivido em uma relação com a sociedade.

O sentido pedagógico da utilização da Literatura no ensino-aprendizagem da Geografia é conduzir o aluno a se posicionar, após uma adequada reflexão, acerca do “seu modo de vida, das condições que o meio pode oferecer para se ter uma vida mais digna, não alienada. É um meio para se compreender o mundo, ampliando a visão desse mundo” (COLFERAI e GOMES, 2012, p. 9).

Portanto, pode-se reconhecer que o professor de Geografia, ao trabalhar com Literatura em suas aulas, “deve pautar a abordagem geográfica às possibilidades oferecidas pela obra, considerando a adequação da linguagem à etapa de escolarização dos alunos” (DCE’s, 2008, p. 84).

Como ensinam Oliveira e Moura (2010), “para trabalhar os textos literários em Geografia, o professor precisa definir os objetivos da leitura e escolher as publicações que melhor se adaptem aos conteúdos a serem ensinados. Os pontos que serão focados devem estar claros”.

E em se tratando de contos, há uma vasta gama de textos que podem ser selecionados e escolhidos, de acordo com a série, a classe, o contexto escolar, de tal maneira que a sua leitura venha a ser prazerosa, além de ofertar conhecimento.

Para Silva (2012, s. n.), “literatura é a arte do pensar, do imaginário, do aprender a fazer e do aprender a ser”, uma vez que se possa alcançar a mensagem que o escritor busca transmitir, como uma aprendizagem para toda a vida.

Para o professor, a Literatura contribui bastante, em todas as áreas do ensino-aprendizagem, considerando que, para oferecer apoio ao aluno para desenvolver as suas habilidades, é preciso “dar-lhes a oportunidade de entender a si mesmo, para depois poder se compreender e analisar o que é solicitado” (SILVA, 2012, s. n.).

Por sua vez, Tissier (1991, apud OLANDA; ALMEIDA, 2008, p. 14), comenta que o encontro da Literatura com a Geografia pode ser identificado pela leitura de obras que apresentam as descrições literárias como alvos de criação voltada para o delineamento geográfico, pois “o texto se refere a um lugar preciso; temático, ele se vincula à paisagem, ao conteúdo humano ou social; epistemológico, o leitor atualiza o sentido dos lugares, as representações”. Assim, insere o conhecimento transmitido pelo texto em seu relacionamento com a cultura e a interdisciplinaridade.

Em função da crescente valorização que a nossa época dá à linguagem como fator essencial na formação da criança e dos jovens, a literatura contemporânea tem supervalorizado o ato de narrar – compreendido como ato de criar através da palavra, daí a utilização cada vez maior da metalinguagem, com histórias que falam de si mesmas e do seu fazer-se (SILVA, 2012, s. n.).

Sob esse entendimento, a Literatura entra como uma atividade que não apenas complementa, mas completa a aprendizagem, e precisa ser cada vez mais valorizada como atividade transdisciplinar, no atendimento à grade curricular.

Neste mundo globalizado, em que o desejo do acesso a bens materiais sufoca valores essenciais, em que tudo é passageiro e em que as inovações tecnológicas atraem o olhar, o professor precisa introduzir seus alunos no universo mágico da leitura, de forma criativa e prazerosa, para que, no futuro, eles possam alçar voos maiores. Para que a obra literária possa capturar o leitor, é necessário que seja apresentada ao aluno de forma adequada (SILVA, 2012, s. n.).

Ao se inserir a Literatura no estudo da Geografia, pode-se alcançar uma perspectiva bem mais ampla quanto à compreensão da realidade, a partir do conhecimento da cultura, do espaço e de suas significações, o que facilita a compreensão da relação do homem com o meio que ele produz e modifica. Segundo Olanda e Almeida (2008), as obras literárias revelam e informam sobre a condição humana: os estilos de vida, as características socioculturais, econômicas e históricas e os diferentes meios físicos de determinada área retratada. Nessa acepção, reconhece-se a obra literária como documento de

certa realidade, por situar coletividades ou indivíduos de determinado lugar. Com suas criações, os escritores refletem uma visão de vida, de espaço, de homem e de lugares de uma determinada sociedade em um certo período (OLANDA e ALMEIDA, 2008, p. 8).

Nesses termos, ficam validados cada vez mais os esforços de juntar a leitura de obras literárias com o estudo da Geografia, como visão educacional de alto valor para a aquisição do conhecimento.

2.3 Geografia e sua relação com os contos

Ao estabelecer a comunicação com seus semelhantes, o homem passou também a criar narrativas com significação que pudessem transmitir seu pensamento aos que o ouviam, e, na sua transmissão, tanto utilizava fatos reais quanto crendices, histórias e lendas, que, inclusive, ganharam perpetuidade no domínio popular, como, por exemplo, a literatura de cordel.

Estudiosos de todos os pontos da Terra e pertencentes às mais diferentes áreas de pesquisa (Filologia, Linguística, Folclore, Etnologia, Antropologia, História, Literatura, Pedagogia etc.) tanto têm tentado descobrir os misteriosos caminhos seguidos por essa literatura popular que, vinda das origens dos tempos, chegou até nós (SILVA, 2012, s. n.).

Segundo descreve Araújo (2012), “o conto surgiu no Brasil, vindo sob a forma de narrativa oral transmitida pelos portugueses”. Tem uma forma prática e, em linguagem simples, narra histórias, ocorrências reais ou fábulas, em um texto curto, que, por essas características, “é tão bem aceito em diferentes tipos de meios de comunicação, não somente através dos livros”. Refere Silva (2012) que o conto procura lidar com um elemento repressivo complicado: a sociedade, que ainda repreende certos assuntos mesmo diante da modernidade em que se encontra. A essência da literatura consiste na obra de arte literária, que é a organização verbal significativa da experiência interna e externa, das vividas do eu particular com as transmitidas e influenciadas pelo mundo.

A literatura brasileira é repleta de contos, de fábulas, de histórias que vieram ao longo do tempo expressar as suas concepções de mundo, as quais celebram temas de vida e de morte; figuras, direcionamentos tanto para crianças quanto para adultos, pois o ato de escrever faz parte da comunicação humana e está presente nas expressões da linguagem, nas construções literárias e invenções.

Uma das áreas geográficas do Brasil que mais chama a atenção e traz obras com contos, histórias e mitos publicados, é o Pantanal Mato-grossense, com toda a sua riqueza como refere Mendes.

Observa-se que, desde a colonização do país, essa área tem dado origem a muitas lendas e histórias, contadas em versos e em prosa pelos caboclos e pantaneiros.

É uma exuberante e diversificada reserva, entre outras, conservada como acervo do patrimônio da humanidade, e sua extensão traz conteúdos que integram o currículo escolar e trazem oportunidades para se estudar e ilustrar temas como hidrografia, clima, relevo, desenvolvimento de espécies animais e vegetais, meio ambiente, ocupação humana, fauna, flora, entre muitos outros temas pertinentes, os quais podem ser desenvolvidos a partir da Literatura (OLANDA e ALMEIDA, 2008).

Questões como pesquisas acerca dos aspectos geográficos da região descrita nas lendas, ou dos aspectos culturais da população podem ser levantados nos estudos da Geografia, por meio da leitura de obras da literatura regional e nacional.

Os contos, por apresentarem textos mais curtos, proporcionam a possibilidade de uma leitura mais rápida e permitem uma visualização do texto por meio de sua leitura integral e imediata, o que ajuda o professor, em uma só aula, a alcançar melhor acesso ao conhecimento, como uma atividade viável de conquistar os alunos, levá-los a adquirir o gosto pela leitura e identificar os aspectos descritos com o conteúdo que está sendo ensinado, por meio de uma visão mais crítica da realidade (BASTOS, 2008).

Uma indicação de peso para o estudo da Geografia através de um conto é mencionada por Beraldi (2011), nos seguintes termos:

Uma Vela Para Dario é o título do conto de Dalton Trevisan, que nos dá ideias sobre territórios, espaços e principalmente sobre fronteiras, todas construções sociais que passam pelas escolhas, ou pela não-escolha das pessoas que compartilham um mesmo espaço. Afinal, são as categorias geográficas, construções sociais em um dado momento, numa certa conjuntura.

Também a mencionada autora ainda cita autores que tratam da Literatura e Geografia, a exemplo de “Rui Moreira, Carlos Augusto de Figueiredo Monteiro, Cláudio Benito de Oliveira Ferraz, Wenceslau Braz Júnior e o trabalho recente de Júlio Suzuki sobre o conto denominado ‘Preciosidade’, de Clarice Lispector” (BERALDI, 2011, s. n.).

São obras que tratam do cotidiano e que reproduzem conhecimentos geográficos de grande expressão, tanto como linguagem quanto como ciência.

É importante que o professor considere os pré-julgamentos dos alunos quanto às obras literárias, as quais, mesmo sem conhecer, os alunos muitas vezes já rotulam de maneira depreciativa, reagindo com manifestações de rejeição.

Para mudar esse posicionamento, cabe ao professor escolher com cuidado e criatividade os textos dos contos a serem utilizados, para que sua leitura proporcione uma aprendizagem adequada e também conduzam os alunos a gostarem de ler, independentemente do que lhes é apresentado como conteúdo.

O relato em forma de contos é um gênero tão antigo quanto a própria imaginação do ser humano. "Muitos têm em, suas origens mais remotas, certas características e transcendências cujo sentido foi-se perdendo com o passar dos tempos, ficando apenas a mera envoltura poética ou episódica", como descreve Menedes Peoyo (apud SILVA, 2012, s. n.).

Os textos literários, quer lidos, quer escritos ou também representados, acabam por se tornar uma forma de manifestação da liberdade e de modificação de conceitos e da aprendizagem do ser humano.

2.4 Como incentivar a inter-relação entre Geografia e Literatura

Cumprindo um dos propósitos da elaboração deste artigo, é apresentada uma orientação metodológica que serve para auxiliar professores e alunos na seleção de obras e atividades que utilizem a Literatura para leitura, compreensão e interpretação do espaço geográfico em sala de aula.

A leitura dirigida traz como objetivo conduzir os alunos a ler e estudar cada vez mais e dá o apoio para que os alunos façam novas interconexões entre as disciplinas de seu currículo escolar, a exemplo da Literatura e da Geografia abordadas neste artigo. Com isso, ajuda a estabelecer os fundamentos de uma importante tarefa pedagógica do dia a dia escolar.

A prática da leitura de obras que estão em evidência na Literatura de boa qualidade gera a possibilidade de oferecer ao leitor uma opção pedagógica diferente, pois estimula o desenvolvimento da sua capacidade de interpretação, o despertar da sua imaginação e, também, a oportunidade de criar novos textos.

Nesse sentido, a ação docente se destaca, pois, ao trabalhar com a Literatura, o professor consegue estabelecer a abordagem geográfica dentro das possibilidades que são descritas pela obra em estudo, além de considerar sua adequação à própria aprendizagem, dentro das recomendações e princípios

educacionais; ou seja, nessa intervenção docente, ganha destaque a relação dialética entre a obra, ou parte dela, e as concepções cotidianas dos alunos sobre o tema tratado. Ao trabalhar com literatura, o professor deve pautar a abordagem geográfica às possibilidades oferecidas pela obra, considerando a adequação da linguagem à etapa de escolarização dos alunos (SEED, 2008, p. 52).

Ao final, pode-se afirmar que o estudo da Geografia e da Literatura vão muito além da aprendizagem de duas das disciplinas que integram o currículo escolar, pois, acima de tudo, ela relata a vivência e a prática social, por meio de obras literárias, como complementação enriquecedora do conhecimento da realidade vivenciada.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O incentivo à leitura literária, sob as suas mais variadas formas, tem por objetivos, além de estimular o gosto pela leitura, desenvolver a sensibilidade, a imaginação e a criatividade, além de oferecer apoio para se reconhecer o contexto histórico e geográfico de suas narrativas. Com essas qualidades, o ensino da Geografia pode, com grande sucesso, conduzir os leitores, não somente a adquirir o gosto pela leitura, mas também a aprender de maneira constante, por meio da leitura dirigida, os temas que constam de sua grade curricular.

Cabe ao professor, seja qual for a disciplina que lecione, incentivar, direcionar, orientar na escolha dos livros, e também utilizar didaticamente os recursos que as obras literárias oferecem, para ilustrar suas aulas e ajudar os alunos a adquirirem um conhecimento cada vez mais amplo.

Do estudo feito durante o Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná, edição 2010, pode-se concluir que a categoria literária dos contos curtos é uma modalidade que pode e deve ser apresentada para leitura, desde os primeiros anos de aprendizagem, passando pela infância e adolescência, inclusive chegando à fase adulta, como uma forma de se adquirir conhecimento e prazer em ler. As obras literárias, quando bem selecionadas, servem de apoio para o ensino das mais variadas disciplinas, como a Geografia, por exemplo, reforçando mais uma vez o que já foi escrito anteriormente.

Nos dias atuais, o ensino de Geografia é considerado por muitos como uma atividade cansativa e enfadonha, cujos conteúdos apresentados se mostram um pouco distantes da realidade do aluno. Por isso, cabe ao professor apresentar mecanismos que permitam abordagens criativas, com maior

interação entre o aluno, o professor e o conteúdo. Para tanto, com a Literatura como recurso tem-se uma grande ajuda para se alcançar o entendimento do conteúdo geográfico com maior expressão e espontaneidade e assim acabar com esse tipo de preconceito.

Os contos, com sua forma narrativa facilitadora da leitura, e por sua apresentação de texto reduzida, podem conduzir o leitor a novos conhecimentos e questionamentos muito maiores em relação ao conteúdo que expõe, dando oportunidade para uma aprendizagem produtiva por meio de leituras dirigidas.

No dia a dia em sala de aula, constata-se que os alunos não estão habituados à leitura, não tem interesse real por ela, e, se não forem incentivados pelos professores, eles não se dedicarão à leitura. Porém, ao adquirirem esse hábito, irão compreender que sua aplicação trará o desenvolvimento da capacidade de criar, interpretar, compreender e assimilar muito melhor o conhecimento.

O incentivo à leitura é parte integrante da didática que o professor deve utilizar para o ensino-aprendizagem da Geografia. Ao utilizar a Literatura como meio de ensino, apresentando sugestões de obras que são disponibilizadas na biblioteca escolar e até mesmo conduzindo os alunos a frequentarem a biblioteca pública mais próxima no bairro, o professor estará ofertando uma orientação que estimula os alunos a buscarem maior conhecimento extracurricular e traz como resultado a conquista do gosto pela leitura e pelo conhecimento geográfico e literário.

REFERÊNCIAS

ANTONELLO, I. T. O olhar geográfico na interioridade do olhar sensível da obra literária. Londrina: UEL, 2005. Disponível em: <geografiahumanista.files. wordpress.com/2009/11/ideni.pdf>. Acesso em 06 nov. 2012.

ANTONELLO, I. T.; MOURA, J. D. de; TSUDAMOTO, R. Y. Múltiplas Geografias: Ensino – Pesquisa – Reflexão. Londrina: Edições Humanidade, 2005. v. II. In: COLFERAI, Deniza Inês Giongo; GOMES, Marquiana de Freitas Vilas Boas. A literatura como instrumento para uma geografia do campo. Disponível em: <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/ pde/arquivos/1605-8.pdf>. Acesso em 06 nov. 2012.

ARAÚJO, Ana Paula de. Redação. Conto. Disponível em: <http://www.infoescola. com/redacao/conto>. Acesso em: 07 nov. 2012.

BASTOS, A. R. V. R. Espaço e Literatura: algumas reflexões teóricas. In: Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Geografia. SEED/PR, 2008.

BERALDI, Francielle Bonfim. Geografia, Literatura e fronteira entre eu/outro: leituras do espaço ficcional e vivido através do conto “Uma vela para Dário”, de Dalton Trevisan. Disponível em: http://docs.fct.unesp.br/semanas/geografia/2011-ensino %20 e%20epistemologia/Francielle%20Bonfim%20Beraldi.pdf> Acesso em 06 nov. 2012.

BRASIL. DCE. DIRETRIZES CURRICULARES DA EDUCAÇÃO BÁSICA – GEOGRAFIA. SEED/PR, 2008.

_____. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Ensino Médio. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf>. Acesso em 07 nov. 2012.

_____. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 1999.

_____. SEED. Diretrizes Curriculares de Geografia para os anos finais do Ensino Fundamental e para o Ensino Médio. Curitiba, 2008.

CLAVAL, P. Campo e perspectivas da Geografia Cultural. In: OLANDA, D. A. M; ALMEIDA, M. G. A Geografia e a Literatura: uma reflexão. Florianópolis:

Geosul, 2008. Disponível em: <www.periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/ article/view/.../ 11722>. Acesso em 07 nov. 2010.

COLFERAI, Deniza Inês Giongo; GOMES, Marquiana de Freitas Vilas Boas. A literatura como instrumento para uma geografia do campo. Disponível em: <www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/1605-8.pdf>. Acesso em 06 nov. 2012.

FORNARI, E. Dicionário Prático de Ecologia. São Paulo: Aquariana, 2001.

LEFEBVE, M. Estrutura do discurso da poesia e da narrativa. In: OLANDA, D. A. M; ALMEIDA, M. G. A. Geografia e a Literatura: uma reflexão. Florianópolis: Geosul, 2008. Disponível em: <www.periodicos.ufsc.br/index.php/ geosul/article/ view/.../11722>. Acesso em 06 nov. 2010.

MENDES, Edilene Arcanjo de Figueiredo. O Pantanal do Mato Grosso do Sul. São Paulo: Clube dos Autores, 2010.

MOTTA, Adilson. Projeto Interdisciplinar de resgate sócio-histórico, geográfico e cultural de povoados e municípios. 2011. Disponível em: <http://www.webartigos. com/artigos/projeto-de-resgate-historico-geografico-e-cultural-de-povoados-e-cidades/73175/>. Acesso em: 07 nov. 2012.

O PANTANAL MATO-GROSSENSE. Disponível em: <http://www.passeiweb. com/na_ponta_lingua/sala_de_aula/geografia/geografia_do_brasil/regiao_centro_oeste/pantanal_matogrossense>. Acesso em 07 nov. 2012.

OLANDA, D. A. M; ALMEIDA, M. G. A Geografia e a Literatura: uma reflexão. Florianópolis: Geosul, 2008. Disponível em: <www.periodicos.ufsc.br/index.php/ geosul/article/view/.../11722>. Acesso em 06 nov. 2010.

OLIVEIRA, Alan C. Araújo de; MOURA, Aparecido Roberto de. A literatura como ferramenta interdisciplinar no ensino de Geografia. Disponível em: <http://armoura.blogspot.com.br/2010/08/literatura-como-ferramenta.html>. Acesso em 07 nov. 2012.

SILVA, Maria Oziane Pereira da. A arte do conto. Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/jornal/materias/0322.html>. Acesso em: 07 nov. 2012.

SOUZA, Valtey Martins de. A importância da Didática para o ensino de Geografia, considerando a avaliação escolar no ensino fundamental e/ou médio. Disponível em: <http://www.webartigos.com/artigos/a-importancia-da- didatica-para-o-ensino-de-geografia-considerando-a-avaliacao-escolar-no-ensino-fundamental-e-ou-medio/50932/>. Acesso em 06 nov. 2012.

TISSIER, J. Géographie et Litterature. In: OLANDA, D. A. M; ALMEIDA, M. G. A. Geografia e a Literatura: uma reflexão. Florianópolis: Geosul, 2008.

Disponível em: <www.periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/... /11722>. Acesso em 06 nov. 2012.

TUAN, Yi-Fu. Geografia Humanística. In: OLANDA, D. A. M; ALMEIDA, M. G. A. Geografia e a Literatura: uma reflexão. Florianópolis: Geosul, 2008. Disponível em:<www.periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view//11722>. Acesso em 07 nov. 2010.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Biblioteca Central. Normas para apresentação de documentos científicos. Curitiba: UFPR, 2002.