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Fundações e Estruturas de Suporte
MESTRADO EM TECNOLOGIA E GESTÃO DE CONSTRUÇÕES
FUNDAÇÕES E ESTRUTURAS DE SUPORTE
APONTAMENTOS DAS AULAS TEÓRICAS
JOSÉ FILINTO CASTRO TRIGO
JOSÉ CÂNDIDO FREITAS
OUTUBRO DE 2009
CAPÍTULO 1 – VERSÃO 1
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Fundações e Estruturas de Suporte i
Prefácio
Este conjunto de apontamentos pretende constituir um apoio ao estudo dos temas
leccionados na disciplina de Fundações e Estruturas de Suporte do Mestrado em
Tecnologia e Gestão de Construções, do Instituto Superior de Engenharia do Porto.
Estruturado em capítulos que serão faseadamente disponibilizados aos alunos, este
conjunto de apontamentos, apresentado inicialmente com uma forma sintética, será
objecto de revisões e actualizações, que integrarão sucessivas versões, de modo a que
este evolua para um documento completo, compatível com os mais recentes
desenvolvimentos do Eurocódigo 2 (EC2), do Eurocódigo 7 (EC7) e das Normas que os
complementam, bem como com as tecnologias construtivas em permanente actualização.
Os autores consideram, por isso, bem-vindas todas as sugestões que possam contribuir
para a contínua melhoria deste documento e agradecem o seu envio para o endereço
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Fundações e Estruturas de Suporte ii
ÍNDICE
1 Introdução. Considerações gerais 1-1
1.1 Os Eurocódigos 1-1
1.2 Conceito de Segurança Estrutural – a sua evolução 1-1
1.3 Conceito de Segurança Estrutural – os Eurocódigos 1-2
1.4 Eurocódigo 7 – o seu desenvolvimento 1-3
1.5 Os Eurocódigos Estruturais 1-4
1.6 Eurocódigo 7 – a sua constituição e o seu campo de aplicação 1-4
1.7 Distinção entre Princípios e Regras de Aplicação 1-7
2 Bases do projecto geotécnico 2-9
2.1 Requisitos de projecto 2-9
2.2 Dimensionamento geotécnico com base no cálculo 2-13
2.2.1 Disposições gerais 2-13
2.2.2 Valores característicos 2-18
2.2.3 Valores de cálculo 2-19
2.2.4 Estados limites últimos 2-21
2.2.5 Estados limites de utilização 2-39
2.2.6 Valores limites dos movimentos 2-39
2.3 Outros métodos de dimensionamento geotécnico 2-41
2.3.1 Dimensionamento com base em medidas prescritivas 2-41
2.3.2 Dimensionamento com base em ensaios de carga e em ensaios em modelos
experimentais 2-42
2.3.3 Dimensionamento com base no método observacional. 2-43
3 Relatório do projecto geotécnico 3-44
3.1 Hipóteses, dados e cálculos 3-44
3.2 Supervisão, observação e manutenção 3-45
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Fundações e Estruturas de Suporte 1-1
1 Introdução. Considerações gerais
1.1 Os Eurocódigos
Os Eurocódigos Estruturais constituem um conjunto de Normas Europeias (EN) para o
projecto de estruturas de edifícios e de outras obras de engenharia civil, realizadas com
diferentes materiais.
Os Eurocódigos integram os conceitos práticos de segurança mais avançados e conduzem
a uma harmonização em matéria de projecto na União Europeia.
Este conjunto de Normas permite um melhor tratamento da incerteza por intermédio dos
coeficientes parciais de segurança.
O Eurocódigo 7 (EC7) conduz engenheiros civis geotécnicos e estruturais a partilharem
uma linguagem e filosofia de segurança comuns.
A listagem exaustiva dos estados limites últimos (ELU) e dos estados limites de utilização
(ELUt) a verificar em cada situação, bem como toda a informação contida no EC7, podem
contribuir decisivamente para a melhoria da qualidade e da segurança das obras
geotécnicas em Portugal.
1.2 Conceito de Segurança Estrutural – a sua evolução
Até ao século XIX, todas as construções foram concebidas e executadas de modo
empírico. Com a construção metálica surgiu a Resistência dos Materiais, introduzindo
argumentos racionais no projecto estrutural.
O princípio de segurança adoptado consistia em garantir que as tensões máximas na
parte crítica da construção fossem inferiores a uma tensão designada de segurança.
A tensão de segurança, segσ , era obtida dividindo a tensão de ruína do material, rσ , por
um coeficiente K, fixado de modo convencional.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 1-2
rseg K
σσ σ≤ =
Este conceito perdurou quase um século. Todos os progressos entretanto verificados nos
materiais, na mecânica estrutural e na quantificação das acções apenas permitiram ir
diminuindo K sem pôr em causa a segurança.
Em meados do século XX começa a abandonar-se esta concepção determinística da
segurança e a desenvolver-se a noção da segurança das construções de um ponto de
vista probabilístico. De acordo com esta abordagem, considera-se uma obra segura se a
sua probabilidade de ruína for inferior a um dado valor, previamente fixado. É o fim do
conceito de segurança “absoluta”.
Tal valor de probabilidade de ruína depende de inúmeros factores:
- diminuição da vida da obra;
- consequência da ruína;
- riscos de obsolescência;
- certos critérios económicos (valor de substituição, custo de manutenção, etc).
O caminho iniciado nos anos 60 (séc. XX) para uma análise racional da segurança nas
construções baseou-se nas seguintes etapas:
- definição dos fenómenos ou das situações que se pretendem evitar (estados
limite);
- estimativa dos riscos associados a estes fenómenos;
- adopção, nas construções, de disposições tais que a probabilidade de ocorrência
destes fenómenos seja suficientemente baixa para poder ser aceite.
1.3 Conceito de Segurança Estrutural – os Eurocódigos
O método probabilístico de análise da segurança é muito atraente mas conduz a
múltiplas dificuldades de aplicação.
Os Eurocódigos baseiam-se, por isso, numa abordagem semi-probabilística que, na
prática, se traduz por regras que introduzem a segurança, por diversas vias:
- por intermédio de valores representativos das diversas grandezas aleatórias
(acções e resistência dos materiais);
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 1-3
- através de coeficientes de segurança parciais que se procuram seleccionar e
distribuir, tendo em conta a prática anterior e o que se supõe ser a realidade com base
em cálculos probabilísticos mais complexos aplicados a casos particulares;
- introduzindo margens de segurança nos diversos modelos usados nos cálculos.
Em 1956, Brinch Hansen usou pela primeira vez o termo “projecto limite”:
“no projecto de qualquer estrutura devem, em princípio, efectuar-se duas análises
separadas: uma, para determinar a segurança contra a rotura e outra, para determinar
as deformações resultantes das condições de serviço.” Brinch Hansen ligou o conceito de
projecto limite ao conceito dos coeficientes parciais, introduzindo-os no código de
fundações dinamarquês.
Actualmente, para todas as estruturas geotécnicas é possível uma análise à rotura
(segurança) e uma quantificação dos deslocamentos (funcionalidade). Foi neste contexto
que se desenvolveu o Eurocódigo 7.
1.4 Eurocódigo 7 – o seu desenvolvimento
O desenvolvimento do Eurocódigo 7 experimentou diversas etapas. De forma resumida
apresentam-se, em sequência, as mais relevantes.
- 1980 – Acordo entre a Comissão das Comunidades Europeias (CCE) e a Sociedade
Internacional de Mecânica dos Solos e de Engenharia de Fundações (ISSMFE) para
elaboração de um projecto para o EC7.
- 1981 – Comissão “ad-hoc” que, em 1987, produziu um “draft model” para o EC7.
- 1987 a 1990 – Continuação do trabalho da Comissão no projecto do EC7, com o
patrocínio da CCE.
- 1990 – a CCE acorda com o Comité Europeu de Normalização (CEN) a transferência
para esta entidade normalizadora de todo o trabalho relativo aos Eurocódigos.
Participação da European Free Trade Association (EFTA). Criação da Comissão Técnica
TC-250 EC7-CEN/TC250/SC7.
- 1990 a 1994 – Um “project team” produziu o projecto do EC7 – Parte 1, aprovado
como ENV 1997-1 em 1994.
- 1994 a 2004 – Fase de 3 anos de inquérito. Seguidamente foram produzidos vários
projectos de norma por um “project team”. Em 2004 foi aprovada pelos organismos
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 1-4
nacionais de normalização (em Portugal pelo Instituto Português da Qualidade - IPQ) a
norma Europeia EN 1997-1 Eurocódigo 7: Projecto Geotécnico, Parte 1 – Regras Gerais.
- 1º semestre de 2009 - Publicação pelo IPQ da Norma Portuguesa NP EN 1997-1.
- 2013 - Integrará a legislação portuguesa.
1.5 Os Eurocódigos Estruturais
— EN 1990 Eurocódigo 0 – Bases do projecto de estruturas
— EN 1991 Eurocódigo 1 – Acções em estruturas
— EN 1992 Eurocódigo 2 – Projecto de estruturas de betão
— EN 1993 Eurocódigo 3 – Projecto de estruturas de aço
— EN 1994 Eurocódigo 4 – Projecto de estruturas mistas aço–betão
— EN 1995 Eurocódigo 5 – Projecto de estruturas de madeira
— EN 1996 Eurocódigo 6 – Projecto de estruturas de alvenaria
— EN 1997 Eurocódigo 7 – Projecto geotécnico
— EN 1998 Eurocódigo 8 – Projecto de estruturas para resistência aos sismos
— EN 1999 Eurocódigo 9 – Projecto de estruturas de alumínio
1.6 Eurocódigo 7 – a sua constituição e o seu campo de aplicação
A norma EN 1997–1 destina-se a ser usada como base geral para os aspectos
geotécnicos do projecto de edifícios e de obras de engenharia civil.
A norma EN 1997–1 é complementada pela norma EN 1997-2, que estabelece requisitos
para a realização e para a avaliação dos resultados de ensaios de campo e de laboratório.
Os valores das acções a considerar no projecto são estabelecidos na EN 1991 para os
vários tipos de construções. As acções provocadas pelo terreno, tais como as pressões de
terras, devem ser calculadas de acordo com as regras da EN 1997.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 1-5
A norma EN 1997–1 é composta por 12 capítulos e 10 Anexos:
Capítulos:
1. Generalidades
2. Bases do projecto geotécnico
3. Caracterização geotécnica
4. Supervisão da construção, observação e manutenção
5. Aterros, rebaixamentos, melhoramento e reforço do terreno
6. Fundações superficiais
7. Fundações em estacas
8. Ancoragens
9. Estruturas de suporte
10. Rotura hidráulica
11. Estabilidade global
12. Aterros
Anexos:
A (normativo) - Coeficientes parciais e de correlação para os estados
limites últimos e valores recomendados
B (informativo) – Informação base para os coeficientes parciais de segurança
C (informativo) – Exemplos de métodos para determinação de valores limite de pressões
de terras em paredes verticais
D (informativo) - Um método analítico para o cálculo da capacidade resistente
E (informativo) - Método semi-empírico para a estimativa da capacidade resistente
(ensaio pressiométrico)
F (informativo) - Métodos para a avaliação dos assentamentos
G (informativo) - Método para determinar a capacidade resistente presumida de
fundações superficiais em rocha
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 1-6
H (informativo) - Valores limites para a deformação estrutural e para o movimento da
fundação
J (informativo) – Lista de referência para a supervisão da construção e para a
monitorização
Os assuntos relacionados com a execução dos trabalhos e com a mão-de-obra são
objecto de outras normas europeias.
As Normas Europeias na área da Geotecnia, actualmente disponíveis, são:
EN 1536:1999 Execution of special geotechnical work – Estacas moldadas
EN 1537:1999 Execution of special geotechnical work – Ancoragens
EN 1538:2000 Execution of special geotechnical work – Paredes moldadas
EN 12063:1999 Execution of special geotechnical work – Cortinas de estacas-
-pranchas
EN 12699:2000 Execution of special geotechnical work – Estacas cravadas
EN 12715:2000 Execution of special geotechnical work – Injecções
EN 12716:2002 Execution of special geotechnical work – Jet grouting
EN 14199:2005 Execution of special geotechnical work – Micro-estacas
EN 14475:2006 Execution of special geotechnical work – Terra armada
EN 14490: Execution of special geotechnical work – Pregagens
EN 14679:2006 Execution of special geotechnical work – Deep mixing
EN 14731:2005 Execution of special geotechnical work – Ground treatment by deep
vibration
EN-ISO 13793:2001 Thermal performance of buildings – Thermal design of foundations
to avoid frost heave
A norma EN 1997 não cobre os requisitos especiais de projecto de estruturas sismo-
-resistentes. A norma EN 1998 fornece regras adicionais para os aspectos geotécnicos do
dimensionamento sísmico que completam ou adaptam as regras da EN 1997.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 1-7
EN 1998-5: Fundações, estruturas de suporte e aspectos geotécnicos
1. Generalidades
2. Acção sísmica
3. Propriedades do solo
4. Requisitos para localização e solos de fundação
5. Sistemas de fundação
6. Interacção solo-estrutura
7. Estruturas de contenção
As XX EN (NP EN em Portugal) correspondem à tradução para a língua de cada país das
diferentes Partes dos Eurocódigos e podem ser acompanhadas pelos respectivos Anexos
Nacionais.
- Nestes Anexos são definidos, nomeadamente, os Parâmetros Determinados a nível
Nacional (NDP – Nationally Determined Parameters), que correspondem a parâmetros
deixados em aberto nos Eurocódigos para escolha nacional.
1.7 Distinção entre Princípios e Regras de Aplicação
Nos Eurocódigos faz-se a distinção entre dois conceitos fundamentais, sobre os quais
assenta o articulado, e que são o conceito de Princípios e o de Regras de Aplicação, a
saber:
— Os Princípios englobam disposições gerais, definições, requisitos e modelos
analíticos para os quais não se permite qualquer alternativa, a menos de indicação
explícita no articulado; nos Eurocódigos os princípios são facilmente reconhecidos por
serem seguidos pela letra P.
— As Regras de Aplicação são regras geralmente reconhecidas como respeitando
os Princípios e satisfazendo os seus requisitos; é permitida a utilização de regras de
cálculo alternativas, diferentes das Regras de Aplicação indicadas nos Eurocódigos, desde
que se demonstre que tais regras alternativas estão de acordo com os Princípios
correspondentes e que são equivalentes no que respeita, por exemplo, à resistência ou à
durabilidade de uma estrutura.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 1-8
Exemplo:
A título de exemplo apresenta-se um excerto do EC7 que ilustra a diferença entre
princípio e regra de aplicação:
(1)P As hipóteses, os dados, os métodos de cálculo e os resultados da verificação da
segurança e da funcionalidade devem ser incluídos no Relatório do Projecto Geotécnico.
(2) O nível de detalhe do Relatório do Projecto Geotécnico deverá variar muito
dependendo do tipo de Projecto. Para Projectos simples uma simples folha poderá ser
suficiente.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-9
2 Bases do projecto geotécnico
2.1 Requisitos de projecto
A norma EN 1990 estabelece os princípios e os requisitos para a segurança, a
funcionalidade e a durabilidade das estruturas de edifícios e de outras obras de
engenharia civil, descreve as bases do projecto dessas estruturas e fornece orientações
sobre vários aspectos da fiabilidade estrutural.
Uma estrutura deve ser projectada e executada de modo a cumprir os requisitos:
- de resistência estrutural – deve suportar todas as acções e todas as influências
que possam ocorrer durante a execução e a utilização;
- de funcionalidade – deve desempenhar de forma adequada, durante a sua
utilização, as funções requeridas;
- de durabilidade – os requisitos de resistência estrutural e de funcionalidade
devem ser satisfeitos durante o período de vida útil da estrutura.
Estes requisitos devem ser satisfeitos com adequado grau de fiabilidade e de modo
económico.
A norma EN 1991 define acções e apresenta linhas de orientação para o projecto
estrutural de edifícios e de outras obras de engenharia civil, incluindo alguns aspectos
geotécnicos.
Com vista ao estabelecimento dos requisitos mínimos no que respeita à quantidade e à
qualidade da prospecção geotécnica, dos cálculos e das operações de controlo da
construção, deve ser identificado o grau de complexidade de cada projecto geotécnico,
bem como os riscos em termos de propriedade e de vidas.
No estabelecimento dos requisitos de projecto devem ser considerados os seguintes
factores:
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-10
a) natureza e dimensão da estrutura e dos seus elementos, incluindo quaisquer
requisitos especiais como a sua vida útil;
b) condições relativas à vizinhança da obra (estruturas e infra-estruturas
próximas, tráfego, vegetação, produtos químicos perigosos, etc.);
c) condições do terreno;
d) condições de ocorrência de água no terreno;
e) sismicidade;
f) influência do ambiente (hidrologia, águas superficiais, subsidência, variações
sazonais do teor em água do terreno);
g) condições locais relativas à estabilidade global e aos movimentos do terreno.
A fim de estabelecer os requisitos do projecto geotécnico são introduzidas três Categorias
Geotécnicas - 1, 2 e 3.
No Quadro 2.1 resumem-se as características associadas a cada uma destas Categorias
Geotécnicas.
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Fundações e Estruturas de Suporte 2-11
Quadro 2.1 – Categorias geotécnicas
Categoria Geotécnica
Descrição Risco de rotura geotécnica
Exemplos EN Exemplos ENV Prospecção geotécnica
Projecto Qualificação do Autor do Projecto *
1
Estruturas pequenas e relativamente simples.
Risco desprezável. _________ Edificações simples de 1 e 2 andares e edifícios para fins agrícolas, com uma carga máxima de cálculo de 250 kN, nos pilares e de 100 kN/m, nas paredes, nos quais sejam usados os tipos habituais de fundações superficiais e por estacas;
Muros de suporte de terras nos quais as diferenças entre níveis de terreno não excedam 2 m;
Pequenas escavações para trabalhos de drenagem, instalação de tubagens, etc.
Qualitativa. Com base na experiência. Técnico com experiência comprovada em projectos de estruturas de contenção de, pelo menos, 2 anos.
2
Tipos convencionais de estruturas e de fundações que não envolvam condições do terreno e de carregamento invulgares ou particularmente difíceis.
Não envolvem riscos fora do comum.
Fundações superficiais.
Fundações superficiais;
Ensoleiramentos gerais;
Fundações por estacas;
Muros de suporte de terreno ou de água;
Escavações;
Pilares e encontros de pontes.
Quantificação dos dados geotécnicos. Procedimentos de rotina nos ensaios de campo e de laboratório.
Análise quantitativa.
Procedimentos de rotina.
Engenheiro Civil, Especialista em Geotecnia pela Ordem dos Engenheiros, com experiência comprovada em projectos de estruturas de contenção da mesma categoria geotécnica de, pelo menos, 4 anos.
3
Estruturas ou partes de estruturas não abrangidas pelas Categorias Geotécnicas 1 e 2.
Envolvem riscos fora do comum.
Estruturas de grande dimensão e pouco comuns, que envolvem condições do terreno e de carregamento invulgares ou particularmente difíceis. Estruturas em zonas de elevado risco sísmico.
Estruturas em áreas de sismicidade elevada.
Requisitos adicionais devem incluir outras investigações e a análise de detalhes das condições do terreno que podem ter importantes consequências no projecto.
A categoria geotécnica 3 deve normalmente incluir disposições e regras alternativas às presentes no EC7.
Engenheiro Civil, Especialista em Geotecnia pela Ordem dos Engenheiros, com experiência comprovada de, pelo menos, 8 anos em projectos de estruturas de contenção da Categoria Geotécnica 2.
* - Proposta apresentada nas “Recomendações na Área da Geotecnia”, da Especialização de Geotecnia, da Ordem dos Engenheiros.
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Fundações e Estruturas de Suporte 2-12
Antes da prospecção deve efectuar-se uma classificação preliminar da estrutura, de
acordo com a categoria geotécnica. Esta categoria pode vir a ser posteriormente
alterada. Em cada fase do projecto ou da execução deve proceder-se a uma verificação
da categoria geotécnica e à sua eventual actualização.
Os vários aspectos do projecto de uma obra podem ser tratados de acordo com
categorias geotécnicas diferentes. Não é necessário tratar a totalidade de um projecto de
acordo com a mais elevada daquelas categorias.
Podem utilizar-se procedimentos correspondentes a categorias mais elevadas para
justificar projectos mais económicos ou quando o projectista os considerar mais
adequados.
Os procedimentos correspondentes à Categoria Geotécnica 1 só são suficientes no caso
de existir experiência comparável que comprove que as condições do terreno são
suficientemente simples para que seja possível utilizar métodos de rotina para o projecto
e para a construção da estrutura geotécnica.
Os procedimentos correspondentes à Categoria Geotécnica 1 só são suficientes se não
houver escavações abaixo do nível freático ou se a experiência comparável local indicar
que a escavação a realizar, abaixo do nível freático, é uma operação simples.
Deve verificar-se, para cada situação considerada no projecto geotécnico, que não é
excedido nenhum estado limite relevante.
Este requisito de projecto pode ser satisfeito mediante:
a) o uso de cálculos;
b) a adopção de medidas prescritivas;
c) o uso de modelos experimentais e de ensaios de carga;
d) o uso de um método observacional.
Estas quatro abordagens podem ser utilizadas de uma forma combinada. Na prática, a
experiência mostra, muitas vezes, qual o estado limite que condiciona o projecto, pelo
que a não ocorrência de outros estados limites pode ser verificada através de um
controlo grosseiro.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-13
Estados limites
São estados para além dos quais a estrutura deixa de cumprir algum dos requisitos
básicos:
-Estados limites últimos: associados a diversas formas de colapso estrutural,
dizendo por isso respeito à segurança das pessoas e da estrutura;
- Estados limites de utilização: associados ao incumprimento de requisitos de
serviço, relativos ao funcionamento corrente, ao conforto das pessoas ou à aparência
arquitectónica.
Situações de projecto
Conjuntos de condições físicas representativas das condições que se prevê que venham a
ocorrer durante um certo período de tempo.
- Persistentes (período de tempo da mesma ordem do tempo de vida útil);
- Transitórias (período de tempo muito inferior ao tempo de vida útil; com
probabilidade elevada de ocorrência);
-Acidentais (condições excepcionais tais como impacto, incêndio, explosão, etc.);
-Sísmicas.
2.2 Dimensionamento geotécnico com base no cálculo
2.2.1 Disposições gerais
Generalidades
O dimensionamento com base no cálculo deve estar de acordo com o método de
verificação de segurança em relação a estados limites. A aplicação deste método implica
a consideração de:
a) modelos de cálculo;
b) acções;
c) propriedades dos solos, das rochas ou de outros materiais;
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-14
d) dados geométricos;
e) valores limites de deformações, largura de fissuras, vibrações, etc.
Em engenharia geotécnica o conhecimento das condições do terreno depende da
amplitude e da qualidade da prospecção geotécnica. Esse conhecimento e o controlo da
execução são mais importantes para satisfazer os requisitos fundamentais do que a
precisão dos modelos de cálculo e dos coeficientes parciais de segurança.
Quando não se disponha de um modelo de cálculo fiável para um dado estado limite,
devem efectuar-se as análises dos outros estados limites, utilizando factores que
assegurem que a ocorrência do estado limite em causa é suficientemente improvável.
Alternativamente, pode recorrer-se ao projecto por medidas prescritivas, por modelos
experimentais e ensaios de carga, ou através do método observacional, como já referido.
O modelo de cálculo pode consistir em:
a) um método de análise, muitas vezes baseado num modelo analítico
simplificado;
b) um modelo semi-empírico;
c) um modelo numérico.
Coeficientes parciais de segurança
Os valores de cálculo das acções e das propriedades dos materiais são obtidos dos
valores característicos mediante a aplicação de coeficientes de segurança parciais.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-15
Figura 2.1 – Coeficientes parciais de segurança
Acções no dimensionamento geotécnico.
Em análises geotécnicas, devem considerar-se como acções:
a) os pesos do solo, da rocha e da água;
b) as tensões in situ do terreno;
c) as pressões da água livre;
d) as pressões da água do terreno;
e) as forças de percolação;
f) as cargas das estruturas, quer devidas ao peso próprio, quer impostas, quer
ambientais;
g) as sobrecargas;
h) as forças devidas à atracação;
i) a remoção de carga ou a escavação de terreno;
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-16
j) as cargas devidas ao tráfego;
k) a expansão e a retracção devidas à vegetação, ao clima ou a alterações do teor
em água;
l) os movimentos devidos à fluência ou a escorregamentos de maciços terrosos;
m) os movimentos devidos à degradação, à decomposição, à compactação devida
ao peso próprio e à dissolução;
n) os movimentos e as acelerações devidos a sismos, a explosões, a vibrações e a
cargas dinâmicas;
o) os efeitos da temperatura.
A avaliação da segurança de estruturas geotécnicas em que as forças predominantes são
hidrostáticas deve ser objecto de consideração especial. Tal deve-se ao facto de as
deformações, a fissuração e a permeabilidade variável, com o inerente risco de erosão,
poderem dar origem a variações do nível freático que podem ser de importância vital
para a segurança.
Devem considerar-se os seguintes aspectos susceptíveis de afectar as pressões da água:
a) o nível da água livre ou o nível freático;
b) os efeitos favoráveis ou desfavoráveis da drenagem, quer natural quer
artificial, tendo em atenção a sua futura manutenção;
c) a ocorrência de água devida à chuva, a cheias, à rotura de condutas e a outras
origens;
d) as variações das pressões da água devidas ao aparecimento ou à remoção de
vegetação.
No caso de estados limites com consequências severas (geralmente estados limites
últimos), os valores de cálculo para as pressões da água e forças de percolação devem
representar os valores mais desfavoráveis que podem ocorrer em circunstâncias
extremas. Para estados limites com consequências menos severas (geralmente estados
limites de utilização), os valores de cálculo devem ser os valores mais desfavoráveis que
podem ocorrer em circunstâncias normais.
Deve ter-se em atenção o risco de ocorrência de níveis de água desfavoráveis devido a
alterações na bacia hidrográfica, à redução da capacidade de drenagem (devida a
colmatação), etc.
A não ser demonstrada a adequação do sistema de drenagem e assegurada a respectiva
manutenção, é frequentemente necessário admitir que o nível freático pode subir, em
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-17
circunstâncias extremas, até ao nível do terreno. Em alguns casos esta acção pode ser
considerada acidental.
Propriedades do terreno
Os parâmetros geotécnicos dos solos ou das rochas, a considerar no projecto, devem ser
obtidos de resultados de ensaios de laboratório ou in situ, directamente ou através de
correlações, teóricas ou empíricas, complementados com a experiência e com outros
dados relevantes.
No estabelecimento dos valores dos parâmetros geotécnicos, deve considerar-se o
seguinte:
a) a informação publicada e reconhecida como relevante para a utilização de
cada ensaio nas condições de terreno adequadas;
b) a comparação de cada parâmetro geotécnico com dados publicados
relevantes e com a experiência local e geral;
c) a variação dos parâmetros geotécnicos que são relevantes para o projecto;
d) os resultados de ensaios in situ em grande escala e dados recolhidos de
construções vizinhas;
e) qualquer correlação entre os resultados de mais do que um tipo de ensaio;
f) qualquer degradação significativa nas propriedades do terreno que pode
ocorrer durante a vida útil da estrutura.
Sempre que necessário deve aplicar-se um coeficiente de conversão para transformar os
resultados dos ensaios de laboratório ou de campo em valores que se possa assumir
serem representativos do comportamento do solo e da rocha no terreno, para o estado
limite em causa, ou para atender a correlações usadas para obter valores derivados de
resultados de ensaios.
Dados geométricos
Os dados geométricos incluem o nível e a inclinação da superfície do terreno, os níveis da
água, os níveis das interfaces entre estratos, os níveis de escavação e as dimensões da
estrutura geotécnica.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-18
2.2.2 Valores característicos
Valores característicos e representativos das acções
Os valores característicos e representativos das acções devem ser considerados de
acordo com o estabelecido nas normas EN 1990 e EN 1991.
Valores característicos dos parâmetros geotécnicos
A escolha de valores característicos para as propriedades dos solos e das rochas deve
basear-se nos resultados de ensaios de laboratório e de campo, complementados com a
experiência adquirida.
O valor característico de um parâmetro de um solo ou de uma rocha deve ser resultado
de uma estimativa cautelosa do valor que determina a ocorrência do estado limite.
A extensão da zona de terreno que governa o comportamento de uma estrutura
geotécnica, relativamente a um estado limite, é usualmente muito maior do que a
dimensão da zona afectada pelo ensaio do solo ou da rocha, pelo que o parâmetro
determinante é muitas vezes o valor médio numa dada superfície ou volume de terreno.
O valor característico deve ser uma estimativa cautelosa desse valor médio.
A extensão referida pode também depender do comportamento da estrutura suportada.
Por exemplo, para consideração da capacidade de carga correspondente a um estado
limite último para um edifício fundado em sapatas, o parâmetro determinante é a
resistência média em cada zona individual de terreno sob cada sapata, caso o edifício
seja incapaz de resistir a uma rotura local. No caso contrário, se o edifício apresentar
rigidez e resistência suficientes, o parâmetro determinante pode ser a média daqueles
valores médios na totalidade ou em parte da zona de terreno sob o edifício.
Podem utilizar-se métodos estatísticos para a escolha de valores característicos das
propriedades do terreno. Tais métodos devem permitir diferenciar amostragens locais e
regionais e devem ter em conta o conhecimento prévio de experiência comparável das
propriedades do terreno.
Caso se usem métodos estatísticos, o valor característico deve ser estimado de tal forma
que a probabilidade calculada de se verificar um valor mais desfavorável que determine a
ocorrência de um estado limite não seja superior a 5%.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-19
Quando se utilizam tabelas tipo de valores característicos relacionados com parâmetros
de investigação do solo, o valor característico deve ser seleccionado como um valor
cauteloso.
Valores característicos dos dados geométricos
Os valores característicos dos níveis do solo, da água no solo ou da água livre devem ser
níveis superiores ou inferiores medidos, nominais ou estimados.
Os valores característicos dos níveis do terreno e das dimensões das estruturas
geotécnicas devem ser, geralmente, valores nominais.
2.2.3 Valores de cálculo
Valores de cálculo das acções
O valor de cálculo de uma acção deve ser determinado de acordo com a norma EN 1990.
O valor de cálculo de uma acção ( dF ) pode ser determinado directamente ou pode ser
determinado a partir de valores representativos, usando a seguinte equação:
γ= i Fd repF F , (2.1)
com
ψ= i rep kF F (2.2)
Os valores de ψ são fornecidos pela norma EN 1990.
Na equação 2.1 devem ser usados os coeficientes parciais γ F , para situações
persistentes e transitórias, definidos adiante.
Se os valores de cálculo das acções geotécnicas forem determinados directamente, os
valores dos coeficientes parciais de segurança recomendados no Anexo A devem ser
usados como uma referência para o requerido nível de segurança.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-20
Os valores de cálculo das pressões da água no terreno podem ser determinadas
directamente, aplicando coeficientes parciais às pressões da água características ou
aplicando uma margem de segurança ao nível da água característico, de acordo com o
acima definido para os valores característicos dos dados geométricos.
Valores de cálculo dos parâmetros geotécnicos
Os valores de cálculo das propriedades do terreno, dX , podem ser obtidos a partir de
valores característicos, kX , usando a equação:
/d k MX X γ= , (2.3)
em que Mγ é o factor parcial de segurança para a propriedade do terreno.
Os valores de cálculo das propriedades do terreno podem também ser obtidos
directamente.
Devem ser usados na equação 2.3 os coeficientes parciais, Mγ , para situações
persistentes e transitórias, definidos adiante.
Se os valores de cálculo das propriedades do terreno forem determinados directamente,
os valores dos coeficientes parciais de segurança a seguir recomendados, devem ser
usados como uma referência para o requerido nível de segurança.
Valores de cálculo dos dados geométricos
Os coeficientes parciais das acções e das propriedades do terreno ( Fγ e Mγ ) têm em
conta pequenas variações nos dados geométricos e, nesses casos, não será necessária
uma margem de segurança adicional nos dados geométricos.
Em casos em que os desvios dos dados geométricos são significativos, os valores de
cálculo desses dados ( da ) devem ser determinados directamente ou a partir de valores
nominais, usando a equação:
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-21
d noma a a= ± ∆ , (2.4)
em que para os valores de a∆ , salvo a observância de cuidados especiais durante a
construção, devem considerar-se desvios até 0,10m.
Valores de cálculo das propriedades da estrutura
Os valores de cálculo das propriedades resistentes dos materiais estruturais e das
resistências dos elementos estruturais devem ser determinados de acordo com os
documentos normativos respeitantes a esses materiais.
2.2.4 Estados limites últimos
Generalidades
Nas situações em que se manifeste relevante, deve ser verificado que os seguintes
estados limites não são excedidos:
EQU - perda de equilíbrio da estrutura ou do terreno, considerados como um corpo
rígido, em que a contribuição das propriedades de resistência dos materiais estruturais e
do terreno é insignificante para a capacidade resistente;
Figura 2.2 – Estado limite último EQU
STR - rotura interna ou deformação excessiva da estrutura ou de elementos estruturais,
incluindo sapatas isoladas ou contínuas e estacas, em que as propriedades de resistência
dos materiais estruturais condicionam a capacidade resistente;
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-22
Figura 2.3 – Estado limite último STR
GEO - rotura ou deformação excessiva do terreno, em que as propriedades de resistência
do solo ou da rocha condicionam a capacidade resistente; o estado limite GEO é
frequentemente crítico no dimensionamento de elementos estruturais associados a
fundações ou a muros de suporte e, por vezes, na resistência de elementos estruturais.
Figura 2.4 – Estado limite último GEO
UPL - perda de equilíbrio da estrutura ou do terreno, devida ao levantamento pela
impulsão da água ou a outras acções verticais.
a) b)
Figura 2.5 – Estado limite último UPL
HYD - empolamento hidráulico, erosão interna e erosão tubular no terreno, causado por
gradientes hidráulicos.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-23
a) b)
Figura 2.6 – Estado limite último HYD
Verificação do equilíbrio estático (EQU)
Quando se considera um estado limite de equilíbrio estático (EQU) deve verificar-se que:
; ;dst d stb d dE E T≤ + (2.5)
com
; { ; / ; }dst d F rep k M d dstE E F X aγ γ= i (2.6)
e
; { ; / ; }stb d F rep k M d stbE E F X aγ γ= i (2.7)
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-24
Devem ser usados nas equações (2.5), (2.6) e (2.7) os coeficientes parciais para
situações persistentes e transitórias definidos no Quadro 2.2.
O equilíbrio estático EQU é principalmente relevante no cálculo estrutural. No cálculo
geotécnico, a verificação EQU deve limitar-se a casos raros, tais como a capacidade de
carga de fundações rígidas em rocha, e é, em princípio, distinta dos problemas de
estabilidade global e de impulsão. Se for considerada uma resistência ao corte, dT , esta
deve ser de reduzida importância.
Figura 2.7 – Estado limite último EQU - exemplo de cálculo
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Fundações e Estruturas de Suporte 2-25
Quadro 2.2 - Coeficientes de segurança parciais – estado limite último de equilíbrio estático (EQU), em situações
persistentes e transitórias
Acções Propriedades do terreno
Permanentes
Desfavoráveis Favoráveis
Variável de
base Outras variáveis tgφ′ c′ uc uq γ
;G dstγ =1,10 ;G stbγ =0,90 ;Q dstγ =1,50a ;Q dstγ 0ψ =1,50 0ψ a 'φγ =1,25b 'cγ =1,25 cuγ =1,4 quγ =1,4 γγ =1,0
a - Quando a acção variável é favorável, não deve ser considerada. ;Q stbγ =0
b Este coeficiente é aplicado a tgφ ′
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Fundações e Estruturas de Suporte 2-26
Verificação da resistência em estados limites estruturais e do terreno, em
situações persistentes e transitórias (STR e GEO)
Quando se considera o estado limite de rotura ou de excessiva deformação de um
elemento estrutural ou de uma zona do terreno (STR e GEO), deve verificar-se se:
d dE R≤ (2.8)
Os coeficientes parciais das acções podem ser aplicados às próprias acções ( repF ) ou aos
seus efeitos ( E ):
{ ; / ; }d F rep k M dE E F X aγ γ= i (2.9)
ou
{ ; / ; }d E rep k M dE E F X aγ γ= i . (2.10)
Em algumas situações de cálculo, a aplicação de coeficientes parciais a acções
resultantes do solo (tais como pressões de terras ou pressões da água) pode originar
valores de cálculo pouco verosímeis ou até fisicamente impossíveis. Nessas situações, os
coeficientes podem ser aplicados directamente aos efeitos das acções resultantes de
valores representativos das acções.
Os coeficientes parciais definidos no Quadro 2.3 devem ser usados nas equações (2.8),
(2.9) e (2.10).
Os coeficientes parciais podem ser aplicados às propriedades do terreno ( X ) ou às
resistências (R ), da seguinte forma:
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-27
{ ; / ; }d F rep k M dR R F X aγ γ= i (2.11)
ou
{ ; ; }/d F rep k d RR R F X aγ γ= i (2.12)
Os coeficientes parciais definidos no Quadro 2.3 devem ser usados nas equações (2.11) e
(2.12).
Os coeficientes parciais a usar nas equações (2.9), (2.10), (2.11) e (2.12) são agrupados
em conjuntos designados por A (para as acções ou para os efeitos das acções), M (para
os parâmetros do solo) e R (para as resistências). Estes coeficientes são seleccionados
conforme a combinação considerada.
Com a excepção do cálculo de estacas carregadas axialmente, deve verificar-se que não
ocorre um estado limite de rotura ou de excessiva deformação, para cada uma das
seguintes combinações de coeficientes parciais:
Combinação 1: A1 “+” M1 “+” R1
Combinação 2: A2 “+” M2 “+” R1
em que “+” significa “a ser combinado com”.
Nas combinações 1 e 2, os coeficientes parciais são aplicados às acções e aos parâmetros
de resistência do terreno.
Para o cálculo de estacas carregadas axialmente, deve verificar-se que não ocorre um
estado limite de rotura ou de excessiva deformação, para cada uma das seguintes
combinações de coeficientes parciais:
Combinação 1: A1 “+” M1 “+” R1
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-28
Combinação 2: A2 “+” (M1 ou M2) “+” R2
Na combinação 1 os coeficientes parciais são aplicados às acções e aos parâmetros de
resistência do terreno. Na combinação 2 os coeficientes parciais são aplicados às acções
e às resistências do terreno.
Na combinação 2 o conjunto M1 é usado para o cálculo das resistências das estacas e o
conjunto M2 para o cálculo de acções desfavoráveis em estacas, devidas, por exemplo,
ao atrito negativo e às acções transversais.
Na combinação 1 são geralmente aplicados às acções coeficientes diferentes de 1 e
coeficientes iguais a 1 aos efeitos das acções. Assim consideram-se, na equação (2.9)
1Fγ ≠ e 1Eγ = .
Constituem excepções casos onde não é fisicamente razoável considerar 1Fγ ≠ (por
exemplo um depósito com um nível de líquido fixo); nestes casos considera-se 1Fγ = e
1Eγ ≠ .
Na combinação 2 é sempre usado 1Eγ = , enquanto 1Fγ ≠ apenas para acções variáveis.
Assim, excepto para as situações referidas, a equação (2.9) reduz-se a:
{ ; / ; }d F rep k M dE E F X aγ γ= i (2.13)
Na combinação 1 são aplicados coeficientes iguais a 1 às características resistentes dos
materiais e às resistências. Assim, 1M Rγ γ= =
Na combinação 2, excepto no caso das estacas, 1Mγ > , 1Rγ = ,
Na maioria das situações deverá ser adoptada a equação:
{ ; / ; }d F rep k M dR R F X aγ γ= i (2.14)
Mas para estacas, na combinação 2, 1Mγ = e 1Rγ > deverá adoptar-se a equação:
![Page 33: Sebenta_FUNES_Cap_01_v01.pdf](https://reader037.vdocuments.com.br/reader037/viewer/2022103007/55cf9947550346d0339c8d79/html5/thumbnails/33.jpg)
Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-29
{ ; ; }/d F rep k d RR R F X aγ γ= i (2.15)
Se for evidente que uma das combinações condiciona o projecto, não é necessário
realizar os cálculos para a outra combinação. No entanto, diferentes combinações podem
ser críticas para diferentes aspectos do mesmo projecto.
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Fundações e Estruturas de Suporte 2-30
Quadro 2.3 - Coeficientes de segurança parciais – estados limites últimos estruturais (STR) e geotécnicos (GEO), em situações
persistentes e transitórias
Acções Propriedades do terreno
Permanentes Combinação
Desfavoráveis Favoráveis
Variável de
base Outras variáveis tgφ′ c′ uc uq γ
1 ;G dstγ =1,35 ;G stbγ =1,00 ;Q dstγ =1,50a ;Q dstγ 0ψ =1,50 0ψ a 'φγ =1,0 b 'cγ =1,0 cuγ =1,0 quγ =1,0 γγ =1,0
2 ;G dstγ =1,00 ;G stbγ =1,00 ;Q dstγ =1,30a ;Q dstγ 0ψ =1,30 0ψ a 'φγ =1,25b 'cγ =1,25 cuγ =1,4 quγ =1,4 γγ =1,0
a - Quando a acção variável é favorável, não deve ser considerada. ;Q stbγ =0
b Este coeficiente é aplicado a tgφ ′
![Page 35: Sebenta_FUNES_Cap_01_v01.pdf](https://reader037.vdocuments.com.br/reader037/viewer/2022103007/55cf9947550346d0339c8d79/html5/thumbnails/35.jpg)
Fundações e Estruturas de Suporte 2-31
Os coeficientes parciais, γ , para estados limites últimos, em situações de projecto
persistentes e transitórias e os coeficientes de correlação, ξ , para fundações por
estacas, em todas as situações de projecto, devem ser os que se referem nos Quadros
2.4 a 2.9.
Coeficientes parciais das resistências ( Rγ ) para fundações por estacas
Para fundações por estacas e para as verificações dos estados limites estrutural (STR) e
geotécnico (GEO), devem ser aplicados os conjuntos R1 e R2 dos seguintes coeficientes
parciais de resistência ( Rγ ):
- bγ à resistência de ponta;
- sγ à resistência lateral para estacas em compressão;
- tγ à resistência total (combinada) para estacas em compressão;
- ;s tγ à resistência lateral para estacas em tracção.
Nota: Os valores dos coeficientes parciais recomendados para os conjuntos R1 e R2 são
apresentados no Quadro 2.4, para estacas cravadas, no Quadro 2.5, para estacas
moldadas e no Quadro 2.6, para estacas executadas com o trado contínuo.
![Page 36: Sebenta_FUNES_Cap_01_v01.pdf](https://reader037.vdocuments.com.br/reader037/viewer/2022103007/55cf9947550346d0339c8d79/html5/thumbnails/36.jpg)
Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-32
Quadro 2.4 - Coeficientes parciais de resistência ( Rγ ) para estacas cravadas
Conjunto Resistência Símbolo
R1 R2
Ponta γb 1,0 1,3
Lateral (compressão) γs 1,0 1,3
Total/combinada (compressão) γt 1,0 1,3
Lateral (tracção) γs;t 1,25 1,6
Quadro 2.5 - Coeficientes parciais de resistência ( Rγ ) para estacas moldadas
Conjunto Resistência Símbolo
R1 R2
Ponta γb 1,25 1,6
Lateral (compressão) γs 1,0 1,3
Total/combinada (compressão) γt 1,15 1,5
Lateral (tracção) γs;t 1,25 1,6
Quadro 2.6 - Coeficientes parciais de resistência ( Rγ ) para estacas de trado contínuo
Conjunto Resistência Símbolo
R1 R2
Ponta γb 1,1 1,45
Lateral (compressão) γs 1,0 1,3
Total/combinada (compressão) γt 1,1 1,4
Lateral (tracção) γs;t 1,25 1,6
![Page 37: Sebenta_FUNES_Cap_01_v01.pdf](https://reader037.vdocuments.com.br/reader037/viewer/2022103007/55cf9947550346d0339c8d79/html5/thumbnails/37.jpg)
Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-33
Coeficientes de correlação para fundações por estacas
Para a verificação dos estados limites estrutural (STR) e geotécnico (GEO), devem ser
utilizados os seguintes coeficientes de correlação, ξ , para obtenção dos valores
característicos da resistência axial em estacas:
- 1ξ ao valor médio da resistência obtida em ensaios de carga estática;
- 2ξ ao valor mínimo da resistência obtida em ensaios de carga estática;
- 3ξ ao valor médio da resistência calculada a partir de resultados de ensaios
ao terreno;
- 4ξ ao valor mínimo da resistência calculada em resultados de ensaios ao
terreno;
- 5ξ ao valor médio da resistência obtida em ensaios de carga dinâmica;
- 6ξ ao valor mínimo da resistência obtida em ensaios de carga dinâmica.
Nota: Os valores dos coeficientes de correlação recomendados são apresentados nos
Quadros 2.7, 2.8 e 2.9.
Quadro 2.7 - Coeficientes de correlação, ξ , para obtenção dos valores característicos a
partir de ensaios de carga estática
(n - número de estacas ensaiadas)
ξ para n = 1 2 3 4 5≥
1ξ 1,40 1,30 1,20 1,10 1,00
2ξ 1,40 1,20 1,05 1,00 1,00
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-34
Quadro 2.8 - Coeficientes de correlação, ξ , para obtenção dos valores característicos a
partir de resultados de ensaios ao terreno
(n - número de perfis ensaiados)
ξ para n = 1 2 3 4 5 7 10
3ξ 1,40 1,35 1,33 1,31 1,29 1,27 1,25
4ξ 1,40 1,27 1,23 1,20 1,15 1,12 1,08
Quadro 2.9 - Coeficientes de correlação, ξ , para obtenção dos valores característicos a
partir de ensaios de carga dinâmica a, b, c, d, e
(n - número de estacas ensaiadas)
ξ para n = 2≥ 5≥ 10≥ 15≥ 20≥
5ξ 1,60 1,50 1,45 1,42 1,40
6ξ 1,50 1,35 1,30 1,25 1,25
a Os valores de ξ são válidos para ensaios de impacto dinâmico.
b Os valores de ξ podem ser multiplicados por um coeficiente de modelo de 0,85, quando são
utilizados ensaios de impacto dinâmico com concordância de sinal.
c Os valores de ξ devem ser multiplicados por um coeficiente de modelo de 1,10, quando são
utilizadas fórmulas dinâmicas com medição do repique.
d Os valores de ξ devem ser multiplicados por um coeficiente de modelo de 1,20, quando são
utilizadas fórmulas dinâmicas sem medição do repique.
e Se existem diferentes tipos de estacas na fundação, devem ser agrupadas para a selecção do
número n de estacas a ensaiar.
Verificação da segurança e coeficientes parciais para a perda de equilíbrio por
impulsão – UPL
A verificação da perda de equilíbrio por impulsão (UPL) deve processar-se de forma que
o valor de cálculo da combinação de acções verticais instabilizadoras, permanentes e
variáveis, ( ,dst dV ), seja inferior ou igual à soma do valor de cálculo das acções verticais
permanentes estabilizadoras ( ;stb dG ) e do valor de cálculo de alguma eventual
resistência adicional à perda de equilíbrio por impulsão ( dR ):
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-35
, ;dst d stb d dV G R≤ + (2.16)
onde
, ; ;dst d dst d dst dV G Q= + (2.17)
A resistência adicional à perda de equilíbrio por impulsão pode também ser tratada como
uma acção vertical permanente estabilizadora ( ;stb dG ).
Coeficientes parciais para a verificação do estado limite de perda de equilíbrio por
impulsão (UPL)
Para a verificação do estado limite de perda de equilíbrio por impulsão (UPL) devem ser
aplicados às acções os seguintes coeficientes parciais:
- ;G dstγ às acções permanentes desfavoráveis (instabilizadoras);
- ;G stbγ às acções permanentes favoráveis (estabilizadoras);
- ;Q dstγ às acções variáveis desfavoráveis (instabilizadoras).
No Quadro 2.10 indicam-se os valores de Fγ .
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-36
Quadro 2.10 – UPL - coeficientes parciais das acções ( Fγ )
Acção Símbolo Valor
Permanente
Desfavorável a
Favorável b
;G dstγ
;G stbγ
1,0
0,9
Variável
Desfavorável a
;Q dstγ
1,5
a Instabilizadora
b Estabilizadora
Para a verificação do estado limite de perda de equilíbrio por impulsão (UPL) devem ser
aplicados os seguintes coeficientes parciais:
- 'φγ à tangente do ângulo de atrito;
- 'cγ à coesão efectiva;
- cuγ à resistência não drenada;
- ;s tγ à resistência à tracção da estaca.
No Quadro 2.11 indicam-se os valores dos coeficientes parciais do solo e da resistência à
tracção das estacas.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-37
Quadro 2.11 – UPL - coeficientes parciais dos parâmetros do solo e da resistência à
tracção das estacas
Parâmetro do solo Símbolo Valor
Ângulo de atritoa 'φγ 1,25
Coesão efectiva 'cγ 1,25
Resistência não drenada cuγ 1,40
Resistência à tracção da
estaca
;s tγ 1,40
a Este coeficiente é aplicado a tgφ ′ ’
Verificação da resistência à rotura hidráulica do terreno – HYD
Quando se considera um estado limite de rotura hidráulica do terreno (HYD) deve
verificar-se, para todas as colunas de solo relevantes, que o valor de cálculo da pressão
neutra total instabilizadora, ( ;dst du ), na base da coluna, ou que o valor de cálculo da
força de percolação, ( ;dst dS ), na coluna é inferior ou igual à tensão vertical total
estabilizadora, ( ;stb dσ ), na base da coluna, ou ao peso submerso, ( ;' stb dG ), da mesma
coluna:
; ;dst d stb du σ≤ (2.18)
; ;'dst d stb dS G≤ (2.19)
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-38
Coeficientes parciais para a verificação do estado limite de rotura hidráulica (HYD)
Para a verificação do estado limite de rotura hidráulica (HYD) devem ser aplicados às
acções os seguintes coeficientes parciais ( Fγ ):
- ;G dstγ às acções permanentes desfavoráveis (instabilizadoras);
- ;G stbγ às acções permanentes favoráveis (estabilizadoras);
- ;Q dstγ às acções variáveis desfavoráveis (instabilizadoras).
No Quadro 2.12 indicam-se os valores de Fγ .
Quadro 2.12 – HYD - coeficientes parciais das acções ( Fγ )
Acção Símbolo Valor
Permanente
Desfavorável a
Favorável b
;G dstγ
;G stbγ
1,35
0,90
Variável
Desfavorável a
;Q dstγ
1,50
a Instabilizadora
b Estabilizadora
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-39
2.2.5 Estados limites de utilização
Generalidades
A verificação dos estados limites de utilização no terreno ou na estrutura deve garantir
que:
d dE C≤ (2.20)
Em alternativa, para garantir que as deformações se situam dentro dos limites
estabelecidos, pode verificar-se se é apenas mobilizada uma pequena percentagem da
resistência do terreno. Esta abordagem simplificada é condicionada a situações de
projecto onde:
a) não é necessário um valor da deformação para verificar o estado limite de
utilização;
b) existe uma experiência comparável em que as condições de terreno, as
estruturas e o processo construtivo são semelhantes.
Para os estados limites de utilização todos os valores dos coeficientes parciais são
considerados, geralmente, iguais à unidade.
2.2.6 Valores limites dos movimentos
Generalidades
Um valor limite para um dado movimento é o valor para o qual ocorre um estado limite
último ou de utilização, tal como a fendilhação inaceitável e o empenamento de portas.
Este valor limite deve ser acordado com o projectista da estrutura.
No projecto de fundações devem ser estabelecidos valores limites para os movimentos
da fundação.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-40
Quaisquer movimentos diferenciais das fundações, que induzam deformações na
estrutura suportada, devem ser limitados para garantir que não introduzem nesta um
estado limite.
Na ausência da especificação de valores limites para as deformações da estrutura, devem
usar-se os valores da deformação estrutural e dos movimentos da fundação
apresentados no Quadro 2.13.
Valores limites da deformação estrutural e dos movimentos da fundação
As componentes dos movimentos de uma fundação a considerar incluem o
assentamento, o assentamento relativo ou diferencial, a rotação, a inclinação, a flecha
unitária, a rotação relativa, o deslocamento horizontal e a amplitude de vibração. Na
Figura 2.8 apresentam-se algumas definições e alguns termos para os movimentos da
fundação e para as deformações.
Quadro 2.13 - Valores limites da deformação estrutural e dos movimentos da fundação
Rotação relativa máxima
Deformada côncava Deformada
convexa
Assentamento
máximo
Assentamento diferencial
máximo
1/500 (ELUt) 1/1000 (ELUt)
1/300 (ELU) 1/600 (ELU) 50mm a 20mm a
a Estruturas normais com fundações isoladas
Podem ser aceitáveis maiores assentamentos, totais ou diferenciais, desde que as rotações
relativas se situem dentro dos limites aceitáveis e que os assentamentos totais não originem
problemas nas condutas e cabos que entram na estrutura, ou causem desvios da vertical
As orientações anteriores, respeitantes aos valores limites dos assentamentos, aplicam-
se a estruturas correntes. Não é conveniente aplicá-las a edifícios ou a estruturas fora do
comum ou para os quais a intensidade do carregamento é marcadamente não uniforme.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-41
a) definições de assentamento s , de assentamento diferencial sδ , de rotação θ e de
distorção α
b) definições de flecha ∆ e de flecha unitária L
∆
c) definições de inclinação média ω e de rotação relativa β (distorção angular)
Figura 2.8 – Definições de movimentos da fundação
2.3 Outros métodos de dimensionamento geotécnico
2.3.1 Dimensionamento com base em medidas prescritivas
Em situações em que não se disponha de modelos de cálculo, ou em que eles não sejam
necessários, os estados limites podem ser evitados mediante a utilização de medidas
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-42
prescritivas. Estas medidas envolvem detalhes de projecto convencionais e geralmente
conservativos, bem como a atenção em relação à especificação e controlo dos materiais,
execução, protecção e procedimentos de manutenção.
Pode efectuar-se o dimensionamento por medidas prescritivas nos casos em que a
experiência comparável torne desnecessários os cálculos de projecto, entendendo-se
como experiência comparável a informação documentada ou claramente estabelecida que
diga respeito a estruturas semelhantes e ao mesmo tipo de terreno considerado no
projecto, envolvendo os mesmos tipos de solo e de rocha, e para o qual seja previsível
um comportamento semelhante. A informação recolhida no local é considerada
particularmente relevante.
Podem também utilizar-se medidas prescritivas para assegurar a durabilidade face ao
ataque químico e biológico, para os quais não são normalmente apropriados cálculos
directos.
2.3.2 Dimensionamento com base em ensaios de carga e em ensaios em
modelos experimentais
Podem utilizar-se os resultados de ensaios de carga ou de ensaios em modelos
experimentais para justificar um dimensionamento, ou para complementar uma das
outras alternativas de dimensionamento mencionadas, desde que se considerem os
seguintes aspectos:
a) as diferenças entre as condições do terreno no ensaio e na obra;
b) os efeitos do tempo, especialmente se a duração do ensaio for muito inferior à
duração do carregamento na obra;
c) os efeitos de escala, especialmente se forem utilizados modelos de pequenas
dimensões, caso em que tem que ser considerado o efeito do nível de tensões no
comportamento do terreno, juntamente com os efeitos associados às dimensões das
partículas.
Os ensaios podem ser efectuados numa amostra da própria obra, ou em modelos em
escala natural ou reduzida.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 2-43
2.3.3 Dimensionamento com base no método observacional.
Em virtude de a previsão do comportamento geotécnico ser frequentemente difícil, é por
vezes apropriado adoptar o procedimento designado por "método observacional", em que
o projecto é revisto durante a construção. Quando se utiliza este método, devem
respeitar-se os quatro requisitos seguintes, antes do início da construção:
1) devem ser estabelecidos os limites do comportamento aceitável;
2) deve determinar-se a gama de variação dos comportamentos possíveis e deve
demonstrar-se que, com uma probabilidade aceitável, o comportamento real virá a estar
dentro dos limites estabelecidos;
3) deve ser elaborado um plano de observação, o qual tem por objectivo verificar se o
comportamento real se encontra dentro dos limites estabelecidos; isto deve ser tornado
claro suficientemente cedo pela observação, e a intervalos suficientemente curtos, para
que seja possível adoptar, com sucesso, medidas de correcção. O tempo de resposta dos
instrumentos e os procedimentos para análise dos resultados devem ser suficientemente
rápidos em relação à possível evolução do comportamento da obra;
4) deve estar previsto um plano de actuação, a adoptar no caso de a observação revelar
um comportamento que saia dos limites estabelecidos.
Durante a construção, a observação deve ser garantida conforme planeada, podendo,
caso tal seja necessário, colocar-se dispositivos adicionais ou proceder-se à sua
substituição. Os resultados da observação devem ser analisados nos prazos apropriados
e, caso necessário, deve ser posto em prática o plano de actuação previamente
estabelecido.
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Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 3-44
3 Relatório do projecto geotécnico
3.1 Hipóteses, dados e cálculos
As hipóteses, dados, cálculos e resultados das verificações da segurança e da
funcionalidade devem ser registados no Relatório do Projecto Geotécnico.
O nível de detalhe do Relatório do Projecto Geotécnico pode variar bastante, dependendo
do tipo de projecto. Para projectos simples, normalmente da Categoria Geotécnica 1,
pode ser suficiente uma só página. O relatório deve, geralmente, incluir os seguintes
aspectos, com referências cruzadas com o Relatório de Caracterização Geotécnica e com
outros documentos que contenham mais detalhes:
a) descrição do local e sua vizinhança;
b) descrição das condições do terreno;
c) descrição da construção proposta, incluindo as acções;
d) valores de cálculo das propriedades dos solos e das rochas, incluindo a respectiva
justificação, se apropriado;
e) regulamentos e outros documentos normativos aplicados;
f) condições do local face à construção proposta e nível de risco aceitável;
g) cálculos e peças desenhadas do projecto geotécnico;
h) recomendações para o projecto das fundações;
i) referência aos aspectos a verificar durante a construção ou que requeiram observação
ou manutenção.
O responsável pelo Relatório do Projecto Geotécnico deve ser um engenheiro civil com
conhecimentos geotécnicos e experiência adequados.
![Page 49: Sebenta_FUNES_Cap_01_v01.pdf](https://reader037.vdocuments.com.br/reader037/viewer/2022103007/55cf9947550346d0339c8d79/html5/thumbnails/49.jpg)
Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 3-45
3.2 Supervisão, observação e manutenção
O Relatório do Projecto Geotécnico deve incluir um plano de supervisão e observação,
caso apropriado. Os aspectos que requeiram verificação durante a construção ou
manutenção após a construção, devem ser claramente identificados no relatório. Caso as
verificações necessárias tenham sido efectuadas durante a construção, devem ser
registadas e anexadas ao relatório.
Relativamente à supervisão e à observação, o Relatório do Projecto Geotécnico deve
explicitar:
a) o objectivo de cada conjunto de observações e medições;
b) as partes da estrutura que devem ser observadas e os locais onde devem ser
feitas as observações;
c) a frequência com que se devem efectuar as medições;
d) o modo de avaliação dos resultados;
e) a gama de valores dentro da qual se inserem os resultados;
f) o período de tempo durante o qual a observação deve continuar depois de
terminada a construção;
g) as entidades responsáveis pela realização das medições e das observações,
pela interpretação dos resultados obtidos e pela observação e manutenção das
estruturas.
Nos casos apropriados, referidos no parágrafo anterior, deve ser fornecido ao dono da
obra ou cliente, de uma forma individualizada, um Manual contendo os requisitos de
supervisão, observação e manutenção para a estrutura construída.
![Page 50: Sebenta_FUNES_Cap_01_v01.pdf](https://reader037.vdocuments.com.br/reader037/viewer/2022103007/55cf9947550346d0339c8d79/html5/thumbnails/50.jpg)
Introdução. Considerações Gerais.
Fundações e Estruturas de Suporte 3-46
Bibliografia
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Novembro, 2004.
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Encontro Nacional de Engenharia de Estruturas, Lisboa, LNEC, Novembro 2008.
Correia, Rui; “Eurocódigo 7. EN 1997 - Projecto geotécnico. Apresentação geral”, Os
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Lisboa, LNEC, Novembro 2008
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Lisboa, LNEC, Maio 2008.
Correia, Rui; “Bases do Projecto Geotécnico”, Curso sobre o Eurocódigo de Projecto
Geotécnico – Parte 1 (EN1997-1), Lisboa, LNEC, Maio 2008.