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1 Poemas Francisco Fontinha POEMAS

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1Poemas

Francisco Fontinha

POEMAS

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2Poemas

Francisco Fontinha

Dizimados pelo fogo incandescenteVejo o homem do chapéu negro partirSem destino e timidamente escondido a sorrir...O fogo encarna o meu olhar incompreendido e vacilante!

A música recorda-me o amanhecerQue em tempos eu compreendia a sua existência meramente oportuna,E cansado de observar, disperso no sonho, vejo a minha fortuna,Vejo que o meu corpo espera simplesmente a hora de falecer...

A canção que ouço, menina do mar, apaga-seNo meu esconderijo secreto e desconhecido!

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Francisco Fontinha

A distância que nos faz separarPerde-se na imensidão do espaço desorganizado,Que o meu corpo cansadoRecorda aquela manhã onde se perdeu o meu triste olhar...

Está calor e não consigo adormecer.Fora do meu habitat naturalPerdem-se palavras dispersas numa pequeníssima folha de jornalQue podiam ter sido escritas pela minha mão sem eu compreender.

Vi-te adormecer no meu destino!

E compreendi que a distância é compensadaPela escuridão de um amanhecer,Os meus versos perdidos no teu sorriso quando os estás a lerSem dares conta do brilho de uma estrela cansada...

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4Poemas

Francisco Fontinha

Se tivesse o teu olhar,A chave do teu coração,Eu, queria entrar,e...cantava-te uma canção!Se eu soubesse voarEntrava na tua madrugada,Devagarinho, para não te acordar,Á espera de te ver acordada...

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5Poemas

Francisco Fontinha

Todas as madrugadasSão frígidas,Distantes,Tempo dissipado,Palavras pronunciadasNo leito dos amantes.Todas as madrugadasSão frígidas,Desertas,Onde um corpo cansadoAdormece com mulheres deitadas,De pétalas abertas...Todas as madrugadasSão frígidas,tristes...Porque não passam de madrugadas.

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6Poemas

Francisco Fontinha

Não posso estar presenteNo dia do meu funeral.Lágrimas derramadas por muita gente,Rancores de raiva me querem tão mal.

Tiveram o cuidadoEm vestir-me a rigor,Fato e gravata, no caixão deitadoMultidão que chora presente dor.

Porque choram pergunto eu desanimado!E só depois de ter morridoCompreendi a razão de ser odiado...Sinto-me triste por ter nascido!

E estou feliz deitadoNeste caixão em madeira...

A presença do vigárioNunca me agradou,Fizeram tudo ao contrárioDaquilo que o meu pensamento planeou.

Não me importo. Irei contrariado...

Poucas horas deitadoE já me sinto distante,-Porra. Sinto-me cansadoDe olhar tão triste gente.

Estou pronto para embarcar.No meu quarto depositadoOuço alguém cantarA canção do abandonado.

Choram as mulheres lágrimas na escuridãoE feliz, vejo crianças a brincar,Brincadeiras à volta do meu caixãoAntes do cangalheiro as portas fechar.

Começa o maldito padre uma “merda” qualquer,

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Francisco Fontinha

E eu que nem padre queria.

Fecha-se o maldito caixãoE o meu olhar perde-se no meu corpo cansado,Gritam então..., meu querido filho! Filho da minha alma meu coração...E tudo fica calado.

Missa não tive, missa não.O maldito padre apressadoReboca o meu pobre caixão,E eu a rir porque vou deitado.

Lançar as cordas. Corpo ao fundo. Finalmente...A terra cobre-me como sempre tinha pensado,Terra que tudo mastiga, terra que engole gente.Assim descansa o meu corpo cansado.

Mais tarde uma lápide foi colocadaEm memória de um tal Luís Fontinha, data de nascimento...Nascido em Janeiro e Luanda apaixonadaMeu filho querido tristeza do meu sofrimento.

E a lápide foi apagada.Um anjo na escuridãoNovas palavras escreveu pela calada,Aqui Jaz Luís Fontinha, aqui apodreces maldito “cabrão”.

Sete anos mais tarde.

As letras no tempo foram apagadasTal como uma folha de papel dourada.

Outro no meu lugar foi enterradoJuntamente com os restos que sobravam de mim,E eu sem culpa alguma compartilhei o mesmo valadoQue mais tarde alguém fez um jardim...

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Francisco Fontinha

Já ameiE fui amado,Já chorei,Já fui condenado,Fui feliz,Infeliz,E já estive encalhado!CaminheiPor mundos distantes,Coisas horríveis que olhei,E agora, quimera adormecida, estrelas cadentes,O Sol que não vai acordar,A terra, sempre a girar,A minha sombra, que ao adormecer, sentes!Vou deixar de me esconder,Vou lutar,Viver,Voltar a amar!

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9Poemas

Francisco Fontinha

Entrar na confeitaria

Para cigarros comprar,

Cigarros não tinha,

Corro para a papelaria

E má sorte a minha; cigarros não havia.

Café havia

Mas o que eu queria era fumar.

E o meu peito sentia

O medo de acordar.

Dia de azar.

O meu relógio parou

E perco-me na avenida.

Sem cigarros, sem fumar,

Só me resta escrever o teu olhar...

Peço-te para me sentar ao teu lado

Sem compreender porque o fazia.

Distraído

Não reparei no teu lugar ocupado

E sei que me odeias. Gosto de ser odiado.

Finalmente

Encontrei cigarros para fumar.

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Francisco Fontinha

Cada gotinha de chuva, que lentamenteSe desprende, Sei, que um pedacinho de ti,Olha para mim, sorridente.Procuro a chama que me acende,O Sol que és tu, o calor que senti,sinto...e me faz viver...,chove...e continuará a chover!Não poderei falar nos passarinhosPorque adormecem nos ninhos,Poderia falar das flores,Mas também elas adormecem,E esquecem,O voo do flamingo...sem ajuda de computadores...

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11Poemas

Francisco Fontinha

Abraço-te, como se fosses o amanhecer,Pinto os teus lábios doces, que quero beijar,O teu sorriso, desenhar,E no teu corpo, escrever,O mais belo poema de amor.Escrevo desejar,Não interessa onde vou escrever,Escrevo querer,Que adoras prenunciar,Quando encostas a tua cabeça, nos meus braços cansados...E o teu corpo é perfeito!Tenho tanto onde escrever,Que não sei se terei palavras, jeito,E apenas sei que quero viver,Querer-te que tu me queiras, ao teu lado!

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12Poemas

Francisco Fontinha

Quando estou ao teu ladoNão me importavaQue parasse o tempo,Que o Sol esteja triste, ou a sorrir,Se estou cansado,Não me importo, mas gostava,Que fosses o vento,E voasses sem cair...Quando estou ao teu ladoNão me importavaQue parasse o tempo,Que existam electrões, relatividade,O universo, desabado,Não me importava, mas adorava,Que não existisse em ti, sofrimento,E também, não soubesse o que é saudade!Quando estou ao teu ladoNão me importavaQue parasse o tempo!

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13Poemas

Francisco Fontinha

Preciso de acordarE não tenho sono para adormecer.Caminho por este corredor,Escuro e cansado,Pego num cigarro, e a noite parece esquecerQue eu existo, que quero caminhar.Sem fazer nada, fico deitado,Á espera do inquisidor...

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14Poemas

Francisco Fontinha

Pego no teu olhar,Meu amor,Como se fosse o amanhecer,Quando acorda, sem dor,Parecendo o marIncapaz de envelhecer.Pego no teu sorriso,Minha querida,Como faço aos livros, que neste quarto adormecem,E dou conta, que a vidaMe quer, que eu te quero, e por ti, perco o juízo...Mas não me importo, porque eles esquecem,E nunca mais vão lembrar,Que eu sou eu, que tive passado,E andei a navegar,E que por ti fui encontrado.O que eles dizem, não se vai escrever,Porque eles, desconhecem,E não querem compreender,Que são mesmo eles, que envelhecem...

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15Poemas

Francisco Fontinha

Esta noite sonheiQue te abraçava,Beijava,Que voava...e sei que voei.Voar!Sentimento de liberdadeOu quimera saudade,Que me liberta e faz sonhar...Pássaro que na minha janelaMe acorda e faz ver,Que não deverei nunca esquecer,Porque não me esqueço, que ela,Que és tu, meu amor,Nuvem que navega no meu mar,Que corres sem parar,Colhes esta velha flor!Sim! Eu sereiA flor que no teu jardim adormeceE que nunca esquece...Nunca esquecerei!E se gostas tanto de plantarÁrvores no teu jardim,Olha meu amor, planta-me a mim,E ficarás com o meu olhar!

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Francisco Fontinha

Sabes que não sei voar,E se soubesse, não voava,Desejava, queria ser como o flamingo,Literatura,Mia Couto, sempre África com ternura,Saudade, orvalho ao madrugar...Não fazer nada, porque hoje é domingo,Caminhar até me cansar...e sei que te encontrava.Queria serFernão Capelo Gaivota,Adormecer minha revoltaQuando preciso de escrever...Só me resta ficar ao teu lado,Construir os meus sonhos sonhadosEm papel amarrotado, versos cansados,E esquecer...o meu passado.

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17Poemas

Francisco Fontinha

Sou engenheiroDe aviões,Escritor,Pastor, guardião de sonhos e emoções,Pedreiro,Pintor.Cálculos desorganizadosHabitam computadores apaixonados,Manuais de física, mecânica,termodinâmica...Revoltam-se os electrõesContra protões,A relatividadePerde-se na saudade,E o computadorNunca saberá o que é amor.Os relógios não se cansam de caminhar,E o governo, não quer governar.Existe dinheiro para uma estação espacial,E o homem, cansado de passar mal.A mulher não grita quando é espancada,E novamente, mais uma vez, uma criança abandonada.Apetece-me berrar,Mas tenho de me calar.O homem não compreendeQue o planeta terra é uma prisão,Que nos prende,E que mais tarde...nos pede perdão...Os ditadores são perdoadosE milhares de homens foram dizimados.A economia dá-nos de comerMas retira-nos a liberdade de viver.E um Deus arrogante

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Francisco Fontinha

Parece viver feliz e contente...A que "merda" de mundo eu vim parar!!!!

Não consigo adormecer.Alguém certamenteEstá a chorar,Gotinhas de água estão a sorrir,Abro a janela para olhar,Nada consigo ver,Só uma estrela que passa velozmente,Chama-me, e não quero ir.O pássaro “achado” também não consegue adormecer,Diz-me ao ouvido baixinho, devagar.- Consegues correr?Certamente estás a brincar!Preciso de fumarE não o vou fazer,Não me quero matar.- Tens medo de morrer?- Olha para mim!- Sem casa para habitar,Vivo no teu jardim,E não me canso de cantar...Estava a sonharQue não adormecia,Mas sei que dormia,E porque estava a choverNão me apetecia levantar...

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Francisco Fontinha

SabiasQue os teus olhos são diamantes?Pedra preciosa,Que por ela, homens se matam, andam a guerrear,E se esquecem,O sentido verdadeiro de viver?Pois é. Desconhecias!Certamente também não sabias,E ficas a saber,Que os teus lábios quero pintar,Minha flor de pétalas ausentes,Estrelas que me iluminam e esquecem,Me dizem, o quanto és amorosa.

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Francisco Fontinha

Minha flor!O teu olhar,Estrela ausente, multicolor,Que não se cansa de viajar.O teu cabelo, manuseado pelo vento,Velas de veleiro abandonado,Profundo sentimento,De um ser apaixonado.Quero escreverNo teu corpo, um poema de amor,E tenho medo de te magoar...Palavras que se afundam no mar,E tu, não conseguirás ler,Por seres uma flor.Sei que vais desaparecer,Como este papel, que se dissolve no lume...Mas não esquecerei nunca o teu perfume.

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Francisco Fontinha

Entras no art-bar,E o que me apetecia,Era o teu corpo desenhar,Como se fosses uma flor,E me dizia,Pinta-me, pinta-me, meu pintor...E acredita que eu te pintava!Escrevia no teu corpo, palavras sem sentido,Que só tu irias compreender,E ler,E sei que não precisava,Porque não preciso viver escondido.Desculpa-me. Não te posso pintar!Primeiro, o teu guarda-costas ficaria ofendido,Segundo, o Vieira não ia deixar,Terceiro..., foi melhor ter desistido.

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Francisco Fontinha

Sinto-me prensado,EncalhadoNum porto de mar,amarrado...Á espera de zarpar.Que grande tempestade.Provavelmente,Não poderei ganhar velocidade,E ficarei amarrado certamente.Certamente? De nada tenho certeza.Tenho certeza de querer caminhar,E por isso, procuro em cima da mesaUma certeza, que certamente me fará revoltar.Há muito eu devia ter navegado.Saído deste porto que me está a prender,Que faz de mim, mais um barco encalhado,Que acabará por apodrecer...Mas tudo na vida acaba por morrer,E também os barcos, se tornam sucata,Aço que dará vida a novo aço, tudo para derreter,Tal como as leis do governo, que ninguém acata...Nunca pensei, que com motores tão potentes,Eu, apenas um barco, acabasse neste porto de mar.Vejo as coisas ao longe, distantes,Como se estivesse a dormir, cansado de sonhar...

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Francisco Fontinha

Este cãoQue no meu monitorAdormece,Irrita-me. Até pareceUm guardião,E odeio este maldito computador.Circuitos integradosConstruídos com mão-de-obra barata,Homens espancados,Máquinas, sucata.Em troca de um salário,Estes mesmos homens, vendem-se ao desbarato,Como prostitutas gordas, sofrendo o rosárioDe um qualquer chulo, dizendo-lhes que o preço é barato...Se todos se recusassem a trabalhar,A linha de montagem parava,Não havia computadores para conversar,E estava-se ao lado da pessoa que se amava.

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Francisco Fontinha

Minha pequenina,Débil florQue no meu jardim adormece,Sorriso de menina,Que sei que não me esquece,E me chama...Amor!

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Francisco Fontinha

Alijó, cada vez maisSe afunda,Parecendo a jangadaDe Saramago. PresidentesQue desconhecem o que é governar,Tachos e panelas para os amigos,E acabam por se esquecer,Que esta vila está perdida...

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Francisco Fontinha

Amo e sou amado,Vivo e desejo desenfreadamenteViver.Estar ao teu lado,Não chega, e prefiro...querer,Tal como o Sol, ao acordar, sorridente.Preciso de espaço,Que o tempoSe acomode,Não ter cansaço,Gritar bem alto; quem me acode?e...consigo ver o teu movimento...Pareces uma nuvem selvagemQue caminha na minha memória,Principio e fim da minha história,Que o vento esconde na aragem.Tu, Amor, és leve como luar ao anoitecer,Que consegue voar,consegue...chorar,

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E baixinho, no silêncio, gritas..., preciso muito de te ter!

Ouço o teu respirarNas madrugadas de orvalho,Silêncio que te adormece,E esquece,Tempo que se cansa com trabalhoNa penumbra de acordar.Vejo-te passarSem roupa, tal como as árvores no Outono,Despidas e cansadas,Corredio de mulheres apressadas,Que na calçada ao passarem me tiram o sono,E correm, correm, correm sem parar...Decido escreverNo teu corpo de orquídea selvagem,Palavras que não me deixam adormecer,Que eu tento compreenderE levo na bagagem,Para quando nada tiver que fazer...

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Francisco Fontinha

Todo o dinheiro do universoNão chega para pagar o teu sorriso,Que se esconde neste versoComo uma flor sem juízo.Obedeces ás leis da aerodinâmicaComo um pássaro voador,Com força e dinâmicaIgnorando o criador.Confesso que desconheçoQuem és, se pássaro voador,Sonho onde adormeço,Ou...uma simples flor.As flores também conseguem voarE os pássaros, serem flores.Poderás ser o mar?Alucinação de escritores?E esqueço-me que o teu olharSe esconde na madrugada, Que não me deixa acordar,E que o túnel onde estou, têm a luz apagada...

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O teu meu corpo luar,Que o silêncio amanha,Cansado de voar,Esperando quem o apanha.Quero que tu queiras querer,Asas de vento,Ondas de mar a sofrerNos teus olhos sofrimento.O teu meu corpo amanhecer,Sorriso confesso, veleiro que navega,Procurando esquecerA constelação de vega.O teu meu olhar,Distante de se ver,Á espera de se cruzar,Ou então...se perder!O teu cabelo flor acordada,Foguetão em viagem,

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Cansado de cansada,Descodificando a mensagem...

Não sei!Não sei o que é adormecer,Sorrir,Sonhar,Ou simplesmente viver.Porque tu existes, e vais partir,O Sol acordar,Não sei que sei que chorei!Ninguém quer saber,Nem importa o que vamos fazer,Se faz Sol ou está a chover,Ou corremos sem correr...És flor adormecida,Muito bela e querida...,

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Manhã submersa esquecidaÁ procura da vida.Pétala de ternuraEterna brancura,Olhar cansado com bravura,Que se despedaça de grande altura...Não sei!Não sei o que é voar,Viver,O que são electrões,Pensamentos metalúrgicos ao acordar,Treliças que quero esquecer.Fundem-se protões,E de tanto te olhar..., me cansei!

Entras mansinha,Levemente e sem pressaApressada,Tal como na Primavera andorinhaO ninho faz depressa,E não se cansa de ficar cansada.

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Vejo-te entrarE o silêncio adormece,Sol que me aqueceE parece escaldar...E eu tão perto, ao teu lado,E de ti tão distante...É frustrante, Eu, ser um veleiro afundado.

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Se eu pudesse, queria ser,Não quem sou, mas o outro eu existente,Aquele que te deseja e quer,Que sofre por estar distante.Se eu quisesse, queria ser,Lençol que acaricia o teu corpo nuvem adormecida,Flor que não se cansa de viver,Pergaminho em luar na noite perdida.Se eu pudesse, queria ser,As palavras que deixei no teu corpo ao vento,Frases que quero voltar a escrever,Devagarinho, para não te causar sofrimento.Se eu pudesse, queria ser,Não quero porque já sou,Queria te ter,E já te tenho, e dou vivas a quem me acordou...

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Francisco Fontinha

Cada pedacinho do teu olhar,Madrugada em desalinho,Vontade de não me encontrarAmanhecer voando baixinho.Cada pedacinho do teu corpo magoado,Silêncio em descanso, grito de guerreiro, Pássaro de sorriso cansadoCorrendo para ser o primeiro.Cada pedacinho da tua tristezaQue os meus olhos não querem ver,Confunde-se com a tua belezaQue teima em se esconder.Porque teimas em te esconder?Se queres sorrir,Porque teimas em adormecer?Se queres viver, vive...e não tenhas medo de fugir!

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Mulher de negro

Para mimÉs a mulher de negro,Que em noites de amargura,Este corpo cansado,Escreve versos á mulher de negro.Porquê mulher de negro? Não sei!Porque o universo gira,E é negro,Infinito, sombrio...Porque a noite é escura?Porque a solidão não se vê?Do meu quarto, desta janela que tu não vês,Porque não existe, porque está escuro,Tu, a mulher de negro,Passas por mim e não te posso olhar;Porque está escuro, e tu, vestida de negro...E sinto que o meu destino, negro,É sonhar com a mulher de negro!

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36Poemas

Francisco Fontinha

Ouço no teu olharO silêncio que me odeia,Tal como o teu sorriso,Cânfora manhã adormecida,E o teu corpo, disperso, adormeceA razão que me encandeia.A tua sombra, ao deitar,Mão que semeia,Mão que castiga,Aviso,Mão que me esquece!Dentro de ti, meu amor,Existem duas formas de viver,Dois mundos a girar.Uma, tal como uma flor,Fresca, pronta a ser colhida.A outra, tristemente recolhida,Caminha por caminhar,Sem vontade de me ver.

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37Poemas

Francisco Fontinha

Á minha mãe

Quem sois vós para condenarUm pobre inocente abandonado,Que por heroina ter fumadoNão pode descansar.Quereis julgarOs filhos dos outros; É culpado!Esqueceis vosso filho amado,Também ele julgado por vozes a gritar...É drogado! É drogado...E no silêncio, tudo calado,Uma mãe, lágrimas a chorar.Quem mais se não ela para nos perdoar!Também eu tenho mãe e por ela fui perdoado.Sofreu e continuará a sofrer,Porque na rua ao passar ouve dizer,Teu filho foi drogado, drogado...

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38Poemas

Francisco Fontinha

A partida de Sofia…

Quando me encontro na solidão,Ao subir e descerAs escadas sem corrimão,Os meus olhos fecham-se e não consigo escrever...Palavras, pequenas confidênciasQue dentro de mim moram,E na rima que tento precaver como aparências,Deitam-se em olhares que choram.Muros pintadosDe amarelo a fugir,Versos que te escrevi apaixonadosCensurados por um idiota a sorrir.Sofia já não existeE permanece no coração de Lisboa,Apenas uma saudade resisteAo nevoeiro de Fernando Pessoa.E quando passo na nossa esplanadaQue ambos assentava-mos arraias na escuridão,Vejo-te sentadaCom um livro na mão.Havia fins-de-semanaQue pensavas que em casa permanecia,E eu, com o Monção, pelo Casal Ventoso em demandaOu no bairro do relógio (Camboja) á procura de quem não devia...Claro que compreendes porque te mentia!Tu também começavas a navegarE dizias-me que um dia,O nosso amor, acabava e eu na vida continuar...E tu, acabaste por escolherA saída mais eficaz...E preferiste morrer.Oito anos passados, apenas te posso dizer; descansa em paz!

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39Poemas

Francisco Fontinha

Precisava de tempo

Precisava de tempoPreciso de espaçoÉ necessário alimentoPara meu cansaço...Sombras na escuridãoTinta derramadaPincéis espalhados no chãoPergaminho em retirada!Vento...ouço o ventoQue caminha apressadoOuço tua dor, vejo teu sofrimento,Sinto teu sorriso descontrolado...Preciso de tempoPrecisava de adormecerQueria ser o vento...Quando acordo ao amanhecer!

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40Poemas

Francisco Fontinha

Para um amigo

Um dia acordei a sonharQue Deus não existia e me estava a aldrabar,E várias voltas dei nos meus apontamentos.Deus abandona os necessitadosFavorecendo aldrabões e drogados.Deus todo-poderoso, rei dos enforcamentos!Mas um drogado também é genteE Deus perdoa-o mais facilmente,- Tenham pena que é um desgraçado. E não consigo compreenderPorque este Deus me faz sofrer,E deixa uma criança ser drogado.Eu, sinceramente não acreditoE chamo-lhe nomes que arrependido fico.Deus não sabe matemáticaE desconhece a relatividade,Ocultando para uns a verdade.Deus não utiliza a gramática!

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41Poemas

Francisco Fontinha

As pulgasDo teu rosto meu cão amigoSão a felicidade do nosso criador;Será que tu, meu fiel amigo, acreditas em Deus?Deus que fez as pulgas,As mesmas que comem o teu lindo sorriso,Sorriso que é tristePorque as pulgas criadas por Deus te mirram a claridade.Há homens muito maus, piores que as pulgasCriadas por Deus; homens que me chamam louco!Louco! Porque a tua amizade, meu cão, é verdadeira amizade.O homem espanca o cãoPorque o cão mordeu o homem,Porque Deus fez as pulgas!

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42Poemas

Francisco Fontinha

A caixa do silêncio,Onde guardo os amores mais secretos,Fica no meu coração...A caixa da loucura,Onde adormecem todos os meus sonhos,Habita na Calçada da Ajuda. Onde fica?Frente ao rio, o Tejo, água que inspirouUm bando de desertores; Eu e os outros.Moreira que em tudo alinhavaE em nada entrava;- Eu não sou desses!O grupo formado, junto á torre de Belém,Todos nós, preparados para destroçarEm passo acelerado, partida para a longa viagem,E só ao outro dia o toque da alvorada nos acordava!

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43Poemas

Francisco Fontinha

Alguém que por mim chamaPorque eu perdido,Sinto os lençóis na cama,Eu deitado, me sinto esquecido.Fumo que me alimenta os volantesDa existência meramente oleados,Amantes que adormecem amores abandonados.O que penso do amor!Essa é boa...Amor é dor,É ruas e bares de Lisboa.

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44Poemas

Francisco Fontinha

Café da Paz

Entro no café para a vida esquecer,Porque a vida nunca se esquece,Posso esquecer o café,Posso esquecer quem sou,Posso esquecer quem amo...Será que o Café da Paz posso esquecer?Este café faz parte do meu corpo, da minha alma; se tenho alma!

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Francisco Fontinha

Ao som desta músicaMorrem crianças embriagadas,Textos de Filosofia se escrevem,Porque as crianças morrem embriagadas.As pedras rolam pela calçada,Tal como mulheres de cioPisam essas mesmas pedras, seiosDescampados, campos de trigo quando ardem...Sol a iluminar janelas de pouco sorriso,Homens que choram a morte dos filhos,Porque morrem, porque estão embriagados.Eu a escreverE crianças a morrer!Morrem porque estão embriagadas.Olho para a rua.Roupa vestida de sangueRepousa em arames com que crianças brincam,

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Francisco Fontinha

E o ditador escondido sorri; as crianças morrem embriagadas!

Sem ti

Sem ti, não encontro o amanhecerQue dentro de mim adormece...Sem ti, não sou quem deveria ser,Ou serei um farrapo que o tempo envelhece!Sem ti, perco-me na escuridãoOnde o tempo me esqueceu,Sem ti, não sou capaz dizer “não”Quando o vicio me venceu...Sem ti!Sem ti, o orvalho agarra-se ao meu cansaço...

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47Poemas

Francisco Fontinha

Vejo corredores com portas iguaisVejo homens loucos tratados como animais.Não vejo o Sol porque meu olhar adormeceuQuando a heroina no meu corpo apareceu...Vejo o cais de embarque desfeito pelo temporal,Cemitério agreste que faz meu corpo imortal.Palavras ao vento, palavras adormecidas...Vento nas palavras, embarcações perdidas!Vejo o cais afundar na chuva miudinhaVejo uma lápide, “aqui mora Luís Fontinha”...

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48Poemas

Francisco Fontinha

Amor porque me esperasSe eu não mereço a tua liberdade,Porque me acolhesSe a minha mentira te faz sofrer.Não contes com a minha presençaPorque adormecido e perdido,O teu amante mentirosoTe asfixia a liberdade prometida.Amor porque me esperasSe eu não mereço a tua liberdade!Cansado de te amar

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Francisco Fontinha

Cansado de amar-te no infinitoO teu amante cansadoMais uma vez te mente.Amor porque me esperasSe eu não mereço a tua liberdade!

Minha senhora!Alguma vez foi ao enterro de seu marido,Seu marido que não conheceu,Ele amava a vida e com a vida pagou a morte.Minha senhora!As rosas do seu jardim,São as flores do seu vizinho,O cemitério onde repousa seu marido.Minha senhora!Seu marido vendeu

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50Poemas

Francisco Fontinha

A alma ao diabo,E o diabo fez amor com a sua carne apodrecida.Minha senhora!A sua vida é um infernoPorque seu marido falecido, que Deus o tenha, apaixonou-se pelo diabo.

Sonhar com prazerDe acordarE acordar a fazerSonhos de sonhar.SonharE compreenderQuem sonha no marSonhar para esquecer.

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51Poemas

Francisco Fontinha

Se nas paredes velhinhasDo Café da Paz eu escrevesseOs olhares cruzados de mentira,Sorrisos a quem devo obediência,As minhas mãos nada iam escrever.As frases adormeciam-me este Universo fechado,Os versos cansados partiam para o desconhecido.Se no Café da Paz eu escrevesse,Era o homem mais infeliz da vida...

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Francisco Fontinha

Relógio que marca o tempoTempo que não é tempo, passado que já passouE nunca mais volta a passar. Relógio com sentimentoOnde a dor não sente, e o mar com suas ondas acordou.Um cãoQue chora e o dono não compreende que tem fome, fumarPalavras de rancor e adormecer sentimentos de ilusão,Fumo que alimenta este relógio a pensar.Horas de adormecer!Lá for a, na escuridão, um homem canta

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53Poemas

Francisco Fontinha

Canções de revolta, vento que não adormece e faz morrer.Terminou…O relógio por falta de corda não anda,E o homem que não tem relógio, grita. A vida parou.

Sonhei

Sonhei que o teu rostoAdormecido no meu leitoEra um ninho de pássaros adormecidos.Árvores, jardins sem proveitoAlojamento diurno de mau gostoCanções de gritos desprovidos...

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54Poemas

Francisco Fontinha

Sonhei que o teu sorriso não era teuE a madrugada de dois amantes desnorteadosNavegam em sonhos de loucura,Sonhei com soldados deportadosPela ventania que o amor esqueceu. Sonhei, hoje, que os teus cabelos são a minha amargura.Vejo o teu corpo despidoNo sofrimento do meu destino encalhado...Em viagem, este barco que adormece,Passageiros em revolta no oceano abandonado.Sonhei que tinhas sonhado, sonhei que estou perdido...Sonhei tudo aquilo que o tempo esquece!

Escondes-te de mimComo se eu fosse ausenteMonstro adormecidoToque de clarim

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55Poemas

Francisco Fontinha

Sombra que não senteO teu olhar amortecido.

Mulher de negro, porque de mim tens medo?

Quero caminharE as minhas pernas adormecemComo flores de InvernoRosas que te queria darE se esquecemQue a minha vida é inferno.

Mulher de negro, porque de mim tens medo?

Fico feliz e contenteQuando sinto que vais passarDeusa entristecidaSilêncio que me menteMadrugadas de encantarE eu, procuro a mulher de negro, esquecida.

Mulher de negro, porque de mim tens medo?

Se eu pudesse esconderOs meus sonhos sem madrugadaEscolheria certamenteO teu olhar.Se eu pudesse escreverNo teu sorriso, mulher encantada,

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56Poemas

Francisco Fontinha

Escrevia sem medo de te encontrar,Porque não quero ficar, aqui, eternamente.

Para mim, és a mulher de negro, cansadaDe adormecer.

Se eu quisesse estar ao teu ladoPássaro protectorAvião em descolagem,Acredita que eu estava.E prefiro aqui ficar deitado,Esquecer-me que não tenho motor,Sonhar que posso voar e voava...Levando-te comigo para outra paragem.

De negro vais passarEscuridão madrugadaNuvem de arrasarSorriso de magoada.

Flor traiçoeiraDias de nada fazerChora minha pequenina feiticeira,Chora..., e não tenhas medo de viver.

De negro vais passarNuvem incandescentePrisioneira do meu olharLágrimas de quem me mente.

De negro vais passar

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57Poemas

Francisco Fontinha

Quando amanhece, O sol, não precisa de acordar,E o teu olhar, adormece...

De negro vais passarComo se fosses o gritar do anoitecer,Verdade que me faz pensarNão quereres tu me ver...

De negro vais passarE o meu olhar indiferente,Vejo pássaros a voar,E o teu corpo... quer-me presente...

Sorriso de abandonada

Não posso adormecerNos teus olhos madrugadaQue me fazem esquecerO teu sorriso de abandonada.

Pareces tão tristeE és tão belaDiva que resisteNo silêncio da minha janela.

Pedacinho nuvem amanhecerVoando baixinho,Luar ao anoitecer.

Minha pequenina flor,Se quiseres, serei o teu carinho,Ou... o teu eterno amor!

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58Poemas

Francisco Fontinha

Mulher de negro

Mulher de negro,Pedacinho de amanhecer,Porque estás a chorar?Se és tão bela e podes ter,Nas tuas mãos, o mar!Mulher de negro,Orvalho na madrugada,Porquê essa tristeza?Se no teu ar de cansadaSe esconde tanta beleza!Mulher de negro,Rio que se esconde na escuridão,Porque teimas em fugir?Porque fechas a sete chaves o teu coração,Quando bastava ver-te sorrir!Mulher de negro,Revolta de um povo amordaçado,Porque estás adormecida?Tem pena deste pobre coitado,Que sofre...vendo-te esquecida!

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59Poemas

Francisco Fontinha

Mulheres que mentem…

Há mulheres que mentem por prazerE outras, fazendo acreditar que não sabem mentir,Mentem..., e dão a entenderQue a vida é feita a sorrir.Existem flores que parecem belasE são horríveis de olhar,Tal como as mulheres que mentem, parecendo Donzelas...Donzelas? Não... não digo o nome que lhes devia chamar.Talvez as putas sejam mais sincerasPorque não sabem mentir,E tenho medo daquelas que parecendo belasSão pior que putas...mas a sorrir.

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60Poemas

Francisco Fontinha

O teu sorrir...

O teu sorrirMulher de negro, quando estou a acordar,Ou quando me deito nesta cama insolente,É como as manhãs a fugirDo orvalho distante...E eu, perco-me no teu olhar.É estrela adormecidaEm constante desalinho,Tu, mulher de negro, tão querida,Leve como um passarinho.É adormecer

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61Poemas

Francisco Fontinha

E não querer acordar,É viverCom medo de te amar...O teu sorrirÉ diamante,Sofrer sem sentirE esperar que sejas minha amante...O teu sorrirÉ lindo...porque é teu, e nunca me irá pertencer,É ter vontade de fugir,E ao teu lado, adormecer!

Mulher de negro sozinha e tristeQue o meu olhar distante Não resisteÁ dor de estar ausente.

Mulher de negro porque estás a chorarQuando certamenteDevias cantarOu...saltar de feliz e contente.

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62Poemas

Francisco Fontinha

Mulher de negro, tão belaComo nuvem ao amanhecerQue, através da minha janela,Sem saber porquê...necessito de te ver.

Mulher de negro que me enlouqueceTodas as noites ao adormecerAmor que me aqueceE a solidão me faz esquecer.

Mulher de negro, será que poderás existir?

Minha escuteiraQue caminhas apressadaSilêncio na madrugadaPalavras que adormeço na fogueira.

Talvez apaixonadaComo o amanhecer ao acordarQuando se esquece de sonharE tu, que não sei se pensas em mim, acordada.

Noites que não quero adormecerHoras em silêncio cronometradas com rigorVento que acorda minha florE por ti, tenho vontade de viver.

Minha escuteiraEm alerta permanente

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63Poemas

Francisco Fontinha

Quando passas, acordas toda a gente,E quando adormeces, és feiticeira.

E com o teu feitiço me sinto adormecidoCorpo cansado de te olharSilêncio de te amarNeste universo perdido.

Ainda não sei se te posso amarMas também desconheço se amanhã está a choverTanta coisa que não consigo preverQue tenho medo, minha escuteira, de estar a sonhar.

Se eu pudesse transformarA tua tristezaEm pedacinho de nuvem adormecida,Ou em vento amanhecerQuando acorda, e parece brincar...Se eu pudesse pintarA tua alegre belezaNa parede do meu quarto envelhecida,Acredita que o fazia com prazer.

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64Poemas

Francisco Fontinha

Apetecia-me pegar-te com jeitinhoComo se fosses uma flor,Manusear-te devagarinho...E cheirar o teu odor.Pegar nas tuas pétalas ao ventoE percorrer o teu corpo com a minha mão,Fazer com que não tenhas sofrimentoE entrar no teu coração.E se me deixasses escrever...Eu escrevia no teu corpo o mais belo poema de amor,Começava por escrever querer...E terminava em escritor!Sonhar contigo não vai chegarPorque necessito de te ver,

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65Poemas

Francisco Fontinha

Mas como não te vejo, tenho de sonhar,E esperar o dia em que te possa ter.

Se eu fosse o ventoE pudesse pegar no teu corpo adormecidoCansadoE perdido,Em que manhãs de silêncio no teu olhar silenciadoeu...num reflexo de movimento,Acariciava-te e ao teu lado adormecia...Fazia uma praia só para nós, com areia molhada,E queria sentir...porque sentia...A tua mão cansada.Sem saberQual a razão,

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66Poemas

Francisco Fontinha

Transformei-me em vento a correrE finalmente compreendi a tua canção...Eu, que não parava de sonharE sentia que tu choravas...alcanceiO amanhecer que acordava e sem parar...Sempre a correr...os olhos fechei.

Pinto o teu corpoNas paredes do meu quarto,Onde habitam pilhas de livros desorganizadosComo quem está á espera de embarque,Cais que se afunda nos meus sonhosOnde apareces sem roupa...Chamo por tiE respondes-me que já vens,E sinto a tua voz entranhada no meu cansaço...Porque desejar-te...também cansa.

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67Poemas

Francisco Fontinha

Queria deitar-me neste chão que calcoMas o teu silêncio é mais forte...E não consigo adormecer.Pego em papel para te escreverComo se estivesses ao meu lado,E tanta coisa que te quero dizer...Que fico sem jeito,E continuo sem adormecer.Começo a contar todos os livrosQue adormecem no meu quarto,Chego ao número oitocentos...e perco-lhe a contaMuitos mais tinha de contarE fico sem paciência...Quero adormecerMas tu não me deixas...e acordadoPenso adormecer no teu ventre!

Não tenho tempoPorque meu relógio esqueci...Deitei fora meu passado, adormeci!E o Universo em constante movimento...Se podemos sonhar,Porque não o fazemos?Ninguém, nada nos impede de viver...Mesmo esquecidos,Sem identidade e perdidos,

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68Poemas

Francisco Fontinha

Continuamos a viver!Somos livres de sonharE construir o que nos apetecer,Podemos ser luar, madrugada, podemos ser...Somos livres de amar...Se podemos sonhar,Porque não o fazemos?

Que maravilha ver o teu corpo coberto de espumaIluminado pela luz traiçoeira,Amor, paixão...Ou entãoFios de bruma,Mestre canseira.

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69Poemas

Francisco Fontinha

Ondas ao ventoQue se partem na tua presença,Ondas escaldantes que sofrimentoAmarra amor á nascença.E o teu corpo...nu, é meu alimento.Que maravilha ver-o-mar que sempre vi,Ondas ao vento.O mar...já não é aqui;O amor, um complexo sentimento!

És tu, que me fazes viverE por ti tenho de caminhar,És tu, que me acordas ao amanhecerQuando contigo estou a sonhar.

Sinto o teu corpo preso na minha mãoQue o percorre como se fosses uma flor,

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70Poemas

Francisco Fontinha

Com cuidado, devagarinho,Para não te magoar.Desejo-te como desejo o marOu voar...como um passarinho,E não esquecer...que o teu coraçãoMe pertence, meu amor!

És tu, meu amor, que não me deixas adormecer,Quando os meus olhos parecem cansados,És tu, tu mesma, que ao amanhecerMe dizes que estamos apaixonados...

Quero serO teu poeta que nas manhãs de invernoEscreve no teu corpo escondido,Protegido pelo frio, num leito de sonho,Quero ser o orvalhoQue aparece e se esconde na neblina, O rio que corre

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71Poemas

Francisco Fontinha

E tudo leva na caminhada.Quero serO teu amanhecerQuando não queres acordar,E sonhas...Sonhas e deixas-me entrar,Quero serOs livros que adormecem na tua mão,O brilho dos pássaros quando te olham,A alegria da Primavera quando acorda.Quero serO teu infinito,O Universo a girar,Quero ser o teu Deus que acreditas,E que eu, constantemente passo a duvidar.Quero ser todos os sorrisosQue passam por ti,Te olham e te desejam,Quero ser eu, Quero ser...ser que te quer.

A noite adormeceE eu, procuro por ti desenfreadamente,Como se buscasse o Sol que me aquece,

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72Poemas

Francisco Fontinha

Ou o infinito que me mente.Tenho medo de acordarE perder-te dos meus sonhos adormecidosQue não me apetece abandonar,Porque estando a sonhar, eu e tu, estamos perdidos...Perdidos de paixãoOu vontade de desejar,Ou então...desejar...que no futuro te venha a amar!E quero estar loucoE não ter medo de te querer,Quero de tudo um pouco,Quero-te como desejo viver...

Não tenho tempo

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73Poemas

Francisco Fontinha

Nem horário para caminharNão sou o ventoPara no teu corpo ancorar.Não sou o amanhecerQue no teu leito adormece,Nem o Sol a correrQue em ti aparece....Sou veleiroQue no teu mar quer navegar,Azul silêncio, no primeiroPorto para atracar.Sou nuvem passageira, avião em construção,Sou o Universo a girar,Sou a leveza do ser, a palma da tua mão...O homem que te deseja amar!

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74Poemas

Francisco Fontinha

Queria estar na praia, olhar o marAo teu ladocaminhar...Pegar na tua mão,Correr, correr até ficar cansado...E depois...depois...entrar no teu coração.Queria pegar nos teus lábios nuvem adormecida,Encantar-me com o teu olhardistante...fugindo de mim,Queria pegar no teu corpo...com a minha mão cansada,Flor esquecidaNo meu jardim,queria-te...pintarE ao teu lado...acordar na madrugada!

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75Poemas

Francisco Fontinha

Acordo...e sintoA areia fria da madrugadaQue alguém esqueceu ao anoitecer...Tu, deitada ao meu lado,Pareces silêncio em demandada,Orvalho que se entranha no amanhecer.PressintoA tua presença e apetece-me ficar calado.Leio todas as palavras escritas no teu corpo desnudadoQue durante a noite a minha mãoEsboçou sem cansaço....e cansadoAdormeci juntamente com o teu coração.Desejo o teu corpo rosa ao acordarMadrugada de incerteza,E fico atordoado com a tua belezaQue me apetece o teu belo corpo desenhar...A manhã vai envelhecendo pausadamenteNo movimento de acordar,E só me resta...esta areia para atirarContra a distância que nos separa verdadeiramente...

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76Poemas

Francisco Fontinha

Quero ser

Quero serA mãe de todas as luas, luarQue me iluminaQuando te vejo passar,Quero ser neblina,Orvalho que me encandeiaNas manhãs ao acordar,E sentir...que preciso de viver...Quero ser a sementeQue a tua mão semeia,O alimento que se multiplica na madrugada,A canção de revolta,Quando uma criança maltratadaNão compreende que é gente...Quero ser, e ter, à minha volta,O silêncio dos que se querem esconderE o medo ao acordar,Quero ser...Porque preciso de amar!Quero serO vento que em demandaAssobia na tua janela,O poema que quero escreverFrescura de flor, tal como tu...tão bela,Que quem pode, não manda,Porque...se eu pudesse, queria ser...Tudo de bom à tua volta...

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77Poemas

Francisco Fontinha

Porquê?

Sempre que quero, Não tenho…Tendo… não consigo querer.Querendo que não queroNão tenho, vontade de viver.

Porquê?

Tendo tudo, nada tenho!E de todas as coisas,Que são muitas,Sinto apenas a falta de querer…E vontade de viver.

Porquê?

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78Poemas

Francisco Fontinha

Tenho medo do teu silêncioMedo do teu sorrisoDo teu olhar ausente,Tenho medo das tuas mãos madrugadaDos teus cabelos velas soltas ao ventoTenho medo da tua voz que me condenaDo teu corpo que me alimentaTenho medo de ter medoMedo de perder-te no amanhecer.Tenho medo de te quererQue me queirasTenho medo das tuas palavrasMedo do que escrevesTenho medo do mar que te sugaTenho medo que me digas não.Tenho medo dos peixesQue nas tuas mãos adormecemTenho medo dos teus sonhosE das noites que passas sem dormir.Tenho medo…

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79Poemas

Francisco Fontinha

Pego na tua mão, meu amor,Silêncio que me espanta,Que me é dor, Sofrimento que me alimenta.Pego no teu olhar, meu amor,Cansado de me ver,Que os discípulos do Sr. DoutorNão querem escrever…Pego no teu sorriso, meu amor,Como se fosse uma embarcação,Navegando com dorNo silêncio da escuridão…Tu que me odeias, meu amor,Como se eu fosse um ninguém,Fundeado e sem motorÀ espera do chamamento de alguém…

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80Poemas

Francisco Fontinha

Se eu pudesse adormecerNo teu ventre de embalarQue este homem, que sou eu, está a sofrerE às vezes, lhe apetece chorar…Se eu pudesse a tua voz ouvir,No teu sorriso escrever,Se eu pudesse fugirE esconder-me no teu amanhecer,Se eu pudesse estar ao teu ladoE no teu corpo algo escrever, mesmo que não tivesse sentido,Coisas sem importância, significado,O que me fosse permitido.Se eu pudesse ancorarDe velas ao vento,Caminhar, amar,Acabar…com este sofrimento.Se pudesse ser o livro que adormeceNa tua mão,O vento, o sol que aquece,Foguetão…Se eu pudesse que tu pudesses mergulharNos meus sonhos, em noites de agonia,Se eu pudesse me embalarE ficar quietinho, e esquecer-me que sofria,Porque se eu pudesse eu queria serTudo o que detestas, que odeias ou simplesmente, aprecias…Sem medo de te perder,Ou sabendo que aos poucos, me esquecias…

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81Poemas

Francisco Fontinha

Amar-te em silêncioSem poder falar a ninguémDivulgar o meu segredoOu simplesmente, dizer-te nos olhos que te amo…Amar-te não chegaE esta distância parece aumentarEu pareço-me cada vez mais como um acorrentado,Sem forças para viver,Caminhar…ou te ver.

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82Poemas

Francisco Fontinha

Que mal te posso eu fazer, a não ser amar-te?

Nada em mim faz sentido…ViverAcordarAdormecerAmarNão te verSofrer!Nada em mim faz sentido…E tu pareces ignorar, não compreender.

AMO-TE, quero-te e por ti vou lutar…

Que mal te posso eu fazer, a não ser amar-te?

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Francisco Fontinha

Todas as noites, devagarinho,Pisas no meu silêncio,Minha querida meninaDe olhos adormecidos,Todas as noites, devagarinho,Me dás a tua mão,E pertinhoOiço o teu respirar,Lá longeOnde ninguém nos poderá ouvir,Todas as noites, devagarinho,A tua voz é o meu bálsamo,O meu adormecerA canseira de estar acordado…Todas as noites, devagarinho,Entras em mim,Onde só tu, minha querida, poderás entrar…

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Francisco Fontinha

Porquê amar-teSe me ignoras,Porquê amar-teSe de mim tens vergonha,Porquê amar-teSe me odeias…Porquê amar-teSe te escondes de mim,Sentes medo,E nem a minha voz queres ouvir…Porquê amar-teSe me escondes o teu olharNesta escuridão onde habito,Porquê amar-te?

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Francisco Fontinha

Orquídea selvagemJardim do meu imaginárioTempo ao acasoMultidão em desordemEm madrugadas de silêncio…Orquídea selvagemVerbo amarCansaçoElectrãoViajante sem passaporte…Orquídea selvagem!

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Francisco Fontinha

Querer que tu me queirasMulher fatalCom espinho de roseirasPlantadas no meu quintal.E tenho medo de te amarOu simplesmente adormecerSem vontade de caminharOu… de te perder!Querer que tu me queirasMulher fatalSem trabalho nem canseirasNeste maldito pedestal.

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Francisco Fontinha

Esta música faz-me recordarO teu rosto adormecidoMenina mimada,E, sem que perceba a razão,Não tenho forças para o rádio desligarOu os ouvidos tapar…E nesta escuridãoSinto-me perdidoNo teu sorriso, orquídea amada…

Nada que eu faça, te faz moverDesse teu cinismo, apenas desculpas para me afastar,E sem eu perceber…Aumenta a minha vontade de te amar…

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88Poemas

Francisco Fontinha

Sabes, minha orquídea selvagem?Para viver,Respirar,Ou simplesmente, adormecer,Preciso do teu corpo para acariciar,Da tua voz, para ouvir,Preciso do teu carinhoOu apenas ódio,Mas preciso.Sabes minha orquídea selvagem?Preciso que estejas ao meu ladoE não precisas de falar,Se achas que estou ancorado…Por favor, vem me libertar!Preciso do teu sorrisoDo anoitecer ao anoitecer,Das tuas mãos de veludo…Sabes minha orquídea selvagem? Preciso de ti…!

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Francisco Fontinha

Dentro destas paredes incoloresPareço um cadáver em movimentoSem espaço para caminharVontade de escrever,Levado pelo ventoNo teu amanhecer,Eu, quero nadar…Encurtar a distânciaE dizer-te ao ouvido; Amo-te…Pegar-te devagarinhoCom muito cuidado,Porque és uma orquídea especialE selvagem,Com movimento desaceleradoE uniforme,Universo em construçãoInfância apagada…Nave espacial.Dentro destas paredes incoloresPareço o orvalho da madrugada,O silêncioA terra que deixou de girar…Pareço e mereço nada parecerSem espaço para percorrerOu vontade de viver…

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Francisco Fontinha

Dentro destas paredes incoloresEntro no teu destino,Canção que faz embalarEste triste menino…E tenho tempo para olhar o teu sorriso,Furacão em desalinho,Temporal no meu imaginário…E acabo por me perderNestas paredes incolores.

Sei que adoras o marE que sem ele, nunca conseguirás viver,Sei, que adoras o seu odor,Tudo o que ele consegue esconder,Sei que te gostas de banharCom o teu corpo com cor…E seria um crime da minha parteCotar as amarras que te prendem a essa terra deslumbrante…E obrigar-te a deixares o teu paraíso,E apenas me resta com alguma arteE com juízo,Esconder-me na tua mente…

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Francisco Fontinha

Levanto as velas do meu veleiroE percorro este imenso OceanoPara te resgatarE gritar bem alto…que te amo.Sou levado pelo ventoNa imensidão do mar,Sem sofrimentoFeliz por te encontrarNa pedra que estás sentadaÀ minha espera para te levar…Não preciso de bússola, astrolábio,Basta o teu olhar para me guiar…E um sorrisinho no canto do lábio,E dizeres-me baixinho que estás apaixonada…

Converso com os teus peixinhosQue me contam histórias de encantar,E nos meus ombros poupadinhosPoisa uma gaivota para me guiar.

Sou tão feliz que me apetece gritarE nada fazer, e não adormecer,Agora, adoro o marE todos aqueles que o conseguem compreender…

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Francisco Fontinha

Minha orquídea selvagemFlor indomável, sem local certo para nascer,Envolta de tremenda miragemE de sol que te faz crescer.Minha florTão belaE linda… que fazes furorNo meu olhar ancorado na tua janela.Quero manusear-te com todo o cuidadoPara não te fazer sofrer, magoar…Porque da forma que sou desajeitado,Não quero sejas orquídea…abandonada no mar…

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Francisco Fontinha

Sou nuvem passageiraMontanha adormecidaRibeiraSou o amanhecerMulher despidaCriança a correr.Sou o mar onde te vais banharO livro que adormece na tua mãoSou história de encantarPôr-do-sol à tardinhaSou a tua cançãoLua à noitinha.Sou as pedras da tua calçadaA música que estás a ouvirSou a tua madrugadaOs sonhos que estás a sonharNas manhãs que queres dormirSou as tuas mãos quando estás a pintar.Sou avião em descolagemAerodinâmica em confusãoFoguetão em descolagemSou a tua memória, o teu pensamentoSou a uniãoEntre a chuva e o vento.Sou pássaro voadorPrimavera…, o chilrearSou o teu escritorA criança que na tua cama adormece

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Francisco Fontinha

E contigo quer brincarSou o teu rosto que nunca envelhece.Sou os traços que das cinzas renascem na tua pinturaA tela que é acariciada pela tua mãoSou a loucuraDe homens que deixaram de sofrerSou a encarnaçãoA vontade de te querer…

Estou feliz por te amarO Sol parece não existirQue não me consegue queimarE a Lua, tão linda, não se cansa de sorrir.Peço-lhe um desejo, sabes qual foi, meu amor?Amar-te e que me continues a amarComo se fosses uma débil florPlantada juntinho ao mar.

Estou tão contenteQue não me importo se vai choverSe os rios deixaram de correrSe as montanhas deixaram de o serSe não consigo adormecerEstou tão contenteQue quero bem alto gritarPegar em pedras e lançarA tua pintura apreciarOu nos teus braços me embalarEstou tão contenteQue quero que adormeças no meu peitoE sabes, meu amor, até nem tenho muito jeito,Mas quero fazer contigo todas as brincadeiras, no teu leito,Lançar uma bola com efeitoEstou tão contente

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Francisco Fontinha

Quando me dizes amarQuando me queres abraçarQue vais voltar a pintarQue eu sou o teu marEstou tão contente…

Pessoas a sofreremA terra a girar ao contrárioTodos os rios secaramE eu, aqui deitado, ignorando,Feliz…Apetecia-me gritar, e grito,Apetecia-me falar, e falo,Apetecia-me adormecer, e não adormeço,Apetece-me amar-te, e amo-te.Pessoas a sofreremA terra a girar ao contrárioTodos os rios secaramE eu, aqui deitado, ignorando,Feliz…Pensava que não sonhava, e sonho,Acreditava que não podia caminhar, e caminho,Tinha medo, e já não tenho,Estava perdido, e encontraste-me, Pessoas a sofreremA terra a girar ao contrárioTodos os rios secaramE eu, aqui deitado, ignorando,Feliz…Odiava o mar, e amo-o,Não queria viver, e quero desenfreadamente viver,O meu cão era chatinho, e agora é tão lindo,Ignorava os pássaros, e agora delicio-me com o seu cantar…

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Francisco Fontinha

Pessoas a sofreremA terra a girar ao contrárioTodos os rios secaramE eu, aqui deitado, ignorando,Feliz…Não achava piada às coisas mais simples, agora compreendo-as…E até as padres tem histórias para contar,E é graças a ti, meu amor, que se deve esta mudança,És tu que me fazes caminhar.Pessoas a sofreremA terra a girar ao contrárioTodos os rios secaramE eu, aqui deitado, ignorando,Feliz…

Os pássaros começaram a cantarOs rios a correrAs flores a florirA noite esconde-se no luarOs plátanos a sorrirE os cisnes a escrever.

O meu cão voltou a ladrarAs flores do meu jardim a crescerOs meus livros a falarO meu computador a sofrer.

A madrugada parece cansadaO meu corpo sem sofrimentoA minha cama abandonadaLevada na força do vento.

As pedras da minha quinta a chorarAs uvas a crescerE quero pegar-lhes com jeitinhoPara não as magoarPara que dêem bom vinhoE feliz, ao teu lado, viver…

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Francisco Fontinha

Quero no teu corpo cor de chocolateEscrever o mais belo poema de amor,Começo por falar do marE das pedras onde te sentas,Dos livros que adormeceram nas tuas mãosOs pincéis da tinta,As telas,As pedras que pisas ao caminhar…Falo do teu sorriso que me encantaDo teu olhar que me faz sonharFalo dos rios que corremDas ribeiras que correm para os rios,E… que acabam por adormecer no mar.Quero no teu corpo cor de chocolateEscrever o mais belo poema de amor,Com melodia e movimentoComo água frescaQue banha o teu corpo,Aproveitar cada pedacinhoE nunca, nunca te magoar,Pegar no teu cabelo que me encantaE enrolar os meus dedos,Como se fossem algas, nenúfares…Cansar-me de tanto escreverE adormecer no teu peito,Embriagar-me nas tuas coxas,

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Francisco Fontinha

Quero no teu corpo cor de chocolateEscrever o mais belo poema de amor,Sem medoE pronto para tudo te dar,Querer que tu me queiras amarE que me digas baixinho, ao meu ouvido,No silêncio da madrugada orvalhadaInfinito que nos aproxima,Quero que me digas que me amasQue sou o teu marA tua alegria,Quero que tu sejas a mulher mais importante do Universo,Superior a Deus…Quero no teu corpo cor de chocolateEscrever o mais belo poema de amor…

Ganhei coragemPara cortar todas as amarras que me prendem ao passadoTransformar a minha tristezaEm felicidadeCaminhar ao teu lado, meu amor,Começarmos a viagemApreciar a tua belezaSer o teu poeta, o teu escritor,Perder-me nos teus braços sem idadeE deixar de estar encalhado.Ganhei coragemPara voltar a acreditarSer pássaro mensagemVoltar a voar.Ganhei coragemPara ao teu lado me deitarApreciar as coisas belas como uma imagemUma tela que quero pintar.Ganhei coragemPara gritarPegar em ti, minha orquídea selvagemQue me fazes sonhar.Ganhei coragem

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Francisco Fontinha

Porque estás ao meu ladoComo um filme em rodagemSem guião programado…Ganhei coragem!

Deito-me na minha camaE apetece-me nada fazerNão quero adormecerNão me apetece sonharDeito-me na minha camaComo se fosse um vagabundoInjusto, imundo,Cansado de caminharDeito-me na minha camaEmbriagado de sofrimentoQuando na minha janela, ouço o ventoQue não se cansa de me avisarDeito-me na minha camaPerco a razão de existirFico triste, sem sorrir,E com esforço, consigo vender o meu olharDeito-me na minha camaO infinito atormenta-me, atira-me para o chão,Sem alma, nem corpo, nem coração,Nem vontade de cantarDeito-me na minha camaRodeada de livros empilhados, como se fosses pedras num monte,Muito ao fundo….sem horizonte

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Francisco Fontinha

Que quero e não posso odiarDeito-me na minha camaComo um fantasma na escuridãoSem número, identidade, ou simples prisãoEsqueleto em construção, sem vontade de falarDeito-me na minha camaEncalhada em paredes incoloresDespedida de quadros, recheada de floresIluminada pelo luar…Deito-me na minha camaE doenteCom ar de menino inocenteParecendo um cadáver que desejam cremarDeito-me na minha camaQuando toda a gente parece feliz, contenteDistraída e sorridente,E eu, deitado, espero que me venham resgatar…

Nas margens deste rio, que és tu, mulher do meu viver,Sentada numa pedra, de livro na mão, a ler,De cabelo ao vento,Sorriso de vento,Cansada de sofrer…Passa a barcaça em solidãoSem prazer, ou confusão,Distante de mim,Embarcada no meu jardimE que saudades eu tenho do Baleizão…Quando eu criança e meninoSaboreava todos os gelados em exposiçãoChamava aos autocarros, machimbombo,E ao ver os aviões assobiar, deitava-me de lombo…

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Francisco Fontinha

E o mossulo parecia-me pequenino.O tempo passou e eu cresciE as páginas do teu livro, ainda não as li,Falta-me tempo,Vontade ou alimento,E recordo com ternura os momentos que vivi…

Se eu soubesse voarVoava no teu sorrisoNavegava no teu olharDe braços em flecha, sem motor de propulsão,Sem altímetro, velocímetro, juízo…Sem medo poisar no teu coração.E se eu voasse,Se tivesse asas, se me fosse possível transportarNa imensidão do espaço desorganizado, ou se eu mandasse,Construía uma passagemAté à pedra onde estás sentada onde olhas o marE sonhas com o meu regresso, com a minha viagem…Se eu quisesse voar, voava,Limitava-me a ser um pássaro migratório, sem porto onde aportar,E se eu quisesse sonhar, acredita que sonhava,Dizia-te baixinho ao ouvido que te amava, que queria estar ao teu lado,De orquídea na lapela, com calções de menino, contente e a cantarUma canção de revolta, porque estou longe e apaixonado.Se eu soubesse voar

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Francisco Fontinha

Voava nos teus cabelos de encantoNos teus lábios de prazer que quero beijarNo teu olhar que prefiro encadernar, guardá-lo nos meus livros empilhadosComo papel de Amor de vento,Nossos corpos que se unem, espuma, bruma…no mar encalhados…

Hoje estou triste, e sem vontade de escrever,Sem vontade de caminhar,Sem vontade de falar,Sem vontade de adormecer.Não me apetece mas quero sonharApreciar todas as flores belas e menos belas,Fechar os cortinados de todas as janelasPara que o Sol não consiga entrar.Não quero ver genteOu o Luar,Odeio o marE fico contente.Tenho raiva de todas as embarcações fundeadasComo se fossem um pesadelo na madrugadaComo as pedras desta calçada,

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103Poemas

Francisco Fontinha

Que eu tenho de caminhar, de mãos atadas…Odeio este maldito computadorSuficiente estúpido e sem sentimentos,Como um conjunto de sucata, amontoados de alimentosPrisioneiros em um qualquer congelador…Se ao menos soubesses amar!Mas a única coisa que sabe fazerÉ obedecer às minhas ordens, fazendo o que eu quero que ele faça,Como uma barcaça,Que um qualquer marinheiro, com a ajuda do vento, faz correr.Quero tocar o teu rosto em toas as madrugadasLimpar as tuas lágrimas, como se fosses, e és, uma orquídea selvagemQue me acompanha em viagemSem bilhete, em todas as ruas, vielas e calçadas…Hoje estou triste, e sem vontade de escrever,Sem vontade de caminhar,Sem vontade de falar,Sem vontade de adormecer.

Sou o teu porto seguroA mariana onde poderás sempre fundearQuando precisares dos meus ombros para chorarSou todas as flores que te fascinamAs pedras a que dás importânciaO mar onde tomas banhoO Sol que te aquece e esturra a peleSou as lágrimas que abandonam o teu olhar diamanteSafira no teu sorrisoSou os livros que amamos em comumAs telas onde sinto os teus traçosOs pincéis onde pegasSou as tintas que mancham as tuas mãos de orquídea selvagemA ilha onde habitasSou os prédios e avenidas em construçãoOs pássarosSou todos os peixes do OceanoA areia que pisasSou a madrugada onde deitas a tua cabeçaO amanhecer quando acordasSou todas as coisas que te dão prazerA música que estás a ouvirSou o silêncio onde nos amamosO pilar que suporta a nossa construção

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104Poemas

Francisco Fontinha

Sou a casa de campo que tanto queresAs fotografias que me enviasAs arvores que nos dão sombraQuando nos beijamosSou o banco onde nos sentamosO vento que eleva o teu cabeloAs horas que demoram a passar…até estarmos juntosSou a água que caceia a tua sedeOs cigarros que não fumas e eu devoroA neblina junto ao marSou o leito onde adormecesA cidade onde te perdesA razão de estares viva…felizSou tudo aquilo que te faz feliz…Eu mesmo…!

Todas as coisas são belasQuando estamos apaixonadosQuando amamosOu…somos compreendidos.As flores, também elas,Que tanto gostamos,Nascem nos socalcos perdidos,Nas encostas entranhadas do Douro, onde homens cansadosLutam, sofrem…e no final do dia, adormecem…E ano após ano, não esquecemO que em meninos aprenderam, sem tempo para brincarOu vontade de amar.Suas mulheres, também elas cansadas,Nunca tiveram um carinho, uma carícia, porque casadas,São tratadas como maquinaria pesada,Com medo de ser excitada.E eles não percebem que todas as coisas são belas,

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Francisco Fontinha

Que as pedras são belas, e não servem apenas para partir janelas,Que as arvores são belas, e não servem apenas para há sua sombra descansar,Que as ribeiras são belas, e não servem apenas para me banhar…

Não digas nada, meu amor,O teu silêncio é um veleiroQue se encontra à minha guarda,No meu porto de abrigo.Tomo conta de ti, como se fosses a minha respiraçãoOs meus sonhosAs noites em que não adormeço a pensar em ti…As tuas velas, confeccionadasDe telas…que mais tarde darão lugar a uma lindíssima pinturaQue das tuas mãos nasceE o meu olhar alegra-se de ver…Não digas nada, meu amor,Porque o teu sorriso é marOnda, areia que deito o meu corpo,E fico feliz por te ter…

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Francisco Fontinha

Vamos fugir para o InfinitoE fazermos amor no silêncio dos nossos gemidos,Pegar na tua mãoE olhar as estrelas que sorriem para nósComo se fossemos duas criançasQue brincam no parque infantil.Vamos cortar as amarras que nos prendem ao passadoComo ancoras de ferro fundidoVamos voar como se fossemos duas gaivotasSem destinoSem sitio para aportar.Vamos fugir para o InfinitoE olhar todas as coisas belas

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Francisco Fontinha

Correr, correr…correr, como se nunca estivéssemos cansadosE jamais tivéssemos destino,Vamos acariciar todas as floresTodas as arvores,Vamos deitar as nossas cabeças na areia do teu marFazer amor atrás da dunas,Vamos prometer, um ao outro, que nos vamos amar no futuro,Até que um de nós parta para o desconhecido…Vamos fugir para o InfinitoE acordar na madrugada,Escondermo-nos na neblinaComo se fossemos o D. Sebastião,Vamos pegar nas pedras,Mudar o curso dos rios e ribeiras,Vamos alimentar os nossos sonhosE deitar foras todos os pesadelos,Vamos…viver e sermos felizes…Vamos fugir para o Infinito!

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Francisco Fontinha

Trinta Dias, TrintaPoemas

Alijó, Domingo, 1 de Setembro de 2002

Perco-me em ti meu amorTeu corpo meu desejoOlhar de felinoNa vontade que não vejoNos olhos do teu meninoO silêncio de uma flor.Perco-me em ti meu amorTeus seios na minha mão prisioneirosBalançando no ventoNuvem amansada nos primeirosSegundos do tempoSempre ao teu dispor.

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109Poemas

Francisco Fontinha

Perco-me em ti meu amorEquação impossível de resolverMatriz transpostaRaiz quadrada do teu serNa minha mão postaMinha orquídea com odor…Perco-me em ti meu amorDistância que nos separaE aproximaEm vontade que não reparaA minha triste sina…Ir ao teu encontro neste barquinho sem motor…Perco-me em ti meu amorRazão da minha felicidadeOrgasmo da tua presençaSem vaidadeDesconfiançaNeste Sol abrasador...Perco-me em ti meu amorMenina do meu amanhecerEm teus olhos de marotaCom vontade de te quererQue sejas a minha garotaOu pássaro voador.

Alijó, segunda-feira, 2 de Setembro de 2002

Luísa Spínola

Chamam-te Luísa Spínola, mas para mim…és orquídea selvagem,Brilhante pintora,Menina do meu olhar,Olhos de sedutora,Em marés de mar…Ao longe…pura miragem.Coração de ouro,Corpo de pétala adormecida

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110Poemas

Francisco Fontinha

Nas madrugadas de sofrimento,Para mim…és a minha querida,Mulher do meu encantoEncanto do meu tesouro…Claro que também tens defeitos,Quem os não tem? A tua teimosia,O teu ciúme doentio…simplesmente ancorado,A tua maniaDe teres medo do passado,E constantemente ignorares grandes feitos.És amiga e mãe carinhosa,Mulher de vida em luta,Tripulante em viagem,Que trabalha, labuta,Com olhar de amorosa,Sorriso de orquídea selvagem…

Alijó, terça-feira, 3 de Setembro de 2002

Saudades

Ter alguém que amamosE está longeAnsiedade de estar pertoSaudadeQuerer tocarApetecer adormecerRibeira ao abandonoPlanalto onde me quero deitar…Tempo em separaçãoDistância

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111Poemas

Francisco Fontinha

Ter alguém que amamosE não lhe podemos tocarNem sequer fazer um carinhoFalar-lhe ao ouvidoBaixinhoTer alguém que amamosE está longePerdida no infinitoConstelação de VegaVoando em desalinho…Pássaro no meu destinoFlamingo…SaudadesTer alguém que amamosQue adormeça ao meu ladoOuça o que quero dizerDeambulando no meu pensamentoTer alguém que amamosE é difícil suportar as saudadesA ausênciaA não presençaTer alguém que amamosA quem não poso e queriaDizer boa noite, bom diaAjudar-me a escolher a roupa para vestirEnfrentar o diaFazer amor na madrugadaTer alguém que amamosQue nos querQue eu queroQue tenho saudadesSaudades de desejoDesejar não ter saudadesTer alguém que amamosE fisicamente ausenteQue com as minhas mãosQuero pegar no seu sorrisoAbraçar o seu olharSaltar de alegriaE não ter saudadesTer alguém que amamosNuma ilha em pleno OceanoJangada de pedraNavegando sem destinoNos meus olhos de meninoE tenho saudadesDas saudades da minha LuísaQue só poderei ouvir a sua vozE me vedado a vontade

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112Poemas

Francisco Fontinha

E como prisioneiro, condenadoTenho direito a uma última razãoNão ter saudades!

Alijó, quarta-feira, 4 de Setembro de 2002

Silêncio

Pinto o teu olharQue brilha nas minhas asas de ventoEm teu sorriso de infinito amanhecerDesejo de estar ao teu ladoAdormecerSonharSer o ventoPlanalto onde te deitas no meu destino cansado…

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113Poemas

Francisco Fontinha

Silêncio de nada dizerDizer o que sintoSinto que te quero terTer que não minto…Pinto o teu olharEm manhãs de neblina amanhecerOnde guardo os meus sonhos mais adoradosE esboço o teu corpo de sereia na palma da minha mãoComo barcos ancoradosEm mansidão teu marMaré que quero terEm silêncio teu coração.Silêncio de nada dizerDizer o que sintoSinto que te quero terTer que não minto…Pinto o teu olharEm silêncio madrugadaSonhos em construçãoPórtico que suporta a minha felicidadeA minha razãoCom sede de amar…E vontade de viverSilêncio na minha verdade…

Alijó, quinta-feira, 5 de Setembro de 2002

O tempo que não passa

Meus teus dias passadosDias que não passam e parecem adormecerPassam dias embriagadosEm semanas para esquecer.

Cada segundo uma eternidade

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114Poemas

Francisco Fontinha

Cada eternidade um dia que parece não adormecerEu à tua espera com saudadeSaudade de te ver…

Conto os dias para estar ao teu ladoComo se fosse um verso em construçãoUma folha de papel toda riscada

Tempo no meu pulso encalhadoAnsiedade de meu dorido coraçãoEm triste tempo de cansada…

Alijó, sexta-feira, 6 de Setembro de 2002

Remexo na minha memóriaRascunhos do meu pensamento,Distantes, sem história,Momentos em silêncio vento.

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115Poemas

Francisco Fontinha

Nuvem silêncio adormecidaCansada de voar,Cansada de viver,Distante na alvorada,Como pedra perdida,Orvalho no amanhecer,Neblina ao acordar,Maré madrugada…

Remexo na minha históriaCadernos de embarcar,Sem preço nem glória,Sem vontade de acordar.

E tenho vontade de caminharCorrer, correr e me esconder,Esconder de sonharSonhar sem querer…

Querer que tu queiras me abraçarE adormecer no meu peito cansado,Como veleiro a navegarEm silêncio amansado…

Acendem-se as luzes do horizontePêndulo em movimento,Não tenho vontade de subir o monteOu mais simplesmente…olhar seu encanto…

Alijó, sábado, 7 de Setembro de 2002

Para mim és o amanhecerNuvem em movimentoA chama que arde na penumbra madrugadaO rio que corre por entre pedras desorganizadasA vontade de adormecer

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116Poemas

Francisco Fontinha

A terra a girar quando está cansadaO teu silêncio em pensamentoA água das trovoadas…

Para mim és o amanhecerQuando estou acordado,Vontade de não adormecerNa minha cama deitado.

Raiva de estar longe do teu olharE escrever em teu sorriso,Frases de encantarEncantar-me o juízo…

Para mim és o amanhecerInfinito em paraleloDizima desalinhadaEquação impossívelDe resolver,Orquídea selvagem amadaNo jardim mais beloE único possível…

Para mim és o amanhecerTeu corpo despido em minha mão,Vontade de te terTer no meu coração.

Alijó, domingo, 8 de Setembro de 2002

Procuro por tiEm todas as ruas esquinas e avenidas

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117Poemas

Francisco Fontinha

Cansaço que sentiEm madrugadas perdidas…

Lágrimas que se desprendem do meu rosto cansadoComo chuva de verãoEm teu meu corpo amadoOs versos de uma canção.

Palavras escritas no ventoFrases que não fazem sentidoAmanhecer com sofrimentoCom vento estar perdido…

Procuro por tiNos mais distantes pensamentosEstar ausente, sempre aqui,Prisioneiro dos teus movimentos.

Medo que tenho de acordarAdormecerMedo de sonharSonhar que vou morrer…

Está a choverE todo o meu corpo senteO cansaço de viverViver no meu corpo ausente…

Alijó, segunda-feira, 9 de Setembro de 2002

Voo no teu silêncio amanhecerAnjo que souDestino de ninguém

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118Poemas

Francisco Fontinha

Menino que chorouNo colo de alguém…Com vontade de viver.

Alijó, terça-feira, 10 de Setembro de 2002

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119Poemas

Francisco Fontinha

Navego neste barco que é o meu sofrimentoSem leme, rumo, motor…À tua espera, para me salvares,No teu corpo, porto de abrigo, onde quero fundear,E mais tarde pedir-te para me amares,Sem contrapartidas, leve como o vento,Nuvem em teu olhar,E que me pegues ao colo e me dês o teu amor…

A água está friaO vento parece confuso, aborrecido,Em tua ilha que eu queria,Queria ter o teu abrigo.

Abrigo de estar abrigadoProtegido pelo teu sorriso constante,No teu peito deitadoMenino de olhar ausente.

Navego neste barco que é o meu sofrimentoJangada rumo ao infinito amanhecer,Via láctea em constante extensão,Como um elástico,Nave espacial em aceleraçãoConstante que corre velozmente,Construída em material plásticoSaído das mãos de um engenheiro qualquer…

Perdido no marE esquecido no espaço,Quero e posso te amar…Quero e não posso dar-te um abraço.

Para que me serve este barco de velas ao ventoCansado de navegar,Se o que eu queria era não ter sofrimento…Nem medo que me deixes de amar…

Alijó, quarta-feira, 11 de Setembro de 2002

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120Poemas

Francisco Fontinha

Se eu soubesse quem és e onde estás escondidaSe eu soubesse a cor dos teus olhosA firmeza do teu sorrisoSe eu soubesse as palavras que pronuncias em vãoComo se fossem suspiros na madrugadaSe eu soubesse a cor dos teus sonhosEm que pensasTodos os teus medosA razão do teu sofrimentoSe eu soubesse onde fazem as tuas lágrimasA pedra onde te sentas a descansarO rio onde tomas banhoSe eu soubesse como são as tuas mãosO teu cabeloA maneira como pegas num livroSe fumas não fumasSe és alta magra gorda…Se eu soubesse tudo que não seiSe eu soubesse em que madrugada descansasEm que amanhecer acordasSe eu soubesse a melodia da tua vozA tua timidezSe eu soubesse como te chamasComo se o teu nome tivesse importância…e sei que não temSe eu soubesse a cor da tua peleA dimensão das tuas agoniasA maneira como estás vestidaSe eu soubesse…

Alijó, quinta-feira, 12 de Setembro de 2002

À Cristina Ferreira, amiga…sempre,

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121Poemas

Francisco Fontinha

Pego num cacho de uvas pronto a cortarComo se fosse um livro de GedeãoEm repouso na minha bibliotecaQue tudo é vida; quinta do Malhô…Ouço todos os cheirosConverso com todos os silênciosDeito-me debaixo desta videiraQue me anoitece do sol escaldante…E consigo sonhar.Corro como criança perdidaRua acima rua abaixoDeito-me nos socalcosComo se fosse a minha camaA terra que pisoOs lençóis do meu pensamentoBrinco atirando pedras para o ribeiroÁgua fria que me refrescaE me alimenta os volantes e êmbolos da minha imaginaçãoE sinto-me feliz…Cacho de uvas que vi crescerAos poucos, lentamente,Como se fosse o meu próprio filho,E sinto pena de o cortar…E a cor do horizonte?Esplendor de movimentoPássaros em disputaCoelhos e perdizes ao desbaratoTudo é vidaComo se estivesse no paraíso…

Alijó, sexta-feira, 13 de Setembro de 2002

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122Poemas

Francisco Fontinha

Não quero escreverNão me obriguem a lerNão quero serNada quero ter…Porque estou feliz, quero adormecer!

Guardo em mim o teu olharManhã em movimentoTodas as madrugadas, posso sonhar,Sonhar no teu sorriso de vento.

Adormecer na tua alegria de viverQuando passas apressada,Sobes e desces a correr,A correr…a calçada.

Quero chamar-lhe calçada da Ajuda, em Belém,Juntinho ao rio do meu coração,Tejo que mais ninguém tem,Rio em construção.

Petroleiro em movimentoCansado de viajarRevolta no regimentoPorque o soldado não pode sonhar…

Poder pode…eles é que não querem deixar,Filhos da puta de oficiaisMais parecendo paneleiros a marchar…A marchar… como os pardais.

Não quero escreverNão me obriguem a lerNão quero serNada quero ter…Porque estou feliz, quero adormecer!

Alijó, sábado, 14 de Setembro de 2002

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123Poemas

Francisco Fontinha

Minha queridaSe soubesses todo o meu sofrimentoQuando por mim vais passarSem pressa e apressadaPerdida na avenidaCom asas de ventoEm teu sorriso olharNa minha madrugada.Teus cabelos prisioneiros em sonhos amanhecerTuas mãos em minhas mãos dadasEm silêncio anoitecerTuas madrugadas…Teu meu olharSorriso em construção,Veleiro em alto marNavegando em teu coração.Coração que não me deixas entrarTrancado a sete chaves no horizonte,Pedra onde me sento a descansarDescansar no cimo do monte.Teu corpo de orquídea selvagemPlantada em meu jardim,Planalto em miragemQuando olhas para mim…Minha queridaSe soubesses todo o meu sofrimento!

Alijó, domingo, 15 de Setembro de 2002

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124Poemas

Francisco Fontinha

Pego nesta folha de papelTeu corpo pergaminhoPoema em teu silêncio amanhecerComo teu sorriso em batelQue me ilumina o caminhoNas madrugadas do meu ser…Escrevo este poemaEm teu corpo esculturalVerso após verso, palavras em movimento,Rio que te refresca, água amena,Melodia principalSono que adormece no vento.No teu olharEscrevo quero-te ter,E em teu sorriso sonharNada vou escrever…Posso escreverNo teu complicado pensamento,Que quero entrar e adormecerNos teus sonhos encanto…

Alijó, segunda-feira, 16 de Setembro de 2002

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125Poemas

Francisco Fontinha

Em teu corpo de água frescaUma rosa que adormeceSe refrescaE nunca esqueceO silêncio do amanhecer.Em tua janelaMal fechadaUma onda tão belaE amansadaQue me ensina a sonhar…Em teu sorriso de encantoCidade em construçãoMelodia de ventoEm sonhos teu coraçãoCansado de sofrer.Em teu meu olharGaivota de voo rasanteAdormecendo no marEm sonhos de genteSonhar…Em teu desejo de desejarDesejo de ar cansadaVeleiro a navegarDe vela apagadaNa escuridão anoitecer…

Alijó, terça-feira, 17 de Setembro de 2002

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126Poemas

Francisco Fontinha

Tenho um barco em alto marDe velas ao ventoCansado de navegarPerdido no tempo.Tenho o mar na minha mãoPôr-do-sol ao entardecerOdeio a multidãoQue não me deixa viver.Tenho no meu teu olharVontade de adormecerUm sorriso para te darUm beijo ao amanhecer.Tenho um barco em alto marVeleiro em construçãoPronto a fundearNas asas da tua mão.Tenho um poema para escreverUm silêncio para te darUm livro para lerUma vontade de te amar.Tenho um barco em alto marDe velas ao ventoCom pressa de entrarEm teu pensamento.Tenho as ondas do teu OceanoEm meus olhos amordaçadosOuço os sons do pianoNa Ilha dos apaixonados.Tenho vontade de estar ao teu ladoPrender-te para sempre no meu destinoApagar o meu passadoNo silêncio do teu triste menino.Tenho um barco em alto marDe velas ao ventoTriste a chorarEm minhas mãos sofrimento.

Alijó, quarta-feira, 18 de Setembro de 2002

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127Poemas

Francisco Fontinha

Passo as minhas mãos no teu rostoOs meus lábios nos teus lábios molhadosJunto o meu ao teu sorrisoNão me canso de te olharEscrevo no teu corpo com gostoEsquecendo-me que tenho juízoE no silêncio deitadosPodemos com a firmeza de existir…amar…

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128Poemas

Francisco Fontinha

Alijó, quinta-feira, 19 de Setembro de 2002

Se te chamasse princesaCom arte e realezaEstava a mentirPorque tu, em teu trono a sorrir,Iluminas o meu castelo abandonado,Como se fosses vento,Ou simplesmente o movimentoDo pêndulo simples quando parado…Em minhas asas de meninoSonhas um dia alcançarTalvez voarOu apenas adormecer,Podes sonhar,BrincarOu até ser…Ser que eu quero que sejas, ser o meu destino.Minha princesaEm meu olhar ignóbil belezaEm meu sorriso prisioneiraCom mãos feiticeira…Se te chamasse princesaCom arte e realezaEstava a mentir…

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129Poemas

Francisco Fontinha

Alijó, sexta-feira, 20 de Setembro de 2002

O ópio do amor

O ópio do amorFlor em crescimento odorViagem às trevas madrugadasMinhas costas cansadasSuores friosArrepios.O ópio do amorViagem ao futuro sem motorRessaca de um amanhecerEsquecerMultidões em desalinhoPássaros pedrados no ninho.O ópio do amorQuerer e não ter, ter dorNão poder nada fazerPoder mal viverSinto-me pesadoNo meu amor drogado.O ópio do amorMinha tua orquídea florTeu olhar em mim adormecidoTriste por ter esquecidoComo se pode viverOu simplesmente escrever.O ópio do amorSolidão nas mãos do escritorQuerer fugirE não conseguirQuerer adormecer no teu olharE o teu olhar me rejeita, velocidade de arrepiar.O ópio do amorAmor por computadorEncurta-se a distânciaDiminui a minha permanênciaCansado de amarFeliz por te abraçar.

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Francisco Fontinha

Alijó, sábado, 21 de Setembro de 2002

Corro sem correrAdormeço sem adormecerVivo sem viverEm teu olhar esquecer.

Encanto-me no teu olharEstrela em movimentoLevada no ventoPara o planeta amar.

Sofro com sofrimentoEm teu ópio meu alimentoTeu sorriso de encantoEm nosso momento.

Encanto-me no teu olharEstrela em movimentoLevada no ventoPara o planeta amar.

Vivo no marNum sonho de sonharSem vontade de caminharOu desejo de desejar.

Sou o teu poeta encantadoPergaminho amarrotado Em tuas mãos ancoradoMeu destino amado.

Encanto-me no teu olharEstrela em movimentoLevada no ventoPara o planeta amar.

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Francisco Fontinha

Alijó, domingo, 22 de Setembro de 2002

Ao Rui Sampaio

Um vicio chamado Heroína

Longe vão os temposQuando a minha cabeça estonteava,O meu corpo chorava,O meu esqueleto rangiaNo infinito sofrimentos,E no silêncio pedia,Suplicava,Que me deixassem adormecer…Queria dormirE ao meio da noite acordava,Desnorteado e sem vontade de viver,E o que eu queria era fumar consumir.Quanto mais fumavaMais eu te odiava,E fazia um esforço para te esquecer,Mas em vão…, porque tu, eras o meu amanhecer.E tinha prazerQuando corrias na prata que jazia na minha mão,Eras tão belaE fazias-me tão mal,Mas o meu corpo precisava de ti para viver,Para caminhar,Ou sonhar…Eras o meu amor, a minha donzela,Silêncio na escuridão,Flor que adormecia no meu quintal.Neste momento, não tenho de ti saudades,Ou vontade de te recordar,E felizes daqueles, que sem vaidades,Conseguiram de ti se libertar…

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Francisco Fontinha

Alijó, segunda-feira, 23 de Setembro de 2002

Sonhei que voei

SonheiQue voeiNa tua ilha adormecida,Quimera em teu olhar guarnecida,Porque chorei,Ofereci-te as minhas lágrimas de vício amanhecer,Madrugada em desalinhoEm teu corpo pergaminho,Onde quero escrever.

Sonhei que passeávamos de mão dadaNo sonho madrugada,Triste distante cansada,Cancela mal fechada…

SonheiAcordeiAdormeci…E nos meus sonhos viE senti o teu perfume de silêncio infinito,Porque te quero e não minto,Porque me canseiDe olhar as noites mal dormidas,Sonhei em tuas palavras vencidas…

Sonhei que eras a minha estrela ao acordar,Horas que passam a passarEm marés de mar,Sonhos de sonhar.

SonheiQue voei…

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Francisco Fontinha

Alijó, terça-feira, 24 de Setembro de 2002

À Luísa Spínola,

Viagem

Caminho ao teu ladoEm movimento uniformemente acelerado,Com aceleraçãoE vontade,PredestinadoEm teu olhar tua cidade,Ouvir a tua canção.

A minha vida é uma viagemEm teu corpo de orquídea selvagem,Sem cansaço ou tristeza,Ou medo de caminhar,Em minhas mãos a contagemDe uma estrela a brilhar,Que ilumina a tua grandiosa beleza…

Em teu marMinha vontade de caminhar,Desejo de não adormecer,Em teu mar minha felicidadeDe acreditarQue não existe saudade,Ou medo de te perder.

Em teu marA minha viagem vontade de viajar,Com meu veleiro de velas ao vento,Muito devagar para não me perder,Sem leme astrolábio ou ancora para ancorarNo teu sorriso amanhecer,E no fim da minha viagem, aportar em teu corpo movimento…

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Francisco Fontinha

Alijó, quarta-feira, 25 de Setembro de 2002

Princesa S.

Um certo dia, ao amanhecer,A princesa S., linda e bela,Escalou a torre do seu castelo,E nas asas de sonho do seu amado belo,Que jurou todos os dias lhe escrever,Voaram para o infinito, luz escarlate que jorra pela janela.

A princesaQue passava os dias a pintar,Sozinha triste e escondida na sua beleza,Começou a sonhar.

Sonhava que o seu amado,Aquele que lhe escrevia,E que parecia ancorado,A libertava um certo dia.

E de ancoradoPassou a ser anjo azul, com asas de vento,Que voava nos seus sonhos madrugada, Sem passado,Com um futuro em movimento,Sempre…na esperança de libertar sua amada.

O tempo passavaE a princesa no seu castelo abandonada,Nos seus sonhos se embalavaPara que um dia fosse libertada.

E quando o seu amado a foi buscar,Nesse amanhecer,Ela não queria acreditarQue começava a viver.

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135Poemas

Francisco Fontinha

Foram para a praia adormecerE sonhar,Começaram na areia a correrE a brincar.

Pareciam duas crianças acabadas de nascerFlutuando em marés de sonho luar,Com vontade de viver,E de amar.

Fizeram nas dunas amor,E em silêncio quiseram ficar,Ele queria ser escritor,Ela, terminar seus dias a pintar.

Ainda hoje dizem que ao amanhecerA princesa S. na ilha aparece,Na areia pinta o seu anjo a escrever,Que nunca, nunca da princesa se esquece…

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Francisco Fontinha

Alijó, quinta-feira, 26 de Setembro de 2002

Se o amorTraz dorEu quero sofrerViver.

Se o amorÉ como uma florEu quero o seu perfume…poder cheirarE nas nuvens…amar.

Se o amorÉ loucuraVontade de viver…

Eu quero o teu odorA tua ternuraQue tu me queiras querer…

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Francisco Fontinha

Alijó, sexta-feira, 27 de Setembro de 2002

Entro na tua janelaEscrevo o teu olharTuas mãos grandes para me acariciarPorque tu és belaSereia de vento madrugar.

Entro no teu sorriso amanhecerTeus lábios para me beijarEm cada momento de amarUm silêncio de esquecerEm meu teu luar.

Pego nos teus cabelos velas de ventoMeu veleiro em alto marCansado de navegarPedindo-me em cada momentoAutorização para atracar.

Entro no teu corpo de criança mimadaQue nas minhas mãos adormeceE no tempo não envelheceSonhos de cansadaQue no meu pensamento aparece.

Finalmente fundeio na tua ilha adormecidaParaíso em Oceano marSempre a sorrir e a caminharSem se dar por vencidaNos teus olhos de me amar.

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Francisco Fontinha

Alijó, sábado, 28 de Setembro de 2002

Sonho

Sonhei que voavaSem asas nem motorLevado no ventoNão me cansavaE voava no teu sofrimentoQue me chamava amor.Sonhei que voavaNas tuas mãos de florEm movimentoE pensavaSonhava sonhos de encantoNo teu corpo bronzeador.SonheiQue voavaE choravaPorque choreiSe eu sonhava…Sonhava que te amava!

Para Luísa Spínola

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Francisco Fontinha

Alijó, domingo, 29 de Setembro de 2002

Anjo azul

Para ti sou o anjo azulGuardião dos teus sonhosO silêncio do teu sofrimentoO anjo que te guardaEm todas as madrugadasNas noites que te apetece chorarSou a sombraQue é projectada nas tuas telasAs cores dos teus pincéisSou o movimento das tuas mãosQuando me dás vida na tua pinturaSou o livro que adormece na tua mãoA luz que entra na tua janelaSou o teu anjo secretoCom asas de ventoQue habita no teu pensamentoNuvem adormecida no infinitoSou a presença no teu corpoOs teus desejos íntimosO amanhecer quando estás acordadaSou todas as flores da tua ilhaO mar que toca o teu corpoSou anjo azul encalhado na tua vidaPlanalto onde te deitasAs rochas onde te sentasSou a água fresca da ribeiraA música que estás a ouvirO anjo a quem chamas amorQue voa nos teus sonhosSou o teu anjo azul…

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Francisco Fontinha

Alijó, segunda-feira, 30 de Setembro de 2002

Operário em revolta

Sinto-me cansadoCom vontade de nada fazer,Adormecer,Sonhar,E amanhã, ao amanhecer,Acordar,E depois de acordado,Novamente trabalhar.

Pareço uma máquina oleadaSempre pronta a executar,Que nunca, nunca está cansada,Cansada de lutar.

Corre, corre, sempre a correr,E sem tempo para descansar,Às vezes queria adormecer,Mas sinto medo de não acordar.

Tenho vontade de parar,Bloquear a linha de montagem,Sair para a rua e olhar,Olhar uma orquídea selvagem…

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141Poemas

Francisco Fontinha

Trinta dias, Trinta Poemas

Trinta dias, Trinta Poemas, foi uma ideia de Luísa Spínola, que desde o princípiome agradou bastante. Ao longo destes dias, uns felizes, outros nem tanto, percebi que avida é constituída por pequenos momentos, que no todo perfazem a nossa vivência. Este caderno, que começou por ser presente, é neste momento, passado, e talveznum futuro distante, eu, consiga compreender cada dia que faz parte deste trabalho. Prefiro falar do dia 30, porque é o ultimo, e é aquele que mais presente está emmim. Porque choveu hoje imenso, e detesto chuva, porque comecei hoje a vindima, e éum dos trabalhos mais cansativos, e porque ainda vou ter de ir trabalhar antes das 00:00horas, pois hoje há a subida dos combustíveis, sinto-me particularmente distante desteUniverso e deste tempo… Fica a cargo daqueles que lerem este caderno fazer a respectiva interpretação,pois a mim, apenas tenho como missão, escrever… Para ti, Luísa, um muito obrigado por tudo!

FranciscoAlijó, 30 de Setembro de 2002

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142Poemas

Francisco Fontinha

És o silêncio da minha madrugadaAs noites que passo sem dormirOs sonhos na alvoradaA vontade de partir…

És alegria em meu jardimMeu grande secreto amor,Sorriso de jasmimEm tuas mãos de flor..

És as noites mal dormidasEm teu meu grande desejar,Palavras esquecidasEm teus olhos de amar.

Teu sorriso é cânfora manhã adormecidaPalavras dispersas no vento,Teus olhos nuvem prometidaMinha vontade, meu alimento.

És a fogueira que me aqueceNo desejo de te beijar,Teus lábios que ninguém esqueceVeleiro em alto mar…

Serei teu porto de abrigoTeu menino a brincar,Salvando-te do perigoE continuar a te amar!

Alijó, 11 de Novembro de 2002Francisco

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143Poemas

Francisco Fontinha

Maria…

Maria…, que te quero quererEm minhas manhãs de desassossego,Desejo de desejarUm dia ao teu lado adormecer,Sem medoDe sonhar…

Maria…, tristeE cansada,Madrugadas em construçãoQue meu triste olhar assiste,Em nuvem aceleradaPergaminho em minha mão.

Maria…, ribeira adormecidaNo planalto amar,Muito bonita e vestidaDe silêncio navegar.

Maria…, prisioneira em meu olhar,Menina sem vaidade,Umas vezes quer-se libertar,Outras…, perde-se na saudade…

Alijó, 12 de Novembro de 2002Francisco

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144Poemas

Francisco Fontinha

Quero ser

Quero serO refugio dos teus dias de tristezaA vontade de estar ao teu ladoSem medo de me perderEm tua tão grande beleza…Quero serO teu amanhecerAs madrugadas em desalinhoA razão de escreverA saudade de não te ver.Quero serOs teus sonhos na madrugadaPórtico suspenso em teu cansaçoO leito onde não consegues adormecerEm tua cama deitada.Quero serA pedra onde estás sentadaO rio que corre sem descansoOs fins de tarde ao escurecerQuando passas por mim apressada.Quero serO infinito em teu olharNenúfarA crescer…Em teu nome amar…

Alijó, 14 de Novembro de 2002Francisco

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Francisco Fontinha

Onde está...!

Onde está o teu amorQue por mim chorava!Onde está a tua mãoQue o meu rosto acariciavaNos meus cabelos se perdiaE nunca se cansava...Onde está o teu coraçãoQue me amavaE sentiaA minha ausência com dor...Onde está o teu olharQue adormecia no meu pensamentoSem asas sem ventoSempre pronto a navegar...Onde está a tua alegria de viverQue dia após diaNo meu sorriso se perdia.Onde está o teu amorQue por mim chorava!Cansaço de uma noite mal dormidaCom madrugadas em construçãoQue me telefonava,E ás vezes... Me acordava...Onde está e o que é feito da tua vidaSem vida ou recordação,Sem palavras, momentos nem cor.

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146Poemas

Francisco Fontinha

Onde está o teu silêncio adormecidoTeu sorriso no meu olharTeus braços no meu peito doridoQuando me querias abraçar.Onde está... Já não está... EstavaA tua vontade de me amarQuando contigo me encontravaNa cabana junto ao mar...

O teu olhar...!

Não tenho asas para voarNão tenho forças para caminharNem tempo para sonhar;Mas tenho o teu olhar!Não tenho noites para dormirNem roupa para vestir,Nem vontade de sorrirNem ideias de partir...

Mas tenho o teu olhar!

Não tenho sonhos para sonharHoras para despertarEstrelas para olharNão tenho nada para te agradar;

Mas tenho o teu olhar!

Não tenho vida para viverLivros para escrever,Não sei o que é adormecer...Ou o teu sorriso ver...!

Mas tenho o teu olhar!

Francisco

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147Poemas

Francisco Fontinha

Os teus sonhos nos meus sonhos

Uma nuvem adormecidaUm cansaço no teu corpo pétala florUm sorriso um jardim mal tratadoUm silêncio de morteNo teu olhar um refúgio um desertoManhãs em descidaTuas mãos em meu sorriso cansadoQue adivinham má sorteNa neblina em céu encobertoPlanície na tela do pintor.

Os teus sonhos nos meus sonhos, uma noite sem adormecer,Frases que escrevo no teu olharSem pensarQuando penso em te ver...

Madrugada no teu olharAmanhecer sem acordarDormir acordado sem adormecerE depois... Renascer.

Um Cisne que te quero darUma manhã a chover

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Francisco Fontinha

Um nenúfar a chorarNas horas amanhecer.

Francisco Alijó, 10-04-2003

Existe dentro de mim…

Existe dentro de mimUm rio que se esconde e não se cansa de correrUma vontade louca de caminharEscreverPassear…Existe no meu silêncio a chuva a cairQue ilumina na madrugada o meu jardimSem se cansar de sorrir.

Existe no meu pensamentoUma nuvem adormecidaLevada no ventoNuma tarde esquecida.

Existe dentro de mimA madrugada sem madrugadaO amanhecer sem alvoradaUm relógio sem horário para cumprirNum silêncio para me fazer esquecerO menino a sorrirSem vontade de viverPobre a pedir…Existe sim.

Existe dentro de mimO cansaço de estar cansado

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Francisco Fontinha

A vontade de nada fazerFicar na minha cama deitadoE… adormecer.Existe dentro de mimO sol que se esconde no teu olharO castelo bem alto e inacessível… onde teimas em habitarQue eu não posso alcançar.Existe dentro de mimO mar para adormecerUm veleiro em construçãoUma vela para tecerE… navegar no teu coração.

Quero ser um barco à velaConstruído de ventoJunto à tua janelaPara navegar no teu pensamento.

Quero ser o livro que adormece na tua mãoA música que não te cansas de ouvirA calçada onde passas apressadaA vontade de sorrir…Quero ser a tua madrugadaO amanhecer sem clarãoO castelo onde habitas aprisionadaCom medo da paixão.

Quero ser um barco à velaPerdido no teu coraçãoOlhando o teu rosto belaBela pois então.

Quero ser um barco à velaSem vento para navegarNavegar no teu pensamentoCom vontade de amar.Quero ser o ventoNo teu cabelo donzelaVentoQue bate na tua janela.

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Francisco Fontinha

Quero ser um barco à velaCansado de esperarE medo de se perder.Quero ser o marOnda a valerAdormecido na telaQue tu queres ter.Quero ser um barco à vela…

Nas asas do teu pensamento

Nas asas do teu pensamento,O silêncio adormeceUm sonho em cada momento,Um destino que se perde em solidãoComo quem apareceNa planície agreste do teu coração.

Minutos e segundos no teu olharRelógio que se esquece do tempoPronto a navegarSem a ajuda do vento.

Nas asas do teu pensamentoUm jardim em construção,Um desejo de alimentoPrisioneiro na minha mão.

Nas asas do teu pensamentoO silêncio adormece…

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Francisco Fontinha

A cabana

Na nossa cabanaSemi-abandonada,Quando o anoitecerAcordavaE tu, cansada,Na minha cama deitadaArdente em chama,No silêncio da RFM alguém cantava,E eu sentia o teu respirarOfegante que me fazia aquecerE sonhar.

O teu perfume em mim se misturavaComo se fosse o infinito na madrugada,Os teus lábios escondiam-se nos meusE eu perdia a noção do tempo…E não me cansavaDe te beijar e pedir a Zeus,Que tu fosses um pedacinho de ventoNa minha cama deitada.

Na nossa cabanaSemi-abandonada,Quando o anoitecer acordavaE tu, cansada,

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Francisco Fontinha

Deixavas-me no teu corpo escreverOs mais belos poemas de amor,Adormecias no meu peito que balançavaComo um pórtico em construção…E eu não me cansava,Mas existia em mim medo de te perder,E os teus cabelos perdiam-se na minha mãoComo se fossem uma flor,Um silêncio na escuridão que não engana.

Na nossa cabanaSemi-abandonada,Quando o anoitecer acordava,E tu, cansada,Eu… te abraçava,E nos meus braços parecias uma hiena…

Para ti…