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112 PRIMEIRO QUADRIMESTRE 2012 VERSÃO BRASILEIRA ANO XXIX Sara García Responsabilidade ambiental e garantias financeiras Modelos internos em Solvência II Análise integral de riscos Observatório de sinistros “Gerente de riscos, elemento de ligação entre as áreas de uma companhia” O regime português e o exemplo espanhol Sua aplicação ao cálculo do coeficiente de queda de carteira Um impulso para a credibilidade e a transparência da empresa O último voo do ‘Miguel de Unamuno’ Gerente de riscos da Iberia PAULA RIOS E ANA SALGUEIRO MERCEDES AYUSO, MONTSERRAT GUILLÉN E ANA M. PÉREZ-MARÍN ÁNGEL ESCORIAL BONET GERÊNCIA DE RISCOS E SEGUROS

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VERSÃO BRASILEIRA

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Sara García

Responsabilidade ambiental e garantias financeiras

Modelos internos em Solvência II

Análise integral de riscos

Observatório de sinistros

“Gerente de riscos, elemento de ligação entre as áreas de uma companhia”

O regime português e o exemplo espanhol

Sua aplicação ao cálculo do coeficiente de queda de carteira

Um impulso para a credibilidade e a transparência da empresa

O último voo do ‘Miguel de Unamuno’

Gerente de riscos da Iberia

PAULA RIOS E ANA SALGUEIRO

MERCEDES AYUSO, MONTSERRAT GUILLÉN E ANA M. PÉREZ-MARÍN

ÁNGEL ESCORIAL BONET

GERÊNCIA DE RISCOS E SEGUROS

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Instituto de Ciencias del SeguroT 91 581 20 08Paseo de Recoletos, 23. Madrid

BOLSAS DE FORMAÇÃO

2012 EM SEGUROS E GESTÃO DO

RISCO

www.fundacionmapfre.com

A FUNDACIÓN MAPFRE está realizando uma convocatória anual de bolsas destinadas a facilitar o acesso a atividades de formação relacionadas a seguros e gestão do risco.

Bolsas de formação especializada para profi ssionais da Ibero-América e de Portugal: destinadas a oferecer a universitários da Ibero-América e de Portugal um período de formação em universidades e instituições espanholas sobre temas relacionados com seguros e gestão do risco.

Bolsas de estudo: destinadas a facilitar o acesso às atividades de formação oferecidas pelo Instituto de Ciencias del Seguro

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ed

itori

alSempre em frente

Não é que a história se repita toda hora ou que estejamos tendo surtos de paramnésia. O que acontece é que a nossa mente desenvolveu padrões e esquemas para que relacionemos o novo com o conhecido. Ainda assim, à medida que o tempo passa e que aumenta a nossa bagagem profissional, deixamos de prestar atenção ao novo. Esquecemos. Nós nos esquecemos do novo porque ficamos com as experiências que acumulamos em nossa existência.

Mais de dois milênios atrás, Tucídides, historiador e militar ateniense, formulou uma teoria segundo a qual a mera crença na inevitabilidade de uma confrontação pode converter-se em uma de suas principais causas. Assim, cada grupo aliado, crendo que tudo vai acabar em guerra absoluta com o outro, faz alguns preparativos bélicos iniciais, que são interpretados pelo grupo contrário como a confirmação de seus piores medos. E, então, cada um começa a aumentar a aposta em seus próprios preparativos. Desse modo, por aproximações sucessivas, a crença inicial de que o conflito era inevitável se converte em uma espécie de profecia realizada.

Sem nem sequer nos darmos conta, vivemos arrastados por uma corrente de pensamento próxima da teoria da inevitabilidade. Podemos pensar que aquilo que nos acontece se resume à profundidade da recessão econômica e à sua atribulada gestão. Prestando atenção ao relatório bianual da ONU intitulado “Situação e perspectivas da economia mundial em 2012”, a crise econômica mundial se aprofunda e a recessão parece inevitável. Mas o que propomos com estas linhas é questionar se aprendemos alguma lição com o passado e, ao invés de repetirmos a prática perversa do conflito permanente, nos voltarmos ao que é novo.

Apesar de tudo o que está se passando, devemos recorrer a uma perspectiva otimista. Nada é inevitável e não há dúvida de que o amanhã será melhor; os constantes avanços científicos justificam abordar o futuro com entusiasmo. Cada dia há uma consciência maior de que o esforço compartilhado e a capacidade de inovação só podem resultar em coisas boas. Sempre em frente.

A grave situação econômica internacional está causando problemas a todos os setores econômicos. O setor da navegação aérea não está alheio a este contexto mundial. Na entrevista que abre o presente número da revista, a gerente de riscos da Iberia, primeiro grupo de transporte aéreo na Espanha e, depois de sua fusão com a British Airways em janeiro de 2011, o terceiro da Europa e sexto do mundo em termos de faturamento, além de enfatizar a importância socioeconômica do transporte aéreo, ratifica como a comunicação, em todos os níveis, acaba sendo um dos fatores-chave para que a Gerência de Riscos alcance a velocidade de cruzeiro de um Airbus.

No primeiro dos três estudos publicados, as autoras propõem, à luz dos grandes sinistros ambientais ocorridos no passado recente, uma análise da evolução legislativa em matéria de responsabilidade ambiental nos Estados Unidos e na União Europeia, com atenção especial à Península Ibérica.

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A revista Gerência de Riscos e Seguros não se responsabiliza pelo conteúdo de nenhum artigo ou trabalho assinado por seus autores, e o fato de publicá-los não implica concordância ou identifi cação com os trabalhos expostos nesta publicação. É proibida a reprodução total ou parcial dos textos e ilustrações desta revista sem a autorização prévia do editor.

PRESIDENTE: FILOMENO MIRA CANDEL

DIRETOR: JOSÉ LUIS IBÁÑEZ GÖTZENS CHEFE DE REDAÇÃO: ANA SOJO GIL COORDENAÇÃO: MARÍA RODRIGO LÓPEZ CONSELHO DE REDAÇÃO: IRENE ALBARRÁN LOZANO, ALFREDO ARÁN IGLESIA, FRANCISCO ARENAS ROS, MONTSERRAT GUILLÉN ESTANY, ALEJANDRO IZUZQUIZA IBÁÑEZ DE ALDECOA, CÉSAR LÓPEZ LÓPEZ, JORGE LUZZI, FRANCISCO MARTÍNEZ GARCÍA, IGNACIO MARTÍNEZ DE BAROJA Y RUÍZ DE OJEDA, EDUARDO PAVELEK ZAMORA, Mª TERESA PISERRA DE CASTRO, CÉSAR QUEVEDO SEISES, DANIEL SAN MILLÁN DEL RÍO, FRANÇOIS SETTEMBRINO.

PRODUÇÃO EDITORIAL: COMARK XXI CONSULTORES DE COMUNICACIÓN Y MARKETING

DESENHO GRÁFICO: ADRÍAN Y UREÑA

VERSÃO BRASILEIRA: FUNDACIÓN MAPFRE - DELEGAÇÃO BRASIL

DIREÇÃO: FÁTIMA LIMA

COORDENAÇÃO: MERCEDES GÓMEZ NIETO

TRADUÇÃO E REVISÃO: MARISTELA LEAL CASATI

PROJETO GRÁFICO E DESIGN ADAPTADO: bmEW PROPAGANDA

FUNDACIÓN MAPFREInstituto de Ciencias del Seguro

Paseo de Recoletos, 23.28004 Madrid (España)Tel.: +34 91 581 12 40. Fax: +34 91 581 84 09

www.gerenciaderiesgosyseguros.com

O segundo estudo, elaborado por uma equipe de pesquisa da Universidade de Barcelona, analisa as vantagens de utilizar modelos internos - a partir do desenvolvimento de um modelo para a quantificação do risco de negócio da companhia seguradora, incorporando o “efeito contágio” - para cancelar apólices no cenário de Solvência II.

O terceiro e último estudo deste número apresenta a opinião do autor sobre a importância da ferramenta de análise integral dos riscos para uma gestão proativa na sua identificação e tratamento, já que permite não apenas descobrir ameaças como também oportunidades de melhora, o que ajuda a empresa a alcançar seus objetivos estratégicos.

Encerra a seção um estudo que contém informações sobre o ano de 2010 e um boletim do primeiro semestre de 2011, extraído da décima edição do relatório publicado pela FUNDACIÓN MAPFRE, cujo objetivo é proporcionar uma visão geral da situação atual do mercado segurador nos países da América Latina.

No Observatório de Sinistros estão descritas as consequências da violenta aterrissagem de um avião comercial em Quito (Equador) em novembro de 2007. Apesar de não ter tido vítimas mortais nem feridos graves, foi declarada perda total construtiva da aeronave sinistrada, o que na prática significa que aquele foi seu último voo.

As habituais seções dedicadas a cobrir as novidades de livros e publicações sobre Gerência de Riscos e o adendo com as notícias da AGERS concluem o presente número, o qual, como todos os que o precederam, desejamos que seja do seu agrado.

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Notícias AGERS 84

Obs.: Versão brasileira traduzida, originalmente, da edição espanhola da Revista Gerencia de Riesgos y Seguros, 1º Quadrimestre de 2012.

PRIMEIRO QUADRIMESTRE 2012

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Livros 78

Caderno Brasil 86Sustentabilidade: Gestão de risco, eis a questão

Atualidade 6Novidades legislativas. Novos membros associados da IGREA. Sentença do derramamento de Aznalcóllar. Sentença das vítimas da exposição ao amiantoem Getafe. Primeiro aniversário do acidente nuclear de Fukushima.Estatística de acidentes de trabalho na Espanha em 2011.

Sara García, gerente de riscos da Iberia.“O gerente de riscos será o elemento de ligação entre as áreas de uma companhia.”

Entrevista 14

Estudos

A responsabilidade ambiental e as garantias financeiras: o regime português e o exemplo espanhol como referência para outros mercados.PAULA RIOS E ANA SALGUEIRO ........................................................ 22Modelos internos em Solvência II. Sua aplicação ao cálculo do coeficientede queda de carteira.MERCEDES AYUSO, MONTSERRAT GUILLÉN E ANA M. PÉREZ-MARÍN ............. 38A gestão de riscos impulsiona a credibilidade e a transparência.ÁNGEL ESCORIAL BONET .............................................................. 49

Agenda 2012 13

Observatório de sinistrosO último voo do ‘Miguel de Unamuno’.GERÊNCIA DE RISCOS E SEGUROS .................................................... 68

RelatórioO mercado segurador latino-americano 2010-2011.CENTRO DE ESTUDOS .................................................................. 58

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LEGISLAÇÃONovidades

Resolução de 27 de fevereiro de 2012, da Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensão, pela qual se publica a relação de centros sanitários do setor público e das entidades seguradoras que, junto com o Consórcio de Compensação de Seguros, assinaram um convênio-quadro de assistência sanitária pública derivada de acidentes de tráfego para os exercícios 2011-2013. BOE núm. 58, de 8 de março de 2012.

Ordem ECC/335/2012, de 22 de fevereiro, pela qual se modifica a Ordem EHA/339/2007, de 16 de fevereiro, pela qual se desenvolvem determinados preceitos da normativa que regula os seguros privados. BOE núm. 48, de 25 de fevereiro de 2012.

Autoridade Europeia de Supervisão (Autoridade Europeia de Seguros e Benefícios de Aposentadoria). Resolução legislativa do Parlamento Europeu, de 22 de setembro de 2010, sobre a proposta de Regulamento do Parlamento Europeu e do Conselho pelo qual se cria uma Autoridade Europeia de Seguros e Benefícios de Aposentadoria

(COM(2009)0502 C7-0168/2009 2009/0143(COD)) (2012/C 50 E/18). Posição do Parlamento Europeu aprovada em primeira leitura em 22 de setembro de 2010 com vistas à adoção do Regulamento (UE) nº/2010 do Parlamento Europeu e do Conselho pelo qual se cria uma Autoridade Europeia de Supervisão (Autoridade Europeia de Seguros e Benefícios de Aposentadoria), se modifica a Decisão nº 716/2009/CE e se anula a Decisão 2009/79/CE da Comissão. DOUE núm. C 50 E/209, de 21 de fevereiro de 2012.

Supervisão macroprudencial do sistema financeiro e Junta Europeia de Risco Sistêmico. DOUE núm. C 50 E/210, de 21 de fevereiro de 2012.

Resolução de 24 de janeiro de 2012, da Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensão, pela qual se publicam as quantias das indenizações por morte, lesões permanentes e incapacidade temporária que resultarão da aplicação, durante 2012, do sistema para avaliação de danos e prejuízos causados às pessoas em acidentes de circulação. BOE núm. 31, de 4 de fevereiro de 2012.

Resolução de 23 de janeiro de 2012, da Direção Geral de Emprego, pela qual se registra e se publica o convênio coletivo de trabalho de âmbito estatal do setor de mediação em seguros privados. BOE núm. 29, de 3 de fevereiro de 2012.

Resolução de 5 de janeiro de 2012, da Direção Geral de Seguros e Fundos de Pensão, pela qual se publica a taxa de juro máximo a ser utilizada nos planos de aposentadoria no que diz respeito às contingências em que esteja definida a prestação, e para que se garanta exclusivamente um juro mínimo ou determinado na capitalização das contribuições, para aplicação no exercício de 2012. BOE núm.11, de 13 de janeiro de 2012.

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Novos membros associados

Desde que a Iniciativa Gerentes de Riscos Espanhóis Associados (IGREA) nasceu, há mais de dois anos, com seis sócios-fundadores, a associação vem crescendo num ritmo incontrolável, e atualmente já são 30 os sócios que a integram. A categoria e o peso das empresas associadas os animam a seguir trabalhando e defendendo seus interesses no âmbito da gerência de riscos e seguros.

Na seção “membros associados” são incluídos os novos sócios que vêm se incorporando, pois este é, sem dúvida alguma, o maior ativo que a associação tem.

Atualmente as entidades associadas à IGREA são: Abengoa, Campofrío Group, Endesa, Ferrovial, Iberdrola, OHL, Telefónica, Indra Sistemas, Cemex España, Bahía Bizkaia Electricidad, Grupo Empresarial Sanjosé, Mondragon Sociedad Cooperativa, Sacyr Vallehermoso, Gas Natural SDG, Red Eléctrica Española, Uralita, BBVA, Ortiz Construcciones, Grupo Ence, Acerinox, Sol Meliá, Acciona, Agbar, ACS Dragados e Enagas. Recentemente passaram a fazer parte da associação a Inditex e a Repsol.

O Supremo exime a Junta de Andaluzia da responsabilidade no derramamento de Aznalcóllar (Sevilha) e culpa a empresa Boliden

A Sala do Contencioso do Supremo Tribunal eximiu recentemente a Junta de Andaluzia de qualquer responsabilidade patrimonial no vazamento tóxico ocasionado em 1998 pela ruptura da bacia de rejeitos da mina de Aznalcóllar (Sevilha), apontando que a Boliden Apirsa S.L. “era a responsável, como titular da exploração mineira, por manter a barragem

nas condições adequadas de segurança, e a omissão desse dever implica esse elemento de culpabilidade que a Administração levou em conta ao pronunciar o acordo do qual procede este processo”.

Na sentença, o Supremo Tribunal repudia o recurso de apelação a uma corte superior interposto pela Explotaciones Casa Quemada S.A. e pela Herrería La Mayor S.A. contra a sentença proferida em 23 de julho de 2009 pelo Tribunal Superior de Justiça de Andaluzia, que indeferiu o pedido dos recorrentes quanto à possível responsabilidade patrimonial da Junta andaluza no rompimento da barragem de rejeitos de mineração, que teria provocado danos à propriedade onde ambas as entidades estavam estabelecidas.

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RESPONSABILIDADE DE BOLIDENO Supremo recusou o

recurso e apontou que o relatório da perícia “avalia a existência de alguns danos, mas de modo algum entende que os mesmos derivem da conduta infratora da Junta, que por certo fez frente aos gastos e custos derivados do rompimento da barragem, não assumidos pelas sociedades do grupo Boliden”, ao mesmo tempo em que deixou claro que o rompimento da bacia “ocorreu pelo fato de o projeto técnico de construção não incorporar determinadas prescrições, e não se reconheceu que fosse obrigação da Junta comprovar a devida redação técnica do projeto, visto que por ele se responsabilizam, conforme o caso, seus autores e beneficiários”.

A sentença do Supremo Tribunal indicou que o rompimento da barragem de resíduos de mineração “não pode qualificar-se como um acidente fortuito e inevitável”, já que, “se os inclinômetros instalados se encontrassem em perfeito estado de funcionamento nos meses anteriores à data em que ocorreu o rompimento do dique da bacia, o rompimento poderia ter sido evitado ou teria sido possível acionar os meios adequados para limitar suas consequências”.

Por isso, prosseguiu a sentença do Supremo Tribunal, a Boliden Apirsa S.L. “era responsável, como titular da

exploração mineira, por manter a barragem nas condições adequadas de segurança, e a omissão desse dever implica esse elemento de culpabilidade que a Administração levou em conta ao pronunciar o acordo do qual procede este processo”. “Sua responsabilidade não fica exonerada, porque o rompimento da barragem foi causado pelos defeitos no desenho da bacia em certos projetos que não foram elaborados por ela”, acrescentou a sentença.

“A culpa que se atribui à Boliden Apirsa S.L. é pela escolha dessas empresas e pelo fato de a empresa não ter se envolvido mais diretamente na supervisão de certos instrumentos de controle feitos para manter em segurança uma situação de risco criada por ela no exercício de sua atividade”, completou o Supremo Tribunal.

Sentença das vítimas da exposição ao amianto

O Tribunal Social nº 15 de Madri, numa sentença do mês de março, condenou a empresa Uralita a pagar 1,7 milhões de euros por 23 casos de trabalhadores afetados

pela exposição a amianto em Getafe (Madri). A ação coletiva, apresentada pela Associação de Vítimas do Amianto (AVIDA), é a primeira que a Uralita perde em Madri pela via social.

A sentença detalha que, se os trabalhadores demandantes tivessem contado com equipamentos adequados e se tivesse sido feita “uma limpeza conforme a regulamentação”, as enfermidades que lhes acometeram posteriormente não teriam ocorrido, ou teriam se produzido em um grau menor.

Cada vez há mais ações coletivas nos tribunais de Andaluzia, do País Basco, da Galícia e de Castilla y León e se prevê que, nos próximos anos, aparecerão novas vítimas da inalação de microfibras de amianto, que provocam câncer de pulmão, da pleura e da laringe, das placas pleurais e uma doença profissional específica conhecida como asbestose. Que a tendência será de aumento é o que se deduz do único estudo epidemiológico realizado na Espanha acerca desta questão, coordenado por Fernando García Benavides, diretor do Centro de Pesquisa de Saúde do Trabalho da Universidade Pompeu Fabra, que estima que os casos de mesotelioma diretamente relacionados com a exposição ao amianto aumentarão até o ano de 2016.

Não só aparecerão mais casos de trabalhadores afetados como também os casos de exposições

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domésticas (familiares de trabalhadores que manipulavam as roupas de trabalho em sua lavagem, por exemplo) continuarão a aumentar, segundo se deduz de um estudo que o advogado Albert Azagra realizou recentemente, analisando sentenças do Supremo Tribunal, Tribunais Superiores de Justiça e Audiências Provinciais, entre 1996 e 2010.

Nos países europeus vizinhos, como é o caso da França, criou-se um fundo de compensação para agilizar as reclamações das vítimas. Na Espanha, por sua vez, o Parlamento basco iniciou os trâmites para a constituição de um fundo de compensação semelhante.

Todos os partidos políticos convidaram a Associação de Vítimas do Amianto de Euskadi (ASVIAMIE) para o comitê parlamentar que estudará e projetará esse fundo de compensação.

O comité parlamentar chamará as associações afetadas, as associações de empresários (mutuas) de Euskadi, a AMA e a Inspeção do Trabalho, os técnicos de Seguridade Social e os especialistas em medicina do trabalho, além da Osalan. O plano de trabalho será elaborado de acordo com as propostas do PSE, do PP e do PNV.

Os parlamentares estudarão, a priori, qual seria o melhor contexto para criar um fundo de compensação que

beneficie a todos. A legislação espanhola parte da base de que é necessário vincular a doença ao posto de trabalho e, portanto, à empresa, quando às vezes a inalação das fibras tenha acontecido em empresas que já fecharam. Outras vezes, como já ocorreu em vários casos, falecem ou adoecem donas de casa ou pessoas que tiveram contato com as roupas do trabalhador que estava em contato com esse produto.

O registro oficial de pessoas em contato com o amianto chega a um total de 5.631.

Primeiro aniversário do terremoto, tsunami e acidente nuclear do Japão

No dia 11 de março último se completou o primeiro aniversário do terremoto ocorrido na zona noroeste do oceano Pacífico, no Japão, que gerou o tsunami que arrasou a costa limítrofe do país e que, entre outros danos gigantescos, desencadeou na central de Fukushima-1 o segundo acidente nuclear mais grave da história. O saldo de danos pessoais se destaca pelas 15.854 vítimas mortais e pelos, ainda um ano depois, 3.276 desaparecidos, em sua

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imensa maioria provocados pelo tsunami, cujas ondas gigantes chegaram a 40,5 metros. Nos primeiros momentos foi necessário deslocar 340.000 pessoas, e um ano depois 70.000 vítimas ainda continuam fora de seus lares, uma situação provocada em iguais proporções pelo tsunami e pela catástrofe nuclear.

A repercussão econômica do pacote de eventos se estima em cerca de 300 bilhões de euros, 1,7% do PIB do Japão, por enquanto atribuíveis em sua maior parte aos efeitos do tsunami, mas com a grande incógnita dos diferentes custos de danos a terceiros e do desmantelamento da central

nuclear de Fukushima. As estimativas de cobertura de apólices de seguros do total de danos se situam em torno de 30%. Os trabalhos de remoção de entulhos e limpeza dos estragos do tsunami prosseguem até hoje, mas ainda não foram iniciadas as tarefas de reconstrução.

Contudo, o evento que gerou a maior implicação para o futuro foi o acidente nuclear, que acabou sendo classificado como de nível máximo, 7, na escala INES, o mesmo grau que o de Chernobil (Ucrânia). O desastre de Fukushima provocou inúmeras reações de governos e grupos que exercem pressão contra a energia nuclear.

Não há dúvida de que ainda falta conhecer mais detalhes das causas do sinistro e da evolução temporal do evento, que o governo japonês e a operadora TEPCO afirmam ter

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conseguido estabilizar em parada fria; se assim for, poderão ser realizadas com garantia as fases de desmantelamento da central, que se prolongarão entre 30 e 40 anos.

Durante as primeiras fases do acidente, foram evacuadas as zonas próximas à central em um raio de até 40 quilômetros, que atualmente foi reduzido para 20 quilômetros. Quando se desencadearam os eventos, estavam operantes no Japão 54 reatores nucleares e hoje 12 estão ativos. Dadas as limitadas condições territoriais do Japão, foram construídas centrais com vários reatores, como a que foi afetada, Fukushima-1, que contava com seis unidades, gerando uma extrema acumulação de pontos de alto risco.

A partir das análises do caso de Fukushima, os peritos

extraíram, entre outras, as seguintes conclusões:

Dada a gravidade das emissões radioativas que po-dem chegar a ser produzidas, devem-se aumentar as mar-gens de segurança diante de

todo tipo de perigos, especial-mente terremotos e tsunamis.

Deve-se evitar a con-centração na proximidade de unidades de reatores. Os seis reatores de Fukushima esta-vam a cerca de 40 metros de distância um do outro.

A implantação das centrais nucleares deve garan-tir, em um nível elevado, os possíveis efeitos de catástrofes naturais, tecnológicas e mal-intencionadas.

É necessário garantir a mais estreita colaboração entre os operadores das centrais nucleares sinistradas e as auto-ridades nacionais e da Agên-cia Internacional da Energia Atômica (AIEA).

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Diminui a incidência dos acidentes de trabalho na Espanha

A estatística de acidentes de trabalho registrados em 2011, segundo dados do Ministério de Emprego e Seguridade Social, reflete um total de 568.370 sinistros com baixas, em sua maioria (88,2%) em jornada de trabalho, sendo o restante in itinere, ou seja, o percurso do lar até o local de trabalho, ou vice-versa.

Deste número total, é importante destacar a consequência extrema dos

acidentes mortais, que atingiram a cifra de 520 falecidos em jornada de trabalho e 163 in itinere, com uma redução com relação ao ano anterior de 8,6 e 13,3%, respectivamente. O desemprego mais alto em 2011

explica, em parte, devido à menor exposição, a diminuição do número absoluto de acidentes do trabalho em todos os setores.

No entanto, o valor dos índices de incidência de acidentes em proporção à população dos trabalhadores expostos reflete uma queda considerável nos últimos anos. Assim, o índice de incidência de todos os acidentes de trabalho com baixa em 2011 se situou em 3.936 acidentes por cada 100.000 trabalhadores expostos, o que representa uma redução de 11,1% com relação ao ano anterior. A taxa de incidência em acidentes mortais ficou em 4,7, apresentando um declínio de 9,6% com relação à do ano de 2010.

Por outro lado, as principais causas dos acidentes mortais em jornada de trabalho se refletem no quadro abaixo.

Número PorcentagemInfartos, derrames cerebrais e outras causas não traumáticas

197 37,9

Acidentes de trânsito em missão 87 16,7

Impactos com objeto móvel 77 14,8

Aprisionamentos, achatamentos e amputações

65 12,5

Impactos com objeto imóvel 50 9,6

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AGENDA 2012

CONGRESSOS E JORNADASJORNADA DATAS LOCAL CONVOCANTE

Congresso Anual: Risco e Desenvolvimento em um Mundo Mutante

18-20 de julho Sidney (Austrália) SRA

XXXVII Congresso Educacional 31 de julho-3 de agosto Naples, FL (EUA) RIMS

Congresso Anual 5-8 de agosto Minneapolis, MN (EUA) ARIA

Congresso 2012 4-6 de setembro Munique (Alemanha) DVS

Congresso 2012 9-12 de setembro Saskatoon (Canadá) RIMS Canadá

VII Conferência Internacional so-bre Análise e Mitigação de Riscos

19-21 de setem-bro Isla de Brac (Croácia)

Wessex Institute of Technology

(Londres)

Congresso ERM 2012 29-30 de outubro San Antonio, TX (EUA) RIMS

Congresso Anual 6-7 de novembro Pfäffi kon (Suíça) SIRM

XXXII Gerente de Risco de Construção

11-15 de novem-bro Orlando, FL (EUA) IRMI

Congresso Anual 18-20 de novem-bro Queensland (Austrália) RMIA

VII Congresso Anual 21-24 de novem-bro Sidney (Austrália) IFRIMA

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entrevista

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

GarcíaGarcíaSaraGERENTE DE RISCOS DA IBERIA

“O gerente de riscos será um elemento de ligação entre as diferentes áreas de “O gerente de riscos será um elemento de ligação entre as diferentes áreas de

Texto: ALICIA OLIVASFotos: ALBERTO CARRASCO

“Na Iberia damos extrema importância à gestão do risco

em todos os níveis da empresa”, manifesta Sara Garcia.

A fusão com a British Airways trouxe consigo grandes

mudanças, a tal ponto que, segundo a gerente de riscos

da Iberia, “podemos falar de um antes e um depois em

termos de seguros”, mas eles estão bastante satisfeitos com os

resultados obtidos na colocação conjunta dos riscos.

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15G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

uma companhia” uma companhia”

Em geral, como se estabelece o programa de Gerência de Riscos do primeiro grupo de transporte aéreo na Espanha, o terceiro da Europa e o sexto do mundo em termos de faturamento?Em primeiro lugar, analisamos o

quadro regulador em matéria de segu-ros exigíveis para a operação, e, de acor-do com ele, avaliamos os riscos de todas as áreas da companhia, desenvolvemos uma normativa interna de gestão de si-nistros e controlamos detalhadamente a sinistralidade histórica para identificar as situações de maior risco.

No dia 21 de janeiro se concluía a operação de fusão da Iberia e a British Airways, que agrupou os interesses de ambas as companhias na ‘holding’ International Airli-nes Group (IAG). Que mudanças trouxe consigo a fusão para o modelo de Gerência de Riscos estabelecido na Iberia?Efetivamente, a fusão trouxe consi-

go todo tipo de mudanças, a um pon-to tal que podemos falar de um antes e um depois. Dentro do objetivo do plano de sinergias do IAG, fixado em 500 milhões de euros até 2015, segu-ros e compras foram as áreas sobre as quais se atuou de imediato após a fu-são com a British Airways. E, no nosso caso, estamos extremamente contentes com os resultados obtidos na colocação conjunta dos riscos.

A fusão foi concluída em 21 de ja-neiro de 2011 e, dois meses e meio mais tarde, em 1º de abril, estávamos colo-cando nossa apólice de aviação, que é a mais importante do nosso programa, das mãos da British Airways. Foi uma

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na opinião de...

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

correria. Foi um trabalho exaustivo, rigo-roso, mas felizmente saiu tudo muito bem, inclusive pudemos melhorar agora, durante este exercício, por dispormos de uma mar-gem maior de tempo.

Antes da fusão, a British Airways colocava suas apólices com suas filiais e franqueadas: BA Cityflyer, OpenSkies, Comair, Sunair, com a irlandesa Aer Lingus e com a LAN. Nós colocávamos com a Vueling e com a Air Nostrum. Depois da fusão, unimos todos os programas. Este ano, tivemos mais tempo para preparar a colocação, que acabamos de

terminar, e foi um processo impecável. In-corporamos a TAM ao nosso grupo, quando ela estava prestes a se fundir com a LAN, de modo que atualmente formamos um pool de 16 aerolíneas.

NOVOS DESAFIOS E PROJETOS

Como a Gerência de Riscos encara os novos projetos da companhia?No setor em que estamos é impossível

categorizar. A aviação engloba uma série de atividades inimagináveis, então não vamos

“ELABORAMOS

O PROGRAMA

CORPORATIVO

DE SEGUROS

CONFORME A

ESTRATÉGIA DA

COMPANHIA”

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17G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

nos ater apenas ao avião puro e simples. No Departamento de Gerência de Riscos, o que você aprende é a se desenvolver e a ter uma mente muito aberta, e a se colocar em comu-nicação com todas as áreas de negócio para abarcar novos projetos e ver de que manei-ra podemos colaborar estreitamente com os demais departamentos. Para falar a verdade, está em andamento agora um projeto muito importante - a construção da nova sede da Iberia, junto à T4, onde temos de lidar com todos os riscos de edificação, riscos com os quais até agora eu não tinha tido contato. Agora terei de estudá-los e lidar com eles.

Que desafios que a forte aposta da Iberia em Responsabilidade Corporativa causou para o seu Departamento?A Iberia foi pioneira em vários aspectos

relacionados com Responsabilidade Cor-porativa, como a gestão da qualidade e do meio ambiente, a segurança ou a ação so-cial de seus empregados. Como mostra do reconhecimento às ações que a empresa realiza nos contextos econômicos, ambien-tais e sociais, a Iberia foi escolhida, durante cinco anos consecutivos, para formar parte do seletivo Dow Jones Sustainability Index, e também foi integrada ao FTSE4Good, os dois índices bursáteis de sustentabilidade mais prestigiados do mundo.

Um dos grandes projetos estratégicos da Iberia em 2011 e 2012 é o desenvolvimento de uma política integral de meio ambiente. Nosso principal objetivo é reduzir o consu-mo de combustível e as emissões, mas tam-bém envolver nossos clientes e empregados no compromisso com o respeito e a preser-vação do nosso meio ambiente.

A renovação dos nossos aviões de longo raio, prevista para o primeiro trimestre de 2013, nos ajudará a sermos ainda mais efi-cientes no futuro.

Em 2011 realizamos o primeiro voo es-panhol com biocombustível, uma experi-ência com a qual quisemos demonstrar que se pode mais voar limpo, que nossos aviões

estão preparados para isso, e que o passo se-guinte é criar um mercado onde se produ-zam biocarburantes para aviação de forma sustentável e que eles sejam comercializados a preços competitivos.

Com a nossa política ambiental, preten-demos também envolver nossos clientes, e já lhes estamos informando pelo www.iberia.com sobre a pegada de CO2 gerada em suas viagens, com a possibilidade de que possam compensá-la realizando contribuições vo-luntárias destinadas ao plantio de árvores em locais próximos aos aeroportos espanhóis.

No que se refere às coberturas, a Iberia conta com um Seguro de Responsabilidade Ambiental de acordo com a Lei 26/2007, que forma parte das medidas previstas nos pro-cedimentos que a empresa estabeleceu para enfrentar qualquer contingência ambiental.

RISCOS SOB CONTROLE

O negócio da Iberia, que opera há mais de 80 anos ininterruptos, está centrado principalmente em três áreas: transporte de passageiros e carga, manutenção de aviões e assistência em aeroportos (‘han-dling’). Qual destas atividades é a mais complicada do ponto de vista do risco?Sem sombra de dúvida o transporte de

passageiros. Enquanto nas atividades de car-ga, handling e manutenção estamos diante de um risco mais fácil de ser quantificado em termos de contratação de coberturas, no transporte de passageiros nos depara-mos com um grande leque de situações e, por mais que se queira, algumas não conse-guimos prever... São riscos mais difíceis de quantificar e dependem de outros fatores externos, como as rotas que operamos. Por exemplo, dependendo do ordenamento ju-rídico de cada país, as reclamações dos pas-sageiros são abordadas de uma forma ou de outra. Isso se torna complicado e, além da legislação, lidamos com passageiros que pro-vêm de países cuja cultura de reclamação é

“A AVIAÇÃO

ENGLOBA

UMA SÉRIE DE

ATIVIDADES

INIMAGINÁVEIS”

“PELA NATUREZA

DE NOSSA

ATIVIDADE É

FUNDAMENTAL

TRANSFERIR

UMA PARTE DO

RISCO”

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na opinião de...

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mais pronunciada. No transporte de passa-geiros sempre podem surgir novas reclama-ções de qualquer natureza.

No momento atual, quais dentre os riscos que ameaçam sua empresa são os que mais a preocupam?O que nós chamamos de ‘riscos desco-

nhecidos’. E, dada a dificuldade de prever o evento que pode ocorrer, é bom ter um en-foque mais de gestão de consequências que da própria natureza do risco.

Estaríamos falando, por exemplo, de como gerir o fechamento do espaço aéreo por qualquer motivo. Ninguém pensou, na época, nas consequências das cinzas vulcâ-nicas após a erupção de um vulcão. Por isso, precisamos estar à frente, tendo clara a gestão das consequências, e logo depois precisamos tomar as medidas para ver como segurar, re-ter ou transferir riscos que eram hipotéticos e se materializaram.

A cada quanto tempo vocês revisam o mapa de riscos e a que nível se situa a revisão?Constantemente. Existe uma área espe-

cífica dentro da empresa focada na revisão dos riscos que sempre está ativa e em con-tato direto com os diferentes responsáveis das áreas de negócio e com o Departamento de Gerência de Riscos. Juntos, nos sentamos todos para estudar o risco e como tratá-lo.

Mas se você tem um bom sistema de ERM, como é o nosso caso, os seus riscos operacionais e financeiros ficam bem con-trolados. Ainda assim, sempre há riscos do tipo sistêmico ou estratégico, que são difíceis de prever e que constituem o que chamamos de “cisnes negros” ou “cisnes cinzas”, con-forme o nível de ameaça.

Infelizmente, a aviação é um setor sensí-vel a este tipo de eventos. Pudemos ver isso durante a famosa gripe aviária ou nas cinzas vulcânicas. Mas esses eventos também po-dem ser observados quando há problemas geopolíticos como, por exemplo, as revolu-

ções nos países árabes no ano passado, que já estão sendo incluídas no nosso mapa de riscos.

Qual é o seu programa específico para emergências, tais como catástrofes natu-rais, acidentes aéreos e ataques terroris-tas, entre outros?Contamos com um departamento con-

creto de Safety que desenvolve um amplo programa de segurança, com diferentes pla-nos de Emergência, Autoproteção e Aero-náuticos, perfeitamente coordenados.

Além disso, temos contado com a cola-boração da ITSEMAP, que desenvolveu um ‘Protocolo de gestão de ajudas externas’, que aborda os diferentes protocolos de comuni-cação para ativar os recursos externos neces-sários nas diferentes situações de emergência que uma aeronave da Iberia pode enfrentar e em todos os pontos geográficos em que elas podem acontecer.

E não só abordamos as contingências maiores, já que não devemos nos limitar apenas à ideia do grande risco - a possibilida-de de que um avião se espatife ou qualquer situação parecida -, mas também pensamos nas contingências menores, como o lança-mento de rampas, uma aterrissagem com espuma... Não se tem que pensar sempre no risco catastrófico.

Portanto, o protocolo se apresenta como um complemento aos diferentes planos de Emergência de que a Iberia já dispõe no âm-bito da gestão de emergências da empresa.

Além disso, por meio deste protocolo, temos contado com o beneplácito dos Segu-radores, já que solicitamos previamente seu consentimento para saber quais das situa-ções de risco seriam contempladas e aborda-das pelas nossas apólices e quais não seriam. Em comunicação com a nossa área, o De-partamento de Segurança tem conseguido, assim, reforçar sua obrigação de conhecer o conteúdo das apólices e afiançar seus proto-colos de segurança, prestando atenção não somente às medidas preventivas. Isso tam-

“O TRANSPORTE

DE VIAJANTES É

MUITO DIFÍCIL

DE QUANTIFICAR

EM TERMOS DE

COBERTURAS”

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bém lhes permitiu incluir em seus planos um número maior de meios para gerenciar uma contingência, uma vez que ela surja. Resumindo, com o apoio dos Seguradores é possível chegar a um programa ainda mais eficaz e satisfatório de segurança.

RETENÇÃO E TRANSFERÊNCIA DO RISCO

Como você avalia a transferência seguradora como ferramenta para o tratamento de riscos? Em seu caso, que riscos retêm e em quais decidiram recorrer ao Seguro?

aeronave, mas também tem de incluir aque-les que causam um impacto significativo nos resultados.

Há outros riscos operacionais, como a perda de benefícios ou os danos indiretos, que gostaríamos de transferir mais para o mercado, mas eles têm cobertura limitada e, na maioria dos casos, muito onerosa.

Da mesma forma, desenvolvemos um programa de controle do risco para reduzir em número e impacto os riscos não segu-rados que financiamos internamente (ferra-mentas de gestão do autosseguro).

Pela natureza da nossa atividade, é neces-sário, fundamental, transferir uma parte do risco; e digo ‘uma parte’ porque, devido à gama tão variada de riscos que o negócio de aviação suporta, seria praticamente impossí-vel transferir tudo para o mercado, seja por falta de capacidade ou por seu custo desme-dido.

A volatilidade das ações no setor das li-nhas aéreas é reflexo da volatilidade do nos-so negócio e, portanto, o investidor conhece os riscos que assume.

Dito isso, a transferência dos riscos pre-cisa, forçosamente, incluir os riscos catastró-ficos que podem colocar a companhia aérea em perigo, tais como os de acidente de uma

Em que coberturas estão trabalhando atualmente?Acabamos de renovar uma apólice con-

junta de D&O que inclui os conselhos da Iberia, da British Airways e do IAG. Sob o guarda-chuva da fusão, foi a primeira apó-lice que contratamos em conjunto, que en-trou em vigor em 21 de janeiro de 2011, o mesmo dia em que se concluiu a fusão.

Atualmente estamos considerando a pos-sibilidade de contratarmos um seguro de Caução como complemento ou alternativa às garantias bancárias nas áreas de negócio onde nos solicitam a apresentação dessas ga-rantias.

“ESTAMOS

CONSIDERANDO

A CRIAÇÃO DE

UMA CATIVA

PARA OS

DEDUTÍVEIS

DAS APÓLICES,

PORQUE EM

AVIAÇÃO ELES

SÃO MUITO

ELEVADOS”

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na opinião de...

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Também estamos imersos em um proje-to para a gestão de incidências derivadas do transporte aéreo de equipamentos, reguladas na Espanha pelo Convênio de Montreal e pelo Regulamento 889/2002.

O que vocês esperam do seu segurador?Empatia, rigor, profissionalismo, criativi-

dade e proatividade, mas sempre pudemos contar com isso.

Vocês contam com alguma cativa? Por quê?Não, mas é um tema que está em dis-

cussão desde a nossa fusão com a British Airways. A BA tem uma cativa, a Speedbird, e dentro do esquema de trabalho conjunto de colocação das melhores práticas de cada linha aérea, estamos contemplando essa pos-sibilidade. Mas ainda não sabemos se vamos nos unir à cativa da BA ou se vamos criar uma própria. Estamos avaliando. Inicial-mente, estamos considerando criar uma ca-tiva para os dedutíveis das apólices; em avia-ção eles são muito elevados e provavelmente seria uma cativa de resseguro.

UMA DISCIPLINA DETERMINANTE

Você considera que a Gerência de Riscos é hoje uma disciplina de gestão absoluta-mente necessária para qualquer empresa, seja ela uma grande multinacional ou uma PME?Sem dúvida, é determinante. Por este

motivo na Iberia damos extrema importân-cia à gestão do risco em todos os níveis da empresa, e trabalhamos para que a cultura do risco esteja presente em todas as ações da cadeia de produção.

Quem tem de velar pela medição e as-sunção correta dos riscos são os responsáveis

“MEU PRINCIPAL

OBJETIVO É

DESENVOLVER

UMA POLÍTICA

DE GESTÃO DE

RISCOS POR

MEIO DE UM

PLANEJAMENTO

CORRETO DE

COBERTURAS”

dos negócios, mas, claro, sempre ajudados e coordenados pelo Departamento de Riscos.

O que está faltando, então, para que a Gerência de Riscos alcance a velocidade de um Airbus 380?Falta insistir ainda mais em se fomen-

tar uma cultura de risco a nível empresarial dentro da organização. O trabalho de comu-nicação é fundamental. Se os responsáveis da empresa forem conscientes disso e capa-zes de transmitir essa cultura a outras áreas, com certeza a Gerência de Riscos decolará como um Airbus 380.

Os gerentes de riscos estão conseguindo alcançar uma visibilidade adequada?Sim, e, na verdade, nisso desempenham

um grande trabalho os brokers, as segurado-ras, os peritos, etc., que organizam jornadas e encontros ou delas participam, porque ninguém está de posse da verdade, e é pre-ciso compartilhar as melhores práticas e ava-liar outros pontos de vista com profissionais diversos. Tudo isso nos dá a possibilidade de obter uma visão adequada.

Em poucas palavras, como será o gerente de riscos do futuro?Nos próximos anos, o gerente de riscos, e

isso já está acontecendo, será uma peça cha-ve e um elemento de ligação entre as dife-rentes áreas de negócio de uma empresa.

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Licenciada em Direito pela Universidade Complutense de Madrid CEU San Pablo, Sara García está ligada ao mundo do seguro há uma dezena de anos, após sua entrada, no ano 2000, no setor da aviação como gerente de riscos da Newco Airpor t Services, empresa de han-dling do grupo Spanair.

É hoje a gerente de riscos da Iberia e, por sua experiência em handling, conselheira da Serpista, sociedade em que a Iberia tem 39% de par ticipação e cuja atividade é a realização de todo tipo de trabalhos relativos a montagem, manutenção

e conser to de equipamentos para o tratamento das aeronaves e, por sua vez, dos passageiros e mercadorias, assim como o suprimento de mate-riais e equipamentos necessários para esse fim.

Quais são suas funções como gerente de riscos da Iberia?Realizo a gestão do programa

corporativo de apólices. Defino as estratégias de renovação e co-locação no mercado segurador e também desenvolvo uma função de assessoria interna em matéria de seguros, revisando os contratos e as cláusulas de garantias, responsabili-dades e seguros.

Que desafios e objetivos tra-çou à frente deste cargo?Meu principal objetivo é desen-

volver uma política eficaz de geren-ciamento de riscos por meio de um planejamento correto de cober turas, a fim de minimizar o custo dos riscos a que a empresa está exposta.

Organicamente, onde se situa o Departamento de Gerência de Riscos na Iberia

e qual é a importância dele dentro do grupo?O Depar tamento de Gerência

de Riscos está integrado dentro da Direção Financeira e de Controle; em termos mais específicos, na Subdireção da Tesouraria, Seguros e Financiamento de Frotas.

Sua impor tância dentro do Grupo é absoluta. De fato, elaboramos o programa corporativo de seguros conforme a estratégia da empresa e sob o esquema de uma gestão compar tilhada com as demais áreas da empresa.

É preciso ter alguma qua-lidade especial para ser a responsável de riscos de uma empresa como a Iberia?Eu ressaltaria duas qualidades

fundamentais: disposição concilia-dora e capacidade de comunicação. Precisamos nos dar conta de que temos de identificar e prever o risco e posteriormente gerir o sinistro quando ele se materializa, e para isso essas duas qualidades são determinantes.

DISPOSIÇÃO CONCILIADORA E CAPACIDADE DE COMUNICAÇÃO: DUAS QUALIDADES ESSENCIAIS PARA OS GERENTES

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22 G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

As consequências dos grandes sinistros ambientais, recentes e antigos, desperta-

ram a necessidade de saber quem deve assumir os custos de limpeza das zonas

afetadas e a reparação dos danos. Isto adquire relevância especial no caso de da-

nos a recursos naturais “públicos”. Os regimes de responsabilidade, juntamente

com o princípio de “quem contamina paga”, se apresentam como instrumentos

de grande potencial. Na primeira parte deste artigo será analisada a evolução da

legislação em matéria de responsabilidade ambiental nos Estados Unidos e na

União Europeia, com atenção especial à Espanha e a Portugal.

A responsabilidade Ambiental

O regime português e o exemplo espanhol para outros mercados

PAULA RIOSMDS

ANA SALGUEIRODoutora em Engenharia Ambiental - Consultora independente

e as garantias financeiras:

estudos

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23G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

como referência

ILLU

STRA

TION

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Nos últimos anos ocorreram numero-sos acidentes como resultado de ati-vidades humanas, nos quais enfrenta-

mos graves danos ambientais. Cabe aqui citar o derramamento de petróleo da Exxon Valdez no Alaska, no final dos anos oitenta; o vazamento de lodo tóxico no sul da Espanha provocado pela ruptura de uma barragem em uma mina próxi-ma à reserva natural de Doñana, que em 1998 causou diversos danos aos recursos naturais ad-jacentes; ou o naufrágio do Erika, um ano mais tarde, que contaminou a costa francesa.

DESASTRES DO NOVO SÉCULO

Recentemente, também testemunhamos grandes sinistros ambientais, como o vazamen-to de óleo bruto da British Petroleum (BP) no Golfo do México em 2010 - conhecido como Deepwater Horizon oil spill -, que foi catalo-gado como o maior vazamento de petróleo na

história da indústria. O vazamento durou mais de três meses e provocou enormes danos aos ha-bitats marinhos e terrestres, à indústria pesquei-ra e ao turismo do Golfo. A BP criou um fundo para compensar as vítimas do desastre no valor de 20 bilhões de dólares.

Também em 2010 aconteceu um importan-te incidente na Hungria, mais especificamen-te na empresa de produção de alumínio MAL (Magyar Aluminium Termelos). A parede de um depósito que abrigava milhões de metros cúbicos de lodos tóxicos desabou, originando uma onda de lodo vermelho (red sludge) que provocou várias mortes e contaminou solos e rios em uma área de aproximadamente 40 km², alcançando as águas do Danúbio. O governo húngaro estimou, na época, que as atividades de limpeza e descontaminação de toda a zona se estenderiam durante pelo menos um ano e que o custo do acidente seria de algumas deze-nas de milhões de euros.

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estudos

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estudosestudos

O REGIME DE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DOS ESTADOS UNIDOS É MAIS AMBICIOSO QUE O EUROPEU, MAS A EXPERIÊNCIA DEMONSTROU QUE SÃO NECESSÁRIOS MECANISMOS EFICAZES QUE O COMPLEMENTEM PARA SE CUMPRIR COM OS CUSTOS EM CASO DE INSOLVÊNCIA

Além disso, em 2011 ocorreu o acidente da central japonesa de Fukushima, o maior si-nistro nuclear desde o desastre de Chernobyl (Ucrânia), em 1986. Este trágico evento foi causado por um terremoto e o tsunami que o seguiu, que desencadearam uma série de co-lapsos nos equipamentos, fusões nucleares e vazamentos de material radioativo na central japonesa. Grandes quantidades de partículas radioativas foram liberadas na atmosfera e al-cançaram o solo e as águas marinhas. Estima-se que ocorrerá um número significativo de mor-tes por câncer devido à exposição a doses mui-to elevadas de radiação, especialmente entre a população das áreas próximas à central nuclear. A descontaminação de todos esses lugares le-vará décadas, assim como a desmontagem das instalações.

Estes e outros acidentes tiveram consequên-cias de tamanho muito superior às medidas de prevenção necessárias, e levantaram a questão sobre quem deve assumir os custos de limpeza/descontaminação das zonas afetadas e da repa-ração dos danos. A conta deve ser paga pela so-ciedade como um todo, ou seja, o cidadão, ou pelo contaminador, quando for identificado?

Esta pergunta tem relevância especial nos danos produzidos aos recursos naturais sem di-reitos de propriedade definidos - os chamados “bens públicos” -, que raramente são incluídos nos relatórios financeiros das empresas. Desta forma, os regimes de responsabilidade, junta-mente com o princípio de “quem contamina paga”, se apresentam como instrumentos com potencial suficiente para ajudar a corrigir esta situação. Eles impõem às atividades com risco - considerável - de provocar este tipo de danos a obrigação de assumir os custos de todas as

medidas de limpeza do solo contaminado e de reparar os recursos naturais afetados.

EVOLUÇÃO NOS ESTADOS UNIDOS

Nos Estados Unidos, este tema começou a ser tratado em 1980 com a Lei CERCLA (Com-prehensive Environmental Response, Compen-sation, and Liability Act), mais conhecida como Superfund, que foi um marco na aplicação do princípio de “quem contamina paga”, estabele-cendo a responsabilidade dos culpados na hora de tratar dos custos de limpeza de solos contami-nados por dejetos perigosos. Depois do acidente da petrolífera Exxon Valdez, em 1989 foi criado o Oil Pollution Act (OPA) como um órgão inde-pendente da CERCLA, com o objetivo de atuar, em particular, no caso de danos causados por der-ramamento de hidrocarbonetos.

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O regime de responsabilidade ambiental (RMA) estabelecido nos Estados Unidos - o Su-perfund - é mais ambicioso que o desenvolvido na Europa: ele estabelece a responsabilidade re-troativa, a definição de responsável e da tipologia dos danos cobertos é mais ampla, não existe um limite monetário para a responsabilidade...

No entanto, a experiência demonstrou a ne-cessidade de desenvolver mecanismos eficazes que complementem o sistema de responsabili-dade ambiental para cumprir com os custos em caso de insolvência das empresas responsáveis, que em muitos casos originaram os denominados “danos órfãos”. Assim, na Europa se estabeleceu desde o princípio a necessidade de os operadores contarem com uma ferramenta financeira que lhes permita garantir suas responsabilidades e os recursos necessários para a reparação dos danos ambientais em caso de sinistro.

DESENVOLVIMENTO NA EUROPA

O desenvolvimento do regime legal na União Europeia (UE) se baseou, naturalmente, na expe-riência americana. Em 1989, no seio da Comissão Europeia, foi publicada uma “proposta para um regime de responsabilidade civil por danos cau-

sados por resíduos”. Este relatório, revisado em 1991, atribuía uma responsabilidade objetiva para os contaminadores e incluía a noção de dano eco-lógico como “uma significativa deterioração físi-ca, química ou biológica do ambiente”. Porém, o setor de resíduos se opôs fortemente, e a parte re-lativa à responsabilidade não foi aceita. Finalmen-te, no ano de 1999 foi aprovada a Diretiva sobre o derramamento de resíduos, que incluía o princí-pio de “quem contamina paga”, mesmo que sem um regime de responsabilidade definido.

Em maio de 1993, a Comissão Europeia apre-sentou o relatório Green Paper on Remedying En-vironmental Damage, onde já se contemplava este princípio sobre um regime de responsabilidade civil, embora ainda existissem algumas deficiên-cias: a definição de “dano ambiental”; a demons-tração de uma ligação causa-efeito; o cálculo do valor da compensação e a questão de seu segu-ro. Também foi colocada a questão de quem se encarregaria de pedir compensação por danos ao meio ambiente quando não ocorressem em pro-priedade privada. Foi proposto que as ONGs as-sumiriam esse papel.

No ano de 2000, foi publicado o White Pa-per, que estabelece os seguintes princípios para um futuro regime de responsabilidade ambien-tal na UE:

• Responsabilidade objetiva aplicável às atividades potencialmente perigosas para o meio ambiente.

• Estabelecimento de exclusões de res-ponsabilidade.

• Inclusão dos danos tradicionais - às pessoas e à propriedade - e ecológicos - contaminação histórica e dano à biodi-versidade.

• Obrigação de que a compensação seja efetivamente em restauração do meio ambiente.

• Fixação de garantias financeiras para a responsabilidade.

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estudos

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Baseando-se nas reações geradas pelo White Paper, em 2002 foi publicada uma proposta de Diretiva que apresentou algumas “novidades”:

Responsabilidade objetiva para ativida-des que representem perigo potencial para o meio ambiente.

Intervenção considerável das autorida-des públicas: elas podem exigir medidas de limpeza e prevenção ao operador ou tomar a iniciativa de colocá-las em funcionamento.

Responsabilidade não retroativa. As exclusões abrangem: força maior,

risco de desenvolvimento, emissões autori-zadas sob permissão, etc.

A ênfase na reparação do dano ambien-tal se confirma.

A noção inovadora de dano à biodi-versidade, recursos naturais e habitats se concretiza.

Ela não se aplica aos danos tradicionais, às pessoas e à propriedade, mas somente ao dano “ecológico”.

Ela não exige garantia financeira. Isso será decisão dos Estados membros.

A proposta foi discutida pela Comissão Eu-ropeia com diversas instituições, incluindo o Comitê Europeu de Seguros (CEA) e represen-tantes de vários setores empresariais e organis-mos de defesa do meio ambiente, mas foi difí-cil satisfazer a todos. Finalmente, foi publicada a Diretiva 35/2004, de 30 de abril, que deveria ser incorporada à legislação local dos Estados mem-bros dentro dos três anos seguintes. No geral, a Diretiva mantém as linhas da proposta. Além dis-so, no que diz respeito às garantias financeiras, elas não serão obrigatórias, deixando aos Estados membros a decisão de estabelecer ou não a sua obrigatoriedade.

TRANSPOSIÇÃO NA ESPANHA

Na Espanha, foi realizado um importante de-bate entre os diferentes setores e uma forte par-ticipação do mercado segurador - um exemplo é o Pool Espanhol de Riscos Ambientais (PERM)

-, o que permitiu um intenso trabalho de conci-liação e preparação das regras e das orientações necessárias. Segundo José Luis de Heras, diretor geral do PERM, tudo começou “poucas sema-nas depois da publicação da Diretiva 2004/35 de Responsabilidade Ambiental. Aproveitando-se da possibilidade prevista em seu artigo 14, o Minis-tério do Meio Ambiente anunciou que a Espanha contemplaria em sua transposição a obrigatorie-dade das garantias financeiras”.

Além disso, havia uma grande preocupação em fazê-lo corretamente, já que, como apontou Heras, “a lei espanhola já incluía centenas de nor-mas em que se regulavam seguros obrigatórios, e em grande parte delas a regulação era deficien-te, pois não se havia comprovado antes que esses seguros estiveram disponíveis no mercado com amplitude suficiente para que o dono da ativida-de afetada pudesse adquiri-los em condições ra-zoáveis”. Outra dificuldade para o diretor geral do PERM era que “não se contemplava de modo expresso a possibilidade de que esses seguros ti-vessem exclusões ou condições para a vigência das coberturas”.

“Para evitar que acontecesse algo parecido com as garantias financeiras de responsabilidade ambiental - continuou Heras -, o PERM entrou em contato com o ministério, com o apoio da di-reção do seguro UNESPA, propondo uma série de sugestões para a redação da lei, para que esta pudesse cumprir dois objetivos: primeiro, que o mecanismo da responsabilidade fosse prático e claro e, na medida do possível, oferecesse se-gurança jurídica ao operador e seu segurador; e segundo, que fosse possível colocar em prática as disposições do seguro obrigatório”. Também foi proposta a introdução de instrumentos padroni-zados para a avaliação dos riscos ambientais e para a colaboração em todo o processo. “Felizmente - lembra Heras -, o ministério aceitou esta oferta contando não somente com o Pool, mas também com a colaboração do setor empresarial (CEOE) e de outras administrações e representantes de setores interessados”.

Deste modo, a Lei 26/2007, de 23 de outubro, incorporou a Diretiva e estabeleceu a obrigação de constituir garantias financeiras para as ativi-

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NA ESPANHA FOI REALIZADO UM IMPORTANTE DEBATE ENTRE OS DIFERENTES SETORES E HOUVE UMA FORTE PARTICIPAÇÃO DO MERCADO SEGURADOR, O QUE PERMITIU UM TRABALHO INTENSO DE CONCILIAÇÃO E PREPARAÇÃO DA NORMATIVA E DAS ORIENTAÇÕES NECESSÁRIAS

dades enumeradas no anexo III da norma. Essas garantias poderão ser constituídas em três moda-lidades de modo alternativo ou complementar-mente entre si: a assinatura de uma apólice de seguro, a obtenção de um parecer e a constituição de uma reserva técnica mediante a provisão de um fundo próprio.

ASPECTOS POSITIVOS E NEGATIVOS

Na opinião do diretor geral do PERM, “o re-sultado deste processo transparente e participati-vo foi muito positivo em muitos aspectos, embo-ra também tenhamos de reconhecer que foram cometidos alguns erros”. E ele enumerou alguns “com o espírito de que a experiência como um todo seja útil”.

Assim, como aspectos positivos da tansposição (Lei 26/2007 e Regulamento de desenvolvimento parcial do Decreto 2090/2008), ele destaca que:

• A estrutura da Lei em seu conjunto é coerente e compreensível; não introduz contradições nem sobreposições com outras já existentes, superando os defeitos que neste sentido estariam presentes nos rascunhos iniciais.

• Um tratamento adequado é dado às isen-ções e alternativas previstas na Diretiva (responsabilidade articulada ou solidária, emissões autorizadas, riscos de desenvol-vimento).

• A regulação da obrigatoriedade das ga-rantias financeiras se dá de forma gradual e oferecendo a possibilidade de vários instrumentos para cumprir a obrigação.

• O conteúdo da garantia contempla li-mites coerentes com as possibilidades do mercado em 2007.

• São fornecidas orientações para a avalia-ção de riscos ambientais.

• Também se oferece um guia de critérios para a reparação dos danos.

• São contempladas normas específicas para situações especiais: obrigação de reparação de recursos já degradados, obri-gação de

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NA HORA DE INCORPORAR A DIRETIVA 35/2004 AO DIREITO NACIONAL, EM PORTUGAL FOI REALIZADA UMA ENQUETE NO MERCADO SEGURADOR, MAS NÃO UM VERDADEIRO DEBATE PÚBLICO

asseguramento da atividade com várias de-pendências, continuidade das garantias durante o período de expiração da responsabilidade uma vez cessada a atividade, etc.

Entre os aspectos negativos da Lei, José Luis de Heras comentou:“Embora a regulação dos seguros seja re-alista, é excessivamente detalhada. Além dis-so, o conteúdo das garantias evoluiu muito em poucos anos. Teria sido melhor deixar o detalhe da regulação para uma norma técnica que pudesse ir evoluindo sem precisar mu-dar a lei”. “O projeto da avaliação de riscos am-bientais é complexo demais e provavelmente caro. Por outro lado, é errado ligar sua utili-dade exclusivamente à correção da soma se-gurada mínima obrigatória”.“O limiar da gravidade do dano ambien-tal é muito alto, motivo pelo qual a lei só é aplicável nos casos muito graves”.Em resumo, para o responsável do PERM

o resultado geral é positivo, mesmo que ainda exista um longo caminho pela frente. “Apesar destes defeitos, que propomos que sejam revi-sados em modificações legislativas posteriores, consideramos que a colaboração entre a autori-dade normativa e os setores por ela afetados tem sido muito positiva, tanto pelo resultado como um todo quanto pelo processo em si; também tem aumentado o grau de compreensão mútua e de disposição futura para seguir colaborando em outros projetos ou fases posteriores”.

TRANSPOSIÇÃO EM PORTUGAL

Em Portugal, por outro lado, houve pouco ou quase nenhum debate. A Secretaria de Es-tado do Ambiente, o organismo pertencente ao Ministério do Meio Ambiente encarregado de redigir a Lei, fez algumas consultas ao mercado segurador por meio do Instituto de Seguros de Portugal (ISP), autoridade de controle da ativi-dade seguradora, e da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), que sempre se manifestou - em sintonia com a CEA - contra a constituição de garantias obrigatórias. A razão desta oposição está no fato de que se tratava ainda de um mer-cado muito pequeno e embrionário, sendo eles a favor de dar liberdade às partes para que elas possam se desenvolver. É possível falar, portan-to, de uma sonda do mercado segurador, mas não de um verdadeiro debate.

Na opinião de Pedro Ribeiro e Silva, coor-denador da Comissão de Monitoramento de Responsabilidade Civil da APS, “na incorpo-ração da Diretiva ao sistema civil português, a APS sempre demonstrou à Secretaria de Estado do Ambiente total disponibilidade para avaliar o impacto da futura disposição na atividade segu-radora, a partir do ponto de vista da responsabi-lidade ambiental”.

Contudo, em sua opinião, a Secretaria de Estado não aproveitou, como no caso espanhol, um trabalho de equipe com os especialistas. E, continuou Ribeiro e Silva, “em 29 de julho foi publicado o Decreto-Lei 147/2008, que em seu artigo 22 instituiu, com vigência a partir de 1º de janeiro de 2010, as garantias financeiras obriga-tórias para as atividades de seu anexo III, entre as quais se encontrava o seguro”.

Mas, além das outras contingências do de-creto, “a primeira grande perplexidade do setor segurador - acrescentou o coordenador da APS - foi não saber como quantificar os capitais a serem segurados, além de ter grandes dúvidas

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sobre o alcance das responsabilidades. O mesmo artigo 22 previa a possibilidade de uma portaria para fixar os requisitos mínimos das garantias financeiras obrigatórias, mas ela nunca foi pu-blicada”.

Como resposta ao questionamento anterior, Ribeiro e Silva relatou que “em meados de 1989 a APS expressou oficialmente à Secretaria de Es-tado do Ambiente as suas preocupações, que, em síntese, se referiam ao objeto das garantias (res-ponsabilidade administrativa, responsabilidade civil ou ambas), assim como a outras questões, como os danos causados por dolo ou a não-obri-gatoriedade do seguro, de forma que fosse pos-sível que as garantias financeiras obrigatórias se limitassem unicamente aos danos ou quantidades que não foram cobertos pelo contrato de seguro. A APS também mostrou que, em se mantendo esta situação de dúvida, o mercado não poderia oferecer aos operadores os seguros com o alcance desejado”.

Contudo, a advertência não teve o resultado esperado. Segundo o representante da APS, “as garantias financeiras obrigatórias entraram em vigor em 1º de janeiro de 2010, e o mercado co-meçou a considerar uma amplitude diversificada de soluções de seguros. As garantias eram, e são, independentes, alternativas e complementares. Posteriormente, a APS contatou a Agência Por-tuguesa do Ambiente (APA), autoridade compe-tente para a aplicação da disposição, informando-

lhes a situação e tornando-se membro de seu Conselho Consultivo”. Podemos acrescentar que, mesmo que em Portugal não exista um pool de riscos ambientais, sempre esteve totalmen-te aberto à possibilidade de colaboração com o PERM, através da APS, ou com outras entidades especialistas no assunto.

As únicas iniciativas de debate partiram de entidades privadas, como a E. Value, empresa de consultoria em temas ambientais, que organizou o encontro “Mais responsabilidade, mais meio ambiente”. O evento incluiu vários comitês de especialistas nos quais participaram como con-vidados o ISP, a APS, seguradoras e corretores de seguros especializados, como o MDS, assim como grandes empresas com preocupações am-bientais, além de representantes do ministério, que nesses momentos estavam redigindo a Lei e se limitaram a mencionar algumas de suas dis-posições. E, embora todos os representantes do mercado segurador fossem contra a obrigatorie-dade da constituição de garantias financeiras, foi seguido o exemplo espanhol (mesmo que só na obrigação, não no diálogo prévio).

Também foram realizadas várias outras con-ferências sobre o tema, como a organizada pelo MDS e pela E. Value com o título “Liability Asset - Responsabilidade ambiental e garantias finan-ceiras”, que contou com a presença de palestran-tes de prestígio. Também participaram da confe-rência representantes do ISP, da APS e de grandes empresas do setor industrial, o que permitiu um debate interessante. Durante a conferência, hou-ve tentativas de demonstrar a necessidade de se seguir a experiência espanhola quanto ao debate anterior e à cuidadosa preparação da Lei; se não fosse assim, comentou-se, surgiriam inúmeras dificuldades em sua execução. Mas no fim não foi possível, e a Lei portuguesa saiu assim mesmo.

REGIME PORTUGUÊS DE RMA

O Decreto-Lei 147/2008, de 29 de julho, em sua forma atual, estabelece o regime jurídico de responsabilidade por danos ambientais e incor-pora a Diretiva 35/2004 ao ordenamento portu-guês. Além disso, o legislador português aproveita

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a ocasião para “solucionar dúvidas e dificuldades no assunto de responsabilidade ambiental no or-denamento português...”.

A disposição estabelece, por um lado, um re-gime de responsabilidade civil subjetiva e obje-tiva pelo qual os operadores-contaminadores fi-cam obrigados a indenizar as pessoas que sofram danos (por exemplo, danos pessoais e à proprie-dade, os chamados “danos tradicionais”) por um desastre ambiental. Neste aspecto, ela vai além da Diretiva e da Lei espanhola, que se ocupam unicamente da responsabilidade administrativa. Por outro lado, estabelece um regime de respon-sabilidade administrativa destinado não somente a reparar, mas também, e acima de tudo, a preve-nir danos ao meio ambiente, sendo aquele que contamina responsável ante toda a coletividade, e incorporando, desta forma, a Diretiva 35/2004 à lei portuguesa. Esta é uma responsabilidade nova e também uma responsabilidade a favor da pre-venção e reparação dos danos ambientais que, por sua vez, tem um conceito novo e complexo. A guarda destes bens corresponde à administração pública, através da autoridade competente (em Portugal, a Agência Portuguesa do Ambiente).

A normativa portuguesa faz, em algumas questões, uma transposição “minimalista” da Di-retiva, já que inclui as exclusões e as possibilida-des de exoneração do contaminador. No entanto, em outras seções são estabelecidas regras bastante severas. Ela determina, por exemplo, que, “quan-do a atividade contaminante for atribuível a uma pessoa jurídica, as obrigações da Lei recairão de forma solidária sobre os respectivos conselheiros e diretores”, o que significa que seus bens pesso-ais poderão ser afetados (como acontece na Espa-

nha). No que diz respeito à causa, esta não tem de ser provada inequivocamente como no regime geral de responsabilidade civil, mas se baseia em um critério de probabilidade, o que é bem mais grave para o contaminador.

Tanto na responsabilidade civil quanto na res-ponsabilidade administrativa encontramos dois níveis de responsabilidade: a subjetiva, ou base-ada na culpa do contaminador, e a objetiva, que se aplica às atividades do anexo III consideradas perigosas (por exemplo, operadores sujeitos à Diretiva 96/61/CE - Prevenção e Controle de Contaminação, de gestão de resíduos, captação e descarga de águas, etc.), o que significa que a responsabilidade subjetiva é aplicável a todas as atividades não expressamente excluídas e que não estiverem incluídas no anexo III.

A responsabilidade administrativa também traz consigo novos conceitos como o de dano ambiental (danos causados às espécies e habi-tats naturais protegidos; danos às águas e ao solo, neste caso somente se existir risco para a saúde humana). A Lei espanhola acrescenta “os danos à orla marítima e às margens de rios”, que não são considerados no regulamento português.

Além disso, de acordo com a Diretiva, ela con-templa um conjunto de obrigações de prevenção e reparação para o contaminador, sobre o qual re-cai o dever de informar e colocar em prática as medidas urgentes necessárias em caso de ameaça iminente. Se o operador não tomar essas medi-das, a APA poderá colocá-las em funcionamen-to subsidiariamente e depois cobrar por todos os gastos. Além disso, as medidas de reparação serão sempre informadas à APA, que as revisará, corri-gindo-as, se necessário. As formas de reparação também são as previstas tanto na Diretiva como na legislação espanhola: reparação primária, com-plementar ou compensatória. Em nenhum caso elas poderão ser substituídas por uma compensa-ção econômica.

Quanto às garantias financeiras, a Lei portu-guesa (artigo 22) estabelece que sejam obrigató-rias para os operadores que exerçam as atividades do anexo III, e, de modo semelhante ao regime espanhol, elas poderão ser independentes, alter-nativas ou complementares entre elas, para que

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A NORMATIVA PORTUGUESA FAZ, EM ALGUMAS QUESTÕES, UMA TRANSPOSIÇÃO “MINIMALISTA” DA DIRETIVA, JÁ QUE TIRA AS EXCLUSÕES E AS POSSIBILIDADES DE ISENÇÃO DO CONTAMINADOR, MAS EM OUTRAS ÁREAS ESTABELECE REGRAS BASTANTE DURAS

“permitam assumir a responsabilidade ambiental da atividade por eles exercida”. Estas garantias podem ser constituídas pela assinatura de apó-lices de seguro, garantias bancárias ou fundos próprios criados com essa finalidade (também se prevê a possibilidade de participar de fundos am-bientais). A Lei também afirma que “poderão se estabelecer limites mínimos para a constituição das garantias financeiras obrigatórias (...) através de regulação própria”.

O Decreto-Lei de Responsabilidade Am-biental foi posteriormente modificado pelo De-creto-Lei 245/2009, de 22 de setembro, relativo ao regime de utilização dos recursos hídricos; e pelo Decreto-Lei 29-A/2010, de 1º de março. A primeira das alterações tem por objetivo preve-nir conflitos de jurisdição em sua aplicação, de-signando a APA como única entidade no âmbito de danos à água. A segunda modificação afeta o artigo 22 da Lei de Responsabilidade Ambiental, ao estabelecer uma futura fixação de limites mí-nimos para a constituição das garantias financei-ras obrigatórias mediante uma ordem do gover-no (responsáveis de Finanças, Meio Ambiente e Economia). Porém, até agora, nenhuma ordem foi publicada.

Além disso, em agosto de 2010 foi publica-da uma norma que estabelecia a criação de uma Comissão Permanente de Acompanhamento e um Conselho Consultivo para a RMA. A pri-meira é formada por entidades públicas como o Ministério do Meio Ambiente e a APA, os Institutos de Recursos Hí-dricos e de Conservação da Natureza, etc. A proposta foi o estabelecimento de meca-

nismos de articulação específicos e apoiar a APA em suas decisões através da cooperação técnica e compartilhando informações entre as diferentes entidades representadas, sempre que surja um dano ou ameaça ao meio ambiente. O Conselho Consultivo, por sua vez, é composto por repre-sentantes de associações empresariais, industriais e agrícolas, associações de municípios, represen-tantes do setor segurador e do bancário, de orga-nizações não governamentais do meio ambiente, assim como por representantes dos ministérios do Meio Ambiente, Ordenamento Territorial, Saúde, Economia, Transportes e Agricultura. Seus principais objetivos são a preparação de recomendações, o monitoramento de aspectos técnicos e econômicos relativos à constituição, o desenvolvimento de condições e a evolução do mercado de garantias financeiras.

DESENVOLVIMENTO DO MERCADO PORTUGUÊS

Embora a Lei marcasse como data de entra-da em vigor das garantias financeiras obrigatórias 1º de janeiro de 2010, o mercado português es-perou por uma possível regulamentação futura

que nunca veio. Foi uma surpresa quando, na segunda semana de janeiro de 2010,

todos os operadores do anexo III re-ceberam uma carta da APA solici-

tando prova da contratação dessa garantia e seu valor.

Além disso, é preciso desta-car que as empresas deveriam compreender o fato de que a exigência ou não de uma ga-rantia nada tem a ver com a

existência de responsabilida-

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A INICIATIVA PRIVADA CONTRIBUIU COM VÁRIAS INICIATIVAS AO ELIMINAR AS INCÓGNITAS OU DÚVIDAS SOBRE A CORRETA APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO SOBRE RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EM PORTUGAL

de. Para ser mais claro: a responsabilidade esta aí (uma vez verificados seus requisitos legais, natu-ralmente), existe desde 1º de agosto de 2008, e o operador que prevê uma contaminação ou que contamina terá que tomar as medidas necessárias de prevenção e reparação, sem limites de custo. E isto é assim, ele tenha ou não uma garantia, que em nenhum caso cobrirá a totalidade de suas responsabilidades. Esta garantia é exigida para as atividades consideradas mais perigosas, e deve ser acrescentado que, se ela não é contratada, o ope-rador comete uma infração muito grave, punida com multas altas (até 2.500.000 euros, aplicáveis a pessoas jurídicas em caso de dolo).

Voltando a janeiro de 2010, a carta da APA provocou uma demanda muito rápida de cota-ções às seguradoras para contratar seguros (talvez algo parecido também tenha ocorrido com os bancos para solicitar garantias bancárias) e com as empresas de consultoria para a realização de es-tudos de avaliação do risco ambiental que deram

suporte à definição do valor a ser contratado em termos de garantia financeira. As cotações eram solicitadas diariamente e as escassas seguradoras com produtos adequados não tinham capacidade suficiente de resposta. Logo, existia outro proble-ma: não saber em que basear a aquisição de um determinado capital, pois, embora algumas gran-des empresas tivessem realizado estudos de ava-liação de seus riscos, 90% não haviam dado este passo, e não existiam diretrizes da APA sobre os montantes mínimos da garantia ou da metodolo-gia de avaliação do risco ambiental.

Embora nessa época poucas seguradoras no mercado dispusessem de soluções para este tipo de riscos, em pouco tempo a APA foi “inundada” por apólices de seguro, a solução mais interessan-te, já que é a única que representa a transferência de risco.

Nesta situação de “urgência”, nosso conselho como consultores foi que os operadores que ain-da não contassem com o estudo do risco ambien-tal - a maioria - contratassem a garantia por um valor “provisório”, e que depois este valor fosse (ou não) confirmado com base em uma futura avaliação do risco. Houve muitíssimas solicita-ções de cotação e os operadores receberam nu-merosas propostas para a transferência de uma parte de seu risco ambiental ao seguro, já que o setor segurador garante só uma parte - embora bastante significativa - da responsabilidade do se-gurado.

Hoje, dois anos depois, em que ponto es-tamos? Nos primeiros meses de 2010, a APA recebeu um grande volume de documentos, confirmando a existência de seguros de responsa-bilidade ambiental, naturalmente com diferentes âmbitos de cobertura dependendo do segurador, assim como com diferentes limites de capital de acordo com a dimensão e a probabilidade de cada empresa de causar danos ambientais.

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Porém, durante este tempo nada novo acon-teceu e a reação das empresas ante esta situação é um pouco “estranha”. Por um lado, as que con-trataram a garantia e enviaram a respectiva do-cumentação consideram que satisfizeram - e de fato cumpriram - o pedido da autoridade compe-tente. Outras, por outro lado, mesmo tendo soli-citado uma cotação de seguro, como não tiveram nenhuma reação da autoridade, ou seja, medidas coativas - que estão presentes na Lei e são mui-to fortes -, paralisaram o processo, alegando que aguardam uma regulamentação que está demo-rando para chegar.

LINHAS DE ORIENTAÇÃO TÉCNICA

Depois da publicação da Lei e devido a que não foram criadas instruções para sua aplica-ção, foi, mais uma vez, a iniciativa privada que contribuiu, de alguma maneira, para atenuar a situação. Assim, o consórcio E. Value/Cri-tical Software desenvolveu o projeto SARAe (Sistema para a Avaliação de Responsabilidade Ambiental das Empresas), cujos principais ob-jetivos são testar e fortalecer a metodologia de avaliação da RMA desenvolvida pela E. Value, criando as condições e oportunidades para uma articulação eficaz entre os agentes envolvidos, e extraindo as conclusões necessárias para cons-truir uma estrutura adequada de implemen-tação da Lei. Participaram do projeto várias entidades públicas com responsabilidades (in)diretas na aplicação do regime de RMA a ní-vel nacional, entre elas a APA. O projeto foi concluído em novembro de 2010 (informações disponíveis em www.sara-eld.com).

Em novembro de 2011, a APA publicou o Guia para a avaliação do dano ambiental e a ame-aça iminente do dano ambiental, que, segundo Pedro Ribeiro e Silva, da APS, “mesmo que não seja vinculante, facilitou o enquadramento da avaliação de risco”. É de se esperar que este guia - que trata sobre temas como o conceito de es-tado inicial e a quantificação do dano ambiental; os procedimentos a adotar nas fases de avaliação, prevenção e reparação dos danos; a avaliação do risco ambiental para a saúde humana, etc. - possa diminuir as incertezas e contribuir para a criação de procedimentos comuns (esclarecimento de conceitos, proposta de metodologias de atuação) entre todos os agentes que a utilizem, de modo que o processo de aplicação do Decreto-Lei seja mais transparente.

Além disso, aponta Ribeiro e Silva, “atualmen-te a APS analisa e estuda, dentro de sua Comis-são de Responsabilidade Civil, as diversas formas de contribuição para uma possível uniformidade do produto de seguro, levando sempre em conta que ele serve para diferentes tipos de atividades na área da responsabilidade ambiental”.

Também se espera a próxima publicação de um guia adicional, o Guia metodológico para a constituição da garantia financeira, que incluirá a proposta de isenção da constituição dessa ga-rantia para as atividades consideradas de baixo risco, assim como a metodologia de avaliação do risco ambiental para a constituição de garantias financeiras. Além disso, com este guia será pu-blicado um documento sobre a “constituição da garantia financeira”, que estabelecerá dois níveis de complexidade das atividades: as de baixo risco - isentas de obrigação de garantia - e as que terão

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estudos

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que contratá-la. Desta forma, a realização de uma análise detalhada do risco ambiental é uma ferra-menta essencial.

OFERTA DO MERCADO SEGURADOR

O mercado português reagiu de forma bastan-te proativa às novas necessidades e gradualmen-te surgiram produtos adaptados à nova realidade legal, já que as coberturas tradicionais (cobertu-ras de contaminação súbita e acidental ligadas às políticas de R C Exploração) não cumpriam os requisitos legais mínimos.

Hoje a oferta é variada, assim como os crité-rios de subscrição. Algumas seguradoras, apro-veitando sua larga experiência internacional neste tema, ofereceram seus produtos exigindo apenas o preenchimento de um questionário; outras, por outro lado, decidiram proporcionar esta nova co-bertura exclusivamente a seus clientes; finalmen-te, um terceiro grupo de seguradoras oferece, além do seguro, a avaliação do risco ambiental. Sem querer ser detalhistas demais, nos parece importante mencionar três exemplos importan-tes no mercado: a Chartis (a experiência estadu-nidense), a MAPFRE (uma grande seguradora europeia com a experiência do pool) e a Caixa Seguros (o maior grupo segurador português).

Sobre a atuação da Chartis em responsabilida-de ambiental, Nídia Brito da Costa, diretora de Responsabilidades na Chartis Portugal, lembra que “já em 2007 a AIG havia crescido muito no ramo de Responsabilidade Ambiental em toda a Europa, como resultado de sua aposta e dedica-

ção durante vários anos no desenvolvimento des-ta linha de negócio. Na época, não havia de modo geral nenhum sinal de desenvolvimento do mer-cado de garantias financeiras em Portugal, nem de seguros, e o Projeto de Lei de incorporação da Diretiva não era conhecido; ou seja, pouco se falava de responsabilidade ambiental e suas im-plicações com consequências financeiras para os operadores”. Esta descrição é um retrato muito fiel da situação existente em Portugal há apenas cinco anos.

Porém, continuou a representante da Chartis, “antevendo a mudança nesta situação, a AIG deci-diu investir na equipe local e também na criação de um produto em português adaptado à legislação lo-cal, acreditando sempre que a necessidade de trans-ferência de risco surgiria logo. Depois de tudo, a Diretiva deveria ser incorporada à legislação nacio-nal”. Contudo, apontou Brito da Costa, “com exce-ção de alguns operadores muito bem organizados na gestão de seus riscos ambientais, no geral não se acreditava no impacto que as responsabilidades de-correntes da Diretiva poderiam ter, nem na neces-sidade de transferência de risco. Eles minimizavam - ou até negavam - a sua existência”.

No entanto, acrescentou, “a consciência da responsabilidade ambiental cresceu muitíssimo em Portugal nos últimos dois anos, como resul-tado de um aumento de legislação a nível euro-peu e, sobretudo, a nível local, dos debates sobre o tema organizados por grupos interessados e do apoio das empresas aos operadores do ponto de vista da análise, prevenção e reparação dos danos ambientais”.

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O MERCADO PORTUGUÊS REAGIU DE FORMA BASTANTE PROATIVA ÀS NOVAS NECESSIDADES, E GRADUALMENTE SURGIRAM PRODUTOS ADAPTADOS À NOVA REALIDADE LEGAL, JÁ QUE AS COBERTURAS TRADICIONAIS NÃO CUMPRIAM OS REQUISITOS LEGAIS MÍNIMOS

Em Portugal, “importando a experiência do mercado americano”, a Chartis desde 2007 ofe-rece uma política de Responsabilidade Ambien-tal denominada ENVIRONPRO, que protege os operadores em caso de responsabilidade legal resultante de um incidente de contaminação co-berto pela apólice. Originalmente concebida para garantir os riscos industriais de grande complexi-dade, temos assistido a uma grande demanda por parte de diversas áreas de negócio. Assim, este se-guro foi transformado em um dos instrumentos mais eficazes na transferência deste tipo de riscos.

“A ENVIRONPRO cobre os danos não só em caso de contaminação súbita ou acidental, mas também se a contaminação for lenta e progressi-va, evitando, com isso, discussões sobre o evento que gerou o sinistro. Também inclui os custos de prevenção e reparação dos danos ambien-tais, assim como os danos corporais e materiais a terceiros, custos de limpeza, custos de defesa e danos próprios do segurado, como a perda de benefícios. Assim como qualquer outro contrato de seguro, ela tem exceções típicas como multas, propriedades abandonadas ou dolo (dano causa-do intencionalmente) dos responsáveis segura-dos”. Além de ser a primeira companhia segura-dora a oferecer um produto de responsabilidade ambiental em Portugal, a Chartis também já teve de lidar com o primeiro sinistro, que geriu com o apoio de seus colaboradores internacionais espe-cialistas na matéria.

“A experiência da MAPFRE PORTUGAL no campo da responsabilidade ambiental surge da experiência da MAPFRE na Espanha, através do reconhecido PERM”, relatou Pedro Ribei-ro e Silva, que, além de responsável do Grupo de Trabalho de Responsabilidade Civil da APS, é diretor jurídico da MAPFRE PORTUGAL. Compartilhamos de sua opinião quando afirma

que o sistema jurídico português publicado em 2008 não conseguiu aproveitar “essa experiência na implementação do produto para este merca-do, levando em conta algumas especificidades e a falta de ponderação do Decreto-Lei 147/2008, de 29 de julho”. Porém, prosseguiu Ribeiro e Sil-va, “no enquadramento do produto criado pela MAPFRE, sua adaptação foi possível em grande parte devido à semelhança do sistema espanhol de avaliação de riscos, mesmo que Portugal não utilize a norma UNE 150.008, nem qualquer outra norma de avaliação, embora a APA tenha publicado em 2011 o Guia para a avaliação dos danos ambientais e a ameaça iminente do dano ambiental.

Ele acrescentou que “para alguns riscos se utiliza um formulário detalhado, sendo difícil

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estudos

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A AUSÊNCIA DE REGULAÇÃO DA NORMATIVA AMBIENTAL PORTUGUESA DEIXOU ESPAÇO PARA A MAPFRE TER IMAGINAÇÃO O SUFICIENTE E OFERECER A SEUS CLIENTES/OPERADORES UM PRODUTO QUE CORRESPONDESSE À DEMANDA EXISTENTE E QUE ASSEGURASSE UM MÍNIMO ÉTICO LEGAL

compatibilizar o risco com o capital segurado, ainda mais quando a disposição legal estabelece uma ação de controle sobre os operadores pela IGAOT (Inspeção Geral do Ambiente e do Or-denamento do Território) ao confirmar as ga-rantias financeiras obrigatórias mediante as di-versas modalidades, entre elas o seguro, que lhes permitam assumir a responsabilidade ambiental inerente a suas atividades profissionais”.

Ribeiro e Silva pontuou algo muito impor-tante: “Como o sistema legal não contempla um seguro obrigatório, o produto da MAPFRE PORTUGAL é uma oferta alternativa que o mercado apresenta, podendo, por isso, ir mais além e satisfazer as necessidades do cliente/ope-rador, sem que se deva adotar, neste âmbito, o dolo, característica inerente aos seguros obriga-tórios em Portugal, segundo a Lei de Contrato de Seguro (artigo 7 do Decreto-Lei 147/2008). De fato, o produto existente é um compromisso verdadeiro com o sistema legal, pois, se por um lado a responsabilidade administrativa não pode ser garantida em toda a sua magnitude, restrin-gindo-se aos danos ambientais provocados por contaminação, por outro foram permitidas co-berturas adicionais na vertente da responsabili-dade civil por danos causados por contaminação, cumprindo, assim, o regime dualista de respon-sabilidades - administrativa e civil - previsto na disposição”.

Em outras palavras, para o diretor jurídico da MAPFRE PORTUGAL, “a ausência de re-gulamentação na legislação ambiental portugue-sa abriu espaço para a MAPFRE alimentar sua imaginação e proporcionar a seus clientes/ope-radores um produto que corresponda, no mo-mento, à demanda existente e que, pelo menos, assegurará um mínimo ético legal. Por exemplo,

participamos em programas de diversos setores industriais, na aviação, mineração e em ativida-des de comércio e serviços”. “Ao mesmo tempo - acrescentou -, a MAPFRE vem contribuindo e participando de diversas ações de formação so-bre responsabilidade ambiental para esclarecer as consequências do regime jurídico em vigor. A MAPFRE também publica artigos que, além de dissipar dúvidas, divulgam as qualidades de seu produto”.

Também é interessante conhecer a atuação da Caixa Seguros em Portugal. Segundo Susana Teixeira, responsável do Departamento de Assi-natura de Responsabilidades e Transportes des-ta entidade, “desde janeiro de 2010 este grupo oferece a seus clientes uma solução de seguro de Responsabilidade Ambiental que garante os danos causados aos recursos naturais. A cober-tura principal é a garantia de responsabilidade administrativa do segurado por danos ambien-tais ou a ameaça iminente de danos; além dis-so, ela cobre os custos das medidas de repara-ção primária, complementar ou compensatória dos recursos naturais que forem danificados pela contaminação, e que forem atribuíveis ao segurado. Também inclui os custos de limpeza do lugar segurado que forem obrigatórios por lei e, igualmente, os que se produzam fora do lugar em consequência da propagação da conta-minação originada nas instalações do segurado. A esta cobertura se acrescenta a de responsabi-lidade civil por contaminação, que garante os danos a terceiros por contaminação, e também foi desenvolvida uma cobertura especial para a construção (engenheiros civis)”.

Em sua opinião, se trata de um projeto que vai além, já que “além do desenvolvimento de um seguro baseado na legislação portuguesa e na

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busca e negociação de resseguro de acordo com o produto, foi desenvolvido, em colaboração com a Safemode - Proteção de Pessoas, Patrimônio e Meio Ambiente (anteriormente chamada de EAPS - Empresa de Análise, Prevenção e Segu-rança, SA) -, um serviço para a análise do risco ambiental que é essencial para quem está come-çando a atuar nesta área”. E, para ele, “sendo nos-so objetivo dar uma solução de seguro baseada nos riscos ambientais de cada cliente, ele tem sido e continuará sendo um fator crítico de sucesso”.

A responsável na Caixa Seguros fornece al-guns dados sobre os setores de atividade que con-tratam este seguro: “40% correspondem ao setor de gestão de resíduos; 35%, à indústria, e 15%, aos municípios, sendo que o capital médio con-tratado oscila entre 250.000 e um milhão de eu-ros”. Atualmente, “estamos desenvolvendo solu-ções simplificadas para PMEs e ainda não temos

nenhum sinistro declarado”, concluiu.A partir destes testemunhos é possível con-

cluir que existe uma oferta interessante em Por-tugal. Os produtos mencionados garantem os danos resultantes de contaminação e, em certos casos de grandes empresas, vão além, para cober-turas mais amplas, e não exigem uma situação de contaminação - apenas a existência de um dano ambiental. Contudo, trata-se de situações espe-ciais, que devem ser analisadas caso a caso.

Além destes exemplos, outras seguradoras transformaram ou desenvolveram produtos para atender esta necessidade. Também foi evidencia-da a necessidade de apoio aos operadores na aná-lise técnica das condições das apólices, para que possam negociar melhor as garantias e escolher, por exemplo, um “pacote” com opções diferentes que se complementem (como um seguro e fun-dos próprios).

Para obter este tipo de suporte, é essencial que o operador conheça sua exposição à responsabili-dade ambiental, o que exige a realização de estu-dos técnicos de avaliação de risco. Como avaliar o grau de contaminação de um lugar e fazê-lo voltar a seu estado inicial, se a contaminação não foi identificada previamente? O operador obtém, desta forma, informações úteis para a definição do valor da garantia financeira e, ao mesmo tem-po, para a adoção de medidas/ações de prevenção.

As seguradoras e o sistema bancário - um pouco ausente neste assunto - deverão promo-ver e mostrar a seus clientes as vantagens de uma análise técnica detalhada para obter resultados que permitam uma adequação dos valores e das condições da garantia à realidade do risco.

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estudos

Neste artigo são analisadas as vantagens da utilização e os requisitos para a implantação de modelos internos no cenário de Solvência II. A título de exemplo, desenvolvemos um modelo interno para a quantificação do risco de negócio por meio de aproximações ao coefi-ciente de queda da entidade, utilizando dados reais sobre cancelamentos de apólices do seg-mento de seguros gerais de uma companhia se-guradora. A metodologia empregada mostrou-se inovadora ao incorporar o “efeito contágio” que existe entre as decisões de cancelamento de apólices. Os resultados são comparados com os que se obteriam ao aplicar o modelo padrão e com os obtidos assumindo-se independência entre as decisões de cancelamento. Concluímos que ignorar o “efeito contágio” levaria a enti-dade seguradora a subestimar sua exposição ao risco, provando ser o modelo interno proposto o mais adequado para quantificar o risco de negócio específico da entidade.

Modelos internos em

Sua aplicação ao cálculo do coeficiente de queda de carteira

MERCEDES AYUSO GUTIÉRREZUniversidade de Barcelona

MONTSERRAT GUILLÉN ESTANYUniversidade de Barcelona

ANA M. PÉREZ-MARÍNUniversidade de Barcelona

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STRA

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Solvência II:

A diretiva europeia Solvência II (Diretiva 2009/138/CE do Parlamento Europeu e do Conselho) pretende que as entida-

des seguradoras mantenham um volume total de provisões técnicas e um capital de solvência que garanta sua estabilidade perante flutua-ções externas adversas. Resumindo, pretende que as companhias mantenham um nível eco-nômico compatível com os compromissos as-sumidos e que garanta a proteção do segurado (Ferri et al., 2010).

Como se sabe, o Solvência II se baseia em uma estrutura de três pilares. O primeiro deles faz referência aos requisitos quantitativos, onde aparecem duas grandezas fundamentais: o ca-pital de solvência obrigatório (SCR) e o capital mínimo obrigatório (MCR). O segundo pilar se centra nos requisitos qualitativos, mais especi-ficamente a gestão de riscos e as normas de su-pervisão aplicáveis. Por último, o terceiro pilar contempla a comunicação de informações aos supervisores e a qualquer interessado.

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estudos

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O SOLVÊNCIA II PRETENDE QUE AS EMPRESAS SEGURADORAS MANTENHAM UM NÍVEL ECONÔMICO COMPATÍVEL COM OS COMPROMIS-SOS ASSUMIDOS E QUE GARANTA A PROTEÇÃO DO SEGURADO

A quarta seção da diretiva sobre o SCR estabelece que este deve corres-ponder ao valor em risco (VaR) dos fun-dos próprios calculado com um nível de confiança de 99,5%. Para determiná-lo, será necessário considerar todos os ris-cos quantificáveis a que a entidade segu-radora está exposta, incluindo as perdas potenciais e a reavaliação adversa de ati-vos e passivos em um horizonte tempo-ral de um ano.

O Solvência II oferece também di-versos métodos de cálculo do SCR, basi-camente relacionados com os chamados “modelo padrão” e “modelo interno”. Este artigo se concentra especificamente no segundo desses enfoques, ilustrando, por meio de uma aplicação empírica, a utilização de modelos internos na quan-tificação do risco do negócio, desenvol-vendo cenários sobre o coeficiente de queda de carteira da entidade.

O trabalho está estruturado con-forme segue. Na segunda seção, são repassadas algumas das características

fundamentais do modelo padrão e dos modelos internos, tal qual se infere da diretiva da CE. As vantagens potenciais que podem resultar da utilização dos modelos internos aparecem reunidas na terceira seção, enquanto que na quar-ta seção se apresentam os requisitos de regulação que esses modelos terão de cumprir. Na quinta seção, de conteúdo empírico, se apresentam os resultados obtidos após a aplicação de um modelo interno desenvolvido pelas autoras para a quantificação do risco do negócio por meio de aproximações à queda de car-teira de uma entidade seguradora. Por último, na sexta seção, são apresentadas as principais conclusões obtidas com o estudo e as recomendações finais.

Modelo padrão vs. modelos internos

O modelo padrão estabelece uma fórmula geral para a determinação do SCR. O artigo 103 da diretiva indica que o SCR resulta da soma de três termos: o capital básico de solvência, o capital de solvência do risco operacional e uma margem de risco que leve em conta a ca-pacidade de absorção de perdas das pro-visões técnicas e os impostos diferidos. Este modelo contempla a agregação de riscos, de modo que o capital básico de solvência é o resultado da soma dos ris-cos de subscrição (negócio de Vida, Não Vida e Saúde), mercado e crédito.

Por outro lado, os modelos internos não se apoiam em nenhuma fórmula genérica, mas são construídos confor-me hipóteses que se baseiam na própria experiência da entidade e têm de ser justificados corretamente. Mais especi-ficamente, o Solvência II exige que as entidades justifiquem documentalmen-te a estrutura e os detalhes de funciona-mento desses modelos, discriminando

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O MODELO PA-DRÃO É GENÉRICO

E APLICÁVEL A QUALQUER SEGU-

RADORA, ENQUAN-TO O MODELO

INTERNO É ESPE-CÍFICO DE CADA

ENTIDADE E PODE SER MAIS EXATO

AO ANALISAR SEU PERFIL DE RISCO

a qualidade estatística dos dados utili-zados, as normas de calibração, a aloca-ção de perdas e ganhos e as normas de validação do modelo (artigos 118 a 122 da Diretiva). As entidades que decidam utilizar um modelo interno deverão ob-ter a autorização por parte do órgão su-pervisor e terão de demonstrar que ele é amplamente utilizado.

Os modelos internos podem ser parciais ou completos. Os primeiros se aplicam na modelização do SCR básico, na determinação do requisito de capital por risco operacional ou para quantificar o ajuste pela capacidade de absorção de perdas das provisões técnicas ou impos-tos diferidos. Podem, ainda, ser aplica-dos a todo o negócio ou a apenas algu-mas das unidades de negócio principais. Em geral, a estrutura de riscos sobre a qual se baseiam poderá diferir daquela aplicada no modelo padrão, mas, se for o modelo interno completo, ele deverá ao menos avaliar os mesmos riscos con-siderados no modelo padrão.

Potenciais vantagens da utilização de modelos internos

Por um lado, devemos destacar que no início o modelo padrão pode ser me-nos complexo e exigir menos tempo para ser implantado do que um modelo interno. Desde o nosso ponto de vista, consideramos adequado para entidades com bases de dados limitadas e, ainda por cima, pouca experiência na modeli-zação de seus riscos. Ele também oferece um enfoque harmonizado a nível euro-peu sobre a medição e a categorização dos riscos, embora por ser dirigido a um grupo de seguradoras muito hetero-gêneo em termos de tamanho, linhas de negócio, etc, em alguns casos ele pode conter especificações muito gerais e ex-cessivamente conservadoras. De modo geral, diremos que ele pretende atender ao perfil de risco da maior parte das em-presas de seguros, sendo possível que em alguns casos este enfoque padroni-zado não reflita plenamente o perfil de risco específico de uma entidade.

Por outro lado, os modelos internos se desenvolvem dentro da própria enti-dade, analisando a posição global de ris-co específico da mesma de acordo com suas próprias informações. A quantifi-cação do risco é realizada com a utiliza-ção de métodos estatísticos devidamente validados, proporcionando o rigor téc-nico-atuarial sobre o qual se fundamen-tam esses modelos. Portanto, enquanto o modelo padrão é genérico e aplicável a qualquer seguradora, o modelo interno é específico de cada entidade e pode ser mais exato na hora de analisar seu perfil particular de risco.

Nesse sentido, vale destacar o grande potencial que as técnicas estatísticas de modelização oferecem hoje em dia no cenário de Solvência II para quantificar os riscos e suas correlações. Elas permi-tem, entre outros aspectos, o estudo do comportamento das medidas de risco em distintos cenários. Além disso, no que diz respeito à classificação dos ris-

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OS MODELOS INTERNOS PODEM CONTRIBUIR PARA QUE A ENTIDADE DESENVOLVA SUA ATIVIDADE DE FORMA MAIS EFICIENTE, IDENTIFICANDO AS ÁREAS DE NEGÓCIO MAIS RENTÁVEIS E FACILITANDO A MITIGAÇÃO ADEQUADA DOS RISCOS

cos, os modelos internos podem seguir a mesma proposta que o modelo padrão ou similar, sempre com o objetivo de refletir o melhor possível a posição glo-bal de risco específico da entidade. Por isso, diremos que os modelos internos podem contribuir para que a entidade desenvolva sua atividade de forma mais eficiente, identificando as áreas de negó-cio que são mais rentáveis e facilitando a aplicação adequada das técnicas de miti-gação de riscos.

Modelos internos: requisitos para sua implantação

Os artigos 118 a 125 da diretiva apre-sentam os requisitos que os modelos têm de cumprir. Mais especificamente, a entidade não apenas tem de demons-trar que o modelo interno é amplamen-te usado, mas que ele desempenha um papel importante em seu sistema de governança, mais exatamente no siste-ma de gestão de riscos e tomada de de-cisões, processos de avaliação e alocação do capital econômico. Além disso, a frequência de cálculo do SCR pelo mo-delo interno tem de ser coerente com seu uso. Com relação à responsabilidade de garantir a adequação do modelo in-terno, a diretiva estabelece que ela recai sobre o órgão de administração ou dire-ção (artigo 118).

As normas de qualidade estatística aparecem no artigo 119. Em suma, ele estabelece que os métodos usados para a determinação da distribuição de proba-bilidade serão baseados em técnicas atu-ariais e estatísticas adequadas e serão co-erentes com os métodos utilizados pelas companhias para calcular as provisões técnicas. Além disso, usarão informa-ções atuais e confiáveis e se basearão em suposições realistas. No que diz respeito

aos dados utilizados, a diretiva estabele-ce que eles devem ser exatos, completos e adequados.

Embora não se prescreva nenhum método concreto para a determinação da distribuição de probabilidades, o mo-delo interno deve classificar o risco ade-quadamente para garantir sua aplicação generalizada. Com isso, ele desempenha um papel fundamental no sistema de governança da entidade no que diz res-peito a seu sistema de gestão de riscos, processos de tomada de decisões e alo-cação de capital. Além disso, o modelo interno deve contemplar todos os riscos a que a entidade está exposta e, ao menos no caso de modelos internos completos, aqueles considerados no modelo padrão.

Os modelos internos também con-templam a possibilidade de considerar as dependências existentes entre as dis-tintas categorias de riscos e entre as mes-mas categorias. Mas em qualquer um dos casos, elas terão de ser justificadas. Também se poderá considerar o efeito das técnicas de mitigação de riscos, sem-pre que o modelo reflita adequadamente o risco creditício e outros riscos deriva-dos. Por outro lado, os riscos associados às garantias financeiras e opções contra-tuais, sempre que forem significativos, devem ser avaliados de forma exata.

Ainda no modelo interno será possí-vel considerar a adoção de medidas de gestão futuras cujo desenvolvimento esteja previsto para fazer frente a deter-minadas circunstâncias que surjam, e ele indicará o tempo necessário para a sua execução. Da mesma forma, o modelo considerará todos os pagamentos a to-madores e beneficiários cuja realização esteja prevista, quer esses pagamentos estejam ou não garantidos contratual-mente. Além disso, poderá ser utilizado um horizonte temporal e uma medida de risco diferentes daqueles estabeleci-

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A SITUAÇÃO DA COMPANHIA

SEGURADORA NO MERCADO É UM ELEMENTO

DE RISCO PARA A ENTIDADE QUE SE REFLETE NA QUE-

DA DE CARTEIRA REGISTRADA EM CADA EXERCÍCIO

dos para o cálculo básico do SCR, sem-pre que se garanta o nível necessário de proteção aos tomadores e beneficiários. Neste caso, o SCR será calculado a par-tir da distribuição de probabilidades ge-rada pelo modelo interno utilizando o VaR dos fundos próprios a 99,5%. Caso a entidade não possa obter o SCR direta-mente da distribuição de probabilidades gerada pelo modelo interno, poderão ser utilizadas aproximações de cálculo, contanto que haja a permissão do órgão supervisor.

Além disso, a entidade deverá de-monstrar que a categorização de riscos utilizada no modelo interno explica as causas e fontes de perdas e ganhos, e a revisará ao menos uma vez ao ano para cada unidade de negócio principal.

Por último, a entidade terá de com-provar o funcionamento do modelo in-terno por meio de um ciclo periódico de validação do mesmo, verificando se suas especificações continuam adequadas e

comparando os resultados que ele gera com os obtidos na realidade. Este pro-cesso se baseará em um procedimento estatístico que incluirá a comprovação da validez da distribuição de probabili-dades, assim como uma análise de esta-bilidade do modelo e de sensibilidade dos resultados comparativa a variações na hipótese inicial.

Exemplo de modelo interno para a gestão do risco de negócio

Sem dúvida alguma, o posiciona-mento da companhia seguradora no mercado constitui um elemento de ris-co para a entidade, refletido na queda de carteira que é registrada em cada exercício. Trabalhos recentes (Guillén et al., 2006; Guillén et al., 2008 e Pies-chacón, 2010) constataram sua impor-tância para o setor. Portanto, no cenário de Solvência II a quantificação deste risco é fundamental. Nesta seção mos-tramos um exemplo de modelo interno aplicado à gestão do risco de negócio no meio segurador. Para isso, utilizamos dados sobre cancelamentos de apólices fornecidos por uma companhia de se-guros, a partir dos quais desenvolvemos cenários de queda de carteira no ramo de seguros gerais.

A metodologia utilizada é a proposta por Ayuso et al. (2011a), na qual se ofere-ce uma alternativa para o modelo padrão para que se determinem os coeficientes de queda. Esta contribuição consiste em considerar o “efeito contágio” que exis-te entre as decisões de cancelamento de apólices. Comparamos, ainda, estes re-sultados com aqueles registrados sob o modelo padrão e também com aqueles obtidos assumindo-se independência entre as decisões de cancelamento.

O período de estudo cobre especifi-

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estudos

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camente desde 31 de dezembro de 2005 até 31 de dezembro de 2007. Conside-ramos todas as apólices correspondentes a três tipos de produtos do ramo Não Vida: seguro do Automóvel, Diversos (que inclui Residencial, Decessos e Aci-dentes) e seguro de Saúde. A amostra-gem consta de 300.386 apólices em vigor no início do estudo. Realizamos uma segmentação das mesmas em função de seu tipo (Automóvel, Diversos ou Saú-de) e de seu tempo de vigência no início de cada um dos semestres analisados (di-ferenciando se a apólice se encontrava no primeiro ano de vigência, segundo ano, ou terceiro ou mais). Utilizamos essas variáveis de segmentação, uma vez que estudos anteriores (Brockett et al., 2008) demonstram que a probabilidade de can-celamento de uma apólice depende, en-tre outros fatores, do tipo de apólice e de seu tempo de vigência.

NO ESTUDO, QUE ABRANGEU DOIS ANOS, FORAM CONSIDERADAS MAIS DE 300.000 APÓLICES DE TRÊS TIPOS DE PRODU-TO DO RAMO NÃO VIDA: SEGURO DO AUTOMÓVEL, DI-VERSOS E SEGURO DE SAÚDE

Deste modo, determinamos para cada segmento analisado quatro coeficientes: o coeficiente médio de queda1, o coefi-ciente obtido sob o modelo padrão (que consiste basicamente em aumentar o co-eficiente médio em 50%), o coeficiente para o caso em que assumimos indepen-dência (ausência de contágio) e o coe-ficiente que incorporou o “efeito con-tágio” entre os cancelamentos2. Como destacamos anteriormente, as fórmulas específicas utilizadas no cálculo se en-contram em Ayuso et al. (2011a).

Nas figuras 1, 2 e 3 mostramos es-ses quatro coeficientes de queda para os ramos Diversos, Autos e Saúde, res-pectivamente. Por outro lado, a figura 4 apresenta os resultados gerais para os três ramos analisados. Os detalhes dos valo-res utilizados na construção das quatro figuras podem ser encontrados em Ayu-so et al. (2011b).

1Neste estudo atribuímos peso igual aos diferentes períodos analisados, uma vez que o coefi ciente de queda não é nada mais que a média arit-mética das porcentagens semestrais registradas de queda de carteira. A porcentagem de queda se determina também como o quociente entre o número de cancelamentos obser-vados durante o período e o total de apólices vigentes no início do mesmo.

2Nestes dois últimos casos, os inter-valos de confi ança foram construídos a um nível de 99,5%.

Figura 1. Coefi cientes de queda para o ramo de Diversos.

Médio Padrão Independência Com contágio

Coe

fi cie

nte

de q

ueda

Tempo de vigência1º ano 2º ano 3º ano

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Figura 2. Coefi cientes de queda para o ramo de Autos.

Figura 3. Coefi cientes de queda para o ramo de Saúde.

Figura 4. Coefi cientes de queda para os três ramos de seguros gerais.

Médio Padrão Independência Com contágio

Médio Padrão Independência Com contágio

Médio Padrão Independência Com contágio

Coe

fi cie

nte

de q

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Coe

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Coe

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Tempo de vigência

Tempo de vigência

Tempo de vigência

1º ano

1º ano

1º ano

2º ano

2º ano

2º ano

3º ano

3º ano

3º ano

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Os coeficientes de contágio obtidos seguindo a metodologia descrita em Ayuso et al. (2011a) estão apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Coefi cientes de contágio¤Produto 1º ano 2º ano 3º e + anos

Diversos 0,11 0,19 0,12

Autos 0,54 0,09 0,17

Saúde 4,50 32,33 71,50

Geral 0,19 0,03 0,21

¤O coefi ciente de contágio r está multiplicado por 1000, r¤1000.

Em geral, podemos apontar que as apólices do ramo de Saúde são as que re-gistram maiores coeficientes de queda, seguidas pelas de Automóvel e Diversos. Também podemos dizer que, como era de se esperar, os coeficientes de queda di-minuem conforme aumentam os anos de vigência das apólices (exceto no caso do ramo de Saúde).

Além disso, observamos como o mo-delo padrão proporciona coeficientes superiores aos obtidos sob a hipótese de independência. Também são superiores a àqueles obtidos quando se assume que existe contágio entre os cancelamentos, exceto para os seguros de Saúde. Isso se deve a que eles não refletem o fato de que as decisões de cancelamento no ramo de Saúde são muito ligadas, o que causa al-tos níveis de contágio, mostrados na ta-bela 1 para este ramo específico.

Concluímos, portanto, que o modelo padrão é demasiadamente conservador, o que resulta em coeficientes excessiva-mente elevados, fato que pode se dever à sua própria construção, que consiste em aumentar em 50% o coeficiente de queda obtido. Contudo, nem o modelo padrão nem o modelo baseado na hipótese de in-dependência apresentam o elevado grau de correlação que existe entre as decisões

de cancelamento no ramo de Saúde, para o qual deveríamos obter um coeficiente muito superior aos registrados por estes dois modelos. Por outro lado, o modelo que assume independência entre as deci-sões de cancelamento subestima o risco, visto que fornece coeficientes inferiores aos registrados quando se supõe que exis-ta contágio.

Por último, a figura 5 mostra os resul-tados obtidos para o coeficiente de queda assumindo que exista contágio nas deci-sões de cancelamento, em função do nível de confiança. Tomando como referência o nível de confiança de 99,5% e conside-rando as apólices em seu primeiro ano de vigência, o valor do coeficiente se situa em 13,46%, descendo a 12,61% para um nível de confiança de 97,5% e chegando a 14,88% para 99,9% de nível de confian-ça. Resumindo, os dados representados na figura 5 descrevem a sensibilidade do coeficiente de queda ante as mudanças no nível de confiança e, portanto, podem contribuir com uma valiosa informação, ao indicar uma maior propensão ao can-celamento no primeiro ano de vigência da apólice, para que a entidade possa gerir adequadamente o risco do seu negócio.

Em poucas palavras, podemos dizer que o modelo interno apresentado per-mite a elaboração de cenários sobre a queda de carteira considerando que as decisões de cancelamento dos segurados ocorrem “em cadeia”. Em nosso exem-

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Figura 5. Coefi cientes de queda (assumindo-se contágio) em função do nível de confi ança. Resultados para os três ramos de seguros gerais.

Coe

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de q

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io)

Nível de confi ança

97,5% 98,0% 98,5% 99,0% 99,25% 99,5% 99,75% 99,9%

1º ano 2º ano 3º ano

plo, elaborado com dados reais, consta-tamos a existência deste contágio e seu impacto importante nos resultados. De fato, quanto maior for o grau de contágio, maiores serão os erros que cometeremos na elaboração de cenários para o coefi-ciente de queda assumindo-se indepen-dência entre as decisões. Por outro lado, o modelo padrão, na maioria dos casos, mostrou-se conservador demais, pois gerou porcentagens de queda excessiva-mente altas. Por tudo isso, não considerar a dependência existente entre as decisões de cancelamento dos segurados levará a companhia a quantificar erroneamente sua verdadeira exposição ao risco de ne-gócio, enquanto que usar a aproximação

padrão pode implicar cenários excessiva-mente desfavoráveis.

Conclusões e recomendações finais

Neste artigo, sintetizamos algumas das potenciais vantagens da utilização de mo-delos internos no cenário de Solvência II, assim como os requisitos regulatórios que dever ser cumpridos para a sua implanta-ção. A título de exemplo, realizamos uma aplicação com dados reais da metodologia proposta por Ayuso et al. (2011a) para o desenvolvimento de um modelo interno aplicado à gestão do risco de negócio por meio de aproximações à queda de carteira de uma entidade. Esta metodologia con-sidera o impacto que a existência de certo contágio entre as decisões de cancelamento dos segurados tem nos resultados, visto que os cenários formulados foram mais realistas e precisos que aqueles obtidos utilizando o modelo padrão.

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estudos

O modelo interno que apresentamos como exemplo nos permite concluir que ignorar o “efeito contágio” e assumir independência nas decisões de cancela-mento das apólices introduz um erro nas estimativas, o que levaria a companhia

seguradora a subestimar sua exposição ao risco do negócio. Além disso, o mo-delo padrão tende, em geral, a produzir coeficientes excessivamente conservado-res. Nossa recomendação seria realizar a análise desenvolvida neste trabalho para distintos tipos de contratos e duração dos mesmos, uma vez que ambos os fatores incidem na probabilidade de cancela-mento das apólices.

Consideramos, de qualquer modo, que este artigo ilustra o grande potencial dos modelos internos na gestão de riscos, contribuindo, ainda, com algumas das li-nhas gerais de atuação que podem guiar as seguradoras na correta elaboração de cenários de queda de carteira e, portanto, de medição da sua exposição ao risco do negócio no cenário de Solvência II.

AYUSO, M., GUILLÉN, M. y PÉREZ-MARÍN, A. M. Metodología para el cálculo de escenarios de caída de cartera en Solvencia II en presencia de contagio entre cancelaciones. Anales del Instituto de Actuarios Españoles, 2011a, nº 17, 13-30.

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Directiva 2009/138/CE del Parlamento Europeo y del Consejo, de 25 de noviembre de 2009, sobre el seguro de vida, el acceso

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loyalty and business risk in the European insurance industry. Geneva Papers on Risk and Insurance - Issues and Practice, 2008, nº 33, 207-218.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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estudos

A gestão de riscos, do ponto de vista tanto de ameaça

como de oportunidade, não deve ser entendida como

apenas mais um procedimento. Ela deve ser integrada

à gestão corporativa das organizações para favorecer o

comportamento ético, a segurança jurídica e a responsa-

bilidade empresarial.

A gestão de riscos

impulsionaa credibilidade e a transparênciaFacilita o aumento da receita, reduz os gastos e ajuda a gerenciar intangíveis como reputação e marca

ÁNGEL ESCORIAL BONETRiskia

A introdução da norma UNE-ISO 31000-2010, “Gestão do Risco: Princípios e Diretrizes”, afirma nitidamente que “todas as atividades

de uma organização envolvem riscos”. Mais adiante, ela recomenda que “as organizações desenvolvam, implementem e melhorem de modo contínuo uma estrutura de trabalho cujo objetivo seja integrar o processo de gestão do risco nos processos de gover-nança, de estratégia e de planejamento, de gestão e de elaboração de relatórios, assim como nas políticas, nos valores e na cultura de toda a organização”.

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estudos

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

O ARTIGO DESCREVE A AUDITORIA DE UMA ANÁLISE INTEGRAL DE RISCOS DE UMA EMPRESA ESPANHOLA DE PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE MATERIAL ESCOLAR E DE ESCRITÓRIO CONFORME O ESTABELECIDO NO CÓDIGO CONTHE E NA UNE-ISO 31000

O Código Unificado de Boa Governança da Es-panha, por sua vez, também conhecido como o Código Conthe, aponta como competência do Conselho de Administração aprovar “a políti-ca de controle e gestão de riscos, assim como o monitoramento periódico dos sistemas internos de informação e controle”.

Com respeito ao Comitê de Auditoria, o Có-digo Unificado de Boa Governança recomenda que os membros que o integram, e especialmen-te seu presidente, “sejam designados levando-se em consideração seus conhecimentos e experi-ência em matéria de contabilidade, auditoria ou gestão de riscos”.

Ele recomenda, ainda, que a política de con-trole e gestão de riscos identifique ao menos os diferentes tipos de risco (operacionais, tecnoló-gicos, financeiros, legais, de reputação) com os quais a empresa tem de lidar, inclusive, dentre os financeiros ou econômicos, os passivos con-tingentes e outros riscos não registráveis no ba-lanço; a fixação do nível de risco que a empresa considere aceitável; as medidas previstas para mitigar o impacto dos riscos identificados, caso cheguem a materializar-se, e, finalmente, os sistemas de informação e controle interno que serão utilizados para controlar e gerir os riscos citados, inclusive os passivos contingentes ou riscos não registráveis no balanço.

Com relação aos sistemas de informação e controle interno, cabe ao Comitê de Auditoria, segundo o Código Unificado de Boa Gover-nança, “revisar periodicamente os sistemas de controle interno e gestão de riscos, para que os principais riscos sejam identificados, geridos e divulgados adequadamente”.

Tomando por base estas referências e a fim de cumprir as determinações do Código Con-the para empresas listadas, e atuando conforme

o estabelecido pela norma UNE-ISO 31000, uma empresa espanhola dedicada à produção e distribuição de material escolar e de escritório contratou os serviços de uma consultora espe-cializada para realizar uma auditoria da análise integral de riscos que a referida consultora havia feito no ano de 2005 e cujas conclusões foram incorporadas pela empresa à seção D, Sistemas de Controle de Gestão de Riscos, de seu Rela-tório Anual de Governança Corporativa desse mesmo ano.

O objetivo da auditoria era atualizar o mapa de riscos da empresa adaptando-o a seu novo ambiente de negócio, com especial atenção à compra de uma nova empresa no ano de 2009. Esta empresa, com um volume de faturamento três vezes superior ao da empresa compradora, se dedicava à distribuição de consumíveis de informática, e sua produção estava destinada à exportação para o mercado europeu.

APROXIMAÇÃO POR FASES

Partindo dos dados e informações fornecidos pela empresa, o planejamento da consultora para este tipo de projetos consistiu em uma aproxi-mação por fases, conforme as etapas da Gerência de Riscos: avaliação do risco (identificação, aná-lise e estimativa), tratamento do risco (validação do plano de ação pela organização), monitoração e revisão (auditoria periódica do plano valida-do). Este planejamento por fase permitiu otimi-zar resultados e custos.

O objetivo do estudo era dispor de um mapa de riscos e uma proposta atualizada de plano de ação que permitisse otimizar os riscos da orga-nização, de tal forma que se cumprisse o estabe-lecido no Código Unificado de Boa Governança para as empresas listadas dentro do contexto da norma UNE-ISO 31000.

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ILLU

STRA

TION

STO

CK

Estabelecer o contexto (5.3)

Avaliação do risco (5.4)

Identificação dos riscos (5.4.2)

Análise dos riscos (5.4.3)

Estimar os riscos (5.4.4)

Tratar os riscos (5.5)

Mon

itora

men

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revis

ão (

5.6)

Com

unica

ção

e co

nsul

ta (

5.2)

Fonte: UNE-ISO 31000

PROCESSO PARA A GESTÃO DOS RISCOS SEGUNDO A NORMA UNE-ISO 31000

Deve-se destacar, a título de antecedente e conforme já foi mencionado anteriormente, que no ano de 2009 a empresa já havia adqui-rido uma nova companhia cujo volume e ativi-dade demandavam uma revisão das conclusões da análise integral de riscos realizada em 2005. Além disso, durante a execução do projeto, a empresa adquiriu o negócio continental de um concorrente europeu.

A proposta da consultora para alcançar o ob-jetivo fixado passava pelos seguintes passos: au-ditar o estado em que se encontrava o processo de melhora proposto no relatório de 2005; iden-tificar e analisar os riscos indicados no Código de Boa Governança adaptados à nova situação da organização para obter um mapa de riscos atualizado conforme a norma UNE-ISO 31000 e com base na classificação da FERMA e, por último, validar junto à empresa o novo plano de melhora dos riscos.

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estudos

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Configurado desta forma, o projeto propor-cionava à empresa:

• um mapa de riscos atualizado conforme o alcance desejado;

• uma proposta de plano de ação para mini-mizar os riscos analisados e avaliados;

• uma validação do plano pelo comitê de auditoria.

METODOLOGIA

A auditoria, que foi realizada por uma equipe multidisciplinar de peritos, identificou os dife-rentes tipos de riscos (operacionais, tecnológi-cos, financeiros, legais, de reputação) com os quais a empresa tem de lidar.

Para a gestão sistemática dos riscos, a consultora segmentou o inventário e sua análi-se em grupo de risco conforme a estrutura e as atividades da empresa, segundo a seguinte clas-sificação:

I. Direção. Política de RRHH, regulação do mercado, cultura da empresa e do se-tor, comunicação, inclusive a preparação para situações de crise, e composição do Conselho.II. Sistemas de informação. Análise da segurança física, como os riscos de tecnologia da informação desses sistemas, inclusive os ciber-riscos.III. Cadeia de suprimento. Estudo dos contratos e provedores de matérias-

primas e abastecimento, assim como a logística e seu transporte, e dos produtos elaborados pela organização.IV. Processos do negócio. Identifican-do os estrangulamentos com suas alter-nativas de back-up, considerando-se a manutenção.V. Produtos e serviços. Contemplando o sistema de qualidade.VI. Meio ambiente. Enfocado nos ris-cos ambientais, inclusive aqueles deriva-dos das novas legislações de proteção dos espaços e recursos naturais.VII. Patrimônio. Envolvendo tanto os riscos internos tradicionais (incêndio, explosão) quanto os derivados do acesso público e dos eventos naturais (inunda-ção, terremoto).VIII. Funcionários. Centrado nos as-pectos de segurança e higiene.Os oito grupos citados cobriam os riscos

operacionais e de perigo retratados no esquema da Federação de Associações Europeias de Ge-rência de Riscos (FERMA), e que foram objeto de estudo na análise integral de riscos realizada pela consultora em 2005.

A nova análise solicitada foi ampliada, passando a incorporar estratégia e finanças aos dois grupos mencionados anteriormente.

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A CONSULTORA PROPORCIONOU À EMPRESA UM MAPA DE RISCOS ATUALIZADO CONFORME O ALCANCE DESEJADO, UMA PROPOSTA DE PLANO DE AÇÃO PARA MINIMIZAR OS RISCOS AVALIADOS E UMA VALIDAÇÃO DO PLANO PELO COMITÊ DE AUDITORIA

EXEMPLO DE FATORES EXTERNOS E INTERNOS

OPERACIONAIS• CADEIA DE SUPRIMENTOS

• REGULAÇÃO• CULTURA

ESTRATÉGICOS• GEOPOLÍTICOS• MERCADO/CONCORRÊNCIA• FUSÕES, COMPRAS

REPUTAÇÃOPROP INTELECTUAL

RECRUTAMENTOSISTEMAS DE INFORMAÇÃO

GESTÃO DO CONHECIMENTOPESQUISA E DESENVOLVIMENTO

REDES DE VENDA

FATORES EXTERNOS

FATORES EXTERNOSFATORES EXTERNOS FATORES INTERNOSLIQUIDEZINFIDELIDADE

INVESTIMENTOSFUNCIONÁRIOS

PATRIMÔNIOPRODUTOS/SERVIÇOS

ACESSO PÚBLICO• CRÉDITO• TAXAS DE CÂMBIO E DE JURO• TRIBUTAÇÃOFINANCEIROS

• EVENTOS NATURAIS• MEIO AMBIENTE• FORNECEDORES

DE PERIGO

IX. Estratégia. Analisa a situação da organização no mercado estudando aspectos como a competência, as de-mandas dos clientes, as mudanças nos clientes e no setor, o ciclo de vida de produtos e serviços, as potenciais situ-ações de fusões e aquisições e o capital intelectual da organização.X. Finanças. Estuda a liquidez, a te-souraria, as taxas de juro e de câmbio, o crédito da organização.Desta forma, o alcance do trabalho de-

senvolvido cobria o espectro total da classifi-cação da FERMA com a atualização da análise de riscos de 2005 para a data de realização do estudo, incluindo a compra da nova empresa e os novos grupos de riscos estratégicos e fi-

nanceiros. Tudo isso possibilitou a emissão de um parecer conforme a exigência do Código Unificado de Boa Governança.

Para a avaliação dos riscos, utilizou-se o mesmo método que em 2005, semiquantitati-vo de cenários potenciais e seus efeitos, o que permitiu aproveitar os resultados, otimizan-do, assim, o custo do projeto.

O método semiquantitativo de cenários potenciais combina várias das técnicas apre-sentadas na nova norma UNE-ISO 31010, atribuindo a cada risco um valor (numa gra-duação de 1 a 16). Esse valor resulta da mul-tiplicação da intensidade/gravidade do risco e sua probabilidade/frequência graduadas cada uma delas em grupos avaliados de 1 a 4.

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estudos

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A ANÁLISE INTEGRAL DE RISCOS FACILITA O CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS E REGULAMENTARES A QUE TODA EMPRESA ESTÁ SUBMETIDA, COMO OS DO CÓDIGO UNIFICADO DE BOA GOVERNANÇA PERTINENTES ÀS EMPRESAS LISTADAS

SEMÁFORO DE RISCOS

Catastrófica: 10.000.000€

Gravidade

Fonte: Riskia

Grave: 1.000.000€

Relevante: 100.000€

Moderada:

Intolerável Signifi cativo

Tolerável

Remota

Inabitu

al

Ocasio

nal

Frequen

te

Probab

ilidad

e

Foram usados três termômetros para ava-liar o risco:

• GRE: Grau de Risco Estimado em 2005;• GRA: Grau de Risco Auditado em 2011;• GRO: Grau de Risco Objetivo.A graduação da intensidade/gravidade e da

probabilidade/frequência para cada cenário de risco foi atribuída em uma escala de 1 a 4, conforme os seguintes critérios para cada uma das variáveis consideradas:

Intensidade, severidade ou gravidade:1. Moderada: se as consequências

obrigam a modificar alguns meios ou processos, causando perturbações eco-nômicas que podem ser assumidas nos resultados anuais.

2. Relevante: se as perdas originam dificuldades consideráveis no curto prazo, obrigando a modificar alguns objetivos com repercussão nos resulta-dos anuais.

3. Grave: se seu impacto nos resulta-dos é tal que obriga a empresa não só a reconsiderar seu objetivo não só no curto prazo, como também para o futuro.

4. Catastrófica: se as consequências ameaçam a própria sobrevivência da empresa.

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Fonte: Riskia

Inaceitável

Área ALARP

Aceitável

MÉTODO ALARP (AS LOW AS REASONABLY PRACTICABLE

OU “O MAIS BAIXO POSSÍVEL PRATICÁVEL)

Grau de risco

Cenário

Probabilidade ou frequência:1. Remota: se acontece extraordinaria-

mente (uma vez em um século ou na existência da empresa).

2. Inabitual: se acontece raramente (menos de uma vez a cada decênio).

3. Ocasional: se acontece alguma vez em um decênio.

4. Frequente: se acontece todos os anos. A pontuação estimada que se obteve para cada risco (na escala de 1 a 16) propor-ciona um valor que é classificado nas três áreas do termômetro conforme o método ALARP (conceito definido no anexo B27 da norma UNE-EN 31010 como ideal para a gestão de riscos):• Vermelha: riscos inaceitáveis;• Laranja: zona ALARP (As Low as Re-

asonably Practicable ou “O mais baixo possível praticável”);

• Verde: riscos aceitáveis conforme a política de riscos da empresa;

Para cada risco analisado e avaliado (fora da área de aceitabilidade), a consul-tora propôs uma ação de melhora para reduzi-lo até um grau de risco objetivo (GRO), conforme a política de riscos da empresa, de tal modo que:

Para os riscos do relatório de 2005, a consultora auditou seu status atual e veri-

ficou o surgimento de novos riscos ou o desaparecimento de riscos que existiam.

Para ampliar o escopo (para a empresa adquirida em 2009 e os grupos de estratégia e finanças), foi realizado o processo indicado desde o início. O relatório da consultora propôs medidas de minimização para cada risco analisado, como as seguintes:1. Técnica de eliminação da posição A

para a D (aceitável);2. Combinação de medidas para minimi-

zar o risco de uma posição A para D, passando por uma posição B (aplican-do medidas de prevenção que dimi-nuem sua probabilidade), a uma posi-ção C (aplicando medidas de proteção que reduzem sua gravidade), para uma posterior transferência (seguro ou ou-tro contrato) para a posição D.Pode-se, então, obter uma média

ponderada dos graus de risco dos grupos de risco sob análise e que representaria o Grau de Risco Global (GRG).Desta forma, tem-se um valor GRG com

um GRGE (estimado inicialmente), um GRGA (auditado a cada momento) e um GRGO (objetivo), que servem de indicadores globais do processo de melhora. Estes indica-dores podem ser particularizados por grupo

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A ANÁLISE INTEGRAL DE RISCOS É UMA FERRAMENTA QUE PERMITE À EMPRESA UMA GESTÃO PROATIVA NA IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DE SEUS RISCOS, O QUE, POR SUA VEZ, AJUDA A DESCOBRIR TANTO AMEAÇAS QUANTO OPORTUNIDADES DE MELHORA

CICLO DE SEGURANÇA DA GERÊNCIA DE RISCOS

Eliminação Redução

Frequência

Retenção

Fonte: Riskia

Assunção

Transferência

Inte

nsid

ade

de risco ou por estabelecimento industrial no caso de riscos operacionais e de perigo.

A consultora utilizou um sistema de cores para facilitar o monitoramento do inventário de riscos e das medidas de me-lhora conforme segue:

Riscos e ações do nosso relatório de 2005 em preto;

Auditoria e atualização de novos riscos de 2011 em azul.Em junho de 2011 a empresa consultora

emitiu um relatório preliminar com as fichas dos dez grupos que haviam sido enviadas ao coordenador da empresa, que as distribuiu aos diferentes interlocutores para seus co-mentários. Como resultado, as observações e comentários da empresa foram retratados em vermelho, assim como as ações a serem realizadas pela organização ou até mesmo as ações planejadas como resultado do relatório preliminar.

A consultora empregou as seguintes classi-ficações para o seu sistema de monitora-mento:• Pendente, quando ainda não se tomou

nenhuma medida eficaz;• Em andamento, quando as medidas já

foram planejadas mas ainda não estão em vigor;

• Parcialmente executada, se as medidas diminuem o risco parcialmente;

• Eliminada, se o risco desapareceu no mo-mento da auditoria;

• Assumida, se o risco é assumido pela organização;

• Executada, se uma medida eficaz de mini-mização já foi realizada.

AMEAÇAS E OPORTUNIDADES

A consultora estabeleceu os mapas de riscos de 2011 (tanto ameaças como oportunidades),

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MODELO DE FICHA DE RISCOS

AUDITORIA DE RISCOS DE XXXGrupo I. Riscos de DireçãoRisco 1.1: Plano de Contingência

AçãodaXXX

RESPONSÁVEL:DATA DE IMPLANTAÇÃO:STATUS/SITUAÇÃO:

A definirA definirPendente

DESCRIÇÃO DO RISCO AÇÃO DE MELHORA (2012)

As fábricas de XXX são complementares e não seriam alternativas em caso de sinistro importante em qualquer uma delas. Por isso, seria necessário recorrer ao mercado para substituir a produção. A empresa não dispõe de Plano de Contingência que contemple sua atuação em caso de sinistro ou paralisação que possa afetar a produção, baseado na análise da resposta a uma série de eventos, tais como incêndios, inundações ou outros que paralisassem uma das plantas por um tempo relevante.

16151413121110090807060504030201

16151413121110090807060504030201

Elaboração de um Plano de Contingência para o qual seria preciso:1. Nomear um coordenador e considerar eventos

(incêndio, inundação, falta de fornecimento de eletricidade, greves de transporte, etc.);

2. Definir “back-up” de funções e tarefas-chave;3. Nomear equipes e atribuir responsabilidades;4. Definir condições de ativação do plano;5. Divulgar e formar.

Fonte: Riskia

segmentando os riscos da empresa em dez grupos segundo a classificação da FERMA, como já se co-mentou. A metodologia utilizada para a identifica-ção e avaliação dos riscos em um mapa Gravidade x Probabilidade estava em conformidade com o estabelecido no padrão UNE-ISO 31000.

Junto aos mapas de riscos de 2011, o relatório da consultora incorporou comentários dos aspec-tos de mais destaque de cada um dos grupos anali-sados, assim como da análise comparativa do risco objetivo do sistema de indicadores proposto para o monitoramento do nível de risco de cada um dos dez grupos entre os anos 2005 e 2011.

Além disso, a companhia recebeu um con-junto de indicadores para monitoramento peri-ódico, interno e externo, controle e gestão dos riscos identificados.

Em suas conclusões, a empresa consulto-ra propôs um plano de ação com uma série de medidas de minimização de cada risco-ameaça identificado, com o objetivo de reduzir sua pro-babilidade de ocorrência e mitigar o impacto caso ele se materialize.

Com base em tudo o que foi comentado neste artigo, podemos concluir que a análise de riscos é uma ferramenta que permite à organiza-ção uma gestão proativa na identificação e trata-mento de seus riscos, o que, por sua vez, ajuda a descobrir não só ameaças, mas também opor-tunidades de melhora que aumentem as proba-bilidades da empresa de alcançar seus objetivos estratégicos, conforme a UNE-ISO 31000.

Além disso, a análise integral de riscos facili-ta o cumprimento dos requisitos legais e regu-lamentares a que toda empresa está submetida. Por exemplo, o que o Código Unificado de Boa Governança, ou Código Conthe, afirma sobre as empresas listadas, ou a seção D do Relatório Anual de Governança Corporativa sobre gestão de riscos.

Palavras como controle, prevenção, apren-dizagem, eficiência, melhora ou eficácia estão indefectivelmente ligadas ao conceito de análise de riscos, cuja implantação proporciona à em-presa uma base fiável para o planejamento e a tomada de decisões.

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AMBIENTE MACROECONÔMICO1

O mercadoSEGURADORlatino-americano2010 - 2011

CENTRO DE ESTUDOSFUNDACIÓN MAPFRE

1 Comentários baseados na publicação “Estudio económico de América Latina y el Caribe 2010-2011”, da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL).

O PIB da América Latina e Caribe cresceu 5,9% em 2010, graças ao elevado dina-mismo da demanda interna e ao aumen-

to da demanda externa. Este crescimento ocorreu após uma queda do PIB de 1,9% em 2009 como consequência da crise financeira, embora fatores internos – políticas contra-cíclicas – e externos – recuperação das exportações – tenham favorecido o início da recuperação na segunda metade do ano.

O aumento do consumo privado (5,9%) se de-veu à melhora dos indicadores do trabalho, às me-lhores expectativas do comportamento da econo-mia, ao aumento do crédito para o setor privado e, em alguns países, à recuperação das remessas feitas por emigrantes. O consumo público cresceu de forma mais moderada (3,9%) e os investimen-tos subiram 14,5%. Com relação ao setor externo, houve um aumento significativo das exportações,

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ILLU

STRA

TION

STO

CK

principalmente nos países do MERCOSUL, e das importações de bens e serviços, reflexo do dinamis-mo da demanda interna.

Os maiores crescimentos se deram no Paraguai (15,0%), Argentina (9,2%), Peru (8,8%), Uruguai (8,5%), República Dominicana (7,8%) e Brasil e Panamá (7,5%). Mas a República Bolivariana da Venezuela registrou uma queda no PIB de 1,4%, devido principalmente à diminuição das exporta-ções, do consumo final privado e da formação bruta de capital fixo.

Em 2010 houve um aumento generalizado da inflação, exceto no Equador e em Porto Rico, em virtude da elevação dos preços dos produtos bási-cos, principalmente alimentos e combustível. A Ve-

nezuela e a Argentina registraram as taxas mais ele-vadas, 27,4% e 10,9%, respectivamente. Em 2011 a tendência de alta de preços se manteve e estima-se que a taxa de inflação anual girará em torno de 7,5%.

Outro aspecto a ser destacado é a significativa alta das taxas de câmbio da região, motivada por vários fatores, entre eles a elevada liquidez interna-cional e a solidez de algumas economias da Améri-ca Latina, aliada, em alguns países, à entrada mas-siva de divisas pelos altos preços dos bens básicos de exportação e ao aumento do investimento es-trangeiro.

Os dados disponíveis na primeira metade de 2011 indicam que a atividade econômica manteve

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informe

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Porto RicoChile

BrasilVenezuela

PanamáUruguai

ArgentinaMéxico

Costa RicaColômbia

PeruEquador

Rep. DominicanaEl Salvador

HondurasGuatemala

ParaguaiBolívia

Nicarágua

Prêmios per capita. Euros

sua força, embora se observe uma desacelera-ção no crescimento, consequência da perda de dinamismo da economia internacional e, em alguns casos, da retirada gradual das políticas públicas adotadas na região para frear a crise. A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) estima que as economias da América Latina e Caribe cresceram 4,3% em 2011.

MERCADO SEGURADOR

O setor segurador latino-americano, que acumula 3% dos prêmios mundiais, voltou a registrar um aumento médio nominal em moeda local de 14,2% em 2010, com aumen-tos do volume de prêmios em todos os merca-dos da região. O crescimento médio real ficou em 7,5%, comparados aos 7,3% de 2009, com aumentos em todos os países, exceto Hondu-ras, México e Venezuela.

Em termos reais, a América do Sul regis-trou uma elevação maior que a América Cen-tral, 9,7% comparados a 1,9%. Porto Rico e República Dominicana cresceram 5,7% e 0,6%, respectivamente, e o mercado mexica-no teve uma queda nos prêmios de 0,5%.

2 Para calcular a densidade e a penetração do seguro, foram consideradas as receitas de todos os segmentos do seguro privado brasileiro: Seguros, Saúde, Previsão Privada e Capitalização.

% VARIAÇÃO NO VOLUME DE PRÊMIOS 2010

PAÍS NÃO VIDA VIDA TOTAL

ARGENTINA 25,4 2,5 20,5

BOLÍVIA 10,4 17,9 11,9

BRASIL 14,3 20,0 17,3

CHILE 15,9 19,8 18,2

COLÔMBIA 9,3 2,5 7,2

COSTA RICA 7,3 1,1 6,8

EQUADOR 16,9 15,6 16,7

EL SALVADOR 2,3 3,8 2,8

GUATEMALA 6,4 11,6 7,4

HONDURAS 7,0 4,4 6,3

MÉXICO -0,5 2,7 3,9

NICARÁGUA 11,3 2,4 9,9

PANAMÁ 12,9 -2,7 8,5

PARAGUAI 13,6 27,6 14,8

PERU 8,1 60,4 26,2

PORTO RICO 7,1 -2,6 6,2

REP. DOMINICANA 7,4 3,8 6,9

URUGUAI 11,4 27,7 14,9

VENEZUELA 22,7 23,3 22,7

TOTAL GERAL 12,7 15,8 14,2

crescimentos nominais em moeda local

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61G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

Porto RicoChile

VenezuelaPanamá

BrasilArgentinaColômbia

El SalvadorCosta RicaHondurasEquador

NicaráguaUruguaiMéxico

PeruRep. Dominicana

BolíviaGuatemala

Paraguai

% Prêmios / PIB

3 O volume de prêmios de Porto Rico inclui os seguros de Saúde para a população de baixos recursos, cujos prêmios são administrados pelo seguro privado e pagos pelo governo de Porto Rico.

Porto Rico registrou o prêmio per capita mais alto da região, com um total de 1.958 €/hab., se-guido pelo Chile (363 €/hab). Abaixo deles fica-ram o Brasil2 (270 €/hab.), a Venezuela (226 €/hab.), o Panamá (199 €/hab.), o Uruguai (164 €/

hab.), a Argentina (155 €/hab.) e o México (132 €/hab.). A Bolívia e a Nicarágua são os países com o prêmio per capita mais baixo.

Quanto à penetração do seguro (% Prêmios/PIB), continua em destaque o número de Porto Rico3, 16,5%, seguido pelo Chile (4,0%), Vene-zuela (3,6%), Panamá (3,5%), Brasil (3,4%) e Ar-gentina (2,2%).

O volume de prêmios da América Latina su-biu para 91,37 bilhões de euros em 2010, o que representa uma elevação nominal de 19,3%,

muito superior aos 10,5% de 2009. Como já se havia comentado, o crescimento médio em mo-eda local foi de 14,2%, o que indica que o cres-cimento em euros se viu favorecido pela valo-rização da maioria das moedas locais frente ao

euro, principalmente o real brasileiro e o peso colombiano. Por outro lado, a desvalorização do bolívar em janeiro de 2010 gerou um decrésci-mo de 35% no volume de prêmios em euros do mercado segurador venezuelano, o que contrasta com um crescimento de 23% em moeda local.

Os oito maiores mercados seguradores da re-gião acumularam 95,1% dos prêmios, e os três primeiros, 67,1%. O Brasil, com uma quota de 42,5% (36,4% em 2009), continua sendo o maior mercado da região, seguido pelo México e por Porto Rico, que recupera o terceiro posto depois de a Venezuela tê-lo ultrapassado em volume de prêmios em 2008.

O seguro de Vida acumula 40% dos prêmios e seu comportamento foi melhor que o do seg-

O VOLUME DE PRÊMIOS DA AMÉRICA LATINA SUBIU PARA 91,37 BILHÕES DE EUROS EM 2010, O QUE REPRESENTA UMA ELEVAÇÃO NOMINAL DE 19,3%, MUITO SUPERIOR AOS 10,5% REGISTRADOS EM 2009

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informe

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

VOLUME DE PRÊMIOS 2010

PAÍS NÃO VIDA %∆ VIDA %∆ TOTAL %∆BRASIL 17.682 35,8 21.177 42,5 38.859 39,4

MÉXICO 7.721 12,6 6.772 23,6 14.493 17,5

PORTO RICO 7.313 13,1 629 2,8 7,943 12,2

VENEZUELA 6.358 -35,2 155 -34,9 6.513 -35,2

ARGENTINA 5.245 10,6 1.019 -9,5 6.264 6,7

CHILE 2.448 33,9 3.752 38,4 6.200 36,6

COLÔMBIA 3.434 31,3 1.440 23,2 4.874 28,8

PERU 982 21,6 773 80,5 1.755 42,0

EQUADOR 697 23,4 138 22,1 834 23,2

PANAMÁ 521 19,1 176 2,7 697 14,5

URUGUAI 420 31,0 131 50,2 551 35,1

COSTA RICA 502 23,6 48 16,4 550 23,0

REP. DOMINICANA 441 11,3 73 7,6 514 10,8

GUATEMALA 287 13,5 70 19,0 357 14,5

EL SALVADOR 223 8,0 120 9,6 344 8,6

HONDURAS 168 12,8 60 10,1 228 12,1

BOLÍVIA 135 16,6 37 24,5 172 18,2

PARAGUAI 122 9,7 13 23,2 135 10,8

NICARÁGUA 75 10,7 13 1,9 88 9,3

TOTAL GERAL 54.774 11,4 36.597 33,6 91.370 19,3

Dados em milhões de euros. Crescimentos nominais em euros

mento Não Vida, com um aumento de 33,6%, graças à magnífica evolução deste ramo nos maiores mercados de Vida da região: Brasil, Mé-xico e Chile. No Brasil, o produto Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) voltou a ser o principal motor do crescimento, atingindo receita próxi-ma a 16 bilhões de euros, o que representa uma quota de 43% do seguro de Vida na América La-tina. No México houve um aumento do ramo de

9,3% em moeda local e de 23,6% em euros, graças principalmente aos seguros de Pensões derivados das Leis da Seguridade Social e aos seguros cole-tivos, os quais acumulam um maior volume de prêmios. A recuperação das Rendas Vitalícias no mercado segurador chileno, depois da queda no ano anterior, propiciou um excelente compor-tamento do seguro de Vida, com aumentos de 19,8% em moeda local e de 38,4% em euros.

Os ramos Não Vida mantiveram uma taxa de crescimento de aproximadamente 11%, com uma ligeira subida de dois décimos de um ponto porcen-tual em 2010, para 11,4%. O Brasil, o México e Por-to Rico são os maiores mercados, seguidos da Vene-

O SEGURO DE VIDA ACUMULA 40% DOS PRÊMIOS NA REGIÃO, COM UM AUMENTO DE 33,6% GRAÇAS À MAGNÍFICA EVOLUÇÃO DESTE RAMO NO BRASIL, MÉXICO E CHILE, OS MAIORES MERCADOS DE VIDA DA AMÉRICA LATINA

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63G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

MERCADO SEGURADOR LATINO-AMERICANO 2009-2010PRÊMIOS POR RAMO

RAMO 2009 2010 %∆ %QUOTA

Vida 27.383 36.597 33,6 40,1

Vida individual e coletivo 24.265 32.090 32,3 35,1

Vida e/ou Previdência 3.119 4.506 44,5 4,9

Não Vida 49.185 54.774 11,4 59,9

Automóveis 18.129 20.643 13,9 22,6

Saúde 12.197 11.796 -3,3 12,9

Incêndios e/ou Linhas associadas 4.576 5.054 10,4 5,5

Outros danos 5.986 7.321 22,3 8,0

Transportes 1.954 2.312 18,3 2,5

Responsabilidade Civil 1.226 1.417 15,6 1,6

Acidentes Pessoais 2.193 2.813 28,3 3,1

Crédito e/ou Caução 1.025 1.122 9,4 1,2

Acidentes de Trabalho 1.901 2.297 20,8 2,5

TOTAL 76.569 91.370 19,3 100,0

Prêmios em milhões de euros.

zuela, Argentina, Colômbia e Chile. Os sete países somam uma quota de 91,7%, sendo os principais motores desse crescimento os ramos de Automóveis (13,9%), por sua maior participação no mercado, Acidentes pessoais (28,3%), Acidentes de trabalho (20,8%) e Transportes (18,3%). Apenas o ramo de Saúde teve uma evolução negativa em 2010.

O seguro de Automóveis voltou a crescer a ta-xas de dois dígitos, 13,9%, depois da desaceleração que viveu em 2009. Sua receita subiu para 20,643 bilhões de euros, e os países que acumularam um maior volume de prêmios foram, nesta ordem, Brasil, México, Venezuela e Argentina, que, soma-dos, perfazem uma quota de 85,2%. Todos os países tiveram aumento na receita em 2010, com exceção da Guatemala e de Porto Rico.

O ramo de Saúde decresceu 3,3% em 2010, muito influenciado pela desvalorização do bolívar e o consequente declínio de prêmios em euros do seguro venezuelano. A Venezuela é o segundo maior mercado segurador de Saúde da América Latina e em 2009 concentrava quase 38% dos prê-mios. Mas essa participação agora passou para 24%.

Porto Rico é o principal mercado de Saúde da re-gião e apresenta a metade do volume de prêmios. Nesse país, os planos de assistência sanitária para aposentados (Medicare) continuaram crescendo em 2010 graças ao avanço do produto Medicare Advantage. Todos os mercados tiveram cresci-mento em moeda local, exceto o Paraguai. O Mé-xico, terceiro maior mercado, teve aumento de receita de 21,9% em relação ao ano anterior.

O terceiro ramo por volume de prêmios é o seguro de Incêndio e linhas associadas, que teve receita de 5,054 bilhões de euros em 2010, o que significa uma elevação de 10,4%, cerca de mais de 7 pontos abaixo da marca do exercício anterior. Um fator decisivo que influenciou esse declínio foi a renovação multianual da apólice integral de seguros da Petróleos Mexicanos (ela foi realizada em 2009 e não teve emissão em 2010), enquanto o seguro de Incêndio sofreu um decréscimo em prêmios de 30,4% no México. O maior mercado em 2010 foi o Brasil, com uma quota de 25%, se-guido pelo México, com 22%, enquanto que no ano anterior a ordem foi inversa. O Chile vem em seguida a ambos, com uma quota de 14% e um crescimento de 21,1%.

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informe

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

Os aspectos a seguir resumem os principais acon-tecimentos nos mercados seguradores da região:

• Na Argentina os seguros Não Vida volta-ram a ser o principal propulsor do mer-cado, com destaque para o crescimento dos ramos de Automóveis e Riscos do Trabalho.

• O seguro de Vida VGBL (Vida Gerador de Benefício Livre) se confirma como uma das principais forças do mercado brasileiro. Este produto, vendido principalmente através do canal bancário, continua se beneficiando com os incentivos fiscais que atraíram recursos procedentes de fundos de investimento e de pensão.

• O mercado segurador chileno registrou um crescimento de 18,2% (-1,7% em 2009). Esta evolução se deve à maior ativi-dade que tiveram tanto os seguros de Vida como de Não Vida. O aumento do ramo de Vida tem origem fundamentalmente no aumento das vendas dos seguros de Renda Vitalícia. Em Não Vida, Automóveis se deu bem graças ao forte aumento da frota de veículos, e Terremoto também, graças à influência dos aumentos de tarifa dos resseguradores estrangeiros.

• Na Colômbia, os maiores crescimentos ficaram para os ramos Não Vida, entre os quais cabe destacar Automóveis e Respon-sabilidade Civil.

• No México houve um leve crescimento dos prêmios (3,9%) devido ao efeito da renovação multianual da apólice inte-gral de seguros da Petróleos Mexicanos (PEMEX), realizada em fevereiro de 2009 e renovada em 2011.

• O desenvolvimento do mercado segurador de Porto Rico foi impulsionado mais um ano pelo seguro de Saúde, mais especifica-mente pelo programa Medicare.

• A receita gerada pelos prêmios no merca-do segurador da Venezuela registrou um aumento nominal de 22,7% e um declínio real de 3,5%, devido à elevada inflação no país. Os ramos de Saúde e Automóveis, que representam 80% do total do setor, cresceram 16,0% e 20,8%, respectivamen-te. O desenvolvimento do ramo de Au-tomóveis é resposta aos ajustes realizados nos prêmios e capitais segurados, e o forte aumento em Saúde se deve principalmen-te à maior contratação de apólices privadas por parte do Estado. Os movimentos empresariais realiza-

dos em 2010 não foram numerosos, mas foram significativos:

A Superintendência de Seguros Pri-vados do Brasil aprovou a venda de uma participação de 60% que a SulAmérica tinha na BrasilVeículos para o Banco do Brasil.

A MAPFRE e o Banco do Brasil che-garam a um pleno acordo para ativar sua aliança estratégica no negócio segurador. A aliança se concretizou com a criação de duas holdings (a BB-MAPFRE, para o negócio de Vida e Agrário, e a MAPFRE-BB, para os negócios de Autos e Seguros Gerais). A elas foram integradas as entidades filiais segura-doras de ambos os grupos no Brasil. Gra-ças principalmente a este acordo, o Grupo MAPFRE subiu uma posição no ranking total dos maiores grupos seguradores da

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65G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

4 “Resultados preliminares das economias da América Latina e Caribe para 2010”.5 Terremotos do Chile (fevereiro), Baixa Califórnia (México, abril) e Equador (agosto). Erupção do vulcão Pacaya na Guatemala (maio).6 Furacões Alex (junho) e Karl (setembro) no México, tempestade tropical Ágatha na Guatemala, Honduras e El Salvador (maio), fortes chuvas e inundações no Peru (janeiro) e Brasil (abril).7 Não há informações disponíveis sobre os resultados da República Dominicana e de Porto Rico.

América Latina e se situa em segundo lugar, atrás do Bradesco.

Em novembro de 2010, a norte-ameri-cana MetLife concluiu a compra da Ameri-can Life Insurance Company (ALICO), filial de seguros de vida da American International Group (AIG). A ALICO tinha filiais em vários países da América Latina. Esta aquisi-ção não modificou a posição da Metlife no ranking dos grupos seguradores da região, mas aumentou em sete décimos sua partici-pação no mercado. Um dos sucessos de maior envergadura no

ano de 2010 foi o violento terremoto e mare-moto que aconteceu no início do ano no Chile, o sexto em intensidade registrado em escala mundial e o segundo na história do Chile. A totalidade de sinistros declarados à indústria foi de 225.000, dos quais 80% foram por danos a residências. Transcorridos dez meses desde o terremoto e posterior maremoto, a indús-tria seguradora havia liquidado quase todos os sinistros de residências (99%), ficando pendente uma parte dos casos de indústrias e empresas. Calcula-se que o custo deste sinistro se apro-ximará dos 30 bilhões de dólares, dos quais a indústria seguradora assumirá 8,5 bilhões, assim que se liquidem todos os sinistros de empresas, que são mais complexos devido ao cálculo de perdas por paralisação.

Segundo uma publicação da CEPAL4, o ano de 2010 foi particularmente severo para a região em termos de eventos naturais: foram registra-dos 98 grandes desastres, que produziram mais de 223.000 mortes e afetaram quase 14 mi-lhões de pessoas. Calcula-se que o custo desses

eventos tenha ultrapassado os 49,4 bilhões de dólares. Embora os desastres de tipo geofísico (terremotos, tsunamis e erupções vulcânicas)5 tenham causado o maior número de mortes e gerem custos econômicos elevados, o maior número de eventos foi de origem climática: tempestades tropicais e inundações de grande magnitude em vastos territórios, desde o Méxi-co até a América do Sul6.

Apesar de um leve declínio do resultado financeiro em alguns países, os resultados foram muito positivos. O resultado técnico melhorou em 13 dos 18 mercados analisados7, graças ao declínio generalizado da taxa de sinistralidade.

No primeiro semestre de 2011, o setor segurador da América Latina teve receita em volume de prêmios no valor de 50,414 bilhões de euros, o que representa um crescimento nomi-nal de 18,1%, comparado ao mesmo período do

2010 FOI UM ANO MUITO SEVERO PARA A REGIÃO EM TERMOS DE EVENTOS NATURAIS: HOUVE 98 GRANDES DESASTRES, QUE CAUSARAM MAIS DE 223.000 MORTES E AFETARAM QUASE 14 MILHÕES DE PESSOAS. SEU CUSTO ULTRAPASSARÁ 49,4 BILHÕES DE DÓLARES

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informe

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

PRÊMIOS POR RAMO. PRIMEIRO SEMESTRE DE 2011

RAMO Junho de 2010 Junho de 2011 %∆

TOTAL 42.696 50.414 18,1

Vida 16.479 19.244 16,8

Não Vida 26.217 31.169 18,9

Acidentes Pessoais 1.315 1.668 26,9

Automóveis 8.733 9.685 10,9

Incêndios e/ou Linhas associadas 2.234 2.618 17,2

Outros danos 4.577 6.592 44,0

Saúde 5.587 6.093 9,1

Transportes 2.512 2.988 18,9

Acidentes de Trabalho 1.260 1.525 21,1

Prêmios em milhões de euros. ano anterior. Os ramos Não Vida cresceram dois pontos a mais que o seguro de Vida, chegando a 19%. Acidentes (tanto pessoais quanto de riscos do trabalho) e Trans-portes continuam apresen-tando uma taxa de aumento superior à dos demais ramos. Automóveis e Saúde, os de maior volume, cresceram cerca de 10%.

Com relação aos últimos movimentos empresariais, cabe mencionar:

• A Zurich e o Grupo Santander anun-ciaram no mês de fevereiro a assinatura de um acordo de intenções para realizar uma aliança estratégica de distribuição em bancasseguros na América Latina durante os próximos 25 anos. Como parte deste acordo, o grupo suíço adquirirá uma parti-cipação de 51% nas operações de Pensões, Seguros de Vida e Seguros Gerais do San-tander no Brasil, México, Chile, Argentina e Uruguai, e ficará encarregado da gestão das companhias. O banco espanhol man-terá os 49% restantes e assinará um acordo de distribuição para a venda de produtos de seguro em cada país.

• O ING vendeu seu negócio de Pensões e seguros de Vida ao Grupo de Inversiones

Suramericana (Grupo Sura), da Colôm-bia. A venda não inclui sua participação de 36% na seguradora brasileira SulAmérica.

• Como parte de sua estratégia de expansão mundial e ampliação de sua presença na América Latina, o grupo alemão Talanx anunciou no mês de abril a aquisição das unidades argentina e uruguaia do L’Union de Paris e, em julho, a compra da compa-nhia mexicana de seguros Metropolitana.

Por fim, os comentários sobre as mudanças legislativas mais relevantes que ocorreram nos dois exercícios analisados:

• Em fevereiro de 2011, a Superintendência de Seguros da Argentina emitiu a Reso-lução nº 35.615, que modifica profunda-mente o cenário regulatório do resseguro.

O GRUPO MAPFRE ESCALOU UMA POSIÇÃO NO RANKING DOS MAIORES GRUPOS SEGURADORES DA REGIÃO DEVIDO PRINCIPALMENTE AO ACORDO COM O BANCO DO BRASIL PARA ACIONAR SUA ALIANÇA ESTRATÉGICA NO NEGÓCIO SEGURADOR

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67G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

Esta resolução entrou em vigor em 1º de setembro de 2011. A partir dessa data, as companhias seguradoras argentinas so-mente poderão celebrar contratos de res-seguros com companhias resseguradoras argentinas, ou seja, com empresas domi-ciliadas no país, ou sucursais argentinas de companhias estrangeiras, com um capital local de pelo menos 20 milhões de pesos (aproximadamente USD 5.000.000). As resseguradoras estrangeiras que não esta-belecerem unidades na Argentina somente poderão assumir riscos de seguradoras ar-gentinas quando, devido à magnitude e às características dos riscos cedidos, eles não possam ser cobertos no mercado ressegu-rador nacional.

• O Conselho Nacional de Seguros Priva-dos (CNSP) aprovou em dezembro de 2011 a normativa para a regulação dos microsseguros no Brasil. De acordo com a resolução, a venda de microsseguros pode ser realizada por meios telemáticos,

tais como telefones celulares e Internet. Também foi estabelecido o limite máximo da soma segurada, a qual servirá como um parâmetro para que um produto em parti-cular possa ser considerado microsseguro.

• Na Colômbia foi publicado o Decreto 2281 de 2010, que regula a figura e as funções do Defensor do Consumidor Fi-nanceiro. Por outro lado, o Decreto 2555, do mesmo ano, reúne e compila toda a normativa relativa a seguros, entidades seguradoras, ARP e seguros especiais, que até então estava pulverizada em vários decretos.

• Em junho de 2011 foi aprovado em se-gundo debate o projeto de Lei Reguladora do Contrato de Seguros na Costa Rica.

• Em outubro de 2011 foi aprovada a Lei orgânica de Regulação e Controle do Po-der do Mercado, também denominada Lei “Antimonopólio” no Equador. Esta norma tem como objeto corrigir, proibir, regular e sancionar quatro infrações básicas: abuso de operadores econômicos com poder de mercado, acordos contrários à compe-tência e práticas restritivas, concentração econômica e práticas desleais. A norma obriga os bancos a se desvincularem, no prazo de um ano, de corretoras de ações, seguradoras, administradoras de fundos e fundos fiduciários (trust funds).

• Em abril de 2010, foi aprovado o Regula-mento da Lei-Quadro de Asseguramento Universal em Saúde, com o fim de es-tabelecer as disposições que permitam a implantação do asseguramento universal em saúde no Peru.

• A nova Lei da Atividade Seguradora da Venezuela entrou em vigor no dia 29 de julho de 2010. Esta lei, que derroga a Lei de Seguros e Resseguros vigente desde 1994, estabelece o novo quadro normativo para o controle, a vigilância, a supervisão, a autorização, a regulação e o funciona-mento da atividade seguradora.

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observatório de sinistros

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

O último voo deO último voo de‘Miguel de Unamuno’

GERÊNCIA DE RISCOS E SEGUROS

O avião que operava o voo da Iberia IBE6463 de Madri

a Quito saiu da pista no momento da aterrissagem, sem

deixar mortos ou vítimas gravemente feridas. O pior dano

foi o causado ao avião, que foi declarado como “perda total

construtiva”, já que o custo de sua reparação superou 75%

de seu valor.

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69G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

O ACIDENTE DO AEROPORTO DE QUITO NÃO DEIXOU VÍTIMAS, MAS O AVIÃO FOI DECLARADO COMO “PERDA TOTAL CONSTRUTIVA”, POIS SUA REPARAÇÃO SERIA MUITO CARA

Quito (Equador), 9 de novembro de 2007, hora local: 17:06 (19:06 no horário brasileiro). Um Air-

bus 340-600 da companhia Ibe-ria, que cobria a rota Madri-Qui-to-Guayaquil-Madri com 335 passageiros e 14 tripulantes (três pilotos, um comissário de bordo e 10 tripulantes de cabine) a bor-do, saiu da pista 35 ao pousar no aeroporto Mariscal Antonio José de Sucre da capital equatoriana.

O avião de matrícula EC-JOH, batizado com o nome de Miguel de Unamuno, foi parar num espaço de proteção da cabe-ceira norte, a poucos metros de uma zona densamente povoada, após percorrer os 3.120 metros de distância disponíveis para a ater-rissagem, e ficou preso no barro.

A Iberia informou um dia de-pois do sinistro que, apesar de um de seus aviões ter saído da pista no aeroporto de Quito, manteria seus voos diários para o Equador,

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observatório de sinistros

G e r ê n c i a d e R i s c o s e S e g u r o s • n º 1 1 2 - 2 0 1 2

O AIRBUS ATERRISSOU EM UMA VELOCIDADE VERTICAL DE 19 PÉS POR SEGUNDO E COM UMA ACELERAÇÃO VERTICAL DE 3,1 G, UMA ATERRISSAGEM EXTREMAMENTE BRUSCA PARA UM AVIÃO DESSE TAMANHO

operando no aeroporto de Guaya-quil nos dias seguintes. Em 24 de novembro, os voos para o Equa-dor recuperaram o horário e as operações habituais, retomando a rota original.

Felizmente, no acidente não houve mortos nem feridos graves. Somente alguns passageiros tive-ram de ser atendidos por contu-sões ou mal-estar geral, de acordo com a nota emitida pela compa-nhia aérea espanhola.

Quem não teve tanta sorte foi o avião, pois, depois de se-rem avaliadas diversas opções de conserto, foi declarado como “perda total construtiva”. Seria impossível restaurá-lo, apesar do empenho mostrado pelos técnicos. Alguns meses depois do acidente, o avião começou a ser desmontado para se aprovei-tar as partes que pudessem ser

úteis. Era, portanto, o último voo do Miguel de Unamuno.

Considera-se perda total cons-trutiva quando o custo e os gastos de reparação do objeto são maio-res que o de seu valor assegurado, ou quando a perda total apareça como inevitável. Neste caso, o conserto ultrapassava 75% do va-lor da aeronave.

RELATÓRIOS INICIAIS

Até chegar a este ponto hou-ve um longo percurso. Depois do acidente, uma equipe de ins-peção da empresa Airbus viajou a Quito e voltou a Toulouse no final de janeiro de 2008, emi-tindo o relatório de danos na primeira semana de fevereiro. Um mês depois, a Iberia enviou uma cópia da avaliação inicial da reparação do Airbus.

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DEPOIS DE SAIR DA PISTA, O AVIÃO CAIU EM UM BARRANCO PROFUNDO ONDE O TREM DE POUSO ESQUERDO SE ROMPEU, PARANDO 40 METROS DEPOIS

O consórcio aeronáutico eu-ropeu calculou um orçamento de 126 milhões de dólares para que o avião voltasse a operar. O cálculo do custo da reparação se baseava principalmente nas inspeções físicas e geométricas e em suas análises de esforços e tensões.

O projeto de reparação con-templava a substituição da asa esquerda, que foi notoriamente prejudicada. O método alternati-vo de restaurar a asa em vez de substitui-la teria levado a uma redução substancial dos custos, mas a Airbus o descartou ao considerá-lo impossível ou não recomendável.

CIRCUNSTÂNCIAS DO ACIDENTE

O avião EC-JOH aterrissou na pista 35 com tempo úmido. A aeronave tocou a terra a uma ve-locidade vertical de 19 pés por se-gundo e com uma aceleração ver-tical de 3,1 g, uma aterrissagem extremamente brusca para um avião desse tamanho, de acordo com os especialistas.

O efeito desta manobra tão brusca foi a quebra da ligação (junções articuladas) dos trens de pouso principais (esquerdo e di-reito), o que fez com que as ro-das dos eixos dianteiros batessem no chão com extrema violência. A força foi tanta que estourou os quatro pneus dianteiros.

Como consequência desta aterrissagem violenta, também foram danificados os sensores ar/terra, situados nas asas esquerda e direita, de modo que os reverso-

res de empuxo dos motores não entraram em funcionamento e permaneceram em modo de voo, e não de terra.

O avião saiu da pista 35 a uma velocidade de 158 km/h sobre uma superfície macia de grama, atravessando o sistema de antenas do localizador do ILS. Depois de passar pelo sistema de controle, a aeronave caiu em um barranco profundo onde o trem de pouso esquerdo foi rompido (esta foi a causa da quebra, não a base de concreto do ILS). O avião parou 40 metros adiante, freado pelas gôndolas dos motores 1 e 2, a aproximadamente 200 metros da cabeceira da pista 35.

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observatório de sinistros

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A APROXIMAÇÃO DE UM AVIÃO COMO O AIRBUS A340 A QUITO NÃO É NADA SIMPLES DEVIDO À SUA ALTITUDE E COMBINADO COM O TERRENO MONTANHOSO AO REDOR E O MAL TEMPO COSTUMEIRO DA REGIÃO

Os bombeiros chegaram ime-diatamente e, depois de algum tempo, os passageiros foram re-tirados pela porta central direita, colocando-se a rampa esquerda por cima da asa. Além disso, como medida de precaução, os bombei-ros pulverizaram com espuma a zona da asa esquerda.

Os especialistas consideram que a aproximação a Quito não é nada simples devido, em gran-de parte, à elevação do aeroporto (mais de 3.000 metros). Além dis-so, a menor densidade do ar a essa altitude requer uma velocidade de aproximação maior, o que, com-binado com o terreno montanho-so ao redor ou o mal tempo cos-tumeiro de lá (no momento do acidente a pista estava molhada pela chuva), faz com que a entra-da de um avião de quase 300 to-

neladas como o Airbus A340 seja mais complicada.

CAUSAS DO SINISTRO

Depois de analisar o acidente, a Comissão de Investigação do Equador, com a ajuda da Airbus e de outras instituições, confir-mou que o avião aterrissou de modo extremamente violento, a uma velocidade de descida mui-to elevada, de quase 6 metros por segundo. Para se ter uma ideia, a velocidade de uma aterrissagem normal se situa entre 1 e 2 metros por segundo.

Este feito produziu danos nas rodas, nos trens de pouso e nos sensores de voo/terra, de modo que o avião não conseguiu mudar para o modo terra. Como conse-quência, os reversores de empu-xo e outros mecanismos de di-minuição de velocidade do avião se atrasaram ou nem chegaram a funcionar.

Em um aparelho grande e pesado como o A340-600, uma aterrissagem violenta e uma velo-cidade de descida elevada causam mais danos que em um avião me-nor, como um A320.

As linhas aéreas normalmente controlam as tensões de aterris-sagem e as velocidades de desci-da como parte de suas práticas de segurança para controlar os dados de voo.

A tripulação de voo do avião EC-JOH era formada por em-pregados da Iberia, experientes, com a qualificação necessária e com todos os atestados médicos em dia.

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AS PRINCIPAIS ÁREAS DANIFICADAS DO AVIÃO ACIDENTADO FORAM OS TRENS DE POUSO, OS MOTORES 1 E 2, A FUSELAGEM E A ASA ESQUERDA, QUE FICOU ESPECIALMENTE PREJUDICADA

ÁREAS DANIFICADAS

As principais áreas danificadas estão resumidas a seguir:

• Todos os trens de pouso, rodas, pneus, freios, eixos e conexões foram sub-metidos a um excesso de tensão.

• Houve danos generali-zados nos motores e nas gôndolas de número 1 e 2.

• Os suportes dos moto-res 1 e 2 ficaram 20 graus retorcidos.

• A fuselagem estava en-rugada em vários pontos

devido à aterrissagem brusca e havia perfura-ções e rasgos provocados pelos restos e pelo trem de pouso esquerdo quando se desprendeu.

• Além disso, durante as inspeções da Airbus, foram encontrados den-tro da asa esquerda mais danos internos do que o esperado, localizados fora do ponto de junção do trem de pouso esquerdo, principalmente nos refor-ços número 5 da asa.

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observatório de sinistros

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• As análises de carga que a Airbus realizou em Tou-louse revelaram a situação de tensões no avião, mas só as calculadas para a ater-rissagem violenta, já que o consórcio aeronáutico confirmou que não seria possível calcular as tensões produzidas pelo arrastar da asa esquerda quando as gôndolas se chocaram com o solo.

• Também foi determinado que a zona de fuselagem situada atrás do trem de pouso dianteiro ultrapas-sou o limite elástico, de modo que seria necessária a troca de painéis super-ficiais nessa área, assim como seria necessário realizar diversas substitui-ções de elementos estru-turais, apesar de que ainda nenhum dano tivesse sido detectado.

Para esclarecer, a “tensão má-xima” é a tensão máxima espe-rada na vida normal do avião. Segundo a Airbus, se espera que ela seja alcançada só uma vez. Não deveriam acontecer defor-mações permanentes prejudi-ciais devido a tensões iguais ou inferiores à tensão máxima.

Além disso, uma vez que uma área tenha alcançado a ten-são máxima, é preciso reavaliar a fadiga dessa área durante o resto da vida do avião. Por outro lado, o limite elástico equivale a 1,5 vezes a tensão máxima. Acima deste nível pode ocorrer falha. Este é o coeficiente de segurança sobre a tensão máxima.

A Airbus estava preocupada com a possibilidade de que as tensões do arrastar da raiz da asa não pudessem ser avaliadas de-pois que o trem de pouso fosse arrancado e a asa arrastada sobre as gôndolas 1 e 2. Dado que a ae-ronave se deteve em cerca de 40

metros a partir de uma veloci-dade ligeiramente inferior a 158 km/h, a Airbus acreditava que foram geradas grandes forças, corroboradas pelas deformações observadas nos montantes.

PROPOSTA DE CONSERTO

Em linhas gerais, a empre-sa aeroespacial propôs para a fuselagem a substituição de 17 painéis superficiais por seus correspondentes quadros e lon-garinas, assim como a estrutura da fuselagem ao redor da estação 26, incluindo o quadro corres-pondente (a área situada atrás da porta dianteira de entrada de passageiros). Também contem-plava a troca da estrutura secun-dária danificada, incluindo a ca-pota do ventre e a estrutura de fixação.

Além disso, foram propostas inspeções com testes não des-

O avião acidentado

O avião EC-JOH era um Airbus A-340/600 de apenas 18 meses de idade. A Iberia o recebeu do fabricante em 23 de março de 2006, e ele realizou seu primeiro voo comercial no dia 27 do mesmo mês.

Sua tripulação, como confirmou a companhia aérea espanhola depois do sinistro, contava com grande experiência na companhia. O comandante, em particular, comple-tava nessa data 27 anos como piloto da Iberia, e os dois segundos pilotos, 10 e oito anos, respectivamente.

Detalhes do avião:Fabricante: AirbusTipo/modelo: A340-642MSN: 0731Proprietário: Arrendadora Aeronáutica S.A.Motores: RR Trent 556-61Entrega da fábrica: Março de 2006Tempo/ciclos totais: 9.895 horas / 965 ciclos

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A AIRBUS CONSIDEROU IMPOSSÍVEL OU NÃO RECOMENDÁVEL A OPÇÃO DE CONSERTAR A ASA ESQUERDA EM VEZ DE SUBSTITUI-LA, O QUE TERIA SIGNIFICADO UM CORTE SUBSTANCIAL DE GASTOS

trutivos em áreas que excede-ram a tensão máxima, mas não o limite elástico. Esta tensão foi alcançada em diferentes lugares ao longo de toda a fuselagem e requeria um futuro programa de inspeções depois das reparações, que não poderia ser definido sem estudos de engenharia (fei-to a partir de elementos finitos).

Por outro lado, os motores 3 e 4 teriam de ser enviados ao fabricante para revisão ou repa-ração, não existindo outra alter-nativa. O modelo de avião que sofreu o acidente era muito re-cente e não existiam substitutos no mercado de segunda mão, de modo que seria necessário adquiri-los dos fabricantes ori-ginais.

O "conserto" exigiria, tam-bém, a substituição de todos os trens de pouso, rodas, freios e componentes relacionados a eles. Os bordos de ataque te-

riam de ser substituídos, assim como a capota dos ventiladores e os reversores de empuxo das gôndolas situadas à esquerda. E seriam necessárias muitas peças menores.

ASA ESQUERDA

Porém, o aspecto mais im-portante da reparação - e o mais caro - seria, sem dúvida, a subs-tituição da asa esquerda. A Air-bus fez advertências quanto a alguns riscos durante este pro-cesso: por um lado, nunca ti-nha sido trocada uma asa fora da fábrica em nenhum modelo de Airbus; por outro, os terremotos na zona de Quito poderiam in-terferir no alinhamento durante a reparação, quando seria neces-sário manter o avião seguro e sem movimento algum.

A Airbus também admitiu não ser capaz de quantificar com

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precisão as tensões de arraste na união da raiz da asa esquerda com a fuselagem, mas suspeitava que poderiam ser elevadas, de-vido aos danos internos da raiz da asa, além das fortes cargas aplicadas durante a ação de fre-nagem costa abaixo das gôndo-las 1 e 2 nos 40 metros seguintes ao desprendimento do trem de pouso esquerdo.

Também era motivo de pre-ocupação para a Airbus e para a Iberia que em comprovações e testes posteriores poderiam ser descobertos mais danos, e se fixou um prazo de seis a oito

• 9 de julho de 2006. Um Airbus A310 caiu com 202 passageiros a bordo ao aterrissar no aeroporto de Irkutsk, no leste da Sibéria (Rússia). 140 pessoas morreram. O avião saiu da pista ao pousar, se chocando primeiro contra um muro de concreto e depois com várias construções, como consequência de um colapso no sistema hidráulico de frenagem.

• 17 de janeiro de 2008. Um Boeing 777 da British Airways sofreu um acidente ao aterrissar no aeroporto de Londres-Heathrow, vindo de Pequim. Felizmente, a maioria dos passageiros saiu ilesa e não houve vítimas fatais. O gelo acumulado nos dutos de combus-tível provocou a perda de potência nos motores.

• 30 de maio de 2008. Um Airbus A320 com 124 passageiros a bordo mais seis tripulantes saiu da pista e deslizou sobre uma estrada ao tentar aterrissar no aeroporto Toncontin de Tegucigalpa

(Honduras). Cinco pessoas morreram e 65 ficaram feridas.

• 23 de março de 2009. Um avião McDonnell Douglas MD-11 da FedEx caiu no aeroporto internacional de Narita, em Tóquio (Japão), no momento da aterrissagem. Uma forte rajada de vento atingiu a aeronave e o fez saltar na pista. A asa fez contato com o solo e foi produzido um incêndio voraz.

• 24 de julho de 2009. 18 pessoas morreram e outras 40 ficaram feridas no acidente de um avião Ilyushin Il-62M da companhia aérea iraniana Aria, com 153 pessoas a bordo, quando tentava aterrissar em Mashad (nordeste do Irã). O aparelho saiu da pista e colidiu com um muro.

• 4 de agosto de 2009. Um avião ATR 72 212 da Bangkok Airways se prepara-va para aterrissar no aeroporto de Koh Samui (Tailândia), em condições mete-orológicas relativamente ruins quando

Outras aterrissagens violentas

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A AIRBUS ORÇOU A VOLTA ÀS OPERAÇÕES DO AVIÃO QUE SOFREU O ACIDENTE EM 126 MILHÕES DE DÓLARES, EMBORA TENHA FINALMENTE SE DECIDIDO A NÃO CONSERTÁ-LO

meses para os trabalhos preli-minares e de oito meses sobre o terreno.

Além disso, devido à produ-ção de tensões superiores à ten-são máxima, o avião necessitaria de um programa independente de inspeção desenhado para as áreas em que a substituição da estrutura não formasse parte da reparação.

DECISÃO FINAL

Em conjunto, o orçamento da Airbus para a volta às ope-rações do EC-JOH incluía: en-genharia europeia; mão de obra sobre o terreno; bilhetes aére-os e hospedagens; materiais (a parte mais custosa, prevista em 95,5 milhões de dólares); ferra-mentas; preparação do galpão e do terreno, e voos de trans-porte. No total, 126 milhões de dólares.

A recuperação de algumas peças danificadas (flaps e barba-tanas de ranhura) ou de outros componentes (painéis de fuse-lagem, gôndolas, motores 1 e 2) poderia significar certa dimi-

se desviou da pista e acabou se chocando contra edifícios próximos à torre de controle.

• 11 de maio de 2010. Um Airbus A330-200 de Afriqiyah Airways vindo de Johannesburgo caiu ao tentar aterrissar no aeroporto de Tripoli (Líbia), causando a morte de 103 pessoas.

• 22 de maio de 2010. Um Boeing 737 da companhia Air India Express caiu ao aterrissar no aeroporto de Mangalore-Bajpe (Índia). 158 dos 166 ocupantes da aeronave morreram. Depois de passar da zona de segurança, o avião caiu em um barranco, se incendiando.

• 16 de agosto de 2010. Um Boeing 737-700 da companhia Aires caiu no aeroporto internacional Gustavo Rojas Pinilla em San Andrés Islas (Colômbia), partindo-se em três pedaços.

nuição do orçamento, porém a maior economia residia na repa-ração da asa esquerda em vez de sua substituição por outra nova.

Contudo, a Airbus nunca foi favorável a esta opção devido às inquietudes antes mostradas (risco de encontrar novos da-nos nas inspeções e análises de tensões detalhadas, prazos pre-vistos, futuras necessidades de inspeção, risco de realizar um trabalho de tal dimensão...). Além disso, a companhia Iberia nunca havia aceitado qualquer desvio das medidas e propostas da Airbus.

Finalmente, o avião não pôde ser reparado, principalmente devido à sua situação em um aterro, no vazio, sem terra fir-me, o que tornava impossível montar uma estrutura adequada para realizar a reparação. Des-ta forma, o avião foi declarado como “perda total construtiva”, que é aquela em que o objeto as-segurado é abandonado quando sua perda total real pareça inevi-tável, ou quando evitar sua per-da implicaria gastos maiores do que seu próprio valor.

Neste caso, a reparação ultra-passava 75% do valor da aerona-ve. Tampouco havia garantias e a Iberia nunca tinha aceitado a opção. E, como estava previsto, a seguradora pagou 100% ao se-gurado. Era o fim da viagem do Miguel de Unamuno.

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Situación de la gestión de riesgos corporativos em España 2011

Instituto de Auditores Internos da Espanha: Control Solutions InternationalMadri, 2012Documento eletrônico

A atual crise econômica manifestou a necessidade

de que as organizações disponham de sistemas robustos e eficientes de gestão de riscos.

Acompanhando o crescente interesse por gestão de riscos corporativos, a Control Solution International e o Instituto de Auditores Internos da Espanha quiseram sondar, pela primeira vez, o conjunto empresarial espanhol com o duplo objetivo de conhecer, por um lado, o grau de maturidade dos processos de gestão de riscos nas organizações e, por outro, qual é o papel atual e futuro das funções de auditoria interna dentro desse processo.

Participaram do estudo mais de 70 organizações. Cinquenta e nove por cento das empresas já têm um sistema implantado para gestão de seus riscos, e 28% declaram que implantarão um sistema no curto ou médio prazo, o que demonstra que cada vez mais as organizações se apercebem da importância

deste tipo de sistema e seus benefícios.

A falta de apoio por parte da alta direção e dos órgãos do governo, a ausência da materialização de eventos de risco e a percepção de que o custo econômico da implantação possa ser superior aos potenciais benefícios são as três causas principais pelas quais certas empresas não implantaram, nem têm previsão para implantar, nenhum programa para gerir seus riscos.

Como conclusão geral, podemos afirmar que, com exceção de determinados segmentos da economia, representados principalmente pelas empresas listas e financeiras, ainda há muito chão a percorrer para que a gestão de riscos na Espanha seja um processo de negócio comum.

Não obstante, o estudo demonstrou uma tendência de interesse crescente, o que parece indicar que, quando a situação econômica melhorar e os orçamentos forem reativados, a gestão de riscos se converterá em uma das principais iniciativas de transformação empresarial.

livros

Extreme events and insurance: 2011 annus horribilis

Editado por Christophe Courbage e Walter R. Stahel, Genebra:The Geneva Association, 2012.The Geneva Reports Risk and Insurance Research (“Relatórios de Genebra sobre Pesquisa de Risco e Seguro”), nº 5, (março de 2012).

O relatório descreve o impacto global das

grandes catástrofes naturais de 2011 e analisa o papel e

os mecanismos do seguro no tratamento dos riscos relacionados com os eventos climáticos e outros fenômenos extremos.

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São apresentadas as catástrofes naturais mais importantes que ocorreram no ano de 2011: o terremoto e o tsunami no Japão, as inundações na Austrália e Tailândia, os terremotos na Nova Zelândia e os tornados nos Estados Unidos.

O relatório expõe algumas “lições aprendidas” como:• Os mecanismos de gestão

de riscos, em particular os mecanismos de prevenção, proteção e compensação, assim como a consciência do risco, podem reduzir significativamente o custo humano e econômico das catástrofes naturais.

• A importância de um maior nível de colaboração entre os governos, a indústria e o setor de seguros no desenvolvimento de estratégias eficientes e eficazes para a gestão financeira dos eventos extremos.

• Iniciativas público-privadas entre governos e companhias de seguros podem aumentar a capacidade do país para acelerar a ajuda econômica e física, assim como os esforços de recuperação. Estas colaborações também podem aumentar a segurabilidade dos fenômenos extremos e fazer com que sua cobertura seja mais acessível.

• Que os dados compartilhados, como, por exemplo, a cartografia do risco de inundação, podem aumentar a consciência e a avaliação do risco de desastres e podem reduzir seus custos econômicos e humanos. Embora 2011 tenha sido

descrito como um annus horribilis, a lição mais importante que podemos extrair é que os anos vindouros podem produzir catástrofes naturais semelhantes ou piores.

ERM technology tools: a contemporary look. A report of the RIMS Technology Advisory Council and RIMS ERM Committee

Nova Iorque: RIMS, 2011Documento eletrônico, 11 pp

Este breve relatório executivo traz informações sobre o

uso das tecnologias no âmbito do Enterprise Risk Management (ERM, ou “Gestão do Risco Empresarial”), com o objetivo de compartilhar informações que possam ser relevantes e úteis para os membros do RIMS que já utilizam ou querem começar a usar ERM. Embora este relatório possa oferecer ideias aos desenvolvedores de produtos, assim como aos usuários que adotarão ou já utilizam ferramentas

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livros

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FUNDACIÓN MAPFREInstituto de Ciencias del Seguro

tecnológicas para a gestão do risco empresarial, ele não pretende apoiar de forma implícita nenhuma tecnologia em particular. Os principais pontos a serem considerados são:

• As tecnologias para ERM estão vinculadas ao nível de implantação da ERM da organização. Ao aumentar os níveis de maturidade de ERM, a necessidade e a complexidade das ferramentas para ERM aumentam.

• Poucas organizações integraram completamente a ERM, mas quase 80% das organizações interrogadas citaram de alguma maneira uma certa forma de implantação ou de utilização de um programa de ERM.

• Os gerentes de risco devem avaliar o nível de maturidade atual de ERM em suas organizações usando o Modelo de Maturidade de Risco de RIMS e outras avaliações comparativas para conhecer o grau de maturidade que querem alcançar e conhecer de que modo a tecnologia disponível pode proporcionar maior rapidez para alcançar suas metas a longo prazo.

La contabilidad de los corredores de seguros y de los planes y fondos de pensionesJAIME GÓMEZ-FERRER RIN-CÓN / ALMUDENA MARTÍ-NEZ OJEAFUNDACIÓN MAPFRE,Madri 2012ISBN: 978-84-9844-267-0Caderno 174. Preço: 25 €

Dentro do mercado segurador, além dos

estudos realizados sobre a contabilidade das entidades seguradoras, tornou-se necessária uma análise mais detalhada da contabilidade de outros dois agentes econômicos do mercado segurador - os corretores de seguros e a contabilidade dos planos e fundos de pensão. O presente livro atende esta necessidade e define e facilita a aplicação prática da referida contabilidade por meio de referências normativas, da exposição teórica dos distintos temas e do desenvolvimento de diversos exemplos práticos.

Com relação à contabilidade dos corretores de seguros, havia a dificuldade na aplicação da norma, que retratava a atuação especial do mediador, especialmente em aspectos como o regime de competência

da comissão ou a gestão de recibos do corretor de seguros. No contexto atual em que nos encontramos, falta melhorar a competitividade do corretor de seguros, sua profissionalização e o conhecimento de sua situação no mercado. A contabilidade, a avaliação das carteiras, a supervisão por meio da DEC e sua relação com a Gerência de Riscos são inevitáveis diante dos novos desafios como a próxima Diretiva de Mediação (IMD2), a crescente concorrência, o atual estreitamento de margens do negócio, o aumento do canal bancasseguros e o avanço vertiginoso das novas formas de comunicação através das redes sociais e o desenvolvimento de novas tecnologias.

Com relação à contabilidade dos planos e fundos de pensão, sabemos que nos encontramos em um momento capital no que diz respeito à sustentabilidade da proteção social na Espanha. A finalidade do livro é analisar, de um ponto de vista contábil, os planos de pensão que constituem o segundo e o terceiro pilares conforme a terminologia da Comunidade Europeia, ou seja, aqueles planos que se formam voluntariamente, com benefícios de caráter

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privado e complementares (mas em nenhum caso substitutivos) aos que, conforme o caso, se teria direito a receber do primeiro pilar (Seguridade Social).

A contabilidade perante a mudança do modelo familiar espanhol, a evolução desfavorável da pirâmide populacional que sustenta a prestação social e a cada vez maior fragilidade da economia familiar se tornam indispensáveis no estudo e desenvolvimento das novas medidas que queiram melhorar a gestão e impulsionar a poupança privada, para garantir a viabilidade do atual modelo espanhol de proteção social, invejado pelos países vizinhos à Espanha. Estudos como este ajudam a conhecer o funcionamento do sistema atual e constituem uma ferramenta útil para buscar futuras melhoras do mesmo.

Este texto não pretende

ser definitivo, nem abarcar de forma exaustiva todas as questões relativas a um tema tão amplo como a contabilidade dos corretores de seguro e os planos e fundos de pensão. Ele simplesmente aspira a facilitar, a quem possa interessar, um maior conhecimento do uso da contabilidade no contexto da Gerência da Riscos.

El seguro de Vida en Amé-rica LatinaCAMILO PIESCHACÓN VE-LASCOFUNDACIÓN MAPFRE,Madri, 2011ISBN: 978-84-9844-265-6Caderno 173. Preço: 20 €

Embora seja a primeira vez que a FUNDACIÓN

MAPFRE dedique uma monografia exclusiva ao seguro de Vida na América Latina, no ano de 1962 ela já tinha apresentado o relatório El mercado de seguros en Latinoamérica, Portugal y España e, vinte anos mais tarde, para a comemoração do V Centenário do Descobrimento da América, ela apresentou outra obra intitulada El mercado de seguros en la comunidade iberoamericana, que, de forma semelhante à anterior, trazia de forma minuciosa os aspectos de maior destaque do ponto de vista legal, operacional,

econômico e estatístico da atividade seguradora. Este livro representa, por conseguinte, o prosseguimento da vocação hispano-americana da Fundación ao ter dedicado várias monografias anteriores à análise de diferentes aspectos do nosso setor na região. Dentre muitos outros, La salud y su aseguramiento en Argentina, Chile, Colombia y España; El seguro de Crédito en Chile; Los sistemas de salud en Latinoamérica y el papel del seguro privado e Los seguros de Crédito y de Caución en Iberoamérica. A estes devem ser acrescentados os relatórios periódicos sobre El mercado segurador latinoamericano, bem como as séries relacionadas com o Ranking de grupos asseguradores en América Latina 2010.

Uma simples olhada nas estatísticas internacionais do seguro nos revela claramente a

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importância que desempenha o seguro de Vida, não somente nas economias desenvolvidas, mas também nas chamadas emergentes e nas que se encontram em vias de desenvolvimento, como é o caso de alguns países asiáticos. Infelizmente, não é assim no que diz respeito à América Latina, tal como poderá avaliar o leitor ao longo deste livro, e que levou seu autor a afirmar que “seria exagerado falar da importância do seguro de Vida ibero-americano; seria melhor usar em seu lugar a expressão ‘a não importância’ do seguro de vida na Ibero-América”.

Consciente disso, a FUNDACIÓN MAPFRE decidiu encarregar Camilo Pieschacón Velasco, autor de vários livros sobre seguros e pensão, da elaboração deste trabalho de pesquisa e estudo. Ao invés de uma publicação dedicada exclusivamente, até onde as informações homologáveis permitam, à mera descrição do seguro de Vida, suas normas legais, seus aspectos técnicos, suas instituições, suas magnitudes estáticas, seu grau de desenvolvimento, ou seja, uma espécie de compilação histórica, normativa e estatística, o autor optou por um trabalho mais amplo, analítico e abrangente sobre a importância social e econômica do seguro de Vida, sobre as características essenciais deste mercado e os

fatores que incidem em sua demanda, aplicando os conceitos desenvolvidos nos dois primeiros capítulos na análise da situação geral do seguro de Vida na América Latina e, em particular e individualmente, aos seis principais mercados latino-americanos de seguros de vida propriamente ditos, a saber: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Peru.

O autor considera a justificativa deste enfoque conveniente a partir da base de que uma publicação sobre o seguro de Vida da FUNDACIÓN MAPFRE, com presença em quase todos os países da região, deve contribuir de modo decisivo para divulgar ainda mais, entre os responsáveis políticos e círculos de interessados, a necessidade de despertar e fomentar uma maior consciência individual e coletiva sobre a importância do seguro de Vida, tendo-se considerado, por outro lado, que no contexto latino-americano, em particular, e no espanhol, em geral, são muito escassas as publicações de autores falantes de espanhol sobre este ramo de seguros que sejam traduções de autores estrangeiros.

Gerencia de Riesgos sos-tenibles y responsabilidad social empresarial en la entidade aseguradoraMª PILAR DOPAZO FRAGUÍO E Mª ISABEL CANDELARIO MACÍASFUNDACIÓN MAPFRE,Madri, 2011ISBN: 978-84-9844-264-9Caderno 172. Preço: 20 €

Este trabalho, que ganhou o II Prêmio Internacional

de Pesquisa Julio Sáez 2011, outorgado pela Associação Espanhola de Gerência de Riscos e Seguros (AGERS), traz um enfoque original à Responsabilidade Corporativa como risco de sustentabilidade e mostra uma visão - interpretativa e facilitadora - dos principais aspectos a serem considerados neste contexto. Seu objetivo é ajudar a Boa Governança Corporativa e a Gerência de

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Riscos das organizações e, mais especificamente, das entidades seguradoras, a enfrentar com êxito os novos riscos estratégicos vinculados à Responsabilidade Social Empresarial (RSE/RSC).

A obra apresenta e propõe um mapa estratégico responsável inovador em termos de governo corporativo e gestão do risco empresarial, apropriado para a reconfiguração e otimização dos atuais modelos de governança corporativa e sistemas de Gerência de Risco das entidades seguradoras (setor segurador). Deste modo, torna-se uma contribuição útil para os pesquisadores, profissionais, gestores e empresas. Além disso, os enfoques e conteúdos deste trabalho podem ser válidos e aplicáveis - em caráter geral - a todo tipo de organização, empresa ou operador, financeiro ou não financeiro, que esteja buscando uma integração adequada da Responsabilidade Social (RSE/RSC) em seu (próprio) sistema de governança empresarial. Neste sentido, eles apresentam os efeitos positivos e as vantagens que acompanham este procedimento jurídico e estratégico.

A obra tem grande atualidade, uma vez que oferece, de uma perspectiva técnica e jurídica, uma visão integrada dos novos modelos de boa governança e gerência do risco corporativo vinculados à Responsabilidade Social (RSE/RSC), conforme o cenário europeu de Solvência II

e a normativa básica e específica vigente no ordenamento jurídico espanhol e suas estimativas (objeto de referência e comentário neste trabalho).

Deste modo, as autoras, com este livro, pretendem dar significado ao valor estratégico dos riscos qualificados como riscos sustentáveis, interpretando-os como aqueles riscos que estão especialmente conectados e necessariamente vinculados à governança corporativa de uma companhia/entidade e, portanto, ao contexto da responsabilidade jurídica, social e ambiental assumido pela mesma (em cada caso específico), devendo considerar todos os seus grupos de interesse (stakeholders). De forma específica, são objeto de estudo os riscos de reputação, os riscos da concorrência, os riscos da governança corporativa, os riscos ambientais e os riscos derivados - direta ou indiretamente - de atividades ilícitas ou contrárias ao Direito.

Investigaciones en segu-ros y gestión del riesgo: Riesgo 2011JOSÉ MANUEL FERIA / ENRI-QUE J. JIMÉNEZ / MONTSER-RAT GUILLÉNFUNDACIÓN MAPFRE,Madri, 2011ISBN: 978-84-9844-263-2Caderno 171. Preço: 30 €

O âmbito acadêmico - não alheio à realidade

socioeconômica - contribuiu, com suas pesquisas, para o aperfeiçoamento dos modelos quantitativos de medição, gestão e cobertura do risco. Prova disso é a presente publicação. A Risk 2011 apresenta o testemunho das reuniões anteriores celebradas em Barcelona (2005), Cantábria (2007) e Madri (2009). Este fórum de discussão se converteu em uma referência científica para pesquisadores e profissionais das Ciências Atuariais e Financeiras, como revela o grande número de trabalhos recebidos.

Mais especificamente, os trabalhos foram agrupados em quatro grandes blocos: Metodologia, Seguros e Resseguros, Gestão de Riscos e Proteção Social e Dependência. Esta classificação pretende dar continuidade àquela utilizada em edições anteriores, embora algumas contribuições possam, por sua temática, ter sido incluídas em outra categoria.

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NOTÍCIAS

A cidade de Dublin acolheu, no mês de fevereiro, a se-

gunda reunião do Comitê AEN/CTN GET 13 Gestão de Riscos, do qual formam parte 40 países membros do grupo de trabalho internacional, além de cinco órgãos observadores (inclusive a UNE-CE - Nações Unidas - e a Federação Europeia de Asso-ciações de Gestores de Riscos - FERMA).

Na reunião foram debatidas a maioria das observações levanta-das na reunião anterior, realizada em setembro de 2011 em Lon-dres. O passo seguinte firmado na capital irlandesa foi a criação de um comitê de projeto que unificará os acordos atingidos e preparará as reuniões seguintes para prosseguimento rumo ao futuro ISO 31004. Estas reuni-ões serão celebradas na segunda semana de setembro de 2012 em Sidney (Austrália) e na primeira semana de 2013 em Washington (Estados Unidos).

O Comitê AEN/CTN GET 13 Gestão de Riscos tem como finalidade o estabelecimento de diretrizes para a normalização e implantação da correta gestão do risco nas organizações empresa-riais. Para isso, ele desenvolveu as seguintes normas, já publica-das pela AENOR:

AGERS PARTICIPA DA ELABORAÇÃO DA NOVA ISO 31004A Associação Espanhola de Gerência de Riscos e Seguros teve participação ativa na reunião internacional como delegação espanhola do Comitê AEN/CTN GET 13 Gestão de Riscos.

UNE-ISO 31000:2010. Gestão do Risco. Princípios e diretrizes.

UNE-ISO 31010:2011. Gestão do Risco. Técnicas de avaliação do risco.

UNE-ISO GUIA 73:2010 IN. Gestão do Risco - Vocabulário.

PRÊMIOS E CURSOSO advogado Gonzalo Itur-

mendi Morales, Secretário Geral da AGERS, recebeu no dia 15 de fevereiro na cidade de Valên-cia o prêmio Forinvest por sua trajetória profissional no setor segurador.

O prêmio, que representa um reconhecimento da trajetó-ria profissional mais relevante do setor segurador, financeiro e empresarial, presta homena-gem aos profissionais de maior destaque nestas atividades que se reúnem no concurso Forinvest.

Os outros dois premiados foram Manuel Conthe, como melhor trajetória do setor finan-ceiro, e Vicente Ruiz Baixauli, por sua gestão à frente do labo-ratório cosmético RNB.

Nos primeiros meses do ano, a AGERS ofereceu cursos sobre o seguro de responsabilidade civil, perda de benefícios, gestão de riscos e seguros e a gestão

prática de sinistros. Ela também organizou o fórum de redes sociais e seguros e participou da Semana do Seguro (INESE).

Os programas de formação que a AGERS desenvolverá em breve são os seguintes:

Construção e montagem. Gestão de riscos na obra civil e nas edificações (9 e 10 de maio).

Os riscos no transporte (20 e 21 de junho).

Gestão de riscos ambien-tais (26 e 27 de setembro).

Regulação de emprego, mudança de perspectivas (24 e 25 de outubro).

Gestão de riscos tecnoló-gicos (28 e 29 de novembro).

No dia 30 de maio, no auditório da Mutua Madrileña (“associações empresariais de Madri”) em Madri, está prevista a realização do XXIII Congresso de Gerência de Riscos e Se-guros, sob o lema “A gestão de riscos em um ambiente de crise depois dos grandes desastres”.

Também em Madri, na sede do CEIM, serão realizados em 31 de maio o Encontro de Ge-rentes de Riscos e a Assembleia Geral da AGERS.

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O Grupo BBMAPFRE arregaçou as mangas e partiu para a guerra. Uma guerra de paz. “Quanto mais

ajudarmos os clientes a gerenciarem riscos, mais chances eles terão de conseguir taxas adequadas de financiamento para investirem em expansão e de ter seus riscos aceitos pelas seguradoras”, diz Wady Cury, diretor de grandes riscos, área da seguradora que registrou vendas de R$ 850 milhões em 2011 e dá sinais de que crescerá acima da média de mercado em 2012.

TEXTO: DENISE BUENOFOTOS: PAULO PEPE / DIVULGAÇÃO

Suste Suste

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ntabilidade:

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A estratégia para avançar no mercado é simples: prestar serviços de gestão de risco. Isso permite mitigar as ocorrências de acidentes. E a BB Mapfre tem um rico banco de dados como base para sugerir prevenções. Essas medidas de prevenção foram elaboradas a partir dos levantamentos realizados para o pagamento das indenizações de empresas que sofreram perdas com incêndios, explosões, roubo, enchentes ou danos causados ao meio ambiente. “Temos um histórico sólido e valioso das razões que levaram companhias a perder tudo e queremos usar essa experiência para mitigar riscos e ajudar nossos clientes e futuros segurados a obter melhores condições nas negociações de

produtos financeiros”, explica Wady Cury.Uma estratégia sustentável. Boa para todos

os envolvidos. “O cliente investe em seguran-ça e mostra que se importa com o seu negó-cio. Com isso, sinaliza para o banco que está comprometido com o crescimento e, desta forma, consegue taxas de financiamento mais acessíveis. E nós podemos dar proteção aos riscos inerentes ao negócio por uma taxa ade-quada ao cliente e ao segmento em que atua”, acrescenta o diretor.

Parece simples colocar essa estratégia em prática, mas leva tempo e há muitos desafios pelo caminho. Não só no Brasil, mas em todo o mundo. Segundo um estudo divulgado pela corretora Marsh, uma das maiores do mundo, entre as principais prioridades de risco para as

Gestão de risco, eis a questãoGestão de risco, eis a questão

ntabilidade:

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" SENDO ASSIM, UMA SAÍDA PARA CONQUISTAR CLIENTES É BUSCAR SOLUÇÕES QUE OS DEIXEM MAIS TRANQUILOS. PARA TER SEGURO A UM CUSTO ACESSÍVEL, NADA MELHOR DO QUE O RISCO SER CONSIDERADO BOM".

No Brasil, a análise de riscos requer um trabalho extra neste momento, pois as empresas ainda se adaptam à abertura do setor de resseguros, uma operação vital para grandes contratos. “Até pouco tempo atrás, digamos 2007, o IRB Brasil Re aceitava todos os riscos, uma vez que detinha o monopólio. Com a abertura, os riscos passaram a ser traba-lhados caso a caso. Com isso, o cliente que investe em segurança passou a ter custos e condições melhores do que aquele que nada investe”, comenta o executivo.

Dentro de cada setor, os especialis-tas em seguros analisam a exposição de riscos dos potenciais clientes, recomen-dam o que se pode fazer para mitigar o índice de acidentes e sugerem as cober-turas de proteção que mais se encaixam às necessidades das empresas.

“O setor moveleiro, por exemplo. Em razão de um índice de acidentes elevado, o segmento passou a ser evita-do pela indústria. Nosso levantamento mostrou que tem empresas consideradas como excelentes do ponto de vista de riscos seguráveis pelos investimentos em prevenção de acidentes. Temos também muitos que, se seguirem as recomenda-ções dos nossos especialistas, podem se tornar alvo de disputa entre as segura-doras”, explica. “E o melhor é que elas conseguirão taxas diferenciadas para investir na segurança do próprio negó-cio”, diz Wady.

Fazer o gerenciamento de risco de empresas requer profissionais especiali-zados em diversos segmentos. Por isso, a BBMAPFRE conta com parceiros, como a ITSEMAP, uma empresa que assessora clientes na identificação, aná-lise e avaliação de riscos empresariais. Entre os itens checados pelos especia-listas estão: adequabilidade dos sistemas de proteção, dos planos de emergência

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instituições financeiras ao longo dos próximos anos, o risco de crédito é o principal temor dos 122 gerentes de risco entrevistados em toda a Euro-pa, Oriente Médio e África.

O relatório da Marsh New Risk Management Insights for Finan-cial Institutions detalha a visão dos chief risk officers, directors of risk e risk managers (altos executivos de risco) das 120 principais instituições financeiras. Com base nas respostas obtidas no final de 2011, cerca de 69% dos entrevistados citaram o ris-co de crédito como o maior temor, seguido de risco de liquidez (56%), risco operacional (25%), taxa de ju-ros (24%), contrapartes (15%); risco de mercado (15%), protecionismo/regulamentação (14%) e condições econômicas globais (12%).

Sendo assim, uma saída para conquistar clientes é buscar soluções que os deixem mais tranquilos. Para ter seguro a um custo acessível, nada melhor do que o risco ser conside-rado bom. “E de risco, nós enten-demos”, diz Cury. Além das análises financeiras, é preciso fazer análises in loco sobre como o cliente trata seus riscos operacionais, ver de perto como a empresa opera.

“Em uma visita apenas, por exemplo, pode-se detectar que uma empresa deixa mercadorias amon-toadas em um canto da fábrica, misturando madeira e solvente, com funcionários que fumam no local. A companhia ter seu fluxo de caixa analisado de nada ter adiantará, se ela pode ir para os ares a qualquer momento por uma falha dessas. Se ela não tiver um seguro adequado para ajudar a reconstruir o que foi perdido, pior ainda para todos”, co-menta o especialista em riscos.

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UNIDADE COM PROGRAMA DE GESTÃO GLOBAL DE RISCO

UNIDADE SEM PROGRAMA DE GESTÃO GLOBAL DE RISCO

Boa limpeza e corredor desobstruído

Modernos equipamentos

Silos de captação - novos

A TÍTULO DE EXEMPLO, APRESENTAMOS DUAS UNIDADES QUE PERTENCEM AO SETOR MOVELEIRO:

“TEMOS UM HISTÓRICO SÓLIDO E VALIOSO DAS RAZÕES QUE LEVARAM COMPANHIAS A PERDER TUDO E QUEREMOS USAR ESSA EXPERIÊNCIA PARA MITIGAR RISCOS E AJUDAR NOSSOS CLIENTES E FUTUROS SEGURADOS A OBTER MELHORES CONDIÇÕES NAS NEGOCIAÇÕES DE PRODUTOS FINANCEIROS”

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" NO BANCO DE DADOS DA DIRETORIA DE GRANDES RISCOS TODOS OS SETORES SÃO ALVOS. O SETOR AUTOMOBILÍSTICO É UM DOS QUE TEM O MENOR ÍNDICE DE ACIDENTES. JÁ OS SETORES MOVELEIRO, TÊXTIL E QUÍMICO TÊM UM GRANDE NÚMERO DE EMPRESAS QUE NECESSITAM INVESTIR EM SEGURANÇA”

e de contingência; manutenção dos equipamentos e dos edifícios; processos operacionais e segurança patrimonial. Este trabalho gera relatórios de reco-mendações visando à diminuição dos riscos.

No ano de 2011 foram realizadas mais de 7 mil inspeções de riscos em diversos segmentos, sendo que quase 1.000 tiveram como foco a avaliação e a gestão dos riscos.

Segundo o estudo da BBMAPFRE, muitas das empresas visitadas precisam apenas acertar um detalhe ou outro, como adequação da rede de hidrantes e de extintores, melhorias e otimiza-ção dos seus processos operacionais ou até mesmo a colocação de uma porta corta-fogo entre um departamento e outro. Um simples ato capaz de isolar o risco de propagação de incêndio e de

perdas. “Agora tem alguns clientes que realmente precisam parar e criar uma política de gestão de risco, pois real-mente nos dias de hoje ninguém mais vai dar seguro para quem não se impor-ta com a segurança patrimonial, pessoal, das mercadorias e, porque não dizer, do meio ambiente”, continua Wady Cury.

“No banco de dados da diretoria de grandes riscos todos os setores são alvos. O setor automobilístico é um dos que tem o menor índice de acidentes. Já os se-tores moveleiro, têxtil e químico têm um grande número de empresas que neces-sitam investir em segurança, facilitando, desta forma, a transferência dos riscos e a contratação de produtos financeiros”.

O que não podemos e nem devemos fazer é criar uma generalização dos riscos em função dos seus segmentos.

Realmente o Brasil vive uma nova realidade. E não poderia ser diferente na indústria de seguros: “Nossa meta é atuar no sentido de servir à socieda-de, ajudando-a a ter consciência dos riscos a que está exposta e orientá-la a proteger seu patrimônio com respon-sabilidade. Quando uma fábrica sofre um acidente como um incêndio, todos perdem: investidores, bancos, forne-cedores, economia local e governos. Famílias ficam sem emprego. Sem renda, deixam de consumir crédito e bens, afetando terceiros. Isso não é um discurso. É uma realidade num país com taxas de juros declinantes, onde empresas precisam buscar rentabilidade operacional. Apostar no gerenciamento de riscos é uma estratégia vencedora, que traz ganho ao negócio de todos os envolvidos. E só especialistas em riscos são capazes de dar uma consultoria eficiente”, finaliza Wady Cury.

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vida e do meio ambiente.

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através de cursos, estudos de pesquisa,

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materiais didáticos.

ATIVIDADES

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Instituto de Ciencias del SeguroT 91 581 20 08Paseo de Recoletos, 23. Madrid

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SOCIAL PARA PROFISSIONAIS

DO SEGURO

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A RED CUMES se diferencia como um ponto de encontro de todos os profi ssionais ou futuros profi ssionais do setor segurador onde se podem estabelecer vínculos de comunicação para debater temas da atualidade, fazer consultas e inclusive deixar voar a imaginação no concurso de pequenas histórias, dando forma, com tudo isso, a uma extensa rede profi ssional especializada. A RED CUMES é um portal Web onde qualquer usuário pode acessar todos os seus conteúdos e, se quiser, pode participar ativamente por meio de seus blogs, grupos, concursos, bolsa de empregos, etc. Além disso, qualquer usuário pode acessá-lo através das redes sociais Facebook e LinkedIn. Para maiores informações: www.redcumes.comSiga-nos no twitter: @redcumes