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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO MESTRADO PROFISSIONAL EM SISTEMAS DE GESTÃO SANDRA REGINA DOS ANJOS OLIVEIRA “BÚZIOS: TODA TEMPORADA!” A RELAÇÃO EDUCAÇÃO, TURISMO E CULTURA: ESTUDO DE CASO DO TECTUR/CEJOB NITERÓI 2006

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CENTRO TECNOLÓGICO

MESTRADO PROFISSIONAL EM SISTEMAS DE GESTÃO

SANDRA REGINA DOS ANJOS OLIVEIRA

“BÚZIOS: TODA TEMPORADA!” A RELAÇÃO EDUCAÇÃO, TURISMO E CULTURA: ESTUDO DE CASO DO TECTUR/CEJOB

NITERÓI 2006

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SANDRA REGINA DOS ANJOS OLIVEIRA

“BÚZIOS: TODA TEMPORADA!” A RELAÇÃO EDUCAÇÃO, TURISMO E CULTURA: ESTUDO DE CASO DO TECTUR/CEJOB

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de Gestão pela Qualidade Total.

Orientador: Emmanuel Paiva de Andrade, D.Sc.

Niterói 2006

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SANDRA REGINA DOS ANJOS OLIVEIRA

“BÚZIOS: TODA TEMPORADA!” A RELAÇÃO EDUCAÇÃO, TURISMO E CULTURA: ESTUDO DE CASO DO TECTUR/CEJOB

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Sistemas de Gestão da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Gestão. Área de Concentração: Organizações e Estratégia. Linha de Pesquisa: Sistema de Gestão pela Qualidade Total.

Aprovada em 31 de março de 2006.

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________________ Emmanuel Paiva de Andrade, D. Sc.

Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________ José Augusto Nogueira Kamel. D. Sc.

Universidade Federal do Rio de Janeiro

______________________________________________ Fernando Toledo Ferraz, D. Sc.

Universidade Federal Fluminense

_____________________________________________ Maria Helena Teixeira da Silva Gomes, D. Sc.

Universidade Federal Fluminense

Niterói 2006

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Dedico este trabalho

À minha mãe Ivone dos Anjos Oliveira e ao meu pai Álvaro Moraes de Oliveira (in

memoriam), pessoas especiais em minha vida que me ensinaram que a bondade e o amor

estão acima de tudo.

Aos meus irmãos e, em especial, à minha irmã Vera Lúcia dos Anjos Oliveira que me

acolheu com seu carinho no momento em que eu mais precisei.

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AGRADECIMENTOS

Ao amigo Professor Doutor Emmanuel Paiva de Andrade, meu orientador atento, cientista

plural, severo quanto ao corpo teórico-metodológico do trabalho e clareza da redação por um

lado e por outro aquele que abraça novos rumos do conhecimento, principalmente daqueles

que primam pela inovação e justiça social.

Ao amigo Professor Doutor Cláudio D`Ipolitto Oliveira, que me deu sugestões, conduzindo-

me a uma infinidade de caminhos que pude prazerosamente percorrer durante a confecção do

trabalho.

À amiga Professora Doutora Maria Helena Teixeira da Silva Gomes, que dispensou seu

precioso tempo lendo os meus mais primórdios rascunhos, entusiasmando-se com minhas

descobertas e me fazendo, sobretudo rir e relaxar, quando eu achava que não chegaria ao

final.

À amiga Mestra Professora Ana Maria Rocha Faria, minha chefe, que me abriu as portas do

conhecimento para o turismo e que suportou tanto as minhas idas e vindas à Búzios, quanto às

inseguranças tão naturais de quem está se adentrando numa nova área de conhecimento, mas

resolveu me acolher como amiga e pesquisadora.

A amiga Mestra e doutoranda Karen Campos Barbosa, estudiosa de Búzios, guerreira,

premiada, estudante séria, que me facilitou muito o trabalho inicial da dissertação,

emprestando-me artigos, rascunhos dos seus estudos em meio ambiente, expressando as

dificuldades que enfrentou quando de sua pesquisa e principalmente, com suas palavras

carinhosas, fazendo-me seguir adiante.

Às amigas Jornalistas, Flávia Valentim, Vivian Branco, Maria Fernanda de Araújo Quintela e

Lenke Pavetits que me ajudaram em diferentes momentos, conseguindo tudo o que eu

precisava com muita rapidez. Enfim, sem elas este trabalho certamente seria mais pobre.

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Ao amigo Professor Ronald de Carvalho Junior, Coordenador do Curso Técnico de Turismo

do Colégio Estadual João de Oliveira Botas – Tectur/Cejob, em Búzios que, além de me

apresentar seus alunos para as entrevistas, colaborou com opiniões no trabalho, hospedou-me

em sua casa algumas vezes, e presenteou-me com a sua experiência de ex-Secretário de

Turismo em um município de Minas Gerais, quando eu me questionava se estava indo no

caminho certo.

Às amigas Professoras Vera Lílian Batista, Diretora e Matilde Maria Corrêa Neta Goulart,

Diretora-Adjunta do Cejob, que me abriram as portas do Colégio, disponibilizando-me tempo,

simpatia e apreço.

Aos alunos do Curso Técnico de Turismo do Cejob, que me encheram de alegria ao, com

simplicidade e profissionalismo - sendo alguns tão jovens-, apresentarem-me seus projetos

para a Cidade e se disponibilizarem a me conceder as entrevistas.

À amiga Professora Maria Alice Gomes de Sá Silva do Cejob, buziana por nascimento e

coração que, gentilmente, recebeu-me em sua casa e me incentivou a fazer um trabalho que

trouxesse à tona as raízes de Búzios, logo nos seus primórdios, quando tudo ainda era uma

grande névoa para mim.

Às novas amigas da Secretaria de Turismo de Búzios, Marcela Palermo, turismóloga e

Patrícia Burlamaqui, que me ajudaram, com presteza, nos momentos que precisei.

À Professora Doutora Carmen Rodrigues Tatsch, que trocou experiências comigo sobre

nossos trabalhos e pesquisas em Búzios e me convidou para que visse sua importante atuação

na Rasa.

Ao Professor Doutor Osvaldo Luís Gonçalves Quelhas que me monitorou todo o tempo para

que a dissertação saísse no prazo.

À Mônica de Souza Araujo da Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento

Econômico e Turismo – SEPDET e Jeniffer Santos da Companhia de Turismo do Estado do

Rio de Janeiro - TurisRio que disponibilizaram parte do material necessário para a confecção

da dissertação.

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Às amigas Josi Fernandes, Assistente do Conselho de Turismo da Confederação Nacional do

Comércio – CNC e Denise Ancel, Secretária da ABBTUR-RJ..

À Rosana Therezinha Queiroz de Oliveira, amiga de UFF e colega do mestrado, que se

prontificou a fazer a revisão do português e a formatação deste trabalho segundo as normas da

ABNT adotadas pelo LATEC/UFF, fazendo com que este possa ser mostrado a todos com

dignidade.

Aos moradores de Armação dos Búzios que me receberam amavelmente para as entrevistas,

contribuindo com suas idéias, visões de mundo e compromisso com a melhoria de processos

para tornar o turismo na cidade mais eficaz, gerando empregos e renda.

Aos amigos, professores e funcionários do Laboratório de Tecnologia, Gestão de Negócios e

Meio-Ambiente - LATEC, principalmente a Christian, Joana, Felipe, Hellen e Ana Maria, por

suas palavras encorajadoras, mais os colegas do Curso de Mestrado Profissional em Sistemas

de Gestão da UFF, pela troca de experiências profissionais e pessoais durante o curso que

muito me enriqueceu como profissional e como ser humano.

Aos amigos do Escritório de Transferência de Conhecimento: Helena, Neusa e Anna Cecília

e, posteriormente, aos da Pós-Graduação em Marketing Empresarial: Márcia Bernadete e

Alan, que me suportaram, ouviram minhas queixas e minhas alegrias em cada passo

conseguido.

Aos meus familiares, pela compreensão dos momentos que fui privada de compartilhar, às

vezes até em dias comemorativos muito importantes, e que, apesar disto, me incentivaram a

continuar e a terminar esta nova jornada.

Ao meu namorado, Raul Simão Freire Saraiva que, mesmo no além-mar, diversas vezes teve

de perder um tempo enorme comigo ao telefone, baixando o meu nível de ansiedade,

escutando-me, dando-me saídas, amando-me apesar das crises.

Aos amigos queridos: Dr. Arquimedes Corrêa Lima, Osvaldo Maneschy e Silvia Regina

Theodoro Pinheiro por colaborarem, cada um à sua maneira, para o término deste trabalho.

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Aos restaurantes Buzin e o da comida por quilo de Sr. Jadson, por me oferecerem seus

espaços para escritório, quando de algumas das entrevistas.

À pousada Yemanjá por oferecer-me abrigo, a preços módicos, quando precisei estabelecer-

me em Búzios por mais tempo e em lugar de fácil acesso ao Cejob e aos demais entrevistados.

A Deus, nosso Criador, pela Sua bênção, força e alegria de me conduzir pela vida,

permitindo-me a conclusão de mais um trabalho.

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“Aquilo que é criativo deve criar a si mesmo.” (John Keats)

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RESUMO

Este trabalho tem por objetivo buscar se a valorização da cultura está presente no discurso dos

alunos do Curso Técnico de Turismo do Colégio Estadual João de Oliveira Botas, situado no

município de Armação dos Búzios no Estado do Rio de Janeiro. Tendo por base o estudo

explanatório/exploratório, analisa o tema sob a metodologia de estudo de caso onde o

principal método adotado foi a realização de entrevistas semi-estruturadas e a pesquisa

bibliográfica e documental, tendo sido consultados livros, artigos e documentos disponíveis

em órgãos locais, registros em arquivos e como também a observação direta in loco. Sendo

assim, apresenta a situação-problema e um sucinto panorama da situação atual do município,

para em seguida discorrer sobre a literatura publicada pertinente aos cursos técnicos

profissionais, da educação profissional em turismo e hospitalidade, da importância da

valorização da diversidade cultural para a Educação e Turismo, segundo a UNESCO, o Plano

Nacional de Turismo e o Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro. Procede-se à

análise das entrevistas realizadas com os alunos do Tectur e com profissionais, para chegar a

conclusão de que a valorização da cultura apesar de presente no discurso dos alunos,

encontra-se ainda desorganizada e geralmente associada a pequenos ganhos econômicos, o

que se justifica pela falta de uma identificação real do que é e do que não é expressão cultural

local, fruto das raízes de Búzios. Finalizando são apresentadas a discussão dos dados

levantados e as sugestões para a resolução do problema.

Palavras-chave: Turismo em Búzios. Curso de Turismo. Valorização da cultura.

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ABSTRACT

The objective of this study is to find out whether the valorization of culture is present on the

discourse of the students of the Technical Course in Tourism of the João de Oliveira Botas

State School-Tectur, located at Armação de Búzios, Rio de Janeiro, Brazil. Based on the

explanatory study, this work analyses the theme with the case study method, and the main

instruments were semi-structured interviews, and bibliographic and documental research.

Books, articles and documents available in local offices as well as filed records were

consulted, and in loco direct observations were carried on. The study presents the situation

problem and a succinct scenario of the town, and then discusses the literature regarding

technical professional courses, tourism and hospitality, and the importance of valorizing the

cultural diversity to Education and Tourism, according to the UNESCO, the National Tourism

Plan and the Tourism Director Plan of the State of Rio de Janeiro. The analysis of the

interviews with the Tectur’s students and professionals lead to the conclusion that the

valorization of culture, although present in the students’ discourse, is still disorganized and

often associated to short economic incomes, what is justified by the lack of a real recognition

of what is or is not a local cultural expression, derived from the Búzios roots. Finally, the

study discusses the data and gives suggestions to solve the problem.

Key-words: Tourism in Búzios. Tourism Course. Cultural valorisation.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Conceito de Competência ............................................................................. 35

Quadro 2 Comparação entre os modelos de superação e os de implantação ............... 35

Quadro 3 Processo de Produção ................................................................................... 43

Quadro 4 Situações relevantes para diferentes estratégicos de pesquisa ..................... 73

Quadro 6 Projetos versus coleta de dados: unidades diferentes de análise .................. 81

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Áreas profissionais e cargas horárias mínimas por habilitação .................... 45

Tabela 2 Número de entrevistados por faixa etária ..................................................... 85

Tabela 3 Número de entrevistados por bairro/localidade ........................................... 85

Tabela 4 Número de entrevistados por profissão ........................................................ 86

Tabela 5 Mapeamento dos entrevistados/moradores por bairro/localidade ................ 87

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LISTA DE ABREVIATURAS ABAV Associação Brasileira de Agências de Viagens

APA Área de Preservação Ambiental

CEFETs Escolas Técnicas Federais

CEJOB Colégio Estadual João de Oliveira Botas

CIEE Centro de Integração Empresa-Escola

CNE Conselho Nacional de Educação

DUDC Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural

EMBRATUR Instituto Brasileiro de Turismo

FAETEC Fundação de Apoio à Escola Técnica do Estado do Rio de Janeiro

FGV/RJ Fundação Getúlio Vargas de Rio de Janeiro

GTA Grupo Técnico de Acompanhamento do Plano Diretor

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPHAN Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministério da Educação

MinC Ministério da Cultura

Mtur Ministério do Turismo

PLANO DIRETOR

Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios: Perfil do Município

ONG’s Organização Não Governamental

PPA Plano Plurianual

PLANTUR Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro

PNT Plano Nacional de Turismo

SEE Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SEPDET Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento Econômico e Turismo

SID Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural

TECTUR Curso Técnico de Turismo

TurisRio Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFF Universidade Federal Fluminense

UNDIME União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................16

2 PANORÂMICA DO MUNICÍPIO DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS ..............................18

2.1 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA .............................................................20

2.2 OBJETIVOS E DELIMITAÇÕES DO ESTUDO .............................................................24

2.3 JUSTIFICATIVA ...............................................................................................................25

2.4 REFERENCIAL TEÓRICO...............................................................................................25

2.5 QUESTÕES A INVESTIGAR...........................................................................................29

2.6 HIPÓTESE .........................................................................................................................31

3 DO ENTENDIMENTO PARA QUE SERVEM OS CURSOS TÉCNICOS

PROFISSIONAIS ...................................................................................................................34

3.1 DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO E HOSPITALIDADE ....................38

3.2 DA IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL PARA A

EDUCAÇÃO E TURISMO, SEGUNDO A UNESCO E O PLANO NACIONAL DE

TURISMO ................................................................................................................................46

3.3. O BRASIL E A DIVERSIDADE CULTURAL: O PROJETO DA CULTURA ...............53

3.4 DA DOCUMENTAÇÃO UTILIZADA .............................................................................59

3.4.1 Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios: perfil do

Município.................................................................................................................................59

3.4.2 Projeto de Lei Complementar - Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de

Armação dos Búzios ...............................................................................................................61

3.4.3 Projeto de Lei Complementar: Uso e Ocupação do Solo de Armação dos Búzios

(versão junho 2004) ................................................................................................................61

3.4.4 Plano Nacional de Turismo...........................................................................................62

3.4.5 O que os Parlamentares e as Autoridades de Governo devem saber sobre o

Turismo ...................................................................................................................................63

3.4.6 Relatório de Atividades do Ministério do Turismo ....................................................64

3.4.7 Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro............................................65

3.4.8 Programa SEBRAE de Turismo ..................................................................................67

3.4.9 Educação Profissional: Referenciais Curriculares Nacionais da Educação

Profissional de Nível Técnico.................................................................................................68

4 METODOLOGIA................................................................................................................70

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..........................................................................................70

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4.2. O ESTUDO DE CASO COMO MEIO DISPONÍVEL PARA FAZER A PESQUISA ...71

4.3 EMPREGOS DO ESTUDO DE CASO .............................................................................74

4.4 ESTUDO DE CASO ÚNICO.............................................................................................77

4.5 ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO .....................................................................................78

4.6 COLETA DE DADOS E PERFIL DO PESQUISADOR ..................................................79

4.7 FONTES DE INFORMAÇÃO E COLETA DE EVIDÊNCIAS .......................................81

4.7.1 Documentos ....................................................................................................................82

4.7.2 Registros em arquivos ...................................................................................................83

4.7.3 Entrevistas......................................................................................................................84

4.7.4 Observação direta..........................................................................................................88

4.8 LIMITAÇÕES DO MÉTODO ...........................................................................................89

5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS .............................................91

5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..........................................................................................91

5.2 O COLÉGIO ESTADUAL JOÃO DE OLIVEIRA BOTAS (CEJOB) .............................91

5.2.1 Histórico .........................................................................................................................91

5.3 O CURSO TÉCNICO DE TURISMO DO CEJOB ...........................................................93

5.4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS ......................................................................................99

6 CONCLUSÃO....................................................................................................................143

6.1 SUGESTÕES ...................................................................................................................147

6.1.1 Em relação à Educação formal para o Turismo.......................................................147

6.1.1.1 Para os empresários ....................................................................................................148

6.1.1.2 Para os estrangeiros, empresários ou não ...................................................................149

6.1.1.3 Para os pesquisadores sobre Búzios ...........................................................................150

6.1.1.4 Para os agentes da comunidade ..................................................................................150

6.1.2 Em relação às expressões culturais ............................................................................151

6.1.3 Em relação a negócios a serem desenvolvidos ..........................................................151

6.1.4 Em relação ao estabelecimento de linhas de crédito para a população de baixa

renda ......................................................................................................................................152

6.1.5 Em relação ao trabalho para a juventude.................................................................152

6.1.6 Em relação às atividades infantis para a conscientização turística ........................153

REFERÊNCIAS ..........................................................................................................154

ANEXOS ......................................................................................................................160

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1 INTRODUÇÃO

O Colégio Estadual João de Oliveira Botas (Cejob) é o único colégio público que

ministra o Curso Técnico de Turismo (Tectur) no Município de Armação dos Búzios, como

curso pós-médio e um dos cinco que o faz no Estado do Rio de Janeiro. Sua atuação na

comunidade não se restringe somente à formação de profissionais e na educação dos ensinos

básico, médio e pós-médio. Além de suas responsabilidades no ensino, o Cejob abre suas

portas à comunidade para pequenos cursos, como o de fuxico e oficinas de reciclagem.

Localizado numa das 26 praias de Búzios, na Praia da Armação, os alunos do Cejob

desfrutam de uma das vistas mais privilegiadas da Costa do Sol. Afora estar inserido em tanta

beleza, o Cejob luta para que possa oferecer à comunidade o Curso de Guia Turístico, como

complemento do Tectur, sonho este que depende de autorização da Embratur.

Com grupos animados de jovens e de não tão jovens, despertam os alunos para vida

profissional, com o que lhes podem trazer o futuro.

Tal cenário estimula realização de um estudo mais profundo do Tectur do Cejob frente

ao desafio de Búzios precisar tomar decisões muito importantes no longo prazo em relação às

rotas escolhidas para o Turismo. Donos de um entusiasmo invejável de criar roteiros,

principalmente ecológicos e de aventura, os alunos do Tectur ainda não perceberam como a

sua própria cultura pode ajudá-los na criação de produtos que valorizem a cultura nativa, de

raiz, mas também a sua multiculturalidade.

Este trabalho pretendeu mostrar como a valorização da cultura está presente no

discurso dos alunos do Curso Técnico de Turismo do Cejob, porém de maneira ainda

desorganizada e geralmente associada a pequenos ganhos econômicos, o que se justifica pela

falta de uma identificação do que é e do que não é expressão cultural local.

Dividido em 6 Capítulos, esta dissertação faz no Capítulo 1 uma breve introdução e no

2 trata de desvendar a situação-problema e dar uma panorâmica de como se encontra o

município hoje.

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O Capítulo 3 discorre sobre a revisão da literatura a respeito dos cursos técnicos

profissionais, da educação profissional em turismo e hospitalidade. Aborda também, seguindo

os princípios estabelecidos pela Unesco, a importância da valorização da diversidade cultural

para a Educação e o Turismo. Enfoca ainda, sob o prisma do Plano Nacional de Turismo,

aspectos sobre o Brasil e sua diversidade. O Capítulo se encerra com a tipologia da

documentação utilizada.

O Capítulo 4 relata os procedimentos metodológicos utilizados e defende o uso da

metodologia de estudo de caso, para problemas como o aqui tratado.

No Capítulo 5 são analisadas as entrevistas feitas com alunos do Tectur e com

profissionais, em sua grande maioria ligados à área de turismo. e, finalmente, no Capítulo 6

encontram-se a conclusão e as sugestões para resolução do problema.

Ademais estão arrolados nas referências bibliográficas todo o material de leitura dos

últimos dois anos de construção deste trabalho, seguindo a estas, os anexos, onde se pode

encontrar o protocolo de pesquisa do estudo de caso.

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2 PANORÂMICA DO MUNICÍPIO DE ARMAÇÃO DOS BÚZIOS

Armação dos Búzios ou “Búzios”, como é popularmente chamado o município, teve a

sua primeira denominação, segundo o historiador Cunha (2001) de “angra fermosa”. Lugar de

extrema beleza recebeu este nome quando Gonçalo Coelho, no ano de 1501, ou Américo

Vespúcio, em 1503, navegaram em suas águas.

Ex-terceiro distrito de Cabo Frio, Armação dos Búzios foi emancipado como

município em 12 de novembro 1995, no ano seguinte, elegeu seu Prefeito e representantes da

Câmara Municipal e tem, no final de 1997, promulgada a sua Lei Orgânica (PREFEITURA,

2003).

Búzios vive hoje uma situação ímpar no panorama nacional. Um dos privilegiados

locais do turismo internacional no Brasil pode estar num momento de pré-estagnação.

Conhecido mundialmente como uma pequena aldeia de pescadores que encantou a atriz

francesa Brigitte Bardot quando aqui esteve em janeiro de 1964, cresce, vertiginosamente, a

cada ano que passa. O uso da história da visita de Brigitte, a partir da segunda metade dos

anos sessenta e a construção da Ponte Rio-Niterói, na década de 70, aumentaram a atração por

essa até então cidadezinha escondida num paraíso (BARBOSA, 2004).

Lugar de natureza (ainda) exuberante, com lindas praias e unidades de conservação, se

vêem transformadas em uma referência de diversão noturna na região e como ponto de

badalação da classe alta carioca, paulista e mineira. Município com cerca de 20 mil habitantes

é destino de quem procura juventude, sol, mar, natureza, gente bonita e lazer; Búzios tem se

transformado em escolha, na alta temporada, de cerca de 140 mil habitantes, por dia

(FROSSARD, 2004).

Produto do caos, do acesso dificultado por suas pequenas ruas e vielas, aclives

acentuados, por uma rede de esgotos que não agüenta tal afluxo de gente, administrar a cidade

entre o final de dezembro até meados de março do ano seguinte, em pleno verão brasileiro, na

alta temporada, não é fácil.

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O que deveria dar emprego e renda aos seus moradores na alta temporada, tem

prejudicado a rede hoteleira com a vinda dos turistas nos transatlânticos, onde os passageiros

não dormem na cidade e, conseqüentemente, usam somente, do comércio local, os

restaurantes, bares e lojas de suvenires preferencialmente. Além disso, a população pobre é

alijada como mão-de-obra e isto ocorre tanto na construção civil como em um número

considerável das atividades turísticas por causa da não-especialização dos trabalhadores locais

(BARBOSA, 2004).

Como resultado da situação da mão-de-obra da população local, a cidade importa

trabalhadores para as atividades mais especializadas durante a alta temporada e estes acabam

se ficando no município durante o ano. Uma vez que o custo de vida em Búzios,

principalmente na península, é alto, os moradores se fixam nos bairros limítrofes da cidade, na

parte continental, aumentando a sua periferia e, como não há trabalho suficiente durante o

ano, ficam sem ocupação na baixa temporada, ocasionando problemas sociais sérios ao

município (BARBOSA, 2004).

A este panorama se junta a questão da oferta de mão-de-obra dos jovens buzianos e da

sua assimilação no mercado de trabalho, principalmente na baixa temporada.

Um município que vive do turismo e das atividades a ele inerentes tem como pico de

visitação a alta temporada, no Brasil, o verão, caracterizando-se pela procura às suas 26 praias

e à diversão noturna na Rua das Pedras e arredores e às compras nas diversas opções de lojas

de artes, enfeites, roupas e assessórios de marcas consagradas.

Com capacidade hoteleira para receber visitantes durante todo o ano, há um

enfraquecimento de seu receptivo na baixa temporada, englobada pelos: outono, inverno e

primavera. Nestas estações, embora a temperatura se torne um pouco mais amena e suas

águas mais frias, ainda há dias ensolarados.

A beleza natural do local é um atrativo para a sua visitação, como o são os restaurantes

internacionais. Com uma culinária sofisticada, se pode comer bem nas mais variadas cozinhas

como a francesa, a italiana, a portuguesa, entre outras, como também uma requintada cozinha

brasileira baseada em frutos do mar.

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Além do mais, Búzios oferece opções do restaurante mais sofisticado ao da comida

por quilo, o que o torna atraente tanto aos mais abastados quanto aos mochileiros.

2.1 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO-PROBLEMA

O que falta então, em Búzios, para atrair um maior número de turistas na baixa

temporada? Ou melhor, por que não se consegue fixar por mais dias o turista na baixa

temporada? Por que a rede hoteleira prefere abaixar pouco os preços das diárias na baixa

temporada a ter um maior número de hóspedes? Por que não há um calendário específico de

eventos na baixa temporada que atraia o turista a visitar Búzios mesmo que com águas mais

frias? Por que não se desenvolvem produtos turísticos específicos para a baixa temporada

para, nas outras estações do ano, adicionar mais produtos além da referência sol e mar,

atrativos naturais, característicos do verão?

Foram essas questões que balizaram as primeiras investigações e um primeiro

apanhado de materiais escritos tanto da cidade – Búzios – (versões iniciais do Plano Diretor,

Jornais que circulam na cidade, teses e monografias sobre o assunto) quanto de outras regiões

que passam por dificuldades similares.

Nessa trajetória se pôde perceber que várias alternativas poderiam ser usadas na baixa

temporada. Delas, a transformação dos atrativos turísticos - dados pela natureza - em produtos

turísticos, de uma maneira mais geral, já vem sendo pensada por cidadãos buzianos por meio

de parceria da iniciativa privada com a gestão pública. Opções como a exploração das Serra

das Emerências, da APA Pau-Brasil, da Trilha das Poças e dos pontos de interesse geológico.

Conhecida como uma das melhores raias da região, o turismo náutico também é uma

alternativa que independe das estações do ano, desde que haja um controle metereológico para

prevenir os usuários dos esportes – profissionais e amadores - a possível ocorrência de

chuvas, mudanças de vento.

Uma outra possibilidade seria o turismo cultural, das artes, do patrimônio material e

imaterial da cidade: o que está edificado e o que está expresso nos modos de comunicação, na

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história da população, em tudo aquilo que encantou Brigitte e não se distingue mais pela

cosmopolitização da cidade, mas está lá, submerso, em ambientes que existem, mas que são

ainda poucos explorados no turismo.

Algumas são as possibilidades. Incluindo outras além das listadas acima. Os

investimentos, entretanto, devem ser feitos, sejam: financeiros, em infra-estrutura (vias de

acesso, atracadouros, por exemplo), capacitação de pessoas, marketing e de tempo. Mais que

o oferecimento, a regularidade deve ser fruto de atenção, para que o produto se concretize,

que as atividades sejam constantes, para que se transformem em produtos regularmente

vendáveis.

Propostas para superação das dificuldades na baixa temporada, como formulação de

planos e esboços, já se encontram no núcleo de discussões do pessoal da área, por meio de

seus Conselhos, da Câmara de Vereadores, das inter-relações existentes entre o Governo

Municipal e seu conjunto de Secretarias. Assim como o fazem as associações empresariais, o

SEBRAE, o Instituto de Hospitalidade, o Centro de Amparo ao Trabalhador e as múltiplas

Organizações Não-Governamentais localizadas no município.

As propostas que mais têm encontrado eco no setor empresarial são as que podem

viabilizar encontros e festivais gastronômicos usando o requinte da culinária internacional e a

criatividade da culinária baseada em frutos do mar. Eventos estes que, segundo declarações

dos moradores 12, 14, 25 e 26, devem constar de um calendário regular anual, de preferência

fora do pico do verão.

Neste espírito, foi promovida em 2005 pela Prefeitura por meio das Secretarias de

Turismo e de Cultura a “Feira das Nações”, onde foram trazidos à cidade grupos

internacionais de música folclórica, dança e comidas típicas. Este evento contou com o

patrocínio da C.V.R. Viagens & Eventos, o Pátio Havana, o Don Juan, o Chez Michou, a

Itaipava, a Rádio Paradiso e o BMB.

Apesar destes esforços, entretanto, parece não haver uma ligação mais estreita entre as

ações promovidas pelo governo municipal e o ensino pós-médio. O Cejob há mais de uma

década, oferece o curso técnico de turismo em Búzios. Seria interessante que os alunos, no

processo de aprendizagem, fossem aproveitados mediante estágio pelo empresariado ou

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governo e que, após a conclusão do curso, pudessem ter empregos ou mesmo abrirem

negócios criativos, diferenciados na área, onde ainda não houvesse oferta de produtos ou que

as ofertas fossem reduzidas.

Para isto, faz-se necessário que o curso, além de oferecer disciplinas de formação,

possa trabalhar com atividades empresariais fora das salas de aula. Outrossim, proporciona o

contato com empresários, artistas, produtores em geral privados e do governo para passar suas

experiências aos alunos. Importante também seria dar aos alunos formação de como iniciar

negócios.

Estas inquietações geraram algumas perguntas de como o Curso Técnico de Turismo

do Cejob vem lidando com estas questões, se há respostas pedagógicas para tal e quais

procedimentos têm sido implementados neste sentido.

Seguindo esta linha de raciocínio, indaga-se:

1 - Como a educação formal, para a área de turismo, localizada no município, tem

respondido às inquietações dos órgãos públicos, das entidades, empresas privadas e

dos cidadãos?

2 - Quais são as soluções que os alunos do Curso Técnico de Turismo do Colégio

Estadual João de Oliveira Botas (Cejob) - vêem para o turismo da baixa temporada?

3 - Que atividades crêem que poderiam ser oferecidas?

4 - Quais traços da cultura típica e nativa são encontrados e observados no dia-a-dia

pelos alunos, como comida, dança e música?

5 – Como a população usa o que é advindo de sua cultura para o turismo?

6 – Como são articulados os artistas da cidade e que tipos de organizações têm?

7 – Como os alunos se referem à história de Búzios?

8 – Como esperam construir a cidade para daqui a cinco, dez, vinte anos?

9 - Enfim, como os alunos do Cejob vêem as soluções para o incremento do turismo

na baixa temporada em curto, médio e longo prazos?

Às respostas a questões formuladas aos alunos e professores do Tectur/Cejob e a

alguns membros da comunidade, procurou-se estabelecer uma conexão com as ações,

programas e metas dos planejamentos da União, do Estado e do Município em relação ao

turismo. Pretendeu-se também buscar com o planejamento pedagógico do Tectur/Cejob a

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articulação educação, turismo e cultura, os pilares enunciados nos documentos

governamentais elaborados, em sua maioria, em conjunto com a iniciativa privada.

Os planejamentos referidos são aqueles expressos nos:

1 - Plano Nacional de Turismo (PNT);

2 - Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Plantur);

3 - Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios – Plano

Diretor -, ainda em construção. Neste momento o referido Plano está sendo

reformulado pela atual gestão municipal; e

4 – Educação Profissional – Referenciais curriculares nacionais da educação

profissional de nível técnico. Área profissional: Turismo e Hospitalidade.

Em dados da proposta de Plano Diretor para o Município (PREFEITURA, 2003), vê-

se que, aproximadamente, um terço da população de moradores é de jovens ainda em idade

escolar. Este dado sinaliza que há necessidade de, ao formular políticas públicas, prever e

promover algumas alternativas diferenciadas de geração de oportunidades de trabalho e renda

para a fixação destes jovens no Município e dos seus arredores. Em assim não sendo, poderá

ficar prejudicada toda uma geração.

Entende-se que a questão do desemprego e das oportunidades de ocupação não é um

problema peculiar de Búzios e sim das mudanças ou fluxos estruturais do sistema capitalista.

Entretanto, cada município ou região, deverá se adiantar nas dificuldades porque passam sua

população e procurar minimizá-las, dentro do possível.

No caso da formação em turismo, uma das alternativas para o jovem buziano é o

Curso Técnico de Turismo oferecido no Colégio Estadual João de Oliveira Botas, na Praia da

Armação, nos turnos da manhã e da noite, cuja obrigatoriedade é a de já terem concluído o

ensino médio.

Remodelado desde 2001, segundo as diretrizes da educação profissional (BRASIL,

MEC, 2000) como curso pós-médio, seqüencial, já formou cerca de 50 alunos. Houve

mudanças no seu projeto pedagógico, onde foram incorporadas atividades práticas e visitas

técnicas, além de, conceitualmente, trabalharem os docentes com modelos de turismo

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sustentável. Em 2004, a coordenação pedagógica do curso, solicitou à Embratur autorização

para funcionamento de módulos para guia regional e nacional e está aguardando resposta.

2.2 OBJETIVOS E DELIMITAÇÕES DO ESTUDO

Este estudo objetiva, levando em consideração a análise do resultado das entrevistas

feitas com alunos, professores do Cejob e comunidade em geral, oferecer à comunidade

buziana sugestões de:

1- como identificar na sua cultura cosmopolita de Búzios, as diversas identidades de

seu povo, com o propósito de estimular a oferta de produtos turístico-culturais na

baixa temporada;

2 – como preparar o jovem buziano para, ao ter consciência de sua cultura, de suas

origens locais e regionais, propor alternativas para negócios que estimulem o jeito

buziano de viver e de atrair turistas;

3 – como a diversidade cultural, vista desde a tenra idade escolar, pode criar produtos

de diferenciação para alavancar o turismo internacional.

Deve-se tomar em consideração, entretanto, que um estudo exploratório/explanatório,

apresenta as linhas gerais, por meio de procedimentos com um grupo restrito de informantes,

o que elucida o objeto, mas não pretende esgotar o assunto.

Para que se tenha um estudo mais aprofundado sobre a localidade, Búzios, a região

onde se insere e a ampla atuação do Colégio Estadual João de Oliveira Botas na comunidade,

há de se fazer um estudo minucioso, onde se deverão usar parâmetros melhor delineados,

inclusive os estatísticos. O método do estudo de casos indica caminhos a explorar, mais do

que caminhos a seguir.

Neste estudo, por exemplo, poder-se-ia, pelo enfoque, fazer entrevistas com todos os

discentes e docentes do Curso de Turismo do Oliveira Botas, mas preferiu-se estudar parcela

dos alunos e professores e agregar a isto, pequena parte da população, representada por alguns

de seus cidadãos.

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A parcialidade do estudo baseia-se no fato de envolver parte de uma comunidade e não

pretender dar conta da totalidade de seus problemas. Seria apropriado para uma tese de

doutoramento.

O estudo abrangeu uma pequena parcela da população, por isso mostra um resultado

que sugere uma caracterização específica de Búzios. Para se estudar e propor um

desenvolvimento turístico regional, deve-se olhar a abrangência da região, o que não pôde ser

feito neste trabalho.

2.3 JUSTIFICATIVA

O estudo sobre a questão pedagógica com um olhar na tríade educação, turismo e

cultura do Tectur/Cejob deve-se, num primeiro momento, a exploração do que havia sido

implantado pelo Estado no município. Pretende-se com a realização deste estudo fornecer

subsídios para a criação do Curso de Graduação em Turismo da Universidade Federal

Fluminense (UFF).

Propõe-se, ainda, ver como se comporta o setor educação voltado para o turismo,

sondando a relevância social e científica do que o município já produzia, para aprofundar

estudos e pesquisas de um curso da UFF na região.

Como o curso de Turismo da UFF não foi implantado devido à mudança do gestor

municipal aproveitou-se o estudo para oferecer um retrato de como a comunidade vem

ensinando e praticando o turismo no ramo da educação formal – do curso técnico.

2.4 REFERENCIAL TEÓRICO

Para a confecção deste trabalho houve necessidade de se estudar o que vêm propondo

os governos federal, estadual e municipal para a área de Educação, basicamente para a

Profissional, no enfoque de Turismo e Hospitalidade. Usou-se também para a discussão da

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Educação Profissional a dissertação de Ana Maria Rocha Faria (2003) sobre qualificação e

capacitação profissional como estratégia competitiva para o setor de Turismo/Hospitalidade.

Além disto, como a localidade em que está inserido o Cejob é o Município de

Armação dos Búzios, houve-se por bem estudar a sua história, o planejamento governamental

municipal, bem assim as políticas públicas para a educação, cultura e turismo.

Existem trabalhos relevantes sobre o município que foram usados para este estudo,

além dos documentos governamentais arrolados na revisão de literatura.

Destes estudos se pode citar a dissertação de mestrado sobre gestão ambiental de

Karen Campos Barbosa (2004), os estudos antropológicos de Dayse Justus (1996) sobre as

representações sociais da população, os projetos e artigos de Carmen Rodrigues Tatsch (2004,

2003) sobre o resgate do folclore da população, onde se fez estudos aprofundados sobre a

Rasa, um dos bairros de Búzios.

Além destes, usou-se o trabalho de Miriane Frossard (2004) sobre a avaliação dos

impactos do turismo em Búzios desde a aldeia de pescadores à cidade cosmopolita. E também

tomou-se como base, numa percepção comparativa, a monografia de Joana Magalhães (2003),

que estudou a relação entre as políticas de cultura e de turismo na Cidade de Ilhéus.

Para as perguntas que foram feitas aos alunos, aos professores do Tectur/Cejob e a

alguns profissionais da comunidade buziana, utilizou-se como suporte para a criação do

roteiro da entrevista, a obra Criatividade e Grupos Criativos de Domenico De Masi,

particularmente o capítulo dezesseis – “Dois Modelos de Criatividade”.

A utilização de De Masi (2003) constitui o suporte científico em relação ao que se

quer do futuro, como as sociedades precisam conhecer a sua cultura para que se possa passar

da personalidade criativa para a coletividade criativa, como pode ser conferido a seguir:

Um contexto social em que não só é possível aos criativos encontrar os meios para criar, mas em que as novidades são bem acolhidas, desejadas, auguradas, encorajadas: em que o pluralismo de idéias, gostos e comportamentos é defendido, apreciado, premiado, é um contexto que contribui para estimular a criatividade não menos que a personalidade aberta, receptiva e prolífica dos criativos individuais. (DE MASI, 2003, p. 595-6)

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Para De Masi (2003) há um dilema a se resolver quando se pensa a personalidade

criativa. Ele se pergunta se a criatividade tem sua origem “no interior da personalidade

individual ou da personalidade de cada grupo criativo” - a autopoiese; ou se desenvolve “por

heteropoeise - o contexto e as condições sociais em cujo cérebro se encontram a operar” (DE

MASI, 2003, p. 594).

De Masi (2003) identifica nove fatores que contribuem “para incrementar a

criatividade de um indivíduo ou de um grupo” (idem, p. 595) e o faz usando as conceituações

de Freud, Kardiner, Fromm, Sullivan, Dewey, Durkheim, Kroeber, White, Gray, Ariete,

Rogers, Lasswell, entre outros (DE MASI, 2003, p. 594-598). São estes:

Disponibilidade de meios culturais e materiais;

Exposição a estímulos culturais diferentes ou até contrastantes;

Abertura aos estímulos culturais;

Ambiente social que acentue a transformação, o futuro;

Ausência de discriminações;

Tolerância e interesse com respeito a ponto de vistas divergentes;

Interação de pessoas significativas;

Promoção de incentivos e recompensas;

Dialética e insatisfação social.

Alerta De Masi (2003) que os grupos criativos contam com grande habilidade para

adaptarem-se ao ambiente e valorizarem os recursos nele disponíveis. Isto acontece em

quaisquer das situações, sejam as de estarem criando em lugares propícios (sistemas de

comunicação abertos) ou até mesmo em lugares onde são hostilizados e precisam defender

suas idéias com firmeza (DE MASI, 2003, p. 599).

Além disso, outras condições podem “influir de modo ambivalente sobre a criatividade

dos grupos organizados, assim como sobre a dos criativos individuais: o estresse e o ócio”.

Segundo o autor, o estresse é uma “tensão nervosa permanente”, fruto da exploração

industrial que, nos seus primórdios, aumentou o mais que pode a duração, em tempo, do

trabalho cotidiano; depois, com o tempo já escasso, foram introduzidas maneiras de se

acelerar o tempo, exigindo-se assim agilidade e máxima produção; até que se investiu na

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questão da “qualidade dos produtos e, para melhorá-la, procurou-se enfatizar o empenho dos

trabalhadores, elevando-lhes o moral” (DE MASI, 2003, p. 600-1).

Esta remontagem histórica dos ápices do capitalismo em relação ao trabalho na

conjuntura específica entre o tempo, a produtividade e a lucratividade, parece indicar que o

estresse pode favorecer a criatividade. Assim pensam os formuladores americanos, favoráveis

ao “superativismo”, contra a introspecção. A sensação de ver seu tempo se extinguindo,

próximo à morte, pode também “ligar” o motor interno da criatividade.

Consoante à De Masi (2003), por meio de conclusões a que chegaram Faretto, Cabib e

Pugliese Allegra, Boschi e Sprugnoli e outros “o estresse é capaz de incentivar uma

criatividade torrencial, no campo tecnológico, e desequilibradora, no campo artístico”. E,

ainda segundo ele, “a solução do problema está no ócio criativo, na arte de reunir em síntese

três faculdades intelectuais – trabalho, estudo, lazer – que o mecanismo industrial tinha,

astuciosamente, separado”. (DE MASI, 2003, p. 610-1)

O ócio, conforme De Masi, é visto como:

um estado de bem-estar de corpo e alma. Um estado livre e espontâneo no qual saboreamos a alegria de viver e de conviver, de estar conosco mesmos e com os outros, de nos sentir em sintonia com os lugares, as coisas e pessoas que nos circundam. O que fazemos em nossas horas de ócio não responde a nenhum vínculo contratual, não segue nenhuma prescrição externa, não respeita nenhum ritmo imposto por outros: responde apenas ao prazer estético e à satisfação ética, ao céu estrelado que está acima de nós e à lei moral que está dentro de nós. Mas o ócio, [...] é uma arte difícil, que requer exercício, experimentação e autodisciplina. Bem endereçado, ele gera Eros e criatividade, sublimando-se em lazer. Desprovido de educação, ele se arrisca a se degenerar em tédio, insipidez, violência, em tânatos: não por acaso, fala-se de ‘perder tempo’, ‘matar o tempo’, ou ainda ‘passar o tempo’. (DE MASI, 2003, p. 615)

Seu contraponto, do ócio e do ócio criativo é a sofreguidão em tornar-se rico. Assim,

entra-se numa marcha contínua de modificação e inovação de processos e, o que pode levar à

abundância de recursos financeiros, pode ocasionar a sua alienação. Os dois – abundância e

alienação – tão próprios do sistema capitalista, podem retirar das mentes “o necessário

afastamento dos problemas que nos preocupam e que propicia a imersão naquela espécie de

limbo da mente, onde flutua o plâncton de nossa criatividade”. (DE MASI, 2003, p. 626)

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Assim, para De Masi (2003), o modelo do ócio criativo é o carnaval brasileiro onde,

Durante o carnaval, os pobres oferecem aos privilegiados a sua música, as suas cores e a sua alegria, contagiando-os com a explosão de beleza e de prazer. E se esse fenômeno extremamente pacificador pode repetir-se todo ano é porque – como diz Jorge Amado – ‘um povo mestiço, cordial, civilizado, pobre e sensível habita esta paisagem de sonho’. Um povo pobre de recursos materiais, mas riquíssimo de cultura, disposto a acolher toda a diversidade, a fazer conviverem pacificamente todas as raças da terra e todos os deuses do céu. [...] É nesse estado de graça que o ócio se torna condição e fator ideal da criatividade, seja individual como de grupo. (DE MASI, 2003, p. 634-5)

A partir dessas premissas: da criatividade, da disposição à alegria, ao “requinte

simples” (morador 12), da possibilidade de conciliação da criatividade com a felicidade e

sensibilidade, livrando-se das “paredes cinzentas e entediantes do escritório” (DE MASI,

2003, p. 637) que procurou os marcos teóricos deste trabalho. Pois, afinal, Búzios é

“glamour”, beleza, estado jovem de espírito, rito e liberdade, mansidão, expectativa e

deslumbramento.

Enquanto se apreendiam os conceitos e formulações do De Masi, se usou também os

escritos do historiador Marcio Werneck da Cunha, que se debruçou sobre a história de Búzios.

Longe de desarmonia, pode-se verificar que, para melhor adequar a visão de futuro

(criatividade) do De Masi, o estudo do passado da localidade e de suas heranças, do Cunha,

torna exeqüível a rica experiência que distingue Búzios do seu entorno.

2.5 QUESTÕES A INVESTIGAR

Búzios é uma cidade peculiar. Do ritmo frenético no verão, desabrocha a mansidão das

outras estações do ano. Menos os finais de semana prolongados... quanto mais próximo ao

verão, mais fervilha. Cidade jovem, cidade lazer, cidade sol, cidade mar. Búzios brilha e não é

à toa que está subindo no ranking das cidades mais visitadas por turistas internacionais no

Brasil.

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Por trás desta agitação, deste glamour, existem pequenas vozes, vindas do seu

passado, da Búzios pacata, paraíso, que não querem calar. Atrás deste cosmos, há também as

suas origens, a sua cultura mais íntima, mais antiga. Um modo de viver que, se bem estudado

e dado a conhecer ao mundo, pode gerar riquezas para a sua população: dos pobres aos

abastados.

O que esconde Búzios que se pode trazer à tona para ser oferecido como mais um

leque de produtos para aqueles que a vem visitar, principalmente na baixa temporada?

Esta pergunta marcou o itinerário das pesquisas iniciais dos estudos e documentos do

governo, da iniciativa privada, dos jornais, de um apanhado geral que pudesse indicar

caminhos para se encontrar soluções a este problema.

Sendo assim, houve um primeiro contato com a então Secretaria de Turismo,

Comunicação e Imagem do Município de Armação dos Búzios, que forneceu os primeiros

contatos de fatos e pessoas que se pudesse inquirir.

Percebeu-se que sua preocupação era nítida em relação à baixa temporada.

Preocupação esta que se estendia ao grande afluxo de gente na alta temporada. Deveria

Búzios trabalhar com o sistema de carga, limitando o acesso de pessoas à península na alta

temporada? Ou deveria reforçar sua infra-estrutura para que pudesse receber esse grande

número de pessoas no verão?

Assim se chegou primeiro aos jornalistas, depois aos professores e alunos do Cejob.

No Cejob se procurou saber, por meio de sondagem inicial, o que e como fazia o

Curso Técnico de Turismo para propor caminhos e inovar em produtos para a baixa

temporada?

A partir daí chegou-se ao Coordenador do Curso, aos alunos, ao conjunto de

professores. Perguntou-se: qual é a Búzios que se trabalha aqui, a da terra ou a cosmopolita?

Privilegia-se a cultura nativa? Incorporam-se nos estudos de turismo aquilo que é trazido

também pela população mais pobre? Os alunos de turismo sabem o que a história da cidade

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conta em relação à comida, dança, música, arte, enfim, modos mais típicos de se viver na

cidade?

Afinal de contas, em que medida o valor do patrimônio cultural, principalmente do

imaterial, está presente no discurso daqueles que lidam com o turismo no Município de

Armação dos Búzios, mais especificamente, naqueles que atuam na educação formal para a

atividade?

O plano pedagógico do Cejob reflete o que as entidades da educação, do turismo e

hospitalidade, da cultura, governos e organizações não-governamentais têm pensado para

Brasil e especificamente para Búzios?

Em se falando em “brasilidade”, seria recomendável mostrar o Brasil por meio de sua

cultura, de sua identidade brasileira, pela “marca Brasil”? Como é a “brasilidade buziana”?

Como os alunos do Tectur/Cejob vêem esta discussão? Como seria o turismo, em Búzios, que

levasse em consideração a “brasilidade buziana”?

2.6 HIPÓTESE

Dayse Justus (1996, p. 60), afirma que:

A cultura mundial é criada através de um aumento cada vez mais significativo de entrelaçamento de culturas locais diversificadas, bem como através do desenvolvimento de culturas sem um apoio nítido em nenhum território específico. Todas elas estão se tornando, por assim dizer, subculturas dentro do conjunto mais amplo; culturas que são, de modo importante, melhor entendidas dentro do contexto do seu ambiente cultural do que isoladamente. Entretanto, as pessoas podem se referir de formas variadas a esta diversidade global entrelaçadora. Uma delas é através da distinção entre os cosmopolitas e os locais.

Embora decorridos dez anos da apresentação de sua dissertação, Justus é bastante

contemporânea. Ressalta-se que, na sua conclusão, salienta que:

Búzios prepara-se para um novo momento de sua história: a condição de município. Um novo turismo se impõe a essa peculiar cidade turística. Na

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projeção para o futuro, os buzianos falam em não perder a marca, que não se perca o estilo, e assim o futuro está em liame com o passado. A cidade só se consolidará seu estilo no futuro, se conseguir fortalecer os laços com a sua memória social. Com a sua identidade social, com seu passado. A transitoriedade é um fato, a metamorfose é uma evidência. Como algo que tem dois lados, como uma moeda, sustentando suas antíteses, sendo natural e diversa. Ainda que se atualizando, através de uma outra linguagem, conseguir manter seus pares antitéticos. (JUSTUS, 1996, p. 60)

O desenvolvimento trouxe a Búzios mais do cosmopolitismo do que do local. E esta

também é uma das fases dos sistemas econômicos.

Desde a Antigüidade, o homem, e mais exatamente os ocidentais, procuram chegar até

onde não se conhece. Os objetivos, tidos como aventura, alteridade, curiosidade, escondem

uma outra face que é a globalização, esta entendida de diversas maneiras segundo sua época.

Com as viagens e conquistas trazem consigo um pedaço da cultura e plantam naquele “novo”

lugar parte de seu modo de vida.

E em Búzios não foi diferente. Os estrangeiros foram chegando e se estabelecendo.

Trouxeram consigo dinheiro, investimento e desenvolvimento para a cidade. Colocaram

Búzios no imaginário social em escala mundial: a da aldeiazinha perdida no Brasil, onde

ainda há os pescadores, mas também pode-se fazer compras em lojas de griffe, dormir nos

melhores hotéis e comer nos melhores restaurantes, de cozinhas variadas.

Só esqueceram de levar consigo a população. O pescador se transformou no caseiro.

As mulheres tecedoras de redes de pescar em camareiras. O jovem, que lá nasceu, filho de

pescador ou do morador que lá tem suas raízes, está entre essas duas realidades. De um lado o

crescimento, a novidade trazida por quem já mora há algum tempo, mas é estrangeiro, de

outro os turistas e veranistas que chegam aos borbotões na alta temporada, tem aquele que

chega para trabalhar e fica e, de ainda um outro lado, o da terra, aquele que está lá por

gerações. São estas partes que convivem e que fazem de Búzios um encontro de culturas.

Entretanto, se existe “algo de especial” na cultura buziana, por que ainda não foi

levado ao turista? E é exatamente este aspecto que se foi procurar.

A hipótese é que a valorização da cultura está presente no discurso dos alunos do

Tectur/Cejob, mas de maneira ainda desorganizada e geralmente associada a pequenos ganhos

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econômicos, o que se justifica pela falta de uma identificação real do que é e do que não é

expressão cultural local, fruto das raízes de Búzios.

Acontece porque o Tectur vem incorporando aos seus conteúdos nas disciplinas as

questões levantadas nacional, regional e municipalmente, de maneira gradual, por meio da

reformulação de suas diretrizes pedagógicas implantadas em 2001 e revistas em 2004.

Além disso, o Tectur/Cejob encontra dificuldades em implantar ações pedagógicas

mais proativas na área de turismo por carecer de instalações mais condizentes com a

complexidade exigida para o curso. As questões pedagógicas mais básicas têm prioridade em

relação às atividades que se caracterizam como excedentes, privando o aluno de um

aprendizado mais profundo de sua história e cultura e, ao corpo docente de inovar nos

recursos pedagógicos e além de dificultar uma relação mais harmoniosa com a iniciativa

privada, essencial para aquele que se forma em Técnico em Turismo.

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3 DO ENTENDIMENTO PARA QUE SERVEM OS CURSOS TÉCNICOS

PROFISSIONAIS

Emmanuel Andrade (1997, p. 113) em sua tese sobre “o ensino da engenharia e a

tecnologia”, lembra que “ninguém discorda de que a formação profissional pode influir, de

forma positiva ou negativa, na qualidade de vida das populações. Resta saber até que ponto o

ensino profissional é considerado suficiente ou deficiente”.

Embora a área de estudos deste trabalho seja a relação turismo, cultura e educação

profissional e não a engenharia e tecnologia, a preocupação do professor Emmanuel, no que

diz respeito ao ensino profissional, enunciada em seu doutoramento, permeou todo este

trabalho.

Segundo os referenciais curriculares nacionais da educação profissional de nível

técnico, na sua parte introdutória, a educação profissional está diretamente relacionada, hoje,

aos termos “trabalhabilidade”, “competências” e “empreendimentos produtivos

contemporâneos”. Por “trabalhabilidade”, entende o documento como “componente da

dimensão produtiva da vida social e, portanto, da cidadania, é o objetivo primordial da

educação profissional”. (BRASIL, MEC, 2000, p. 6).

Ainda na caracterização dos conceitos, diz o documento:

no núcleo dessa modalidade de educação [trabalhabilidade] está o processo de apropriação da condição ou do conjunto de condições para produzir benefícios – produtos e serviços – compartilhados socialmente e para o acesso ao usufruto desses benefícios, em situações permanentemente mutáveis e instáveis (BRASIL, MEC, 2000, p. 6).

Sendo assim, o “novo paradigma da educação” está baseado no conceito de

competência, que integra “situações-meio, pedagogicamente concebidos e organizados para

promover aprendizagens profissionais significativas”. (BRASIL, MEC, 2000, p. 6-7)

Nos Quadros 1 e 2 se pode verificar, como exemplo, quais os paradigmas na

conceituação de competência e quais são as diferenças do modelo antigo do planejamento e

controle educacional do novo.

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COMPETÊNCIA (CONCEITO)

• CONHECIMENTOS • HABILIDADES • VALORES/ATITUDES

ARTICULAÇÃO MOBILIZAÇÃO

COLOCAÇÃO EM AÇÃO

▼ DESEMPENHO

EFICIENTE E EFICAZ

Quadro 1 – Conceito de Competência Fonte: MEC – Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico (2000)

PARADIGMA EM SUPERAÇÃO

PARADIGMA EM IMPLANTAÇÃO

Foco nos CONTEÚDOS a serem ensinados

Foco nas COMPETÊNCIAS a serem desenvolvidas / nos SABERES (saber, saber fazer e saber ser) a serem construídos.

Currículo como fim, como conjunto regulamentado de disciplinas.

Currículo como conjunto integrado e articulado de situações-meio, pedagogicamente concebidas e organizadas para promover aprendizagens profissionais significativas.

Alvo do controle oficial: cumprimento do Currículo.

Alvo do controle oficial: geração das Competências Profissionais Gerais.

Quadro 2 – Comparação entre os modelos de superação e os de implantação Fonte: MEC - Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico (2000)

Os Quadros 1 e 2 demonstram como o MEC se coloca em relação a educação

profissional: dirigida aos saberes, dentro das situações-meio com a geração das competências

profissionais gerais.

Os Referenciais Curriculares enfatizam ainda que para se atingir as metas, na questão

das competências a serem desenvolvidas na educação profissional, é importante observar que:

a educação profissional é uma modalidade própria de educação, que deve estar articulada com a educação básica e, no caso do nível técnico, ser complementar ao ensino médio;

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à educação básica cabe o desenvolvimento de competências básicas da pessoa e do cidadão, bem como a preparação geral para o trabalho como dimensão da cidadania;

as competências básicas a serem desenvolvidas no ensino médio estão concentradas, pelas Diretrizes Curriculares que lhe dizem respeito [Resolução CEB/CNE nº 03/98 e Parecer CEB/CNE nº 15/98], em três áreas: Códigos e Linguagens e suas Tecnologias, Ciências Naturais, Matemática e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias;

a educação profissional requisita competências básicas, que devem ou deveriam ser garantidas pela educação básica - ensinos fundamental e médio, sendo que a verificação e, se for o caso, a recuperação das mesmas, em etapas ou módulos de entrada ou de nivelamento de bases, por exemplo, são previsíveis, considerando as atuais condições e os resultados ainda insatisfatórios da educação chamada geral. (BRASIL, MEC, 2000, p. 9)

Aqui a atenção se volta para o lugar que ocupa a Educação Profissional dentro dos

níveis de Educação e deixa claro que a educação profissional é uma continuidade do ensino

médio. Segundo o documento ela, a educação profissional, deve incorporar ao trabalho aquilo

que é específico do mundo do trabalho e não fazer o papel da educação geral, que é a da

formação geral do cidadão.

Na questão do planejamento educacional, a Lei de Diretrizes e Bases (BRASIL, CN,

1996), assim como as normas, os pareceres e resoluções dela decorrentes dão consistência

para a formulação de uma educação regida por princípios amplos. Além disto, destinam às

escolas a elaboração de seu projeto pedagógico, levando em conta o ambiente em que estão

inseridas.

O planejamento educacional estaria, assim, livre dos laços de uma educação reprodutiva,

imprópria para as demandas da época, garantindo, na atualidade, o projeto pedagógico de

cada escola com o poder de decidir como e o que aplicar. O texto é categórico quando diz

que:

A imaginação, o sonho ou, enfim, a fantasia dos educadores, abafada por normas e regras muito específicas e desanimada pelos quase sempre limitados e precários recursos e condições disponíveis ao trabalho educacional, tem, hoje, um espaço muito maior para seu exercício. Assim, o processo de planejamento nas escolas deve partir da compreensão de que o mesmo deve estar a serviço, não da burocracia e do reprodutivismo, mas da fantasia e da realização de uma proposta educacional inovadora, revolucionária, comprometida com a formação e o desenvolvimento de um novo cidadão e de uma nova sociedade. [Desse modo, o] planejamento educacional é, em síntese, o processo que dá consistência e forma à imaginação ou à fantasia de uma equipe que almeja a construção de um trabalho educacional mais eficaz e de melhor qualidade, considerado um

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ideal de ser humano e de sociedade, e que resulta em um projeto pedagógico orientador de decisões, esforços e ações do conjunto de pessoas envolvidas, de alguma maneira e em algum nível ou grau, em sua efetiva realização. (BRASIL, MEC, 2000, p. 14-15).

A essa maneira de definir o planejamento educacional, a Secretaria de Estado de

Educação do Rio de Janeiro – SEE/RJ acrescenta que, “a composição dos níveis escolares,

nos termos do artigo 21 da LDB, não deixa margem para diferentes interpretações: são dois os

níveis educacionais da educação escolar no Brasil – a educação básica e a educação superior.”

(GOVERNO, SEE/RJ, s/d, p. 12)

A SEE/RJ, corroborando com o que prevê as resoluções do Conselho Nacional de

Educação – CNE quanto à flexibilidade no planejamento dos cursos e da possibilidade destes

serem oferecidos em etapas ou módulos, estimula as escolas que criem seus cursos, mas que

não o façam de maneira efêmera, imediatista. A preocupação está em, ao responder diretamente

ao mercado, criando ou reformulando cursos com uma demanda que se esgota rapidamente,

poder-se-ia criar toda uma estrutura que tenha de ser desmontada em pouco tempo, causando

um dispêndio desnecessário.

Segundo o Parecer CNE/CEB nº 16/99, as habilitações correspondentes às diversas áreas profissionais, para que mantenham a necessária consistência, devem levar em conta as demandas locais e regionais, considerando, inclusive, a possibilidade de surgimento de novas áreas. Contudo, é fundamental desconsiderar os modismos ou denominações de cursos com finalidades exclusivamente mercadológicas. Ressalte-se que a nova legislação, ao possibilitar a organização curricular independente e flexível, abre perspectivas de maior agilidade por parte das escolas na proposição de cursos. A escola deve permanecer atenta às novas demandas e situações, dando a elas respostas adequadas, evitando-se concessões a apelos circunstanciais e imediatistas. (GOVERNO, SEE/RJ, s/d, p. 19)

Entre o sonho e a realidade, poder-se-ia inferir as atitudes das equipes de professores

estaduais ao construírem, nos colégios, seus projetos pedagógicos para os cursos técnicos.

Ousar nos conteúdos, inovar nos recursos pedagógicos, criar situações de aprendizagem para

os alunos que incorporassem ou trouxessem a comunidade para dentro da escola. Os alunos

devem sair dos muros da escola e se comunicar com as comunidades: a ter acesso ao sonho –

definido pelo futuro, por intermédio de sua realidade – o presente, levando em conta o

processo de aprendizagem e sua história pessoal e coletiva – o passado.

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Os referenciais curriculares assim definem este momento:

...os programas de educação profissional, com currículos dirigidos para competências requeridas pelo contexto de uma determinada área profissional, caracterizam-se por um conjunto significativo de problemas e projetos, reais ou simulados, propostos aos participantes e que desencadeiam ações resolutivas, incluídas as de pesquisa e estudo de conteúdos ou de bases tecnológicas de suporte, podendo estas estar reunidas em disciplinas, seminários, ciclos de debates temáticos e de atividades experimentais / laboratoriais. [...] Este eixo [projetos, problemas ou desafios] é definido a partir de propostas do(s) professor(es) discutidas com os alunos. Atividades de apropriação de conteúdos de suporte, de bases tecnológicas, organizados em disciplinas ou não, e de acompanhamento, avaliação e assessoria às ações de desenvolvimento dos projetos, são programadas e convergem para esse eixo do currículo. (GOVERNO, SEE/RJ, s/d, p. 25)

3.1 DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL EM TURISMO E HOSPITALIDADE

A educação profissional tem um novo contorno desde a discussão e promulgação da

Lei de Diretrizes e Bases. No caso da educação profissional em Turismo e Hospitalidade, vê-

se que, de 2000 até hoje, esta área tem sido muito dinâmica em relação aos seus processos de

gestão. Seja o processo interno de um hotel ou restaurante, ao processo externo, do

planejamento turístico e hoteleiro municipal, em todas as esferas, a educação profissional na

área tem tido um grande avanço.

Segundo o MEC (2000a, p. 4), “a área profissional de Turismo e Hospitalidade ocupa-

se da criação de produtos a serem ofertados e, sobretudo, da prestação de serviços turísticos,

de hospedagem, de alimentação e de eventos.”

Há anos atrás era comum que alguém, ao se aposentar, pensasse em abrir uma pequena

pousada, achando que dali por diante, em sua vida, poderia morar em um lugar bonito, fazer

amizades, ser cortês com as pessoas, não ficar sozinho e ainda por cima, ganhar dinheiro.

Esta impressão dada à hotelaria, principalmente, foi um dos motivos de seu atraso em

ter uma profissionalização do serviço, como também o de muitas tristezas para quem,

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desavisadamente, às vezes sequer sem um plano de negócios, abriu uma pousada e teve de

fechá-la entre dois a cinco anos. Os que sobreviveram ou sobrevivem a esta expectativa são

aqueles que, ao se conscientizarem que são donos reais de negócios, procuram instituições de

apoio para tornar a empresa competitiva.

No mundo de hoje, ao se abrir negócios, é mister que se desenvolva estrategicamente

um plano para o negócio e que se tenha mais do que noção dos compromissos ao ser tornar

dono de pousada, por exemplo. De todo um processo gerencial, de uma pequena pousada que

seja, há de se ter um controle de suas operações necessárias: desde a recepção (check in) até a

saída do hóspede (check out).

Este exemplo da hotelaria é válido para qualquer outro negócio e dir-se-ia que para a

área de Turismo e Hospitalidade seriam mais necessários ainda os projetos estratégicos de

montagem e manutenção de empresas.

Quanto ao trabalhador da área, se exige várias competências profissionais além da

cortesia, simpatia e cordialidade. Principalmente na área de serviços que apresenta dificuldade

na manutenção da fidelização do cliente.

Em decorrência de um conjunto de fenômenos que caracterizam o mundo atual, o mercado de trabalho vem se reconfigurando e colocando novas exigências para os profissionais da área de Turismo e Hospitalidade. Uma delas é a clara revalorização da educação geral, na medida em que ela é condição essencial para todo desempenho técnico-profissional frente aos novos paradigmas econômico-sociais. Passa a ser requerido o desenvolvimento das competências de comunicação e de conhecimentos científicos e socioculturais, próprios da educação básica, as quais podem gerar os atributos de raciocínio e expressão lógicos, de comunicação oral, escrita, simbólica, interpessoal e grupal, de autonomia, de iniciativa, de criatividade, de cooperação, de solução de problemas e de tomada de decisões (MEC 2000a, p. 5).

Turismo e Hospitalidade têm interface com várias áreas, tais como: saúde, negócios,

esportes, religioso, lazer, ecológico, entre outros. A multiplicidade de interfaces a que está

sujeito o trabalhador da área faz com que ele necessite de uma boa educação geral e, por isso,

privilegia os cursos técnicos de turismo para àqueles que já tenham concluído o ensino médio

(antigo 2º grau).

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O próprio documento dos Referenciais Curriculares, ao se referir às interfaces

necessárias ao trabalhador de turismo diz:

Com as Artes, desnecessário insistir na interface e, mesmo, dependência que o Turismo tem em relação ao patrimônio histórico-artístico, às manifestações de arte de toda natureza, da folclórica e popular à mais sofisticada e cosmopolita. Com o Lazer e Desenvolvimento Social, pela sua identificação com a função social do uso do tempo livre e com a forma de seu exercício através de atividades de recuperação psicossomática, recreativas, físico-desportivas, de entretenimento, de fruição artístico-cultural, etc. A área de Turismo e Hospitalidade faz, ainda, interface com essas e varias outras áreas, quando se promovem eventos de várias naturezas, tipos, conteúdos e objetivos.” (MEC 2000a, p. 6)

O setor de serviços vem crescendo a cada ano e o de turismo, resguardadas às questões

de segurança e de fenômenos imprevisíveis naturais, é um dos que têm maior potencial.

A esta crescente expansão aumenta também as oportunidades de trabalho não só no

turismo, mas nas áreas a ele associadas como as de hospedagem, alimentação sejam

restaurantes ou de alimentos congelados, prontos ou semiprontos.

Ao aumento de oportunidades, inclusive com a vinda de agências e cadeias de hotéis

internacionais, exige-se também uma maior educação para os seus trabalhadores. Dentre

estas, pode-se citar:

Maior polivalência da formação, com diminuição de exigências técnicas nas disciplinas tradicionais;

Desenvolvimento de todas as formas de gestão, que se integram nas demais disciplinas;

Maior necessidade de competência e eficiência nas técnicas de venda; Desenvolvimento generalizado em tudo quanto se relaciona com a

comunicação, as relações humanas e a negociação; Formação em matéria de manutenção e reparação; Organização modular que facilite a capitalização dos conhecimentos

acumulados em diferentes fases da carreira profissional; Dimensão de “formador” que deve ter cada responsável; Abertura internacional (MEC 2000a, p. 11-12).

Embora date da década de 50 o ensino profissional em Turismo e Hotelaria,

encabeçado pelo SENAC e se estendendo por todo território nacional, com seus restaurantes-

escola, é na década de 60 que o Senac inaugura o seu primeiro hotel-escola. Estes cursos

atendiam a um conjunto de trabalhadores funcionais, operativos.

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Na década de 70, mais precisamente em 1971 é quando surge o primeiro curso de

graduação em turismo dado pela então Faculdade de Turismo do Morumbi. Mais tarde, em

1978 é criado o primeiro de hotelaria no Brasil, pela Faculdade de Administração Hoteleira da

Universidade de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. (REJOWSKI, 2002, p. 62-63).

Na década de 80 despontaram outros cursos superiores de tecnologia em hotelaria no

Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Maranhão. Nos anos 90 foram implantados cursos de

Administração Hoteleira ou foram criadas habilitações em hotelaria nos cursos de

Administração de Empresas.

Dos meados dos anos 90 para cá, houve um aumento significativo dos cursos

superiores de Turismo e Hotelaria. A oferta destes cursos, entre os cursos novos, é a de maior

crescimento.

Segundo os Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível

Técnico: “o nível técnico é menos ofertado. As iniciativas relativas à Hospitalidade

restringem-se ao SENAC e Escolas Técnicas Federais (CEFETs). Só a partir de 1988 vêm

surgindo outras iniciativas, inclusive de escolas públicas estaduais” (MEC, 2000a, p. 14).

Ainda na p. 14, os Referenciais Curriculares alertam que esses cursos [os das escolas

públicas estaduais], oriundos da Lei Federal 5.692:

em sua grande maioria, não têm laboratórios ou ambientes especiais, nem recursos tecnológicos, nem biblioteca especializada, são distanciados do sistema produtivo da área e seus docentes muitas vezes não têm experiência ou efetiva atuação no mercado de trabalho.

Por não responderem às necessidades dos alunos e das empresas, ainda segundo o

documento do MEC, aqueles cursos oriundos da obrigatoriedade da profissionalização não

são recomendados devido a sua modelagem pedagógica com práticas tradicionais de aulas

teóricas e um pouco de técnica, porém ultrapassadas. Argumenta, entretanto, que há uma falta

de investimento de recursos (laboratórios, bibliotecas, ambientes especiais, etc) e de

adequação e atualização dos professores.

Apesar de os referenciais curriculares estarem explicitados em forma de matrizes que estabelecem competências, habilidades e bases tecnológicas a

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serem necessariamente contempladas, qualquer que seja o desenho ou formato que estes assumam, as considerações anteriores sugerem algumas recomendações:

A adoção de desenhos curriculares e de alternativas metodológicas inovadoras, dinâmicas, que substituam o modelo centrado nas aulas tradicionais por um ambiente pedagógico caracterizado por aulas operatórias, por oficinas e workshops, nos quais os alunos pesquisem e trabalhem em projetos concretos e experimentais característicos da área; por espaços de discussão fundamentada sobre o que está fartamente disponível para ser ouvido, visto e lido dentro e fora da escola; por seminários e palestras com profissionais atuantes; por visitas culturais e técnicas;

A busca de alternativas de gestão de recursos educacionais, tais como acordos, convênios, patrocínios ou parcerias, que viabilizem constante renovação ou atualização tecnológica, condição essencial para que a educação profissional não faça da efetiva realidade do processo de produção da área uma ficção;

O estudo e a implantação de formas flexíveis de organização do trabalho escolar e de estabelecimento de vínculos contratuais com professores, de maneira a possibilitar a contribuição de profissionais efetivamente engajados na atividade produtiva, atualizados e responsáveis por produções e serviços reconhecidos pela sua qualidade, cuja disponibilidade e interesse não se ajustam aos esquemas pedagógicos e administrativos convencionais (MEC, 2000a, p. 15).

Essas recomendações deixam claro que, qualquer um que se proponha a dar cursos

profissionais em Turismo e Hospitalidade deve ter condições materiais (ambientação especial

para a área, tecnologia, bibliotecas, por exemplo) e humanas (docentes com efetiva atuação no

mercado de trabalho). Além disso, devem também ter, o corpo docente e a gestão escolar,

relacionamento com outros profissionais que atuam na área para que sejam feitas trocas de

conhecimento e técnicas fora do ambiente escolar, mas de maneira regular e não simples

atividades extracurriculares.

Ao se sustentar que o trabalho na área não é somente voltado para a criação de

produtos turísticos, mas também para a prestação de serviços turísticos, de eventos, de

hospedagem e de alimentação, pode-se perceber o leque de opções que um profissional tem.

Mais ainda, ao se dar conta que estes serviços podem ser oferecidos praticamente em qualquer

ambiente, conclui-se que, qualquer curso que pretenda dar conta deste universo, tem de estar

muito bem informado das necessidades do mercado.

Sendo assim, o MEC propõe um quadro síntese que deve orientar a organização

curricular de cursos de nível técnico da área.

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PROCESSO DE PRODUÇÃO FUNÇÕES SUBFUNÇÕES 1. PLANEJAMENTO do agenciamento e da operação turística, do guiamento do turista, da promoção de eventos, dos serviços de hospedagem e de alimentação.

SF 1.1 Concepção, viabilização e organização.

SF 1.2 Articulação e coordenação de programas, roteiros e itinerários.

SF 1.3 Organização de espaços físicos de meios de hospedagem e de alimentação

2. PROMOÇÃO E VENDA dos produtos e serviços turísticos, de eventos e dos serviços de hospedagem e de alimentação.

SF 2.1 Prospecção mercadológica e captação de clientes.

SF 2.2 Comercialização de produtos e serviços.

SF 2.3 Acompanhamento pós-execução.

3. GESTÃO do processo de execução do agenciamento e da operação turística, do guiamento do turista, da promoção de eventos e dos serviços de hospedagem e de alimentação.

SF 3.1 Gerenciamento econômico, técnico e administrativo.

SF 3.2 Gerenciamento do pessoal.

SF 3.3 Gestão dos meios tecnológicos.

SF 3.4 Manutenção e/ou readequação do empreendimento

Quadro 3 – Processo de Produção Fonte: MEC (2000a)

Embora sejam usadas matrizes de referência para balizar as competências necessárias

para os profissionais da área, a equipe que as elaboraram diz que elas servem de “fontes

inspiradoras de currículos modernos e flexíveis”, onde são suportadas por competências,

habilidades e bases tecnológicas.

Seguindo esta linha de raciocínio, os itinerários formativos e as competências para

cada qualificação ou habilitação, definidas pela escola, deverá ir em busca do que satisfaça

“às demandas pessoais, sociais e econômicas locais ou regionais”.

Assim, o profissional de nível técnico em Turismo e Hospitalidade, para atender as exigências requeridas pelo mercado de trabalho, deverá no curso de nível técnico:

receber formação com a constituição de competências gerais e comuns a toda a área, que lhe permita compreender e apreender seu processo de produção e prestação de serviços, e ganhar flexibilidade e versatilidade visando acompanhar suas transformações e as variações do mercado de trabalho, bem como simplificando a volta a estudos para outras qualificações, habilitações ou especializações nessa área profissional;

receber formação que desenvolva competências específicas relativas ao profissional definido pelo perfil de conclusão que atende às demandas

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constatadas. As competências profissionais gerais do técnico da área de Turismo e Hospitalidade são:

Conceber, organizar e viabilizar produtos e serviços turísticos e de hospitalidade adequados aos interesses, hábitos, atitudes e expectativas da clientela.

Organizar eventos, programas, roteiros, itinerários turísticos, atividades de lazer, articulando os meios para sua realização com prestadores de serviços e provedores de infra-estrutura e apoio.

Organizar espaços físicos de hospedagem e de alimentação, prevendo seus ambientes, uso e articulação funcional e fluxos de trabalho e de pessoas.

Operacionalizar política comercial, realizando prospecção mercadológica, identificação e captação de clientes e adequação dos produtos e serviços.

Operar a comercialização de produtos e serviços turísticos e de hospitalidade, com direcionamento de ações de venda para suas clientelas.

Avaliar a qualidade dos produtos, serviços e atendimentos realizados. Executar atividades de gerenciamento econômico, técnico e

administrativo dos núcleos de trabalho, articulando os setores internos e coordenando os recursos.

Executar atividades de gerenciamento do pessoal envolvido na oferta dos produtos e na prestação dos serviços.

Executar atividades de gerenciamento dos recursos tecnológicos, supervisionando a utilização de máquinas, equipamentos e meios informatizados.

Realizar a manutenção do empreendimento, dos produtos e dos serviços adequando-os as variações da demanda.

Comunicar-se efetivamente com o cliente, expressando-se em idioma de comum entendimento (MEC, 2000a, p. 33-34).

O importante nesta configuração de cursos é que a instituição possa ter os meios para

conseguir ministrá-los com competência e, por isso se deve avaliar a capacidade institucional,

assim diz o MEC, na disposição de espaços, no investimento da aquisição, manutenção e

modernização de equipamentos. Outrossim, deverá ter os ambientes especializados, essenciais

aos exercícios das competências demandadas ao profissional da área, para que se estimule o

aluno ter ânimo e capricho no aprendizado. Os convênios e parcerias com empresas da área

podem facilitar a utilização destes equipamentos e ambientes.

A seguir são dadas sugestões de como se poderia montar um currículo modular para as

habilitações de Serviços de Turismo e de Serviços em Hospitalidade:

Módulo Introdutório Bases instrumentais (informática, comunicação, gestão). Panorama dos serviços e atividades do conjunto da área.

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Módulos de Serviços de Turismo

Operação e Agenciamento. Transporte de Turismo. Guiamento. Eventos. Planejamento e Organização de Agência/Evento. Marketing de Agência/Evento.

Módulos de Serviços de Hospitalidade

Recepção. Governança Alimentos e Bebidas. Planejamento e Organização Hoteleira/de Restaurantes e Bares. Marketing Hoteleiro/de Restaurantes e Bares (MEC, 2000a p. 35-36).

É fundamental deixar claro que a carga horária mínima de cada habilitação da área é

de 800 horas, excluídas as horas de estágio, quando este for previsto pelo plano de curso. A

Tabela 4 reproduz as propostas de carga horária mínima por cada habitação de curso.

Tabela 1 – Áreas Profissionais e Cargas Horárias Mínimas por Habilitação ÁREA PROFISSIONAL

CARGA HORÁRIA MÍNIMA DE CADA

HABILITAÇÃO 1. Agropecuária 1.200 2. Artes 800 3. Comércio 800 4. Comunicação 800 5. Construção Civil 1.200 6. Design 800 7. Geomática 1.000 8. Gestão 800 9. Imagem pessoal 800 10. Indústria 1.200 11. Informática 1.000 12. Lazer e desenvolvimento social 800 13. Meio ambiente 800 14. Mineração 1.200 15. Química 1.200 16. Recursos pesqueiros 1.000 17. Saúde 1.200 18. Telecomunicações 1.200 19. Transportes 800 20. Turismo e Hospitalidade 800 Fonte: MEC (2000a)

O governo brasileiro sabe da importância que a educação profissional exerce nos dias

atuais e o quanto o não tratamento disto pode prejudicar uma geração inteira e o país. Entende

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também que esta matéria deve ser fruto de estudos conjuntos entre um grupo de

representantes de vários ministérios que lidam com a educação profissional. Além disso, o

governo tem estabelecido reuniões conjuntas com o Mercosul, a Comunidade Européia,

docentes e consultores educacionais americanos e demais países para a discussão da questão.

3.2 DA IMPORTÂNCIA DA VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE CULTURAL PARA A

EDUCAÇÃO E TURISMO, SEGUNDO A UNESCO E O PLANO NACIONAL DE

TURISMO

Em 28 de janeiro de 2004, a então Secretária de Educação do Município de Armação

dos Búzios, no Encontro Educação Municipal em foco, realizado na Universidade Estadual do

Rio de Janeiro – UERJ, salientou, segundo notícias da Undime-RJ, que a Secretaria vinha

atuando

junto à população que vive no município na baixa temporada e o papel dos educadores na tarefa de trabalhar a identidade da comunidade local, caracterizada por uma intensa diversidade cultural devido ao grande número de estrangeiros residentes na região (UNDIME-RJ, 2004).

Esse trabalho, iniciado na gestão anterior e continuado na atual demonstra a atenção

que o município dá em relação a questão do convívio entre os brasileiros e estrangeiros que

vivem em seu território, mais particularmente à questão da identidade do seu povo, remontada

pela história do Município.

Para pontuar a diversidade cultural, torna-se necessário primeiro conceituar o que está

se chamando de cultura e, conseqüentemente, de diversidade cultural e mais, a diferença entre

identidade e diversidade cultural.

Sendo assim, segundo a Unesco,

a cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças (UNESCO, 2004).

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Na atualidade, segundo a Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural (DUDC),

da Unesco, a cultura assume diversas formas ao longo do tempo e do espaço e isto faz com

que a sua diversidade tenha amplo espectro de manifestação, envolvendo intercâmbios,

inovações e criatividade, o que a caracterizaria como patrimônio comum da humanidade.

A diversidade cultural, segundo a Unesco, no artigo 2º da DUCD, deve conduzir ao

pluralismo cultural:

Em nossas sociedades cada vez mais diversificadas, torna-se indispensável garantir uma interação harmoniosa entre pessoas e grupos com identidades culturais a um só tempo plurais, variadas e dinâmicas, assim como sua vontade de conviver. As políticas que favoreçam a inclusão e a participação de todos os cidadãos garantem a coesão social, a vitalidade da sociedade civil e a paz. Definido desta maneira, o pluralismo cultural constitui a resposta política à realidade da diversidade cultural. Inseparável de um contexto democrático, o pluralismo cultural é propício aos intercâmbios culturais e ao desenvolvimento das capacidades criadoras que alimentam a vida pública (UNESCO, 2004, p. 2).

Sendo assim, a diversidade cultural seria fator de desenvolvimento, não somente em

termos econômicos, mas como via de acesso “a uma existência intelectual, afetiva, moral e

espiritual” na medida que amplia as possibilidades de escolha ao ser humano e, como parte

integrante dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, “é um imperativo ético,

inseparável do respeito à dignidade humana.” (UNESCO, 2004, p. 2)

Como fonte de criatividade, o patrimônio cultural - a expressão da diversidade,

constitui-se como um bem imaterial que:

deve ser preservado, valorizado e transmitido às gerações futuras como testemunho da experiência e das aspirações humanas, a fim de nutrir a criatividade em toda sua diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo entre as culturas (UNESCO, 2004, p.3).

Para Eduardo Jardim (2004, p. 1)

... a noção de identidade contém um apelo universalista e igualitarista; a de diversidade remete ao processo de individualização das culturas” e mais “a articulação dos conceitos de identidade e diversidade cultural foi uma preocupação constante na historia do pensamento social brasileiro.

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A utilização dos conceitos da Unesco para tratar a cultura, a diversidade e diversidade

cultural, compreende como cultura: gestos, modo de vida, expressão individual (identidade) e

coletiva de uma determinada população (diversidade). Na diversidade interna, pequenos

gestos caracterizam uma determinada população. Existe a diversidade que faz parte da

interação de várias comunidades com identidades entre si, o que dá uma configuração mais

cosmopolita a este conjunto.

A diversidade cultural, quando identificada, mapeada e utilizada no convívio entre as

populações pode gerar maior interação entre as comunidades, auto-estima elevada ao

reconhecer as próprias raízes, além de:

auxiliar no fortalecimento do sentimento de pertinência, de participação social, na ampliação dos laços comunitários e no estimulo à inserção do sujeito em interrelações com diversas redes sociais e na elaboração, ressignificação e criação de novas construções singulares e coletivas (TATSCH, 2004, p. 14).

Há, entretanto, um natural atrelamento entre a expressão da diversidade cultural e a

política, uma vez que a política é que vai desnudar as diferenças, estabelecer conexões para

que elas se relacionem e dar a conhecer ao mundo as diferenças. Não basta que as diferenças

existam, é necessário que elas se dêem a conhecer, mostrem-se, ocupem o lugar ao qual tem

direito.

Em 28 de maio de 2003, Jorge Whertein, educador, Representante da Unesco no

Brasil, publicou no Correio Brasiliense uma matéria sobre a visão política da cultura em que

dizia:

No ‘Relatório da Comissão Mundial de Cultura e Desenvolvimento’, promovido pela UNESCO, sai-se do campo de debate sobre o que é ou não cultura, deixa-se de lado a questão de hierarquias na produção cultural, se alta ou baixa cultura, e se ela seria um fim em si, separada da economia política ou a essa subordinada. Nesse documento, divisor de águas, que se tornou conhecido como Relatório Perez de Cuellar, publicado em 1999, reflete-se sobre a diversidade de sentidos, a multiplicidade de formatações, sendo a cultura debatida por possibilidades, isto é, como instrumental para o desenvolvimento, a expressão de medos, fantasias, desejos, formas de ser e sentir. Não se mesclaria, portanto, avaliações sobre produções culturais com suas finalidades coletivas e sociais, mas se reconheceria sua potencialidade para o reencantamento do mundo, a construção de uma cultura de paz, o

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exercício da liberdade criativa em favor de coletividades, projetos de civilização antagônicos a violências (WHERTEIN, 2004).

Assim, a diversidade participa do coletivo não pura e simplesmente como diferença,

mas como a diferença que se relaciona, que interage: que se mostra para que se dê a conhecer

e, no seu limite de espaço político, de identidade em um conjunto de diversidades. No caso do

Brasil, podemos, por exemplo, olhar os quilombolas ainda existentes e tribos que conservam

seus valores ancestrais, mas que estão dentro do contexto Brasil. Estas identidades fazem do

Brasil um país com diversidades culturais. Mesmo que diferentes, há um relacionamento de

pertença.

É neste contexto que o Plano Nacional de Turismo (PNT) propõe a aproximação da

diversidade cultural com o turismo: aproveitar suas raízes, a capacidade do povo alegre

brasileiro, cordial, para receber os que vêm de fora e para mostrar aos iguais, aos brasileiros, a

diversidade cultural dentro do país-continente.

A questão da diversidade cultural é tão fundamental no PNT que, no próprio discurso

do Presidente da República quando da apresentação do Plano consta:

O Brasil indubitavelmente é um lugar único pela sua riqueza natural, cultural, econômica e histórica. Isto faz de nosso país um espaço maravilhoso com inúmeros atrativos turísticos, tendo na diversidade nosso instrumento principal de sua potencialização (BRASIL, 2004, p. 3).

Ainda mais adiante, na página seis do mesmo discurso de apresentação, afirma:

Estamos apresentando uma proposta de construção coletiva de um plano com uma visão compartilhada. A perseverança na busca da unidade da nossa diversidade será constante. Estamos convencidos de que essa atividade está destinada a constituir-se em fator decisivo para ampliação de oportunidades e para utilização sustentável de nossos recursos naturais e culturais, proporcionando um desenvolvimento conseqüente e equilibrado em todo território nacional (BRASIL, 2004, p. 3).

A diversidade cultural aparece em diferentes facetas no discurso do PNT. Uma delas é

quando o Ministro Mares Guia ao apregoar que o Plano, de construção de um conjunto de

profissionais afetos ao turismo, cuja consolidação se dará ao transcorrer dos anos,

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deverá transformar-se em um agente da valorização e conservação do patrimônio ambiental (cultural e natural), fortalecendo o princípio da sustentabilidade.[...] atuará como mecanismo instigador de processos criativos, resultando na geração de novos produtos turísticos apoiados na regionalidade, genuinidade e identidade cultural do ovo brasileiro, fortalecendo a auto-estima nacional e a de nossas comunidades (BRASIL, 2004, p. 9)

A estruturação do PNT está discriminada em cinco itens: apresentação; diagnóstico;

princípios orientadores para o desenvolvimento do turismo; visão; objetivos gerais e

específicos. Quando ao referido Plano explicita a visão categórica ao afirmar que:

O turismo no Brasil contemplará as diversidades regionais, configurando-se pela geração de produtos marcados pela brasilidade, proporcionando a expansão do mercado interno e a inserção efetiva do País no cenário turístico mundial. A geração do emprego, ocupação e renda, a redução das desigualdades sociais e regionais, e o equilíbrio do balanço de pagamentos sinalizam o horizonte a ser alcançado pelas ações estratégicas indicadas (BRASIL, 2004, p. 21).

Enfim, a diversidade cultural ocupa um lugar de destaque no PNT, aparecendo

novamente, e agora nos seus objetivos gerais, quando diz que, estruturalmente, o PNT deverá

“desenvolver o produto turístico brasileiro com qualidade, contemplando nossas diversidades

regionais, culturais e naturais.” (BRASIL, 2004, p. 22)

Para cumprir um papel primordial no aumento do número de turistas a visitarem o

Brasil, assim como sua fixação por mais tempo, auferindo maior renda para o sistema, o PNT

estipulou metas, desafios para incrementar o mercado internacional, estabelecendo estratégias

que possam ter continuidade. Dentre estas, está a de um país moderno, que oferece produtos

de qualidade, com credibilidade, tendo de “integrar a esta imagem a essência brasileira, sua

cultura, sua diversidade étnica, social e as diferentes regiões do País.” (BRASIL, 2004, p. 25)

Aumentar o tempo/dias de permanência dos turistas nos locais e o consumo médio por

cada indivíduo é uma das metas onde se pretende chegar. Para que isto se dê, o PNT estima

que algumas variáveis devem ser articuladas de maneira consistente, principalmente quando

se pensa no turista estrangeiro.

A mudança do foco da promoção, contemplando a diversidade cultural e regional brasileira, o incremento à comercialização de novos produtos de lazer, negócios, eventos e incentivos, vão proporcionar ao visitante

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estrangeiro um leque ampliado de opções. O fortalecimento destes segmentos cria as condições para o aumento de tempo de permanência do turista no Brasil.(BRASIL, 2004, p. 27).

Além dos turistas estrangeiros, que trazem divisas para o país – entrada de moedas

estrangeiras – o Plano também tem como meta investir no aumento de turistas nacionais,

levando em consideração a alta do dólar nos últimos quatro anos, impulsionando a escolha

dos brasileiros por destinos domésticos. Para isto, destaca que haja “oferta de novos produtos,

contemplando nossa diversidade cultural e regional;” (BRASIL, 2004, p. 29), dentre outros.

No item da ampliação da oferta turística brasileira, o PNT identifica que:

Os produtos atualmente ofertados não contemplam a pluralidade cultural e a diversidade regional brasileira. Existe um potencial a ser revelado e trabalhado no interior do país, e uma urgente necessidade de encontrar alternativas de desenvolvimento local e regional (BRASIL, 2004, p. 31).

Percebe-se que, segundo as análises do PNT, explora-se muito mal a diversidade

cultural e regional brasileira, com poucas ofertas de produtos turísticos. A beleza natural é um

dado que, por si só atrai turistas, mas se tem algo a ser mostrado ao mundo e aos próprios

brasileiros que é a diversidade cultural, fruto da miscigenação, de toda a história que o país

vivenciou com os índios, africanos, portugueses, franceses, holandeses, italianos, alemães,

suíços, japoneses, enfim, cada lugar conta um modo de viver, às vezes ímpar, fruto de sua

identidade mais raiz, às vezes fruto do cosmopolitismo da interação de raças e credos, que faz

de cada parte do país, um Brasil diferente que além de mostrar-se ao mundo, precisa se

conhecer.

Para que a diversidade cultural e regional se transforme num produto, num atrativo

turístico sustentável, há de se ter:

o efetivo envolvimento dos governos estaduais, dos parceiros estratégicos, do setor privado, dos municípios e da comunidade [...] Dessa forma cria-se o ambiente para alcançar a qualidade, a diversidade e competitividade do produto turístico brasileiro (BRASIL, 2004, p. 31).

A idéia é que cada Estado da Federação e o Distrito Federal desenvolvam três

produtos de qualidade, sustentáveis, tendo como norte a diversidade cultural e regional. No

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total seriam 81 produtos a serem ofertados para aumentar o fluxo turístico tanto doméstico

quanto internacional, criando condições para o desenvolvimento socioeconômico das regiões.

Assim, foram estabelecidos macroprogramas que se configuram como

desdobramentos temáticos para que se atinjam as metas e os objetivos traçados para 2003-

2007. Dos macroprogramas fazem parte programas, projetos e ações. Ao todo são sete

macroprogramas:

Gestão e relações institucionais;

Fomento;

Infra-estrutura;

Estruturação e diversificação da oferta turística;

Qualidade do produto turístico;

Promoção e apoio à comercialização; e

Informações turísticas

Destes, deter-se-á atenção àqueles que tocam diretamente na questão da diversidade

cultural como atrativo turístico.

O macroprograma 4, estruturação e diversificação da oferta turística se desdobra em

dois programas: o de roteiros integrados e o de segmentação. Com o objetivo de estruturar e

aumentar a oferta do produto turístico brasileiro, estes dois programas visam a colocar novos

produtos no mercado, principalmente àqueles que são compatíveis com a diversidade cultural

e possam contemplar as diferentes regiões brasileiras. Para que isto aconteça o Plano apregoa

que deve haver “a participação dos governos estaduais e de parceiros estratégicos do setor

privado” para que haja planejamento consistente e se possa estruturar “Roteiros Turísticos

Integrados que serão constituídos pelos municípios organizados em consórcios.” (BRASIL,

2004, p. 37)

Ainda no macroprograma 4 é frisado que é necessário que se atenda “às demandas

específicas do mercado, maximizando o aproveitamento das potencialidades e as diferenças

de cada região brasileira.” (BRASIL, 2004, p. 38)

O macroprograma cinco: qualidade do produto turístico se divide em 2 programas, o

de normatização da atividade turística e o de qualificação profissional. No quesito das

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aptidões necessárias para que se tenha vantagem competitiva aos receber os turistas, há de se

fazer um esforço para que não haja tanta rotatividade nos postos de trabalho, além de investir

na qualificação para que se estabeleça uma dinâmica social e cultural do destino turístico que

dê conta de suas diferenciações regionais. O PNT ainda diz que se deve dar atenção particular

“as instituições educativas, porque sobre elas recai o enorme compromisso de formar

profissionais em todos os níveis para o setor.” (BRASIL, 2004, p. 40).

O macroprograma seis, promoção e apoio à comercialização divide-se em três

programas:

Programa de promoção nacional e internacional do turismo brasileiro;

Programa de reposicionamento da imagem Brasil;

Programa de apoio à comercialização.

Nestes programas aparecem mais claramente o que a diversidade cultural e regional

significam para o turismo. A imagem do Brasil, principalmente para o exterior, dar-se-á

segundo o PNT, de maneira a reforçar a “diversificação de imagem do país” (BRASIL, 2004,

p. 42)

As ações de promoção e marketing irão orientar a construção do Brasil como destino turístico de um país moderno, com credibilidade, alegre, jovem, hospitaleiro, capaz de proporcionar lazer de qualidade, novas experiências aos visitantes, realizar negócios, eventos e incentivos e ser competitivo internacionalmente. Os programas de promoção e marketing terão como essência a qualidade e a diversidade da produção cultural brasileira, além de nossa diversidade étnica, social e natural (BRASIL, 2004, p. 42).

Se no mercado externo, o Brasil posicionará sua marca divulgando suas riquezas

naturais e culturais, no mercado interno, o turismo poderá proporcionar experiências em que a

população se conheça, viajando de uma região a outra, percebendo suas diferenças e

identidades enfim, a diversidade em que é formado o povo brasileiro.

3.3. O BRASIL E A DIVERSIDADE CULTURAL: O PROJETO DA CULTURA

O Brasil é um país conhecido um patrimônio se coloca hoje como um dos países que

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pode explorar, com sustentabilidade, suas riquezas, seu patrimônio intangível, imaterial.

Para compreender a questão da diversidade cultural brasileira, primeiramente é

fundamental a definição de patrimônio para que se possa olhar a herança, as raízes e a

interação cultural que vive o Brasil. Adota-se, para efeitos deste trabalho a definição da

UNESCO tal qual escrita no livro do embaixador João Batista Lanari Bo (2003):

A noção de patrimônio [ ] é ampla: inclui monumentos históricos, conjuntos urbanos, locais sagrados, obras-de-arte, parques naturais, paisagens modificadas pelo homem, ecossistemas e diversidade biológica, tesouros subaquáticos, objetos pré-históricos, peças arquitetônicas e tradições orais e imateriais da cultura popular (p. 17).

Neste trabalho, a atenção recai sobre o que o patrimônio imaterial traz via as tradições

orais, a cultura popular. Aquela maneira de expressão que não está presa no tempo, mas é

tradição e que, mesmo que pareça contradição, pode incorporar para si, o novo que chega,

pode-se transmudar. Isto faz parte de um conjunto simbólico em que se distingue um local,

uma comunidade, uma nação.

As discussões, nas obras brasileiras, sobre a questão do patrimônio são expressivas e

se opta, em muitos casos, por métodos calcados “na psicanálise e na filosofia da linguagem

para situar o conceito de identidade nacional.” (BO, 2003, p. 27)

Além dos autores nacionais que discutem a importância da identidade, do patrimônio

cultural do povo brasileiro, ao longo dos anos do século XX, o Brasil adotou um conjunto de

Leis e Decretos com a determinação da preservação deste patrimônio.

Podemos citar, dentre as ações, antes do meados do século, a criação Instituto do

Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1937, cujo anteprojeto foi de autoria de

Mário de Andrade e contou com a participação de autores como: Rodrigo Melo Franco de

Andrade, Manuel Bandeira, Afonso Arinos, Lúcio Costa e Carlos Drummond de Andrade

(BRASIL, MinC, 2005).

O Iphan tem, sob sua responsabilidade, diversos tipos de proteção e preservação do

patrimônio cultural como, por exemplo: tombamento de edifícios, centros e conjuntos

urbanos, cadastramento de sítios arqueológicos e de objetos, incluindo os de acervo

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museológico, livros, documentação arquivística, registros fotográficos, cinematográficos e

videográficos (BRASIL, MinC, 2005).

Apesar do alargado conjunto de acervos sob sua proteção, há uma prioridade visível na

recuperação e preservação do patrimônio edificado e dos conjuntos urbanísticos, sendo hoje

dezenove deles tombados pela Unesco, como patrimônio mundial (BRASIL, MinC, 2005).

Na própria Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, há uma seção

específica sobre a cultura, os direitos ao acesso, sua valorização e difusão:

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais. § 1º - O Estado protegerá as manifestações das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo civilizatório nacional. § 2º - A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais (BRASIL, 2005).

Para esclarecer o que se constitui patrimônio cultural, ainda na seção supracitada, a

Constituição estabelece:

Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I – as formas de expressão; II – os modos de criar, fazer e viver; III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico (BRASIL, 2005).

Ainda no artigo 216 da Constituição Federal do parágrafo 1º ao 5º, ficam enunciados

como o poder público e a comunidade protegerão o patrimônio cultural brasileiro. Cabe à

administração pública a criação de leis para gestão dos bens culturais, incentivos para sua

produção e conhecimento. Bem assim são também previstas punições a quem ameace o

patrimônio cultural:

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§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. § 2º - Cabem à administração pública, na forma da lei, a gestão da documentação governamental e as providências para franquear sua consulta a quantos dela necessitem. § 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o conhecimento de bens e valores culturais. § 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos, na forma da lei. § 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios detentores de reminiscências históricas dos antigos quilombos (BRASIL, 2005).

No parágrafo sexto do mencionado artigo, permite, a Constituição, que os Estados e o

Distrito Federal proporcionem à cultura parte de sua receita para financiamentos a projetos

culturais:

§ 6º - É facultado aos Estados e ao Distrito Federal vincular o fundo estadual de fomento à cultura até cinco décimos por cento de sua receita tributária líquida, para o financiamento de programas e projetos culturais, vedada a aplicação desses recursos no pagamento de: I – despesas com pessoal e encargos sociais II – serviço de dívida III – qualquer outra despesa corrente não vinculada diretamente aos investimentos ou ações apoiados (BRASIL, 2005).

Apesar das previsões de investimentos, a cultura, no Brasil, não é tratada

constantemente como um item de grande importância para o desenvolvimento do país. As

principais exigências recaem sobre saúde e educação. Entretanto, ao se reduzir a cultura

àquela das elites, a Cultura, perde em diversidade e beleza, presentes nas demais formas de

expressão. É a cultura que dá a identidade, que exterioriza a maneira de ver e sentir de uma

comunidade, mesmo que esta seja pequena.

Segundo Joana Fialho Magalhães (2003), quando trata, em sua monografia, da gestão

e políticas culturais do Brasil:

A cultura brasileira é apreciada internacionalmente por sua diversidade e beleza. A forma de ser brasileira se exprime no mundo com sua originalidade, seja através da música, da culinária, do futebol, da literatura, do cinema, da arte popular, da dança, da capoeira. De fato, a cultura sempre representou a principal imagem do Brasil no exterior e consolidou, em cada esquina do seu interior, o sentimento de pertencimento a este país. A própria formação multicultural da sociedade brasileira e a sua `miscigenação´ de crenças, ritos e tradições despertam o interesse do mundo em conhecer essa

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dinâmica de glocalização cultural nesse vasto país (2003, p. 84).

A autora nesse trecho se remete a um dos discursos feitos pelo Ministro da Cultura na

Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados, em que diz que “a

cultura tem de ser vista também em sua dimensão econômica, em sua capacidade de atrair

divisas para o país – e de, aqui dentro, gerar emprego e renda.” (MAGALHÃES, 2003, p. 90).

Esta visão assim colocada revela que é possível aproveitar o potencial da diversidade

cultural brasileira para a geração de ocupação, trabalho, emprego e renda. Em particular,

quando voltado para o turismo.

A importância da diversidade cultural para as questões socioeconômicas e de

valorização da cultura popular brasileira fez com que, em 2004, fosse criada, pelo então

Ministério da Cultura uma secretaria especial – a Secretaria da Identidade e da Diversidade

Cultural - SID, cujas atribuições são:

Art. 11. À Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural compete: I - promover e apoiar as atividades de incentivo à diversidade e ao intercâmbio cultural como meios de promoção da cidadania, a cargo do Ministério; II - acompanhar, em conjunto com a Secretaria de Articulação Institucional da Cultura, a implementação dos fóruns de política cultural, responsáveis pela articulação entre o Ministério e a comunidade cultural; e III - subsidiar a Secretaria de Políticas Culturais no processo de formulação das políticas públicas da área cultural relacionadas com a promoção da diversidade e do intercâmbio cultural e a proteção dos direitos autorais (BRASIL, MinC, 2005).

Segundo o documento “Fomento à identidade e à diversidade cultural no contexto

brasileiro”, redigido por Álvaro Pontes de Magalhães Júnior, fruto de debates com a equipe

técnica da SID.

As sociedades ocidentais em geral e o Brasil em particular passam por transformações desde o final do século XX, colocando em crise as noções modernas de Cultura e Identidade Cultural, bem como à construção moderna de identidade cultural brasileira. A essas modificações ocorridas na dinâmica social devem corresponder um aperfeiçoamento das instituições responsáveis pelas políticas públicas culturais e nas formas de apoio e à diversidade cultural brasileira (BRASIL, MinC, 2005)

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A esta visão se junta uma outra que vê a cultura como fator de transformação

qualitativa para o turismo e que as mudanças culturais que estão acontecendo no planeta faz

surgir:

uma nova consciência ambiental, busca de estilos de vida mais saudáveis, tentativa de retorno as ‘raízes’ e busca das identidades locais, revalorização dos ambientes rurais, valorização de singularidades culturais, aceitação e valorização da diferença (ALVES, 2004, p. 2 e 3).

Para Heberton Alves (2004), entretanto, há uma sobrevalorização da natureza e da

diferença, que indica que alguns valores estão sendo privilegiados e entrelaçados e que esses

valores são oferecidos como:

uma compensação para os efeitos maléficos da sociedade urbano-industrial – entre esses efeitos destaca-se o estresse. Nessa perspectiva o turismo funcionaria como uma forma de recompor o indivíduo para o universo do trabalho (ALVES, 2004, p. 10).

Mesmo assim, Alves (2004) demonstra que, se o indivíduo de nossa época valoriza a

diferença e faz movimentos na procura e aceitação da diversidade, o valor “cultura” poderá:

ser uma forma de tornar um lugar mais atraente para os turistas, mas acima de tudo, uma forma desse lugar se tornar mas atraente para a própria comunidade local e assim aumentar sua auto-estima, reforçar seus laços de solidariedade e seu sentimento de pertença. Dessa forma valorizar a cultura é uma maneira de melhorar a qualidade de vida e motivar as pessoas de um local na busca de seu próprio desenvolvimento (p. 13).

A cultura exerce influência no modo como a sociedade vive: seus atos, gestos,

identidades nas relações sociais e econômicas, uma abundância de significados como

resultado da convivência entre seus iguais ou diferentes. Essas ligações, longe de estarem no

imaginário, fazem parte do dia-a-dia concretamente, influenciando, dentre outros, nas

atividades econômicas.

Esta ação que a cultura exerce sobre a economia é tão marcante que, recentemente,

Ministro Gilberto Gil, no encerramento do primeiro dia de debates do XXV Seminário

Nacional da Propriedade Intelectual, afirmou:

A cultura, e as atividades econômicas relacionadas a ela, impactam diretamente o desenvolvimento do país e seu crescimento econômico,

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gerando emprego e renda, qualificando o capital humano, acelerando e multiplicando os processos de inovação e aumentando o grau de coesão social e de cidadania. A cultura responde por cerca de 5% dos empregos do Brasil, e por algo entre 5% e 7% do PIB. No mundo inteiro, é o setor que mais cresce, e o que mais e melhor emprega, proporcionalmente. Mais do que isso, a cultura qualifica o processo de desenvolvimento, fazendo com que ele seja efetivamente sustentável, e constitui ainda a finalidade última deste processo, já que diz respeito diretamente à qualidade de vida dos indivíduos (BRASIL, MinC, 2005).

Embora o Ministro esteja falando de cultura, de uma maneira geral, sabe-se que o que

diferencia o Brasil em relação aos vizinhos limítrofes é a riqueza, a abundância, a diversidade

cultural. Pode-se observar isto com a festa de Parintins, na Amazônia, a cavalhada, em

Pirenópolis - Goiás, o São João em diversos estados do nordeste, o carnaval, no Rio de

Janeiro, a Festa da Uva, em Caxias do Sul, dentre as inúmeras outras manifestações culturais

já existentes no Brasil, aqui não citadas.

A grande maioria destas manifestações ainda não foram identificadas e,

conseqüentemente, ainda não incorporadas ao portfólio de atrações turísticas. Com isto, pode-

se considerar o enorme trabalho que se deverá ter pela frente para que seja feito o

mapeamento das expressões culturais no Brasil.

3.4 DA DOCUMENTAÇÃO UTILIZADA

3.4.1 Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios: perfil do Município

Por intermédio da página do Governo Municipal de Armação dos Búzios

(PREFEITURA, 2004), realizou-se um levantamento dos assuntos mais tratados naquele

momento em relação à gestão municipal e ao turismo propriamente dito. Verificou-se que a

Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro – FGV/RJ estava coordenando um projeto em que

se discutia o Plano Diretor da Cidade e, em abril de 2004, foi baixada a versão de junho de

2003. Sendo este o documento que embasou os primeiros rascunhos do que se queria

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apreender da Cidade e definir as estratégias para desenvolver a pesquisa do como, onde e

quem entrevistar.

O Plano Diretor está dividido em dois capítulos básicos:

1 – O desenvolvimento do Município, onde se encontra seus aspectos históricos,

localização, aspectos geo-ambientais, estrutura e dinâmica populacional, aspectos

fundiários, espaço urbano e aspectos culturais; e

2 – Análise externa e interna, em que se examina a inserção regional do Município, a

exploração petrolífera na Bacia de Campos, oferta e demanda do atual município,

dinâmica econômica, potencialidade turística, promoção social, segurança pública e

justiça, gestão municipal, legislação municipal, terceiro setor e pontos fracos e fortes –

oportunidades e riscos.

Do Plano Diretor foram retiradas as informações sobre o sistema escolar, as

associações de moradores, de profissionais e civis. Esta primeira coleta de informações

mostrou, das associações, quais as mais relevantes para entrevistar seus membros. Em Búzios,

são mais de sessenta organizações voltadas para os mais diversos interesses dos distintos segmentos da sociedade, desde associações de moradores nas diferentes localidades, a associação de classe, de produtores, de mulheres, de artesãos, de diferentes categorias profissionais, de empresários de diversos setores, de seitas religiosas, entre outras (PREFEITURA, 2003).

O Plano Diretor tem sido revisto por uma equipe interna da Prefeitura, nomeada pelo

Prefeito. Ainda não aprovado pela Câmara Municipal, o Plano Diretor, segundo Flavia Rosas,

teve seu projeto

executado no governo anterior pelos técnicos da FGV durante dois anos, 52 reuniões setoriais e quatro consultas públicas. Nos sete primeiros meses do governo Toninho Branco [atual prefeito], acompanhando o projeto original, a equipe comandada por Marlene Ettrich e supervisionada por Alberto Bloch, Humberto Alves e Miriam Danowski, repensou o Plano (PERÚ MOLHADO, 2005)

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3.4.2 Projeto de Lei Complementar - Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios

O Projeto de Lei Complementar – Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de

Armação dos Búzios, datado de junho 2004, é o produto da pesquisa do Perfil do Município,

mais o conjunto de reuniões setoriais e consultas públicas. Enviado à Câmara de Vereadores

pelo prefeito Delmires Braga ao se aproximar o término de seu mandato, está dividido em sete

capítulos:

I – Da Política Municipal de Desenvolvimento Sustentável;

II – Da Política Municipal de Desenvolvimento Urbano;

III – Das Estratégias de Desenvolvimento Municipal

IV – Do Ordenamento Territorial;

V – Do Planejamento Municipal;

VI – Da Participação Popular; e

VII – Das Disposições Finais e Transitórias

Do Projeto de Lei atentou-se nas passagens que enfatizam as questões sobre identidade

e diversidade cultural e o que a cultura pode trazer para o desenvolvimento sustentável para o

Município e, conseqüentemente, para o turismo.

3.4.3 Projeto de Lei Complementar: Uso e Ocupação do Solo de Armação dos Búzios (versão junho 2004)

Este Projeto de Lei, também enviado à Câmara no governo municipal anterior, no final

de seu mandato, é fruto de muitas discordâncias no que diz respeito às zonas de proteção

ambiental e ocupação do solo. Está dividido em seis capítulos:

I – Das Disposições Preliminares;

II – Do Macrozoneamento;

III – Das Zonas de Uso e Ocupação do Solo;

IV – Do Uso e da Ocupação do Solo;

V – Dos Bens Culturais;

VI – Das disposições Finais e Transitórias.

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Deste Projeto de Lei dirigiu-se a atenção sobre os quinze itens arrolados como bens

culturais. Estes são apenas os do patrimônio edificado: do patrimônio material, enquanto

construção e do imaterial quanto aos estilos.

3.4.4 Plano Nacional de Turismo

O Plano Nacional de Turismo – Diretrizes, Metas e Programas (2003/2007),

apresentado pelo Presidente da República, em 29 de abril de 2003, constitui-se num

documento central deste trabalho.

É a discussão de seu conteúdo e o paralelo que estará fazendo com as atividades

desenvolvidas pelo Tectur/Cejob, principalmente no que tange ao Macroprograma 4:

Estruturação e Diversificação da Oferta Turística que verificará a hipótese de que o Cejob

vem respondendo as diretrizes do PNT por meio de suas diretrizes pedagógicas implantadas

em 2001 e revistas em 2004.

No Macroprograma 4, o PNT alerta para que se viabilizem programas de roteiros

integrados e programas de segmentação do turismo. Para que estes dois programas se dêem,

se faz necessário que haja uma mudança na oferta dos produtos, privilegiando, por exemplo,

um maior tempo de estada dos turistas, assim como uma diversidade de programas e uma

união, em consórcios regionais, para que se possa pensar em roteiros integrados. Sendo assim,

o PNT considera que:

a oferta do produto turístico brasileiro tem se caracterizado pela pouca diversidade. Muito do que se tem hoje colocado para comercialização é dentro de um número restrito de segmentos e em algumas regiões brasileiras. (...) Estruturar e aumentar esta oferta, colocando no mercado novos produtos de qualidade, compatíveis com a diversidade cultural e contemplando as diferentes regiões brasileiras se constitui um grande desafio (PLANO, 2003, p. 37).

Para que os roteiros integrados consigam ser estruturados e consistentes, há

necessidade de participação do poder público e da iniciativa privada. Alianças estratégicas tais

que se possam realizar ações suficientes para organizar, dar suporte e qualificar os roteiros

turísticos integrados. Ainda segundo o PNT:

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o fortalecimento dos segmentos turísticos dar-se-á a partir da normatização e ordenamento destas praticas [acima], objetivando torná-las competitivas no mercado internacional, principalmente no que tange aos aspectos de qualidade e segurança (PLANO, 2003, p. 37).

Argumentando que a interação dos segmentos especificados acima visa a considerar as

demandas de mercado, o PNT diz que esta maneira de organização deverá elevar ao máximo

o “aproveitamento das potencialidades e as diferenças de cada região brasileira.” (PLANO,

2003, p. 38)

Assim sendo, são cinco os objetivos do macroprograma 4:

Aumentar o número de produtos turísticos de qualidade colocados para comercialização;

diversificar os produtos turísticos contemplando nossa pluralidade cultural e diferença regional;

diminuir as desigualdades regionais, estruturando produtos em todos os estados brasileiros e Distrito Federal;

aumentar o fluxo de turistas nacional e internacional; aumentar o tempo de permanência do turista internacional com um

leque maior de serviços ofertados (PLANO, 2003, p. 38).

A partir do que foi desenhado no macroprograma 4 do PNT, pode-se voltar a atenção

para o Tectur/Cejob e ver se a prática pedagógica implementada pelo Colégio faz com que

seus alunos se transformem em agentes de valorização e conservação do patrimônio ambiental

– cultural e natural. Esta visão foi essencial para a elaboração da entrevista semi-estruturada, a

qual consta da metodologia, no próximo capítulo.

3.4.5 O que os Parlamentares e as Autoridades de Governo devem saber sobre o Turismo

Este documento, em sua 6ª versão, expressa o que a Associação Brasileira de Agências

de Viagens (ABAV), criada há mais de 51 anos, vinha ao longo do tempo, discutindo com os

setores da área de turismo e, naquele momento, com os parlamentares brasileiros.

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A importância deste documento, de apenas 15 páginas, na escolha do tema está nas

análises que a categoria faz em relação aos fluxos turísticos e seus impactos, ao Plano

Nacional de Turismo, aos cenários onde o Brasil se inclui, no que tange ao recebimento de

turistas, a questão do fomento e financiamento, a avaliação dos turistas estrangeiros em

relação ao Brasil, dentre outros.

Ao final da exposição, lista 9 itens importantes para o setor: 1) regulamentação; 2)

incidência de impostos no setor receptivo internacional; 3) setor de receptivo doméstico; 4)

reconhecimento; 5) setor emissivo; 6) distribuição/produção; 7) capacitação/certificação; 8)

cidadania; e 9) turismo contra o terrorismo -, afirmando que a contribuição parlamentar é

fundamental para o desenvolvimento do turismo.

3.4.6 Relatório de Atividades do Ministério do Turismo

Este Relatório, datado de agosto de 2003, é um relatório de acompanhamento das

atividades no primeiro trimestre de 2003, destacando as atuações do Ministério do Turismo

(Mtur), no que concerne aos sete macroprogramas do PNT. É importante enfatizar que as

ações do PNT foram utilizadas como base para o planejamento do Plano Plurianual (PPA)

2004-2007.

Dentre as ações destacadas, interessam a este trabalho:

A da instalação do Fórum Estadual de Turismo do Rio de Janeiro em 26 de

junho de 2003;

A da instalação da Subcomissão Temporária de Turismo no Senado Federal;

A da criação da Comissão de Turismo e Desporto na Câmara Federal;

A do Primeiro Encontro Nacional de Coordenadores e Docentes dos Cursos

Superiores de Turismo e Hotelaria de 24 a 27 de agosto de 2003;

A da adequação das ações do PNT ao PPA 2004-2007 e ao Orçamento de

2004;

A de realizações de estudos para avaliação e monitoramento do PNT pelo

IPEA e a UnB.

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Três outras ações interessam porque há uma interface com a cultura que são as da:

articulação dos segmentos de mercado para apoio à comercialização (Jóias, queijo, cachaça, mel, artesanato, flores e frutas); continuidade na implementação do Projeto Jovens Embaixadores, que tem como objetivo fornecer material promocional aos jovens que realizam viagens de intercâmbio ao exterior; [e] a articulação com o Ministério da Educação para a construção de tecnologia e material didático de capacitação de mão de obra e elaboração de convênio para a construção do programa que possibilite aos professores praticarem o turismo cultural (BRASIL, Mtur, 2003).

3.4.7 Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro

O Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro (Plantur) foi iniciado em

maio de 1998, sob a coordenação da Secretaria de Estado de Planejamento, Desenvolvimento

Econômico e Turismo (Sepdet) e da Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro

(TurisRio), mas tomou força quando criou o Grupo Técnico de Acompanhamento do Plano

Diretor (GTA), em outubro de 2000.

Organizado em dois volumes, o Plantur está dividido, basicamente, em dois conteúdos

básicos:

Diagnóstico, e

Proposições

O Plantur é um plano detalhado, que faz uma radiografia da oferta turística do Estado

do Rio de Janeiro (diagnóstico) e propõe, minuciosamente, um rol de soluções para as regiões

do Estado. Cumprindo um preceito da Constituição Estadual que

em seu artigo 227, determina como uma das funções do Estado ‘a promoção e o incentivo ao turismo como fator de desenvolvimento econômico e social, bem como de divulgação, valorização e preservação do patrimônio cultural e natural, cuidando para que sejam respeitadas as peculiaridades locais, não permitindo efeitos desagregadores sobre a vida das comunidades envolvidas, assegurando sempre o respeito ao meio ambiente e à cultura das localidades onde vier a ser explorado (GOVERNO, 2001, p. 2).

Este plano considera que, para sua instituição e execução, exige-se que se ponha em

prática recursos que o complementem, tais como:

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Cooperação técnica para elaboração e implementação, no âmbito do Estado, de planos regionais integrados de desenvolvimento turístico;

Sistematização das informações e estabelecimento de uma rede estadual de operações turísticas;

Incentivo à formação de agentes e fortalecimento de consórcios turísticos intermunicipais;

Estruturação e apoio ao desenvolvimento turístico dos municípios e elaboração dos planos municipais de turismo. (GOVERNO, 2001, p. 6)

O Plantur faz um levantamento dos atrativos turísticos do Estado, classificando-os e

quantificando-os, utilizando a sistematização proposta pela Embratur, porém adequando-a aos

objetivos do seu intento.

A classificação dos atrativos se divide em:

Atrativos naturais;

Atrativos Histórico-culturais;

Manifestações e Usos Tradicionais e populares;

Realizações Técnicas e Científicas Contemporâneas;

Eventos/Acontecimentos Programados

No segundo volume, o das proposições, o Plano de Turismo, considera importante,

dentre outras ações, que deva:

ser realizado um trabalho junto à Secretaria Estadual de Educação para a definição de um programa de conscientização para o turismo e a preservação dos recursos naturais e culturais, bem como para o fortalecimento da formação de segundo grau técnico. A EMBRATUR possui um programa pronto de conscientização para a 6ª série do primeiro grau que poderia ser uma referência para esse trabalho (GOVERNO, v. 2, 2001, p.8)

Além disso, deve, na área de formação, implementar ensino tecnológico em turismo e

hotelaria, com exclusividade para a área, como “Escolas de Hotelaria e Turismo”. Propõe,

inclusive, que este projeto de formação deva integrar o Programa de Expansão da Educação

Profissional do MEC, “devendo desenvolver programas articulados com a Fundação de

Amparo ao Ensino Técnico (Faetec), que já atua nesta área.” (GOVERNO, v. 2, 2001, p. 57) .

Quanto à valorização das ambiências e lugares turísticos, o Plano propõe, entre outros:

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Desenvolver os eventos gastronômicos já experimentados e, sobretudo, implementar novos eventos deste tipo, no sentido de proporcionar uma melhor incorporação da gastronomia típica à rede de restaurantes existentes;

Promover a instalação de espaços de exposição permanente e mesmo de produção/venda de artesanato ou de produtos tradicionais junto aos postos de informação turística;

Desenvolver uma relação de aproximação entre o turismo e as diversas tradições culturais do Estado do Rio de Janeiro, particularmente com relação ao folclore e às manifestações populares, através da realização de espetáculos e eventos que incorporem a promoção destes recursos (GOVERNO, v. 2, 2001, p. 65 e 66).

3.4.8 Programa SEBRAE de Turismo

Documento datado de 26 de junho de 2003 está dividido em dez itens:

O Contexto Turístico no Brasil;

O Papel do Sebrae no Turismo;

A Nova Gestão Nacional do Setor e o Novo Conceito do Programa Sebrae de

Turismo;

Integração das Ações do Sebrae aos macroprogramas do Plano Nacional do

Turismo;

Eixos de Atuação do Programa Sebrae de Turismo;

Estruturação Orgânica do Programa Sebrae de Turismo;

Segmentos a serem Priorizados;

Métodos para Formulação e Apresentação de Projetos;

Articulação e Parcerias;

Marketing e Comunicação.

O Programa Sebrae se inclui neste trabalho, pelas ações que pratica Brasil afora e pela

atuação que desenvolve em Búzios e arredores, de maneira integrada à iniciativa privada. Para

o Sebrae, é fundamental: “Preparar e integrar as micro e pequenas empresas em toda a cadeia

produtiva do turismo no processo de produção de riqueza, de geração de trabalho e de

valorização econômica dos patrimônios natural e cultural brasileiros” (SEBRAE, 2003, p. 5).

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Entretanto, um dos limites de sua atuação está em ter como princípio agir em primazia

dos feitos coletivos, convergindo para os “arranjos produtivos locais, por meio de soluções

integradas”, considerando que:

o setor de turismo engloba atividades que têm forte vinculação com a dimensão cultural, com o patrimônio natural, incluindo bens públicos materiais e imateriais, além de estar fortemente vinculado aos valores e elementos que representam a identidade de uma região ou localidade (SEBRAE, 2003, p. 5).

E ainda diz o Sebrae:

Tanto os elementos da gastronomia, da hospitalidade, do artesanato, das festas populares, quanto as demais expressões da identidade cultural local devem ser fortemente valorizados numa estratégia de consolidação dos destinos turísticos dentro dos arranjos produtivos locais [fazendo com que] a identidade nacional seja agregadora de valor aos seus produtos e serviços (SEBRAE, 2003, p. 5).

Na questão da estruturação e diversificação da oferta turística, o Sebrae afirma que o

turismo no Brasil ainda é concentrado em sol e praia, embora haja algumas exceções, como

são os casos de turismo de eventos, negócios e natureza. O lado positivo disto é que há áreas

em que ainda se pode trabalhar, desenvolvendo produtos turísticos ou melhorando-os e, com

isto, criando empregos e renda.

Para tanto, deverá haver gestão do conhecimento e das informações de maneira a

acompanhar e avaliar os impactos que trazem o turismo, no que diz respeito ao meio ambiente

e às mudanças socioculturais.

3.4.9 Educação Profissional: Referenciais Curriculares Nacionais da Educação Profissional de Nível Técnico

Os dois documentos utilizados sobre os referenciais curriculares foram:

a) Educação Profissional – Introdução;

b) Educação Profissional – Área de Turismo e Hospitalidade;

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O primeiro documento versa sobre os novos paradigmas que permeiam a Educação,

ressaltando o conceito de competência e reposicionamento do currículo; planejamento e

construção da autonomia escolar; referenciais curriculares e abordagem metodológica para o

desenvolvimento de competências. Traz ainda os textos legais e normativos como a

Constituição Federal e a Lei Federal nº 9.394/96 (LDB), entre outros. Faz um histórico sobre

a Educação e o Trabalho; a trajetória histórica da Educação Profissional no Brasil; a Educação

Profissional na LDB; a Educação Profissional de Nível Técnico; os princípios da Educação

Profissional e a organização da Educação Profissional de nível técnico, além de quadros e

Resoluções tanto do Conselho Nacional de Educação (CNE), quanto da Câmara de Educação

Básica do CNE.

O segundo documento, específico para a área profissional de Turismo e Hospitalidade

faz uma apresentação da área; discorre sobre a sua delimitação e interfaces; apresenta os

cenários, tendências e desafios que enfrentam o Turismo e Hospitalidade. Faz, ainda, um

histórico sobre o panorama da oferta de Educação Profissional, além de instruir como é o

processo de produção na área, exemplificando com suas matrizes de referência. Por fim, dá

indicações para itinerários formativos em Turismo e Hospitalidade.

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4 METODOLOGIA

4.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Este capítulo se propõe a relatar os instrumentos utilizados para a coleta das

informações levantadas entre alunos e professores do Tectur/Cejob e de moradores de

Armação dos Búzios e regiões circunvizinhas, de diversas profissões e expressões sociais.

Além disso, encontram-se aqui os procedimentos e escolhas adotadas em relação à

metodologia e recursos para síntese e melhor compreensão da pesquisa.

A medida inicial foi o estabelecimento dos parâmetros norteadores da dissertação

quanto à questão geográfica: o estudo abrange o município de Armação dos Búzios,

localizado no Estado do Rio de Janeiro e, em particular o Curso Técnico de Turismo do

Colégio Estadual João de Oliveira Botas (Tectur/Cejob), situado neste município.

É importante também, que se faça distinção ao termo “buziano” adotado neste

trabalho. Segundo a língua culta, aquele que “nasceu em” ou “guarda relação com” Búzios é

buziense, uma vez que o sufixo ense significa “procedência, relação, origem” (FERREIRA,

2004). A população da cidade, entretanto, se autodenomina de “buziana”. Fala-se em cultura

buziana, arquitetura buziana, artesanato buziano, modo de viver buziano, entre outros.

Devido à ênfase dada ao termo “buziano” e “buziana”, pela população que lá nasceu e

por aqueles que lá moram, enfim, que escolheram a cidade para viver, por respeito à

autodenominação, conservar-se-á o termo “buziano” para distinguir aquilo que é ou aqueles

que são de Búzios, sejam os de procedência ou os de lá estrangeiros que vieram para ficar.

Pretendeu-se desenvolver uma pesquisa explanatória/exploratória sobre o tema, com a

finalidade de estabelecer parâmetros para um futuro aprofundamento e esta investigação.

Presume-se que ao se olhar um conjunto de cidades, que forma uma região, possa-se

oferecer a exame e dar, conseqüentemente, soluções mais abrangentes e eficazes no seu todo.

Na parte da questão do planejamento ambiental há uma tese de doutoramento cuja pesquisa

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vem sendo feita por Karen Barbosa. O mesmo deveria ser feito para o caso da cultura e da

valorização cultural, com seu viés na educação e turismo.

Um outro estudo tão interessante quanto um conjunto de cidades seria o de casos

múltiplos utilizando a população dos outros Colégios Estaduais, localizados no Estado do Rio

de Janeiro, que oferecem o Curso Técnico de Turismo. Poder-se-ia comparar o que se tem de

comum em suas diretrizes pedagógicas e como é a atuação dos professores e alunos nas

atividades de turismo em suas localidades, se há alguma padronização de conteúdos e como

eles se comportam dentro do conjunto do curso. E mais, como eles, os Cursos Técnicos, se

articulam, ou melhor, como os docentes e alunos do conjunto do curso se articulam e que

produtos poderiam sobrevir disto.

A circunstância é um estudo de caso sobre o Tectur/Cejob, localizado em Búzios,

mais especificamente sobre a relação educação, turismo e cultura em seu planejamento

pedagógico. Espera-se que, com este trabalho, contribua-se para criar alguns balizamentos

científicos e que, por meio dos resultados aqui relatados, possa-se dar subsídios para outras

pesquisas mais minuciosas.

4.2. O ESTUDO DE CASO COMO MEIO DISPONÍVEL PARA FAZER A PESQUISA

Segundo Yin (2001, p. 19):

os estudos de caso representam a estratégia preferida quando se colocam questões do tipo ‘como’ e ‘por que’, quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e quando o foco se encontra em fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real

Pode-se, entretanto, complementar os estudos de caso de maneira exploratória ou

descritiva, atentando-se ao fato de se ter precaução ao planejar e pôr em prática os estudos de

casos no sentido de vencer as possíveis críticas que alguns cientistas fazem do método.

Necessário se faz também estabelecer a diferenciação do estudo de caso como

estratégia de pesquisa, daquele usado como ferramenta de ensino. De acordo com Gavazza:

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Diferente do estudo de caso mais conhecido, utilizado no ensino, o estudo de caso utilizado na pesquisa não pode ser alterado para ilustrar uma determinada questão de modo mais efetivo, ele precisa ser claro, direto e refletir a realidade da forma mais direta possível (2004, p. 14).

O estudo de caso tem sua validade ao se empregar meios para compreender

ocorrências passíveis de observação sejam individuais, das organizações, sociais e políticas.

Por isso, esta estratégia tem sido usada amplamente nas pesquisas em psicologia, ciência

política, administração, sociologia, no planejamento e no trabalho social. Além destas são

encontradas também na economia quando se estuda uma estrutura de indústrias ou o sistema

produtivo de uma cidade ou região. De concreto, pode-se afirmar que “a clara necessidade

pelos estudos de caso surge do desejo de se compreender fenômenos sociais complexos”

(YIN, 2001, p. 21).

Ao se comparar, entretanto, a estratégia do estudo de caso com outras estratégias de

pesquisa, percebe-se que cada qual desempenha um papel diverso ao se “coletar e analisar

provas empíricas, seguindo a sua própria lógica” (YIN, 2001, p. 21).

Em vista disso, ao se utilizar o estudo de caso, pode-se usar estratégias exploratórias,

descritivas ou explanatórias. Assim, as condições que determinam qual procedimento utilizar

têm relação “ao tipo de questão da pesquisa proposta, a extensão e o controle que o

pesquisador tem sobre eventos comportamentais e o grau de enfoque em acontecimentos

históricos em oposição a acontecimentos contemporâneos” (GAVAZZA, 2004, p.15).

Embora muito utilizado, nem sempre o estudo de caso é a melhor estratégia para se

estudar o problema e, por esse motivo, alguns pesquisadores desconsideram-no. Isto porque

com grande freqüência aqueles se descuidam do tratamento das informações ou as aceitam

como evidências de maneira equivocada ou ainda tendem a “influenciar o significado das

descobertas e das conclusões” (YIN, 2001, p. 29).

As situações concretas, contudo, podem indicar o modo mais acertado de utilizar as

diferentes estratégias de pesquisa.

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Estratégia

forma da questão de Pesquisa

exige controle sob eventos

comportamentais?

focaliza acontecimentos

contemporâneos? experimento como, por que sim sim levantamento quem, o que, onde,

quantos, quanto não sim

análise de arquivos quem, o que, onde, quantos, quanto

não sim/não

pesquisa histórica como, por que não não estudo de caso como, por que não sim

Quadro 4 - Situações relevantes para diferentes estratégias de pesquisa Fonte: Yin (2001)

Utilizar-se de uma estratégia de pesquisa não é dar preferência a uma determinada

maneira de explorar as condições do objeto estudado. É, pelo contrário, voltar a atenção às

perguntas que se quer fazer sobre o assunto e deixar que as respostas se manifestem, que se

sobressaiam, que se distingam.

Se, ao indagar o objeto, as questões formuladas forem “o que”, a pesquisa tende a ser

mais especulativa, desenvolvendo hipóteses e acrescentando a elas novos questionamentos ou

hipóteses secundárias. Quando se usa “quem” e “onde” como resultado de “o que” o objetivo

é descrever a superveniência ou o predomínio de acontecimentos previsíveis ou que

prevalecem a certos resultados e, quando isto ocorre, a metodologia do estudo de casos não é

a mais indicada.

Ao usar “como” e “por que”:

essas questões estão sendo relacionadas a eventos que precisam ser abordados em intervalos de tempo; situações que precisam ser avaliadas de acordo com o momento e com suas interações com o ambiente e que não podem ser encaradas como meras repetições ao longo do tempo (GAVAZZA, 2004, p.16).

Sendo assim, o estudo de caso é usado no momento em que se procura estudar

acontecimentos na ocasião em que eles estão ocorrendo, mas não há possibilidade de controle

do ambiente onde ele se dá. Ao se debruçar sobre os acontecimentos que envolvem pessoas e

suas atuações, seus comportamentos não são previsíveis e sofrem influência do meio e das

inter-relações que se estabelecem. Por isso, nestes estudos não há como fazê-los em um

ambiente controlado como de um laboratório até porque os fenômenos são observados sob

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diferentes aspectos e, desse modo, há um aumento significativo das suas variáveis e as

atitudes distintas, porém influenciáveis, são muitas.

Na verdade, com o estudo de caso se consegue uma fotografia daquele fenômeno, que

pode ser ou não usado como parâmetro em outros estudos semelhantes. Ele pode caracterizar

algo distinto daquele lugar, organização ou comunidade, por exemplo, como pode ser um

modelo para se estudar outros locais ou comunidades, dentro do mesmo parâmetro.

Não bastasse ser modelo ou não, o estudo de caso deve está engendrado numa lógica

de planejamento e isto porque são investigados fenômenos da atualidade, no que está

acontecendo naquele momento. Pode-se, por tal motivo, causar distorção ou indefinição

quanto à relação entre o contexto e o fenômeno.

4.3 EMPREGOS DO ESTUDO DE CASO

O estudo de caso pode ter várias aplicações, entre elas as de:

explicar vínculos causais, descrever uma intervenção em seu contexto de vida real, ilustrar tópicos dentro de uma avaliação, explorar um conjunto simples de resultados ou ser uma meta-avaliação que consiste no estudo de um estudo de avaliação (GAVAZZA, 2004, p.17).

Neste trabalho, o emprego do estudo de caso, do Curso Técnico de Turismo do

Colégio Estadual João de Oliveira Botas, em Búzios, serve para explicar vínculos causais no

tripé educação, turismo e cultura, por intermédio do processo de aprendizagem e estímulo à

valorização da cultura e de sua diversidade, oferecidos aos alunos do curso.

Adicionalmente, ao buscar, por meio destes mesmos alunos, soluções para o turismo

da baixa temporada e avaliar a exeqüibilidade destas propostas, pode-se inferir que há

também a “descrição de uma intervenção no contexto da vida real” e a “exploração de um

conjunto simples de resultados”.

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Yin (2001) afirma que é necessário, para projetar o estudo de caso, um plano ou um

projeto de pesquisa. Diz ainda que nesta estratégia “ainda não se desenvolveu um ‘catálogo’

abrangente de projetos de pesquisa para os estudos de caso”. Por fim, chama a atenção para

que não se caia na cilada de “acreditar que os projetos de estudo de caso sejam um

subconjunto ou uma variante dos projetos de pesquisa utilizados para outras estratégias, como

os experimentos” (p. 40)

O entendimento é que “um projeto de pesquisa é muito mais que um plano de

trabalho”, porque aquele se dedica às questões lógicas e não de logística [grifos de Yin].

Sendo assim, para os estudos de caso, são particularmente importantes para o projeto de

pesquisa:

1. as questões de um estudo; 2. suas proposições, se houver; 3. sua(s) unidade(s) de análise; 4. a lógica que une os dados às proposições; e 5. os critérios para se interpretar as descobertas (YIN, 2001, p. 42).

Ao se obter clareza nas questões levantadas, as proposições refletem as questões

teóricas e também mostram onde procurar as evidências relevantes. Estas, entretanto, devem

estar distribuídas em unidades de análise, sendo que “quanto mais proposições específicas um

estudo contiver, mais permanecerá dentro de limites exeqüíveis” (YIN, 2001, p. 43)

A essas etapas se sucedem as análises dos dados – ligar os dados a proposições - e os

critérios para a interpretação das descobertas do estudo [grifos do YIN, p. 47]

O projeto de pesquisa, que representa um conjunto lógico de proposições, necessita de

organização e confiabilidade. Sua qualidade pode e deve se expressar por meio de quatro

testes-referência que pressupõe a tática utilizada para o estudo de caso bem assim as fases da

pesquisa na qual a tática deve ser aplicada.

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TESTES

TÁTICA DO ESTUDO DE

CASO

FASE DA PESQUISA NA QUAL A TÁTICA DEVE SER

APLICADA VALIDADE DO CONSTRUCTO

• Utiliza fontes múltiplas de evidências

• Estabelece encadeamento de evidências;

• O rascunho do relatório do estudo de caso é revisado por informantes-chave

• Coleta de dados;

• Coleta de dados;

• composição

VALIDADE INTERNA

• faz adequação ao padrão; • faz construção da

explanação; • faz análise de séries

temporais

• análise de dados; • análise de dados;

• análise de dados

VALIDADE EXTERNA

• utiliza lógica de replicação em estudos de casos múltiplos

• projeto de pesquisa

CONFIABILIDADE

• utiliza protocolo de estudo de caso;

• desenvolve banco de dados para o estudo de caso

• coleta de dados;

• coleta de dados

Quadro 5 - Táticas do estudo de caso para quatro testes de projeto Fonte: Cosmos Corporation, Yin (2001)

Mesmo as proposições não sendo necessárias são por intermédio delas que se tem

delimitado com maior precisão o norte da pesquisa. As proposições também ajudam a

descartar o que é irrelevante e a definir o sustentáculo para que os objetivos do estudo e,

conseqüentemente, sua análise sejam expressos com clareza.

Neste momento torna-se também importante o papel da teoria no projeto. A teoria

objetiva que se possa ter um esboço completo do objeto de estudo e isto significa que se terá

uma direção ao serem determinadas “quais dados serão coletados e as estratégias de análise

desses dados” (YIN, 2001, p. 50). As proposições teóricas mostram também a maturidade do

pesquisador ao trabalhar o tema. Deduz-se que, antes de planejar o estudo de caso, estudou e

reviu a literatura pertinente e, com este embasamento pôde aventar suas hipóteses.

O fato de estabelecer medidas operacionais corretas diz respeito à validade do

constructo e deve ser aplicada na coleta de dados onde:

O pesquisador deve ter certeza de cumprir duas etapas:

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1. selecionar os tipos específicos de mudanças que devem ser estudadas (em relação aos objetivos originais do estudo). 2. demonstrar que as medidas selecionadas dessas mudanças realmente refletem os tipos específicos de mudanças que foram selecionadas” (YIN, 2001, p. 57).

A validação do constructo - “imagem ou idéia inventada especificamente para uma

determinada pesquisa ou criação de teoria” (COOPER & SCHINDLER, 2003, p. 53) auxilia

na impessoalidade da análise, para que sejam certificadas que as mudanças realmente

aconteceram e não são meras suposições do pesquisador.

O exame da validade interna é feito somente quando o estudo de caso é causal,

visando garantir que a relação entre duas variáveis seja direta e não permite que uma terceira

variável impacte o estudo.

Já o da validade externa se relaciona com à abrangência da teoria ou dos resultados. O

importante é verificar se os resultados desse estudo de caso podem ser usados para determinar

características semelhantes ou potenciais em outro lugar.

No teste de confiabilidade objetiva-se assegurar que, se o estudo de caso for executado

em outro lugar, e utilizar o mesmo processo, o pesquisador deverá chegar às mesmas

conclusões.

4.4 ESTUDO DE CASO ÚNICO

Há três possibilidades para que se faça um estudo de caso. A primeira delas é quando a

situação é tão peculiar que só há um caso que corresponda a todas as condições para se testar

a teoria proposta. A segunda diz respeito à raridade do evento estudado ou de trazer consigo

um caso extremo e, a terceira, dá lugar quando á e primeira vez que se estuda aquele caso, não

existindo estudos anteriores.

Sendo assim, o estudo de caso único “pode significar uma importante contribuição à

base do conhecimento e à construção da teoria” (YIN, 2001, p. 62). Por isso, carrega consigo

a exigência de uma investigação minuciosa e cercada de cuidados para que se possa tornar o

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menor possível as chances de uma exposição que induza ao erro. Por outro lado, esta espécie

de estudo torna maior a possibilidade de se ter o espaço necessário para a coleta das

evidências do caso estudado.

De acordo com Yin (2001, p. 67):

é necessária uma definição operacional e devem-se tomar algumas precauções – antes que se assuma um compromisso total com o estudo de caso como um todo – para garantir que o caso, na verdade, seja relevante ao tema e às questões de interesse.

Além disso, para que se possa desenvolver um projeto mais complexo, podem ser

acrescidas subunidades de análises, desde que estas reflitam significativamente uma análise

mais extensiva do caso único. Não é oportuno, no entanto, dar atenção demasiada às

subunidades se estas tendem a alterar a natureza do caso.

4.5 ESTUDO DE CASO MÚLTIPLO

Embora nesta dissertação se esteja trabalhando com a metodologia do estudo de caso

único, houve-se por bem discorrer sobre o estudo de casos múltiplos, para que as diferenças

sejam estabelecidas.

Yin (2001) cita que, na ocorrência de um estudo conter mais de um caso, é necessário

que se faça um projeto para casos múltiplos. Como exemplo ele usa “o estudo de inovações

feitas em uma escola (com salas de aula abertas, assistência extraclasse por parte dos

professores ou novas tecnologias) na qual ocorrem inovações independentes em áreas

diferentes” (p. 67). Segundo ele, cada área específica poderia ser objeto de estudo de caso

individual, e o seu conjunto, um projeto de caso múltiplo.

Os projetos de casos múltiplos são realizados quando se necessita comparar casos e

seguir a lógica da replicação. Normalmente os casos múltiplos são mais aceitos porque são

mais robustos em relação aos casos únicos, incomuns.

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Nos casos múltiplos é necessário prever resultados semelhantes, ou replicação literal

ou produzir resultados tais que, apesar de contrastantes, o são por razões previsíveis – uma

replicação teórica.

Os casos múltiplos têm a desvantagem de necessitarem de um grande desembolso

financeiro para o seu projeto, coisa que o pesquisador normal não dispõe; ademais de

necessitar também de uma equipe maior para coleta de dados e também de tempo. Os casos

múltiplos são mais usados para pesquisas empresariais, de empresas de grande porte.

4.6 COLETA DE DADOS E PERFIL DO PESQUISADOR

A realização de um estudo de caso pressupõe que o pesquisador disponha de

habilidades prévias, treinamento e preparação para desenvolver um protocolo de estudo de

caso.

De acordo com Yin (2001, p.79) “a pesquisa de estudo de caso caracteriza-se como

um dos tipos mais árduos de pesquisa”, exatamente ao contrário do que muitos pensam.

Uma das etapas fundamentais no estudo de caso é a coleta de dados que deve ser

realizada de forma a se obter maior fidedignidade possível, caso contrário, pode-se pôr em

risco todo o estudo. Para isto, é importante que o pesquisador tenha as habilidades desejadas,

seja: estar aberto ao treinamento para a pesquisa, desenvolver um protocolo para a

investigação que deseja e conduzir um caso-piloto.

Das habilidades esperadas a um pesquisador de estudos de casos, pode-se esboçar as

seguintes:

ser capaz de fazer boas perguntas e interpretar as respostas; ser bom ouvinte e não se deixar enganar por seus sistemas próprios de

idéias e preconceitos; ser capaz de ser adaptável e flexível; ter uma noção clara das questões que estão sendo estudadas; ser imparcial em relação a noções preconcebidas. (grifos do YIN,

2001, p. 81)

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Para a coleta de dados, é importante que se tenha uma “mente indagadora” cuja

sagacidade pode ver além do que está estipulado no plano de pesquisa e preparado, o

pesquisador, para os acontecimentos imprevisíveis. Neste sentido, o ato de ouvir é

fundamental. Ouvir antropologicamente falando, percebendo o que há de relevante nas

entrelinhas, compreendendo “o contexto a partir do qual o entrevistado está percebendo o

mundo” (YIN, 2001, p. 82)

A adaptabilidade ao estudo é também fundamental pois, ao longo do caminho, mesmo

que minuciosamente planejado, é possível que se precise fazer pequenas alterações. O

pesquisador deve ser flexível para controlar as situações inesperadas e harmonizar o novo

com rigor, sem rigidez.

Rumo. Ter clareza do rumo, de onde se quer chegar, é crucial. Por isso, o pesquisador

deve estar atento às questões teóricas e políticas do ambiente, uma vez que precisará, em

alguns momentos, fazer julgamentos. Se não tiver noção clara do que procurar, mesmo as

pistas mais evidentes dos informantes podem não ser “captadas”. É desejável que possa

perceber quando as informações são discordantes e, talvez, levem à necessidade de evidências

adicionais. As fontes de informação contraditórias não devem ser desacreditadas; ao contrário,

devem ser confrontadas para que se diminua a probabilidade de questões pré-concebidas. O

pesquisador deve, todo o tempo, questionar as fontes, quaisquer que sejam elas e não cair na

via fácil das soluções premeditadas, sem maior fundamentação.

Como já falado em um outro momento, há necessidade de se montar um protocolo de

pesquisa e este é a orientação que o pesquisador irá consultar todo o tempo e, a ele deve estar

anexada uma lista de fontes de evidências que sejam passíveis de comprovação. Nos casos

únicos, como este, as interpelações são feitas a entrevistados específicos, que se constituem

como fonte de dados ou ainda utilizando casos individuais que são as unidades de análise,

conforme visto no quadro 7.

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FONTE DE COLETA DE DADOS

PROJETO

DE UM INDIVÍDUO

DE UMA ORGANIZAÇÃO

CONCLUSÕES DO ESTUDO

Sobre um indivíduo

• Comportamento individual

• Atitudes individuais

• Percepções individuais

• Registros de

arquivos

• Se o estudo de

caso for um indivíduo

Sobre uma organização

• Como funciona a organização

• Por que

funciona a organização

• Políticas de equipe

• Resultados da

organização

• Se o estudo de

caso for uma organização

Quadro 6 - Projeto versus coleta de dados: unidades diferentes de análise (adaptado) Fonte: Yin (2001)

4.7 FONTES DE INFORMAÇÃO E COLETA DE EVIDÊNCIAS

São seis fontes diferentes que podem conduzir a evidências num estudo de caso:

Documentos;

Registros em arquivo;

Entrevistas;

Observação direta;

Observação participante;

Artefatos físicos

Para cada uma dessas fontes os procedimentos metodológicos são ligeiramente

diferentes. É fundamental que num estudo de caso sejam usadas várias fontes de evidências,

um banco de dados que reúna estas evidências distintas e um encadeamento das evidências,

ou seja, relações explícitas entre as questões formuladas, os dados coletados e as conclusões a

que se chegou. Este conjunto de procedimentos poderá aumentar a qualidade do estudo

efetuado. Neste trabalho será seguida a terminologia proposta por Yin (2001) quanto às fontes

de informação e à coleta de evidências, comentadas a seguir.

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4.7.1 Documentos

Quanto à documentação pode-se usar:

Cartas, memorandos e outros tipos de correspondências. Agendas, avisos e minutas de reuniões, e outros relatórios escritos de

eventos em geral. Documentos administrativos – propostas, relatórios de

aperfeiçoamentos e outros documentos internos. Estudos ou avaliações formais do mesmo ‘local’ sob estudo. Recortes de jornais e outros artigos publicados na mídia (YIN, 2001,

p. 107).

Nos estudos de caso essa documentação é necessária para confirmar ou dar valor às

evidências de outras fontes. No entanto, há que se ter cuidado com a utilização deste tipo de

documentação, pois podem apresentar interpretações tendenciosas e, por isso, não se deve

tomá-los como registros literais. Além disso, há que se ficar atento à autenticidade da

documentação.

Neste estudo de caso foram utilizados os documentos disponibilizados pelo Cejob

como, por exemplo: ofícios, memorandos, relatórios de reuniões, anotações de reuniões,

relatórios de encontros com outros colégios estaduais que ministram o curso de turismo,

processo de elaboração da grade curricular.

Quanto aos estudos ou avaliações formais do mesmo ‘local’ sob estudo foram usados

o Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos Búzios: perfil do Município

(versão junho 2003); Projeto de Lei Complementar: Plano Diretor de Desenvolvimento

Sustentável de Armação dos Búzios (versão junho 2004), Projeto de Lei Complementar: Uso

e Ocupação do Solo de Armação dos Búzios (versão junho 2004). Além destes, foi usado

também o Plano Diretor de Turismo do Estado do Rio de Janeiro, seus conteúdos esmiuçados

no capítulo anterior onde se tratou da revisão da literatura.

Da imprensa local, recortes de jornais cujas matérias versaram sobre educação,

turismo e cultura e suas interfaces, quando apropriados. Pode-se citar os jornais: “O perú

molhado”, “O Siri na Lata”, “Primeira Hora”, “O Buziano”, “Ênfase”, “O Pescador de

Búzios” e, mais recentemente, “O Diário da Manhã”. Além desses, foram usadas as

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publicações eletrônicas do “O Perú Molhado”, seqüencialmente do número 651, de 21 de

maio de 2004 a 694, de 18 de março de 2005 e o nº 713, de 29 de julho de 2005. Parte

essencial desses periódicos foram os artigos publicados no Jornal Primeira Hora, escritos pelo

Professor Ronald de Carvalho Júnior, Coordenador do Curso Técnico de Turismo do Cejob.

Foram consultados também, de maneira aleatória, os exemplares isolados dos jornais:

“Armação dos Búzios”, “A Buzina”, “Folha dos Lagos” e o “Jornal Serra Litoral”.

Dos jornais, encontrar-se-ão no conjunto deste trabalho, uma ou outra citação, segundo

o que estabelece nossa rota principal. Não se pretendeu fazer um estudo que usasse

exaustivamente essas publicações e sim procurar em que momentos a imprensa esteve alerta

para o problema-núcleo deste estudo ou mesmo quando tangenciaram os assuntos aqui

abordados.

4.7.2 Registros em arquivos

No caso dos registros em arquivos podem ser encontrados como:

Registros de serviço, como aqueles que registram o número dos clientes atendidos em um determinado período de tempo.

Registros organizacionais, como as tabelas e os orçamentos de organizações em um período de tempo.

Mapas e tabelas das características geográficas de um lugar. Listas de nomes e de outros itens importantes. Dados oriundos de levantamentos, como o censo demográfico ou os

dados previamente coletados sobre um ‘local’. Registros pessoais, como diários, anotações e agendas de telefone

(YIN, 2001, p. 111).

Neste estudo de caso foram utilizados, destes registros, as fichas escolares dos alunos,

as relações de alunos por período, alguns dos planejamentos de visitação de campo dos

alunos. Os mapas do município foram consultados por meio do Plano Diretor de Turismo do

Estado do Rio de Janeiro, do Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável de Armação dos

Búzios – RJ: perfil do Município e da página www.buzios-explorer.com. Os dados iniciais da

localidade foram estudados com o que se dispunha do Plano Diretor à época.

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4.7.3 Entrevistas

Em relação às entrevistas, Yin (2001) afirma que são fontes essenciais de informação

para o estudo de caso. Estas podem assumir formas diversas, de natureza espontânea, focal ou

de um levantamento formal. Para este estudo optou-se pela elaboração e realização de

entrevistas semi-estruturadas, tendo como amostra moradores da cidade, professores e alunos

do Cejob, pretendendo usar, numa só abordagem, os três tipos de entrevistas enunciados por

YIN (2001, p. 112-114).

Sendo assim, existem dez perguntas que são feitas a todos os informantes. Entretanto,

na medida que eles, voluntariamente, dão informações acessórias às perguntas, estes dados, se

pertinentes, são aproveitados.

Procurou-se usar este método por entendê-lo mais exeqüível com a população deste

estudo (a maioria de alunos e professores) e por achar que, num estudo de caso, aos moldes

deste trabalho em especial, deve-se ter mais liberdade em abordar o informante, assim como

se esperou que os entrevistados respondessem com desembaraço.

Num primeiro momento foram selecionados 57 respondentes e aplicou-se, em 20 deles

o pré-teste. Com a análise das respostas a esse pré-teste, modificaram-se algumas das

perguntas, bem como a sua ordem de inquirição. Duas das perguntas foram fundidas numa só

e outras três foram desmembradas em cinco. Após a validação do roteiro da entrevista pelos

20 primeiros respondentes, foram abordadas 37 pessoas, das quais fazem parte deste estudo.

Destas, 23 são alunos ou professores do Cejob e o restante, integrantes da comunidade

buziana.

Na categoria gênero, dos 37 entrevistados, quinze são homens e vinte e duas

são mulheres. Quanto às idades, preferiu-se a demonstração por faixa etária, entendendo que a

cada uma delas corresponde um ciclo de vida. Foram assim distribuídas:

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Tabela 2– Número de entrevistados por faixa etária

FAIXAS ETARIAS Nº DE ENTREVISTADOS

16 A 25 ANOS 8

26 A 35 ANOS 8

36 A 45 ANOS 8

46 A 55 ANOS 6

56 A 65 ANOS 5

NÃO REVELADAS 2

TOTAL 37

Fonte: Elaborada pela autora

Em relação aos locais de residência dos respondentes, adotou-se a divisão por

bairros/localidades, respeitando a informação do próprio entrevistado. Assim, dos 37

entrevistados, foram identificados moradores das seguintes localidades:

Tabela 3 – Número de entrevistados por bairro/localidade

BAIRROS/LOCALIDADES Nº DE ENTREVISTADOS

ARMAÇÃO 2

BAIA FORMOSA 1

CEM BRAÇAS 3

CENTRO DE BÚZIOS 5

FERRADURA 1

GERIBÁ 4

JOSÉ GONÇALVES 4

MANGUINHOS 2

OSSOS 2

RASA 5

SÃO JOSÉ 4

TUCUNS 1

CENTRO DE CABO FRIO 2

TANGARÁ (CABO FRIO) 1

TOTAL 37

Fonte: Elaborada pela autora

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Profissionalmente, os entrevistados se constituem de: artesãos, artistas, comerciantes,

empresários do setor de turismo, estudantes, fotógrafos, jornalistas, professores,

recepcionistas e turismólogos, divididos em:

Tabela 4 – Número de entrevistados por profissão

PROFISSÕES/OCUPAÇÕES Nº DE ENTREVISTADOS

ARTESÃO / ARTISTA 3

COMERCIANTE / EMPRESÁRIO 4

ESTUDANTE 19

FOTÓGRAFO / JORNALISTA 3

PROFESSOR 5

RECEPCIONISTA 1

TURISMÓLOGO 2

TOTAL 37

Fonte: Elaborada pela autora

É importante observar que os números que acompanham a profissão “estudante”, no

total de dezenove, foram assim colocados por dezoito se tratarem de alunos do Cejob, mesmo

que, apesar de estudantes, alguns alunos exerçam outras profissões no mercado de trabalho,

na sua grande maioria relacionada ao turismo. Um deles somente, apesar de estudante, não

guarda relação com o Cejob.

Decidiu-se, entretanto, no caso dos alunos do Tectur/Cejob, considerá-los como

estudantes uma vez que o foco está na resposta que estes alunos vêm dando às questões

relativas à valorização e conservação do patrimônio cultural e se estas estão em conformidade

com o que apregoa o PNT e as bases curriculares para a área de Turismo e Hospitalidade.

A identidade dos informantes foi devidamente preservada, na intenção de evitar

constrangimentos e permitir que as repostas fossem as mais sinceras e próximas da realidade.

A cada entrevista era questionado ao informante se gostaria de se manter anônimo ou se sua

identidade poderia ser revelada, já que se esperava que se sentissem à vontade para se

expressarem. A maioria, mesmo dizendo o nome na gravação, solicitou que se conservasse

seu anonimato, para que se resguardasse de possíveis embaraços, caso sua identidade fosse

revelada.

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Devido a essas solicitações, devidamente explicadas adiante nas limitações do método,

na transcrição das entrevistas se mencionou apenas o código adotado – do “morador 1” ao

“morador 37” - para cada um. A codificação – morador 1 - etc, seqüencial, entretanto,

acompanhou a cronologia em que foram feitas as entrevistas, conforme Tabela 6.

Os moradores numerados na tabela citada não foram discriminados por profissão para

que não fossem identificados. No caso dos alunos do Cejob, aqueles que esqueceram de citar

o bairro onde moravam, houve consulta na ficha escolar do aluno para obter a informação.

Tabela 5 – Mapeamento dos entrevistados/moradores por bairro/localidade

MORADOR LOCAL MORADOR LOCAL MORADOR LOCAL

01 Rasa 14 Centro 27 Armação

02 Ossos 15 Centro 28 Rasa

03 J. Gonçalves 16 Cem Braças 29 Centro (CF)

04 Tangará (CF) 17 Centro 30 São José

05 Ossos 18 Geribá 31 Tucuns

06 Cem Braças 19 Rasa 32 J. Gonçalves

07 Manguinhos 20 Manguinhos 33 J. Gonçalves

08 Rasa 21 São José 34 Centro

09 São José 22 Ferradura 35 São José

10 Rasa 23 Armação 36 Baía Formosa

11 J. Gonçalves 24 Geribá 37 Centro (CF)

12 Geribá 25 Geribá

13 Cem Braças 26 Centro

Fonte: Elaborada pela autora

Para analisar as entrevistas, como uma das fontes de evidência, trabalhou-se com o

método de blocos de significados, tal qual foi apresentada como sugestão por Cláudio

D´Ipolitto (2004). Esta maneira de analisar um conjunto de entrevistas permite que se possa

estabelecer uma interconexão entre os blocos de assuntos abordados.

Os assuntos são colocados em “caixinhas”, numa planilha, segundo o roteiro e a

transcrição das entrevistas, conservando, entretanto, um encadeamento de evidências. Estas

caixinhas ou blocos começam a ter uma interconexão, até se chegar ao que se poderia chamar

de um “discurso coletivo” sobre determinado assunto.

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Esta técnica é bastante interessante quando se pretende olhar um conglomerado de

opiniões, algo como um primeiro rastreamento de um discurso coletivo. Esta maneira de

analisar entrevistas permite com que se chegue próximo ao que se poderia chamar de gráfico

de dispersão. As informações estão interconectadas, mas conservam o discurso de cada

respondente. Poder-se-ia, com mais tempo e um programa de computador, fazer saltar as

declarações e montar com isto um mosaico interativo de expressões e idéias, num terceiro

discurso, porém vivo e fruto da síntese e antítese do que foi trabalhado. Um tal refinamento

metodológico, entretanto, seria mais pertinente a um doutoramento, pois estaria baseado num

suporte teórico mais denso.

4.7.4 Observação direta

Para Yin (2001, p. 115), a observação direta serve como uma das evidências

em um estudo de caso. Deve-se, entretanto, desenvolver protocolos de observação, incluindo-

se “observações de reuniões, atividades de passeio, trabalho de fábrica, salas de aula e outras

atividades semelhantes”.

Estas observações da realidade podem ser úteis como informações acrescidas

àquelas que estão sendo estudadas e pode-se, inclusive, fotografar os indivíduos objetos do

estudo, caso haja permissão para tal.

Neste estudo as observações vêm sendo realizadas desde 1989, quando do primeiro

contato com Búzios que, naquela época, era ainda 3º distrito de Cabo Frio. Mais

recentemente, de maio de 2004 a março de 2005, iniciou-se o processo de anotação das

observações, principalmente as que dizem respeito ao Cejob: o comportamento dos alunos do

Tectur e de seus docentes, nos ambientes de aprendizagem – no caso dos alunos – e nos

ambientes dentro e fora da escola, no caso dos docentes.

Embora Yin (2001) relacione também a observação participante e os artefatos físicos

como parte de evidências para projetos de estudos de casos, não foram utilizadas estas

técnicas neste estudo.

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4.8 LIMITAÇÕES DO MÉTODO

Yin (2001, p. 185) insiste em que um estudo de caso deva ser elaborado de uma

maneira atraente, cuja produção do texto exige talento e experiência. “Engajamento,

instigação e sedução – essas são as características incomuns dos estudos de caso”. Há,

entretanto, algumas pequenas dificuldades quando se usa essa metodologia. Uma delas é a

quantidade de documentação escrita e analisada e, se usado a disciplina e os limites da síntese

e da compreensão textual, parte desta documentação é descartada.

Um outro problema diz respeito às restrições do estudo de caso que, nem sempre

apresentam uma base para a generalização científica e, por isso, torna-se difícil repetir o

mesmo fenômeno sob condições diferentes. Neste sentido, o estudo de caso tenta esclarecer

uma situação, mas nem sempre é replicável, devido a suas variáveis e de se tratar de um

universo de pessoas. E pessoas mudam conforme o ambiente.

Das estratégias escolhidas para este estudo, as que mais causaram dificuldades para

análise foram as entrevistas. Isto porque elas foram constituídas de maneira a dar conta do

foco do projeto – a relação educação, cultura e turismo, de um levantamento formal dos

estudantes do Tectur/Cejob e suas sugestões para o turismo na baixa temporada e respostas de

maneira espontânea, quando as questões foram surgindo.

É importante destacar que as entrevistas foram feitas em ano eleitoral, de eleição

municipal, e muito próximas à eleição. Isto contribuiu para que alguns dos entrevistados

tivessem precaução em relação à possibilidade de serem identificados.

Como já foi dito anteriormente, para que os informantes se expressassem com

liberdade, assumiu-se o compromisso de que ninguém seria identificado nominalmente. No

entanto, segundo Yin, “o estudo de caso e seus informantes devem ser adequadamente

identificados” (2001, p. 176). Porém:

há algumas ocasiões em que o anonimato se faz necessário. O fundamento lógico mais comum é que, quando o estudo de caso for sobre algum tópico polêmico, o anonimato serve para proteger o caso real e seus verdadeiros participantes. Uma segunda razão é que a divulgação do relatório final de um

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caso pode interferir nas ações subseqüentes das pessoas que foram estudadas (YIN, 2001, p. 176 e 178)

Por isso, embora não aconselhável pelo método, resolveu-se deixar os informantes no

anonimato. Percebeu-se que os respondentes ficavam mais aliviados quando se dizia que seria

considerado o sigilo na identificação pessoal. Estes fatos revelam o quanto o poder local, em

cidades relativamente pequenas, faz-se presente na vida quotidiana dos seus cidadãos e que, a

possibilidade de serem identificados, fez com que preferissem o anonimato ao invés de se

exporem. A preocupação, segundo depoimentos dos próprios entrevistados, está relacionada a

que, passado o pleito eleitoral, uma opinião mais incisiva poderia causar constrangimento e

dificultar o convívio social.

Interessante também é o fato de, mesmo aqueles cidadãos, partidários de candidatos

“A”, “B” ou “C”, conhecidos na cidade e claramente identificáveis, mesmo assim, estes

preferiram se conservar no anonimato. Yin declara que o anonimato só deve ser usado em

última instância, quando não há meios de se trabalhar com a identificação pois “ele não

apenas elimina algumas informações contextuais importantes sobre caso, como também

dificulta os mecanismos de composição do caso” (2001, p. 177).

Como foi aberta esta possibilidade, para não usar identidades fictícias,

correspondentes aos nomes reais, decidiu-se caracterizar os respondentes por ordem

cronológica das entrevistas e segundo seus locais de moradia, seja em Búzios, ou Cabo Frio.

Uma outra limitação do método, não diz respeito ao método em si, mas sim às

tecnologias usadas. Neste trabalho as entrevistas foram todas transcritas da maneira

tradicional. Ouviam-se as perguntas e respostas e se digitava no computador ou escrevia-se no

caderno de campo, quando o computador não estava disponível.

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5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Antes da apresentação e discussão dos resultados propriamente ditos, percebeu-se a

necessidade de fazer um histórico do Cejob e de seu Curso Técnico de Turismo (Tectur). O

histórico do Colégio irá pontuar a sua relevância dentro da comunidade de Búzios e seu

processo de transformação nas práticas pedagógicas.

É de fundamental importância lembrar que, do Cejob, serão analisados os discursos

dos alunos quanto à questão da valorização da cultura e sua identificação [da cultura] com a

expressão local, ou melhor, com a expressão cultural local.

Os outros depoimentos serão analisados no contexto de contraponto ou concordância

com o que emerge dos discursos dos alunos.

5.2 O COLÉGIO ESTADUAL JOÃO DE OLIVEIRA BOTAS (CEJOB)

5.2.1 Histórico

O Cejob localizado na Praia da Armação, muito próximo ao Centro de Búzios, foi

criado pelo Decreto 4.749 de 22/06/1954 como Escola Estadual João de Oliveira Botas

(Cejob) e está ligado à Coordenadoria Regional da Região das Baixadas Litorâneas, cuja sede

fica em Cabo Frio.

Uma das primeiras escolas de Búzios, recebeu este nome, segundo depoimentos dos

professores, em homenagem ao Chefe da Divisão da Armada Nacional e Imperial, o baiano

João de Oliveira Botas, falecido em 1883, que passou a maior parte de sua vida navegando em

águas brasileiras.

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A partir de 1993, a então Escola Estadual foi autorizada a oferecer o que se chamava

na época de ensino de 2º grau e, por isso, em 27 de setembro de 1994, por meio do Decreto

20.562 foi transformado em Colégio Estadual.

Em 1993, passou a ofertar o Curso Técnico em Administração e, segundo depoimentos

do morador 37, “em 1999 foi o último ano em que este foi oferecido pois, havia muita falta de

professores e, assim os docentes tinham de dar aulas inclusive aos sábados para colocar as

matérias em dia”.

Em 1995, passou a oferecer o Curso Técnico de Turismo, por meio da autorização

concedida em 15 de julho de 1997, “reconhecidos seus efeitos a partir do ano letivo de 1995”.

(Resolução SEE nº 2098).

Em janeiro de 2005, por meio da Resolução SEE nº 2751, publicada no Diário Oficial

em 18 de janeiro, foi autorizado a oferecer o curso de Educação para Jovens e Adultos.

Em Búzios, o Cejob é um dos quatro colégios que trabalham com o ensino médio.

Além dele há um público, o Colégio Municipal Paulo Freire e mais dois colégios particulares.

O Cejob tem uma média anual de 900 alunos, distribuídos nos três turnos, onde são

oferecidos os cursos de Ensino Médio – Formação Geral (manhã e noite), Educação de Jovens

e Adultos – Supletivo (tarde e noite) e o Curso Técnico de Turismo – Pós-médio (manhã e

noite).

O Cejob se situa em uma área de cerca de 8 a 9 mil m2 dos quais abriga suas

acomodações constituídas de 9 salas de aula, sala de audiovisual, sala da direção, refeitório,

biblioteca, 2 banheiros com vestiários e 2 normais (masculino/feminino, sem vestiários), salas

de administração, laboratório de informática, sala dos professores e almoxarifado. Na parte

desportiva conta com uma quadra polivalente, um campinho de futebol e quadra de vôlei.

Além destas dependências, o Cejob cede à Faetec parte de suas instalações. Onde são

oferecidos os cursos técnicos na área de informática, espanhol e inglês, que atende ao público

em geral, colaborando assim na capacitação da mão-de-obra tanto do Cejob, quanto da

população local e das regiões circunvizinhas.

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Funcionando das 9 às 22 horas e 30 minutos diariamente, a biblioteca Professora

Maria Nazareth da Costa Marques, do Cejob, conta com noventa e dois títulos em turismo e

hotelaria, sendo que destes, setenta e um livros foram doados recentemente pela Editora do

SENAC. Deste conjunto de títulos, somente cinco livros não saem da biblioteca para

empréstimo.

Há um grupo de teatro amador, constituído por 10 alunos voluntários, criado em 2000,

que já tirou o primeiro lugar no Festival Estadual Estudantil de Teatro, acontecido em Búzios.

Há uma banda marcial representativa do Cejob com cerca de 50 componentes.

O Cejob tem uma interação regular com a comunidade de pais e alunos, bem assim,

com a comunidade em geral que, sob autorização da direção usam as suas dependências para

jogos e campeonatos de futebol, “peladas” e para diversas oficinas. Dentre estas se encontram

as de “fuxico” (espécie de artesanato para colchas, tapetes, entre outros) e de reciclagem de

lixo para transformação em novos objetos.

A oficina de reciclagem funciona como um projeto educacional demonstrativo da

relação do homem com seu ambiente, importante para todas as cidades, mas especialmente

para Búzios, que é uma cidade turística e tem, no meio ambiente, o seu principal atrativo.

5.3 O CURSO TÉCNICO DE TURISMO DO CEJOB

Os registros encontrados na secretaria do Cejob indicam que o Tectur teve início em

1995, ainda dentro da antiga estrutura dos cursos profissionalizantes de 2º grau. Com uma

carga horária total de 1400 horas, cuja grade curricular constavam as disciplinas de

Psicologia, História das Artes, Folclore, Museologia, Línguas Estrangeiras – Inglês, Francês e

Espanhol, Técnicas de Turismo, Administração e Fundamentos de Turismo.

Em 29 de novembro de 1999, um grupo de professores da área de turismo do Cejob

participou de reuniões na Cidade do Rio de Janeiro, promovidas pela Coordenação de Ensino

Profissional da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro. Nestas reuniões tomaram

parte também os docentes dos colégios estaduais que ofereciam o curso técnico de turismo,

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além dos de Búzios, os da Cidade do Rio de Janeiro, de Miguel Pereira, de Nova Friburgo e

de Valença.

Nesta reunião foram discutidos os modelos de plano de curso onde deveriam constar:

Justificativa e objetivo; Requisitos de acesso; Perfil profissional (que se espera do concluinte); Organização curricular; Critérios de aproveitamento de competência; Critérios de avaliação; Instalações e equipamentos; Pessoal docente e técnico; Certificados e diplomas (SEE, Reunião 29/11/99)

Os docentes levantaram vários questionamentos a respeito das modificações que já

vinham sendo indicadas na Lei 9.394 de 20 de dezembro de 1996 que estabeleceu as diretrizes

e bases da educação nacional.

No quesito aproveitamento dos estudos indagaram qual seria o tempo de estudo no

Colégio para que o aluno tivesse direito ao certificado? Se não pode haver prova eliminatória,

como se poderia fazer a seleção dos alunos? Por meio de prova classificatória? Poder-se-ia

usar o histórico escolar como critério de ingresso? Se o aluno fosse do próprio Colégio,

precisaria passar por alguma avaliação?

Houve uma preocupação, naquele momento, quanto à articulação de conhecimentos,

habilidades e atitudes dos discentes dos cursos de técnicos de turismo do Estado. Sendo

assim, foi decidido que dever-se-ia fazer reuniões, seminários, encontros mais regulares para

que a interação do professorado se desse de fato e se conseguisse tomar decisões mais

equânimes, levando em conta todos os cursos técnicos de turismo.

Quanto à questão curricular, a sugestão era que se tivesse um núcleo comum de

disciplinas a todos e um outro conjunto apropriado para cada região.

Por exemplo, em Búzios, onde a cidade é mais praiana, as atividades são voltadas para sol e mar. No caso de Petrópolis, por exemplo, região serrana, as atividades estão voltadas para os atrativos naturais da serra. No Rio se deu ênfase a parte mais cultural. Então nós tínhamos essa idéia: um núcleo comum e um núcleo específico para cada um. O plano, entretanto, era integrar o Estado inteiro, com cada um de nós contribuindo com a sua parte. (morador 37)

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Além dos núcleos comuns e específicos, houve sugestões no sentido de cada colégio

assumir uma organização também por áreas: turismo, hospitalidade, lazer – cada uma delas

com ênfases, como hotelaria, transportadoras, entre outros.

Naquele momento, o grupo de professores não tinha claro se haveria necessidade das

empresas da área de turismo atestarem a competência daqueles que se formavam. E, diziam

mais: se assim fosse, seria preciso incorporar ao conjunto de disciplinas a de Ética e

Cidadania, além de aumentar a carga horária de estágio.

Outras dúvidas foram as de que se podia trabalhar ou não em duas áreas. Como seria a

avaliação? Qual a qualificação necessária ao professor? Quem forneceria as competências de

formação? Como ficaria a questão do Tecnólogo de Turismo em relação ao Curso Técnico e

qual seria a função da Faetec nesse processo?

Esta reunião foi preparatória para a implantação do Curso Técnico de Turismo

(Tectur) como curso pós-médio.

Em fevereiro de 2000, o Cejob solicita à Secretaria de Educação a implantação do

Curso Seqüencial Técnico de Turismo, como curso pós-médio. A justificativa para tal pedido

se deu “tendo em vista o alto potencial turístico do município de Armação dos Búzios” e ser o

Cejob, o “único colégio estadual de ensino médio da região”. (Ofício Cejob 10/00)

Nesse momento, as discussões dos professores da área de Turismo e Hospitalidade

ligados aos colégios estaduais, tornam-se regulares, culminando, em junho de 2001, na

“Reunião dos Cursos de Ensino Profissional de Turismo”, promovida pela equipe do Curso

Técnico em Turismo do Colégio Estadual Antônio Prado Júnior, localizado em Copacabana –

Cidade do Rio de Janeiro.

Essa reunião de trabalho foi um marco na reformulação do curso porque contou com a

presença dos professores dos cinco colégios estaduais que trabalham com a área de Turismo e

Hospitalidade.

Desmembrados em quatro grupos de discussão, os professores, tomando por base os

documentos – normas e regulamentações - do MEC, EMBRATUR, SEE/RJ e do Instituto de

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Hospitalidade, resolveram encaminhar sugestões à SEE/RJ sobre quais seriam as melhores

definições dos cursos em suas cidades.

Como resultado, cada colégio pertencente a uma região do Estado, pôde montar seus

currículos respeitando uma parte comum a todos e elaborando uma parte específica. Esta

levou em conta dados da economia fluminense e da economia do município ou região onde

estivesse inserido o colégio.

Em 2002, os colégios estaduais passaram a oferecer à comunidade seus cursos

técnicos, estruturados em módulos, seqüenciais ao ensino médio, como pós-médio, no modelo

centrado em competências por área profissional.

Com uma carga mínima obrigatória de 800 horas para cada habilitação, estipulada

pelo MEC, o Cejob utiliza 880 horas para cada módulo. O primeiro ano está divido em dois

módulos: o dos fundamentos do turismo e o de Agência e Transporte. No segundo ano têm-se

o terceiro módulo que é o de Hotelaria. Um outro ponto favorável ao Tectur é que aos cursos

pós-médios são exigidos conhecimentos de duas línguas estrangeiras. O Cejob oferece, na sua

grade curricular, três línguas para o Curso Técnico: inglês, francês e espanhol.

O Cejob já entrou com o pedido na Embratur para ter o curso de Guia Turístico, o que

seria complementar ao que já existe, acrescentando um quarto módulo: o de guiamento. Este

processo já está há dois anos sendo estudado. O objetivo dos professores é que o curso de guia

seja seqüencial ao de técnico. Os alunos fariam o curso técnico e mais um módulo, o de guia.

Sairiam com dois certificados: o de Técnico e o de Guia regional e nacional. O 1º foco será o

regional, para privilegiar os roteiros integrados do Estado do Rio. Depois virá o guiamento

nacional, incorporando roteiros de visitação a Minas, São Paulo e Espírito Santo.

Para o curso de guiamento:

embora não haja exigências da Embratur a não ser a de profissionais habilitados para a matéria, nós colocamos alguns parâmetros para que funcione: 1) terem os alunos terminado o ensino médio e não estarem em dependência em nenhuma matéria; 2) uma biblioteca adequada;

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3) espaços próprios para laboratórios do tipo: um quarto, uma cozinha, uma recepção, para que os alunos treinem (morador 37).

Perguntado se não haveria possibilidade em se fazer convênios com a rede hoteleira

para utilizar o espaço real para o treinamento dos alunos, houve a seguinte declaração:

por incrível que pareça, apesar de se ter tanta pousada aqui é tão difícil conseguir um proprietário que esteja aberto a receber esses alunos. É até uma contradição, porque seria uma mão-de-obra de graça para eles. Mas eles alegam tantas coisas, põem tantas barreiras, tantos empecilhos que é algo interessante ressaltar. Eles acham assim: a gente [no caso os empresários] vai treinar as pessoas, elas vão aprender as coisas, aprender os segredos da empresa, de como trabalhar e, depois vão sair fora e trabalhar em outro lugar. Penso assim... por que eles não gostam dos estagiários? Sei que eles erram, mas em contrapartida são os ‘pé de boi’, que fazem o serviço todo, porque eles estão com aquela garra de aprender, então eles fazem o serviço até muito bem... mas aí o que acontece? Eles são estagiários, seus trabalhos são provisórios. Sim, eles vão sair e levar aquela bagagem do que aprenderam para outra pousada e isto os empresários detestam, acham que está errado. Aí qual seria a proposta? A de eles contratarem essas pessoas, mas aí nós sabemos que é inviável, porque trabalhamos com uma ou duas pousadas e a ida de nossos alunos têm de ser pensada, acordada pois, afinal, são alunos da Escola que vão estar lá e tem de haver supervisão dos professores do Colégio. Por isso não podemos trabalhar com muitas pousadas e, estas poucas, mesmo que recebam um trabalho gratuito, sentir-se-ão sempre lesadas porque estão preparando, de graça, as pessoas para mercado, que não vão ficar ali. Esta é a cultura daqui, infelizmente. (morador 37)

Diante deste impasse, foi dada a sugestão que se procurasse os órgãos que cuidam de

estágios, como o CIEE e a Fundação Mudes, que talvez, possam ter uma solução para o

problema, sendo até muito provável que este estágio seja remunerado. Um inconveniente

possível seria o deslocamento do aluno. Aí foi levantada uma outra dificuldade:

Pois é... esse tipo de estágio seria ideal para eles. Imagine o aluno sair daqui para outro lugar! Mas eles não conseguem enxergar muito adiante. Eles não sabem que precisam investir para que consigam coisas maiores na frente. Eles são imediatistas. Isto serve para viagens, para estágios, para saídas e visitas técnicas. Eles só vão até aonde eles ainda conseguem, uniformizados, usar o transporte gratuito. Se saem deste limite dizem que não querem, que não podem. Nós já tentamos arrumar lugares próximos daqui [para estagiarem] como Cabo Frio, São Pedro, mas eles não vão, porque não têm esta visão de investir um pouco agora para conseguir algo maior depois. Como o curso é totalmente gratuito, pensam que não vão investir nada. Esta é também uma grande dificuldade, olhando o lado dos alunos.(morador 37)

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Embora esta seja uma dificuldade hoje – a busca do estágio – será provavelmente

provisória porque, com a autorização da Embratur para o funcionamento do curso de guia, a

equipe de professores já pode pensar em formulação de roteiros muito próprios da região, que

eles conhecem bem por, na sua maioria, ter nascido em Búzios ou arredores ou estar morando

há um bom tempo no local.

A possibilidade de sair como guia dará maior liberdade para que os alunos tenham

seus próprios negócios, que possam trabalhar como “free lancers”.

Ao que parece, entretanto, é que, por mais que se façam treinamentos e pode-se

perceber que muitos são oferecidos, tanto pelo governo quanto pelo Sebrae e Instituto de

Hospitalidade, por exemplo, há carência de mão-de-obra especializada para o setor, sendo, na

verdade, a história mais complexa do que se possa imaginar. Segundo uma outra declaração, o

problema estaria na falta de planejamento do local em relação às pessoas. Que se

preocuparam muito em fazer os espaços físicos, mas não se preocuparam em capacitar as

pessoas. Sabe-se do empenho que tanto a iniciativa privada quanto os órgãos públicos e as

ONG’s têm feito para sanar este problema.

O poder público reclama que a comunidade não quer se capacitar porque os cursos são oferecidos e eles não participam. Existe aquele jogo de reclamação e ninguém faz aquele processo de reflexão concreta: a minha parte de contribuição para alterar isto é esta e eu vou cumprir esta meta. As partes não fazem isso. A parcela de responsabilidade que é tanto da sociedade civil quanto pública e privada não pára para discutir o assunto. E o que gerou isso? O próprio processo de desenvolvimento que atraiu muita gente para cá. No próprio processo de desenvolvimento, essas preocupações não foram ordem do dia. A questão da capacitação, do bom atendimento, isso não esteve na ordem do dia nesse processo de crescimento do turismo aqui. Muito pelo contrário, nesse processo de desenvolvimento a gente teve sempre um crescimento grande da estrutura urbana, em termos de prestação de serviços, o que não foi acompanhado pelo crescimento da mão-de-obra para trabalhar naqueles espaços. Houve uma preocupação muito grande de fazer leitos, restaurantes, mas não houve uma preocupação muito grande de fazer garçons, camareiras. Houve um espaço físico, mas cadê o espaço humano para ocupar isso, para fazer isso funcionar? Isso não aconteceu e tem as suas conseqüências hoje. Só que Búzios é um lugar muito especial, inclusive em termos de espaço geográfico é um lugar muito pequeno, é um ‘biscuit’ que tem que cuidar muito bem, senão quebra. Enfim, essas preocupações hoje têm de ser debatidas, discutidas, com técnica. Acho que se tem de ter sobre Búzios hoje uma visão cientifica, uma visão de planejamento, uma visão técnica para se reordenar as coisas por aqui (morador 12).

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5.4 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

As entrevistas tiveram basicamente onze perguntas (Anexo B). Sendo a primeira

utilizada para a identificação do informante, não sendo considerada por isso como questão.

Como foi usado o sistema de entrevista semi-estruturada de natureza espontânea, focal e de

um levantamento formal, em alguns momentos se permite a emissão de opinião fora do

esquema proposto, quando se acredita ser importante. Note-se que os itens dez e onze se

preocupam mais com o presente (o que deixou de ser perguntado) e com o futuro (que cidade

se espera morar). Daí foram tiradas partes das sugestões e recomendações que são descritas no

capítulo a seguir.

Ao todo foram gravadas 15 microfitas, na velocidade mais lenta, totalizando mais de

30 horas de registro das entrevistas. Estas foram todas transcritas porém, devido a grande

quantidade de material, tiveram de ser editadas para dar uma maior coesão aos discursos,

aproveitando-se deles as partes mais importantes que corroborassem ou não a hipótese.

As perguntas 1, 2 e 3 foram tabuladas no capítulo anterior quando se descreveu a

metodologia, excetuando-se a que diz respeito do tempo de moradia em Búzios ou arredores,

visto que nem todos responderam esta pergunta e, assim, foi desconsiderada por não se tratar

de algo tão fundamental ao trabalho:

1) Apresente-se. Diga seu nome completo, profissão, idade;

2) Há quanto tempo conhece ou mora Búzios, se mora, em que bairro e há quanto

tempo? Se não mora em Búzios, onde mora?

3) Trabalha com produtos relacionados ao turismo? Com o quê?

A partir do terceiro item, dos 37 entrevistados, 24 disseram que “sim, trabalham

diretamente com o turismo”; 9 responderam que “não, só estudam” e 4 responderam que “sim, mas

trabalham indiretamente”.

Percebeu-se que há uma linha tênue que separa aqueles que se dizem trabalhar diretamente

com o turismo e aqueles que dizem que trabalham indiretamente. Na verdade, mesmo que o

entrevistado (a) não tenha uma função “clássica” no trabalho da área como recepcionista, camareira,

dono de pousada, agente de viagens, etc, as atividades se relacionam diretamente com o turismo,

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seja um técnico de refrigeração que atende aos hotéis, seja um professor que dá aulas para a área de

turismo, por exemplo.

A pergunta 4 – Qual a sua opinião sobre o turismo em Búzios? – teve como objetivo

ser aberta para que os respondentes se expressassem com mais liberdade:

Dos 37 respondentes ao todo, haverá uma separação entre as respostas dos alunos do

Tectur/Cejob - no total de 18 - e do restante da população. Isto porque o que mais interessa

para este estudo é como está o discurso dos alunos em relação ao turismo e seus

desdobramentos e a sintonia que o aprendizado vem estabelecendo ou não com os planos e

metas governamentais.

O PNT (p. 17) ao diagnosticar as dificuldades enfrentadas pelo turismo no Brasil,

principalmente em relação ao panorama internacional, informa que há “qualificação

profissional deficiente dos recursos humanos do setor, tanto no âmbito gerencial quanto nas

habilidades específicas operacionais”. Esta avaliação também é encontrada no Plantur –

proposições - (p. 8), quando diz:

A qualificação da atividade impõe ações com relação à capacitação profissional, a partir de um mapeamento das principais carências de formação de mão-de-obra, nos diferentes níveis de escolaridade, por município ou região turística.

No Plano Diretor do Município, documento que traz à tona os pontos fortes e fracos do

município, avalia que “no tocante a trabalho e renda” um dos principais problemas é a

“formação/capacitação profissional insuficiente, fator imprescindível para obtenção de

empregos qualificados apontado como problema prioritário” (p. 142).

Como se pode perceber tanto o governo Federal (PNT), quanto o Estadual (Plantur) e

o Municipal (Plano Diretor) corroboram com as principais queixas dos alunos do

Tectur/Cejob, tanto quanto o que apregoa o documento “Referenciais curriculares nacionais

da educação profissional de nível técnico. Área profissional: Turismo e Hospitalidade” que,

ao citar o estudo “Profissões para o Milênio – Um estudo sobre Educação e Capacitação para

Carreiras na Indústria de Viagens e Turismo da América Latina”, do World Travel & Tourism

Council e da American Express Company (p. 9):

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o turismo agora está começando a engrenar legal, com a qualificação das pessoas, cursos que estão vindo à Búzios, oficinas, e está pegando os hotéis e pousadas, que já estão com pessoas um tanto qualificadas...” (morador 3); ..porque as pessoas têm que se qualificar.....não adianta o turista vir para cá, entrar num restaurante e não ser bem atendido, a infra-estrutura da cidade não ser boa. (morador 4); Há muita falta de mão-de-obra especializada (morador 7); não temos a qualificação profissional necessária do pessoal que atenda o turismo (morador 8); O turismo em Búzios está agora aquele turismo enlatado, aquela mesmice. Vamos ter mais qualificação e turismo de qualidade e não turismo de quantidade, qualidade ecológica, qualidade ambiental, qualidade social (morador 9); Eu acho que por parte da iniciativa privada teria de ter mais incentivos à capacitação para melhorar o atendimento, algo mais profissional. (morador 10); Precisa de capacitação constante e de valorizar um pouco mais as coisas da terra. (morador 35).

Embora não sendo os mais citados apareceram também, por meio de dos estudantes as

seguintes declarações:

Dentro do Curso Técnico estamos tentando resolver alguns problemas que é o de criar novos calendários de eventos, para tentar diminuir a sazonalidade da nossa cidade que recebe poucos turistas na baixa temporada. Então, estamos todos, alunos e professores do curso criando novas opções para a baixa temporada, buscando novos recursos. Estamos buscando novas soluções, criando novos atrativos para poder trabalhar daqui para o final do ano....(morador 10); ...exploradas no inverno..., mas nós temos produtos melhores ainda a oferecer além das praias. (morador 11); ...Você vê que a gente aqui não tinha apoio do Técnico de Turismo e agora já temos. Então você vê a mudança acontecendo e isto é muito bom, porque você vê a cidade crescendo por conta do turismo e vê mais ainda, que as pessoas já estão voltadas, atentas para isso.... (morador 13); ....acho que falta e prejudica os turistas é a sinalização... as placas...eles ficam meio perdidos.... (morador 29); O turismo em Búzios é muito mal aproveitado. Na realidade só existe turismo 3 a 4 meses no ano que é a alta temporada....preços abusivos, uma rede hoteleira que cobra caro ...Não existe uma mentalidade turística em Búzios. Existe o turismo, mas não a mentalidade turística que busque atrair o turista nas outras épocas ...de dez turistas que vêm a Búzios somente 3 ou 4 retornam.. (morador 30); que muita gente, como eu, está sem informação. ... tinha que haver mais um processo de interação dos órgãos públicos junto ao povo. Mais ensinamentos nas escolas, até desde o início..... eu acho que são os jovens que vão ter que

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levar esse conhecimento, o que já teria que chegar desde a mais tenra idade das crianças na escola... (moradora 36)

Estas respostas demonstram que o Tectur vem pensando junto com os estudantes

maneiras de criar produtos inovadores e, mais uma vez, intencionam em resolver um

problema citado no PNT (p 18) que é “a baixa qualidade e pouca diversidade de produtos

turísticos ofertados nos mercados nacional e internacional”. Os outros citados como falta de

promoção na baixa temporada, falta de mentalidade turística, falta de sinalização turística e

levar o conhecimento turístico aos jovens, por exemplo, o Plantur diz:

Deve ser realizado um trabalho junto à Secretaria Estadual de Educação para a definição de um programa de conscientização para o turismo e a preservação dos recursos naturais e culturais, bem como para o fortalecimento da formação de segundo grau e técnico. A Embratur possui um programa pronto de conscientização para a 6ª série do primeiro grau que poderia ser uma referência para esse trabalho. (p. 8)

Embora as respostas de outros moradores para a mesma pergunta feita aos alunos do

Tectur/Cejob estejam mais bem elaboradas, não se fará aqui a análise a partir dos Planos

turísticos da união, estado e município, pois o interesse é identificar as relações dos

depoimentos dos alunos. Interessante, todavia, é que, nos depoimentos dos não-alunos não

aparece a questão da capacitação, ou melhor, a questão da capacitação não é prioritária,

mesmo a dos moradores 12 e 37 que falaram a respeito, o que foi demonstrado no item

anterior, antes da análise das entrevistas.

O que aparece é mais a questão da preservação ambiental, a superlotação no verão,

talvez tendo-se que trabalhar um turismo com capacidade de carga no verão (limitando o

número de entrada de pessoas), o que desagrada muitíssimo os comerciantes. Uma outra

dificuldade é a questão da infra-estrutura, que também aparece nos depoimentos e a

necessidade de criar novos negócios em turismo que dê conta de utilizar sua exuberância

ambiental, como é o caso das trilhas. Passa-se também pela questão da valorização da cultura,

do chamamento ao turista “bom”, que não necessita ser aquele que tenha muito dinheiro, mas

que conserve uma identidade com o que é natural, respeite o morador local, suas

manifestações e credos.

Na questão 5, foi perguntado: Você tem alguma sugestão a respeito do turismo na

baixa temporada? Que atividades crêem que poderiam ser oferecidas?

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O PNT, quando realiza o diagnóstico dos atrativos e produtos brasileiros para o

turismo diz que há “ausência de um processo de avaliação de resultados das políticas e planos

do setor”, além de “insuficiência de dados, informações e pesquisa sobre o turismo brasileiro”

e, dentre outras, “insuficiência de recursos e falta de estratégia e articulação na promoção e

comercialização do produto turístico brasileiro” (p. 17 e 18). O Plantur, quando faz

proposições para a região turística – não somente para Búzios – diz que:

a Região [está se referindo à Região Turística 9 que abrange os municípios de: Araruama, Armação dos Búzios, Arraial do Cabo, Cabo Frio, Casimiro de Abreu, Iguaba Grande, Maricá, Rio das Ostras, São Pedro da Aldeia e Saquarema] também registra como grande apelo turístico, o patrimônio histórico e cultural com exemplares arquitetônicos retratando a história local, artesanato, artes plásticas, vestuário e gastronomia. (p.138).

No caso do documento inicial que embasa o Plano Diretor de Búzios diz que para o

turismo e lazer há:

inexistência de uma política global e definida de turismo para a cidade; turismo predatório – falta de incentivo ao ecoturismo; falta de estrutura/incentivo/investimento para atividades náuticas e esportivas; baixa qualidade no atendimento ao turista; ausência de calendário turístico (p. 142)

Já no documento “Referenciais...” quando fala da interface do turismo diz que:

Com a área de Meio Ambiente, não só pela atenção geral para a paisagem e as questões de preservação, como precipuamente nas atividades do Ecoturismo ou Turismo Ecológico. Com as Artes, desnecessário insistir na interface e, mesmo, dependência que o Turismo tem em relação ao patrimônio histórico-artístico, às manifestações de arte de toda natureza, da folclórica e popular mais sofisticada e cosmopolita. Com o Lazer e Desenvolvimento Social, pela sua identificação com a função social do uso do tempo livre e com a forma de seu exercício através de atividades de recuperação psicossomática, recreativas, físico-desportivas, de entretenimento, de fruição artístico-cultural, etc. A área de Turismo e Hospitalidade faz, ainda, interface com essas e varias outras áreas, quando se promovem eventos de várias naturezas, tipos, conteúdos e objetivos (p. 6).

Interessante que os alunos praticamente citaram tudo o que se encontra disperso no

conjunto de documentos quando dão suas sugestões a respeito de como incrementar o turismo

na baixa temporada:

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estamos divulgando mais a Serra das Emerências, que dá um passeio, uma caminhada legal que eles fazem lá, fazem trilhas, fazem outros tipos de passeios. Na baixa podem fazer também equitação, pois têm fazendas com espaço imenso para fazer este tipo de turismo...Trazer mais shows.... Um parque infantil também para levar as crianças”(morador 3); deveria ser oferecido algo em relação aos esportes, há tanto mar aqui que dá para fazer tanta coisa! Campeonatos, festas... (morador 4); serem criados mais eventos para atrair os turistas na baixa temporada....Podíamos ter eventos assim... esportes, eventos também populares, que possam mostrar um pouco da cidade, mostrar um pouco a cultura da cidade, os artistas, que tem em Búzios... (morador 6); turismo ecológico. Melhor mesmo é o turismo ecológico... (morador 7); Eventos na parte náutica... umas convenções... (morador 8); A tendência na baixa temporada do turismo seriam as caminhadas ecológicas, gastronomia, festas gastronômicas, eventos culturais, feira de livros, momentos históricos da cidade, resgate da história, da cultura de Búzios.... (morador 9); caminhadas ecológicas, trilhas, do qual já temos um projeto preparado para atender a esta demanda que é a baixa temporada. São vários tipos de trilhas e vamos também, dentro das possibilidades criarmos caminhadas e cavalgadas (morador 10); Ecoturismo, porque nós temos aqui matas, maravilhosas trilhas para serem feitas e não exploradas.Pode também fazer vôo livre, pois tem rampa nas Emerências. Nós estamos criando estes produtos aqui no Curso Técnico de Turismo. (morador 11); Eventos, shows. (morador 13); eventos (morador 18); Mais eventos na baixa temporada...manter parcerias com outras cidades.... (morador 20); investir no turismo sustentável por meio da cultura local, artes e artesanato (morador 21); Mais cultura, mais áreas de lazer,algum tipo de isenção ou diminuição de impostos(morador 22); Eventos, campeonatos, shows (morador 29); Festivais de música popular, de música sacra, de música gospel. Atividades desportivas como vôlei de praia. Atividades aquáticas como canoagem, jet ski, vela. Fazer negócios com outros locais – trocas e promoções nas temporadas... (morador 30); Sugiro programas tipo apresentação de shows... (morador 31); Esporte náutico... (morador 35); e

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Oferecer, junto com outras prefeituras um calendário de turismo.....festas folclóricas, exposições dos colares de contas que os índios faziam. Pegar uma coisa tradicional de Búzios e fazer festa disso, tipo peixe com banana... (moradora 36)

Nos depoimentos do conjunto de moradores apareceram as seguintes sugestões:

parque temático de Búzios, onde se possa passear por trilhas e conhecer as plantas nativas... e que no meio desse parque tivesse uma casinha de pau-a-pique como era feita na época e a caminha de bambu onde dormiam.. (morador 1)

Festival gastronômico. Toda semana um evento para chamar o turista. A baixa temporada tinha que ser atrair o turista do exterior e para o turismo de negócios... temos hotéis e pousadas que oferecem toda a logística, a infra-estrutura, o apoio necessário para esses eventos, com centro de convenções, inclusive. (morador 2)

Eventos desportivos, náuticos. Buscar o turista brasileiro, das cidades mais próximas. Explorar os eventos e outras opções de lazer... Quando tem chuva os pousadeiros ficam sem ter o que oferecer aos hóspedes... (morador 5)

Aqui deve ser feito um trabalho específico em cima do resgate daquilo que é histórico, ambiental, humano e agregar a isto valores no sentido de compor produtos que reúnam a iniciativa privada que já está estabelecida aqui. (morador 12).

Feiras, concursos gastronômicos de frutos do mar, shows de qualidade...”.(morador 14)

Congressos, festivais, esportes náuticos. Só que é necessária uma estratégia política mais dirigida ao turismo. (morador 15)

Búzios já tem as coisas mesmo na baixa temporada basta trazer os turistas. (morador 16)

Calendário de eventos náuticos. Ninguém vem aqui apenas tomar sol.É todo um contexto: o meio ambiente, a paz, a tranqüilidade, a própria badalação... (morador 17).

Eventos em forma de cultura,calendário de eventos turísticos. (morador 19)

Turismo cultural com festivais de música, teatro, cinema e uma grande divulgação da cidade! (morador 23)

A baixa temporada pode ser atenuada através de captação do turismo de negócios, de grandes eventos e de uma política de tarifas mais razoáveis para estes períodos. (morador 24)

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Gastronomia, turismo religioso.... Programas culturais, atividades que possam estimular a vinda de pessoas independente do sol. (morador 25)

Esportes náuticos, vela. Turismo de altíssimo nível, que gera renda e emprego para todo mundo. Atividades culturais para quem chega e para quem já mora aqui. Precisamos de um calendário de eventos muito diversificado. (morador 26)

Promover eventos: para crianças, jovens e eventos náuticos que é o que eu acho o grande charme da cidade. (morador 27)

Esportes náuticos por ter Búzios uma das melhores raias do mundo. Eventos que tenham a identidade do local. As festas religiosas....Trabalhar a cultura....Afora isto, o acesso à búzios é muito ruim. (morador 28)

Gastronomia.... (morador 32)

Calendário de eventos. Gastronomia usando a farinha, o peixe como antigamente... (morador 33)

Explorar lá para aqueles lados de Baía Formosa, da Rasa, tem uma comunidade de negros, descendentes dos escravos... (morador 34)

Pesca artesanal, gastronomia, calendário anual de eventos. Imagine se o Rio decidisse fazer o carnaval somente em janeiro para preparar tudo para fevereiro ou março? Seria uma tragédia, não é? Mais o carnaval é aquela coisa bonita porque eles trabalham o ano inteiro em função disso.... (morador 37)

O que mais aparece de sugestão é incrementar a gastronomia, ter calendário anual de

eventos, esportes náuticos, trilhas, ecoturismo, atrair turistas mais próximos e estrangeiros,

eventos de negócios, turismo religioso, turismo cultural, parque temático de Búzios, festivais

culturais: shows, teatro, cinema, exposições de arte. Dar importância ao lazer infantil e

juvenil.

A pergunta 6 – Você sabe de algo que o pessoal nativo ou morador de Búzios faz de

diferente que poderia ser aproveitado para o turismo? Ex.: comida, dança, música, pintura,

etc... será analisada junto com a pergunta 7 – Quem faz? Onde mora? Essa pessoa trabalha

com isto regularmente, ou faz outra coisa para viver?

O PNT diz nos seus princípios norteadores para o desenvolvimento do turismo que

“desejamos um novo modelo para o Turismo que contemple e harmonize a força e o

crescimento do mercado com a distribuição da riqueza” (p. 19). Mais adiante afirma que

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todos os Programas, Projetos e Ações do Plano Nacional do Turismo terão como Pressupostos básicos a ética e a sustentabilidade e como princípios orientadores os seguintes vetores do governo:

Redução das desigualdades regionais e sociais; Geração e distribuição de renda; Geração de emprego e ocupação; Equilíbrio no balanço de pagamentos (p. 20)

Quando estabelece o Macroprograma 4 enuncia:

a oferta do produto turístico brasileiro tem se caracterizado pela pouca diversidade” [...] Estruturar e aumentar esta oferta, colocando no mercado novos produtos de qualidade, compatíveis com a diversidade cultural e contemplando as diferentes regiões brasileiras se constituem (n)um grande desafio (p. 37)

Nos seus objetivos, vê-se, dos quatro arrolados, a necessidade de:

aumentar o número de produtos turísticos de qualidade colocados para comercialização,

diversificar os produtos turísticos contemplando nossa pluralidade cultural e diferença regional,

diminuir as desigualdades regionais, estruturando produtos em todos os estados brasileiros e Distrito Federal (p. 38)

Na parte de promoção e apoio à comercialização, diz no Macroprograma 6, como um

de seus objetivos: “promover a diversidade cultural e regional brasileira” (p. 43)

Nestas questões, o Plantur coloca como um de seus objetivos e pressupostos: "reforçar

a identidade turística estadual, respeitadas as peculiaridades regionais e ambientais”

(DIAGNÓSTICO, p. 5)

E mais adiante ao descrever minuciosamente as questões dos aspectos culturais do

estado afirma que:

Observa-se a necessidade de criar as condições para a atualização dos registros das manifestações folclóricas em todo o Estado, com o objetivo de preservá-las, tendo em vista constituírem-se em elementos importantes do resgate e da preservação da identidade cultural da população. Além disso, podem constituir-se também em importantes fatores de atração turística e, portanto, de geração de renda para a população local (DIAGNÓSTICO, p. 40)

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Já no Plano Diretor, de Búzios, ainda não o documento definitivo, alerta:

Quantos aos problemas que dificultam a questão da disseminação da cultura no Município, foram sinalizados:

Falta de identidade cultural potencializada pela descaracterização das tradições buzianas;

Falta de calendário anual, divulgação e apoio aos eventos culturais; Falta de apoio ao artesanato / produção cultural local; Falta de espaços para eventos; Escassa produção de artesanato local de qualidade superior (p. 142)

A estas observações, expressas nos planos federal, estadual e municipal, responderam

os alunos que:

Quadrilha. Folia de Reis existiam na região, mas não existem mais. A população, porém, encontra outros meios de se expressar nas artes e, por isso usam a taboa para fazer esteira, do bambu fazem cestos e são pessoas que vivem disso. Tem muitas pessoas daqui, de Búzios em geral que são artesãos. Dentre essas pessoas, encontra-se o Sr. ‘Manoel Beirão’ que faz esteiras, faz cestos. O processo é simples: vai até as lagoas ou brejos, pega a taboa corta e leva para secar, para fabricar estas esteiras, que ele vende a dez ou quinze reais.(morador 3)

A fabricação de cestos não é uma peculiaridade de Búzios, mas faz parte de uma

história que ficou no passado, uma história das aldeias que tinham lagunas e brejos. Em se

falando em roteiros integrados, em peculiaridades regionais, esta seria uma das características.

Identificaram também os trabalhos que são expostos na Praça Santos Dumont e na

feirinha no final da Orla Bardot:

pinturas, trabalhos manuais, artesanais, um pouco da cultura da cidade. (morador 6) Búzios, como cidade cosmopolita, recebe os artistas que “não são daqui”. Os que são da terra, alguns fazem esculturas em madeira. Tem a Abigail, vinda de fora, que expõe suas obras em seu próprio restaurante. Os artistas mais famosos são aqueles que não nasceram em Búzios, mas escolheram Búzios para morar. (morador 7)

A pesca artesanal é um produto local, mas até ela sofreu influências estrangeiras como

do Kurajiro, japonês que se estabeleceu em Búzios há muito tempo atrás, conforme

depoimentos do morador 1.

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Se a pesca é um meio de sobreviver, na alta temporada eles, os pescadores usam seus equipamentos para levar turistas a passear e contar as histórias da cidade. (morador 8). Em José Gonçalves, existem pessoas que ainda fazem a culinária dos índios e alguns fazem seus artesanatos para não esquecerem da cultura. Pena é que, algumas vezes, vendem seus trabalhos muito baratos para pessoas que os superfaturam ao revender. (morador 9). Alguns que fazem artesanato usando a taboa, na mesma José Gonçalves, também cultivam hortaliças orgânicas, “porque ninguém gosta de comer veneno”, diz uma das filhas deles. (morador 11). Macarrão com siri pode ser um prato típico? Ou é uma invenção típica da Búzios contemporânea? (morador 18). As casquinhas de mariscos, em José Gonçalves, do Ranieri e mais as suas obras, mistura de madeira, bruta, ou gravetos, com formas humanas e metais, que não faz mais porque não tem como derreter e prensar os metais para dar-lhes forma. (morador 21). A sopa de peixe com banana verde, aliando dois ingredientes, um ainda abundante na região: o peixe e outro hoje com poucas plantações: a banana. (morador 35).

Um aluno e o sonho de

montar seu restaurante de pratos típicos, fruto de receitas antigas, da avó, passadas para a mãe, guardando sigilo de como fazer (morador 36)

Com objetivo de ter seu diferencial competitivo que tanto se encontra nos documentos

empresariais e nos núcleos de discussão dos novos produtos de qualidade em turismo.

Os demais respondentes vêem a questão do que pode ser aproveitado para o turismo

do que o pessoal nativo ou morador, da seguinte maneira:

A comida típica daqui era peixe com banana, peixe com farinha, era o peixe salgado com banana, era muita mandioca, muita batata, batata doce, coisas assim que eles mesmos plantavam, milho eles usavam demais, mas assim os pratos que eu mais escuto falar é o tal do peixe salgado com banana, que era o que eles falam que mais sentem saudade, que de vez em quando os pescadores fazem..., essas fritadas também de ovo com peixe, com bastante tempero... eles fazem isso, fica uma delícia, não sei se pode chamar de típico, mas, para mim, é uma coisa típica. A sola é feita da farinha e com amendoim, A sola misturava a farinha da mandioca com o amendoim, pedaços inteiros e cana-de-açúcar, que era de onde eles tiravam o açúcar, um pouco disso, meio rapadura, meio assim, que eles misturavam, e faz tipo uma sola mesmo, você amassa aquilo, aquilo vai ao forno, eles embrulhavam

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em folha de bananeira para conservar úmido, para não ficar muito seco.” (morador 1) Sei dos artistas que vieram de outros lugares, como São Paulo, e até do exterior e escolheram Búzios para morar. O Toninho português, além de saber a história de Búzios como ninguém, principalmente a parte cultural, faz gravuras de peixes representando Búzios, esse negócio de mar.... (morador 2) As pessoas têm interesse na parte cultural. Têm sido desenvolvidos alguns trabalhos na área da música, do teatro, das oficinas manuais. Freqüentam essas aulas desde crianças até pessoas mais velhas. Acho que deveriam ser criadas exposições com essas obras. Outro ponto interessante é a cultura voltada para a capoeira, que os estrangeiros gostam porque para eles é diferente. Na Praça Santos Dumont têm um instrutor de capoeira, Serginho, que dá aulas toda quarta-feira de forma voluntária para adultos e crianças e não recebe nenhum patrocínio. Aqui tem um pouco de arte circense. Têm muitos artistas escondidos ainda em Búzios.... (morador 5) Búzios tem alguns valores que, realmente, são de Búzios e foram questões muitas das vezes naturais. A gente pega, vamos dizer, questão da arquitetura de Búzios. É muito difícil você ver encontrar uma localidade que tem uma arquitetura que a caracteriza e Búzios conseguiu isso: criar. Também tem todo um trabalho do Otavinho que começou aqui com várias propostas de construções que mexem em vidro, a madeira... até, vamos dizer, a partir de uma adaptação das casas dos pescadores para que elas pudessem começar a receber turistas... isso acabou virando uma marca da construção em Búzios. Então é um aspecto realmente interessante, de charme, que dá um requinte diferenciado, que dá um requinte do luxo, não do luxo da ostentação. Em Búzios é o luxo do requinte, refinado – o luxo simples – e isso traz um diferencial grande para a cidade. [...] Olha, a gente pode perceber alguns valores passados particulares. Eu vejo hoje a região muito multicultural. É uma cidade que absorveu pessoas de várias localidades do Brasil e, somou-se a isto os estrangeiros. Isso traz hoje uma característica multicultural e indefinida. Por que multicultural e indefinida? Porque você tem um conjunto de culturas diferentes, de produções culturais e artísticas diferenciadas, mas elas não estão calcadas numa base sólida. Quando eu falo que elas não estão calcadas numa base sólida é a questão da perda da identidade cultural local. Porque quando você me pergunta dum valor próprio duma comida, duma dança, duma arte própria me vem à mente a identidade das pessoas da localidade e isto vem se perdendo tanto em Búzios quanto na região inteira. Então, vamos dizer assim... existem lampejos... um prato que é o peixe com banana, que já me contaram que é um prato típico... dum trabalho de artesanato com uma raiz chamada samuma que é uma raiz de um arbusto daqui do litoral, uma dança folclórica, próxima ao carnaval ligada a presença de peixes, onde havia uma dança muito parecida ao boi-bumbá, as lendas de escravos que existiam na região da Rasa que você escuta as pessoas comentarem. Hoje ainda existem esses lampejos, mas que não é nada forte, nada com força dentro da cidade. Eu vejo que esses elementos por mais simples que possam ser, eles têm que estar presentes no turismo, afirmando a identidade da população da localidade. [...] Seja um valor individual ou um coletivo, como o peixe com banana, por exemplo, isso tem que ser unificado enquanto produto da região. Acho um absurdo, por exemplo, a gente ter passeio de jangada aqui em Búzios. A jangada não é um transporte marítimo comum da península. A gente tem a canoa, a traineira. A jangada é coisa do

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nordeste, não tem que estar aqui. Sendo assim, a gente acaba vendo incorporados à Búzios e região valores que não são natos. Então... redescobrir, revalorizar, afirmar os valores natos e ingressá-los na atividade do turismo é a maneira de se garantir a identidade local. É uma maneira, no fundo, de se fazer inclusão social. Você pode identificar uma produção de farinha, por exemplo, que parece que ainda existe no bairro da Rasa, que é uma produção de farinha artesanal, e incluir essas pessoas no processo do ganho econômico onde elas fazem aquilo que sabem fazer, que é natural delas Um outro exemplo também de Búzios é que a comunidade nasceu da pesca, toda sua atividade sempre esteve relacionada ao mar, do oceano. Por que isto não está incluso no turismo? Por que se vincula um passeio de escuna e não se tem oferecido um passeio em embarcações típicas de pesca onde a própria presença de um pescador possa ir transmitindo ao visitante conhecimentos que ele tem sobre o oceano. São elementos que são próprios e, quando identificados, têm de passar por treinamentos, composição técnica, pois não se vai ingressar a atividade e as pessoas no turismo sem que haja um preparo e alguma padronização também. Tem que ter todo um planejamento para isso, mas é a saída que eu vejo para Búzios se tornar um lugar único, porque o que vem acontecendo é que esta multiculturalidade que existe aqui, que de um lado é fantástica porque traz consigo vários relacionamentos, conhecimentos e concepções artísticas, por exemplo, mas tudo isso tem que estar agregado a uma base sólida, que é a identidade cultural local. Então é um lugar fantástico porque tem esses valores que precisam ser redescobertos e um turbilhão de coisas, produtos e pessoas que já existem! Criar essa base e reunir com o que já existe, você torna Búzios um lugar excepcional, porque o caminho que está ocorrendo é o da cidade se tornar um lugar comum. [...] Quando vejo uma parceria que começo a realizar com alguns empresários da cidade em torno desses produtos de ecoturismo, vejo realmente que eles querem uma resposta, que querem uma coisa nova, particular, nativa, própria para o cliente deles, que é o turista. [...] Não conheço pessoas que fazem essas coisas típicas, mas conheço famílias das quais você pode chegar até essas pessoas. Uma delas é a família dum rapaz que é dono de um quiosque na Praia da Tartaruga, que me falou desse peixe com banana, que alguém da família dele faz. Tem um garçon neste mesmo quiosque, chamado Artur, que me contou a história do artesanato com raiz de samuma. Tem aqui uma família de pescadores do Sr. Zeca – que faleceu há uns dois anos – que é uma família tradicional e conhece as histórias antigas, das questões mais folclóricas, cuja filha é aluna do Tectur, a D. Iolanda. (morador 12) O trabalho artístico aqui em Búzios que a gente conhece e vem participando de algumas reuniões, até então não foram incentivados, não houve feiras, não houve lugar para exposições. Só quem pode cuidar disso por conta própria é quem tem dinheiro. A sugestão seria fazer uma grande mostra de rua. Fechava uma rua e fazia uma mostra num final de semana com muita propaganda, com divulgação com antecedência. (morador 14) não vejo nada de extraordinário, típico de Búzios. Peixe com banana eu comia em Curitiba, quando criança, chama-se peixe à brasileira, não é uma coisa buziana. (morador 16) Existem dois pratos tipicamente buzianos que as pessoas não dão mais importância. As pessoas fazem, na verdade, para comerem em casa: o peixe seco com banana, o peixe escalado, tipo bacalhau. Prepara o peixe que necessariamente não tem que ser seco, ele pode ser ‘sal presado’ – é como o

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pessoal chama aqui. Para preparar o peixe, põe bastante sal e deixa de um dia para o outro ou dois dias. No dia de fazer você põe de molho com uma certa antecedência para tirar a quantidade de sal e ensopa, faz um pirão com banana doce, banana d’água. Dalti é uma pessoa que faz peixe com banana. A garoupa com macarrão também é muito gostosa, mas ninguém explora comercialmente. Além da comida, tinha a Folia de Reis e o carnaval era muito rico, pois tinha os blocos carnavalescos. A Folia e os blocos não acontecem mais. (morador 17) Peixe frito, caipifruta, cuscuz, quebra-queixo, esses dois últimos uma riqueza da Região dos Lagos.... (morador 19) Sou uma pessoa muito ligada a minha linha de trabalho: cultura e artes plásticas em geral. Tem três artistas que tem aqui uma influência muito interessante até porque são nativos e assimilam todas as informações porque Búzios é um lugar de muitas informações de cultura. Eles transformam isso para o seu dia-a-dia, retratando o peixe, a flor, o barco. Transformam essas influências para o seu universo. Tem por exemplo umas pessoas na Rasa que fazem cestaria com galhos de arvore, com raízes. Tem um pequeno fragmento de pessoas fazendo artesanato com fibra de bananeira. Só que está tudo muito fragmentado com o mínimo de incentivo.... Reciclagem.... tem pessoas hoje em dia trabalhando com reciclagem só que estão muito isoladas em seus ateliês. Pessoas que moram aqui e eu acho muito interessante e triste ver as pessoas que nasceram aqui e dizem ‘eu faço essa coisinha aqui’, mas isto é arte, eu digo! E eles nem se reconhecem, mas também não tem incentivo, não tem apoio. Em José Gonçalves e na Rasa eles fazem um bolo que está se perdendo, que a gente não vê mais. É o bolo puba, feito de mandioca podre mais mandioca boa. O Leley tem um ateliê aqui no Centro, ele é de Baía Formosa ou da Rasa, não tenho certeza. Lá eles fazem muitos trabalhos que poderiam render muito mais divisas para o município e muito mais dinheiro para eles, uma melhor qualidade de vida. (morador 23)

Eu acho que um pouco pela miscigenação, um pouco pela quantidade de estrangeiros e gente que veio de fora para Búzios, eu acho que, na verdade, a cultura de Búzios foi se modificando ao longo do tempo. Por exemplo: nós não temos um artesanato que é desenvolvido. Nós não temos uma cultura própria e isto também é muito das cidades de praias do Brasil. Não desenvolveram uma área cultural muito grande, não sei se porque são pescadores, não se desenvolveu uma cultura própria. A nossa cultura, na verdade, a cultura que faz valer hoje em Búzios, é a cultura que veio a partir do momento que as pessoas começaram a chegar e, então, tem muita influência estrangeira, muita influência das pessoas que vêm de fora, mas eu diria até que Búzios não tem uma cultura própria. Uma história sim, mas não uma cultura, que tenha se desenvolvido: uma dança, uma música própria, artesanato próprio, nada disso foi trabalhado, como no Brasil inteiro: nada diferente do Brasil. (morador 24)

Os moradores locais têm bastante histórias e ainda não foi feito o resgate cultural voltado para o turista. O nosso turista vem através dos atrativos naturais, que são as praias e buscam o comércio local. Ele não tem ainda opção de buscar o artesanato local. Então, existe todo um objetivo de fazer um resgate cultural relacionado a isto. Nós temos em José Gonçalves uma comunidade que faz artesanato de folha de bananeira que poderia estar

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sendo oferecido aos turistas. Nós temos também na Rasa um quilombo onde vivem pessoas originárias de negros, que ficaram na região. Temos a reserva do Tauá, que é um espaço de preservação ambiental. Temos estudos voltados aos sambaquis na região – depósitos formados por montões de conchas, restos de cozinha e de esqueletos amontoados, localizados nas costas marinhas ou em lagoas, deixados por tribos selvagens que habitaram o litoral americano na época pré-histórica - que precisam ser resgatados. Mas, da comunidade em si, o que atrai o turista seriam os próprios pescadores jogando rede ao mar, fazendo a sua pesca. Quando eles chegam com o barco, o próprio turista acha interessante estar vendo o peixe ali vivo, poder consumir aquele peixe fresco. Isso tudo é um atrativo muito grande para o turista, mas com certeza precisamos ainda resgatar da comunidade o gosto pelo turista. Dela atender, receber , ver o turista como algo bom para si. Nós temos esse intuito, de num futuro próximo fazer um trabalho todo voltado à comunidade... Nós temos muitos artistas na região. Nós temos desde a Cristina Motta que faz várias esculturas como, por exemplo, a da Brigitte Bardot, a dos pescadores, a da menina na praça dos ossos, entre outras, sendo que não é nativo, ela não é nascida na região. Quem pode dar essas informações mais detalhadas é o Toninho português por ele ter nascido aqui, ser duma família tradicional e conhecer muita coisa de Búzios [...] Hoje a cultura em Búzios está muito confusa porque temos influência de várias outras culturas. Não temos uma cultura específica e isto não é só em Búzios, é uma história do Brasil. Muitas vezes se esquecem do folclore do próprio país.(morador 25)

Aqui há uma mistura, uma miscigenação muito grande pois há muita imigração de estrangeiros e de brasileiros. Aqui há uma cultura atípica, uma cultura buziana que foi nascendo e mesclando com o nativo, que é aquele que vive da pesca, vive do turismo de uma forma bem artesanal, mas eu acho que a coisa ficou meio misturada. O buziano adora cozinhar. Tem um talento nato para a pesca, uma relação boa com a natureza e com as pessoas que chegam aqui: é quase uma troca de culturas. Isso é o que mantém muito viva a tradição buziana. Filhos e netos de pessoas que foram multiplicando estas coisas como a sola, peixe com banana, que é buziano. É uma coisa bem buziana mesmo. A comida buziana está sendo muito reproduzida pelos netos, filhos, que fazem isto por prazer, para fortificar a cultura. D. Maria, mãe da Geruza, que são autênticas buzianas fazem estes pratos. A sola era feita nas casas de farinha. Ainda tem uma em Geribá e outra na Rasa; e do aipim eles fazem tudo, a sola, juntando com o amendoim e a farinha. Meu sogro é cozinheiro, é buziano também, é nota mil. A cultura buziana é muito forte. Poucas pessoas que estão aqui, que sobreviveram a esta coisa de migração, elas continuam fazer isto, por prazer mesmo. Eu acho legal a cozinha internacional, mas você a tem no mundo inteiro. Você, quando chega, quer comer algo da cidade, que expresse a identidade do povo. E isto é muito legal: é respirar cultura! (morador 26)

O povo nativo, ou seja, aquele que, de fato, tem suas raízes aqui nesta cidade e eu me incluo nele também, tem muito a oferecer para a comunidade e para a vida turística, como outras cidades brasileiras: Recife, Parati, Bananal, Cunha, Campos do Jordão, Olinda... Eles vivem do turismo e suas comunidades descobriram no passado, que o grande filão do turismo, a subsistência do seu povo, é exatamente a arte que está dentro do seu próprio povo. Então, se cada indivíduo, se cada personagem que faz parte da história de Búzios tivesse a consciência da importância que cada um deles tem

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perante à sua comunidade, eles deixariam aflorar toda a potencialidade que eles próprios possuem. Na gastronomia, nas expressões artísticas, nos esportes, enfim... Imagine os pratos regionais sendo servidos aos turistas como autenticamente um prato regional de Búzios, de uma cozinha autenticamente buziana. Eu acho que seria muito mais interessante do que eles virem a Búzios e comerem uma moqueca da Bahia, como acontece hoje. (morador 27)

Eu sei que tem alguns artistas locais que trabalham com pintura e com escultura. Também tem uma mulher, que não me recordo o nome agora, que é nativa daqui e tem uma pousada onde ela faz e serve comida típica, mas isso não é muito divulgado e é uma contradição porque quando chegamos em Búzios encontramos comida alemã, japonesa, italiana e não tem a comida de Búzios Tem ateliês de pessoas de tudo que é lugar, mas quantos têm de pessoas do local? Eu acho até que é um preconceito que deve existir.... (morador 28)

Acontece o seguinte: está tudo associado à banana porque aqui teve um período que foi uma grande plantação de banana. Então se tinha banana desde José Gonçalves até aqui na Brava. Isto tudo tinha uma grande plantação de banana... então a banana foi introduzida na culinária justamente pela fartura. Realmente o prato do peixe com banana, em várias formas que se tem este prato é tudo decorrência deste tipo de plantação, mas que se perdeu, você não vê em lugar nenhum. Tanto que quando eles estudam a única coisa típica que tem, que seria o linguajar mais a interação de culturas, onde tem de tudo um pouco, mas nada de específico. Tem de tudo um pouco, mas não consegue ter uma identidade cultural local. Quando se pesquisa isto, todos os nossos alunos, que são moradores daqui, contam coisas, mas tudo tem influência de algum europeu, de algum estrangeiro, ou alguém do próprio país que veio morar aqui. Não tem nada assim, um regionalismo ou uma cultura típica de Búzios, pelo menos não se consegue identificar isso tão claro assim. È uma mescla de tudo isso, mas justamente por causa disso, porque realmente as pessoas foram muito influenciadas. O que a gente pode ter é a pesca artesanal. Esses pratos antigos os próprios moradores desconhecem.... já se descaracterizaram. Não era só isso: tinha doces de banana, compotas de banana. Era tudo de banana. Tem um peixe na folha de bananeira também, que vende muito em Cabo Frio: peixe na telha com a folha de bananeira. Pois é... esse era um prato que era muito comum aqui. Não só aqui, mas na região.... que também existe pouco... mas alguns restaurantes oferecem em Cabo Frio. Em Búzios nunca vi. (morador 37)

Nota-se que os informantes não-alunos têm declarações a fazer ora mais contundentes,

ora com maior riqueza de detalhes. Acredita-se que tal fato aconteça devido a própria

especialização do entrevistado – a maioria trabalhar dentro da cadeia produtiva do turismo -,

quanto de suas experiências com anos de relacionamentos interpessoais com os habitantes

nativos e não-nativos da cidade. E mais, porque não dizer, muitas vezes devido à uma mais

apurada instrução formal que facilita a expressão de idéias. Uma outra realidade é a

desenvoltura com que estes informantes se portaram e, ao falarem sobre os temas, a sutileza

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com que conduziram o raciocínio e, conseqüentemente, o encaminhamento lógico de suas

respostas.

Na pergunta 8 – Você tem conhecimento se existe algum trabalho articulado entre os

artistas da cidade? Se existe, que tipo de articulação há entre eles (os artistas) e as suas

atividades entre si?

O PNT, ainda em seu diagnóstico afirma que há “inexistência de um processo de

estruturação da cadeia produtiva impactando a qualidade e a competitividade do produto

turístico brasileiro” (p. 17). Quando anuncia sua visão, afirma: “o turismo no Brasil

contemplará as diversidades regionais, configurando-se pela geração de produtos marcados

pela brasilidade, proporcionando a expansão do mercado interno e a inserção efetiva do País

no cenário turístico mundial.....” (p. 21). Ao falar da ampliação da oferta turística brasileira,

assevera que “desejamos desenvolver o turismo com base no princípio da sustentabilidade,

trabalhando de forma participativa, descentralizada e sistêmica, estimulando a integração e a

conseqüente organização e ampliação da oferta.” (p. 31)

O Plantur, da Sepdet/TurisRio, em seu diagnóstico, dá a conhecer como o Estado vê

seus aspectos culturais:

A rica história de quatro séculos do Estado do Rio de Janeiro legou um patrimônio cultural de grande expressão. Seu testemunho está presente em todo o território estadual, tanto no patrimônio edificado quanto na produção de artesanatos e nas manifestações folclóricas e populares. A grande diversidade dessas manifestações materiais e imateriais constitui, sem dúvida, uma das maiores riquezas do patrimônio cultural do Estado, através do qual pode ser observada a convivência entre testemunhos dos diversos ciclos históricos e econômicos. (Diagnóstico, p.39)

O documento da Fundação Getúlio Vargas que embasa o Plano Diretor de Búzios, na

p. 138, diz que:

A sociedade de Búzios tem uma clara vocação para a participação nos mais diversos aspectos da vida da cidade. Mostra disso é a grande quantidade de associações existentes no Município. São mais de sessenta organizações voltadas para os mais diversos interesses dos distintos segmentos da sociedade, desde associações de moradores nas diferentes localidades, a associações de classe, de produtores, de mulheres, de artesãos, de diferentes categorias profissionais, de empresários de diversos setores, de seitas religiosas, entre outras.

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Das 65 associações listadas nas páginas 138 e 139, encontram-se cinco vinculadas a

artistas:

25- Associação dos Músicos e Compositores de Búzios; 34 – Associação dos Artesãos da Feirarte de Búzios; 44 – Associação de Arte e Cultura de Búzios; 45 – Associação da Feirinha do Centro 52 – Associação Cultural de Capoeira Meia Lua de Búzios (p. 139)

Os alunos do Cejob, entretanto, embora saibam o que existe a respeito, parece que não

têm uma ligação muito grande com este setor, pelas declarações a seguir:

Eu não tenho conhecimento. Eu sei que eles se reúnem ali na praça [Santos Dumont] para vender as coisas deles. Na feirinha também... as mudas de ervas, que vendem na feira. Mas.... conhecimento assim, a fundo, eu não tenho. (morador 3)

Creio que deva existir um trabalho junto com os artistas mais o artesanato... No caso da pintura nós fomos outro dia foi fazer uma atividade no atelier da Dona Abigail lá na Rua das Pedras. E então nós conhecemos o que ele faz. Tudo muito bonito. (morador 4)

Bom, tem essa reunião que eles fazem na praça. Põem em exposição as pinturas, os trabalhos deles, manuais, artesanais....se reúnem para mostrar as pessoas um pouco do que eles fazem, uma parte da cultura da cidade. (morador 6)

Geralmente os artistas que tem aqui em Búzios não são daqui. Os que são daqui fazem escultura em madeira. Mas tem os pintores. Tem a Abigail, o Élio Lago, que expõe lá na praça, mas eles não têm um trabalho em conjunto não. Cada um faz o seu e expõe. Procura um lugar e expõe. (morador 7)

Eu sei que tem muitos artistas, tanto nativos, quanto as pessoas que vieram de fora pra cá.... mas eu não tenho informações nessa área artística não... (morador 8)

Alguns são mundialmente conhecidos. Às vezes mais conhecidos no estrangeiro do que na própria cidade, a própria população não dá valor o que temos de arte. (morador 9)

Não tenho conhecimento, mas creio que eles devam trabalhar em conjunto. São diversos artistas, então eles têm de trabalhar em conjunto para que haja interação entre seus trabalhos.. Até mesmo para o próprio conhecimento. Abigail disse que ela trabalha mais sozinha, mas tem outros artistas aqui e artesãos e até donos de loja de artesanato que fazem parte da Associação Comercial para poder divulgar seu produto. Por exemplo, na Rua das Pedras é um lugar que você encontra muita coisa de artesanato local e que os próprios artesãos se reúnem e divulgam seu trabalho. (morador 10)

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Todas as noites na Praça Santos Dumont têm exposição. Só que eu

não conheço o trabalho deles. Visito e nada mais. Não sei como e se eles se reúnem. (morador 11)

Não. Não tenho conhecimento se existe algum trabalho articulado entre os artistas da cidade.... (morador 13)

Infelizmente eu não conheço, porque meu tempo é um pouco corrido e eu não tenho muito contato. (morador 18)

Eu não conheço. (morador 20)

Artista conhecido local.... na semana passada conheci a Abigail e eu achei muito bom os trabalhos dela, de arte expressionista... muito bom mesmo. A arte dela está no restaurante em frente à praia. Bom.... eu só conheço essa, mas tem outros que fazem entalhamento em madeira. (morador 21)

Não, não conheço” (morador 22)

Não, não moro aqui em Búzios e estou no 1º módulo do curso. Não sei como acontecem estas coisas aqui.... (morador 29)

Não conheço não... existem alguns artesãos que expõem seus produtos, a sua arte na feira da Praça Santos Dumont, no Centro da Cidade. É uma feirinha que tem épocas... Na alta temporada vêm muita gente para expor seus trabalhos: trabalhos com contas, com pedras e na baixa temporada é uma feira que não é muito concorrida, mas existem muitos trabalhos que são feitos pelos moradores que são expostos lá. Não sei se eles se articulam.... Soube que já existiu um movimento bom dos artistas na época da emancipação de Búzios, mas não era só de artista plástico não, era um movimento dos artistas, mais os ecológicos... (morador 30)

De Búzios eu não conheço... (morador 31)

Sei que tem Associações, mas se eles fazem coisas articuladas tipo exposições em conjunto, acho que não. Acho que os artistas são mais solitários.... (morador 35)

.....não há interação, pelo menos é o que eu acho, mas você deveria perguntar isto aos artistas. Eu sei que tem associação de dança, dos músicos, dos pintores, de capoeira. Eu sei que tem porque eu estava dentro da discussão do orçamento participativo e vi. (morador 36)

As respostas dos alunos deixam claro que não há, na maioria deles, uma ligação mais

profunda com as atividades culturais da cidade e de seu sistema de organização. O PNT

anuncia que se deve estabelecer um processo sistêmico que dê conta da cadeia produtiva do

turismo para que se possa impactar a qualidade e a competitividade. Um processo sistêmico

costuma significar uma determinada articulação, interação e, por isso, talvez fosse indicado

que os alunos possam estar mais atentos a estes arremedos de organização. Mais ainda que

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possam se relacionar mais freqüentemente com aqueles que fazem arte para que se arrisquem

a desenvolver produtos inovadores, originais e porque não, intangíveis.

Os outros informantes responderam da seguinte forma:

Eu já notei que, em alguns lugares o pessoal da terra usa gravetos, tocos, coisas assim para enfeitarem suas casas....sempre achei que isto devia ser pela falta de materiais, de coisas para enfeitar a casa, talvez tragam isso de uma época assim mais antiga....[...] Isto me lembra o Mudinho, que você já deve ter ouvido falar, que é o grande artista plástico de Búzios, talvez o único, não sei. Ele era da Rasa. O apelido dele era Mudinho porque ele era mudo mesmo, falava todo assim, tentando se comunicar com as pessoas, era um doce de pessoa, pelo que contam, adorava as crianças. [...] Ele morreu há uns vinte anos. Ele fazia escultura de madeira e ele era muito bom, e ele andava assim, ele via uma madeira que lembrava um bicho, uma coisa, aí ele esculpia aquilo ali. E ele tem obras muito bonitas, muito consideradas. Ele fazia umas coisas grandes, ele fazia muita coisa, fazia barco, fazia ferramentas, ele fazia de tudo, até coisas para enfeitar também....o pessoal diz que ele era hiper criativo, ele via uma coisa: Ah, vou transformar. Ele fazia mesmo...era perfeito... Voltando à sua pergunta, não sei se há trabalho articulado entre os artistas, acho que eles produzem de uma forma mais individual mesmo... tem a inspiração e a transpiração...acho que é um trabalho meio solitário... (morador 1)

Não, não conheço. Acho que talvez a distância entre o popular e a arte mais sofisticada dos artistas que não são nascidos aqui, mas são famosos faz com que eles não se articulem. Quando Búzios não era emancipado, houve um movimento muito grande dos artistas, mas agora isto se perdeu e é cada um por si só. (morador 2)

Eu desconheço. Estamos trabalhando no curso uma aproximação dos alunos com os artistas locais. Já visitaram uma galeria de pintura, a da Abigail. Acho que falta essa união dos artistas, para que sejam mais presentes. (morador 5)

Existem trabalhos fantásticos acontecendo de maneira isolada. Em relação ao artesanato existem associações. Tanto a exposição que tem na Praça Santos Dumont, quanto à feira na Praia da Armação, que são dois pontos onde existem artesanato, são estruturadas numa associação. Só que eles se organizam enquanto associação, mas não tem um trabalho cooperativo. Então, duma maneira oficial eu diria que sim, no que diz respeito ao trabalho dos artesãos. No trabalho do grupo dos artistas, eu não tenho conhecimento. Não existe não. Búzios tem vários ateliês pela cidade inteira tanto no centro que são aqueles que possuem uma dimensão maior em termos de obras de rentabilidade mesmo, quanto os artistas mais simples que estão em outras áreas da cidade, mas que vivem de maneira isolada, sem trabalhos conjunto. Tanto é que já coloquei aqui a questão do que eu tento fazer, que é justamente organizar grupos. E este é um dos segmentos que vejo ser fantástico na cidade, pela amostragem que existe, porque você tem uma diversidade muito grande... você tem desde aquele que trabalha com madeira ao da pintura abstrata, além daqueles que trabalham com reciclagem de vidros, latas; outros que trabalham com sementes. Tem-se de tudo por

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aqui... e isto deveria ser reunido em situações comuns. O trabalho que estou tentando articular é o de juntar um grupo de artistas para que eles possam iniciar um trabalho em conjunto. Este inicialmente será uma exposição só com trabalhos em arte com reciclados. (morador 12)

Não conheço os artistas da cidade. Não sei se eles se consorciam. Os artistas costumam ser pessoas mais individuais... (morador 15)

Depois que Búzios virou cidade, os artistas não se juntaram mais. Tentam se juntar numa associação, mas não conseguem. (morador 16)

Eles se juntam na FEIRARTE, mas desconheço que seja um trabalho articulado..... (morador 17)

A Fundação de Cultura diz que há 30 artesãos e 8 artistas plásticos, mas em Búzios há muito mais artistas plásticos, só que cada um se vira como pode. Há uns aposentados que fazem arte, mas não têm local para exporem suas obras. Estes, normalmente, são pessoas de fora e não local. (morador 19)

O artista é um ser muito individualista. Eu faço parte da Associação de Arte e Cultura, mas lutamos com muita dificuldade, primeiro porque temos que organizar o artista e, segundo, há falta de apoio. A Associação faz o que é possível, dentro dos seus limites. Agora estão fazendo um cadastro: são mais de 40 artistas cadastrados. Acredito que não seja a melhor forma de articulação, mas já é alguma. O presidente da Associação é Vladimir, que mora em José Gonçalves. (morador 23)

Não existe um movimento muito formalizado para um trabalho na cidade. Bom, os artistas, de um modo geral, eles não se unem muito entre si, porque são muito vaidosos, mas em Búzios falta essa articulação porque precisava fazer caravanas culturais, exposições que levasse o artesanato, que Búzios tem, que é muita palha, mas tudo feito por gente de fora. Então eu acho que não tem essa articulação não. (morador 24)

Existe um trabalho que é voltado para os artesãos locais e para os próprios artistas: escultores, pintores, artistas plásticos. Os artistas não são nativos, são pessoas que vieram morar em Búzios, que hoje desenvolvem todo um trabalho, que a gente não pode deixar de prestigiar porque são belíssimos e são atrativos para o turista na nossa região. (morador 25)

Tem muitas pessoas que vieram para Búzios, apaixonaram-se pela cidade, respiraram esta coisa de cultura, artistas, na sua grande maioria, estes artistas que estão por aqui eu acho que sim, eles estão articulados entre si, em projetos, trabalhando.... Não estou falando em uma articulação formal, mas de sintonia... Alguns expõem seus trabalhos na Praça Santos Dumont e continuam fazendo seu trabalho, divulgando Búzios dessa forma. Só em dizer que você mora em Búzios, embora esteja expondo em Nova York, está fixo em Búzios.... Isto é uma maneira de divulgar seu trabalho e de divulgar Búzios e, a partir daí, muita coisa boa acontece. (morador 26)

Eu acho que já houve um período em Búzios que existiu interligação mais próxima entre os artistas locais. Hoje Búzios cresceu muito. Se você andar pela Rua das Pedras, vai ver que tem inúmeras galerias de arte, de padrão internacional, onde existem pintores reconhecidos aqui na região e

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outros que a gente nunca ouviu falar, que montaram ali seu ateliê, que ali produzem, são artistas anônimos, que não tem reconhecimento dentro do universo artístico, mas que tem um trabalho de compromisso com a cidade, ou seja, eles vieram para cá com a intenção de produzirem suas obras, fazerem seus trabalhos e terem um destaque dentro da comunidade. Falando do passado, há alguns anos atrás, como era menor o número de artistas que compunham esse universo buziano, ficava muito mais fácil essa interligação entre eles. Então, hoje, o que a gente vê é que existe um número grande de artistas na cidade que tenta fazer associações, mas não se consegue chegar a um consenso, a um lugar definitivamente determinado onde eles possam expor seus trabalhos. (morador 27)

A maioria dos respondentes observou que há certa dificuldade de associação entre os

artistas, alguns citando como características destes a individualidade, a vaidade, entre outros.

Há cerca de onze anos atrás, houve uma grande mobilização de vários segmentos da

sociedade para a emancipação de Búzios. Junto aos artistas, fizeram coro os ambientalistas, os

arquitetos. Porém, hoje, a arte parece mais consolidada em Búzios e, talvez, por isso, menos

transgressiva, mais pacata. Talvez a arrumação da cidade nas galerias, nos ateliês da Rua das

Pedras e proximidades afaste um pouco estes artistas do convívio entre seus pares. O que não

ocorre tanto com os artesãos. Eles, ainda mesmo com dificuldades, articulam-se em

associações, embora não consigam levar adiante e regularmente suas reuniões e

conseqüentemente a ações mais conclusivas. Nas discussões sobre diversidade e identidade, a

arte, como manifestação clara e inequívoca da cultura, tem um papel primordial de expressão

dos sentimentos, sejam pessoais ou coletivos. Esta enunciação provoca certa identificação dos

outros indivíduos que, não-artistas, vêem-se por intermédio do outro.

Na pergunta 9 – Você conhece a história da cidade? Conte-me um pouco sobre ela, do

que sabe....

O PNT declara que:

O turismo quando bem planejado, dentro de um modelo adequado, onde as comunidades participam do processo, possibilita a inclusão dos mais variados agentes sociais. Os recursos gerados pelo turista circulam a partir dos gastos praticados nos hotéis, nos restaurantes, nos bares, nas áreas de diversões e entretenimento. Todo comércio local é beneficiado. Jornaleiros, taxistas, camareiras, cozinheiras, artesãos, músicos, barqueiros, pescadores e outros profissionais, passam a ser agentes do processo de desenvolvimento. O envolvimento abrange toda a comunidade receptiva. (p. 4) [...]

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A oferta turística do Brasil, tem se configurado pela promoção de poucos destinos em áreas pontuais, gerando produtos de apelo repetitivo. Os produtos atualmente ofertados não contemplam a pluralidade cultural e a diversidade regional brasileira. Existe um potencial a ser revelado e trabalhado no interior do país, e uma urgente necessidade de encontrar alternativas de desenvolvimento local e regional. (p. 31)

Entende-se que, ao dividir com a comunidade a participação do processo do

planejamento turístico e, em face disto, promover a pluralidade cultural e a diversidade

regional brasileira, nada melhor que a história para levantar, na linha do tempo, os processos

sociais e econômicos pelos quais passaram determinada comunidade, município, estado ou

país.

É a compreensão deste processo, da história coletiva, que possibilitará o

autoconhecimento da comunidade e de suas possibilidades de ofertar produtos por meio da

sua significação, do que se pode olhar a si mesmo, como num espelho.

O Plantur, no volume II – proposições – ao se referir à necessidade de reciclagem de

Guias de Turismo, dentro do Plano de Ação e Propostas de Intervenção de Âmbito Estadual,

sinaliza a importância do saber a história, dentre outras disciplinas, quando propõe:

Realização de cursos de reciclagem de guias de turismo em conjunto com o SINDGETUR, na cidade do Rio e em outros locais de maior incidência e importância desses profissionais, como forma de incrementar competências uniformes em áreas de maior especificidade de conhecimentos como a história; história da arte; geografia; etnografia; e vida contemporânea (cultural, política e social). (p. 59)

Embora o Tectur/Cejob ainda não seja o de Guia de Turismo, mas quer caminhar para

tal e já prepara hoje suas bases para isto, deduz-se que o conhecimento da história da cidade,

das regiões vizinhas e do Brasil, são fundamentais para deslanchar este processo. Como se

fará a conjugação dos roteiros integrados, permeando os municípios ou regiões que

congregam produtos semelhantes ou diametralmente opostos se não se usa e entende sua

história, a sua cultura?

Ainda o Plantur, quando discute e propõe a consolidação do produto turístico, ao iterar

sobre o incentivo à implantação de equipamentos de lazer é conclusivo:

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Este projeto tem por objetivo promover e incentivar a implantação de novos atrativos, seja pela transformação e qualificação dos já existentes, seja pela criação de novos atrativos enquadrados nas diversas categorias de equipamentos de lazer, de acordo com as orientações a seguir:

Estimular a implantação de equipamentos privados de lazer que, mesmo tendo como função principal o atendimento à população residente, constituam sempre um elemento a mais de valorização das ofertas turísticas locais e regionais.

Incentivar a implantação de Parques Temáticos, cujos temas devem estar sempre relacionados à história e à cultura locais e regionais, incorporando à sua programação recursos e manifestações tangíveis e intangíveis. (p. 66)

“Estão presentes, hoje, no Município, segundo informações dos habitantes locais, cerca

de 50 nacionalidades distintas.” (p. 46) Assim o documento ‘Plano Diretor’ se refere, numa de

suas passagens, aos estrangeiros que moram em Búzios. Em um outro trecho, faz com que se

reflita sobre a relação de Búzios com os pescadores, dizendo que:

Também merecem destaques as aldeias de pescadores remanescentes dos primeiros tempos da vila, como pequenos enclaves no tecido urbano. Conservam muito das suas características originais e devem merecer atenção especial como testemunhos da história do Município (p. 57)

Claro está – e todos os documentos, de alguma maneira, confirmam isto – que

conhecer a história da cidade, do que restou e se restou algo de sua identidade e de sua

diversidade é primordial para que se tenha produtos turísticos que façam sentido tanto para a

população residente quanto para o turista. E mais, o aprofundamento na sua história, fazendo

conexões, indagações e proposições é uma maneira de despertar o interesse da população,

principalmente a dos educandos, para planejar o futuro.

Sendo assim, ao serem perguntados sobre a história da cidade, os alunos do Tectur

deste modo se pronunciaram:

O que eu sei é que, por exemplo, ali onde eu moro, que é José Gonçalves, navios negreiros tiravam os escravos por ali, em barquinhos, passavam por dentro da mata, davam a volta e iam para a Rasa que era o quilombo onde os negros ficavam. E tem um lugar lá nas Emerências que, quando eles conseguiam dificilmente fugir, se refugiavam lá. Tem uma pedra enorme que, inclusive, eles amolavam as ferramentas. Uma lagoa que uma lenda diz que na lua cheia ela enche de água, mas eu acho que é quando chove mesmo... E que Búzios antes de tudo isto que eu te contei tinha muita plantação de cana e banana. Uma parte cana e outra parte banana. Lá na parte onde eu moro a plantação era de banana e os donos dessas terras eram alemães com o nome de Eugenne Honold... E tinha uma fazenda, que eu

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ainda conheci uma escravinha, que ela ficou tão velhinha com cento e tantos anos que ela encolheu todinha e ficou bem pequenininha. Lá eles tinham uma fábrica de bananada. A minha família trabalhava nessa fazenda. E há poucos anos atrás nós entramos nessa fazenda e vimos alguns traços ainda daquela época. Nós tínhamos medo porque nossa mãe dizia que a fazenda era mal assombrada, que passava um monte de cavalo com gente vestida de branco. Tempos depois nós fomos descobrir que isto que a nossa mãe falava eram escravos que desciam lá por dentro da mata e atravessava a fazenda que tem uma entrada na Baía Formosa que dá lá na Rasa e esse tráfico de escravos passava justamente na tal fazenda que eles diziam assombrada. São coisas assim que os mais velhos contam, que a minha mãe contava, que minha avó contava e essa escravinha eu conheci mesmo. A minha avó assava peixe no fogo a lenha e botava farinha e levava para ela, aí eu pequena, muitas vezes ia com ela. Adorava ir lá. Mas era tudo abandonado, não tinha nada. Na época em que os franceses moravam lá, diziam que era uma fazenda muito bem cuidada, mas isso acabou... é só mato mesmo. Depois que esse francês foi embora, a fazenda foi cortada ao meio para fazer a estrada de Búzios. Era uma fazenda inteira e foi cortada ao meio sendo que foi dada uma parte aos colonos que trabalhavam com ele. Só que, naquela época, as coisas eram de boca, não tinha a preocupação de documentar ..e isto... vinte anos depois trouxe grandes problemas de terras, conflitos de terras mesmo. Eles diziam que o dono era o Senhor Henrique da Cunha Bueno. Ele é o dono dessa fazenda. Ele é falecido. E acho que o filho dele que chamam de Henriquinho Bueno, filho mais velho... e já houve, nessa fazenda uns três shows, que esse rapaz alugou para fazer um evento e deu muita gente. O último que teve então estava lotado, pois é um espaço imenso. (morador 3)

Não conheço muito a história da cidade porque eu moro aqui somente há três anos, mas sei que a Ponta da Lagoinha já foi palco para show de Caetano Veloso e a Brigitte Bardot já esteve aqui, já passeou por aqui... (morador 4)

Bom, o que eu sei é que Búzios era uma aldeia de pescadores que até então era desconhecida....e que passou a ser conhecida mundialmente por causa de uma atriz famosa que esteve em Búzios, que é a Brigitte Bardot. Ela esteve aqui visitando, gostou muito da cidade e passou, então, a divulgá-la no mundo inteiro. (morador 6)

Eu sei que Búzios era uma aldeia de pesca... uma aldeia de pescadores, que ficou conhecida internacionalmente depois que Brigitte veio para cá. O pessoal foi se interessando, ela foi crescendo através dessa historia. Logo que eu vim morar aqui, era tudo sem calçamento, tinha porcos na rua, galinha, cavalo, boi... Era uma aldeiazinha.... Melhorou muito. Ficou muito bonita. Os estrangeiros passaram a vir... O boca a boca foi crescendo, agora o lugar é conhecido mundialmente. (morador 7)

Olha, eu conheço pouco sobre a história da cidade porque ela é muito diferenciada, assim... tem até lendas... como as histórias das praias, a formação geológica, e eu não tenho sinceramente muita informação da história da cidade porque ela também ainda não foi passada para nós de uma forma assim mais clara. Nós ouvimos muito falar da formação geológica das praias, as formas, do porquê Praia da Ferradura, Praia João Fernandes, bairro Jose Gonçalves... essas coisas nós temos um pouco de informação, mas, no geral, a história da cidade mesmo, não... (morador 8)

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Eu estudei um pouco o que é Búzios e o que foi Búzios. Búzios já foi

um paraíso, há épocas atrás. Então, a partir dos anos 70 começou a crescer. Então, hoje em dia, é um balneário de alto nível. Mas ao mesmo tempo em que é de alto nível para as pessoas estrangeiras, as pessoas do local não têm essa consciência que Búzios tem o seu valor natural. Então ao mesmo tempo em que Búzios é de alto nível, é também de baixo nível porque os moradores deixam que ela fique estagnada, na mesmice, na inércia, na pobreza. (morador 9)

Bom, a história eu conheci através de estudos e através do curso [técnico em turismo]. A história da cidade é a seguinte: A praia dos Ossos antigamente abrigava as ossadas das baleias, depois denominaram de Armação de Búzios. Búzios por que? Porque tinha uma conchinha que aqui existia. Então juntaram, a armação (das baleias) com essa conchinha do mar, que são os búzios. Então ficou assim: Armação dos Búzios. Antigamente, a atividade era pesqueira e da extração do óleo da baleia, inclusive tudo era voltado em relação à pesca da baleia. Tiravam o óleo da baleia para as construções. Utilizaram o óleo de baleia na construção da Igreja de Santana, por exemplo. Então... tudo girava em torno da pesca... com este envolvimento da pesca, das baleias, criou-se o nome do lugar. (morador 10)

Não conheço a história da Armação dos Búzios como um todo, mas conheço a história de alguns bairros, de algumas praias. A dos Ossos, por exemplo, foi por causa dos ossos de baleia que eram enterrados na praia. José Gonçalves por causa de um traficante de escravos que se chamava José Gonçalves que fazia tráfico naquela região e o bairro ficou com o próprio nome dele. (morador 11)

Olha, eu sei a história da praia dos ossos... que ela antigamente abrigava os ossos da baleia. Tem as praias da ferradura e da ferradurinha que têm a forma de ferradura. Búzios e, no caso, a história realmente de Búzios fala da Brigitte, na época que ela passeava muito com o namorado dela. É a história que se sabe e as das praias. São muitos praias e só falam das praias . Não sei muita coisa. O que eu posso falar é que a cidade é assim... tropical, cidade que eu gosto. Vim pra cá e aprendi a gostar dela e não tenho vontade de largar. (morador 13)

Não conheço a história da cidade. Conheço histórias assim que me contaram do tipo que estavam cavando um buraco para fazer cisterna e acharam uma ossada de índios, mas não sei se isto é verdade...(morador 18)

Eu conheço mais sobre a Praia de José Gonçalves, porque tinha um senhor, o José Gonçalves, que praticava o tráfico de escravos. (morador 20)

Da origem? Bem.... o que eu conheço é que a cidade foi divulgada pela atriz Brigitte Bardot.... A partir daí foi se expandido... mais ainda depois da construção da Ponte Rio-Niterói. Depois com a emancipação de Cabo Frio ficou famosa em todo o Brasil como uma cidade em que o povo é humilde porque antes era uma aldeia de pescador. (morador 21)

Eu conheço um pouco, ou seja, quando vim para Búzios tinha muito mato e poucas casas. Não tinha muita iluminação, nem água. Com a vinda dos turistas e o conhecimento das outras pessoas teve um pouco de melhoramento. A educação era fraquíssima nas escolas daqui e só tinha até a

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quarta série; da quinta em diante tinha que ir para outro município. (morador 22)

O que eu conheço é que Brigitte veio passar um tempo aqui e, a partir daí, todos quiseram conhecer o paraíso do qual ela falou e assim Búzios ficou conhecido e isso foi estendido aos outros lugares aqui perto... (morador 29)

Tudo começou com a vinda dos portugueses para cá. Na época essa ponta era habitada pela nação Tupinambá, que se estendia de Cabo Frio até Campos ou imediações...., por onde lá viviam os Goytacazes. E quando a coroa portuguesa doou aos jesuítas umas Sesmarias aqui, estes catequizaram os índios e aí foram criadas, com a catequização, as áreas rurais e as áreas agro-pastoris, com a criação de gado para abastecer a cidade do Rio de Janeiro e a lavoura de cana-de-açúcar. Mandioca, cana-de-açúcar, de subsistência. E também havia os pescadores locais que retiravam do mar a sua alimentação. Posteriormente, quando os jesuítas foram expulsos daqui, veio então um alemão e criou uma plantação de bananas que ficou praticamente em toda a região de Búzios. Então essa atividade se estendeu por um bom tempo, até que por um entrevero entre o capataz e os agricultores, os que trabalhavam na plantação a destruíram. Daí foi criada uma empresa para administrar toda essa parte, todas essas terras. Com a abertura de Cabo Frio para cá, então umas pessoas começaram a vir para Búzios e começaram a povoar a região, que primeiramente se deu na Praia dos Ossos e depois onde era a armação das baleias de Búzios, onde se capturavam os mamíferos, as baleias, para poder retirar o óleo e a carne . O óleo, depois de processado, era enviado para o Rio de Janeiro para ser usado como combustível para as lamparinas das ruas do Rio de Janeiro. Depois disso então a cidade começou a se desenvolver com a vinda da Brigitte Bardot e aí tomou um grande impulso ficando conhecida mundialmente até que houve a emancipação de Búzios, que se separou de Cabo Frio. (morador 30)

Aquilo que eu sei é que Búzios, por muitos anos, viveu da pesca das baleias e exportava-se muito a carne de baleia e que isto era feito ali na Praia dos Ossos. Esta praia teve esse nome justamente por causa dos ossos das baleias, que eram ali desossadas e empilhados seus ossos. (morador 31)

Sei que aqui era distrito de Cabo Frio e que as pessoas se mobilizaram para emancipar a cidade, para tornar Búzios uma cidade. Sobre o turismo, quem deu visibilidade à Búzios foi a vinda da Brigitte Bardot, uma artista francesa, acho que de cinema, por isso o cinema daqui de Búzios se chama ‘Gran Cine Bardot’. Tem muita gente que tem casa aqui, mas não mora em Búzios. Só moram nas férias de verão e nas férias de julho um pouco. Mas esses não são turistas, são veranistas. (morador 35)

Os depoimentos dos alunos são carregados de imprecisão acerca dos tempos em que as

ações vinham acontecendo na história de Búzios. Deve-se, entretanto, entender que os

mesmos foram pegos de surpresa, em um determinado dia ou dias, para falarem sobre vários

assuntos, dentre eles, a história da cidade. Considera-se natural determinadas imprecisões,

mas é preocupante o fato de após a entrevista, não ter despertado neles uma revisão do que se

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falou. A história como uma relíquia que pode dar um colorido muito especial ao turismo,

pode-se encontrar esmaecida num canto qualquer, quando não lhe é dado o devido valor.

Nota-se que as declarações daqueles que não são alunos tentam acercar-se da precisão

temporal, trabalhando com discursos sintéticos ou, às vezes, com minúcias que se deixam

atrair como um filme com início, meio e fim.

Búzios era uma pequena aldeia de pescadores e que, aos poucos, foi ampliando e que hoje em dia mudou muito o perfil. Apesar de ainda haver os pescadores, a atividade principal é o turismo. Búzios é muito famoso. Tem muita propaganda, que até vai mais além do que ela pode mesmo oferecer. A imagem que tem lá fora cria uma expectativa para o turista que não podemos cumprir. (morador 5)

Não li ainda muito, mas sou bem curioso, gosto muito dessa parte, agregar a história na questão do turismo é fantástico, traz uma característica particular muito interessante. A região ela foi identificada na época da colonização como a região do cabo frio, o que não se refere à cidade de Cabo Frio, que é uma confusão que se faz. Toda a região, onde hoje é a cidade de Arraial do Cabo, Búzios, São Pedro, pegando boa parte da lagoa de Araruama, indo em direção à Campos. Toda essa região era a região do cabo frio. Identificada e nomeada pelos portugueses em função do cabo, que hoje pertence à Arraial do Cabo que, geograficamente é um cabo por causa da água muito fria. Porque nós pegamos aqui a corrente antártica. Aí os portugueses batizaram o tal do cabo frio toda a vasta região em função do aspecto geográfico. Já no primeiro ciclo de exploração econômica do pau-brasil é criada uma Feitoria em Cabo Frio, onde hoje é Cabo Frio. Foi instalada por Américo Vespúcio em 1503. Nesta Feitoria se inicia um pequeno núcleo de povoamento em função da atividade extrativista da madeira. Como este núcleo começa a assumir uma dimensão importante para a região, se defende esse pequeno povoamento através da edificação de uma missão jesuítica, que foi a Missão de São Pedro, porque toda a área, por ter a presença do pau-brasil acaba sendo alvo de visita de pirataria, contrabando, invasão. Então esse núcleo primitivo que nasce na cidade, hoje Cidade de Cabo Frio, precisava de uma proteção tanto dos piratas, quanto dos índios ‘hostis’... por isso se institui a Missão de São Pedro onde hoje está São Pedro D’Aldeia, que acaba assumindo uma importância em termos de povoamento superior ao núcleo primitivo, pelo trabalho realizado pelos jesuítas. São trazidos, se eu não me engano, 500 índios do Espírito Santo para iniciar a Missão de São Pedro e a estes se somaram tantos outros aqui da região que acabam se refugiando naquele espaço em função do atrito que eles tinham com o próprio colonizador português. Muitas tribos daqui da região, em função do choque cultural, de interesses, muitas tribos foram dizimadas. Cabo Frio passou por uma guerra entre portugueses e indígenas, onde milhares de índios morreram. Então muitos se refugiaram na Missão de São Pedro. Dentro desse processo, o que acontece? Búzios só era uma península. Enquanto isso tudo estava acontecendo Búzios só era a península dos búzios, identificada nos mapas como Península dos Búzios em função dos búzios, do próprio molusco, que sofria ação da pirataria para extração do Pau-Brasil.

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Num período mais adiante, quando tem a incorporação do negro africano enquanto mão-de-obra escrava, a península passa a ter uma outra conotação. Antes ela era puramente extrativista, do pau-brasil que existia nas Emerências até a boca da barra do cabo frio. Quando você tem se desenvolvendo nas fazendas mais ao norte, onde estão os demais municípios como Macaé e Campos, que eram fazendas já de cana, a península passa a se tornar um local de desembarque de escravos. Por que a península? Porque já havia a proibição do tráfico e a geografia local era pouco propícia ao desembarque, por causa das enseadas, ficava escondida e não era fiscalizada, também não se tinha nem como, na época. Aí se tem a figura de José Gonçalves, traficante, o qual dá o nome da praia hoje. Você tem a presença da área remanescente de quilombo na Rasa. Porque há alguns indícios em que a área da Rasa pode ter sido área de quilombo. Tem-se alguns registros bibliográficos até no sentido de uma família negra ter vivido na Ilha Feia em função de um naufrágio que houve de um navio de tráfico negreiro, onde eles conseguiram se refugiar e viveram muitos anos na Ilha Feia. Aí você tem a presença do negro na região. Quando vemos esse processo se desenrolando aqui, fazemos uma relação com o que estava acontecendo na História do Brasil. Tínhamos aqui se encontrando a matriz indígena, que continuava perambulando por aqui, porque era nômade, a presença do europeu, tanto do português, quanto do francês – o invasor, e tem a presença do negro. Eles começam a se encontrar e a se mesclar. Aqueles que se encontravam por aqui que eu chamaria de comunidade primitiva de Búzios. Essa comunidade primitiva de Búzios que nasceu da miscigenação, com três matrizes, vai ter uma característica própria e vinculada suas atividades à pesca. Então temos o nascimento de uma comunidade primitiva totalmente ligada ao mar. Esta se desenvolveu e se instituiu como núcleo de pescadores e daí vem a armação das baleias que é a passagem da pesca artesanal, primitiva, de subsistência, para uma pesca de origem econômica através da caça, da captura de baleias. Este é o desenvolvimento da comunidade da área da Praia da Armação. Mais tarde há o desenvolvimento da agricultura com plantações de banana. Búzios já foi grande exportador de banana e esse caminho natural da comunidade, vem sendo alterado pela ação que o turismo começa a desencadear, porque o processo de crescimento social e cultural que ocorria era todo entorno de uma aldeia de pescadores. Poderia ter outros elementos de ação econômica, mas incorporados numa colônia de pescadores. Eram atividades complementares. Quando, na década de 1960 a colônia recebe a visita de Brigitte Bardot, tem todo o processo transformado. A partir daí tem uma nova história sendo escrita na comunidade e alterando esse antigo núcleo e suas características. A questão do marketing é feita em cima da Brigitte Bardot. E o que que nós temos que perceber?. Brigitte quando veio para o Brasil, ela veio para o Rio. O destino dela não era Búzios, o destino era o Rio de Janeiro. Só que a imprensa descobriu que ela estava no Rio ... aí não teve mais sossego.... e ‘fugiu’ para um lugar que ninguém conhecia, levada por um conhecido brasileiro... e aí sim, ela veio para Búzios. Quando aqui chegou, a exuberância a encantou, a simplicidade da colônia, da liberdade, a beleza natural, a diversidade cultural da comunidade. O que encantou Brigitte foi isso. Acho um equívoco do marketing centrar na Brigitte. O marketing deveria ressaltar aquilo que encantou a Brigitte e não o contrário.(morador 12)

Eu acho muito estranha a dimensão dada à Brigitte na história de

Búzios. Na verdade, o que aconteceu é que ela se encantou por uma cidade que realmente era um paraíso. Veio aqui, namorou e foi embora, nada mais que isso. Dizem até que ela detesta essa associação que fazem dela com

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Búzios. Já ofereceram terrenos aqui para ela, como presente e ela não quis. (moradora 14)

Búzios foi uma vila de pescadores iniciada por cinco famílias, que se

transformou rapidamente em aldeia pesqueira. Aqui o comércio era feito por escambo. Era uma aldeia, um paraíso, perdido numa pontinha de Cabo Frio. (morador 17)

Uma coisa que me preocupa, por exemplo, é que a Igreja de Santana,

feita de argamassa de baleia não é tombada é isto é uma preocupação também para o município porque toda a história da cidade está ligada à Igreja e àquela região, onde era feita a caça à baleia e os ossos eram enterrados na Praia dos Ossos, que se chamava, na época, “Praia dos Marimbondos. [...] Antigamente vinha gente de fora e enganava o buziano, em termos de terra e hoje vemos o próprio buziano enganando os buzianos e isto é triste. A terra é um problema seriíssimo aqui. (morador 23)

Habitada por índios, como todo o Brasil, depois chegaram os

portugueses. Isto aqui era um grande lugar de pesca de baleia, por isso se chama Armação dos Búzios. Armação de baleias. A cidade era um grande porto pesqueiro de baleias das quais se extraía o óleo que ia para o Rio de Janeiro para iluminação urbana. Permaneceu assim por muito tempo e depois as pessoas passaram a viver da agricultura de subsistência, nada muito importante.... Depois, a partir dos anos 50, começaram a vir os turistas para a cidade e esses turistas, na verdade, eram pessoas de alto poder aquisitivo que buscavam Búzios como refúgio para mergulhar, para pescar e, a partir daí, começou a se desenvolver o turismo. Em 1964, chegou em Búzios a Brigitte Bardot que, na verdade, eu diria que foi o pontapé inicial para o turismo na cidade: foi a vinda da Brigitte Bardot. E a cidade se desenvolveu, se organizou, criou fama internacional e hoje é um dos destinos turísticos do Brasil mais divulgados no exterior. Acho que a nossa história é muito simples e é exatamente o que se dá com as praias do Brasil inteiro. (morador 24)

Emancipado em 12 de novembro de 1995, tem como atrativos naturais

a Igreja de Santana, datada de 1740 e os casarios coloniais. Aqui se armavam os arpões para caçar baleias. Há também a história do pessoal da Rasa, a da Ponta da Lagoinha como interesse geológico. Búzios foi uma aldeia de pescadores e, com a visita de Brigitte, em 1964, teve uma divulgação muito forte no exterior. Búzios ficou conhecido mais fora do que no Brasil e aí houve um trabalho para resgatar com os próprios brasileiros. É uma cidade sofisticada com vários atrativos turísticos: 2 mirantes, 26 praias, Rua das Pedras, o Gran Cine Bardot, que faz o Festival de Cinema. Dois historiadores levantaram a história da cidade: o Marcio Werneck e o Toninho português. (morador 25)

O primeiro nome que recebeu foi ‘Ponta dos Búzios’ porque foi

reconhecida geograficamente como ‘Ponta dos Búzios’ e aí começou toda a colonização da área. Cabo Frio estava mais colonizada. Mais tarde veio a ‘Armação das Baleias de Búzios’, que foram aqueles grandes navios, quase que fábricas, que estavam no litoral buziano, fazendo a caça às baleias e aí usavam Búzios como porto. (morador 26)

Eu não sei a história de Búzios e tenho minhas dúvidas de saber, de

fato, se alguém conhece a história dessa cidade. Com raras exceções como

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Toninho português e Márcio Werneck que é de Cabo Frio mas está intimamente ligado à Búzios. Márcio conhece a fundo a história buziana porque tecnicamente falando ele é um pesquisador por natureza, mas são raríssimas exceções de pessoas que, de fato, conhecessem. Eu não seria a pessoa indicada para falar sobre a sua história. Búzios, pelo que eu conheço tem uma história maravilhosa, pouco explorada, no bom sentido: de pesquisa, de livros, de publicações. Pesquisas e publicações feitas para estudantes, para teses, para alguém vir pesquisar a história da comunidade. As pessoas estão muito focadas na história da Brigitte para cá. De Brigitte para lá, poucos conhecem a razão das armações das baleias, da época dos franceses, dos piratas, que aqui se escondiam, dos tesouros que devemos ter enterrados aqui nas nossas grutas. Da época do comércio de escravos, período conturbado. Aqui era tão isolado que os escravos vieram se esconder aqui no finalzinho da abolição e hoje seus remanescentes se encontram na Rasa. (morador 27)

A pergunta 10 – Qual é a Búzios dos seus sonhos? Em que cidade espera morar daqui

a cinco, dez, vinte anos?

Futuro. Quando se fala em planejamento está se falando do que virá, daquilo que se

pode projetar para o tempo que há de chegar. O futuro se constrói. Sabe-se que há vários

fatores que escapam das mãos quando se planeja algo, como, por exemplo, a política externa,

os fenômenos atmosféricos. Estes se conseguem prever, às vezes, mas nem sempre os

controlar. Mas há uma parte em que se pode pensar, opinar, agir.

O PNT diz, neste aspecto que

O efetivo envolvimento dos governos estaduais, dos parceiros estratégicos, do setor privado, dos municípios e da comunidade é fundamental neste processo [o do desenvolvimento do turismo]. Dessa forma, cria-se o ambiente para alcançar a qualidade, a diversidade e competitividade do produto turístico brasileiro. (p. 31)

Para que isto se dê foram formulados alguns objetivos:

Integrar os governos federal, estadual e municipal, descentralizando o processo de decisão no Turismo Brasileiro;

Integrar os setores público e privado e demais instituições otimizando recursos e dando eficiência às ações;

Monitorar e avaliar os resultados do plano nacional de turismo; e Participar dos fóruns internacionais de interesse do turismo. (p. 34)

E mais:

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A atividade turística depende intensamente de informações que facilitem o seu desenvolvimento. É necessário um programa contínuo, que não só pesquise a oferta, mas também a demanda. Um sistema que avalie o impacto da atividade na economia, criando condições para o fortalecimento do setor junto à sociedade. Os dirigentes públicos e privados necessitam de informações essenciais para a tomada de decisão gerencial e para a captação e implementação de novos empreendimentos turísticos. (p. 44)

Na linha do planejamento o PLANTUR, quando disserta sobre as perspectivas de

desenvolvimento da atividade, nas proposições, enfatiza que:

os estudos de mercado e as informações, dados e avaliações que integram o diagnóstico, são analisados sob a perspectiva de desenvolvimento da atividade turística, através da reflexão sobre cenários futuros e em função do seu potencial de expansão. (p. 11) [...] O planejamento e os recursos mobilizados na implementação do conjunto de estratégias que integram o Plano Diretor de Turismo representam um desafio no que se refere à sua operacionalidade. Neste sentido, é de fundamental importância a distribuição sistemática e articulada da programação no tempo, com base numa hierarquia de prioridades das diversas ações e intervenções propostas. Uma programação em etapas permitirá a viabilização das propostas de forma racional, tendo ainda a vantagem de gerar um controle regular da eficácia e da própria estratégia de implantação das ações .(p. 198) [...] .... o processo de planejamento instaurado com o Plano deve incluir a previsão de instrumentos de detecção, análise e correção dos desvios existentes, tarefa clássica a uma função de monitoramento. (p. 204).

O Perfil do Município do documento-base do Plano Diretor de Búzios, na questão dos

aspectos geo-ambientais, afirma que:

Um dos maiores desafios para o desenvolvimento sustentável municipal é conhecer o funcionamento dos ecossistemas e prognosticar os cenários futuros, obedecendo à sua capacidade de suporte. O primeiro passo é a verificação da capacidade de suporte dos seus ecossistemas, o atual nível de impacto, a sua resiliência, considerados a realidade atual e o provável desenvolvimento futuro. (p. 13)

Para o Plano Diretor, afora as questões de infra-estrutura: fundiária, transporte, água e

esgoto, energia, comunicação, educação e saúde, há presente a questão ambiental que se

projeta como algo que faz parte de seu conjunto de atrativos. Não é só a beleza natural, local.

É até onde vai a sua capacidade de transformar-se, sem perder o equilíbrio ambiental. Este

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problema ronda quase todos os discursos quando se pergunta o que se quer do futuro. A

questão ambiental, da proteção ou de sua recuperação é, inevitavelmente, um valor primordial

para todos: habitantes, veranistas, turistas e empresários, conforme se vê nas respostas a

seguir dos alunos do Tectur:

Aquela que dê oportunidade para nós continuarmos trabalhando, que nossos filhos tenham saúde, educação e trabalho, pois as coisas por aqui estão muito difíceis. Não tem emprego. Só no verão que o pessoal faz os bicos, quando vem os turistas em massa.(morador 3) Espero morar numa cidade em que todo mundo consiga um bom emprego, que consiga se estabilizar na cidade e não vivendo só do turismo ou, se viver do turismo não só na alta temporada, mas na baixa também. Que as pessoas consigam se estabilizar e tenham uma vida tranqüila para evitar esse negócio de assalto.. essas coisas que fazem quando a pessoa não consegue ter um dinheiro... (morador 4) Espero que a cidade melhore muito em questão da violência que, no momento, está ficando muito violenta, e que possa ter uma infra-estrutura melhor para poder receber os turistas. Dar a eles o que querem, poder proporcionar o que eles estão procurando aqui em Búzios já que, às vezes, muitos turistas chegam aqui pensando que é uma coisa e é outra. Não tem aquela estrutura que eles precisam. (morador 6) Eu não queria que ela virasse São Paulo, nem Cabo Frio. Gosto dela assim.... e já está até crescendo muito. Tem que melhorar em termos de atendimento às pessoas. É uma cidade muito aconchegante e as pessoas que moram aqui também são muito receptivas, tratam as pessoas muito bem. A única coisa que eu quero de melhor para o pessoal é no atendimento da Saúde. Que todos tenhamos um bom atendimento médico, tenhamos também bastante comércio para que não tenhamos que sair daqui para ir em busca destes serviços em outro lugar. (morador 7) Uma cidade bem voltada para o turismo sustentável. Que não precisemos contar com o turismo só na alta temporada, que se tenha uma continuidade. Que possamos dizer, vamos para Búzios e que se possa viver 365 dias de maneira diferente, mas pouco diferente e não como é agora... que a gente fica numa expectativa grande no verão... Por exemplo, chega o mês de dezembro, a gente fica todo ‘ouriçado’, esperando chegar o verão porque a gente já passou tanta ansiedade no inverno. A cidade que a gente espera é essa do turismo sustentável onde se possa trabalhar 365 dias por ano, na mesma maneira, numa continuidade... vou sair de casa para trabalhar. Porque hoje, por exemplo, na baixa temporada, você vai para a praia porque você tem que marcar ponto. Eu, por exemplo, que tenho negócio na praia, vou para marcar ponto. Você não tem uma sustentabilidade. Aquele padrão que o ano todo você tenha turista... Esse não é só o meu sonho... acho que deva ser o sonho de todos.... (morador 8) Búzios daqui a 5, 10 anos tem que ter um bom planejamento turístico, uma boa apresentação nacional, principalmente nacional porque tem umas apresentações internacionais, mas nacional não temos. Para o conhecimento nacional, Búzios é uma cidade cara. Se Búzios for apresentada

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nacionalmente, ela vai ter gente em toda temporada. E assim, acabar com estes termos: alta temporada e baixa temporada. Fica só o termo de toda temporada. Búzios: toda temporada! (morador 9) Já que eu moro aqui há muito tempo e futuramente acho que vou ficar mais tempo ainda porque eu gosto muito dessa cidade, acho uma cidade muito interessante em termos de turismo, de beleza paisagística... então, praticamente eu vou ficar aqui durante muito tempo, pelo fato de gostar muito da cidade. Espero que no futuro a cidade seja mais igual para todos. Que os governos estabeleçam um vínculo maior com a cidade, que se proponham a colocar a cidade mais à frente, trabalhar mais para que a cidade se desenvolva mais e que se faça um trabalho legal para que ela seja reconhecida – já é, atualmente – mas que tenha um valor melhor. (morador 10) Uma cidade tranqüila como é hoje, que ainda acho tranqüila, com algumas melhoras, entretanto, porque precisamos na área turística pelo menos dar mais alguns passos porque o turismo em Búzios ainda está muito atrasado. Pretendo estar muito bem entrosada no turismo porque é o forte de todo o nosso Brasil e explorar melhor toda a área de ecoturismo, porque sou apaixonada por ecoturismo. (morador 11) Eu espero que continue um paraíso, porque por eu gostar de Búzios eu acho que a gente tem que pensar o melhor para a nossa cidade. Então, eu espero que ela venha a melhorar cada dia mais. Não por mim, nem por fulano, mas pelos nossos filhos. Eu espero que ela possa melhorar mais e mais. Principalmente na Educação. Ela tem que trabalhar a da educação, também no emprego, é muito importante ter emprego aqui. É uma cidade pequena, porém a gente fica triste quando vê que as pessoas não têm trabalho, então eu acho que isso é triste. Então eu acho que o principal é trabalhar em cima do trabalho, da educação, da saúde, que também é muito importante. Acho que Búzios trabalhando nessas atividades aí é fundamental. (morador 13) Com boa qualidade de vida, segurança, esgoto, educação. Tudo que o ser humano precisa. (morador 18) Pretendo que o governo faça o que ele prometeu e que possa a cada ano que passa atrair mais o turismo para a cidade que é fundamental. (morador 20) Ah... .falta muita coisa ainda, fazer uma boa faculdade, e melhoramento nas escolas públicas. O ensino é muito fraco.... é necessário mais investimento no ensino. (morador 21) Melhoramento da educação, do hospital, mais áreas de lazer, mais oferta de trabalho para os jovens, incentivos de trabalho para os juvenis. (morador 22) Há de se preservar as belezas naturais, que não venham destruir o que mais chama a atenção em Búzios que são as praias, a vegetação. Que nós possamos preservar e manter toda essa beleza para que as futuras gerações possam prestigiar a cidade como nós a estamos prestigiando hoje. O que mais me chamou a atenção é que o turismo em Búzios... Eu não conhecia Búzios... assim de andar e conhecer tudo e estou fazendo isto agora nas atividades de campo. . Estou conhecendo lugares, fazendo trilhas. Estou gostando muito porque estou vendo lugares surpreendentes que eu nunca

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podia imaginar que existissem. Pretendo continuar no curso, já que estou ainda no primeiro modulo. (morador 29) A cidade não tem que mudar muito. Acredito eu que, pelas características físicas e geológicas da cidade tem que se pensar em um transporte alternativo, principalmente o aéreo, porque não há como se abrir muita estrada por aqui. Existe só uma estrada que liga Cabo Frio à Búzios e essa estrada também liga a área rural de Búzios, liga o centrinho de Búzios, quer dizer... quando existe um grande fluxo de carros, fica intransitável. Então há possibilidade de se fazer um transporte aéreo, por cima, para os moradores, para evitar esse trânsito de carros, diminuir pelo menos esse trânsito de carros e também melhorar o sistema de transportes urbano. Se criarem alternativas... O principal fator de estrangulamento daqui de Búzios é o trânsito caótico que fica.... e os preços. Equacionando essas duas coisas, Búzios não tem que mudar nada. (morador 30) O Curso para mim, foi mais para descobrir mesmo a cidade em si, outras partes de Búzios, porque a gente conhece mais a parte artificial de Búzios, do centro, por exemplo. E, fazendo o curso eu descobri outras partes de Búzios que não é assim... o turista quase não visita porque é a parte ecológica do lugar, é o ecossistema do lugar... e geralmente as pessoas vêm mais para as noitadas . Os turistas eles visam as noitadas, as danças, os restaurantes e eu queria descobrir a essência e, através do curso eu estou descobrindo tudo isso e estou achando tudo muito bom. (morador 31) Com saúde e educação para todo mundo. Trabalho também. A gente precisa ter trabalho nos meses que não são o pico do verão. Tem gente que passa por muitas dificuldades aqui. (morador 35)

Os outros informantes corroboraram com a opinião dos alunos e a complementaram

atentando ao fato de que, além da preservação ambiental e da melhora da infra-estrutura, é

básico também a recuperação do modo de vida das pessoas, por meio da pesquisa histórica,

artística e etnográfica. O valor da expressão aqui recebe um contorno mais definido, inclusive

o da sua apropriação econômica que, dependendo de como for feita pode ou não ser benéfica

para a cidade e seus moradores como um todo. Assim se percebe as suas preocupações e seus

sonhos para o futuro:

Um lugar que mantenha as suas características particulares, que consiga recuperar sua identidade, que cresça enquanto um espaço multicultural que absorva pessoas de várias nacionalidades e de várias regiões brasileiras, desenvolva o turismo com profissionalismo. Porque se você tem uma comunidade que vive a integração com a seu meio ambiente, que vive um respeito às suas raízes históricas, culturais, folclóricas, que tem respeito aos aspectos humanos e que incorpore ainda inovações, fatores de vanguarda... este é um lugar fantástico e é nesse lugar que eu quero estar morando daqui a dez, vinte anos, realmente único no mundo. (morador 12)

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Uma cidade com turismo auto-sustentável. Turismo de qualidade com áreas ambientais preservadas. Paz, tranqüilidade, que não tenha o tumulto do Rio de Janeiro (morador 14) Bom nível da qualidade de vida para todos: segurança, trabalho, saúde e educação (morador 15) Fazer daqui um lugar agradável para os turistas e veranistas (morador 16) Búzios não precisa virar Nova York nem Miami. As pessoas vêm à Búzios por todo um contexto, não só por causa do sol e do mar e temos de preservar isto. (morador 17) Não tenho sonhos para Búzios. Estou indo embora para São Paulo ou Brasília porque o pessoal está comprando produtos manufaturados e não artesanato. Há muitas lojas e ambulantes vendendo produtos manufaturados. (morador 19) O meu sonho é que se acabe com a exclusão social, que o Pórtico seja colocado lá na divisão com Cabo Frio, que não dividam a península da área mais pobre. Que a juventude buziana tenha acesso à cultura, à educação. (morador 23) A Búzios de meus sonhos é que não tivesse ninguém na cidade e que eu pudesse curti-la da mesma maneira de quando eu vim para cá, há mais ou menos 20 anos. Essa é a Búzios dos meus sonhos, mas é uma Búzios utópica: isso não vai existir. A cidade que eu espero daqui a 5, 10, 20 anos é que seja uma cidade desenvolvida, mas uma cidade extremamente organizada, que não opte pelo turismo de massas e que tenha uma boa preservação ambiental, que isso vai manter a qualidade de nossa vida. (morador 24) O progresso chegou, existe e é necessário. Para os turistas, nós precisamos ter uma infra-estrutura boa e forte. O que nós sonhamos é um Búzios com preservação ambiental: área da Azedinha, área do Pau-Brasil. Só com a preservação ambiental é que vamos ter o Búzios de nossos sonhos. Precisamos de asfalto, mas quando era de terra também era bom. Quando os turistas chegam, só o fato de não ver prédios dá um grande alívio. Tem um projeto aprovado dizendo que não se pode construir mais de 2 andares. Búzios de meus sonhos é isso: o de continuar ver as nossas crianças caminhando pela rua tranqüilamente, com segurança; o turista podendo caminhar com a sua própria máquina fotográfica, com sua filmadora; podendo conversar com os pescadores, podendo sair para caminhar às 2 horas da manhã, podendo sair da Rua das Pedras às 3, 4 horas da manhã sem medo nenhum, sem preocupação nenhuma.... Que haja controle na construção de pousadas, pois já temos oferta de leitos suficientes para o verão, o que os deixa ociosos na baixa temporada. Esperamos que os empresários invistam em outros segmentos e que possamos manter essa qualidade. Temos que buscar um Búzios sustentável, voltado para o meio-ambiente porque ele é tudo. Que se faça o ecoturismo, mas com estudos de impacto ambiental e da população, para que possamos controlar e não nos tornemos um destino que venha um público que destrua o que está sendo recuperado, como é o caso da vegetação na Praia de Geribá. Tem que haver controle para que não venha uma massa muito grande de gente porque

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embora tenha fiscalização ambiental, não se consegue olhar tudo a todo momento. (morador 25) Eu espero morar numa cidade que continue linda como ela é, não degradada ambientalmente. Tenho esperanças que toda essa evolução que aconteceu muito rápido, de uns dez anos para cá, possa ter mais beneficiado do que danificado a cidade. Foram construídos muitos condomínios, muitos hotéis, que favoreceram a economia da cidade e que deram um impulso a construção civil, criando emprego e renda não só para aqueles que nasceram aqui, mas para os que vivem neste lugar, que resolveram adotar Búzios como sua cidade. Suponho que ninguém queira que a cidade fique descaracterizada, perca seu charme de aldeia de pescador e, por isso imagino que qualquer crescimento que ela tenha seja importante que não se degrade a natureza, que não agrida, que continue gerando emprego, renda para as pessoas, mas que não tenha o cotidiano caótico da cidade grande. (morador 26) Eu gostaria de fato, voltar ao passado. Eu quando vim para cá há 20 anos, eu buscava exatamente tudo o que Búzios não tem hoje. A minha busca por Búzios foi exatamente a busca da aldeia, do primitivo, do local, do produto local, do artesanato local, do artista que aqui já vivia para que trocasse comigo experiências da cidade grande de onde eu tinha vindo. E eu consegui. Tanto que fiquei, enquanto muitos se foram. Búzios dos meus sonhos seria um Búzios que pudesse manter o equilíbrio com o meio ambiente, continuar a manter o equilíbrio com as pessoas locais, porque eu acho que esse é um dos pontos-chave do charme da cidade. Quem vem aqui gosta de desfrutar dessa intimidade direta com o pescador local.... Então... se pudesse ter Búzios... não faz mal que o navio venha com os seus milhões e milhões de tripulantes e passageiros, mas que isto seja feito com harmonia. Que o esgoto não seja mais lançado ao mar. Que as construções obedeçam as leis da cidade e que as pessoas continuem sonhando. (morador 27) Esta semana eu peguei o guia e fiquei espantada com a quantidade de pousadas que tem em Búzios em relação a outras cidades... é uma coisa muito absurda, uma concentração muito grande e sabemos que onde passa uma estrada imediatamente começa a ter casas e tudo em volta, a desenvolver uma dinâmica social ali. Então eu acho que não se deve reproduzir o que se fez na península no restante da cidade, pois senão Búzios vai ser inviável. Acho que já está perto de um ponto de saturação dentro de um desenvolvimento como cidade turística e acho que o planejamento tem que ser muito cuidadoso. Não adianta querer atrair mais pessoas porque a alta temporada já está saturada com a quantidade de pessoas que traz. Até mesmo os empresários já estão sentindo isso. Há que se ter muita reflexão e ação para aquilo que se quer para cidade...... (morador 28) Na visão do turismo eu imagino que aqui tem um potencial muito grande. Infelizmente, o que acontece é que realmente os nossos habitantes, a comunidade, eles não têm interesse em se especializar na área de turismo. È só pensar o seguinte: todo ano abrimos o curso, mas a procura é pequena, tanto é que nós temos quase que pegar aluno à laço. Aqui sobram vagas, tanto que nós temos de trazer alunos de Cabo Frio, São Pedro D’Aldeia, Unamar, que são cidades próximas daqui. É um curso gratuito que realmente deveria ter interesse para os habitantes, mas o que acontece? O pessoal não tem essa visão de se especializar para trabalhar numa pousada, num

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restaurante, por isso os empresários procuram pessoas que têm outros cursos. Porque esses cursos são feitos no Rio, em São Pedro, longe daqui. E quem é esse público? São pessoas desses lugares que, na visão deles aqui é quem realmente, na maioria, têm mais garra, que estão mais dispostas a correrem atrás, são pessoas que têm aquele perfil batalhador. Aqui eles têm esse perfil que é mais comum na Região dos Lagos, esse perfil bonachão, mais tranqüilo... pego um peixe ali, vendo lá... alugo minha casa na alta temporada. Então quando você fala, eles perguntam: ‘para que estudar turismo? Preciso não. Eu vou ali, dou um passeio de barco...’. Esta é a visão deles, que a gente está tentando mudar. Esse curso... é com muito esforço que a gente está aqui. Só Deus sabe! Tanto que a gente começa uma turma com cinqüenta e termina com turmas de nove... Aí todo ano eu começo com o discurso: tenho cinqüenta, mas sei que daqui a um ano e meio tenho certeza que formar dez, oito. Porque este é o perfil deles: a evasão é muito grande porque eles não vêem o estudo do turismo como algo tão importante. Então, qual seria a essência do turismo? Que essas pessoas se conscientizassem e começassem a trabalhar, se formassem tecnicamente. Vão ter conhecimento técnico, vão saber a importância do turismo para a região porque o petróleo vai acabar um dia. A única coisa que vai permanecer é a estrutura turística deles aqui e a importância que eles têm de... a consciência que eles vão ter de que vão sobreviver realmente do turismo, porque hoje é um dos que segura Búzios porque os royaties do petróleo é o que mais segura mesmo. Então, por enquanto, a mentalidade das pessoas ainda não está afetando muito, mas se fizermos uma volta no tempo, vamos ver que as pessoas que vêm à Búzios não estão voltando tanto assim não. Se é um lugar bonito, por que não voltam? Porque exigem uma qualidade de trabalho e de serviços e vêem que aqui a prestação de serviço é muito precária. Esse é um problema dos últimos anos que temos enfrentado aqui. É tentar adequar a mão-de-obra à cidade. Que as pessoas que vêm aqui estão acostumadas a viajar e o modelo da hotelaria e dos restaurantes é padrão. No mundo inteiro é da mesma forma. Quando chegam em Búzios e exigem um pouco a mais do serviço, esbarram nos problemas comuns: a falta de estudo, a pessoa não tem um idioma, não tem um requinte de cuidado, do trato, do bom atendimento. Isto tudo se perde justamente porque eles têm essa visão. Não há interesse. Se continuar assim, a tendência é Búzios ir perdendo essa clientela. O que nós estamos fazendo então? Atacar o quê? A mão-de-obra qualificada dos próprios moradores. Mas como vamos conseguir isto? Mudando primeiro a cabeça deles, que têm essa visão arraigada do ‘foi ali, pegou um peixe, alugou a casa dele no final do ano e está tudo bem’.... e não é assim que as coisas funcionam. O ideal para Búzios, se quiser se manter como uma das cidades principais do turismo é adequar sua mão-de-obra, conscientizando as pessoas.... tanto é que até tenho na minha cabeça um pequeno projeto justamente de começar na base: pelas crianças. Começar no ensino fundamental, introduzindo neles a cultura turística, a cultura do tratar bem o turista porque ele que supostamente está vindo aqui ‘encher o saco’, como eles dizem, é a pessoa que está trazendo dinheiro e as divisas que vão mantê-los no futuro. Então.... eu imagino que está será a Búzios do futuro. (morador 37)

Houve necessidade de deixar uma pergunta “em aberto” para que eles se expressassem

sobre algum tema que achassem importante e que não tivesse sido abordado. Pergunta 11 – O

que você gostaria de deixar aqui registrado que não lhe tenha sido perguntado?

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Os alunos do Cejob fizeram questão de falar sobre o curso e sua condução nos últimos

tempos, ressaltando o papel que teve o coordenador do curso, professor Ronald, ao implantar

alguns comportamentos que, com a passar do tempo foi ganhando visibilidade e a

cumplicidade dos alunos. Na verdade, não houve grandes modificações nas diretrizes

pedagógicas propriamente ditas, o que houve foi a mudança de comportamento que

entusiasmou os alunos a participarem de decisões sobre roteiros, visitas técnicas,

conhecimento, enfim do que está fora dos muros da escola. O papel da Professora Viviane

Evangelista também foi primordial para que os alunos tivessem novas abordagens. Recém-

formada em turismo, professora Viviane trabalhou como voluntária no programa “Amigos da

Escola” por cerca de um ano e meio e pôde trazer aos alunos sua experiência, ainda que

pouca, por ser tão jovem, mas a sua experiência trazida de Belo Horizonte. O interessante é

que mudanças comportamentais, até um pouco singelas, fazem com que se recupere o

entusiasmo, que os alunos possam saber que eles têm importância, que é gratificante ensiná-

los, trabalhar com eles. Esta é a impressão que se fica ao transcrever os depoimentos:

Queria dizer que estou muito feliz fazendo o curso aqui do Oliveira Botas. Ronald, nosso coordenador é muito animado e ajuda a gente muito em aprender as coisas necessárias ao turismo. Viviane também, é um amor, trabalha aqui de graça, para ensinar a gente como se faz trabalhos sustentáveis em turismo. Admiro muito eles e por isso os agradeço de coração.(morador 3) Você não me perguntou como que é o curso... O nosso curso de turismo é maravilhoso, o coordenador é ótimo. Os professores são excelentes. Os alunos são esforçados, o curso está crescendo e eu acho muito legal a divulgação do curso. Não tenho nem palavras... Eu faço o curso e adoro. O curso é maravilhoso.. (morador 4) Há poucos minutos atrás, na praia, disseram que teve um rapaz que derrubou uma turista no centro da cidade e tentou roubá-la, só que os moradores não deixaram. Pegaram ele e não deixaram. Esse tipo de crime não é o próprio povo da cidade que comete. É... como vou dizer...não são as pessoas da cidade, são daqueles que vêm de fora e tentam fazer aqui coisas que fazem nos outros lugares. Tem que melhorar isso, pois pode afastar os turistas. (morador 6) Eu pensei que você fosse me perguntar sobre o curso...Ah... É uma coisa assim, eu no começo quando eu vim fazer.... eu vim fazer só por fazer... porque eu achei que era mais um ano que eu ia perder aqui. Eu não queria parar de estudar porque a gente quando pára, a gente...enferruja. Aí eu no começo não estava gostando muito não, mas quando o nosso coordenador entrou, ele levantou o curso e ficou muito bom. A gente está aprendendo bastante, e ele vai melhorar muito, entendeu? Eu aprendi bastante, coisas que eu não estava nem mais interessada.... mas ele deixou bem interessante o

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curso. Não só ele, Viviane tem muita paciência com a gente .....Nós sabemos que ela faz as coisas com vontade porque eu acho que ela nem recebe para fazer. Todos os professores têm muita boa vontade com a gente. (morador 7) Tenho seis filhos com idades entre 8 a 19 anos, três casais. Todos estudam. Sou da Paraíba, vim para o Rio e depois para Búzios. No Rio morei em favela....Como sou do interior... quando eu vim para Búzios... eu me encantei...porque aqui você pode ganhar o dinheiro como na cidade grande e morar no interior... (morador 8) Eu gostaria de deixar registrado que podemos crescer e ter Búzios como um turismo sustentável, para todo o mundo. (morador 9) Bom... sobre o nosso curso... Nosso curso aqui... Eu não tinha o objetivo de fazer, mas por não ter outra opção, vim fazer o curso Técnico de Turismo e estou gostando. Já estou no segundo módulo e espero que eu passe para o terceiro.... e estou gostando muito, sabe. Nosso coordenador também apóia a gente. E é muito importante quando a gente tem um apoio. Eu saio de casa e deixo minha filha em casa com a minha mãe e meu padrasto. Então, a gente vem e recebe realmente o conhecimento. Isto e importante. Não deixam a gente desanimar. (morador 13) Se esse curso de turismo vai ter apoio de algum governante, de algumas empresas. Eu espero que tenhamos apoio para o próximo ano....Gostaria que fosse divulgado mais, atraísse mais alunos, pudéssemos ter mais passeios, visitas, tudo que engloba o turismo. Precisamos de patrocínio para fazer as visitas em Búzios e fora de Búzios, no Rio de Janeiro, por exemplo, precisamos conhecer um pouco, ao menos. Precisamos do auxílio principalmente dos empresários de pousadas e hotéis, dos comerciantes em geral . Aqui no curso nós temos aulas de idiomas e elas nós ajudam muito, mas se alguém aprende ou não, isto é uma outra coisa... por exemplo, eu não gosto de francês, mas minha colega Andreza adora francês e se dá muito bem... eu gosto mais do inglês. Aprender línguas é essencial para o turismo aqui. (morador 18) A praia que se destaca em Búzios é a de Geribá. Muitas pessoas procuram esta praia, mas tem várias outras também. Geribá é a mais procurada, mas a mais bonita é a de João Fernandes. A de Tucuns é a maior. (morador 21) Eu acho que deveria ter mais opções de cursos aqui na Região dos Lagos porque muitas vezes as pessoas gostariam de fazer cursos... cursos técnicos e não têm opções... Têm que se despencar daqui para o Rio, mas não tendo condições financeiras acabam desistindo e fazendo outras coisas que nunca imaginariam fazer. Então eu acho que deveriam ser trazidas mais opções, cursos bons para os alunos... para que tenham um melhor preparo e possam ficar aqui com suas famílias. (morador 29) O Curso Técnico de Turismo é um curso voltado para preparação de pessoas que trabalham ou vão trabalhar com turismo. Não é um curso para agentes de turismo. É um curso ótimo, mas que existem falhas mas que, ao longo do tempo elas vão ser sanadas.... ele está em fase de amadurecimento. O professor-cooordenador do curso, Ronald, dá muita ênfase à atividade de campo. Isto é: as visitas às cidades, para que nós possamos estudar a história das cidades no sentido de nos prepararmos para a atuação como guias posteriormente, quando o processo que está na EMBRATUR for aprovado.

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Além disso, todas as matérias curriculares: Geografia, História, Matemática, são voltadas para o turismo. Matemática, por exemplo, dá ênfase a conteúdos que as pessoas vão utilizar numa recepção de hotel, no almoxarifado, num escritório, como porcentagem, razão, proporção, câmbio. História dá ênfase à história de Búzios. História do Brasil, mas numa segunda etapa a história de Búzios. E em Geografia, a mesma coisa: como se localizar, como se fazer uma coordenada, como se verificar o lugar onde a pessoa está. Inglês, Francês, Espanhol são matérias que são básicas para a nossa atividade. Enfim, o curso é um curso que, se não é completo, muita pouca coisa falta fazer e que, logicamente, com o passar dos anos, vai se vendo as falhas e sanando-as para que este curso possa ser um curso mais objetivo, ou melhor que se aproxime bem dos 100%. (morador 30) Eu pretendo estudar turismo até fazendo uma faculdade, se tiver possibilidade. Bom, na verdade eu pretendo voltar para o Rio, pois na verdade eu sou de lá. Já estou morando aqui há quatro anos e, como eu estava assim, sem muita perspectiva, sem ter muito o que fazer... pois aqui tem esse negócio de alta e baixa temporada e na baixa a gente fica sem muita coisa a fazer, a gente fica muito ansiosa... E unindo uma coisa a outra, despertei-me para o curso até porque eu nem sabia que existia esse curso aqui e aí... eu pretendo continuar e fazer uma faculdade. (morador 31) Sobre o nosso curso. O Curso Técnico de Turismo nos abre os olhos para os atrativos de Búzios que podem ser transformados em produtos. Quando alguma coisa é oferecida regularmente, as pessoas sabem que estão lá e sabem que a qualquer hora que chegam vão encontrar. Aqui em Búzios têm muita coisa, principalmente para quem tem dinheiro. As boates são caras. A diversão aqui além de praia, é cara. (morador 35)

Os registros da população de não-alunos se fixam mais sobre a questão da infra-

estrutura. De seus benefícios como facilidade de acesso, ganhar tempo, poderem os turistas

ficar hospedados mais dias na cidade. E de seus malefícios: a preocupação com a ocupação

desordenada, a rapidez das construções civis que alteram significativamente a paisagem e os

bolsões de pobreza que isto pode acarretar.

Sobre o Aeroporto de Cabo Frio. Antes eu achava que seria bom mas aí mudei de idéia porque me falaram que o público que vai para Cabo Frio, que vem a Búzios antes passa pelo Rio de Janeiro. Tem o cara que compra o pacote Rio-Búzios, a pessoa não compra o pacote só Búzios. Eles passam pelo Rio de Janeiro. A pessoa vem para cá, mas quer conhecer o Rio também..... Então, não sei se venderia essa coisa de vôo direto para Cabo Frio e de Cabo Frio pra Búzios. Por exemplo, eu queria conhecer Sevilha, mas quando fui para lá eu tive que passar por Madri.... mas também eu ia para Madri de qualquer jeito, porque eu queria conhecer Madri também... Eu acho que o pessoal que quer vir à Búzios, também quer conhecer o Rio. Quem não quer conhecer o Rio? (morador 2) Búzios é uma cidade para todos. É muito rica em beleza, em alto astral. É um lugar abençoado por Deus. (morador 5)

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Eu queria registrar a ação que me foi permitida desenvolver com essa ‘galera’ do curso técnico. Está sendo muito positivo perceber um entendimento deles em relação a uma proposta de enxergar que Búzios pode ser um lugar muito especial. Quando eu vejo eles por eles colocando determinados conceitos, afirmando coisas simples, mas que são extremamente importantes para o futuro da cidade, eu vejo assim uma esperança. E quando eu vejo trabalhos como o seu que, de uma determinada maneira incorporando ações que já existem aqui, eu acho que existe a possibilidade de um futuro promissor. Eu hoje estou muito otimista com o futuro de Búzios, apesar de todos os problemas, porque se nós temos assim uma ‘moçada’ começando a pensar diferente e de uma maneira bem concreta, existe esperança. E que trabalhos locais, trabalhos acadêmicos que você está desenvolvendo aqui e outros também por aí porque no fundo, no fundo , nós falamos as mesmas coisas, seja no Curso Técnico, numa ação individual minha com os artistas, num bate-papo dos ‘moleques’ aí falando sobre turismo, nós estamos falando a mesma linguagem e eu acredito muito na incorporação de forças. [...] Nos trabalhos de grupos que se encontram e façam trabalhos coorporativos, dividindo conhecimentos e, com isso, multiplicando-os. Não estamos aqui como um túmulo do saber e só ações integradas e compartilhadas podem trazer resultados benéficos para Búzios e para qualquer lugar. Nós temos essa responsabilidade e o turismo, por ser um fenômeno muito complexo, ele exige uma integração de muitos profissionais. Para planejar, você precisa dos pensamentos, da articulação de muitos profissionais. Só a cooperação pode trazer bons resultados para Búzios é isto que eu espero... que possamos continuar nossa caminhada. (morador 12) O registro, na verdade é que o curso de turismo aqui do Oliveira Botas deslanche como já vem acontecendo graças a Deus e com a ajuda do Ronald (morador 14) Búzios é uma cidade que você pode viver cheia de jóias ou com calças rasgadas e ninguém se importa.... é uma província, uma cidade do interior, não é uma metrópole. (morador 17) Não há socorro médico em Búzios. (morador 19) Sou filha de família humilde. Pelo meu próprio esforço tive acesso à educação, a ler bons livros, com muita dificuldade faço o meu trabalho e a minha grande preocupação é o futuro, não só de Búzios, mas do País, de crianças com educação. Minha outra preocupação é a ecologia. A cidade é bela, grande fonte de dinheiro para muita gente e as pessoas esquecem que isto está alicerçado na grande beleza de Búzios que tem que ser preservada. Não adianta fazer uma linda via e esconder o esgoto. Não adianta fazer uma linda orla e jogar o esgoto embaixo. Isso vai ser bonito hoje, mas daqui a cinco, dez anos, não vai ser mais bonito não. (morador 23) Uma coisa que eu gostaria de deixar claro, que talvez possa ajudar em alguma coisa é como a cidade foi vendida. A cidade sempre preservou muito a sua marca. É uma cidade que se desenvolveu muito, cresceu, inchou, até um pouco mais do que a gente gostaria, mas o progresso também traz mazelas, mas nós conseguimos, ao longo desse tempo, manter a marca Búzios em evidência. Búzios ainda é sinônimo de uma coisa boa, sofisticada e atraente. Búzios foi vendido duma forma muito pragmática: para o estrangeiro como o primitivo e para o brasileiro como o sofisticado, apesar

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de a gente não ser nenhuma das duas coisas mais. Mas a gente conseguiu vender isso relativamente, entregar esse produto ao turista que chega aqui. Claro que a expectativa é sempre maior no sentido de encontrar uma cidade muito mais organizada, uma cidade mais cidade, mas isto ainda não foi possível... A gente acredita que em mais dez anos a cidade, claro que se não optar por um turismo de massas, se houver a preservação ambiental, em dez anos, Búzios vai ser a cidade dos sonhos de todo mundo e que a gente vai ter muita satisfação em morar aqui e de ter contribuído para o começo desse processo. (morador 24)

Búzios é uma cidade cosmopolita, tem espaço para todo mundo que quiser somar, quiser criar, quiser ajudar a cidade, que é muito criança: ela é muito recente... está engatinhando ainda perto de outros lugares... Mas temos um ponto muito forte a favor: a beleza natural, mas que, se não cuidarmos, vai acabar. Quem tem que construir a cidade agora? Somos nós, as pessoas, porque o que ela tem a oferecer a natureza já nos deu. Então somos nós que temos que fazer com que ela se torne melhor, mais agradável, mais gostosa para as pessoas que chegam aqui, que resolvem vir a este lugar. Que Búzios continue esse lugar maravilhoso que é, mas de uma forma mais devagar. Chegou a hora de desenvolver mesmo, de nós mostrarmos a nossa cara. (morador 26)

Um dia, eu ouvi um professor dizer que o progresso é inevitável, a tecnologia é algo que, quando você incorpora não tem mais como voltar, que ninguém está disposto a voltar aos tempos da caverna e é verdade, ninguém está disposto a voltar.... então o importante é saber manejar... então se vão ampliar o aeroporto de Cabo Frio, Búzios vai também ter resultados com isso. E eu me pergunto: qual será o limite de vôos? Quem irá fazer este controle ambiental para que, em nome do progresso, do emprego, da economia, não se polua tanto lugares tão aprazíveis e que assim o são porque tem ainda um jeitinho de aldeia, como Búzios? O progresso é importante, mas a que preço? Isso tudo tem que ser muito bem planejado. (morador 28)

Quando os alunos procuram o Curso Técnico de Turismo, o que eles têm na cabeça é o curso de guia. Eles acham que vão sair, descrever a orla Bardot, um mirante, uma praia e muitos se frustram justamente nisto porque o técnico é mais sala de aula. Eles estão aprendendo as técnicas primeiro e só vão sair depois.... Como eu vou descrever um atrativo natural, uma praia, por exemplo, se eles não entendem de meio ambiente, da importância do saneamento básico, das línguas negras, o porque daquilo ali, daquelas algas verdes, que é um desequilíbrio da poluição, porque não se pode jogar lixo em qualquer lugar... a consciência ecológica... não poluir. De toda uma confluência de fatores que eles têm primeiro na sala de aula, embasamento técnico, para quando saírem, quando estivermos falando... eles vão entender o que nós queremos. Uma das frustrações que eu imagino, da evasão, é isso... porque eles vêm esperando que nós vamos viajar o tempo inteiro, passear. ... que as aulas serão só aulas de campo e que, na verdade, isso é só uma conseqüência... É o fazer literalmente o turismo... é uma idéia errada que eles têm... Acredito que quando nós tivermos o curso de guia, isto mudará. Por isso que temos essa urgência, porque seria o complemento que está faltando para eles. Por mais que nós saiamos, que levemos eles para conhecerem a cidade, nós fazemos até uma ‘meio guia’, digamos assim, algumas atividades de guia, até para servir de estímulo. Mas só vai acontecer mesmo na íntegra quando tiver o próprio curso. Acho que isto deva ficar registrado para que esses alunos entendam que o mais importante é o

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embasamento técnico... está certo, as saídas também... mas é uma combinação dos dois. [...] E esta é a maior dificuldade que eu vejo nos alunos. Não se consegue achar o equilíbrio disto. A grande evasão acontece exatamente por causa disto. A gente sente... Eu, que dou aulas técnicas, eles dizem... ‘de novo? Precisamos fazer esta leitura novamente?’ Aí eu explico para eles que isto é o mais importante... a essência em detectarmos isto como uma falha, que nós estamos tentando mudar até achar o equilíbrio... (morador 37)

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6 CONCLUSÃO

A pesquisa documental e as análises das entrevistas tomam como balizamento os

planos que norteiam o planejamento turístico no Brasil, expressos pela União (PNT), Estado

do Rio de Janeiro (Plantur) e Município de Armação dos Búzios (Plano Diretor). No caso

deste último, diga-se de passagem, as análises foram feitas com atenção redobrada, visto que

nem tudo que vinha sendo levantado e discutido pela Fundação Getúlio Vargas – entidade

responsável pelo documento -, autoridades do governo municipal e moradores de Búzios foi

tomado em conta pela mais recente administração da cidade.

Procurou-se, por meio das análises e evidências documentais comprovar a hipótese de

que a valorização da cultura está presente no discurso dos alunos do Tectur/Cejob, de maneira

ainda desorganizada e geralmente associada a pequenos ganhos econômicos, o que se justifica

pela falta de uma identificação real do que é e do que não é expressão cultural local, fruto das

raízes de Búzios.

Isto acontece porque o Tectur vem incorporando aos seus conteúdos nas disciplinas as

questões levantadas nacional, regional e municipalmente, de maneira gradual, por meio da

reformulação de suas diretrizes pedagógicas implantadas em 2001 e revistas em 2004.

Em 2004 houve mudanças nas diretrizes pedagógicas, porém elas se deram mais no

aspecto comportamental do que de registro de mudanças de conteúdos das disciplinas, embora

tenham sido incorporadas mais atividades práticas e visitas técnicas, além de,

conceitualmente, trabalharem os docentes com modelos de turismo sustentável.

Sendo assim, o Tectur tem respondido as inquietações dos órgãos públicos, das

entidades, empresas privadas e dos cidadãos, formulando novos roteiros de visitas a locais

ainda não explorados em Búzios, ou pouco explorados, cuja essência é o aspecto ambiental.

Estes roteiros têm sido constituídos de produtos como cavalgadas, caminhadas, trilhas e

trecking.

As soluções que os alunos vêem para a baixa temporada são, em linhas gerais, trazer

ao longo do ano, turistas com perfis diferenciados, que respeitem o meio ambiente e a

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diferença cultural. Os programas estão centrados na beleza natural de Búzios, mas eles

também pensam e agem dentro da política de roteiros integrados, abrangendo seus produtos às

regiões circunvizinhas. Algumas soluções eles têm implantado com produtos, ainda tímidos,

pela própria dificuldade financeira de investirem nos projetos para que eles possam ter uma

maior dimensão.

Neste sentido, a maior divulgação ainda está na Serra das Emerências, onde crêem que

vários produtos possam ser criados, inclusive equitação.

Além destas, dão sugestões para o turismo na baixa temporada, na área de

entretenimento: shows, parque infantil, festas, festas gastronômicas, festas gastronômicas com

comidas típicas de Búzios, festas folclóricas, festivais de música sacra, de popular, de gospel.

Em eventos culturais: feira de livros, exposições da arte e do artesanato próprios da cidade.

Nos esportes sugeriu-se: campeonatos, vôlei de praia, canoagem, jet ski, vela, principalmente

os esportes que privilegiassem o mar. Sugeriram também convenções, eventos de negócios.

As mais citadas, no entanto, foram as atividades relacionadas ao ecoturismo como

caminhadas ecológicas, trilhas, cavalgadas, vôo livre.

Interessante também ter aparecido sugestões como as de calendário de turismo em

conjunto com outras cidades, manter parcerias com outros locais, fazendo trocas e promoções

em conjunto.

Focaram também a questão da sustentabilidade e, dentro dele, inclusive algum tipo de

isenção de impostos para algumas atividades ou diminuição de alguns impostos.

Quanto aos traços da cultura típica e nativa encontrados e observados no dia-a-dia

pelos alunos, eles observaram que existiam Quadrilha, Folia de Reis, mas que hoje a

população encontra outros meios para sua expressão como o artesanato feito com a taboa e o

bambu e esculturas em madeira. Os produtos artesanais feitos hoje, já não são típicos de

Búzios, embora a Secretaria de Cultura sempre dê cursos de artesanato. Ela tem a

preocupação de que a população aprenda o artesanato para que possa criar peças originais.

Alguns alertaram que em José Gonçalves têm ainda pessoas que fazem a culinária dos índios,

mas não comercialmente.

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Da culinária, embora relatassem o macarrão com siri, casquinhas de mariscos, sopa de

peixe com banana, não souberam afirmar se é típico de Búzios e em que tempo. O que se

encontra hoje são arranjos de uma culinária do passado e ainda fica valendo a possibilidade

deste levantamento para utilização comercial.

Sendo assim, o uso do que se habitualmente se pode chamar de cultura ainda está na

pesca artesanal. É o item mais sem misturas contemporâneas que se pôde observar. O turismo

pode investir nisto mais profissionalmente porque tem grande apelo, segundo os depoimentos.

Quanto à questão da articulação dos artistas, o interessante é que, pelos alunos

aparecem juntos os artistas e artesãos que trabalham com artes plásticas e também os artistas

mais famosos, os globais, que têm casas de veraneio em Búzios. As outras expressões

artísticas ficaram sem citação e, por isso, deve também ser fruto de investigação.

Ainda sobre a articulação, embora existam associações, a grande maioria delas, dos

artesãos e outras foram criadas para cumprirem uma etapa do orçamento participativo, para

que a população se pronunciasse por meio de suas associações. Mesmo que Búzios tenha (e

tem) uma história de movimentos no passado, estes se encontram menos atuantes hoje.

Com referência à história da cidade, é um assunto que deve ser melhor trabalhado em

todas as instâncias, já que o lugar é um lugar turístico. Não se está dizendo que a população

tenha de ser “treinada” na sua história, e sim que se privilegiem os historiadores que têm feito

estes levantamentos e que haja algum projeto em que a história saia das escolas. Esteja nas

escolas, como tem sido até agora, mas saia de seus muros. Um dos produtos disso é o

levantamento que tem sido feito regularmente na Rasa, utilizando a metodologia de vídeo

antropológico, coordenado pela Professora Carmen Tastch do Instituto de Saúde da

Universidade Veiga de Almeida – Campus Cabo Frio. Este trabalho de recuperação pode ser

estendido a outras comunidades, o que é do interesse da referida professora.

Talvez mais do que “conhecer” a história, seria “remontar” a história. Porém há espaço

para as duas atividades.

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No caso dos alunos do Tectur/Cejob, eles devem ficar mais atentos à história de

Búzios e é algo que todos devem investir nisto: com livros na biblioteca, com palestras dos

historiadores especializados na história regional de Búzios e arredores. Não se está dizendo

com isto que os trabalhos dos professores da área não estão sendo cumpridos à contento.

Muito pelo contrário. O que se está dizendo é que trazer até à escola outros profissionais que

tratam de temas de Búzios irá acrescentar um trabalho que vendo sendo feito de maneira

satisfatória. Os alunos deveriam ler mais sobre isto também. O que é passado nas aulas fica

retido numa porcentagem pequena. Eles devem ser estimulados, ainda mais do que têm sido, a

este contato direto com a comunidade e com os livros.

Sendo um curso de turismo, a história não pode ficar “presa” ao que é corriqueiro na

cidade que é a visita de Brigitte Bardot. Isto é quase uma lenda, embora seja verdade que

Brigitte tenha estado lá. Búzios tem um passado muito rico, como os têm muitas cidades

brasileiras, mas este passado, essa história precisa mais do que ser recuperada nas cidades

turísticas. Precisa estar na boca de todos. É quase como que “vulgarizar” a história, torná-la

comum a todos.

O futuro é, de certa forma, construído. E as declarações dos alunos dão um retrato do

que se precisa para a cidade. Interessante que mais do que olhar a plasticidade do local, que é

muito belo e esta característica é um chamativo para o turismo, os alunos vêem o futuro com a

oportunidade de continuarem trabalhando, que haja saúde, trabalho e educação para todos,

enfim, coisas bem básicas, o que denota que esta é realmente uma dificuldade encontrada

hoje. Alguns poucos falaram também de violência. Que a violência urbana não chegue a

Búzios, mas também os alunos têm consciência que sem emprego, “sem um dinheiro” – como

eles dizem – as pessoas começam a praticar atos de violência, por não terem o básico para a

sobrevivência. Alguns lembraram também do saneamento, mais um aspecto essencial.

Eles têm consciência que se deve melhorar o atendimento ao público e que deve ter

um planejamento turístico sustentável. Volta a questão do trabalho, de ter trabalho o ano todo,

alertando sobre a questão sazonal do turismo. Quando falam do trabalho, o trabalho para o

jovem é sempre referido. Esta é uma preocupação mais dos alunos que já são pais do que para

os alunos mais jovens. Os alunos mais jovens ressaltam mais a preservação da natureza, a

questão da capacitação, das vias alternativas de transporte e da profissionalização do turismo.

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Como já foi dito, os alunos, em cooperação com o Coordenador do Curso, o professor

Ronald, têm montado roteiros alternativos, alguns produtos para a cidade. O que chamou a

atenção é que muitos alunos, que moram em Búzios, disseram não ter conhecimento do

Tectur, embora já tinham vontade de fazê-lo há algum tempo. Outros se disseram

surpreendidos com a qualidade do curso, que tem sido melhor do que as suas expectativas,

inclusive alguns passando por dificuldades sérias para poder freqüentá-lo. Lembraram que

eles têm aulas de três línguas: francês, inglês e espanhol e que isto é importante para uma

cidade como Búzios, que tem um turismo internacional significativo.

Os alunos afirmaram que Búzios é uma cidade cara: as boates, o comércio da Rua das

Pedras, sendo necessário planejar programas mais baratos, vinculados à ecologia, para o

próprio buziano e para aqueles que vivem nos arredores e para o próprio turista brasileiro com

menos posses, mais que respeitam o meio ambiente.

6.1 SUGESTÕES

6.1.1 Em relação à Educação formal para o Turismo

O Tectur/Cejob, mesmo sem uma infra-estrutura condizente a um curso pós-médio,

como colégio público estadual tem cumprido seu papel de atender à população mais carente

que tem dificuldade em pagar uma Faculdade privada.

Este é exatamente o papel mais importante que o Cejob cumpre. Fazer chegar a

educação onde é necessária.

É comum que se releguem àqueles que têm menor poder aquisitivo a educação para

atividades mais básicas. No caso do turismo, a capacitação de garçons, camareiras, taxistas,

entre outros. O que é interessante, entretanto, é que há uma dificuldade em investir naqueles

que têm menor poder aquisitivo em profissões mais nobres, mais rentáveis economicamente.

Esta é uma das funções que se cumpre com o pagamento dos impostos. Que haja educação de

qualidade para todos, não importando a condição socioeconômica individual. Sabe-se que o

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investimento em Educação é alto. É um custo alto para o Estado. Mas tem de ser feito. E é

injusto que, aqueles que nascem em condições menos favoráveis, não tenham oportunidades

iguais ou equivalentes, ao menos, para ter acesso à educação de qualidade.

Por que não se pensa no buziano como gerente de hotel ou pousada? Ou agente de

viagens? Ou guia? Por que há certa tendência a achar que aquele que vem de fora tem mais

condições de fazer o trabalho, de ter mais garra? Onde e quem mediu isto? Quais as bases

científicas reais de tais afirmações? Pode até ser verdade que aquele que venha de fora tenha

mais condições formais de educação, ou até mesmo das informais, mas se isto acontece é

porque as oportunidades não têm sido dadas a todos, pelos menos de maneira semelhante.

Na educação formal, o Sebrae pode contribuir, colocando à disposição dos alunos o

Curso de “Gestão de Pequenos Meios de Hospedagem”, que pode ser feito a distância e mais

cursos como o “Aprender a Empreender” ou “Iniciando um Pequeno Grande Negócio”. O

Tectur/Cejob tem um razoável Laboratório de Informática e não haveria muita restrição em

que os alunos fizessem alguns cursos a distância por meio de computadores. Para os alunos

que mais se destacarem, que haja uma parceria com a iniciativa privada para que sejam

concedidas, por ano, cinco inscrições gratuitas para o Empretec, que é o curso que se tem em

mais alta conta do Sebrae.

O Senac também poderia ajudar em pequenos cursos de formação. O Senac é uma

instituição que goza de muitos cursos de qualidade e é reconhecida no Brasil inteiro em

relação às suas atividades em turismo, hospitalidade, gastronomia. Basta que se façam

convênios para que estas inter-relações ocorram.

6.1.1.1 Para os empresários

Alguns empresários da cidade alegam ter dificuldade em absorver a mão-de-obra do

Tectur/Cejob, porque a formação deles não é a condizente com os serviços que querem

prestar, que eles precisam ser mais atentos, ter mais conhecimento, mais “trato”. Elenca-se,

então, algumas atividades que o empresariado possa fazer para, como responsabilidade social,

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equilibrar as diferenças entre os alunos Cejob aos outros que profissionais que vêm de fora.

Se o empresário está na região é justo que ajude a sua comunidade a melhor, parece óbvio.

1. Fazer palestras, no Colégio, sobre suas atividades, e dizer o que acha mais

condizente que o trabalhador tenha que ter, o que se espera do trabalhador para que

faço um trabalho de qualidade e quanto está disposto a pagar por isto;

2. Doar livros de qualidade para a biblioteca da escola, sejam de turismo, história,

geografia, hospitalidade, boas maneiras, antropologia, artes, enfim, literatura que ajude

o aluno a melhorar sua educação, entendendo que o que se apreende em sala de aula,

fica somente um pequeno percentual. O resto do estudo é mais individual mesmo.

Necessita do auto-estímulo. Se cada empresário doar um livro ao ano, em cerca de

dois a três anos a biblioteca não terá mais espaço para tantos livros;

3. Trabalhar no sistema de “adoção” de um aluno. Acompanhar a sua formação e

estimulá-lo para que continuem seus estudos, mesmo que não os empregue ou mesmo

não lhes dê estágio. Estas duas últimas não são as únicas possibilidades de auxílio. Se

se fizer isto durante dois ou três anos, crê-se que a mão-de-obra local irá melhorar

muito.

6.1.1.2 Para os estrangeiros, empresários ou não

Comumente se diz que Búzios é uma torre de Babel porque foram identificadas mais

de 50 nacionalidades entre seus habitantes. Além disso, dentro de todos os programas de

governo se encontra a questão da valorização da identidade e da diversidade cultural e

regional. Dentro desta perspectiva, acredita-se que, melhorar esta relação entre os estrangeiros

e nacionais, principalmente os nativos, seria interessante. Para o turismo então, talvez seja

primordial. Sendo assim, sugere-se que:

1. A Direção do Colégio convide, uma vez por mês, algum estrangeiro, de

nacionalidades diferentes a cada mês, para falar do negócio que desenvolve em Búzios

e um pouco da sua terra natal, dos seus costumes, das suas belezas e do porquê

escolheu Búzios para viver. Se há, realmente, cerca de 50 nacionalidades, em quatro

anos ainda não se teria conhecido todas as histórias de cada um estrangeiro. Isto seria

uma riqueza tanto para os alunos como para os palestrantes, porque a troca pode ser

muito profícua;

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2. Que doem a escola, um livro ou um objeto, que pode ser algo simples, mas que

tenha a cara de seu país de origem, para fazer parte de uma exposição permanente dos

pertences dos habitantes vindos de outras terras para Búzios. Isto seria valorizar

também a cultura do outro, relacionar-se com os seus objetos, uma de suas formas de

expressão;

6.1.1.3 Para os pesquisadores sobre Búzios

Há cientistas desenvolvendo trabalhos em Búzios em diversas áreas. A idéia é que se

passe para os alunos do Tectur o que se vêm estudando, porque isto pode afetar, de alguma

maneira, a atividade turística. Que os pesquisadores se prontifiquem, por meio de

chamamento do Cejob, a externar seus conhecimentos, sejam eles sobre geologia, meio-

ambiente, cultura, psicologia das comunidades. Recomenda-se também a elaboração de um

roteiro preparado previamente pelos alunos onde se permita o surgimento de possíveis

questões.

6.1.1.4 Para os agentes da comunidade

Búzios tem um número bem grande de Associações já identificadas: 65, inclusive a do

próprio Cejob, a Associação de Apoio à Escola Estadual João de Oliveira Botas. Membros

das associações, a convite do Cejob, podem fazer palestras para os alunos dando-lhes a

conhecer os seus principais problemas e que soluções acham exeqüíveis para os ditos

problemas. Por exemplo, o que teria a dizer para os alunos a Associação dos Pequenos

Produtores Rurais do Município de Armação dos Búzios? E a Associação Protetora dos

Animais São Francisco de Assis de Armação dos Búzios? A Associação dos Músicos e

Compositores de Búzios? A Associação de Arte e Cultura de Búzios? Ou mesmo a dos

arquitetos, o Rotary, a de capoeira e tantas outras....

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6.1.2 Em relação às expressões culturais

Tem-se a informação que o município congrega muitos artistas e artesãos, além de

músicos, atores circenses, capoeiristas, esportistas, atores de televisão, teatro, cinema,

pintores, escultores, fotógrafos, entre outros.

Búzios é muito rico nas expressões de cultura. Pode-se fazer uma mesa-redonda, como

num seminário sobre as obras dos artistas não-originários de Búzios e os originários. A cada

mês, 3 artistas.

Os artistas podem também fazer um projeto de mudança estética do Cejob, aliando os

elementos que representem Búzios, com cores que denunciem ser ali um espaço para a

jovialidade, a criatividade, a construção do futuro. Isto pode estar representado numa sala

somente. Pode-se fazer até em conjunto com os alunos, como uma obra coletiva de criação.

6.1.3 Em relação a negócios a serem desenvolvidos

Em Búzios existem muitos negócios que podem e devem ser desenvolvidos pela

iniciativa privada e podendo ser alguns caracterizados como pequenos negócios. Ao se olhar a

demanda de trabalho com o olhar do emprego, talvez fique mais difícil de desenvolver a

atividade do que a olhar como um negócio.

Sendo assim, setores do governo, ou mesmo a iniciativa privada, pode provocar nos

alunos o estímulo de montar seu negócio, olhando tudo que envolva a cadeia do turismo. Para

isto, entretanto, é importante que se diga quais os serviços que a sociedade precisa, do que se

têm carências.

O papel do Sebrae principalmente nesta atividade é fundamental. O Sebrae deve falar

aos alunos o que ele tem feito em Búzios, no Estado do Rio e no Brasil em geral para

fomentar, qualificar e estimular os pequenos negócios em turismo e outras atividades que dele

se acerquem.

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Pode-se pensar, por exemplo, em termos de trabalhos cooperativados ou em

empresariais. Quais são os negócios que Búzios e redondezas precisam e que podem sem

montados por um conjunto de alunos do Tectur?

6.1.4 Em relação ao estabelecimento de linhas de crédito para a população de baixa renda

Uma das maiores dificuldades em se dar início a um negócio é o capital inicial e outra

é alavancá-lo para uma etapa mais arrojada, em que se aumenta a quantidade da oferta de

produtos ou serviços, ou se muda um processo de fabricação ou de gestão de serviços.

No caso de Búzios e em relação ao que a população pode fazer, ou mesmo os alunos

do Cejob, seria criar uma linha de crédito, de microcrédito, para nanonegócios. Tanto a Caixa

Econômica quanto o Banco do Brasil possuem linhas de crédito para pequenos

empreendimentos. Além desses, pode-se procurar àqueles que já têm um trabalho mais

consolidado no mercado.

O que é importante aqui é que se explique e se estabeleçam linhas de crédito para que

os alunos possam abrir seus negócios.

6.1.5 Em relação ao trabalho para a juventude

Isto já foi dito no corpo do trabalho, mas é importante reafirmar. Búzios conta com

uma população jovem muito grande. Caso não seja pensado desde já na oportunização do

trabalho, emprego e renda, pode-se comprometer toda uma geração futura. Sabe-se dos

trabalhos que fazem as Secretarias de Promoção Social e do Trabalho, porém, o que se quer é

uma maior atenção aos alunos do Tectur/Cejob. Que possam as assistentes sociais informarem

aos alunos sobre as oportunidades existente no mercado e quais seriam os riscos que estariam

sujeitos caso não se preparassem desde já com a sua trabalhabilidade. O quanto é importante a

sua formação hoje para o futuro e o que as assistentes sociais vêem de oportunidades para

aqueles que têm baixa renda.

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6.1.6 Em relação às atividades infantis para a conscientização turística

O sistema escolar municipal já tem trabalhado isto há algum tempo. A proposta é

levar os alunos do Tectur/Cejob às escolas do ensino básico, municipais e privadas. Eles

fariam, a cada dois meses, uma palestra sobre um produto turístico que eles criaram ou sobre

um determinado atrativo turístico fundamental para a cidade.

Conscientizando as crianças sobre as questões ambientais e de relacionamento que se

deve ter numa cidade turística. Elaborarem, os alunos do Tectur pequenos roteiros de passeios

para, junto com os professores das escolas municipais, visitarem alguns atrativos. Pode-se

fazer isto em datas comemorativas como o Dia do Índio, o Dia das Crianças, ou em datas

estabelecidas em conjunto – Tectur e ensino básico. Uma grande motivação talvez fosse criar,

no calendário escolar, uma data para isto. Para “o Dia do Reconhecimento de Búzios”, por

exemplo.

Por fim, salienta-se que, os baixos salários que recebem os professores os desanimam

para a criação de novas atividades, diferentes daquelas normais em salas de aula. Os

professores do Tectur/Cejob, já quebraram esta barreira oferecendo atividades, visitas de

campo, extraclasse.

Agora, o que eles precisam é do apoio de instância dos poderes públicos e da iniciativa

privada para que este trabalho continue e que melhore cada vez mais. Este seria um

compromisso social que Búzios pode dar à Búzios, ao Brasil e ao mundo, visto que Búzios é

uma das cidades mais visitadas internacionalmente no Brasil.

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ANEXOS

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ANEXO A - Protocolo do Estudo de Caso

1. Como a valorização da cultura está presente no discurso dos alunos do Curso Técnico

de Turismo do Cejob?

1.1 Quais traços da cultura típica e nativa são encontrados e observados no dia-a-dia pelos alunos, como comida, dança e música?

1.2 Como a população usa o que é advindo de sua cultura para o turismo?

1.3 Como os alunos se referem a história de Búzios?

2. Como a educação formal, para a área de turismo, localizada no município, tem

respondido às inquietações dos órgãos públicos, das entidades, empresas privadas e dos

cidadãos?

2.1 Quais são as soluções que os alunos do Curso Técnico de Turismo do

Colégio Estadual João de Oliveira Botas – Cejob - vêem para o turismo da

baixa temporada?

2.2 Que atividades crêem que poderiam ser oferecidas?

2.3 Como vêem a articulação dos artistas da cidade e que tipo de organização

têm?

2.4 Como esperam construir a cidade para daqui a cinco, dez, vinte anos?

2.5 Como os alunos do Cejob vêem as soluções para o incremento do turismo na

baixa temporada a curto, médio e longo prazos?

Fundamentação para escolha do tema e local:

Projeto de implantação do Curso Superior de Turismo da UFF;

Caracterização de estudo único

Particularidades do mercado de turismo e hospitalidade em Búzios;

Particularidades dos profissionais do turismo em Búzios;

Particularidades do ensino profissional em turismo;

Peculiaridades na relação educação x turismo x cultura

Possibilidade de observação direta

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Proposições e relevâncias:

Proposições de negócios na área de turismo pelos alunos do

Tectur/Cejob;

Relevância de criação de novos negócios na baixa temporada;

Proposições de valorização cultural para o turismo;

Relevância no contexto “brasilidade e buzianidade”;

Proposições de turismo integrado com regiões circunvizinhas;

Relevância dos roteiros integrados, observando a História local e

regional

Fontes de Dados:

Documentos do Tectur/Cejob;

Documentos municipais;

Documentos estaduais;

Documentos federais;

Documentos de empresas privadas e associações civis;

Jornais que circulam na cidade;

Entrevistas espontâneas, focais e formais;

Observação direta

Procedimentos a serem adotados para consecução do estudo:

1º passo: Ler toda a bibliografia disponível que diz respeito à Búzios,

principalmente os artigos, livros e teses que fazem de estudos da história de Búzios, de

seu gentio, do ambiente natural e cultural;

2º passo: Ler o que se tem disponível hoje sobre lazer, criatividade e formação

de novos negócios, baseando o estudo em Dumazedier e Domenico De Masi.

3º passo: Ler as discussões mais recentes sobre a Lei de Diretrizes e Bases e seus

referenciais curriculares

4º passo: Ler as discussões a respeito da cultura, patrimônio material e imaterial;

5º passo: Ler as principais discussões sobre turismo, cultura e educação.

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6º passo: Esboço do roteiro de entrevista

7º passo: Entrevista piloto (pré-teste)

8º passo: Revisão do roteiro da entrevista para melhor clareza das perguntas

9º passo: Transcrição das entrevistas

10º passo: Edição e validação das entrevistas

11º passo: Análise das entrevistas

12º passo: Conclusão e sugestões

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ANEXO B - Roteiro da entrevista

1. Apresente-se. Diga seu nome completo, profissão, idade;

2. Há quanto tempo conhece ou mora Búzios, se mora, em que bairro e há quanto

tempo? Se não mora em Búzios, onde mora?

3. Trabalha com produtos relacionados ao turismo? Com o quê?

4. Qual a sua opinião sobre o turismo em Búzios?

5. Você tem alguma sugestão a respeito do turismo na baixa temporada? Que

atividades crê que poderiam ser oferecidas?

6. Você sabe de algo que o pessoal nativo ou morador de Búzios faz de diferente

que poderia ser aproveitado para o turismo? Ex.: comida, dança, música, pintura,

etc.

7. Quem faz? Onde mora? Esta pessoa trabalha com isto regularmente, para viver,

ou faz outra coisa para viver?

8. Você tem conhecimento se existe algum trabalho articulado entre os artistas da

cidade? Se existe, que tipo de articulação há entre eles (os artistas) e as suas

atividades entre si?

9. Você conhece a história da Cidade? Conte-me um pouco dela, do que sabe...

10. Qual é a Búzios de seus sonhos? Em que cidade espera morar daqui a cinco, dez,

vinte anos?

11. O que você gostaria de deixar aqui registrado que eu não tenha lhe perguntado?