sandra medina benini - terra brasilis...milena dos santos silveira silveira nelma baldin 061 4º...

182
Tupã/SP 2014 Organizadores Sandra Medina Benini Gilda Collet Bruna

Upload: others

Post on 03-Oct-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Tupã/SP

2014

Organizadores

Sandra Medina Benini

Gilda Collet Bruna

Page 2: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 1

Organizadora

Leonice Seolin Dias

Educação Ambiental em Foco

1ª Edição

Tupã/SP

ANAP

2014

Page 3: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

2 – Educação Ambiental em Foco

ORGANIZADORA DO LIVRO

Leonice Seolin Dias

Possui graduação em Ciências pela Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Tupã (1984), graduação em Teologia pela

Faculdade Teológica Batista de Araraquara (2000), Habilitação em Biologia pelas Faculdades Adamantinenses

Integradas (2000), Mestrado em Ciências Biológicas pela Universidade do Oeste Paulista - UNOESTE (2004) e

Mestrado em Ciência Animal pela UNOESTE (2008). Atualmente está Doutorando em Geografia na Universidade

Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bolsista CAPES.

Page 4: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 3

ANAP Associação Amigos da Natureza da Alta Paulista

Pessoa de Direito Privado Sem Fins Lucrativos

Fundada em 14 de Setembro de 2003

Rua Bolívia, nº 88, Jardim América,

Cidade de Tupã, Estado de São Paulo.

CEP 17.605-310

Diretoria da ANAP

Presidente: Sandra Medina Benini Vice-Presidente: Allan Leon Casemiro da Silva 1ª Tesoureira – Maria Aparecida Alves Harada

2ª Tesoureira – Jefferson Moreira da Silva 1ª Secretária – Rosângela Parilha Casemiro

2ª Secretária – Elisângela Medina Benini

Índice para catálogo sistémico

Brasil: Geografia

Contato: (14) 3441-4945

[email protected]

D541e Educação ambiental em foco / Leonice Seolin Dias – Tupã:

ANAP, 2014.

182 - p; il. Color. 21,0 cm

ISBN 978-85-68242-04-9

1. Meio Ambiente 2. Práticas Ambientais 3. Conscientização Ambiental

I. Título.

CDD: 900 CDU: 911/47

Page 5: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

4 – Educação Ambiental em Foco

Conselho Editorial

Profª Drª Alba Regina Azevedo Arana

Profº Dr. Antonio Cezar Leal

Profª Drª Daniela de Souza Onça

Profº Dr. Edson Luís Piroli

Profº Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto

Profº Dr. João Cândido André da Silva Neto

Profº Dr. João Osvaldo Rodrigues Nunes

Profº Dr. José Carlos Ugeda Júnior

Profº Dr. Junior Ruiz Garcia

Profº Dr. Marcos Reigota

Profª Drª Maria Betânia Moreira Amador

Profª Drª Natacha Cíntia Regina Aleixo

Profº Dr. Paulo Cesar Rocha

Profº Dr. Rafael Montanhini Soares de Oliveira

Profª Drª Renata Ribeiro de Araújo

Profº Dr. Ricardo Augusto Felicio

Profº Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino

Profª Drª Rosa Maria Barilli Nogueira

Profª Drª Silvia Cantoia

Profª Drª Sônia Maria Marchiorato Carneiro

Page 6: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 5

SUMÁRIO

Apresentação

009

Prefácio

010

1º Capítulo

NA TRILHA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EMANCIPATÓRIA: PEGADAS

CONCEITUAIS E CLAREIRAS EXPERIENCIAIS

Rodrigo Simão Camacho

Alexandre Falcão de Araújo

017

2º Capítulo

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA VISÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS EM

FORMAÇÃO NO ESTADO DE RONDÔNIA

Reginaldo de Oliveira Nunes

Eduardo Monteiro

041

Page 7: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

6 – Educação Ambiental em Foco

3º Capítulo

A RELEVÂNCIA DE PRÁTICAS AMBIENTAIS EM ÁREA DE BACIA HIDROGRÁFICA

Milena dos Santos Silveira Silveira

Nelma Baldin

061

4º Capítulo

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MATERIAIS DIDÁTICOS

Eloiza Cristiane Torres

Ricardo Lopes Fonseca

092

5º Capítulo

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UM DESAFIO À POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Antonio Carlos de Miranda

Haroldo Pereira Gomes

Nilzete Ferreira

115

Page 8: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 7

6º Capítulo

EDUCAÇÃO AMBIENTAL – A INTERDISCIPLINARIDADE PARA MUDANÇAS DE

INTELECTO, HÁBITOS E COMPORTAMENTOS

Maurício Dias Marques

Lucas Seolin Dias

132

7º Capítulo

CONTRIBUIÇÃO DA PERCEPÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL À ÁREA DE USO

PÚBLICO DA FLORESTA ESTADUAL DE AVARÉ-SP

Salvador Carpi Junior

Amanda Cristina Alves Silva

Carlos Evaldo Linder

156

Page 9: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

8 – Educação Ambiental em Foco

APRESENTAÇÃO

Page 10: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 9

APRESENTAÇÃO

Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta diversas abordagens da

Educação Ambiental como estrutura básica de formação e contribuição para alcançar a sustentabilidade

ambiental no processo de desenvolvimento social.

Questões éticas, sociais e técnicas são tratadas sob a visão da contribuição da Educação Ambiental

para formação da conscientização da necessidade de mudanças.

A obra mostra resultados de experiências realizadas em educação ambiental, bem como traz um

conjunto de informações que podem ser úteis para se compreender o procedimento da educação ambiental

entre os indivíduos e os grupos sociais.

Espera-se que seu conteúdo seja útil para educadores e educandos, como reflexão de que há

necessidade de mutações internas e externas para uma interação social duradoura.

Tupã/SP, 2014.

Leonice

Page 11: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

10 – Educação Ambiental em Foco

PREFÁCIO

Page 12: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 11

PREFÁCIO

A questão ambiental não pode ser uma pergunta exclusiva dos ecologistas, dos ambientalistas ou dos

especialistas. No meio ambiente e onde vivem os seres humanos existe a necessidade de admitir os

problemas atuais em todas as esferas de nossa realidade. Mas isto não pode ser feito de um modo espontâneo.

Depende do conhecimento, reflexão e criação de uma percepção, uma consciência, um comportamento, em

síntese, de um imaginário ambiental. É preciso uma consciência nova, uma cultura simbólica nova, uma

espiritualidade nova. O caminho que é preciso pegar é longo e difícil. Exige criatividade e uma ética nova do

conhecimento que promova a construção de uma sociedade nova ambientalmente compatível.

A Educação Ambiental tem como propósito básico incorporar a cultura ambiental nas percepções,

comportamentos e nos imaginários das populações. A cultura ambiental está formada por três elementos

básicos: o saber, a ética e a capacidade de gestão ambiental. Dependendo das formas em que os componentes

da cultura ambiental são assumidos é que são construídas diversas visões da Educação Ambiental.

Pode-se falar de quatro concepções diferentes, concepções filosóficas e políticas na compreensão da

Educação Ambiental. Essas visões apoiam-se em certos modelos de educação que incluem o pensamento

sobre a função social da Educação:

Educação Ambiental Tecnicista: Esta concepção apoia-se em uma visão tecnocrática da

Educação. Prioriza as demandas profissionalizantes onde a Educação é visualizada como a transmissão de

conteúdos sistematizados. Compromete-se, deste modo, com a reprodução e conservação dos valores do

Page 13: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

12 – Educação Ambiental em Foco

sistema capitalista vigente, tendo laços estreitos com o aparato produtivo. Prevalece nesta visão uma

concepção pragmática e utilitária da Educação Ambiental.

Educação Ambiental Comportamental: Privilegia o instrumental comportamental

(“behavorista”) que estabelece uma relação direta entre a informação e a mudança do comportamento das

pessoas. Considera a fundamentação científico-técnológica como a chave da racionalidade ambiental que se

quer estabelecer. Pressupõe, deste modo, que os indivíduos corretamente informados das consequências

negativas dos seus atos e dominando os conceitos necessários das inter-relações entre a Sociedade e a

Natureza, estão prontos para transformar os hábitos e as atitudes.

Educação Ambiental Ética: Reivindica um posicionamento de ordem ética. Tem assim a ver com a

dimensão subjetiva dos indivíduos e da cultura. Normalmente considera que a chave da compreensão do

problema ambiental está no mundo da cultura, quer dizer, na totalidade da vida da sociedade. Exige, deste

modo, uma educação encaminhada para a mudança da sensibilidade dos seres humanos, perante a qual são

valorizadas a razão intuitiva, o imaginário e o ouvido poético das necessidades espirituais das pessoas.

Educação Ambiental Ético-Social: Enfatiza o papel da formação dos indivíduos, não apenas

entendendo educação formal como a aquisição de um amplo e dinâmico sistema de conhecimentos que

adquiririam só pela escola. Esta visão encaminha-se a formar os indivíduos críticos, capazes de entender o

mundo e a sociedade e de como transformá-la. Vê as raízes da crise ambiental na estrutura social que explica

as condições de formação e evolução do meio ambiente. É, deste modo, uma posição ético-filosófica, de

análise crítica do padrão da sociedade capitalista. A sociedade nova imagina-se politicamente como uma

sociedade socialista em harmonia com seu ambiente, baseada nos princípios de igualdade, democracia, sendo

Page 14: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 13

participativa e sustentável. Considera o Estado como organizador da sociedade junto com os movimentos

sociais. São privilegiadas as políticas sociais aceitando-se o planejamento regulado e o papel fundamental da

propriedade social. Esta variante da Educação Ambiental é propugnada pelos movimentos ecossocialistas.

O livro “A Educação Ambiental em Foco” é uma tentativa de exprimir diferentes experiências da

Educação Ambiental, desde uma perspectiva híbrida. Ainda que a maioria dos trabalhos não expressem a

vontade de uma mudança do regime político e a construção de uma sociedade socialista, todos têm uma visão

emancipatória, libertária e crítica do sistema capitalista. Mais que tudo, estão propondo formas concretas de

incorporar a sustentabilidade ambiental no processo de desenvolvimento, usando a Educação Ambiental como

a bússola fundamental. Os trabalhos apresentados são os seguintes:

“Na trilha da educação ambiental emancipatória: Pegadas conceituais e clareiras

experienciais”, de Rodrigo Simão Camacho e Alexandre Falcão de Araújo, que mostra as iniciativas de

resistência cultural e militância política. A partir do extremo leste da Cidade de São Paulo, no bairro de

Itaquera, irradiam-se as ações de um desses grupos, o coletivo Aliança Libertária Meio Ambiente - ALMA.

Atualmente o ALMA define-se como um coletivo sócio ambientalista e artístico que busca trabalhar com “as

diversas dimensões da Ecologia (Mental, Social e Natural), no intuito de sensibilizar e mobilizar as pessoas

para a transformação de seus valores e atitudes em sua atuação individual e coletiva.

“Educação ambiental na visão de professores indígenas em formação no estado de

Rondônia”, de Reginaldo de Oliveira Nunes e Eduardo Monteiro . O trabalho foi realizado com professores

indígenas em formação no curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural, Campus de Ji-Paraná,

Page 15: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

14 – Educação Ambiental em Foco

Rondônia, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). O curso de Licenciatura em Educação Básica

Intercultural vem de encontro com a necessidade de a Universidade contemplar, na sua pauta formativa,

cursos que tenham perfis e características próximas às demandas das populações tradicionais da Amazônia: os

povos indígenas, extrativistas, ribeirinhos e quilombolas. O curso tem como objetivo formar e habilitar

professores indígenas em Licenciatura Intercultural para lecionar nas escolas de Ensino Fundamental e Médio,

com vistas a atender a demanda das comunidades indígenas. Esses professores constituem verdadeiras

lideranças na construção de projetos de sustentabilidade ambiental nas comunidades do Estado de Rondônia.

“A relevância de práticas ambientais em área de bacia hidrográfica”, de Milena dos Santos

Silveira e Nelma Baldin. O trabalho desenvolve-se na Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte localizado

no município de Joinville, na região nordeste do Estado de Santa Catarina, Brasil. É a maior cidade do Estado,

com intensa atividade agrícola, mas com maior expressão na intensa atividade industrial nos vários segmentos.

Na bacia há conflitos pelo uso da água entre os diversos usuários, uma vez que seu consumo vem atingindo

níveis críticos. O objetivo geral da pesquisa esteve centrado na “percepção ambiental, principalmente em

relação à água, de professores de escolas municipais. Através da educação Ambiental, esse pessoal constitui

uma legião de lideranças fundamentais na tarefa da restrição dos conflitos ambientais pelo uso da água na

bacia.

“Educação ambiental e materiais didáticos”, de Eloiza Cristiane Torres e Ricardo Lopes

Fonseca. No trabalho apresentam-se materiais didáticos produzidos, visando subsidiar os trabalhos com

propostas simples de atividades que vão do público da educação infantil até o universitário. Discutem-se

materiais didáticos para a realização de jogos e brincadeiras, teatro, maquetes e produção de vídeos e blogs.

Page 16: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 15

“Educação ambiental: um desafio à política nacional de resíduos sólidos”, de Antonio Carlos

de Miranda, Haroldo Pereira Gomes e Nilzete Ferreira. Desenvolvem-se propostas de atividades e de

programas em educação ambiental adequados à problemática que envolve os resíduos sólidos. Discute-se a

visão local inserida na realidade e no cotidiano da comunidade, visando construir um diagnóstico dos seus

problemas socioambientais, permitindo compreender as suas causas e suas inter-relações com as outras áreas

do saber e o papel do estado no âmbito de responsabilidade e de legislação. Em seguida, sensibilizar e

desenvolver um processo ativo de mobilização da comunidade em torno dos problemas socioambientais,

visando estratégias, ações, atividades e soluções. O trabalho discute os instrumentos legais na questão de

resíduos sólidos na perspectiva da Educação Ambiental.

“Educação ambiental – a interdisciplinaridade para mudanças de intelecto, hábitos e

comportamentos”, de Mauricio Dias Marques e Lucas Seolin Dias. O artigo é uma revisão bibliográfica em

que se trata da interdisciplinaridade como condição essencial para promover uma Educação Ambiental eficaz,

que possa promover mudanças de intelecto, hábitos e comportamentos humanos, para uma convivência

sustentável. A pedagogia tradicional evoca uma carga de disciplinas fragmentadas e impostas ao ser humano,

considerando-o como tábua rasa e receptor passivo. A principal conclusão é que a construção do

conhecimento vai além do acúmulo de informações mentais, leva a mudança de hábitos, atitudes,

comportamentos, a um despertar de transformação no interior profundo do próprio ser, que se reflete em

sua sociabilidade.

Page 17: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

16 – Educação Ambiental em Foco

Finalmente “Contribuição da percepção e educação ambiental à área de uso público da

floresta estadual de Avaré-SP”, de Salvador Carpi Junior, Amanda Cristina Alves Silva e Carlos Evaldo

Linder. Trata do problema das unidades de conservação na periferia urbana, relacionado com a incapacidade

dos órgãos públicos de gerir as áreas verdes. O trabalho envolve o mapeamento participativo da percepção

das populações que vivem nessas localidades, enquanto instrumento de educação ambiental. Os resultados

das pesquisas permitem, não só contribuir a conhecer a percepção da população, mas também desenhar

estratégias de gestão ambiental e de prevenção de riscos, baseadas na percepção da população.

Em síntese, o livro “A Educação Ambiental em foco” é um texto articulado, que apresenta

experiências diversas realizadas no Brasil e encaminhadas no fundamento de construir uma Educação

Ambiental Híbrida. Essa perspectiva considera a articulação das questões éticas, sociais e técnicas, tendo

como elemento fundamental interpretar a educação desde uma matriz libertária, critica e emancipatória.

Essas experiências, sem dúvida, podem ser extrapoladas e usadas por diferentes comunidades, movimentos

sociais, grupos ambientalistas envolvidos na construção de experiências onde o domínio social e o foco

fundamental, tendo como base a apropriação social dos recursos e serviços ambientais.

La Habana, 2 de Outubro de 2014

José Manuel Mateo Rodríguez1

1 - Doctor en ciencias geográficas (Moscú, 1979), Doctor en Ciencias (La Habana, 2007), Profesor Titular Consultante de la Facultad de Geografía de la Universidad de La Habana, Académico Titular de Cuba e Presidente de la Sociedad Cubana de

Geografía.

Page 18: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 17

1º CAPÍTULO

NA TRILHA DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL EMANCIPATÓRIA:

PEGADAS CONCEITUAIS E

CLAREIRAS EXPERIENCIAIS

Page 19: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

18 – Educação Ambiental em Foco

NA TRILHA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EMANCIPATÓRIA:

PEGADAS CONCEITUAIS E CLAREIRAS EXPERIENCIAIS

Rodrigo Simão Camacho

Doutorando em Geografia pela FCT/Unesp, campus de Presidente Prudente, SP.

E-mail: [email protected]

Alexandre Falcão de Araújo

Mestre em Artes pelo IA/Unesp, campus de São Paulo; integrante do Coletivo Aliança Libertária Meio Ambiente - ALMA.

"Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo". (Paulo Freire). [...] é possível afirmar que, o potencial crítico e transformador da educação está no desvelamento da realidade, na ação política coletiva e na garantia da autonomia individual, na formulação de valores e pensamentos. [...]. (LOUREIRO, 2004, p.131).

Page 20: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 19

INTRODUÇÃO

Nossa discussão está relacionada com a reflexão acerca da intencionalidade da prática educativa,

tendo em vista que a educação como qualquer outra prática social, não é neutra. O ser humano como ser

sociopolítico produz ações com o objetivo de romper ou de reforçar o modelo socioeconômico vigente, por

isso tem a possibilidade de assumir uma postura contra a sociedade desigual que está em vigência e auxiliar

no seu processo de ruptura. Buscamos a possibilidade de construção de uma Educação Ambiental (EA)

emancipatória que desvele a realidade e construa valores antagônicos ao do capitalismo que tem

demonstrado sua relação de degradação com relação à natureza. Para isso, a intenção deste artigo é apontar,

de forma inicial, alguns caminhos de práxis educativa, a partir de reflexões teóricas e de um relato de

experiência concreta.

PEGADAS CONCEITUAIS: EDUCAÇÃO E EMANCIPAÇÃO

A educação é algo inerente à criação humana. Mistura-se com o processo de humanização. É uma

construção a partir do modo de vida dos grupos sociais, uma invenção da cultura desses grupos. Como afirma

Carlos Rodrigues Brandão: “a educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que

a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em sua sociedade [...]”. (1988, p. 10, grifo

nosso). Por isso, a educação, “[...] se instala dentro de um domínio propriamente humano de trocas: de

Page 21: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

20 – Educação Ambiental em Foco

símbolos, de intenções, de padrões de cultura e de relações de poder [...]”. (BRANDÃO, 1988, p. 14). A vida

se mistura com a educação. Em todos os espaços que interagimos participamos de um processo educativo.

Em casa, na rua, na igreja, na escola, nos movimentos sociais, nos coletivos artísticos, etc. Todos esses

espaços são espaços educativos. A educação é um elemento fundamental para sabermos, para fazermos, para

sermos ou para convivermos. Ela sempre existiu em diferentes formatos e intenções, de acordo com o modelo

de sociedade na qual foi engendrada. A educação existe mesmo sem escola ou sem organização social

complexa, em sociedades estratificadas ou sem divisão social do trabalho, em sociedades com Estado ou sem

Estado, onde existe um sistema de ensino formal ou onde a educação ocorre somente de maneira informal.

Todos os povos até hoje, independente do espaço-tempo em que viveram, sempre instituíram a sua própria

educação a partir de suas necessidades, a partir da realidade concreta vivida e que possibilitasse a satisfação de

suas necessidades materiais e simbólicas (BRANDÃO, 1988).

Todavia, um ponto relevante a se destacar é que vivemos em uma sociedade complexa, estratificada,

marcada pela divisão socioterritorial do trabalho, onde predomina o poder dos grandes grupos econômicos e

essas relações hegemônicas influenciam na construção de um sistema de educação formal. Na medida em

que temos uma sociedade de classes, com interesses divergentes, a educação pode servir para reproduzir a

desigualdade, ou pelo contrário, auxiliar no processo de transformação da realidade. A educação pode ser

usada de “cima para baixo”, pelas classes dominantes, como um recurso a mais de manutenção de sua

dominação. Por isso, faz-se necessário refletir sobre qual modelo de educação pretendemos construir, para

refletirmos qual modelo social queremos alcançar auxiliados por essa educação. A educação pode existir

livremente, produzida socialmente para o bem comum, a fim de socializar as crenças, as ideias e as

Page 22: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 21

aprendizagens, de maneira que todos participam do processo, sendo sujeitos dessa construção (CAMACHO,

2008; BRANDÃO, 1988).

A constituição de uma educação que se propõe transformadora tem entre seus pressupostos teórico-

metodológicos o materialismo histórico e dialético. De acordo com Karl Marx, o ser humano é um produto da

realidade social na qual se encontra e, portanto, da própria educação que emerge da mesma. Porém,

dialeticamente, o ser humano é também criador dessa realidade e dessa educação, portanto, agente ativo do

processo, sujeito de sua própria educação e não objeto dela. Logo, a educação é, ao mesmo tempo, reflexo e,

também, produtora/reprodutora da ordem social vigente. A educação não é apenas um espelho da sociedade e

também não é o único determinante social. Ela está, pois, em uma relação dialética entre reflexo e determinação,

sendo ao mesmo tempo produto e produtora/reprodutora da sociedade. Neste sentido, são os sujeitos sociais

que definirão a sua contribuição na transformação social, sujeitos esses ativos e históricos (CAMACHO, 2008).

Uma educação libertadora, assim como qualquer atividade humana transformadora de si mesma ou das

circunstâncias, tem que prescindir de uma prática revolucionária. Nas palavras de Karl Marx: “[...] a coincidência

da modificação das circunstâncias com a atividade humana ou alteração de si próprio só pode ser apreendida e

compreendida condicionalmente como práxis revolucionária [...]” (apud LOUREIRO, 2004, p. 89-90).

Na perspectiva da análise marxista temos duas formas distintas de visualizar a relação da educação

com o modo de produção capitalista. Temos a partir da vertente do materialismo estruturalista, vulgar e

mecanicista a afirmação de que o movimento da mudança do modelo socioeconômico vigente se faz

automaticamente a partir das próprias contradições do capitalismo. O capitalismo se aboliria por si próprio e

os sujeitos teriam uma participação subalterna nesse processo. Nesta concepção, a educação é determinada

Page 23: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

22 – Educação Ambiental em Foco

passivamente pelas estruturas econômicas vigentes e, por isso, não tem capacidade de auxiliar na

intervenção da realidade. No entanto, entendemos que a educação tem uma potencialidade emancipatória

quando concebemo-la no interior do movimento histórico. É possível constituirmos uma práxis educativa

crítica e transformadora na medida em que esta interage diretamente com outras dimensões da vida social

como a família, a comunidade, os movimentos sociais, os sindicatos, os partidos etc. Temos que ter

consciência do limite revolucionário que tem a educação, saindo do idealismo simplista e ingênuo, mas não

podemos admitir fatalmente a sua passividade diante das estruturas econômicas hegemônicas, negando a

práxis dos sujeitos históricos (LOUREIRO, 2004; CAMACHO, 2008).

Segundo Moacir Gadotti (1981), na concepção de Paulo Freire, estavam incorretas as duas análises

extremistas. A primeira é a ingenuidade e o idealismo pedagógico que compreende que a educação é a

principal propulsora da emancipação das camadas subalternas. A segunda é a análise sociológica mecanicista-

pessimista que entende que a educação é reprodutora mecânica da sociedade, negando o movimento

histórico e a ação transformadora dos sujeitos. Numa leitura mecanicista, o poder estrutural econômico

comanda de forma absoluta a realidade, não havendo possibilidade de construção de uma educação dialética-

dialógica que afirme os sujeitos como agentes da mudança.

Se partirmos do pressuposto de que a sociedade é dinâmica e contraditória, as possibilidades de

transformação estão abertas. A superação da ordem social vigente só poderá ser alcançada na medida em

que os indivíduos conseguirem entender-se enquanto sujeitos históricos. A educação tem um papel

fundamental nesse processo, o de oferecer condições para que os educandos possam refletir e repensar a

realidade na perspectiva da luta de classes. O entendimento das estratégias dos opressores é uma das

Page 24: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 23

funções a ser cumprida por uma educação libertadora. A educação participa do processo de transformação

social de forma indireta, isto quer dizer que ela atua junto à consciência dos indivíduos, para que reconheçam

as contradições presentes na sociedade, instrumentalizando-os a pensarem formas concretas de superação

dessas contradições. Partindo do pressuposto de que refletir acerca da educação é refletir sobre os próprios

indivíduos, podemos dizer que a educação auxilia no processo de transformação dos indivíduos. São estes

que, por sua vez, desenvolverão as condições concretas da transformação social (VIEIRA, 2004; CAMACHO,

2008).

Uma educação para emancipação é aquela que, sem neutralidade, expõe que a sociedade é formada

por classes sociais distintas, com interesses antagônicos e com práticas sociais diferenciadas. A práxis

educativa transformadora é constituída a partir da conflitualidade existente na sociedade capitalista devido à

apropriação material e imaterial desigual feita pelas classes sociais dominantes. Significa construir uma prática

educativa a partir da realidade cotidiana dos sujeitos das classes subalternas, com base nas suas necessidades

e vontades, fornecendo as condições fundamentais para a ação das classes/grupos sociais subalternos a fim de

romper com as relações de dominação e exclusão que caracterizam o modo de produção capitalista em suas

escalas local e global (CAMACHO, 2008; LOUREIRO, 2004).

A educação emancipadora que busca romper com a ordem vigente necessita recriar valores e

conceitos científicos que foram concebidos sob a ótica da dominação (OLIVEIRA, 1994). Para István

Mészarós a educação cumpre duas funções fundamentais para auxiliar na construção de outra ordem social

metabólica antagônica ao capitalismo. A primeira função é auxiliar na criação de estratégias adequadas para a

mudança. A segunda função diz respeito ao processo de constituição de uma consciência emancipatória por

Page 25: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

24 – Educação Ambiental em Foco

parte dos indivíduos. Em suas palavras, a educação cumpre um papel soberano “[...] tanto para a elaboração

de estratégias apropriadas e adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução, como para a

automudança consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação de uma ordem social metabólica

radicalmente diferente”. (2005, p. 66, grifo do autor).

Para Karl Marx e Friedrich Engels a libertação é um ato histórico concreto e não um ato do

pensamento. Ela depende de condições históricas concretas construídas no intercâmbio do ser humano com

a natureza. Neste sentido, o conceito de emancipação é essencial para um modelo de educação que

considere a possibilidade de construção uma contra-hegemonia no que concerne a relação sociedade-

natureza em sua totalidade, constituindo-se, assim, como uma Educação Ambiental Emancipatória. Ela deve

ser entendida como a possibilidade de libertação do ser humano do cativeiro do sistema educacional atrelado

à lógica do capital. A EA que traz uma perspectiva emancipatória promove o enfrentamento da ideologia

dominante, que está pautada numa concepção burguesa de cidadania. A cidadania burguesa está relacionada à

inclusão dos sujeitos no mercado consumidor. A inclusão ao mercado por meio de políticas paliativas não

pode levar à emancipação, pois não destrói a opressão. A emancipação deve ser uma bandeira a ser

defendida no atual contexto histórico no qual o pensamento único determinou o fim da história, das

ideologias e das utopias. O sentido do conceito de emancipação proposto está atrelado à formação de uma

nova cultura política, em que os sujeitos sejam protagonistas de ações de rebeldia e de indignação, a fim de

romper com a barbárie moderna do capitalismo. Por isso, precisamos romper com o neoliberalismo, que é

pautado em uma racionalidade desumana. A emancipação é o oposto de regulação, da mesma forma que a

consciência emancipada é o oposto da consciência coisificada. A regulação é uma ação hegemônica das

Page 26: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 25

classes dominantes, que produz consciências coisificadas. A emancipação é uma ação contra-hegemônica

(GRAMSCI, 1982) das classes subalternas que pode ser engendrada, por exemplo, pela ação dos movimentos

sociais que geram nesse processo consciências emancipadas. Precisamos substituir as consciências coisificadas

pelas consciências emancipadas. Pensar o processo emancipatório para os grupos sociais historicamente

marginalizados significa gerar outro processo que rompa com a barbárie do capitalismo (NASCIMENTO,

2011).

Significa para a EA por em prática a pedagogia libertadora de Paulo Freire, para quem o principal

objetivo da emancipação é o compromisso que se orienta no sentido da transformação de qualquer situação

objetiva na qual o homem concreto esteja impedido de Ser Mais (FREIRE, 1983). Dessa forma, concebemos

que a educação é uma totalidade, isto é, uma “síntese de múltiplas determinações”. Ela tem que se propor a

compreender essas determinações para intervir nelas, buscar a realização plena do homem

(omnilateralidade), ou seja, libertá-lo. A educação é, então, pensada numa perspectiva transformadora da

realidade. Esta faz oposição à educação conservadora, que serve de instrumento para as classes dominantes

legitimarem e perpetuarem os seus privilégios de classe, difundindo sua ideologia para o restante da

sociedade. A escola pode ter, assim, duas funções contraditórias: conservar ou minar as estruturas

capitalistas. É a partir da crítica à educação burguesa que surge uma concepção de educação emancipatória.

Então, a educação torna-se instrumento de luta da classe oprimida e o lugar de uma contra-hegemonia

(GADOTTI, 2000).

A educação alcança seus objetivos emancipatórios na medida em que possibilita a construção da

consciência crítica que dá autonomia ao indivíduo de ler a realidade para além do discurso ideológico

Page 27: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

26 – Educação Ambiental em Foco

dominante. Forma, assim, valores e pensamentos que são antagônicos ao modo de viver e de entender a

realidade do ponto de vista hegemônico do capital. Fundamenta com isto a opção política pela construção

coletiva de alternativas para a oposição à lógica excludente do modo de produção capitalista cujo sentido

emancipatório se concretiza como sendo uma mutação integral do ser humano e das condições objetivas de

sua existência (LOUREIRO, 2004). Dessa forma, não podemos desconsiderar o caráter emancipatório que

está presente em algumas propostas de arte-educação conduzidas por grupos artísticos, na medida em que

estes dialogam com ou atuam como movimentos sociais, preocupados com problemas coletivos e lutando

pela transformação social.

Para István Mészáros, a construção de uma realidade para além do capital não é uma hipótese

idealista, mas possui um sentido concreto baseado na criação de outra ordem metabólica societária

antagônica ao capitalismo. Em suas palavras: “o conceito para além do capital é inerentemente concreto. Ele

tem em vista a realização de uma ordem social metabólica que sustente concretamente a si própria [...]”.

(2005, p. 62, grifo do autor). A justificativa fundamental para descartarmos qualquer possibilidade de fazer

alguns ajustes no capitalismo sem precisar romper com o mesmo é o fato de a lógica do capital ser

irreformável devido à sua própria natureza tratar-se de uma totalidade reguladora sistêmica incontrolável e

incorrigível (MÉSZÁROS, 2005), pois sua lógica de reprodução tem como essência a concentração e

acumulação individual da riqueza produzida socialmente. Como explica István Mészáros, “[...] o sistema do

capital é – e deve sempre permanecer – irreformável e incontrolável [...]”. (2007, p. 59, grifo do autor).

Concordamos com Carlos Frederico Loureiro (2004) que as contradições internas do capitalismo, as

suas implicações acerca da coisificação da vida e a alienação humana, demonstram a possibilidade e a

Page 28: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 27

necessidade histórica de superação do sistema capitalista. Por isso, a sustentabilidade e a cidadania somente

poderão ser alcançadas plenamente com a ruptura do modo de produção capitalista para a construção de

outro sistema que possa conter uma relação sociedade–natureza mais equilibrada e que supere a

alienação/estranhamento/coisificação, características do modo de produção capitalista. Enquanto houver o

capitalismo como modo de produção vigente, existirá a lógica da exploração direta do trabalho pelo capital

ou da subordinação da renda ao capital (CAMACHO, 2008).

Sendo assim, a lógica antagônica é clara e, portanto, não há possibilidades de se construírem

mudanças em “parcerias” com o capital. A intensificação da exploração é o “pano de fundo” de todas as

mudanças dos padrões de acumulação do capitalismo. Exploração essa tanto da natureza (externa ao ser

humano) quanto do ser humano. E essa exploração tende a ser sempre intensificada mesmo com uma

iminente devastação ambiental e degradação humana (MÉSZÁROS, 2007).

Retomando as reflexões acerca da regulação como princípio antagônico à emancipação, Boaventura

de Sousa Santos (1999), a partir da crítica ao paradigma da modernidade, destaca a necessidade de

desenvolvermos ações de acordo com outros princípios que não os da racionalidade lógico-instrumental (da

ciência e da técnica). Dentre as alternativas, o autor destaca a racionalidade estético-expressiva (das artes),

base do relato experiencial trazido a seguir.

Page 29: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

28 – Educação Ambiental em Foco

CLAREIRAS PRÁXICAS: A EXPERIÊNCIA DO COLETIVO ALMA

Após termos indicado as pegadas conceituais que nos conduzem na trilha de uma EA emancipatória,

apresentaremos apontamentos de uma experiência que se aproxima do debate anteriormente realizado e

busca criar alternativas de educação nas “brechas” do modelo hegemônico.

Em todo o Brasil, no campo das artes, notadamente do teatro, diversos coletivos1 vêm sendo

propulsores de iniciativas de resistência cultural e militância política. A partir do extremo leste da Cidade de

São Paulo, no bairro de Itaquera, irradiam-se as ações de um desses grupos, o coletivo Aliança Libertária

Meio Ambiente - ALMA. Este grupo surgiu em 2003, formado por jovens moradores do conjunto

habitacional (COHAB) José Bonifácio, preocupados com a questão dos resíduos e da condição de vida dos

catadores de materiais recicláveis. A linguagem teatral foi descoberta como um meio de expressar a realidade

e buscar um diálogo com a comunidade sobre as questões socioambientais que emergiam da vida cotidiana,

buscando a transformação das condições de vida dos catadores e dos moradores em geral2.

Atualmente o ALMA define-se como um coletivo socioambientalista e artístico que busca trabalhar

com “as diversas dimensões da Ecologia (Mental, Social e Natural), no intuito de sensibilizar e mobilizar as

pessoas para a transformação de seus valores e atitudes em sua atuação individual e coletiva” (ALMA, 2011).

A proposição socioambientalista diz respeito a uma

[...] perspectiva a partir da qual se compreende que as lutas ambiental e social são complementares e devem ocorrer de modo associado, por se tratarem de fenômenos articulados numa mesma causa: a crise do paradigma da modernidade, onde a exploração dos recursos naturais, assim como a

1. Coletivos artísticos são

agrupamentos de pessoas em

torno de uma ou mais linguagens

artísticas, que, em grande parte. 2. Além dos trechos

devidamente referenciados, a

principal base para este relato é

a dissertação de mestrado de

Alexandre Falcão de Araújo

(2013).

Page 30: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 29

exploração dos seres humanos, põe em risco a existência das populações e dos ecossistemas (ALMA, 2011).

O grupo praticamente foi fundado a partir da criação do espetáculo teatral infantojuvenil Antes que a

Terra fuja - uma fábula livremente inspirada no livro homônimo de Julieta de Godoy Ladeira (1996). Criado de

forma integrada à geografia e à identidade do Conjunto José Bonifácio, o trabalho caracterizou-se como um

teatro itinerante, feito nos pátios dos conjuntos habitacionais populares da região, desafiando os limites entre o

público e o privado: um Teatro de Cohab, “onde o cortejo de atores se infiltra no espaço coletivo familiar e

transforma o morador debruçado na janela em público, o espaço cotidiano em espaço teatral, a soleira da porta

do apartamento em boca de cena” (ALMA, 2010).

Page 31: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

30 – Educação Ambiental em Foco

Foto 1. Espetáculo Antes que a Terra Fuja, em apresentação em prédio do Conjunto José Bonifácio, Itaquera, São Paulo, SP (2006).

Fonte: FALCÃO, Alexandre (2006)

Page 32: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 31

A apresentação teatral fazia parte de um processo de ação pedagógica e intervenção socioambiental

mais amplo, que tinha início com o estabelecimento de parcerias com os prédios da Cohab, por meio de seus

síndicos ou grupos gestores e passava pelo agendamento de dias de atividades nos prédios. As atividades

envolviam visita porta a porta nos apartamentos, apresentação da peça teatral, realização de oficina de

construção de brinquedos a partir de materiais reutilizados (dirigida ao público infantil) e um diálogo com os

jovens e adultos sobre as questões socioambientais, focado na problemática do lixo e na implantação da

coleta seletiva.

Apresentado mais de 90 vezes, entre 2004 e 2009, para um público estimado em 7000 pessoas, o

Antes que a Terra fuja começou sua circulação pelos prédios onde os jovens fundadores do grupo moravam e

significou para eles, inicialmente, um processo de encarar a própria realidade, enfrentar os problemas que

existiam nos locais de moradia e assumir que eles podiam fazer alguma coisa para transformar aquela

situação.

A estrutura da fábula - já bastante alterada em relação ao livro que é base da inspiração inicial - traz

como protagonista a Mãe Terra, que está muito nervosa com os seres humanos, pois eles jogam muito lixo

nela, desmatam as áreas verdes e não respeitam uns aos outros. Por isso, ela decide fugir do sistema solar,

mas os demais planetas tentam convencê-la a ficar e dar mais uma chance para os seres humanos. Em meio à

história surge no prédio (local de apresentação) um catador de recicláveis e os planetas observam e

comentam as relações que se estabelecem entre o catador e os moradores (ficcionais e reais) do prédio.

O conflito central da peça - o desejo de fuga da Terra - permite levantarmos reflexões em torno do

discurso ambientalista apresentado pelo grupo. Um dos riscos deste discurso seria a visão dicotômica de

Page 33: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

32 – Educação Ambiental em Foco

natureza dissociada da sociedade. Porém, o discurso do espetáculo não se encerra com a afirmação de um ser

humano universal e homogêneo, que em suas atitudes estaria “prejudicando a Natureza”. Ao longo do tempo,

o trabalho foi amadurecendo e o discurso do grupo foi se transformando, saindo de uma visão romântica para

considerar a complexidade das questões socioambientais. Um dos destaques nesse sentido é a figura do

Catador, que acrescenta novos conflitos à estrutura dramatúrgica, por meio dos quais a afirmação do ser

humano homogêneo e supostamente prejudicial à natureza é contraposta, abrindo espaço para novos

questionamentos e reflexões.

O amadurecimento da perspectiva política do coletivo ALMA ocorreu de forma concomitante às

mudanças no espetáculo do qual o grupo é originário e - deu-se em função do embate concreto com a

realidade. O caráter de certa forma moralizante, de transmissão de “mensagem” que havia na peça, foi sendo

substituído, na medida em que as certezas quanto às formas de militância socioambiental foram se desfazendo,

pois a complexidade do cotidiano de lutas mostrava-se maior do que a imaginada inicialmente. Um resultado

dessa práxis pode ser vista na transformação da relação entre os personagens Catador e Morador na obra

teatral em questão. Inicialmente, havia uma polaridade praticamente maniqueísta entre os dois, já nas versões

mais recentes da peça, o dualismo é quebrado, surge mais de um morador em cena, há moradores que

“ajudam” o catador (dão comida, têm dó, compadecem-se), há moradores que o ofendem, a violência está

presente entre os moradores e também entre catador e moradores, indicando uma perspectiva dialética.

Além das cenas com o Catador, vale citar, entre outras, a cena da venda dos produtos, que levanta

críticas à sociedade do consumo e à indústria publicitária. Nela, os planetas dançam em passos coreografados

Page 34: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 33

enquanto fazem estranhos anúncios de produtos, de forma a denunciar o caráter fetichista da propaganda do

contexto da indústria cultural:

LUA (tirando um sarro, repetindo frases de propagandas): Eu sou uma embalagem de biscoito, o biscoito mesmo está lá dentro e não tem nada de especial, mas eu, A EMBALAGEM, sou o máximo! MARTE: Brilhante, colorida, dá água na boca só de ver a embalagem! Ela é a mais atraente de todas, você não pode viver sem ela! SATURNO: A sua vida está uma droga? Você está se sentindo triste solitário? Pois agora chegou o novo hipermegablaster celular! LUA: Você não tem o que fazer? Compre-me! (ALMA, 2009).

Nesse trecho da peça, por meio de linguagem simples, é possível abordar aspectos da sociedade de

consumo a partir de uma ótica influenciada pela análise marxista do fetiche da mercadoria. A alegria histérica

dos planetas-vendedores entra em contradição com a perversidade do texto dito pelos mesmos e explicita o

vazio existencial que gera a compulsão pelo consumo. O efeito cômico da cena permite ao público

reconhecer as propagandas promovidas pelos planetas, estranhar suas próprias atitudes cotidianas de

consumo e quiçá refletir acerca dos motivos que os levam a consumir.

É importante ressaltar, porém, que o enfrentamento do sistema produtivo capitalista e seu correlato

padrão de consumo não podem passar apenas por mudanças comportamentais na esfera individual, a

mudança do padrão de consumo implica ações coletivas. A cena da venda dos produtos, de certa forma,

mantém em primeiro plano a crítica às escolhas individuais de consumo, busca desvelar a sedução e

manipulação promovidas pela indústria publicitária e, assim, denunciar a perversidade do sistema produtivo.

Nesse sentido, a cena e o espetáculo como um todo não chegam a apontar de maneira contundente

Page 35: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

34 – Educação Ambiental em Foco

estratégias coletivas de enfrentamento do status quo, porém, considerando o público ao qual o espetáculo se

destina e a continuidade do processo pedagógico realizado após as apresentações (que aponta para formas de

organização comunitária), acreditamos que este é o limite possível no âmbito da encenação. A complexidade

da questão e a relativa fragilidade das formas de enfrentamento em pauta na atualidade tornam muito difíceis

outros aprofundamentos da temática no contexto de um espetáculo teatral infanto juvenil. De qualquer

forma, o espetáculo Antes que a Terra fuja ultrapassa o discurso ecológico conservador e promove a crítica,

dentro dos limites objetivos e subjetivos existentes, ao sistema produtivo capitalista, como gerador da

desigualdade social e da degradação ambiental.

Na continuidade do processo pedagógico, as oficinas permitiam ao público formar novas camadas de

significado, superando a relação de simples espectadores em exercício de fruição artística. Assim como a

apresentação, as oficinas se valiam dos escassos espaços de convivência disponíveis nos prédios, entre eles:

estacionamentos, garagens, lajes e, mais raramente, áreas verdes e de lazer.

O mote do trabalho com as crianças era a confecção de brinquedos a partir de materiais

reutilizáveis, por exemplo, transformar papel jornal e retalhos em bonecos. A intenção era transformar

qualquer material em brinquedo e estimular que a criança fizesse isso com suas próprias mãos, sem esperar

receber um brinquedo pronto. A atividade com brinquedos, além de ser uma atividade muito significativa na

infância, por desenvolver diversas habilidades motoras e envolver afetividade - na medida em que a criança

cria uma relação concreta e subjetiva com o brinquedo - serve ainda de mote para refletir sobre os materiais

descartados em nossa sociedade e o padrão de produção e consumo que geram essa quantidade imensa de

lixo.

Page 36: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 35

Enquanto as crianças confeccionavam seus brinquedos, os jovens e adultos eram convidados a

participar de uma roda de conversa acerca do tema “Lixo, de onde vem, pra onde vai?”, em que os atores

apresentavam a proposta de implantação da coleta seletiva solidária no prédio. O viés solidário da coleta

seletiva dizia respeito à doação dos materiais, que seriam destinados a uma cooperativa de catadores parceira

do grupo, a Cruffi – Cooperativa de reciclagem União Faz a Força de Itaquera. Justamente em relação ao

tema coleta seletiva que grande parte das contradições da crise socioambiental contemporânea se

explicitaram no desenrolar das atividades. A ação cultural do coletivo ALMA era, em grande medida, uma

ferramenta a serviço da militância socioambiental e, por isso, na perspectiva dos integrantes, era necessário

não apenas fazer teatro, mas também colaborar com o fortalecimento das cooperativas de catadores de

materiais recicláveis. Porém, tal proposição era relativamente ingênua, pois a situação de trabalho dos

catadores, quer individualmente ou organizados em cooperativas, dependia de muitos outros fatores que

fugiam ao controle do grupo; as relações com órgãos públicos, mercado de reciclagem, além de fatores

ligados à saúde física e mental dos catadores formam uma teia de relações complexas, que não seriam

enfrentadas apenas com a ação educativa junto a uma parcela dos moradores do bairro.

Com a crise do mercado de reciclagem e a falta de políticas públicas de apoio em sucessivas gestões

municipais3, a Cruffi, principal cooperativa parceira do grupo, faliu e a situação da coleta nos prédios tornou-

se precária. Como tampouco havia (e ainda não há) na região um serviço de qualidade de recolhimento de

materiais recicláveis por parte da empresa que tem a concessão pública para coleta de resíduos sólidos,

grande parte dos esforços pela implantação concreta da coleta seletiva nos prédios não se concretizou. A

falácia da sustentabilidade comercial no campo da reciclagem foi tornando-se mais evidente e o grupo foi

3 - Entre 2008 e 2009 a crise

econômica mundial derrubou

os preços no mercado de

reciclagem, causando grande

impacto nas cooperativas de

catadores. Além disso,

segundo relatos de

cooperados da Cruffi, no

início dos anos 2000 houve

estímulo oriundo do poder

público municipal para a

formação de cooperativas de

catadores, no entanto, não

houve continuidade de apoio

suficiente para que as

mesmas se estruturassem e

pudessem realizar a coleta

seletiva de forma

economicamente viável.

Assim, sem uma

infraestrutura mínima, como

veículos para coleta, esteira,

balança e outros

equipamentos, somada a

dificuldades de gestão,

muitas cooperativas tiveram

de fechar suas portas.

Page 37: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

36 – Educação Ambiental em Foco

tomando maior consciência da perversidade do sistema capitalista e das dificuldades em se implantar

mudanças concretas dentro do atual contexto. Tal percepção é parte de um aprendizado crítico processual,

que não desmerece os resultados do processo educativo. Por isso, em 2007, os integrantes do coletivo

ALMA apresentavam a seguinte reflexão:

[...] Acreditamos que um dos principais resultados positivos que obtivemos foi o de radicalizar a prática de levar as artes à comunidade, onde essa comunidade não se restringe aos espaços culturais da periferia, mas vai até a morada das pessoas, leva a arte para dentro dos condomínios da COHAB [...]. Essa ação buscou também desmistificar o teatro para a população da COHAB II e aproximar as pessoas da arte crítica, tentando superar o senso comum da arte massificada da televisão, mera marionete do capital. [...] Acreditamos ter pincelado cores nos sentidos de existir da comunidade, no imaginário dos moradores da COHAB e em nós mesmos, trazendo outro olhar sobre o bairro, um olhar subjetivo, rico em sonhos e possibilidades, para além do concreto e da monotonia crônica que grita à nossa vista. (ALMA, 2007, p.3-4).

O grupo admite a dificuldade em dar continuidade ao processo educativo e em enxergar em curto

prazo os resultados pedagógicos de suas ações, haja vista que a educação é multideterminada e seus

resultados são subjetivos e mais visíveis em médio e longo prazo. Mas, propõe

[...] enxergar além, no sentido da continuidade da história, da complexidade da vida. O retorno que tivemos de nosso trabalho considera também a quantidade expressiva de público, mas leva em consideração os abraços recebidos, os agradecimentos, a participação de cada criança com uma risada ou de cada jovem com uma opinião e ainda, aquela participação silenciosa do sujeito crítico que, tocado pelo espetáculo, não se manifesta a princípio, mas deixa inconscientemente que os ecos de nossas palavras e de nossas imagens reverberem em seu interior (ALMA, 2007, p. 5).

Page 38: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 37

Um exemplo desta afirmação de continuidade é materializada na cena final do Antes que a Terra

fuja, que consiste, na verdade, em um convite ao público para realizar uma ciranda combativa, contra o

conformismo e a inércia. O espetáculo se encerra com um chamamento, que assume as inúmeras

dificuldades da luta cotidiana, mas canta para superar o abatimento e a amargura e reafirma, em grupo e em

roda, a proposição de que é possível construir outra sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista que o processo educativo não é neutro, há necessidade de a educação cumprir seu

papel de formação de uma consciência crítica, de que nos fala Paulo Freire. Nossa busca é por uma prática

educativa não mais reprodutivista e domesticadora, atrelada ao poder dominante, mas uma ação

revolucionária/humanizadora/libertadora, que permita a reflexão crítica sobre a realidade de maneira que o

indivíduo possa atuar como um ser ativo no processo de criação/recriação desta realidade. É função de uma

EA Emancipatória orientar um posicionamento político que instrumentalize os sujeitos para a leitura crítica da

realidade, para que os indivíduos se entendam enquanto seres históricos capazes de

interpretar/questionar/transformar a realidade.

No caso específico da experiência educativa do coletivo ALMA, um dos grandes desafios é a

manutenção da consciência crítica e a garantia da sobrevivência material dos integrantes, sem abrir mão da

militância e da esperança de que é possível transformar a realidade. As transformações mais visíveis e

concretas são as que se dão no âmbito comunitário, nas relações interpessoais e no cotidiano do grupo, mas,

Page 39: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

38 – Educação Ambiental em Foco

nem por isso, elas são menos difíceis ou menos importantes. Afinal, o grupo foi estabelecendo

processualmente vínculos afetivos, políticos e estéticos com a comunidade.

Nos cruzamentos das trilhas da vida militante, a máxima ambientalista “pensar global, agir local”

mantém seu sentido, na medida em que nos sentimos alijados das condições radicais de participação e

transformação em escala macropolítica. Logo são as esferas micropolítica e regional que estão mais ao

alcance das utopias contemporâneas. A pertinência e legitimidade das proposições educativas críticas se

fortalece em articulação com as lutas dos movimentos sociais e com a disputa no campo das políticas

públicas, porém as formas de participação mais ampla na vida pública do país e do mundo estão nubladas,

menos evidentes do que estiveram outrora e uma educação militante, que se pretende emancipatória,

precisa encarar a superação dialética das tentativas de cooptação por parte dos órgãos públicos e iniciativa

privada, além de ter que garantir sua sustentabilidade material imediata.

O relato de experiência aqui brevemente apresentado não tem a intenção de ser cristalizado como

modelo a ser seguido. Essa experiência acontece e se reproduz contraditória e continuamente em um

contexto determinado, com pessoas e situações específicas, mas pode apontar caminhos de ação possíveis, que

assumam o olhar utópico e a insistência no processo de aprendizagem. O trajeto é infinito e nele buscamos

pistas para as transformações complexas e, reiterando, multideterminadas, das quais somos parte, das quais

somos sujeitos e objetos, com nossa influência local, restrita, mas que também se propaga em rede pelo

mundo. Acreditando no curso inexorável da história, sentimo-nos corresponsáveis por estas transformações

que são, afinal, imprescindíveis para nós, para nossa construção ontológica e para as pessoas com as quais nos

relacionamos.

Page 40: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 39

Desta forma, consideramos que a prática arte-educativa e ambientalista do coletivo ALMA interage

com a consciência dos indivíduos para a automudança consciente, auxiliando na substituição das consciências

coisificadas pelas consciências emancipadas, sendo, portanto, uma experiência concreta que caminha no

sentido da EA emancipatória.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARAÚJO, Alexandre Falcão de. O teatro político de rua praticado pelos coletivos ALMA e Dolores: estéticas de combate e semeadura. 2013. 183 f. Dissertação (Mestrado em Artes) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, São Paulo, 2013. ALIANÇA LIBERTÁRIA MEIO AMBIENTE – ALMA. Estatuto Social. Aprovado em 06.02.2011. ________. Projeto Ritos de rios e ruas. São Paulo, 2010. ________. Antes que a Terra fuja. Texto do espetáculo. São Paulo, 2009. ________. Relatório final de desenvolvimento do projeto Ação Recicla COHAB. Relatório apresentado ao Programa VAI. São Paulo, 2007. BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. 22. ed. São Paulo: Brasiliense, 1988. (Primeiros Passos, 20). CAMACHO, Rodrigo Simão. O ensino da geografia e a questão agrária nas séries iniciais do ensino fundamental. 2008. 462 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Aquidauana, 2008. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio Janeiro: Paz e Terra, 1983.

Page 41: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

40 – Educação Ambiental em Foco

GADOTTI, Moacir. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. 11. ed. São Paulo: Cortez, 2000. ______. Educação e ordem classista. In: FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 4. ed. Rio Janeiro: Paz e Terra, 1981. p. 9-14. LADEIRA, Julieta de Godoy. Antes que a Terra fuja: uma história pela limpeza do meio ambiente. São Paulo: Moderna, 1996. LOUREIRO, Carlos Frederico B. Por uma educação ambiental transformadora. In: ______. Trajetórias e fundamentos da educação ambiental. São Paulo: Cortez, 2004. p. 89-133. GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. Tradução de Isa Tavares. São Paulo: Boitempo, 2005. ______. O desafio e o fardo do tempo histórico: o socialismo no século XXI. Tradução de Ana Cotrim. São Paulo: Boitempo, 2007. (Mundo do Trabalho). NASCIMENTO, Claudemiro Godoy do. Educação do campo na encruzilhada entre emancipação versus reino do capital: uma leitura filosófica. Revista NERA, Presidente Prudente: Unesp, ano 14, n. 18, p. 106-124, jan./jun. 2011. OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. Educação e ensino de geografia na realidade brasileira. In: ______ (Org.). Para onde vai o ensino da geografia? .4. ed. São Paulo: Pinski, 1994. p. 135-144. SANTOS, Boaventura de Sousa. Pela mão de Alice: o social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez, 1999. VIEIRA, Noemia Ramos. O conhecimento geográfico veiculado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais de geografia e o espaço agrário brasileiro: reflexões para uma geografia crítica em sala de aula. Revista Nera, Presidente Prudente: Unesp, ano7, n. 4, p. 29-41, jan./ jul. 2004.

Page 42: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 41

2º CAPÍTULO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA

VISÃO DE PROFESSORES

INDÍGENAS EM FORMAÇÃO NO

ESTADO DE RONDÔNIA

Page 43: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

42 – Educação Ambiental em Foco

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA VISÃO DE PROFESSORES INDÍGENAS

EM FORMAÇÃO NO ESTADO DE RONDÔNIA

Reginaldo de Oliveira Nunes

Professor da Universidade Federal de Rondônia, Departamento de Educação Intercultural, Campus de Ji-Paraná, Rondônia. E-mail:

[email protected]

Eduardo Monteiro

Graduando em Tecnologia em Segurança do Trabalho. Universidade do Norte do Paraná (UNOPAR).

E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

Educação vem do vocabulário latino educere. Significa conduzir, liderar, puxar para fora. Baseia-se na

ideia de que todos os seres humanos nascem com o mesmo potencial, que deve ser desenvolvido no

decorrer da vida (PHILIPPI JR et al., 2004). O papel do educador é, portanto, criar condições para que isso

Page 44: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 43

ocorra, criar situações que levem ao desenvolvimento desse potencial, que estimulem as pessoas a

crescerem cada vez mais.

Esse criar condições pode ser observado, quando Paulo Freire cita que: “ninguém educa ninguém,

ninguém conscientiza ninguém, ninguém se educa sozinho” (apud GADOTTI, 2006). Isso significa que a

educação, dependendo de adesão voluntária, depende de quem a incorpora e não de quem a propõe. Com o

desenvolvimento da sociedade da informação, a educação deve possibilitar a todos o acesso a diferentes

dados, permitindo recolher, selecionar, ordenar, gerir e utilizá-los bem como atualizar os conhecimentos

sempre que necessário. Essas ideias foram consideradas como utopia necessária, capaz de fazer surgir uma

nova forma de pensar a sociedade, um novo projeto de vida para a coletividade.

Assim, Gadotti (2006), aborda que a reorientação da educação a partir do princípio da

sustentabilidade significa retomar a educação em sua totalidade, implicando uma revisão no que se refere aos

currículos e programas, sistemas educacionais, bem como o papel exercido pela escola e pelos professores

nesse processo de educar. Segundo o mesmo autor, aprender é muito mais que compreender e conceituar, é

querer, compartilhar, dar sentido, interpretar, expressar e viver.

Neste sentido, a Educação Ambiental, tende a proporcionar aos alunos, a realização de práticas

pedagógicas através de ações orientadas, que implicarão em mudanças em sua realidade local de forma

contextualizada. Esse desenvolvimento de ações é contínuo, no entanto, ele é mais intenso na infância. Isso

não significa que os adultos não possam se educar nas diferentes fases da vida, pois a curiosidade leva o ser

humano a conhecer sempre. Todas as pessoas têm a capacidade de incorporar novas ideias e agir em função

daquilo em que acreditam durante a vida toda. A partir dessas informações percebe-se a importância da

Page 45: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

44 – Educação Ambiental em Foco

Educação Ambiental, principalmente no que se refere aos níveis fundamentais de educação. Afinal, conceitos

ainda estão sendo formados, o que facilita a aprendizagem e a mudança de hábitos em relação ao ambiente

em que esse cidadão está inserido.

Como já foi dito, portanto, cabe ao educador criar condições para que a educação ambiental seja

incorporada como filosofia de vida e se expresse por meio de uma ação transformadora. Não existe educação

ambiental apenas na teoria, o processo de ensino-aprendizagem na área ambiental implica exercício de

cidadania proativa. A Educação Ambiental nada mais é do que a própria educação, com sua base teórica

determinada historicamente e que tem como objetivo final melhorar a qualidade de vida e ambiental da

coletividade e garantir a sua sustentabilidade.

Para Carvalho (2006), a Educação Ambiental é considerada primeiramente como uma

preocupação dos movimentos ecológicos com a prática de conscientização, que seja capaz de chamar a

atenção para a má distribuição do acesso aos recursos naturais, assim como ao seu esgotamento, e

envolver os cidadãos em ações sociais ambientalmente apropriadas.

O tema Educação Ambiental é muito discutido nos dias atuais devido ao fato de se perceber a

necessidade de uma melhoria do mundo em que vivemos, pois é facilmente notado que estamos regredindo

cada vez mais em nossa qualidade de vida de um modo geral, nos deixando levar por nossas obrigações

diárias (GUEDES, 2006).

Philippi Jr e Pelicioni (2000), afirmam que a ação transformadora da Educação Ambiental deve estar

apoiada na ética, na justiça social e na equidade. Os conhecimentos das outras ciências (como filosofia,

psicologia, sociologia e, principalmente, as ciências ambientais) incorporadas à educação vão contribuir com

Page 46: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 45

importantes subsídios para a consolidação de um novo projeto civilizatório, de uma nova visão do ser

humano em suas relações com a natureza.

A Educação Ambiental, segundo Luzzi (2005), está muito além de um tema transversal a mais,

emergindo da comunidade educativa. Para o autor, a educação ambiental é o produto, em construção, da

complexa história dinâmica da educação, um campo que tem evoluído de aprendizagens por imitação, e ao

mesmo tempo, das perspectivas de aprendizagem construtiva, crítica, significativa, meta cognitiva e

ambiental. Ao citar Bianchini, Luzzi (2005, p. 92) afirma que “a educação é ambiental ou não é, no sentido de

permitir conduzir-nos para uma nova sociedade sustentável e na medida humana”.

No ensino tradicional, é comum a visão de que se deve ir “da parte para o todo”, logo, o objeto

retirado de seu contexto perde o sentido. Sem uma perspectiva de totalidade o conhecimento carece de

sentido para o educando.

Na educação brasileira, alguns autores vêm discutindo essa relação. Gadotti (1992) afirma que o

homem desenvolve suas próprias forças quando se opõe à natureza; produz a cultura e humaniza a natureza

e, quando nega a natureza, vai ao encontro do pensamento de Lefèbvre (1974), que traduz a ideia de que o

homem só pode desenvolver-se através das contradições; logo, o humano só pode constituir-se através do

inumano de início a ele misturado, para, em seguida, se distinguir por meio de um conflito, e dominá-lo pela

resolução desse conflito.

Essa posição que o homem assume, aumenta e acelera seu domínio sobre a natureza. Assim é que

temos assistido constantemente a respostas práticas e inusitadas do ambiente construído pela sociedade que

o transforma na “humanização da natureza”.

Page 47: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

46 – Educação Ambiental em Foco

Esses processos se cruzam ao tratar do ensino de Educação Ambiental dentro da escola indígena.

Segundo Magalhães e Silva (2011), na realidade das comunidades tradicionais, incluindo suas culturas, é

fundamental que se tenha um entendimento de suas concepções sobre aspectos da realidade coletiva e sobre

suas imagens de mundo. A Educação Ambiental, pelo convívio direto que as populações indígenas têm com o

meio ambiente, acaba por ser um elemento fundamental do dia-a-dia, e o conhecimento adquirido sobre ele é

respeitado, já que dependem diretamente desse ambiente para sua sobrevivência. Neste sentido, visando

corroborar com o ensino da Educação Ambiental nas aldeias indígenas, o presente trabalho tem como objetivo

verificar o nível de conhecimento ambiental entre professores indígenas em formação do estado de Rondônia.

METODOLOGIA

A presente pesquisa foi realizada com professores indígenas em formação no curso de Licenciatura em

Educação Básica Intercultural, Campus de Ji-Paraná, Rondônia, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR).

O curso de Licenciatura em Educação Básica Intercultural vem de encontro com a necessidade de a

Universidade contemplar na sua pauta formativa, cursos que tenham perfis e características próximas às

demandas das populações tradicionais da Amazônia: os povos indígenas, extrativistas, ribeirinhos e

quilombolas. O curso tem como objetivo formar e habilitar professores indígenas em Licenciatura

Intercultural para lecionar nas escolas de Ensino Fundamental e Médio, com vistas a atender a demanda das

comunidades indígenas.

Page 48: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 47

O curso faz parte do programa REUNI da Universidade Federal de Rondônia, teve seu primeiro

vestibular para entrada no ano de 2009, oferecendo 50 vagas anuais a professores indígenas que atuam nas suas

comunidades, no entanto sem formação superior. Atualmente conta com três turmas em andamento,

totalizando 123 alunos. Sua organização curricular está dividida em eixos integradores que contemplam a dupla

formação: básica e específica, fundamentada na articulação entre os quatro temas referenciais do curso: a

autonomia, a interculturalidade, a sustentabilidade e a diversidade.

A pesquisa foi realizada com os alunos ingressantes da terceira turma do curso (turma 2011/02), através

de questionário aplicado aos professores com a finalidade de investigar o interesse em trabalhar e avaliar os

conhecimentos em Educação Ambiental. A turma é composta por professores das aldeias de nove povos

indígenas, sendo eles: 07 representantes do povo Zoró (Noroeste de Mato Grosso), 06 do povo Oro Nao’

(Guajará-Mirim), 04 do povo Sabanê (Vilhena), 03 do povo Karitiana (Porto Velho), 02 do povo Gavião (Ji-Paraná),

02 do povo Suruí (Cacoal) e, um representante do povo Tupari (Alta Floresta), Kanoé (Guajará-Mirim) e Arara (Ji-

Paraná), totalizando os 27 professores entrevistados.

Segundo dados da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Ambiental (SEDAM, 2002), o estado de

Rondônia abriga 54 sociedades indígenas, o que lhe confere características de um estado pluricultural e

multilinguístico. Esses povos indígenas estão concentrados em 19 Terras Indígenas (TI) que perfazem um

total de 20,15% da área do estado (4.807.290,42 ha).

A pesquisa enquadra-se na abordagem quantiqualitativa. A amostragem deu-se com a distribuição de

questionários aos 27 professores presentes em sala no dia da aplicação do questionário. Os dados foram

analisados de forma manual. Para perguntas fechadas usou-se de um padrão de contagem e aplicação de

Page 49: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

48 – Educação Ambiental em Foco

estatística básica. Para perguntas abertas e semiabertas foram utilizadas planilhas, onde os conceitos-chaves

foram analisados conforme sua incidência. Já para as perguntas fechadas com mais de uma resposta, foi utilizado

o método de contagem/pontuação por incidência onde em tabelas aparecem o número de quantas vezes foram

assinaladas a mesma alternativa.

O objetivo de aplicação dos questionários aos professores foi de verificar o conhecimento e o grau

de atualização sobre Educação Ambiental. Buscou-se verificar como eles definem meio ambiente, educação

ambiental, a visão acerca dos problemas que causam impactos ambientais. O questionário aplicado foi

composto de perguntas fechadas e abertas, visando analisar os conhecimentos em relação à Educação

Ambiental e também avaliar as dificuldades que estes sentem em desenvolver uma educação interessante

para o meio ambiente na escola.

RESULTADOS

O processo pedagógico de transmissão de conhecimento entre os grupos indígenas conta com a

participação de todos, passando por práticas tradicionais de socialização e transmissão de conhecimentos

próprios da cultura de cada povo. Assim, o papel do professor na escola indígena é favorecer essa

transmissão de conhecimento, e muitas vezes resgatar tais conhecimentos com os mais velhos visando sua

socialização com os alunos na escola. Afinal, conhecimentos da cultura são elementos importantes no

processo de escolarização indígena.

Page 50: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 49

Esses povos indígenas assumem o papel educativo com responsabilidade coletiva e tarefa social. O

ambiente em que estão inseridos é fundamental para sua sobrevivência, assim sendo, a Educação Ambiental

faz parte do seu cotidiano, já que esse ambiente é muitas vezes sua fonte de inspiração para adquirir

conhecimentos. Esses grupos dependem diretamente dos recursos naturais e conhecer o ambiente e

respeitá-lo é uma das formas de garantir a sobrevivência de suas gerações, por isso, o ensino de Educação

Ambiental, mesmo já estando inserido em seu cotidiano, deve ser compartilhado também no âmbito do

contexto escolar.

Com a aplicação dos questionários percebe-se que há uma grande diversidade de ideias dos

professores em formação do curso, mas em geral, é dada uma grande relevância aos temas ambientais. O

questionário contava com dez questões, que passam a ser descritas e analisadas a seguir.

Na primeira questão, denominada questão fechada, tinha-se a finalidade de avaliar se a Educação

Ambiental é um processo que objetiva o ensino de preservar a natureza. Observa-se com as respostas que

100% dos entrevistados (n=27), admitem que sim.

No segundo questionamento, procurou-se saber o conceito de Educação Ambiental, o

entendimento dos mesmos sobre o tema. Nota-se que há uma compreensão de que a Educação Ambiental

deve desenvolver a conscientização nas pessoas para que o meio ambiente seja preservado e mantido em

equilíbrio. Abaixo, algumas respostas para compreendermos melhor sobre esse conceito:

Page 51: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

50 – Educação Ambiental em Foco

“Está voltado ao ensino de como preservar o meio ambiente e entender o que causa prejuízo ao meio ambiente e a partir daí elaborar soluções que possam diminuir os problemas ambientais” (Suruí). “Eu entendo que a Educação Ambiental tem por objetivo ensinar a preservar o ambiente natural e estudar sobre a importância dele, incentivando crianças desde infância para ter melhor entendimento sobre o mesmo” (Tupari). “A Educação Ambiental é desenvolver o trabalho de como preservar o meio ambiente e como cuidar da aldeia onde moramos” (Sabanê). “A Educação Ambiental para mim eu entendo tudo que envolve a natureza” (Arara). “Seria uma forma de educar as pessoas para poder ter mais conhecimentos de como preservar a natureza para que o nosso ambiente possa estar sempre disposto a cada tipo de atividade desde que preservado” (Kanoé)

A questão três aborda se a Educação Ambiental está inserida no currículo da escola, sendo que 21

professores responderam que sim (77,78%) e 06 que não (22,22%). Os que disseram que não justificam que

a Educação Ambiental não está inserida diretamente como disciplina, mas os professores procuram trabalhar

temas em suas disciplinas, voltados às questões ambientais. Uma visão da educação para o meio ambiente

mais ampla deve envolver as pessoas da comunidade, os currículos escolares e a preparação dos professores

em geral, não apenas aqueles que estão ligados às áreas de ciências biológicas ou geografia. Para Tuan (1980),

“os conceitos cultura e meio ambiente se superpõem da mesma forma que os conceitos homem e natureza”.

Segundo Reigota (1998), a Educação Ambiental correu o risco de se tornar, por decreto, uma

disciplina obrigatória no currículo nacional; mas com que os burocratas e oportunistas de plantão não

contavam, era encontrar a resistência de profissionais mais conhecedores da área, o que evitou que a mesma

se tornasse mais uma banalidade pedagógica, perdendo todo o seu potencial crítico e questionador a respeito

das nossas relações cotidianas com a natureza, artes, conhecimento, ciência, instituições, trabalho e com as

pessoas que nos rodeiam.

Page 52: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 51

Quando abordados os assuntos de como gostariam de trabalhar a Educação Ambiental na escola

(questão 04), os mais citados para serem trabalhados foram: reflorestamento, reciclagem, lixo,

sustentabilidade, matas ciliares, água e solo. Nota-se a preocupação com a conscientização e sensibilização

para os problemas ambientais, como destacado nas citações a seguir:

“Gostaria de trabalhar como ensinar a realidade e mostrar como é certo para ambiente” (Sabanê). “Eu gostaria de conscientizar os meus alunos a preservar mais a natureza, a não desmatar as margens dos rios” (Arara).

A quinta questão mostrou nove problemas ambientais, todos que fazem com que ocorram

impactos sobre o meio ambiente. Os professores deveriam assinalar o problema que consideravam mais

grave ao ambiente. O gráfico 1 a seguir ilustra esses problemas ambientais.

Page 53: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

52 – Educação Ambiental em Foco

Gráfico 1 - Problemas ambientais mais graves.

Fonte: Da pesquisa

Nota-se no gráfico com as respostas, que os principais problemas ambientais são desmatamento,

citado por 12 professores indígenas em formação e queimadas, citado por 10. A citação de desmatamento e

queimadas como os principais problemas ambientais deve estar relacionada ao fato das pressões sofridas

pelos povos indígenas em suas terras pelos fazendeiros e madeireiros, cada dia mais presente devido à

ganância do ser humano. Mesmo com a pressão de madeireiros e fazendeiros, as Terras Indígenas têm

1 1 2

12

0 0 1

10

0

Page 54: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 53

cumprido papel fundamental na conservação do meio ambiente, pois 98,4% de sua área total na Amazônia

está preservada. O desmatamento dentro delas corresponde a apenas 1,3% do desmatamento amazônico

total. As Terras Indígenas representam uma proteção tão ou mais eficiente do que as Unidades de

Conservação. No entanto, o sentimento de perda pelos povos indígenas de sua biodiversidade vem

representado neste questionamento; afinal, não são apenas madeiras que são queimadas ou retiradas de suas

terras, são sua biodiversidade, seu sustento, a sobrevivência de gerações, presentes numa cultura voltada ao

conservacionismo de sua riqueza natural.

A questão seis procurou verificar o entendimento dos professores indígenas em formação no que se

refere ao uso dos recursos naturais renováveis e não-renováveis. Para tanto, perguntou-se se a água é um recurso

inesgotável. Na maioria das questões respondidas verificou-se que os professores têm a noção que a água é um

recurso esgotável.

A questão sete teve como objetivo verificar o conhecimento sobre a extinção dos animais. Para

tanto, solicitou que os mesmos marcassem a alternativa que melhor representasse a abordagem. O gráfico 2

apresenta esses resultados.

Page 55: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

54 – Educação Ambiental em Foco

Gráfico 2 - Conhecimento sobre a extinção de animais.

Fonte: Da pesquisa

Os professores encontraram como melhor resposta aquela que afirma ser um assunto que faz

pensar na própria sobrevivência, fator esse que se deve ao fato de haver uma grande preocupação em

discutir as questões ambientais e também a sobrevivência da humanidade, estabelecendo com isso uma

relação entre a sobrevivência do homem intimamente ligada à da natureza representada na questão pelos

animais.

20%

34%

46%

Há bastante sensacionalismo nisso, pois o ambiente muda sempre, podendodesfavorecer algumas espécies

Espécies de animais e plantas são tanto extintos quanto provavelmentesurgem novas espécies, não alardeados pela mídia

É um assunto que faz você pensar na própria sobrevivência

Page 56: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 55

A questão oito apresenta um questionamento sobre o que os entrevistados pensam sobre

biodiversidade. Seus resultados são apresentados no gráfico 3 abaixo.

Gráfico 3 - Conhecimento sobre a Biodiversidade.

Fonte: Da pesquisa

A opção mais assinalada é a que mostra que a biodiversidade “é grande responsável no processo do

equilíbrio ambiental”, demonstrando assim, que os professores entrevistados sabem da grande importância

da biodiversidade como responsável pelo equilíbrio ambiental do nosso Planeta.

81%

15%

4%

Ela é grande responsável noprocesso do equilíbrio ambiental.

É interessante principalmente paraquem gosta do campo e de remédiosnaturais.

É importante para pesquisadores ebiólogos.

Page 57: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

56 – Educação Ambiental em Foco

Na nona questão, foi questionado qual seria a melhor opção que definiria meio ambiente. Os

resultados são apresentados no gráfico 4 a seguir.

Gráfico 4 - Melhor definição para Meio Ambiente.

Fonte: Da pesquisa

O lugar onde o homem e a natureza estão em constante interação foi a opção mais assinalada pelos

professores. Nesta razão, observa-se um entendimento pelos educadores que o homem faz parte do meio

ambiente e não como um ser isolado e, que depende desse meio ambiente para sua sobrevivência.

11%

7%

26% 56%

A inter-relação entre a flora,fauna e o clima.

As paisagens naturais eurbanas.

Tudo o que se relaciona apaisagem natural: florestas,rios e seus habitats.

O lugar onde o homem e anatureza estão em constanteinteração.

Page 58: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 57

De acordo com Reigota (1994), o ambiente é um lugar determinado ou percebido, onde os

elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em interação.

Ao décimo questionamento, que abordava se eles faziam parte do Meio Ambiente, 77,78%

responderam que sim, com uma explicação embasada, 14,81% disseram sim, com sucinta e abstrata

explicação, 7,41% responderam somente sim, e nenhum dos informantes respondeu não. É notório o grau de

relação e interligação existente entre o homem e o meio ambiente, conforme nota-se nas citações a seguir:

“sou um ser vivente nele e é dele que tiramos os nossos sustentos e por isso tenho a função de educar os alunos para que também façam parte da preservação do meio ambiente” (Kanoé). “nós indígenas vive da natureza e por isso indígena faz parte da natureza, sem natureza não há vida” (Karitiana) “dama garbawabe dana iwe mãguy e, garah dana ximãguy e, garah ka paje baga eka yakade aih ani e, ete palade paih xitxa iweka ani e – (nossa vida é muito importante, o planeta é muito importante, se destruirmos o planeta ela morre, se ela morre, morreremos também)” (Suruí).

Observa-se que, diferente das sociedades dos “brancos”, os indígenas assumem que fazem parte do

meio ambiente e que dependem dele para sua sobrevivência e, em nenhum momento se sentem superior à

natureza, diferente do pensamento de outros seres humanos, que colocam o homem no centro de tudo,

esquecendo que dependem e fazem parte do meio ambiente.

Em se tratando de Cidadania Ambiental a escola desempenha um papel fundamental. Especialmente

se esta educação para o meio ambiente começa cedo e faz a criança refletir sobre as coisas, sobre o seu

meio, ter a noção de que a sua atitude faz a diferença, não só para ela, mas para sua família, seus amigos, a

Page 59: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

58 – Educação Ambiental em Foco

comunidade. Esse fator é de importância incalculável e deve ser foco no ensino de Educação Ambiental nos

currículos escolares, onde o educador deve mostrar aos seus alunos a importância da interação entre homem

e natureza para sobrevivência do mesmo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos dias atuais, a preocupação é grande em relação às questões ambientais, preocupações essas que,

no contexto indígena, são advindas da interferência do homem “branco” em seus territórios. O processo

educacional indígena em seus currículos aborda a preservação da cultura, o meio ambiente, a cidadania, a

preservação da língua materna, dos costumes, entre outras coisas que são de relevante importância para os

povos indígenas.

Nota-se com as questões abordadas no trabalho, que o cuidado com o meio ambiente é ensinado

desde cedo, e que há uma enorme interação com o meio ambiente, pois dele os povos indígenas retiram sua

sobrevivência. Os rios, matas, peixes, animais de caça, produtos naturais, produtos vegetais extraídos para

confecção de artesanatos, tem um valor imensurável na cultura desses povos, e se isso for destruído, seu

valor cultural também vai sendo destruído aos poucos.

Cabe aos professores indígenas e não-indígenas, independente da disciplina, um olhar diferenciado às

questões ambientais dentro dos currículos de suas disciplinas, pois ensinando-se as crianças de hoje, podemos

ter um meio ambiente conservado para as crianças do amanhã.

Page 60: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 59

REFERÊNCIAS

CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental : a formação do sujeito ecológico. 2.ed. São Paulo: Cortez, 2006. GADOTTI, M. Concepção dialética da educação: um estudo introdutório. 8. ed., São Paulo: Cortez, 1992. GADOTTI, M. Pedagogia da Terra. 6. ed. São Paulo: Petrópolis, 2006. GUEDES, J.C.S. Educação ambiental nas escolas de ensino fundamental : estudo de caso. Garanhuns: Ed. do autor, 2006. LEFEBVRE, H. Marxismo. São Paulo: Difel, 1974. LUZZI, D. Educação Ambiental: pedagogia, política e sociedade. In: PHILIPPI JR, A.; PELICIONI, M. C.F.---(editors). Educação Ambiental e Sustentabilidade. São Paulo: Manole, (Coleção Ambiental), 2005... MAGALHÃES, G.B.; SILVA, E.V. Educação Indígena e o Ensino de Geografia. In: SILVA, E.V.; MEIRELES, A.J.A.; GORAYEB, A. (org.) Educação Ambiental e Indígena: caminhos da extensão universitária na gestão de comunidades indígenas. Fortaleza: Edições UFC, 2011. PHILIPPI JR., A.; PELICIONI, M. C. (org.). Educação ambiental. Desenvolvimento de cursos e projetos. São Paulo: Signus, 2000. PHILIPPI JR, A.; ANDRADE, M.R.; COLLET, G.B. Curso de Gestão Ambiental. São Paulo: Manole, 2004. REIGOTA, M. Desafios à educação ambiental escolar. In: JACOBI, P. et al. (orgs.). Educação, meio ambiente e cidadania: reflexões e experiências. São Paulo: SMA, 1998. p. 27-32.

Page 61: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

60 – Educação Ambiental em Foco

REIGOTA, M. O que é educação ambiental. São Paulo; Brasiliense. 1994. Coleção Primeiros Passos. TUAN, Y. F. Topofilia.São Paulo: Difel ,1980.

Page 62: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 61

3º CAPÍTULO

A RELEVÂNCIA DE PRÁTICAS

AMBIENTAIS EM ÁREA DE

BACIA HIDROGRÁFICA

Page 63: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

62 – Educação Ambiental em Foco

A RELEVÂNCIA DE PRÁTICAS AMBIENTAIS EM ÁREA DE BACIA

HIDROGRÁFICA

Milena dos Santos Silveira

Bióloga. Mestre em Saúde e Meio Ambiente. Professora da Rede Municipal de Ensino de Joinville/SC.

Nelma Baldin

Historiadora. Doutora em Educação. Professora do Mestrado em Saúde e Meio Ambiente e do Mestrado em Educação da Universidade da

Região de Joinville - UNIVILLE.

INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural limitado e, em situações de escassez, seu uso prioritário deve ser para o

consumo humano e para dessedentar animais (BRASIL, 1997). Num alerta quanto a esta tão expressiva

importância da água, o ecólogo Ricklefs (2010, p.513) chama a atenção para o fato de que “as tendências

atuais do uso e disponibilidade da água sugerem que metade dos países do mundo enfrentará falta de água

por volta de 2025, e três quartos passarão por escassez de água por volta de 2050”.

Page 64: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 63

Em razão disso, estudos realizados em áreas de bacias hidrográficas são, hoje, importantes

referências para a preservação dos recursos hídricos, principalmente porque a água é fundamental para a

manutenção da biodiversidade. Nessa perspectiva, trabalhar com professores que lecionam em escolas

públicas localizadas em área de bacia hidrográfica, buscando reconhecer os seus saberes sobre as questões

ambientais e principalmente em relação à água, possibilita que se realizem práticas de Educação Ambiental

compatíveis com a realidade do contexto escolar onde atuam. Nesse sentido, essas ações (essas práticas)

podem promover mudanças de paradigmas culturais em relação ao modo de ocupação do solo, uso da água e

a produção e descarte de resíduos, entre outros aspectos ambientais relevantes.

Este estudo justamente apresenta um recorte dos resultados de uma pesquisa sobre as práticas

ambientais de professores que lecionam em escolas municipais localizadas na área da Bacia Hidrográfica do

Rio Cubatão do Norte em Joinville (SC) – zonas urbana e rural, cujo objetivo foi o de analisar a percepção

ambiental desses professores, principalmente em relação ao uso e preservação da água. Nessa perspectiva,

entende-se que é de fundamental relevância reconhecer como esses professores percebem seus

conhecimentos a respeito do uso e consumo da água e das demais questões ambientais da área onde atuam.

Page 65: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

64 – Educação Ambiental em Foco

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CUBATÃO DO NORTE (BHRC): IMPORTÂNCIA LOCAL E

GLOBAL

O município de Joinville, fundado em 09 de março de 1851, está localizado na região nordeste do

Estado de Santa Catarina, Brasil. É a maior cidade do Estado com intensa atividade agrícola, mas com maior

expressão na intensa atividade industrial nos vários segmentos.

A demanda por água na região de Joinville tem apresentado um crescimento constante, tanto por

fatores demográficos e socioeconômicos como pelo aumento da atividade industrial e agricultura. Desse

modo, há conflitos pelo uso da água entre os diversos usuários, uma vez que seu consumo vem atingindo

níveis críticos (GONÇALVES et al, 2007). Nesse encaminhamento, a pujança econômica de Joinville

intensifica a importância da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte (BHRC).

Uma bacia hidrográfica (BH) é o conjunto de terras drenadas por um rio principal e seus afluentes,

sendo que os rios são cursos de água natural que correm de sua nascente, localizada em partes altas, para

partes mais baixas da área em que se encontram. Essas águas deságuam no mar, em um lago ou em outro rio e

podem ser grandes ou pequenos, estar sempre cheios de água ou quase desaparecer quando é época de seca,

por exemplo. Já os afluentes são rios menores que deságuam nos rios principais (ZANOTELLI, HOMRICH e

OLIVEIRA, 2009). É expressivo, aqui enfatizar, que o conceito de bacia hidrográfica também vem sendo muito

utilizado em políticas e legislações internacionais como unidade de gestão e política ambiental terrestre,

principalmente pela relação entre a conservação da bacia hidrográfica e a qualidade/quantidade de água

superficial, que mundialmente apresenta déficit iminente (RUFFINO; SANTOS, 2002).

Page 66: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 65

No caso da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte (BHRC), possui 492 Km2, e abastece cerca de 70% do

município de Joinville e 50% do município de Araquari, que faz limite com Joinville. Nesse sentido, a BHRC tem 75% de

sua área total inserida no município de Joinville e 25% no município de Garuva que também limita-se com

Joinville. Além disso, a BHRC constitui-se no principal contribuinte hídrico do Complexo Estuarino da Baía da

Babitonga (Figura 1), que é considerada uma das grandes bacias do sul do país (GONÇALVES et al., 2007).

Figura 1: Localização da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte (BHRC) e seu principal rio, o Cubatão.

Fonte: Fabiano Antonio de Oliveira (2008) em ZANOTELLI, HOMRICH e OLIVEIRA (2009).

Page 67: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

66 – Educação Ambiental em Foco

O principal rio da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte é o rio Cubatão. Na década de 1950,

abriu-se, nesse rio, um canal extravasador com mais de 11 km de extensão e 40 metros de largura na

extensão de seu leito, com o objetivo de evitar as inundações que ocorriam na região de Pirabeiraba e

Estrada da Ilha, por onde corre o rio – então áreas rurais de Joinville. Anos mais tarde, o canal de derivação

foi ampliado em mais 12 metros para aumentar a sua capacidade de escoamento (STIMAMIGLIO, 2002).

Desde então algumas questões problemáticas têm sido evidenciadas no Rio Cubatão, e Zanotelli,

Homrich e Oliveira (2009) enfatizam que na foz desse rio há áreas de manguezal com depósito de lixo e

despejo de esgotos, bem como a presença do principal sambaqui da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do

Norte, chamado Cubatão 1, e que vem sendo destruído pelo impacto de ondas formadas pelo vento ou por

embarcações.

As ocupações e ações inadequadas por parte do ser humano trazem vários problemas ambientais

que comprometem os recursos hídricos e consequentemente a possibilidade de desenvolvimento das

cidades, sendo que cada vez mais são necessários estudos para auxiliar nos rumos a serem tomados por parte

das populações – especialmente quando se trata de áreas de bacias hidrográficas. .

Segundo Pires, Santos e Del Prette (2002, p.28), os impactos que mais ocorrem em áreas de bacias

hidrográficas em geral estão relacionados “à erosão dos solos, sedimentação de canais navegáveis, enchentes,

perda da qualidade da água e do pescado e aumento do risco de extinção de elementos da fauna e flora”.

Assim, a criação de espaços naturais, protegidos por lei, auxilia na preservação e conservação dos

ecossistemas. E esses espaços visam, também, interromper a degradação do meio ambiente, principalmente

pela ação humana.

Page 68: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 67

Na região da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte encontram-se diferentes áreas naturais

que são protegidas por lei, tais como a Área de Proteção Ambiental (APA) da Serra Dona Francisca,

pertencente ao município de Joinville e a APA do Quiriri, pertencente ao município de Garuva. Essas áreas

protegidas totalizam, na região da BHRC, um total de 205.260 Km2, ou seja, 41,6% da área total da bacia. Há

ainda na área da BHRC uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), e que está situada dentro da

APA Dona Francisca (CCJ, 2013).

Tanto as APAs que ali existem como a RPPN, são Unidades de Conservação de Uso Sustentável.

Contudo, entende-se por Unidade de Conservação (UC) o espaço territorial e seus recursos ambientais,

incluindo-se, ai, as águas jurisdicionais com características naturais relevantes e legalmente instituídas pelo Poder

Público com objetivos de conservação e limites definidos. Nesse caso, essas áreas estão sob regime especial de

administração e nele se aplicam garantias adequadas de proteção (BRASIL, 2000).

Conforme define Trein (2002), a Mata Atlântica é considerada uma das florestas mais ameaçadas do

mundo, restando apenas 7,3% de sua área original. A cobertura vegetal original da BHRC é caracterizada

pela presença de Floresta Ombrófila Densa com presença de samambaias, bromélias, palmeiras e ainda densa

vegetação arbustiva – todas essas elementos da Mata Atlântica. E há que considerar, ainda, que a Floresta

Ombrófila Densa abriga uma grande variedade de espécies de animais.

Algumas espécies de animais presentes na BHRC estão em perigo de extinção, tais como o macuco

(Tinamus solitarius), o puma (Leopardus concolor), a jaguatirica (Leopardus pardalis), o gavião-pombo (Leucopternis

lacernulata), entre outros. E outras espécies como papagaio (Triclaria malachitacea) e a araponga (Procnias

nudicollis) são, hoje, espécies raras em Santa Catarina (TREIN, 2002). Desse modo, entende-se aqui que o

Page 69: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

68 – Educação Ambiental em Foco

conceito de bacia hidrográfica a ser trabalhado nas escolas e nos setores comunitários deve abordar não apenas

a geografia dos rios que a compõem, mas também a floresta que a cobre e as espécies animais que a habitam.

Medidas para minimizar os impactos ambientais de uma área são aplicadas por meio da prática da

Educação Ambiental (EA). Oliveira, Ribeiro e Magna (2009) sugerem duas formas de se aplicar a EA: na

perspectiva do conhecimento do contexto da bacia, proposta a ser desenvolvida nas escolas, considerando

que o sujeito só preserva aquilo que conhece; e na perspectiva do conhecimento da função socioambiental da

bacia, a ser desenvolvida diretamente junto à comunidade local.

OS PROFESSORES E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: APROXIMAÇÕES POR MEIO DAS

PRÁTICAS E DA FORMAÇÃO

Um processo educativo deve começar por um diagnóstico a respeito das referências e das práticas

das pessoas para as quais este se volta e envolve o desenvolvimento da cognição ambiental. Neste contexto,

a escola representa um ambiente ideal para desenvolver o conhecimento, valores, atitudes e atributos

favoráveis ao meio, sendo a Educação Ambiental (EA) uma ferramenta fundamental nesta interação

(PEREIRA; FARRAPEIRA; PINTO, 2006).

Reigota (2012, p. 13) define Educação Ambiental como uma educação que considera “a análise das

relações políticas, econômicas, sociais e culturais entre a humanidade e a natureza e as relações entre os

seres humanos”.

Page 70: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 69

Há muito tempo se espera a implementação da Educação Ambiental de forma efetiva nos espaços

formais e informais. No Decreto 4.281 de 25 de junho de 2002 ficou acordada a inclusão da Educação

Ambiental (EA) em todos os níveis e modalidades de ensino, tendo como referência os Parâmetros e as

Diretrizes Curriculares Nacionais, visando a integração da educação ambiental às disciplinas de modo

transversal, contínuo e permanente, bem como a adequação dos programas já vigentes de formação

continuada de educadores (BRASIL, 2002, Art 5º).

No entanto, as instituições de Educação Infantil e Ensino Fundamental têm encontrado dificuldades

para incluir a temática ambiental em seus currículos. Têm promovido eventos pontuais como limpeza de rios,

praias e manguezais na semana do meio ambiente, coleta seletiva e reciclagem do lixo, solenidades no dia da

árvore, entre outros, mas apenas como atividades paralelas. Não há discussão sobre o atual modelo

econômico e a questão da redução e consumo. Desse modo, a transformação da realidade, o

desenvolvimento de atitudes e a ressignificação de valores, característicos da EA, dificilmente conseguem

renovar o processo da educação geral pela inclusão da dimensão ambiental no currículo (TAGLIEBER, 2012).

Sato (2003) explica que há diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos escolares

como, por exemplo, as atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora da sala de aula, produção de

materiais locais, projetos ou qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem reconhecidos como agentes

ativos no processo que norteia a política ambientalista. A escolha da modalidade didática vai depender do

conteúdo e dos objetivos selecionados, da classe a que se destina, do tempo e dos recursos disponíveis, assim

como dos valores e convicções do professor (KRASILCHIK, 2008).

Page 71: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

70 – Educação Ambiental em Foco

A construção da prática ambiental dos professores depende dos seus conhecimentos e de como

esses profissionais se enriquecem culturalmente. As trocas de ideias entre professores e especialistas formam

saberes que podem contribuir para o desenvolvimento de valores, atitudes e comportamentos humanos que

considerem a relação entre sociedade e natureza (MENDES; VAZ, 2009). Contudo, se os professores são

formadores de opinião e influenciam diretamente na sociedade, é de suma importância saber quais são as

suas percepções sobre as questões socioambientais locais e globais, a partir de suas próprias narrativas.

A percepção ambiental ou percepção de meio ambiente pode ser definida como sendo uma tomada

de consciência das problemáticas ligadas ao ambiente, ou seja, perceber o ambiente em que se está inserido.

Também pode ser definida, pelas formas como os indivíduos veem, compreendem e se comunicam com o

ambiente, considerando-se as influências ideológicas de cada sociedade (COIMBRA, 2004). No entanto, as

inúmeras possibilidades de definição para o termo “meio ambiente”, geram controvérsias e por esse fato,

Oliveira, Obara e Rodrigues (2007), explicam que este não se configura como um conceito científico e sim

como uma concepção, uma representação social. Reigota (2007, p.70) explica que “as representações sociais

equivalem a um conjunto de princípios construídos interativamente e compartilhados por diferentes grupos

que através delas compreendem e transformam sua realidade.”

Nesse sentido, conhecer as representações de meio ambiente e observar as relações que os

indivíduos mantêm com o espaço que ocupam pode ser o ponto de partida para situar problemas ambientais,

inclusive em ambientes escolares, para onde se devem direcionar ações e propostas socioambientais que

beneficiem a coletividade. No entanto, é de se imaginar que os desafios educacionais são imensos para

Page 72: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 71

aqueles que não se deixam levar pela ilusão pedagógica e pela crença de que a escola por si mesma tem o

poder de resolver um problema que é social (FIOD, 2011).

Muitas mudanças podem ocorrer tendo como base a compreensão de complexo planetário, e Sauvé

(2005) atenta que a Educação Ambiental visa a induzir dinâmicas sociais, de início na comunidade local e,

posteriormente, em redes mais amplas de solidariedade. Busca promover, assim, a abordagem colaborativa e

crítica das realidades socioambientais e uma compreensão autônoma e criativa dos problemas que se

apresentam e das soluções possíveis para eles.

A formação de professores que inclua a Educação Ambiental (EA) em suas premissas permite um

posicionamento crítico do docente, frente aos problemas ambientais da atualidade. Além disso, pesquisas

voltadas para a preservação e conservação das águas como uma representação do meio ambiente, seja na

educação formal ou na informal, promovem mudanças de atitudes que podem garantir a disponibilidade de

recursos hídricos para o homem e para as demais espécies.

METODOLOGIA

A pesquisa de que trata este artigo foi aplicada numa abordagem qualitativa e tem característica do

tipo etnográfico. Foi aplicada em oito escolas da rede municipal de ensino, situadas nas localidades de

Pirabeiraba, Jardim Paraíso, Jardim Sofia e Vila Cubatão e todas pertencentes à área da Bacia Hidrográfica do

Rio Cubatão do Norte, nos limites do município de Joinville/SC. Dessas oito escolas, 05 (cinco) são

localizadas na área rural e 03 (três) são da área urbana. A população alvo da pesquisa compõe-se de

Page 73: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

72 – Educação Ambiental em Foco

professores de Educação Infantil e do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental que lecionam nessas escolas, tanto

os regentes quanto os de disciplinas específicas tais como inglês, artes e educação física, num total de 57

professores.

Os instrumentos de pesquisa utilizados foram: um questionário com questões abertas; uma ficha de

observação na qual foram realizadas anotações referentes à identificação da unidade escolar, informações dos

aspectos físicos, metodológicos e serviços educacionais presentes na escola; um caderno de campo para

registros da observação das práticas docentes e das análises de Projetos Escolares e dos Projetos Políticos

Pedagógicos (PPPs), de cada escola participante. Buscou-se investigar se as escolas fazem projetos e se

incluem a temática ambiental nos mesmos, além de verificar nos PPPs os históricos das unidades escolares, as

visões das escolas, a estrutura do documento e como as temáticas ambientais aparecem nos mesmos.

O questionário foi dividido em 2 (duas) partes: a primeira parte, com informações referentes à

formação acadêmica, disciplina e ano (série) que o professor(a) leciona na escola, tempo de atuação como

docente, tempo de serviço na escola, além de buscar saber se os professores exercem outra atividade

profissional. Já a segunda parte ficou composta de 12 (doze) questões abertas e variadas, abordando temas

referentes ao Meio Ambiente e à Educação Ambiental.

Os procedimentos metodológicos de aplicação da pesquisa foram realizados em cinco etapas: 1)

Aplicação de pré-teste do questionário com questões abertas; 2) Aplicação do questionário com questões

abertas (validado) aos professores das escolas definidas para a pesquisa; 3) Observação dos espaços escolares

descrita nas “Fichas de Observação”; 4) Observação das Práticas Docentes, Análise dos Projetos Escolares e

Page 74: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 73

Análise do Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada escola, e descritas no caderno de campo; e 5) Análise

crítica dos dados coletados.

As duas primeiras perguntas do questionário, “O que é meio ambiente para você?” e “Como você

entende a Educação Ambiental?” foram analisadas com base na análise de conteúdo proposta por Bardin

(1977) e foram as bases referenciais para o conhecimento das categorias de análise da pesquisa. Na verdade,

buscou-se identificar as palavras que mais foram enfatizadas e repetidas nas respostas dos professores,

chegando-se às categorias de análise das concepções de Meio Ambiente e concepções de Educação Ambiental

dos participantes. Na análise e discussão dos dados coletados (os resultados da pesquisa), os professores

foram identificados (aleatoriamente) pela letra “P” e por um número sequencial, sendo tratados como: “P1”;

“P2”; e assim sucessivamente até “P57”.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O AMBIENTE ESCOLAR

Participaram da pesquisa 08 (oito) escolas, sendo que dessas, 05 (cinco), ou seja, 62,5% são

caracterizadas como rurais e 03 (três), ou seja, 37,5% são da área urbana. As escolas rurais têm entre 28

(vinte e oito) a 148 (cento e quarenta e oito) alunos e em 80% delas há biblioteca. Já nas escolas urbanas o

número de alunos apresenta-se numa média entre 147 (cento e quarenta e sete) a 288 (duzentos e oitenta e

Page 75: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

74 – Educação Ambiental em Foco

oito) e em 33,3% dessas escolas há biblioteca. Em todas as escolas pesquisadas, rurais e urbanas, há hortas.

No entanto, em apenas uma escola urbana há supervisora escolar e auxiliar de direção.

Das 05 (cinco) escolas rurais, 02 (duas) estão localizadas na Área de Proteção Ambiental (APA) Dona

Francisca. Já no percurso entre outras 02 (duas) escolas rurais, mas que não estão localizadas na APA,

embora sempre dentro da área da bacia hidrográfica, percebeu-se a presença de um sambaqui chamado

Ribeirão do Cubatão.

As escolas pesquisadas são organizadas e limpas. Em grande parte dos entornos escolares

percebeu-se a presença de cachorros soltos pelas ruas, mas nenhum deles dentro das escolas. Notou-se,

também, que nem todas as escolas possuem ruas pavimentadas.

Em algumas escolas, principalmente as rurais, observou-se que os alunos possuem o hábito de andar

descalços pela sala de aula ou no recreio, pois deixam seus chinelos ou sapatos “jogados” na sala de aula,

apesar do professor insistir diversas vezes para que os alunos andem calçados.

Os docentes são fundamentais no processo da promoção da saúde ambiental da escola, pois faz

parte do trabalho pedagógico orientar os discentes em relação aos bons hábitos de higiene, pessoal e do

espaço escolar. Esses cuidados devem ser iniciados no convívio familiar, antes mesmo da idade escolar.

Desse modo, Lervolino e Pelicioni (2005) explicam que é importante reconhecer que a saúde como

qualidade de vida é resultante de condições adequadas de alimentação, educação formal de qualidade nos

diversos estágios da vida, trabalho, apoio social para todos e boas condições de habitação e saneamento. Isso

tudo com envolvimento da sociedade civil e dos governos para que se obtenham ações que causem impacto

positivo nos estilos e condições de vida.

Page 76: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 75

A análise dos Projetos Políticos Pedagógicos (PPPs) das escolas participantes da pesquisa revelou, no

histórico das unidades escolares, que uma dessas escolas é muito antiga. Essa escola foi fundada em 21 de

fevereiro de 1864 sob a forma de uma “Igreja e Escola”, tendo como fundador o professor e pastor

missionário Georg Feunhauer que veio da Basiléia, na Suíça - essa é uma escola que à época de sua fundação

era mantida pelos colonos imigrantes alemães. Atualmente, a escola localiza-se numa área rural e atende a

uma população formada por uma pluralidade étnica. Durante a realização do estudo nessa escola, foi possível

ter acesso a antigas fotografias, algumas ali guardadas em péssimo estado de conservação. Também foi

observado que no PPP de algumas escolas, o histórico da unidade escolar resume-se a menos de 10 (dez)

linhas e que não há nenhuma fotografia que ilustre a história da escola.

Verificou-se, também, que as temáticas ambientais estão presentes em projetos escolares e em

trabalhos realizados em datas comemorativas. Numa das escolas participantes, há um projeto em que a

energia gerada por uma bicicleta impulsiona a água de um poço para a horta escolar.

OS PROFESSORES E SUAS PRÁTICAS AMBIENTAIS

Os professores de Educação Infantil e das Séries Iniciais (1º ao 5º ano do Ensino Fundamental), das

08 (oito) escolas localizadas na área da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte que participaram da

pesquisa são, em sua maioria (64,9%), formados em Pedagogia e 86% dos participantes são exclusivamente

professores. Grande parte desses professores tem curso de pós-graduação (82,5%) e, desses participantes

que possuem pós-graduação, verificou-se que 97,9% têm especialização em diferentes áreas:

Page 77: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

76 – Educação Ambiental em Foco

Interdisciplinaridade; Educação Infantil e Séries Iniciais; Educação Física Escolar; Fisiologia, Recreação e Saúde;

Gestão Escolar; Psicopedagogia; Pedagogia Empresarial; Ensino da Arte – Leitura de Imagem; História da

Arte; Pedagogia da Infância; Alfabetização e Letramento; Educação Especial; Educação Artística; Fundamentos

do Ensino da Arte e Metodologia de Ensino da Música. Desses pós-graduados, 2,1% têm a titulação de

Mestre (em Educação).

Os professores, de um modo geral, permanecem a maior parte do tempo com os alunos na sala de

aula (com exceção dos docentes da disciplina de Educação Física). Durante a coleta dos dados, muitos desses

professores comentaram que faltam espaços alternativos nas escolas, como uma sala multiuso, por exemplo.

Os docentes além dos cadernos e atividades para corrigir, precisam realizar seus planejamentos de aula e

participar de cursos de capacitação (alguns no período noturno).

Os alunos de educação infantil, 1º ano e 2º ano, dificilmente ficam sentados em suas carteiras,

solicitando constantemente a atenção do(a) professor(a). Os professores compreendem a necessidade de

atenção que as crianças demandam, mas sentem-se cansados pela constante solicitação de muitos alunos ao

mesmo tempo. A partir do 3º ano do ensino fundamental os alunos são mais tranquilos e, geralmente, pedem

ao(à) professor(a) para levantar das carteiras.

De um modo geral, os professores comentaram que a maioria dos alunos estuda apenas na escola e

que seus pais não auxiliam nas tarefas e dúvidas em casa. Os professores precisam se dividir entre os que

aprendem com facilidade e terminam rapidamente as atividades, e os que apresentam dificuldades de

aprendizagem.

Page 78: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 77

Nesta pesquisa, também se buscou investigar quais fontes os professores utilizam para manterem-se

informados sobre as questões “meio ambiente” e “saúde”. Verificou-se que a internet é a fonte mais utilizada

pelos professores para a aquisição de informações (80,7%), mas esses professores realizam pesquisas na

internet em casa, pois há escolas que não têm este recurso – enquanto que em outras é possível de se fazer

essa pesquisa ali mesmo, haja vista terem esse recurso.

A análise teórica das concepções de Meio Ambiente manifestadas pelos professores que lecionam nas

escolas pesquisadas baseou-se nos estudos de Reigota (2007), Sauvé (2005) e Souza e Souza (2003). Já a análise

das concepções de Educação Ambiental expressas nas respostas dos professores participantes da pesquisa

baseou-se nos estudos de Reigota (2012), Sauvé (2005) e nas contribuições de Silva e Campina (2011).

As concepções – as categorias de análise da pesquisa - foram estudadas com base no texto de Bardin

(1977) que propõe a busca por termos-chave nas respostas dadas pelos participantes. Para as concepções de

Meio Ambiente emergiram 5 (cinco) categorias de análise: lugar onde vivem; natureza; recurso para sobrevivência

humana; viver bem; e preservação. Já para as concepções de Educação Ambiental, emergiram dos dados da

pesquisa as 05 (cinco) categorias de análise: conhecimento (formal ou não-formal); preservação; conscientização;

cuidado; e conservação (Tabela 1).

Page 79: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

78 – Educação Ambiental em Foco

Tabela 1: Porcentagens das categorias de análise que emergiram das Concepções de Meio Ambiente e de

Educação Ambiental dos professores participantes da pesquisa.

Concepções de Meio

Ambiente

% Concepções de Educação

Ambiental

%

Categorias

de Análise

Lugar onde vivem

75,4%

Conhecimento (formal e não-formal)

63,2%

Natureza (intocada)

26,3% Preservação 38,6%

Preservação

19,3% Conscientização 36,8%

Recursos para a

sobrevivência humana

12,3% Cuidado

28,1%

Viver bem

7% Conservação 5,3%

Fonte: As pesquisadoras (2014).

Grande parte dos professores (75,4%) entende o Meio Ambiente como o lugar onde vivem. Ou seja,

vivem, moram, interagem, estão inseridos ou se sentem parte integrante de um ambiente urbano ou rural

Page 80: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 79

com meio biótico e abiótico. A categoria “o lugar onde vivem” pode ser considerada antropocêntrica, pois

apesar de os professores reconhecerem as relações ecológicas existentes no meio ambiente, as respostas

mostram que entendem que o ambiente é um espaço pertencente ao ser humano, ou que o cerca.

O antropocentrismo está anexado à existência humana e nunca deixará de ser contemporâneo, pois

se trata de homens e mulheres falando na sua própria posição. A ciência em si é construída pelos seres

humanos, sendo inevitável que se deixe de falar na posição humana. Essa perspectiva humana é muito antiga

e o homem sempre teve um destaque especial, tornando-o um ser diferente dos outros seres, sendo

considerado superior aos outros animais (SOUZA; SOUZA, 2003).

A Educação Ambiental vista como um conhecimento (formal ou não-formal) esteve presente em

63,2% das respostas dos participantes. Esses professores consideraram a educação ambiental um

conhecimento formal, ou seja, um conteúdo ou uma disciplina. Mas houve também professores que

entendem ser, a educação ambiental, um conhecimento não-formal, ou seja, um saber não

necessariamente adquirido no ambiente escolar.

As relações estabelecidas e vivenciadas no ambiente escolar são fundamentais na formação da

sociedade. Baldin e Hoffmann (2012, p.88) explicam que “a escola é um local privilegiado para aprendizagens,

onde é possível adquirir valores e promover atitudes e comportamentos pró-ambientais”, ou seja, no

ambiente escolar cabe uma intervenção educativa com a perspectiva na sustentabilidade.

Entendendo a importância da abordagem das questões ambientais na escola, a pesquisa também

buscou analisar como os participantes vêm utilizando as temáticas ambientais em suas práticas pedagógicas.

Page 81: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

80 – Educação Ambiental em Foco

Na questão 3 (três), “Como você vem utilizando esses temas em sua prática pedagógica (em suas aulas),

até o momento?”, os temas que a pergunta se refere são “Meio Ambiente” e “Educação Ambiental”,

abordados nas questões 1 (um) e 2 (dois), respectivamente. Com base nas respostas dadas pelos professores

à questão 3 (três), verificou-se que os mesmos utilizam, em suas práticas: textos informativos sobre os temas;

rodas de conversas; situações presentes no cotidiano dentro e fora da escola, tais como o cuidar da sala de

aula, jogar lixo nas lixeiras, evitar desperdícios de materiais, o uso correto da água, reutilização de materiais

em atividades, cuidados com os rios, com as árvores, com os animais, etc. Também considera-se projetos

escolares; trabalhos realizados em datas comemorativas (dia da água, semana do meio ambiente, dia da

árvore, etc); os temas presentes nos conteúdos programáticos; vídeos; músicas; o livro didático; atividades

artísticas (teatro, desenho, pintura, maquetes e escultura); jornais; internet; apresentações em data show;

folders e cartazes.

Há professores que entendem a prática ambiental como interdisciplinar, ou seja, pode e deve ser

realizada por todas as disciplinas. No entanto, há professores que não veem a interdisciplinaridade, pois

apenas “associam” as temáticas ambientais (incorporando-as) às disciplinas de Ciências e Geografia. Sobre

esta questão, Reigota (2012) enfatiza que nenhuma disciplina é “detentora” da Educação Ambiental.

Outros professores, não trabalham os temas ambientais com frequência ou não conseguem

trabalhar com os mesmos. Contudo, “P32” atenta para a necessidade de mais conhecimento para trabalhar

com as temáticas ambientais.

Page 82: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 81

Penso que ainda precisamos de mais bagagem referente aos temas. Eu procuro levar meus alunos a refletirem sobre a preservação de forma consciente. Procuro fazer movimentos que envolvem toda escola, distribuir folders, espalhar cartazes, músicas, etc. (“P32”)

Muitas são as maneiras para a realização da educação ambiental e cada docente pode estabelecer o

seu modo de trabalhar com seus alunos. Reigota (2012, p.65) recomenda que “se o professor ou a professora

ainda não desenvolveu o seu próprio método, o mais indicado é entrar em contato com colegas que têm mais

experiência e constituir uma rede de intercâmbio”.

Com o apoio da questão 4 (quatro) – “O que você gostaria de fazer para melhorar essa prática? Quais

recursos você gostaria de utilizar para abordar os temas relacionados ao meio ambiente?”, verificou-se que os

docentes gostariam de fazer algo para melhorar suas práticas pedagógicas e que inclusive indicam quais os

recursos são os mais adequados para abordar os temas relacionados ao meio ambiente. Neste

encaminhamento, os professores demonstraram interesses por: palestras; peças teatrais; contação de

história; cursos de capacitação; jogos lúdicos; fantoches; acesso à internet; histórias literárias; visitas à reserva

indígena, aterro sanitário, estação de tratamento de água, reservas ecológicas, abrigos de animais, zoológicos,

laboratórios, museus e orientação de técnicos (parcerias com empresas ou universidades).

Professores também expressaram suas dificuldades para trabalhar com as temáticas ambientais. O

participante “P10” comentou que a carga horária da disciplina de inglês é insuficiente e sugere materiais na

língua inglesa.

Page 83: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

82 – Educação Ambiental em Foco

Como tenho apenas uma aula por semana fica difícil talvez se tivesse materiais na língua inglesa. (“P10”)

Professores como “P54” evidenciaram a importância da formação continuada na prática pedagógica.

Já professores como “P52”, gostariam de participar de cursos e oficinas que apresentem conteúdos

adequados à idade das crianças com quem trabalham.

Para melhorar a prática, penso que seja necessário formação continuada sempre. O professor precisa estar atento às atualidades e necessidades da sociedade. (“P54”) Participar de cursos e oficinas que nos deem conteúdo para a idade das crianças que trabalhamos. Quanto aos recursos, quanto o mais prático e concreto melhor. (“P52”)

Com isso, percebe-se a importância da inserção da Educação Ambiental, tanto na formação inicial

quanto na formação continuada. Para Morales e Knechtel (2012, p.102) o ensino superior é considerado um

espaço de luta, de criação, de resistência, de encontros e desencontros que “precisa lançar-se aos desafios da

complexidade do mundo, incorporando a dimensão socioambiental e, nesse contexto, o multi e intercultural,

como campos de coexistência”. Nesse encaminhamento, as referidas autoras provocam questionamentos e

observações:

Mas como a universidade se posicionará ante a necessidade de se trabalhar com uma educação ambiental sob o foco multicultural? Como será que as instituições de ensino superior podem aderir a esse enfoque educacional? Sucede que é necessário examinar a inserção dessa dimensão do conhecimento na universidade, para encontrar subsídios, bem como pistas para o ensino e a pesquisa,

Page 84: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 83

que trilhem o caminho da formação dos educadores ambientais (MORALES; KNECHTEL, 2012, p.103).

A quinta questão – “Você já realizou alguma aula de campo com seus alunos? ( ) sim ( ) não. Se sim,

quais locais” buscou investigar se o docente já realizou alguma aula de campo, sendo que para este estudo é

considerada “aula de campo” aquela que ocorre fora do espaço da escola. Constatou-se que 66,7% dos

professores nunca realizou uma aula de campo com seus alunos.

Os ambientes visitados pelos professores e seus alunos são bem diversificados, sendo que alguns são

localizados em Joinville como: o Aterro Sanitário; a Estação de Tratamento de Água (ETA); o Zoobotânico; o

Parque Caieiras; o Rio do Ferro; o Recanto das Nascentes; o Rio Cachoeira; o Rio Cubatão; o Rio do Braço;

o Museu do Sambaqui; o Museu da Imigração; a E.E.B. Marli Maria de Souza no bairro Paranaguamirim; a

Univille; o Museu de Arte; Estrada Mildau; Atelier de Reciclagem de Papel da E.E.B. Olavo Bilac; além de

espaços como um sambaqui próximo a uma das escolas; a casa de um discente de uma das escolas somente

para ver uma fossa séptica; indústrias; sítios e piqueniques ecológicos.

Em outras respostas, expressadas pelos professores participantes, verificou-se que houve quem

levou seus alunos para outras localidades fora do município de Joinville, como, por exemplo, em São

Francisco do Sul, Florianópolis e no Instituto Rã Bugio em Jaraguá do Sul. E o participante “P18”, relatou ter

feito uma aula de campo no Pantanal Matogrossense, quando residia na região.

Não. Aqui em Joinville ainda não fui privilegiado com esta aula tão maravilhosa, mas antes já realizei no pantanal matogrossense nos anos 90 com uma turma de 5º ano, sobre os animais, habitat. (“P18”)

Page 85: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

84 – Educação Ambiental em Foco

Há professores que nunca realizaram aula de campo e que demonstraram interesse em praticar esse

tipo de aula, como se observa na resposta de “P44”. Outros docentes, como “P57”, comentaram que apenas

levam seus alunos para visitas à horta escolar.

Não. É o meu sonho, ou seja, gostaria. (“P44”) Não. Apenas visitamos a nossa horta uma vez por semana. (“P57”)

Como foi apontado na pesquisa, grande parte dos professores participantes (66,7%), nunca fez uma

saída de campo com seus alunos. Desse modo, seria muito interessante se essas aulas fossem sugeridas e

oportunizadas aos professores em suas formações iniciais e continuadas, pois além de proporcionar um

conhecimento complementar ao profissional da educação, essa atividade pode servir como um exemplo de

prática pedagógica para os professores executarem com seus alunos.

Por se tratar de uma pesquisa realizada em área de bacia hidrográfica, buscou-se verificar se o

professor conhece alguma Unidade de Conservação (UC) ou Área de Proteção Ambiental (APA) na região.

Verificou-se que 59,7% dos professores disseram conhecer alguma Unidade de Conservação (UC) ou Área

de Proteção Ambiental (APA). E dos professores que lecionam nas escolas dentro dos limites da APA Dona

Francisca, apenas 9,1% citaram seu nome. Parte dos professores citou localidades ou órgãos públicos, que

não correspondem a uma UC ou uma APA.

Page 86: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 85

Buscou-se também verificar se os participantes conhecem e trabalham ou se já fizeram alguma ação

em favor da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte (BHRC). Constatou-se que 57,9% dos professores

conhecem a BHRC e 66,7% dos docentes não trabalham questões sobre a BHRC. Grande parte dos

professores (73,7%) nunca fizeram nenhuma ação a favor da BHRC. Dos professores que já fizeram alguma

ação na BHRC, 78,6% realizaram conversas em sala de aula e 21,4% já atuaram com projetos.

Constatou-se que a maioria dos professores participantes da pesquisa (87,7%) trabalha com seus

alunos conteúdos referentes à proteção e preservação das águas. As respostas dadas pelos participantes

“P43” e “P53” dão uma ideia – embora relativa - de como os docentes trabalham com a questão das águas

nas escolas pesquisadas:

Sim. Temos um projeto da Aguas de Joinville e com outras turmas já fomos até o Piraí medir o o PH e comparar com o PH do Cachoeira, instruímos a não jogar óleo nos ralos, etc. (“P43”) Sim, aqui na região tem muitos rios, as crianças interagem muito com esse assunto porque são frequentadoras dos rios, então já fizemos trabalhos sobre mata ciliar, cuidados com lixo e fossa, esgoto e economia de água. (“P53”)

Nesta pesquisa, também foi possível constatar que 91,2% dos docentes disseram que praticam

ações com vistas à preservação da água. As respostas de “P7” e “P47” reforçam esse resultado.

Sim. Tenho um grupo em Penha que limpa as praias uma fez por mês; são surfistas locais.. (“P7”) Sim. Em minha casa, tenho cisterna que abastece as descargas e as torneiras de jardim (3.300 L) e ainda reutilizo água da máquina de lavar na pré-lavagem de minhas calçadas e varandas.(“P47”)

Page 87: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

86 – Educação Ambiental em Foco

Estudos realizados em áreas de bacias hidrográficas sobre a questão das águas são de relevante

importância, pois os pequenos cursos de água de um município inserem–se em regiões hidrográficas mais

amplas. Ou seja, tanto as ações positivas como as negativas, ali praticadas, atingem grandes áreas e por este

motivo ter noção micro e macro de pertencimento ao complexo planetário auxilia o indivíduo a

compreender onde ele está inserido e quais são os elementos que são indispensáveis para sua sobrevivência e

de diversos tipos de organismos, como é o caso da água.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo geral da pesquisa esteve centrado na “percepção ambiental, principalmente em relação

à água, de professores de escolas municipais localizadas na área da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do

Norte em Joinville (SC)”. Na pesquisa, buscou-se realizar a análise das concepções de Meio Ambiente e de

Educação Ambiental dos participantes, por meio da identificação das palavras que mais se repetiram nas

respostas dadas pelos professores. No entanto, apenas a análise de tais concepções, não é suficiente para

descrever a percepção ambiental dos participantes. Outras informações, como a análise das práticas

ambientais dos professores, também foram relevantes para tal diagnóstico.

Formas diferenciadas de se trabalhar nas escolas, que incluem as questões ambientais em suas

premissas, foram enfatizadas pelos participantes da pesquisa. Inclusive houve sugestões de alternativas para

melhorar suas próprias práticas pedagógicas, com a realização de palestras, aplicação de jogos lúdicos e saídas

Page 88: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 87

de campo. A busca por alternativas é uma necessidade para que os docentes não caiam numa “rotina”

pedagógica baseada em aulas expositivas dialogadas apenas e que fiquem somente dentro do próprio espaço

escolar.

Os professores participantes da pesquisa sugeriram a implantação de sistemas de captação da água

da chuva nas escolas do município de Joinville/SC, principalmente pelo elevado índice pluviométrico da

cidade, além da criação de espaços alternativos nas escolas onde atuam. Sugere-se também, que sejam

realizadas pesquisas voltadas para o resgate histórico das escolas localizadas na área da Bacia Hidrográfica do

Rio Cubatão do Norte, visto que a história das unidades escolares encontra-se comprometida no sentido de

que o material histórico disponível, como o caso das fotografias, já se encontra deteriorado pelo tempo e

pelo acondicionamento inadequado.

Ressalta-se, aqui, que a inserção da Educação Ambiental em todos os níveis educacionais e na

formação de todos os profissionais, principalmente os docentes, é a base para que tanto os referidos

profissionais como os seus alunos “despertem” para a importância das águas de uma área de bacia

hidrográfica. Desse modo, sugere-se, então, que os professores tenham acesso a cursos de capacitação que

discutam as questões ambientais e educacionais, independente de sua modalidade: presencial, semipresencial

ou à distância, mas que contemplem aulas de campo e que tratem da importância dos recursos hídricos.

Enfim, constatou-se com a realização da pesquisa, fonte deste artigo, a importância de que os

professores do município de Joinville/SC (e os de outras localidades), conheçam e estudem a Bacia Hidrográfica

do Rio Cubatão do Norte, principalmente em relação à suas águas. Só assim, estudando especificamente a

Page 89: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

88 – Educação Ambiental em Foco

localidade onde estão inseridos é que perceberão que fazem parte dela e que ao preservá-la estão também

preservando o complexo planetário onde todos vivem e estão interligados.

REFERÊNCIAS

BALDIN, Nelma; HOFFMANN, Júlia Fernanda. Outras concepções metodológicas – o lúdico e o pedagógico: a prática da educação ambiental com crianças do ensino fundamental. In: VENERA, Raquel Alvarenga Sena; CAMPOS, Rosânia (Orgs). Abordagens teórico-metodológicas: primeiras aproximações. Joinville: UNIVILLE, 2012. BARDIN, Laurence. 1977. Análise de conteúdo. Edições 70, Lisboa, Portugal, 229pp. BRASIL. Decreto 4.281 de 25 de junho de 2002. Regulamenta a Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999, que institui a Política Nacional de Educação Ambiental, e dá outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/2002/d4281.htm >. Acesso em: 23 abr. 2012. BRASIL. Lei 9.433 de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9433.htm>. Acesso em: 03 out. 2013. BRASIL. Lei 9.985 de 18 de agosto de 2000. Regulamenta o artigo 225 da Constituição Federal e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação e da outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9985.htm>. Acesso em: 01 ago 2013. COMITÊ DE GERENCIAMENTO DAS BACIAS HIDROGRÁFICAS DOS RIOS CUBATÃO (NORTE) E CACHOEIRA - CCJ. Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte. Disponível em: <http://www.cubataojoinville.org.br>. Acesso em: 01 ago 2013. COIMBRA, José de Ávila Aguiar. Linguagem e percepção ambiental. In: PHILIPPI-JR, Arlindo; ROMERO, Marcelo de Andrade; BRUNA, Gilda Collet (Orgs). Curso de Gestão Ambiental. Barueri: Manole, 2004, p. 525–570.

Page 90: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 89

FIOD, E. G. M. Educação e trabalho na sociedade capitalista. Disponível em:< www.icesi.edu.co/ret/documentos/Ponencias%20pdf/285.pdf>. Acesso em: 7 maio 2012. GONÇALVES, Mônica Lopes; OLIVEIRA, Fabiano Antônio de; ZANOTELLI, Cladir Teresinha; OLIVEIRA, Therezinha Maria Novais. Elaboração do Plano Diretor dos Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte. Joinville: UNIVILLE, 2007. Disponível em: <http://www.cubataojoinville.org.br/arquivos/livro2.pdf>. Acesso em: 24 maio. 2012. IERVOLINO, Solange A.; PELICIONI, Maria Cecília F. Capacitação de professores para a promoção e educação em saúde na escola: relato de uma experiência. Rev Bras Cresc Desenv Hum. v. 15, n. 2, p. 99-110. 2005. KRASILCHIK, M. Prática de Ensino de Biologia. 4. ed. São Paulo: Editora daUniversidade de São Paulo, 2008. MENDES, Regina; VAZ, Arnaldo. Educação ambiental no ensino formal: narrativas de professores sobre suas experiências e perspectivas. Educação em Revista, Belo Horizonte, v. 25, n.3, p.395-411, dez. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/edur/v25n3/19.pdf>. Acesso em: 06 maio. 2012. MORALES, Angélica Góis; KNECHTEL, Maria do Rosário. A universidade e a formação em educação ambiental na perspectiva multicultural: considerações e possibilidades. In: MORALES, Angélica Góis et al. Educação Ambiental e Multiculturalismo. Ponta Grossa: UEPG, 2012 OLIVEIRA, André Luis de; OBARA, Ana Tiyomi; RODRIGUES, Maria Aparecida. Educação ambiental: concepções e práticas de professores de ciências do ensino fundamental. Revista Electrónica de Enseñanza de las Ciências. vol. 6, n. 3, p. 471-495, 2007. Disponível em: < http://www.saum.uvigo.es/reec/volumenes/volumen6/ART1_Vol6_N3.pdf>. Acesso em: 20 maio 2012. OLIVEIRA, Therezinha Maria Novais de; RIBEIRO, José Mário; MAGNA, Débora Jareta. Diagnóstico ambiental do rio do Braço. Joinville: Univille, 2009. PEREIRA, Evânia Maria; FARRAPEIRA, Cristiane Maria Rocha; PINTO, Stefane de Lyra. Percepção e Educação Ambiental sobre Manguezais em Escolas Públicas da Região Metropolitana do Recife. Rev. eletrônica Mestr. Educ.

Page 91: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

90 – Educação Ambiental em Foco

Ambient. v.17, jul/dez. 2006. Disponível em: < http://www.remea.furg.br/edicoes/vol17/art37v17a15.PDF>. Acesso em: 06 maio. 2012. PIRES, José Salatiel Rodrigues; SANTOS, José Eduardo dos; DEL PRETTE, Marcos Estevan. A Utilização do Conceito de Bacia Hidrográfica para a Conservação dos Recursos Naturais. In: SCHIAVETTI, Alexandre; CAMARGO, Antonio Fernando Monteiro. Conceitos de Bacias Hidrográficas: teorias e aplicações. Ilhéus: Editus, 2002. REIGOTA, Marcos. Meio Ambiente e Representação Social. 7. ed. São Paulo: Cortez, 2007. REIGOTA, Marcos. O que é educação ambiental. São Paulo: Brasiliense, 2012. RICKLEFS, Robert E. A economia da natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. RUFFINO, Paulo Henrique Peira; SANTOS, Sílvia Aparecida dos. Utilização do Conceito de Bacia Hidrográfica para Capacitação de Educadores. In: SCHIAVETTI, Alexandre; CAMARGO, Antonio Fernando Monteiro. Conceitos de Bacias Hidrográficas: teorias e aplicações. Ilhéus: Editus, 2002. SATO, Michèle. Educação Ambiental. São Carlos:RiMa, 2003. SAUVÉ, Lucie. Educação Ambiental: possibilidades e limitações. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, p. 317-322, maio/ago. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ep/v31n2/a12v31n2.pdf>. Acesso em: 01 jun 2012. SILVA, Rosana Louro Ferreira da; CAMPINA, Nilva Nunes. Concepções de educação ambiental na mídia e em práticas escolares: contribuições de uma tipologia. In: Pesquisa em Educação Ambiental/ Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação Ambiental (UFSCar) , Formação de Professores de Ciências (UFSCar), A Temática Ambiental e o Processo Educativo (UNESP/IBRC), LAIFE (USP/FFCLRP). São Carlos: UFSCar; Rio Claro: UNESP/IBRC; Ribeirão Preto: USP/FFCLRP. v. 6, n. 1, jan-jun. 2011. SOUZA, Suzani Cassiani de; SOUZA, Carlos Eduardo Pilleggi de. Se a linguagem e o pensamento são humanos...é possível fugir do antropocentrismo? In: GUIMARÃES, Leandro Belinaso, et al. (Orgs.). Tecendo subjetividades em educação e meio ambiente. Florianópolis: NUP/CED/UFSC, 2003.

Page 92: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 91

STIMAMIGLIO, Adriano. Hidrografia. In: KNIE, J. L. W. Atlas ambiental da região de Joinville: Complexo hídrico da Baía da Babitonga. Florianópolis: FATMA/GTZ, 2002. p. 19-22. TAGLIEBER, José Erno. Formação continuada de professores em educação ambiental: contribuições, obstáculos e desafios. GT: Educação Ambiental / n.22 Agência Financiadora: FAPESC / CNPq. Disponível em: <http://www.anped.org.br/reunioes/30ra/trabalhos/GT22-3455--Int.pdf>. Acesso em: 12 maio 2012. TREIN, Luiz Ernesto. Patrimônio Biológico. In: KNIE, J. L. W. Atlas ambiental da região de Joinville: Complexo hídrico da Baía da Babitonga. Florianópolis: FATMA/GTZ, 2002. p. 27-38. ZANOTELLI, Cladir Teresinha; HOMRICH, Ana Paula Marotto; OLIVEIRA, Fabiano Antonio de. Conhecendo a Bacia Hidrográfica do Rio Cubatão do Norte. Joinville: Univille, 2009. Disponível em: < http://www.cubataojoinville.org.br/arquivos/LVcladir.pdf>. Acesso em: 24 maio de 2012.

Page 93: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

92 – Educação Ambiental em Foco

4º CAPÍTULO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E

MATERIAIS DIDÁTICOS

Page 94: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 93

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E MATERIAIS DIDÁTICOS

Eloiza Cristiane Torres

Profª Drª do Departamento de Geografia na Universidade Estadual de Londrina (PR)

E-mail: [email protected]

Ricardo Lopes Fonseca

Doutorando em Geografia, pela Universidade Estadual de Londrina.

Email: [email protected]

INTRODUÇÃO: UM POUCO DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A Primeira Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental foi realizada no ano de1977,

promovida pela UNESCO e pelo Programa das Nações Unidas e Meio Ambiente PNUMA, em Tbilisi –

Geórgia (ex-URSS). Nessa conferência foram traçadas de forma mais sistemática e com abrangência mundial

as diretrizes, as conceituações e os procedimentos para a Educação Ambiental.

Page 95: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

94 – Educação Ambiental em Foco

Um dos primeiros encontros internacionais em que se falou em Educação Ambiental foi o Seminário

Internacional sobre Educação Ambiental (1975), ficando conhecido como Encontro de Belgrado, por ter sido

realizado em Belgrado, na Iugoslávia. Ao final da Conferência, elaborou-se a Carta de Belgrado, que, até o

presente, constitui-se um dos mais importantes documentos gerados. Após este, vários encontros

internacionais foram realizados, tendo como preocupação ampliar a Educação Ambiental em todos os países

pertencentes à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Organização das Nações Unidas para Educação, a

Ciência e a Cultura (UNESCO). Em 1972, foi realizada em Estocolmo, na Suécia, a Conferência das Nações

Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, sendo a Educação Ambiental um dos principais temas, sendo

elaborada a “Declaração sobre o Ambiente Humano”.

Neste documento ficariam explícitas as metas e os objetivos para a Educação Ambiental, sendo o

princípio básico a atenção com o meio natural e transformado, com os fatores econômicos, sociais e

culturais, levados em conta dentro desta análise. Sendo assim, teríamos uma concepção multidisciplinar,

integrada nas diferenças regionais e direcionadas para interesses nacionais, voltadas para uma

conscientização coletiva e comportamento coletivo nos diferentes níveis das inter e intranações

(GUIMARÃES, 1995, p. 17).

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) foi organizada

pela ONU, no Brasil, na cidade de Rio de Janeiro, que ficou conhecida por ECO 92 e RIO 92, em que a

Educação Ambiental ficou estabelecida perante a sociedade brasileira, gerando estudos e constituindo-se

como motivadora para a realização de projetos em Educação Ambiental. Foi durante essa conferência que

ocorreu o Fórum Global, um evento paralelo reunindo Organizações Não-Governamentais (ONGs) de todo o

Page 96: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 95

mundo. Durante o Fórum aconteceu a Jornada Internacional de Educação Ambiental, produzindo-se o “Tratado

de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global”, e a Agenda 21, reafirmando

os princípios e diretrizes dessa jornada.

Diversos assuntos foram abordados pela Agenda 21 em seus 40 capítulos, o dispêndio financeiro para

concretizar o projeto, as ações necessárias, os objetivos, as justificativas. Observados os capítulos da Agenda 21,

podemos perceber que a educação, seja ela formal ou informal, direta ou indiretamente, permeia a todos, o

que nos faz repensar um pouco mais as considerações explicitadas no capítulo 36 que é dedicado a ela.

Esse capítulo foi dividido em 3 áreas de programa: reorientação do ensino no sentido do

desenvolvimento sustentável; aumento da consciência pública, e; promoção do treinamento.

No que se refere à reorientação do ensino, a Agenda 21 teve a preocupação de abordar a importância

da discussão acerca da questão ambiental em todas as parcelas sociais. Para isto, precisaria ocorrer uma

integração disciplinar com métodos formais e informais que garantissem, também, o desenvolvimento do meio

físico/biológico, sócioconômico e humano, além do regionalismo, garantindo maior abrangência das ações.

No caso do Brasil, a previsão de inserir a temática ambiental, de maneira formal, seria nos 3 anos

seguintes à Conferência da Nações Unidas sobre meio Ambiente e Desenvolvimento (1992), mas não foi

totalmente concretizada. Entretanto, paralelamente, ocorreu a introdução do tema na Proposta Curricular da

CENP e, posteriormente, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) em 1997, como um tema

transversal dentro dos PCN’s, que permearia os outros temas, mostrando esta transversalidade, que, na

prática, é de difícil aplicabilidade. (torres, 2012)

Page 97: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

96 – Educação Ambiental em Foco

Assim, pode-se perceber que a Educação Ambiental deve ser aplicada em seus vários níveis e em

diversas faixas etárias. Este trabalho visa contemplar a etapa correspondente à educação infantil. Sendo assim,

torna-se interessante verticalizar um pouco nessa direção a fim de compreender melhor o público alvo da

pesquisa.

MATERIAIS DIDÁTICOS E A EDUCAÇÃO AMBIENTAL: CAMINHANDO JUNTOS

Entendendo a prática em Educação Ambiental como multi e interdisciplinar é que os materiais

didáticos aqui apresentados foram produzidos, visando subsidiar os trabalhos com propostas simples de

atividades que vão do público da educação infantil até o universitário.

A opção foi de apresentar algumas atividades que podem ser realizadas em concordância com as

mais variadas disciplinas como forma de motivação e sensibilização ao tema. Desta forma, não foi escolhido

um tema especifico, ficando a cargo do docente optar pelo melhor momento de utilizar.

Para o desenvolvimento destas atividades, é inegável a eficiência e importância do apoio dos

materiais didáticos, sendo inúmeras as vantagens de utilizá-los. Os materiais didáticos são válidos por

motivarem o aluno; tornarem o conteúdo mais interessante; facilitarem a motivação; favorecerem o

desenvolvimento de processos mentais, como observação, comparação, análise e síntese; possibilitam

experiências diversas; favorecem o desenvolvimento do pensamento e a conclusão dos assuntos; aproximam

os alunos, principalmente os mais inibidos. (Torres, et al., 2013).

Page 98: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 97

A intenção é de que o professor, após analisar esta proposta, compreenda como foram produzidas

as atividades e seja capaz de explorar a realidade em que sua escola está inserida, que seja capaz de extrair

personagens desta perspectiva e que confeccione seu próprio material, para ou com o aluno, visto que o ele

é um ser transformador do meio e, assim, responsável por sua preservação.

Desenvolver hábitos e atitudes saudáveis com relação ao meio ambiente e ao próprio corpo

(ambiente humano) trata-se de um objetivo norteador em qualquer trabalho com a comunidade escolar. Isto

porque, as crianças estão sendo formadas em todos os sentidos, fisicamente, intelectualmente,

psicologicamente. Enfim, desenvolver atitudes que auxiliarão na constituição destes pequenos seres sociais

que serão responsáveis por atos futuros com relação ao meio e com relação à própria humanidade.

O importante no trabalho com sucata é o desenvolvimento do improviso: muitas vezes você não

tem este ou aquele material e, assim, usará mais ainda a criatividade para chegar a um determinado produto.

O mais significativo no trabalho com sucata é o processo, o desenvolvimento, para se chegar a um

resultado final. Este resultado final pode ser apenas uma motivação para se trabalhar vários aspectos

pedagógicos e ambientais com um único material, até então encarado como mero lixo.

a) Jogos e brincadeiras

A fim de desenvolver a criança como um todo, os jogos e brincadeiras possuem grande importância,

pois, são eles que constituem o suporte de uma atividade. Entretanto, o uso que se fizer do jogo é que

Page 99: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

98 – Educação Ambiental em Foco

determinará sua característica, ou seja, dependendo do objetivo, um determinado jogo/brincadeira

desenvolverá certas habilidades na criança.

Existem quatro tipos básicos de jogos de acordo com Wallon (1981, p. 13):

Jogos funcionais (normas);

Jogos de imitação (casinha);

Jogos de aquisição (coleções);

Jogos de fabricação (sucata).

Lembrando que um mesmo jogo pode ser uma soma dos tipos acima.

Desta forma, para a Educação Ambiental desenvolver atividades ao ar livre, jogos de tabuleiros,

brincadeiras de bola, maratonas e gincanas constituirão formas interessantes de desenvolver a temática

ambiental de uma maneira prazerosa. Na figura 1 pode ser visto um jogo clássico para grupo que é o de

trilhas. A própria confecção do jogo considerado de tabuleiro pode ser feita pelos alunos e jogado por outros

alunos de acordo com a temática que está sendo desenvolvida.

Page 100: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 99

Figura 1: O clássico jogo de trilhas: Em cada casa ações positivas e negativas são colocadas, conforme o jogador

“andar” poderá avançar ou retroceder. A movimentação é dada pela utilização de um dado que dará a cada jogador a

chance de avançar.

Fonte: Torres (2013).

Page 101: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

100 – Educação Ambiental em Foco

b) Livros: elaborados ou comprados

Antes de a criança aprender a falar, ela aprende a ouvir. Ouvir antecede a escrita e, por isso,

contar histórias para as crianças que ainda não sabem ler é muito importante para sua formação global.

Assim, ouvir e contar histórias faz parte do cotidiano de todas as pessoas.

Atualmente existe uma linha editorial voltada às questões ambientais muito diferente do que

acontecia da década de 1980 e 1990 em que o professor deveria confeccionar seu próprio material caso

quisesse trabalhar tais temáticas devido a falta de acesso aos mesmos.

Mesmo assim, discutir uma temática, debruçar sobre ela e produzir esta informação em forma de

livro é umas das formas mais interessantes para o desenvolvimento da capacidade cognitiva dos alunos.

A faixa etária, o desenvolvimento cognitivo da criança, os interesses individuais, devem ser

respeitados. Um mesmo assunto pode ser trabalhado com um pré-escolar ou com um aluno de ensino

médio. A diferença se faz na abordagem do assunto, nas reflexões e discussões, ou seja, para cada aluno o

professor precisa atentar a este aspecto a fim de haver motivação, menor dispersão e grande aproveitamento

do texto.

Livros sem textos e somente com ilustrações podem e devem ser utilizados com a educação infantil,

já livros mais elaborados com o público de ensino médio. Sugere-se que os alunos em níveis escolares mais

avançados confeccionem livros para os menores, mostrando, assim, como a informação pode ser transmitida

e mesmo manipulada em alguns casos.

Page 102: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 101

Não é preciso ser um material profissional, o mais importante é o que será escrito, falado,

transmitido. Assim, na figura 2 pode ser visto uma página de um livro com restos de papel e figuras de

propaganda de mercado versando sobre a problemática do livro.

Figura 2: Livro com recortes de propagandas. O interessante é elaborar o material e refletir sobre ele

Fonte: Torres, 2013.

Page 103: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

102 – Educação Ambiental em Foco

c) Teatro e sua expressão

O teatro é uma das formas mais antigas de expressão. A expressão teatral, ou jogos dramáticos,

possuem um espaço importante dentro do ambiente escolar por ampliar e orientar as possibilidades de

expressão do aluno. As atividades desenvolvidas com teatro ajudam o aluno a exteriorizar seus sentimentos

mais profundos e suas observações pessoais.

Temos, então, cinco capacidades de expressão propostas por Reverbel (1989), que devem ser

trabalhadas pelo professor quando o mesmo optar por um jogo teatral:

Relacionamento;

Espontaneidade;

Imaginação;

Observação, e;

Percepção.

Na elaboração de uma peça escolar é visível o envolvimento dos alunos e também como

rapidamente os mesmos se organizam de acordo com as habilidades de cada um.

Roupas, cenários, entre outros, podem ser confeccionados com sucata ou mesmo dispensados,

tornando a encenação menos custosa. Na figura 3 pode ser vista pequena produção do projeto “Reciclando

Page 104: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 103

Sonhos” que leva discussões acerca dos resíduos sólidos e água para escolas de educação infantil em Londrina-

PR.

Figura 3: Projeto “Reciclando Sonhos”. Montagem do cenário com restos de TNT e EVA, materiais que são comuns e

geram muita sucata nas escolas.

Fonte: Brito (2010).

Page 105: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

104 – Educação Ambiental em Foco

d) Teatro de fantoches

Esta é uma expressão teatral também muito antiga e que não demanda muitos custos no ambiente

escolar. Segundo Caldas e Ladeira (1989) o teatro de bonecos teve sua origem na mais remota antiguidade.

Acredita-se que na Pré-história os homens se encantavam com suas sombras movendo-se nas paredes das

cavernas. Assim, para distrair os filhos, as mães projetavam a sombra das mãos tentando formar figuras na

parede.

Durante a Idade Média esses bonecos eram utilizados em doutrinas religiosas e apresentados em

feiras populares. Como alguns personagens faziam críticas às autoridades religiosas, os homens que

participavam de grupos teatrais eram perseguidos.

Quem trouxe os fantoches para as Américas foram os colonizadores. Mas, os nativos já

confeccionavam bonecos que se articulavam e imitavam homens e animais.

Mas, a utilização dos fantoches não precisa ser apenas em caráter profissional. Tal técnica teatral

possui grande valor pedagógico e, desta maneira, trata-se de um ótimo instrumento para transmitir

informações aos alunos.

Entretanto, se os bonecos forem utilizados, confeccionados, pelos alunos tendo o professor apenas

como orientador da atividade, estes serão ótimos auxiliares na ação pedagógica, desenvolvendo múltiplos

aspectos educacionais relativos à comunicação.

A própria sombra com as mãos pode ser considerada como um boneco de fantoches, assim, muitos

materiais podem ser utilizados para a confecção dos mesmos: espuma, tecido, palitos, garrafas PET,

Page 106: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 105

dedoches. A única ressalva é com relação ao texto utilizado que não pode ser muito longo, pois torna a

apresentação enfadonha. Nas figuras 4 e 5 podem ser visto alguns modelos de fantoches.

Figuras 4 e 5: Fantoches de mão e fantoches de dedos “dedoches”,

formas econômicas de realizar teatro de fantoches.

Fonte: Torres (2013).

Page 107: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

106 – Educação Ambiental em Foco

e) Maquetes

Trata-se de uma técnica cartográfica muito utilizada em sala de aula. Aqui está elencada enquanto

linguagem, pois a mesma possui também este caráter informativo.

A maquete é um recurso didático que permite a visualização tridimensional de uma realidade,

apresentando de forma clara a noção de espaço.

Há uma grande dificuldade para os professores de Geografia explorarem de forma clara conteúdos

referentes aos aspectos físicos, como o relevo. É necessário um alto grau de abstração dos alunos, algo

complicado, ainda mais dependendo da idade cognitiva (como alunos de 6º e 7º anos do ensino

fundamental). A maquete ajuda no desenvolvimento desta, pois possibilita a passagem do abstrato para o

concreto. (SOUSA, et al., 2005, s/d). E quando montada em sala é um exercício de transformação da

imagem bidimensional representada pelos mapas para a tridimensional, as maquetes. (LOMBARDO;

CASTRO, 1996, p. 81).

Pode ser usada por várias áreas do conhecimento:

Ferramenta didática para visualização do relevo;

Ferramenta para visualização de um local para venda;

Ferramenta para o ensino em geral.

No ensino sua utilização é inegável, facilitando o entendimento de vários fenômenos ambientais e

Page 108: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 107

mesmo sociais. As técnicas e materiais evoluíram muito ao longo dos anos. Atualmente as mesmas podem ser

feitas de E.V.A..(Ethil Vinil Acetat), ou em português: Etileno Acetato de Vinila, de biscuit e mesmo de materiais

de sucata como isopor.

Para o exemplo da figura 6 foram modeladas formas de relevo em argila e diferentes redes de

drenagem com cola dimensional azul. O objetivo maior é de proporcionar ao discente a visão horizontal da

forma da bacia e também exercitar a cartografação da hidrografia. A atividade pode ser feita levando em

conta a bacia hidrográfica na qual a escola está inserida, fazendo com o discente sinta uma noção maior de

pertencimento e que possa olhar de forma diferenciada o relevo em que habita.

Figura 6- Modelos de argila cobertos com pó de serra tingido de verde e com rede de drenagem em tinta dimensional

azul. O objetivo da atividade é a visualização das redes de drenagem e a representação das mesmas em duas

dimensões. É um exercício cartográfico e ao mesmo tempo de reconhecimento do relevo em que pode-se entender os

porquês de uma inundação, por exemplo.

Page 109: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

108 – Educação Ambiental em Foco

Figura 6 - Modeladas formas de relevo em argila

Fonte: Torres (2013).

Page 110: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 109

f) Produção de vídeos e blog´s

Segundo Moran (1995, p. 29) “[...] o vídeo parte do concreto, do visível, do imediato, próximo, que

toca todos os sentidos. Mexe com o corpo, com a pele - nos toca e "tocamos" os outros; estão ao nosso

alcance através dos recortes visuais, do close, do som envolvente. Pelo vídeo sentimos, experienciamos

sensorialmente o outro, o mundo, nós mesmos”. Ele explora também e, basicamente, “[...] o ver, o

visualizar, o ter diante de nós as situações, as pessoas, os cenários, as cores, as relações espaciais (próximo-

distante, alto-baixo, direita-esquerda, grande-pequeno, equilíbrio-desequilíbrio)”. (MORAN, 1995, p. 30).

Já os blog´s são diários virtuais, uma forma de expor ideias, sentimentos e, porque não dizer,

informações importantes.

Sabe-se que, apesar da existência de recursos tecnológicos nas escolas de ensino do país, esses têm

sido pouco explorados pedagogicamente, “[...] tanto pela ausência ou inconstância de processos permanentes

de capacitação, quanto pela resistência à inovação por parte de muitos professores que, ao temerem o

“novo”, preferem manter as tradicionais formas de ensino centradas na transmissão de conteúdos”.

(MORAN, 1995, p. 31) Os gestores da escola, por sua vez, tampouco conhecem as tecnologias e seu

potencial de apoio às atividades pedagógicas.

O uso de recursos visuais no ensino é um importante objeto de aprendizagem. E, segundo

(ALMEIDA, 2005, p. 25), as crianças prestam atenção em 10% do que elas leem, em 20% do que elas

escutam 30%, do que elas veem, 50% do que elas veem e escutam ao mesmo tempo, 80% do que elas

dizem e 90% do que elas dizem e fazem ao mesmo tempo. Dessa forma, a incorporação do vídeo, em

Page 111: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

110 – Educação Ambiental em Foco

qualquer que seja a disciplina ministrada, acarretará em novas e diferentes maneiras de produção de saberes,

descobertas de conhecimentos e senso crítico serão alcançadas pelos discentes e, no que diz respeito à

geografia física, a utilização de audiovisual facilita o entendimento dos conceitos da mesma.

Para todas as propostas de utilização de certo equipamento há a necessidade de seguir-se um

roteiro para que possa ser dado um prosseguimento às argumentações que porventura possam surgir. O

Vídeo encontra a fórmula de comunicar-se com a maioria das pessoas, tanto crianças como adultas. Assim

sendo, Moran (1995, p. 28) propõe um pequeno roteiro a ser seguido, ou seja, uma forma de trabalhar com

o vídeo em sala de aula, “[...] mesmo que não haja uma ordem rigorosa e pressuponha uma total liberdade de

adaptação destas propostas à realidade de cada professor e dos seus alunos”.

A proposta é de elaborar vídeos no programa MovieMaker, sobre conhecimentos básicos de cada

tema, de cada realidade, visando estimular o interesse aos espectadores em buscar maiores informações e um

possível aprofundamento e exploração do assunto, sendo que as fotos foram retiradas do próprio trabalho de

campo. Este programa é de fácil utilização, basta a pessoa interessada em elaborar um vídeo possuir os arquivos

fotográficos e também de áudio. Os arquivos são ordenados de acordo com a necessidade, podendo inserir

textos, efeitos, tornando-se um vídeo com finalidades subjetivas.

Os alunos podem ser incentivados a produzir vídeos e blog´s que retratam sua realidade: seu bairro,

sua comunidade, a poluição de sua cidade, suas férias; dentro de uma determinada matéria, ou dentro de um

trabalho interdisciplinar e expor a alunos e professores qual sua visão diante de algum fato. E também

produzir programas informativos, feitos por eles mesmos e colocá-los em lugares visíveis dentro da escola e

em horários em que muitas crianças possam assisti-los.

Page 112: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 111

Como exemplo, tem-se um vídeo feito após uma visita à Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta

em Porto Primavera, estado de São Paulo, figura 7.

Figura 7: Vídeo realizado com fotos, vídeo e narrações realizadas durante trabalho de campo na Usina Hidrelétrica

Engenheiro Sérgio Motta em Porto Primavera- São Paulo.

Fonte: Disponível em < http://www.youtube.com/watch?v=xpo_IVliKO0&feature=related >

Acesso 07.10.2014

Page 113: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

112 – Educação Ambiental em Foco

Os vídeos elaborados podem ser disponibilizados na internet como forma de incentivo a outras

pessoas, pois nem sempre se encontra um material didático, um vídeo, que caiba justamente para uma

determinada aula, um determinado assunto-conteúdo. Assim os interessados poderão elaborar seus próprios

materiais didáticos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As pessoas só se conhecem enquanto seres sociais a partir do momento em que interagem ou

entendem o lugar em que vivem. Desse modo podemos fazer com que os alunos tenham a capacidade de

reconhecimento das diversas possibilidades por meio da leitura de um vídeo, de um blog, de um livro ou uma

canção... Demonstrar, também, a possibilidade de agregar as linguagens e os recursos audiovisuais ao

trabalho pedagógico cotidiano, para preparar os alunos ao uso inteligente desses recursos, destacando a

importância de trabalhar a relação escola/professores/alunos/linguagens numa perspectiva crítica, reflexiva e

humanizadora, desde que se considerem as transformações no processo emancipatório e de criticidade dos

alunos, além de definir estratégias metodológicas coerentes com objetivos de aprendizagem direcionados ao

desenvolvimento da cidadania consciente por meio dos professores.

Anseia-se que a educação ambiental permita a implementação de uma prática pedagógica com

base em uma metodologia que possibilite a construção de conhecimentos significativos, que permita aos

Page 114: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 113

educandos se localizarem no âmbito social, considerando-se as relações e representações estabelecidas em

seus espaços de vivência.

Faz-se necessário que os professores tenham plena consciência de seu papel na escola, como

principais responsáveis deste processo, acreditem na formação de alunos-cidadãos, para que possam

construir os seus próprios meios de proporcionar o conhecimento da realidade aos seus alunos, munindo-os

para que possam interagir nos processos de produção do meio atuando como indivíduos conscientes de sua

função na sociedade. No Entanto, para que isto ocorra é preciso que o professor não se acomode com as

práticas de ensino que aprendeu na graduação, e esteja atento para perceber as questões (fatos cotidianos do

aluno), ou seja, é preciso que o professor seja pesquisador da sua realidade profissional. Ensinar é aprender

sempre!!!

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, M. E. B. de. Tecnologia na escola: criação de redes de conhecimentos.In: BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação a Distância. Integração das tecnologias na educação. Brasília: MEC/SEED, 2005. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC, 1997. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular para a Educação Infantil.Brasília: MEC, 1998. GUIMARÃES,C. M. Resgatando a História para Contar a História da Pré-escola. In: Leitura e Escrita na Pré-escola. (Dissertação de Mestrado). Marília, Unesp, 1995.

Page 115: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

114 – Educação Ambiental em Foco

LOMBARDO, M. A.; CASTRO, J. F. M. O uso de maquete como recurso didático. In: Anais do II Colóquio de Cartografia para Crianças, Belo Horizonte, 1996. Revista Geografia e Ensino, UFMG/IGC/Departamento de Geografia, 6(1):81-83, 1997. Disponível em: <http://www.rc.unesp.br/igce/planejamento/publicacoes/TextosPDF/ArtigoMLombardo1.pdf>. Acesso em: 4 set. 2009. MORAN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Revista Comunicação & Educação. São Paulo, ECA-Ed. Moderna, [2]: 27 a 35, jan./abr. de 1995. [on-line] Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/vidsal.htm. Acesso em: 02 abr. 2014. SOUSA, R. R.; SILVA, E. M. da; ROCHA, H. M. Maquetes de geografia física. In: VIII Congresso Ibero-Americano de Extensão Universitária, 2005, Rio de Janeiro-RJ. Disponível em: <http://www.pr5.ufrj.br/cd_ibero/biblioteca_pdf/educacao/43%20-%20trabalho_hudson.pdf.>. Acesso em: 4 set 2009. Torres, Eloiza Cristiane .Caminhos para Educação Ambiental. Virtual Books,Pará de Minas, MG, 2013 Torres, Eloiza Cristiane, Gaviolli, Lilian, Farias, Keli. Educação Ambiewntal e anos iniciais: Uma aproximação através do jogo de copos.Ciepeg, Ponta Grossa, 2013 WALLON, H. A Evolução Psicológica da Criança. Lisboa: edição 70, 1981.

Page 116: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 115

5º CAPÍTULO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

UM DESAFIO À POLÍTICA

NACIONAL DE RESÍDUOS

SÓLIDOS

Page 117: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

116 – Educação Ambiental em Foco

EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

UM DESAFIO À POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Antonio Carlos de Miranda

Professor Doutor Pesquisador do Programa Stricto Sensu da Anhanguera/Educacional- RJ

E-mail: [email protected]

Haroldo Pereira Gomes

Professor Doutor do Centro Federal de Educação Tecnológica – CEFET – RJ

Nilzete Ferreira

Professora Msc do Centro Universitário Augusto Motta – RJ

E-mail: [email protected]

Page 118: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 117

INTRODUÇÃO

O abastecimento de água, esgoto sanitário e coleta de resíduos sólidos são aspectos fundamentais na

promoção de qualidade de vida. Na medida em que a urbanização acelera, observamos que esses serviços

não são diretamente proporcionais a tal crescimento. Em geral, isso ocorre em países em desenvolvimento

que não possuem capacidade financeira, política e administrativa (e até formas democráticas de tratar essas

questões e legislação adequada) para garantir esses serviços. É possível observar em áreas metropolitanas,

locais sem saneamento básico, onde os rios que cortam a cidade tornam-se receptadores do esgoto e de

resíduos sólidos.

A gestão e a disposição inadequada dos resíduos sólidos causam impactos socioambientais, tais como degradação do solo, comprometimento dos corpos d’água e mananciais, intensificação de enchentes, contribuição para a poluição do ar e proliferação de vetores de importância sanitária nos centros urbanos e catação em condições insalubres nas ruas e nas áreas de disposição final (BESEN et al., 2010).

Essas condições repercutem na saúde e no ambiente, pois o espaço urbano irradia questões mais

profundas, nos fazendo retomar a dicotomia entre desenvolvimento e qualidade de vida. O ser humano ao

fragmentar o conhecimento também estabelece soluções particularizadas. Os locais inapropriados de

deposição final de resíduos ou rejeitos (os lixões) e as condições de saneamento retratam o contraste de uma

época, em busca de um desenvolvimento econômico em detrimento das condições sociais. Os rios se

tornaram desde a era industrial, tanto para a fábrica quanto para as residências, um canal mais barato, para

abastecer as indústrias com grande quantidade de água e, por outro lado, passa a receber os resíduos sólidos

Page 119: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

118 – Educação Ambiental em Foco

e os dejetos, resultando no envenenamento da vida aquática, destruição de alimentos, poluição da água,

assoreamento e enchentes, com danos à população mais pobre que vive em suas margens.

Souza (2007, p.84) inclui à pobreza urbana e à segregação residencial, a degradação ambiental em

que observa o lucro até nas consequências negativas, envolvendo de forma indireta a população do seu

entorno sem a percepção dos impactos a si própria. O autor lembra que “nossa formação territorial é, numa

perspectiva histórica, essencialmente degradadora dos lugares e de seus habitantes”. Santos (2007, p.155),

por sua vez, irá refletir sobre a questão da “ideologia do consumo” onde atua de forma a descaracterizar o

objetivo final, considerando aqui, a qualidade de vida, impregna o cidadão de mediações e aparências

afirmando: “quando se confundem cidadão e consumidor, a educação, a moradia, a saúde, o lazer aparecem

como conquistas pessoais e não como direitos sociais.”

Isto posto, este artigo representa um ensaio de caráter qualitativo, atento às questões

socioambientais, cujo objetivo é submeter a um olhar crítico a lei 12.305 e ainda destacar a importância de

propostas, de atividades e de programas em educação ambiental adequados à problemática que envolve os

resíduos sólidos. Nesse sentido, defendemos em uma primeira etapa, por exemplo, trazer à tona a visão local

inserida na realidade e no cotidiano da comunidade, visando construir um diagnóstico dos seus problemas

socioambientais, permitindo compreender as suas causas e suas inter-relações com as outras áreas do saber e

o papel do estado no âmbito de responsabilidade e de legislação. Em seguida, sensibilizar e desenvolver um

processo ativo de mobilização da comunidade em torno dos problemas socioambientais, visando estratégias,

ações, atividades e soluções.

Page 120: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 119

Por fim, é importante mencionar que a deposição inadequada dos resíduos sólidos provoca agravo e

impactos ao meio ambiente e danos à saúde humana. Além disso, os dejetos resultam no envenenamento da

vida aquática, destruição de alimentos, poluição da água, assoreamento e enchentes, com danos à população

mais pobre que irá viver em suas margens. Cabe acrescentar que a Lei 12.3051 preconiza que um dos

instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros, é a educação ambiental. Além disso,

defende “programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização

e a reciclagem de resíduos sólidos”.

A POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS: AVANÇOS, REALIDADE E DESAFIOS.

Segundo dados do IBGE2 (2012), só no Brasil são recolhidos mais de 180 mil toneladas diárias de resíduo

sólido por dia. Grande parte desse total vai para os 2.906 lixões, já que 50,8% dos municípios não possuem aterro

sanitário ou controlado. Esse descaso vem de longo tempo, em geral, justificado pela falta de regras mais claras

sobre qual era a responsabilidade de cada um, também sem uma fiscalização efetiva e punições.

Inicialmente, cabe assinalar que “um dos maiores desafios com que se defronta a sociedade moderna

é o equacionamento da geração excessiva e da disposição final ambientalmente segura dos resíduos sólidos”,

como destaca Jacobi e Besen (2011).

1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/lei/l12305.htm 2 http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-ambiente/gestao-do-lixo;

http://www.mma.gov.br/port/conama/reuniao/dir1529/PNRS_consultaspublicas.pdf

Page 121: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

120 – Educação Ambiental em Foco

É importante lembrar que durante 20 anos discutiu-se a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólidos

(PNRS) nº. 12.305 sendo aprovada em 02/08/2010. Inicialmente a Lei Federal de nº 2.3123, em 03/09/1954,

estabelecia que a coleta, o transporte e o destino final dos resíduos deveriam ocorrer de tal forma que não

provocassem danos à saúde humana e ao bem estar público: “Art. 12. A coleta, o transporte e o destino final

do lixo deverão processar-se em condições que não tragam inconveniente à saúde e ao bem estar público,

nos termos da regulamentação a ser baixada”. Em 21 de janeiro de 1961, ela foi regulamentada pelo Decreto

49.974-A4, denominado Código Nacional de Saúde. Já a Constituição Federal de 19885, em seu artigo 23,

afirma: “É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios” e inclui no seu

inciso VI, “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”. Enquanto que no

artigo 25, “Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: V -

produção e consumo; VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos

recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição”. No entanto, não havia uma Política

Nacional de Resíduos Sólidos que apresentasse normas e detalhamento que envolvesse, por exemplo,

geração, transporte, coleta, manejo, acondicionamento, reutilização, reciclagem, tratamento,

reaproveitamento e disposição dos resíduos sólidos.

3 http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1950-1959/lei-2312-3-setembro-1954-355129-publicacaooriginal-1-pl.html 4 http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=160292 5 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm

Page 122: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 121

A Lei nº. 12.305 traz princípios, objetivos, instrumentos para efetivar o PNRS: Primeiro, não gerar o

resíduo; segundo, a redução; terceiro, a reutilização; quarto, o tratamento e por último, a destinação final dos

rejeitos. Em seu Art. 8º, diz que:

São instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros: os planos de resíduos sólidos; os inventários e o sistema declaratório anual de resíduos sólidos; a coleta seletiva, os sistemas de logística reversa e outras ferramentas relacionadas à implementação da responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos.

Enquanto no artigo 19, parágrafo 2o preconiza: “Para Municípios com menos de 20.000 (vinte mil)

habitantes, o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos terá conteúdo simplificado, na forma do

regulamento”. Cabe destacar que o texto da Lei traz reconhecidos avanços, entre outros, a logística reversa

e o princípio da responsabilidade compartilhada. No Art. 33, os fabricantes, importadores, distribuidores e

comerciantes passam a ter responsabilidade após o consumo.

São obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciante.

O princípio da responsabilidade compartilhada, citado no Art. 3o envolve individualmente e de forma

encadeada os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, os consumidores e os titulares dos

serviços públicos de limpeza e de manejo de resíduos sólidos. Nesse caso, visando à redução de resíduos

sólidos e com isso todos os reconhecidos impactos e danos à saúde humana, temos assim o conceito:

Page 123: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

122 – Educação Ambiental em Foco

Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos: conjunto de atribuições individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei.

É importante destacar que a Lei nº. 12.305, inclui normas, entre outras, destinadas aos resíduos

perigosos; reconhece a atuação dos catadores e de suas cooperativas; cria o Sistema Nacional de

Informações sobre a Gestão de Resíduos Sólidos, regulamentado pelo Decreto no. 7.4046, de 23 de

dezembro de 2010; estabelece normas e proibições quanto à destinação ou disposição final de resíduos ou

rejeitos; impede a importação de resíduos sólidos. Todavia, no Art. 56, estabelece que a logística reversa seja

implementada “progressivamente segundo cronograma estabelecido em regulamento”; no Art. 54: aponta

que a “disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, deverá ser implantada em até 4 (quatro) anos

após a data de publicação desta Lei”, isto é, o prazo legal para o fim dos “lixões” ocorre este ano (2014).

Nesse caso, percebe-se uma falta de sintonia e agilidade entre o que o texto da Lei defende e

preconiza e a sua efetiva implementação, principalmente, diante da gravidade dos dados. Vejamos: O

relatório da Abrelpe (2012)7 indica que, naquele ano, foram gerados quase 64 milhões de toneladas de

resíduos sólidos, e o índice per capita foi de 383 kg /ano. É interessante mencionar que de acordo com esse

relatório, ao se comparar com 2011, houve um crescimento de 1,3% em relação à geração de produção do

6 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/Decreto/D7404.htm 7http://www.cidadessustentaveis.org.br/sites/default/files/arquivos/panorama_residuos_solidos_abrelpe_2012.pdf

Page 124: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 123

lixo por habitante, índice esse que representa um valor superior à taxa de 0,9% do crescimento populacional

desse período, o que demonstra um incremento na geração de lixo. Já a quantidade de resíduos que

deixaram de ser coletadas alcançou um valor de 6,2 milhões de toneladas. Esse número justifica-se pela falta

de regras claras, em relação às responsabilidades legais e de punições (MEDEIROS, MIRANDA, SOUSA,

2013). Dados do IBGE apontam que o serviço de coleta seletiva está presente em apenas 447 municípios.

Diante disso, por certo, há (ou haverá) um descompasso entre a realidade e o texto da Lei e em vista disso

são enormes os desafios a serem enfrentados.

A EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMO UM PROCESSO DE AÇÃO E A POLÍTICA NACIONAL DE

RESIDUOS SÓLIDOS

É importante assinalar que a Lei 12.305 em seu Art. 5o diz que “A Política Nacional de Resíduos

Sólidos integra a Política Nacional do Meio Ambiente e articula-se com a Política Nacional de Educação

Ambiental, regulada pela Lei no 9.7958”. Já em seu Art. 8o preconiza que: “São instrumentos da Política

Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros: VIII - a educação ambiental”. Por sua vez, o Art. 19 afirma que o

“plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos tem o seguinte conteúdo mínimo: programas e

ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de

resíduos sólidos”.

8 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm

Page 125: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

124 – Educação Ambiental em Foco

Por sua vez, de acordo com os PCN’s, as atividades envolvendo meio ambiente visam:

Contribuir para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade, local e global. Para isso, é necessário que, mais do que informações e conceitos, a escola se proponha a trabalhar com atitudes, formação de valores e com o ensino e a aprendizagem de habilidades e procedimentos (PCN, 1997, p: 29).

Com efeito, acreditamos que uma das formas de enfrentar esse desafio seja desenvolver atividades em

Educação Ambiental nas escolas que tenham, por um lado, um olhar crítico em relação ao modelo de

consumo presente na sociedade. Por outro lado, como afirma Loureiro (2004, p.18), uma “ação

simultaneamente reflexiva e dialógica, mediatizada pelo mundo, possui na transformação permanente das

condições de vida – objetivas e simbólicas – o meio para a conscientização, o aprender, o saber e agir dos

educandos/educadores”.

Em um primeiro momento, como destacam Miranda e Ferreira (2013), de forma resumida, cabe

lembrar que na educação não formal, pode-se aprender no seu próprio espaço, “o entorno vivido é lugar de

uma troca, matriz de um processo intelectual” (SANTOS, 2008, p.329). Isso se apresenta como uma matriz

que irá estruturar a aprendizagem para a vida. Já a educação formal configura-se na que está representada

pelo ensino escolar institucionalizado. Sem esquecer, como afirmam Bianconi e Caruso (2005), que ensinar

significa ir além da fixação dos termos científicos; é, na verdade, privilegiar situações de aprendizagem que

possibilitem ao aluno a formação de sua bagagem cognitiva. Nesse sentido, precisamos trazer a essa discussão

o pensamento de Moreira (2013) ao conceituar a ‘aprendizagem significativa’:

Page 126: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 125

O aprendiz não é um receptor passivo. Longe disso. Ele deve fazer uso dos conhecimentos que internalizou, de maneira substantiva e não arbitrária, para poder captar os materiais educativos. Nesse processo, ao mesmo tempo em que está progressivamente diferenciando sua estrutura cognitiva, está também fazendo a reconciliação integradora de modo a identificar semelhanças e diferenças e reorganizar seu conhecimento.

Cabe apontar que a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9795/99) em seu artigo 10º

preconiza que a Educação ambiental deve ser “desenvolvida como prática educativa integrada, contínua e

permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal". Isso traz uma importante autonomia e

certamente uma grande possibilidade de avanço. Mas também o risco simplista de ser apresentada apenas

como o ‘dia da árvore’; ‘semana do meio ambiente’; ‘coleta de latinhas’ (MIRANDA, 2005). Já o Parecer

226/879 discute, entre outros aspectos, o processo e os programas de formação do professor/educador.

Portanto, impõe-se estar atento à formação desse educador. Neste ponto, Paulo Freire em a ‘Pedagogia da

Autonomia’ estabelece um perfil desse educador cujo comprometimento está em sua ‘autonomia também

para aprender’. Além disso, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua

produção e a sua construção” (1996, p.22).

Isto posto, não temos dúvida da importância da Educação Ambiental como um ‘Processo de

Formação’, ao envolver, por exemplo, as diversas competências e o conhecimento interdisciplinar; os

princípios da Educação Ambiental; a legislação, e os seus pressupostos educacionais; entender os processos

que regem os sistemas da natureza e os riscos de seu desequilíbrio; uma visão holística (socioambiental) do

planeta; das questões urbanas: lixo; distribuição de água; saneamento; habitação, entre outros.

9 http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao13.pdf

Page 127: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

126 – Educação Ambiental em Foco

No entanto, temos como proposta central deste artigo que a Educação Ambiental possa ser

encaminhada, fundamentalmente, como um ‘Processo de Ação’, como defendem Miranda e Ferreira (2013).

Que atue em busca não apenas de ações educativas formais, em um sentido de processo de formação, mas

também sendo um ‘processo de ação’, visando alcançar as ‘aspirações emancipadoras’, preconizadas por

Mészaros (2005). Nesse caso, será uma opção do educador selecionar determinados temas ‘para dar partida’

em seus estudos de Educação Ambiental, tais como as questões urbanas: lixo, distribuição de água,

saneamento, habitação, entre outros. No entanto, ao final, estarão integralizando de forma dialógica os

diversos temas ambientais. Com efeito, nesse sentido, estamos atentos ao pensamento de Freire (1987, pag.

100) quando aponta que a:

investigação temática, que se dá no domínio do humano e não no das coisas, não pode reduzir-se a um ato mecânico. Sendo processo de busca, de conhecimento, por isto tudo, de criação, exige de seus sujeitos que vão descobrindo, no encadeamento dos temas significativos, a interpenetração dos problemas.

O esquema a seguir, explicita essa proposta ao apresentar os diferentes temas que se articulam

entre as dimensões da Educação Ambiental, seja como um processo dialógico de Formação e/ou de Ação.

Page 128: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 127

Figura 1: O Processo de Formação e o Processo de Ação.

VISÃO SOCIOAMBIENTAL

DO PLANETA.

COMPETÊNCIA E CONHECIMENTO

INTERDISCIPLINAR

ENTENDER OS PROCESSOS QUE

REGEM OS SISTEMAS DA

NATUREZA E OS RISCOS DE SEU DESEQUILÍBRIO

PRINCÍPIOS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

ÁGUA AR SOLO BIODIVERSIDADE ENERGIA

MUDANÇAS CLIMÁTICAS. EFEITO

ESTUFA CONTAMINAÇÃO QUÍMICA DO AR,

ÁGUA, SOLO. AGROTÓXICOS.

ACIDIFICAÇÃO DOS OCEANOS.

ALTERAÇÃO E PERDA DA BIODIVERSIDADE.

ALIMENTOS

VISÃO LOCAL; INSERIDA NO

COTIDIANO DA COMUNIDADE

QUESTÕES URBANAS: LIXO; DISTRIBUIÇÃO

DE ÁGUA; SANEAMENTO;

HABITAÇÃO. DIAGNÓSTICO DOS PROBLEMAS SÓCIO

AMBIENTAIS DA COMUNIDADE.

COMPREENDER AS CAUSAS E INTER-

RELAÇÕES.

CIDADANIA. ÉTICA. PARTICIPAÇÃO.

EQUIDADE SOCIAL. RESGATE DE SABERES

RESPEITO À REALIDADE DOS MORADORES.

RESGATE DE DIREITOS.

EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

COMO

PROCESSO

DE

FORMAÇÃO.

EDUCAÇÃO

AMBIENTAL

COMO

PROCESSO

DE AÇÃO.

SENSIBILIZAR E DESENVOLVER UM PROCESSO ATIVO DE MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE EM TORNO DOS

PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS

Fonte: Miranda e; Ferreira (2013, p. 517).

Page 129: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

128 – Educação Ambiental em Foco

Nesse sentido, articular as dimensões da Educação Ambiental, seja como um processo dialógico de

Formação e/ou de Ação será uma opção do educador ao dar partida através do sentido (representado pelas

setas) em que os temas vão sendo abordados, evidentemente, sem rigidez, mas adequando sempre a

realidade dos estudantes, nas diversas mediações entre os seres humanos e a natureza. Nesse caso, como

defendem Miranda e Ferreira (2013), inicialmente, trazer à tona, por exemplo, a visão local inserida no

cotidiano da comunidade e um diagnóstico dos seus problemas socioambientais para compreender as causas

e inter-relações que as questões urbanas, como os resíduos sólidos, se inserem, e, além disso, destacar o

papel do estado no âmbito de responsabilidades e de legislação. Nesta etapa, a ação e reflexão estarão

solidárias, como destaca Freire (1987, p. 77) “em uma interação tão radical que, sacrificada, ainda que em

parte, uma delas se ressente imediatamente da outra. Não há palavra verdadeira que não seja a práxis”. Em

outra etapa, sensibilizar e desenvolver um processo ativo de mobilização da comunidade em torno dos seus

problemas socioambientais, envolvendo a ética, a participação dos moradores na busca pela equidade social,

pelo resgate de saberes, pelo respeito à realidade dos moradores, pelos direitos sociais e de cidadania.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como vimos, a inadequação na deposição dos resíduos sólidos provoca agravo e impacto ao meio

ambiente e danos à saúde humana. Além disso, os dejetos resultam no envenenamento da vida aquática,

destruição de alimentos, poluição da água, assoreamento e enchentes, com danos à população mais pobre

que irá viver em suas margens. Cabe acrescentar que a Lei 12.305 preconiza que um dos instrumentos da

Page 130: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 129

Política Nacional de Resíduos Sólidos, entre outros, é a educação ambiental. Além disso, defende “programas

e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a reutilização e a reciclagem de

resíduos sólidos”.

Em sintonia com essas recomendações, defendemos que a proposta de um processo ativo dialógico

de mobilização da comunidade em torno dos seus problemas socioambientais, principalmente da questão dos

resíduos sólidos, centrado principalmente em um ‘Processo de Ação’, como o citado, envolverá o resgate de

valores éticos e de direitos dessas comunidades que são geralmente abandonadas e esquecidas pelo poder

público ou econômico e são as maiores vítimas dos agravos ambientais. Cabe assinalar que o exercício da

cidadania se faz com base no agir ativo, construindo relações de consciência com a sua realidade, através da

intervenção social e da sua reflexão.

REFERÊNCIAS

ABRELPE. Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais, 2012. Disponível em: <http://www.cidadessustentaveis.org.br/sites/default/files/arquivos/panorama_residuos_solidos_abrelpe_2012.pdf> Acesso em: 05/03/2013. BESEN, G. R. et al. Resíduos sólidos: vulnerabilidades e perspectivas. In: SALDIVA Meio ambiente e saúde: o desafio das metrópoles. São Paulo: Ex Libris, 2010. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. _______ Decreto 49.974-a, de 21 de janeiro de 1961. Código Nacional de Saúde.

Page 131: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

130 – Educação Ambiental em Foco

_______ Lei nº 2.312, em 03/09/1954. Normas Gerais sobre Defesa e Proteção da Saúde. _______ Lei nº 9394. Diretrizes e Bases da Educação, 20/12/ 1996. _______ Lei nº 9795. Política Nacional de Educação Ambiental, 27/04/1999. _______ Lei nº. 12.305. Política Nacional de Resíduos Sólidos, 02/08/2010. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Editora Paz e Terra,1987. _______. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996. IBGE. Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, Estudos & Pesquisas Informação Geográfica, Vol. 9, Brasil, 2012. IBGE. Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do Instituto Brasileiro de Estatística. Disponível em: < http://www.brasil.gov.br/sobre/meio-ambiente/gestao-do-lixo >Acesso em: 05/03/2013. JACOBI, P. R.;BESEN, G. R. Gestão de resíduos sólidos em São Paulo: desafios da sustentabilidade. Estudos Avançados. 25 (71), 2011. LOUREIRO, C. F. Trajetória e Fundamentos da Educação Ambiental. São Paulo: Cortez, 2004. MEDEIROS, H.; MIRANDA, A. C.: SOUSA, L. G. Os Resíduos Sólidos: proposta e desenvolvimento de jogos educativos para as series iniciais. Periódico Eletrônico Fórum Ambiental, v.9, n13. dez. 2013. MIRANDA, A. C.; SILVA, E.; MONTEIRO, R. A Dimensão do Mito: na cosmologia; na educação ambiental; na história em quadrinhos. São Paulo: AllPrint, 2005.

Page 132: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 131

MIRANDA, A. C.; FERREIRA, N. O diálogo entre o processo de formação e o processo de ação da Educação ambiental, in: Anais do III Encontro Nacional de Educação ambiental e V Encontro Nordestino de Biogeografia. v.4, p.510-519. João Pessoa-Paraíba: Editora Universitária da UFPB, 2013 MÉSZAROS, I. A educação para além do capital. São Paulo: Boitempo, 2005. SANTOS, M. O espaço do cidadão – 7ª ed. São Paulo: EDUSP, 176 pp. 2007. SOUZA, M. J. ABC do desenvolvimento urbano, 3ª ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 2007.

Page 133: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

132 – Educação Ambiental em Foco

6º CAPÍTULO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL – A

INTERDISCIPLINARIDADE

PARA MUDANÇAS DE

INTELECTO, HÁBITOS E

COMPORTAMENTOS

Page 134: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 133

EDUCAÇÃO AMBIENTAL – A INTERDISCIPLINARIDADE PARA

MUDANÇAS DE INTELECTO, HÁBITOS E COMPORTAMENTOS

Maurício Dias Marques

Graduação em Administração e Direito. Habilitação em Letras. Especialização em Administração Empresarial e Direito. E-mail do autor:

[email protected]

Lucas Seolin Dias

Graduando em Comunicação Social, Graduação em Direito, Especialização em Gestão de Marketing e Comunicação Integrada. E-mail do

autor: [email protected]

INTRODUÇÃO

Este artigo busca, perpassando pelas opiniões de vários autores, tratar da interdisciplinaridade como

condição essencial para promover uma Educação Ambiental eficaz, que possa promover mudanças de

intelecto, hábitos e comportamentos humanos, para uma convivência sustentável.

Trata-se, praticamente, de uma revisão bibliográfica que nos remete a refletir sobre o significado e

importância da interdisciplinaridade no processo educacional, tanto em termos da educação em geral, quanto

da educação ambiental.

Page 135: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

134 – Educação Ambiental em Foco

Assim, trazemos considerações a respeito da Educação, em primeiro momento, que podem ser

estendidas à abordagem da Educação Ambiental, em segundo momento.

EDUCAÇÃO

Educação sempre existiu. O ser humano aprende a ser. Está em constante aprendizado que dura

por toda a vida.

Frases de Paulo Freire chamam atenção por sua presteza e abrangência: “Se a educação sozinha não

transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”; “... aprender não é um ato findo. Aprender

é um exercício constante de renovação...”; “A educação tem caráter permanente. Não há seres educados e

não educados. Estamos todos nos educando”; "Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas.

Pessoas transformam o mundo".

Segundo o Dicionário Eletrônico Houaiss, versão 3.0, Educação é o ato ou processo de educar (-se);

qualquer estágio desse processo (por exemplo: infantil); aplicação dos métodos próprios para assegurar a

formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano; o conjunto desses métodos;

pedagogia, instrução, ensino, didática; o desenvolvimento metódico de uma faculdade, de um sentido, de um

órgão (exemplo: memória, paladar); o conhecimento e observação dos costumes da vida social; civilidade,

delicadeza, polidez, cortesia.

Ao abordar a pedagogia tradicional, Spazziani e Moura (2008) afirmam que educar alguém seria um

processo puramente externo, que ocorre paralelamente ao desenvolvimento interno, mas não o influencia

Page 136: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 135

dado que o ser humano teria nascido com características dadas pelo potencial genético. Para essa abordagem

a metodologia de ensino estaria centrada no professor, no intelecto e no conhecimento e os alunos deveriam

ser aptos (maduros) para receber e reproduzir o modelo de ensino apresentado pelo mestre.

Seguindo essa mesma tendência tradicional, Coan e Zakrzevski (2003) registram que a educação é

centrada no professor, no intelecto e no conhecimento e fica subordinada à instrução, verbalismo e

memorização. Aulas expositivas e demonstrativas dependem da memorização por parte do aluno,

considerado uma “tábula rasa” (tabela em branco) e receptor passivo de informações.

Mazzarino, Munhoz e Keil (2012, p. 54), argumentam que:

Aprendem-se conhecimentos experienciados por outras pessoas de tal forma que aquele que aprende está separado daquilo que é aprendido. Assim foi e ainda é organizado o currículo escolar formal: uma lista extensa e complexa de conteúdos que deve ser apreendida pelo cérebro do estudante a partir de um pensamento com imagens já estratificadas. É a decantação do vivido no lugar de experiências e experimentações diretas e intensivas.

No entanto, compreendemos que o modelo educacional está sofrendo mutações e cada vez mais os

educadores envolvidos no processo, bem como aqueles que estão sendo educados, preocupam-se em construir

conhecimentos não da forma estruturada há séculos, não tão somente pelo modelo perpassado pelas gerações,

mas através de interações, reflexões, compreensões, que possam mudar a forma de ser, sentir, agir.

Dessa maneira, é importante considerar-se a educação com reflexo em todo ser humano, na

profundidade de seu intelecto e na mudança de hábitos e comportamentos, de tal forma que se evidencie o

aprendizado como transformador do pensar e do agir.

Page 137: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

136 – Educação Ambiental em Foco

O dicionário eletrônico Houaiss, já citado, define “intelecto” como faculdade de compreender,

inteligência, entendimento, mente, ou, em sentido lato, faculdade ou atividade pensante inerente à condição

humana, capaz de conferir sentido, limites, ordem e medida ao universo e a seus seres; inteligência,

entendimento.

Por sua vez, “hábito” é definido como maneira usual de ser, fazer, sentir; costume, regra, modo.

Maneira permanente ou frequente de comportar-se; mania; ação ou uso repetido que leva a um

conhecimento ou prática.

Ora, se a educação envolve inteligência, hábitos e comportamentos, então o problema consiste na

vontade, em querer ser educado. Essa vontade provoca tanto incorporação de saberes no intelecto quanto

mudanças de costumes, de hábitos, de comportamentos. Pode-se pensar em educação formal, como um

acúmulo de conhecimentos e, portanto, puramente intelectual, ou em educação profundamente

introspectiva, de maneira a alcançar resultados práticos.

Estabelecendo um conceito de “aprendizagem significativa”, Moreira (2010) coloca que o aprendiz

não é um receptor passivo, ao contrário, deve fazer uso dos conhecimentos que conseguiu interiorizar, de

maneira substantiva e não arbitrária, para poder captar o que lhe foi apresentado. Ao mesmo tempo em que

diferencia progressivamente sua estrutura cognitiva, faz a reconciliação integradora, com vistas a identificar

semelhanças e diferenças e reorganizar seu conhecimento.

Ao iniciar o capítulo 4 de seu livro “A Cabeça Bem Feita”, Morin (2003) discute que o objetivo da

educação não é apenas transmitir conhecimentos cada vez mais numerosos aos alunos, mas criar um estado

Page 138: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 137

interior e profundo, como polo de orientação não apenas na infância, mas por toda a vida; é ensinar a viver,

através da transformação no próprio ser, do conhecimento adquirido.

Para Vygotsky (2007), o aprendizado é de natureza social e é parte de um processo em que a

criança desenvolve seu intelecto dentro da intelectualidade daqueles que a cercam. Todas as atividades

cognitivas básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história social. As habilidades cognitivas e as

formas de estruturar o pensamento não são determinadas por fatores congênitos, mas atividades praticadas

de acordo com os hábitos sociais da cultura onde se encontra o indivíduo. A formação de conceitos exige

complexa atividade onde todas as funções intelectuais fundamentais participam.

Para Pacheco, Tosta e Freire (2010), o processo de construção do conhecimento utiliza a lógica.

Pelos paradigmas individuais e do grupo, seleciona-se os dados significativos, rejeita-se os não significativos:

separa, distingue ou disjunta; une, associa e identifica; coloca em hierarquia; centraliza em torno de um

núcleo chave.

Como visto, para que a educação seja proveitosa e forme ou transforme integralmente o ser social

que é o homem, é preciso pensar nela não como fases separadas, fragmentos distintos, ou informações

desconectadas, mas como uma integração de saberes que se inter-relacionem.

Surge então a interdisciplinaridade como novo paradigma que está em processo de aceitação pela

comunidade científica.

Mas, no dizer de Pacheco, Tosta e Freire (2010), como ainda não existe um modelo a ser seguido

para um programa dentro do novo paradigma, a interdisciplinaridade não pode ser um fim a ser alcançado a

qualquer preço e de qualquer maneira.

Page 139: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

138 – Educação Ambiental em Foco

Mazzarino, Munhoz e Keil (2012), já citados, expõem que à medida que os conceitos sejam

vivenciados e internalizados, podem transformar-se em novos modos de pensar, sentir e viver, produzindo

nova história. Deve-se desacomodar o pensamento de ideias já prontas, variando-se o modo de perceber o

mundo. A educação seria conseguida através dos estímulos visuais, auditivos, táteis, gustativos e olfativos, não

com apatia, desinteresse ou impassividade.

Entendemos que o tratamento, experimentação e aquisição dos vários conhecimentos no mundo

moderno, não prescinde da contribuição da interdisciplinaridade.

Pelo que podemos depreender da produção de Frigotto (2008), há a necessidade da

interdisciplinaridade para construção do conhecimento, sendo que a questão está em como pode ser ela

implementada, já que também é um problema, principalmente nas ciências sociais, em que há limites no sujeito

nos planos ontológico, epistemológico e teórico.

Para Frigoto (2008), historicamente, as relações sociais foram construídas na base da dominação,

exclusão e alienação, presentes a cisão e fragmentação no plano material e do conhecimento. Deve haver

mudanças nas relações sociais, reformulação da práxis social. Isso não é questão que se resolva facilmente.

Necessitamos da interdisciplinaridade para ampliar o conhecimento, mas temos que enfrentar o problema no

plano material histórico-cultural e no plano epistemológico.

Continua ainda o autor reafirmar que é o ser individual que deve passar por mudança ontológica,

necessitando renascer sua natureza plena e integral, romper as tradições. Se queremos aplicar a

interdisciplinaridade precisamos estar abertos a relações sociais em que os indivíduos sejam independentes

Page 140: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 139

no pensamento e reflexões e que haja ajuda mútua com pesos e condições que superem os desafios,

operando numa dialética da forma fragmentária (velho) e do rompimento da exclusão e alienação (novo).

É preciso um olhar educacional que busque um entendimento integral dos fenômenos que ocorrem

conosco e/ou ao nosso lado. É preciso uma visão holística, não ficando apenas no procedimento analítico em que

os componentes são tomados isoladamente.

Educar holisticamente é estimular no educando o desenvolvimento harmônico de todas as

dimensões da totalidade pessoal que incluem o corpo, o intelecto, o sentimento e o espírito. O princípio da

interconexão ou a falta de fragmentação é a base da educação holística. O conhecimento é resultado crítico

da ciência e da filosofia. Constituem parte do conhecimento as habilidades e os hábitos. As habilidades são os

modos adequados de agir, em determinada situação, seja ela mental, social ou manual. Os hábitos são os

modos de agir, que se tornaram sistematizados, de tal forma que reduzem o tempo e aumentam a perfeição

em sua execução (RODRIGUEZ; SILVA, 2006).

Em “Cabeça Bem Feita”, Morin (2003) aborda o paradigma educacional vigente e propõe sua

reformulação, já que os conteúdos escolares, fragmentados, procuram a hiperespecialização. Propõe, então,

a prática do autodidatismo, para que os alunos tornem-se sujeitos de “cabeça bem-feita”, reformulem o

pensamento e a ação. Afirma que o conhecimento é inseparável do meio ambiente cultural, social,

econômico, político e natural; é preciso procurar suas relações e inter-retro-ações.

Page 141: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

140 – Educação Ambiental em Foco

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

O panorama descrito acima com respeito à educação em geral aplica-se adequadamente quando

pensamos na educação ambiental.

Por meio da educação ambiental é possível despertar no indivíduo uma vontade de mudar o

presente e construir o futuro, através de suas atitudes e comportamentos individuais, com responsabilidade

sobre suas ações. (CARVALHO, 2014).

Diríamos que é preciso pensar a educação ambiental com maior critério e tratá-la como processo

educacional que deve ser aprendido, construído e sistematizado, considerando-se a totalidade do ser

humano.

Pensar em educação ambiental essencialmente teórica, utilizando-se da capacidade intelectual, mas

esquecer-se da prática das inter-relações sociais, da participação, da interação e, portanto, da mudança de

hábitos e/ou comportamentos, seria situá-la como disciplina isolada, tão só acúmulo de saber.

Enrique Leff (2009, p. 18), proclama que “O saber ambiental integra o conhecimento racional e o

conhecimento sensível, os saberes e os sabores da vida.”

Para Genebaldo Freire Dias (2003, p. 100), a educação ambiental é ‘’um processo por meio do qual

as pessoas apreendam como funciona o ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como

promovemos a sua sustentabilidade’’.

Assim, a educação ambiental parece ser um trabalho gradativo, porquanto envolve os seres humanos

que apresentam diferentes ideologias, culturas e costumes. É uma atividade complexa em que, para uma

Page 142: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 141

determinada ação educativa funcionar (em todos as regiões do mundo) demanda um grande esforço, por isso

uma visão holística das questões ambientais é importante.

A educação ambiental no Brasil ganhou notoriedade com a promulgação da Lei 9.795, de 27 de abril

de 1999, que instituiu uma Política Nacional de Educação Ambiental, sendo obrigatória a Educação Ambiental

em todos os níveis do ensino formal da educação brasileira. Essa lei é marco importante da história da

educação ambiental no Brasil, resultado de um longo processo de interlocução entre ambientalistas,

educadores e governos (BRASIL, 1999).

Entende-se, então, que a educação ambiental deve ser acima de tudo um ato político voltado para a

transformação social, transformação dos valores e atitudes, construção de novos hábitos e conhecimentos,

defendendo uma nova ética que seja sensível na formação da relação integrada do ser humano, da sociedade

e da natureza, aspirando ao equilíbrio local e global, como forma de melhorar a qualidade de todos os níveis

de vida (CARVALHO, 2006).

Com a publicação da Lei 9.795 (que dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de

Educação Ambiental e dá outras providências), a questão da educação ambiental tomou força, pois a

implantação da mesma como disciplina passou a ser obrigatória. A citada lei define juridicamente Educação

Ambiental como “o processo por meio do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,

conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de

uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade" (art.1º)

Segundo Carvalho e Silva Junior (2014), a educação ambiental é vista como um instrumento crucial

para a mudança de hábitos e atitudes da sociedade, com objetivo de alcançar a qualidade ambiental e

Page 143: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

142 – Educação Ambiental em Foco

propiciar beneficio para as gerações atuais e futuras, de modo que possamos alcançar o desenvolvimento

sustentável.

Há possibilidade de se estabelecer, na prática educativa, uma relação entre aprender conhecimentos

teoricamente sistematizados (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real e de sua transformação

(aprender na realidade e da realidade) - (Secretária de Educação Fundamental, BRASÍLIA, 1998, Parâmetros

Curriculares Nacionais)

Sendo assim, por meio da educação ambiental é possível despertar no indivíduo uma vontade de

mudar o presente e construir o futuro, através de suas atitudes e comportamentos individuais, com

responsabilidade sobre suas ações (CARVALHO; SILVA JUNIOR, 2014).

Educação Ambiental é conteúdo e aprendizado, motivo e motivação, parâmetro e norma. Estende-

se além dos conteúdos pedagógicos, faz interação com o ser humano de maneira que a troca seja uma

retroalimentação positiva para ambos. Educadores ambientais apaixonam-se pelo que fazem. Necessita-se

que a escola mude suas regras para fazer educação ambiental de uma forma mais humana (CARVALHO,

2006).

Segundo Guimarães (2007), para que o indivíduo possa transformar seus valores, hábitos e atitudes,

a sociedade também precisa ser transformada em seus valores e práticas sociais. O processo de

transformação da sociedade não se dá pela soma de indivíduos transformados, pois muitas vezes os indivíduos

não podem transformar-se plenamente devido a condicionantes sociais, mas pela transformação ao mesmo

tempo dos indivíduos e da sociedade.

Page 144: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 143

Prossegue o autor na ideia de que o educando deve ser estimulado a uma reflexão crítica para

transformar-se individualmente e, ao mesmo tempo, subsidiar uma prática que busque intencional e

coletivamente transformar a sociedade. Esse processo de conscientização se dá por meio de uma formação

cidadã comprometida com o enfrentamento das questões socioambientais da atualidade.

Ainda para o mesmo autor, o exercício de conscientização por meio de intervenções educativas se

contextualiza para além dos muros das escolas, já que na interação com sua comunidade, pode, se aplicar

criticamente os conhecimentos acumulados (conteúdos curriculares), produzir uma interpretação da

realidade vivida (local/global). O processo de experienciação que envolve o saber, sentir e fazer (individual e

coletivamente) promove uma reformulação do que é a realidade e como ela se constitui, gerando, assim, a

construção de um novo conhecimento, alimentador de novas práticas que promovem transformações.

É ainda Guimarães (2007, p. 91), quem argumenta:

Acreditamos que uma educação ambiental, capaz de contribuir no enfrentamento da crise socioambiental que vivenciamos, é aquela que faz do ambiente educativo espaços de participação, em que a aprendizagem se dá em um processo de construção de conhecimentos vivenciais, que experiencie ações que tenham a intencionalidade, como uma ação política, de intervir na realidade transformando-a.

Por isso a Educação Ambiental deixa de ser um clichê, como muitas pessoas colocam, e se torna

uma alternativa para as mudanças de hábitos cotidianos, se coloca a favor da construção de uma sociedade

crítica com relação ao meio ambiente e seus recursos (GRECO, 2011).

Page 145: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

144 – Educação Ambiental em Foco

Reproduzindo a resposta de um professor entrevistado, Greco (2011), coloca argumentos que

podemos aqui sintetizar: Fundamental é você ter uma prática de Educação Ambiental, então você só

consegue fazer com que a pessoa mude um hábito se nascer no coração dela o que vem a ser uma educação

ambiental. Então quando aquilo incomoda, ela passa a dar uma verdadeira importância e mais ainda quando

ela conscientiza o outro. Então passar e ver uma torneira pingando tem que incomodar as pessoas e não ser

coisa corriqueira. Quando as coisas se tornam muito naturais significa que aquilo deixou de ter importância e

aquilo parou de te incomodar.

Interessante registrar aqui que o Coletivo ALMA (Aliança Libertária Meio Ambiente) surgido em

2003 como um grupo de ação cultural na COHAB José Bonifácio, região de Itaquera, zona leste da cidade de

São Paulo, aliou a arte e as questões socioambientais como caminhos de trabalho, iniciando ações culturais e

educativas elaborando as vivências de seu lugar de origem. Atualmente define-se como um coletivo

socioambientalista e artístico que busca trabalhar com “as diversas dimensões da Ecologia (Mental, Social e

Natural), no intuito de sensibilizar e mobilizar as pessoas para a transformação de seus valores e atitudes em

sua atuação individual e coletiva” (g. n.) (ALMA, 2011).

Para Mazzarino, Munhoz e Keil (2011), a Educação Ambiental não deve ser entendida como um

tipo especial de educação. Seria um processo longo e contínuo de aprendizagem, filosofia de trabalho

participativo em que família, escola e comunidade se envolvem. Esses autores defendem que o processo

centrado no aluno, é ao mesmo tempo gradativo, contínuo e respeitador de sua cultura e de sua comunidade.

Processo crítico, criativo e político, com a preocupação de construir conhecimentos pela discussão e

avaliação dos problemas comunitários e pela avaliação do aluno sobre a realidade de sua comunidade. Deve

Page 146: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 145

ultrapassar o caráter informativo, alcançando o formativo, voltado para construção de hábitos, atitudes e

comportamentos.

Hoje há uma percepção generalizada que se vive uma crise ambiental planetária. A maioria da

população pode não saber explicar os mecanismos detalhadamente, mas os indivíduos incorporam a cada dia

em seus discursos temas como efeito estufa, destruição das florestas, buraco na camada de ozônio,

contaminação dos alimentos, empobrecimento da diversidade de vida, problemas com o lixo e com os

recursos hídricos, entre outros. A novidade da crise atual está no fato de ser antrópica e ter escala planetária.

(MAZZARINO; MUNHOZ; KEIL, 2011).

Ainda, esses autores são claros ao afirmar que:

É preciso que se esteja ciente que a educação ambiental é um processo longo e contínuo, já que a mudança de paradigmas é lenta, o que exige persistência e comprometimento. As transformações vêm por meio de atividades que envolvem a todos, desenvolvendo uma consciência crítica de respeito consigo, com o próximo e com o meio ambiente. Este é um processo que não merece ser interrompido ao primeiro obstáculo. (MAZZARINO; MUNHOZ; KEIL, 2011, p. 59).

A relação do homem com o mundo não é direta, mas sim mediada. No processo de mediação se

empregam instrumentos ou signos que funcionam como ferramentas auxiliares, como elementos de ligação

do homem com outros homens e com as coisas do mundo. Os instrumentos são elementos externos à

pessoa, cuja função é modificar a natureza ou interagir com ela. Já os signos funcionam como instrumentos

psicológicos internalizados na pessoa humana. (SPAZZIANI; MOURA, 2008)

Page 147: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

146 – Educação Ambiental em Foco

Se considerarmos a educação ambiental com tantas nuances e considerarmos ainda que o ser

humano individual é limitado em seus saberes e conhecimentos, dependendo sempre de novas descobertas,

de novos parceiros, então podemos argumentar que a utilização da interdisciplinaridade como forma de

contribuição para a educação ambiental é preciosa e traz resultados práticos.

Como exposto no comentário inicial sobre a “educação”, o processo educacional é estruturado num

entendimento integral e harmônico envolvendo todo o ser, conjuntamente com os elementos à sua volta.

Conforme Mazzarino, Munhoz e Keil (2007), é preciso abandonar certezas e construir novas

percepções sobre o nosso estar no mundo, romper com a educação tradicional (disciplinar e

descontextualizada) para educar com sentido, por meio de múltiplos métodos e novas posturas docentes,

para que a educação seja reflexiva da condição humana e aponte para uma vida mais prazerosa e lúdica.

É assim que uma educação ambiental holística é capaz de desenvolver uma consciência ecológica,

não como uma ecologia antropocêntrica que considera a Natureza só como um cenário do desenvolvimento

da dimensão humana, por meio de seu poder de transformação do ambiente natural pelo trabalho, mas uma

ecologia profunda que recupera eticamente a dimensão dos seres humanos de estar participando do sistema

vivo planetário. O princípio da interconexão (ausência de fragmentação) é a base da Educação Holística, que

a conecta diretamente com a Educação Ambiental, já que a questão ecológica não pode só ser solucionada

por meio da fragmentação do conhecimento. (RODRIGUEZ; SILVA, 2006).

E como a Educação Ambiental está estreitamente ligada ao conceito de sustentabilidade (viver atual

com preocupação da vida futura de nossos descendentes no planeta), a amplidão de formas, tecnologias e

saberes em contribuição torna-se imprescindível. Nesse sentido:

Page 148: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 147

A construção da sustentabilidade é orientada por uma racionalidade ambiental fundada em princípios de diversidade ecológica e cultura. Isso implica a integração de diferentes conhecimentos, ações e organizações em uma construção coletiva que promova espaços onde confluam diferentes matrizes de racionalidade, onde se encontrem diferentes culturas, dialoguem diferentes saberes, e se troquem experiências e práticas para o desenvolvimento de processos e projetos compartilhados. (LEFF, 2010, p. 118)

É certo que a incorporação de novos hábitos, de novos comportamentos, a mudança de atitudes não

é fácil a quem está acostumado a reter informações prontas e fragmentadas. Há necessidade de que as

informações ou saberes dialoguem entre si, incorporem-se uns aos outros, se inter-relacionem. É ai que a

discussão da construção do conhecimento através da interdisciplinaridade entra em cena. De qualquer

maneira, podemos entender que a interdisciplinaridade proporciona a visão de um novo paradigma capaz de

auxiliar no processo da educação ambiental, fazendo com que esta seja a consciência do intelecto aliada à

reformulação de hábitos e/ou comportamentos.

Para Raynaut (2011), a interdisciplinaridade busca um saber unificado, misturando paradigmas,

conceitos e saberes de várias ciências, ultrapassando as fronteiras entre as disciplinas. Pesquisadores se

unem fornecendo subsídios para construir e aperfeiçoar a problemática central. Surge quando a

especificidade não é suficiente para atender o complexo.

Então:

[...] faz-se urgente refletir a interdisciplinaridade como postura científica e epistemológica e, suas condições de possibilidade de ampliação dos horizontes cognitivos e interpretativos do ser humano

Page 149: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

148 – Educação Ambiental em Foco

diante dos desafios sociais, políticos, econômicos, culturais, ambientais, científicos e tecnológicos característicos deste início de século (MELO; BAZANELLA; BIRKNER, 2011, p. 6).

Afirma Cherubini (2013), que a interdisciplinaridade proporciona um ambiente interativo, dialógico,

que desafia vários pontos de vista, agregando ao conhecimento cotidiano valores acadêmicos.

Pode-se observar que a maioria dos professores tanto na rede municipal como estadual defendem a

ideia de trabalhar a educação ambiental de forma transversal, descartando assim a ideia de tornar a educação

ambiental como disciplina obrigatória, podendo levantar a hipótese de que os professores entendem o

conceito da transversalidade (CARVALHO; JUNIOR, 2014).

Essa transversalidade pode ser entendida como a capacidade de associação de informações sobre

educação ambiental no âmbito de todas as disciplinas, de maneira que a educação ambiental faça um corte

transversal oblíquo que entrelace todas as disciplinas estudadas na escola. De qualquer maneira é uma forma

de aplicação do novo paradigma educacional proposto na interdisciplinaridade.

Para Coan e Zakrzevski (2003), a interdisciplinaridade tem sido apresentada como um requisito

fundamental para o ensino relativo ao meio ambiente, justificando-se pelo fato de que o ambiente não pode

ser considerado objeto de cada disciplina, isolado de outros fatores (físicos, biológicos, sociais e culturais). A

importância da interdisciplinaridade consiste na percepção limitada que cada área do conhecimento possui

sobre o ambiente, sendo incapaz de compreender a complexidade do mesmo.

Para esses autores, na Educação Ambiental a interdisciplinaridade propicia a abertura a diferentes

campos de saberes, de modo a enriquecer a análise e a compreensão das realidades complexas do meio

ambiente. O enfoque interdisciplinar facilita o desenvolvimento de uma visão sistêmica e global das realidades.

Page 150: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 149

Na visão pedagógica o enfoque interdisciplinar (que requer a integração de matérias e disciplinas), pode

favorecer uma melhor integração de saberes. Além disso, aliado à interdisciplinaridade, deve-se reconhecer o

interesse e o valor de outros saberes para a EA, como os saberes relacionados com a experiência, os saberes

tradicionais e os saberes associados ao senso comum.

Como já enfaticamente apontado, a Educação Ambiental é um processo complexo, que requer

mudança de intelecto conjuntamente com mudança de hábitos e comportamentos. Entendemos que o saber

isolado, fragmentado, buscado por meio dos paradigmas a que estamos acostumados, não é capaz de prover

tudo o que implica esse processo educacional, razão pela qual a interdisciplinaridade faz sentido.

Leff (2009) ainda vai além afirmando que a complexidade ambiental extrapola o campo das relações

de interdisciplinaridade entre paradigmas científicos para um diálogo de saberes entre seres diferentes. A

interdisciplinaridade se estabelece no terreno de uma ciência que se tem fragmentado, voltando-se ao ser

total. A complexidade ambiental configura uma globalidade alternativa, uma confluência e convivência de

mundos de vida em permanente processo de diversificação e diferenciação. E, conforme esse autor, a

racionalidade ambiental abre um mundo de diálogo de seres e saberes. O pensamento da complexidade

ambiental leva então a compreender o mundo no rumo do ser com a natureza, e do ser com o outro,

transbordando a relação de conhecimento entre o conceito e o real, para um diálogo de saberes.

Acreditamos assim, que a discussão da educação ambiental como obrigatoriedade no conteúdo

curricular das escolas gera uma reformulação estrutural na própria pedagogia do ensino, ante o compromisso

e complexidade que o tema envolve.

Page 151: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

150 – Educação Ambiental em Foco

Desperta-nos atenção os ensinos de Leff (2009, p. 23), dos quais extraímos trechos que

consideramos substanciais ao tema em discussão:

A pedagogia ambiental abre o pensamento para apreender o ambiente, a partir do potencial ecológico da natureza e dos sentidos culturais que mobilizam a construção social da história. A pedagogia ambiental consiste em aprender um saber ser com a outredade, que vai mais além do conhece-te a ti mesmo, como modo de vida. [...] A pedagogia ambiental consiste em aprender a conviver com o outro, com o que não é internalizável (neutralizável) por si mesmo. [...] A educação ambiental é o processo dialógico que fertiliza o real e abre as possibilidades para que se chegue a ser o que ainda não se é. [...] Abrir os espaços para um diálogo de seres e saberes em que nem tudo é cognoscível e pensável de antemão.

Portanto, pode-se perceber que a promoção de uma Educação Ambiental autêntica requer a

contribuição de várias especialidades técnico-científicas, que abram caminho para mudanças de intelecto,

hábitos e comportamentos do indivíduo, do grupo, da comunidade. A mera transmissão de saberes não

consegue esse desiderato. É preciso inter-relacionamentos dos conhecimentos e descobertas; é preciso mais

que um mero aprendizado, exige transformação compreensiva de convivência social que se torna possível

quando todos, unidos, podem formar uma interação onde haja compreensão do todo em derredor e do todo

integrado, para o que a interdisciplinaridade é ponto fundamental.

Page 152: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 151

CONCLUSÃO

O ser humano está em constante aprendizado, do qual depende sua evolução ou mudanças. A

pedagogia tradicional evoca uma carga de disciplinas fragmentadas e impostas ao ser humano, considerando-o

como tábua rasa e receptor passivo. No entanto, entendemos que a construção do conhecimento vai além

do acúmulo de informações mentais, leva a mudança de hábitos, atitudes, comportamentos, a um despertar

de transformação no interior profundo do próprio ser, que se reflete em sua sociabilidade. A educação

ambiental está inserida nesse contexto, de maneira tal que promovê-la de maneira holística, estimulando no

indivíduo o desenvolvimento harmônico de suas dimensões, uma reformulação de pensamento e ação, é algo

essencial. A interação homem/natureza, homem/homem, homem/sociedade demanda grande esforço.

Educação Ambiental não é um tipo especial de educação. É educação integral, ultrapassando o caráter

informativo, voltando-se à construção ou mudança de hábitos, atitudes e comportamentos, envolvendo todo

o ser humano e os elementos à sua volta.

É preciso uma reflexão crítica, mútua contribuição, exercício de conscientização, para o que a

interdisciplinaridade é essencial para possibilitar diálogo das informações ou saberes entre si, incorporação e

inter-relacionamento uns com os outros. Só com esse ambiente interativo, dialógico, desafiador é que se

pode conseguir uma transformação sistêmica da realidade individual e coletiva.

Page 153: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

152 – Educação Ambiental em Foco

REFERÊNCIAS

ALIANÇA LIBERTÁRIA MEIO AMBIENTE – ALMA. Estatuto Social. Aprovado em 06.02.2011. ARAÚJO, Alexandre Falcão de. O teatro político de rua praticado pelos coletivos ALMA e Dolores: estéticas de combate e semeadura. 2013. 183 f. Dissertação (Mestrado em Artes) - Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes, São Paulo, 2013. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Lei n. 9.795/1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. BRASÍLIA 1998, Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais – Temas Transversais. Ministério da Educação/SEF. Disponível em portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf. Acesso em 25/06/2014. CARVALHO, Isabel Cristina Moura. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 2006. CARVALHO, Mirelly Gabrielly Mendes de.; SILVA JUNIOR, Milton Gonçalves da. Análise da transversalidade da educação ambiental na fase II do ensino fundamental da rede pública municipal e estadual de Goiânia-GO. Revista Eletrônica de Educação da Faculdade Araguaia, 5: 1-13, 2014. CHERUBINI, Iris Cristina Barbosa. A Educação Ambiental e a Interdisciplinaridade em sala de aula. XIV EPEA (Encontro Paranaense de Educação Ambiental) - Cascavel, PR, Brasil – outubro de 2013.

Page 154: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 153

COAN, Cherlei Marcia; ZAKRZEVSKI, Sônia Balvedi. Tendências Pedagógicas. In COAN, Cherlei Marcia, et all. Educação Ambiental na Escola: Abordagens Conceituais (organizado por Sônia Balvedi Zakrzevski. Erechim/RS. Edifapes), 2003. COSTA-PINTO, Alessandra Buonavoglia. Potência de Agir e Educação Ambiental: aproximações a partir de uma análise da experiência do Coletivo Educador Ambiental de Campinas (Coeduca) SP Brasil. Disponível em www.teses.usp.br/.../TESEAlessandraBCostaPintoFINALrevisado.pdf. Acesso em 23/04/2014. CUBA. Marcos Antonio. Educação Ambiental nas Escolas. ECCOM, v. 1, n. 2, p. 23-31, 2010. DIAS, G., F. Educação Ambiental – Princípios e Práticas. Editora Gaia. 8ª Ed. São Paulo, 2003. FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 13ª ed. Rio Janeiro: Paz e Terra, 1983. FRIGOTTO, Gaudêncio. A Interdisciplinaridade como Necessidade e como Problema nas Ciências Sociais. Revista do Centro de Educação e Letras. Foz do Iguaçu, v. 10, n. 1, p. 41-62, 2008. GRECO, Rafael de Freitas. Concepção dos profissionais da área da educação sobre educação ambiental em um colégio particular em São Bernardo do Campo, São Paulo. Makenzie, 2011. GUIMARÃES, Mauro. Educação Ambiental: participação para além dos muros da escola. In Vamos Cuidar do Brasil: Conceitos e Práticas da Educação Ambiental na Escola. [Coordenação: Soraia Silva de Mello, Rachel Trajber]. – Brasília: Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental : UNESCO, 2007. HOUAIS. Dicionário Eletrônico. V. 3.0.

Page 155: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

154 – Educação Ambiental em Foco

LEFF, Enrique. Complexidade, Racionalidade Ambiental e Diálogo de Saberes. Educação e Realidade, 2009. Disponível em:< www.seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/viewFile/9515/6720>. Acesso em 30/06/2014. _________. Discursos Sustentáveis. São Paulo. Ed. Cortez. 2010. MAZZARINO, Jane Márcia; MUNOZ, Angélica Vier; KEIL, Jaqueline Luciana. Currículo, Transversalidade e Sentidos em Educação Ambiental. Revbea, Rio Grande, V. 7, No 2: 51-61, 2012. MELO, E. G.; BAZZANELLA, S. L.; BIRKNER, W. M. K. A interdisciplinaridade como postura científica e epistemológica diante dos desafios contemporâneos na formação do ser humano no século XXI. Revista Húmus, n. 3, set./dez. 2011. MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem significativa crítica. Disponível em www.if.ufrgs.br/~moreira/apsigcritport.pdf. Acesso em 24/06/2014 MORIN, Edgar. A Cabeça Bem-Feita. In MORIN, Edgar. A Cabeça Bem-Feita – Repensar a reforma – reformar o pensamento. Tradução Eloá Jacobina. 8. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003, Cap 2, p. 21-33. PACHECO, R. C. S.; TOSTA, K .C. B. T.; FREIRE, P. S. Interdisciplinaridade vista como um processo complexo de construção do conhecimento: uma análise do Programa de Pós-Graduação EGC/UFSC. Revista Brasileira de Pós Graduação, v.7, n.12, p-136-159, 2010. Disponível em:< http://ojs.rbpg.capes.gov.br/índex.php/rbpg/article/viewFile/185/179>.

RAYNAUT, C. Interdisciplinaridade: mundo contemporâneo, complexidade e desafios à produção e à aplicação de conhecimentos. In: In: PHILIPPI JR, A.; NETO, A.J.S. (Orgs.) Interdisciplinaridade em ciência, tecnologia e inovação. São Paulo: Manole, 2011.

Page 156: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 155

Recanto das Letras. Frases de Paulo Freire. Disponível em: <http://www.recantodasletras.com.br/frases/1811795>. Acesso em 24/06/2014. RODRIGUEZ, José Manuel Mateo; SILVA, Edson Vicente da. Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável. Fortaleza Edições UFC, 2009. SILVA, Luciana Ferreira da. Educação Ambiental Crítica: entre ecoar e recriar. Disponível em www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-28052009.../TESE.pdf. Acesso em 23/06/2014. SPAZZIANI, Maria de Lourdes; MOURA, Rita Helena Troppmair de Almeida. Educação e Divulgação: contribuições para produtos de pesquisas em educação ambiental. Rev. Simbio-Logias. v.1, n.1, 2008. UFRGS - Psicologia da Educação I – A. A Aprendizagem para a Qualidade de Vida. Disponível em: <http://www.ufrgs.br/psicoeduc/wiki/index.php/Aprendizagem_e_Qualidade_de_Vida>. Acesso em 23/06/2014. VYGOTSKY, Lev Semenovich. Pensamento e Linguagem. Edição eletrônica: Ed Ridendo Castigat Mores. eboolksBrasil. Disponível em: < http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/vigo.html>. Acesso em 23/06/2014. ZAKRZEVSKI, Sônia Balvedi; COAN, Cherlei Marcia. O Diálogo dos Saberes. In COAN, Cherlei Marcia, et all. Educação Ambiental na Escola: Abordagens Conceituais (organizado por Sônia Balvedi Zakrzevski. Erechim/RS). Edifapes, 2003.

Page 157: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

156 – Educação Ambiental em Foco

7º CAPÍTULO

CONTRIBUIÇÃO DA

PERCEPÇÃO E EDUCAÇÃO

AMBIENTAL À ÁREA DE USO

PÚBLICO DA FLORESTA

ESTADUAL DE AVARÉ-SP

Page 158: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 157

CONTRIBUIÇÃO DA PERCEPÇÃO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL À ÁREA

DE USO PÚBLICO DA FLORESTA ESTADUAL DE AVARÉ-SP

Salvador Carpi Junior

Geógrafo, doutor em Geociências e Meio Ambiente. Profissional de Apoio e Pesquisa no Instituto de Geociências, Universidade Estadual de

Campinas, Laboratório de Geomorfologia e Análise Ambiental.

E-mail: [email protected].

Amanda Cristina Alves Silva

Bióloga, mestranda em Geografia na Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus Rio Claro. E-mail:

[email protected]

Carlos Evaldo Linder

Médico veterinário, mestre em Medicina Veterinária pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Especialista Ambiental

no Instituto Florestal de São Paulo. E-mail: [email protected]

Page 159: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

158 – Educação Ambiental em Foco

INTRODUÇÃO

Atualmente são recorrentes os problemas ambientais em unidades de conservação presentes ou

próximas ao perímetro urbano, contudo, percebe-se na mesma frequência a ineficiência do Estado em gerir

tais áreas verdes. Tal problemática abre caminho à ação de um agente não hegemônico, a sociedade, que,

através de sua relação e percepção da degradação ambiental, passa a agir no espaço enquanto parte dele.

Desta forma, a população se torna um segmento efetivo e consciente capaz de expressar a realidade

local por a ela pertencer, propiciando inúmeras iniciativas não governamentais, que buscam analisar os

lugares de acordo com a percepção da sociedade, e assim fornecer informações para a criação de estratégias

para reverter e/ou amenizar problemas relacionados a situações de risco ambiental.

No pertinente trabalho reconhece-se que o mapeamento participativo é eficaz quanto à

cognoscibilidade do lugar a ser estudado, pois é quem vive nele que é capaz de melhor apontar os problemas

ambientais em suas diferentes interfaces. Segundo Carpi Junior, Leal e Dibieso (2012, p. 87), “uma das formas

de mapeamento ambiental participativo com amplas possibilidades de aplicação é aquela que leva em conta a

percepção ou o conhecimento da população afetada pelos riscos ambientais”.

A variedade de interpretações dos riscos por parte da sociedade juntamente com a experiência da

realidade assistida cotidianamente permitem uma melhor visualização e compreensão de detalhes que,

aqueles que não vivem e não têm nele o sentimento de pertencimento, não são capazes de verificar.

Neste sentido, o presente trabalho tem como intuito caracterizar os desdobramentos relacionados à

utilização do método de mapeamento participativo na Floresta Estadual de Avaré no que tange à percepção

Page 160: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 159

da população, e como este pode surgir enquanto instrumento de educação ambiental. A busca é pela

observação e registro da partilha de experiências expressas empiricamente através da cartografia e relatos

orais sobre sua visão acerca do espaço estudado, que no tocante a este estudo, se pauta nos segmentos da

sociedade residentes em Avaré, Estado de São Paulo, que frequentam e/ou vivem no entorno da Floresta

Estadual do município e presenciam/convivem com os problemas ambientais decorrentes da ação antrópica

local.

Acredita-se ainda que as informações provenientes dos mapas participativos são capazes de

fornecer subsídios para ações na área de uso público, por serem os próprios cidadãos que apontam os

problemas ambientais da área de estudo, possibilitando que a ação pública seja a mais eficaz possível,

propiciando solucionar problemas que, muitas vezes, não são observados pelas autoridades responsáveis.

PERCEPÇÃO AMBIENTAL

Ao se analisar a importância da área com vegetação na Floresta Estadual de Avaré, considera-se

essencial a intervenção através de ações participativas preocupando-se com a preservação de tal área que se

encontra próxima da área urbana, assim perpetuando a melhor qualidade de vida para a população, uma vez

que a própria sociedade é quem convive com os problemas causados pela degradação dos recursos naturais.

De acordo com Holzer (1998) a percepção envolve feições onde estímulos de reação e a cognição

constituem os valores dos elementos culturais, portanto o observante apreende mais detalhadamente objetos

familiares, que remetem a significados dentro de seu repertório sociocultural. Desta forma, a cultura é

Page 161: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

160 – Educação Ambiental em Foco

resultado de diferentes formas de percepção, isto é, a particularidade da percepção individual sobre o

mundo, que decorre de uma seleção e ordenação dos elementos apreendidos.

Conforme TUAN (1980) o meio ambiente natural e a visão do mundo estão estreitamente

ligados: a visão do mundo, se não é derivada de uma cultura estranha, necessariamente é construída do

elementos conspícuos do ambiente social e físico de um povo.

O dia a dia da população pode ser modificado pela sua percepção e interpretações que dela fazem.

A percepção é capaz de garantir a compreensão e interação do cidadão com o meio em que vive através de

aspectos sensoriais (cognitivos, portanto individuais) que não se desvinculam das interações da sociedade

como um todo.

Há que se destacar que a percepção ambiental é capaz de refletir características interpretativas do

ser humano pautadas em experiências, sentimentos, sentidos e observações que certamente são capazes de

conferir o arcabouço de estudos e ações que compreendem o planejamento territorial local, pois é capaz de

identificar a relação entre o homem e o meio. Somente aqueles que ali se sentem pertencentes são capazes

de dar singularidade e unicidade ao meio vivido.

A viabilidade do presente trabalho dá-se pela real necessidade de interlocução entre os saberes

popular e científico, com o acolhimento de informações fornecidas pela população sobre os problemas

ambientais, que motivaram diversas reflexões a respeito do método de mapeamento de riscos como suporte

para uma mobilização participativa.

Neste sentido, Haraway (1991) salienta que a sociedade produz necessariamente a natureza,

tornando-se esta um processo físico-social integrado com o poder político e com o significado cultural.

Page 162: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 161

Para tanto a relação da população com o espaço objeto de análise é importante para se compreender

o real significado do lugar no cotidiano:

O conhecimento abstrato sobre um lugar pode ser adquirido em pouco tempo se se é diligente (…) Mas “sentir” um lugar leva mais tempo: se faz de experiências, em sua maior parte fugazes e pouco dramáticas, repetidas dia após dia e através dos anos. É uma mistura singular de vistas, sons e cheiros, uma harmonia ímpar de ritmos naturais e artificiais. (TUAN, 1983, p. 203)

Pela sua escala territorial e populacional, a ação local tende a ter uma grande proximidade do

cidadão e seus problemas e uma grande aderência aos instrumentos institucionais de gestão e intervenção.

Ou medimos e mapeamos o espaço e o lugar, e adquirimos leis espaciais e inventários de recursos através de nossos esforços. Estas são abordagens importantes, porém precisam ser complementadas por dados experienciais que possamos coletar e interpretar com fidedignidade, porque nós mesmos somos humanos. (TUAN, 1983, p. 5).

Diante do exposto, considera-se que as ações participativas só se concretizam ao considerar o meio

em que a sociedade se apresenta, pertence e a percebe e assim estabelece condições de se reproduzir

enquanto moradores de uma área com disponibilidades de recursos naturais finitos, com poucos

investimentos. Neste contexto, é fundamental o apoio de iniciativas calcadas em experiências para assegurar

a sustentabilidade ambiental, e o entendimento do meio como forma de garantir perpetuação de melhores

condições de vida.

MAPEAMENTO PARTICIPATIVO DE RISCOS AMBIENTAIS

Page 163: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

162 – Educação Ambiental em Foco

A apropriação da natureza por parte do capital, relacionada com a expansão urbana e ausência de

métodos conservacionistas levaram à atual crise em que se encontram os recursos naturais, os quais se

assentam no limite entre degradação e escassez, especialmente fragmentos florestais que ainda se encontram

próximos de áreas urbanas e funcionam como espaços de socialização, climatização e contato com a natureza.

Assim, para que possa haver o desenvolvimento desses espaços na ótica da sustentabilidade, é

fundamental operacionalizar instrumentos que impulsionem a ação local para preservação de áreas com

resquícios florestais. Para tanto, acredita-se que o planejamento participativo, através de ações coletivas e

respaldo legal, é capaz de integrar sociedade e natureza em prol da defesa do meio em que se vive:

El movimiento ambiental ha generado la emergencia de una ciudadanía global que expressa los derechos de todos los pueblos y todas las personas a participar de manera individual y colectiva en la toma de decisiones que afectan su existencia, emancipándose del poder del Estado y del mercado como organizadores de sus mundos de vida”. (LEFF, 2002, p.322).

Dentre tais iniciativas envoltas no movimento ambiental pode-se destacar o planejamento

participativo, o qual mobiliza a população e impulsiona-a a agir ecológica e socialmente com a finalidade de se

atingir a sustentabilidade de tais localidades. Tem-se a participação como a reunião dos indivíduos com

objetivos comuns, sendo que, no caso estudado, apontaram áreas com risco ambiental na Floresta Estadual

de Avaré.

Page 164: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 163

O risco é um sinalizador dos problemas ambientais, estando diretamente ou indiretamente ligado ao

ser humano, individual ou em sociedade. O risco é entendido como objeto social quando a comunidade ou

indivíduo sofrem as ações diretas ou independentes relacionadas a modificações causadas pela ação humana

ao meio natural. Atualmente em nosso planeta não existem locais que já não tenham sofrido ou venham a

sofrer algum tipo de risco originado da ação humana.

Neste trabalho utilizar-se-á o conceito de risco ambiental empiricamente, visto que as informações

obtidas acerca das condições atuais do Horto Florestal de Avaré foram recebidas através de depoimentos e

dos mapas confeccionados pela população local.

No mapeamento participativo ocorre a valorização das experiências cognitivas dentro do âmbito das

percepções ambientais, visualizadas numa representação cartográfica que possa mostrar a dinâmica destes

riscos. Assim, tomou-se por base a integração entre o conhecimento técnico-científico e empírico dos

frequentadores da Floresta Estadual de Avaré em relação aos riscos ao ambiente.

Através da interação entre sociedade e natureza em prol de se efetuar análise dos dados e posterior

percepção da população ali residente, a ideia de risco ambiental se torna crucial ao se estabelecer uma

interligação entre os diversos segmentos (sociedade civil, Estado) e o ambiente em que vivem. Neste sentido,

Carpi Junior e Perez Filho (2005, p. 362), ao analisarem a experiência de mapeamento de riscos ambientais

na Bacia Hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu apresentam a importância da participação num âmbito integracional

entre os atores envolvidos na questão:

Todas as facetas do mapeamento de riscos ambientais caminham em sentido favorável à necessidade

Page 165: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

164 – Educação Ambiental em Foco

de integração entre a comunidade, o meio acadêmico e técnico, preconizadas neste trabalho, o que remete à importância de realizar atividades similares em outras áreas.

Outro importante elemento que surge ao se efetuar o mapeamento e as reuniões com os

frequentadores e moradores do entorno é estabelecer o diagnóstico da situação da Floresta e possibilitar,

durante a sua elaboração, estimular a troca e divulgação de informações e experiências entre os participantes.

Revela-se um significativo valor do mapeamento ambiental participativo como instrumento de educação

ambiental, além do simples levantamento de situações de risco. Neste caso, trata-se de uma atividade de

educação ambiental não-formal, ou seja, fora do âmbito escolar, mas que envolve a melhoria na percepção

sobre o ambiente local por parte da população e maior conhecimento dos riscos e potencialidades presentes

na Floresta Estadual de Avaré.

ÁREA DE ESTUDO: FLORESTA ESTADUAL DE AVARÉ

Segundo o Instituto Florestal (SÃO PAULO, 2014), a Floresta Estadual de Avaré é administrada pelo

Instituto Florestal, órgão da administração direta, subordinado à Secretaria Estadual de Meio Ambiente

(SEMA –SP), parte integrante do Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC). A unidade é

conhecida por seus agrupamentos arbóreos constituídos basicamente por essências florestais exóticas de

grande porte como Pinus e eucalipto, bem como floresta nativa preservada.

A Floresta está localizada no bairro do Brás I, no setor oriental do perímetro urbano da Estância

Turística de Avaré, distante 263 km da capital paulista (figura 1), e integrante, juntamente com alguns dos

Page 166: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 165

municípios vizinhos, do consórcio turístico Polo Cuesta. A Floresta Estadual de Avaré possui área de 95,3

hectares, altitude média de 759 m e coordenadas geográficas: 23° 06’ latitude Sul e 48° 55’ longitude Oeste.

Linder (2012), menciona que atualmente o Horto Florestal de Avaré, como é conhecido

popularmente, é um ponto turístico importante no município, apresentando trilhas com placas indicativas e

educativas, um Centro de Visitantes para atividades de educação ambiental, alguns quiosques, parque infantil,

banheiros públicos, bebedouros e viveiro de mudas. Possui instalação para lanchonete, palco para

apresentações musicais, pontos de pesca, pedalinhos e campo de futebol. O local conta com diferentes

públicos, entretanto, aqueles que ali frequentam e vivem próximos presenciaram as modificações do Horto

ao longo do tempo e conhecem in loco os problemas existentes.

Na hidrografia local destacam-se o Córrego das Águas do Curtume, Córrego Paraíso (ou Córrego

do Bretas) e o Ribeirão do Lajeado, todos formando um lago artificial com aproximadamente 40.000 metros

quadrados de superfície que é uma das principais atrações da Estância Turística de Avaré. Possui também

outros dois açudes, sendo um deles responsável pelo abastecimento de água para aproximadamente 20% da

população urbana de Avaré.

Page 167: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

166 – Educação Ambiental em Foco

Figura 1: Localização de Estância Turística de Avaré e da Floresta Estadual de Avaré.

Fonte: Linder (2012), Avaré-Wikipédia (2014), Google Earth (2014).

Page 168: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 167

DESENVOLVIMENTO DO MAPEAMENTO PARTICIPATIVO

A utilização do método de mapeamento participativo acerca de riscos ambientais que abrange o

presente trabalho se pauta em fases e sequências já realizadas em pesquisas anteriores em diferentes locais

do Estado de São Paulo desde os anos 90 (DAGNINO; CARPI JR, 2014). Os autores salientam que desde as

primeiras experiências em São Paulo os mapeamentos participativos foram voltados para a identificação de

situações de risco ambiental, mas à medida que os trabalhos foram se desenvolvendo foi dada maior ênfase às

ações positivas em relação ao ambiente local, em função do interesse das comunidades locais em relatar e

apontar aspectos relacionados à recuperação e preservação ambiental.

Deve-se destacar aqui que para cada área estudada foram realizadas adequações e adaptações que

se fizeram necessárias, visto as peculiaridades da área em questão.

Durante o desenvolvimento deste trabalho procurou-se realizar o registro das situações de riscos

ambientais no Horto Florestal de Avaré, utilizando a metodologia de cartografia participativa. Na realização

do trabalho foram utilizados desde documentação cartográfica até revisão bibliográfica sobre o Horto e o

município de Avaré, incluindo estudos de alguns conteúdos e conceitos a respeito de mapeamentos de riscos,

bem como sobre percepção ambiental.

Além das atividades do mapeamento durante a reunião pública, houve a realização de atividades

preparatórias, tais como a elaboração e entrega de convites para os frequentadores da Floresta Estadual de

Page 169: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

168 – Educação Ambiental em Foco

Avaré e alguns moradores da área de abrangência, distribuição de cartazes pela cidade, e informe pela mídia

local convidando a população para a realização da mesma.

A reunião de mapeamento de riscos foi então realizada no dia primeiro de setembro de dois mil e

doze nas dependências da sala de educação ambiental da Floresta Estadual de Avaré.

Na Sala de Educação Ambiental, com os participantes sentados em círculo, realizou-se uma

exposição dialogada sobre os conteúdos e conceitos básicos relacionados à transformação da paisagem,

demonstração de locais onde já ocorreram e ocorrem trabalhos com a metodologia do mapeamento de

riscos ambientais, e exposição da metodologia para a construção de mapas participativos.

Foram explanadas experiências dos participantes dos grupos, registradas por cada um dos três

relatores dos grupos, tornando-se parte importante do diagnóstico dos riscos apontados, além de subsidiar as

discussões apresentadas neste trabalho.

Os participantes da reunião foram divididos em três grupos, onde cada grupo (Figura 2) contou com

a orientação de um mediador da equipe de trabalho e um relator previamente escolhido pelo próprio grupo

para o apontamento dos riscos através dos símbolos pré-determinados assinalados nos mapas, para a

anotação textual em planilhas e, também, representar o grupo para os demais participantes.

Page 170: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 169

Figura 2 - Grupo identificando situações de riscos no mapa-base.

Fonte: Silva (2012).

Page 171: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

170 – Educação Ambiental em Foco

RESULTADOS OBTIDOS

A realização e construção do mapa participativo (figura 3) favoreceu o envolvimento das pessoas

presentes na construção dos roteiros para mapeamento das situações de risco e ajudou a compreender a

transformação da paisagem do Horto Florestal de Avaré e possíveis soluções para minimizar e/ou controlar

tais riscos. Partiu-se de elementos básicos para que se pudesse ter um norteamento durante a realização da

oficina, pautando-se em ícones cartográficos caracterizando os riscos ambientais acerca do ar, água, resíduos,

solo e vegetação/animais.

Nas observações relativas ao ar, os participantes puderam apontar que há poluição em pontos do

horto devido à utilização de maquinário que no momento da pesquisa estava efetuando melhoramentos no

local. Incêndios criminosos e queimadas ao redor do horto foram apontados também pelos participantes da

oficina.

Page 172: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 171

Figura 3 - Mapa Ambiental Participativo do Horto Florestal de Avaré/SP e entorno, conforme a percepção da

população local.

Fonte: Adaptado de Linder (2012).

Page 173: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

172 – Educação Ambiental em Foco

Questões relacionadas à água foram apontadas no que tange as situações de riscos ambientais. Foram

elas: presença de um tubo de captação de água da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo

(SABESP) dentro da Floresta; extravasamentos de esgotos da rede da SABESP que entra na Floresta próximo

ao córrego do Curtume, que contamina a represa e extravasamentos de esgotos da SABESP que contamina o

córrego Paraíso e consequentemente a própria lagoa de captação da SABESP dentro da Floresta;

contaminação das águas devido à falta de galerias de águas pluviais no Jardim Paraíso, permitindo o

carreamento de resíduos para o Córrego Paraíso e consequentemente contaminando a represa dentro da

Floresta; entrada de águas pluviais contaminadas que entram diretamente na represa oriunda da captação de

águas do Recanto dos Bem Te Vis, além de deposição de esgotos e dejetos orgânicos oriundos das

propriedades rurais, dos bairros vizinhos e da penitenciária (localizada ao lado do horto).

Durante a exposição da percepção dos participantes da oficina, problemas referentes ao solo foram

levantados, tais como o caso de assoreamento da represa que existe dentro do horto oriundo de pequenas

erosões localizadas do Recanto dos Bem Te Vis e também o aporte de sedimentos adentrando os corpos de

água no Córrego das Águas do Curtume, Córrego Paraíso e Ribeirão do Lajeado. Entre os bairros do Jardim

Paraíso e Jardim Brasil foram apontadas a existência de erosões, e houve uma preocupação com a ocupação

urbana crescente por novos loteamentos sem infraestrutura.

A deposição indevida de resíduos sólidos também foi levantada, como por exemplo, no caso de

resíduos domésticos nas trilhas pelos usuários e resíduos da construção civil na área externa da Floresta, bem

como a presença de tanques de combustível que devem ser desativados de forma adequada.

Page 174: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 173

A presença de cães nas trilhas, tanto soltos como com guias, foi apontada como algo que atrapalha a

caminhada dos frequentadores. O corte da vegetação exótica causando degradação da paisagem no interior

da Floresta foi algo debatido na reunião, bem como a presença de animais selvagens dentro da Floresta, o

que, de acordo com os participantes, deve ser melhor trabalhada.

Quanto à vulnerabilidade social, levantou-se a falta de fiscalização nas entradas, não há controle de

pessoas, animais e veículos, há presença de cães, máquinas pesadas e bicicletas nas trilhas, podendo causar

acidentes. Foi relatada também a falta de iluminação no entorno da represa e nas trilhas.

Através das discussões realizadas, os grupos chegaram à conclusão de que os principais fatores e os

elementos que influenciaram a presença de situações de risco no Horto de Avaré são oriundos

principalmente das áreas externas da Floresta, tais como a presença de sedimentos vindos dos bairros

recém-criados, devido a terraplenagem mal manejada que leva ao assoreamento do Ribeirão Lajeado; uso de

agrotóxicos das áreas de cultivo que escorrem com as fortes chuvas, contaminando o ribeirão e a represa;

deposição de esgotos que escorrem dos bairros a montante; deposição de sedimentos oriundos de duas

grandes voçorocas localizadas nos novos bairros, devido à falta de cobertura vegetal e do incorreto manejo

do solo urbano, causando grave mudança na paisagem do entorno e assoreando os corpos d'água.

Além das observações e apontamentos acerca de situações de riscos ambientais durante a reunião

para efetuação de mapeamento participativo, foram ainda levantadas possíveis soluções por parte daqueles

que ali se encontravam. Estas alternativas de soluções podem incentivar aqueles que gerenciam o horto a

mobilizar agentes não hegemônicos como ONG's, inclusive associações de moradores de bairros, e a mídia, a

fim de intensificar o processo de melhoramento da área. Por sua vez, o Instituto Florestal e a Polícia

Page 175: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

174 – Educação Ambiental em Foco

Ambiental devem acompanhar e fiscalizar as ações da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

(CETESB), cobrando soluções adequadas para a disposição adequada de esgotos antes de autorizar novos

loteamentos próximos à área.

Os participantes vislumbraram a necessidade de a sociedade cobrar soluções adequadas para a correta

drenagem das águas de chuva; priorização do plantio de essências nativas, principalmente frutíferas para a atração

de animais silvestres (planejamento e manejo florestal), mas com manutenção da vegetação exótica; limpeza da

área desmatada retirando a ramagem (serrapilheira) do chão para propiciar o melhor desenvolvimento das novas

árvores; proibição de qualquer tipo de comércio no interior da Floresta; proibição de qualquer tipo de som

automotivo; disciplinar a entrada de animais domésticos.

As informações e sugestões levantadas durante a reunião são de extrema importância no que tange

ao plano de manejo e melhoramento do local, pois os apontamentos de situações de risco por parte dos

cidadãos revelam não somente a percepção destes do local que vivenciam, mas também subsidiam

criticamente as ações de gestão local.

AÇÕES REALIZADAS E SITUAÇÃO ATUAL DA ÁREA DE USO PÚBLICO

Segundo Carlos Linder, especialista ambiental que trabalha na Floresta Estadual de Avaré, e um dos

autores deste trabalho, os gestores da floresta estadual já sabiam de antemão que algumas das reivindicações

não são possíveis de se executarem e algumas delas dependem de outras instâncias para serem resolvidas,

sendo feito o que foi possível até o momento (julho de 2014). As ações que já vinham sendo trabalhadas pela

Page 176: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 175

administração da unidade são aquelas elencadas como os principais problemas externos: extravasamento de

esgoto dentro da área da Floresta; o aporte de sedimentos para a represa, oriundo dos novos loteamentos; e

a disposição inadequada de resíduos sólidos no entorno da Floresta.

Sobre o extravasamento de esgoto, relata o envio de ofícios para a SABESP, CETESB, VISA,

Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal da Estância Turística de Avaré e à administração da

penitenciária Dr. Paulo Luciano de Campos explicando o problema, suas causas, consequências e prejuízos

que possam ser ocasionados pela continuidade destes eventos insalubres. Foram marcadas duas reuniões

com todos estes órgãos, e passou a ocorrer a melhoria da rede de esgoto com o reforço nos Postos de

Vistoria; a limpeza da rede interna da penitenciária; e fiscalização pelos órgãos responsáveis. O resultado

esperado apareceu e, desde então, mesmo em tempos de grande pluviosidade, não há o extravasamento dos

esgotos.

Sobre o aporte de sedimentos para a represa, as ações foram de mesma natureza em relação ao

problema anteriormente citado, sendo oficiados os órgãos responsáveis, marcada reunião, e elaborado um

plano com metas e prazos pelos diversos atores envolvidos. É considerado como meta de longo prazo, com

algumas ações já executadas e outras ainda estão sendo cobradas, pois alguns dos atores envolvidos à época

já não mais respondem pelos órgãos envolvidos. Assim, é um trabalho de difícil solução e deve ser

administrado de forma permanente, por meio de constantes cobranças aos órgãos envolvidos nesta questão.

Com relação à disposição inadequada de resíduos sólidos no entorno da Floresta, os responsáveis

pela área de uso público já haviam traçado um planejamento em conjunto com a prefeitura de Avaré e que

agora foi concretizado com a fixação de placas educativas em todo o entorno da Floresta, placas estas feitas

Page 177: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

176 – Educação Ambiental em Foco

de madeira tratada e devidamente pintadas, esclarecendo com frases curtas o seu propósito. A prefeitura

coletou todo o entulho que estava depositado ao longo das estradas municipais que fazem divisa com a

Floresta e começou um trabalho de conscientização com as escolas do entorno da Floresta sobre o

problema.

As ações tomadas de imediato, isto é, aquelas de curto prazo, foram as seguintes:

1. Proibir todo som automotivo dentro da Floresta, assim como todo som de rádios ou

equipamentos sonoros, a não ser aqueles de uso pessoal acoplados a um fone de ouvido;

2. Proibir qualquer comércio dentro da Floresta, permitido apenas da portaria para fora;

3. Foi reforçada a fiscalização para proibir o uso de bicicletas nas trilhas;

4. Reforço da fiscalização para a proibição da entrada de cães sem guias e coleiras nas trilhas;

5. Limpeza das trilhas preferencialmente com equipamentos pequenos e manuais, não empregando

mais máquinas pesadas;

6. Foram instaladas lixeiras em toda a área de uso público e inclusive ao longo das duas trilhas

existentes dentro da Floresta.

As atividades 3 e 4 já eram proibidas e com placas colocadas na entrada da Floresta e das trilhas.

Estas e todas as demais ações dependem diretamente dos gestores da Floresta, portanto de inteira

responsabilidade de sua administração e também de mais fácil execução.

Page 178: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 177

Uma meta de médio prazo é a de iluminação do entorno da represa, mas já foram adquiridas as

lâmpadas e disjuntores, substituídos os postes podres por novos e, somente restando a equipe da

Prefeitura Municipal proceder a instalação nos postes dentro da Floresta.

Duas metas de longo prazo são a contratação de novos funcionários pelo Estado, e o plantio de

árvores nativas em todas as APP's das unidades de conservação administradas pelo Estado, promovendo

uma restauração ambiental adequada, incluindo, portanto a Floresta Estadual de Avaré. Estas duas metas

são de responsabilidade do Instituto Florestal.

Assim, de acordo com a administração da Floresta Estadual de Avaré, estas informações permitem

notar que as reivindicações feitas pelos frequentadores estão sendo gradativamente atendidas, restando

apenas uma apresentação pública e oficial dessas ações para a comunidade, porque de uma maneira prática,

está sendo notado no dia a dia de visitação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O intuito do trabalho fora abordar um método de grande importância local, que é a confecção dos

mapas pela comunidade, abrangendo conhecimento e observação de áreas previamente selecionadas onde o

mapeamento ambiental participativo é a principal finalidade, tomando por base a percepção da sociedade de

Avaré, que conhece e convive com as adversidades presentes na Floresta Estadual do município. Contudo o

estudo necessita de diferentes aportes metodológicos tais como trabalhos de campo para melhor precisão

dos dados gerados.

Page 179: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

178 – Educação Ambiental em Foco

Isto faz lembrar Irving (1998), que salienta que a construção de modelo de planejamento com base

comunitária é um desafio e indica a necessidade de desenho de uma metodologia capaz de promover o

diálogo e o gerenciamento de conflitos e fomentar a discussão crítica, além de aplicação de instrumentos

metodológicos de maior alcance.

Foi possível reunir diversas informações levando a uma análise qualitativa que se deu através da

percepção e do conhecimento da população envolvida em seu cotidiano com as situações de risco ambiental,

principalmente com os problemas ligados à água, ao solo e proteção da vegetação natural, culminando com a

produção do mapa de identificação dos riscos ambientais da Floresta Estadual de Avaré. Por outro lado, o

exercício da percepção e dessa atividade de educação ambiental mostra resultados muito satisfatórios na

tomada de decisões dos gestores da unidade de conservação no sentido de melhorar a qualidade ambiental

da área, bem como atender aos interesses de seus frequentadores e visitantes.

O trabalho de mapeamento de riscos ambientais permitiu o reconhecimento e a visibilidade, de

forma sistematizada e participativa, dos diversos aspectos que envolvem a relação entre população e o

ambiente em todas as áreas da Floresta Estadual de Avaré. Deveu-se em grande parte à boa receptividade

deste método, sua capacidade de promover a internalização das relações complexas que compõe os riscos

ambientais, e sua validade enquanto exercício pedagógico da construção e reafirmação da cidadania.

Page 180: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 179

REFERÊNCIAS

Avaré – Wikipédia, a enciclopédia livre (2014). Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Avar%C3%A9>. Acesso em: 18/07/2014. CARPI JUNIOR, S.; PEREZ FO. A. Riscos ambientais na Bacia do Rio Mogi-Guaçu: proposta metodológica. Geografia, Rio Claro, v. 30, n. 2, p. 347-364. 2005. __________.LEAL, A.; DIBIESO, E. Mapeamento de riscos ambientais e planejamento participativo de bacias hidrográficas: o caso do manancial Rio Santo Anastácio, SP-Brasil. Territorium, Coimbra, v. 19, n. 1, p. 85-93. 2012. DAGNINO, R. S.; CARPI JR, S. História, Desafios e Perspectivas do Mapeamento Ambiental Participativo no Estado de São Paulo. In: DIAS, L.S.; BENINI, S. Estudos Ambientais Aplicados em Bacias Hidrográficas. Tupã, ANAP, 2014, pp. 13-28.

GOOGLE Banco de dados de imagens de satélite in: Software Google Earth 4.3 (2014). Acesso em 18/07/2014. HARAWAY, D. Simians, Cyborgs and Women: the reinvention of nature. London. Free Association Books. 1991. HOLZER, W. Um estudo fenomenológico da paisagem e do lugar: a crônica dos viajantes no Brasil do século XVI. 1998. 233 f. Tese (Doutorado em Geografia Humana) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1998.

Page 181: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

180 – Educação Ambiental em Foco

IRVING, M. A. Participação e envolvimento comunitário: garantia ética de sustentabilidade em projetos de desenvolvimento. Espaço e Geografia, Brasília, v. 1, n. 1, p. 135-141.1999. LEFF, E. Epistemologia ambiental. São Paulo. Cortez. 2002. LINDER, C. Identificação de Riscos Ambientais na Floresta Estadual de Avaré I através da representação cartográfica participativa. 2012. 43 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Gerenciamento de Recursos Hídricos e Planejamento Ambiental em Bacias Hidrográficas) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Campus Experimental de Ourinhos. Ourinhos. 2012. SÃO PAULO. SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE. INSTITUTO FLORESTAL. SISTEMA AMBIENTAL PAULISTA. Áreas Protegidas – Avaré. Disponível em: <http://iflorestal.sp.gov.br/areas-protegidas/florestas-estaduais/avare/> Acesso em: 20 de maio de 2014. TUAN, Yi-Fu. Topofilia: um estudo da percepção, atitudes e valores do meio ambiente. São Paulo: Difel, 1980. __________. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. São Paulo: Difel, 1983.

Page 182: Sandra Medina Benini - Terra Brasilis...Milena dos Santos Silveira Silveira Nelma Baldin 061 4º Capítulo ... Este livro, composto por sete artigos de diferentes autores, apresenta

Leonice Seolin Dias (Org.) - 181