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O papel do Ministério Público para o controle social ambiental e a governança hídrica no Brasil. SANDRA AKEMI SHIMADA KISHI Procuradora Regional da República/MPF Gerente Projeto Qualidade da Água/MPF [email protected] [email protected]

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O papel do Ministério Público

para o controle social

ambiental e a governança hídrica no Brasil.

SANDRA AKEMI SHIMADA KISHI

Procuradora Regional da República/MPF

Gerente Projeto Qualidade da Água/MPF

[email protected]

[email protected]

Dados da ONU

2,5 bilhões de pessoas sem saneamento

básico

Até 2025, 2 em cada 3 sem água

6-8 milhões mortes/ano em

desastres/doenças ligadas à água

800 milhões s/ acesso a água de qualidade

ONU – 2010 – direito humano

fundamental a água e ao saneamento

Convenção de Helsinque (1966 e 1992)

ou Convenção da Água: Artigo IV: direito a

uma parte razoável e equitativa no uso das águas,

conforme diversos fatores: a geografia da bacia, a

hidrologia da bacia, o clima da bacia; os usos

existentes; necessidades socioeconômicas; a

população dependente; a disponibilidade de outros

recursos; a forma para evitar o desperdício no uso

das águas da bacia, dentre outros fatores.

Convenção de Helsinque (águas

transfronteiriças)

Desde 1966 com as regras de Helsinque,

antes da Convenção de Estocolmo (1972) =

marco precursor da regulamentação do uso

equitativo e razoável dos recursos hídricos.

Se não há conscientização para o uso

equitativo, a tendência é aumentar ainda

mais o consumo de água.

Uso equitativo e razoável: uso prioritário

na bacia, unidade territorial da gestão

hídrica Brasil não assinou a Convenção de

Helsinque (nascedouro da integração da

gestão hídrica com a gestão ambiental).

Uso equitativo e razoável: Relatório

Brundtland, Declaração de Estocolmo/72,

Declaração do Rio/92, Declaração de

Johannesburg/2002

ONU e águas

ONU - Resolução 64/292, 28.8.2010: "direito

à água e ao saneamento como um direito

humano fundamental“

Agência das Nações Unidas sobre Água

– Metas do Desenvolvimento do Milênio

(2002 -2015)

Últimos relatórios da ONU:

preocupação com as transposições de

bacias...

Águas no contexto internacional

Último relatório publicado no último dia 24.2,

realizado pelo Instituto de Água, Meio

Ambiente e Saúde (INWEH) da Universidade

das Nações Unidas: “A corrupção

relacionada a águas não é só um ato

criminoso. No contexto do desenvolvimento

sustentável poderia ser vista como um crime

contra a humanidade”.

Reconhecimento do direito à água

como direito humano no plano

internacional

Desde 1948: Art. 25 da Declaração dos

Direitos Humanos de 1948;

1966: Arts. 11 e 12 do

Pacto das Nações Unidas de 1966 sobre

Direitos Econômicos, Sociais e Culturais

Desde 1977 vem a preocupação com a

planificação da gestão hídrica: Março de

1977: Conferência da ONU sobre a Água,

Mar da Prata – Plano de Ação

ONU, saneamento e integração com

desenvolvimento sustentável: NOVO CONCEITO

DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Dezembro 1999 - Resolução da Assembleia Geral da

ONU A/Res/54/175, “O Direito ao Desenvolvimento”

(art. 12).

2002 – Cúpula do Desenvolvimento Sustentável -

Declaração de Johanesburgo – água juridicamente

sustentável = saneamento integrado com

desenvolvimento sustentável.

2005 - Relatório Especial do Conselho Econômico e

Social das Nações Unidas; Decisão 2/104, de

Nov/2006, Conselho dos Direitos Humanos da ONU

2007: Relatório do Alto Comissário das Nações

Unidas para os Direitos Humanos

2008: Resolução 18/8 do Conselho dos Direitos

Humanos (A/HRC/RES/12/8)

Direito à água potável e ao saneamento e

o direito internacional

De 2011 a 2014: diversas Resoluções do

Conselho de Direitos Humanos da ONU

(2011-2014): alertam Estados Membros para

a responsabilidade de concretizar o direito à

água de modo integral (saneada).

Em 2014, a Resolução 27 do Conselho dos

Direitos Humanos (doc A/HRC/RES/27/7):

Estados devem promover progressiva

efetividade do acesso à água potável e ao

saneamento básico (princípio do não

retrocesso) – METAS PROGRESSIVAS!

Bacias Amazônica e do São

Francisco e Saneamento

Brasil: maior potencial hidríco do globo (em água

doce) – 12% do volume total do planeta. Bacia do

Rio Amazonas: mais de 50% das águas do país

Média nacional de saneamento: 17,9%!

bacia do Amazonas: uma única unidade de

tratamento de águas residuais em Manaus!

só 8,5% da população na bacia amazônica é

servida por tratamento de águas!

Bacia do São Francisco: tratamento águas

residuais: 1,1% a 17,4%;

E a disponibilidade hídrica no RJ?

Estudo realizado em 2010 pela Agência

Nacional de Águas (ANA):

Perdas hídricas (CEDAE/RJ)- 46,95% e em

Spaulo: 35%

Pior: perdas de água “não faturada” – 50,9%

e 42% na RMSP (dados do Comitê PCJ) (água não faturada: tratada e sem cobrança, por ineficiência de

gestão, problemas de vazamentos, ligações clandestinas,

submedição, etc.)

Out/2014: DETROIT/EUA:desabastecimento

de 27.000 pessoas sem plano anunciado ou

sem nenhuma explicação fez a ONU declarar

os EUA violadores de direitos humanos.

BRASIL- saneamento

96% da irrigação no Brasil utiliza técnicas

ineficientes com perdas incríveis de água;

Empresas de saneamento - média de 40%

de perdas na distribuição = um desperdício

de R$ 1 bilhão/ano.

CF/ 88 PREVÊ IMPLICITAMENTE O

DIREITO À ÁGUA POTÁVEL

Integra o núcleo do direito à dignidade da

pessoal humana (art. 1º, III, CF/1988).

Por que falta água no SE?

Motivos para a crise de escassez hídrica no Sudeste

1. Gestão e distribuição inadequadas;

2. Elevada concentração de população em grandes

cidades

3. Comitês de Bacias não paritários e funcionando mal ;

4. Falta de transparência e de participação em todas as

fases da gestão: planejamento, orçamento,

execução, fiscalização e prestação de contas

5. Índices absurdos de perdas hídricas

6. Desmatamento generalizado e mudanças climáticas

7. Transposições desestabilizam o sistema legal de

gestão de recursos hídricos que é por bacias.

8 FALTA DE INVESTIMENTOS EM DESPOLUIÇÃO E

SANEAMENTO BÁSICO!

O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NA

GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS E SANEAMENTO Lei 9433/1997: valoriza ações preventivas e de

preservação; ou seja, investimentos em preservação

ambiental de nascentes, áreas de recarga e apps.

MPF - projeto qualidade da água para articulação

entre os órgãos gestores e de governo, Ministério

Público do Estado, especialistas técnicos

(engenheiros sanitaristas, biólogos, geoquímicos e

outros) e a sociedade para ESTUDAREM E

DEFINIREM metas PROGRESSIVAS DE qualidade

da água, integrando-as aos planos de bacias

hidrográficas. MOTE:COLOCAR A DESPOLUIÇÃO

EM PRIMEIRO PLANO!

Projeto aprovado em janeiro/ 2015 pela Procuradoria

Geral da República

projeto de qualidade da água do MPF - objetivos:

a) o mapeamento dos focos de poluição hídrica e suas causas.

b) o planejamento estratégico e a capacitação de órgãos do MP

c) Ministérios Públicos estadual e federal devem trabalhar para

a efetividade da transparência e do controle social, conforme a

LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO (Lei 12527/2012).

d) MPF deve facilitar canais de diálogos e buscar a articulação

dos órgãos gestores para um efetivo gerenciamento integrado

(MMA, ANA, Comitês de Bacias, Poder Público e sociedade

para uma boa gestão hídrica participativa, integrada e

descentralizada, nas bacias hidrográficas .

e) Ministério Público deve acompanhar as reuniões do

Conselho Nacional de Recursos Hídricos e Comitês de bacias

hidrográficas, como observadores, para a garantia da

participação e do controle social nesses fóruns de decisões.

O papel do MPF na gestão hídrica e de saneamento

Controle social: necessitam-se informações

atuais, contínuas e fidedignas. Mínimo para uma

governança hídrica: INFORMAÇÃO é PODER!

Mas, faltam informações sobre alternativas

para aumentar a oferta hídrica e sobre

qualidade!

Em São Paulo , há várias Fontes de

Informações (SP):

emação

ANA (HidroWeb) → Plataforma estruturada

SABESP → Não acessível. Não disponível.

Não publicado.

Falta de informação hídrica e

transparência

A FALTA ou FALHA NA INFORMAÇÃO

HÍDRICA VERAZ E TEMPESTIVA PODE

GERAR UMA INDESEJÁVEL FALSA IDEIA

DE SEGURANÇA NA POPULAÇÃO, o que é

muito grave, pois ela DEIXA DE ASSUMIR

MEDIDAS PREVENTIVAS DE ECONOMIA

DE ÁGUA.

“Como o cálculo é feito:

Como exemplo, em 17 de março, o índice era de 15,3%

(150,6 milhões de metros cúbicos dividido por 1.269,5

milhões de metros cúbicos)”. Site da SABESP no dia 17.3.15

Sociedade quer transparência!

Em 17.3.15, se veraz que ontem o volume

armazenado no Sistema Cantareira era de

150,6 milhões de metros cúbicos, este

volume equivaleria a 11,86% do volume total

autorizado e -10,78% (dez vírgula setenta e

oito por cento negativos) do volume útil do

Sistema Cantareira e não 15,3% (positivos)!

Além de se descartar medidas de

racionamento ou rodízio no curto prazo,

prejudicam-se medidas de economia de água

pela população mal informada!

Mudanças e objetivos no acesso à informação

hídrica para a transparência e participação

1) Garantia de acesso aos dados das séries

históricas de fluviometria e pluviometria

atualizados, indo-se um atraso necessário

2) informações verazes, atuais, completas e

claras devem ser disponibilizadas na internet,

garantindo a “publicidade real” e de forma

facilitada

3) Obrigatoriedade dos outorgados que

possuam instaladas estações de

monitoramento fluviométrico e pluviométricos

disponibilizarem as informações em

plataforma unificada do órgão outorgante.

Em busca de uma plataforma

unificada de informações A imprensa já veiculou que a SABESP e o

Governo tem um plano de contingência e que

confiemos no trabalho deles! Mas eles

próprios parecem não confiar em seus planos

participação e governança hídrica deve atuar

em todos os níveis e etapas: planificação,

orçamento, execução, fiscalização e

prestação de contas. Mas onde estão esses

planos? Planejar significa refletir e atuar

previamente... Participação deve incidir

também em nível dos planos para um

verdadeiro pacto social. Não há participação!

OS COMITÊS!

Os comitês: Devem promover a integração entre

a gestão dos recursos hídricos e de Gestão

Ambiental (arts. 30 e 31 da Lei n º 9433/97).

Integração das gestões hídricas e ambientais =

previsibilidade de impactos ambientais negativos

NA BACIA => estruturando os PLANOS de bacias

=> propiciando eficiente avaliação de estudos e

da CAPACIDADE de SUPORTE AMBIENTAL.

Art. 38, Lei 9433/97: Cabe aos Comitês de Bacias

articular a atuação das entidades intervenientes;

arbitrar os conflitos relacionados aos recursos

hídricos; aprovar o Plano de Recursos Hídricos da

bacia e acompanhar a sua execução e sugerir as

providências para o cumprimento de suas metas!

CRIAÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS

COMITÊS- ATUAÇÃO DO MINISTÉRIO

PÚBLICO SEM ACESSO À INFORMAÇÃO ADEQUADA NÃO HAVERÁ

PARTICIPAÇÃO E TAMPOUCO CONTROLE SOCIAL, COMO

EXIGIDA PELA Lei de Política Nacional de Saneamento Básico

1445/2007 (arts 2º e 3º).

TAMPOUCO NÃO HAVERÁ CONTROLE SOCIAL SEM

PARIDADE NA COMPOSIÇÃO DOS CONSELHOS E

COMITÊS DE GESTÃO.

CONTROLE SOCIAL (participação voltada à sustentabilidade

nos processos de formulação de políticas, de planejamento e

de avaliaçaão dos serviços de saneamento básico)

§ 1 ° do art. 39 da Lei n º 9433/97: participação até "à metade

do número total de membros“ nos comitês de bacias

Resolução 5/2000 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos:

comitês de bacias: votos dos representantes dos poderes

executivos (U, E, DF e dos M) só até 40% do total de votos.

Arte da estrutura da composição paritária do

conselho de gestão ambiental dos povos

aborígenes da Australia (Uluru)

Situação crítica da gestão na crise

da água em São Paulo No auge da CRISE DE ESCASSEZ DE AGUA QUE

ABALA A REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO

PAULO

O que houve?

Houve descompassos, falta de transparência na

gestão hídrica, tímida atuação dos Comitês de

Bacias e uma indevida intervenção do governo do

Estado de SP.

DESCOMPASSO OU DESMANTELAMENTO DA

GESTÃO : NÃO INTEGRADA, NÃO

PARTICIPATIVA E CENTRALIZADA – 20

toneladas de peixes mortos!

Foto rio Piracicaba seco –ago/2014

Represa seca do sistema Cantareira de

transposição de águas para a região

metropolitana de São Paulo

Culpa de São Pedro que não enviou

chuvas?

A diminuição da vazão afluente e degradação das nascentes e das áreas de recarga das águas - fontes secas!

O uso e ocupação do solo inadequado na região do Cantareira – desrespeito à capacidade de suporte.

As regras de segurança hídrica nos reservatórios de água não foram respeitadas pelos órgãos de gestão e concessionária de abastecimento (SABESP)

ATÉ HOJE NÃO há esquemas ou planos de racionamento e nem ao menos rodízio na Capital de São Paulo.

Não houve divulgação de programa sólido de incentivo à economia de água!

Não se vê uma política pública de incentivo ao reuso e aproveitamento de águas pluviais.

A Crise e a Atuação do Ministério

Público Até agora, em meio a crise da água Membros do

MPF e do MPSP trabalham em mais de 20 inquéritos

civis e já propuseram 4 ações civis públicas para, em

síntese, restaurar o sistema de gestão integrada,

descentralizada e participativa, livre de interferências

políticas e com o devido acesso a informações

adequadas.Concedida liminar pela JF de Piracicaba-

SP em uma das ACPs a do uso responsável do

volume morto II para garantia de que ao menos até

30/4/15 seja preservada 10% no mínimo de seu

volume útil. Declinada a competência, foi ratificada

integralmente pela JFSP em fevereiro/2015.

Obrigação de avançar na proteção

ambiental : a progressividade O Estado Ecológico de Direito brasileiro tem a

obrigação de atuar buscando a progressividade de

um Estado da Informação Democrática e Direito,

com efetividade do controle social na gestão hídrica,

diante do princípio do não retrocesso que está

implícito na CF conforme doutrina de Ingo Sarlet.

Controle social está expresso no art. 216-A, § 1, X,

da CF / 88, como um princípio de Sistema Nacional

de Cultura, voltado à "democratização dos processos

decisórios ambientais e à promoção de políticas

públicas de cultura ecológica que devem pressupor

uma progressiva democratização.”

Progressividade no controle social

ambiental e na gestão hídrica Por tudo o que se demonstrou até agora, diante do

direito internacional e do conceito de água como bem

de uso comum do povo, cujo acesso é um direito

humano fundamental, então, não se admite

exceções no acesso a informações, à participação e

ao controle social.

Seria desnecessário, mas há uma lei ressaltando

isso!

Lei 12527/2011, art. 21 e par. Único: ”As

informações ou documentos que versem sobre

condutas que impliquem violação dos direitos

humanos praticada por agentes públicos ou a mando

de autoridades públicas não poderão ser objeto de

restrição de acesso.”

Informação e participação

O princípio do acesso à informação e à

participação fazem valer para todos as

mesmas regras, tarifas e condições de uso

da água

O acesso à água em tempos de crise não

pode mais ser visto como um privilégio de

quem têm dinheiro ou de um contrato

específico, como os de demanda firme,

privilegiando em especial o setor da grande

indústria.

Aquanel: a poluição para todos!

CONCLUSÕES

1) fortalecimento do controle social para a gestão

integrada, participativa e descentralizada em

recursos hídricos e em matéria ambiental,

estimulando a crescente capacitação das ONGs e

associações civis de defesa do meio ambiente.

2) EFETIVA PARTICIPAÇÃO NO CONTROLE E

MONITORAMENTO DAS ATIVIDADES

POTENCIALMENTE DEGRADADORAS AO

AMBIENTE, ATRAVÉS DA PARTICIPAÇÃO NAS

DECISÕES PELA SOCIEDADE (ONGs,

ASSOCIAÇÕES) NUMA EFICIENTE

GOVERNANÇA AMBIENTAL.

CONCLUSÕES: democratização

dos processos decisórios ambientais! 3) FACILITAÇÃO DO ACESSO À informação dos dados

disponibilizando-os na internet de forma contínua, para

providências TEMPESTIVAS e eficientes;

4) Conscientização através da educação ambiental em

todos os níveis e setores.

5) Ministério Público deve atuar para a efetividade do

controle social à luz do art. 216-A, § 1, X, da CF / 88,

como um princípio de Sistema Nacional de Cultura, para a

almejada "democratização dos processos decisórios

ambientais”, com promoção de políticas públicas hídricas

de CULTURA que necessariamente deve pressupor

efetiva, crescente e contínua democratização no setor.

OBRIGADA!