saiba como é o dia a dia no zoo destes magníficos...

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PEGADAS Uma viagem ao Irão pela conservação do Leopardo-da-pérsia ENTREVISTA António Zambujo conta-nos que é fã do Jardim Zoológico EM DESTAQUE Manuel da Conceição conhece os elefantes do Zoo como ninguém Conservar, educar e investigar #01 OUTONO 2017 Saiba como é o dia a dia no Zoo destes magníficos felinos

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PEGADASUma viagem ao Irão

pela conservação do Leopardo-da-pérsia

ENTREVISTAAntónio Zambujo

conta-nos que é fã do Jardim Zoológico

EM DESTAQUEManuel da Conceição

conhece os elefantesdo Zoo como ninguém

Conservar, educar e investigar

# 01OU T ONO 2 017

Saiba como é o dia a dia no Zoo destes magníficos felinos

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IGO

TORNA-TE UM PADRINHOMUITO ORGULHOSO

· APADRINHAMENTO ·

www.zoo.pt

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p r o p r i e d a d e J a r d i m Z o o l ó g i c o d e L i s b o a c o o r d e n a ç ã o S e r v i ç o d e M a r k e t i n g d o J a r d i m Z o o l ó g i c o g e s t ã o d e p r o j e t o F i l i p a d ’ A v i l l e z d e s i g n e i l u s t r a ç ã o R i t a d ’ E ç a f o t o g r a f i a S ó n i a S i l v a , T h i n k s t o c k , A r q u i v o d o J a r d i m Z o o l ó g i c o r e d a ç ã o e e d i ç ã o d e t e x t o s F i l i p a d ’ A v i l l e z e R i t a S o u s a R ê g o t i r a g e m 2 0 0 0 e x e m p l a r e s

Francisco Naharro PiresPresidente

Até onde vai a nossa Missão?Além dos parques e jardins zoológicos, também os visitantes, padrinhos e parceiros têm um papel muito importante na protecção das espécies.Nesta nova revista, mais moderna, mais informativa e mais próxima, mostramos-lhe como é o dia-a-dia no Jardim Zoológico e como, todos juntos, podemos contribuir para a preservação da natureza e reversão da extinção.

F I C H A T É C N I C A

# 01OU T ONO 2 017

Conservar, educar e investigar são a razão principal da nossa existência. A extinção das espécies é um cenário cada vez mais preocupante no nosso Planeta. Na verdade, algumas só continuam a existir graças ao esforço dos parques zoológicos. É neste sentido que tentamos sensibilizar, diariamente, os milhares de visitantes do Jardim Zoológico, pois acreditamos que cada um de nós pode fazer a diferença. Ao longo destas páginas pode descobrir a rotina de quem trata dos Tigres-da-sibéria e ficar a conhecer a história do tratador que cuida dos Elefantes há 25 anos. São apenas dois exemplos entre tantos os que colaboram connosco e se dedicam, todos os dias, ao bem estar dos habitantes do Jardim Zoológico.A formação contínua dos técnicos do Zoo é fundamental e, todos os anos, os nossos colaboradores participam em congressos e acções de formação, tanto em Portugal como no estrangeiro. No entanto, também a sensibilidade em relação aos animais sob o seu cuidado, observando-os continuamente, é um factor essencial para a realização de um bom trabalho diário. Só desta forma é possível saber como estimulá-los, levando ao aumento da sua reprodução, e ainda obter dados relevantes para possíveis projectos de reintrodução na Natureza.Os projectos do Jardim Zoológico vão além fronteiras e é através destas parcerias e programas internacionais que conseguimos levar a cabo o nosso papel. Nesta revista também lhe trazemos informação sobre a recente expedição ao Irão em prol do Leopardo-da-pérsia e da Chita-asiática, na qual um dos veterinários do Jardim Zoológico foi um importante interveniente.É com todos estes projectos, e participando em iniciativas em todo o mundo, que mantemos a nossa instituição viva. Tal como nós, queremos que sinta orgulho e que participe connosco na nobre missão do Jardim Zoológico .A todos – funcionários, visitantes, voluntários, parceiros e amigos – o nosso muito obrigado!

Bem hajam!

Tentamos sensibilizar, diariamente, os milhares de visitantes do Jardim Zoológico, pois acreditamos que cada um de nós pode fazer a diferença

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6. breves Pequenas notícias sobre o reino Animal.

9. pegadas Uma viagem ao Irão pela conservação do Leopardo-da-pérsia e da Chita-asiática.

14. visita guiada Fomos conhecer de perto o dia-a-dia dos Tigres-da-sibéria e de quem cuida deles no Jardim Zoológico.

18. entrevista António Zambujo, o cantor que é fã do Jardim Zoológico.

22. palavra de bicho A secção dos mais pequenos conta tudo sobre as várias subespécies de tigre e ainda reserva algumas surpresas.

24. desafio do padrinho Sociedade Ponto Verde. O patrocinador do Bosque Encantado respondeu ao nosso desafio.

26. em destaque Manuel da Conceição trata dos elefantes há mais de 25 anos. Descubra tudo sobre a sua rotina e as histórias que tem para contar.

28. opinião de mestre Convidámos Isabel Minhós, autora e editora da Planeta Tangerina, para inaugurar esta secção.

29. ideias com natureza A secção criada para que não perca nada, com dicas e sugestões para ficar a par das novidades.

sumário UMA REVISTA NOVA, PENSADA DE RAIZ PARA SI QUE SE MOVEPELA NATUREZA.

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UMA REVISTA COM UMA

Criámos um meio de comunicar que mostra o melhor do Zoo e reflete os valores que o sustentam:

Aqui vai encontrar as novidades sobre os habitantes do Jardim Zoológico

e perceber como a instituição se dedica à proteção da vida selvagem

através da conservação, da investigação e da educação.

Boas leituras, cheias de aventuras.

CONSERVAR , EDUCAR E INVESTIGAR

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A reintrodução do Leopardo-da-pérsia no seu habitat natural está a ser um sucesso. O Jardim Zoológico participa no programa de reintrodução desta subespécie contribuindo ativamente para este resultado.

O Leopardo-da-pérsia (Panthe-ra pardus saxicolor), também conhecido como Leopardo-do-cáucaso, está em perigo de extinção na Natureza. Por en-quanto, já que a sua reintrodu-ção no habitat natural está a ser um sucesso. Por ser um dos parques zoo-lógicos com uma das maiores taxas de reprodução de felinos, o Jardim Zoológico foi contac-tado pela União Internacional para a Conservação da Natu-reza, IUCN e participa, desde 2012, no programa de reintro-dução do Leopardo-da-pérsia na Rússia.Na sequência do convite, o Jar-dim Zoológico enviou para a Rússia Andrea e Zadig, um

ESTAMOS A REVERTER A EXTINÇÃO

L E O PA R D O - DA - P É R S I A

Sabia que...

casal reprodutor que, seis meses depois, veio a ter uma ninhada. Em 50 anos, foi a pri-meira vez que nasceram Leo-pardos-da-pérsia na Rússia, o seu habitat natural. A experiência dos técnicos por t u g ueses e o sucesso reprodutivo do casal de leo-pardos levou a que o Jardim Zoológico fosse convidado para coordenar o programa. Na Reserva Natural do Cáu- caso, para onde viajou o par “português”, estava já um casal de Leopardos-da-pérsia vindo do Irão. Sem nunca ter repro-duzido, este par teve finalmen-te crias depois da ninhada de Andrea e Zadig nascer. O pro-grama de conservação cami-

A L G U M A S C U R IO S I DA D E S S O B R E A N I M A I S

D O J A R DI M Z O O L Ó G I C O

O MAIOR

Elefante-africano

O MAIS

PEQUENOCaranguejo-das-

-lagoas

O MAIS VELHOGirafa-de-angola

O MAIOR

DE TODOS OS FELINOS

Tigre-da-sibéria

ANIMAL

COM A LÍNGUA MAIS

COMPRIDA Urso-formigueiro-

-gigante

O MAIS

PESADO Elefante-africano

O MAIS

ALTO Girafa-de-angola

O MAIS

VENENOSO Monstro-de-gila

O MAIOR

DOS ANTÍLOPES Elande

O QUE DORME

MAISKoala

O MAIS PARECIDO COM

O HOMEM Chimpanzé

LEOPARDO-DA-PÉRSIA

O Jardim Zoológico desempenha um papel importante na conservação desta subespécie cujo habitat natural inclui a região do Cáucaso. Em liberdade, já só existe no Irão e talvez no Iraque e na Turquia. A reprodução destes animais sob cuidados humanos é uma medida de conservação fundamental para que não se extinga.

nha claramente para o sucesso.No verão passado, concluiu-se mais uma etapa decisiva depois de um cuidadoso treino, que capacitou as crias para a vida selvagem. Vitória, a fêmea “portuguesa”, bem como Grom e Ahkun, os dois machos “ira-nianos”, foram reintroduzidos no seu habitat, uma zona sel-vagem com cerca de 3000 km2 na região do Cáucaso. A partir de então, a intervenção huma-na tem sido apenas de vigilân-cia, prevendo-se a introdução de mais leopardos desta subes-pécie todos os anos. Assim que houver sinais de reprodução – o que pode acontecer a qual-quer altura – e nascerem as pri- meiras crias em liberdade, já se poderá afirmar que conse-guimos reverter a extinção dos Leopardos-da-pérsia.Daremos notícias na próxima revista. Entretanto, se quiser manter-se a par desta vitória da Natureza e do Jardim Zooló-gico, fique atento ao nosso site e colabore connosco para que o Leopardo-da-pérsia deixe de ser um dos animais em perigo de extinção.

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sábados selvagens no zooPasse um dia inesquecível com a sua família no Jardim Zoológico. Criámos um programa especial com percursos temáticos que, entre outras descobertas, permite conhecer alguns dos bastidores e processos diários de tratamento e alimentação dos animais. Sempre de uma forma muito divertida e através de experiências únicas, adultos e crianças aprendem em conjunto sobre o reino Animal e acerca do que fazer para proteger a biodiversidade. Para saber mais contacte o Centro Pedagógico através de 217 232 960 ou [email protected]

novos padrinhos, novos amigosPassámos a ter mais três empresas e um grupo coral a apadrinhar animais que vivem ao nosso cuidado. O Chimpanzé é agora afilhado do Banco Primus – um banco de financiamento internacional e multicultural reconhecido pela excelência e rendibilidade – e pela Merial Frontline, uma empresa que comercializa produtos inovadores na área da saúde animal.Por sua vez, o Lince-ibérico tem como padrinho a Milestone Consulting, uma empresa de serviços de consultoria tecnológica com clientes nos mais diversos setores de atividade.O quarto novo padrinho é o Saint-Dominic s Gospel Choir, um grupo coral que nasceu com o desafio de difundir o estilo gospel e conquistar o seu espaço no mercado musical. Hoje, com renome nacional, este coro já recebeu vários prémios e homenagens pelo reconhecimento e qualidade do trabalho desenvolvido. O seu afilhado é a Arara-jacinta.

C Á E M C A S A

“Sado” foi o nome escolhido pelos visitantes do site do Jardim Zoológico para o mais recente Golfinho-roaz que aqui nasceu. Este pequeno macho veio ao mundo de cabeça, ao contrário do habitual nesta es-pécie, cujas crias nascem de cauda. Mas, felizmente, tem muita saúde e passa os dias a brincar com a mãe “Soda” que, com 42 anos de idade, é o golfinho mais velho no Jardim Zoológico.

Um Golfinho chamado Sado

N A S C I M E N T O

O Jardim Zoológico está à procura de um novo Padrinho para os seus Koalas. É uma excelente oportuni-dade para empresas, associações, escolas ou até mesmo particula-res se juntarem ao trabalho que te-mos feito em prol deste marsupial. Fomos o primeiro zoo europeu a unir esforços para apoiar o Programa de Conservação de Koalas no habi-tat natural em 1991 e integramos também o programa de educação e sensibilização sobre a conservação desta espécie. Temos mantido este apoio ininterruptamente até hoje e queremos continuar. Para mais informações contacte [email protected].

KOALAS ESPERAM POR UM PADRINHO

O Sado é um pequeno macho muito ativo. Venha conhecê-lo na Casa da Lagoa do Jardim Zoológico

CRIA DE GOLFINHO E A SUA MÃE SODA

turistas distinguem zooO Tripadvisor, um dos portais de turismo mais visitados, com referências sobre mais de 400 mil lugares, distinguiu o Jardim Zoológico como um dos melhores do mundo. Num universo de 2584 visitantes do portal, 1500 classificaram o Zoo como excelente.

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O mais recente programa do Jardim Zoo-lógico para escolas propõe aventuras no Zoo num horário muito fora do comum. Entre as 16h00 e as 11h00 do dia seguinte, grupos com idades entre os 4 e os 17 anos são convidados a explorar o que se passa no reino animal depois do pôr do sol. Visitas aos bastidores, jogos dinâmicos, caças ao tesouro e peddy-papers são al-gumas das atividades que pretendem

À NOITE NO ZOO

Alguém vai conseguir dormir?

P RO G R A M A

reforçar as capacidades individuais e o espírito de equipa, ao mesmo tempo que sensibilizam para a importância da biodi-versidade e para a necessidade de prote-ção da Natureza.Todos os professores/chefes de escutei-ros podem inscrever os seus grupos e, as-sim, proporcionar aos mais jovens uma noite especial, imersa em sons e cheiros do mundo animal.

Estes novos habitantes do Zoo têm deli-ciado os visitantes de todas as idades com a sua timidez e também com os seus hábitos de descanso: acomodam-se em ramos altos e deixam as patas suspensas, parecendo sacos de pelo.O Jardim Zoológico compromete-se a asse-gurar o bem estar destes animais para que se possam reproduzir e assim contrariar a extinção desta espécie na Natureza.

CRIAS DE PANDA -VERMELHO DERAM MAIS COR AO ZOO O Jardim Zoológico recebeu um presente muito especial: duas crias de Panda-vermelho.

N A S C I M E N T O

O TIGRE-DA-SIBÉRIA (Panthera tigris altaica) habita os vales frios do extremo leste da Rússia. Pode conhecê-lo melhor na página 14 desta revista. Conversámos com o seu tratador e preparámos um artigo que revela muito sobre esta subespécie.

sabia que

À noite os sons que ouvimos

e os animais que podemos ver no Jardim Zoológico

são diferentes de quando o sol brilha.

Inscreva o seu grupo para vir dormir (ou tentar,

pelo menos) mais perto dos nossos animais.

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entr

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as e

barb

atan

as

Conservar1. Manter em bom estado. 2. Manter no estado atual. 3. Guardar. 4. Preservar. 5. Continuar a ter. 6. Reter (na memória). 7. Não perder. 8. Não desistir.

Palavras relacionadas: reter, manter, permanecer, mantimento, memorizar, reservar, vivificar.

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U M A V I A G E M A O I R Ã O P E L A C O N S E R V A Ç Ã O D O

Leopardo-da-pérsia

...a respeitar a naturezaO Jardim Zoológico participa em vários programas de conservação, europeus e internacionais, e a Zoo vai contar-lhe tudo sobre estas fantásticas iniciativas.

Rui Bernardino, Veterinário do Jardim Zoológico e Consultor Veterinário do Programa Europeu de Reprodução (EEP) do Leopardo- -da-pérsia, foi convidado para fazer parte de uma expedição ao Irão , cujo objetivo foi avaliar os dois reprodutores que se encontram no Zoo de Teerão. Conheça a importância desta viagem e como as Chitas-asiáticas também beneficiaram.

f o t o g r a f i a r u i b e r n a r d i n o

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O convite partiu de Iman Memarian, v e t e r i n á r i o d o

Zoo de Teerão, que criou, em finais do ano passado, o pri-meiro banco de sémen de Leopardos-da-pérsia e Chi-tas-asiáticas. Sabendo que o Jardim Zoológico tem uma das taxas de reprodução mais altas da Europa e que na Ale-manha havia sido criada uma técnica que facilita a colhei-ta de sémen de felinos, Iman quis que, tanto o português Rui Bernardino (Médico Vete-rinário do Jardim Zoológico) como a alemã Imke Luders (Médica Veterinária da Geo-Lifes), criadora da citada téc-nica, lhe fizessem uma visita de consultoria e aconselha-mento técnico. Financiada pelo Jardim Zoológico, a ação incluía a colheita de sémen de “Rica”, um Leopardo-da-pér-sia e a avaliação da condição reprodutiva da fêmea “Kija”. Este procedimento de ava-liação médica foi igualmente realizado nas duas únicas Chitas-asiáticas sob cuida-dos humanos: “Koushki” e “Delbar”, no Asiatic Chee-tah Research and Husban-dry Headquarter (ACRHH), em Teerão.“A minha colega Imke é espe c i a l i s t a e m re pro duç ã o e implementou uma técni-ca de colheita de sémen mais simples e mais rápida do que as que se conheciam até ago-ra. Em estado selvagem estes fatores são determinantes”,

Exame a um Leopardo- -da-pérsia no Zoo de Teerão.

Durante as reuniões com o Departamento

do Ambiente do Irão a equipa debateu a importância da

utilização do material genético da população

em estado selvagem nos programas

de reprodução.

| a s a b e r |

A viagem científicaRui Bernardino e Imke Luders deslocaram-se ao Irão durante cinco dias para uma forte partilha de experiências com o colega iraniano:

• Ensinar o procedimento de colheita de sémen implementado por Imke Luders

• Planear a chegada a Teerão de um Leopardo-da-pérsia macho do Jardim Zoológico

• Rever algumas questões de maneio relacionadas com Leopardos-da- -pérsia e Chitas-asiáticas.

• Aconselhamento técnico em relação às instalações

A Chita-asiática só existe no Irão e há no máximo 50 animais. A intervenção da ciência é decisiva para que a subespécie continue a existir.

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ex plica Ru i Ber na rd i no. O veterinário portug uês, também consultor veteriná-rio do Programa Europeu de Reprodução (EEP) do Leo-pardo-da-pérsia conhece bem a realidade desta subes-pécie e acolheu o convite com particular satisfação, até por-que “este é o primeiro Banco que nos permite conservar material genético para ser utilizado mais tarde e foi a primeira vez que uma colhei-ta destas – num Leopardo-da-pérsia e numa Chita-asiática — foi feita no Irão”. Estabele-cido o procedimento e apren-dida a técnica pelo veteriná-rio local, este foi um passo importante para a conserva-ção destes animais.

UMA ESPÉCIE AMEAÇADAOriginária do Cáucaso, região que divide a Europa Oriental e a Ásia Ocidental e da qual fazem parte países como a Geórgia, a Arménia, o Azer-baijão, algumas Repúblicas da Rússia e ainda partes da Tur-quia e do Irão, o Leopardo-da-pérsia é uma subespécie em sério risco de extinção. “Exis-tem apenas cerca de 500 Leo-pardos-da-pérsia no estado selvagem, o que é muito pou-co”, revela Rui Bernardino. A realidade geopolítica da re-

gião – com várias fronteiras fechadas e áreas de reserva li-mitadas — não permite que os animais circulem livremente pelo seu habitat natural e im-pede o cruzamento entre populações. Este limite po-de levar à consanguinidade e à consequente fragiliza-ção da viabilidade dos ani-mais. É urgente a reprodução entre casais de populações diferentes, o que já só é possí-vel ligando as fragmentadas, através de corredores entre as diferentes áreas protegidas dos diferentes países. A perda do habitat, a diminuição de recursos alimentares e a caça ilegal são determinantes para a sobrevivência do Leopardo-da-pérsia na Natureza.

A AJUDA HUMANAO biobanco de sémen cria-do pelo veterinário iraniano mostra-se de um valor incal-culável. “Iman Memarian é a pessoa que mais lida com os Leopardos-da-pérsia no Irão. É ele, por exemplo, que coloca os colares de monito-rização aos animais no estado selvagem. A partir de agora, ao anestesiá-los com esse fim, pode também fazer a colheita de material biológico, como sémen, preservá-lo e usá-lo mais tarde em fêmeas que

Reservatório do Biobanco criado no Irão.

Recolha de sémen.

se encontrem em centros de recuperação ou em jardins zoológicos”, diz Rui Bernar-dino, explicando uma das razões por que a criação deste biobanco e a adoção da téc-nica de colheita têm tanta importância. “A referida fê-mea Leopardo-da-pérsia “Ki-ja”, presente no Zoo de Tee-rão, perdeu parte do membro anterior por ter ficado presa numa armadilha no estado selvagem. Não poderá regres-sar ao habitat natural mas o seu potencial genético poderá agora ser aproveitado”, conta o veterinário do Jardim Zoo-lógico. Este caso não é único no mundo e fazer nascer crias com uma herança genética distinta pode ser essencial pa-ra a reversão da extinção.

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Tigres-da-sibéria

Selvagens, solitários e ativos

A i n s t a l a ç ã o do s T i -gres-da-sibéria inclui espaços interiores, pa-

ra abrigo ou eventuais cuidados veterinários, e um recinto exte-rior com um paisagismo criado a pensar nas preferências des-tes animais. “Eles gostam de es-tar em altura. Como vê, o macho ainda não saiu da plataforma desde que aqui chegámos”, ex-plica José Oliveira, o tratador que nos guiou nesta visita. No Jardim Zoológico vive um casal de Tigres-da-sibéria. São animais reservados e as fêmeas mostram-se particularmen-te tímidas. Quando nos apro-ximámos, a fêmea levantou-se e foi para o outro lado do recinto. Deitou-se atrás de uma grande pedra que quase a escondia por completo, e ficou a olhar-nos, imóvel. Mais confortável com a nossa presença, o macho sim-plesmente não se mexeu durante

Segundo o tratador José Oliveira, os animais vivem muito bem no Jardim Zoológico e os Tigres-da-sibéria são bons exemplos disso. Entre atividades de enriquecimento ambiental, dieta equilibrada e ótimas instalações adequadas à espécie, nada falta a estes felinos. Siga-nos nesta visita guiada e conheça-os melhor

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| Z é L e ã o |

Uma preferência por felinos

Tem 43 anos de idade e 25 de Jardim Zoológico. As duas filhas, de 15 e 7 anos, acham muita graça ao trabalho do pai. Querem ouvir histórias e riem quase sempre que alguém lhe chama “Zé Leão”. Ele explica: trato de felinos, entre os quais leões, sou do signo de Leão e sou José, ou Zé. Aqui no Zoo todos me conhecem como Zé Leão”. Com o sorriso próprio de quem ama o seu trabalho, conta-nos o seu percurso profissional: “Um tio meu, que aqui trabalhava, recomendou-me para o emprego. Nos primeiros cinco

anos passei pelos primatas, pelos bovídeos e pelas aves. Depois vim para os felinos e... daqui não saio!”. Acha que o seu trabalho é “espetacular” e que o Tigre-da-sibéria é o animal mais extraordinário entre todos os felinos. Além de um curso de tratador, e tal como os seus três colegas de equipa, José Oliveira vai todos os anos a um congresso sobre carnívoros onde atualiza os seus conhecimentos e aproveita para dar largas a mais algumas das suas preferências, como fotografar e viajar.

A equipa de tratadores dos

felinos é composta

por quatro profissionais

dedicados

ou cavalo. “Todos os dias?”, queremos saber. “Todos me-nos à sexta-feira, nesse dia ficam em jejum”, conta José Oliveira. “Na Natureza eles não comem todos os dias, chegam a ficar uma semana

quase todo o tempo em que entrevistávamos o tratador. Quando este o chamou, olhou logo para ele. “Ele conhece--o?”, perguntámos. “Sim, perfeitamente. Mesmo an-tes de me ver ele percebe pelo cheiro que estou por perto”. O tratador insiste em chamar o tigre e este, vagarosamente, desce a rampa da plataforma de madeira onde estava dei-tado a observar tudo o que se passava, e aproxima-se da rede. Fica a olhar-nos mas não ruge nem se mostra inco-modado. É a curiosidade que fala mais alto, ou talvez a con-fiança no tratador que, entre outros procedimentos, o ali-menta há muitos anos.

ROTINAS SEM SURPRESASAs rotinas são simples. De manhã os tigres são recolhi-dos para o interior onde co-mem entre 4 e 5 kg de carne. Esta pode ser de vaca, coelho

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Sibéria ou Sumatra, como distinguir?

dam e sintam que eles os conhecem, nunca há aproxi-mação física. “Quando eles en-tram, fechamos a porta e lim-pamos lá fora. São as mesmas medidas de segurança desde sempre, nunca houve qualquer descuido ou problema. Em termos de segurança não há histórias para contar”, explica José Oliveira, que não identifi-ca os felinos como agressivos. “São selvagens, há que respei-tar isso”, conclui. De resto, há que observar os animais e comunicar com os veterinários logo que haja si-nais de falta de apetite ou agi-tação. Os tigres dormem cer-ca de 20 horas por dia e, no restante tempo, é fácil ver se estão bem.

TUDO PARA O SEU BEM-ESTARQuando perguntamos se os tigres vivem bem num espa-

ço obviamente mais reduzido do que no habitat natural, explica que “É verdade que na Natureza eles percorrem dis-tâncias de 100 km, mas isso é porque precisam de caçar. Aqui nós damos-lhes a comi-da.” São utilizadas técnicas de enriquecimento ambiental para que os animais tenham de se esforçar para obter o ali-mento e passar tempo nessa conquista enquanto utilizam estratégias próprias da espécie. Pode pôr-se carne em sacos de serapilheira que eles sacodem e rasgam até conquistarem a “iguaria” desejada, usar-se barris de plástico nos quais têm de introduzir a pata e “pescar” o pedaço de carne suculenta, ou ainda esconder o alimento debaixo de pedras ou madeiras que é preciso afastar. Os trata-dores criam vários desafios que os tigres aceitam e assim se mantêm ocupados, vigilan-tes e alertas. São animais mui-to higiénicos, “passam a vida a tomar banho”, brinca o trata-dor, referindo-se às lambidelas, tal como os gatos domésticos, e aos mergulhos no lago de água doce, mesmo no meio do recinto exterior da instalação.

A DISTÂNCIA DOS HUMANOSUm dos sinais de bem-estar dos animais que se encon-tram em parques zoológicos é a sua taxa de reprodução, e José Oliveira já viu nas-cer vários Tigres-da-sibéria no Jardim Zoológico, um dos mais bem sucedidos da Eu-ropa nesta matéria. Nascem naturalmente pois, como explica o tratador, “quanto menos intervenção humana melhor. Apenas vamos obser-vando, para ver se está tudo bem, se a mãe dá de mamar e trata bem dos filhotes”. José cita ainda o clima portu-guês e a qualidade das instala-ções. “São felizes aqui no Jar-dim, não tenho dúvidas dis-so”, diz-nos com um sorriso, enquanto olha embevecido para o casal de Tigres-da-si-béria que, sossegados, obser-vam o que se passa em redor.

Embora iguais à primeira vista, em relação aos Tigres-de-sumatra (naturais da ilha com o mesmo nome, na Indonésia), os Tigres-da- sibéria:

Têm riscas simples

(não duplas)

O Tigre-de- -sumatra tem riscas duplas

Têm pelagem mais clara

Têm patas mais largas para poderem andar na neve

São maiores

O clima português, a qualidade das instalações e as

atividades de enriquecimento

ambiental contribuem para o bem-estar

dos tigres no Jardim Zoológico

sem comer”, explica. Mas se no seu habitat natural os Ti-gres-da-sibéria se alimentam com menos frequência, tam-bém o fazem em maior quan-tidade. “Quando comem, é logo aos 10 kg de cada vez”, diz o tratador. Enquanto os tigres se alimen-tam, os tratadores limpam o recinto. E por mais que gos-tem dos animais de que cui-

Novas criasNo passado dia 20 de Maio, depois de uma gestação de cerca de três meses e meio, nasceram duas crias de Tigre-da-sibéria. Diferentes abrigos foram construídos na instalação, para que a fêmea tivesse a oportunidade de optar pelo local onde iria ter as suas crias. Os pequenos tigres serão amamentados até aos 6 meses de idade e acompanhados pela progenitora, durante 2 a 3 anos, que os ensinará a sobreviver. O progenitor destas crias, é apadrinhado pela KIA, que desde 2016 apoia o Jardim Zoológico, contribuindo para a preservação da espécie.

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17

Educarverbo transitivo1. Dar educação a.2. Criar e adestrar (animais). 3. Cultivar (plantas).

verbo pronominal4. Adquirir os dotes físicos, morais e intelectuais que dá a educação.

Palavras relacionadas: educando, educado, educativo, deseducar, educação, bem-educado, desemburrar.

02

entr

e rug

idos

e pi

ares

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...António Zambujo

... conversas com amigos do Jardim Zoológico

“Sou muito fã do Jardim Zoológico”António Zambujo é um dos músicos mais apreciados da atualidade. Alentejano de gema, guarda no coração uma infância cheia de liberdade e uma avó que lhe ensinava as músicas tradicionais. Tem dois filhos, o Diogo com 18 anos e o João com seis, que esteve ao seu lado durante esta entrevista e se mostrou, também ele, um grande fã do Jardim Zoológico

Nasceu em 1975 e cresceu em liberdade, num ambiente em que o contacto com a Natu-

reza era frequente. António Zambujo, músico, gosta de ir ao Jardim Zoológico e nesta entrevista fala-nos da sua infân-cia, da sua música e do gosto que tem pelos animais.

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1919

Naturalidade: BejaAno de Nascimento: 1975Estado Civil: Casado, com dois filhos.Profissão: Canta e encantaHobbies: Desporto, ler, entre muitos outros.Curiosidades: Do Alentejo diretamente para o mundo, a já vasta obra de António Zambujo foi elogiada no mundo todo e contou com os especiais aplausos do incontornável The New York Times.

Perfil

“Sou muito fã do Jardim Zoológico”

Fale-nos da sua infância e juventude passada no Alentejo.Eu cresci no centro histórico de Beja, um lugar pequeno onde todos se conheciam. Acho que tive uma grande vantagem em relação aos dias de hoje, em que as crian-ças vivem mais aprisionadas, tem de haver sempre alguém a supervisionar, a cuidar. Naquela altura podíamos an-dar na rua e correr, jogar à bola, andar de bicicleta, fazer o que tínhamos vontade.

E a música, como apareceu?Eu passava muito tempo com a minha avó e ela tinha um conhecimento muito profundo da música tradicional alente-jana. Eu andava sempre atrás dela, que-ria aprender a cantar as músicas e ela tinha toda a paciência do mundo para me ensinar.

Então foi a sua avó que o ensinou a cantar?Sim. Depois eu ouvia os homens a can-tar numa taberna que existia em frente de casa e tentava cantar com eles aque-las coisas que a minha avó me ensinava. Isso deu-me uma paixão muito grande pela música e foi, na verdade, o que me fez ter vontade de cantar e fazer música.

Logo desde pequenino...Sim, em casa da minha avó também havia muitos instrumentos musicais que eu explorava, apesar de não os saber tocar. Mas tentava recriar as melodias que aprendia.

A sua avó era música?Não, só gostava. Havia um acordeão, um piano, uma harmónica... Eu inven-tava instrumentos de percussão com os talheres da cozinha e coisas assim.

E o fado, como entrou na sua vida e na sua música?O fado era através dos discos que havia lá em casa. Eu ia escutando e ia-me apai-xonando.

Depois também veio a música brasi-leira...Isso já foi mais tarde. Comecei a apai-xonar-me pela música brasileira quan-do ouvi o João Gilberto pela primeira vez. E ele canta músicas de muitos com-positores brasileiros; canta quase tudo, na verdade, por isso, ao ouvi-lo, fiquei a conhecer praticamente tudo da mú-sica brasileira, do choro à bossa nova, o samba canção. Noel Rosa, Cartola, Pixinguinha, Orlando Silva, etc.

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A partir dali, foi uma obsessão quase louca de querer conhecer cada vez mais e querer saber tudo.

E depois gravou com o Chico Buarque. Tem trabalhado com outros músicos brasileiros?Sim, nós tocamos no Brasil desde 2008 e já fizemos parcerias com o Ivan Lins, Roberta Sá, o Trio Madeira Brasil, Rodri-go Maranhão, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, sei lá, uma série deles.

Agora passando um bocadinho para a Natureza. Disse que cresceu num am-biente em que podia andar à solta, ao ar livre. E havia contacto com a Natu-reza, mesmo vivendo no centro histó-rico de Beja?Havia um contacto muito próximo com a Natureza porque os meus bisavós tinham uma casa em Mombeja, uma al-deia perto de Beja onde passávamos mui-tos fins de semana. Estávamos muito tempo no campo a brincar. Havia uma mula, cães, galinhas, patos, uma catrefa-da de bicharada. Nós brincávamos por ali e ajudávamos nas tarefas de alimentar e limpar, gostávamos muito, os meus pri-mos e eu.

E alguma vez veio ao Jardim Zoológi-co quando era pequeno?Tinha uns tios que moravam em Car-nide e, a caminho de casa deles, passá-vamos pela porta do Jardim Zoológico, que visitei logo na primeira vez que vim a Lisboa, ainda criança.

E com que memória ficou dessa visita?Lembro-me dos répteis, do elefante a tocar o sino, da aldeia dos macacos...

[O filho João, que até aqui esteve a brin-car sem ligar importância à entrevista, levanta a cabeça e conta que gosta mui-to de ir à Aldeia dos Macacos]

O seu filho também conhece, mas hoje a Aldeia é diferente...Sim, comparando com aquela altura es-tá completamente diferente, para me-lhor, diga-se. Naquele tempo também me marcou o elefante e, como eu sem-pre gostei muito de répteis, lembro-me muito do crocodilo, parecia que estava embalsamado, parado tipo estátua...

E hoje em dia, costuma lá ir?Sim, vamos umas três vezes por ano, é um programa de primeira escolha. Es-tivemos lá há pouco tempo e este ano o João teve lá uma festa de aniversário de um amigo.

“Visitei o Jardim Zoológico logo

na primeira vez que vim a Lisboa,

ainda criança.”

Gostamos de ver as apresentações, como a das aves, com araras e aves de rapina. A forma como ali se conta a história é mui-to interessante. Depois há a apresenta-ção dos golfinhos que nunca perdemos.

[O filho descreve alguns dos comporta-mentos dos golfinhos]

(Risos) Ele é o verdadeiro especialista em animais aqui de casa. As visitas ao Jardim Zoológico são para nós uma grande aventura e é ele que nos faz a des-crição de todos os animais, sabe tudo! O Diogo, o mais velho que já tem 18 anos, também sempre gostou de ir ao Jardim Zoológico, mas nunca ligou tanto aos animais como este, que é quase como eu com a música, quando tinha a idade dele.

Além da música e dos animais há mais paixões aí em casa?Há o desporto, a leitura e vão aparecen-do muitas outras coisas, temos muitos interesses.

Qual é o seu animal preferido?É o crocodilo, sempre gostei muito do crocodilo.

Quer deixar algum recado para os visitantes do Jardim Zoológico?Sim, deixo uma mensagem: que não deixem de o visitar, porque estas coi-sas também precisam de ser alimen-tadas pelo público. Acho importante as pessoas visitarem e perceberem que o dinheiro do bilhete serve para dar boas condições aos animais.

ATÉ PENSEI QUE FOSSE MINHA

O novo álbum de António Zambujo, “Até pensei que fosse minha”, é composto apenas por canções de Chico Buarque. “Do álbum fazem parte algumas das canções mais emblemáticas do percurso de Chico Buarque,como‘Cálice’, ‘Valsinha’, ‘João e Maria’, ‘Tanto Mar’ ou ‘Geni e o Zepelim’”. Chico Buarque, de 72 anos, gravou com António Zambujo uma versão da canção “Joana Francesa”, mas esta não foi a única participação no álbum. A cantora brasileira Roberta Sá participa no tema “Sem fantasia” e a fadista Carminho gravou com Zambujo “O meu amor”.

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TE

MA

DO

AR

TIG

O| p a l a v r a d e b i c h o |22

...O TIGRE

Sabias que...

Um dos mais belos e majestosos felinos do nosso planeta está em perigo. É preciso conhecê-lo e saber desde já o que podes fazer para o ajudar. Queres fazer parte da solução?!

Os tigres são conhecidos por todos nós pelo seu porte imponente. O padrão de ris-cas negras da sua pelagem serve para se camuflar melhor na f loresta e desafia os ob-servadores de todo o mundo a admirá-los. Mas, infelizmente, o padrão da pelagem e o simbolismo de força e coragem que lhes é atribuído, são motivadores de caça ilegal, deixando-os mais perto da extinção. E se não fossem os programas de conservação dirigidos a estes felinos, os tigres poderiam estar extintos, ou seja, já não existirem na Natureza.

Quem são estes felinosOs tigres são os maiores fe-linos do mundo! Um Tigre-da-sibéria pode ter mais de 3,5 metros de comprimen-to e 300 kg de peso. Da fa-mília dos felinos, conhece-

felinosmos as espécies mais pró-ximas do tigre, como leões, leopardos e jaguares, e tam-bém outros mais próximos de nós, os gatos domésticos.

O drama da extinçãoNo início do século XX exis-tiam cerca de 100 000 tigres na Natureza. Hoje, estima-se que existam menos de 3.200 no habitat natural, sendo que sobrevi-vem seis subespécies e três extinguiram-se nos últimos 80 anos, durante os quais perderam 93% do seu habitat natural.Dois grandes motivos estão na base desta situação: a ex-cessiva caça ilegal e a dimi-nuição do habitat disponível. O homem continua a caçar ti-gres para comercializar a pele e outras partes do seu corpo, muito utilizadas na medicina tradicional chinesa, e procu-

N O M A PA

Cada tigre tem um padrão de riscas único (funciona tal como as nossas impressões digitais).

Ásia! É neste continente e apenas aqui que, atualmente, encontram o seu habitat. Estes animais estão adaptados tanto ao frio da Sibéria como ao calor da Índia. Não há muito tempo, mais especificamente no século XX, podíamos encontrar tigres em muitas outras regiões do continente asiático, incluindo as ilhas de Java e de Bali, mas hoje estão extintos nessas regiões. A única ilha onde ainda vivem é na ilha de Sumatra.Os tigres gostam de locais com árvores e vegetação alta e densa, onde se conseguem camuflar e proteger do sol. Precisam de estar próximos de água e de presas para se alimentarem: veados, javalis, macacos, lebres e até crocodilos podem fazer parte da dieta de um tigre!

N O M A PA

os tigres no nosso mapa

Os fascinantes

Principais características

dos tigres

Conseguem recolher as garras totalmente,

tal como os gatos fazem com as suas unhas.

Têm visão noturna até seis vezes melhor

do que a nossa.

São capazes de saltar a uma altura de até quatro metros.

O rugido de um tigre pode ser ouvido até três

quilómetros de distância.

A emboscada é a sua estratégia de caça.

São excelentes nadadores.

São animais solitários.

Têm hábitos crepusculares (estão mais ativos e preferem

caçar ao anoitecer).

Vivem entre 10 a 20 anos em habitat natural.

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23

JÁ CONHECES OS PROGRAMAS DE FÉRIAS DO

JARDIM ZOOLÓGICO?

Estes campos dividem-se nas modalidades de Atelier e ATL.

O Atelier dirige-se a crianças entre os 3 e os 5 anos.

O ATL é um Campo de Férias para crianças e jovens dos

6 aos 16 anos.Temos sempre uma agenda

bem planeada para que passes umas férias inesquecíveis: de Páscoa, verão ou Natal!

E existem várias modalidades à escolha:

Um turno de 5 dias; um turno de 4 dias;

e ainda Dia temático.O horário é das 9h às 18h.

Podes consultar o site do Jardim Zoológico em

www.zoo.pt para estares sempre atualizado.

Vais poder desvendar os mistérios do reino Animal e conhecer de perto os tratadores e os

animais enquanto te tornas num verdadeiro Embaixador

da Natureza.Não percas a oportunidade.

Increve-te já.

radas no mercado ilegal. Este negócio é tão lucrativo que as autoridades têm muita difi-culdade em travá-lo, princi-palmente em países mais po-bres, como é o caso da Índia. Por outro lado a pobreza em que muitas populações hu-manas locais vivem também afeta estes animais, pois ca-çam as presas naturais do tigre para se alimentarem. Com falta de alimento, os ti-gres começam a caçar os ani-mais domésticos (porcos, vacas etc.) e, para se prote-

gerem, as pessoas que de-pendem desses animais para viver, matam os tigres que se aproximarem. Com a expansão humana pe-lo interior do território dos ti-gres, esta situação acontece ca-da vez com maior frequência.

Um faz a diferença Está nas nossas mãos ajudar o planeta, todos os dias. Para combater a extinção dos tigres há coisas que podes fa-zer a partir de tua casa:1. Há vários pacotes de via-gem que incluem safaris pe-las reservas e santuários na-turais da Índia. Pede aos teus pais para escolherem opções que contribuam ativamente para a conservação dos tigres. As agências que os têm cos-tumam trabalhar em conjun-to com grupos locais, o que também contribui para a eco-nomia daquele país.2. Procura, com os teus pais ou amigos, as instituições ou organizações que protegem e cuidam dos tigres e vê co-mo podes ajudá-las. Se calhar

E S P É C I E

sub-espécies de tigres

Os tigres......tal como os gatos, podem ronronar.

...conseguem caçar e matar uma presa quatro vezes mais pesada do que eles próprios.

...da-sibéria podem chegar a ingerir até 40 quilos de carne numa única refeição.

...quando existem vários tigres perante uma presa, as crias e as fêmeas comem primeiro, enquanto os machos adultos

aguardam a sua vez.

...sob cuidados humanos nos EUA são em maior número do que na Natureza em todo o Mundo.

Tigre-de-bengalaTigre-da-sibériaTigre-de-sumatraTigre-do-sul-da-chinaTigre-indochinêsTigre-da-malásia

(já extintas)Tigre-de-javaTigre-de-baliTigre-do-cáspio

AS CRIAS DE TIGRE

As fêmeas mães têm uma ninhada de dois a três pequenos tigres,

a cada dois anos.•

Nascem pequenos e indefesos mas começam

desde cedo a mostrar o seu instinto e a praticar técnicas de caça uns com

os outros. •

Por volta das oito semanas de idade, os pequenos

tigres juntam-se à mãe na procura

de alimento.•

Só caçam sozinhos a partir dos dois ou três anos, altura em

que a mãe deixa de tomar conta deles.

podes propôr que a tua escola apadrinhe um tigre através de donativos às instituições.3. Escolhe bem, tens algumas decisões a tomar… Prefere vi-sitar circos sem animais, eles também são muito divertidos! 4. Se a tua família for adep-ta de medicinas alternativas, como a medicina tradicional chinesa, informa-os para não comprarem medicamentos à base de partes de tigre ou ou-tros animais selvagens.5. Procura o símbolo FSC em todos os materiais de madei-ra e em todos os papéis e car-tões que utilizares, esse sím-bolo garante que a produção desse material não destruiu a floresta.4. No Jardim Zoológico podes conhecer vários programas de conservação de espécies e participar, ajudando a divul-gar estes programas e a pro-movê-los. Há muitas maneiras de con-tribuir. Descobre quais as mais adequadas e faz a dife-rença já hoje. Protege a Vida Selvagem.

Os tigres que vivem a norte (como a Sibéria) tendem a ser maiores do que

os tigres que vivem a sul, em regiões mais

quentes (como a Índia).

SOPA DE LETRAS DOS ANIMAIS SELVAGENS

PARA PASSAR O TEMPO

U R S O V U L O B OB A R P I N G U I MR P F L J L O B P LQ O F E S G T A V ZU S A Ã M I B L N EH A C O P R T E G BG U I L F A Ã I E RT I G R E F X A C AG I B H J A A W D QV E L E F A N T E N

BALEIAELEFANTEGIRAFALEÃOLOBOPINGUIMRAPOSATIGREURSOZEBRA

SOLUÇÕES

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S O C I E D A D E P O N T O V E R D E

SPVà lupaA Sociedade Ponto Verde é um patrocinador do Bosque Encantado do Jardim Zoológico e a ZOO quis conhecer melhor esta empresa que faz parte da vida de todos nós há 20 anos.

Quais os principais marcos na história da Sociedade Ponto Verde? R: Há 20 anos que a Sociedade Ponto Verde (SPV) está pre-sente na vida dos portugueses tendo conseguido criar uma relação saudável com os mes-mos durante toda esta traje-tória. Crianças, jovens, adul-tos e idosos, todos conhecem a marca e têm um carinho es-pecial pela mesma. Desde 1996, quando a SPV foi criada, que tem como objetivo final garantir a reciclagem das embalagens em Portugal em nome de todos os seus clien-tes. Para isso, além da gestão deste sistema integrado de re-síduos de embalagens, e como parte da nossa missão, educa-mos e sensibilizamos a popu-lação para que esta faça a sepa-ração dos seus resíduos dentro e fora de casa.Não é fácil resumir 20 anos de atividade mas existem alguns marcos de que todos os por-tugueses se recordam: O Ger-vásio, o famoso chimpanzé; as crianças que passaram a ser as estrelas das campanhas; o #fa-ceforgreen, um movimento social lançado no verão passa-do nos principais festivais de música e que chegou a mais de 37.500 jovens...

Quais os principais resulta-dos dos últimos anos? R: Passados 20 anos de ativi-dade, a SPV, através das suas várias iniciativas de sensibi-lização e comunicação e em parceria com os seus diversos stakeholders, desde as empre-sas que colocam produtos em-balados no mercado, aos siste-mas municipais, recicladores, ONG’s e Estado, conseguiu alterar de forma ímpar os hábi-tos dos portugueses.Em 2017 Portugal não tem lixeiras e os portugueses conseguiram reciclar à volta de 7 milhões de toneladas de resíduos de embalagens, o equivalente ao peso de 3 pontes Vasco da Gama.Chegamos a 2017 com 100% da população a ter acesso à re-colha seletiva. Portugal tem 43 mil ecopontos, três vezes mais que o número de multi-

bancos e 7 em cada 10 famílias faz já a sua reciclagem.

Patrocinadores do Bosque Encantado. Um papel igual-mente importante que pro-move a sensibilização am-biental e a conservação das espécies. Qual o papel mais importante que destacaria nesta função de Patrocina-dor do Bosque Encantado?R : A o ap oi a r a renov a -ção deste espaço ao longo destes anos, a Sociedade Ponto Verde tem pretendido demonstrar aos cidadãos que diversos objetos úteis podem resultar da reciclagem de embalagens usadas, con-t r ibu i ndo t a mb ém pa r a promover a utilização de materiais reciclados. Sendo o Jardim Zoológico um espa-ço de informação e sensibili-zação sobre ambiente e biodi-versidade dedicado sobretu-do a um público muito jovem, é muito importante que pos-sam ter exemplos reais de apli-cação das embalagens usadas após a sua reciclagem. O pa-pel mais importante da SPV

na intervenção deste espa-ço tem sido demonstrar que a reciclagem permite dar ori-gem a diversos objetos que usamos todos os dias e que todas as embalagens devida-mente colocadas no ecoponto e recicladas podem transfor-mar-se em novos materiais fechando assim o seu ciclo.

E agora o “Desafio do Pa-drinho”: Contem-nos qual a “Lista dos desejos da So-ciedade Ponto Verde”?R: A Sociedade Ponto Ver-de poderá esperar novos de-safios e com eles desafiar-se a si própria. É desejo da SPV continuar a ter um papel ati-vo e inovador na gestão dos resíduos de embalagens e com este pressuposto mobilizar cada vez mais portugueses para a separação das embala-gens. Desejamos que cada um en-contre em si a necessidade e o poder de se transformar adotando novos hábitos e comportamentos e que os pró-ximos 20 anos sejam de inspi-ração e sucesso!

20 ANOS A MARCAR A DIFERENÇA

Transformar resíduos em recursos

Inspirar mudanças de comportamento

e mentalidades em relação aos resíduos

D E S A F I O D E PA D R I N H O

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entr

e pin

tas e

ris

cas

Investigar (latim investigo, -are)

verbo transitivoProceder à investigação de...

Palavras relacionadas: investigação, investigativo, reinvestigar, megainvestigação, meteoronomia, exactificar

03

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Manuel da Conceição conhece os elefantes do Jardim Zoológico como ninguém. Cuida deles há 25 anos, chama-os pelo nome e conta-nos, orgulhoso, que o maior presente que recebeu foi ter assistido ao nascimento de alguns deles

“Trato dos bichos com maior calibre – os

ma is pesados”. É a ssi m que Manuel da Conceição, 59 anos, nos descreve orgu-lhosamente a sua função no Jardim Zoológico, onde é tra-tador há mais de três déca-das. Nos últimos 25 anos tem ao seu cuidado os elefantes, rinocerontes e hipopótamos

dos quais é o tratador prin-cipal. “É uma vida dedicada ao Zoo”, conta-nos com pai-xão, sem esconder que “o tra-balho é cansativo, por isso é preciso gostar disto”.

A ALEGRIA DE OS VER NASCERManuel da Conceição conhe-ce cada um dos animais e sabe

que, só pelo cheiro, eles o reco- nhecem. “Quando venho da instalação de outros bichos e trago outros cheiros, eles reagem logo, dão conta de tu-do”, exclama, com o entusias-mo de quem sabe que talvez se possa esquecer do nome dos filhos, mas dos elefantes nunca. E fala com carinho da Jane, da Nina, da Prima-

vera, da Assunção... Conta que as quatro fêmeas ficam juntas mas o macho, o Jassa, tem uma instalação à parte e só se aproxima quando elas estão no cio. A taxa de repro-dução do Jardim Zoológico é das mais altas da Europa e Manuel não tem dúvidas em dizer que a sua maior alegria foram os nascimentos a que

Uma paixão com 25 anos

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27

O QUE O MANUEL NOS ENSINOU SOBRE OS

ELEFANTES

Quando caem os molares o elefante deixa de comer.

E é ai que se verifica o aumento da taxa

de mortalidade.

Os elefantes vivem cerca de 70 a 80 anos em zoos.

Habitualmente, bebem 150 litros de água

e comem 200 kg de alimentos por dia, mas no Zoo

é preciso menos quantidade porque gastam menos

energia e comem “apenas” cerca de 100 kg diariamente.

Comem muita folhagem, que é o melhor para os dentes.

A tromba tem 4000 músculos

e 2,5 m de comprimento.

Abanam as orelhas para arrefecerem o corpo.

Só têm pêlos na cauda e na tromba.

Maçãs são um petisco para eles.

Gostam muito de brincar na lama.

Dos quatro tratadores da equipa, todos os dias há pelo menos três em atividade

UMA ROTINA APAIXONANTE“Somos quatro tratadores e todos os dias estamos cá pe-lo menos três. À sexta-feira estamos todos, nos outros dias vamos rodando porque temos folgas, mas o trabalho nunca pára ”, conta Manuel da Conceição. “Chegamos às oito da manhã, os animais vão para o recinto exterior e nós limpamos as instalações. Depois abrimos as portas, ca-da um vem para a casa onde mora — sabem muito bem qual é o seu lugar — e damos-lhes a ração. Enquanto co-mem nós limpamos a parte de fora.” Tudo isto é feito dia-riamente de manhã e à tarde, e duas vezes por semana as instalações são desinfetadas com hipoclorito, para elimi-nar maus cheiros e focos de doenças. Embora haja sempre barreiras entre animais e tra-tadores, os profissionais esta-belecem com eles uma relação de proximidade e dedicação muito apreciada por ambos. Há um quadro no qual ano-tam pormenores como a data em que o Trombinhas foi para outro Zoo ou o peso que a Pri-mavera tinha quando nasceu. “A vida deles faz parte da nos-sa”, confidencia o tratador.

“AQUI SOU O MANUEL”Casado há 25 anos, Manuel da Conceição tem dois filhos que “quando eram pequenos ado-ravam vir trabalhar comigo no Jardim Zoológico”, e uma neta com um ano e meio, “que ainda é pequena, mas há de gostar muito de cá vir”. O tratador costuma con-tar histórias aos amigos que fazem perguntas curiosas

sobre o seu trabalho e par-tilha, com graça, que é uma profissão bonita mas é preciso gostar, porque não é tão sim-ples como se pensa. “Faz-se bem, mas é cansativo”, expli-ca. E, mesmo sendo o tratador principal dos elefantes, conti-nua a ser um homem simples “Aqui sou o Manuel”.I n ic i a l m e nt e , n ã o t e v e nenhuma formação para tra-balhar no Jardim Zoológico. Foi aprendendo com a prática

e só depois começou a fazer formações técnicas, tanto em Portugal como no exterior, nomeadamente em França. Explica que “para os elefantes só vêm pessoas com alguma experiência noutros animais. A formação é, basicamente, saber tratar do animal mas quem vem de novo tem de saber se gosta, porque é mui-to importante ter empatia com o animal que tratamos.” A propósito da sua função, Manuel especifica que “o tra-tador lida diretamente com o veterinário”. Somos nós que vigiamos os animais e se um deles não come ou tem algu-ma dor é preciso dar o alerta. É um trabalho de observação constante”. Em jeito de despedida, quan-do lhe perguntamos qual é o seu animal favorito, diz-nos a sorrir: “dos que eu trato, gosto de todos. Isso é quase como perguntar de qual dos meus filhos eu gosto mais... Mas, a bem dizer, tenho um carinho especial pelos elefan-tes”, acaba por confidenciar.

assistiu. “Em 2004, a melhor coisa que me aconteceu foi ver o primeiro elefante a nas-cer aqui no Jardim Zoológico. Chamámos-lhe Trombinhas. Depois, em 2005, nasceu a Primavera e, no ano a se-guir, foi a vez da Assunção.” Manuel ainda se lembra do tempo em que o tratador tinha contacto direto com os animais. Hoje as regras são outras e as novas instalações têm um sistema eletrónico que zela pela segurança de ambos, mantendo-os próxi-mos mas sempre separados, em contacto protegido.

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À exceção de um peixinho cor de laranja, com o qual não criei uma relação muito próxima, não tive nenhum animal do-méstico quando era pequena. Em casa, desde que nasceram os meus filhos, tive periquitos e uma tartaruga, mas nunca fui grande entusiasta da sua presença. A minha filha Maria, que ado-ra animais, ainda não perdeu a esperança de virmos a ter um cão, mas eu sei que neste lugar onde vivemos e com a vida que temos, isso não vai acontecer. Devo dizer que não acho que os animais substituam as relações entre humanos. Faz-me muita confusão que exis-tam creches para os cães, tape- tes de exercício para os cães, lojas (como no Japão) onde as pessoas pagam para dar festinhas a gatos fofinhos. Penso que há coisas que são do mundo das pessoas, da mesma maneira que há coisas que são do mundo dos animais (e estes deveriam ter direito a viver as coisas do seu mundo).

Não compreendo como é que se compra um cão para que ele passe o dia num aparta-mento, às voltas, sozinho, e que tenha direito a apenas 10 minutos de recreio num par-que para fazer xixi. É precisamente por isso, por conseguir facilmente pôr-me no seu lugar, que decidi não ter animais em casa. Porque o que gostava mesmo é que as nossas f lorestas, monta-nhas, parques naturais ou oceanos tivessem excelentes condições para todas as espé-cies poderem viver. E que esta fosse a grande causa de todas as pessoas que adoram ani-mais. Se, com mais frequên-cia, conseguíssemos ver para além dos nossos cães, gatos e tartarugas, alargando o afe-to que sentimos por eles a todo o planeta, talvez tudo melho-rasse automaticamente! (Mas, claro que isto não é fácil: é difícil cuidar de um planeta inteiro e talvez seja por essa razão que o isolamos em pequenas porções. Cuidar

bem das porções que existem à nossa volta — sejam pes-soas, animais, praias, jardins, ruas, escolas — já é uma tarefa gigante e importantíssima.)Esta visão menos “persona-lizada” dos animais não sig-nifica que não considere im-portante o afeto que nós, hu-manos, possamos sentir por eles. Antes pelo contrário: acredito que estas relações podem ser tão fortes como as que temos com algumas pes-soas. Os laços que podemos criar exigem de nós o mesmo tipo de compromissos: pa-ciência, espírito de sacrifício e, sobretudo, coragem para aceitar tudo o que esses laços implicam, incluindo estar pró-ximo não apenas nos momen-tos felizes, mas também nas doenças e na morte, esse tabu tão grande para os humanos. Com um extra importante: os animais podem ser afe-tuosos, mas devolvem o afeto em forma não humana, o que implica sempre um esforço para compreendermos a sua

linguagem e uma abertura para aceitar o facto de eles nem sempre nos compreen-derem (claro que isso nos dá também um grande treino para as nossas relações huma-nas.)Posto isto: gosto de animais porque gosto do planeta Ter-ra e os animais fazem parte dele. E, sim, acho que os ani-mais podem fazer de nós me-lhores pessoas, no sentido em que podem tornar-nos menos centrados no grande (enor-me!) umbigo humano. Talvez um ser humano melhor seja is-so mesmo: um ser mais ligado ao planeta em que vive, às ou-tras pessoas e aos outros seres que o habitam. Afinal, o amor que sentimos pelos animais não é diferente do amor que sentimos por outros humanos — amigos, filhos, sobrinhos, pais, avós — e, nesse sentido, porque o alarga um pouco, porque o faz sair da nossa es-fera habitual do amor, é muito valioso e pode ajudar-nos a ser pessoas melhores.

PARA RESPONDER AO NOSSO DESAFIO, A AUTORA E EDITORA DE LIVROS INFANTO-JUVENIS ISABEL MINHÓS MARTINS

FAZ UMA REFLEXÃO SOBRE A FORMA DE ESTAR DAS PESSOAS QUE TÊM ANIMAIS EM CASA E DEIXA CLARO QUE AS

LIGAÇÕES COM OS ANIMAIS NÃO SUBSTITUEM AS RELAÇÕES ENTRE AS PESSOAS

“O afeto que sentimos pelos animais faz de nós

melhores pessoas?”

n o m e I s a b e l M i n h ó s M a r t i n s i d a d e 4 2 a n o s p r o f i s s ã o E d i t o r a e a u t o r a c u r i o s i d a d e C r i o u c o m u m g r u p o d e a m i g o s u m a e d i t o r a

d e l i v r o s i n f a n t o - j u v e n i s c h a m a d a P l a n e t a T a n g e r i n a

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Um ano em cheio

A secção criada para que não perca nada,

com dicas e sugestões para estar sempre a par das novidades.

Ideias com

Natureza

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No primeiro domingo de cada mês há uma lista infindável de museus e monumentos que pode visitar gratuitamente em Portugal, e ficar a conhecer mais sobre a nossa história e cultura. Veja as nossas sugestões

P RO G R A M A S G R AT U I T O S

. . . E AQ U I P E L O Z O OAPPS , SITES E VIDEOS A NÃO PERDER

01DUOLINGO

Procura novos desafios ?Que tal aprender uma

nova língua? O Duolingo é uma aplicação

que ensina a ler, escrever e a falar

27 novos idiomas. Tudo acontece através

de lições e jogos que fazem

da aprendizagem uma verdadeira diversão.

02AROUNDME

Se vai viajar precisa desta nova app. O AroundMe

identifica a sua localização, cria uma lista dos serviços

mais úteis e próximos: bancos, bares, restaurantes, estações de serviço, hospitais, hotéis,

cinemas, supermercados, teatros, praças de táxis

e tudo quanto possa ajudá-lo a aproveitar ao máximo

a sua viagem.

MUSEU DE ARTE POPULARAvenida de Br a sí lia 1400 - 03 8 Lisboawww.map.imc-ip.pt/

MUSEU NACIONAL DA MÚSICAEs tação do Metropolitano Alto dos Moinhos – Lisboa

www.museudamusica.pt/

PANTEÃO NACIONALCampo de Santa Clar a 1100 -47 1 Lisboawww.panteaonacional.pt

AS FESTAS NO ZOOJá conhece as festas de aniversário do Jardim Zoológico? São de arromba, e nenhuma criança se esquece delas! Com programas já existentes ou desenhados à medida, as opções para os seus filhos terem a festa com que sempre sonharam, são mais que muitas. Temos o cenário ideal para uma festa de aniversário com muita animação, novidades e – o mais importante – muita bicharada.

SAIBA MAIS EM: HTTP:// WWW. ZOO.PT

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S A

NIM

AIS

DO

ZO

O P

AR

TIL

HA

M I

DE

IAS

INGREDIENTES• 150 g manteiga à

temperatura ambiente • 80 g açúcar amarelo • 100 g açúcar branco• 1 ovo• 1/2 colher de chá de

fermento em pó • 150 g farinha • 180 g flocos de aveia• 200 g chocolate negro

partido (pedaços grandes)

• Raspas de laranja finas q.b.

Bolachas de aveia e chocolate dos ursosP a r a o s m e s e s d e O u t o n o , n o s q u a i s o s l a n c h e s s ã o i n d i s p e n s á v e i s , d e l i c i e - s e c o m a s b o l a c h a s d e a v e i a e c h o c o l a t e q u e o s u r s o s d o J a r d i m Z o o l ó g i c o e n s i n a m a f a z e r

Em todas as edições vamos ter uma receita diferente, sempre recomendada pelos nossos animais!

PREPARAÇÃO- Pré-aqueça o forno

a 180º C - Forre um tabuleiro

com papel vegetal.- Bata a manteiga com

os dois açúcares. - Junte o ovo e a essência

de baunilha e misture bem. - Junte a farinha,

o fermento e os flocos de aveia, envolva tudo e, por fim, misture os pedaços de chocolate.

- Faça pequenas bolas, coloque-as no tabuleiro e espalme-as ligeiramente. Leve a cozer durante cerca de 15 minutos.

- Polvilhe com as raspas de laranja (opcional).

Receitas de Animal

“BEFORE THE FLOOD”

E M D E F E S A D O P L A N E TA

GREENPEACE PORTUGALÉ cada vez mais urgente cuidar do planeta Terra. Abrace esta consciência, leia, veja filmes ou documentários e visite mais vezes os sites que abordam o tema. Assim, pode fazer a sua parte, mesmo a partir de casa. A Greenpeace é uma das organizações ambientais mais antigas e o seu site informa-nos do que se passa pelo mundo tanto em termos de agressões ao planeta como quanto às ações que o podem salvar. Para consultar e navegar sempre que tiver tempo.http://www.greenpeace.org/portugal/pt/

O documentário que o ator Leonardo Di Caprio produziu e realizou em 2016 é uma visão impressionante sobre a forma como temos tratado o nosso planeta e quais serão, a muito curto prazo, as suas consequências.

Se ainda não viu, não deixe passar 2017 sem assistir e, se já conhece, ajude a divulgar. Reúna os amigos e faça uma sessão especial em sua casa. Ninguém pode ficar indiferente e todos podemos ter um papel ativo na proteção da nossa casa comum.

Disponível no canal YouTube em: https://www.youtube.com/watch?v=SV-OID45Lds

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O Jardim Zoológico agradecea todas as empresas que o apoiam.

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