s u m Á r i o ficha técnica - ordem dos médicos · 2017-11-06 · gastar o cartão de crédito...

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CMLP reuniu em Lisboa Presidente da Associação Médica Brasileira: «As fronteiras dos nossos países são muito ténues» 22 Bastonário da OM de Angola: Centro de formação especializada: «um trabalho de grande mérito» A avaliação por Carlos Costa Almeida 30 O lado obscuro do corporativismo por Eduardo T. Santana 32 A ética da criação – a novidade por António J. Macedo Professor Rolando Moisão (1922 – 2006): Fotobiografia de uma amizade por Ofélia Bomba História da medicina através da pintura HISTÓRIAS D HISTÓRIAS D HISTÓRIAS D HISTÓRIAS D HISTÓRIAS DA HISTÓRIA A HISTÓRIA A HISTÓRIA A HISTÓRIA A HISTÓRIA 43 ACTU CTU CTU CTU CTUALID ALID ALID ALID ALIDADE ADE ADE ADE ADE 11 AGENDA AGENDA AGENDA AGENDA AGENDA 47 16 ENTREVIST ENTREVIST ENTREVIST ENTREVIST ENTREVISTAS AS AS AS AS S U M Á R I O Ano 24 – N.º 90 – Maio 2008 PROPRIEDADE: Centro Editor Livreiro da Ordem dos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda. SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 151 1749-084 Lisboa Tel.: 218 427 100 Redacção, Produção e Serviços de Publicidade: Av. Almirante Gago Coutinho, 151 1749-084 Lisboa E-mail: [email protected] Tel.: 218 437 750 – Fax: 218 437 751 Director: Pedro Nunes Directores-Adjuntos: José Manuel Silva Isabel Caixeiro Directora Executiva: Paula Fortunato E-mail: [email protected] Redactores Principais: José Ávila Costa, João de Deus e Paula Fortunato Secretariado: Miguel Reis Dep. Comercial: Helena Pereira Dep. Financeiro: Maria João Pacheco Dep. Gráfico: CELOM Impressão: SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S.A. Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide Depósito Legal: 7421/85 Preço Avulso: 1,60 Euros Periodicidade: Mensal Tiragem: 38.000 exemplares (11 números anuais) Isento de registo no ICS nos termos do nº 1, alínea a do artigo 12 do Decreto Regulamentar nº 8/99 Os artigos de opinião e outros artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores, não representando qualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos Médicos. Médicos Ordem dos Ficha Técnica Ficha Técnica OPINIÃO OPINIÃO OPINIÃO OPINIÃO OPINIÃO 26 REVISTA UM OLHAR UM OLHAR UM OLHAR UM OLHAR UM OLHAR SOBRE A SOBRE A SOBRE A SOBRE A SOBRE A ACTUALIDADE ACTUALIDADE ACTUALIDADE ACTUALIDADE ACTUALIDADE 4 34 HOMENAGEM HOMENAGEM HOMENAGEM HOMENAGEM HOMENAGEM Nota da redacção Dada a relevância do seu conteúdo, distribuímos, nesta edição, a publicação «Transporte de Doentes Críticos», cujo texto foi aprovado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dos Médicos. As normativas contidas nessa publicação passam, portanto, a ser consideradas como recomendações da OM. NO NO NO NO NOTICIAS TICIAS TICIAS TICIAS TICIAS 48 INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO INFORMAÇÃO 10

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CMLP reuniu em Lisboa

Presidente daAssociaçãoMédicaBrasileira:

«As fronteiras dos nossospaíses são muito ténues»

22

Bastonário daOM de Angola:

Centro de formaçãoespecializada:«um trabalho de grandemérito»

A avaliaçãopor Carlos Costa Almeida

30 O lado obscurodo corporativismopor Eduardo T. Santana

32 A ética da criação– a novidadepor António J. Macedo

Professor Rolando Moisão(1922 – 2006):Fotobiografia de umaamizadepor Ofélia Bomba

História da medicinaatravés da pintura

HISTÓRIAS DHISTÓRIAS DHISTÓRIAS DHISTÓRIAS DHISTÓRIAS DA HISTÓRIAA HISTÓRIAA HISTÓRIAA HISTÓRIAA HISTÓRIA43

AAAAACTUCTUCTUCTUCTUALIDALIDALIDALIDALIDADEADEADEADEADE11

AGENDAAGENDAAGENDAAGENDAAGENDA47

16 ENTREVISTENTREVISTENTREVISTENTREVISTENTREVISTASASASASAS

S U M Á R I O

Ano 24 – N.º 90 – Maio 2008

PROPRIEDADE:

Centro Editor Livreiro da Ordemdos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda.

SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 1511749-084 Lisboa • Tel.: 218 427 100

Redacção, Produçãoe Serviços de Publicidade:

Av. Almirante Gago Coutinho, 1511749-084 Lisboa

E-mail: [email protected].: 218 437 750 – Fax: 218 437 751

Director:Pedro Nunes

Directores-Adjuntos:José Manuel SilvaIsabel Caixeiro

Directora Executiva:Paula Fortunato

E-mail: [email protected]

Redactores Principais:José Ávila Costa,

João de Deus e Paula Fortunato

Secretariado:Miguel Reis

Dep. Comercial:Helena Pereira

Dep. Financeiro:Maria João Pacheco

Dep. Gráfico:CELOM

Impressão: SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S. A.Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide

Depósito Legal: 7421/85Preço Avulso: 1,60 Euros

Periodicidade: MensalTiragem: 38.000 exemplares

(11 números anuais)Isento de registo no ICS nos termos do nº 1, alíneaa do artigo 12 do Decreto Regulamentar nº 8/99

Os artigos de opinião e outros artigos assinados são da inteira responsabilidade dos autores, não representandoqualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos Médicos.

MédicosOrdem dos

Ficha TécnicaFicha TécnicaOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃO26

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34 HOMENAGEMHOMENAGEMHOMENAGEMHOMENAGEMHOMENAGEM

Nota da redacção

Dada a relevância do seu conteúdo, distribuímos, nesta edição,a publicação «Transporte de Doentes Críticos», cujo textofoi aprovado pelo Conselho Nacional Executivo da Ordem dosMédicos. As normativas contidas nessa publicação passam,portanto, a ser consideradas como recomendações da OM.

NONONONONOTICIASTICIASTICIASTICIASTICIAS48

INFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃO10

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4 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

UM OLHAR SOBRE A ACTUALIDADE

Realidade ou ficção?28 de Abril

Alguém já disse que «vender» um Pre-sidente da República não seria muitodiferente de vender um sabonete. Tan-to quanto sei ainda não se passou doprojecto à experiência e os candida-tos a Presidente, vencedores ou der-rotados, ainda não se confundiram comsabonetes nem ninguém pode com pro-priedade dizer que qualquer resulta-do foi consequência directa do mes-mo marketing que garante as nove dedez estrelas.Com a tentação depreciadora e a pon-tinha de inveja que nos são tão carac-terísticas alvitramos agora que tal ocor-reu em Itália com o seu Presidente donode todas as TV. Arriscaria, mesmo semqualquer particular conhecimento deitalianos, a ter por certo que se votoupor lá com o mesmo misto de «fé»,«tem de ser» e «do mal o menos» quepor toda a parte em que há democra-cia se usa.É inegável, e já muitos, de Kissinger aChomsky, teorizaram sobre isso, que apolítica hoje se desenrola como quenum palco permanente. Neste, a reali-dade do quotidiano que a todos inte-ressaria, substitui-se por uns ditos te-mas de actualidade, triturados na má-quina dos sons e imagens e servidoscomo factos em doses homeopáticas.Com maior e menor tecnologia o pãoe circo são eternos e de Roma ao séc.XXI mais não vai que um milésimo desegundo no relógio da história.O exercício, pois, que hoje se nos ofe-rece como desafio ao espírito é o deconseguir discernir entre as realidadese as suas representações de modo a

fazermos uma ideia do que vai peloburgo e como influenciá-lo.Contrariamente aos que acreditam quea realidade acaba sempre por ultra-passar a ficção, sou dos que reveren-ciam a imaginação humana e que tes-temunho como fé a sua insondável ca-pacidade de nos surpreender.Ainda esta semana, entre afazeres, do-entes e assuntos sérios, me confronteicom a ideia peregrina e aparentemen-te epidémica de autarcas exportaremmunícipes para terras de Fidel.O que fôra um expontaneísmo torna-va-se agora uma atitude sistemáticacom todos a competirem com todospara ver quem conseguia fazer o nú-mero de maior visibilidade.Se o original conseguira oito dias decanal televisivo no Malecon com umasquantas cataratas, as esforçadas cópi-as atiravam-se a tudo o que mexia e jáse comparavam preços de cirurgia damiopia.Por este andar haveria que reforçar aponte aérea pois estadias de quinzedias do outro lado do oceano reco-mendam levar família e o devido acom-panhamento pelo pessoal da autarquia.O facto simples de se estar a falar depessoas, fragilizadas pela doença,desconhecedoras dos mecanismos aoseu dispor para resolver os seus pro-blemas, era facto de pouca monta.Claro que era possível insistir junto dohospital da área para dar prioridade acasos mais urgentes. Claro que erapossível utilizar mecanismos de recu-peração de listas de espera ou as dis-ponibilidades da produção acrescidaou do sector social. Claro que era pos-sível, mas quantos segundos de televi-são mereceria tão banal actuação?

Num mundo em que só existe o quese vê e só se vê o que a televisão mos-tra, menos que Cuba não é oftalmolo-gia é perda de tempo de um necessa-riamente curto mandato autárquico.Quando os chafarizes já só fazem lem-brar a «aldeia da roupa branca» e asrotundas, de tão constantes, tomaramo lugar do carrossel da feira de Agos-to, menos que enviar idosos para asCaraíbas é inanidade de quem querperder eleições.Aliás, quando um jornal da economianos ensina em suplemento como viajarpara o sul da África e conjugar safaricom cirurgia estética, permitindo, devi-damente enfaixado em ligaduras e be-bendo champanhe por uma palhinha,observar leões ou rinocerontes, criticara modéstia de conjugar Varadero comcirurgia ocular é pura má vontade?Má vontade de uns antiquados que ain-da acreditam, pobres ingénuos, que aMedicina se fez para ajudar doentes numacto colectivo, humano e solidário...

A lógica do vale tudo5 de Maio

Passou em todos os jornais das televi-sões o incómodo do consultante. De bata,uma figura compatível com o esconjurodos espíritos e a manipulação das mezi-nhas, falava detrás de uma secretáriaimponente acompanhado de uns bone-cos indefiníveis e um crâneo de plástico.O motivo da zanga era a retirada tem-porária do mercado de um produtopara emagrecimento que levara algunsao hospital em risco de vida.Os argumentos eram os costumeiros– cabalas da indústria farmacêutica, po-der dos médicos, inocência dos produ-tos naturais e longa experimentação dasmedicinas alternativas e tradicionais.O outro entrevistado tinha uma de-claração de interesses mais óbvia – fa-lava em directo de uma loja de vendado mencionado produto e não se coi-bia de fazer as contas ao prejuízo. Tam-bém segundo ele sempre que um pro-duto estava a «vender bem» lá vinha ainveja da indústria farmacêutica pro-

Num mundo em que só existe o que se vê e só sevê o que a televisão mostra, menos que Cubanão é oftalmologia é perda de tempo de umnecessariamente curto mandato autárquico

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5Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

O que seria de nós se não pudéssemos gastaro cartão de crédito para ajudar a dieta

e a ginástica? Aliás, raciocina o senso comum,se são produtos naturais não hão-de fazer assim

tão mal

curando estragar o negócio em pro-veito dos seus, dela, produtos quími-cos que tanto mal causavam à saúde.De tão normais as alegações já nin-guém parecia discordar. De um mo-mento para o outro o que estava emcausa não era um produto contendosabe-se lá o quê, manipulado sem qual-quer controlo, mas o Director-Geralque perante seis casos internados empoucas horas cometera a infâmia deestragar um florescente negócio.Das alegações às ameaças de retalia-ção em tribunal foi um pequeno passoperante a compreensão do público emgeral que toma com fervor o partidodo que se arma em vítima e, por siste-ma, desconfia da autoridade.Entretanto fica-se a saber que o poderdo Ministério da Saúde é duvidoso nes-te caso pois tratando-se de suplemen-tos alimentares é à Agricultura quecabe tomar medidas.Apesar do relatório do INFARMEDque presumiu algumas relações de cau-sa e efeito entre a utilização e a toxici-dade hepática e reacções graves dealergia verificadas, pouco tempo depoislá o temos de novo nos escaparatespronto para substituir os pastéis denata neste aproximar do Verão e dosseus incómodos exibicionismos.O que seria de nós se não pudéssemosgastar o cartão de crédito para ajudara dieta e a ginástica? Aliás, raciocina osenso comum, se são produtos natu-rais não hão-de fazer assim tão mal.Sem procurar usar a evidência queuma víbora também é um produtoabsolutamente natural e a química dasua dentada não é recomendável, sem-

pre se dirá que temos de escolher en-tre uma sociedade que proteje os seusmembros e a lógica do vale tudo des-de que seja bom negócio.Ou bem que temos um Ministério daSaúde a quem se atribuem todas asfunções de regulação sobre produtosque com fins de saúde interferem nes-ta, ou estamos a tapar o Sol com apeneira e a fazer de conta que prote-gemos o cidadão enquanto o deixa-mos à mercê de qualquer marketingbem conseguido.Excluir da vigilância dos organismos daSaúde produtos potencialmente perigo-sos ou medicamentos normalíssimosmas que se alega destinar a uso veteri-nário é fazer de conta que se fecha ajanela da frente enquanto se deixa es-cancarada a porta das traseiras.Entretanto, quando as coisas corremmal há sempre recurso a uma descul-pa esfarrapada.Neste caso foi que tendo-se vendidotantos milhares de embalagens só meiadúzia foi parar ao hospital.Noutro caso, quando se falar de resis-tência aos antibióticos e infecção hos-pitalar mandar-se-à os médicos e osenfermeiros lavar as mãos.Lavagem essa absolutamente desneces-sária quando se tratar de interesseseconómicos pois, como todos sabemos,o dinheiro não tem cor nem cheiro.

Paradigmas da democraciamediática12 de Maio

Não sendo pressuposto comentar nes-te espaço de crónica os eventos do

futebol fico condicionado a não co-mentar a notícia aparentemente maisimportante da semana.Vasculhando no remanescente e pro-curando evitar o lixo jornalístico comque um canal de televisão insistiu emnos brindar noite após noite, souinexoravelmente conduzido ao episó-dio da ADSE versus Hospital da Luz.Como por certo se recordarão, a Mi-nistra da Saúde lamentou em públicoe em sede própria, o Parlamento, queum departamento do Estado tivesseinvestido num acordo com um hospi-tal privado em vez de injectar tais di-nheiros na rede pública do ServiçoNacional de Saúde.Atento o incontornável facto de o de-partamento em causa ser tutelado pelopoderoso Ministro das Finanças, esta-va preparado o terreno para o exercí-cio apetecível de desencadear umaguerra de alecrim e manjerona que,mesmo que não existisse no início, porcerto não deixaria de vir a ser facto.Continuo a não deixar de me espan-tar com estes paradigmas da democra-cia mediática, que distribui papéis con-forme uma partitura que alguém estab-leceu sem cuidar de verificar que cor-relação tal possui com o mundo real.No caso em análise, um comentáriode um Ministro sobre uma decisão deum departamento tutelado por outroé desde logo prenúncio de guerra mes-mo quando todos estão fartos de sa-ber que ninguém tem possibilidade de

UM OLHAR SOBRE A ACTUALIDADE

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6 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

escrutinar todas as decisões tomadasem seu nome.Mas vejamos o que estava em causaou foi alegado no vertente caso:Em primeiro lugar, como alguns nãodeixaram de tentar explorar existe umasituação de diferença entre a possibi-lidade oferecida aos funcionários pú-blicos de escolha de local de tratamen-to e a oportunidade que o Estado ofe-rece a todos os outros.Claro que tal diferença é desde logoapodada de discriminação no consti-tucionalmente garantido como igualdireito de acesso à Saúde, o que ad-quire os suficientes contornos de es-cándalo para os tais homens do lixofazerem mais um jornal.O que me interrogo é como ninguémpercebe que uma regalia inerente a umcontrato de trabalho não tem que sercontextualizada no direito à saúde masunicamente no capítulo das remunera-ções. Será que também é discriminação,agora de sinal contrário, aqueles traba-lhadores do sector privado a quem asempresas oferecem seguros de saúdedevidamente descontados dos impostos?Em segundo lugar, para que o escân-dalo igualmente envolvesse as decla-rações do Primeiro-Ministro não dei-xou de haver quem lembrasse que osfuncionários públicos já tinham direi-to, como os outros, a tratarem-se noServiço Nacional de Saúde, pelo que asafirmações da Ministra seriam absurdasao propor que tais contratos feitos como sector privado o fossem preferencial-

O que para mim é escândalo é que o Estadocontratualize com empresas ou prestadores

seleccionados e se recuse a remunerar todos osoutros que se mostrem disponíveis para prestar

os mesmos serviços em iguais condições

mente com o sector público.Sem querer entrar na discussão, essasim interessante e clarificadora, de ex-clusivo cariz político, sobre o onde in-jectar o dinheiro que é de todos nós,sempre se dirá que os funcionáriospúblicos quando usufruem destes con-tratos pagam uma parte não irrelevan-te dos custos, coisa que não acontecequando, como todos os outros, recor-rem ao sector público.No caso vertente o que está em causa éo princípio do pagamento por actos pres-tados e a sua universalidade. Neste con-texto, o que para mim é escândalo éque o Estado contratualize com empre-sas ou prestadores seleccionados e serecuse a remunerar todos os outros quese mostrem disponíveis para prestar osmesmos serviços em iguais condições.Escândalo tão grande quanto o daque-les que gerindo dinheiros públicospagam prestações em países distantesquando poderiam obter os mesmos ser-viços à porta de casa em melhores emais económicas condições.Isto que dantes se chamaria gestãodanosa é hoje digno de todos os lou-vores desde que tenha o cheirinho deexotismo que garanta as audiências.Definitivamente, como na Brodway, oimportante é que o show continue...

Para além do pequenoumbigo autárquico19 de Maio

O Ministério da Saúde anunciou umnovo plano para combater as listas deespera, neste caso de cirurgia de catara-ta. Estarão previstos para o primeiro anocerca de vinte e oito milhões de euros.

É uma notícia que não pode deixar deser saudada. Tudo o que contribua pararesolver carências e dar um pouco deoxigénio ao nosso subfinanciado sis-tema de Saúde, merece dos profissio-nais o necessário aplauso.Para além do aplauso o facto merecealguma reflexão e não pode deixar deser contextualizado no tempo.O primeiro facto a mencionar é a op-ção deliberada e expressa pela produ-ção no âmbito do Serviço Nacional eSaúde.Depois de um consulado ministerialem que o abandono deste pelos médi-cos quase se sentia como um desejo ea contenção financeira era a regra aqualquer custo a actual abordagemcomporta uma significativa diferença.Desde logo uma diferença política. Háuma mensagem de opção pelo sectorhospitalar público em detrimento dosector hospitalar privado ou social. Dir-se-ia tal ser natural num governo demaioria socialista, embora hoje hajaquem sustente que o definidor do so-cialismo não radica na posse dos mei-os de produção mas na condução dasociedade para um futuro de cidada-nia mais igual.Não me cabe discuti-lo. Para a Ordemas políticas são património dos parti-dos e dos governos legitimamente elei-tos, pelo que só merecem comentáriona medida em que interfiram positivaou negativamente com a qualidade damedicina e dos cuidados que são pres-tados aos portugueses.No caso vertente a adjudicação ao sec-tor público da realização desta produ-ção extraordinária de consultas e cirur-gias só significa que existia capacidade

UM OLHAR SOBRE A ACTUALIDADE

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7Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

UM OLHAR SOBRE A ACTUALIDADE

instalada em termos de equipamentos,instalações e recursos humanos e quetal capacidade estava desaproveitada porfalta de financiamento adequado. Numacomparação simples alguém comprouum Ferrari e o tem parado à porta porfalta de dinheiro para a gasolina.O que merece a pena agora discutir ése o custo unitário do que se vai produ-zir é maior ou menor que o que se ob-teria por comprá-lo fora, isto evidente-mente em igualdade de qualidade final.A eterna dúvida entre sustentar o Ferrari,comprar um utilitário ou ir de táxi.Claro que entre a medida agora toma-da e as opções folclóricas de mandardoentes para as Caraíbas vai toda adistância que medeia entre os actossérios e as jogadas mediáticas. Estas,para além de aumentarem o share deaudiência de canais televisivos poucoescrupulosos, apenas nos trazem o ri-dículo e o descrédito internacional.Mas há mais mundo para além do pe-queno umbigo autárquico. Não pode-mos esquecer toda a capacidade ins-talada no sector privado, induzido aacreditar ser visto como parceiro pelosector público, bem como no sector

social, residual em quase todo o Paísmas muito forte a Norte com as inú-meras Misericórdias.Tenho afirmado reiteradamente a mi-nha opinião de ser imprescindível umServiço Nacional de Saúde, público,que sirva de âncora e base a todo onosso sistema de Saúde, garantindo atodos os portugueses o acesso em con-dições de equidade e gratuitidade.No momento actual injectar algum oxi-génio no moribundo é um acto tera-pêutico acertado. Garantir a sua so-brevivência a prazo passa, no entanto,por uma relação transparente com to-dos os seus parceiros que não podem

Para um futuro sustentável é imprescindíveldefinir critérios de qualidade, instalar auditorias,

definir preços e deixar que a sã concorrênciaentre todos os que aceitem as regras do jogo

nos indique as melhores opções para cadaproblema. O mesmo é dizer, para cada patologia

Textos adaptados da rubrica «Na Ordemdo Dia», da TSF, em que o bastonário daOM participa à segundas-feiras.

ser vistos como concorrentes a aba-ter, com a facilidade que a posição do-minante de fazer as leis e distribuir osrecursos sempre acarreta.Para um futuro sustentável é impres-cindível definir critérios de qualidade,instalar auditorias, definir preços e dei-xar que a sã concorrência entre todosos que aceitem as regras do jogo nosindique as melhores opções para cadaproblema. O mesmo é dizer, para cadapatologia.

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10 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

INFORMAÇÃO

Aviso

Fundo de SolidariedadeA Ordem dos Médicos, através do seu Fundo de Solidariedade, instituiu um apoio específico para os filhos menoresde colegas falecidos. A análise será naturalmente casuística, permitindo assim que esse apoio seja direccionado paraos mais necessitados. As famílias deverão dirigir-se às respectivas Secções Regionais para apresentação do pedidode apoio.

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Prova de acesso ao Internato MédicoPor deliberação do Conselho Nacional Executivo do passado dia 6 de Maio, foi determinada a bibliografia para aprova de exame de acesso ao Internato Médico. Assim, a bibliografia recomendada será a 17ª edição do livro«Harrison’s Principles of Internal Medicine».

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11Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

A C T U A L I D A D E

Os avanços do trabalho da Comuni-dade Médica de Língua Portuguesa,nomeadamente no que se refere ao

CMLP reuniu em LisboaRealizou-se nos dias 10 e

11 de Maio uma reunião

dos membros da CMLP

– Comunidade Médica

de Língua Portuguesa. O

encontro teve lugar na

sede da Ordem dos Mé-

dicos, em Lisboa. Os tra-

balhos destes dois dias in-

cluíram uma reflexão

conjunta sobre o desenvolvimento da CMLP, o Centro de Formação Médica

Especializada da CMLP que ficou sediado em Cabo Verde, mas que tem como

objectivo a formação homogénea de quadros médicos de todos os países mem-

bros da organização. Desta reunião saiu já uma definição das linhas gerais que

irão enformar o III Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa.Centro de Formação Médica Pós-Gra-duada da CMLP, foram um dos assun-tos centrais desta reunião. Pedro

Nunes, o bastonário da Ordem dosMédicos e que presidiu a esta reunião,realçou a importância da colaboraçãodo Instituto de Higiene e Medicina Tro-pical (IHMT) no projecto do Centrode Formação Especializada da CMLP:«Todos os apoios e parcerias são bemvindos». Cristianne Fames Rocha, doIHMT, propôs a adaptação de algunsprojectos do instituto para o Centrode Formação Especializada da CMLP,nomeadamente no que se refere a cur-sos de gestão na área da saúde, pro-posta que foi bem acolhida pelos re-presentantes das ordens e associaçõesmédicas que compõem a Comunida-de Médica de Língua Portuguesa. A co-laboração do IHMT será ainda no sen-tido de tentar entregar programas re-lativos a Medicina Geral e Familiar eSaúde Pública até Setembro para queseja possível analisá-los e iniciar as for-Representantes do IHMT

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12 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

A C T U A L I D A D E

mações com alguma brevidade. DoIHMT estiveram ainda presentes nestareunião, Luís Varandas, Rosa Maria Sil-va e o director do instituto, Jorge Torgal,que reiterou a total disponibilidade pa-ra colaborar no projecto do centro deformação.Outra parceria estabelecida, ainda queinformalmente, foi com a CPLP – Co-munidade dos Países de Língua Portu-guesa, organização que se dispôs ememprestar as instalações da Casa Rosa,na Praia, para o início do funciona-mento do centro. A Fundação CalousteGulbenkian, por seu lado, irá igualmen-te colaborar no projecto, patrocinan-do dois dos primeiros estágios a reali-zar no centro de formação da CMLP.Passos muito importantes para um tra-balho que, todos concordam, tem queser iniciado o mais rapidamente possí-vel. «A intenção é que existam resul-tados práticos e não apenas documen-tos de boas intenções. Não podemosficar pelos modelos teóricos, é umaquestão de gestão de prioridades», re-alçou Pedro Nunes. Luís Leite, basto-nário da Ordem dos Médicos de CaboVerde, também insistiu na necessidadede passar «à acção» para evitar o riscode, a cada reunião, «com o surgimentode novas ideias, protelarmos aefectividade de projectos anteriores».A reunião serviu igualmente para de-bater o levantamento das necessidadesde formação prioritárias no âmbito dospaíses africanos da CMLP, para as quaisserão dirigidas as primeiras acções deformação a realizar: medicina geral efamiliar, saúde pública, pediatria e saú-de materna são áreas consensuais masestão ainda em preparação os respecti-vos programas de formação base.José Sousa Santos, que juntamente comJúlio Andrade compunha a restantedelegação da OM de Cabo Verde, refe-riu como sendo precisamente a faltade especialistas em medicina geral efamiliar um dos problemas mais pre-mentes de Cabo Verde, a par com afalta generalizada de outras especiali-dades: «O centro tem que dar muitaimportância à especialização. Se que-remos qualidade e progresso temosque insistir na formação e temos queRosado Pinto, Murillo Capella, Júlio Andrade e José Sousa Santos

José Luiz Gomes do Amaral da AMB ao lado de Isabel Caixeiro

Bastonários das Ordens dos Médicos de Angola, Cabo Verde e Portugal

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13Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

A C T U A L I D A D E

deixar de chamar aos colegasindiferenciados clínicos gerais. A faltade especialistas é transversal a todasas áreas mas de nada valerá termosvários cardiologistas ou internistas senão tivermos nos Centros de Saúdepessoas capazes de resolver e trataros problemas básicos. É essencial in-vestir na qualidade e na qualificação».Relativamente à medicina geral e fami-liar, e dadas as características dos paí-ses a que se dirige a formação, IsabelCaixeiro, presidente do Conselho Re-gional do Sul da OM, propôs um mo-delo de formação em exercício idênti-co ao que foi aplicado em Portugal natransição para a especialidade de MGF.José Luiz Gomes do Amaral, presiden-te da Associação Médica Brasileira, eMurillo R. Capella, director de relaçõesinternacionais da AMB, referenciaramos problemas da formação no Brasil,

nomeadamente com a heterogeneidadeque se verifica do ensino da medicina,e alguns programas que estão a serimplementados nomeadamente em ter-mos de formação à distância e naspotencialidades de aplicação dos mes-mos, após uma eventual adaptação deconteúdos aos restantes países da CMLP.Desta reunião resultou igualmente adecisão de criação de um site do Cen-tro de Formação Especializada daCMLP. José Luiz Gomes do Amaral con-sidera que esse pode ser um vérticeaglomerador de informação com oobjectivo de homogeneizar a formaçãonos países da CMLP (ver entrevistanesta edição). Rosado Pinto, pediatrae imunoalergologista, elemento da de-legação portuguesa da OM, referiu queesse poderá ser um veículo muito im-portante para desenvolver projectos deeducação para a saúde, com informa-

ção criada directamente para as po-pulações. Da OM portuguesa partici-param ainda, nesta reunião, José PedroMoreira da Silva, presidente do Con-selho Regional do Norte, Miguel Gui-marães e Lurdes Gandra (CRN) e, co-mo convidado da OM, Rôxo Neves,da direcção do Colégio da Especiali-dade de Ortopedia.No dia 11 de Maio a reunião contouigualmente com a presença de umadelegação da Ordem dos Médicos deAngola, tendo sido realçado o facto de– através de contactos anteriores – seter confirmado que este país tem umavisão semelhante à que tem sido pre-conizada e debatida pela CMLP no quese refere à formação. Carlos Pinto deSousa, presidente da Ordem dos Mé-dicos de Angola, analisou as dificulda-des que se verificam no seu país e re-alçou a sua intenção de reforçar os

Todos os intervenientes na reunião concordaram que é prioritário evitaradiamentos sucessivos dos projectos e Pedro Nunes frisou: «A intenção

é que existam resultados práticos e não apenas documentos de boasintenções. Não podemos ficar pelos modelos teóricos, é uma questão

de gestão de prioridades»

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14 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

laços e de desenvolver o máximo deparcerias possíveis, nomeadamente noseio da CMLP. «Existem quer interes-ses, quer problemas comuns e é nasparcerias que podemos encontrarmaior força para as soluções», expli-cou o bastonário angolano (ver entre-vista nesta edição).Com mais esta delegação presente, areunião não teve, contudo, o âmbitoque se pretende no futuro: existemdificuldades em estabelecer contactos

Objectivos do MilénioOs chamados objectivos do milénio foram aprovados no ano 2000 por 191 países da Organização das Nações Unidas,em Nova Iorque, na maior reunião de dirigentes mundiais de sempre. Estiverem presentes 124 Chefes de Estado e deGoverno. Apesar de se chamarem objectivos do milénio, não se pretende, naturalmente, que os mesmos sejam adiadospara implementação pelas gerações futuras(...) Os países presentes comprometeram-se a cumprir as oito metas defini-das na reunião até 2015.Eis os objectivos do milénio: 1. Erradicar a fome e a miséria; 2. Educação básica e de qualidadepara todos; 3. Promover a igualdade entre sexos e valorização da mulher; 4. Reduzir a mortalidade infantil; 5. Melhorara saúde materna; 6. Combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças; 7. Assegurar a sustentabilidade ambiental;8. Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento

III Congresso da CMLPDurante esta reunião foram propostos, discutidos e analisados os principais temas para o III Congresso da ComunidadeMédica de Língua Portuguesa, que se irá realizar em Portugal no primeiro trimestre de 2009 e que irá decorrer emsimultâneo com o Congresso Nacional de Medicina e o Congresso Nacional do Médico Interno e terá lugar no Centrode Congressos de Lisboa.Programa provisório do III Congresso da CMLP«Os médicos e o desenvolvimento humano. O direito à Saúde – que futuro?»Fevereiro de 2009Conferência Inaugural: «Medicina e desenvolvimento dos povos – objectivos do milénio»Mesas principais:- Políticas de saúde pública. Papel das associações médicas- Responsabilidade civil e penal dos médicos- Sistemas Nacionais de Saúde: experiências e expectativas- A ética médica – desafios do séc. XXI- Especialidades médicas – que prioridades?- Médicos: mobilidade no mundo global e lusófono- Organização do trabalho e qualidade de vida dos médicos- Centro de Formação Médica Pós-graduada da CMLP – O nosso modelo de formação

profícuos com Timor, Macau, Guiné eSão Tomé e Príncipe. Com vista a umamaior consolidação da CMLP, na qualse pretende ver representados todosos países de língua portuguesa, JoséLuís Pascoal, da delegação da OM deAngola, assumiu o compromisso decontactar as Ordens dos Médicos daGuiné e de São Tomé e Príncipe, atra-vés dos seus Governos, numa novatentativa de incluir estes países nostrabalhos da Comunidade. A Ordem

dos Médicos portuguesa, por seu lado,reiterou o empenho em envidar esfor-ços para incluir Macau – que, há al-gum tempo atrás, demonstrou interes-se nesta associação – e Timor.Nesta reunião não esteve presentenenhum representante de Moçambiquedevido a compromissos supervenientes,no entanto, está agendada para Junhouma visita a Lisboa de Aurélio Zilhão,bastonário da Ordem dos Médicos deMoçambique.

A C T U A L I D A D E

Moreira da Silva, Lurdes Gandra e Miguel Guimarães, SR Norte José Luís Pascoal, OM angolana

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16 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

E N T R E V I S TA

José Luiz Amaral assinala identidade da CMLPAs fronteiras dos nossos paísessão muito ténues

Defensor da qualidade da medicina

praticada no Brasil, José Luiz Gomes

do Amaral pugna por uma Associação

Médica Brasileira (AMB), a que presi-

de, activa e interventiva na sociedade.

Preocupa-se com a demora na apro-

vação da lei do acto médico, algo que

considera uma «lacuna perigosa que

expõe simultaneamente a sociedade e

o médico» e não deixa de realçar que,

curiosamente, todas as profissões de

saúde, com excepção da medicina, já

possuem regulamentação que define

as suas atribuições. Outra questão que

não o deixa indiferente, e na qual a

AMB também pretende agir, é aquilo

a que por vezes chama de «comercialização de cursos universitários». Em

entrevista à ROM, José Luiz Gomes do Amaral falou dos problemas mais

prementes em relação ao ensino no Brasil mas também do trabalho meritó-

rio que está a ser desenvolvido ao nível da Comunidade Médica de Língua

Portuguesa (CMLP) no sentido de encontrar soluções sustentadas para pro-

blemas que são potencialmente comuns a todos os membros.

José Luiz Gomes do AmaralPresidente da Associação Médica Brasileira

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17Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

ceber médicos para especializaçãocomo fazíamos até aqui. Claro que nãosão acções antagónicas, são comple-mentares, sinérgicas, mas é essencialter um centro que congregue as ini-ciativas e que permita que cada umdos países membros da CMLP dê oseu contributo nas suas áreas de ex-celência.

ROM – Pode fazer-nos uma breve análi-se desses problemas ao nível da forma-ção nos países da CMLP?JLGA – No Brasil, por exemplo, te-mos 175 faculdades de medicina nasquais a formação se faz de uma manei-ra muito heterogénea, com insuficiên-cias inaceitáveis em algumas das insti-tuições. Em algumas zonas do país, onúmero de faculdades é objectivamen-te excessivo. Em Portugal temos umasituação mais equilibrada e com umaformação muito mais homogénea emtermos de qualidade. Por outro lado,nos países africanos, temos carênciasgravíssimas em termos de formação, e,especialmente, de especialização. É ne-cessário trabalharmos juntos para umaproposta comum, um currículo comumque todos consideremos aceitável. Apartir de uma formação comum, aindaque tendo em conta as especificidadesde cada país, podemos trabalhar me-

lhor na pós-graduação.

ROM – Um tronco curricular comum atodos os países da CMLP…JLGA – Parece-me que é essencial queassim seja, nomeadamente por causado reconhecimento dos diplomas en-tre países. Até certa altura não haviagrandes diferenças entre o Brasil ePortugal mas, neste momento, dentrodo próprio país já existem grandesclivagens. É um problema que temosque resolver rapidamente.

A facilidade de abertura de cursos demedicina no Brasil é, no entender des-te anestesiologista e intensivista, algoque prejudica a qualidade da forma-ção profissional. A qualificação e a va-lorização do médico são elementos cen-trais do trabalho que desenvolve naAMB. Apesar dos problemas que o paísenfrenta quanto à formação pós-gra-duada, enquanto membro da Comu-nidade Médica de Língua Portuguesa(CMLP), o Brasil disponibiliza o seuvasto conhecimento e o trabalho já de-senvolvido em áreas como a educa-ção médica contínua à distância e odesenvolvimento de guidelines e rece-be frequentemente médicos de outraslatitudes, mediante protocolos que as-seguram que os jovens são colocadosem instituições de referência, para for-mação pós-graduada.

Revista da Ordem dos Médicos– Como define a génese e desenvolvimen-to da CMLP?José Luiz Gomes do Amaral – Hámuitos factores que unem os nossoscinco países pois temos em comumuma cultura histórica, a língua… Mascompartilhamos mais do que uma he-rança histórica: temos muitos proble-mas comuns e diferenças que tambémnos unem. Não existe uma homoge-neidade na formação médica dos cin-co países e perduram diferenças mui-to grandes, nomeadamente, na forma-ção de especialistas em África. Essasituação é menos preponderante noBrasil e em Portugal. O esforço quepretendemos desenvolver na CMLP écriar uma estrutura para compartilhara formação de especialistas sobretu-do no continente africano. Através deuma ideia encabeçada pelo bastonárioda Ordem dos Médicos portuguesa,Pedro Nunes, começámos a dar osprimeiros passos na criação de umcentro de formação especializada e éesse o foco principal do trabalho daCMLP. É uma ideia muito interessan-te, especialmente porque estamos afalar de um centro onde podemos tra-balhar juntos e não simplesmente re-

«É essencial ter um centro que congregue asiniciativas e que permita que cada um dos paísesmembros da CMLP dê o seu contributo nas suas

áreas de excelência»

E N T R E V I S TA

Sobre a qualidade da formação médica: «Atécerta altura não havia grandes diferenças entreo Brasil e Portugal mas, neste momento, dentrodo próprio país já existem grandes clivagens»

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18 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

ROM – A propósito dessas clivagens, re-feriu recentemente que a degradação doensino público e a mercantilização do pri-vado têm reflexos em termos de saúdepública no Brasil. Existem igualmente pro-blemas com a abertura das novas facul-dades sem que exista capacidade para aposterior fase de formação o que originaproblemas em termos de qualidade deensino. Como analisa esta situação, no-meadamente no que se refere aos proto-colos de intercâmbio?JLGA – Temos, de facto, uma enormefalta de vagas para residência médicano Brasil. Apesar disso, recebemosmédicos para formação especializadaem dois níveis diferentes: os que vêmfazer a sua formação integral e os quevêm trabalhar num campo específicoe procuram um aperfeiçoamento ouuma pós-graduação, mestrado, doutora-mento ou projecto de pesquisa. Quan-do recebemos alguém para um pro-jecto de pesquisa, seja clínico seja delaboratório, naturalmente que inseri-mos esse médico numa estrutura deexcelência. Quem vem fazer a residên-cia integral tem que estar englobadono âmbito de acordos sólidos pois acompetição é muito intensa: temos noBrasil cerca de 18.000 médicos forma-dos por ano mas o número de vagaspara a residência não chega a 10.000.

Temos protocolos com diversas uni-versidades europeias.

ROM – E especificamente no âmbito daCMLP?JLGA – Normalmente as grandes ins-tituições têm acordos com universida-des de outros países, e no que se refe-re aos países da CMLP temos, porexemplo, protocolo de intercâmbiocom a Universidade do Porto. Na se-mana que precedeu a reunião daCMLP tive uma reunião muito inte-ressante e produtiva com uma dele-gação de Angola no sentido de esta-belecermos um intercâmbio especí-fico com quatro instituições no Bra-sil. É desta forma que temos que tra-balhar: procurar dentro de cada umdos nossos países as instituições deexcelência e aproveitar as suas maisvalias, sem esquecer que uma facul-dade de excelência não o é em to-das as áreas e que o encaminhamen-to deve ser feito consoante as ne-cessidades de especialização especí-ficas de cada um. A CMLP tem todasas condições para fazer uma boa ori-entação dos intercâmbios e conse-gue-se, através da participação detodos os países, um conjunto de va-lências muito completo.

ROM – O 2º congresso da CMLP decor-reu no Brasil. Que balanço faz desse even-to?JLGA – Foi um congresso muito inte-ressante em que aprofundámos bas-tante as nossas relações. Recebemosnesse evento a delegação de Moçam-bique, o que representou uma forçamuito grande para a consolidação daCMLP. Considero que foi um espaço

de debate onde pudemos definir me-lhor quais os interesses de cada país,quais os programas que cada um de-seja e precisa desenvolver. Falámossobre formação médica e trocámosexperiências sobre como se processaa formação em cada um dos paísesmembros, discutimos as abordagensnacionais a problemas como a tuber-culose, a SIDA, etc..

ROM – Uma troca de experiências quepode ter importantes resultados práti-cos…JLGA – Naturalmente que sim, poisas fronteiras do nosso conjunto depaíses são muito ténues. Não é a ques-tão geográfica que é primordial. Se nãovejamos: este ano o Brasil teve um sur-to de febre hemorrágica. Mas Portugaltambém pode ter que lidar com esteproblema; existe um milhão de brasi-leiros que vão e voltam entre os doispaíses e, dos cerca de 180 milhões debrasileiros, eventualmente 50% têm li-gações a Portugal. Este movimento con-tínuo faz com que um problema de saú-de pública do Brasil passe a ser tam-bém um problema potencial para Por-tugal. É certo que os mosquitos nãochegam cá, mas as pessoas afectadaschegam.As nossas relações com África tambémse estão a intensificar. Temos que ca-minhar rápido na procura de soluçõese estratégias conjuntas. Reunir e tro-car ideias é fundamental mas é tam-bém necessário desenvolver as melho-res formas de aplicar a informação ad-quirida em cada um dos países comtodas as suas especificidades. É preci-so ter o amadurecimento suficiente,quer da informação quer dos profissi-

«A CMLP tem todas as condições para fazeruma boa orientação dos intercâmbios e conse-gue-se, através da participação de todos os paí-ses, um conjunto de valências muito completo»

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19Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

onais, para que sejam tomadas as me-didas certas. Mas um processo rápidonão é o mesmo que saltar etapas. Osavanços têm que ser sustentados. Paraser possível esse amadurecimento dasideias é igualmente necessário queexista muita proximidade. Esta é a ra-zão pela qual as reuniões da CMLP, quetinham inicialmente sido estruturadaspara acontecer de dois em dois anos,tiveram que se tornar mais frequentes.Temos neste momento múltiplosinterfaces planeados.

ROM – Que expectativas tem para o 3ºcongresso que se vai realizar em Portu-gal?JLGA – Penso que no 3º congressovamos ter a oportunidade de passar àsquestões práticas. A nossa ideia de pôro centro de formação em funcionamentocom a máxima brevidade permitirá queem Fevereiro estejamos a começar a tera percepção dos primeiros resultadosdesse trabalho, sendo possível come-çar a discutir as dificuldades que sur-jam mas também as potencialidades queiremos descobrindo.Entre a formação da CMLP e o 1º con-gresso, percorremos um longo cami-nho e começámos a conhecer-nos mui-to melhor, entre o 2º e o 3º congressocomeçámos a discutir os nossos pro-blemas comuns. Penso que a marcadeste 3º congresso será trabalhar assoluções comuns.

ROM – Em que fase está a regulamen-tação do acto médico no Brasil e quais asdificuldades para a aprovação dessa lei?JLGA – É uma questão que está bemencaminhada mas… quando tratamos

muito bem de um assunto e, ao fim detanto tempo, continuamos sem conse-guir chegar a uma resolução final, te-mos um motivo para sérias preocupa-ções. A nossa proposta foi apresenta-da no Senado, discutida em todas ascomissões e envolvendo todas as pro-fissões de saúde (no Brasil são 14 pro-fissões regulamentadas). Após mais deum ano de discussão no Senado, a re-gulamentação foi aprovada por unani-midade num texto que sofreu altera-ções até ao mínimo detalhe mas queteve o acordo de todas as partes envol-vidas. Isto foi muito positivo. No en-tanto, agora, o processo passou a aguar-dar ratificação da Câmara dos Depu-tados. Só depois chegará à fase da pro-mulgação mas, caso exista alguma al-teração, a proposta terá que voltar aoSenado. Pensámos que, com a discus-são que decorreu no Senado, onde aproposta foi analisada durante mais deum ano, ter-se-iam esgotado todas asquestões, mas aparentemente não foiassim. Lamentavelmente, no processode regulamentação da medicina, en-contrámos dificuldades provocadaspor grupos que, não apresentando pro-postas alternativas ou sugestões con-cretas, se opuseram à definição de actomédico. Às vezes os caminhos são maislongos do que supomos à partida.

ROM – O seu mandato na AMB termi-na este ano, irá recandidatar-se? Que ba-lanço faz do último mandato e que áreasdestaca como aquelas em que se avan-çou mais nestes últimos anos na defesada medicina e dos médicos?JLGA – Irei provavelmente recandida-tar-me. Centralizámos a nossa acção

«Entre a formação da CMLP e o 1º congresso,percorremos um longo caminho (…) entre o 2º

e o 3º congresso começámos a discutir os nossosproblemas comuns. Penso que a marca deste 3ºcongresso será trabalhar as soluções comuns»

na valorização do médico através dasua qualificação e procurámos ampli-ar a nossa actuação na representaçãomédica junto da própria sociedade, mastambém junto do Governo. Temos tidouma acção muito intensa no congres-so nacional. Neste momento estamosa trabalhar em cerca de 60 projectosde lei, mas com maior ênfase em qua-tro, dos quais destacamos o que regu-lamenta as faculdades de medicina e otrabalho sobre a qualificação da for-mação pós-graduada no Brasil. Vivemosum momento muito difícil por causada heterogeneidade do ensino da me-dicina e é necessário melhorarmos asituação. Temos um projecto-lei e umtrabalho em curso junto do Ministérioda Educação no sentido de definir cri-térios rigorosos para a renovação dofinanciamento das faculdades de me-dicina. Estamos igualmente a desenvol-ver trabalhos sobre o acto médico e adefinição da regulamentação da medi-cina, bem como da definição dos pro-cedimentos que compõem a integrali-dade da saúde, com uma revisão con-tínua dos procedimentos médicos dediagnóstico e tratamento.

ROM – Que relevância atribui à defini-ção e revisão desses procedimentos?JLGA – É um processo extremamen-te importante: a partir do momento

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em que tenhamosa definição, porexemplo, o que éexperimental temque ser tratado noâmbito da experi-mentação o quequer dizer que ficasujeito a um con-junto de regras éti-cas mais rigoroso enão pode ser pre-maturamente colo-cado em prática. Adefinição de guide-lines, que orientamo como, quem,quando e o que fa-zer, é outra áreaessencial. Temos 350guidelines prontas e80 já estão em re-visão pois não que-remos um contex-to obsoleto.

ROM – Um traba-lho a que pretendedar continuidade…

JLGA – Naturalmente que sim. Masalém deste trabalho de desenvolvimen-to da informação, a AMB tem tambémque garantir que toda esse conheci-mento chega atempadamente aos mé-dicos; É por essa razão que fazemosuma forte aposta na educação contí-nua especialmente à distância. Umafase seguinte, num contexto de igualimportância, é transformar o conhe-cimento em conselhos e educaçãopara a saúde da população: não bas-ta saber quais os procedimentos quecomportam o tratamento da hiperten-são, não basta definir guidelines de tra-tamento e informar o médico, é es-sencial ensinar os doentes numa lin-guagem acessível e de forma resumi-da.Num próximo mandato espero conti-nuar a implementar estes passos e avan-çar um pouco mais para a avaliaçãodo impacto de todas estas iniciativas erespectivo retorno em termos de me-lhorias da saúde da população. Não éuma ideia nova e já vem sendo desen-volvida na Associação Médica Brasilei-ra há pelo menos três gestões, mas é,com certeza, essencial.

E N T R E V I S TA

«Lamentavelmente, no processo de regulamentação da medicina,encontrámos dificuldades provocadas por grupos que, não apresentandopropostas alternativas ou sugestões concretas, se opuseram à definição de acto médico. Às vezes os caminhos são mais longos do que supomos

à partida»

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Carlos Pinto de SousaBastonário da Ordem dos Médicos de Angola

Carlos Pinto de Sousa fala das tarefas em Angola e na CMLP

Centro de formação especializada:um trabalho de grande mérito

Licenciado pelaFaculdade de Me-dicina da Univer-sidade AgostinhoNeto (UAN), dou-torado em SaúdePública pela Uni-versidade de SãoPaulo, professor ti-tular na Faculda-de de Medicina daU n i v e r s i d a d eAgostinho Neto edirector-geral do

Instituto Superior de Ciências da Saúde Privado de Angola, Carlos Pinto deSousa foi recentemente eleito bastonário da Ordem dos Médicos de Angolapara o triénio 2007/2010. Apesar de estar há pouco tempo à frente dos desti-nos da Ordem, tem ideias bem definidas sobre o que o seu país precisa emtermos de medicina e está já a desenvolver várias acções – em consonânciacom o respectivo Governo – para tentar melhorar a cobertura sanitária nopaís. Extensão da OM a todo o território angolano, revisão dos respectivosestatutos e revitalização dos Colégios da Especialidade são as grandes linhasdo seu mandato. Na Comunidade Médica de Língua Portuguesa (CMLP) vêuma excelente oportunidade dos países membros trocarem conhecimentose com isso contribuírem para o crescimento mútuo.

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23Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

Revista da Ordem dos Médicos– Problemas como a necessidade de fi-xação dos médicos fora dos grandescentros urbanos, necessidade de maiorestruturação dos cuidados primários efalta de médicos especialistas são rela-tivamente comuns aos países africanosda CMLP. Em que termos é que a Co-munidade pode contribuir para a sua re-solução?Carlos Pinto de Sousa – Existem,como referiu, problemas comuns. Oque nos interessa resolver priorita-riamente são os aspectos relativos àformação pós-graduada que dependeda Ordem dos Médicos. Com o apoiodos outros países da CMLP procura-mos desenvolver acções que aumen-tem o número de pós-graduados eque tornem a formação mais homo-génea. Especificamente em Angola,estamos a proceder a uma descentra-lização da pós-graduação pois essetipo de formação só era realizada noshospitais da capital. Estando o Gover-no a reabilitar e reapetrechar áreashospitalares nas principais regiões dopaís, nomeadamente nas províncias deHuíla, Huambo, Benguela, Malange eCabinda, faz parte do nosso projectolevar a pós-graduação também a es-sas zonas, permitindo que os colegasdessas regiões não tenham que vir aLuanda fazer a sua especialização.Neste aspecto, a CMLP, cujos paísestêm problemas comuns, está a desen-volver um trabalho meritório com acriação do centro de formação espe-cializada que tem a sede física emCabo Verde.

ROM – Em termos de forma-ção, que outras iniciativas estãoa ser desenvolvidas?CPS – Também estamos a es-tudar a melhor forma de acom-panhamento dos colegas queestão, por exemplo, a fazer asua pós-graduação em Portu-gal ou no Brasil. Naturalmenteque, em relação a esses, efec-tuámos um trabalho conjunto prévioe estabelecemos um intercâmbio bemestruturado entre instituições. Nãoesquecemos igualmente a necessidadede uma formação contínua especial-mente para os colegas que estão nointerior do país e que têm um acessomenos fácil à informação.

ROM – E quanto aos cuidados primári-os?CPS – Entendemos que os cuidadosprimários de saúde, como porta deentrada no serviço nacional de saú-de, precisam de uma especial aten-ção da nossa parte. Elaborámos, emconjunto com o Ministério da Saúde,um programa de assistência médicahospitalar especializada o qual inclui,por um lado, a prestação de serviçosnos hospitais do interior que não pos-suem especialidades e, por outro, odesenvolvimento de acções de forma-ção e pesquisa pensados especifica-mente para os médicos que prestamcuidados primários à população. Alémdisso, como parte do programa, pe-quenas equipas móveis irão fazer ac-ções em todas as localidades onde nãoexiste cobertura sanitária.

ROM – Em termos epidemiológicos, quaisas patologias com maior incidência emAngola?CPS – A transição epidemiológica emAngola reforça a necessidade de umaboa estruturação dos cuidados primá-rios: além das doenças infecto-conta-giosas, que eram as de maior incidên-cia, começaram a surgir doenças cró-nicas como a hipertensão, o cancro, adiabetes, etc. Estamos a propor que sefaçam acções ao nível dos cuidadosprimários, criando programas especí-ficos para essas doenças. As nossas ac-ções devem ser viradas para um diag-nóstico precoce para que não surjamas complicações habituais e a nossaabordagem deverá ter, sempre que pos-sível, como principal enfoque a pre-venção.

ROM – Considera que a sua experiênciano Instituto Superior de Ciências da Saú-de Privado de Angola poderá ajudar noprocesso de desenvolvimento de futurasparcerias no âmbito da CMLP?CPS – É certamente uma mais valia.A universidade que dirijo faz parte daAssociação das Universidades de Lín-gua Portuguesa e já temos várias par-

«A transição epidemiológica em Angolareforça a necessidade de uma boa

estruturação dos cuidados primários: alémdas doenças infecto-contagiosas, que eramas de maior incidência, começaram a surgir

doenças crónicas como a hipertensão, ocancro, a diabetes, etc.»

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24 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

cerias em curso com instituições demuitos países, principalmente com osde expressão oficial portuguesa. É umaexperiência profissional que trazemospara a nossa Ordem dos Médicos eque nos permite ter uma visão alargadada problemática da formação e da re-visão do currículo das faculdades demedicina.

ROM – Que problemas afectam a for-mação em Angola e quais as principaiscarências nessa área?CPS – Temos problemas ao nível daformação pré-graduada pois temosuma clara falta de médicos: temos cer-ca de 2200 médicos em Angola sendoque 75% dos profissionais se encon-tram em Luanda na faculdade públicaAgostinho Neto e na faculdade de me-dicina da Universidade Jean Piaget. O

ensino público forma uma média de100 médicos por ano e a universidadeprivada, que é recente, formou o anopassado cerca de 30 médicos. Temosuma população de 14 milhões de ha-bitantes o que significa que, pelos in-dicadores internacionais, devíamos terpelo menos sete faculdades de medici-na. É um horizonte ideal mas que nãose consegue atingir de um momentopara o outro. Temos, portanto, que ar-ranjar alternativas e, com esse intuito,temos seleccionado alunos para seremenviados para o exterior para que fa-çam a sua formação. Estão em cursoos projectos de criação de mais duasfaculdades de medicina nos próximosanos – uma em Benguela e outra emCabinda.

ROM – Que expectativas tem para o 3ºcongresso da CMLP?CPS – Vamos discutir assuntos de ac-tualidade que estão nas agendas detodos os países membros, nomeada-mente, ética, deontologia, formaçãomédica e mobilidade dos profissionais.Iremos igualmente trocar impressões

A propósito do 3º congresso da CMLP: «Iremosigualmente trocar impressões sobre as metas do

milénio e como atingi-las nos vários países daCMLP, reflexões conjuntas, das quais, com

certeza, irão extrair-se conclusões quepoderemos aplicar em termos práticos»

«Numa primeira fase, cada país faz a selecçãodos candidatos que irão ao centro de formaçãoda CMLP que se localizará em Cabo Verde fazera sua especialização. Numa segunda fase iremosdesenvolver núcleos desse centro de formação

em todos os países da CMLP»

sobre as metas do milénio e comoatingi-las nos vários países da CMLP,reflexões conjuntas, das quais, comcerteza, irão extrair-se conclusões quepoderemos aplicar em termos práti-cos.

ROM – Em que fase de desenvolvimen-to se encontra e qual a importância doprojecto do centro de formação médicada CMLP?CPS – Existe já uma plataforma deentendimento quanto às áreas priori-tárias e vamos iniciar as acções deformação precisamente por aí. Todosos países da CMLP concordaram queé primordial avançar com a forma-ção em cuidados básicos de saúde.Numa primeira fase, cada país faz aselecção dos candidatos que irão aocentro de formação da CMLP que selocalizará em Cabo Verde fazer a suaespecialização. Numa segunda faseiremos desenvolver núcleos dessecentro de formação em todos os pa-íses da CMLP, passando a instituiçãoem Cabo Verde a interligar e a coor-denar as acções dos vários países.Não queremos acções isoladas peloque essa coordenação é fundamen-tal. O que é necessário agora é pôro processo em marcha. Numa faseposterior estaremos com certeza aformar formadores.

ROM – Foi eleito em 2007 para a OMde Angola, quais as principais linhas do seuprograma na defesa da medicina e dosmédicos?CPS – Temos um programa de acçãoque tem como prioridade a extensão

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da Ordem dos Médicos a todas as re-giões do país. Esta intenção concreti-za-se com a abertura dos conselhosregionais, dos conselhos provinciais edos núcleos da OM junto das grandesunidades hospitalares.Em segundo lugar, mas com igual rele-vância, pretendemos a revitalização dosColégios da Especialidade.A terceira linha mestra do programa é

É nossa intenção reforçar a parceria com as estruturas governamentais,dar todo o contributo possível para o alcançar das metas do milénio,

nomeadamente a redução da mortalidade materno-infantil, área em queestamos a fazer acções concretas de interacção com a sociedade civil e

intercâmbio com a comunidade internacional, lusófona e não só. Tudo istosó pode ser dinamizado com a ajuda de parcerias quer a nível interno,

quer a nível externo, nomeadamente no âmbito da CMLP

a revisão do estatuto da OM. Estamosem plena revisão pois queremosadaptá-lo às realidades actuais. As so-ciedades são dinâmicas e uma institui-ção não pode ter um estatuto inade-quado ou ultrapassado.É nossa intenção reforçar a parceriacom as estruturas governamentais, dartodo o contributo possível para o al-cançar das metas do milénio, nomea-

damente a redução da mortalidadematerno-infantil, área em que estamosa fazer acções concretas de interacçãocom a sociedade civil e intercâmbiocom a comunidade internacional, lu-sófona e não só. Tudo isto só podeser dinamizado com a ajuda de par-cerias quer a nível interno, quer a ní-vel externo, nomeadamente no âmbi-to da CMLP.

E N T R E V I S TA

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O P I N I Ã O

De imediato alguns presidentes deconselhos de administração vieram cla-mar, à laia de aviso, que não era fácilserem avaliados, até porque estavamdependentes dos profissionais que ti-nham a trabalhar nos «seus» hospitais.E isso é verdade, essa dependência éum facto, e é positivo que pelo menosalguns deles a reconheçam, emboranão se saiba que influência tal factotem na sua actuação administradora.Mas a verdade também é que um res-ponsável tem que assumir as suas res-ponsabilidades, e não esconder-se atrás

A AVALIAÇÃODias depois da tomada de posse da nova ministra

da Saúde, um responsável do Ministério anunciava

que estavam a trabalhar na criação duma grelha

para avaliação dos conselhos de administração dos

hospitais EPE. Nada nos poderia dar mais satisfa-

ção: é mais que tempo, e mais que necessário, que

pessoas a quem foram confiados milhões e milhões

de euros dos cofres do Estado possam ser correc-

tamente avaliados pelo destino que deram a todo

esse dinheiro.

dos seus subordinados, imputando-lhesa culpa de um eventual fracasso (aomesmo tempo que, se calhar, fica sozi-nho com os louros quando as coisascorrem bem). Napoleão Bonaparteganhou muitas batalhas à custa dosseus soldados, os quais no entanto fi-caram globalmente na história apenaspor serem os seus soldados. E quandofoi vencido em Waterloo, mais uma vezfoi ele que perdeu, não os seus solda-dos, apesar de historicamente se sa-ber que essa derrota se ficou a deverem grande parte à não execução ca-bal e atempada dum plano de batalhaconfiado ao comandante de um dosseus regimentos. Mas foi ele quem foiderrotado, e destronado, e preso, e quemorreu no exílio. Não o seu exército,que apenas perdeu o chefe.E isto faz todo o sentido, porque a res-ponsabilidade da organização dum exér-cito, da sua estratégia e da táctica nocombate, pertencem por inteiro ao co-mandante em chefe e ao seu estado-maior. Como lhes pertence também aresponsabilidade da nomeação das che-fias intermédias, a sua coordenação, oassegurar-se que os soldados aceitamessas chefias e compreendem as suasordens e indicações. E finalmente, por

último mas com certeza não em último,a de saber motivar todo o exército,entusiasmá-lo, galvanizá-lo, como Napo-leão fez ao conseguir que os seus sol-dados quisessem até morrer por ele.É claro que para se chegar à avalia-ção dos hospitais EPE não é precisoir tão longe, e tão alto. Bastará ficar-mo-nos prosaicamente pela compara-ção com as equipas de futebol, em quese os jogadores não gostarem do trei-nador, ou este os não motivar ade-quadamente, ou a direcção do clubenão lhes pagar o indicado, pura e sim-plesmente correm, correm no campomas realmente não jogam e não ga-nham. E a solução não é substituir aequipa.Quando os lugares de chefia intermé-dia num hospital estavam dependen-tes duma carreira, duma sucessão deexames e concursos, de provas dadas,os conselhos de administração podi-am queixar-se de que todos aquelesjúris eram constituídos por incapazese que eles, que detinham a capacidadede saber «achar» quem eram os me-lhores, infelizmente não o podiam fa-zer e tinham de conviver sofredora-mente e trabalhar com os que chega-vam ao topo da carreira. Mas essa pos-sibilidade de assacarem culpas aosconcursos desapareceu-lhes, uma vezque as nomeações para os vários lu-gares de chefia e de responsabilidadeintermédia estão-lhes agora totalmen-te nas mãos.Mas é verdade que não é fácil avaliaro trabalho dum conselho de adminis-tração dum hospital. É que não se podeolhar simplesmente para a frieza denúmeros expostos em quadros de con-tabilidade mais ou menos criativa, comonão é bastante saber quantas «cirurgi-as» foram feitas ou quantos doentesforam ao hospital ver o médico. O equi-líbrio ou desequilíbrio financeiro dumhospital estatal é tão somente uma par-te dos problemas duma instituição quetem como objectivos a saúde duma po-pulação, o seguimento e acompanha-mento de muitos dos que estiveramdoentes, a formação pós-graduada deprofissionais, o ensino de alunos, a in-vestigação para se conseguirem melho-

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res – mais eficazes, mais eficientes emais baratos – métodos de diagnósti-co e de tratamento. Tudo isto está re-lacionado, para além de condições ma-teriais, com uma enorme equipa deprofissionais cujo trabalho competen-te, coordenado e entusiástico é quepode fazer render o dinheiro aplicado.Construir hospitais e equipá-los é fá-cil, basta ter dinheiro. O difícil e mo-roso é construir equipas, de médicose outros profissionais, competentes eeficientes, que desempenhem a fun-ção que ao hospital cabe e justifiquema sua existência e os seus custos, con-tribuindo ao mesmo tempo para a for-mação de outros e para uma melhorianos cuidados de saúde prestados àpopulação. Ora o que se tem vindo apassar nalguns hospitais-empresa éque, em vez de manterem os bons pro-fissionais, os mais experientes e sabe-dores, estimulando-os a fazer mais emelhor trabalho, parece antes fazeremum esforço (voluntário ou por inép-cia) para os afastar, para os empurrarpara fora do hospital, para a activida-de privada, seja por reforma anteci-pada ou licença sem vencimento, sejasimplesmente por desmotivação e de-sinteresse em relação a uma adminis-tração hospitalar que se mostra inca-paz. Quando médicos muito diferen-ciados, líderes de opinião, que duran-te várias dezenas de anos trabalha-ram com afinco na instituição e con-tribuíram para a sua qualidade clíni-ca, se vão embora dela muito antesdo tempo, algo está mal. E será deinquirir o conselho de administraçãosobre o que se passou, e saber oquanto é ele próprio responsável poressas saídas – eis um factor de avalia-ção da sua actividade.Enquanto do ponto de vista económi-co-financeiro o ministério da saúdemantém algum controlo, no resto osconselhos de administração dos hos-pitais EPE são totalmente autónomos,não prestam contas a ninguém, e daí asua absoluta responsabilidade.Em termos de recursos humanostem-se assistido nalguns a uma de-sierarquização catastrófica, com pro-moção de minhocas a jibóias, apa-

rentemente esperando-se que essasimples promoção trouxesse as qua-lidades e a capacidade que os pro-movidos não têm, nem nunca tive-ram e nunca hão-de ter. É claro queos contemplados nessa campanhapromocional, guindados a cargos efunções que nem nos seus mais des-vairados sonhos esperaram algum diapossuir, tudo farão para os conser-var, sobretudo nunca contrariandoquem os nomeou. E parece ter sidoesse o objectivo. Com a perversãoacrescentada de serem os menosqualificados a avaliar e classificar osmais qualificados. Se as coisas cor-rem mal, se a qualidade do serviçodesaparece, se a formação é posta emcausa, se começa a haver problemascom os doentes, então a responsabi-lidade é do conselho de administra-ção e é com certeza um factor deavaliação a ter em conta. Sobretudose os próprios doentes e os médicosem formação se começarem a quei-xar oficialmente, e a idoneidadeformativa for posta em causa.Outro aspecto a avaliar é a organiza-ção imposta ao hospital, já que a reor-ganização ou desorganização estabele-cidas são totalmente da responsabili-dade do conselho de administração,como as Administrações Regionais deSaúde e o próprio Ministério da Saúdeafirmam quando questionados sobreuma ou outra situação particular emais gritante. A actual lei de gestão hos-pitalar permite-o, mas há que pedir res-ponsabilidades a quem as tem. Estru-turas hospitalares modificadas e pou-co operacionais, resmas de administra-dores pululando nos corredores dohospital, procurando ganhar dinheirocom uma instituição que existe paratratar doentes – que é o que os médi-cos e os outros profissionais de saúdefazem –, tudo deve ser considerado.Qual o aumento em gastos adminis-trativos, incluindo ordenados de ad-ministradores?Quando se avalia a gestão dum hos-pital há que saber também o que con-seguiu fazer com o que o hospital pos-suía, nomeadamente em capital huma-no e em tecnologia e «know-how». Há

hospitais do Estado geridos como em-presas em que tudo isso tem sido mal-baratado, eu diria mesmo desbarata-do, sobretudo em médicos bem pre-parados e competentes. Ter capacida-de de tratar doentes dalgumas pato-logias, até frequentes e cada vez maisfrequentes, e simplesmente afastá-los,desperdiçando a capacidade instala-da ao longo de dezenas de anos, ape-nas com o intuito pequenino de pou-par dinheiro e transferir essa despesapara o vizinho, é com certeza tam-bém um factor de avaliação. Procurarresolver os problemas financeiros lo-cais dum hospital estatal sem querersaber da saúde regional ou nacionalnão é por certo positivo, e deve con-tar num «score» de capacidade degestão hospitalar.Em suma e para concluir, é fundamen-tal avaliar a actividade dos conselhosde administração dos hospitais EPE, erapidamente. Essa avaliação não é fá-cil, porque é complexa e deve ser feitasob múltiplos aspectos, para além doeconómico-financeiro. Há hospitaiscom as contas eventualmente certas –outros nem isso – e destruídos pordentro, e o Ministério da Saúde, queempatou lá o dinheiro que é de todosnós, não sabe. É altura de querer sa-ber. Há aspectos muito mais importan-tes que o económico-financeiro, por-que as consequências dos erros aí co-metidos levarão muito mais tempo aser corrigidas e terão muito maior im-pacto negativo no país, para além deno próprio hospital. Mesmo no campofinanceiro, porque ao fim e ao cabogastou-se dinheiro para se cometeremos erros.Mas entenda-se é que a dificuldade deavaliar a actividade dos responsáveisnão reside nos profissionais que tra-balham no hospital. Esses pelo contrá-rio deveriam ser ouvidos: para saber oque pensam e que futuro antevêempara a instituição, e se estão conten-tes e a trabalhar a par com o seu con-selho de administração, ou pelo con-trário apenas esperando, senão dese-jando, e pedindo a Deus, que ele sejasubstituído. Este deveria ser outro fac-tor na grelha de avaliação.

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Assim nascem partidos, associações,ordens, sociedades, ligas, clubes, e todoo tipo de grupos motivados pela ne-cessidade de defender, difundir e con-sagrar valores, princípios e ideais co-muns aos seus associados.Regem-se invariavelmente por nobresconceitos éticos, rigorosos códigosdeontológicos e exemplares normas deconduta. Os seus propósitos são sem-pre o de divulgar as boas práticas, pro-mover o conhecimento através do de-bate, da reflexão e do estímulo ao en-sino e à formação, especialmente se forpor si ministrada ou acreditada.Exercem um papel histórico relevan-te, como atesta o seu passado, ao con-tribuírem decisivamente para a justi-ça, equilíbrio e desenvolvimento donosso modelo social. As suas origensremontam aos tempos em que era fun-damental defender os artífices, promo-

O lado obscuro docorporativismo

Sempre que alguém exerce uma qualquer actividade ou função, do foro pro-

fissional, cultural ou social, por mais desinteressante ou irrelevante que seja,

tem tendência a formalizar os laços de união entre os seus pares, adquirir

estatuto próprio e assegurar representatividade na comunidade.

«O Homem é o lobo do próprio homem»Tomas Hobbes

ver a primazia da sua arte e a solidari-edade entre os seus.Foi esse sistema de organização queatingiu o seu apogeu com a revoluçãoindustrial que hoje em dia assume al-guns contornos preocupantes. Redi-gem-se estatutos, ensaia-se um discur-so com considerandos anti xenófobose pró ambientalistas, tecem-se loas àdefesa dos direitos e das liberdades,condena-se o uso da força e da repres-são seja ela de que natureza for e ju-ram-se solenemente códigos que seaprovaram por unanimidade. Publica-se uma revista ou um boletim infor-mativo, faz-se um semanário ou umcongresso inaugural, definem-se quo-tizações, elegem-se insignes dirigentese respectivos corpos sociais, prome-tem-se mundos e fundos e eis legaliza-do mais um grupo apto a exercer oseu magistério de influência na defesados seus interesses. Assumem tradici-onalmente uma imagem de unidadepara o exterior que nem sempre paten-teiam e cultivam entre si.Pululam assim como cogumelos orga-nizações deste tipo, algumas por ra-zões meritórias e por isso necessáriasoutras ridículas e francamente dispen-sáveis, mas quase todas insensíveis aoscustos sociais e institucionais que acar-retam algumas das suas posições.O seu aparecimento coincide muitasdas vezes, com o desabrochar de no-vas e inesperadas contrariedades nosector que dizem representar sob um

questionável estatuto de parceiro so-cial adquirido ao abrigo de um poucoselectivo direito democrático. Tornam-se assim, um frequentemente obstácu-lo à mudança, às reformas e à inova-ção principalmente quando confron-tadas com soluções que não contem-plam ou que no mínimo não satisfa-çam os seus desideratos.São estes obstáculos que mais tardese irão repercutir de forma irremediá-vel no timing e na qualidade da deci-são prejudicando o estado, as institui-ções e os cidadãos em geral, no querespeita à solução de problemas quedeveriam ter um fim rápido e consen-sual, ditado pelo interesse colectivo.Tudo graças ao radicalismo que osten-tam e às irredutíveis tomadas de posi-ção que assumem e se confundem in-variavelmente de forma pouco trans-parente, com óbvios interesses de gru-po. Raramente reconhecem nobrezanas alternativas, mérito nos resultadosalheios ou capacidade para optar porcaminhos que não os seus. Mais do quecontribuírem para resolver problemas,assumem-se como parte integrante dosmesmos ao serem incapazes de delesterem uma visão holística que lhes per-mita optar pelo bom, na impossibilida-de de alcançar o óptimo.É por isto que frequentemente assisti-mos à deterioração da sua imagem aosolhos da opinião pública e ao despres-tígio dos seus dirigentes. Se quiseremexemplos, atentem nas seguintes doze

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situações e procurem encontrar umarazão que não esta, que explique por-que se continua a verificar:

• Uma tremenda incapacidade emmobilizar em tempo útil, meios e re-cursos para solucionar problemas ur-gentes nos mais diversos sectores davida nacional, por custos aceitáveis;

• Uma persistente imposição de restri-ções no acesso a determinadas áreasde ensino e formação apesar das gra-ves insuficiências nelas já identificadas;

• A concessão de direitos e privilégiosa determinados grupos, em áreas deinteresse público, por exclusão de ou-tros interessados de menor capacida-de ou poder reivindicativo;

• Dificuldades de acesso equitativo adeterminados lugares e funções por serequererem qualificações por medidaou estabelecerem redundantes e in-compreensíveis critérios de selecção;

• Uma proliferação de escolas e cursosinúteis e dispendiosos em áreas profis-sionais já desastradamente exceden-tárias e que apenas servem os interes-ses de quem os organiza e ministra;

• Uma dificuldade em integrar imigran-tes e reconhecer as suas competências,nos mais diversos sectores deficitáriosde actividade, apesar de muitas vezes,possuírem qualificações de excelência;

• A atribuição de graus e equivalênci-as nas mais variadas profissões sem quea isso corresponda qualquer mais-va-lia ou valor acrescentado, apenas porrazões de índole remuneratória e depromoção social;

• A atribuição de títulos e competênci-as em áreas cada vez mais rebuscadase por vezes esotéricas do conhecimen-to com o intuito de fomentar elites einviabilizar potencial concorrência;

• A incapacidade em partilhar recursos,

reformar modelos, redefinir funções oupromover avaliações, visando a obten-ção de ganhos de eficiência, por colisãocom injustificados e obsoletos direitosadquiridos e privilégios instalados;

• A atribuição de isenções e subsídios aquem é dispensável mas continua a me-recer tratamento de excepção, em nomede uma duvidosa utilidade pública;

• A maneira como uns quantos mudamsistematicamente de lugar e funções numcarrossel ininterrupto de partilha de pri-vilégios, desde que fiéis às suas cores;

• O modo como se desaproveitam edesvalorizam as competências de quemdelas já deu provas em beneficio dequem possui atributos de outra natu-reza, aquando da hierarquização defunções nas instituições.

«Quem não quer ser lobonão lhe veste a pele»

Ditado popular

O P I N I Ã O

Envie-nos os seus artigosPara que a revista da Ordem dos Médicos possa ser sempre o espelho da opinião dos profissionais de todoo país, agradecemos a colaboração de todos os médicos que desejem partilhar as suas opiniões, experiênciasou ideias com os colegas, através do envio de artigos para publicação na Revista da Ordem dos Médicos. Osartigos devem ser acompanhados de uma fotografia do autor (tipo passe) e poderão ser enviados para oscontactos que se encontram na ficha técnica (morada da redação e/ou respectivo e-mail).

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O Homem é um todo e não um serem compartimentos separados, e háaspectos que acabam por se intricarna ética, mesmo condicioná-la, sejammorais, sociais, profissionais, psicoló-gicos, espirituais, etc.A ética abrange pois o homem comoum todo, na sua relação com aquilocom que tem de lidar.As «espiritualidades», hoje tão em vo-ga, vejam-se os escaparates, nem sem-pre se identificam com religião. Mas aespiritualidade, quando encarada comouma relação, passa pela ética.Toda a religião assenta na ética, nãose podem separar, mais, ao promovero verdadeiro Bem, a religião aperfei-çoa a ética, porque lhe junta o Amor.Por exemplo, quando alguém tenta vi-ver a sério a espiritualidade cristã, asua ligação com os outros tem queser profundamente ética mas também,profundamente amorosa. Eticamente,o outro é igual, por isso é respeitado,mas na visão cristã, o outro está pri-

A ética da criação– a novidadeQuando se diz que o aborto é uma questão ética que toca a todos, é bem

verdade. Mas limitá-la a uma questão puramente física ou psíquica, deixando

de lado o espiritual, é simplesmente redutor. Que o Homem é um ser tam-

bém espiritual, está mais que provado.

meiro, eventualmente superior, por issodeve ser servido. Na verdade, esta éti-ca de amor, leva ao serviço, numa rela-ção não de subserviência, mas, tão sóporque o amor implica humildade,mansidão e desinteresse de retribui-ções.Esta relação é simpática, próxima, levaà ligação, leva à alegria. Não é simples-mente altruísmo, terá outras implica-ções mais latas.Com a Natureza, com a Criação, quan-do existe uma relação ética, acontecetambém uma aproximação ao Criador.Ainda que muitas vezes inconsciente,esta aproximação pode ser desenvol-vida através da capacidade de nos ma-ravilharmos, de louvarmos e de Lheagradecer, o que requer uma aprendi-zagem.Por último, a nossa relação com nóspróprios, tantas vezes minimizada, éseguramente a mais determinante narelação ética com o mundo exterior.Que ética usamos para com nós mes-mos?Estes três tipos de relação são pesso-ais, e o modo como funcionam cadaum tem de o gerir, o que nem sempreé fácil, pois existem sempre estadoscontaminados, marcados por muitascondições, algumas fáceis de identifi-car, mas tantas vezes difíceis de con-trolar.Quando somos chamados a procriar,desencadeia-se uma relação ética pro-funda e séria, connosco, com o parcei-ro e com os outros.Ficamos virados não só para quemgeramos, mas para nós mesmos, para

a família, para a sociedade, para a Na-tureza, para o Universo.Porém, programado ou não, o acto degerar não é um acto instantâneo, demomento. Desde sempre Alguém o pen-sou, desde toda a eternidade Alguém oestabeleceu. Os pais são colaborado-res, co-responsáveis, não são os únicosintervenientes, e por isso, não são do-nos do que geram. Também a família, asociedade, são colaboradores, co-res-ponsáveis, sobretudo em criar condi-ções para que se cumpra o plano defelicidade a que somos chamados.Cada um não é dono do que gera, masresponsável em dar continuidade à vidaa que foi chamado iniciar.Esta é a novidade: se somos chamadosà criação, somos colaboradores e co-responsáveis, mas não somos donos dacriação.Uma novidade tão antiga, tão eterna,quão esquecida...Os pais, a família, a sociedade não de-vem reduzir a questão da «criança nãodesejada» ao aborto. Esta é uma atitu-de violenta, que leva à violência. Estanão é uma relação ética, nem dos paispara com o filho, nem da família, dasinstituições, ou da sociedade para comos pais. Esta é uma intervenção, umarotura, que, mesmo que seja aceite, nãoleva à cura, mas deixa feridas por ve-zes difíceis de curar.Na ética da criação não cabe matar.Tirar a vida, rompe profundamente arelação com a harmonia da criação, edeixa marcas por vezes muito profun-das. Banalizar estas atitudes tira senti-do à própria vida.

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Fotobiografiade uma amizade

Por Ofélia Bomba

Sentindo como imperiosa a necessidade de prestar a devida homenagem ao Senhor Profes-sor Rolando Moisão, pela sua personalidade singular e em tantos aspectos extraordinária,mas também pelo muito que contribuiu para o engrandecimento da Ordem dos Médicos,pedimos a colaboração de Ofélia Bomba, médica, poetisa e sua amiga, para a elaboraçãodesse merecido tributo. O resultado desse trabalho dedicado é esta comovente fotobiografia.Não era, naturalmente, possível incluir sequer um resumo de uma vida que foi tão repleta demomentos únicos, como única foi a pessoa que a viveu. E não se pretendia uma revisãoexaustiva da sua vida. É verdadeiramente a fotobiografia de uma amizade e nela(re)encontramos retratadas as principais características do Senhor Professor. O desapare-cimento, há dois anos, do Senhor Professor Rolando Moisão deixou a OM mais pobre. Maseste tributo é feito não para relembrar o seu desaparecimento mas para comemorar o diaem que nasceu. O professor Rolando Moisão completaria 86 anos no dia 20 de Junho.

Pensando bem, verificoque a primeira vez quecontactei com o Sr. Pro-fessor Rolando Moisãofoi em Leiria, durante umcongresso da UMEAL(União Mundial de Escri-tores e Artistas Lusó-fonos). Fazia parte doprograma uma noite depoesia que decorreu nohotel onde o grupo par-ticipante se alojava.Enquanto lia os meuspoemas, reparei numsenhor de cabelos bran-cos, sentado na primei-ra fila da assistência, queseguia as minhas inter-venções com um ar mui-to atento e particular-mente crítico (foto nº1).No final da sessão inter-pelou-me dizendo:

– O que é que você tem? Disse os seuspoemas, que até me pareceram bas-tante interessantes, com ar de meninade colégio envergonhada. Falta-lhe âni-mo! Está anémica?– Anémica eu? Só se for uma anemiadeclamatória!, respondi surpreendida.– É isso mesmo. Acertou no diagnós-tico!E foi com este diálogo que teve iníciouma enorme amizade, que nunca vaci-lou e se foi solidificando, através dosanos que se seguiram, num convíviofrequente pelo facto de ambos sermosmembros da SOPEAM (Sociedade Por-tuguesa de Escritores e Artistas Médi-cos) e participarmos activamente nassuas actividades.Este convívio foi motivo de grandeenriquecimento pessoal. De facto, o Sr.Prof. Moisão era um ser superior einvulgar. Senhor duma personalidadefascinante, duma inteligência fulguran-te, duma memória e de uma força aní-mica espantosas, capacidade de deci-

Professor Rolando Moisão (1922 – 2006)HOMENAGEM

Foto 1

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são e de execução notáveis, de um finoe marcado sentido de humor, dumaenorme força de carácter, era também,amigo do seu amigo, leal e firme nassuas convicções – que defendia con-tra tudo e contra todos. Tinha, tam-bém, essa capacidade invulgar que sóassiste aos eleitos, de saber dar-se, comnaturalidade e elegância, com pessoasde todos os níveis sociais e neles fazerbons amigos.Com todas as suas capacidades nãoadmira que tenha tido, também, uminvulgar percurso de vida. Sobre estetema, outros, muito melhor do que eu,saberão falar, mas não posso deixar dereferir aqui, muito resumidamente, al-guns aspectos da sua brilhante trajec-tória. Curso liceal, 1º ciclo – 19 valo-res; 2º ciclo – 18 valores/prémio naci-onal; 3º ciclo (letras e ciências simul-taneamente) – 19 valores/prémio na-cional. Licenciatura em medicina em1945, obtendo Prémio de Clínica Mé-dica. Carreira hospitalar completa – 1ºlugar em todos os concursos; Especia-lista em cirurgia geral e gastroentero-logia. Carreira universitária – profes-sor catedrático da Faculdade de Med-icina e da Faculdade de Ciências Mé-dicas de Lisboa, professor da EscolaSuperior de Saúde Militar. Colar de

Honra da Ordem dos Médicos (fotonº 3) e Medalha Militar Afonso Hen-riques (grau ouro). Curso de cálculoestatístico adaptado à investigação mé-dica. Curso de desenho de estátua e mo-delo vivo na Sociedade Nacional de Be-las-Artes. Curso de Ciências Pedagógi-cas da Faculdade de Letras de Lisboa.Fundador e director, no Hospital PulidoValente, em Lisboa, da Clínica Universi-tária de Cirurgia Geral e Digestiva.Autor de imensos trabalhos científicose de uma obra literária constituída pornumerosos livros que abrangem o con-to, a poesia e o ensaio, narrativas histó-ricas e de viagem, tendo adoptado sem-pre o pseudónimo de Jorge Marinho.– Sabe? É por causa dos doentes.– costumava dizer. – Eu gosto de se-parar as águas… Uma vez, pelo Natal,uma doente ofereceu-me um livrointitulado «O encanto discreto da clí-nica», de Jorge Marinho, porque tinhagostado muito de o ler e tinha a certe-za que o Sr. Professor também gosta-ria. – Recebeu-o, reconhecido, e nãorevelou que era ele o autor. Contavaisto, várias vezes, e rematava com umagargalhada.Desportista. Praticou equitação.– A minha primeira fotografia, a cava-lo, foi tirada tinha eu quatro anos, no

Alentejo, na quinta do meu avô, elepróprio um cavaleiro que aos 84 anosainda montava. – Quando lhe dissepara ter cuidado porque podia cair eficar doente, respondeu que isso dasdoenças era invenções de médicos!...Comodoro/Associação Naval Portu-guesa. Foi também velejador e umgrande apaixonado pelo mar a quemdedicou muitas horas da sua vida ebelíssimos poemas publicados na sua«Obra Poética».Costumava recordar, com visível con-tentamento, os tempos da sua infânciae adolescência em que brincava e na-dava com filhos de pescadores na re-gião ribeirinha e quanto essa convivên-cia tinha sido uma bela lição de vida.Um dia fui surpreendida pelo convitepara apresentar a sua «Obra Poética»composta por dois volumes. Após umprimeiro momento de surpresa, seguiu-se a certeza de que não era eu a pes-soa mais indicada para o fazer, porquede poesia apenas a aprecio muito e es-crevo alguns poemas. Agradeci a hon-ra do convite e fiz-lhe saber isso mes-mo, tanto mais que a sua anterior obra,«Histórias da Terra e do Céu», tinha sidoapresentada pelo Sr. Prof. Carlos Ribei-ro, então distinto bastonário da Ordemdos Médicos. A foto nº 2 foi tirada nes-se dia e nela o Sr. Professor está acom-panhado da Sra. Dra. Raquel Moisão.Não aceitou o meu argumento e insis-tiu no convite dizendo «você é muitomais capaz do que julga!». Só a amiza-Foto 3

Foto 2

HOMENAGEMProfessor Rolando Moisão (1922 – 2006)

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de, grande e generosa, como é a ver-dadeira amizade com que sempre fezo favor de me distinguir, é que me le-vou a aceitar semelhante tarefa.Ler a «Obra Poética» de Jorge Mari-nho é fazer uma viagem fascinante.Apresentá-la, em 8 de Agosto de 2000,na sede da Ordem dos Médicos emLisboa foi uma enorme emoção. A mesa(foto nº 4) foi presidida pelo Sr. Dr.Pedro Nunes e estava composta da es-querda para a direita pelo Sr. Prof.Moisão, Dr. Carlos Vieira Reis (entãopresidente da SOPEAM), AlmiranteFélix António (presidente da Academiada Marinha), Prof. José Pedro Macha-do (presidente da Academia de LínguaPortuguesa), eu e o Dr. Luís Lourenço(actual presidente da SOPEAM) quefez uma análise dos livros em prosa deJorge Marinho.A sua poesia é um exemplo de moder-nidade por ser livre no que respeita àforma dado que as suas composiçõespoéticas não obedecem às regularida-des convencionais do ritmo, da rima eda divisão das estrofes. É uma escritavigorosa em estilo firme e brilhante. Temuma grande solidez de ideias e umnotável pensamento que antecede alinguagem poética e que é fruto de mui-ta reflexão sobre a vida… a vida e os

mundos! Tem um grande poder criati-vo e uma notável manipulação da lin-guagem e, ainda, uma intensidade desentido que transforma os temas ememoções muito fortes.Há nela, sobretudo, uma enorme vari-edade de temas que muito enriqueceo conteúdo no qual se espelham umasólida cultura, uma imensa sensibilida-de e uma espantosa capacidade de ob-servação. São, a meu ver, esta varieda-de de temas e a riqueza do seu con-teúdo, o mais notável da «Obra Poéti-ca» de Jorge Marinhoque vai desde umasubtil crítica social,passando por nume-rosas e bem enqua-dradas referências his-tóricas e artísticas atéà mais transparenteexposição de almaem que liberta muitase íntimas emoções euma grande panópliade afectos. Não pos-so deixar de referir apartilha que, no iníciodo volume I, Jorge Ma-rinho faz dos senti-mentos inerentes ànecessidade de escre-

ver poesia. O porquê, o antes, o du-rante e o após. E a noção do sofrimen-to, de imperiosidade, de alívio e de pazque esta envolve.Na foto nº 5 está ainda a Sra. Dra.Raquel. Após este lançamento nuncamais esteve presente por falta de saú-de. Esta foi a maior preocupação do Sr.Professor até ao fim dos seus dias.Quando íamos ao estrangeiro, a con-gressos literários, e o convidávamospara nos acompanhar, sempre nos dis-se que gostaria de estar presente mas

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Foto 5

Foto 4

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que a doença da Sra. Dra. Raquel nãopermitia ausentar-se para longe e don-de não pudesse regressar fácil e rapi-damente.Em 10 de Junho de 2000 escreveu-meuma carta agradecendo «a disponibili-dade que teve para ser a madrinha des-tes meus livros»… …«Vi que analisouos dois volumes com a mesma meticu-losidade com que prepararia o examede patologia cirúrgica e com uma bene-volência superior à de qualquer júri»……«Eu ficaria vaidoso após a ter ouvido,se não compreendesse que me iluminoua luz favorável da amizade».Uma data importante para todos nósfoi o 16 de Outubro de 2001, em quefoi inaugurada a Biblioteca Históricada Ordem dos Médicos, obra notáveldo Sr. Prof. Moisão. Durante nove me-ses o espólio pertencente à OM queaté aí repousava numa cave do Hospi-tal de Arroios foi sujeito, primeiro à maiscriteriosa triagem feita por si, depoistransportado para a actual sede apóso que os livros foram restaurados eencadernados por temas. Manuela Oli-veira foi sua preciosa ajudante. Am-bos de máscaras cirúrgicas e luvas deborracha «levaram a cabo uma muitolonga e delicada intervenção cirúrgi-ca», como o Sr. Professor costumavadizer sorrindo. Na foto seguinte estácom Manuela Oliveira que lhe dedi-cou a maior admiração e uma enormeamizade e muito o ajudou nos últimostempos de vida, na sua doença (na fotonº 6, recebendo um autógrafo do Prof.Moisão).Foi também o autor do desenho dasestantes e da ideia de pedir a todos osmembros da SOPEAM, um exemplardas suas obras para figurarem na bi-blioteca. Enciclopédias, revistas e ins-trumentos de uso médico foram crite-riosamente integrados nesse preciosoespaço da «casa de todos nós». Nomesmo dia foi lançado o livro «A Bi-blioteca Histórica da Ordem dos Mé-dicos», da sua autoria, editora CELOM– Centro Editor Livreiro da Ordem dosMédicos, com a seguinte dedicatória:

«À Raquel com agratidão pelos nos-sos quase cinquen-ta anos de apoio eharmonia». A apre-sentação esteve acargo do Sr. Prof.Veríssimo Serrão,presidente da Aca-demia Portuguesada História. Presidiuà sessão o Dr. Ger-mano de Sousa, en-tão bastonário daOM. Na foto nº 7,da esq. para a dta.,Prof. Doutor Rolan-do Moisão, Prof.Doutor VeríssimoSerrão, Dr. Germa-no de Sousa. Ma-nuela Oliveira e eufizemos uma sur-presa contratandoFilomena Vieira,dona de uma vozlindíssima, que, nofinal do lançamentodo livro e do jantarque se seguiu, can-tou e encantou,acompanhando-seà guitarra (fotonº8). O Sr. Profes-sor gostou imenso emuitas vezes me fa-lava nisso.Na sequência des-te acontecimentofomos convidadas,a Filomena e eu, para participarmos,em 23 de Fevereiro de 2001, na tertú-lia literária da «I Feira do Livro do Mé-dico» que teve lugar na Secção Regio-nal do Norte da OM, no Porto, orga-nizada pelo Dr. Hernâni Vilaça. A mesada tertúlia era composta pelos Profes-sores Moisão, Armando Moreno, DanielSampaio, pela Filomena Vieira e eu. OSr. Prof. Moisão leu trabalhos seus, emprosa, alternando comigo que disse po-emas de minha autoria. Após as inter-

venções de todos os elementos damesa, Filomena Vieira cantou um poe-ma meu que tinha musicado e, de talmodo gostaram da sua voz, que teveque cantar mais alguns dos meus poe-mas. Depois do jantar, que se seguiu àtertúlia literária, deu um espectáculono anfiteatro que não estava progra-mado e que foi um enorme sucesso.Mas não ficou por aqui: depois do es-pectáculo quando o grupo que tinhaido de Lisboa se encontrava com o gru-

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po que nos recebeu no Porto, na salade exposição (foto nº14) dos livrosda feira, Filomena Vieira pôs-se a tocare a cantar tangos, valsas e passos-doblee todos dançámos no meio da maioralegria. Qual não foi o nosso espantoquando vimos o Sr. Prof. Moisão a dan-çar uma valsa num estilo perfeito pelo

que foi muito aplaudido por todos nós.A noite acabou com champanhe ofe-recido pelos nossos anfitriões, na com-panhia de milhares de volumes de au-tores médicos, desde os mais recentesaté exemplares únicos já com séculosde existência. Na foto nº 9 temos oSr. Professor a valsar e, na seguinte, sen-

tado ao meu lado, dizendo: «isto já nãoé para a minha idade». Aqui fica o meumelhor pensamento ao Dr. HernâniVilaça que faleceu, inesperadamente,em 2003, e de quem conservo umacarta, em que diz o seguinte: «venhoexpressar-lhe o mais vivo agradecimen-to pela honra que nos deu em cor-

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Foto 9 Foto 10

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sonagens notáveis queconheceu através da sualonga existência, eramrelatados com uma ri-queza de pormenores ede discurso, totalmenteinvulgar. Esses almoçosficaram fazendo partedas muito boas recorda-ções que tenho do nos-so convívio. O que la-mento profundamente,é que não tenha tidotempo para escrever assuas memórias como seique tinha em mente. Te-ria sido uma obra mag-nífica e todos perdemosmuito com isso.Participou em reuniõesde Outono e Primave-ra da SOPEAM como aque decorreu em

responder ao meu convite para parti-cipar na I Feira do Livro do Médico,integrando a tertúlia literária, segura-mente o ponto mais alto deste evento.Bem haja pelo humanismo e a poesiacom que nos presenteou. Aceite, porfavor, o meu sincero obrigado»… Nafoto nº 11 eu estou partindo o bolocom o Dr. Hernâni Vilaça na presençado Sr. Prof. Moisão.No âmbito das actividades da SOPEAMera muito activo e empenhado. Estevesempre presente nos almoços das pri-meiras quartas-feiras de cada mês, quetinham lugar no restaurante da Ordemdos Médicos (foto 13). Ouvi-lo erauma maravilha! Desde os assuntos maissérios, de natureza científica ou literá-ria, ou em anedotas ou brincadeiras,participava sempre. Costumava dizer:«nós dois pertencemos ao cantinho damá língua… só que você não diz malde ninguém!». Acontecimentos e per-

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Sesimbra, no Hotel do Mar, onde cos-tumava passar férias, o que lhe deuimenso prazer por regressar a um lu-gar de que gostava muito. Na foto nº12 (na página anterior) podemos vero Sr. Professor a apresentar um traba-lho na tertúlia literária.A foto nº15 foi tirada durante um pas-seio à Serra da Arrábida.Nas tertúlias literárias apresentava sem-pre trabalhos muito interessantes. Masera também muito exigente e achavaque devíamos fazer sempre mais e me-lhor. Numa das vezes em que não es-tava totalmente de acordo com o pro-grama e mo disse, eu, que nunca gos-tei de atritos, tentei «pôr água na fervu-ra». Olhou-me de frente e disse:– E você? O que pensa disto? Ou nãopensa? Se não pensa é um vegetal!Como não me sentia propriamente umacouve-flor ou um alho francês disse semrodeios o que julgava do assunto. En-tão respondeu:– Hum! Afinal pensa!!!...E tudo acabou depois a rir.A autografar o seu livro «O elogio doPecado» no dia do seu lançamento, nafoto nº 16.Numa exposição de pintura do colegaFernando Chiotti em que, além do au-tor, está também o colega Jorge CabralAraújo (foto nº 17).Na Associação Naval de Lisboa ondedecorreu o jantar de homenagem aoDr. Carlos Vieira Reis pela sua eleiçãocomo presidente da UMEM, UniãoMundial de Escritores Médicos. Foi oSr. Prof. Moisão que obteve a autoriza-ção para que o jantar decorresse aí erepresentou o presidente da associa-ção. Na foto nº 18 estão também ocolega Carlos Cruz Oliveira e o Prof.Janeiro Borges.No 48º Congresso da UMEM, que tevelugar em Viana do Castelo, participounuma mesa com colegas estrangeiros.Na foto nº 19 vemos o Prof. Moisãono cocktail antes do jantar de galaForam muitas as vezes em que apre-sentou livros e outras em que repre-sentou o Senhor Bastonário nos lan-

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çamentos de livrospara que era convi-dado e em que nãopodia estar presen-te. Fazia-o com mui-to entusiasmo e visí-vel prazer. A sua pre-sença acrescentava,sempre, uma nota dedistinção a essesacontecimentos.Tive a honra e a ale-gria de poder contarcom a sua presençano lançamento dosmeus segundo e ter-ceiro livros de poesia.Na foto nº 20, tira-da na OM antes dolançamento do meusegundo livro, estádefinindo estratégiascom que ultrapassoualgumas dificuldadesde última hora, por setratar de um sábado,

tendo acabado por decorrer tudo lin-damente.Na foto seguinte (21) faz parte da mesano lançamento do meu terceiro livro,o qual teve lugar na Academia Portu-guesa da História com apresentaçãofeita pelo seu presidente – Sr. Prof.Doutor Veríssimo Serrão de quem estáà esquerda.A foto a baixo (22), tirada, por mim, naBiblioteca Histórica da OM era a sua pre-ferida. Disse-me que a tinha posto, emol-durada, na biblioteca de sua casa, numasequência de fotos representando as épo-cas mais marcantes da sua vida.A fotografia em que observa umaburrinha branca (foto nº 23) foi a úl-tima que lhe tirei. Foi na quinta do Dr.Accioli que, nesse dia, recebia, maisuma vez, um grupo de colegas daSOPEAM, a quem ofereceu um magní-fico almoço, com a muita gentileza queo caracteriza. Durante a volta à quin-ta, apresentou-nos uma burrinha ames-trada que obedecia às suas ordens, in-cluindo ir para a cavalariça e fechar a

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Golpe de faca, entre dois azuis,é o horizonte deste mar gigante.

Há uma tampa azul, desmaiada e baçasobre a planície azul e cintilante.

Empurra-me as costas este vento certo,despenteia-me devagar e com carinho.Eco de silêncios e perfumes silvestres,é um zumbido azul, apenas.

Navegando à popa, sem rumor,escorrego no manto azul, que não perturboSão lascas efémeras de prata bem polidaos bigodes de espuma que deixo a cada bordo.Morreu o Som. Há luz apenas.

Tudo é azul no Tudo que me invade.Até o próprio silêncio, musical e suave.E, na luz azul que me acarinha,eu sou uma sombra, mais azul, apenas.

Sinfonia em azul maior

Foto 23

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porta no fecho com o focinho. O Sr.Prof. Moisão, que gostava muito deanimais, ficou encantado e parou paralhe falar. Quando retomou a compa-nhia do grupo disse-me, a sorrir:– Estivemos a trocar umas impressõesque foram muito positivas.Pouco depois levámos o Sr. Professor

a sua casa. Ficou ao pé da porta a ace-nar-nos até o carro desaparecer da suavista. Foi a última vez que o vi. E euestava tão longe de que isso estivessea acontecer!Quando, na manhã do seu funeral, es-tive algumas horas, sozinha, na capelaa velar o seu cadáver, tive ocasião de

meditar sobre o mistério da vida e damorte, a crueldade da solidão e a in-justiça do esquecimento.Para terminar, transcrevo um peque-no poema escolhido entre os muitos ebelíssimos que escreveu. É muito sim-ples mas muito especial. Só um grandepoeta poderia escrever assim:

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H I S T Ó R I A S d a H I S T Ó R I A

Se os registos escritos constituem ele-mentos fundamentais para a Históriada Medicina, os registos pictóricos,mostrando uma realidade interpreta-da mas de um modo geral clara e efici-ente, podem constituir uma fonte ines-gotável de informação. Como em todoo registo histórico, a Pintura é suscep-tível de interpretação e muitas dasobras que incluem aspectos da Saúdesuscitam propostas e hipóteses queconstituem uma mais valia para a defi-nição da linha histórica da Medicina.

História da medicinaatravés da pinturaAs propostas de milagres que são patenteados ao longo dos séculos e que se

dirigem a áreas da doença ou, se quisermos, da Saúde, são vários e merecem

uma atenção especial. Em primeiro lugar porque indicam algumas das doen-

ças que afligiram a Humanidade em cada período da sua existência. Depois,

porque são baluartes da evolução artística e da sua História. Por último, por-

que constituem avisos e desejos que, em alguns casos, ainda hoje se mantêm.

A partir de Giotto, sec. XIV, a Pintu-ra abriu-se para a modernidade, peloentendimento da sua expressão rea-lista e humana. Daí que se tenha tor-nado narrativa e descritiva, consti-tuindo um dado fundamental daHistoriografia, neste caso, da Histó-ria da Medicina. Mas Giotto vai maislonge: transporta para a imagem aforça da emoção, elemento importan-te quando se trata de actividadesmédicas. Todas estas novidades trans-portavam de tal modo a força danovidade que se mantiveram duran-te séculos na arte de pintar.Pelo inusitado da cena e, também, pelofacto de estar representada em trêsinterpretações de autores diferentes,os quadros que figuram o transplantede um membro inferior de um negropara um branco, pretensamente reali-zado pelos irmãos gémeos S. Cosme eS. Damião, merecem uma reflexãomuito especial. Para entendermos estainsistência, temos de nos referenciar àevolução da própria Pintura que, noséculo XVI em que foram pintados, co-meçava a soltar-se das representaçõesdivinas, com predomínio de Cristo e aVirgem, apelando à figuração de cenasreligiosas tidas como milagrosas ou àrepresentação de parábolas, como é ocaso da Parábola dos Cegos, de Bruegel.S. Come e S. Damião, que viriam a serconsiderados padroeiros da Cirurgia,são tidos como originários da Arábia,

Ásia Menor, onde nasceram no séculoIII, de pais cristãos. Estudaram Medici-na na Síria e exerceram em Egeia. Fo-ram cognominados de anargyros, quesignifica inimigos do dinheiro, devidoa tratarem os doentes sem receberemhonorários. Conta a lenda que lhes bas-tava tocar nos doentes com as mãos,fazendo o sinal da cruz para milagro-samente os curarem das mais gravesenfermidades. Durante as perseguiçõesaos cristãos movidas pelo imperadorDiocleciano, foram martirizados, segun-do uns em 278, segundo outros em303, para renegarem a sua crença. As-sim, depois de uma vida entregue a tra-tar enfermos, foram martirizados e de-golados, sendo os seus corpos recu-perados e transportados para Roma esepultados em igreja própria. A Igrejacatólica celebra o seus dia a 27 de Se-tembro.Entretanto, alguns milagres ou curasmilagrosas foram-lhes atribuídas. Omais famoso consistiu no transplantede uma perna do cadáver de um mou-ro ou etíope que faleceu de velho, pa-ra substituir o membro inferior ampu-tado de um branco, supõe-se que de-vido a gangrena ou tumor maligno. Écurioso notar que neste caso, o mila-gre procura ajuda da técnica cirúrgi-cas, não se limitando a um gesto ouuma acção puramente miraculosa. Estaestranha cirurgia teria sido levada acabo numa igreja.

Armando MorenoProfesor Catedrático da U.T.L.

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Deve acentuar-se, contudo, que outrosmilagres lhes foram atribuídos, quer emvida quer depois da sua morte.Por ordem do imperador Justiniano(483-565) a igreja com o nome dossantos cita em Constantinopla, erigidasegundo o modelo do templo a Ascle-pius, passou a estar aberta dia e noitea fim de assegurar a cura de doentes.A crença nas suas faculdades esten-deu-se, primeiro, pelo Oriente e de-pois teve repercussão em toda a Eu-ropa, nomeadamente em França ondea escola de Cirurgia, ou teatro anató-mico, tomou o nome de S. Cosme, peloque se estabeleceram duas classes decirurgiões: os de S. Cosme, ditos de robelongue, e os barbeiros, ditos de robecourte, estes tidos como ignorantes.A fama destes dois santos instalou-seem França onde foi criada a Ordemde S. Cosme e S. Damião em 1030, apartir da qual se fundaram Hospitaisna Palestina. Por outro lado, os seusnomes foram atribuídos a vários me-dicamentos que propunham curas maisou menos milagrosas.Em Portugal, o seu culto manteve-seaté aos nossos dias, perpetuado em no-mes de igrejas e paróquias. No século

XVII existiu no nosso País uma con-fraria que incluía médicos, cirurgiõese farmacêuticos que deve ser conside-rado o mais antigo agrupamento pro-fissional entre nós. É fácil concluir queas populações entregavam a sua saú-de nas mãos de santos, já que as do-enças eram gravíssimas e as respostasmédicas de pouco valor. No próprioHospital de Todos os Santos existiu umaltar dedicado a estes dois Santos-ci-rurgiões. Assim se originou a Confra-ria por despacho da Mesa de 26 deJulho de 1619 que só veio a ser extin-ta no século XVIII.O gosto tradicional pelo místico queexistiu de modo marcado nas figura-ções mais precoces da Pintura, seja re-tratando cenas da Mitologia seja, emtodo o período medieval, figurandocenas ligadas ao cristianismo, encon-tra na vida destes dois santos váriosmotivos aliciantes para registo: freiAngelico deixou um tríptico que seguarda no Museu de Munich, repre-sentando a vida destes dois santos. Pe-sello Pesselli pintou-os visitando do-entes e ministrando medicamentos,quadro que existe no Museu do Lou-vre. No Museu de Antuerpia existe um

tríptico pintado porAmbroise Francken(senior) que mostravárias cenas da vidaclínica dos dois san-tos, executado para oaltar da confraria doscirurgiões de Antuer-pia. Existe ainda umquadro da autoria deLanfranc no Museude Nápoles outro deLourenço de Ricci noMuseu dos Ofícios deFlorença e, ainda emFlorença, na Capelados Medicis, uma es-tátua de S. Cosme daautoria de Montorsolie outra de Raphael deMontelupo que figu-ra S. Damião. Mas acena que mais aten-ções suscitou foi omilagre do transplan-

te da perna que foi glosada de váriosmodos.Entre a vida dos santos e as represen-tações da cena do transplante decor-reram 13 séculos. Estamos, portanto,em pleno período do Segundo Renasci-mento. O quadro representado na fig1 é da autoria de Pablo Berruguete,início do século XVI, espanhol de umafamília de artistas, contando com pin-tores como Pedro Berruguete, grandemestre de Pintura em Espanha eAlonso Berruguete, escultor.O quadro representado na figura 1 éexibido no WürttembergishschesLandsmuseum, de Stuttgard. É pintadoem madeira, com 106 cm X 63 cm, depintor suábio (Suábia ducado medie-val alemão) pintado cerca de 1500. Estáconcebido dentro dos cânones maisrígidos da Pintura renascentista: umalinha horizontal, uma linha vertical, umponto de fuga. A própria janela figura,só por si, todos estes três elementosque, no entanto, surgem não só nasparedes, recorbertas a tijolo, definin-do pontos de fuga, mas também nofundo da cama, de linha horizontal. Mascada objecto está delineado com vistaa acentuar a perspectiva: a cama, a pra-teleira ao cimo do quadro, os ângulosdas paredes, o banco. Além disto, estáexplícita a aceitação de que tudo o quese move dentro do quadro é susceptí-vel de sete tipos de movimentos: debaixo para cima (a ligadura que o anjooferece a Santo); de cima para baixo(o olhar dos dois santos); da direitapara a esquerda (os braços de S.Damião; da esquerda para a direita (osbraços de S. Cosme); em profundida-de indo de cá para lá (o ponto de fugada perspectiva, a janela aberta) e de lápara cá (o corpo do receptor, deitado)e o movimento circular (desenhadopelas figuras dos dois anjos mais pró-ximos e pela ligadura nas mãos de S.Cosme). Os dois santos parece nãoestarem ligados senão pelo objecto dasua atenção: o doente que, por estaradormecido, perde importância em fa-vor do primeiro plano circunscrito àperna negra que ressalta no fundobranco dos lençóis. As auréolas sãograndes, ao sabor renascentista e as

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Fig. 1 – Pintura sobre madeira, existente no Museu de Sttutgardde Mestre suávio

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cores terra cota permitem dar ao qua-dro a sobriedade que os trajos dossantos acentuam.O quadro representado na fig 2 é daautoria de Fernando del Rincòn, e éexibido no Museu do Prado, Madrid,século XVI.A comparação destes três quadrosrevela-se frutuosa e revela escolas eabordagens muito diversas. Embora emtodos se aceite a aura de santos, de-nunciada pelas auréola que todos apre-sentam, o ambiente místico e religiososurge com mais força no quadro deRincón. Se é certo que a imagem deSttutgard aceita a presença de anjosque empunham material cirúrgico,como ajudando ao acto, o ambientegeral do quadro é sóbrio, quase asce-ta e nem simula que a cirurgia foi efec-tuada num templo. O transplantadoencontra-se adormecido, como sob oefeito do álcool, de alguma tisana ouda acção milagrosa dos santos. Estásereno e calmo. O anjo que ajuda acolocar as ligaduras apresenta o sem-blante de intensa preocupação e deajuda, enquanto os outros dois exibemserenidade. De igual modo, S. Cosmeassume o semblante da atenção en-quanto S. Damião se mostra mais cal-

mo. Não se sabe aocerto como irão efec-tuar a colagem domembro, provavel-mente, apenas comuma simples ligadura.No chão, jaz a pernaamputada que, espan-tosamente, se apre-senta normal, sem si-nais de tumor ou degangrena, embora li-geiramente mais páli-da do que a perna sãdo receptor. O dadorestá ausente. Tudo secifra em redor doacto miraculoso mascom aparência de nor-malidade. O toque desantidade é apenasdado pelas auréolasdos santos. Que pa-rece não pertence-

rem ao quadro, bem como os anjosque podem ser confundidos com en-fermeiros. A força pictórica e as coresquentes dos dois santos atiram as suasfiguras para o primeiro plano do qua-dro. Não existem adornos supérfluos,quase diríamos que em favor de umaassepsia que era então desconhecida.O quadro de Rincòn, como referi, é omais religioso. A sumptuosidade qua-se bizantina alia-se a dados concretosde crença católica, encimada pelo re-trato da Virgem que preside ao acto.De cada lado, o friso de estatuetas, re-presentando bustos de sábios e san-tos. À esquerdo do quadro, a lanterna,o livro, a vela, representam a sabedo-ria, o conhecimento e a vida, respecti-vamente. S. Damião apresenta elixirese eleva os olhos ao supremo mentorda vida, enquanto S. Cosme se debru-ça executando a tarefa da enxertia,apontando dois dedos que, segundo atradição, só pelo contacto conseguemcurar. O doente não está adormecido:segura a cabeça mas parece hipnoti-zado, num sono estranho que lhe per-mite aceitar o que já foi feito, a ampu-tação, e o que está a processar-se. Oúnico assistente é uma figura fantas-magórica que exibe, em vez de língua,

uma cobra, símbolo da Medicina. Temos braços e as pernas cruzadas, osolhos serrados como que ausente,marcando apenas uma presença sim-bólica. No chão o cadáver do mouroou negro está pudicamente vestido ea perna retirada do receptor apresen-ta sinais de sofrimento, como que feri-das ou lanhos. A tónica bizantina qua-se transforma a cena num pretextopara exibição da minúcia. Os princípi-os fundamentais da estética renas-centista são mascarados por figuraçõesintermediárias, como é o caso da linhahorizontal de base, marcada pelo cor-po do negro cuja importância é tidacomo tão secundária que não se en-contra figurado nos outros dois qua-dros.Por último, no quadro de Berruguete(fig. 3) a cena parece querer mostrarque tudo foi feito em ambiente casei-ro, com familiares assistindo, vestidosde modo laico. Também aqui o dadorestá ausente e o próprio receptor nãoassume importância, figurando apenasatravés dos membros inferiores. O queconta, para além do respeito que ospróprios santos merecem, é o acto emsi, isto é, o milagre. O membro parecenão estar ainda colocado, apresentan-do um comprimento superior ao mem-bro são. Os santos estão, portanto, emactividade. Existem sinais marcados deuma civilização oriental, denotada pelotapete que se encontra sobre o peque-no banco e, ainda, pelo dossel que so-brepuja a cama que parece ter sidoretirada do seu lugar para a execuçãoda operação. No entanto, nada impli-ca religiosidade, embora as auréolasdos santos sobressaiam no fundo es-curo. Entretanto, pode dizer-se que osimbólico está completamente ausen-te. Trata-se de um acto simples, passa-geiro e quase banal. Estabelece-se noquadro um conflito entre o retóricodo tema e o inocente e quase corri-queiro da cena em que está envolvidode tal modo que consegue penetrarno ambiente que deveria ser metafóri-co da hipotética operação do trans-plante. Assiste-se ao paradoxo da ba-nalização de um acto que encerra duasaltas quotas de excepção: a santidade

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Fig. 2 – Pintura de Fernando del Rincòn

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46 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

H I S T Ó R I A S d a H I S T Ó R I A

Fig. 3 – Quadro de Pablo Berruguete

dos executantes e o transplante mila-groso. Em boa verdade, se o primeirose pode considerar merecedor do res-peito que os santos tradicionalmenteinspiram, o acto do transplante desdo-bra-se, por sua vez, em dois aspectosinusitado e digno de respeito e admira-ção: o acto cirúrgico excepcional, porum lado, a realização do milagre, poroutro. O pintor conseguiu incutir bana-lidade a estes três ditames que tradici-onalmente inspiram respeito e até ve-neração.Nos quadros de Rincòn e de Berru-guete S. Damião parece exercer a ac-tividade médica, actuando sobre o es-tado de consciência do receptor, en-quanto S. Cosme actua directamentena acto do transplante.O confronto entre estes três quadros

apresenta-nos dados históricos de in-teresse, quer do ponto de vista da artede pintar quer do ponto de vista dahistoriagrafia médica. Este aspecto, quemais directamente interessa ao presen-te texto, permite concluir que a ideiaaceite de que as operações eram feitassem anestesia não é rigorosa. Emboraa presença dos santos possa sugerirque utilizaram meios sobrenaturais, emtodos os três quadros estão figuradosos recipientes de mesinhas cuja acçãosó pode ser entendida com fins de di-minuir o estado de consciência do re-ceptor. Se no quadro de Rincòn o re-ceptor mantém alguma actividade, de-notada pela posição da mão que lhesegura a cabeça, sem o que, provavel-mente, estaria pendente, no quadro doMuseu de Stuttgard o receptor estácompletamente adormecido. Era jáentão utilizados estratos de papoila ede mandrágora, por vezes em fórmu-las combinadas. A mandrágora era co-nhecida desde tempos remotos mas assuas aplicações sofreram alteraçõesconsoante as épocas e os locais. Liga-da à feitiçaria desde o tempo dos Go-dos, cria-se que a sua raiz apresentavaa forma humana. Daí as confabulaçõesa que deu origem. Durante a Idade Mé-dia era entendida como tornando fe-cundas as mulheres estéreis. É tida co-mo venenosa devida aos alcalóides quecontém. Como se conclui das três pin-turas em estudo, no século XVI era jáutilizada para provocar o sono duran-te as operações. Por seu lado, a papoi-la, também conhecida por dormideira,de que se extrai o ópio, tem proprie-dades narcóticas. Utilizado em formas

diversas: láudanos, pílulas gotas, elixi-res, pós. Durante as Cruzadas que foiintroduzido no Ocidente, utilizado peloseu poder de conciliar o sono e dimi-nuir a dor. Com as viagens dos portu-gueses em redor de África, unido oOriente ao ocidente, o ópio constituíauma das matérias de especulação. En-tre os cerca de 20 alcalóides do ópio,encontra-se a morfina, isolada em 1803deu nova importância médica ao ópio.Como dado de pesquisa histórica, as-sinale-se que os recipientes exibidosnos quadros apresentam vários com-partimentos: no quadro de Sttutgard,o anjo apresenta uma caixa com 6compartimentos, mostrando, cada com-partimento, substâncias variadas. Oquadro de Rincòn exibe 9 comparti-mentos, sendo o mais avaro Berrugueteque pinta apenas um recipiente comtampa. De qualquer modo, parece po-der-se concluir que, se não na épocada cena, século III, pelo menos no iní-cio do século XVI era uso adormeceros doentes sujeitos a cirurgias.As questões que a lenda e estes qua-dros sugerem não param de originartextos e meditações. Embora sendoadmitido como um milagre e os crédi-tos que a própria Igreja fornece aoevento, muitos especialistas procuramrequisitos de natureza diversa, sobre-tudo neste período em que os trans-plantes passaram a ser rotineiros e deprática quase universal. Por outro lado,o uso do corpo do negro coloca ques-tões de natureza racial, quer por partedo dador quer do receptor. Parece, hoje,inverosímil que um indivíduo caucasianoandasse com um membro escuro.

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47Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Maio 2008

AAAAA G E N DG E N DG E N DG E N DG E N D AAAAA

EVENTO: XVII JORNADAS MÉDICO DESPORTIVAS

LOCAL: Porto SantoDATA: 6 a 10 de JunhoEVENTO: 5º CURSO DE EPILEPSIA EM IDADE PEDIÁTRICA

LOCAL: PortoDATA: 17 a 19 de JunhoCONTACTOS:Tel: 222 077 500; E-mail: [email protected]

EVENTO: EUROPEAN MASTERCLASS IN RENAL PHYSIOLOGY &PATHOPHYSIOLOGY OF THE CLINICIAN

LOCAL: LondresDATA: 19 a 21 de JunhoCONTACTOS: AMGEN; Tel: 214 220 550E-mail: [email protected]

EVENTO: CURSO DE VERÃO DA SOCIEDADE PORTUGUESA DE PEDIA-TRIA PARA INTERNOS

LOCAL: CovilhãDATA: 20 a 22 de JunhoCONTACTOS:Tel: 217574680; E-mail: [email protected]

EVENTO: CURSO OXFORD COURSE «INFECTION AND IMMUNITY INCHILDREN»LOCAL: OxfordDATA: 23 a 25 de Junho

EVENTO: CURSOS DE ACTUALIZAÇÃO EM UROLOGIA

LOCAL: BarcelonaDATA: 10 a 13 de JulhoCONTACTOS:Tel: 217 952 494; Fax: 217 952 497

EVENTO: CURSOS DE ACTUALIZAÇÃO EM UROLOGIA

LOCAL: MadridDATA: 25 a 28 de SetembroCONTACTOS: Tel: 217 952 494; Fax: 217 952 497

EVENTO: XXXII WORLD CONGRESS OF THE INTERNATIONAL SOCIETY

OF HEMATOLOGY

LOCAL: BanguecoqueDATA: 19 a 23 de OutubroCONTACTOS: Grunenthal; Tel: 21 472 63 00

EVENTO: CURSOS DE ACTUALIZAÇÃO EM UROLOGIA

LOCAL: MadridDATA: 28 a 29 de NovembroCONTACTOS: Tel: 217 952 494; Fax: 217 952 497

EVENTO: 3 REUNIÕES CIENTÍFICAS SOBRE OSTEOPOROSE

LOCAL: Milão, ItáliaDATA: 29 de NovembroCONTACTOS: Admedic; Tel. 21 8429710

Livros

1001 Perguntas para o Exa-me da Especialidade

O Grupo Bial apoiou a edição do li-vro «1001 Perguntas para o Exame daEspecialidade», coordenado pelos mé-dicos Tiago Reis Marques e MiguelCordeiro. Esta publicação, um instru-mento de estudo destinado aos alu-nos de medicina que irão realizar oExame da Especialidade, representauma obra inédita no panorama edito-rial científico em Portugal. O trabalhoreuniu a participação de mais de 50médicos, de 18 especialidades diferen-tes, a trabalhar em 22 hospitais detodo o país. Este amplo e diversificado

conjunto de autores elaborou e res-pondeu a 1001 perguntas originaisrelativas às matérias alvo do Exame daEspecialidade. O livro foi lançado nodia 12 de Outubro, na Ordem dos Mé-dicos em Lisboa. A obra é disponi-bilizada gratuitamente aos estudantesde medicina que irão realizar o Exameda Especialidade. Os pedidos do livro

deverão ser realizados no site:www.bial.comAssociado ao livro, foi lançado o sitewww.examedaespecialidade.com, quereúne um conjunto de informaçõesúteis, disponibiliza antigos exames eapresenta um espaço para esclareci-mento de dúvidas, questões e discus-são sobre o Exame da Especialidade.

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Médicos artistas portugueses

O livro «Médicos Artistas Portugueses» é um trabalho em preparação e que irá apresentar de cadaartista-médico uma identificação, notas curriculares profissionais e ou artísticas e reprodução de algu-mas obras. Será um livro de arte e o seu lançamento será feito em simultâneo com a inauguração de umaexposição de algumas das obras dos artistas participantes. O trabalho está a ser coordenado pela médi-ca Aricia Alberti que convida todos os interessados em participar a contactá-la para:Climecol,Lda – Av de Sintra, 826,2750 Cascais – tel 214837954 – Fax 21 4822425 ou ainda [email protected], ao cuidado de Aricia Alberti

XVII Jornadas da Sociedade Médica dos Hospitais da Zona Sul

– Hospital de Torres Novas

Local – NERSAN – 20/22 de Novembro de 2008SimpósiosPatologia Geriátrica MultidisciplinarComunicações LivresTrabalhos de qualquer especialidade médica ou de enfermagem (desde que tenham pelo menos ummédico na equipa) do país, sobre os temas de investigação clínica (casuísticas, ensaios clínicos ouepidemiológicos), casos clínicos, revisões ou actualizações (por Internos) ou organização assistencial. Ostrabalhos que além da apresentação oral forem entregues por escrito, concorrem a prémios nas referi-das modalidades e têm prioridade de publicação na Revista de Clínica Hospitalar, órgão da Sociedade.Comissão Científica e Júri dos Prémios – F. M. Fonseca Ferreira, L. Machado Luciano, Fernando Reis, M.Valente Fernandes, António Ferreira, Carlos CarvalhoComissão Organizadora – Carla Gil, Margarida Carvalho, Carolina Correia, Graça Amaro.Secretariado – Maria João Simeão, Tel.249 810 185 – Fax 186E-mail – [email protected] de entrega – Outubro de 2008:Resumos das Comunicações – em boletim próprio para o SecretariadoTrabalhos escritos – para o Júri dos Prémios ([email protected])

Médico voluntário para a Guiné-Bissau

A Associação Saúde em Português tem em curso um projecto de cooperação na área da saúde, na Guiné-Bissau, a decorrer na região de Bafatá, por um período de três anos, iniciado em Fevereiro do ano corrente,com o patrocínio da Comissão Europeia e do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento.Com acções nas áreas de prestação de cuidados de saúde, formação dos técnicos de saúde locais epopulação e reabilitação de instalações, conta com uma equipa permanente de um médico, dois enfermeirose um logístico.Para dar continuidade ao projecto humanitário, a Associação procura, neste momento, um médico vo-luntário para integrar a equipa no terreno, no imediato, por um período de três a seis meses.Os interessados deverão entrar em contacto telefónico, fax, e-mail ou correio normal, enviando nome,habilitação profissional e disponibilidade para entrevista, para:Saúde em PortuguêsAv. Elísio de Moura, 417, 1º E, 3030 – 183 CoimbraTelefone 00 351 239 702 723; Telemóvel 00 351 960 092 989; Fax 00 351 239 705 186Email: [email protected]

N O T I C I A S